Programação OUT—DEZ
TEATRO
Imperial silence: Una ópera muerta John Jota Leaños EUA MARIA MATOS TEATRO MUNICIPAL DE 9 A 11 DE NOVEMBRO © Gordon Huang
Edição: Câmara Municipal de Lisboa Passado e Presente Lisboa, Capital Ibero-americana de Cultura 2017 Título: Jornal de Programação Outubro - Dezembro Local e data de Impressão: Lisboa, outubro de 2017 Tiragem: 20 000 exemplares
As Américas e a impossível síntese A NTÓNIO PINTO RIBEIRO Coordenador-geral da programação
A praça onde estas cenas acontecem é simbólica de parte desta violência pois foi aqui que, a 13 de agosto de 1521, os aztecas foram dizimados pelo conquistador espanhol Hernan Córtes. E esta praça, hoje também conhecida pela praça das três culturas, foi o cenário da mortandade de dezenas de estudantes que se manifestavam pela revolução democrática a 2 de outubro
“O que se ensaia fazer é dar a ver e ouvir as falas das Américas, as suas múltiplas e diversas falas”
ANTROPOFAGIAS © NACHO CORREA
de 1968. Nessa “noite de Tlatelolco” o exército mexicano apoiado pela CIA assassinou dezenas de estudantes. O sincretismo não é uma fusão e, como o sublinha Néstor García Canclini, os seus aspetos positivos – positivo aqui quererá dizer o respeito pela integridade e pelos interesses das comunidades – são a ousadia e a coragem com que práticas sincréticas confrontam cânones e dogmas, desde que os mesmos sirvam a continuidade das ta-
refas de curta ou longa tradição e os seus aspetos negativos - os de violência- são os que decorrem do facto de ter havido tradições, línguas, comportamentos que foram extintos ou aniquilados pela força e pela violência de agentes externos, tenham eles sido os colonos antigos ou as ditaduras ou as formas atuais de colonização do capitalismo financeiro neoliberal. Podemos ainda assim encontrar modos de resistência às formas coloniais como
as que ocorreram na construção da cenografia das igrejas barrocas da Baía ou de Congonhas, onde os artesãos negros deixavam gravados de uma forma subtil os seus nomes ou esculpiam cabeças de anjos negros, reclamando assim a sua presença e a dignidade do seu trabalho ao serviço dos reis e dos governadores brancos; ou como muitas nações índias do México ao sul do Chile conservaram as suas línguas e práticas sociais, curativas e de transmissão do conhecimento, numa clara oposição à hegemonia das línguas dos Estados e das legislações governamentais, não só como gesto de rebeldia, mas como uma forma de sobrevivência natural. Aqui há que abrir um parêntesis para afirmar que muitas cosmogonias destes mundos priorizam a natureza e a internaturalidade sobre a cultura e a interculturalidade. E de todas as grandes resistências às imposições externas destaque-se a sabedoria do "bem viver" enquanto conhecimento e prática minoritária de nações índias que, para muitos, contém a possibilidade de sobrevivência do Antropoceno mundial na nossa era. Se algo é comum a muitos lugares da América Latina são as particularidades de expressões artísticas e de práticas culturais cuja origem remota pode estar nas formas populares imigradas para regiões deste continente e das quais se apropriaram os descendentes europeus ou mestiços. Os campeonatos de Malambo, a dança dos gaúchos da pampa argentina - especialmente da pequena cidade de Laborde, como o conta a cronista Leila Guerriero em Una historia sencilla (2013) - são exemplo de uma prática que acontece num lugar remoto da Argentina mas que fará parte de uma mundovisão cosmopolita quando se entende que o cosmopolitismo não é a soma dos urbanismos mas a articulação e a celebração das particularidades vitais a uma comunidade. Não é de todo possível fazer uma síntese da América Latina, conceito que tem pouco mais de 150 anos, e menos ainda do
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
No dia 24 de julho deste ano, na igreja de Santiago, na cidade do México, começava a missa do meio-dia. Num dos últimos bancos um índio vestido com trajes da sua tribo rezava de joelhos e benzia-se com o sinal da cruz. Ladeando o altar em semicírculo um grupo de músicos mariachi tocava, precedendo as leituras da epístola do dia e do Evangelho segundo S. Mateus. A celebração era feita por um padre mestiço naquela que é a primeira igreja construída pelos conquistadores espanhóis. A essa mesma hora, no átrio da igreja, vários grupos de índios celebravam as suas divindades num rito em que alimentos e bebidas eram colocados num altar defronte a uma fogueira. Ainda nesse mesmo átrio um outro grupo representava a luta entre os conquistadores e os aztecas: uns vestidos de capa cruzada e outros adornados de penas combatiam-se. Tudo isto decorria a pouco mais de 50 metros das ruínas Thatelolco, uma cidade Azteca e importante sítio arqueológico da cidade. “Isto” é apenas um das muitas cenas representativas do sincretismo pós-colonial, sobre o qual não é demais ler os múltiplos ensaios de Néstor García Canclini. Contudo, afirmar que esta situação se define apenas como um estado sincrético pós-colonial é insuficiente, porque o sincretismo pode conter na sua formação muita violência: a violência do colonialismo de espírito e a violência da resistência dos indígenas no tempo da conquista e, mais recentemente, a violência que é a declaração da mestiçagem como uma condição normal de certas populações - um “contributo europeu” e até um projeto identitário, a par de programas governamentais de exclusão de outros grupos.
Programa OUT—DEZ
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ibero-americanismo, conceito ainda mais
esté acá com el chico de mis sueños, pelli-
ne um continente cultural. Tivemos a opor-
contrarem um lugar no mundo ao mesmo
ambíguo, nem essa foi alguma vez uma ilu-
zcame para saber que es verdad, sí hazlo,
tunidade de o confirmar ao longo de toda a
tempo que disputam entre si a liderança
são da programação de Passado e Presente
amor. (Auschwitz)
programação. A figura que mais se aproxi-
em função das ascendências e excluem os
maria seria a de um arquipélago que não só
índios e os afrodescendentes desse mes-
associaria alguns lugares, autores, temas,
mo lugar; o grupo da Decoloniality (Walter
narrativas sobre o passado como seria hoje
Mignolo, Henrique Dussel, Aníbal Quijano)
um arquipélago de territórios em mutação,
que persiste na ideia de que é fulcral, a par-
já que é constituído por milhares de homens
tir do questionamento do conhecimento
e mulheres emigrantes nos EUA, que neste
colonial, encontrar uma desepistemologia
país impuseram o castelhano como a se-
desobediente e, naturalmente, é imperati-
gunda língua, que vivem em Paris e que em
vo ainda regressar às Veias abertas da Amé-
Paris se impuseram ao mundo com o boom
rica Latina (1971) de Eduardo Galeano para
da sua literatura nos anos 70, como ainda
entender como a América foi desde 1942
hoje são determinantes os autores latino-a-
um continente de experiências com cus-
mericanos na cena literária de Nova Iorque.
tos muito elevados para os seus habitan-
Este é um arquipélago cultural, que agora
tes, cujas consequências não terminaram.
se estende a outras cidades, novos lugares,
Talvez por isso uma das mais importantes
como Angola, China, Londres, Berlim, como
antologias recentes de narrativas latino-
a diáspora do século XXI.
-americanas da autoria do peruano, ainda
Lisboa, Capital Ibero-Americana de Cultura 2017. O que se ensaia fazer é dar a ver e ouvir as falas das Américas, as suas múltiplas e diversas falas, não só sobre estas como sobre o mundo olhado do lado de lá e já enquadradas nas novas narrativas que, com argumentos sólidos, se iniciaram na década de 70 do século passado e se continuaram hoje com contributos, quer de intérpretes da diáspora latino-americana, quer de europeus atentos à necessidade de olhar de novo a expansão, o colonial e encontrar outras e novas fontes documen-
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tais, não para encontrar uma síntese, uma história única, mas para desocultar o que precisa de ser desocultado. A fundação do modernismo na América Latina foi complexa, reivindicando identidades alheias regionais com os olhos no progresso industrial e o fascínio pela vida urbana europeia. Disso se deu conta Juan Rulfo, alpinista, fotógrafo, editor, cineasta, escritor, autor de Pedro Páramo - a quem se deve a criação do realismo mágico - que viveu como um anjo de duas cabeças opostas a defesa do progresso a todo o custo enquanto membro da Comissão Técnica de Papaloapan para a criação de barragens no México e, simultaneamente, como defensor das comunidades indígenas excluídas e ostracizadas. "Pode-se ser as duas coisas e continuar escrevendo?" pergunta Cristina Rivera Garza, a conhecedora da sua obra e vida em Había mucha neblina o humo o no sé qué (2017).
Outros autores, investigadores, jornalistas, ensaístas das Américas não só têm um comportamento nómada, como o seu interesse pelas Américas é também um interesse pelo mundo. Um dos melhores exemplos é o trabalho de Martin Caparrós e a sua radiografia do mundo de que a obra El hambre é uma referência obrigatória. El hambre (2014) não é um trabalho de investigação e um ensaio sobre a fome na Argentina, embora também o seja; não é sobre a fome na América Latina, embora também o seja; é sobre a fome no mundo que inclui a América Latina mas também a Índia, a África, os EUA. A América Latina não é, para Caparrós, uma ilha nem utópica nem exclusivamente distópica. Em El hambre o autor descreve a história da invenção da fome e a sua manutenção como uma das mais poderosas armas de subjugação, porque o facto de tanto nela se falar fez com que fosse neutralizada, produzindo apenas momentos de lágrima fácil e tempos baratos para ocupar grelhas das televisões, estejamos nós não importa em que país ou continente.
dadania universal em nome da qual todos os cidadãos têm o direito a circular pelo
muitos outros, por razões políticas – que
próximo da Europa atual.
quer a emigração quer o asilo têm sempre
to de que todo o património é uma criação
Zurita aprendamos a elegia da vida mesmo
e se se permitirem ser vanguardas da ci-
invenção de Morel (1940). Tão distante e tão
dições é um aspeto revelador fundamental.
recitemos sempre Canto Geral (1950) e de
entrepostos de trabalho de custos baixos
nos, portugueses, espanhóis, italianos e
de ser aprofundado a partir do pressupos-
tas Pablo Neruda e Raúl Zurita. Do primeiro
lugar de acolhimento e recusarem serem
o argentino Adolfo Bioy Casares criou em A
querer antecipar a história nas suas contra-
celentes exemplos, como as obras dos poe-
rativas pré e coloniais, se reclamarem o
milhões de imigrantes japoneses, ucrania-
das nações que foi iniciado, mas que tem
etnocentrismo, de que há tantos bons e ex-
confrontar-se com as novas e revistas nar-
nos vereaneantes que ocupam a ilha que
muralismo por exemplo – ou vanguardas a
passaram as representações caricatas do
de bons vizinhos, se entretanto aceitarem
ses e cidades latino-americanas acolheram
nio, a paisagem, os romances da criação
provam que as Américas há muito ultra-
lhor das hipótese o estatuto de vizinhos,
que a série televisiva Lost seja inspirada
com outros modelos e outras formas – o
ta de autores, artistas ou enunciados que
aos países da Península Ibérica? Na me-
mundo, como aliás aconteceu quando paí-
Creio que há um debate sobre o patrimó-
como a expressão da vocação universalis-
E neste processo que lugar está destinado
E também não deixa de merecer destaque
Mas admitir que houve um modernismo
Referimo-nos ainda ao cosmopolitismo
tenha como título El Futuro no es Nuestro
temporal sujeita a interesses ideológicos ou de governos conforme o seu uso e a sua manutenção possa servir de propaganda política turística académica ou, em situação de crise do regime, como disfarce. Veja-se como Anne-Marie Thiesse, em La création des identités nationales (1999), p.204, diz que se “utilizam os objetos do património para acordar e estimular os sentimentos patrióticos do visitante”.
uma razão política – e o mesmo ocorreu em Portugal e Espanha que nos seus regimes democráticos abrigaram refugiados latino-americanos durante as várias ditaduras ou crises económicas.
(2009). A programação de Passado e Presente - Lisboa, Capital Ibero-Americana de Cultura, tendo sido realizada a partir de um manifesto programático inclusivo, mas não escamoteando tensões, permitiu, assim o creio, que os problemas atrás enunciados estivessem presentes através dos múltiplos géneros artísticos – de uma forma mais evidente ou mais subtil – através de um processo de workshop de programação continuada que dando a possibilidade de que, de programa a programa e de atividade a atividade, se vá acumulando informação em camadas múltiplas e se vá criando a trama de que vivem todas estas tensões, diferenças, criatividades. Será esta a forma de coexistência possível? E como conclusão no presente se pode dizer que, se houve um objetivo no método escolhido, foi aquele que foi tomado de Edward Said em Travelling Theory (1983), o
Ainda assim só é possível entender as con-
qual supõe como “as teorias nascem num
tinuidades ou descontinuidades, o fluxo
tempo, lugar e situação, e como depois
fronteiriço ou o seu bloqueio entre regimes
viajam, são usadas e abusadas. Nos seus
e sistemas sociais, se escutarmos não a
tempo de vida e de inevitável circulação
narrativa, mas as múltiplas narrativas das
nas teorias mundiais tiveram de atravessar
Américas: entre outras, a narrativa de his-
geografias e biografias onde umas vezes
toriadores como José del Pozo e a sua tese
perderam e outras onde perderam algu-
sobre a importância dos crioulos na forma-
mas das suas partes e ganharam outras
ção de identidades nacionais e tomadas
teorias e assim foram perfumadas ou en-
de poder ou o conflito desde as indepen-
venenadas pelas experiências”. Veremos se
que sempre vizinha da morte e da univer-
Onde cabe aqui o ibero-americanismo? O
dências entre os militares e os grandes
no futuro tal se confirma no que diz respei-
salidade da alegria e da dor:
ibero-americanismo não é uma jangada
proprietários rurais, que em boa verdade
to a estas viagens transatlânticas ou às que
de pedra flutuando entre o Atlântico e o
continua hoje tomando outras formações;
decorrem dos muitos caminhos construí-
Era una linda mañana de sol en Auschwitz
Pacífico. Na verdade não basta pronunciar
as teses de Néstor García Canclini sobre a
dos pelas diásporas nos seus arquipélagos.
y tu me dijíste ‘no pudo (puedo)? crrer que
“ibero-americanismo” para que este se tor-
obsessão dos latino-americanos em en-
Agradecimento ao Instituto de Artes Gráficas de Oaxaca, México
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Programa OUT—DEZ
La raíz oscura
Orlando Velázquez MÉXICO
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Ir ao cinema, na caverna escura C A RLOS NOGUEIRA Cocurador, com Teresa Toledo, de No Escurinho do Cinema - Mostra de Cinemas Ibero-americanos
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Programa OUT—DEZ
6 A identidade ibero-americana não existe, defende e muito acertadamente, António Pinto Ribeiro, num dos anteriores números deste jornal, ao expor as linhas condutoras que haviam presidido à elaboração do programa para Lisboa 2017. Não existindo essa identidade, cai pela base qualquer abstração que nela se fundamente e que reivindique um "comércio dos aspetos simbólicos", como, por exemplo, um cinema ibero-americano.
De poucas horas feita a longa vida, são estas as melhores e as mais justas; está o filme a acabar, fica comigo até ao fim; não sabes que te perdes, quando te perdes de mim? António Franco Alexandre, fragmentos de Aracne
tendência para a categorização das artes e,
os cinemas das várias identidades que formam a região atravessaram períodos clássicos, passaram por sucessivas vagas renovadoras e tiveram franco-atiradores de exceção. Abstrações frequentemente com sólida longevidade e reconhecido eco público. Nenhuma, porém, alcançou tanta notoriedade como a época de ouro do cine-
Em pouco mais de duas décadas (sensi-
no caso do cinema, recusar a existência de
velmente de 1936 a 1957), a indústria do
outras abstrações como a de cinematogra-
cinema mexicano decalcou o modelo de
fias regionais (ibérica, latino-americana) e
Hollywood e, beneficiando de uma conjun-
prosseguir a atomização, negando mesmo
tura favorável — a massificação da socie-
as cinematografias nacionais ("cinema ar-
dade pós-revolucionária; a multiplicação
gentino", "cinema português"). A desmon-
da rede de salas com o aparecimento do
tagem chegaria ao ponto de não reconhe-
som, a diversificação dos temas abordados
cer senão a própria obra, e por obra leia-se
nos filmes; o nascimento de estrelas como
o objeto tomado individualmente (neste
Pedro Infante e Jorge Negrete, que atraíam
caso o filme), já nem sequer um conjunto
por si mesmos o público; a importância
autoral.
alcançada por alguns estúdios, permitindo o aumento da produção; o regresso
Seria, contudo, um caminho estéril e,
de talento nacional que fizera carreira em
de qualquer forma, erróneo, porque em
Hollywood (Emilio Fernández, Dolores del
grande parte desses casos existe de facto
Río); a capacidade de fagocitar talento do
esse "comércio dos aspetos simbólicos"1
universo hispânico (Luis Buñuel e outros
que permite construir a categoria. Pedro
refugiados da guerra civil espanhola, estre-
Costa, Albert Serra ou Nicolás Pereda são
las como a argentina Libertad Lamarque, a
mais do que a soma dos seus filmes; o ci-
cubana María Teresa Sánchez, a brasileira
nema novo brasileiro nos anos 60 ou os
Irasema Dilián ou a espanhola Sara Mon-
recentes novísimos cinemas argentino ou
tiel); e o apoio dos EUA, que por razões
chileno são muito mais do que o conjunto
estratégicas procurara "segurar" o conti-
de obras isoladas, mesmo que multiface-
1 Ribeiro, A. P. (2017). Por onde começar? Jornal de Programação. (Abr-Jun), 3
Após as suas experiências fundadoras,
ma mexicano.
Poderíamos levar mais longe a inversão da
tados.
No princípio era o cinema mexicano
LA OBRA DEL SIGLO
nente no dealbar da guerra fria —, conseguiu controlar o mercado nacional, abrir as
os lados latinos do oceano contribuíram
vezes com a cumplicidade corporativa dos
netrar no difícil mercado norte-americano,
cada um destes cineastas e das acentua-
para o desvanecimento do ímpeto das no-
sindicatos, e as tentativas de instituciona-
a que se veio somar o europeu e o mundial.
das diferenças políticas e culturais em que
vas vagas ou para as mutações qualitativas
lização levadas a cabo pelo Estado, que
as suas obras se desenvolvem, parece ine-
que foram também — para o mal e para o
tiveram um efeito demolidor. A verdade é
gável que os lemas apontados por Glau-
bem — as suas sentenças de morte. Os gol-
que, nos anos 80, grande parte dos cine-
ber criam pela primeira vez na história do
pes militares no Chile (1973) e na Argentina
mas novos envelheceram e poucos são os
cinema uma abstração fecunda a que se
(1976) puseram termo à liberdade criativa
cineastas que prosseguem uma carreira in-
poderia chamar cinema latino-americano.
e provocaram um êxodo de talentos para
dependente nos seus países.
Cinemas novos A época de ouro do cinema mexicano não sobreviveu, porém, ao abalo estrutural sofrido pelas indústrias cinematográficas nos anos 50/60, a que não foi alheio, entre ou-
Contudo, mais ou menos em surdina, pre-
tros, o aparecimento da televisão.
param-se algumas renovações. No Chile, documentaristas como Ignacio Agüero
A iconoclastia da geração de jovens críti-
contribuem para agitar as águas ainda
cos, em breve convertidos em cineastas,
antes da queda de Pinochet. No México,
surgida em França alastrou-se, acelerou a
os primeiros filmes de Alfonso Cuarón ou
derrocada das fragilíssimas formações in-
Guillermo del Toro surgem como uma pe-
dustriais noutros países e provocou uma
drada no charco de um cinema televisivo
revolução nas formas de ver e de fazer ci-
desinteressante, que o público desertara.
nema em todo o mundo.
O sucesso do cinema argentino da pós-ditadura (Luis Puenzo, Adolfo Aristarain) não
O pontapé de saída dado pelo cinema novo
impede o aparecimento de uma corrente
no Brasil, país em que o "milagre económi-
mais independente, que visa um público
co" do final dos anos 50 e início dos anos
distinto, aberto a temas menos conven-
60 se fizera acompanhar de conflitos so-
cionais e sobretudo a formas inovadoras,
ciais e políticos que acabariam por levar ao
quando não mesmo experimentais. Raúl
golpe militar de 1964, abriu as comportas
Perrone e Martín Rejtman são os primeiros
das "novas vagas" latino-americanas, à se-
nomes daquilo que viria a ser conhecido
melhança do que se passava já em outras
por Nuevo Cine Argentino.
regiões do mundo, incluindo naturalmente a Península Ibérica.
Novíssimos
Movimentações políticas de sinais contra-
Palmas, leões, ursos, leopardos e tigres de
ditórios, pequenos booms económicos que
ouro; encómios críticos; presenças incon-
acentuam diferenças na distribuição da
tornáveis em mostras e festivais: esta nova
riqueza, convulsões sociais que põem em
LA DEFENSA DEL DRAGÓN
causa o mundo herdado do pós-guerra, re-
abundância não pode ser coincidência. Sinais de que algo se estava a desenhar havia
voluções de mentalidades que abalam for-
desde o início dos anos 90, mas seria preciso
mas de estar em sociedade..., o caldeirão
esperar até à viragem do século para que o
dos anos 60 e 70 deixou uma marca indelé-
Estamos, porém, longe de um cinema ibero-a-
outras paragens mais acolhedoras; o fim
vel no cinema das décadas que se seguiram.
mericano. Aquilo que aproxima entre si Sola-
das ditaduras ibéricas teve consequências
nas, Andrade ou Solás, nas suas interrogações
evidentes de ambos os lados da fronteira,
identitárias e estética barroco-tropical, é mais
embora com resultados diversos: em Espa-
forte do que o que possam ter em comum com
nha, o cinema da democracia ganhou asas,
Não é fácil explicar as razões que levam a
Paulo Rocha ou Carlos Saura, irmãos de san-
facto a que não é estranha a erupção do
esta atual proliferação de nomes e obras
gue de Truffaut, Bertolucci e Oshima. Ou seja,
vulcão Almodóvar; em Portugal, enquanto
ibero-americanas interessantes ou mesmo
os cinemas novos latino-americanos formam
a geração vinda do cinema novo hesita na
importantes...
realmente uma subcategoria à parte dentro
via a seguir, o renascimento de Manoel de
das novas vagas a nível mundial.
Oliveira é a consequência mais paradoxal
Se Glauber Rocha se tornou uma espécie de porta-estandarte deste cinema que utiliza como instrumentos "uma câmara na mão e uma ideia na cabeça" (palavras do realizador brasileiro) e que surge com um objetivo, a construção de uma "estética da fome", há nomes de uma série de países da região que enchem as bocas do mundo: Fernando Solanas (Argentina), Jorge Sanji-
da democracia no cinema nacional.
boom, que já não é apenas latino-americano, mas que é também palpável na Península, se fizesse verdadeiramente sentir.
Ensaiamos algumas pistas, não exaustivas: uma maior atenção à formação do gosto das novas gerações através das cinema-
nés (Bolivia), Tomás Gutierrez Alea (Cuba),
Mais novos ainda
Noutros casos, foi o próprio desapareci-
tecas; a criação de escolas de cinema na-
Raúl Ruiz (Chile), Luis Ospina (Colômbia),
As transformações políticas ocorridas a
mento dos protagonistas das novas vagas,
cionais, que vêm suprir uma carência na
Arturo Ripstein (México)...
partir de meados dos anos 70 em ambos
a dificuldade de renovação de artistas, por
formação técnica dos jovens cinéfilos; o
7 Programa OUT—DEZ
Apesar das personalidades vincadas de
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portas do mercado latino-americano e pe-
interesse cada vez maior demonstrado pe-
um conjunto de cineastas com origens e es-
los festivais de cinema internacionais; o nascimento e rápida multiplicação de festivais locais, com a sua dupla função de mostrar cinema internacional e de apostar na promoção de cineastas nacionais emergentes; a existência de sistemas públicos de apoio ao cinema através de leis do audiovisual
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América do Sul. Porém, a imagem genérica
da fronteira, uma geração de novos talen-
tilos muito diversos mas uma preocupação
de um país afetado pelo tríptico droga-vio-
tos (João Pedro Rodrigues, Miguel Gomes)
comum, a de entender a herança deixada
lência-corrupção (Cidade de Deus, Tropa de
soube aproveitar as medidas de fomento
pelo traumático passado recente.
Elite) fez inicialmente sombra a um punha-
tomadas ao longo de quase duas décadas.
do de cineastas que se vêm discretamente
Do lado espanhol, com uma indústria mais
impondo como vozes singulares e desejo-
sólida, o cinema independente tem tido
sas de franquear a barreira do exotismo
alguma dificuldade em tornar-se visível.
(pecha, como se vê, de muito cinema da re-
Mas o novo olhar de cineastas como Albert
Beneficiando do aparecimento de um grupo de jovens cineastas interessados em afastar-se do exotismo de circunstância,
que vão surgindo um pouco por todo o lado;
Serra, Oliver Laxe e Jonás Trueba começa
e, por fim, os programas de ajuda às várias
a impor-se como uma alternativa séria à
fases de pré e pós-produção dos principais
"hollywoodização" da indústria cinemato-
festivais internacionais, como o Hubert Bals
gráfica espanhola.
Fund (Roterdão) e o Cine en Construcción (iniciativa conjunta do Cinélatino de Toulouse e do Festival de San Sebastián).
Ibero-americano?
O Novo Cinema Argentino ganha outro ím-
sões políticas, várias crises económicas e
peto com os primeiros filmes de Pablo Tra-
autênticas revoluções culturais, a situação
pero, Lucrecia Martel e Lisandro Alonso,
mudou radicalmente. Há cinemas diferen-
surgidos na viragem do milénio. Aparente-
tes nos países ibero-americanos que são
mente imune à grave crise financeira que
hoje apreciados em casa, premiados fora
deflagra no país em 2001, esta nova vaga
dela, incensados pela crítica e cobiçados
de cineastas consegue ampliar o mercado
por programadores.
Passados muitos anos, algumas convul-
interno para este tipo de cinema de baixo
São cinemas que têm as várias espessu-
orçamento, com atores desconhecidos e
ras da memória como preocupação. Cine-
temas próximos da realidade e, simulta-
mas que espelham novas inquietudes no
neamente, chamar a atenção internacional
imaginário coletivo, interrogações sobre a
para este viveiro promissor.
memória histórica ou as múltiplas e com-
Curioso é que o tal "movimento" não pare-
plexas realidades da sociedade contempo-
ce respeitar fronteiras. O vizinho Uruguai,
rânea. Cinemas que privilegiam um olhar
com a sua recorrente escassez de recursos,
sobre o outro, quer esse outro pertença a
parece libertar-se da sombra inibidora da
uma terra geograficamente estranha, quer
indústria cinematográfica argentina e começa também a dar cartas.
EL VIENTO SABE QUE VUELVO A CASA
o know-how adquirido no período clássico, o cinema mexicano soube aproveitar com inteligência as medidas governamentais criadas a partir de meados dos anos 90 e, paralelamente ao desenvolvimento de uma indústria sólida que tem conseguido reconquistar mercados, surgiu um cinema independente extremamente interessante, com vários polos de atividade e uma enorme riqueza temática.
se situe no obscuro passado coletivo recente, quer numa memória individual longín-
A explosão que se seguiu foi a do México. Como se nunca tivesse realmente perdido
a uma realidade social mais próxima, quer
qua. Cinemas que adotam novas formas de ultrapassar a imagem caótica e violenta do
gião) de favela e arara com que as plateias
país, esbater divisões passadas e integrar
internacionais parecem satisfazer-se. Es-
as dimensões imaginárias das suas várias
tes novos nomes (Kléber Mendonça Filho,
identidades, a Colômbia passou também
Gabriel Mascaro, ...) aparecem longe dos
a marcar presença nos principais festivais
centros tradicionais de atividade do cine-
internacionais. As transformações políticas
ma brasileiro, criando polos extremamente
recentes parecem traduzir uma mudança
férteis como é o caso do Recife.
da consciência social e o jovem cinema colombiano mostra-se atento. Dotado de um conjunto sólido de medidas
narrar e que desrespeitam as fronteiras que habitualmente separam ficção, documentário, ensaio e experimentalismo, criando assim as suas próprias variantes no que constitui uma tendência importante no cinema internacional contemporâneo. Espera-se que os nomes invocados e as obras que figuram no programa que a ci-
Outros focos de interesse surgem também
dade terá a oportunidade de ver permitam
na Venezuela, no Peru, na Guatemala, na
detetar um conjunto coerente, que justi-
Bolívia, na Costa Rica, no Paraguai, na Re-
fique que se fale finalmente da abstração
pública Dominicana...
concetual cinema ibero-americano.
Novísimo Cine Chileno foi o selo com que
legislativas de incentivo (comparáveis às
alguma crítica cunhou uma série de filmes
existentes no México), o cinema brasileiro
surgidos discretamente em meados da pri-
recente conheceu um êxito de mercado
Na margem europeia do oceano, o pano-
meira década do século XXI, realizados por
interno e internacional sem paralelo na
rama alterou-se também. Do lado de cá
Conferências internacionais ibero-americanas Passado e Presente
Desde o primeiro trimestre de 2017 foram abordados temas como o desejo de viver em comum, as migrações, o racismo ou as questões indígenas. Neste segundo semestre, destaca-se o trabalho sobre o dever da memória, a ditadura e a democracia no espaço Ibero-americano e a representação e autorepresentação deste espaço. Todas as conferências são de entrada livre.
Músicas de Ida e Volta
5, 6 E 7 DE OUTUBRO quinta, sexta e
sábado, das 10h00 às 18h00
Curadoria Salwa Castelo-Branco, Rui
Vieira Nery, Pedro Félix e Sara Pereira
PORTUGAL
Coprodução Museu do Fado e Instituto de Etnomusicologia (FCSH-UNL) Em pleno século XXI assistimos à con sagração, no quadro do Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO), de diferentes expressões artísticas do con texto latino-americano. Em paralelo com o acesso recente às "velhas" fontes primárias, vamos percebendo a intrínseca ligação entre as músicas dos dois lados do Atlântico: Fado, Samba, Modinhas, Tango e Flamenco. Tendo por objetivo central a reflexão integrada em torno das questões associadas à gestão e às boas práticas de salvaguarda e conservação do património associado a cada uma destas expressões musicais, este colóquio é organizado em regime de coprodução pelo Museu do Fado e o Instituto de Etnomusicologia (FCSH - Universidade Nova de Lisboa) e conta com a participação de vários investigadores do International Council for Traditional Music (núcleo de música ibero-americana).
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
MUSEU DO FADO
Rua António Maria Cardoso, 38 1200-027 Lisboa 213 257 640 www.teatrosaoluiz.pt
Largo do Xafariz de Dentro, 1 1100-139 Lisboa 218 823 470 www.museudofado.pt
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
Ditadura e Democracia:
transições e políticas da memóriano espaço iberoamericano
28 E 29 DE OUTUBRO sábado e domingo Organização Museu do Aljube
taduras, tanto na Europa como em toda a América Latina, com o objetivo evidente de prevenir os erros do passado e de edificar "escolas de cidadania" e de defesa dos direitos humanos. Esta conferência internacional toma a realidade descrita como ponto de partida e o diálogo ibero-americano como um forte contributo para a edificação de um espaço comum de solidariedade e de preservação
História e Memória são duas dimensões
dos direitos humanos e da paz.
conexas da construção do passado – uma como "construção científica" e outra como elaboração coletiva e laboriosa da representação do passado-presente, útil na condução política do tempo que corre, na edificação identitária da comunidade, na socialização dos seus valores fundamentais e na projeção imaginária do presente-futuro. No séc. XX, e em parte do atual, a Europa e todo o espaço ibero-americano viveram uma vertiginosa "descida aos infernos", marcada por guerras mundiais e por su cessivos golpes militares e revoluções de que resultaram regimes ditatoriais, tran sições democráticas e um sem número de situações semidemocráticas e de corrosão do Estado de Direito, que estão longe de sossegar o humanismo defensor dos direitos humanos e da paz.
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Falas da e sobre as Américas 2 DE DEZEMBRO sábado, às 15h00 Miguel Bandeira Jerónimo PORTUGAL Catherine Walsch EUA Gonzalo Portocarrero PERU Existe um mundo ibero-americano? O que é a América Latina de hoje? Tem ainda algum sentido falar de arte la tino-americana? No final dos ciclos de seminários, lições, colóquios, espetáculos e exposições, será este o momento certo para refletir sobre as questões atrás enunciadas, agora à luz da experiência da receção e da materialização de todo o
Hoje sabemos que o conhecimento histó
programa e, muito em particular, a partir
rico e a rememoração da contemporanei-
das questões de representação e do que
dade e do "tempo presente" são terrenos
é percecionado nos conceitos, nos temas,
de disputa e de construção instrumental
nas expressões utilizadas, imprecisas
do futuro que queremos. É com a inteli
certamente, ambíguas com certeza, com
gência histórica – que a História perscruta
significados flutuantes.
e a memória coletiva sedimenta -, que so
Para tanto é que este seminário seja reali-
mos levados a imaginar o futuro e a viver
zado conjugando elocuções de investiga-
as hesitações do presente.
dores da Europa, da América do Sul e de
Conscientes desta realidade, grupos pro-
uma investigadora que é observadora per-
motores da memória, cidadãos e governos
manente e ativa das Américas, quer na uni-
têm valorizado, de formas diver sas, as
versidade de Quito, quer em universidades
"heranças difíceis" e traumáticas das di-
dos EUA.
9 Programa OUT—DEZ
MUSEU DO FADO - AUDITÓRIO
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
Este ciclo de conferências internacionais faz parte integrante de Passado e Presente – Lisboa, Capital Ibero-americana de Cultura 2017 e contribui para a produção do conhecimento que, desejavelmente, atravessa toda esta programação. São seus objetivos: fomentar o debate de problemas que, embora presentes neste universo geográfico referenciado, o ultrapassam, por serem problemas globais; reconhecer e dar espaço aos protagonistas destes debates e às suas vozes, que é imperativo ouvir; e, finalmente, ensaiar a transferência para o espaço público, nos limites do que a linguagem permite, de temas e de problemas que muitas vezes apenas circulam nos espaços da investigação ou da academia.
Rio com discurso: a literatura e o Rio São Francisco C LA RA ROWLA ND
10
Em 2006, o escritor Ruy Duarte de Car-
Programa OUT—DEZ
livro Desmedida. Luanda – São Paulo –
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
Faculdade de Letras - Universidade de Lisboa
so de leitura e itinerário de escrita. Para
valho publicou, nas Edições Cotovia, o São Francisco e Volta. Crónicas do Brasil. O título sugeria desde logo uma coincidência entre livro e viagem, ou entre percuros leitores da “meia-ficção-erudito-poético-viajeira” (na expressão do autor) que marcava, até então, a obra multifor-
“ fazer do São Francisco, do grande rio nacional brasileiro, conhecido mas profundamente ignoto, um território de interrogações e indagações”
interior do estado de São Paulo, o projeto surgiu: “tem um lugar, dizia eu, tem um ponto no mapa do Brasil, tem um vértice que é onde os Estados de Goiás, de Minas Gerais e da Bahia se encontram, e o Distrito Federal é mesmo ao lado. Aí, sim, gostaria de ir... é lá que se passa muita da acção do Grande Sertão: Veredas... e depois descer para o alto São Francisco, que é o resto das paisagens de Guimarães
me e instigante do antropólogo angolano,
Rosa... e ao baixo São Francisco, podendo,
que cada vez enredada num cruzamen-
ia também... porque encosta aos Sertões
to inédito, e extremamente instigante,
euclidianos... sou estrangeiro aqui e nada
entre ficção e etnografia, a relação com a
me impede de incorrer no anacronismo de
viagem não era novidade – de Vou Lá Vi-
querer ir ver, de perto, Guimarães Rosa e
sitar Pastores à trilogia iniciada com Os
Euclides da Cunha”3. A escolha do Rio São
Papéis do Inglês, a literatura fazia-se atra-
Francisco como eixo da viagem e do livro é
vés desta relação entre escrita, explo-
assim, antes de mais, literária, organizan-
ração e itinerário. No entanto, nenhum
do o confronto com a paisagem brasilei-
outro livro desta última fase da obra de
ra a partir de um mapa de referências cul-
Ruy Duarte parecia sair, de forma tão vin-
turais, e obedecendo, ao mesmo tempo,
cada, do território angolano. Na cartogra-
ao fascínio dos grandes rios, e ao fascínio
fia muito pessoal do autor, o Brasil era um
exercido por este grande rio sobre o ima-
terreno novo. Não o seria, porém, inteira-
ginário do Brasil. Assim, a descida do rio
mente: por um lado, pela afinidade pro-
São Francisco ao encontro destas referên-
funda entre o imaginário de Ruy Duarte
cias (“Só João Cabral me ficaria de fora,
e certas referências brasileiras que aqui,
mas terei os canaviais do baixo São Fran-
pela primeira vez, explicitava (“condição
cisco”) irá ser construída também sobre
periférica de angolano excêntrico em que
outras explorações do mesmo território,
apesar de tudo consegui manter-me coe-
como as de Richard Burton, Auguste Saint-
xistindo sempre com meia dúzia de refe-
-Hilaire ou Teodoro Sampaio. Porque o
rências, nomes de autores, personagens
São Francisco de Desmedida é também
brasileiras, e painéis inteiros de paisa-
o eixo identitário brasileiro por excelên-
gens que confundi com as minhas” ); por
cia, lido a partir da sua importância para
1
outro, pelo facto de o livro ser dominado
A viagem, então, era neste livro também
do São Francisco, do grande rio nacional
o Brasil e para uma ideia de Brasil: o Velho
pela problematização de um olhar situa-
figura de um reconhecimento de um ter-
brasileiro, conhecido mas profundamen-
Chico como cenário de campanhas de
do: “dizer do Brasil a partir de Angola, a
ritório em larga medida desconheci-
te ignoto, um território de interrogações
desbravamento, como eixo da exploração
partir da situação nacional que é a minha
do. Porque o gesto decisivo de Desmedi-
e indagações. Logo no primeiro capítu-
mineira e da migração das populações do
em relação ao mundo e a Angola (e exac-
da residia mais no centro do roteiro, no
lo, o narrador descreve o modo como,
Nordeste para São Paulo, e também como
tamente só a partir disso)”2.
seu eixo, do que nos seus extremos: fazer
numa conversa numa fazenda de café no
tema do aceso debate sobre a transposição
1 Desmedida, p. 56 2 Desmedida, p. 42
3 Desmedida, p. 15
das suas águas para a irrigação do seco
com lírios e rosas-d’água na beirada e ga-
duas partes”8. E é em torno do rio e das
Em Grande Sertão: Veredas, Riobaldo
Nordeste – o rio, em suma, que permite in-
viões rondando-lhe a corbelha, não pode
suas duas margens que se organizarão, a
define o sertão como o espaço onde “o
terrogar a modernidade brasileira a partir
ninguém dizer mais e melhor do que João
partir da segunda edição, os mapas que
pensamento da gente se forma mais forte
do conflito e do contraste entre litoral e in-
Guimarães Rosa escreveu... (...) E quando
Poty Lazzarotto desenhará para as ba-
do que o poder do lugar”12. O São Fran-
terior pastoril.
dou por mim estou em São Romão, em
danas de Grande Sertão, respondendo à
cisco, ao longo da obra de Rosa, organiza
plenas balsas, bolsas, fauces, do rio São
tensão cartográfica – leitura da paisagem,
talvez o mapa dessa tensão, que faz resi-
Francisco.” .
língua-paisagem – que Candido identifica-
dir o extraordinário poder evocativo desta
va já na primeira leitura de Grande Sertão.
linguagem obsessivamente debruçada
*
peculiar se torna mais explícito, no modo como toma o São Francisco, rigorosamente, como paisagem literária, transformando a sua escrita numa permanente interrogação da relação entre palavra e mundo. É assim que seguir o rastro do sertão “ficcional, e às vezes fictício, e não raro fictível da referência rosiana, que persisto e insisto em reter como guia”4, será também, necessariamente, procurar um confronto com aquele “poder para descrever paisagens que nunca viu” que o narrador atribui a Blaise Cendrars. Este estranho confronto, ao mesmo tempo verbal e espacial, com uma constelação de autores disposta no mapa do rio, continuamente encena uma referência movediça, perturbando distinções entre paisagem, paisagem lida e paisagem escrita. Veja-se, por exemplo, o jogo de vozes, em Canudos, com as paisagens de Euclides da Cunha: “Nem sequer conseguirei dizer seja o que for das paisagens que vi sem me
Num ensaio publicado pela primeira vez em 1957, com o título O Sertão e o Mundo, Antonio Candido descrevia a experiência de leitura de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, editado no ano anterior: "Dobrados sobre o mapa, somos capazes de identificar a maioria dos topônimos e o risco aproximado das cavalgadas. O mundo de Guimarães Rosa parece esgotar-se na observação. Cautela, todavia. Premido pela curiosidade o mapa se desarticula e foge. Aqui, um vazio; ali, uma impossível combinação de lugares; mais longe uma rota misteriosa, nomes irreais. (...) Desdobremos bem o mapa. Como um largo couro de boi, o Norte de Minas se alastra, cortado no fio do lombo pelo São Francisco – acidente físico e realidade mágica, curso d’água e deus fluvial, eixo do Sertão."7
Na verdade, toda a obra de Rosa se parece organizar em torno desta tensão entre palavra e mundo a que Desmedida, abraçando o mapa, responde de forma tão certeira, e o São Francisco, que tudo absorve sem se deixar fixar nunca numa referência ou simbologia, é provavelmente, em Rosa, a sua figura. No fundo do cenário, como referência explícita ou implícita, ou no primeiro plano da narrativa, o rio vai assumindo várias formas, ativando metamorfoses, pondo em causa delimitações e fronteiras. Pense-se em Tutaméia, último livro
sobre uma paisagem na resistência que encena entre as duas dimensões. Num episódio central de Grande Sertão, o Velho Chico é “de-repentemente, aquela terrível água de largura”13, quando Riobaldo o atravessa, numa canoa, em criança, com o Menino, talvez para “aprender a estar alegre e triste juntamente”. No final dessa travessia, Riobaldo comentará: “O sério é isto, da estória toda – por isto foi que a estória toda lhe contei. Eu não sentia nada. Só uma transformação, pesável. Muita coisa importante falta nome”14.
publicado por Rosa: nesses contos, entre vários exemplos possíveis, o São Francisco é o rio do trânsito incessante do destino das personagens (“Todo o mundo – rio-abaixo, rio-acima – acaba algum dia passando por estes cais”9), em Estoriinha; é o rio “longeante, a não adivinhar a outra margem” que em Ripuária permite a construção de uma personagem obcecada pelo
obrigar a ir ver o que Euclides poderá ter
Também na descrição de Candido es-
projeto insano de “um dia atravessar o rio,
dito do que terá visto nos mesmos exac-
tamos perante uma referência movedi-
como quem abre enfim os olhos10”; ou é o
tos lugares. Tucano e Uauá só me darão
ça, que toma o sertão, ao mesmo tempo,
rio da “grande enchente” em que Hetério,
a ver memórias que integrei de expedi-
como espaço geográfico e poético. A expe-
do conto Azo de Almirante, se organiza em
Antonio Candido, O Homem dos Avessos
ções militares e envolvimentos de Canu-
riência de leitura, também aqui, alimen-
comandante de uma tropa de canoas, para
(título inicial O Sertão e o Mundo), Tese e
dos. Mesmo das caatingas que atravessei,
ta um imaginário cartográfico – Grande
ficar almirante até à morte. É também um
Antítese, São Paulo: Companhia Editora
se anoto para dizer: sertões fundos, secos,
Sertão: Veredas é, também, entre muitas
rio “largo, de não se ver a forma da outra
Nacional, 1964 p.119–140.
sinistros, vem ele e diz: sertão adusto, hori-
outras coisas, um romance de viagens,
beira” que define o conto de Rosa mais
zontes invariáveis que se afastam à medida
com toda a amplitude que o livro de Ruy
marcado pelo imaginário cartográfico do
que o viajante avança com a sensação de
Duarte já permitiu atribuir ao termo. O
grande rio, A Terceira Margem do Rio, de Pri-
não progredir senão na sua própria imobi-
rio – forma geográfica e figura – é o eixo
meiras Estórias, em que um pai, “certo dia”
lidade (...)” . Ou a chegada ao São Francis-
da viagem, mas também do livro, na sua
decide mandar fazer uma canoa para “exe-
co, depois de uma primeira descrição das
materialidade. Exatamente a meio deste
cutar a invenção de se permanecer naque-
veredas de buritis que pontuam a região:
romance de mais de 500 páginas, sem pa-
les espaços do rio, de meio a meio, sempre
Ruy Duarte de Carvalho, Desmedida.
“vi tanto buriti que também vi: que de pal-
rágrafos ou subdivisões, Riobaldo afirma:
dentro da canoa, para dela não saltar,
Luanda -São Paulo – São Francisco e Volta.
meira tesa assim, com o pé quase na água,
“o Rio São Francisco partiu minha vida em
nunca mais” .
Crónicas do Brasil. Lisboa: Cotovia, 2006.
4 Desmedida, p. 97 5 Desmedida, p. 302
6 Desmedida, p. 74 7 “O Homem dos Avessos”, p. 124.
8 Grande Sertão: Veredas, p. 235. 9 Tutaméia, p. 66 10 Desmedida, p. 152 11 Primeiras Estórias, p. 33
12 Grande Sertão: Veredas, p. 22 13 Grande Sertão: Veredas, p. 82 14 Grande Sertão: Veredas, p. 86
5
11
11 Programa OUT—DEZ
e Euclides que o projeto deste livro tão
6
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
Mas é com a referência a Guimarães Rosa
Textos citados
João Guimarães Rosa, Tutaméia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. João Guimarães Rosa, Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: José Olympio, 1962.
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Programa OUT—DEZ
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EXPOSIÇÃO
Turbulências Obras "la Caixa" de Arte Contemporânea ESPANHA TORREÃO NASCENTE DA CORDOARIA NACIONAL DE 8 DE SETEMBRO A 3 DE DEZEMBRO
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
Programa OUT—DEZ
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A questão racial cubana: narrativas da experiência em Angola MAGDA LENA LÓPEZ
14
A partir de 1959, a Revolução Cubana
Programa OUT—DEZ
o intuito de reduzir a desigualdade social
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Centro de Estudos Comparatistas, Faculdade de Letras – Universidade de Lisboa
raceram os privilégios de classe e ao país
levou a cabo importantes políticas com e racial da ilha. Isto conduziu a que, em 1966, Fidel tivesse assegurado que a “discriminação desapareceu quando desapa-
“O tema da antropofagia é central para a estigmatização da alteridade racial”
de ajudar os nossos irmãos angolanos. Mas nós devemos dizer aos ianques que não se esqueçam de que nós não somos apenas um país latino-americano, mas que também somos um país latino-africano. O sangue de África corre abundantemente
[não lhe tinha custado] muito resolver
nas nossas veias. E de África, como escra-
esse problema” (in De la Fuente 2001: 21).
vos, vieram muitos dos nossos antepassados para esta terra. (...) Somos irmãos dos
No entanto, pelos anos 90 do século XX,
africanos e pelos africanos estamos dis-
torna-se evidente um recrudescimento
postos a lutar!" (2014: 31)
da desigualdade racial. A maioria dos investigadores sobre Cuba concordam em
Contudo, a queda de Ochoa e de outros
afirmar que este se deveu à extrema crise
funcionários superiores contribuiu para
económica vivida durante o “Período Es-
uma literatura de questionamento sobre
pecial”. A população viu-se dividida entre
as razões oficiais pelas quais cerca de
aqueles que tinham acesso a divisas es-
2000 cubanos perderam a vida em Angola.
trangeiras e os que não o tinham. Pro-
Uma vez que o sentido épico e idealista da
duziu-se uma clara diferenciação entre
atividade internacionalista desapareceu,
as pessoas que tinham familiares no es-
o mesmo também ocorreu com a noção
trangeiro que lhes enviavam remessas
de vínculo latino-africano e o reconheci-
ou que estavam ligadas à indústria turís-
mento do elemento negro na identidade
tica graças à sua “boa apresentação” e o
cubana. A título de exemplo, referir-me-ei
resto da população que não tinha forma
brevemente aos livros Sueño de un día de
de aceder a bens e serviços. Contudo, gos-
verano (1998) e ao conto Los olvidados do
taria de propor que este ponto de inflexão
volume Los hijos que nadie quiso (2001) de
do agravamento das desigualdades sócio-
Ángel Santiesteban, Dulces guerreros cuba-
-raciais se produziu um pouco antes do
nos (1999) de Norberto Fuentes e Desconfie-
“Período Especial”. Em julho de 1989 foi fusilado o gene-
Os "imperialistas pretendem proibir-nos
mos de los amaneceres apacibles (2012) de UNA NACIÓN PARA TODOS: RAZA, DESIGUALDAD Y POLÍTICA EN CUBA
ral mulato Arnaldo Ochoa. Ochoa tinha
Emilio Comas Paret. Não incluo neste grupo a novela publicada em Portugal Um lugar chamado Angola (2017) de Karla Suárez,
sido o chefe da Missão Militar cubana em
uma vez que não aborda exatamente a ex-
Angola, cargo que lhe valera o reconheci-
foram julgados outros três oficiais rela-
Desde que foi anunciada publicamente,
mento público como herói da luta naque-
cionados com a missão em Angola, entre
a intervenção em Angola esteve justifica-
le país africano. No entanto, o carismático
eles, os irmãos de la Guardia, Antonio e
da pela ideia de que África era um elemen-
general terminou sendo julgado por deli-
Patricio. O primeiro também foi executa-
to essencial da nacionalidade cubana e
tos de narcotráfico e tráfico de diamantes
do e o segundo, condenado a 30 anos de
de que existia uma filiação histórica com
Dulces guerreros cubanos é talvez a nar-
e marfim através de um processo media-
prisão. Estes acontecimentos foram de-
aquele continente desde os tempos da es-
rativa mais visceral que foi escrita sobre
tizado pela televisão que ficou conheci-
vastadores para o universo simbólico da
cravatura. Assim o declarava Fidel num
a Causa 1. Norberto Fuentes fez parte
do como a Causa 1. Juntamente com ele
luta internacionalista.
discurso em 1975:
do establishment revolucionário e na
periência dos que participaram na guerra mas antes o modo como esta afetou os que permaneceram na ilha.
realidade, nos anos 80, viajou várias vezes
antropófago se localizou no Caribe a partir
numa “raça” distinta que é concebida
o “Período Especial”. A quantidade de
até à frente angolana para fazer uma
dos designados “Descobrimentos” e que
em termos “primitivos” leva-o a expres-
textos e inclusivamente de produções ci-
crónica oficial sobre a missão cubana no
rapidamente esta figura se deslocou para
sar que a “ética [dos angolanos] é irracio-
nematográficas cubanas sobre o caniba-
local. Foi amigo próximo de Antonio de la
África. O canibalismo foi o estigma que
nal e baseia-se na intuição e no instinto.
lismo, nos últimos anos, chama a atenção.
Guardia e é precisamente devido a essa
serviu à Europa para justificar as suas em-
Por isso não assumem a nossa ética e nem
Também o faz o facto de que com frequên-
proximidade que se viu envolvido indire-
presas coloniais e civilizacionais. Em Dulces
partilham a nossa moral” (2011: 110).
cia os personagens literários que trafi-
tamente no julgamento de Ochoa. Já no
guerreros cubanos encontramos uma ré-
exílio, escreve uma outra crónica com um
plica desta estigmatização que contradiz
estilo hiperbólico, cínico e jactante. O nar-
qualquer consciência de identidade parti-
rador não poupa em detalhes sobre os
lhada com África.
dentro e fora de Angola. Aquilo que chama mais a atenção, contudo, é a perspetiva racial do texto. O protagonista destaca que o grosso dos combatentes em África eram negros e mulatos que foram enviados para ali com a desculpa de que poderiam misturar-se com a população local. A verdadeira intenção do governo cubano, todavia, era a de se desfazer desses elementos raciais indesejáveis. Para este narrador, a luta latino-africana consistiu num processo de limpeza racial no qual os afro-cubanos serviram de carne para
neceres apacibles oferece-nos a perspetiva de um soldado raso cubano. O livro ba-
ban, um escritor com alguns textos censu-
oferecer explicações definitivas para tudo
rados e que sofreu a prisão, são bastante
o que lhe sucede, o narrador está cheio de
expressivos e duros para falar da falta de
dúvidas. Atormenta-o não ter claro se está
sentido da guerra e do seu ambiente caó-
a lutar do lado certo quando se dá conta
tico. O seu livro de relatos Sueño de un día
de que há sectores populares que prefe-
de verano é inteiramente dedicado a este
rem apoiar Savimbi, o líder da guerrilha da
tema. No conto Los olvidados, publicado
UNITA contra o qual combatiam. O relato
num livro posterior, é-nos narrado o aban-
estabelece um distanciamento entre an-
dono de uma patrulha cubana no meio de
golanos e cubanos:
um pântano. Alguns soldados começam a
bastante relutantes, e nunca esquecere-
tendo de pagar outra vez um preço de sangue e humilhação pela pertença à nacionalidade cubana e no final do caminho, outro altivo e duro filho de um colono espanhol a mandar." (1999: 235-236) Mais adiante, numa audiência com o presidente José Eduardo dos Santos, o narrador comenta sobre o mordomo deste: "O seu ódio agudiza-se e faz-te perceber a proximidade de um perigo real quando o observas nos olhos, numa olhadela rápida e à espreita, e que não está na defensiva mas sim ao ataque, e depois sentes a selva e calculas que se tivesse os caninos mais afiados viria de uma das seitas antropófagas do norte." (1999: 363)
oficial daquele época.
do autor no anos de 1976. Longe de nos
foi o da imolação:
cortar a machete e agora, estes negros
tilhada tal como estipulava o discurso
Finalmente, os contos de Ángel Santieste-
"As poucas pessoas que vimos eram-nos
veis e sufocantes campos de cana para
sumir uma identidade latino-africana par-
seia-se na experiência internacionalista
canhão. O preço da nacionalidade cubana
"Cinco séculos de chicote e de interminá-
nais, é reveladora das dificuldades em as-
mos uma manhã em que chegámos a uma
são negros e mulatos. O canibalismo surge então como a perda da fé nos valores humanistas da Revolução que celebra o africano como uma identidade própria. Com o regresso do último combatente em Angola, voltaram também os fantasmas do racismo que durante um tempo se tinham projetado naquele país africano. Desde então, a literatura cubana não deixou de pender para uma visão desmistificadora da integração racial revolucionária.
perder a razão, outros vão morrendo e inclusivamente alguns matam-se entre si. O protagonista narra-nos:
Referências bibliográficas Castro, Fidel (2014). La sangre de África
bomba de gasolina, das poucas que esta-
"(Um companheiro) entrega-lhe um pau
vam a funcionar, e os angolanos que se jun-
(ao outro) para que tenteie o terreno e
taram à nossa volta perguntaram quando
descubra as areias movediças; ontem ca-
nos íamos embora, que deviamos ir-nos
lhou-me a mim ir à frente afundando o
o mais depressa possível, que tínhamos
pau, que tem uma marca para que se
vindo para complicar mais as coisas, e que
saiba até onde podia introduzi-lo, porque
Comas Paret, Emilio (2012). Desconfiemos
o melhor que podia acontecer seria que nos
às vezes escapava-me a mão, ainda que
de los amaneceres apacibles. Havana: Edi-
fôssemos embora. Caralho, e uma pessoa
na verdade ele se afunde sózinho, como
ciones Unión.
sem poder exaltar-se e dizer-lhes, metam o
se houvesse um íman a puxá-lo, como se a
vosso país no cú, que vim para cá arriscar a
terra fosse um monstro vivo que necessi-
minha vida, dar o meu sangue por vocês e
tasse comer carne humana." (2001: 78)
nem isso me agradecem." (2011: 45)
O conto volta ao tópico do canibal, já não
corre por nuestras venas. Diciembre de 1975. In: Cuba y Angola. Luchando por la libertad de África y la nuestra. Ed. Mary-Alice Walters. Nova York: Pathfinder, pp. 31-33.
De la Fuente, Alejandro (2001). Una nación para todos: raza, desigualdad y política en Cuba, 1900-2000. Madrid: Editorial Colibrí. Fuentes, Norberto (1999). Dulces guerreros
Este desencontro com a população local
para falar de um personagem negro mas
frequentemente centra-se em estereóti-
antes da própria terra africana que engole
pos raciais. Por exemplo, pensando nos
os cubanos. É possível entrever, a partir de
combatentes da UNITA, o protagonista in-
1989 com o julgamento de Ochoa e mais
terroga-se: “porquê matar estes infelizes
claramente até 1991 com a retirada do
que na prática vivem numa comunidade
último contingente de cubanos, a emer-
_______ (2001). Los olvidados. In: Los hijos
primitiva?” (2011: 107) ou, então, “infeliz
gência de uma narrativa na qual a própria
que nadie quiso. Havana: Letras Cubanas, pp. 73-95.
daquele que cair vivo nas mãos destes sel-
terra cubana vai tomar o lugar dessa outra
O tema da antropofagia é central para a es-
vagens. Se aos da sua própria raça massa-
terra racializada angolana. Os imaginários
tigmatização da alteridade racial. Convém
cram como se fossem cães raivosos, o que
cubanos estão repletos de canibais es-
relembrar que historicamente a figura do
não nos farão a nós?” (2011: 125). A ênfase
fomeados que pululam pela ilha durante
cubanos. Barcelona: Seix Barral. Santisteban, Ángel (1998). Sueño de un día de verano. Havana: Ediciones Unión.
15 Programa OUT—DEZ
funcionários superiores cubanos tinham
Por outro lado, Desconfiemos de los ama-
parte de prejuízos racistas e civilizacio-
cam ou se alimentam de carne humana
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
negócios lucrativos que ele e o resto dos
A dicotomia entre um eles e um nós que
Festa de encerramento de Lisboa, Capital Ibero-americana de Cultura 2017
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
Programa OUT—DEZ
16
Um dos aspetos mais insólitos e simultaneamente graciosos que aconteceram permanentemente este ano durante o decorrer desta programação foi o de estarmos a viver continuamente em tempos sazonais antagónicos; nas viagens, na correspondência, nas roupas dos viajantes pois quando era inverno em Lisboa e em Madrid, era verão em S.Paulo, Patagónia e Montevideu, quando assinalámos a primavera nos emails de março, do outro lado do Atlântico Sul falavam-nos de como os dias já eram mais curtos e, assim, estávamos sempre, não só entre territórios diferentes, mas estações do ano antípodas. Agora, dia 16 de dezembro, no final do nosso outono em Lisboa, muitos dos nossos convidados virão da primavera trazendo na bagagem as roupas quentes que tinham guardado. E assim, o quase inverno para nós, europeus, é quase verão para os nossos visitantes das Américas.
CAPITÓLIO
Verão & Inverno Probus Ensamble Maria Mulata DJ Maboku 16 DE DEZEMBRO
Probus Ensamble
COSTA RICA
Sobre Probus Ensamble que vem de S.José da Costa Rica escreveu o crítico musical Alberto Zuñiga: "O PROBUS é uma experiência sensorial intensa que resulta de um compromisso invulgar com o rigor da técnica que servida por uma execução instrumental invulgar permite uma liberdade interpretativa que é determinante para essa sensoralidade que o qualifica. Quando ouço as obras que executam e os formidáveis arranjos de Fidel Gamboa Goldenberg experimento um reencontro com o habitat natural do meu país, imerso nesta zona geográfica mesoamericana entremeando os dois grandes territórios da América Latina. Com este quarteto de cordas e o seu extraordinário ingrediente vocal lembro as imagens da nossa floresta chuvosa, húmida e saturada de tons verdes como me apercebo das extensas e quentes pampas dos entardeceres eternos assim como da tropicália das costas dos dois oceanos." Iván Rodríguez R. violino Camila Ramírez violino Naamán Muñóz S. viola Gabriela Alfaro violoncelo Daniela Rodríguez voz Carlos Tapado Vargas percussão
Maria Mulata
COLÔMBIA
DJ Maboku
ÂNGOLA/PORTUGAL
Cantora e compositora, nasceu numa aldeia dos Andes colombianos a poucos quilómetros do rio Magdalena, no seio de uma família onde a música fazia parte do quotidiano e onde se cantava corredores e bambucos andinos, cumbias, porros e caminhadas vallenatos acompanhados pelo acordeão do seu pai. Haveria mais tarde de fazer uma formação musical como cantora lírica, mas a sua inquietação levou-a a dedicar-se à recolha das contribuições dos afro-descendentes para a cultura deste país do café e para as tradições dos cantos destes seus antepassados. E o seu empenho e dedicação tornaram-na na grande descendente desta cultura musical e, de tal forma o foi, que acabaria por tomar como seu nome artístico o nome de um dos pássaros emblemáticos da costa caribenha colombiana, começando a cantar no palco com o nome de Maria Mulata.
Recentemente a revista de crítica musical i-D, estampava um grande título: Divirtam-se! O som dos bairro de lisboa não vai parar… O longo artigo que tinha este título era dedicado a um conjunto de DJs, a maioria dos quais afro-descendentes a tocarem que tinham enveredado por outras músicas que já não cabiam nas discotecas de música africana. E a curiosidade maior era que os mesmos não viviam nos bairros de Lisboa mas sim nos bairros periféricos de Lisboa e mesmo de outras cidades e vilas que confinam com a capital mas já não são da capital. E não sendo sequer conhecidos em Lisboa circulam por Estocolmo, Amesterdão, Londres e também Ofir e Braga. Ou seja não sendo do Centro (da capital) impuseram - por força do seu talento e dos públicos que os acompanham – outros centros. Do bairro do Pendão a Paris é apenas uma curta viagem.
De cantos y vuelos, o concerto com que se apresenta em Lisboa, é uma viagem sonora pelas terras esquecidas da Colômbia, pelas histórias populares e por onde passa em permanência a ancestralidade das músicas africanas, um dos poucos bens que às vezes se permitia trazer aos escravos vindos de África.
DJ Maboku é dos protagonistas desta revolução musical, desta confusão de territórios. Nascido em Angola mas desde criança a viver no Bairro do Pendão, em Queluz, Maboku é um DJ exímio cujo estilo de mistura ao vivo é um assombro de vibrância polirítmica, serena mas maravilhosa partilha de uma energia criativa inspiradora, que tem seduzido com propriedade todas as pistas de dança por onde tem espalhado o seu perfume.
Programação OUT—DEZ Todos os preçários e respetiva CCE devem ser consultados nos espaços onde acontecem os programas. Mais informações capitaliberoamericana@cm-lisboa.pt Programa sujeito a alterações.
Cia Pequod / Duda Paiva BRASIL
6 e 7 OUT
Sexta e sábado, às 21h30 Duração 20’ Aconselhado a maiores de 10 anos
FESTIVAL MUSEU DA MARIONETA
Imaginação em movimento ARGENTINA, BRASIL, CHILE, COLÔMBIA, CUBA, ESPANHA
4 a 20 OUT O Museu da Marioneta desafiou várias companhias a apresentarem, em Lisboa, o que de mais recente e contemporâneo se tem feito nos países da América Latina na área do teatro de objetos, de marionetas e de formas animadas. Numa programação artisticamente diferenciada e plural, a magia da animação - que é o centro desta forma de arte – é explorada nesta série de espetáculos, através de diferentes perspetivas e recursos artísticos, partindo de diferentes relações entre o corpo do ator/ manipulador e o objeto a que dá vida e alma. Com Companhia Vianjeinmóvil (Chile), Cia. Pequod / Duda Paiva (Brasil), Miguel Vellinho (Brasil), Roberteiros de Portugal, Oaní (Chile), Mamulengos (Brasil), Jabru Títeres (Colômbia), Silencio Blanco (Chile), Orsini (Argentina) e Títeres Etecetera (Espanha/Cuba)
TEATRO DE MARIONETAS
A Vingança de Ricardo
Companhia Viajeinmóvil CHILE
Partindo dos temas propostos pelo escritor italiano Italo Calvino no seu livro Seis Propostas para o Próximo Milénio, Miguel Vellinho convidou os coreógrafos Bruno Cezario, Cristina Moura, Marcia Rubin, Paula Nestorov e Regina Miranda para criarem coreografias a serem executadas pelos bonecos. TEATRO DE MINIATURAS
Trilogía libre en lambe (swing + afuera + sabiduría) Oani CHILE
7 e 8 OUT
Sábado e domingo O teatro lambe-lambe, também conhecido como teatro de miniaturas, é uma linguagem de formas animadas que ocupam um espaço cénico mínimo, formado por um palco em miniatura confinado a uma caixa preta de dimensões reduzidas. Nesse espaço são apresentadas peças teatrais de curtíssima duração através da manipulação de bonecos, para um espetador por vez.
Swing
7 e 8 OUT
Local e horários a confirmar > 8 anos – dois espetadores por apresentação Um espetáculo baseado no estilo jazzístico da improvisação. Num ambiente dos anos 40, vemos uma mulher, os seus estados de alma e como a música muda as emoções.
Afuera
7 e 8 OUT
Local e horários a confirmar
4 e 5 OUT
> 10 anos – dois espetadores por apresentação
Duração 45’ Maiores de 8 anos
Há um momento examinado na vida de um ser humano por ter uma importância não maior que outros. Este ser plasma as suas sensações numa pintura que generosamente partilha com os espetadores.
Quarta e quinta, às 21h30
Tomando a estrutura central de Ricardo III de William Shakespeare, a companhia Viajeinmóvil criou um espetáculo familiar centrado na temática do bullying e nas dramáticas consequências que dele podem resultar.
TEATRO DE MARIONETAS
Local e horários a confirmar
Jabru Títeres COLÔMBIA
> 8 anos – dois espetadores por apresentação
12 e 13 OUT
Guiado pelo seu instinto, um menino chinês escuta e é chamado a descobrir um novo mundo. Espera-o uma menina mapuche. Duas culturas em comunhão potenciam a sabedoria.
Duração 50’ Adolescentes e adultos
7 e 8 OUT
Ofício de Difuntos Quinta e sexta, às 21h30
Robertos
Histórias que se interligam em vários quadros com personagens e temas relacionados com a morte, seja direta ou indiretamente, uma linguagem da qual os fantoches carregam os fios no meio da oração, do silêncio e o rito de irrealidade.
7 e 8 OUT
TEATRO DE MARIONETAS
MARIONETAS DE LUVA PELA CIDADE E MUSEU
Roberteiros PORTUGAL Dom Roberto faz parte da grande família de marionetas europeia de Polichinelos. Representante maior do teatro popular de marionetas, esta grande família tradicional de pequenos heróis nasceu em Nápoles, durante o Renascimento, e enraizou-se profundamente nos tecidos das cidades que conquistou, constituindo-se como um património vasto de personagens e de histórias, mas também das tradições e crenças dos seus povos, traduzindo alguns dos seus traços mais populares, peculiares e recônditos. MARIONETAS DE LUVA CLAUSTRO / CAPELA
Mamulengos BRASIL
Pescadores
Silencio el Blanco CHILE
14 e 15 OUT
Sábado, às 21h30 e domingo, às 16h00 Duração 40‘ Maiores de 6 Silencio Blanco é uma companhia de teatro que trabalha e investiga uma linguagem própria com marionetas brancas de papel e atua em silêncio. Defende que o movimento humano, transmitido a uma marioneta, tem suficiente capacidade expressiva para contar uma história, provocando uma ilusão no espetador, sem necessidade de recurso a palavras.
8 OUT
Mamulengo é o espetáculo tradicional de marionetas do Nordeste Brasileiro, representante da família europeia de Polichinelos. Os seus textos são normalmente improvisados e as marionetas de luva são animadas por uma só pessoa. FILME
Mamulengo – nas Linhas da Mão 8 OUT
Duração 15’ (com repetição) Público adulto Tratam-se os aspetos que constroem a relação entre o ator-bonequeiro e o boneco manipulado, no teatro de bonecos, a partir das experiências de marionetistas do grupo mineiro Giramundo, durante os ensaios e apresentações da turné da Trilogia do Mundo Moderno.
TEATRO DE MARIONETAS
El Alma del Pueblo
Títeres Etecetera ESPANHA / CUBA
19 e 20 OUT
Quinta e sexta, às 21h30 Público adulto Yanisbel, uma especialista e defensora dos bonecos, entra em cena a falar sobre tradições ameaçadas, professores sem alunos, colecionadores, sobre formas de construir os bonecos e de transmitir aos jovens o ofício, de acordo com as diferentes culturas.
17 Programa OUT—DEZ
O Braile, uma Dança às Cegas
Sabiduría
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
DANÇA CONTEMPORANEA E MARIONETA
RESIDÊNCIAS
RESIDÊNCIA LAVADOURO PÚBLICO DE CARNIDE
A Terra Tremeu Dentro De Mim e Eu Fiquei Sem Casa Descendências perdidas, fronteiras partidas e alguns riscados de Maíra Zenun
28 OUT
Sábado, às 21h00 Apresentação final do trabalho realizado por Maíra Zenun durante a residência artística no Lavadouro Público de Carnide. A proposta para esta apresentação centra-se numa espécie de lavagem, sacudimento, um ritual de limpeza inspirado no espaço do lavadouro, que será acompanhada de três outras atividades: ladainha, microfone aberto e festejo popular com DJ e cachaça.
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
Programa OUT—DEZ
18
A Sul* Teatro do Silêncio PORTUGAL
OUT a DEZ RESIDÊNCIA DE ESCRITA CARNIDE
A Sul
OUT a DEZ O Teatro do Silêncio volta a abrir o seu escritório através da realização de residências de escrita numa lógica de partilha de recursos e numa procura de criar redes e laços entre artistas. As residências têm a duração de três meses cada, privilegiando-se a área da Poesia e Escritores que circulem e/ou residam no espaço ibero-americano. Para além da realização da residência, os poetas são convidados a criarem uma atividade de Serviço Educativo aberta à comunidade local e em parceria com a Biblioteca Natália Correia, no Bairro Padre Cruz, em Carnide. As residências inserem-se em A Sul, uma plataforma de criação para artistas que habitam ou cruzam o espaço ibero-americano, direcionada para a pesquisa, a investigação e a experimentação artísticas. A Sul pretende ser ainda um lugar de encontro e de reflexão entre artistas, e entre artistas e a cidade de Lisboa. RESIDÊNCIA ALGÉS – PONTINHA – CHARNECA DO LUMIAR – PRIOR VELHO – TERREIRO DO PAÇO
Caminhada pela Fronteira de Lisboa 19, 20, 21 e 22 OUT Quinta a domingo, às 10h00
Uma caminhada que pretende tornar visíveis algumas das fronteiras físicas e políticas do território na qual a cidade de Lisboa está inserida. Serão realizadas provocações artísticas que se focam essencialmente nos processos de formação, alteração e gestão das fronteiras por parte das comunidades e agentes de poder.
DESENHO FUNDAÇÃO ARPAD SZENES-VIEIRA DA SILVA
Lisboa – um ano a desenhar para o Futuro 2017 * Associação de Urban Sketchers PORTUGAL
7 OUT e 4 NOV Sábado
Oficinas de Desenho em Diário Gráfico com artistas de países ibero-americanos dirigidas ao público em geral, sem limites de idade, com ou sem experiência no desenho. Tem como objetivo transmitir o gosto e o hábito de desenhar, em qualquer lugar e circunstância. Compreende: oficina de desenho, conferência e mesa redonda e, pontualmente, encontro para desenhar no domingo seguinte. 7 de outubro: Sagar, Barcelona; 4 de novembro: Luis Ruiz, Málaga
ESPAÇO PÚBLICO RUAS DE LISBOA
Marcos IberoAmericanos * Associação Cultural Gerador PORTUGAL
9 OUT a 31 DEZ Intervenção de Yarn & Fabric Bombing (lã e tecido) em marcos de correio disseminados por Lisboa em número correspondente às cidades que compõem a União das Cidades Capitais Ibero-Americanas – UCCI, associada à celebração do Dia Mundial dos Correios, em parceria com os CTT. Cada marco terá um projeto específico, diferenciador e identitário com padrões representativos da cultura têxtil de cada cidade. A escolha dos marcos do correio visa celebrar a união entre essas cidades, através da comunicação.
EXPOSIÇÃO GALERIA QUADRUM GALERIAS MUNICIPAIS
EXPOSIÇÃO PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS
Viga Goiva Maço Claire de Santa Coloma ARGENTINA
11 a 29 OUT Exposição das peças resultantes do Workshop prático para fazer uma escultura básica em madeira, por Claire de Santa Coloma.
EXPOSIÇÃO MUSEU NACIONAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA MUSEU DO CHIADO
A Mão-de-olhosazuis de Cândido Portinari (1903-1962) 12 OUT a 30 DEZ
Inaugura a 12 de outubro, às 19h00 As obras apresentadas nesta exposição integravam um conjunto de oito painéis de temática musical que decoravam a Rádio Tupi, no Rio de Janeiro, em 1942, da autoria de Cândido Portinari (Brodowsqui, S. Paulo, 1903 - Rio de Janeiro, 1962). Após o incêndio do seu auditório, em 1949, o MNAC e MNSR recebem a doação destas duas obras, em 1951, através da empresa Diários Associados, de Assis Chateaubriand, também proprietário da emissora. Raramente expostas, estas peças de temática popular sugerem a fraternidade do universo ibero-americano, a diversidade étnica do povo brasileiro e a sua cultura musical. Curadoria Maria Aires Silveira
LIVRO E LEITURA CASA FERNANDO PESSOA
Fixando breve o momento Crónica e poesia
13 e 14 OUT (CRÓNICA) Sexta e sábado
Duas línguas e várias pronúncias diferentes para fixar o momento em crónicas. Em outubro, reunem-se na Casa Fernando Pessoa cronistas da Argentina, do Brasil e do Peru para falar sobre a escrita e ler textos seus, na língua em que foram escritos. Sexta-feira, 13, haverá uma mesa-redonda e, sábado, 14, leituras, com sonoplastia ao vivo. Em outubro, com os jornalistas Graciela Mochkofsky (Argentina), Fernando de Barros (Brasil), Julio Villanueva Chang (Peru) e Leila Guerriero (Argentina).
Atlântico Vermelho Rosana Paulino BRASIL
14 OUT a 30 DEZ
Terça a domingo, das 10h00 às 18h00 Inaugura a 14 de outubro, sábado, às 17h00 Sobre a exposição escreve a própria artista: “A história das viagens e narrativas que tanto marcaram o modo como ainda hoje as populações e as culturas negras e indígenas são vistas em nosso país foi uma história forjada, fruto de um período histórico no qual a ideia de alteridade e respeito pelas diferenças sequer era cogitada. Cabe a nós, hoje, discutirmos e debelarmos os profundos prejuízos, ainda remanescentes, destas antigas visões de mundo e tentar compreender como elas influenciaram nossa conceção de país. Afinal, o presente é resultado direto do passado. São questões como estas que tento, de maneira ainda tímida, discutir nesta mostra”.
EXPOSIÇÃO CASA DA AMÉRICA LATINA (CASA DAS GALEOTAS)
Objectivo Mordzinski Daniel Mordzinski ESPANHA
4 OUT a 29 DEZ das 9h30 às 18h30
Exposição assente na relação que a fotografia mantém com a literatura - uma relação vasta e suficientemente heterogénea para que a estrutura da exposição se centre apenas numa única abordagem. Com aproximadamente 220 fotografias, esta exposição é uma abordagem fotográfica ao mundo da criação literária ibero-americana pelo olhar de Daniel Mordzinski, que tem dedicado as últimas três décadas a retratar escritores e a publicar vários livros que estudam a relação entre fotografia e literatura.
Entre a árvore e o incêndio, não discutimos a arte
Iberoamérica para Armar
Tatiana Macedo PORTUGAL
27 OUT a 22 DEZ
Inaugura a 27 de outubro, sexta, às 18h30 "Foi-me proposto conceber uma obra para a sala de exposições temporárias do Museu do Aljube, que refletisse sobre a escassez de produção artística, particularmente dentro das artes visuais, em Portugal, durante o período tardio da ditadura. Não é um tema fácil, até porque, tendo nascido em 1981, não vivi o período em questão. Proponho-me no entanto pensar aquilo que podem ser as consequências dessa rasura, dessa falta de discussão, expressão, contestação, criação, numa reflexão transdisciplinarmente aberta ao mundo”.
EXPOSIÇÃO ATELIER-MUSEU JÚLIO POMAR
DANÇA TEATRO CAMÕES
Potência e Adversidade
Filmes na RTP Iberoamérica para armar é um programa de cinema destinado à televisão pública portuguesa que regista uma memória do nosso espaço em ambos os continentes, recorrendo ao passado para traçar/definir um presente, um estado de situação. Os diversos territórios de uma longa história entrecruzam-se na grande narrativa que, desde o século XX, se inscreve nas diversas formas de linguagem cinematográfica, na expressão do vídeo e, agora, no recurso à arte das novas linguagens digitais. Os limites do documental e da ficção confundem-se em narrativas nas quais o regional, o particular e o íntimo se aproximam do universal, evitando os lugares comuns da globalização, a partir de uma perspetiva latino-americana. Documentário Novembro Em parceria com a RTP Curadoria Jorge la Ferla (Argentina)
MÚSICA MARIA MATOS TEATRO MUNICIPAL
Imperial Silence: Una Ópera Muerta
EXPOSIÇÃO PAVILHÃO BRANCO E PAVILHÃO PRETO - GALERIAS MUNICIPAIS
Arte da América Latina nas Coleções em Portugal
11 NOV a 8 JAN
Inaugura a 11 de novembro, sábado, às 17h00
Nova criação de Israel Gálvan ESPANHA CNB – Programa Sul-Americano
9 a 12 e de 16 a 19 NOV A Companhia Nacional de Bailado integra a programação de Passado e Presente – Lisboa, Capital Ibero-americana de Cultura 2017 com um programa composto pela peça em estreia. A peça é uma encomenda ao sevilhano Israel Galván (1973) que, trabalhando pela primeira vez com a Companhia, criará um solo para o bailarino Carlos Pinillos. Galván é um bailador e coreógrafo que se impôs na cena internacional da dança contemporânea, pela reinvenção que soube imprimir ao flamenco. Galván é artista associado do Théâtre de la Ville, em Paris e do Mercat de les Flors, em Barcelona.
Através de uma seleção de cerca de 40 artistas e mais de 80 obras, Potência e adversidade - arte da América Latina nas coleções em Portugal apresenta a multiplicidade de enunciados criativos e originais que os artistas têm vindo a formular, em especial os desdobramentos do “legado conceitual” e de uma realidade social e política marcada pela desigualdade e alternância de governos repressivos. A exposição enfatiza a retomada da “politização da arte”, em especial, a crítica ao “multiculturalismo”, discurso cultural que formou a base da expansão do mercado internacional de arte e autorizou as coleções de arte a se abrirem a “novas” geografias em ascensão económica. Curadoria Marta Mestre (Portugal)
EXPOSIÇÃO MUSEU DO FADO
John Jota Leaños EUA
9 a 11 NOV
Quinta a sábado às 21h30
Tawapayera Júlio Pomar, Igor Jesus, Nuno de Almeida e Silva e Tiago Alexandre PORTUGAL
28 OUT a 28 FEV
Inaugura a 28 de outubro, sábado, às 17h00 A propósito da exposição Tawapayera é oportuno citar o seu curador: “A minha relação com Júlio Pomar é feita de momentos muito diversos na sua obra e na minha vida. O interesse com que pela primeira vez vi alguns dos seus trabalhos renova-se na clareza com que os recordo em momentos inesperados. Foi assim com as pinturas Amazônicas. Quando tomei banho no rio Amazonas lembrei-me de as ter visto. Quando participei nas festas dos Bois Bumba de Parintins tornaram-se mais importantes. Não é uma questão de realismo. Para os artistas, e para as pessoas vivas em geral, a energia e a vida e, se possível, a alegria são matérias para um desafio e um encontro que, neste caso, foram aceites por Júlio Pomar, Nuno de Almeida e Silva, Igor Jesus e Tiago Alexandre. Um encontro, também, entre uma multiplicidade de práticas artísticas, hoje, e de culturas e imaginários ibero-americanos, ontem e amanhã.” Curadoria Alexandre Melo (Portugal)
Nascido nos territórios mexicanos dos Estados Unidos da América, John Jota Leaños cria as suas obras num universo mestiço e multimédia, misturando imaginários americanos e mexicanos e usando técnicas/géneros tão diversos como teatro, desenho animado, arte pública e instalações. Imperial Silence: Una Ópera Muerta é uma ópera folclórica multimédia que explora as normas culturais do silêncio e da morte, dando uma interpretação contemporânea, não só às tradições mexicana e xicana do Dia dos Mortos, como também à longa história de táticas de silenciamento de visões alternativas e dissidentes nos Estados Unidos da América: o “Silêncio Imperial.” Espetáculo em castelhano e em inglês com legendas em português. Encenação John Jota Leaños Musica Cristóbal Martinez e Mariachi Libretto John Jota Leaños e Sean Levon Nash Animação Ivan Wachter, Tony Coleman, John Jota Leaños, Luz Cabrales, Sean Levon Nash, Andrea Vargas, Kenyata Diabase e Scott Erwert Coreografia Joel Valentín-Martinez Bailarinos Ballet Folklórico Adereços John Jota Leaños, Norberto Martínez e Joel Valentín-Martinez Iluminação e Direção técnica Margaret Nelson
MASTERCLASS
11 NOV
Nesta masterclass para artistas e investigadores de todas as áreas artísticas, John Jota Leaños partilha algumas das suas práticas como artista de intervenção, nas áreas das artes digitais, instalação, arte pública e performance.
TEATRO SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
Amazónia Mala Voadora PORTUGAL
9 a 20 NOV Os líderes políticos, tal como todas as outras pessoas, têm um quotidiano que não é abstrato, mas antes feito de relações de proximidade com aqueles que os rodeiam. Podem ter (assim se espera) convicções relativas à transformação do mundo, mas é ao nível das relações pessoais que têm uma vida, não apenas pessoal, mas política (onde o seu ego se projeta de modo mais direto). Há o público e o privado. Há a História e os pequenos enredos do exercício quotidiano do poder. Neste projeto, a Mala Voadora contrapõe estas duas dimensões da performance política, centrando-se contudo naquilo que de mais prosaico há nas nossas vidas, recorrendo, para isso, à manipulação de cenas de telenovelas latino-americanas.
Canções de Ida e Volta Imagens Musicais na Pintura Ibero-Americana
11 NOV a 31 DEZ
Terça a domingo, das 10h00 às 18h00 Inaugura a 11 de novembro, sábado, às 17h00 Exposição consagrada à representação visual da música, explorando afinidades e aproximações entre os discursos e imagens da música ibero-americana, o registo iconográfico das práticas musicais pelo olhar dos viajantes ao longo do século XIX, a presença da música no ambiente do ateliê, a representação dos diferentes estilos musicais nas artes visuais ditas eruditas e populares, a representação pictórica da saudade - na sua associação à música pelo olhar de diferentes artistas plásticos ibero-americanos, entre outros temas. Curadoria de Sara Pereira e Vítor Serrão (Portugal)
19 Programa OUT—DEZ
CICLO DE CINEMA RTP
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
EXPOSIÇÃO MUSEU DO ALJUBE
TEATRO SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
Os Negros Teatro Griot ANGOLA/PORTUGAL
Cavalos, de Daniel Veronese; 19h00 - A Omissão da Família Coleman, de Claudio Tolcachir. Transmissão na rádio Antena 2 da peça Mulheres Sonharam Cavalos, de Daniel Veronese, no dia 3 de outubro, às 19h00 e da peça A Omissão da Famíla Coleman, de Claudio Tolcachir, dia 5 de dezembro, às 19h00.
5 a 15 OUT O Teatro GRIOT e o encenador Rogério de Carvalho desenvolvem juntos, desde 2011, um trabalho que privilegia uma estética teatral que experimenta as possibilidades da voz, do texto e de um teatro sem grandes artifícios plásticos ou cénicos. Este novo trabalho leva a cena Os Negros, de Jean Genet. Encenação Rogério de Carvalho (Angola)
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
Programa OUT—DEZ
20
FOTOGRAFIA ARQUIVOS MUNICIPAIS DE LISBOA - ARQUIVO FOTOGRÁFICO
8ª Feira do Livro de Fotografia 24 a 26 NOV
Sexta das 17h00 às 22h00 Sábado e domingo das 11h00 às 23h00 Nos últimos dez anos, tem-se verificado no Peru, o país convidado desta edição da Feira do Livro de Fotografia, um interessante investimento na arte contemporânea, em particular na fotografia. Assim, para além de proporcionar a exposição de livros de autor na área, a aposta da Feira incidirá igualmente em facultar a vinda de artistas e de um professor/curador que participarão nas conversas promovidas no seu decurso.
se formar como farmacêutico e está a separar-se de Laura. Cláudio, o representante médico, é o namorado de Sandra e amigo de Evaristo. Trabalha na farmácia há 10 anos. Sandra, um travesti de 23 anos, é a namorada de Cláudio e a filha de rua de Yulia. Yulia é um travesti de 40 anos, que sempre protegeu Sandra desde os seus começos no travestismo e na prostituição. Espetáculo em castelhano sem legendas.
CONFERÊNCIA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
Através, desde, para a América Latina* Redes, circulações e trânsitos artísticos dos anos 1960 à actualidade
27 e 28 NOV Segunda e terça
O projeto Através, Desde, Para a América Latina: Redes, circulações e trânsitos artísticos dos anos 1960 à actualidade surge da colaboração entre três unidades de investigação empenhadas no desenvolvimento de perspetivas transnacionais no âmbito da história de arte contemporânea e da curadoria, e no estudo das relações entre produção artística e processos migratórios, com um enfoque particular na América Latina e no Sul de Europa. Mais precisamente, estão envolvidos na organização deste projeto o grupo Transnational Perspectives on Contemporary Art, associado à linha Contemporary Art Studies no IHA/FCSH-UNL, o grupo Arte numa perspetiva global, integrado no CIEBA / FBAUL, e o projeto Decentralized Modernities: art, politics and counterculture in the transatlantic axis during the Cold War/ MoDe(s) (HAR2014-53834-P), na Universidade de Barcelona. Com Carla Macchiavello, Cristiana Tejo, Isabel Plante, Maria Thereza Alves, Cuauhtémoc Medina, Giulia Lamoni, Cristina Pratas Cruzeiro, Paula Barreiro López, Margarida Brito Alves, Maria Iñigo Clavo, Rui Oliveira Lopes, Fabiola Martínez, Paulo Reis, Ana Paula Louro e Ana Celeste Glória.
Encenação Sergio Boris Atores Patricio Aramburu, Marcelo Ferrari, Darío Guersenzvaig, Federico Liss e David Rubinstein Assistente de direção Jorge Eiro Assistente artístico Adrián Silver Assistente de adereços Estefanía Bonessa Adereços e cenografia Gabriela A. Fernández Assistente de cenografia Estefanía Bonessa Assessoria de maquilhagem Gabry Romero Iluminação Matías Sendón Sonoplastia Fernando Tur Fotografia Brenda Bianco Desenho gráfico Brenda Bianco Comunicação Simkin & Franco Produção Jorge Eiro e David Rubinstein
CINEMA CINEMA SÃO JORGE
No Escurinho do Cinema Mostra de Cinemas Ibero-americanos
4 a 16 DEZ Com a curadoria de Carlos Nogueira (Portugal) e Teresa Toledo (Cuba), esta mostra de cinema será formada por uma escolha que parte de amplos critérios de seleção, na qual a qualidade foi a premissa fundamental. Trata-se de um conjunto de obras, de ficção e não-ficção, que se carateriza pela multiplicidade de pontos de vista e pela reflexão estética. Com Casa da América Latina
TEATRO SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
A Voz do Teatro Latino-Americano*
Um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas
Artistas Unidos PORTUGAL
Teatro do Vestido PORTUGAL
Sábado, às 18h00 Lançamento de três volumes da Colecção Livrinhos de Teatro dos Artistas Unidos, com peças de Matías Del Federico, Daniel Veronese e Claudio Tolcachir. Leituras encenadas e conversa sobre as peças: 16h00 - Em Terapia, de Matías Del Federico; 17h30 - Mulheres Sonharam
Viejo, Solo y Puto Sergio Boris ARGENTINA
28 a 30 NOV
Terça a quinta, às 21h30 Evaristo, o irmão mais velho, não terminou os estudos e trabalha na farmácia desde muito jovem. Daniel é o irmão mais novo. Acabou de
Verão & Inverno Probus Ensamble COSTA RICA Maria Mulata COLOMBIA DJ Maboku PORTUGAL/ANGOLA
16 DEZ Sábado
PROGRAMA EDUCATIVO BLX – BIBLIOTECAS DE LISBOA
Marcação: isabel.n.goncalves@cm-lisboa.pt OFICINA MUSICAL PÚBLICO: ESCOLAR DO 3.º AO 6.º ANO 9, 14, 21 E 28 NOV, ÀS 11H00 E ÀS 14H30 BLX ORLANDO RIBEIRO 7 DEZ, ÀS 11H00 E ÀS 14H30 BLX ORLANDO RIBEIRO 9 E 23 JAN 2018, ÀS 11H00 E ÀS 14H30 BLX ORLANDO RIBEIRO
Crescendo entre Canções
Oficina musical pelo Serviço Fonoteca, com o apoio de Hugo Barata Máximo 25 participantes | Duração 1h30 Crescer é uma aventura desde o início da vida: há muita coisa para aprender, descobrir, ultrapassar. Quase como se de uma corrida de obstáculos se tratasse. As canções, essas são a forma mais especial de transmitir o que sentimos ao crescer. Desde pequenos, vamos crescendo entre canções. A viagem que aqui propomos, conduzida por músicas portuguesas e brasileiras, é disso exemplo.
Navegar é preciso: migrações musicais entre a Africa lusofona, a América brasileira e a Europa portuguesa
Curadoria Inês Sapeta Dias (Portugal) Parceria Lisbon Photobook Fair
25 NOV
FESTA DE ENCERRAMENTO CAPITÓLIO
OFICINA MUSICAL 11, 19 E 26 OUT, ÀS 11H00 E ÀS 14H30 BLX ORLANDO RIBEIRO 20 E 27 OUT, ÀS 11H00 E ÀS 14H30 BLX MARVILA
TEATRO MARIA MATOS TEATRO MUNICIPAL
TEATRO TEATRO DA POLITÉCNICA
Direção, texto, interpretação da visita guiada Joana Craveiro Cocriação e colaboração criativa Cláudia Teixeira, João Cachulo, João Paulo Serafim, Rosinda Costa, Tânia Guerreiro Iluminação João Cachulo Produção Cláudia Teixeira Assistente de produção Mafalda Rôla
19, 20, 21, 24, 25 e 26 NOV Às 18h00
Uma exposição performática em torno do acervo reunido por Joana Craveiro para Um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas, um espetáculo documental construído a partir de memórias e de histórias pessoais da ditadura portuguesa, da Revolução do 25 de Abril de 1974 e do processo revolucionário que se lhe seguiu.
Oficina musical pelo Serviço Fonoteca Máximo 30 participantes | Duração 1h30
Em 1497 Vasco da Gama desembarcava a leste do Cabo da Boa Esperança, e os nativos “começaram eles a tanger quatro flautas acordadas a quatro vozes de música”. Também Pero Vaz de Caminha, sobre a descoberta do Brasil em 1500, conta que Diogo Dias “levou consigo um gaiteiro […] e meteu-se com eles [os nativos] a dançar, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam”. Começavam assim as profícuas interações e práticas musicais resultantes do cruzamento entre os territórios europeu, africano e sul-americano, desenvolvidas em géneros tão variados como o chorinho, o samba, a morna ou o kuduru - e que a presente oficina aborda numa perspetiva histórica com o recurso a imagens, filmes, música e a participação ativa do público.
VISITA GUIADA 1 OUT, ÀS 15H00
Do Carnaval à Luta Livre: Máscaras e Devoções Mexicanas Máximo 30 participantes | Duração 1h30
MUSEU DE LISBOA – TORREÃO POENTE
Marcação: servicoeducativo@museudelisboa.pt PERCURSO PEDESTRE 21 OUT, ÀS 15H00 26 NOV, ÀS 11H00
Destino Lisboa: um percurso pelos lugares e vivências africanas entre os séculos XVI e XVIII Máximo 30 participantes | Duração 1h30
Percurso pedestre pelos lugares e vivências africanas que aconteceram em Lisboa entre os séculos XVI e XVIII.
GALERIAS MUNICIPAIS - GALERIA QUADRUM Marcação: helenatavares@egeac.pt ENSAIO ABERTO 25 NOV, DAS 11H00 ÀS 13H00
Vibrações Centrífugas
Obra sonora do artista mexicano Héctor Zamora, em coautoria com o músico e compositor luso-angolano Victor Gama. Inspira-se na forma, movimento e som dos moinhos de vento tipicamente portugueses ou, mais especificamente, nos chamados búzios. De vários tamanhos e formas ligeiramente diferentes, estas peças de cerâmica são o engenho que permite ao moleiro medir, através do som que produzem, a direção e intensidade do vento, e manobrar as velas para dele tirar o máximo rendimento. Esta obra conta com a participação de 24 músicos com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos.
Marcação: info@padraodosdescobrimentos.pt se@padraodosdescobrimentos.pt
Atlântico Vermelho
O projeto Atlântico Vermelho foi concebido a partir da extensa pesquisa desenvolvida pela artista Rosana Paulino, tanto no âmbito académico como no campo das artes visuais, sobre questões sociais, étnicas e de género, especialmente acerca da posição do negro e da mulher negra na sociedade brasileira. VISITA GUIADA PÚBLICO ESCOLAR 16 OUT E 29 DEZ VISITA GUIADA PÚBLICO DO 3º CICLO DO ENSINO BÁSICO AO ENSINO UNIVERSITÁRIO 16 OUT E 29 DEZ VISITA GUIADA PÚBLICO ADULTO 22 OUT, 12 NOV, 26 NOV E 10 DEZ por Ana Gonçalves Máximo 25 participantes VISITA GUIADA PÚBLICO ADULTO 16 OUT E 29 DEZ Em Língua Gestual Portuguesa e com Áudio-descrição Máximo 25 participantes VISITA GUIADA FAMÍLIAS C/ CRIANÇAS MAIORES DE 10 ANOS 29 OUT Máximo 15 participantes | Duração 1h00
CENTRO DE ARQUEOLOGIA DE LISBOA
Marcação: centro.arqueologia@cm-lisboa.pt VISITA /OFICINA ESCOLAR DO 2º E 3º CICLO ENSINO BÁSICO, SECUNDÁRIO E PROFISSIONAL 12 OUT, 9 NOV E 7 DEZ, ÀS 10H30
Histórias da Lisboa Cosmopolita e do Mundo Desconhecido Máximo 20 participantes | Duração 2h00
ATELIER MUSEU JÚLIO POMAR Marcação: amijp.educativo@gmail.com
VISITA GUIADA PÚBLICO ESCOLAR DO 1.º CICLO AO UNIVERSITÁRIO E ADULTO 28 OUT A 2 FEV 2018, DAS 10H00 ÀS 18H00
Tawapayera
Visita/oficina em torno da relação Portugal/ Brasil, na época dos Descobrimentos e o seu reflexo na cidade de Lisboa. Depois da visita orientada ao espaço do Centro de Arqueologia de Lisboa, a sua importância e o seu trabalho com a Arqueologia, surgirá uma vertente prática com um "restauro simulado" de um objeto arqueológico.
uma iniciação à preservação de acervos documentais que abordará as técnicas de higienização, manuseamento e acondicionamento de documentos. Especial relevo para os diferentes tipos de sistemas de acondicionamento destinados a livros e documentos avulsos adotados pelo Arquivo Municipal de Lisboa. OFICINA PÚBLICO ADULTO 25 NOV, ÀS 11H00
Encadernação de livro com costura à japonesa
EXPOSIÇÃO PALÁCIO CALHETA JARDIM BOTÂNICO TROPICAL
Como se Pronuncia Design em Português - Brasil Hoje Até 31 DEZ
por Margarida Duarte
No âmbito da 8ª Feira do Livro de Fotografia de Lisboa, que terá o Peru como país convidado, o Arquivo Municipal de Lisboa disponibiliza a oficina Encadernação de livro com costura à japonesa. Esta oficina consistirá na elaboração de um livro com costura manual à japonesa e encadernação. A oficina é acompanhada de uma mostra de diferentes tipos de álbuns originais pertencentes ao acervo do Arquivo. OFICINA CRIANÇAS DOS 6 AOS 12 ANOS 25 NOV, ÀS 15H00
Álbum em branco
No âmbito da 8ª Feira do Livro de Fotografia de Lisboa, que terá o Peru como país convidado, o Serviço Educativo do Arquivo Municipal de Lisboa dinamizará a oficina Álbum em Branco. Desta oficina constará a elaboração de um pequeno álbum com material reciclado para as crianças colocarem fotografias e outras memórias visuais.
CONTINUAM EXPOSIÇÃO MUSEU DO FADO
Saura: 10 anos de Fados Até 8 OUT
De terça a domingo das 10h00 às 18h00
HISTÓRIA /OLISIPOGRAFIA
Testemunhos da Escravatura A Memória Africana
Até DEZ VISITAS MUSEU NACIONAL DE ETNOLOGIA
Galerias da Amazónia Reserva visitável
Até DEZ
Marcação prévia (visitasguiadas@mnetnologia.dgpc.pt)
RESIDÊNCIA ARTÍSTICA ATELIERS MUNICIPAIS E GALERIA QUADRUM
Artistas latinoamericanos em Lisboa
ARGENTINA, MÉXICO E BRASIL
Até DEZ EXPOSIÇÃO TORREÃO NASCENTE DA CORDOARIA NACIONAL
Turbulências MUSEU DO FADO
Marcação: info@museudofado.pt VISITA GUIADA 12 NOV A 31 DEZ
Canções de Ida e Volta: Imagens Musicais na Pintura Ibero-Americana
Máximo 25 participantes | Duração 1h30 Visita guiada pelo percurso expositivo do Museu do Fado que engloba a exposição permanente do próprio museu e a exposição Canções de Ida e Volta: Imagens Musicais na Pintura Ibero-Americana.
ARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA FOTOGRÁFICO
Marcação: arquivomunicipal.servicoeducatvo@cm-lisboa.pt
Coleção “La Caixa” de Arte Contemporânea
Até 3 DEZ
OFICINA PÚBLICO ADULTO 21 NOV, ÀS 18H00
Sistemas de Acondicionamento por Adriana Ferreira e Helena Nunes
No âmbito da 8ª Feira do Livro de Fotografia de Lisboa, que terá o Peru como país convidado, o Arquivo Municipal de Lisboa disponibiliza a oficina Sistemas de Acondicionamento. Trata-se de *Projeto apoiado pelo RAAML
21 Programa OUT—DEZ
Marcação: servicoeducativo@museudelisboa.pt
PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
MUSEU DE LISBOA - PALÁCIO PIMENTA
PROGRAMAÇÃO OUT—DEZ CONTINUAM
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
Programa OUT—DEZ
22
FESTIVAL
Imaginação em Movimento Festival de Marionetas
MUSEU DA MARIONETA
4 a 20 OUT
RESIDÊNCIA
A Sul Teatro do Silêncio*
CARNIDE
OUT a DEZ
CONFERÊNCIA
Músicas de Ida e Volta
MUSEU DO FADO
5, 6 e 7 OUT
TEATRO
Os Negros Teatro Griot
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
5 a 15 OUT
DESENHO
Lisboa – um ano a desenhar para o Futuro 2017* Associação de Urban Sketchers
FUNDAÇÃO ARPAD SZENES-VIEIRA DA SILVA
7 OUT e 4 NOV
ESPAÇO PÚBLICO
Marcos Ibero-americanos Associação Gerador*
RUAS DE LISBOA
9 OUT a 31 DEZ
EXPOSIÇÃO
Viga Goiva Maço Claire de Santa Coloma
GALERIA QUADRUM – GALERIAS MUNICIPAIS
11 a 29 OUT
EXPOSIÇÃO
A Mão-de-olhos-azuis de Cândido Portinari (1903-1962)
MUSEU NACIONAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA MUSEU DO CHIADO
12 OUT a 30 DEZ
LIVRO E LEITURA
Fixando breve o Momento Crónica e Poesia
CASA FERNANDO PESSOA
13 e 14 OUT
EXPOSIÇÃO
Atlântico Vermelho Rosana Paulino
PADRÃO DOS DESCOBRIMENTOS
14 OUT a 30 DEZ
EXPOSIÇÃO
Objectivo Mordzinski Daniel Mordzinski
CASA DA AMERICA LATINA
4 OUT a 29 DEZ
EXPOSIÇÃO
Entre a Árvore e o Incêndio, não discutimos arte Tatiana Macedo
MUSEU DO ALJUBE
27 OUT a 22 DEZ
CONFERÊNCIA
Ditadura e Democracia Transições e Políticas da Memória no Espaço Ibero-americano
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
28 e 29 OUT
EXPOSIÇÃO
Tawapayera Júlio Pomar, Igor Jesus, Nuno de Almeida e Silva e Tiago Alexandre
ATELIER-MUSEU JÚLIO POMAR
28 OUT a 28 FEV
CICLO DE CINEMA
Iberoamérica para Armar RTP
RTP2
NOV
MÚSICA
Imperial Silence: una Ópera Muerta John Jota Leaños
MARIA MATOS TEATRO MUNICIPAL
9 a 11 NOV
DANÇA
Nova Criação de Israel Gálvan CNB
TEATRO CAMÕES
9 a 12 e 16 a 19 NOV
TEATRO
Amazónia Mala Voadora
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
9 a 20 NOV
EXPOSIÇÃO
Potência e Adversidade Arte da América Latina nas Coleções em Portugal
PAVILHÃO PRETO E PAVILHÃO BRANCO GALERIAS MUNICIPAIS
11 NOV a 8 JAN
EXPOSIÇÃO
Canções de Ida e Volta Imagens Musicais na Pintura Ibero-americana
MUSEU DO FADO
11 NOV a 31 DEZ
TEATRO
Um Museu Vivo de Memórias Pequenas e Esquecidas Teatro do Vestido
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
19, 20, 21 24, 25 e 26 NOV
FOTOGRAFIA
8ª Feira do Livro de Fotografia
ARQUIVO MUNICIPAL DE LISBOA – FOTOGRÁFICO
24 a 26 NOV
LIVRO E LEITURA
A Voz do Teatro Latino-americano Artistas Unidos*
TEATRO DA POLITÉCNICA
25 NOV
CONFERÊNCIA
Através, desde, para a América Latina*
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
27 e 28 NOV
TEATRO
Viejo, Solo y Puto Sergio Boris
MARIA MATOS TEATRO MUNICIPAL
28 a 30 NOV
CONFERÊNCIA
Falas da e sobre as Américas
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
2 DEZ
CINEMA
No Escurinho do Cinema Mostra de Cinemas Ibero-americanos
CINEMA SÃO JORGE
4 a 16 DEZ
FESTA DE ENCERRAMENTO
Verão & Inverno Probus Ensamble, Maria Mulata e DJ Maboku
CAPITÓLIO
16 DEZ
EXPOSIÇÃO
Saura: 10 anos de “Fados”
MUSEU DO FADO
Até 8 OUT
EXPOSIÇÃO
Turbulências Coleção “la Caixa” de Arte Contemporânea
TORREÃO NASCENTE DA CORDOARIA NACIONAL
Até 3 DEZ
EXPOSIÇÃO
Como se Pronuncia Design em Português – Brasil
PALÁCIO CALHETA – JARDIM BOTÂNICO TROPICAL
Até 31 DEZ
HISTÓRIA / OLISIPOGRAFIA
Testemunhos da Escravatura A Memória Africana
LISBOA
Até DEZ
VISITAS
Galerias da Amazónia Reserva Visitável
MUSEU NACIONAL DE ETNOLOGIA
Até DEZ
RESIDÊNCIA ARTÍSTICA
Artistas Latino-americanos em Lisboa
ATELIERS MUNICIPAIS E GALERIA QUADRUM
Até DEZ
Programa sujeito a alterações *Projeto apoiado pelo RAAML
Uma iniciativa da UCCI e da CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA (DIREÇÃO MUNICIPAL DE CULTURA E EGEAC) Presidente da Câmara Municipal de Lisboa Fernando Medina Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa Catarina Vaz Pinto Diretor Municipal de Cultura Manuel Veiga Conselho de Administração da EGEAC Joana Gomes Cardoso e Lucinda Lopes Coordenação-geral da programação António Pinto Ribeiro
I N I C I AT I V A
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PA R C E I R O S I N S T I T U C I O N A I S
Embaixada de Portugal em Espanha
Embaixada de Portugal na Colômbia
Embaixada de Portugal no Uruguai
Embaixada de Portugal no Brasil
Embaixada do Panamá em Portugal
PROGR AMAÇ ÃO
Gabinete de Programação em Espaço Público
Consulado de Portugal em São Paulo
L I S B OA — Capital Ibero-americana de Cultura 2017
Programa OUT—DEZ
Direção Municipal de Cultura
www.lisboacapitaliberoamericana.pt
La Paz Capital Ibero-americana de Cultura 2018