Card Player Brasil Digital - 33

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POKER

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Como usar o dinheiro sem que ele te use A carreira do grande malandro Amarillo Slim






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SUMÁRIO 12. ANDRÉ DEXX

COMO USAR O DINHEIRO SEM QUE ELE LHE USE André Dexx dá dicas valiosa para que você não jogue pressionado pelo dinheiro investido.

ESPECIAIS 20. GERAÇÃO Y

A ascensão meteórica de Joseph Cheong, um dos jovens fenômenos do poker mundial.

32. FELIPE MOJAVE

OPEN-FACE CHINESE POKER PINEAPPLE Mojave fala sobre a variante do Poker Chinês que virou febre ao redor do mundo.

40. PEDRO NOGUEIRA

ERA UMA VEZ NO PANO... Este mês, Pedro Nogueira conta como começou sua paixão pelo poker e pela literatura, e como um musical o fez ver que era possível reunir esses interesses em sua carreira.

48. DEVANIR CAMPOS

PERGUNTE AO DIRETOR Nesta edição, DC traz um artigo diferente. Ele conta a experiência e os desafios de comandar um dos principais torneios de poker do mundo: o PCA.

52. THE BOOK IS ON THE TABLE

O Grande Malandro, a história do maior apostador de todos os tempos.

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COMO USAR O

O R I E H N I D SEM QUE ELE LHE USE por André Dexx

André Dexx @dexx_rj andredexx.com

André “Dexx” é um dos mais respeitados jogadores de cash games online do país.

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este artigo, vou abordar o componente que mais atrapalha a jogabilidade no poker: o fator pisicológico “Real Money”. Jogar em valores reais é uma experiência bem diferente de jogar com fichas de mentira. Quando há cifras envolvidas, principalmente nas mesas de cash game, o jogador sente o peso psicológico do dinheiro em seu jogo, por isso o poker é tão fascinante e emocionante. A possibilidade da perda, normalmente, reflete em emoções bem desafiadoras, e é normal que o jogador, em algum nível, se sinta inseguro e pressionado . Quando as situações difíceis e não corriqueiras aparecem – e elas aparecem a todo o momento no jogo – o jogador se contorce todo e, ao perder a consciência da respiração, fica sem ar, acaba, consequentemente, encolhendo a coluna e franzindo a testa, e o resultado é a perda total da percepção. Todas essas reações são sintomas que devem ser testemunhados e superados por todos os jogadores. Não só para uma evolução no seu jogo, mas para um crescimento pessoal para além das mesas.

Faça uma pergunta de modo sério e honesto a si mesmo: “Qual é o peso do dinheiro nas minhas decisões?”. Se você está encontrando dificuldades em responder essa pergunta, vou lhe ajudar. Você fica olhando o lobby do site ou o Hold’em Manager muitas vezes durante a sessão? Da próxima vez que jogar, repare na frequência e no sentimento de apego em que olha compulsivamente seu stack. Observe seu corpo e como ele reage a uma situação que envolva muito dinheiro na mesa – quanto mais retraído você ficar, mais você está sentindo o peso do dinheiro na sua decisão. Por último, pense como você reagiria se fosse dinheiro fictício. Há pouco tempo, em uma das aulas que aplicava com um dos melhores jogadores de cash game brasileiro, ele me pediu pra citar algumas de suas piores falhas. Dentre as que eu mencionei, uma mudou seu jogo significativamente, dali em diante: “Você tem sido dominado pelo medo e não tem enxergando todas as oportunidades em fazer movimentos lucrativos (+EV)”, disse a ele. “Os motivos são os bloqueios causados pelo medo. Isso faz com que você não confie em sua leitura e acabe sendo explorado por outros jogadores. Eles reconhecem que você só é capaz de pagar com um range muito

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restrito de mãos em determinadas linhas. Esse medo, em grande parte, se deve ao peso psicológico do dinheiro”. Defensivamente, ele argumentou que, por ter um bankroll grande, não sofria tanta influência quando se tratava de dinheiro. Então, filtrei em seu Hold’em Manager algumas mãos que ilustravam o meu pensamento e perguntei qual seria a postura dele se estivesse jogando por dinheiro fictício. Imediatamente, ele riu e percebeu que existiam fortes bloqueios em seu jogo, e que precisaria agir como se estivesse jogando sem valer nada. Um dos grandes desafios que o jogador de poker tem que superar, senão o maior, é a relação com o dinheiro. Este é um dos grandes causadores da inconsciência no jogo, e arrisco a dizer que jogadores considerados medianos, hoje, poderiam estar figurando entre os melhores se não tivessem uma relação pouco saudável com o dinheiro. A instabilidade é uma coisa real no poker. Um gráfico nunca é constante e crescente, e o controle emocional perante essa insegurança contínua é o que pode nos levar a ter uma vantagem considerável entre os demais. Quanto mais destemido – e ao mesmo tempo responsável – maior a chance de sucesso. O equilíbrio entre desapego e respeito ao dinheiro é a fórmula perfeita para o sucesso no poker.

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É da natureza da vida que todas as coisas sejam instáveis e efêmeras. No poker, não é diferente. A maioria dos jogadores fica se lamentando pelas fases ruins com pensamentos que os dominam como: “Eu estou ganhando bem nos últimos três dias, mas estou longe de recuperar o prejuízo da semana passada”, ou projetando o futuro compulsivamente, “acho que realmente sou muito bom e acredito que, em um ano, estarei jogando regulamente nas mesas NL1000”. Esses jogadores não costumam ser bem sucedidos e passam por grandes decepções porque são defrontados, a todo o momento, com a instabilidade intempestiva e natural do poker. Se a cada mão existem pequenas variações no montante de dinheiro, é normal que também haja períodos instáveis – curtos, médios e longos. Até mesmo o gráfico mais lucrativo do mundo não é uma linha diagonal reta que tende ao infinito, então é óbvio que um jogador que vive sobre esses pensamentos terá constantemente momentos de


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conflitos emocionais. Ele acumulará sempre memórias negativas, que irão assombrar sua carreira, ou se frustrará com suas altas expectativas que nunca serão preenchidas. Quando o jogador se identifica com formas mentais e emocionais, seja desejando algo do futuro ou temendo a perda, ele acaba se esquecendo da essência do próprio jogo, e nesse período é perdida a conexão com o presente, pelas duas motivações principais do ego: o desejo e o temor. Então, todos os desejos, medos e pensamentos, assim como todas as ações e reações acabam tendo relação direta com o estado de paz do jogador, e a sua falsa motivação é incapaz de trazer contentamento enquanto ele está nos feltros, já que o momento presente foi sabotado pela busca de um prazer ilusório. Alguns jogadores podem até mesmo forçar emoções para substituir esse contentamento – jogam de maneira extremamente loose ou até entram em um profundo estado de tilt, causando um rombo no bankroll ao ficar empurrando all-in freneticamente. Dessa maneira, mesmo que o jogador consiga ganhar dinheiro, cedo ou tarde, ele estará infeliz, outra vez, porque não demorará até que novas preocupações apareçam tomando toda a sua atenção. Outro problema que envolve os jogadores de poker e, muito provavelmente, também acionistas da bolsa de valores é o que chamo de “vício de crescimento”. O foco

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dessas pessoas é sempre no resultado, e elas sempre estão esperando que o gráfico ou o valor do patrimônio deles aumente. É isso que eles acreditam que os tornarão felizes, mas, como dito, a felicidade sempre é momentânea nesses casos. A ambição não tem fim. E pela própria natureza do poker e do mercado financeiro é impossível não passar por períodos de estagnação ou perdas. Então, essas pessoas passam por momentos profissionais terríveis, nos quais se desgastam psicologicamente. O reflexo disso é um desempenho muito aquém do que se estivesse jogando apenas pelo prazer de jogar. Jogar poker não deveria ser uma atividade estressante, mas, por todos darem tanta importância ao dinheiro, acaba sendo. Logo, o ego é que trabalha a serviço deles, e sempre que existir sinal de esforço e stress é porque o ego está operando. O mesmo vale para as reações negativas diante dos obstáculos. Então, identifique esses sinais; pare, pense e reflita, porque é hora de mudar a postura e compreender o que se passa internamente antes de qualquer coisa que esteja do lado de fora. ♠


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CBTH COMEMORA EXCELENTE ANO PARA O POKER BRASILEIRO A Confederação Brasileira de Texas Hold’em (CBTH) isso, a atividade no Brasil é a única no mundo inteiro a tem motivos de sobra para comemorar o ano de conseguir a regulamentação definitiva. 2015. Seja pelas conquistas individuais dos atletas, Por falar em BSOP Millions, há mais motivos para pelos avanços da regulamentação ou pelo grande comemorar. O evento bateu inúmeros recordes aumento do número de praticantes da modalidade. durante os nove dias. O primeiro deles foi durante o Assim, o poker nacional caminha para atingir seus NLH 750k, que registrou 3.866 entradas e se tornou objetivos em um curto espaço de tempo. o maior campeonato do esporte fora dos EUA. Outro Após anos de batalha, o poker conseguiu seu primeiro recorde batido foi na premiação do MAIN EVENT. passo para ser regulamentado como esporte no Brasil. André ‘Coronel’ Andreis levou para casa R$ 1.380.000 Sem previsão do fim dessa jornada, a CBTH e toda a superando o valor inicial prometido. Por fim, o Freeroll comunidade do segundo da SKY e do PokerStars – esporte que mais cresce patrocinadores do evento no país conquistou o contou com 503 entradas, COM CONQUISTAS INÉDITAS, CRIAÇÃO DE reconhecimento e suporte se tornando o segundo COMISSÃO PARA A REGULAMENTAÇÃO DO do Ministério do Esporte maior freeroll do mundo, para essa modalidade atrás apenas de um mega ESPORTE NO PAÍS E AUMENTO NO NÚMERO que envolve técnica, tática evento gratuito promovido e planejamento. pelo Full Tilt no Canadá. DE JOGADORES, POKER BATE RECORDES Além disso, durante o BSOP Já as conquistas dos Millions, realizado em São brasileiros tanto no online EM 2015 E É UM DOS ESPORTES QUE Paulo, o poker conquistou como no live, não podem MAIS CRESCEM NO BRASIL de forma definitiva o ser esquecidas. Thiago Decano conquistou o credenciamento como inédito bracelete na WSOP, esporte da mente na Associação Brasileira de Esportes Intelectuais realizado em Las Vegas, e se junta a Alexandre (ABRESPI), um dos braços da Federação Internacional Gomes (2008) e André Akkari (2011), como os de Esportes da Mente (IMSA), e, se junta agora, ao únicos a conseguirem este feito. Já no online, xadrez, dama, go e bridge em um seleto grupo de foi a vez de Reidir de Melo, Pedro Madeira e Yuri habilidades intelectuais. Até este ano, a modalidade Martins, conquistarem três braceletes, fechando era apenas um membro observador da categoria. Com o ano com grandes resultados para o Brasil.

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“Fechamos o ano extremamente felizes. Foi um ano cheio de conquistas, mas os nossos objetivos estão apenas começando. Conseguimos um bracelete na WSOP com o Decano, braceletes no WCOOP, realizamos a 3ª edição do campeonato brasileiro por equipes e conseguimos fazer parte do Jogos Nacionais dos Servidores Da Policia Federal - JOIDS, atingindo um público que ainda não era tão inserido no meio do poker. E, é isso, que buscaremos para 2016. Manter nossos mais de 4 milhões de jogadores e aumentar esse número chegando àqueles que ainda pouco conhecem o poker e vamos batalhar forte por isso”, comemora Igor Trafane Federal, presidente da CBTH. E as ações da CBTH ao longo de 2015 também foram intensas. No segundo semestre deste ano, a Confederação Brasileira realizou a 3ª edição do Campeonato Brasileiro por Equipes que teve a equipe de Rondônia/Acre como grande vencedora do torneio. Além disso, a CBTH teve participação fundamental durante o JOIDS 2015, patrocinando o evento e inserindo o poker

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nas disputas pela primeira vez na história dos jogos da Polícia Federal. Para 2016, a expectativa é que não só o número de jogadores aumente, mas que novas etapas sejam agregadas ao BSOP, novos braceletes sejam conquistados pelos atletas e o ano seja tão positivo como o de 2015 e, claro, que a tão sonhada regulamentação possa acontecer.


GERAÇÃO Y G N O E H C H P E JOS Tradução e adaptação: Marcelo Souz

Por Julio Rodriguez

Nos últimos quatro anos, Joseph Cheong tem chamado a estrada de casa. O profissional de 28 anos vem jogando os principais torneios ao redor do mundo e deixando a sua marca: quase US$ 10 milhões em prêmios, apenas no ao vivo, e outros US$ 2,5 milhões na internet. Cheong, que se mudou da Coreia para a Califórnia em 1992, originalmente planejava uma carreira em Wall Street. Depois de graduar-se em Matemática, Economia e Psicologia pela Universidade da Califórnia, ele se voltou para o poker, que está sempre contratando, mesmo em uma recessão. A aposta foi certeira e, em 2010, ele explodiu para o mundo. Com uma atuação de gala, Cheong terminou

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na terceira colocação do Main Event da World Series of Poker (WSOP) e embolsou US$ 4,1 milhões. Depois daquilo, ele seguiu provando que não era jogador de apenas um resultado. A Card Player conversou com Joseph Cheong sobre sua ascensão meteórica e o futuro do poker. Julio Rodirguez: Como você entrou no mundo do poker?

Joseph Cheong: Quando me graduei, eu queria trabalhar em Wall Street, com fundos de cobertura, mas a recessão fez com que ficasse muito difícil para recém-graduados conseguirem trabalho. A escassez de emprego era uma realidade, então tentei a minha sorte no poker.

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JR: Você enfrentou dificuldades logo depois de se tornar profissional?

JC: Eu tive bons resultados logo de cara. Em 2009, venci o Mini-FTOPS do Full Tilt e levei US$ 55.000. Meu bankroll era de apenas US$ 20.000, então, vencer esse torneio me permitiu subir para o próximo nível na minha carreira. Depois disso, aumentei meu volume e me tornei um regular nos torneios high-stakes da internet. JR: Como a sua família recebeu a notícia que você jogaria poker para viver?

JC: Eu tenho pais asiáticos bem conservadores, e eles queriam que eu tivesse um trabalho tradicional — e o poker não se encaixa nisso. Tenho certeza que eles prefeririam que eu me tornasse um médico ou um advogado. Mesmo hoje, eles ainda dizem para eu arrumar um emprego de verdade, mas pelo menos eles não podem contestar meus resultados. Desde que eu esteja longe de casa e me sustentando, meus pais não podem reclamar. JR: Depois de um ano de sucesso no online, você venceu uma etapa do WSOP Circuit 2009 e ficou apagado até a sua mesa final no Main Event da WSOP. Então, entre julho e novembro de 2010, você terminou em segundo no high roller do EPT de Londres e ganhou um dos eventos paralelos no Festa al Lago Classic. Foram mais US$ 400.000 em prêmios. Conseguir chegar ao November Nine mudou o seu jogo de alguma maneira?

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JC: Depois de chegar à mesa final do Main Event, eu estava muito confiante. Eu sabia que a melhor maneira de me preparar para o November Nine era jogar o tanto quanto pudesse. Então, com o dinheiro que eles pagam aos finalistas, referente à premiação do 9º colocado, comecei a jogar o circuito. Eu fui muito bem, cheguei a duas mesas finais e ganhei bastante experiência. Quando finalmente chegou o momento do November Nine, eu não estava tão nervoso quanto os outros jogadores. JR: Você terminou em terceiro no Main Event e ganhou mais de US$ 4 milhões, mas foi um pouco criticado por sua jogada extremamente agressiva, uma 6-bet-all-in, contra Jonathan Duhamel [ver “Aconteceu Em Um Torneio”, nesta edição]. Se não fosse por isso, fatalmente, você teria chegado ao heads-up. Você pensa sobre o que poderia ter sido ou ficou feliz com seu desempenho?

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JC: Eu realmente não me prendo ao passado, tento aprender com ele, ver o que funcionou e o que não deu certo. Se não tivesse feito aquilo, eu provavelmente ficaria noites em claro pensando que eu deveria ter feito. Além do mais, é difícil não ficar feliz quando você ganha US$ 4,1 milhões. JR: Você acha que a jogada feita contra Duhamel afetou de forma negativa a maneira com que os seus adversários enfrentam o seu estilo de jogo?

JC: Meu estilo de jogo é extremamente flexível e totalmente dependente do meu oponente. Minha reputação é de ser um jogador hiperagressivo, que faz jogadas insanas — o que de vez em quando é verdade. Mas acho que as pessoas têm uma tendência a exagerarem por causa das poucas mãos que aparecem na TV.


JR: Você já tem quase US$ 10 milhões de prêmios em pouco mais de cinco anos de carreira. Quanto tempo você acha que continuará jogando para viver?

JC: Eu não me vejo jogando poker pelo resto da vida. Não tenho ideia do que vou fazer, mas sei que quero jogar enquanto ainda sou jovem. Joguei tudo que podia nos últimos anos, mas não posso fazer isso para sempre. No momento, o objetivo é fazer o máximo de volume possível, enquanto o jogo ainda é lucrativo. O poker definitivamente irá mudar. Não será do mesmo jeito sempre, mas sei que ele estará lá quando eu decidir voltar a jogar. JR: O que você quer dizer com “o poker irá mudar”?

JC: A economia do poker está morrendo. O número de jogadores saindo do jogo é maior do que o número que está entrando. Então, a menos que algo drástico aconteça, é inevitável que o dinheiro “dê uma sumida”, especialmente nos torneios high-stakes.

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JR: E o que você acha que ajudaria a economia do poker?

JC: Bem, eu acho que a Epic Poker League [liga exclusiva baseada na meritocracia. Foi criada e 2011 e extinta em 2012] teve a ideia certa. Pode parecer um pouco elitista, mas a ideia de ter os melhores jogadores do mundo dividindo as mesas atrai a atenção das pessoas comuns. Outro ponto importante seria a legitimação do poker como esporte.

OS CINCO MELHORES RESULTADOS DE JOSEPH CHEONG EVENTO

POSIÇÃO

PRÊMIO (US)

Main Event da WSOP 2010

$4.130.049

Manila Millions do APT Philippines 2013

$1.343.370

$614.250

High Roller da WSOP APAC 2013

$534.776

Main Event da WSOPE 2012

$381.375

Super High Roller do WPT World Championship 2013

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JR: Você passou muito tempo viajando nos últimos anos. Quais as suas impressões sobre o estilo de vida como jogador profissional?

JC: Eu sou um cara muito afortunado. Não importa qual o local em que eu vá jogar, sempre tenho pelo menos uma dezena de amigos com os quais posso ter bons momentos. É como uma longa festa ininterrupta. Sim, existem algumas coisas chatas, como passar muito tempo em aviões e ficar longe de casa, mas as coisas boas superam as ruins.


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CINCO DICAS DE JOSEPH CHEONG PARA CONSTRUIR UM GRANDE STACK Há uma razão pela qual Joseph Cheong sempre é um dos líderes quando chega à mesa final — e não é por ganhar uma série de flips. Alguns jogadores podem ficar satisfeitos por chegarem ITM, mas não Cheong. Ele sempre joga para construir um stack gigantesco, que garanta um jogo confortável na mesa final. Para colocar a si próprio na melhor posição de conseguir o título, ele diz que é preciso trabalhar nos níveis iniciais. Confira suas cinco dicas para chegar gigante nas retas finais de torneios:

“Posição é sempre importante em no-limit hold’em, mas isso se torna menos importante quando todos estão com muitas fichas. Como eu digo para os meus amigos: ‘Você não pode dar check-raise se você está em posição’. Isso vai contra o pensamento convencional, mas jogar fora de posição tem seus benefícios, especialmente para construir grandes potes”. 4. Não há necessidade de slow play

“Durante os níveis iniciais, quando é barato ver flops, aumente o range de mãos que você abre raise e jogue várias mãos. Você também deve defender seus blinds com uma gama muito variada. O objetivo principal é acertar algo muito bom no flop e pegar seu adversário, que geralmente estará jogando com um range mais tight, então, irá pagá-lo”.

“Quando você está jogando mãos especulativas, você frequentemente acertará boas mãos, mas que são vulneráveis. Mesmo se a carta do turn não matar a sua mão, ela poderá matar a ação. É melhor jogar a mão de maneira agressiva e conseguir as fichas o quanto antes. Isso também cria dúvidas na cabeça do seu adversário: ‘Quão forte é a mão dele?’; a verdade é que, geralmente, eles vão se convencer que estamos em um draw”.

2. Desenvolva uma imagem loose e descuidada

5. Procure aquelas pessoas pressionadas pelo dinheiro

“Essa estratégia (jogar muitas mãos) só funcionará se os outros jogadores não lhe derem crédito por suas apostas. Se você não for criativo, então eles não irão lhe pagar quando você acertar uma boa mão. Procure tomar linhas pouco convencionais e não tenha medo de mostrar um blefe, dando certo ou não”.

“Há alguns anos, pressionar a bolha e ganhar fichas funcionava, mas as pessoas agora estão atentas. O fato é que hoje, perto da bolha, há poucos jogadores ruins. Os bons jogadores tendem a procurar aqueles que estão pressionados pelo dinheiro. São eles que desistirão dos blinds facilmente, darão check quando não acertarem suas mãos e apostarão forte para lhe tirar do pote quando acertarem em cheio o flop”.

1. Jogue muitas mãos

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3. Não se preocupe sobre posição quando estiver deep

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SORTEIO DA VIRADA Dê tchau ao ano de 2015, deixe para atrás tudo o que não deu certo e concorra a R$20.000! De 28 de Dezembro a 10 de Janeiro, para cada R$20 depositados você ganha 1 ticket para um sorteio do dia 11 de Janeiro. Fique atento, pois tickets extras serão entregues em dias especiais. Entre no nosso site e acompanhe a quantidade de tickets que você já possui. Leia os Termos e Condições no nosso site.

SEQUESTRARAM O PAPEL NOEL

A turma do Betmotion acabou de ser contatada por sequestradores, onde informam que o nosso querido Papai Noel foi sequestrado!

Além de juntar os pontos para salvar o Papai Noel, você poderá trocar esses pontos por presentes (são 10 opções disponíveis)! O Papai Noel está contando com a sua ajuda!

Nós precisamos muito da sua ajuda para poder resgatá-lo e só há uma forma de mantê-lo são e salvo: do dia 8 a 24 de Dezembro, a cada R$5 depositados você gera 1 ponto para o resgate do Papai Noel.

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Vamos encerrar esse ano de muito poker com chave de ouro? Que tal promoções exclusivas que você só encontra no Betmotion?

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OPEN-FACE CHINESE POKER

PINEAPPLE por Felipe Mojave


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o artigo desta edição, um tema diferente. Hoje, vou abordar as estratégias de um jogo que já era febre em sua forma original, mas agora, na versão Pineapple, explodiu de vez, o Open-Face Chinese Poker Pineapple (OFCP). Eu fui o precursor dessa modalidade por aqui. Lembro da primeira vez que jogamos no Brasil, depois de uma mesa final no Circuito Paulista de Hold’em (CPH). Sentei com alguns amigos para explicar o jogo e brincamos por várias horas. Lembro inclusive de ter ensinado o pessoal a jogar, além do Chinese Poker tradicional, um modelo com 2-7 no meio,

ou seja, uma modalidade na qual é preciso formar duas mãos high e uma low. O jogo tinha até que se difundido bem, mas depois de um tempo foi morrendo, pois não havia muitos adeptos. O tempo passou e a modalidade Open-Face Chinese (OFC) foi criada, e a febre do Poker Chinês voltou de vez. No ano passado, em Las Vegas, aprendi então, com alguns amigos, a modalidade Pineapple. O jogo ainda não era mania e também não havia tomado forma, mas já havia muitos jogadores ligados a esse formato. E foi após o término da WSOP 2013 que o OFC Pineapple pegou de vez, quase que excluindo o OFC tradicional das rodas de amigos.

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Bem, este artigo é direcionado para quem já joga o Chinese Poker tradicional e o Open-Face, e que agora vai aprender mais sobre o Pineapple e suas estratégias. Primeiro, vamos falar um pouco das principais diferenças nas regras e estratégias do OFC para o OFCP. No OFCP, em vez de receber uma carta de cada vez e posicioná-la, você recebe três cartas por rodada. De acordo com a sua vontade, posiciona duas delas e descarta a outra. Todo o resto continua igual, inclusive a distribuição inicial das cinco cartas. Uma mudança importante é que o Pineapple é jogado no máximo com três jogadores. Caso esteja querendo jogar entre quatro amigos, basta que um fique de fora quando for embaralhar.

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Na questão estratégica, a diferença é bastante gritante. Se no OFC grande parte da estratégia era tentar atingir a Fantasy Land (FL) e receber as 13 cartas para ter a vantagem de formar o seu jogo de uma vez só, no OFCP essa é a estratégia básica, principalmente pelo fato do bônus para FL ser diferente. Bom, aqui não estou falando dos valores de bônus, que continuam os mesmo, mas sim da quantidade de cartas. Na variante mais comum, toda vez que o jogador alcançar a FL ele receberá 14 cartas e descartará uma. Desse modo, há uma grande vantagem em jogar para o Fantasy. Outra variante do jogo, mais disputada recentemente, tem 13 cartas dadas para o Fantasy com Q-Q, 14 para K-K e 15 para A-A ou superior. As quadras, fulls e flushes, inclusive na mão do meio, já são mais comuns nesta variante, portanto, jogar para bônus é essencial. No OFC tradicional, é comum que os jogadores que arriscam fechar grandes bônus “estourem” (misset), ou



seja, não conseguem formar uma mão válida. Já no OFC Pineapple, isso acontece com mais frequência nas tentativas de chegar à Fantasy Land. Um exemplo dessa estratégia é a formação do jogo nas mãos de baixo sem bônus. Por exemplo, dois pares e dois pares maiores, fazendo assim uma preparação para tentar o Fantasy com um par de Damas, Reis ou Ases na mão de cima. O fato de receber uma carta extra quando está na Fantasy Land praticamente dobra matematicamente as chances de um jogador permanecer na FL, cujos bônus para “re-fantasy” são os mesmo do OFC. A modalidade OFCP é mais dinâmica por diversos motivos. Além ser um jogo mais agressivo pela natureza da distribuição de cartas, o fator descarte é muito importante, pois adiciona uma característica diferenciada ao jogo. No OFC, todos jogadores tinham uma clara noção ao longo da partida de seus outs, já que você pode ver todas as cartas distribuídas e conta-los. Com os descartes, é realmente mais difícil saber quais outs ainda estão disponíveis.

Existem obviamente mais fatores a serem observados, mas basicamente a abordagem para este artigo é mostrar as diferenças entre as modalidades e popularizar o jogo. OFCP é muito divertido, mas tomem cuidado, pois naturalmente deve se jogar em limites bem menores que o OFC tradicional, pois os bônus são muito mais fáceis de serem feitos e assim a variância do jogo é realmente muito maior. Bom jogo e boa diversão.

Felipe Mojave @FelipeMojave felipemojave.com

Felipe Mojave é um dos principais jogadores brasileiros da atualidade, especialista em mixed games, profissional do Lock Poker e membro do My Poker Squad.

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z e v a m u a r E . . . o pan

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minha paixão pelo poker e pela literatura vem de longe. Não seria exagero dizer que, na verdade, ela é anterior até mesmo ao meu nascimento, 25 anos atrás. Explico o raciocínio: na família, sou a terceira geração que reserva uma parte considerável de seu tempo às cartas e aos livros. Como poderia eu escapar? Meu pai e avô são homens que passariam, com prazer, 48 horas isolados numa caverna – desde que tivessem, aos seus dispores, um volume de John le Carré e um computador conectado à internet. Com o PokerStars instalado na máquina, certamente. O leitor, logo, não vai se sentir surpreso ao saber que, desde a minha infância, devo ter recebido mais de uma centena de livros e caixas de baralho de presente de aniversário ou Natal. Repito, então, a minha pergunta anterior: como poderia eu escapar? E eu mesmo já a respondo: não tinha jeito.

Pois bem. Fiz a introdução acima para chegar ao seguinte ponto: nunca acreditei que essas duas paixões – o poker e a literatura – pudessem se unir. Nunca acreditei, isto é, até o ano passado, quando assisti ao musical Guys and Dolls (algo como “Sujeitos e Bonecas”). Ele conta a história de Sky Masterson, o maior apostador dos Estados Unidos, que é desafiado por Nathan Detroit a seduzir uma missionária do Exército da Salvação, Sarah Brown. O pano de fundo é a Nova York dos anos 40, repleta de jogadores que gostam de “investir” o seu dinheiro nas corridas de cavalo e no floating craps promovido por Nathan Detroit. Esta é uma expressão, por sinal, que con-

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at ing antí ssima: flo sidero interess quer , ug uês lit eral craps. Em port te”. dados flutuan di zer “jogo de ilegal de prát ica era Como esse tipo gatina a cada dia a jo em Nova York , nte. um local difere era sediada em te”. ada de “f lutuan Daí ela ser cham d ri que Guys an Quando descob o do irado num cont Dolls era insp yll e Runyon, Th Id escr itor Damon co en Brow n, decidi of Miss Sarah tânea azon uma cole mendar na Am rque infelizmente, po sua (em inglês, uziu ad tr ra brasileira nenhuma edito . Em ra o port ug uês) os seus textos pa págidevorei as 283 questão de dias ór ias e trazia 20 hist nas do liv ro, qu da os an res amer ic sobre os jogado o. ad ss e do século pa pr imeira met ad he ac i peci fic amente, Uma dela s, es o com ito vai ao médic genial. Um suje notía o e recebe dor de estômag o alta. tá com pressã cia de que es e ele basicamente, qu O doutor diz, emoar por grandes não pode pass sair Ao e. um piripaqu ções – ou terá ra nt co o homem en do consultório, y st ro chamado Ru um encrenquei

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Charley, que o arrasta primeiro para o floating craps de Nathan Detroit; depois para o bar mais barra pesada da cidade; e, mais tarde, para um carteado de high stakes. O homem passa a história inteira desesperado, com medo de um pico de pressão alta manda-lo para o caixão. Mas, por outro lado, ele não pode dizer “não” a Rusty Charley, pois este não é lá muito compreensivo quando contrariado. O passeio termina com a mulher de Rusty Charley dando uma panelada na cabeça do coitado, por achar que ele levou seu marido para a farra na noite anterior. Aí ele volta para o médico, que vê o machucado e acha que é um tumor. “Mas”, diz o doutor, “a sua pressão voltou ao normal e agora você não está mais em perigo. Isso para você ver como uma vida tranquila faz bem a um homem. Agora 10 dólares pela consulta, por favor”.


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Ao ler os con tos de Damon l Run yon , per ceb i que é pos síve rela as rtid escr ever hist ória s dive cion ada s ao jogo, sem a nec essi ou dade de sofi stic ada s tram as os al, Afin s. ado plic enr edo s com (ou er pok do pequenos asp ecto s já dos dados, no caso de Runyon) , são esp etac ular es em si. Runyon fez ele mes mo um apostador, me has min r uni , ver que pos so, sim dua s paixões pelo pok er e pela uliter atur a. Desde o primeiro min ea, to em que con hec i sua cole tân de l láve ntro senti um desejo inco do ão ficç mer gulh ar no universo da ao poker. Um a vontade que, graças a meu gra nde amigo Bru no Nóbreg de tor dire so de Sou sa, o talento r red ação des ta revista que o leito u tem em mãos, matei. Bruno topo na minha sugestão de criar uma colu yer dPla Car da de ficção no novo site de Bra sil, onde escreverei contos do poker, nos moldes daquele publica

na última edição. Se depender das histórias extraos ordinárias e dos parceiros inusitad aos que encontro nas minhas visitas iraclubes de poker de São Paulo, insp ♠ nte. ame nitiv ção não vai faltar. Defi

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Pedro Nogueira @pedronogueira87

Pedro Nogueira é jornalista, já disputou torneios internacionais de poker, como a WSOP Europe, e é blogueiro da revista Alfa, da Editora Abril.


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PERGUNTE AO DIRETOR O mais renomado diretor de torneios do Brasil tira todas as dĂşvidas dos leitores da Card Player Brasil. Para ter sua pergunta respondida, envie um e-mail para contato@cardplayerbrasil.com ou mande uma mensagem em nosso Facebook.

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Em todos os meses, escrevi esta coluna tirando dúvidas que muita gente tinha sobre os mais diversos assuntos ao redor dos torneios de poker. Porém, neste mês, resolvi contar um pouco do que foi a experiência de ter trabalhado no PCA (PokerStars Caribbean Adventure) de 2014. Como todo apaixonado por poker, a oportunidade de visitar um grande e famoso evento como o PCA, com certeza, traz muita empolgação. Eu, que comecei a entrar no mundo deste esporte assistindo aos programas de televisão, lá pelos idos de 2004, sempre acho muito bacana estar por perto dos grandes ídolos do poker. Em poucos lugares no mundo você consegue ir comer um lanche depois de um longo dia de trabalho e, quando olha para o lado, encostado no balcão da lanchonete, está um profissional do gabarito de Antonio Esfandiari ou “Elky”. Neste PCA, eu fiz parte da equipe de direção de torneios, que é comandada

pelo experientíssimo Mike Ward. Mike está à frente dos torneios do PCA há 11 anos, desde a primeira edição. Na minha profissão, Mike Ward é uma referência internacional em qualidade e experiência. Sob a sua liderança está o que eu acredito ser a mais experiente equipe de torneios do planeta. Se juntarmos todos os profissionais ali, acredito que temos seguramente uns dois séculos de experiência de poker. Entre os floors do PCA, estão diretores de torneios de tours do PokerStars, como UKIPT (United Kingdom and Ireland Poker Tour), EPT (European Poker Tour) e IPT (Italian Poker Tour); de poker rooms de alguns dos maiores e mais prestigiosos cassinos dos EUA (Aria, Mohegan Sun, Foxwoods); diretores de torneios da WSOP e muito mais. Acredito que ter sido chamado para esta missão, juntamente com meu colega Samir Zein, foi um passo enorme no reconhecimento como profissional e do nível do poker no Brasil em geral.

Com certeza estar trabalhando lado a lado com esta equipe é um privilégio para poucos na indústria do poker e, definitivamente, adiciona muita experiência à bagagem de qualquer profissional. Quando se fala de um evento do tamanho e da importância do PCA fica fácil entender o porquê de uma equipe tão especializada e selecionada a dedo para o trabalho. O festival traz um dos calendários mais diversificados do mundo, com modalidades de poker para todos os gostos. Além disso, o PCA atrai os maiores profissionais do mundo, em alguns dos torneios mais caros do planeta. Ou seja, o nível de exigência do cliente faz com que a qualidade do evento — em todos os aspectos — tenha que ser o mais alto do mercado. Contudo, mesmo com toda a seriedade com que todos os membros do staff levam as operações do evento, acredito que o PCA é um dos melhores eventos do

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mundo para participar, se você realmente gosta de poker. Em nenhum outro evento no mundo o clima é tão amigável e tranquilo. Lá, após conversar com diversos jogadores de poker — muitos dos quais participaram pela primeira vez neste ano — ficou evidente que a experiência do PCA é única em todo o circuito mundial. Do ponto de vista de quem olha as mesas de fora, o trabalho também é muito interessante. Afinal, mesmo com alguns dos maiores buy-ins do mundo, acabamos lidando com a mais variada gama de jogadores que existe: desde aqueles que se classificaram através dos freerolls no PokerStars e fizeram a sua primeira viagem internacional, até os maiores high-rollers do mundo, mais do que acostumados com as câmeras e flashes. Durante o PCA, a equipe de floors reveza pelos mais diversos torneios que estão acontecendo. No primeiro dia, fui escalado para cuidar do Super High Roller, em especial, da mesa da TV — que sempre tem um floor destacado para, além de supervisionar a mesa, narrar a ação. Apesar da experiência que tenho com mesas televisionadas em torneios, fiquei muito nervoso com essa tarefa, afinal, é uma daquelas missões em que você simplesmente não pode errar. O mundo inteiro está assistindo a mesa ao vivo pelo PokerStars.Tv; e, além disso, como clientes, você tem ali nada menos do que o Campeão Mundial Ryan Riess, o dono do Cirque du Soleil, Guy Laliberté, e profissionais do calibre de Mike “Timex” McDonald. Apesar do que a maioria das pessoas possa imaginar, dirigir um torneio como o Super High Roller é uma das tarefas mais tranquilas que um diretor de torneio

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tem. Notem: tranquila, e não fácil. A razão é simples: os jogadores possuem tanta experiência que, simplesmente, não há os problemas mais comuns, que encontramos em torneios com jogadores com menos quilometragem. No SHR, estamos falando de um público muito exigente e que paga US$ 100 mil para participar — isso quando não fazem a reentrada. Para quem gosta de poker, a possibilidade de acompanhar de perto esta mesa é uma das coisas mais saborosas do mundo. Se você gosta muito de futebol, imagine o que é poder ficar à beira do gramado acompanhando cada lance do Messi, Lucas ou Ibrahimovic. É assim que eu me senti observando o “Timex” jogando contra Tobias Reinkemeier. Foi muito bacana ver as jogadas, tentar adivinhar silenciosamente, para o fã de poker que estava na minha mente, as cartas que cada um deles tinha em cada mão. Claro que, com a minha pouca experiência como jogador, eu errei a maioria dos chutes. Nos dias seguintes de evento, eu passei pelos mais diversos torneios, tendo cuidado do Main Event, torneios turbo dos mais variados buy-ins: 6-Max Championship, 8-game, entre outros. Essa variedade de jogos e buy-ins torna a experiência do PCA muito dinâmica e gratificante. Com certeza, recomendo a todos os jogadores e apaixonados pelo poker: se um dia tiverem a oportunidade de visitar o PCA, não a deixem passar. Seja para trabalhar, jogar poker ou mesmo para passear. Não existe experiência como esta em outros torneios no mundo. Um abraço a todos e nos encontramos novamente na próxima edição.

Devanir “DC” Campos @DC_Brasil

Devanir Campos é um dos fundadores da ADTP (Associação de Diretores de Torneios de Poker do Brasil) e é um dos responsáveis pela direção do BSOP.



O Grande Malandro

Mem贸rias de Amarillo Slim O maior apostador de todos os tempos


THE BOOK IS ON THE TABLE

Quando o assunto é o poker, poucos são os livros que têm leitura tão prazerosa quanto O Grande Malandro, uma autobiografia de Amarillo Slim Preston — campeão do Main Event da WSOP de 1972 e membro do Hall da Fama do Poker. Nele você não vai aprender nada sobre 3-bets, 4-bets, 5-bets ou quaisquer outras técnicas avançadas do jogo, mas, em compensação, não vai conseguir desgrudar os olhos, nem por um segundo, das mais fantásticas histórias que um apostador já viveu. Entre apostas hilárias, inusitadas e até perigosas, estão personagens históricos como o traficante colombiano Pablo Escobar, o ex-presidente do Estados Unidos Lyndon Johnson, o rei da pornografia Larry Flint e outras tantas celebridades. Amarillo morreu em abril do ano passado, mas seu legado e o título de “maior apostador de todos os tempos” perdurarão para sempre.

Introdução

(p. 21)

Se qualquer coisa for alvo de controvérsia, eu aposto nela ou me calo. E como discutir não é algo muito apropriado para um cowboy, já fiz várias apostas na vida. Mas, na minha humilde opinião, eu não sou um apostador qualquer. Sabe, amigo, eu nunca saio em busca de um idiota; eu procuro um campeão e faço dele um idiota. Eu sabia que não convenceria nenhum amador a jogar pingue-pongue comigo por dinheiro, apenas Bobby Riggs, o campeão de Wimbledon de 1939 — eis um homem que estava interessado em fazer uma aposta. Droga, se um cara não achar que tem alguma vantagem, você não tem chance alguma de ele apostar com você. Bobby não era apenas o melhor jogador de tênis do momento, como também uma personalidade, uma celebridade mundialmente conhecida. Ele era tão famoso que o Tio Sam pediu que ele fizesse exibições de tênis para as tropas durante a Segunda Guerra Mundial e usou isso para fazer propaganda. Em Pearl Harbor, em 1944, um infeliz estranho, que não fazia ideia que Bobby era um campeão, desafiou-o a uma partida de tênis valendo muito dinheiro. Sem praticamente esforço algum, Bobby saiu com todo o dinheiro do cara, o seu carro e o seu bizarro bangalô em Honolulu. Dizem que Bobby se sentiu mal pelo coitado e devolveu tudo — exceto $500, que ele disse ser pela “lição”. Eu sei que esse é um preço muito alto por uma lição, mas acho que poderia ter sido muito pior para a vítima desavisada de Bobby.

Bobby também era conhecido por suas apostas no tênis. Para atiçar idiotas que queriam uma chance de jogar com ele, mas sabiam que jamais o derrotariam, ele inventava as maiores loucuras. Ele jogava com um poodle amarrado em cada perna, ou com uma capa de chuva e galochas enquanto segurava um guarda-chuva aberto com a sua mão esquerda. Acredite em mim, esse menino tinha imaginação, e ele não diminuiu o ritmo nem um pouco à medida que envelhecia. Em maio de 1973, aos 55 anos, Bobby enfrentou a jogadora número um do mundo, Margaret Court, em uma partida-desafio no San Diego Country Estates, chamada de “A Batalha dos Sexos”. De algum modo, aquele enérgico senhor executou truques suficientes para derrotá-la. Bem, Billie Jean King, a segunda melhor jogadora do mundo, que Bobby tinha chamado de “a verdadeira líder sexual do bando revolucionário”, não gostou dos comentários de Bobby sobre a superioridade do gênero masculino e o desafiou a jogar uma partida contra ela. Diante de mais de 30 mil espectadores no Astrodome, em Houston, em setembro de 1973, a mulher de 29 anos derrotou o senhor de 55 em três sets consecutivos. E isso promoveu manchetes ao redor do mundo. Como se tratava de um evento no qual o resultado era duvidoso — pelo menos no Texas —você pode ter certeza de que eu estava lá, e é provável que eu tenha feito uma pequena aposta também. Eu tinha conhecido Bobby rapidamente no ano anterior, em Las Vegas, na World Series of Poker e, quando conversei com

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ele depois da partida de tênis, Bobby me disse que eu seria sempre bem-vindo no Bel Air Country Club, na sua cidade natal, Los Angeles. O poker era bom no sul da Califórnia naquela época — ainda é hoje — e na minha viagem seguinte até lá, eu fiz uma visita ao velho Bobby no seu elegante country clube. Não demorou muito para que ele tentasse me convencer a apostar, e como eu não era um jogador de tênis, ele tentou me persuadir a jogar pingue-pongue. Nós dois sabíamos que ele era um jogador muito melhor, mas depois daquele incidente em Pearl Harbor, Bobby tinha amadurecido e aprendido a não se entregar. Em outras palavras, ele não estava querendo ganhar quinhentos dólares por uma lição, ele estava querendo chutar o meu traseiro magro e interiorano. Como era de se esperar entre dois apostadores, nós ficamos em um vai e vem tentando achar uma aposta justa, mas Bobby continuava se recusando a me dar uma oportunidade. Então finalmente eu disse que jogaria com ele com uma condição: que eu escolhesse as raquetes. “Nós dois usaremos a mesma raquete?” “Sim, senhor”. “Então quando você chegar com duas raquetes iguais, eu posso escolher com qual eu quero jogar?” “Sim, senhor, desde que eu traga as raquetes”. Bobby achava que eu ia dar algum golpe juvenil — que seria uma questão de peso ou que uma das raquetes seria furada ou algo do tipo. Mas quando eu disse que ele podia escolher qualquer uma das duas raquetes que quisesse usar, ele imediatamente comprometeu o seu dinheiro. Nós apostamos $10.000 e concordamos em jogar às 14h do dia seguinte. Antes de eu sair, apenas para evitar mal-entendidos, eu confirmei a aposta: nós iríamos jogar pingue-pongue de vinte e um pontos, com cada um usando raquetes de minha escolha. Eu cheguei no dia seguinte ao Bel Air Country Club preparado para a disputa. Quando Bobby me pediu para ver as raquetes, eu enfiei a mão na minha mochila e entreguei a ele duas frigideiras, de mesmo peso e tamanho, e disse que ele poderia usar qualquer uma. Bobby era o atleta mais bem-coordenado que já viveu, mas sacudia aquela frigideira como um cozinheiro ensandecido. Ele só começou a aprender a manejar a frigideira quando eu estava perto de derrotá-lo, mas foi tarde demais. Eu ganhei o jogo de 21 a 8, e poderia ter sido bem pior. Mais uma vez eu tinha provado que você pode ganhar a vida derrotando um campeão apenas usando a sua cabeça em vez do seu traseiro. A pessoa mais fácil de ser enganada no mundo é um enganador, e Bobby tinha mordido aquela isca feito um porco selvagem depois de uma enchente. Eu vinha praticando com aquela frigideira desde que o tinha encontrado em Houston, e depois que recolhi o dinheiro, apertei a mão de Bobby e nós rimos muito.

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TÍTULO: O Grande Malandro – Memórias de Amarillo Slim, O Maior Apostador de Todos os Tempos (Amarillo Slim in a World Full of Fat People) AUTOR: Amarillo Slim NÚMERO DE PÁGINAS: 322 PREÇO: R$ 75,00 DISPONÍVEL EM: www.raiseeditora.com


ELE ERA O FENÔMENO COM A BOLA. AGORA, VAMOS VER O QUE ELE SABE FAZER COM AS CARTAS.

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