A fabricação digital no processo iterativo e uma intervenção urbana

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fabricação digital como meio para auxiliar a percepção do usuário no processo iterativo no desenvolvimento de uma

intervenção urbana

Maria Candelária Ryberg | Maurício Storchi | Regiane Pupo | Ivan Medeiros


Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina Universidade Federal de Santa Catarina

F126

A fabricação digital como meio para auxiliar a percepção do usuário no processo iterativo no desenvolvimento de uma intervenção urbana / Maria Candelária Ryberg...[et. al.]. – Florianópolis : PET/ARQ/UFSC, 2016. 55 p. : il., tabs. Inclui bibliografia. 1. Engenharia de protótipos. 2. Desenho industrial. 3. Arquitetura. I. Ryberg, Maria Candelária. CDU: 74

Referência: RYBERG, Candelária; STORCHI, Maurício; PUPO, Regiane; MEDEIROS, Ivan. Fabricação digital como meio para auxiliar a percepção do usuário no processo iterativo no desenvolvimento de


Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Arquitetura e Urbanismo Grupo PET Arquitetura e Urbanismo Laboratório de Prototipagem e Novas Tecnologias orientadas 2016 Luis Carlos Cancellier Reitor Sebastião Roberto Soares Pró-Reitor de Pesquisa Edson Roberto De Pieri Diretor do Centro Tecnologico César Floriano dos Santos Chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo José Ripper Kos Coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo Vera Helena Moro Bins Ely Tutora do Grupo PET Arquitetura e Urbanismo Regiane Pupo Orientadora da Pesquisa Ivan Medeiros Co-orientador de Pesquisa Maria Candelária Ryberg Maurício Storchi Bolsistas


0sumário 1

introdução 07

08 1.1 apresentação e justificativa 1.2 objetivos 09 2 fundamentação teórica 11 12 2.1 as tecnologias e a evolução do processo de projeto 2.2 fabricação digital, parametrização e prototipagem 13 14 2.3 o usuário dentro do processo de projeto – HCD (human centered design) 3 metodologia de pesquisa 19 3.1 revisão crítica de literatura 20 3.2 capacitação do software 20 3.3 diagnóstico da área de intervenção 20 20 3.4 processo criativo: mapa conceitual, painel semântico e brainstorming 21 3.5 processo de modelagem e prototipágem rápida 3.6 processo de fabricação 1:1 21 4 desenvolvimento da proposta 23 4.1 análise da área de intervenção 24 4.2 processo criativo 25 4.3 processo de modelagem e prototipagem 26 28 4.4 processo de fabricação na escala 1:1 28 4.5 análise comportamental do mobiliário in loco 5 análises 31 5.1 avaliação das ferramentas fabricação 32 5.2 avaliação dos métodos 33 37 6 considerações finais 7 referências 41 apêndice 42


lista de figuras Figura 01 Figura 02 Figura 03 Figura 04 Figura 05

Foto da Praça da Cidadania. FONTE: Autoria própria 24 Mapa conceitual de análise da área de estudo. FONTE: Autoria própria. 25 Painel semântico referente aos conceitos da área de intervenção. FONTE: Autoria própria. 25 Brainstorming de idéias. FONTE: Autoria própria. 25 Processo de modelagem parametrizada utilizando o software Rhinoceros e o pluggin Grasshoper. FONTE: Autoria própria. 26 Figura 06 Protótipos do mobiliário impressos na impressora 3D FONTE: Autoria própria. 26 Figura 07 Protótipos do mobiliário impressos na impressora 3D FONTE: Autoria própria. 27 Figura 08 Montagem do mobiliário em Interlocking, em escalas reduzidas – papelão e MDF. FONTE: Autoria própria. 27 Figura 09 Montagem do mobiliário em Interlocking, em escalas reduzidas – papelão e MDF. FONTE: Autoria própria. 27 Figura 10 Cortes das peças na CNC para montagem. FONTE: Autoria própria. 28 Figura 11 Cortes das peças na CNC para montagem. FONTE: Autoria própria. 28 Figura 12 Cortes das peças na CNC para montagem. FONTE: Autoria própria. 28 Figura 13 Mobiliário inserido na área de intervenção. FONTE: Autoria própria. 29 Figura 14 Mobiliário inserido na área de intervenção. FONTE: Autoria própria. 29 Figura 15 Mobiliário inserido na área de intervenção. FONTE: Autoria própria. 29 Figura 16 Mobiliário inserido na área de intervenção. FONTE: Autoria própria. 29 Figura 17 Abordagem interdisciplinar. Desenvolvido pelos autores 33

lista de tabelas Tabela 01

Tabela síntese da análise das ferramentas de fabricação digital. FONTE: Autoria Própria. digital. FONTE: Autoria Própria. 32



1

introdução


1introdução

1.1 apresentação e justificativa

que alguns destes são técnicas especificas para auxiliar o pensamento criativo (PAZMINO, 2013).

As diversas formas de processo de projeto nas áreas de design e arquitetura, hoje, estão sendo repensadas em virtude da inserção das novas tecnologias para concepção, desenvolvimento e materialização. Cada vez mais, técnicas, ferramentas e métodos se completam, proporcionando ao designer e ao arquiteto um envolvimento literal durante todo o processo projetual. Com uma atividade pontual e específica de uma intervenção urbana, esta pesquisa visa elucidar que a permeabilidade entre as duas áreas pode trazer soluções inovadoras, clareza durante o processo, além do conhecimento de diferentes experiências.

Ferramentas projetuais, como a parametrização, permitem estabelecer relações entre elementos ou grupo de elementos de um projeto a ser desenvolvido, atribuindo valores ou expressões numéricas a fim de organizar e controlar estas definições (CELANI, PUPO, VAZ, 2013). O que diferencia esta das ferramentas tradicionais de projeto, em que se inclui o sistema CAD, é a inter-relação dos elementos que compõem o mesmo. Uma vez estabelecidas as relações entre os elementos, o sistema composto por diversos parâmetros ganha autonomia, possibilitando explorar novas soluções que talvez não seriam atingidas com a utilização de sistemas convencionais. Como consequência, alterações dentro do projeto podem ser realizadas de maneira mais rápida, com a manipulação dos parâmetros, sem a necessidade de se recomeçar desde as fases iniciais. Ao mesmo tempo, a fabricação digital completa o entendimento, pois, de forma precisa e diversificada, tem a capacidade de materializar o projeto, causando maior compreensão espacial, formal e compositiva do que está sendo proposto.

O processo de projeto arquitetônico é composto por etapas que possuem métodos e ferramentas específicos. Quanto maior a eficiência nessas etapas, maiores as contribuições para a melhoria dos projetos, e, consequentemente, maior é a qualidade nas construções. A Fabricação Digital, assim como as técnicas de parametrização de projeto, tem mostrado resultados inovadores e de qualidade nesse contexto, aliando eficiência, rapidez e precisão ao projeto arquitetônico. O potencial que estas novas tecnologias trazem à produção e ao gerenciamento de projetos amplia o processamento tridimensional, colaborando na compreensão espacial e no desenvolvimento de modelos rapidamente prototipados (PUPO et. Al, 2013). No design, o processo e métodos de projeto, por vezes, são mais sistemáticos e concentram uma gama de técnicas e ferramentas que o tornam mais controlado e objetivo. Segundo Pazmino (2013), “Método é o caminho para se atingir uma finalidade, podendo ser entendido como um composto de várias técnicas”. O método, supondo ser uma sistemática de trabalho, de organização e de rigor no desenvolvimento, conduz a soluções inovadoras, sendo 8

Pretende-se, nesta pesquisa, entender a parametrização, aliada prototipagem e a fabricação digital, analisando suas potencialidades como ferramenta dentro do processo de projeto. Para isto, desenvolveu-se uma proposta de intervenção urbana para a Praça da Cidadania do Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima da Universidade Federal de Santa Catarina, localizado no bairro da Trindade em Florianópolis –SC. A área de intervenção escolhida é considerada o coração da universidade, tanto pela sua posição estratégica quanto pelo papel que representa para os estudantes - um local comum a todos os centros, de convívio e passagem. Por tratar-se de um local aberto, com forte integração da universidade, vê-se na Praça da Cidadania a potencialidade de desenvolver uma intervenção urbana que


melhore e intensifique a permanência dos usuários no local, e que possa, ainda, ser utilizada como modelo ou reflexão sobre os atuais equipamentos urbanos de Florianópolis. Além disso, é desejável que o(s) produto(s) obtidos com esta pesquisa possam ser replicados em diversas áreas do campus universitário, respeitando-se as diferenças de uso e físicas de cada área em questão.

1.2 objetivos Geral Entender a Fabricação Digital como meio para auxiliar a percepção do usuário no processo iterativo para o desenvolvimento de uma intervenção urbana. Específicos - Identificar um problema de projeto para um espaço do campus UFSC; - Desenvolver uma metodologia integrativa entre design e arquitetura para concepção e execução de projeto - Fundamentar-se no HCD (human centered design) para um projeto responsivo e centrado no usuário. - Utilizar software paramétrico para a concepção e proposta de equipamento urbano; - Aplicar a materialização para desenvolvimento e análise de projeto; - Utilizar a materialização para iteração com o usuário; - Construir protótipo 1:1 de proposta de equipamento urbano identificado pelo usuário.

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fundamentação teórica


2fundamentação teórica 2.1 as tecnologias e a evolução do processo de projeto

No processo de concepção de projetos de arquitetura, o projetista sempre terá um momento em que escolherá a forma de seu projeto. Este processo é influenciado por uma série de fatores, os quais foram, ao longo do tempo, sendo questionados e recebendo muitas respostas diferentes dependendo do contexto em que eram feitas. Pode-se citar como estes fatores: a função, o contexto ambiental e histórico em que ocorre o projeto, as características do local em que o projeto se insere, a cultura do local ou de seus usuários, o tempo de construção, as condições sociais, a moda, as restrições jurídicas e econômicas, etc. Todos estes fatores influenciam o projeto e também desempenham papel importante na escolha da forma. Além disso, o valor vivencial, a transmissão de significado, a qualidade visual, a estética e o simbolismo incorporam no processo do estudo da forma, características mais subjetivas que transcendem os fatores materiais, sendo igualmente importantes (VOORDT; VAN WEGEN, 2013). À medida que há um aumento no numero destes fatores, a relação entre a forma e a função passa a ter um caráter mais complexo. O ato de projetar é uma atividade humana, ou seja, as opiniões, preferências e a subjetividade dos envolvidos com o projeto acabam por influenciar tanto a forma como a função. Na maioria dos projetos, a forma nunca é totalmente livre. Um projeto atraente é apenas um dos fatores que levam uma arquitetura a ser considerada boa. Em suma, um bom projeto, que gere um bom resultado, é uma síntese bem sucedida da forma, da função, do custo e da tecnologia utilizada (VOORDT; VAN WEGEN, 2013). Entretanto, a função exerce um peso considerável na escolha da forma. No fim do século XIX e início do século XX, ideias 12

modernistas exaltavam a beleza por meio da funcionalidade, caracterizada por uma feroz crítica à ornamentação com propósitos puramente decorativos e levando a condição de impossibilidade da beleza sem a praticidade; teoria defendida por muitos arquitetos e filósofos da época. David Hume, por exemplo, em “O tratado da Natureza Humana” (1739) igualava a beleza à utilidade. Assim como o importante arquiteto do modernismo, Frank Loyd Wright, que concebia a beleza da moradia em sua conveniência - a casa como um organismo vivo deveria brotar das necessidades dos indivíduos e do caráter do terreno – forma e função são uma só, como na natureza (VOORDT; VAN WEGEN, 2013). Com os ideais modernos, a funcionalidade passa a ser aceita como base na concepção de projetos, influenciando diversos setores além da arquitetura. A abordagem racional teve grande expansão, trazendo a produção em massa, a pré-fabricação, a padronização e a normalização como respostas a ideologia da época, buscando a velocidade de fabricação e economia de tempo e capital. A arquitetura, e boa parte da indústria de produção de bens, começaram a ser influenciados pelos processos de produção e pela facilidade de montagem. Na arquitetura, o projeto é geralmente idealizado para cumprir uma determinada função e muitas vezes não se torna adequado a outras funções. Quando se trata de um projeto urbano, mais especificamente de uma intervenção urbana, a proposta projetada se insere no espaço público da cidade sendo acessível por quase a totalidade da população. Ou seja, um projeto com esse caráter, deve ser dinâmico e versátil, atendendo as expectativas e necessidades de uma grande variedade de usuários. Além disso, o uso e os usuários mudam com o tempo, assim como a cidade se transforma na temporalidade. Portanto, muitos arquitetos e designers tentam produzir estruturas e produtos adequados a usos múltiplos, permitindo interpretações e intervenções


individuais. Hertzberger (1963), escreveu: “Para estar à altura das mudanças, as formas tem de ser construídas para permitira a miríade de interpretações. Têm de poder assumir vários significados e depois abandoná-los novamente sem prejudicar a sua identidade. Isso significa buscar formas primárias que, além de acetar um programa de necessidades, possam também libertar-se dele. A forma e as necessidades se inspiram uma na outra, A impossibilidade de criar um ambiente individual que se ajuste a todos torna necessário permitir interpretações individuais ao se projetar as coisas de modo a serem realmente capazes de interpretação.” (HERTZBERGER, 1963). Entretanto, podemos dizer que a frequência de projetos idealizados para usuários múltiplos e desconhecidos é cada vez maior. Isso nos leva a uma pasteurização de significados, formas e conceitos nos projetos. Vemos a produção em massa normatizar e padronizar produtos e observamos arquiteturas e projetos urbanos cada vez mais incógnitos que demonstram uma ausência de pertencimento ao local onde são concebidos, além de serem desprovidos de um estudo de uso e ocupação dos usuários a qual são destinados. Entretanto, projetistas encontram-se neste dilema: há um desejo pela originalidade do projeto, porém, ao introduzir as variáveis de custo e velocidade de materialização, os aspectos que dão personalidade ao produto final, são deixados de lado em prol do orçamento e cronograma, se optando muitas vezes por materiais de produção em massa, sem peculiaridades ou até mesmo sem relação com a proposta idealizada. Muitas empresas e escritórios de arquitetura e design vêm, ao longo dos anos, tentando resolver este questão: Como projetar e concretizar as especificidades de um projeto, buscando não torná-lo padronizado, mas sim, manter uma originalidade, ao mesmo tempo em que há rapidez na materialização?

2.2

fabricação digital, parametrização e prototipagem

A arquitetura é fundamentada, basicamente, em duas atividades: projeto e execução. Com o passar dos anos, diversos métodos e ferramentas foram criados os quais possibilitaram uma variedade de processos de projeto que influenciaram diretamente como essa arquitetura é fabricada. Um exemplo disso são os sistemas CAD (computeraided design) que revolucionaram o ramo da arquitetura, automatizando o processo de projeto. As ferramentas digitais, vem, ao longo dos anos, passando por um processo evolutivo acelerado, pois na década de 1990, eram associadas com a ficção científica e realidade virtual, passando por um período onde começaram a ser entendidas no âmbito das tectônicas digitais a fim de entender o comportamento dos materiais na década de 2000 e, atualmente, passando a ser praticamente indispensáveis na produção de edifícios complexos a partir da década de 2010. Atualmente, há uma crescente capacidade de integrar o processo tradicional de criação com tecnologias digitais, aliados ao processo de produção tridimensional, seja ele de um modelo em escala reduzida ou protótipos em escala real. A proliferação de computadores mais avançados e criação de uma série de softwares de modelagem vêm permitindo aos profissionais e estudantes de arquitetura conceber e construir projetos que, nos métodos tradicionais, seriam muito complicados ou impossíveis de serem efetivados. No processo de produção do design e da arquitetura, o sistema de base de criação em 2D pode ser simplesmente exemplificado por uma folha de papel: uma ferramenta de trabalho que é visível e acessível, podendo ser completamente independente, uma vez que um desenho produzido pode não criar relações ou vínculos com demais desenhos produzidos em um ambiente de criação. Por outro lado, o trabalho com um modelo de informação 3D é um conjunto complexo de informações inter-relacionadas, podendo ser difícil de ser navegada e, por este motivo, não muito atrativa em um primeiro contato. Entretanto, trabalhar com modelos de informação força o projetista a pensar desde o início sobre construtibilidade – o que eram apenas linhas no papel, passam a ser, no sistema em 3D, elementos reais com atributos e tolerâncias. Este sistema permite unir, também, diversas plataformas e abre um leque maior de possibilidades para o projetista - desde 13


desenvolvimento de geometrias complexas, até o controle de suas propriedades, além de análises de variáveis estruturais, de conforto ambiental e também estéticas. Neste contexto, o design paramétrico é uma destas práticas e está abrindo um novo campo de possibilidades para a prática de arquitetura e design. Este método foi desenvolvido e refinado primeiramente no campo comercial por escritórios e empresas, e não dentro do ambiente acadêmico. No final dos anos 1990, uma série de pesquisas sobre o design paramétrico começou a surgir em conjunto com a experimentação dentro do setor comercial, como no Specialist Modeling Group do escritório Foster and Partners, Gehry Technologies filiada do escritório Gehry Partners, Advanced Geometry Unit do Arup e o CODE filiado ao Zaha Hadid Architects. Estas pesquisas foram pioneiras e possibilitaram o início do desenvolvimento destas práticas no ramo da construção civil, garantindo que a complexidade dos edifícios que são projetados hoje em dia, seja executada com relativa rapidez e dentro do orçamento. O termo “paramétrico” significa trabalhar com parâmetros de determinado alcance. Entretanto, dentro do design contemporâneo, o termo refere-se principalmente a utilização de softwares de modelagem paramétrica. Estes softwares apresentam uma diferença dos utilizados tradicionalmente (os quais são baseados em dados de objetos geométricos), eles relacionam dimensões e parâmetros à geometria, assim permitindo uma melhora no ajuste de partes que afetam todo o sistema projetado. Por exemplo: quando um ponto em uma curva é reposicionado, toda a curva se realinha de forma autônoma. Isso garante maior facilidade de adaptação e mudança. Na história da arquitetura há uma longa tradição da geometria euclidiana, uma vez que se constrói através de instrumentos de desenho, como réguas e compassos, necessários para se desenhar linhas retas ou círculos que poderiam ganhar forma sólida e correspondente com sua representação quando construídas. Mitchell (2001) observou que as consequências deste processo eram que os arquitetos desenhavam o que eles poderiam construir e construiram o que desenhavam. Este fato, mesmo com a inserção da arquitetura na era digital, 14

não desapareceu completamente. As mesmas restrições se aplicam aos equipamentos que trazem o projeto digital para o âmbito real, uma vez que também se projeta pensando na capacidade especifica das máquinas de materialização atuais. Entretanto, a parametrização não inibe a produção criativa ou a limita de maneira rígida como os sistemas convencionais. Pelo contrário: quando inserida no processo projetual, pode vir a fornecer diversas possibilidades, principalmente para materialização de protótipos de maneira rápida e automatizada com a fabricação digital, garantindo otimização do tempo de análise do projeto, uma vez que este tempo, antes gasto no processo de construção dos protótipos, pode ser usado para a avaliação dos modelos.

2.3

o usuário dentro do processo de projeto – HCD (human centered design)

O design centrado no ser humano (HCD – Human Centered Design) é um processo de criação que, assim como o nome já diz, começa pelas pessoas para as quais estejam se criando soluções das mais diversas necessidades. Este processo inicia com a análise das necessidades, desejos e comportamentos das pessoas as quais se pretende influenciar a partir de soluções proporcionadas por um projeto. O entendimento das necessidades, expectativas e aspirações para o futuro do usuário é o ponto de partida para o projeto de soluções inovadoras e relevantes. O processo HCD auxilia a determinar quem deve ser abordado, ganhar empatia para as visitas de campo e a coletar histórias. Este processo segue alguns passos: primeiramente procurase ouvir e entender as necessidades do usuários. Para isso, utiliza-se uma analogia com “lentes” através das quais enxerga-se diferentes pontos de vista específicos. A primeira delas é a “lente do desejo” pela qual enxerga-se o mundo buscando identificar o desejo do usuário. Uma vez identificado e sintetizado o desejo, começa-se a avaliar as


diretrizes encontradas através das lentes da praticabilidade e da viabilidade, as quais trazem para o desenvolvimento do projeto características mais concretas, como a possibilidade técnica e organizacional, bem como a viabilidade financeira da execução, diferente dos desejos dos usuários, etapa caracterizada pela abstração. Todas estas etapas são permeadas por três fases principais: Ouvir, Criar, e Implementar. A fase “Ouvir” consiste na coleta de histórias, em que se busca inspirar as pessoas através de pesquisas de campo, procurando obter material necessário para alimentar futuros brainstormings de todas as etapas do projeto uma vez que o usuário, como o nome do método já diz, é o centro do projeto. Os resultados dessa etapa é o levantamento das histórias das pessoas, observações sobre a realidade dos membros da comunidade em estudo e o entendimento profundo das necessidades, barreiras e restrições. Desta etapa, os dados gerados são qualitativos, os quais permitem à equipe de projeto desenvolver empatia pelas pessoas para as quais o projeto está sendo desenvolvido, além de permitir que a equipe questione suposições e inspire novas soluções. No início do processo, a pesquisa é generativa – usada para estimular a imaginação e informar a intuição sobre novas oportunidades e ideias. Nas fases finais, os métodos são avaliatórios – usados para determinar rapidamente a maneira como as pessoas reagem às ideias e soluções propostas. Os métodos qualitativos são capazes de revelar necessidades profundas, desejos e aspirações. São particularmente úteis para contestar pressupostos, e também quando não se pode assumir que os pesquisadores conheçam todo o universo possível de respostas, crenças e ideias dos participantes. Estes métodos também podem ajudar a revelar oportunidades sociais, políticas, econômicas e culturais. A fase “Criar” é caracterizada pelo trabalho em equipe no formato de seminários, reuniões e brainstormings onde se

possam traduzir em estruturas, oportunidades, soluções e protótipos o que se ouviu dos usuários. Durante esta fase, o pensamento passará do concreto ao abstrato de forma a identificar temas e oportunidades para, mais tarde, voltar ao concreto com a criação de soluções e protótipos. O foco do trabalho, nesta etapa, consiste na síntese, uma vez que esta se baseia no entendimento do que foi visto e ouvido durante as observações e trabalhos em campo, em conjunto com o levantamento de referenciais. A síntese nos transporta da inspiração para as ideias e histórias, agregando, editando e condensando o que foi aprendido, a fim de capacitar e estabelecer uma nova perspectiva sob o projeto. A síntese é resultado do trabalho em equipe nos brainstormings, pois estes nos permitem pensar de forma ampla e sem restrições, com objetivo de expor e trazer à tona diversas soluções, mesmo que muitas possam ser dispensáveis. Entretanto, estas soluções são necessárias na evolução do pensamento e refinamento de poucas ideias finais, mas inovadoras. Para auxiliar este processo e elevar a qualidade e resposta do projeto pelos usuários, é interessante tornar o projeto empático. Por empatia entende-se um aprofundamento dos problemas e realidade das pessoas para as quais se está projetando. Ao entender as pessoas de maneira profunda e criando uma conexão com pensamentos e sentimentos dos futuros usuários, o resultado do projeto conduzirá a soluções apropriadas e de vanguarda. Uma abordagem que facilita a síntese e o foco da problemática do projeto é extrair dos dados coletados de campo e das demais observações, temas e macro-relações entre a informação. Esta análise de padrões e conexões entre os dados conduz, de maneira rápida, para soluções palpáveis e condizentes com a realidade do campo de estudo. Além disso, descobrir insights pode complementar o pensamento e observação dos padrões. Insights são revelações – coisas e eventos inesperados que chamam a atenção, geralmente por extrapolarem histórias individuais para verdades mais abrangentes, abrindo um leque de novas possibilidades de análise que direcionam a atenção a 15


detalhes de comportamento dos usuários em estudo. Por fim, o agrupamento de temas e observações semelhantes em estruturas ajuda a organizar o processo de brainstorming, uma vez que permite gerar grupos e relações entre os pontos sintetizados mais importantes. Geralmente, no desenvolvimento de projetos de design, utilizam-se diagramas e mapas, como o Diagrama de Venn , mapas processuais ou mapas relacionais. Após se lapidar as ideias, uma metodologia de análise mais concreta das soluções geradas é a materialização de protótipos, transformando as soluções tangíveis de forma rápida e com baixo investimento. Protótipos são construídos para ajudar a pensar, a fim de iterar soluções de forma rápida e possibilitar a avaliação de feedback dos usuários. O feedback é crítico para o processo de design e envolve os futuros usuários em seu desenvolvimento – protótipos diferentes que evidenciam aspectos variados dos projetos, habilitam as pessoas a dar um feedback honesto, possibilitando o enriquecimento do projeto do produto final. Por fim, a fase “Implementar” marca o início da implementação de soluções através de um sistema rápido de modelagem de custos e receitas, estimativas de capacitação e planejamento de implementação. Essa fase também auxilia no lançamento de novas soluções.

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3

metodologia de pesquisa


3metodologia de pesquisa O presente estudo é parte de uma pesquisa de natureza exploratória e qualitativa, com abordagem multi-métodos que visam compreender a percepção e o comportamento dos usuários no ambiente, aliado à aplicação de novas tecnologias de design. Os métodos aqui apresentados abordam desde o processo de análise da área de intervenção até a materialização em escala 1:1 do projeto desenvolvido. São eles: Revisão de Literatura, Diagnóstico da Área, Capacitação de Softwares, Painel semântico, Brainstorming, Análise de referenciais, Modelagem, Prototipágem Rápida, e, por ultimo, a Fabricação do objeto em escala 1:1. Segue abaixo uma breve descrição de cada um dos métodos.

3.1

revisão crítica de literatura

A revisão crítica de literatura foi realizada com o objetivo de aprofundar-se em três temáticas: Compreender o HCD (Human Centered Design) e outros meios de inserir o usuário no processo projetual; Estudar novas tecnologias aplicadas ao design, como a Prototipagem, a Fabricação Digital e a Parametrização, compreendendo seus benefícios, limitações e meios de aplicação; Compreender a utilização de equipamentos e mobiliários urbanos, estudando-se também referenciais já existentes. Este primeiro contato com as temáticas permitiu traçar a metodologia que aborda a interdisciplinaridade entre o design, arquitetura e tecnologia.

3.2

capacitação do software

A partir da revisão de literatura sobre tecnologias de projeto e fabricação digital, optou-se pela utilização do software Rihnoceros e do seu pluggin Grasshoper, permitindo um projeto parametrizado, de fácil prototipagem e futura fabricação 1:1. Deste modo, houve uma capacitação de toda equipe envolvida para domínio do software, além da compreensão de formas de materialização como impressoras 3D e cortadora a laser, os quais serão utilizados como ferramentas 20

dentro das próximas etapas de projeto.

3.3

diagnóstico da área de intervenção

O diagnóstico da área de intervenção visou compreender a dinâmica das atividades e a interação dos usuários no espaço de estudo, com o objetivo de dar subsídios para o desenvolvimento da proposta projetual. Para isto, foi desenvolvido e aplicado um método de análise composto por: Observação-Questionário-Observação. Primeiramente, observaram-se os usuários em diferentes horários e períodos da semana, para ter uma visão geral das principais atividades e ações. Para discussão e análise dos dados coletados, foram utilizados desenhos, registros fotográficos e vídeos. Após este primeiro contato, foi elaborado um questionário com base nas informações coletadas e aplicado em uma atmosfera de 30 estudantes, em diferentes períodos, para abranger maior variedade de público. Após a aplicação e tabulação de dados, realizou-se uma nova observação para confirmar os dados obtidos, analisar algumas considerações finais ou divergências.

3.4

processo criativo: mapa conceitual, painel semântico e brainstorming

Prosseguindo as etapas de diagnóstico e iniciando o processo projetual, optou-se pela aplicação de diferentes métodos de design que estimulam o processo criativo e criam mais consciência sobre as intenções de projeto. Primeiramente, elaborou-se um mapa conceitual com palavras-chaves referentes aos meios de apropriação dos usuários, facilitando a priorização de conceitos norteadores de projeto. A partir disto, elaborou-se um painel semântico com imagens que representariam cada conceito escolhido, tornando mais claro e visível tais intenções. Por último, foi realizado um brainstorming com todos os dados discutidos anteriormente, cro-


quis de propostas de intervenção e referências, buscando discutir em conjunto o design da proposta de intervenção.

3.5

processo de modelagem e prototipágem rápida

Após as primeiras definições de projeto, iniciou-se o processo de modelagem do mobiliário proposto, dando continuidade ao processo criativo de maneira mais prática. Os primeiros estudos foram realizados a partir de desenhos e maquetes manuais, característicos do processo tradicional de projeto em arquitetura. Posteriormente, as alternativas foram modeladas no software Rhinoceros com auxílio do pluggin Grasshoper, utilizando-se da impressora 3D como ferramenta para testes a partir do estudo de protótipos. O presente estudo encontra-se atualmente neste estágio da metodologia.

3.6

processo de fabricação 1:1

A partir da definição do projeto final de mobiliário, as propostas serão fabricadas na escala 1:1. Para isto, serão utilizadas diferentes tecnologias construtivas que podem variar de acordo com a proposta, incluindo: Cortadoras a laser, Cortadora CNC e impressora 3D. Após sua fabricação, os equipamentos e/ou mobiliários são inseridos na área de intervenção para apropriação pelos usuários. É então realizada uma nova análise com o objetivo de testar e avaliar a proposta desenvolvida, além de observar qual a resposta do usuário perante o projeto. Para esta análise, é utilizado novamente o método Observação-Questionário-Observação, assim como na primeira etapa do diagnóstico. Neste momento, avaliam-se os efeitos e resultados da inserção da diferenciada metodologia projetual, para compreender se a mesma respondeu efetivamente às necessidades dos usuários, percebidas na primeira etapa de diagnóstico.

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4

desenvolvimen to da proposta


4desenvolvimento da proposta 4.1

análise da área de intervenção

A praça da Cidadania é considerada o coração da universidade, tanto pela sua posição estratégica quanto pelo papel que representa para os estudantes - um local comum a todos os centros, de convívio e passagem. A faixa etária dos usuários está entre jovens estudantes de 18 a 30 anos. Estes utilizam a praça sozinhos ou acompanhados durante o horário de intervalo ou pausas na rotina. É também muito utilizada como passagem, contando com importantes fluxos que conectam os centros da universidade. A imagem abaixo ilustra a praça: Por tratar-se de um local aberto, com conceitos de integração, convivência e cidadania, desenvolveram-se na praça intervenções de diferentes tipologias, sejam elas manifestações artísticas ou culturais. Estas são visualizadas pela quantidade de monumentos que se encontram no local, tornando a praça um local de intenso uso e apropriação por parte de estudantes e demais usuários. Ocorrem no local, ainda, eventos esporádicos, como festejos acadêmicos,

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Figura 1 – Foto da Praça da Cidadania. FONTE: Autoria própria

sessões de cinema aberto, shows, festivais, apresentações artísticas, etc. Há ainda eventos periódicos, como a tradicional feira de alimentos orgânicos, artesanatos, lanches e demais amostras, que acontece todas as quartas-feiras, movimentando diversos usuários e promovendo pequenos comércios. As entradas da praça apresentam um fluxo ininterrupto, que se eleva em horários específicos, como no início e fim das aulas e, principalmente, durante o horário do almoço, devido à proximidade do restaurante universitário. Quanto à permanência, há um maior número de usuários depois do almoço e durante a tarde, principalmente quando o clima está agradável. Nas quartas-feiras, devido a tradicional feirinha e as apresentações musicais que ali se desenvolvem, a praça apresenta ainda mais movimento, fazendo com que o gramado permaneça completamente ocupado por rodas de estar. Percebe-se que hoje a praça apresenta mobiliário precário, contando com poucos bancos, lixeiras e postes de


iluminação. Sua implantação parece estar jogada ao acaso, não criando relações com as edificações e com o desenho urbano da praça conformada em frente ao Centro de Comunicação e Expressão da <omitido para revisão cega>. Entretanto, o pouco mobiliário presente é usado pelos estudantes, que buscam, ainda, outras formas de apropriar-se do espaço que não dependa de qualquer equipamento. Características importantes em relação ao usuário e os meios de apropriação com o espaço, reveladas na pesquisa: • Proximidade com o solo: usuários preferem sentar no gramado ou nas raízes das árvores, escorando-se geralmente nos seus troncos. • Sombra: variável que determina o espaço de permanência – os usuários preferem as áreas sombreadas do que as áreas ao sol. • Árvores/Vegetação: apresentam uma relação mais intensa com os usuários pois, além do sombreamento, delimitam um espaço, com maior proteção da visibilidade, permitindo o encosto. • Liberdade: um dos maiores problemas dos mobiliários atuais é sua pouca versatilidade e liberdade de apropriação e locomoção. Eles encontram-se em lugares fixos com uma função bastante limitada.

Figura 2 – Mapa conceitual de análise da área de estudo. FONTE: Autoria própria.

4.2 processo criativo O desenvolvimento criativo da proposta ocorreu após plena consciência das atividades e usuários da área de intervenção, o que tornou o processo mais claro e objetivo. A elaboração de um mapa conceitual (Figura 2) buscou trazer as palavras mais fortes que se destacaram durante a observação da Praça da <omitido para revisão cega>: Liberdade, Solo, Vegetação, Arvores, Sombreamento, Descanso, etc. A partir disso, com o objetivo de filtrar os conceitos mais relevantes e poder buscar aspectos que os correlacionassem para a materialização de um mobiliário, selecionaram-se imagens que representavam cada conceito. Estas imagens, que formam um painel semântico (Figura 3), não deveriam estar relacionadas necessariamente a mobiliários, mas a sensação que cada palavra do mapa conceitual transmite. Posteriormente, foi realizado um grande brainstorming de idéias (Figura 3) através de croquis e referenciais.

Figura 3 – Painel semântico referente aos conceitos da área de intervenção. FONTE: Autoria própria.

Figura 4 – Brainstorming de idéias. FONTE: Autoria própria.

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Ao analisar todas as imagens juntas, percebe-se que a maior parte delas tem relação com a natureza e com um dinamismo fluido. Com isso, a proposta tende a um objeto orgânico, que se integre ao ambiente e não perca a sua forte relação com o solo. Tal proposta deve também permitir que os usuários tenham a escolha de onde e como se apropriar do mobiliário e do espaço, dando ênfase no conceito de liberdade.

que acompanhariam o seu desenho. A partir desta curva, o mobiliário se forma por parâmetros pré-estabelecidos referentes às análises anteriores sobre a área de intervenção, e questões ergonômicas e de conforto, como altura do nível do solo, altura do encosto, altura do nível de assento. A figura 5 mostra o desenvolvimento do processo, com a utilização do software.

Portanto, a proposta resultou em um mobiliário multifuncional. Trata-se de pequenos elementos, que se integram com a paisagem e servem de complemento para as funções já executadas pelos usuários junto às árvores. Estes elementos adaptam-se facilmente a encostos, assentos, mesas, ou outras funções na qual o usuário destinar. São leves, o que permite sua fácil alocação ou manejo, podendo criar centros de estar ou isolamento.

A partir da modelagem da primeira etapa do mobiliário, foram fabricados protótipos na impressora 3D (Figura 6 e 7). Nesta etapa do processo tornaram-se evidentes os erros de modelagem: áreas muito curvas, pouco espaço de acento, encosto insuficiente, etc. A cada ajuste ou alteração do mobiliário foram feitas novas impressões. Destaca-se a importância desta etapa pois muitos destes erros não são possíveis de analisar unicamente no computador. Além disso, a impressão de pequenos protótipos é uma tarefa ágil e prática, que permite o aperfeiçoamento do projeto e evita futuros erros de execução.

4.3 processo de modelagem e prototipagem

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A modelagem das possíveis propostas foi inicialmente desenvolvida no software Rhinoceros. Quando adquirida a consciência do desenho do mobiliário, iniciou-se o processo paramétrico de projeto, através do pluggin Grasshopper. O primeiro passo foi definir a área de implantação, representada no software por uma curva. Esta curva serviu de base para a elaboração do mobiliário, que teria formas orgânicas

Depois de executados os ajustes na proposta do mobiliário, estudaram-se os seus meios de construtibilidade. Como a proposta de fabricação na escala 1:1 é utilizando a técnica interlocking com placas de MDF, o primeiro teste realizado foi para verificar a estrutura da peça, simulando o mobiliário na escala 1:5. Para tanto, foram necessários estudos da orientação dos eixos, dos afastamentos entre as placas e dos

Figura 5– Processo de modelagem parametrizada utilizando o software Rhinoceros e o pluggin Grasshoper. FONTE: Autoria própria.

Figura 6 e 7– Protótipos do mobiliário impressos na impressora 3D FONTE: Autoria própria.


encaixes. Estes estudos foram realizados com a produção de cortes e construção de 1/3 do comprimento total do modelo obtido, em menor escala, para verificação de encaixes e consistência do modelo. A execução do interlocking e sua planificação foi realizada no software 123DMake, com a primeira tentativa de corte das peças em Papel Paraná, espessura 1mm, em cortadora laser (figura 8). Nesta etapa encontraram-se dificuldades de montagem da peça, visto a irregularidade na espessura do material e nos encaixes justos. Portanto, foi necessário fazer um novo teste ainda na escala reduzida, com MDF e encaixes mais frouxos. Foi utilizado então o MDF de 3 mm, ainda na cortadora a laser (Figura 5). Esta ferramenta mostrou-se também ágil, de fácil manuseio e de extrema importância para identificar falhas e evitar futuros problemas na fabricação 1:1.

Figura 6 e 7– Protótipos do mobiliário impressos na impressora 3D FONTE: Autoria própria.

Figura 8 e 9 – Montagem do mobiliário em Interlocking, em escalas reduzidas – papelão e MDF. FONTE: Autoria própria.

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4.4 processo de fabricação na escala 1:1

Após realizados todos os testes necessários para o refinamento do projeto, foi realizado o corte na escala 1:1, em MDF 6mm, com a utilização de fresadora CNC. Ainda na produção de apenas 1/3 do comprimento total da peça modelada, este processo foi mais demorado do que o esperado, visto as falhas encontradas na falta de interoperabilidade entre os softwares envolvidos para a produção do modelo em escala 1:1. A primeira dificuldade foi na exportação dos desenhos entre o software 123DMake e o software de geração de percurso de usinagem, para posterior obtenção de g-Code, responsável pela leitura da CNC. Desencontros milimétricos nas formas obtidas impediam o reconhecimento do software da CNC para corte. Na tentativa de minimizar o problema, as peças foram reajustadas com a utilização do AutoCAD, o que tornou o processo mais lento do que o esperado. Quando iniciados os cortes na CNC, houveram problemas técnicos na máquina que atrasaram a montagem, visto que a máquina passou um tempo desativada no laboratório. Após a resolução de problemas técnicos, o corte das peças em MDF 6mm (Fígura 10) se mostrou eficiente e relativamente rápido. Com um total de 30 peças, a montagem se deu com o auxilio do modelo em escala menor, ja utilizado anteriormente durante o processo projetual (Figura 12).

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A maior dificuldade obtida durante a montagem foi quanto às espessuras dos “ïnterlocks”. Como a espessura do material era de 6mm, uma fresa com exatos de 6mm foi utilizada para o corte dos encaixes. Isso ocasionou uma resistência destes encaixes, especialmente naqueles em que sua quantidade era maior. Entretanto, o material e sua configuração responderam favoravelmente à montagem previa do mobiliário, que foi transportado montado para o local de análise.

4.5 análise comportamental do mobiliário in loco

O mobiliário foi posicionado na Praça da Cidadania, e observado o comportamento dos usuários ao seu redor, em diversos períodos do dia. No primeiro momento, os usuários sentiam certo estranhamento com o objeto, parecendo não identificar seu uso e apresentando receio em utilizá-lo, possivelmente por sua estética frágil, apesar de ter grande resistência. Formaram-se rodas de estar ao redor do mobiliário, que se encontrava inutilizado. Após o primeiro contato, começaram a se registrar pequenas interações com o mobiliário: usuários sentando-se em seus dois lados e utilizando-o como apoio para mochilas. Como foi materializado apenas uma fração do mobiliário em escala 1:1, o seu impacto em relação a área de intervenção é menor do que se toda a proposta fosse materializada. Ainda

Figura 10, 11 e 12 – Cortes das peças na CNC para montagem. FONTE: Autoria própria.


assim, as relações e o objeto respondem as necessidades citadas nas primeiras etapas de diagnóstico: Proximidade com o solo e complemento às atividades já executadas pelos usuários no espaço. Espera-se em próximas pesquisas estudar a possibilidade de materializar a proposta completa.

Figuras 13, 14, 15 e 16 – Mobiliário inserido na área de intervenção. FONTE: Autoria própria.

Figuras 13, 14, 15 e 16 – Mobiliário inserido na área de intervenção. FONTE: Autoria própria.

Figuras 13, 14, 15 e 16 – Mobiliário inserido na área de intervenção. FONTE: Autoria própria.

Figuras 13, 14, 15 e 16 – Mobiliário inserido na área de intervenção. FONTE: Autoria própria.

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5

anรกlises


5análises

5.1 avaliação das ferramentas fabricação A partir da experimentação de diferentes ferramentas de fabricação digital inseridas no processo de projeto, analisaram-se os aspectos positivos e negativos que resultaram deste processo (Tabela1).

PONTOS POSITIVOS MODELAGEM PARAMÉTRICA

Facilidade de futuras replicações

IMPRESSÃO 3D

Agilidade e facilidade de execução; Possibilidade de corrigir erros do projeto antes de sua execução

CORTE A LASER

Agilidade e facilidade de execução; Possibilidade de corrigir erros do projeto antes de sua execução

CORTE NA CNC

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Agilidade e precisão de corte

Tabela 1: Tabela síntese da análise das ferramentas de fabricação digital. FONTE: Autoria Própria.

PONTOS NEGATIVOS Complexidade do software; Limitações do desenho; Exigência de mais tempo para modelagem.

-

-

Complexidade do software de usinagem; Falta de interoperabilidade dos softwares envolvidos; Problemas ténicos na máquina


5.2 avaliação dos métodos

forma aleatória e que abranga a maior variedade de público possivel, para não obter resultados tendenciosos.

Através da intenção de trabalhar com uma abordagem interdisciplinar entre metodologias de design e arquitetura, o processo de projeto foi permeado por novos métodos e ferramentas. De maneira geral, a metodologia desenvolvida organiza-se em quatro etapas: Levantamentos, Estudos Preliminares, Experimentação (no caso, em escala 1:1) e Execução , como mostra o diagrama da figura .

O Estudo Preliminar consiste na síntese dos dados levantados na etapa anterior, através de mapas conceituais e painéis semânticos, os quais irão gerar as intensões de projeto. Feito isso, inicia-se o momento de geração de alternativas através de modelos em escala, desenhos e croquis, guiados por parâmetros desenvolvidos a partir das intensões de projeto. Nesta etapa, a fabricação digital vem a ser uma inovação, uma vez que é um veículo para a materialização dos modelos de forma automatizada. Ainda, a parametrização pode auxiliar na concepção e organização dos parâmetros previamente criados e inserí-los na modelagem desses estudos.

O levantamento trata-se da etapa de coleta de dados em campo e de um primeiro contato com o local de estudo e seus usuários, através de observações, questionários e entrevistas – etapa primordial de reconhecimento da área estudada e criação de empatia pelas pessoas, o que refletirá diretamente na qualidade do produto final. Quando trata-se de um grande numero de usuários e que não seja possivel o contato com todos, é necessário escolher uma atmosfera de

Figura 16 – Abordagem interdisciplinar. Desenvolvido pelos autores.

Através dos estudos dos modelos, é feita a escolha de um deles pela equipe de trabalho, elencado como mais adequado aos estudos realizados e que seja condizente com as intensões de projeto. Então, parte-se para a terceira etapa, a

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Experimentação, em escala real. Assim, permite ao usuário conhecer uma situação muito semelhante a que possa vir a ser apresentada pelo produto final. Esta etapa também é caracterizada pelo feedback dos usuários quando estes experimentam o objeto projetado. A equipe então aplica novos questionários e entrevistas a fim de coletar informações positivas e negativas a respeito do projeto. Caso a resposta venha a ser negativa, volta-se aos parâmetros e geram-se novas laternativas, repetindo-se o processo, até, finalmente, chegar a uma resposta positiva. Ao se ter uma resposta positiva do usuário, entra-se na última etapa do processo, a Execução a qual busca implantar, definitivamente, a proposta final. É importante ressaltar que durante todo o processo o método HCD permeou as etapas, além de permitir compreensão aprofundada das necessidades dos usuários, a fim de gerar propostas mais qualificadas aos usos e contextos na qual se inserem. Pode-se observar que até a etapa atual da presente pesquisa, a metodologia tem se mostrado eficiente. A interdisciplinaridade, nesta abordagem objetiva, visa ampliar a visão de arquitetos buscando adaptar-se aos avanços tencológicos da computação como a criação de softwares paramétricos e de modelagem, os quais trazem consigo um leque de possibilidades e variáveis. Assim, o processo de projeto acaba por apresentar uma nova lógica, uma nova maneira de organizar ideias e elucidar questões referentes a prática projetual.

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6

consideraçþes finais


6considerações finais A inserção da Fabricação Digital como ferramenta de projeto permite ao projetista pensar sobre diversas condicionantes que permeiam o processo projetual, principalmente no que se refere a aspectos construtivos. Quanto à fase de estudo e análise, a Fabricação Digital mostrou-se facilitadora para materialização de protótipos e estudos em escalas reais, o que possibilita o teste do projeto e torna seus problemas mais visíveis. Deste modo, o projetista adquire maior consciência das problemáticas, levando não só a um refinamento e qualificação do projeto, mas também evita futuros conflitos de execução.

A Parametrização do mobiliário mostrou-se essencial para a intenção de um projeto versátil e de diferentes aplicações. Uma vez definida a programação, a alteração da modelagem torna-se muito mais ágil, o que permite a replicação do mobiliário proposto para outras localidades, mantendo seus aspectos ergonômicos, alterando-se apenas os parâmetros referentes a implantação. A experiência mostrou que as diversas técnicas de materialização utilizadas durante a pesquisa não inibem a produção criativa ou a limita de maneira rígida como os sistemas convencionais. Ao contrário, quando inserida no processo projetual, pode vir a fornecer diversas possibilidades, principalmente para materialização de protótipos de maneira rápida e automatizada, garantindo otimização do tempo de análise do projeto, uma vez que este tempo, antes gasto no processo de construção dos protótipos, pode ser usado para a avaliação do projeto.

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7

referĂŞncias


7referências

PUPO, Regiane; VAZ, Carlos; CELANI, Gabriel. Sistemas generativos de projeto: classificação e reflexão sob o ponto de vista da representação e dos meios de produção. Revista Brasileira de Expressão Gráfica, São Paulo, v. 1, n. 1, p.22-39, nov. 2013. Celani, G.; Vaz, C.; Pupo, R. (2013). Sistemas generativos de projeto: classificação e reflexão sob o ponto de vista da representação e dos meios de produção. Revista Brasileira de Expressão Gráfica, São Paulo, v. 1, n. 1. IDEO. (2009). Human-Centered Design: Kit de Ferramentas. 2. ed. Palo Alto, California: Ideo. Disponível em:<http://www.ideo. com/images/uploads/hcd_toolkit/HCD_ Portuguese.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2015. Krippendorff, K. (2000) .Propositions of Human-centeredness: A Philosophy for Design. In: Durling, D.; Friedman, K. (Eds.). Doctoral Education in Design: Foundations for the Future. Staffordshire (UK): Staffordshire University Press. Voordt, THEO J. M. van der, WEGEN, Herman B. R. van Wegen. (2003). Arquitetura sob o olhar do usuário. São Paulo: Oficina de Textos Mitchell, William J. (2001). “The Revenge of Place.” In Proceedings, Space Syntax, 3rd International Symposium, 01.1-01.6. Atlanta: Georgia Institute of Technology. Pazmino, A. V. (2013) Como se cria: 40 métodos para design de produtos. São Paulo: Blucher. KOLAREVIC, Branko. Architecture in the Digital Age: Design and Manufacturing. Nova York: Taylor & Francis, 2005. Texto technology and Labour – coren d sharples. KOLAREVIC BANKO. PAG 32

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apêndinces Questionário aplicado no processo questionário-observação-questionário.

QUESTIONÁRIO FABRICAÇÃO DIGITAL COMO MEIO PARA AUXILIAR A PERCEPÇÃO DO USUÁRIO NO PROCESSO ITERATIVO NO DESENVOLVIMENTO DE UMA INTERVENÇÃO URBANA

1. Idade 2. Sexo a. Masculino b. Feminino 3. Curso 4. Com que frequência você utiliza o espaço? a) Quase todos os dias b) De duas a três vezes por semana c) Uma vez por semana ou raramente. 5. Finalidade a) Passagem b) Permanência curta, durante os intervalos c) Permanência estendida, por um período superior a 1 hora. 6. Motivos a. A ambientação agradável b. A localização próxima as atividades desenvolvida c. Eventos (shows de quarta, concha acústica) d. Amigos ou conhecidos que frequentam o bloco. e. Outro ______________

e. Possibilidade de interação f. Liberdade 10. Elementos de importantes

ambientação

mais

11. Elementos de ambientação menos importantes ( ) Vegetação ( ) Mobiliário (bancos, mesas, concha acústica) ( ) Organização espacial ( ) Pessoas ( ) Movimento ( ) Sombra ( ) Grama/solo ( ) Café/lanchonete ( ) Eventos (shows de quarta/Happy Hours)

7. Como se apropria do espaço a. Senta na grama b. Utiliza-se dos mobiliários c. Fila do Ru (em pé, espera) d. Utiliza a concha e. Usa as árvores (encosto, sombra) 8. Pontos negativos a. Falta de proteção de intempéries b. Falta de iluminação c. Falta mais bancos d. Irregularidade do calçamento e. Falta de cuidado f. Falta de atividades – cultural, artística 9. Pontos a. b. c. d.

positivos Espaço amplo Gramado Arvores (sombra, vegetação) Variedade de eventos

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apêndinces

Artigo selecionado para apresentação oral no XIX SIGRADI - Congresso da Sociedade Ibero americana de Gráfica Digital

A FABRICAÇÃO DIGITAL COMO FERRAMENTA DE PROCESSO DE PROJETO: CONECTANDO DESIGN E ARQUITETURA Maria Candelária Ryberg Universidade Federal de Santa Catarina candelária.ryberg@gmail.com

Regiane Pupo Universidade Federal de Santa Catarina regipupo@gmail.com

Maurício Storchi Universidade Federal de Santa Catarina mauriciostorchi@gmail.com

Ivan de Medeiros Universidade Federal de Santa Catarina ivanmedeiros75@gmail.com

Resumo Este trabalho é uma tentativa experimental de avaliar a inserção de novas tecnologias, com ênfase na Fabricação Digital, durante o processo projetual, a fim de estudar e avaliar como este processo pode vir a enriquecer, de maneira recíproca, a interdisciplinaridade entre a área de design e arquitetura. Com uma atividade pontual e específica de uma intervenção urbana, este artigo visa elucidar que a permeabilidade entre as áreas de Arquitetura e Design pode trazer soluções inovadoras, clareza durante o processo, além do conhecimento de diferentes experiências. Keywords: Digital Fabrication; Human Centered Design; Design Process

Introdução As diversas formas de processo de projeto nas áreas de design e arquitetura, hoje, estão sendo repensadas em virtude da inserção das novas tecnologias para concepção, desenvolvimento e materialização. Cada vez mais, técnicas, ferramentas e métodos se completam, proporcionando ao designer e ao arquiteto um envolvimento literal durante todo o processo projetual. Com uma atividade pontual e específica de uma intervenção urbana, este artigo visa elucidar que a permeabilidade entre as áreas de Arquitetura e Design pode trazer soluções inovadoras, clareza durante o processo, além do conhecimento de diferentes experiências.

para se atingir uma finalidade, podendo ser entendido como um composto de várias técnicas”. O método, supondo ser uma sistemática de trabalho, de organização e de rigor no desenvolvimento, conduz a soluções inovadoras, sendo que alguns destes são técnicas especificas para auxiliar o pensamento criativo (PAZMINO, 2013). Ferramentas projetuais, como a parametrização, permitem estabelecer relações entre elementos ou grupo de elementos de um projeto a ser desenvolvido, atribuindo valores ou expressões numéricas a fim de organizar e controlar estas definições (CELANI, VAZ e PUPO, 2013). O que diferencia esta das ferramentas tradicionais de projeto, em que se inclui o sistema CAD, é a inter-relação dos elementos que compõem o mesmo. Uma vez estabelecidas as relações entre os elementos, o sistema composto por diversos parâmetros ganha autonomia, possibilitando explorar novas soluções que talvez não seriam atingidas com a utilização de sistemas convencionais. Como consequência, alterações dentro do projeto podem ser realizadas de maneira mais rápida, com a manipulação dos parâmetros, sem a necessidade de se recomeçar desde as fases iniciais. Ao mesmo tempo, a fabricação digital completa o entendimento, pois, de forma precisa e diversificada, tem a capacidade de materializar o projeto, causando maior compreensão espacial, formal e compositiva do que está sendo proposto.

O processo de projeto arquitetônico é composto por etapas que possuem métodos e ferramentas específicos. Quanto maior a eficiência nessas etapas, maiores as contribuições para a melhoria dos projetos e, consequentemente, maior é a qualidade nas construções. A Fabricação Digital (FD), assim como as técnicas de parametrização de projeto, tem mostrado resultados inovadores e de qualidade nesse contexto, aliando eficiência, rapidez e precisão ao projeto arquitetônico. O potencial que estas novas tecnologias trazem à produção e ao gerenciamento de projetos amplia o processamento tridimensional, colaborando na compreensão espacial e no Buscando uma integração entre práticas desenvolvimento de modelos rapidamente prototipados desenvolvidas na arquitetura e ferramentas utilizadas no (CELANI, VAZ e PUPO, 2013). design, o presente estudo analisa a inserção da Fabricação No design, o processo e métodos de projeto, por Digital e de sistemas paramétricos durante o processo de vezes, são mais sistemáticos e concentram uma gama de projeto de mobiliários urbanos, por meio de uma proposta de técnicas e ferramentas que os tornam mais controlados e intervenção na Universidade Federal de Santa Catarina, em objetivos. Segundo Pazmino (2013), “Método é o caminho Florianópolis. Para tanto, elaborou-se um projeto de mobiliário para a Praça da Cidadania, coração da

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universidade, onde concentra-se o maior fluxo e número de usuários do campus. O estudo foi fundamentado em técnicas de Human Centered Design (HCD), em que o usuário é o principal ator do processo de projeto, influenciando desde as etapas de levantamento, concepção e análise, até a implementação da proposta (IDEO, 2009). Estas técnicas estão presentes em pesquisas de mercado e desenvolvimento de diversos produtos e serviços. O projeto sustentou-se ao longo do processo nas possíveis técnicas de Fabricação Digital, com a elaboração de protótipos na impressora 3D, fabricação de modelos em escala menor com corte laser para estudo e análise dos meios de montagem, e, por último, a fabricação da proposta de mobiliário em escala 1:1.

cidade, sendo acessível por quase a totalidade da população. Ou seja, um projeto com esse caráter, deve ser dinâmico e versátil, atendendo as expectativas e necessidades de uma grande variedade de usuários. Além disso, o uso e os usuários mudam com o tempo, assim como a cidade se transforma na temporalidade. Portanto, muitos arquitetos e designers tentam produzir estruturas e produtos adequados a usos múltiplos, permitindo interpretações e intervenções individuais. Hertzberger (1963) escreveu:

“Para estar à altura das mudanças, as formas tem de ser construídas para permitir a miríade de interpretações. Têm de poder assumir vários significados e depois abandoná-los novamente sem prejudicar a sua identidade. Isso significa buscar formas primárias que, além de acetar um programa de necessidades, possam também libertar-se dele. A forma e as As Tecnologias e a Evolução do Processo necessidades se inspiram uma na outra, A impossibilidade de criar um ambiente individual que se ajuste a todos torna de Projeto necessário permitir interpretações individuais ao se projetar as coisas de modo a serem realmente capazes de No processo de concepção de projetos de interpretação.” arquitetura, o projetista sempre terá um momento em que escolherá a forma de seu projeto. Este processo é Entretanto, podemos dizer que a frequência de influenciado por uma série de fatores, os quais foram, ao projetos idealizados para usuários múltiplos e desconhecidos longo do tempo, sendo questionados e recebendo muitas é cada vez maior. Isso nos leva a uma pasteurização de respostas diferentes dependendo do contexto em que eram significados, formas e conceitos nos projetos. Vemos a feitas. Podem-se citar como estes fatores, a função, o produção em massa normatizar e padronizar produtos e contexto ambiental e histórico em que ocorre o projeto, as observamos arquiteturas e projetos urbanos cada vez mais características do local em que o projeto se insere, a cultura incógnitos que demonstram uma ausência de pertencimento do local ou de seus usuários, o tempo de construção, as ao local onde são concebidos, além de serem desprovidos de condições sociais, a moda, as restrições jurídicas e um estudo de uso e ocupação dos usuários à qual são econômicas, etc. (VOORDT; VAN WEGEN, 2013). destinados. Entretanto, projetistas encontram-se neste dilema: há um desejo pela originalidade do projeto, porém, ao À medida que há um aumento no número destes introduzir as variáveis de custo e velocidade de fatores, a relação entre a forma e a função passa a ter um materialização, os aspectos que dão personalidade ao caráter mais complexo. O ato de projetar é uma atividade produto final são deixados de lado em prol do orçamento e humana, ou seja, as opiniões, preferências e a subjetividade cronograma, optando-se muitas vezes por materiais de dos envolvidos com o projeto acabam por influenciar tanto a produção em massa, sem peculiaridades ou até mesmo sem forma como a função. Na maioria dos projetos, a forma nunca relação com a proposta idealizada. é totalmente livre. Um projeto atraente é apenas um dos fatores que levam uma arquitetura a ser considerada boa. Em Muitas empresas e escritórios de arquitetura e suma, um bom projeto, que gere um bom resultado, é uma design vêm, ao longo dos anos, tentando resolver este síntese bem sucedida da forma, da função, do custo e da questão: Como projetar e concretizar as especificidades de tecnologia utilizada (VOORDT; VAN WEGEN, 2013). um projeto, buscando não torná-lo padronizado, mas sim, manter uma originalidade, ao mesmo tempo em que há Entretanto, a função exerce um peso considerável rapidez na materialização? na escolha da forma. No fim do século XIX, com os ideais modernos, a funcionalidade passa a ser aceita como base na Mitchell (2001) observou que as consequências concepção de projetos, influenciando diversos setores além deste processo eram que os arquitetos desenhavam o que da arquitetura. A abordagem racional teve grande expansão, eles poderiam construir e construiam o que desenhavam. trazendo a produção em massa, a pré-fabricação, a Este fato, mesmo com a inserção da arquitetura na era digital, padronização e a normalização como respostas a ideologia não desapareceu completamente. da época, buscando a velocidade de fabricação e economia de tempo e capital. A arquitetura, e boa parte da indústria de Isso demonstra a falta de conhecimento dos produção de bens, começaram a ser influenciados pelos projetistas sobre construtibilidade, uma vez que estes ficam processos de produção e pela facilidade de montagem. presos a desenvolver propostas com base nas experiências construtivas já consolidadas no mercado, não estudando, Na arquitetura, o projeto é geralmente idealizado durante a etapa projetual, novas formas construtivas. Forms para cumprir uma determinada função e muitas vezes não se estas que poderiam ser compreendidas e testadas por torna adequado a outras funções. Quando se trata de um softwares e tecnologias de modelagem, análise e projeto urbano, mais especificamente de uma intervenção materialização de modelos e projetos de maneira rápida e urbana, a proposta projetada se insere no espaço público da precisa. Esta falta de abertura às inovações tecnológicas se


deve a certo receio de uma nova forma de pensar arquitetura, A partir da revisão crítica de literatura sobre a uma vez que estas tecnologias exigem uma nova lógica de temática, foi traçada uma metodologia que aborda a projeto. interdisciplinaridade entre o design, arquitetura e tecnologia. Este processo dividiu-se em duas etapas: processo criativo e Para alguns designers, Fabricação Digital pode ser processo de modelagem/fabricação, os quais, em diversos utilizada para a representação do desenho finalizado ou para momentos, se cruzaram, tornando o entendimento da forma e estudar formas complexas por meio de artefatos físicos. Uma suas possíveis soluções mais precisos. Já desde as primeiras vantagem principal da FD é a sua capacidade para fabricar fases do projeto, a interpolação dos processos utilizados em representações materiais de elevada qualidade para os design e em arquitetura pôde contribuir para a proposta. desenhos complexos. O processo de design com FD também apoia o processo criativo de designers para produzir A etapa de processo criativo consistiu na análise da variações de um único artefato ou diversos artefatos em área de estudo - realizada através de observações vários estágios de design (SASS e OXMAN, 2006). Do ponto sistemáticas e aplicação de questionários com o publico alvo de vista do processo de concepção e com a visão do design - e na geração de alternativas. A etapa de modelagem como processos contínuos e integrados de conceituação, utilizou-se das tecnologias projetuais já citadas materialização, e fabricação, oferece uma grande promessa Parametrização, Prototipagem e Fabricação Digital. Segue para verdadeiramente uma nova definição de design, abaixo uma descrição de cada uma das etapas: concluem os mesmos autores. Por novas tecnologias entende-se conceber projetos paramétricos, ou seja, trabalhar com parâmetros em softwares de modelagem paramétrica permitindo uma melhora no ajuste de partes que afetam todo o sistema projetado. Por exemplo: quando um ponto em uma curva é reposicionado, toda a curva se realinha de forma autônoma. Isso garante maior facilidade de adaptação e mudança.

a) Revisão Crítica de literatura

A revisão crítica de literatura foi realizada com o objetivo de aprofundar-se em três temáticas: • •

Esta nova maneira de projetar permite fornecer diversas possibilidades, principalmente para materialização de protótipos de maneira rápida e automatizada com a • fabricação digital, garantindo otimização do tempo de análise do projeto, uma vez que este tempo, antes gasto no processo de construção dos protótipos, pode ser usado para a avaliação dos modelos.

Compreender o HCD (Human Centered Design) e outros meios de inserir o usuário no processo projetual; Estudar novas tecnologias aplicadas ao design, como a Fabricação Digital e sistemas paramétricos, compreendendo seus benefícios, limitações e meios de aplicação; Compreender a utilização de equipamentos e mobiliários urbanos, estudando-se também referenciais já existentes.

b) Processo criativo

Além disso, estas tecnologias abrem um grande Análise da área de intervenção leque de variáveis e problemáticas, antes negligenciadas nas etapas projetuais, passando agora a serem elucidadas na O diagnóstico da área de intervenção visou fase de elaboração, criação e desenvolvimento de propostas, compreender a dinâmica das atividades e a interação dos garantindo maior precisão e compreensão do projeto desde usuários no espaço de estudo, com o objetivo de dar os primeiros lançamentos de ideias, até o canteiro de obras. subsídios para o desenvolvimento da proposta projetual. Para isto, foi desenvolvido e aplicado um método de análise Desta forma, este trabalho é uma tentativa composto por: Observação-Questionário-Observação. experimental de avaliar a inserção de novas tecnologias, com Primeiramente, observaram-se os usuários em diferentes ênfase na Fabricação Digital, durante o processo projetual, a horários e períodos da semana, para ter uma visão geral das fim de estudar e avaliar como este processo pode vir a principais atividades e ações. Para discussão e análise dos enriquecer, de maneira recíproca, a interdisciplinaridade entre dados coletados, foram utilizados desenhos, registros a área de design e arquitetura. fotográficos e vídeos. Após este primeiro contato, foi elaborado um questionário com 15 perguntas de multiplaescolha, definidas com base nas informações observadas na Metodologia primeira análise. Este questionário foi aplicado na própria praça com uma atmosfera de 30 estudantes, escolhidos O presente estudo é parte de uma pesquisa de aletoriamente, frenquentadores do local, buscando escolher natureza exploratória e qualitativa, com abordagem multi- pessoas em diferentes períodos do dia, para abranger maior métodos que visam compreender a percepção e o variedade de público. Para análise e tabulação dos dados comportamento dos usuários no ambiente, aliado à aplicação organizaram-se gráficos sobre cada questão, com a da fabricação digital no processo projetual. Os métodos aqui porcentagem que cada alternativa foi assinalada. A partir apresentados abordam desde o processo de análise da área desta análise, realizou-se uma nova observação da área de de intervenção até a materialização da forma em escala 1:1 intervenção, para confirmar os dados obtidos e verificiar possiveis considerações finais ou divergências. do projeto desenvolvido.

Mapa conceitual, painel semântico, brainstorming Após as etapas de diagnóstico e iniciando o processo projetual, optou-se pela aplicação de diferentes métodos de design que estimulassem o processo criativo, a fim de criar mais consciência sobre as intenções de projeto. Primeiramente, elaborou-se um mapa conceitual com palavras-chaves referentes aos meios de apropriação dos usuários, facilitando a priorização de conceitos norteadores da proposta. A partir disto, elaborou-se um painel semântico com imagens que representariam cada conceito escolhido, tornando mais claro e visível tais intenções. Por último, foi realizado um brainstorming com todos os dados discutidos anteriormente, com croquis de propostas de intervenção e referências, buscando discutir em conjunto o design do mobiliário.

c) Processo de modelagem e fabricação

necessidades dos usuários, percebidas na primeira etapa de diagnóstico.

Desenvolvimento do Processo Projetual: Da Análise à Fabricação Análise da área de intervenção A praça da Cidadania é considerada o coração da universidade, tanto pela sua posição estratégica quanto pelo papel que representa para os estudantes - um local comum a todos os centros, de convívio e passagem. A faixa etária dos usuários está entre jovens estudantes de 18 a 30 anos. Estes utilizam a praça sozinhos ou acompanhados durante o horário de intervalo ou pausas na rotina. É também muito utilizada como passagem, contando com importantes fluxos que conectam os centros da universidade.

Capacitação do software Para a etapa de modelagem e fabricação optou-se pela utilização do software Rihnoceros e do seu pluggin Grasshoper, permitindo um projeto parametrizado, de fácil prototipagem e fabricação 1:1. Como o contato da equipe com esta nova ferramenta ainda se dava em estágio muito inicial, houve uma capacitação de toda equipe envolvida para domínio do software, além da compreensão de técnnicas de materialização como impressoras 3D, cortadora a laser e CNC. Modelagem e geração de alternativas Após as primeiras definições de projeto, iniciou-se o processo de modelagem do mobiliário proposto, dando continuidade ao processo criativo de maneira mais prática. Os primeiros estudos foram realizados a partir de desenhos e maquetes manuais, característicos do processo tradicional de projeto em arquitetura. Posteriormente, as alternativas foram modeladas no software Rhinoceros com auxílio do pluggin Grasshoper, utilizando-se da impressora 3D e cortadora laser como ferramentas para testes a partir do estudo de protótipos.

Figura 1 – Foto da Praça da Cidadania - Universidade Federal de Santa Catarina. FONTE: Autores

Por tratar-se de um local aberto, com conceitos de integração, convivência e cidadania, desenvolveram-se na praça intervenções de diferentes tipologias, sejam elas manifestações artísticas ou culturais. Estas são visualizadas pela quantidade de monumentos que se encontram no local, tornando a praça um local de intenso uso e apropriação por parte de estudantes e demais usuários. Ocorrem no local, ainda, eventos esporádicos, como festejos acadêmicos, Fabricação na escala 1.1 sessões de cinema aberto, shows, festivais, apresentações artísticas, etc. Há ainda eventos periódicos, como a A partir da definição do projeto final de mobiliário, tradicional feira de alimentos orgânicos, artesanatos, lanches uma proposta foi fabricada na escala 1:1. Para isso, após a e demais amostras, que acontece todas as quartas-feiras, preparação do projeto escolhido e sua fabricaçao, utilizou-se movimentando diversos usuários e promovendo pequenos uma fresadora CNC. comércios. Após sua fabricação, os equipamentos e/ou mobiliários foram inseridos na área de intervenção para apropriação pelos usuários. É nesta etapa que foi realizada uma nova análise comportamental, com o objetivo de testar e avaliar a proposta desenvolvida, além de observar qual a resposta do usuário perante o projeto. Para esta análise, é utilizado novamente o método Observação-QuestionárioObservação, assim como na primeira etapa do diagnóstico. Neste momento, avaliam-se os efeitos e resultados da inserção da diferenciada metodologia projetual, para compreender se a mesma respondeu efetivamente às

As entradas da praça apresentam um fluxo ininterrupto, que se eleva em horários específicos, como no início e fim das aulas e, principalmente, durante o horário do almoço, devido à proximidade do restaurante universitário. Quanto à permanência, há um maior número de usuários depois do almoço e durante a tarde, principalmente quando o clima está agradável. Nas quartas-feiras, devido a tradicional feirinha e as apresentações musicais que ali se desenvolvem, a praça apresenta ainda mais movimento, fazendo com que o gramado permaneça completamente ocupado por rodas de estar.

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Percebe-se que hoje a praça apresenta mobiliário precário, contando com poucos bancos, lixeiras e postes de iluminação. Sua implantação parece estar jogada ao acaso, não criando relações com as edificações e com o desenho urbano da praça conformada em frente ao Centro de Comunicação e Expressão da UFSC. Entretanto, o pouco mobiliário presente é usado pelos estudantes, que buscam, ainda, outras formas de apropriar-se do espaço que não dependa de qualquer equipamento.

montagem da peça, visto a irregularidade na espessura do material e nos encaixes justos. Portanto, foi necessário fazer um novo teste ainda na escala reduzida, com MDF e encaixes mais frouxos. Foi utilizado então o MDF de 3 mm, ainda na cortadora a laser (Figura 5). Esta ferramenta mostrou-se também ágil, de fácil manuseio e de extrema importância para identificar falhas e evitar futuros problemas na fabricação 1:1

Estas imagens, que formam um painel semântico (Figura 2), não deveriam estar relacionadas necessariamente a mobiliários, mas a sensação que cada palavra do mapa conceitual transmite.

Características importantes em relação ao usuário e os meios de apropriação com o espaço, reveladas na pesquisa: • • •

proximidade com o solo: usuários preferem sentar no gramado ou nas raízes das árvores, escorando-se geralmente nos seus troncos. sombra: variável que determina o espaço de permanência – os usuários preferem as áreas sombreadas do que as áreas ao sol. Árvores/Vegetação: apresentam uma relação mais intensa com os usuários pois, além do sombreamento, delimitam um espaço, com maior proteção da visibilidade, permitindo o encosto. Liberdade: um dos maiores problemas dos mobiliários atuais é sua pouca versatilidade e liberdade de apropriação e locomoção. Eles encontram-se em lugares fixos com uma função bastante limitada. Processo criativo

O desenvolvimento criativo da proposta ocorreu após plena consciência das atividades e usuários da área de intervenção, o que tornou o processo mais claro e objetivo. A elaboração de um mapa conceitual (Figura 1) buscou trazer as palavras mais fortes que se destacaram durante a observação da Praça da cidadania: Liberdade, Solo, Vegetação, Arvores, Sombreamento, Descanso, etc.

Figura 4– Processo de modelagem parametrizada utilizando o software Rhinoceros e o pluggin Grasshoper. FONTE: Autoria própria. Figura 2 – Painel semântico referente aos conceitos da área de intervenção. FONTE: Autoria própria.

Ao analisar todas as imagens juntas, percebe-se que a maior parte delas tem relação com a natureza e com um dinamismo fluido. Com isso, a proposta tende a um objeto orgânico, que se integre ao ambiente e não perca a sua forte relação com o solo. Tal proposta deve também permitir que os usuários tenham a escolha de onde e como se apropriar do mobiliário e do espaço, dando ênfase no conceito de liberdade. Portanto, a proposta resultou em um mobiliário multifuncional. Trata-se de pequenos elementos, que se integram com a paisagem e servem de complemento para as funções já executadas pelos usuários junto às árvores. Estes elementos adaptam-se facilmente a encostos, assentos, mesas, ou outras funções na qual o usuário destinar. Estes elementos são leves, o que permite sua fácil alocação ou manejo, podendo criar centros de estar ou isolamento.

A partir da modelagem da primeira etapa do mobiliário, foram fabricados protótipos na impressora 3D (Figura 4). Nesta etapa do processo tornaram-se evidentes os erros de modelagem: áreas muito curvas, pouco espaço de acento, encosto insuficiente, etc. A cada ajuste ou alteração do mobiliário foram feitas novas impressões. Destaca-se a importância desta etapa pois muitos destes erros não são possíveis de analisar unicamente no computador. Além disso, a impressão de pequenos protótipos é uma tarefa ágil e prática, que permite o aperfeiçoamento do projeto e evita futuros erros de execução.

O primeiro passo foi definir a área de implantação, representada no software por uma curva. Esta curva serviu de base para a elaboração do mobiliário, que teria formas orgânicas que acompanhariam o seu desenho. A partir desta curva, o mobiliário se forma por parâmetros pré-estabelecidos referentes às análises anteriores sobre a área de intervenção, e questões ergonômicas e de conforto, como altura do nível do solo, altura do encosto, altura do nível de assento. A figura Figura 1 – Mapa conceitual de análise da área de estudo. FONTE: 3 mostra o desenvolvimento do processo, com a utilização do software. Autoria própria. A partir disso, com o objetivo de filtrar os conceitos mais relevantes e poder buscar aspectos que os correlacionassem para a materialização de um mobiliário, selecionaram-se imagens que representavam cada conceito.

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Após realizados todos os testes necessários para o refinamento do projeto, foi realizado o corte na escala 1:1, em MDF 6mm, com a utilização de fresadora CNC. Ainda na produção de apenas 1/3 do comprimento total da peça modelada, este processo foi mais demorado do que o esperado, visto as falhas encontradas na falta de interoperabilidade entre os softwares envolvidos para a produção do modelo em escala 1:1. A primeira dificuldade foi na exportação dos desenhos entre o software 123DMake e o software de geração de percurso de usinagem, para posterior obtenção de g-Code, responsável pela leitura da CNC. Desencontros milimétricos nas formas obtidas impediam o reconhecimento do software da CNC para corte. Na tentativa de minimizar o problema, as peças foram reajustadas com a utilização do AutoCAD, o que tornou o processo mais lento do que o esperado. Quando da finalização e publicação deste artigo, as peças do protótipo em escala 1:1 estavam em fase de corte e construção e, portanto, não puderam ser mostradas nesta etapa. Com 50% dos cortes prontos (Figura 6) o uso da CNC para corte do material proposto (MDF 6mm), se mostrou eficiente quanto a rapidez e precisão nas formas encontradas.

Processo de modelagem e fabricação A modelagem das possíveis propostas foi inicialmente desenvolvida no software Rhinoceros. Quando adquirida a consciência do desenho do mobiliário, iniciou-se o processo paramétrico de projeto, através do pluggin Grasshopper.

Figura 6 e 7 – Cortes das peças para montagem do mobiliário em Interlocking, em escala reduzida. FONTE: Autoria própria.

Figura 5 – Protótipo do mobiliário impressos na impressora 3D FONTE: Autoria própria.

Depois de executados os ajustes na proposta do mobiliário, estudaram-se os seus meios de construtibilidade. Como a proposta de fabricação na escala 1:1 é utilizando a técnica interlocking com placas de MDF, o primeiro teste realizado foi para verificar a estrutura da peça, simulando o mobiliário na escala 1:5. Para tanto, foram necessários estudos da orientação dos eixos, dos afastamentos entre as placas e dos encaixes. Estes estudos foram realizados com a produção de cortes e construção de 1/3 do comprimento total do modelo obtido, em menor escala, para verificação de encaixes e consistência do modelo. Figura 8 – Cortes em CNC em escala 1:1 A execução do interlocking e sua planificação foi realizada no software 123DMake, com a primeira tentativa de corte das peças em Papel Paraná, espessura 1mm, em cortadora laser. Nesta etapa encontraram-se dificuldades de

FONTE: Autoria própria.


Análise das Ferramentas Fabricação

A experiência mostrou que as diversas técnicas de materialização utilizadas durante a pesquisa não inibem a produção criativa ou a limita de maneira rígida como os sistemas convencionais. Ao contrário, quando inserida no processo projetual, pode vir a fornecer diversas possibilidades, principalmente para materialização de protótipos de maneira rápida e automatizada, garantindo Tabela 1: Tabela síntese da análise das ferramentas de fabricação otimização do tempo de análise do projeto, uma vez que este digital. FONTE: Autoria Própria. tempo, antes gasto no processo de construção dos protótipos, pode ser usado para a avaliação do projeto. Pontos positivos Pontos negativos A experiência com Fabricação Digital durante o processo projetual força o projetista a pensar desde o início sobre construtibilidade – o que eram apenas linhas no papel, Complexidade do software passam a ser elementos reais com atributos e tolerâncias. Limitações do desenho Facilidade de futuras Tais ferramentas permitem unir, também, diversas Exigência de mais tempo para replicações plataformas e abrem um leque maior de possibilidades para o a modelagem projetista - desde desenvolvimento de geometrias complexas, até o controle de suas propriedades, além de análises de variáveis estruturais, de conforto ambiental e também Agilidade e facilidade estéticas.

Corte na CNC

Corte a laser

Impressão 3D

Modelagem paramétrica

A partir da experimentação de diferentes ferramentas de fabricação digital inseridas no processo de projeto, analisaram-se os aspectos positivos e negativos que resultaram deste processo (Tabela1).

de execução Possibilidade de corrigir erros do projeto antes de sua execução

Referências Celani, G.; Vaz, C.; Pupo, R. (2013). Sistemas generativos de projeto: classificação e reflexão sob o ponto de vista da representação e dos meios de produção. Revista Brasileira de Expressão Gráfica, São Paulo, v. 1, n. 1.

Agilidade e facilidade de execução Possibilidade de corrigir erros do projeto antes de sua execução

Agilidade e precisão de corte

Complexidade do software de usinagem Falta de interoperabilidade entre os softwares envolvidos Necessidade de ajustar manualmente todas as peças Problemas técnicos na máquina - interrupções no processo

Considerações Finais A inserção da Fabricação Digital como ferramenta de projeto permite ao projetista pensar sobre diversas condicionantes que permeiam o processo projetual, principalmente no que se refere a aspectos construtivos. Quanto à fase de estudo e análise, a Fabricação Digital mostrou-se facilitadora para materialização de protótipos e estudos em escalas reais, o que possibilita o teste do projeto e torna seus problemas mais visíveis. Deste modo, o projetista adquire maior consciência das problemáticas, levando não só a um refinamento e qualificação do projeto, mas também evita futuros conflitos de execução.

IDEO. (2009). Human-Centered Design: Kit de Ferramentas. 2. ed. Palo Alto, California: Ideo. Disponível em:<http://www.ideo.com/images/uploads/hcd_toolkit/HCD_ Portuguese.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2015. Krippendorff, K. (2000) .Propositions of Human-centeredness: A Philosophy for Design. In: Durling, D.; Friedman, K. (Eds.). Doctoral Education in Design: Foundations for the Future. Staffordshire (UK): Staffordshire University Press. Voordt, THEO J. M. van der, WEGEN, Herman B. R. van Wegen. (2003). Arquitetura sob o olhar do usuário. São Paulo: Oficina de Textos Mitchell, William J. (2001). "The Revenge of Place." In Proceedings, Space Syntax, 3rd International Symposium, 01.1-01.6. Atlanta: Georgia Institute of Technology. Pazmino, A. V. (2013) Como se cria: 40 métodos para design de produtos. São Paulo: Blucher.

A Parametrização do mobiliário mostrou-se essencial para a intenção de um projeto versátil e de diferentes aplicações. Uma vez definida a programação, a alteração da modelagem torna-se muito mais ágil, o que permite a replicação do mobiliário proposto para outras localidades, mantendo seus aspectos ergonômicos, alterando-se apenas os parâmetros referentes a implantação.

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apêndinces

Artigo selecionado para apresentação oral no IV ENANPARQ - Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

A INSERÇÃO DO USUÁRIO E DE NOVAS TECNOLOGIAS NO PROCESSO DE PROJETO: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR RESUMO O presente artigo é uma tentativa experimental de analisar as potencialidades de tecnologias projetuais a partir de uma visão interdisciplinar entre design e arquitetura, centrada no usuário (HCD – human centered desing). Para tanto, foi desenvolvida uma proposta de mobiliário para Praça da Cidadania da Universidade Federal de Santa Catarina campus Trindade, Florianópolis – SC. Procurou-se elaborar uma sistemática de projeto que integre disciplinas e métodos tradicionais das práticas do design com os meios de projetação comuns ao projeto arquitetônico e urbanístico, a fim de avaliar as qualidades que esta interdisciplinaridade pode gerar, de maneira recíproca, aos profissionais de ambas as áreas. Para elaboração da proposta, utilizou-se uma sequência de métodos que compreendem desde o processo de análise da área de intervenção até a materialização em escala 1:1 do projeto desenvolvido. Entre os resultados, a metodologia pode trazer soluções inovadoras, clareza durante o processo, e o domínio aos projetistas de todas as etapas de produção da arquitetura. Palavras chave: Fabricação Digital; Design Centrado no Ser Humano; Processo de projeto. Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo Porto Alegre, 25 a 29 de Julho de 2016

A INSERÇÃO DO USUÁRIO E DE NOVAS TECNOLOGIAS NO PROCESSO DE PROJETO: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR SESSÃO TEMÁTICA: PROJETO DIGITAL E FABRICAÇÃO NA ARQUITETURA: ENSINO, PESQUISA E DESAFIOS

Maria Candelária Ryberg Universidade Federal de Santa Catarina candelaria.ryberg@gmail.com

Maurício Storchi

THE INSERTION OF USERS AND NEW TECHNOLOGIES IN THE DESIGNING PROCESS: AN INTERDISCIPLINARY APPROACH ABSTRACT This article is an experimental attempt to analyze the potential of design technologies from an interdisciplinary view of design and architecture, based on Human Centered Design (HCD). Therefore, a furniture design proposal was developed for Praça da Cidadania of Universidade Federal de Santa Catarina, in the campus Trindade, Florianópolis - SC. We attempted to develop a systematic design scheme that integrates disciplines and traditional methods of design practice with design methods used in both the architectural and urban designing process, in order to evaluate the mutual benefits brought by interdisciplinarity to professionals of both areas. For preparation of the proposal, we used a series of methods that range from an analysis process of the area of intervention to the materialization in 1: 1 scale of the developed design. Among the results, the methodology can bring innovative solutions, clear processes, and the designer’s domainover all architectural production stages. Key words: Digital Manufacturing; Human Centered Design; design process. Keywords: Digital Fabrication; Human Centered Design; Design Process

Universidade Federal de Santa Catarina mauríciostorchi@gmail.com

Regiane Pupo

Universidade Federal de Santa Catarina regipupo@gmail.com

Ivan Medeiros

Universidade Federal de Santa Catarina ivanmedeiros75@gmail.com

1. INTRODUÇÃO O processo de projeto arquitetônico é composto por etapas que possuem métodos e ferramentas específicos. Quanto maior a eficiência nessas etapas, maiores as contribuições para a melhoria dos projetos e, consequentemente, maior é a qualidade nas construções (Pupo, Vaz, Celani, 2013). Contudo, no Brasil, ainda se nota que a maneira como se projeta em arquitetura, em grande parte, mantém-se atrelada a meios tradicionais de projeto, 2

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evidenciando apreensão frente à inserção de novas metodologias e tecnologias no ramo da

tempo de construção, as condições sociais, a moda, as restrições jurídicas e econômicas,

criação.

dentre outros (Voordt; van Wegen, 2013).

Nesse sentido, a interdisciplinaridade entre a arquitetura e o design apresenta-se como

À medida que há um aumento do número destes fatores, a relação entre a forma e a função

forma de possibilitar um enriquecimento de como se concebe, pensa e avalia a arquitetura

passa a ter um caráter mais complexo. O ato de projetar é uma atividade humana, ou seja,

atualmente. Novas ferramentas, métodos e tecnologias que incluem a parametrização da

as opiniões, preferências e a subjetividade da equipe de criação acabam por influenciar

forma e a fabricação digital, visam aperfeiçoar o processo de projeto, tornando-o rápido,

tanto a forma como a função. Na maior parte dos casos, a forma nunca é totalmente livre.

preciso e flexível.

Um projeto atraente é apenas um dos fatores que levam uma arquitetura a ser considerada

Na presente pesquisa, procura-se elaborar uma sistemática de projeto que integre disciplinas e métodos tradicionais das práticas do design com os meios de projetação comuns ao projeto arquitetônico e urbanístico, a fim de avaliar as qualidades que esta

boa. Em suma, um bom projeto, que gere um bom resultado, é uma síntese bem sucedida da forma, da função, do custo e da tecnologia utilizada (Voordt; van Wegen, 2013). Entretanto, a função exerce um peso considerável na escolha da forma. No fim do século

interdisciplinaridade pode gerar, de maneira recíproca, aos profissionais de ambas as áreas.

XIX, com os ideais modernos, a funcionalidade passa a ser aceita como base na concepção

Busca-se analisar as potencialidades do método HCD (Human-Centered Design), utilizando-

de projetos, influenciando diversos setores além da arquitetura. A abordagem racional teve

se da parametrização como ferramenta de projeto, aliada a fabricação digital.

grande expansão, trazendo a produção em massa, a pré-fabricação, a padronização e a

Com isso, foi desenvolvida uma proposta de intervenção urbana para a Praça da Cidadania do Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima da Universidade Federal de Santa Catarina, localizado no bairro Trindade em Florianópolis –SC. A área de intervenção escolhida é considerada o coração da universidade, tanto pela sua posição estratégica

normalização como respostas à ideologia da época, buscando a velocidade de fabricação e economia de tempo e capital. A arquitetura, e boa parte da indústria de produção de bens, começaram a ser influenciados pelos processos de produção e pelas facilidades de montagem (Voordt; van Wegen, 2013).

quanto pelo papel que representa para os estudantes - um local comum a todos os centros,

Na arquitetura, o projeto é geralmente idealizado para cumprir uma determinada função e

de convívio e passagem. Por tratar-se de um local aberto, com forte integração da

muitas vezes não se torna adequado a outras funções. Quando se trata de uma intervenção

universidade, vê-se na Praça da Cidadania a potencialidade de desenvolver uma

urbana, a proposta projetada se insere no espaço público da cidade, sendo acessível por

intervenção urbana que melhore e intensifique a permanência dos usuários no local, e que

quase a totalidade da população. Ou seja, um projeto com esse caráter deve ser dinâmico e

possa, ainda, ser utilizada como modelo ou reflexão sobre os atuais equipamentos urbanos

versátil, atendendo as expectativas e necessidades de uma grande variedade de usuários.

de Florianópolis.

Além disso, o uso e os usuários mudam com o tempo, assim como a cidade se transforma na temporalidade. Portanto, muitos arquitetos e designers tentam produzir estruturas e produtos adequados a usos múltiplos, permitindo interpretações e intervenções individuais.

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Entretanto, pode-se considerar que a frequência de projetos idealizados para usuários

1.1 AS TECNOLOGIAS E A EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE PROJETO

múltiplos e desconhecidos é cada vez maior. Vemos a produção em massa normatizar e padronizar produtos e observamos arquiteturas e projetos urbanos cada vez mais incógnitos

No processo de concepção de projetos de arquitetura, o projetista sempre terá um momento

que demonstram uma ausência de pertencimento ao local onde são concebidos, além de

em que escolherá a forma de seu projeto. Este processo é influenciado por uma série de

serem desprovidos de um estudo de uso e ocupação dos usuários ao qual são destinados.

fatores, os quais foram, ao longo do tempo, sendo questionados e recebendo muitas

Atualmente, projetistas encontram-se neste dilema: há um desejo pela originalidade do

respostas diferentes dependendo do contexto em que eram inseridas. Podem-se citar como

projeto, porém, ao introduzir as variáveis de custo e velocidade de materialização, os

estes fatores a função, o contexto ambiental e histórico em que ocorre o projeto, as

aspectos que dão personalidade ao produto final são deixados de lado em prol do

características do local em que o projeto se insere, a cultura do local ou de seus usuários, o

orçamento e cronograma, optando-se muitas vezes por materiais de produção em massa, sem peculiaridades ou até mesmo sem relação com a proposta idealizada.

3

4

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Muitas empresas e escritórios de arquitetura e design vêm, ao longo dos anos, tentando

2009). Seu surgimento data por volta da década de 1950, quando a indústria de produção

resolver esta questão: Como projetar e concretizar as especificidades de um projeto,

em série, de característica funcionalista e pertencente à era industrial, passa a considerar

buscando não torná-lo padronizado, mas sim, manter uma originalidade, ao mesmo tempo

seus produtos como bens de consumo, informação e identidade (Krippendorff, 2000).

em que há rapidez na materialização?

Percebe-se, então, que estes não eram apenas “coisas”, haviam se tornado práticas sociais,

Mitchell (2001) observou que as consequências deste processo eram que os arquitetos desenhavam o que podiam construir e construiam o que desenhavam. Este fato, mesmo com a inserção da arquitetura na era digital, não desapareceu completamente. Tal caracteristica pode demonstrar uma falta de conhecimento dos projetistas sobre

preferências e símbolos, e que os mesmos não atenderiam mais às necessidades de usuários racionais, e sim de compradores, consumidores e públicos específicos. Sendo assim, o HCD concentra-se na maneira que as pessoas observam, interpretam e convivem com artefatos (Krippendorff, 2000).

construtibilidade, uma vez que estes ficam presos a desenvolver propostas com base nas

Com a intenção de adaptar o método, genuinamente voltado á area de design, para o

experiências construtivas já consolidadas no mercado, não incorporando, durante a etapa

projeto arquitetônico, o processo inicia com a análise das necessidades, desejos e

projetual, novas formas de construir. Esta falta de abertura às inovações tecnológicas se

comportamentos das pessoas para as quais o projeto se destina. O entendimento das

deve ao receio de uma nova forma de pensar arquitetura, uma vez que estas tecnologias

necessidades, expectativas e aspirações para o futuro usuário é o ponto de partida para o

exigem uma lógica de projeto diferenciada.

projeto de soluções inovadoras e relevantes (Figura 1).

Por novas tecnologias considera-se aqui, o desenvolvimento de projetos permeados pela utilização de métodos e ferramentas de ponta, voltados à materialização de forma rápida e atomatizada durante todas as etapas do processo projetual: da concepção ao canteiro de

análise das necessidades

desejos e comportamentso

projeto de soluções inovadoras

obras. Portanto, a fabricação digital é compreendida como objeto de estudo da presente pesquisa bem como métodos de modelagem como a parametrização - modelagem digital através de parâmetros pré-estabelecidos em softwares específicos. Esta nova maneira de projetar permite fornecer diversas possibilidades: além da prototipagem rápida (materialização de protótipos) que garante otimização do tempo de análise do projeto, estas tecnologias abrem um grande leque de variáveis e problemáticas, antes negligenciadas nas etapas projetuais, passando agora a serem elucidadas na fase de elaboração, criação e desenvolvimento de propostas, garantindo maior precisão e

Figura 1 – Fluxo HCD. Fonte: Autoria própria, 2014.

Para auxiliar este processo, o HCD apresenta formas de tornar o projeto empático - por empatia entende-se um aprofundamento dos problemas e realidade das pessoas para as quais se está projetando. Ao entender as pessoas de maneira profunda e criando uma conexão com pensamentos e sentimentos dos futuros usuários, o resultado do projeto

compreensão do projeto desde os primeiros lançamentos de ideias, até a etapa final de

conduzirá a soluções apropriadas e de vanguarda (IDEO, 2009).

implementação e construção.

No início do processo, a pesquisa é generativa, buscando estimular a imaginação e informar a intuição sobre novas oportunidades e ideias. Nas fases finais, os métodos são avaliatórios,

1.2 O USÚARIO NO PROCESSO DE PROJETO - O HCD A partir dos questionamentos e reflexões gerados pela fundamentação teórica da pesquisa,

usados para determinar rapidamente a maneira como as pessoas reagem às ideias e soluções propostas. Através de pesquisa em campo, com pesquisa, questionários e observações, busca-se ouvir e compreender as necessidades do usuário a fim de alimentar

buscou-se no design centrado no ser humano (HCD), compreender como é possível projetar

os futuros brainstormings. O resultado desta etapa caracteriza-se por dados qualitativos que

em arquitetura e urbanismo direcionando o processo de projeto para quem vai usufruir do

permitem à equipe de projeto desenvolver empatia pelas pessoas para as quais o projeto

mesmo – o usuário.

está sendo desenvolvido, além de permitir que a equipe questione suposições e inspire

O HCD é processo de criação/método que, assim como o nome já diz, se inicia pelas

novas soluções. (IDEO, 2009).

pessoas para as quais estejam se criando soluções das mais diversas necessidades (IDEO, 5

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6


A partir dos dados levantados em campo, desenvolvem-se brainstormings que permitem

A revisão crítica de literatura foi realizada com o objetivo de aprofundar-se em três

pensar de forma ampla e sem restrições, com objetivo de expor e trazer à tona diversas

temáticas:

soluções que levam a uma síntese das diretrizes do projeto. Após se lapidar as ideias na síntese, uma metodologia de análise mais concreta das soluções geradas é a materialização

investimento (IDEO, 2009). Protótipos são construídos para ajudar a pensar, a fim de iterar

desenvolvimento – protótipos diferentes que evidenciam aspectos variados dos projetos, habilitam as pessoas a dar um feedback honesto, possibilitando o enriquecimento do

Estudar novas tecnologias aplicadas ao design, como a Fabricação Digital e sistemas paramétricos, compreendendo seus benefícios, limitações e meios

soluções de forma rápida e possibilitar a avaliação de feedback dos usuários. O feedback é crítico para o processo de design e envolve os futuros usuários em seu

Compreender o HCD (Human Centered Design) e outros meios de inserir o usuário no processo projetual;

de protótipos, transformando as soluções tangíveis de forma rápida e com baixo

de aplicação; •

Compreender a utilização de equipamentos e mobiliários urbanos, estudandose também referenciais já existentes.

Este primeiro contato com as temáticas permitiu traçar a metodologia que aborda a

produto final (IDEO, 2009). Por fim, inicia-se a fase de implementação de soluções através de um sistema rápido de

interdisciplinaridade entre o design, arquitetura e tecnologia.

modelagem de custos e receitas, estimativas de capacitação e planejamento. Essa fase também auxilia no lançamento de novas soluções.

3.2 CAPACITAÇÃO DO SOFTWARE

Utilizando-se desta metodologia no processo de produção arquitetônico, percebe-se um

A partir da revisão de literatura sobre tecnologias de projeto e fabricação digital, optou-se

grande potencial de qualificação de projetos, uma vez que esta permite compreender a fundo quem se apropriará da arquitetura projetada, buscando elucidar com clareza as reais necessidades e anseios dos usuários, gerando empatia e pertencimento destes para com o projeto.

pela utilização do software Rihnoceros e do seu pluggin Grasshoper, permitindo um projeto parametrizado, de fácil prototipagem e fabricação 1:1. Deste modo, houve uma capacitação de toda equipe envolvida para domínio do software, além da compreensão de formas de materialização como impressoras 3D, cortadora a laser e CNC.

3.3 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

3. METODOLOGIA

O diagnóstico da área de intervenção visou compreender a dinâmica das atividades e a O presente estudo é parte de uma pesquisa de natureza exploratória e qualitativa, com

interação dos usuários no espaço de estudo, com o objetivo de dar subsídios para o

abordagem multi-métodos que visam compreender a percepção e o comportamento dos

desenvolvimento da proposta projetual. Para isto, foi desenvolvido e aplicado um método de

usuários no ambiente, aliado à aplicação de novas tecnologias de processo e

análise composto por: Observação-Questionário-Observação. Primeiramente, observaram-

materialização. Os métodos aqui apresentados abordam desde o processo de análise da

se os usuários em diferentes horários e períodos da semana, para ter uma visão geral das

área de intervenção até a materialização em escala 1:1 do projeto desenvolvido. São eles:

principais atividades e ações. Para discussão e análise dos dados coletados, foram

Revisão de Literatura, Diagnóstico da Área, Capacitação de Softwares, Painel semântico,

utilizados desenhos, registros fotográficos e vídeos. Após este primeiro contato, foi

Brainstorming, Análise de referenciais, Modelagem, Prototipágem Rápida, e, por último, a

elaborado um questionário com 15 perguntas de multipla-escolha, definidas com base nas

materialização do objeto em escala 1:1, por meio da Fabricação Digital. A Tabela 1

informações observadas na primeira análise. Este questionário foi aplicado na própria praça

demonstra uma breve descrição de cada um dos métodos.

com uma atmosfera de 30 estudantes, escolhidos aletoriamente por frenquentarem o local, buscando escolher pessoas em diferentes períodos para abranger maior variedade de público. Para análise e tabulação dos dados organizaram-se gráficos sobre cada questão,

3.1 REVISÃO CRÍTICA DE LITERATURA 7

8

51


com a porcentagem que cada alternativa foi assinalada. A partir desta análise, realizou-se uma nova observação da área de intervenção, para confirmar os dados obtidos e verificiar possiveis considerações finais ou divergências.

Figura 3 – Brainstorming de idéias. Fonte: Autoria própria, 2014.

3.5 MODELAGEM E MATERIALIZAÇÃO Figura 2 – Análise da Área de intervenção. Fonte: Autoria própria, 2014.

Após as primeiras definições de projeto , iniciou-se o processo de modelagem do mobiliário proposto, dando continuidade ao processo criativo de maneira mais prática.

3.4 MAPA CONCEITUAL, PAINEL SEMÂNTICO E BRAINSTORMING

Os primeiros estudos foram realizados a partir de desenhos e maquetes manuais,

Após as etapas de diagnóstico e iniciando o processo projetual, optou-se pela aplicação de

característicos do processo tradicional de projeto em arquitetura.

diferentes métodos de design que estimulam o processo criativo e criam mais consciência sobre as intenções de projeto. Primeiramente, elaborou-se um mapa conceitual com palavras-chaves referentes aos meios de apropriação dos usuários, facilitando a priorização

Posteriormente, as

alternativas foram modeladas no software Rhinoceros com auxílio do pluggin Grasshoper, utilizando-se da impressora 3D como ferramenta para testes a partir do estudo de protótipos.

de conceitos norteadores da proposta. A partir disto, elaborou-se um painel semântico com imagens que representariam cada conceito escolhido, tornando mais claro e visível tais intenções. Por último, foi realizado um brainstorming com todos os dados discutidos anteriormente, croquis de propostas de intervenção e referências, buscando discutir em conjunto o design do mobiliário.

Figura 4 e 5 – Protótipos do mobiliário impressos na impressora. Fonte: Autoria própria, 2015.

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Após sua fabricação, o mobiliário foi inserido na área de intervenção para apropriação pelos Depois de definido o desenho do mobiliário, estudaram-se os seus meios de construtibilidade. Como a proposta de fabricação na escala 1:1 é utilizando a técnica interlocking com placas de MDF, foram realizados testes em escala reduzida para verificar a estrutura da peça. Para tanto, foram necessários estudos da orientação dos eixos, dos afastamentos entre as placas e dos encaixes. Estes estudos foram realizados com a produção de cortes e construção de 1/3 do comprimento total do modelo obtido,

usuários. Foi então realizada uma nova análise com o objetivo de testar e avaliar a proposta desenvolvida, além de observar qual a resposta do usuário perante o projeto. Para esta análise, foi utilizado novamente o método Observação-Questionário-Observação, assim como na primeira etapa do diagnóstico. Neste momento, avaliou-se os efeitos e resultados da inserção da diferenciada metodologia projetual, para compreender se a mesma respondeu efetivamente às necessidades dos usuários, percebidas na primeira etapa de diagnóstico.

Figura 6 e 7 – Montagem do mobiliário em Interlocking, em escalas reduzidas – papelão e MDF. Fonte: Autoria própria, 2015.

3.6 FABRICAÇÃO NA ESCALA 1:1 Após realizados todos os testes necessários para o refinamento do projeto, foi realizado o corte e montagem do mobiliário na escala 1:1, com a utilização de fresadora CNC e placas de MDF 6mm. Por limitações de materiais, foi construído apenas 1/3 do mobiliário proposto, Figuras 11, 12, 13 e 14 – Mobiliário inserido na área de intervenção. Fonte: Autoria própria, 2016.

o mesmo modelo utilizado nos protótipos.

4. AVALIAÇÃO DOS MÉTODOS Através da intenção de trabalhar com uma abordagem interdisciplinar entre metodologias de design e arquitetura, o processo de projeto foi permeado por novos métodos e ferramentas. De

maneira

geral,

a

metodologia

desenvolvida

organiza-se

em

quatro

etapas:

Levantamentos, Estudos Preliminares, Experimentação (no caso, em escala 1:1) e Figura 8, 9 e 10 – Cortes das peças na CNC para montagem. Fonte: Autoria própria, 2016.

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Execução , como mostra o diagrama da figura 15.

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Esta etapa também é caracterizada pelo feedback dos usuários quando estes experimentam o objeto projetado. A equipe então aplica novos questionários e entrevistas a fim de coletar informações positivas e negativas a respeito do projeto. Caso a resposta venha a ser negativa, volta-se aos parâmetros e geram-se novas laternativas, repetindo-se o processo, até, finalmente, chegar a uma resposta positiva. Ao se ter uma resposta positiva do usuário, entra-se na última etapa do processo, a Execução a qual busca implantar, definitivamente, a proposta final. É importante ressaltar que durante todo o processo o método HCD permeou as etapas, além de permitir compreensão aprofundada das necessidades dos usuários, a fim de gerar propostas mais qualificadas aos usos e contextos na qual se inserem. Pode-se observar que até a etapa atual da presente pesquisa, a metodologia tem se Figura 15 – Abordagem interdisciplinar. Fonte: Autoria própria, 2016.

mostrado eficiente. A interdisciplinaridade, nesta abordagem objetiva, visa ampliar a visão de arquitetos buscando adaptar-se aos avanços tecnológicos da computação como a

O levantamento trata-se da etapa de coleta de dados em campo e de um primeiro contato

criação de softwares paramétricos e de modelagem, os quais trazem consigo um leque de

com o local de estudo e seus usuários, através de observações, questionários e entrevistas

possibilidades e variáveis. Assim, o processo de projeto acaba por apresentar uma nova

– etapa primordial de reconhecimento da área estudada e criação de empatia pelas

lógica, uma nova maneira de organizar ideias e elucidar questões referentes a prática

pessoas, o que refletirá diretamente na qualidade do produto final. Quando trata-se de um

projetual.

grande numero de usuários e que não seja possível o contato com todos, é necessário escolher uma atmosfera de forma aleatória e que abranga a maior variedade de público possível, para não obter resultados tendenciosos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estudo Preliminar consiste na síntese dos dados levantados na etapa anterior, através de mapas conceituais e painéis semânticos, os quais irão gerar as intensões de projeto. Feito

Através das experiências utilizadas nesta pesquisa, foi possível avaliar a importância da

isso, inicia-se o momento de geração de alternativas através de modelos em escala,

interdisciplinaridade no processo de projeto arquitetônico, uma vez que a arquitetura mostra-

desenhos e croquis, guiados por parâmetros desenvolvidos a partir das intensões de

se dependente de uma série de conhecimentos, geralmente negligenciados ou pouco

projeto. Nesta etapa, a fabricação digital vem a ser uma inovação, uma vez que é um

aprofundados nas academias. Isto acaba por gerar o distanciamento de estudantes e

veículo para a materialização dos modelos de forma automatizada. Ainda, a parametrização

profissional da resolução de diversas variáveis de projeto, que acabam por não serem

pode auxiliar na concepção e organização dos parâmetros previamente criados e inseri-los

levadas em conta no processo projetual, sendo solucionadas na execução, podendo gerar,

na modelagem desses estudos.

na maioria dos casos, uma desqualificação da obra em questão.

Através dos estudos dos modelos, é feita a escolha de um deles pela equipe de trabalho, elencado como mais adequado aos estudos realizados e que seja condizente com as intensões de projeto. Então, parte-se para a terceira etapa, a Experimentação, em escala real. Assim, permite ao usuário conhecer uma situação muito semelhante a que possa vir a ser apresentada pelo produto final.

A inserção de novas tecnologias e ferramentas (fabricação digital e a parametrização) permite ao projetista pensar sobre diversas condicionantes, principalmente em aspectos construtivos, que passam a permear a prática projetual, fazendo com que se tome consciência destas problemáticas, levando a um refinamento e qualificação do projeto. A presença do usuário como peça chave, desde o lançamento de propostas, mostrou-se

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primordial durante todas as etapas da prática de projeto, uma vez que, tanto a equipe de projetistas quanto o próprio usuário, vão criar empatia pelo produto final e este passa a responder, de maneira mais verossímil, às verdadeiras necessidades e anseios de seus usuários. Nesse sentido, pode-se observar que, através da interdisciplinaridade, práticas difundidas no design, aliadas às experiências dos usuários durante o processo, pode garantir uma nova perspectiva da arquitetura, comprometida com o ser humano e buscando qualidade, rapidez e precisão, tanto de projeto, como de construção, além de permitir ao profissional o domínio de todas as etapas de produção da arquitetura.

BIBLIOGRAFIA Pupo, Regiane; Vaz, Carlos; Celani, Gabriel. Sistemas generativos de projeto: classificação e reflexão sob o ponto de vista da representação e dos meios de produção. Revista Brasileira de Expressão Gráfica, São Paulo, v. 1, n. 1. 2013.

Voordt, THEO J. M. van der, WEGEN, Herman B. R. van Wegen. Arquitetura sob o olhar do usuário. São Paulo: Oficina de Textos. 2003.

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Krippendorff, K. Propositions of Human-centeredness: A Philosophy for Design. In: Durling, D.; Friedman, K. (Eds.). Doctoral Education in Design: Foundations for the Future. Staffordshire (UK): Staffordshire University Press. 2000.

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