Card Player Brasil Digital - 22

Page 1

POKER

ESP O RTE E ESTI LO D E VI DA

COMO ENFRENTAR O TILT, UMA DAS MAIORES ARMADILHAS DO POKER DILEMA SHAKESPEARIANO: BLEFAR OU NÃO BLEFAR?

M DE O HOME

R ES A L Ó D E HÃO D U M MI L






É O MAIS NOVO CAMPEÃO BRASILEIRO DE POKER! Logo após o anunciarmos como mais novo Team Pro do Betmotion Poker, Rodrigo Garrido se consagra Campeão Brasileiro de Poker ao final da última etapa do Brazilian Series of Poker, ocorrido em São Paulo entre os dias 25 de Novembro e 03 de Dezembro. A luta pelo título foi acirrada e decidida somente na noite do útimo dia do evento.

Além do bracelete de Campeão nosso Team Pro recebeu como prêmio um pacote completo para o PCA 2015, uma moto Ducati e todas as entradas para o Main Event do BSOP no próximo ano. Fora isso, conquistou uma marca histórica: liderou o ranking por quase toda a temporada, tendo ficado em segundo lugar somente no mês de Março. Atingiu também o recorde em termos de pontuação: foram 3.421 pontos. Garrido entrou ITM em 23 torneios da série e ainda foi vice-campeão na etapa de Natal.

No dia seguinte à conquista embarcou para jogar a última etapa do Conrad Poker Tour em Punta del Este, no Uruguai, em companhia de sua esposa e de sua filha. E ainda teve tempo para visitar o escritório do Betmotion, onde pode conhecer nossa equipe e produzir muito material de promoções exclusivas para o próximo ano. A história do Betmotion com Rodrigo Garrido já vem de longa data! Ele foi Team Pro do Betmotion em 2012 e agora retorna à “casa” com status de campeão brasileiro.

Venha agora mesmo jogar com o Garrido no Betmotion.com. Faça seu primeiro depósito com o promocode CARDPLAYER100 e ganhe 100% de bônus.

Siga Rodrigo Garrido nas redes sociais: FACEBOOK: facebook.com/RGarrido8 TWITTER: @RGarrido8

Nós do Betmotion, gostaríamos imensamente de parabeniza-lo pelo título e, sobretudo, pela pessoa humana e profissional competente que sempre foi. Para nós está sendo uma honra trabalhar novamente com esse jogador excepcional e temos certeza que realizaremos um árduo trabalho que resultará em grandes frutos para a marca, para os jogadores, para o profissional e para o poker brasileiro.


Garrido tem uma carreira incrível, tendo conquistado resultados impressionantes! Campeão Brasileiro de Poker 2014

2 títulos Paulistas, com 11 mesas finais 2 títulos do Circuito ABC, com 5 mesas finais 4 títulos do Circuito Santista

7 mesas finais do Circuito Catarinense 5 mesas finais em “Main Events” (60K omega, 150K All In , 25K H2, MasterMinds I e 100K Santos) Campeão Torneio de Heads UP MasterMinds III

Campeão Torneio de Poker Chinês MasterMinds III

4 mesas finais de Main Event do BSOP

8 mesas Finais de Side Events do BSOP Mesa Semifinal do Campeonato Latino Americano 2011

Aproveitando ainda o ano que está terminando,

gostaríamos de agradecer todas as pessoas que nos apoiaram no decorrer deste ano: colaboradores, amigos, imprensa especializada e principalmente a todos os nossos jogadores que vestiram nossa camisa e, durante todo o ano de 2014, participaram ativamente das nossas promoções e que nos ajudam a entregar, a cada dia que passa, um produto cada vez mais competitivo dentro do nosso mercado. Queremos desejar a todos BOAS FESTAS e trazer um pedido muito especial: Que continuem acompanhando e participando do dia a dia do Betmotion, pois do nosso lado, prometemos um 2015 ainda mais espetacular, repleto de novidades e promoções inéditas dentro do mercado do Poker.

Siga o Betmotion nas redes sociais: FACEBOOK: facebook.com/PokerBetmotionbr TWITTER: @BetmotionPoker

10 premiações na série Mundial WSOP, com uma Mesa Final em 2011 terminando em 7º lugar

Campeão do 1º Santos Open de Poker 2012 - 100K

Nos panos virtuais são mais de US$700.000,00 em premiações, com títulos nos maiores torneios e o título Triple Crown concedido aos jogadores que ganham 3 torneios em 3 sites diferentes no prazo máximo de 1 semana

ACESSE NOSSO SITE:

QR




SUMÁRIO 12. FÁBIO EIJI

TAMANHO É DOCUMENTO Usando situações práticas como exemplo, Fábio Eiji mostra por que torneios são chamados de “jogo de stacks”.

38. JOÃO BAUER

JOGO DE OBSERVAÇÃO Em sua estreia como colunista, João Bauer trata de um dos assuntos mais subjetivos e complexos do poker: as tells.

ESPECIAIS 20. O Tilt

Como Enfrentar Uma das Maiores Armadilhas do Poker por Andres “G3RockLee” Carvalho

44. O HOMEM DE UM MILHÃO DE DÓLARES

No auge de sua vida profissional e pessoal, André Akkari fala sobre carreira, futuro do poker e, claro, seu recém-adquirido ROI milionário.

60. JOGOS MENTAIS

BLEFAR OU NÃO BLEFAR? EIS A QUESTÃO Jonathan Little, Andy Frankenberger, Todd Brunson e Darryll Fish falam de uma das principais armas do poker: o blefe.

66. FELIPE MOJAVE

TEORIA DO POKER EM POT-LIMIT OMAHA Com quais mãos aumentar? Com quais apenas pagar? Quando e por que fazer isso? Mojave tira todas essas dúvidas no artigo desta edição.

74. THE BOOK IS ON THE TABLE 52 Dicas para Texas Hold’em, de Barry Schulman.

para No-Limit Texas Hold’em

CARD PLAYER BRASIL CARDPLAYERBRASIL.COM



TAMANHO É

DOCUMENTO por Fábio Eiji

T

orneio é um jogo de stacks”. Provavelmente você já ouviu essa afirmação diversas vezes e deve ter noção do que isso significa. Assim, o objetivo deste artigo é explorar um pouco mais o tema. Uma das principais características dos MTTs — em comparação ao cash game ou até mesmo aos SNGs — é a heterogeneidade dos stacks. Ou seja, excluindo-se a fase inicial, é comum que os stacks estejam distribuídos de maneira disforme pela mesa. Podemos estar pilo-

Fábio Eiji @fabioeiji binhoeiji@yahoo.com.br

Fábio Eiji já ganhou mais de R$ 3 milhões de reais em prêmios jogando online. Ele possui títulos e mesas finais nas principais séries e torneios regulares do PokerStars.

12

CardPlayer.com.br

tando 40 big blinds, mas, quando estamos no BTN, enfrentamos um SB com 15 bbs e um BB com 12. E aí? Apesar do nosso stack médio, seremos forçados a jogar como short stack nessa situação. Seguindo essa linha, temos uma infinidade de combinações cuja dificuldade se evidencia quando temos grandes stacks, mas o jogo não é, de fato, deep. Para entendermos melhor, veremos algumas situações em que os stacks envolvidos têm tamanhos diferentes e as sugestões de como adaptar-se corretamente.


SITUAÇÃO 1 Q

Hero 30bbs

16bbs

CO

K

SB

Q

K

D

BB

30bbs

HJ

UTG

MP

UTG+1 MP

BTN: 16 bbs SB (Hero): K♣Q♠ (30 bbs) BB: 30 bbs A mesa roda em fold até o BTN, que abre raise de 2 bbs. Sabemos que esse vilão costuma aumentar com mãos marginais, mesmo com stacks curtos. ANÁLISE Aqui, o resteal seria uma jogada padrão, dado o stack efetivo contra o vilão (16 bbs) e o range fraco que enfrentamos. K-Q tem equidade suficiente contra o range de call do vilão, que ainda dará fold uma quantidade de vezes o suficiente para que a nossa jogada seja lucrativa. Porém, o shove (all-in) de 30 bbs não parece o melhor cenário, já que o BB ainda agirá e quando ele pagar estaremos em

uma situação ruim. Digamos que o BB dê call no shove com AJ+ e 99+. Em números, seremos pago 6,3% das vezes e nossa equidade, contra esse range do BB, é próxima de 32%. SUGESTÃO A adaptação que se deve fazer nesse tipo de situação é bem simples, prefira uma 3-bet de 4 ou 4,5 vezes o raise inicial ao all-in, o mínimo necessário para causar os seguintes efeitos: 1) Isolar contra o vilão que aumentou. 2) Mostrar que estamos comprometidos com o shove do vilão. Dessa forma, podemos dar fold tranquilamente em nosso K-Q quando o BB aplicar uma 4-bet, já que ele não pode fazer essa jogada blefando, uma vez que teria que pagar um possível shove do BTN.

cardplayerbr

13


SITUAÇÃO 2

SB

Hero

30bbs

CO

50bbs

D

BB

12bbs

HJ

UTG

MP

UTG+1 MP

30bbs

MP: 30 bbs BTN (Hero): 30 bbs SB: 50 bbs BB: 12 bbs Dezoito jogadores restando no torneio. Fold até o MP que faz um raise de 2,2 bbs. Ele é um regular bom, com tendência a ser loose e agressivo nos estágios finais do torneio. O BB é um regular muito bom. ANÁLISE Temos um stack bom pra 3-bet light (30bbs), já que é muito difícil para o oponente reagir nessa situação — a 4-bet fica muito “cara”, o que custaria uma parte significativa do stack. Assim, reduz-se a frequência de blefes aqui. Porém, qualquer que seja o tamanho da nossa 3-bet, nós estaremos nos comprometendo com um eventual shove do BB.

14

CardPlayer.com.br

SUGESTÃO O range padrão para 3-bet com 30 bbs costuma ser polarizado — mãos fortes ou muitos fracas, estas, geralmente, acompanhado de blockers. Por valor, um range padrão de 3-bet seria algo como AQ+, TT+, e muitos A-X e K-X por blefe. Porém, como o Hero estaria comprometido com o shove do BB, a sugestão é que o range de blefe nessa situação não contenha tantas mãos ruins, mas as mãos mais fortes com as quais o Hero daria fold para uma 4-bet, K-Q, K-J, A-J, A-T,55-88, por exemplo. Dessa forma, o Hero terá equidade suficiente quando enfrentar o shove do short. Outro ponto importante é que essa jogada demonstra muita força, justamente por deixar o Hero comprometido com um dos jogadores. Assim, nessa situação, a frequência de 4-bet light é bem reduzida.


cardplayerbr

15


SITUAÇÃO 3

SB BB

D

A

CO

9

A

9

12bbs

Hero 35bbs

40bbs

HJ

UTG

UTG+1

MP MP

30bbs

MP: 30 bbs CO: 40 bbs SB: 12 bbs BB (Hero): A♦9♦ (35 bbs) Mesa final, nove jogadores restando. A ação chega ao MP, que abre raise de 2 bbs. O CO paga, assim como o SB. O MP é um regular competente. O CO é desconhecido e com tendências a dar muitos flat calls. O SB é um jogador muito fraco que parece não saber jogar corretamente com stacks curtos. ANÁLISE Completar o raise com uma mão suited, jogando um pote com vário jogadores, e com

16

CardPlayer.com.br

odds tão favoráveis é certamente uma jogada boa — e deve ser a adotada como padrão pela maioria dos jogadores. Porém, é preciso ressaltar o “dead money” no pote, resultado dos flat calls do CO e do SB. Do CO porque ele tende a dar mais calls do que deveria; e do SB porque ele claramente tem uma mão fraca, visto que com as mãos mais fortes, certamente, empurraria all-in dado a sua situação. SUGESTÃO O squeeze, aqui, mostra mais força do que o normal, justamente por estarmos comprometidos com o stack do SB. Neste caso, o MP, que abriu raise, não tem muito

espaço para reagir. Um aumento de 3,5 a 4 vezes o valor do raise inicial, ou seja, 8,5 bbs, certamente tem muita efetividade. E, por fim, o Hero não se importa em enfrentar o shove do SB, já que quando ele dá apenas call com esse stack, podemos excluir AT+ do seu range. Existem muitas possibilidades de combinações de stacks que podem influenciar diretamente no desenvolvimento de uma mão e é de extrema importância que o leitor esteja atento para agir e reagir de maneira correta. Uma lição muito básica é sempre verificar o tamanho das pilhas de fichas à frente. Afinal, os torneios são, essencialmente, jogos de stacks.


Leve os torneiosa pra dentro de cas

: BARALHOS E ACESSÓRIOSR WWW.COPAGLOJA.COM.B

cardplayerbr

17




Como Enfrentar Uma Das Maiores Armadilhas Do Poker: o Tilt Por Andres “G3RockLee” Carvalho

A

s grandes estrelas do poker possuem seus segredos para o sucesso nas mesas. São informações que muitos deles costumam manter ocultas das grandes massas. Uma vez reveladas, elas são capazes até de fazer a vantagem que eles têm sobre os oponentes – o edge – quase desaparecer. Nesse especial, você encontrará algumas dessas informações que eles não gostariam que você soubesse. Aproveite.

20

cardplayerbrasil.com


cardplayerbrasil.com

21


Lidando Com As IncoveniÊncias Assistindo ao filme “Uma Mente Brilhante” (A Beautiful Mind, EUA, 2001), eu me deparei pela primeira vez com a história e com as descobertas do matemático John Nash. Curioso, eu pesquisei um pouco mais sobre ele e aprendi os conceitos do Equilíbrio Nash e do Dilema do Prisioneiro. De qualquer modo, o que me inspirou a escrever esse artigo foi a seguinte cena:

Contexto: Nash e seus amigos de faculdade estão num bar quando veem uma loira estonteante entrar juntamente com algumas amigas morenas menos privilegiadas. Começa o seguinte diálogo: Nash: Nossa! Alguém mais acha que ela deveria estar se movendo em câmera lenta? Bender: Ela vai querer um grande casamento. O que você acha? Saul: Deveríamos duelar por ela com espadas, cavalheiros? Ou com pistolas ao meio-dia? Hansen: Você não se lembra de nada? Lembre-se das lições de Adam Smith, o pai da economia moderna. Saul: Sim, sobre a concorrência. Grupo: A ambição individual serve ao bem comum. Hansen: Exatamente. Nielssen: Cada um por si, cavalheiros. Bender: E aqueles que fracassarem ficarão com as amigas. Hansen: Eu irei triunfar! Saul: Você pode levar uma loira na direção da água, mas não pode fazê-la beber. Hansen: Ah, eu não acredito que ele disse isso. Saul: Certo, ninguém se mexe. Ela está olhando para cá. E minha nossa, ela está olhando para Nash. Hansen: Jesus. Certo, ele pode estar por cima agora, mas espere até que abra a boca. Lembrem-se da última vez.

22

Bender: Ah, sim, essa era uma que merecia ficar gravada nos livros de história. Nash: Adam Smith estava errado, seus conceitos precisam ser revistos. Hansen: Do que você está falando? Nash: Se todos formos em direção à loira, iremos nos bloquear, e nenhum de nós a conseguirá. Então acabaremos tendo que flertar com as amigas, mas todas elas nos darão as costas, já que ninguém gosta ser a segunda opção. Mas, e se nenhum de nós tentar flertar com a loira? Não entraremos no caminho um do outro e não insultaremos as outras garotas. Essa é a única maneira de vencermos. Essa é a única maneira de todos nós transarmos. Adam Smith disse que o melhor resultado vem quando todos no grupo fazem o que é melhor para si, certo? Foi isso que ele disse, não? No entanto, essa afirmação está incompleta. Porque o melhor resultado acontece quando todo mundo do grupo faz aquilo que é melhor para si e para o grupo como um todo. Hansen: Nash, se você está nos tapeando para pegar a loira para si, você vai para o inferno. Nash: Dinâmicas governamentais, cavalheiros. Adam Smith estava errado! Essa cena demonstra que estratégias egoístas não geram tanta prosperidade quanto as benevolentes. Hoje, o poker funciona sobre os ditames de Adam Smith, ou seja, nós evoluímos no jogo, procurando fazer o que é melhor para nós mesmos. Contudo, a história nos provou que Nash estava certo e que Smith está ultrapassado. Eu então fiquei pensando e concluí que seria producente para mim ajudar os demais colegas jogadores brasileiros, e resolvi revelar alguns segredos que estavam guardados “a sete chaves”. Nesse especial, eu vou abrir o jogo e contar algumas coisas que muitos dos grandes profissionais não querem que vocês saibam.

cardplayerbrasil.com


Motivos Ler É Diferente de Conhecer, Que, Por Sua Vez, É diferente de Dominar Concentre-se. Faça o possível para conseguir atingir um pico de concentração durante os próximos minutos. O conteúdo das próximas páginas pode aumentar drasticamente os seus lucros. Nós conversaremos sobre uma lei que se aplica a todas as formas de poker e que separa os homens dos meninos, uma informação que não está escrita nos livros e que tem o poder de lhe tornar um vencedor regular nos limites mais altos. Quase certamente você já se questionou ou ouviu alguém contestar a credibilidade dos livros de poker. A lógica desse tipo pensamento se desenvolveria mais ou menos da seguinte forma: “Não faz sentido os grandes profissionais escreverem livros de poker, pois eles ganham mais dinheiro jogando e, ao qualificar a concorrência, estariam diminuindo seus próprios lucros. E mais: ao revelarem suas técnicas e suas formas de pensar, eles se fragilizam perante seus adversários, tornando seus lucros ainda menores. Portanto, os livros de poker não são escritos com o intuito de ensinar os verdadeiros segredos do poker vencedor, mas, pelo contrário, servem para alienar os jogadores, tornando-os previsíveis e ainda mais fáceis de derrotar”. Eu mesmo sempre me questionei a tal respeito e somente um ano após minha profissionalização como jogador é que comecei a entender o que de fato se passava com relação à literatura e aos demais métodos de ensino de poker. Eis algumas conclusões a que cheguei.

cardplayerbrasil.com

Sim, uma série de pessoas já leu vários livros de poker, e o material com o qual elas tiveram contato possuía qualidade legítima. Contudo, a grande maioria desses leitores não foi capaz de incorporar às suas formas de jogar as informações com as quais tiveram contato – eu estimaria que nove em cada dez leitores de livros de poker se encaixariam nessa categoria. Eles leem, mas não absorvem absolutamente nada do conteúdo e, poucas semanas depois, eles se esquecem de tudo, entupindo suas memórias com bobagens, como histórias de bad beats, grandes blefes ou disputas emocionantes. Em resumo, para essas pessoas, a leitura de livros de poker foi inútil. Dos dez por cento que não se enquadram na categoria que eu descrevi acima, nove em cada dez leitores apenas passaram a conhecer os conceitos, mas ainda não sabem manejá-los de maneira lucrativa. Nesta categoria estão aqueles tipos que, no final das contas, acabam dizendo que, após a leitura do livro, passaram a jogar mal e se tornaram perdedores (se você se encontra nessa classe, fique tranquilo: você está no caminho certo). A mesma coisa acontece em outros campos de atuação. Suponha que um fã de filmes de Jack Chan quisesse arrumar briga com dez caras maiores do que ele ao mesmo tempo. O que aconteceria? Ele certamente levaria uma surra. Ele sabe como lutar com dez caras ao mesmo tempo, ele viu nos filmes, mas não é capaz de reproduzir aqueles movimentos adequadamente de modo a ter sucesso. Outro exemplo seria o do cara que adora filmes de tribunais e, sem estudar Direito, resolvesse advogar; ele certamente perderia todas as ações que pleiteasse.

23


Agora, de cada cem leitores, apenas um deles irá realmente dominar aqueles conceitos de modo bastante eficiente para que seu conhecimento possa se converter em lucratividade. Disso podemos tirar nossa primeira conclusão: a democratização da técnica do jogo não afeta de forma drástica o nível das massas de jogadores de modo a preocupar severamente os grandes profissionais.

TÉcnica Obsoleta Apenas o Motivo 1 já seria o bastante para que os jogadores profissionais não temessem revelar suas técnicas ao grande público. No entanto, jogadores de poker são cautelosos e não dão passos em falso. Eles ainda assim se protegem daquele 1% dos leitores que irá de fato dominar a informação que foi compartilhada. De que modo? Simples: revelando apenas técnicas obsoletas. Isso quer dizer que, se você souber, entender e dominar tudo que os livros ensinam, ainda assim não será um jogador de nível mundial, mas terá o calibre que os jogadores de nível mundial possuíam há pelo menos cinco anos, o que é respeitável, mas não põe em risco a saúde dos bankrolls dos grandes jogadores de hoje. Eu quero dizer que, mesmo fazendo parte do grupo de 1%, competir com os grandes será o mesmo que correr com uma McLaren do Ayrton Senna nos dias de hoje.

24

Os Livros Não Entregam o Ouro Tão Facilmente Como se não bastasse todo o exposto, a maioria dos livros de poker lhe dá o peixe, mas não lhe ensina a pescar. Basicamente, a literatura do poker fica dividida em dois grandes grupos: aqueles que lhe dão fórmulas prontas para jogar, mas não demonstram os fundamentos e os princípios que sustentam as fórmulas e, por isso mesmo, não lhe permitem adequar aquele conhecimento à situação concreta do jogo de forma otimizada; e aqueles que demonstram os princípios de modo chato, exaustivo e nada didático, através de cálculos complexos de EV, gráficos etc.

O Que É Decisivo Para Ser Um Super-Vencedor Não É Revelado nos Livros De fato, nós agora chegamos ao ponto principal desse artigo. O que realmente faz a diferença no poker de alto nível não é a excelência técnica, como mostrarei a seguir, mas sim a maestria psicológica. Essa maestria psicológica, além de menosprezada, é tratada apenas superficialmente pelos livros. Antes de partirmos para a dissecação desses aspectos, darei a vocês algumas dicas de como lidar de maneira inteligente com esses motivos. Vejamos.

cardplayerbrasil.com



Como se Desvencilhar Desses Problemas

jogadas. Por exemplo, leia o que Daniel Negreanu e David Sklansky falam sobre semiblefes e realize uma fusão do que ambos comentaram, de modo a compreender o tema não somente através de uma única perspectiva, mas sim de maneira completa. Particularmente, eu acabei fazendo isso ao reler meus livros ao mesmo tempo. Eu via o que determinado autor falava sobre o pré-flop, então partia para outro autor e verificava o capítulo sobre o jogo antes do flop, depois ia para outro, e assim por diante, com cada um dos fundamentos do jogo.

O segredo para driblar o primeiro motivo que expus – ler é diferente de conhecer, que por sua vez, é diferente de dominar – é a fé de que o conhecimento com o qual você está lidando se reverterá em lucros desde que você o domine, e a obstinação de enfrentar as dificuldades de se dominar a técnica do jogo. Coloque na sua cabeça que o proO Grande Segredo do Poker High-Stakes: cesso de dominar a técnica não é fácil: A Lei do Menor Tilt de Mike Caro você precisará ler, testar o que aprendeu, contestar as informações, reler, testá-las novamente, discutir com seus Bata demais em uma máquina de pinball e as luzes amigos, analisar os resultados, procurar começarão a piscar, os controles pararão de funcionar nas entrelinhas e encontrar as excee você verá escrito na tela a palavra TILT enquanto você ções, ser então brutalmente honesto perde a bolinha e, junto com ela, a esperança de vencer o consigo, ignorando seu próprio ego e jogo. Bem, você sabe, o mesmo acontece com os superando sua memória seletiva, quesjogadores de poker. Quando um jogador perde tionar-se quanto aos seus erros e falhas muito ou flerta com o azar repetidas vezes, o no processo de aplicação prática da técnica e cérebro dele subitamente para de funcionar e ele repetir todo o processo novamente quantas imediatamente se torna um idiota sem a menor vezes forem necessárias até que você o domicapacidade de tomar decisões. Ele apostará nos ne por completo. Lembre que eu disse que não momentos errados e fará uma infinidade de seria fácil: é como se tornar um mestre das outras bobagens, mas se você olhar bem, poderá artes marciais apenas assistindo a filmes; não ver escrito na testa dele a palavra TILT. Antes de é impossível, mas é quase, e apenas os mais prosseguirmos, me permita contar uma história. obstinados nos treinamentos conseguirão. Para o segundo motivo, o da técnica obsoleta, você terá de deduzir para onde aqueles conhecimentos evoluíram desde que foram consolidados. Um bom modo de fazer isso é contrastando a técnica já dominada com a forma de jogar dos grandes jogadores de hoje em dia, perguntando-se qual é a peça do quebra-cabeça que está faltando, traçando o ponto de ligação entre a técnica antiga e a nova, sem se deixar iludir pela história de pegar o peixe, mas não saber pescar. Ou seja, você precisará descobrir o que está por trás das jogadas, os fundamentos. Por que Phil Ivey ocasionalmente joga com 9♦3♣ do UTG? Para o terceiro motivo – os livros não entregam o ouro tão facilmente –, você precisará ler as mesmas coisas através de fontes diferentes e somar as informações de modo lógico, para compreender as causas e consequências das

26

cardplayerbrasil.com


A Triste HistÓria de João João recentemente se tornou jogador profissional de poker. Há dois meses ele saiu da casa dos pais e foi morar sozinho em um apartamento alugado. Ele vem ganhando de modo consistente há quase um ano e atualmente sua renda é de uns $4.000 reais por mês. Ele comprou uma televisão, um carro, e passou a ter um estilo de vida compatível com a sua nova renda. Certo dia, ele estava jogando um cash game de $1-$2 em uma cardroom e já tinha aumentado o seu cacife inicial de $200 para $500, quando recebeu a mais bela mão do poker: AA. Ele apostou e apenas um jogador pagou, então o flop trouxe A-K-9 de naipes diferentes. João apostou e seu oponente aumentou. Ele deu reraise all-in e, enquanto seu adversário pensava se devia pagar ou não, a mente de João se deliciava com os $1.000 reais ele teria em breve. Um quarto de toda a sua renda do mês em apenas mais alguns instantes. Depois de muitas considerações, o seu oponente diz: “Eu acho que a sorte está do meu lado, então vou pagar!” Ele abre JT e, logo no turn, nosso herói vê o inacreditável acontecer: uma dama aparece e a sua imponente trinca de ases vai pelo ralo. Uma discussão se inicia: [João]: Mas que baralhada! Você me pagou na broca, eu não acredito! [Oponente]: Baralhada nada, seu moleque, eu tinha 50% de chances de vencer a mão! [João]: Como assim? Você tá louco?! [Oponente]: Meu querido, a dama podia aparecer no turn ou não, só havia duas possibilidades: ou bate ou não bate, cinquenta por cento. O pessoal da mesa cai na gargalhada, e um engraçadinho começa a zombar de João e a fazer piadas. Eis que irrompe um grito na cardroom: “REBUY, me dá mais $500 reais em fichas!”

cardplayerbrasil.com

De volta ao jogo, algumas mãos depois, ele recebe JJ, aposta e o seu carrasco, o cara dos cinquenta por cento, aumenta. Impaciente, Jon reaumenta all-in e seu oponente argumenta, com um tom sarcástico: “Bem, eu vou pagar a sua aposta com o seu próprio dinheiro”, e mostra AJ. O flop abre A-K-J, enquanto um sorriso maléfico se estampa na face do nosso herói. O turn é uma dama e seu adversário começa a pedir ao dealer um ás. O maldito ás então aparece no river e as piadas voltam a circular a mesa com força total. Roxo de ódio, João se levanta da mesa derrotado e caminha cabisbaixo para fora da cardroom, quando vê um cartaz no caixa que diz: “Aceitamos cartão de crédito na compra de fichas para o cash game”. Algo vibra em seu estômago e o diabinho que mora em seu ombro começa a dizer: “Você vai deixar aquele cara ficar com o seu dinheiro, covardão?” Ele então dá meia volta, e algumas horas depois seu cartão estourou o limite: 10 mil reais. Isso é o tilt. O nosso amigo, recém profissional do jogo, que ganhava uma média $4.000 reais por mês com o poker, quebrou. E ele não se levantará mais. O desespero em recuperar o prejuízo fará com que ele gerencie mal suas finanças. Ele pedirá um empréstimo no banco e jogará durante horas na internet em um stake menor, até que a sua paciência se esgote e ele acabe subindo os limites e se sente em uma mesa repleta de tubarões. Sua mente fora severamente abalada, e ele vai tiltar novamente em breve. Ele pensará em suicídio, mas, ao fim, apenas voltará a morar na casa dos seus pais. Ele será repreendido por eles e ouvirá algo do tipo: “Eu disse que essa história de poker não ia dar certo, poker é sorte”. Algumas semanas depois, sua mãe arrumará um trabalho para ele como auxiliar de escritório e somente daqui a alguns anos ele voltará a jogar, mas nunca mais será a mesma coisa.

27


A Lei do Menor Tilt Você achou essa história exagerada? Não se engane: algo parecido aconteceu comigo há dois anos, e pelo menos metade dos amadores que tentam se tornar profissionais do jogo acaba passando por alguma situação similar. É um fato: o tilt certamente já quebrou mais bankrolls do que qualquer outro elemento no poker, incluindo a ausência de técnica. O tilt é o principal elemento que distingue os bons jogadores dos super ganhadores. Há quase uma década, Mike Caro trouxe a público, num singelo artigo, o mais importante conceito de poker de todos. Acima do Teorema Fundamental do Poker de David Sklansky, do Small-Ball de Daniel Negreanu ou do “M” de Dan Harrington, está a Lei do Menor Tilt de Mike Caro. Sem mais delongas, ela diz o seguinte:

O Tilt se Manifesta de Forma ImperceptI´vel Cuidado! Descobrir o tilt no momento em que ele acontece é uma das tarefas mais difíceis, pois essa investigação exige uma meticulosa auto-análise – processo mental que fica reduzido, e muitas vezes exaurido quando se está tiltado. Para tanto, é preciso criarmos o hábito de sempre nos autoinvestigar, nos questionando de forma cruel e objetiva quanto ao nosso rendimento. Um bom modo de se fazer isso é respondendo à seguinte pergunta: “Nas últimas 100 mãos, eu utilizei todos os recursos teóricos que conheço ou joguei de forma displicente, fazendo uso de apenas uma parte daquilo que sei sobre poker?”

“Entre Jogadores Similarmente Qualificados, Vence o Jogador Mais Disciplinado e Que Tiltar Menos.” Você deve estar pensando: “Quanta baboseira, até agora não li nada que realmente fizesse a diferença. Afinal, o que há de tão grandioso nisso?” Permita-me demonstrar. Imagine um jogador de Double o Nothing que disputa 100 torneios de $50 dólares por dia, cinco dias por semana e quatro semanas por mês. Ao final de um mês, ele joga 2.000 torneios DoN e fecha no zero a zero. Agora, vamos supor que ele ocasionalmente entre em tilt ou se desconcentre e, por conta disso, acabe perdendo um ou outro DoN que ele venceria se estivesse em seu estado normal. Uma boa estimativa é que ele perca um a cada vinte torneios que joga por conta disso. Agora vejamos quanto dinheiro isso significa.

28

Bem, se ele joga 2.000 torneios por mês, então 1/20 disso ele perde por causa do tilt: isso significa que, ao longo de um mês, ele perde 100 DoNs por causa do tilt. Como cada DoN ganho representa $100 de lucro, há $10.000 dólares por mês que ele está deixando de ganhar simplesmente por causa da Lei do Menor Tilt. Observe que o que faz diferença entre um jogador que ganha $0 dólares por mês e outro que ganha $10.000 não é um abismo de habilidade técnica, como seria razoável supor, mas sim a capacidade de tiltar menos. Espantoso, não? Pois é, e o mesmo se aplica aos cash games, aos torneios e a qualquer outra modalidade de poker. Finalmente você pode compreender por que a lei do menor tilt é o que diferencia os grandes jogadores das superestrelas do jogo. Se você leu e compreendeu profundamente os conceitos de uns seis bons livros de poker, eu fico feliz em lhe dizer que você ainda não é uma pessoa extremamente rica apenas por causa da incapacidade de resistir ao tilt. Em uma única expressão: falta a você dureza mental. Essa é a verdade que não está nos livros.

cardplayerbrasil.com



Um novo exemplo. Pensemos nos cash games high-stakes. A mais cara mesa do mundo fica no Bellagio, na Bobby’s Room, carinhosamente apelidada de Big Game. Nela se sentam todos os dias jogadores de renome mundial, como Phil Ivey, Daniel Negreanu, Doyle Brunson, Johnny Chan, entre outros. Quão melhores do que seus concorrentes nessa mesa esses jogadores são? Ivey é considerado o melhor jogador do mundo, mas quão melhor do que Daniel Negreanu ele é? Digo que não muito, e provavelmente seria um exagero dizer que a habilidade de um sobrepuje a do outro em 2%. A mesma lógica se aplica aos demais concorrentes desse acirrado cash game. Então, será que essa mesa é de fato lucrativa para alguém? E em caso afirmativo, de onde vem o lucro? Bem, a resposta é: sim, há lucro a ser extraído nessa mesa, provenientes de dois caminhos. O primeiro é dos milionários amadores que de vez em quando se sentam à mesa à procura de diversão e de um desafio, e o segundo é da Lei do Menor Tilt. Todos que estão sentados à mesa vão, em algum ponto, tiltar e doar dinheiro para os demais. Assim, em algum momento, todos eles terão prejuízo real (não por causa da variância, que não conta em termos de longo prazo) e, ao final de um ano de jogo, lucrará mais aquele que tiltar menos. Phil Ivey é o maior jogador da história, talvez não por conta da sua habilidade incomparável (ele provavelmente não é o jogador mais habilidoso do mundo), mas sim por ser o que menos tilta entre as grandes estrelas do jogo.

“Phil Ivey É O Maior Jogador Da HistÓria, Talvez Não Por Conta Da Sua Habilidade IncomparÁvel (Ele Provavelmente Não É O Jogador Mais Habilidoso Do Mundo), Mas Sim Por Ser O Que Menos Tilta Entre As Grandes Estrelas Do Jogo”

30

Agora que nós compreendemos a Lei do Menor Tilt e as suas implicações, vamos colocar nossas cabeças para pensar e encontrar uma forma de tiltar menos e, com isso, ganhar mais dinheiro. Bem, eu tenho algumas dicas para você. Experiência: A experiência dissolve as anormalidades do jogo (bad beats, bad runs, falta de sorte em geral, etc.) em um oceano de normalidade. Ela nos ensina a aceitar a variância e a não nos deixar levar pelas maldades do baralho. Além disso, com a experiência, nós aprendemos que perder dinheiro não é o fim do mundo. Jogadores experientes são mais resistentes à pressão por bons resultados, fazendo com que seja necessário muito mais agruras para eles tiltarem do que os demais, e isso implica em uma frequência de tilt muito menor. Respiração: A respiração é uma das principais pontes que ligam nossa mente consciente à inconsciente. Assim como os batimentos cardíacos, a respiração é comandada pelo subconsciente. Contudo, nós podemos modificá-la de forma consciente de acordo com a nossa vontade. Por meio de exercícios respiratórios, é possível controlar de forma eficiente nossa mente e nossas emoções, de modo a sermos mais serenos e, portanto, menos suscetíveis ao tilt. Existe uma infinidade de exercícios respiratórios, e cada um com propósito e eficiência próprios; então, eu recomendo que você os pesquise e escolha aquele que for mais adequado para você. Exercícios Físicos: O exercício físico proporciona sensação de prazer, autocontrole e, quando praticado regularmente, pode até mesmo ajudar a controlar dependências tanto químicas quanto psíquicas. Dessa forma, ao praticar exercícios físicos, estamos melhorando a nossa saúde e contribuindo para a prevenção e redução dos níveis do stress, nos tornando mais calmos e mais resistentes ao descontrole emocional.

cardplayerbrasil.com


estado letárgico. Vale também uma ressalva àqueles que consomem cafeína e/ou álcool em excesso. Ambas as substâncias lhe tornam mais temperamental ou, em outras palavras, mais “tiltável”.

Exercícios de Relaxamento: Seja através da ioga, da meditação, da massagem, da acupuntura ou de qualquer outra forma, o relaxamento do corpo se reflete na mente e vice-versa. Quanto mais tensos estivermos, mais fácil e frequentemente cairemos no tilt, e não é isso que nós queremos, certo? Então, se você quiser ser um grande vencedor do jogo, engula seu ceticismo e procure algum tipo de exercício de relaxamento: o investimento certamente valerá a pena. Alimentação: Daniel Negreanu comentou, de passagem, que comidas pesadas fazem a sua mente ficar lenta. Tristemente, os organizadores dos torneios colocam à disposição dos jogadores apenas alguns poucos minutos para uma refeição. As filas dos fast foods próximos ao local do torneio logo se entopem de jogadores famintos, que se empanturram de hambúrgueres, pizzas e hot-dogs. Ao invés de fazer isso, configure você mesmo uma refeição leve e vigorosa para salvar seu estômago durante o almoço. Eu não posso lhe dizer quantas vezes vi jogadores quebrarem logo depois do break, por estarem com suas mentes em um

cardplayerbrasil.com

Durma Bem e Jogue Descansado: Algum tempo atrás, eu lancei o desfio de transformar $50 em $5.000 em 24 horas e fracassei. Um pouco antes de o desafio começar, estava tudo pronto: eu tinha acabado de acordar e as progressões dos lucros eram realistas; eu iria jogar durante duas horas em torneios DoN de $5 em 25 mesas ao mesmo tempo, o que me faria chegar a algo entre $100 e $150 dólares, então partiria para os de $10 no mesmo ritmo e, em mais três horas, eu chegaria a algo entre $300 e $400; com mais três horas nos torneios de $20, chegaria nos $600 ou $700, então partiria para os de $50, onde permaneceria seis horas e chegaria a algo em torno de $2.000; então, finalmente, partiria para os de $100 durante o restante do tempo, até atingir os $5.000. Eu já tinha executado cada uma dessas etapas individualmente antes, e matematicamente era bastante plausível o meu sucesso. No entanto, a prática foi desastrosa. Até a oitava hora de jogo, eu consegui bater todas as metas, e estava indo até muito bem. Eu cheguei a $700 e então parti para os DoNs de $50. Contudo, o cansaço começou a obliterar a minha habilidade, eu já não tinha mais vantagem sobre meus adversários e comecei a empatar, ou seja, a não lucrar mais. Lutei por mais duas ou três horas e comecei a perder, até que finalmente tive que me entregar e aceitar o meu fracasso. Essa experiência me provou os efeitos avassaladores do cansaço. Portanto, aprenda com o meu erro. Durma bem e jogue apenas enquanto seu vigor estiver no auge.

31


Programação Neuro-Linguística: A PNL é um ramo ainda novo da psicologia que possui algumas abordagens surpreendentemente interessantes e eficientes. Nela há uma série de propostas e exercícios simples capazes de modificar seu temperamento de modo incrível, tal como na hipnose, mas de forma menos agressiva, e o melhor: você pode fazer sozinho. Estude um pouco a respeito disso na internet, pois também vale a pena. Fé e Paz Espiritual: É um fato que pessoas de fé ou com paz espiritual perdem menos a cabeça do que as demais. Pense nos monges budistas, nos rabinos e nos líderes religiosos: será que eles tiltariam com a mesma frequência que você? Certamente não. Obviamente, eu não estou dizendo para você se tornar um mestre religioso, mas fique em paz com a sua espiritualidade e você se tornará mais sereno, e seu temperamento, menos afetável.

O que acontece é que, quanto melhor você jogar, mais difícil e demorada será a sua evolução, e menos resultados práticos você conseguirá obter graças a novos conhecimentos. Quando se está começando, cada conhecimento é revolucionário, e suas aplicabilidades são imediatas. No entanto, com o tempo, você já tem domínio dos fundamentos do jogo, assim como seus adversários, e tudo que lhe resta é o aprimoramento dos detalhes, que, com o passar do tempo, serão cada vez mais minuciosos e raros. Não se tratará de dar fold em A-3 quando se está no UTG, mas sim de aplicar um overbet pelo valor no river quando se tem o nuts contra jogadores agressivos que possuem uma gama de call ampla e desbalanceada. Assim, quanto melhor se é, mais importante é a Lei do Menor Tilt em detrimento da excelência técnica, e vice-versa.

Onde Entra a Habilidade TÉcnica Nesta HistÓria?

Os Outros TambÉm Tiltam

Uma série de pensamentos deve estar passando pela sua cabeça nesse momento, e um deles deve ser: “Se a Lei do Menor Tilt é tão poderosa, e sua regência tão ampla, onde a técnica entra nessa história? Jogar bem, então, não é importante?” Essa pergunta tem muito cabimento e uma resposta ponderada se faz necessária.

Outro contraponto que convém destacar é que seus oponentes também tiltam – e a Lei do Menor Tilt se aplica constantemente a todos os jogadores. Aprender a explorar os erros graves de seus oponentes tiltados é outra rota onde há muito dinheiro disponível. É preciso identificar quando os jogadores ficam emocionalmente abalados, assim como é também interessante induzi-los ao tilt. Mas tome cuidado, pois mesmo uma fera irracional pode lhe machucar se você não souber como se portar diante da situação. Evite jogadas subjetivas e extravagantes; em vez disso, procure tomar decisões diretas fazendo o óbvio, ou seja, aposte com as suas boas mãos, especule com as marginais e desista das ruins. Tiltar é tornar-se incapaz de enxergar aquilo que está bem à frente do nariz e passar a utilizar um martelo para lidar com parafusos.

Apesar de tudo que dissemos, há espaço para a habilidade no poker, e ela influi diretamente na sua lucratividade, afinal, é ela que determinará o quanto você ganha ou deixa de ganhar em todo o resto do tempo em que estiver jogando e não estiver tiltado. Aliás, até mesmo estando tiltado, a sua habilidade influenciará. O tilt e outros desequilíbrios emocionais afetam o jogo através da redução da sua habilidade técnica. Contudo, se você joga bem, quando estiver tiltado, talvez passe a jogar de forma mediana e não perdedora, se você

32

for realmente muito bom tecnicamente: mesmo tiltado, você será melhor do que seus oponentes. Digo mais: a confiança na técnica faz com que você entre menos em tilt, pois será menos surpreendido de modo tão avassalador a ponto de mexer com a sua racionalidade.

cardplayerbrasil.com



“Tiltar É Tornar-Se Incapaz De Enxergar Aquilo Que Está Bem À Frente Do Nariz E Passar A Utilizar Um Martelo Para Lidar Com Parafusos” Cuidado Com Seu Ego A grande maioria dos leitores deve ter se impressionado com o que foi dito até aqui, mas, na prática, muitos irão ignorar todas as informações desse texto. O ego dessas pessoas as fará a crer que proteger a sua psique do tilt através de meditação, alimentação, ou qualquer outro meio, não passa de frescura. Todos nós cremos sermos mais fortes do que de fato somos, e que somos diferentes de todo o resto do mundo. Entretanto, é preciso espezinhar tal sentimento, pois ele não é inteligente. Inteligência é a capacidade de solucionar problemas e de se adaptar a situações novas, e se julgar o “fortão” vai de encontro a isso. Portanto, solucione seus problemas com o tilt e se adapte a essa nova realidade: para se jogar bem poker, é preciso manter a mente sadia.

Os Melhores do Mundo Você lê notícias de poker e vê jogadores milionários passando horas jogando golfe, recebendo massagens ou se divertindo em festas e extravagâncias tão grandes que parecem um sonho, então você pensa: “Poxa, isso é que é vida, eles são tão ‘feras’ no jogo e ganharam tanto dinheiro que não precisam estudar ou se preparar, eles apenas curtem a vida seis dias por semana, e no sétimo vão ao cassino ganhar tranquilamente mais alguns milhões para sustentar esse estilo de vida”.

34

Você está certo e errado quando pensa isso. De fato eles estão curtindo a vida porque têm muito dinheiro. No entanto, eles só têm muito dinheiro porque, justamente, curtem a vida. É paradoxal, mas causa e consequência se misturam nesses casos. Eles não são simplesmente folgados: eles agem assim porque precisam; sem isso eles tiltariam mais frequentemente e seriam perdedores. De fato, essa é a preparação deles para jogar os mais altos limites do mundo. Todos os jogadores dessas mesas são similarmente qualificados, e não há como eles evoluírem o modo de jogar de forma tão absurda a ponto de esmagar a concorrência. Quanto mais alto se está, mais difícil vai ficando a escalada, ou seja, eles precisariam de anos de estudo intensivo para superar tecnicamente seu rivais em um ou dois por cento. Nesses jogos de alto nível, não são os melhores que vencem, mas sim os que tiltam menos, ponto.

O Tilt e Suas Facetas Existe uma infinidade de formas e intensidades de tilt. Há o micro-tilt, que leva o jogador a tomar decisões erradas por um pequeno período de tempo, talvez uma ou duas mãos apenas. Há o tilt suave, porém prolongado, que faz com que a qualidade do jogador seja reduzida durante semanas e até meses. Há também diversas intensidades de tilt, desde aquele que apenas reduz a sua habilidade de se concentrar até o que leva o jogador à completa demência. Todos os jogadores tiltam, e perceber que se está tiltado é crucial, assim como também é importante compreender como o tilt lhe afeta. Existem pessoas que se tornam imprudentes e outras que se tornam tímidas; há aqueles que não se importam com o risco e os que se acovardam. Enfim, o primeiro passo para gerenciar o tilt é compreendê-lo a fundo.

cardplayerbrasil.com


“Seja Qual For O Seu NI´vel TÉcnico, Dedique Sempre Uma Parte Do Seu Tempo À Dureza Mental, Pois Ela Vai Acabar Lhe Pagando Grandes Dividendos. Perceba Que O Dinheiro De Verdade EstÁ No Final Da Sua Evolução No Jogo, E Não No InI´cio”

Adotando a Melhor Abordagem Para o Jogo Para chegar ao auge da sua capacidade e extrair o máximo da lucratividade que o pano verde disponibiliza, é preciso, creio eu, adotar uma rotina que mistura treinamento teórico, treinamento prático, incremento de dureza mental (por causa da Lei do Menor Tilt) e jogar em busca do lucro. Inicialmente, dando mais ênfase aos estudos e treinamentos e, posteriormente, com a evolução do jogador, dedicando-se mais ao incremento mental e à busca do lucro. Eu poderia apostar que as grandes estrelas do jogo investem 80% do tempo delas no desenvolvimento da dureza mental, 10% na evolução técnica e 10% em

cardplayerbrasil.com

jogar para ganhar dinheiro. Por outro lado, um jogador aspirante a profissional deveria dedicar 80% do seu tempo ao estudo e à evolução técnica, 10% ao acréscimo de dureza mental e 10% ao jogo prático em busca do dinheiro. Contudo, seja qual for o seu nível técnico, dedique sempre uma parte do seu tempo à dureza mental, pois no final, ela vai acabar lhe pagando grandes dividendos. Perceba que o dinheiro de verdade está no final da sua evolução no jogo, e não no início. Jogar para ganhar dinheiro antes de se chegar aos stakes médios de $50 e $100 é, na verdade, jogar dinheiro fora no final das contas. Tenha isso em mente e siga o seu caminho até onde seu destino lhe permitir: enxergue a estrada como um todo e planeje-se da melhor forma possível, sem negligenciar a Lei do Menor Tilt, para não ser devorado por ela. ♠

Andres “G3RockLee” Carvalho tem 23 anos e joga profissionalmente desde 2007. Ele é um dos jogadores mais lucrativos do Brasil. Entre em contato através do e-mail g3.malkav@gmail.com

35




38

CardPlayer.com.br


JOGO DE

OBSERVAÇÃO por João Bauer

P

ara o meu artigo de estreia, vou escrever sobre um dos assuntos que mais me fascinam no poker: as tells, em especial, as do poker online. Tells são informações que o vilão pode nos dar de forma involuntária ou intencional. Em geral, as tells online são do primeiro tipo, e podemos percebê-las das seguintes formas: AVATAR Geralmente, jogadores iniciantes ou recreativos utilizam fotos de par de Ases e de estrelas do poker — Phil Ivey, Daniel Negreanu e muitos outros — como avatar. Já os profissionais, normalmente, utilizam imagens de personagens de séries, mulheres, artistas famosos etc. TAMANHO DA APOSTA (SIZE BET)

Este, com certeza, é um dos principais pontos a serem observados online. Analisar o valor que o vilão aposta em determinados bordos podem lhe ajudar a saber se o adver-

sário está no topo do seu range e se há a chance de ele desistir de determinada mão. TEMPO DE APOSTA No início dos torneios, este fator não é tão importante. Em estágios avançados é interessante estabelecer um padrão ao executar qualquer jogada. Eu indico utilizar a “piscada” que o PokerStars dá quando a ação chega em você. Espere sempre quatro ou cinco piscadas, seja para dar raise, call ou fold — antes e depois do flop. BOTÕES DE AÇÕES AUTOMÁTICAS Os botões personalizados para apostas padrões e para dar fold automaticamente podem trazer prejuízos, já que eles tendem a deixar o seu jogo automatizado. No caso do primeiro, você para de analisar o bordo por preguiça e acaba, muitas vezes, só clicando no botão para apostar 40% ou 50% do pote, sendo que cada mão e cada adversário necessitam de um size bet específico. No

cardplayerbr

39


caso do fold automático, isso pode mostrar aos vilões que você não observa bem os spots (situações) na mesa e que facilmente vai largar o big blind. Com isso em mente, eles irão agredi-lo mais vezes. NICKNAME O próprio nick pode nos trazer informações se os oponentes jogam de forma recreativa ou profissional. Vou dar um exemplo de uma pergunta que passei para os meninos do Steal Team durante um coaching sobre tells, em que eu queria instigar a curiosidade de procurar o significado de cada nick: “Vocês são jogadores de heads-up cash game e jogam NL 1k. Há dois jogadores sentados em duas mesas diferentes, um com o nick de ‘Joe Frazier’, outro com o nick de ‘S2Dana Gordon’. Quem vocês prefeririam enfrentar?” Obviamente, eu fiz essa pergunta como uma pegadinha. A maioria respondeu que gostaria de encarar o “S2Dana Gordon”. Na verdade, Joe Frazier foi um campeão mundial de boxe nas décadas de 60 e 70, famoso pelos embates com Muhammad Ali e George Foremam pelo título de campeão dos pesos pesados. Então, uma pessoa que escolheu esse nick, possivelmente, é mais velha, viu ele lutar ou gosta muito de boxe. Em geral, no online, pessoas mais velhas jogam de forma recreativa. Já Dana Gordon foi um jogador profissional de poker entre 2006 e 2011, muito lucrativo em torneios online, mas que, deprimido, acabou cometendo suicídio em 2011. Pois bem, a pessoa que criou o nick de “S2Dana Gordon” já

conhecia o universo do poker online e admirava o jogador citado. Então, presume-se que ele é um jogador que joga profissionalmente. Dessa forma, percebemos que, mesmo online, podemos identificar tells de diversas maneiras. Assim, o jogador observador, que está atento aos detalhes e aos padrões dos adversários, com certeza, está um passo à frente dos demais. Para encerrar, gostaria de dizer que estou muito feliz e honrado por fazer parte do grupo de colunistas da Card Player Brasil. Espero contribuir da melhor forma possível, com artigos que tragam informação, discussão, polêmica e aprendizado, e que despertem a vontade de pensar o poker de uma forma mais didática e técnica.

João Bauer @jddnbauer

João Bauer é um dos fundadores do Steal Team. É um dos poucos brasileiros a conquistar um título da principal série de poker online do mundo, o WCOOP. Ele também já chegou à mesa final do LAPT e da WSOP.


cardplayerbr

41


Jogue poker de graça. Este não é um site de apostas. Apenas maiores de 18 anos. Este é um concurso desportivo e recreativo.


Eu sou todos que alguma vez duvidaram de mim Cada jovem tolo e babão Cada velho desprezível Eu estou aqui Sua semelhante Eu sou forte

nós somos poker


O HOMEM DE UM MILHÃO DE DÓLARES Fotos: Carlos Monti

Por: Marcelo Souza

“E aí, porquinho? Como está?” – com sua alegria típica, é com essa frase descontraída que ele me recebe para nossa entrevista. Se existe algo que talvez rivalize com sua paixão pelo poker, é o Corinthians. Mais um do “bando de loucos”, André Akkari nunca perdeu a oportunidade de fazer uma brincadeira com os torcedores rivais. E em mais de uma hora de entrevista, percebo que existem outras coisas que ele também nunca perdeu: a humildade, a simpatia e a chama interna que apenas os grandes campeões carregam no peito. Desde a nossa última conversa, no ano passado, vejo que ele mudou completamente e que não mudou nada. O Akkari de hoje está mais confiante, mais completo. Em apenas um ano, ele desenvolveu ainda mais suas habilidades, cercou-se de pessoas que o fizeram crescer em todas as vertentes, preparou-se para explodir no cenário mundial e manteve os seus ideais, crenças e caráter inabaláveis. Com a missão já cumprida no online — o inédito, nacionalmente falando, ROI (sigla em inglês para “Retorno sobre Investimesto”),

44

CardPlayer.com.br

de US$ 1 milhão, recentemente alcançado em torneios no PokerStars, já mostra isso —, ele já anunciou que seu ritmo na internet vai diminuir drasticamente. Ainda o veremos em ação nas grandes séries, como WCOOP e SCOOP, mas o seu foco agora pertence ao live. Nos próximos anos, ele estará nos principais torneios de poker do mundo, buscando levar a bandeira do poker nacional a locais ainda inexplorados. Ele está sedento por vitórias, títulos e fichas. Dedicar-se apenas aos grandes torneios de poker ao vivo, sem depender dos outros, é para poucos, resultado de uma carreira bem estrutura e planejada. Akkari trabalhou duro em seus 10 anos como jogador. Hoje, colhe os frutos. Alcançou um status em que o tempo não lhe gerencia, muito pelo contrário. O relógio agora trabalha a seu favor e conveniência. Entre outros inúmeros dons, o profissional do PokerStars sabe se expressar de forma brilhante. E é graças à sua oratória afiada que os leitores da Card Player leem, agora, uma das entrevistas mais marcantes que já tive a oportunidade fazer.


cardplayerbr

45


Marcelo Souza: Akkari, primeiro vamos falar ao que remete o título desta matéria. Você é o primeiro jogador do Brasil (e um dos poucos do mundo) a chegar a US$ 1 milhão de lucro jogando torneios no PokerStars. Qual a sensação? André Akkari: Eu sempre tento manter o ROI o melhor possível. Cada mão e cada jogada é buscando esse retorno, mas nunca pensei em valores. Penso nas melhores decisões para poder chegar ali. Realmente é uma marca histórica. Acho que o grande segredo é o equilíbrio que consegui encontrar na minha carreira, jogando ao vivo e online. Alcançar esse marco me deixou muito contente, mas é só questão de tempo que outros caras no Brasil consigam também. O volume que nossas feras do online têm jogado é impressionante. Então, é só aguardar. MS: E um dos grandes responsáveis por essa conquista são os torneios $109 com rebuys. Você tem inúmeras cravadas e mais de 300 premiações nesses eventos. Qual o segredo?

46

CardPlayer.com.br

AA: (Risos) Para ser sincero não sei. Acho que é o que eu mais me envolvo para jogar. Eles têm algumas peculiaridades. O field nunca é tão grande, apesar que eu tenho títulos também no Sunday Rebuy, que tem sempre muitos inscritos. É também um torneio que acontece várias vezes na semana, por isso acaba tendo uma amostragem maior e aparecendo mais resultados. Mas eu gosto muito de jogá-lo. Mas como criou essa mística, de eu jogar e ganhar, então eu fico querendo jogar e ganhá-lo ainda mais. Na minha carreira, eu sempre consegui operar bem em todos os cenários do online, mas com o 109 com rebuys, realmente, tem alguma coisa que não sei explicar o que é. MS: Agora, um fato curioso. Sua maior premiação no online não vem do Texas Hold’em, sua especialidade, mas sim de um evento de H.O.R.S.E. do WCOOP, em 2008. Como você explica isso? E na época você era bom nos outros jogos (Stud, Omaha e Razz)?


Cadastre-se já com o código CARDPLAYER100 e ganhe 100% de bônus em seus 2 primeiros depósitos. Depósito mínimo de R$5

WWW.BETMOTION.COM


AA: Naquele momento, eu fui muito malandro. Uma das grandes sacadas na vida é saber quando você não sabe alguma coisa, e eu estava ciente de que jogos que eu não sabia jogar. Eu sou um cara com uma autocrítica enorme. Eu tinha certeza, por exemplo, que no Omaha Hi/Lo eu era muito fraco — ainda não jogo bem, mas vou jogar —, então eu fugia desse jogo. Eu não me metia a jogar potes muito grandes, não acelerava demais e me concentrava mais em mãos de valores. O Stud Hi/Lo, quase a mesma coisa. Mas aí tinha jogos como o limit (Hold’em), que é um jogo que desde que eu comecei a jogar, eu estudava. É um jogo em que me divirto. Nele, eu forçava a barra, sabia que eu tinha uma vantagem maior ali. Fui seguindo essa estratégia e as coisas foram acontecendo. Quando percebi, eu estava na mesa final. O heads-up começou no Omaha Hi/Lo. Acabei me complicando e perdendo o bracelete. Fiquei triste, queria ganhar, mas o resultado foi sensacional. MS: Hoje, você é a pessoa com maior representatividade dentro do poker nacional. Isso foi planejado? AA: Acho que isso foi acontecendo com o tempo. Quando eu comecei, o poker tinha uma imagem muito ruim na sociedade e sempre teve um grupo pequeno de apaixonados, de pessoas que eram fanáticas, que gostavam demais. Elas sabiam que o jogo era de habilidade e ele virou o “filho feio” (risos). Se alguém falasse mal, esse pequeno grupo surtava. E eu era um desses caras, que sempre saiu a campo para defender o poker como profissão e prática esportiva. Então, quando tem alguém que faz isso o pessoal você vira fã do cara, se conecta com a pessoa de algum jeito. Acho que se deve a isso, de eu sempre estar na briga para defender, não só eu, mas o (Igor) “Federal” fez a mesma coisa, o CK (Christian Kruel), o Raul (Oliveira), o (Felipe) Mojave.

48

CardPlayer.com.br


Todo mundo lutava e eu acho que acabei herdando mais esse lado do embaixador, o lado de mostrar, para quem não acreditasse, que o poker é um jogo de habilidade. Isso foi fazendo com que eu ganhasse mais representatividade, e aí as coisas começaram acontecer. Claro que também fui me esforçando para fazer um trabalho cada vez melhor, de mídia digital, de rede social, de interação, como o “Boteco do Akkari” [sempre que consegue boas premiações na internet, Akkari realiza torneios de graça, com premiação, para os participantes do seu Home Game no PokerStars], que é algo muito bacana, porque acaba fazendo com que as pessoas acompanhem seus resultados, acompanhem as mesas finais No final, você acaba dividindo um pouco da alegria do momento com aquela turma. Tudo foi uma combinação de fatores que eu fui criando. Eu era publicitário, então eu também tenho essa pegada do marketing. Sempre estudei isso e

fui analisando em que cada coisa podia ser efetiva sobre meu trabalho. Acabei tendo grandes resultados em médio e longo prazo e, hoje, estou colhendo os frutos. MS: Você acabou de renovar o seu contrato com o PokerStars por mais três anos. O que você pode falar sobre esse acordo? AA: Eu tenho um contrato muito bom. Fico muito contente de trabalhar com eles. Mas eu sempre dei ênfase que eu sou um profissional autônomo, não sou funcionário de ninguém, eu sou simplesmente um atleta patrocinado pelo PokerStars, e nesse tipo de conceito, o PS sempre foi muito bacana e reconhecedor das coisas que eu fiz. Eu tinha um contrato bacana e migrei para um melhor. Não é do nível do Negreanu, em termos de rentabilidade, e nem poderia, o cara é o Pelé do poker, que mais leva a marca do site para o mundo. E eu tenho muitos

cardplayerbr

49


benefícios, que são, na maioria, os torneios que eu jogo. Eu não preciso pagar para jogar os torneios que eles organizam, como o LAPT, o EPT e o BSOP. E na World Series, eu tenho o buy-in do Main Event e de outros sete eventos paralelos. Se eu ganho alguma coisa, a premiação é integralmente minha. Para um jogador de poker, isso é fantástico. Tenho também o rakeback de 100% do site e uma ajuda de custo. Eu não tenho salário, mas essa ajuda alivia os custo de viagens e de passagens. O poker ainda não é como o futebol, então, tirando o caso do Negreanu, são todos contratos que envolvem mais torneios ou menos torneios, mais despesas ou menos despesas. MS: O que falta para o Brasil brilhar nos torneios internacionais? O País é um dos principais mercados do poker mundial, mas nações com menos representatividade têm jogadores mais conhecidos e resultados bastante expressivos. AA: Acredito que é uma combinação de fatores. Primeiro, amostragem, que também é o principal. Se você pegar a última etapa do EPT, de Monte Carlo, teve uma boa gama de brasileiros participando. Nos outros EPTs não tinha tanta gente assim. Agora que os brasileiros cresceram muito no online, eles começaram a construir bankrolls para encarar os eventos ao vivo. Os torneios ao vivo não têm a mesma amostragem do online. Se existe um lugar onde realmente exista a variância é ao vivo. Quando você consegue fazer um bankroll que suporte, para segurar essa variância, aí você começa a migrar. Caras como o Dowgh (Douglas Ferreira) e o Ariel (Bahia) já comparecem em todos os torneios. Até o (Caio) Pessagno, que não sai do online, foi para Monte Carlo. Tem uma

50

CardPlayer.com.br



galera (Thiago) Crema, Rafael Moraes. Todos esses caras resolveram sair para campo. Mais cedo ou mais tarde teremos amostragem e coisas boas vão vir para o Brasil. Outro ponto é que eu acho que ainda faltar um teor de profissionalismo. Eu vejo que lá fora os caras são mais profissionais do que a gente. Sendo mais profissionais, eles aumentam a chance de bons resultados. Profissionais não só no estudo do jogo, mas no empenho da vida pessoal, no trato com o corpo, com a saúde, postura. Mas acho que esse processo está começando aqui. Há uma evolução bem grande. O (Thiago) Decano é um cara que puxou essa fila, que tem se preparado fisicamente e psicologicamente para atuar em grandes eventos. A gente achava que poker era um esporte mental, mas ele tem uma pedida muito grande no lado físico. Quanto mais as pessoas se preocuparem com isso, mais títulos virão.

52

CardPlayer.com.br

MS: Ainda nesse gancho. Desde que o Caio Pimenta jogou o Super High Roller de US$ 100.000 do PCA 2011, o Brasil não tem representantes nesse tipo de evento. Você, hoje, seria o cara que poderia fazer isso, seja por conta própria ou por meio de investidores. Por que não vemos o Akkari nos Super High Rollers, que agora estão na moda? AA: Eu tenho algumas limitações, filosóficas e de jogo. Não acho que esses torneios sejam tão bacanas assim de serem jogados. Quando você pega um cara que joga há muito tempo, como Phil Helmuth e Erik Seidel, quanto mais passa o tempo, mais fica difícil desses caras ganharem torneio de grandes fields, de três ou quatro mil pessoas. Primeiro porque o nível técnico está melhorando, e depois porque tudo virou uma verdadeira maratona. A tendência é que caras mais jovens tenham mais chances. Então, esses torneios mais


caros, de 100, 200 mil dólares, o field é reduzido, mas que ainda assim gera um sabor de vitória, de mesa final. O que eu não condeno de forma alguma. Se os caras têm dinheiro para jogar e tem vontade, tudo bem. Mas eu não associo o nível de habilidade de um jogador, exclusivamente, ao valor do buy-in que ele joga. Até porque torneios high rollers possuem muitos jogadores ruins, empresários milionários que só estão lá por diversão. Meu segundo ponto é que eu nunca gostei muito de correr atrás de terceiros para investirem no meu jogo. Se acredito que sou lucrativo, eu tenho bankroll para controlar as coisas que eu jogo. Também não vejo problema nenhum em abrir cotas e vender, mas eu não tenho essa necessidade tão grande. Tem muita gente que chega no estágio que eu cheguei e começa a ficar com vergonha de não jogar. Os caras falam: “Poxa, não vou jogar? Eu sou Team

Pro, o que as pessoas vão achar? O que PokerStars vai achar de mim?” Nunca tive esse problema, esse tipo de preocupação. Sou o que sou, não preciso mentir para ninguém, nem tentar ser alguma coisa apenas para agradar aos outros. Tenho que ser o melhor que eu puder e viver bem com isso. Não é o valor do buy-in que me deixa mais feliz, menos feliz. No último EPT, não joguei nem o high roller de 25 mil euros. Eu tinha bankroll pra jogar, poderia ter jogado, mas não é uma necessidade minha. Quando não me sinto bem para jogar, não jogo. O mesmo vale se não tenho bankroll pra jogar. Muitas vezes, na internet, já falei: “Não vou jogar esse evento, está fora do meu bankroll”. Esse é o melhor exemplo que posso dar, e por isso acho que tem tanta gente que gosta da minha carreira. No médio e longo prazo as pessoas têm a percepção se você é verdadeiro.

cardplayerbr

53


MS: Hoje, você também é um empresário, com uma carteira de negócios bem diversificada. Como é conciliar isso com o poker? AA: Não está fácil (risos). Mas faço tudo com muito gosto. Eu sinto muita adrenalina nessa esfera dos negócios. Tenho sede de estratégia, de ver as coisa acontecerem. É algo que, de alguma maneira, acaba competindo com o poker, o que não me tira o gosto pelo jogo. É claro que, às vezes, acabo me comprometendo mais do que posso. O grande segredo para essas coisas acontecerem é você se cercar de profissionais competentes, que sejam de confiança e que tenham pegada. Graças a Deus essas pessoas estão ao meu lado. Elas são surtadas como eu. Eu acredito muito no lado bom desta palavra, “surto”, em pessoas que realmente não sossegam, não dormem enquanto não fazerem as coisas acontecerem. O (Leonardo) Bueno e o Piero Queiroz, do QG Akkari Team; o “Moscou”, que comanda o restaurante japonês. Quando vejo pessoas desse

jeito, eu tenho muita vontade de me aproximar e dar uma chance. Se eu puder e estiver ao meu alcance, eu gosto de me relacionar com esse tipo de gente. Eles geram sucesso, alegria. O que eu gerei para mim, com o poker, criaram ramificações e abriram isso para mais gente, para esse universo de benefícios. MS: Para finalizar, e o futuro do poker no Brasil? AA: Só tem a crescer. Tende a se estabilizar como uma referência de entretenimento, de esporte mental. As pessoas tinham dúvidas se era legal jogar poker, não só em termos de legalidade, mas se era gostoso mesmo, se era um hobby que valia a pena você ficar jogando com seus amigos. Hoje não. Cada vez mais elas gostam, se divertem, veem que é um jogo interativo. Com o tempo, vai acontecer o que aconteceu nos Estados Unidos. Lá, o poker é um entretenimento definido. Ninguém contesta. Fora isso, a parte profissional do jogo também não vai parar


de crescer. Cada vez mais vai ter gente se profissionalizando, jogando melhor, trazendo mais resultados. E quanto mais resultados, mais ídolos. Quanto mais ídolos, mais pessoas atraídas. Um dos grandes prazeres que se tem no poker é você conseguir levar um hobby como profissão. As pessoas enxergam isso e querem ter isso. A maioria da população trabalha em coisas que não gosta, e de repente seu hobby é seu trabalho? E isso está crescendo cada vez mais graças ao trabalho que a gente fez, do trabalho da Confederação (CBTH), do trabalho do Igor (“Federal”), da entrada do Ronaldo no PokerStars, do trabalho das revistas, dos sites de poker. Todos participaram dessa missão. O poker é uma realidade e acredito que eu seja um dos maiores termômetros. As pessoas me procuram em shoppings, me param na rua. Sou reconhecido cada vez mais. Não tem mais volta, caiu na graça do povo. Agora é aproveitar para fazer explodir, levar mais mensagens para mais pessoas, para aumentar a base de jogadores e levar, novamente, o poker ao próximo nível.

cardplayerbr

55


SOBRE ANDRÉ AKKARI Premiações Online: US$ 3.379.906 Premiação Ao Vivo: US$ 1.072.768 Melhor Resultado Ao Vivo: 1º do Evento #43 da WSOP 2011 (US$ 675.617) Melhor Resultado Online: 2º no Evento #32 [H.O.R.S.E.] do WCOOP 2008 (US$ 200.000)

56

CardPlayer.com.br



April 24 - May 3, 2015 Casino Royale CARIBBEAN

Maho Bay, St. Maarten

Hosted by Card Player Cruises To Book or For More Information Call 1-888-999-4880 Make your reservation prior to 1/31/15 and play in a $3,300 Freeroll! Final 10 players will receive a $330 entry into a mega satellite for the main event.

ALL INCLUSIVE

$140/DAY* ROOM, FOOD/DRINK

& ALCOHOL

CardPlayerPokerTour.com | CardPlayerCruises.com


$200,000 EVENT # 1

DATE 4/24/2015

2 3 4

4/25/2015

5 6 7

4/26/2015

8 9

DAY

TIME

Guarantee Main Event Prize Pool

EVENT

BUY-IN

ENTRY FEE

Fri

1:30

$125 Survivor NLH – 20% receive $500

100

25

Fri

6:00

Mega into Event #4 20% ADV.

110

25

Fri

9:00

$125 NLH

100

25

Sat

1:30

$550 NLH

500

50

Sat

6:00

$190 Mega into Main Event #21 10% adv

165

25

Sat

9:00

$125 NLH

100

25

Sun

1:30

$340 NLH

300

40

Sun

6:00

$190 Mega into Main Event #21 10% adv

165

25

Sun

9:00

$125 NLH

100

25

Mon

1:30

$340 NLH Bounty ($100 Bounties)

300

40

11

Mon

3:00

Early Booking Turbo FREEROLL * –Final 10 receive a $330 Mega Entry for Event #16

12

Mon

6:00

$190 Mega into Main Event #21 10% adv

165

25

13

Mon

9:00

$80 Survivor NLH – 20% receive $300

60

20

10

14

4/27/2015

Tues

1:30

$230 NLH

200

30

15

4/28/2015

Tues

3:00

$340 Omaha/8B

300

40

16

Tues

6:00

$370 Mega into Main Event #21 20% adv

330

40

Tues

9:00

$125 NLH ALL in or Fold

100

25

Wed

1:30

$340 PLO

300

40

17 18

4/29/2015

19

Wed

6:00

$370 Mega into Main Event #21 20% adv

330

40

20

Wed

9:00

$80 Survivor NLH – 20% receive $300

60

20

Thurs

1:30

$200,000 Guarantee Main Event 1A

1500

150

22

Thurs

6:00

$370 Mega into Main Event #24 20% adv

330

40

23

Thurs

9:00

$80 Survivor NLH – 20% receive $300

60

20

Fri

1:30

$200,000 Guarantee Main Event 1B

1500

150

25

Fri

6:00

$230 Survivor NLH – 20% receive $1,000

200

30

26

Fri

9:00

$125 NLH

100

25

Sat

2:00

Main Event Continues 1A and 1B combine

21

24

4/30/2015

5/1/2015

5/2/2015 27

Sat

4:00

$340 NLH

300

40

28

Sat

6:00

$3500 High Roller

3200

300

100

25

100

25

29 5/3/2015 30

Sat

9:00

$125 NLH

Sun

2:00

Main Event Final Table, High Roller continues

Sun

2:30

$125 Last Chance NLH Survivor 20% receive $500

Poker Room opens at 1:00 PM and closes at 6 AM each day for cash games. • ✝ Free roll for CPC cruisers and their referrals. • ✝ ✝ Free roll for room deposit customers who registered by 12/31/14. • ✝ ✝ ✝ Free roll for all non hotel guests who play in at least one tournament prior to the main event. * $195 per day single occupancy, $140 per person per day double occupancy, 3rd person $120 per day. Children under 5 are free, children 6-12 $45 per day. Rooms have either one king or two double beds. Pricing includes; room, food, all beverages including alcohol. Tournaments and cash games every day, main event will be a $1650 NL hold em tournament with a $200,000 guarantee. This limitless all-inclusive St Maarten resort is a spectacular “destination within a destination,” offering endless activities for your enjoyment and relaxation. A large pool with cascading waterfalls, four tennis courts, a lively children’s program, an array of water sports, swim-up pool bar, five restaurants & bars, a casino and nightclub and much more. All tournaments to be governed by TDA rules. Card Player Poker Tour is not responsible for any tournament event details including, without limitation, structures, schedules, formats, general rules or prize pool distributions. Management reserves the right to change tournament dates or suspend or cancel tournaments, in whole or part, without notice for any reason at any time.


BLEFAR BLEFAR OU NÃO

Com Jonathan Little, Todd Brunson, Darryll Fish e Andy Frankenberger

Diferentes pontos de vistas, uma mesma situação. A complexidade do poker impressa em algumas páginas. Nesta edição, os segredos para usar uma das artes mais plásticas e importantes do jogo: o blefe.

60

Jonathan Little

Andy Frankenberger

Todd Brunson

Darryll Fish

O dono do FloatTheTurn.com já ganhou cerca de US$ 5,5 milhões em torneios e é profissional do site Ultimate Poker. Ele também escreveu a trilogia Segredos dos Torneios de Poker Profissionais (Vol. I lançado no Brasil pela Raise Editora).

Jogador do Ano do World Poker Tour em 2011, Andy possui dois braceletes da WSOP. Até 2010, ele era um investidor de sucesso em Wall Street.

Filho da maior lenda viva do poker, Doyle Brunson, Todd é conhecido por frequentar as principais mesas de cash game high stakes de Las Vegas.

Entre mesas finais do WCOOP e do WPT, ele acumulou mais de US$ 2.000.000 em premiações. Neste ano, ele foi o terceiro colocado no Evento #2 [$5,000 NLH 8-handed] da WSOP, feito que lhe rendeu uma premiação de US$ 215.000.

CardPlayer.com.br


Quais são os maiores erros que os jogadores inexperientes cometem na tentativa de um blefe?

Jonathan Little: Para que o seu blefe seja bem-sucedido, é preciso fazer o seu oponente pensar que você tem uma mão forte. Geralmente, você não deve tentar representar o nuts — já que o nuts é difícil de ser feito — mas, sim, algo como top pair ou dois pares. Na maioria das vezes, faça apostas médias, como se quisesse ser pago. Jogadores com menos experiência tendem a disparar grandes apostas aleatoriamente, esperando com isso levar o pote. Todd Brunson: O blefe não é algo ocasional, por isso é tão difícil de se ensinar. A continuation bet e a tentativa de levar o pote em posição não são mais segredos. Na verdade, mesmo os jogadores mais fracos já estão familiarizados com essas jogadas. Isso não quer dizer que elas devem ser abandonadas, mas apenas devemos saber o momento certo de utilizá-las. Andy Frankenberger: Um erro comum é não contar uma história consistente. Os melhores blefes são aqueles que constroem uma história embasada durante as streets jogadas. Por exemplo, um jogador aumenta do UTG com K♣Q♣. O flop vem A♠5♦9♥. Neste caso, você pode usar a continuation bet e disparar um segundo tiro no

4♣ que apareceu no turn, representando um Ás como um kicker decente. Porém, se o river é um Dois, um jogador inteligente não apostará novamente, pois a história da força da sua mão perde o sentido, já que um Três é uma carta que dificilmente estará no range de raise e second barrel do UTG. Um jogador amador pode ver nesse bordo uma boa oportunidade de fazer uma grande aposta, sem perceber que um jogador experiente juntará as peças e perceberá que, dificilmente, haverá valor no range de mãos do UTG que aposta nesse river. Resumindo, os melhores blefes são aqueles que fazem sentido não apenas na street em que acontecem, mas também em todo o contexto em que ele foi preparado previamente. Darryll Fish: O maior erro que vejo é tentar blefar em situações nas quais você não terá muita credibilidade. Basicamente, a história contada durante a mão não tem consistência. Um exemplo comum seria dar check-call em duas streets no bordo J♥10♥3♦4♣, esperando por um flush, e então sair apostando quando um Seis preto aparece no river. Com uma mão pronta, a maioria dos jogadores pediria mesa novamente, para induzir um blefe de um draw que não bateu. Nesse caso, você será pago por qualquer coisa melhor do que a sua mão ou será blefado pelo seu oponente. Outro erro comum está no tamanho da aposta. Ninguém dará fold em uma boa mão tendo odds de 5-para1 no river. Você deve estar disposto a se comprometer com a jogada – e isso, muitas vezes, significa arriscar muitas fichas para fazer tudo funcionar.

cardplayerbr

61


Você poderia descrever algumas situações, tipos de bordos ou perfis de jogadores que você procura quando quer tentar um grande blefe?

Jonathan Little: Para cada jogador existem situações em que os blefes funcionarão bem. Por exemplo, alguns jogadores nunca darão fold em um bordo do tipo 9-8-7-62, se eles acertarem um par, já que eles veem aí uma ótima oportunidade de blefar. Outros, no entanto, a não ser que possuam uma sequência, sempre optarão pelo fold. Outro exemplo: se você apostar nas três streets, em um bordo K-7-6-3-2, algumas pessoas podem não dar call com K-Q por acreditarem que você tem algo como A-K, trincas etc.; porém, alguns nunca largarão top pair com o segundo kicker, o que, para eles, é uma boa mão. Blefar não é simples como “vou apostar neste bordo porque ele é scary (que assusta, que completa um ou mais draws, coordenado)”. Na verdade, você tem que descobrir o que o seu oponente acha scary e então usar isso a seu favor. Todd Brunson: Quantos jogadores viram o flop? Qual a textura do bordo? Quão agressivos são os jogadores que ainda estão na luta pelo pote? Eles gostam de aplicar o check-raise? Eles são calling stations (dão fold com uma frequência muito menor do que os outros jogadores)? Essas são as perguntas que você deve fazer. Veja, se você aumenta, recebe três call e o bordo vem J♣10♠5♣, uma c-bet sem ter uma mão boa é, basicamente, jogar dinheiro no lixo. Você será pago na maioria das vezes, isso se não aumentarem a aposta. A questão não é apenas desperdiçar fichas, mas também perder a chance de ganhar uma carta grátis no turn. Contra um ou dois jogadores, provavelmente irei apostar em qualquer flop e também irei apostar em bordos secos como J♦6♠2♥, mesmo contra três jogadores. Seu oponente é um bom e sólido jogador? Contra ele, se você vem jogando tight, então terá algum crédito quando quiser representar uma boa mão. No entanto, um jogador fraco pode não se importar ou não estar prestando atenção à maneira como você vem jogando

62

CardPlayer.com.br

Andy Frankenberger: Os jogadores recreativos, que assistem poker na TV, devem achar que os blefes — os grandes blefes — são muito mais parte do jogo do que eles realmente são. Na TV, eles mostram com frequência blefes espetaculares, porque isso é divertido de se ver, mas não mostram 99% das mãos que levaram aquela jogada a ser bem-sucedida. Acredito que as pessoas têm mais chances de vencer torneios jogando grandes potes com boas mãos do que executando grandes blefes a todo o momento. A melhor chance de aplicar um grande blefe é quando você conhece bem o seu adversário e, tão importante quanto, sabe qual a imagem que ele tem de você. Darryll Fish: De um modo geral, você irá blefar quando não tem expectativas de ganhar no showdown, mas ainda assim pode representar várias mãos de valor. Isso dependerá da textura do bordo e da linha que você tomou para apostar. O melhor momento para fazer um grande blefe é quando você acredita que o seu oponente tem um range de mãos bem amplo e não pode pagar com a maioria das mãos que estão nele. Um bom exemplo, se você aposta nas três streets em um bordo 9-8-6J-A, que não completou um flush, há vários draws ou mãos como par e flush draw que deram call no flop e no turn, mas que provavelmente não vão pagar uma grande aposta no river. Blefar está relacionado a cada jogador, mas algumas pessoas odeiam dar fold. É uma questão de conhecer os jogadores na sua mesa e tirar vantagem dos seus hábitos ruins. Outro princípio básico, que parece óbvio, mas merece ser lembrado: em condições normais, quanto maior o stack do seu oponente, maiores as chances de você ser pago. Outra reação que observo, menos óbvia, é que quando os jogadores acabam de ganhar um bom pote, eles têm mais desapego às novas fichas ganhas – então, aqui não é uma boa hora para blefar.


cardplayerbr

63




Teoria do

Poker Aumentando e pagando pré-flop por Felipe Mojave

N

o artigo desta edição, vou voltar a falar um pouco sobre alguns quesitos da Teoria do Poker em Pot-Limit Omaha. Todos sabem que o Omaha é uma modalidade que vem ganhando muito espaço e, mesmo já com muitos praticantes, ainda assim, o nível de jogo não é tão forte e sua estratégia também não é difundida como a do Texas Hold’em. Outra grande verdade é que, diariamente, dezenas de jogadores de Hold’em aprendem e se envolvem com o Omaha, tornando o jogo cada vez mais forte e competitivo. Neste artigo, vou falar sobre um assunto técnico bastante interessante: pré-flop, dar raise ou não? Em minha opinião, esse é um dos fatores mais subjetivos do poker e que gera

CardPlayer.com.br

várias dúvidas nos jogadores — e posso dizer que muitos, até hoje, não sabem a razão pela qual são norteados antes de tomar essa decisão. Desse modo, acredito que este artigo servirá tanto para os novatos quanto para os mais experientes. Digamos que você acabou de receber A♥A♠K♠K♥ (double suited). A chance de você possuir essa mão é de cerca de 50.000-para-1, ou seja, a cada 50 mil mãos, você receberá A-A-K-K double suited apenas uma vez. Agora você entrou em um duelo contra um oponente que está segurando 4♦5♦6♠7♣ (single suited). Frente a uma mão bastante comum como essa, sua chance de vencer é de aproximadamente 62%. Em uma comparação direta com o Texas Hold’em, quando você segura um A-A ou K-K, geralmente, você vencerá em 70 ou 80% das


cardplayerbr

67


vezes. Essa é uma discrepância muito grande entre as modalidades, e foi exatamente daí que nasceu a questão de aumentar ou não quando você segurar uma mão forte no Omaha. A princípio, vocês devem saber que o Omaha é um jogo de flop, dependente deste, e por isso é necessário evitar o all-in pré-flop na maioria das circunstâncias. “E se eu aumentar apenas com A-AX-X, sendo sempre favorito, e com as demais mãos eu entrar de limp?” Bom, o grande problema nessa estratégia é que o seu jogo será muito previsível e você matará um dos fatores-chave do jogo de Omaha: fazer com que seus oponentes cometam erros contra você. “E se eu entrar sempre de limp?” Essa estratégia seria muito melhor do que apenas aumentar com A-A, mas ainda está longe de ser a mais lucrativa. Quando você não aumenta pré-flop e tem uma mão muito forte, você não faz os seus oponentes (que também estão entrando de limp) pagarem o suficiente para ver o flop. Além de perder a vantagem matemática, você não ganhará

68

CardPlayer.com.br

a mesma quantidade de potes se estivesse usando uma estratégia de aumento. Aumentando pré-flop com uma variedade maior de mãos, você vira um jogador imprevisível. Além disso, puxará mais potes, já que está diminuindo a quantidade de oponentes e melhorando as chances matemáticas de vencer. Outro fator importante é que você força os seus oponentes a pagarem apostas maiores quando você tem a melhor mão e ganha, com frequência, mais oportunidades de blefar. “E se você variar entre o limp e o raise, combinando e explorando o que há de melhor em cada estratégia?” Essa seria a minha sugestão, e é exatamente a técnica que uso. Mas é preciso tomar cuidado porque quanto mais elementos você misturar em sua estratégia, mais complexa ela fica. Então, fique atento para não se perder. Espero que vocês tenham entendido este conceito teórico e que tenham curtido este artigo. Para deixá-lo mais completo, a tabela de mãos iniciais que criei e que havia publicado anteriormente na edição 57 da Card Player Brasil.


cardplayerbr

69


MÃOS PRÊMIO

NÃO JOGÁVEIS

Com as Premium Hands, você deve entrar de qualquer posição da mesa, dando raise ou reraise:

Como o próprio nome diz, existem algumas mãos que devemos evitar. Siga essas dicas e vocês se sairão bem:

Combinações de A-A com figuras e pares de noves e dez:

Lembrem-se, duas mãos boas de hold’em não compõem uma mão boa de Omaha. Ex: Q♥-J♥-6♦-5♦;

A-A-J-T

A-A-Q-J

A-A-K-J

A-A-Q-Q

A-A-T-T

A-A-K-Q

A-A-K-T

A-A-K-K

A-A-J-J

A-A-9-9

Combinações de K-K e Q-Q com figuras e com cartas com possibilidades de formarem sequências: K-K-Q-Q

K-K-A-J

K-K-Q-J

K-K-J-T

Q-Q-A-J Q-Q-A-T

K-K-A-Q

K-K-A-T

K-K-Q-T

K-K-J-T

Q-Q-K-J

Q-Q-K-T

Q-Q-J-T

Q-Q-T-9

A♠-2♥-3♦-4♣ só seria uma mão com potencial em Omaha Hi-Low; Trincas baixas são sempre muito perigosas. Então, cuidado ao jogar mãos como 4♦-4♣-3♠-3♥; Trincas médias, flushes baixos e pedidas para sequência sem potencial de alavancagem também são mãos muito ruins. Assim, evite mãos do tipo 7♥-7♣-4♣-2♥;

MÃOS FORTES Essas mãos são boas o suficiente para jogar de qualquer posição, aumentando ou pagando um raise: Combinações de figuras em sequência (wrap), e figuras com pares de valetes, dez ou noves: A-K-J-J

A-K-T-T

A-Q-J-J

A-Q-T-T

A-J-T-T

A-T-J-J

K-Q-J-J

K-Q-T-T

K-J-T-T

Q-J-T-T

Q-J-9-9

Q-J-T-9

A-K-Q-J

A-K-Q-T

A-K-J-T

A-Q-J-T

A-J-T-9

Quatro cartas de naipes diferentes e totalmente desconectadas são um desastre, como nesta mão: K♥-Q♦-7♠-6♣; Evite jogar danglers. Dangler é aquela carta que não conecta com nada. Na mão K-T-8-3, por exemplo, o 3 seria o dangler.

Combinações de quaisquer cartas em sequência: J-T-9-8

T-9-8-7

9-8-7-6

6-5-4-3

5-4-3-2

A-2-3-4

8-7-6-5

7-6-5-4

MÃOS MÉDIAS Aqui, você deve jogar apenas dando limp, e deve evitar pagar raises: Q♦-J♣-

K♥-9♥-

9♦-9♥-

9♦-7♣

6♠-5♠

8♦-8♥

A-J-T-8

J-J-8-7

T♠-8♥-

A♣-7♠-

9♠-8♦-

8♠-7♥

6♠-5♣

6♠-5♦

Com mãos de força média, como vocês podem notar, a combinação de naipes é obrigatória, com algumas exceções, como nos dois primeiros exemplos.

70

CardPlayer.com.br

Felipe Mojave @FelipeMojave felipemojave.com

Felipe Mojave é um dos principais jogadores brasileiros da atualidade, especialista em mixed games, profissional do Lock Poker e membro do My Poker Squad.


cardplayerbr

71




Barry Shulman

52

Roy Rounder

para No-Limit Texas Hold’em


THE BOOK IS ON THE TABLE

Nesta edição, o The Book Is On The Table traz para vocês o “52 dicas para No-Limit Texas Hold’em”, uma espécie de manual da modalidade. O livro foi escrito pelo Presidente da Card Player Magazine, jogador de poker e campeão da WSOP Barry Shulman, em parceria com o Roy Rounder (jogador e autor). Com uma didática simples, o livro aborda – em 52 capítulos, sendo cada um deles uma dica sobre um determinado assunto – as mais diversas situações que você enfrentará nas mesas de no-limit Texas Hold’em. Leitura obrigatória para iniciantes, a publicação também é recomendada para jogadores de nível intermediário e avançado, palavras dos campeões mundiais Phil Hellmuth e Daniel Negreanu.

DICA 29: JOGANDO SUITED CONNECTORS (P. 85) Suited connectors pode se tornar uma das mãos que mais ganham dinheiro ao longo de um jogo. Essas mãos são boas para dar raise ou pagar um raise porque os oponentes nunca serão capazes de colocá-lo com uma mão se você acertar. O que você espera acertar no flop é um straight draw de duas pontas, um flush draw, ou ambos. Uma vez que os oponentes normalmente não serão capazes de calcular quais as suas cartas, as implied odds mais uma vez serão muito altas nesta situação. Sigas as considerações a seguir quando tiver suited connectors: Baseie a aposta pré-flop na sua posição e no tamanho do stack Uma vez que os suited connectors não se transformam em uma grande mão com muita frequência, você quer jogá-los principalmente de posições finais e com um stack confortável. Se o seu stack for menor do que 15 big blinds, geralmente, não é prudente entrar em um pote com suited connectors. Aposte ou dê raise com um straight draw de duas pontas Se você acertar um straight draw de duas pontas no flop, normalmente, é melhor tomar a iniciativa com uma aposta ou um raise. Essa ação o ajudará a conseguir o controle da mesa,

o que frequentemente leva a ver uma carta grátis no river. Adicionalmente, o seu raise prepara a cena para levar o pote se não acertar o draw, porque você representou uma mão pronta no flop. Tenha cuidado com flush draws Ter um flush draw com suited connectors é uma situação perigosa por duas razões. Primeiro, alguém à mesa pode facilmente ter um flush mais alto do que o seu. Segundo, para completar o seu flush é preciso haver três cartas do mesmo naipe no bordo, o que frequentemente revela a sua mão aos oponentes. No primeiro caso, você deve ter conhecimento da força do seu flush draw, e não se comprometer demasiadamente com o pote com uma carta alta fraca. Para o segundo caso, você pode tentar ganhar o controle das apostas mais cedo ao representar uma mão pronta, dependendo de diversas condições – posição, procedimento das apostas pré-flop, número de oponentes e tamanho dos stacks. O seu objetivo é tornar as suas apostas e raises incógnitas para os oponentes, para que quando a carta que completar a sua mão surgir, eles não deem fold imediatamente.

@cardplayerbr

75


DICA 31: JOGANDO PAR DE VALETES (P. 89) Par de valetes é bonito quando olhamos para baixo, mas frequentemente leva a perdas enormes. Aprenda a jogar esta mão corretamente, e você poupará a si mesmo muitas dores de cabeça pelo caminho. Primeiro, pode ser útil tratar uma mão com J-J como uma mão com draw; isto é, uma que precisa melhorar para ganhar o pote. É claro, frequentemente você vai ganhar com J-J por seus próprios méritos. Entretanto, vê-la como uma mão que precisa de um terceiro valete pode ajudá-lo a evitar colocar muito dinheiro no pote quando estiver perdendo. De maneira típica, se o flop vier com três cartas baixas e você tiver J-J, se um oponente estiver disposto a pagar uma aposta alta, provavelmente ele o tem vencido. A sabedoria convencional diz que uma vez que J-J é vulnerável, é importante jogar solidamente pré-flop, de maneira a protegê-la. O seu desejo deveria ser diminuir o field para apenas um ou dois pagadores. O problema com esta abordagem é que quando você consegue ação, provavelmente estará contra uma mão melhor ou A-K, para a qual você é um modesto favorito. Considere jogar J-J com um raise pequeno, ou simplesmente pagando um raise do oponente. Desta maneira, você disfarça um pouco a sua mão, e poderia realmente ganhar um pote grande se acertar o draw (o terceiro valete). Além disso, você tem que manter o pote pequeno, ficando mais fácil escapar quando sentir que está vencido. Você pode escolher jogar J-J da maneira tradicional, e apostar agressivamente antes do flop, mas tenha certeza de que outras condições favoráveis estejam presentes se fizer isso. Estas condições podem incluir, mas não estão limitadas a isso, boa posição, uma leitura sólida dos seus oponentes, e uma liderança em fichas. Estar nos blinds e não conseguir ação pré-flop com J-J pode ser considerado ser bem-sucedido, especialmente nos estágios finais de um torneio, onde ganhar os blinds se torna uma estratégia crucial.

76

CardPlayer.com.br

TÍTULO: 52 dicas para No-Limit Texas Hold’em (52 Tips For No-Limit Texas Hold’em) AUTOR: Barry Shulman e Roy Rounder NÚMERO DE PÁGINAS: 146 PREÇO: R$ 52,00 DISPONÍVEL EM: www.raiseeditora.com


Jogue poker de graça. Este não é um site de apostas. Apenas para maiores de 18 anos. Este é um concurso desportivo e recreativo.

Nós somos o turbo do poker online 50 eventos Com grande premiação garantida De 22 de Janeiro a 1 de Fevereiro Muita adrenalina E rápido Nós somos TCOOP

nós somos poker @cardplayerbr

77


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.