CardPlayer Digital 72 - O novo velho jogador - Felipe Mojave celebra a melhor fase da sua carreira

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POKER ED DIGITAL 72 ESPORTE E ESTILO O QUE NÃO FAZER EM UM SIT AND GO CASH GAMES: ESCOLHENDO SUA POSIÇÃO
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O Novo velho jogador

Felipe Mojave celebra a melhor fase da sua carreira

Felipe Mojave tem 39 anos e é um dos maiores expoentes do poker nacional, uma lenda viva do poker brasileiro. Em seu currícu lo estão patrocínios dos maiores sites de poker do mercado, os maiores torneios do mundo e milhões de dólares em premiação. No entanto, recentemente, “Moja” transcendeu a figura de jogador.

Ainda que continue desafiando seus limi tes nos eventos mais prestigiados do poker e que esteja entre os três jogadores do Brasil que mais ganharam dinheiro na história, ele assumiu um papel ainda mais importante dentro da comunidade. Mojave se tornou sinô nimo de evolução. Sua união com o GGPoker

o colocou como um dos embaixadores mais influentes do mundo e também como a repre sentação do momento vivido pelo site.

Em sua nova fase, o pai da Luna e marido da alemã Natalie Hof concedeu uma entrevista exclusiva para a Card Player Brasil, em que falou da carreira, torneios milionários, família e, claro, GGPoker.

Marcelo Souza: Moja, o circuito da WSOP (WSOPC) acabou de acontecer no Brasil, com o GGPoker como patrocinador master. Um evento maravilhoso e único. O que o brasileiro pode esperar de projetos ao vivo para os próximos anos?

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Por Marcelo Souza

Felipe Mojave: Realmente o evento foi impecável. Grande festa do poker no Brasil. A WSOP de volta depois da pandemia. Acho que isso é só o comecinho dos projetos de poker ao vivo nos próximos anos por aqui. Eu mesmo tenho ambições de ser o anfitrião de muitos torneios, inclusive com buy-ins e prestígio ainda maiores. Os brasileiros adotaram o estilo de vida do poker. O Brasil é um dos principais destinos para turismo e vai ser muito legal poder receber muitos dos grandes nomes do do poker mundial por aqui.

MS: Você foi o primeiro brasileiro a conquistar um anel da WSOP. De lá para cá, o circuito só cresceu e ganhou notoriedade. Você se sente parte desse crescimento?

FM: Eu tive a felicidade de ser o primeiro campeão do Brasil do WSOP Circuit. Foram muitos e muitos anos sem ter um segundo campeão. Mas isso porque havia menos tor neios e poucos brasileiros jogando. Lembro de ter sido o único brasileiro em diversos torneios que fui viajar e jogar. Então o WSOPC veio para o Brasil e trouxe essa oportunidade para os brasileiros jogarem um campeonato mun dial dentro de casa. Me sinto responsável por abrir as portas, mas também por ter ajudado a trazer o WSOPC para o Brasil. Inclusive, uma pergunta que eu recebi nessa época foi: “Pô legal, você é o único vencedor do Brasil, mas agora que trouxe esse evento para cá, teremos uns 15 campeões. Você não acha isso ruim?” Mas na verdade eu queria que algum amigo meu ganhasse 2 ou 3, que me passassem, que muitos brasileiros tivessem a oportunidade de jogar. Sei que o poker gera

ne. Mas quando me explicaram a grandeza do que o GGPoker queria fazer, eu tive que abraçar, porque era realmente bem alinhado com o que eu buscava construir no poker. Comecei a fazer lives na Twitch e criamos uma comunidade muito forte. Mas é bom deixar claro que tudo que eu faço como embaixador do poker é para o poker, para a comunidade, independentemente das marcas e dos proje tos que eu esteja trabalhando. Mas a partir dali, nós começamos a fazer do GGPoker um site para o jogador. Lembro que nas primeiras lives, eu sempre pedia dicas para o pessoal sobre o que eles queriam que melhorasse no site. Teclas de atalho, stacks em Big Blinds, os freezeouts, várias coisas que vieram da nossa comunidade.

E eu lembro bem que no início, o GGPoker tomava muito overlay e o pessoal dava risada,

competitividade, mas da minha parte nunca houve em relação a isso, pelo contrário, quanto mais oportunidades de fazer o poker crescer no Brasil, mais feliz eu fico.

MS: Seguindo essa linha, o GGPoker se tornou o maior site do mundo em um curto espaço de tempo. No Brasil então, ele ficou gigantesco. Qual foi o papel do Mojave dentro disso tudo?

FM: Realmente, o GGPoker tomou o mundo inteiro, como uma tempestade mesmo. Fez uma verdadeira revolução no poker online. Acho que meu papel foi mais uma vez de abertura de caminhos. Quando fui convidado para trabalhar no GGPoker, eu não aceitei, e isso é engraçado. Eu estava envolvido em um outro projeto, que já estava extremamente bem encaminhado no mercado do poker onli

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uma tempestade mesmo. Fez uma verdadeira revolução no

os membros de times do Brasil postavam nas redes sociais dizendo que nunca seríamos grandes, que iríamos quebrar. Mas segui mos trabalhando em silêncio, particularmente, nunca rebati ninguém. O GG teve muitos pro blemas no começo aqui no Brasil, mas eu tinha a visão, o apoio e a responsabilidade de fazer tudo acontecer. Hoje, estamos vivendo esses dias de glória, mas travamos batalhas diárias que pareciam perdidas. Que vê o sucesso do GG hoje, não sabe o quanto sofremos.

MS: Você sempre foi um cara muito bem relacionado, com uma carreira consolidada, mas depois da parceria com o GGPoker, tudo isso tomou proporções homéricas. Você hoje pode dar qualquer buy-in, tem acesso a referências únicas dentro da indústria do poker, do entretenimento e do esporte.

Você poderia falar um pouco sobre o Moja antes do GG e depois do GG?

FM: Antes do GG, construí uma carreira muito sólida, tendo tido o prazer e a felicidade de ter participado de diversos outros projetos muito grandes no passado, mas a partir do momento que abracei o projeto do GG, não só como jogador ou como embaixador, mas tam bém como parte da empresa, realmente minha vida mudou. As coisas tomaram proporções homéricas e acabaram potencializando, porque se tem um negócio que eu entendo é o poker em todas as esferas. Gosto de aprender, de perguntar coisas aos jogadores, gosto de tentar usar a criatividade para construir coisas boas, chegar em lugares onde ninguém chegou. Essa mágica foi então acontecendo.

Meu jogo melhorou demais, os resultados

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“O GGPoker tomou o mundo inteiro, como
poker online.”

começaram a surgir, comecei a ser uma figura mais tarimbada ainda nos cash games, nos torneios high stakes. Com certeza o GG foi um grande divisor de águas, um grande marco na minha vida, na minha carreira. Então foi algo realmente de proporções que eu nem poderia imaginar.

MS: Falando em buy-ins, se houvesse hoje novamente um torneio de $1 milhão na WSOP, como o Big One, você participaria? Hoje, você tem condições de jogar um torneio com esse valor?

FM: Olha, tem grandes chances de eu jogar, viu? Eu nunca menti, sempre fui honesto, principalmente comigo mesmo, que enquanto houver desafios no poker para eu

poder navegar, vou estar com meu barquinho no mar. Muitos jogadores evoluíram, tiveram muito sucesso, seguiram jogando dentro dos mesmos limites ou pararam de jogar ou mudaram para outros negócios, seja dentro do mercado do poker ou fora dele e isso nunca foi a minha vontade. Minha vontade sempre foi continuar crescendo, aprendendo, desenvolvendo e evoluindo. Com certeza não vou me limitar de forma alguma, não vou dizer que eu não queira participar desses jogos de buy-ins exorbitantes, porque eu quero! É um objetivo, é uma meta e assim como outras metas e objetivos que já alcancei, vou acabar cumprindo essa aí também.

Eu comecei lá atrás, no meu primeiro ano como jogador profissional, em 2008, eu já

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estava jogando buy-ins de 5-10 mil euros, abrindo caminhos nos torneios high stakes.

E de lá pra cá são 15 anos. Eu passei muita dificuldade durante a carreira, principalmente no meio dela, tentando crescer, jogar com os melhores jogadores de poker do mundo. Essa fase ruim serviu de aprendizado, mas desde 2017 tem sido uma caminhada muito boa, estou num grande upswing e nunca mais olhei para trás. Voltei a jogar muito cash game de NL Hold’em e sou um dos maiores vencedores no jogo, uma modalidade em que talvez eu tenha sido mais criticado, e é justamente aí que vira questão de honra pra mim. Mostrar a força da experiência e da resiliência.

Enquanto eu continuar tendo essa sensa ção de onde eu estou pisando e me sentindo bem, seguindo em alta, evoluindo, vou con tinuar. A vida é feita absolutamente disso, a gente não nasce sabendo nada e o medo

é algo que pode te segurar. Eu nunca tive nenhum tipo de preocupação com opinião pública, pelo contrário, quanto mais existia críticas, inveja, mais eu trabalhava e visava melhorar. Meu maior crítico sempre fui eu mesmo. A vida é uma jornada de experiência e aprendizado, mas se fosse possível uma comparação entre o jogador que sou hoje e o que eu era naquela época, acredito que eu mesmo não me reconheceria. Sei que vou seguir dessa forma por mais 15 anos, como uma criança descobrindo coisas novas, fora que o compromisso de tenho de seguir abrindo caminhos para o esporte que me proporcionou tudo. Vou seguir jogando, pois tenho uma dívi da eterna com o poker.

MS: Você hoje é o terceiro brasileiro que mais ganhou dinheiro em torneios ao vivo na história. Passar o Alexandre Gomes é questão de tempo, mas e o

Yuri? Você acha que dá pra disputar com ele?

FM: Eu acho que isso é totalmente irrele vante. A minha batalha e a minha luta como jogador de poker é melhorar meus próprios resultados. Evoluir como profissional e como ser humano nunca vai ser olhar para outras pessoas. Se eu chegar no Top 1, não vai mudar nada. Acredito que se eu continuar nessa minha batalha evolutiva, fazendo o meu melhor sem olhar para o lado de fora, even tualmente posso olhar para esse ranking e ver meu nome lá no topo, independentemente de quem sejam os outros jogadores.

A qualidade do Yuri e do Alê é inquestio nável, seja no passado ou no presente. Mas cada um tem a sua caminhada. Aprendi que não existe competição com as pessoas no

poker ou na vida. Meu objetivo é apenas ser uma pessoa boa, para minha família, para a minha comunidade,

Eu nem tenho esse volume todo de jogo, nem jogo essa quantidade gigantesca de eventos e buy-ins como os principais jogado res fazem. Sou responsável por muitas coisas no GGPoker. Então, apesar de ter um volume sempre muito bom, sempre suficiente, sempre sabendo da necessidade disso, não tenho ambição com rankings ou coisas do tipo. Acredito que essas coisas apenas acontecem.

MS: Você sempre diz que há espaço para crescer, tecnicamente falando, até porque o poker é um jogo muito dinâmico. Existe alguém no mundo hoje com quem você gostaria de aprender?

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FM: Eu tive a felicidade de ter estudado poker com muitos dos meus ídolos, que eu nem imaginava ter contato quando comecei. Existe uma enormidade de jogadores que admiro. Craques dentro das mesas existem inúmeros, que jogam muito melhor que eu inclusive. O desafio é sempre desenvolver uma carreira, ser realmente um profissional. Isso vai muito além de você simplesmente ser uma mente brilhante no jogo. Se eu fosse selecionar hoje, jogadores que eu gostaria de aprender, citaria alguns grandes nomes no poker cujo eu nunca tive muito contato, no ponto de vista da estratégia, com o Phil Ivey e Doyle Brunson. São caras que poderiam agre gar muitas lições de vida, pela forma que eles entendem e enxergam o jogo, e são pessoas que nunca tive acesso.

Já no poker moderno, Michael Addamo e o Chance Kornuth, que são referência em Texas Hold’em. Chance é meu amigo, já estudo bastante material dele, mas citei Ivey e Brunson porque são caras “inacessíveis”.

MS: Neste ponto da sua carreira, o poker é mais sobre legado, dinheiro ou nenhum dos dois?

FM: Nenhum dos dois. Se eu morresse hoje, sem ganhar nenhum bracelete, minha carreira seria bem maior do que muita gente que já ganhou. O legado de paixão, de amor pelo jogo, de contribuição com o esporte já está aí. Meu único objetivo é seguir jogando, seguir evoluindo, aprendendo. Não adianta nada eu ganhar 10 braceletes da WSOP e não poder jogar poker ano que vem. De nada adianta eu olhar pra trás e trocar minha carreira por cinco braceletes. Eu não trocaria

nunca todo meu aprendizado, a luta, a dor de ter sofrido tanto e de ter chegado tão perto, de ter feito inúmeras mesas finais, de ter tido a variância contra, foi isso que me definiu, que me construiu. Essa caminhada é o que me definiu.

MS: Com a forte influência dentro de casa, se a sua filha, Luna, de três anos, quiser jogar poker, você vai apoiar?

FM: A Luna tem tudo pra ser uma das melhores jogadoras. Há uma geração atrás, imagina se meu pai tivesse me dado um baralho? Todo mundo chamaria meu pai de louco! Quando minha filha nasceu, ela ganhou um baralho, ela tem um fichário e brinca com fichas antes mesmo de pegar em uma boneca ou brincar com uma bola. Ela fica no meu colo,enquanto estou jogando ou na Twitch mesmo. Ela já está ali acompanhando todo o processo de raciocínio, eu falando em voz alta o que estava fazendo e ela já observando e absorvendo tudo isso. Então, tem grandes chances dela ser jogadora de poker, principal mente também pela influência da mãe dela, que é uma exímia jogadora de poker. Então a Luna vai pegar todos meus pontos fortes e dos mãe dela (que são os meus pontos fracos). A Luna pode ser o próximo passo da evolução, ser muito melhor do que eu, muito melhor do que a mãe. Se ela resolver jogar poker vou apoiar ao máximo. Vai ser uma satisfação viajar com a família inteira e jogar nos três. Imagina jogar um Tag Team da WSOP? Essa vai ser uma das maiores satisfações e alegrias da minha vida. Mas vale lembrar que eu nunca vou falar para minha filha qual caminho ela tem que trilhar. Ela vai ser o que ela quiser.

MS: Casado e com uma filha, as

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prioridades mudam. Como a chegada da Nat e da Luna mudaram sua carreira no poker?

FM: Realmente, a minha vida mudou. Quando conheci a Nat, eu estava muito bem comigo mesmo, em um processo evolutivo tremendo. Ela estava no mesmo processo tam bém, por isso que essa energia foi conectada. Já sabíamos que íamos constituir uma família. O primeiro momento que fiquei longe dela foi um absurdo.. A gente se conheceu efetiva mente em Las Vegas e estávamos juntos, mas aquele junto de se conhecendo ainda. Ela foi embora para a Alemanha, um voo muito longo. Eu fiquei em Vegas jogando, quando ela chegou na Alemanha, me mandou mensagem, falei que

estava me sentindo muito mal depois que ela tinha ido embora, como se estivesse faltando um pedaço em mim. Ela falou que estava sen tindo a mesma coisa (e tínhamos acabado de nos conhecer). Falei com ela: “Volta pra cá!”, e ela: “Tá bom”. Ela só trocou de mala e voltou para Las Vegas. Dali, nunca mais a gente se separou. Casamos no final do mesmo ano, e em 2019 ela ficou grávida. Ela mudou minha vida. Todos os meus pontos fracos são os pon tos fortes dela.. Não teria condições nenhuma de estar onde estou sem ela e a Luna. Se eu tivesse continuado a minha caminhada sozinho, eu não estaria aqui e essa entrevista provavel mente não estaria acontecendo. Agora, não faço mais as coisas só por mim, hoje é tudo por elas e para elas.

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DEI UMA DE MESSI O DIA EM QUE

Há algumas semanas, acon teceu a final da Champios League, entre Barcelona e Arsenal, no famoso está dio de Wembley. A vitória do time ca talão foi inconteste, e o desempenho de sua grande estrela, Lionel Messi, irretocável.

Isso me fez lembrar uma história curiosa que aconteceu comigo no ano passado, enquanto eu disputava um evento de Pot-Limit Omaha na África do Sul. Acabei vencendo o torneio, válido pelo World Series Of Poker Cir cuit. O que conto agora não havia sido publicado antes.

campeão da WSOP Europe 2010. Conheço James desde 2008, quando fizemos juntos a mesa final de um evento da série Venetian Deepstack. Dali em diante, sempre mantivemos contato.

Minha temporada em Londres es tava sendo muito boa. Eu tinha ficado em 4º lugar no English Poker Open de 3.700 Libras e também feito final table na World Series of Poker Euro pe, no evento de Pot-Limit Omaha de 5.250 Libras.

Felipe Mojave é um dos principais jogadores brasileiros da atualidade. Faz parte do time de profissionais do Full Tilt.

Já adianto que não vou me compa rar ao craque argentino. Apenas me inspirei em algumas características suas como atleta, que acabaram me le vando a um resultado muito marcante.

Eu estava em Londres, hospedado na casa do meu amigo James Bord,

Logo após o término do Main Event da WSOPE, James foi a Mar rakesh jogar cash games e um torneio High Roller. Eu fiquei na casa dele, jogando cash live no Victoria Casi no, e online no Full Tilt. Tínhamos combinado de viajar juntos para a África do Sul e disputar o evento do WSOPC com mais alguns amigos: Sam

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Trickett, James Akenhead e Martins Adeniya, todos profissionais britâni cos. Nosso plano era passar uns dias de férias depois do evento, saindo de Gauteng, local do torneio, e indo para a Cidade do Cabo, um lugar ma ravilhoso, que inclusive foi uma das cidades-sede da Copa 2010.

No dia em que eu aguardava James chegar de Marrakesh para pe garmos o voo para Johanesburgo, ele me ligou dizendo que havia perdido o voo, pois tinha ficado até mais tarde jogando o cash game. Eu então disse

que iria sozinho mesmo, já que o voo estava marcado para o mesmo dia. Se eu ficasse e trocasse a passagem para o dia seguinte, perderia o even to do WSOPC de Pot-Limit Omaha de $1.000 com rebuys. Isso eu não que ria de jeito nenhum.

Eis que James me disse para dei xar isso pra lá. “Esquece esse evento! Você já fez uma excelente temporada

em Londres. Vamos para a África mais para curtir do que para jogar”, foram as palavras dele. “De jeito nenhum! Vou pegar esse voo e te encontro lá. Não vou perder esse evento por nada. Tenho chances!” foi o que respondi a ele, que acabou concordando. Combinamos de nos encontrar lá no dia seguinte.

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Tínhamos sido convidados pela anfitriã da WSOP para participar do evento e aproveitar a viagem. Eu como mesa-finalista do WSOPE e ele como campeão do Main Event de Londres. Eu tinha me programado para jogar esse torneio. James, ao que parece, não. Muitas vezes, essa liber dade do jogador de poker acaba tra zendo esse tipo de problema. Como não temos horário pré-definido nem chefes para nos cobrar relatórios etc., a disciplina profissional tem que ser desenvolvida por nós mesmos.

O final da história eu já adiantei no começo do artigo. Fui lá e ganhei o torneio, no meu primeiro evento como profissional do Full Tilt Poker. Se eu tivesse esperado meu amigo, esse resultado não estaria no meu currículo. Há quem diga que foi mera coincidência. Será mesmo? Para mim, essa vitória foi muito mais disciplinar do que qualquer outra coisa.

Vi com clareza que, se eu batalhar firme e seguir forte na luta, de modo resistente, comprometido e consis tente, quando encontrar um adver sário no mesmo nível de jogo que o meu, ou até melhor, ainda assim acre dito que terei vantagem.

Em outros tempos, com um bom bankroll e podendo escolher meus jogos e horários, deixar de participar

desse evento seria a coisa mais fácil do mundo. Mas eu estava comprome tido como nunca com o meu trabalho, e veja o que acabou acontecendo.

É aqui que entra a analogia com Messi. Se bastasse ser o melhor jo gador de futebol do mundo, ele esta ria no topo há anos. Ele é um sujeito humilde e comprometido com o seu trabalho. Não me lembro de ter vis to uma matéria sequer sobre Messi, dizendo que ele foi para a balada e perdeu o treino do dia seguinte. Ou ainda que teve complicações com fãs, colegas de trabalho ou quem quer que seja.

Nem de longe eu sou para o poker o que o Messi é para o futebol. Mas quando eu peguei aquele avião para jogar o torneio, mesmo deixando meu amigo para trás, ali eu dei uma de Messi. Fui disciplinado, fiz o que pre cisava ser feito.

No workshop para a PokerStrategy, que aconteceu em maio, em São Paulo, eu falei sobre “Mentalidade no Poker”. Os membros “diamante” do site viam que eu falava com emoção, com amor pelo que faço. Aquele episódio tinha deixado de ser uma história curiosa e passou a ser uma lição, pelo menos para mim.

Moral da história: sem compro metimento ninguém alcança glória nenhuma, e o talento não é 100% aproveitado. Isso vale pra você, para mim e para todos, no poker e fora dele. Espero que cada vez mais, tan to eu como você consigamos ter uma vida equilibrada nesse sentido. Dessa forma, vamos dar uma de Messi mui to mais vezes. ♠

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A

ntes de começar uma session, é muito impor tante que o jogador tenha consciência de como ele se sente naquele instante. Isso vai influenciar diretamente a lucra tividade, o aprendizado e o bem -estar. Se você der ouvidos ao que nós vamos conversar neste arti go e seguir à risca as perguntas a seguir, será capaz de até dobrar seus ganhos. Vale a pena.Como estou me sentindo?

Antes de começar uma session, devemos nos perguntar primeira mente se estamos bem para jogar. Quanto mais feliz você estiver se sentido, mais aprenderá, e menor será a chance de jogar dinheiro fora. Para começar uma session, não é necessário estar com um sorriso de orelha a orelha: basta não estar cha teado nem infeliz. O meio-termo é o bastante.

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@dexx_rj andredexx.com ANÁLISE
Perguntas a se fazer antes de começar uma session
ATENTO? VOCÊ ESTÁ REALMENTE

Está tudo sob controle para começar a session?

Não existe nada pior do que começar uma session e, depois de um tempo, lembrar que tem alguma coisa pra fazer – pagar contas ao banco, ir ao médico ou seja lá o que for. Antes de se sentar para jogar, certifique-se de não ter nenhum compromisso para as três próximas horas, pelo menos. Do contrário, vai precisar sair do jogo de um jeito que provavelmente lhe dará prejuízo por conta da pressa ou ansiedade. Além do mais, esse afazer pode se tornar uma preocupação que tira seu foco durante a session.

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Como estão meu corpo e minha mente?

É comum estarmos tão ansiosos para jogar a ponto de esquecermos algumas coisas básicas que pode riam melhorar nossos resultados. Por exemplo? Comer, tomar banho e escovar os dentes antes de entrar nas mesas. Isso mesmo, o básico do básico. Você não quer começar a session e depois se sentir descon fortável por estar suado ou sentido muito frio. Isso vai lhe incomodar, e você jogará pior por estar pensan do em coisas que deveriam ter sido resolvidas antes.

Meu ambiente é propício?

Um ambiente confortável é muito importante, já que você pode rá passar horas em frente ao compu tador, trabalhando. O ideal é que a temperatura esteja agradável, com um ar condicionado, ventilador ou aquecedor, criando o habitat ideal. Sentar-se em uma cadeira confortá vel, usar uma mesa limpa, organi zada e com um bom apoio também faz toda a diferença. A concentração que o ambiente lhe proporciona é imprescindível para você jogar seu “A-Game”.

Estou em um lugar silencioso?

Nem é preciso dizer que um ambiente silencioso é fundamental. Desligue a TV, o telefone, saia do MSN, feche o navegador e por aí vai. Foco. Quanto mais foco você tiver no jogo, mais dinheiro ganhará e mais aprenderá, fora que o jogo não vai ser nada monótono, pois você estará prestando atenção nas centenas de informações das mesas. Lembre-se que a bagunça do seu ambiente de trabalho se reflete na sua cabeça na hora de jogar.

Não é fácil ser organizado. É um trabalho constante. E o primeiro passo é botar no papel tudo o que é importante para você. Caso tenha mais coisas a acrescentar, não perca tempo, faça.

Se você se der ao trabalho de responder essas questões antes de jogar, certamente terá um desempe nho bem melhor nas mesas. ♠

ANTES DE COMEÇAR UMA SESSION, É MUITO IMPORTANTE QUE O JOGADOR TENHA CONSCIÊNCIA DE COMO ELE SE SENTE NAQUELE INSTANTE. ISSO VAI INFLUENCIAR DIRETAMENTE A LUCRATIVIDADE, O APRENDIZADO E O BEM-ESTAR.

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SIT ’N GO EM UM O QUE NÃO FAZER

Olá, pessoal. Antes de qual quer coisa, gostaríamos de dizer que estamos honra dos em entrar para o time da CardPlayer Brasil. Neste espaço, vamos conversar sobre como jogar torneios sit ’n go de maneira lucrativa, e também sobre vários assuntos rela cionados à vida do jogador de poker.

Não cometa suicídio no início do torneio

Rodrigo “seijistar” Seiji, é estudante de ciência da computação e joga poker profissionalmente há três anos. É um dos maiores especialistas do país em sit ’n go.

Luan “LEstradioto“ Estradioto tem 21 anos, é formado em administração e estuda poker desde 2006. É instrutor do site universodopoker.com.

Vale dizer que as dicas desse artigo de estreia são para o jogador iniciante e intermediário. Então, não se preocupem se vocês virem algum profissional de high-stakes jogando diferente. Lá nas mesas caras, a con versa é outra mesmo.

Nosso papo nessa edição vai ser bem direto: o que não fazer em um sit ’n go. Vamos tomar por base uma mesa com 9 ou 10 jogadores e estrutura de pagamento em que 50% do prêmio vai para o vencedor, 30% para o segundo colocado e 20% para o terceiro.

O jogador experiente deixa os iniciantes se matarem nos primeiros níveis do sit ’n go. É o que chama mos de “teorema do conflito”: quan to mais os oponentes se digladiam entre si, mais valem as fichas dos jogadores que as conservam. Sendo assim, tenha paciência no início e tente não bancar o Phil Ivey, entran do em todas as mãos. Jogue de forma sólida e sem blefes desnecessários, tentando extrair o máximo valor possível das mãos fortes.

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@seijistar @LEstradioto Rodrigo Seiji Luan Estradioto

Não invente

Obviamente, não queremos barrar a criatividade no poker (coisa que o Brasil, por sinal, tem de sobra), mas é importante notar que o sit ’n go é um jogo de regularidade. Manter esse foco é essencial para um bom desempenho. A receita é jogar tight no início e ser mais agressivo no final. Se você viu algo diferente e gostaria de aplicar, procure saber o porquê da jogada como um todo. Se achar que há necessidade, procure ajuda nos fóruns da internet ou mesmo com jogadores mais experientes, como um coach.

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Não mude seu padrão de apostas

Tente manter sempre o mesmo padrão de apostas para dificultar a leitura dos adversários. Se você definiu que o tamanho do seu raise pré-flop é de 3 big blinds, mante nha esse valor independentemente das cartas que você tiver. Isso pode variar de acordo com a posição na mesa, mas deve estar sempre em sin tonia com sua estratégia. Lembre-se de escolher um raise de tamanho maior de acordo com o nível do jogo.

Não pense em termos de cash game

Devido à sua estrutura de paga mento, o sit ’n go difere do cash game e do torneio com vários joga dores. Por isso mesmo, na maioria das vezes, as decisões no sit ’n go são diferentes das que devíamos tomar

em outras situações. Por exemplo, no SNG, para pagar uma aposta pelo set value (acertar e extrair valor de uma trinca), você deve se preocu par em ter odds melhores do que no cash game. Em bom português, seus pares precisam ter odds supe riores a 1-para-13 para acertar a trinca e extrair valor corretamente. Lembrando que esse valor também vai depender da posição dos jogado res envolvidos e da fase do torneio.

Não pense duas vezes em situações de 10 big blinds

Agora, um pouco de matemá tica básica. Se você der raise para 2,5 big blinds e um oponente no meio da mesa voltar all-in de 10 big blinds, você terá que pagar 7,5 big blinds para concorrer a um pote de 21,5 big blinds: 10 seus + 10 do oponente + 0,5 do small blind + 1 do

big blind. Isso quer dizer que temos odds de 7,5-para-21,5. E, portanto, devemos dar call com qualquer mão que possua equidade de pelo menos 35%, ou seja, praticamente todas as mãos! (Isso ignorando a avaliação da equivalência entre a quantida de de fichas e a premiação do tor neio, assunto que veremos em breve, quando falarmos de Independent Chip Modeling). Para se ter uma ideia, 23 off tem equidade próxima a 35% contra AKo. Então, nossa última dica é: sempre que seu stack for menor ou igual 10 big blinds, limite sua jogada a all-in ou fold. E isso implica dizer que você nunca deve dar fold diante de um all-in de 10 big blinds após ter dado raise. Essa é uma das razões para ficar de olho nos stacks de todos os oponentes.

Bom, pessoal, encerramos por aqui nosso primeiro arti go. Esperamos que vocês tenham gostado e aproveitado o conteúdo. Sugestões, críticas e comentários são bem vindos. Boa sorte nas mesas, bom estudo e bom grinding! ♠

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Sempre que seu stack for menor ou igual 10 big blinds, limite sua jogada a all-in ou fold [...] Essa é uma das razões para ficar de olho nos stacks de todos os oponentes.

ESCOLHENDO SUA POSIÇÃO

Com as recentes mudanças causadas pela Black Friday, muitos jogadores estão migrando do poker online para a arena live. Pensando nisto, escrevi um artigo voltado especial mente para aqueles que estão come çando a se aventurar nos cash games ao vivo.

Aqui, vou presumir que você, lei tor, tem noção da importância da escolha do lugar à mesa de poker. Diante disso, vamos às considerações sobre como otimizar essa decisão:

nado limite e fazia boas anotações sobre seus oponentes, provavelmen te reconhecia vários deles quando se sentava para jogar, e já tinha uma boa ideia dos estilos de jogo deles.

Os stacks.

Matt Lessinger é autor de O Livro dos Blefes, disponível em português pela Raise Editora.

Conhecimento das tendências dos seus oponentes.

Em geral, vale a pena ter os joga dores mais agressivos e imprevisí veis à sua direita, e os mais passivos e previsíveis à sua esquerda. Se você normalmente jogava em determi

É preferível ter os stacks maio res à sua direita e os menores à sua esquerda. É importante saber quais ações os maiores stacks vão exe cutar antes de tomar uma decisão sobre a sua mão. Obviamente, isso se aplica especificamente ao no-limit hold’em.

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@mlessinger

No jogo ao vivo, especificamen te, é preciso observar constante mente os oponentes. Para jogar seu “A-Game” você deve:

• Ver os rostos deles, especial mente os olhos

• Observar a postura deles

• Ouvir a respiração deles

• Medir o nível de tensão deles

• Observar as reações deles (tanto as sutis quanto as mais óbvias) diante de bets, raises, flops, turns e rivers

• Perceber como eles seguram suas cartas

• Observar como eles manuseiam com suas fichas

• Buscar quaisquer tells adicio nais que lhe deem informações

Se você tem o hábito de jogar online em várias mesas simultânea, claramente tem a capacidade de observar várias coisas ao mesmo tempo. Agora é apenas uma questão de mudar seu foco. Você ainda precisa uti lizar seus poderes de observação, mas deve concentrá-los todos eles na mesa, e precisa tomar nota sobre seus oponentes de maneiras que não eram possíveis na internet. Vamos trazer isso para a questão da esco lha de posição. Você quer o lugar mais van tajoso para observar os oponentes. E, mais importante, quer ser capaz de vê-los antes de agir, de modo que eles lhe deem uma ideia de o que pretendem fazer quando chegar a vez deles. Com isso em mente, há uma posição que é notoriamente melhor do que as demais, a nº 1.

A chave é ser capaz de ver os oponentes à sua esquerda. Na teoria, é possível fazer isso de qualquer posição, mas a questão é que você não quer deixar claro que está observando seus adversários. Você quer que eles perma neçam relaxados e despreocupados, de modo que continuem a lhe dar o máximo de tells possível. Na posição nº 1, os oponentes à sua esquerda estão todos dentro do seu campo de visão: basta que você olhe para a frente. A posição nº 2 é um pouco à esquerda, mas ainda na sua visão periférica. As posições 3, 4 e 5 estão todas à sua frente. Se algum deles telegrafar as intenções, você está no melhor lugar para observar isso.

POSIÇÃO1 SMALL BLIND

POSIÇÃO2 BIG BLIND

POSIÇÃO9 BUTTON

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Em geral, vale a pena ter os jogadores mais agressivos e imprevisíveis à sua direita, e os mais passivos e previsíveis à sua esquerda.

Compare isso com a posição nº 4, por exem plo. Você consegue ver o oponente na posição 5, mas para ver as posições 6 ou 7, teria que virar o pescoço para trás do jogador à sua esquerda. Além do fato de ser difícil fazer isso, você deixa bastante claro que está tentando observar os oponentes. Isso os deixará mais preocupados com as próprias ações, o que faz com que eles fiquem menos propensos a dar tells óbvias.

Outra vantagem em sentar-se na posição 1 é conseguir ver bem os jogadores à sua esquerda, mas os que estão à sua direita não conseguem lhe enxergar direito. Assim, você tem o melhor de dois mundos. Por mais que tentemos evi

POSIÇÃO3

UNDER THE GUN

POSIÇÃO4 POSIÇÃO INTERMEDIÁRIA

tar, todos nós telegrafamos nossas intenções às vezes. Talvez sua mão se mova prematuramente em dire ção às fichas quando você estiver pronto para dar raise, talvez ela vá em direção às cartas quando você estiver se preparando para dar fold.

POSIÇÃO5 POSIÇÃO INTERMEDIÁRIA

POSIÇÃO5 POSIÇÃO INTERMEDIÁRIA POSIÇÃO6 POSIÇÃO INTERMEDIÁRIA

POSIÇÃO7 HIJACK
POSIÇÃO8 CUT-OFF

De qualquer forma, sentar-se na posição 1 permite que você evite dar tells. O jogador na posição 10 defi nitivamente não consegue lhe ver, pois o dealer está na frente dele. O da posição 9 precisa se esforçar para lhe ver, especialmente se o dealer for meio gordinho, ou se ele mantiver as mãos na frente enquanto embaralha e distribui as cartas. Ambos esses jogadores estão em desvantagem. Como a maioria de nós acaba dando, involuntariamente, algumas dicas sobre nossos planos de dar call, raise ou fold, é melhor que façamos isso na posição em que esse fato nos preju dique menos.

Seguindo essa linha de racio cínio, é bastante óbvio que a pior posição que se pode escolher é a nº 10, ou qualquer uma imediatamente à direita do dealer. Você não conse gue ver os jogadores à sua esquerda, a não ser que se incline de maneira óbvia. Por outro lado, quem estiver à sua direita não terá problema em lhe ver. É o pior cenário.

Isso torna o meu plano simples. Se eu for chamado para um nova mesa, garanto logo a posição 1. Se eu for entrar em uma que já está rolando, sento em qualquer lugar disponível, mas procuro mudar para o nº 1. Se o único lugar disponível for o nº 10, eu me sento, mas depois mudo para qualquer outro que ficar disponível.

Alguns jogadores preferem con tinuar escolhendo suas posições com base em seus oponentes, e não há nada de errado nisso. Se você quiser se sentar à esquerda do jogador mais agressivo, ou à esquerda do maior stack, isso é válido. Particularmente, se houver um jogador que se desta

que, eu geralmente escolho minha posição em relação à dele. Além desse caso específico, eu atribuo mais valor a ser capaz de observar meus oponentes e não me preocupar com eles me observando.

Se você só joga online, observar seus oponentes é um dos ajustes mais importantes que você terá de fazer. E escolher a posição correta tornará isso bem mais fácil. ♠

44 CARDPLAYER.COM.BR ESTRATÉGIA
É bastante óbvio que a pior posição que se pode escolher é a nº 10, ou qualquer uma imediatamente à direita do dealer. Você não consegue ver os jogadores à sua esquerda, a não ser que se incline de maneira óbvia.

QUATRO DICAS PARA O RIVER

Ed Miller é uma das maiores autoridades mundiais em teoria do poker. Ele é instrutor do stoxpoker.com

Eu acho que o jogador padrão de $1-$2 e $2-$5 de no-limit hold’em live joga pior no river do que em qualquer outra street. Isso ocorre, em parte, porque as apostas nessa rodada são grandes, então os erros parecem maiores. Mas também se deve ao fato de que a maio ria dos jogadores aborda o river com uma filosofia essencialmente falha.

Grande parte dos jogadores é passiva demais na quinta carta. Eles dão check segurando mãos boas, com as quais deveriam apostar pelo valor, e também com draws que não bateram, com os quais deveriam ble

far. Essa passividade causa proble mas, pois, quando eles de fato apos tam, frequentemente restam poucas mãos que poderiam ter, caso no qual a reação fica mais simples. E já que eles não apostam com frequência o suficiente, dão oportunidade a joga dores mais perceptivos de ganhar com mãos fracas no showdown e roubar mais potes do que deveriam.

Confira quatro dicas para o river que farão de você um jogador mais difícil de encarar:

ANÁLISE

SEJA AGRESSIVO COM SUAS APOSTAS PELO VALOR NO RIVER. SE NINGUÉM MAIS ESTIVER DEMONSTRANDO FORÇA, JOGUE SEUS PARES DECENTES COMO SE ELES FOSSEM A MELHOR MÃO

DICA 1

Não dê call contra jogadores que apostam nas três streets.

Como eu disse, a maioria dos jogadores é passiva demais nesse instante da mão. Apostar em todas as três streets com uma mão fraca é uma linha muito agressiva. Vários jogadores, portanto, quase nunca fazem isso sem ter praticamente o nuts.

Por experiência própria, se alguém apostar em todas as streets em uma mesa de small stakes ao vivo, a mão mais comum que ele terá

será uma trinca, uma queda para flush ou straight que melhorou no turn, ou dois pares que viraram um full house. No turn, os jogadores frequentemente dão check quando seus draws não melhoram, e fazem a mesma coisa no river se tiverem dois pares que também não melhoraram.

49 @CARDPLAYERBR

Normalmente, vejo um jogador apostar no flop e no turn, e outro pagar com o top pair. No river, aquele primeiro aposta de novo. Na maioria dos casos, o top pair deve dar fold. Muita gente realmente faz isso, mas eu também tenho visto, com frequência, o top pair dar call. No showdown, quem saiu apos tando quase sempre mostra uma das mãos que eu listei, e o que veio dando call dirá: ”Eu sabia”, e entregará as cartas.

Não dê call contra jogadores que apos tam em todas as streets.

DICA 2

Desconfie de apostas no river em potes com check.

Apostas no river tendem a ser fortes. Isso é ainda mais verdadeiro quando há apostas anteriores no flop e no turn. Também proce de quando alguém dá call no flop e no turn, e aposta no river.

Só que apostas na quinta street são muito mais fracas em potes com check. O exemplo clássico é quando a mesa roda em check tanto no flop quanto no turn. Este é o cenário que desperta o lado blefador de muitos jogadores.

Por exemplo, digamos que três jogadores vejam um flop com K♣9♠2♠. Todos dão check. O turn é o 3♥. Todos dão check novamente. O river é o 7♦. O segundo jogador aposta. Esta aposta é suspeita. A mesa rodar em check no flop sugere que ninguém tem um rei. Rodar em check no turn confirma isso, e também sugere que ninguém tem um 9. Então, com o que um jogador poderia estar apostando no river, um 7? Um oponente mais experiente apostaria com uma mão como A-7, mas a maioria dos jogadores de small stakes daria check com ela. A-9? Muitos apostariam no turn com um 9, e os jogadores que não apostassem no turn provavelmente também não o fariam no river. As mãos que melho raram com a quinta carta (7-7, 7-3 e 7-2) não são plausíveis. Restam tão poucas mãos legí timas para uma aposta no river que eu ficaria tentado a dar call com algo como 5-5.

ANÁLISE 50 CARDPLAYER.COM.BR

DICA 3

Em potes com check, aposte pelo valor com um par.

Na dica anterior, eu disse que um oponente experiente pode ria apostar com A-7, mas boa parte dos jogadores não faria isso. A maioria deles também não apostaria com um 9. No entanto, ambas são boas apostas, pois a chance de ser pago por uma mão pior (5-5, A-Q, etc.) é mais alta do que a de bater de frente com um rei que fez slowplay ou uma mão que deu sorte, como 7-7.

Os jogadores geralmente apostam no turn quando têm dois pares ou algo melhor. Se a mesa rodar em check no turn, isso quer dizer que você pode esperar que ninguém tenha mais do que um par, embora você possa ser pego de surpresa às vezes. Contanto que a carta do river não seja perigosa demais, pode-se apostar pelo valor com o top pair.

Se a mesa rodar em check tanto no flop quanto no turn, como na Dica 2, você frequentemente pode apostar pelo valor com o segundo ou terceiro par.

Seja agressivo com suas apostas pelo valor no river. Se ninguém mais estiver demonstrando força, jogue seus pares decentes como se eles fossem a melhor mão. Aposte. Você se surpreenderá ao ver com o que as pessoas darão call.

NÃO APOSTE SEMPRE A MESMA QUANTIDADE. SITUAÇÕES DIFERENTES PEDEM APOSTAS DE TAMANHOS DIFERENTES.

DICA 4

Escolha o tamanho de suas apostas cuidadosamente.

O tamanho das apostas é um assunto importante em no-limit hold’em, sobretudo no river. Não aposte sempre a mesma quantida de. Situações diferentes pedem apostas de tamanhos diferentes. Dê uma olhada nestes exemplos.

O bordo mostra J-T-8-3-Q, e você tem A-K. Faça uma aposta forte, talvez um all-in. Qualquer um com um 9 irá pensar seriamen te em pagar, independentemente do quanto você tiver apostado. E quem não tiver um straight provavelmente não pagará sequer uma aposta normal. Contra straights menores, dê o máximo de squeezes que puder.

51 @CARDPLAYERBR

O bordo tem K-9-2-3-7, e você segura 8-8. Este é novamente o exemplo da Dica 2. Eu apostaria, mas não muito. Em uma mesa de $2-$5, posso disparar $30 em um pote de $60. Você está contando que um 4-4 vá pagar. Não bata a porta na cara dele. Convide-o a entrar.

O bordo mostra T♣ 8♦ 2♣ Q ♦ 4 ♣, e você tem A♣ 5♣. Seu opo nente é um jogador passivo que tende a fazer apostas pequenas. Ele apostou no flop e no turn, ambas de cerca de metade do pote, uma jogada muito forte da parte dele. Você desconfia que ele tenha acertado uma trinca no flop. Você está fora de posição e tem razoável certeza de que ele dará check, caso você faça isso antes dele.

Eu colocaria uma aposta de dois terços até o valor do pote aqui. Não importa qual tamanho você escolha, apostar fora de posição nesse instante diz: “Acertei o flush”. Mas ele terá dúvidas e será tentado a pagar com uma trinca. Se você fizer uma aposta grande demais, ele dará fold relutantemente. Porém, se fizer uma aposta pequena demais, ele ainda poderá dar fold, já que é tími do, e quando você for pago não ganhará muito. Se você estiver fazendo uma aposta que entrega sua mão (mas que ainda pode conseguir um call por desconfiança), disparar o valor do pote geralmente é uma boa escolha.

Não há fórmula perfeita para determinar o tamanho das apostas no river, mas quanto mais atenção você der a isso, melho res serão seus resultados. ♠

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QUATRO DICAS PARA O RIVER DICA 1: NÃO DÊ CALL CONTRA JOGADORES QUE APOSTAM NAS TRÊS STREETS. DICA 2: DESCONFIE DE APOSTAS NO RIVER EM POTES COM CHECK. DICA 3: EM POTES COM CHECK, APOSTE PELO VALOR COM UM PAR. DICA 4: ESCOLHA O TAMANHO DE SUAS APOSTAS CUIDADOSAMENTE.
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