Card Player Brasil Digital - 5

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ANO 5 - N.49

A ORIGEM DAS FIGURAS DO BARALHO

Aprenda como escolher suas aulas de poker

O DILEMA DO PRISIONEIRO E A TEORIA DOS JOGOS

AS LIÇÕES OBSCENAS DE UM JOGADOR DE SINUCA

Teamem Brasil Las Vegas


Jogue poker de graça. Este não é um site de apostas. Apenas maiores de 18 anos. O PokerStars se reserva o direito de mudar os prêmios garantidos e o calendário sem aviso prévio.


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eXPedieNTe diretor executivo renato lins editor bruno Nóbrega de sousa Tradução rodolfo moraes Farias Projeto Gráfico e diagramação diego bittencourt lud Fernandes Thiago Fosk Webmaster bernardo benevides Conteúdo Web Karen dias Jornalista marcelo souza Fotógrafo bruno mooca Colunistas Nacionais andré “dexx”, Christian Kruel, diógenes malaquias, Felipe mojave, Pedro Nogueira Colunistas internacionais alan schoonmaker, david apostolico, dusty schmidt, ed miller, Jeff Hwang, John Vorhaus suporte / saC Heliana de souza rosilene soares endereço raise editora ltda rua Pirapetinga, 176, serra CeP 30220-150 - belo Horizonte - mG Tel.: (31) 32252123 impressão Gráfica belo Horizonte distribuição dinap

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o aBisMo do aBsURdo

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esde os tempos em que CK e Raul começaram a desbravar os caminhos ainda inóspitos dos poker online, alheio à Black Friday, o poker brasileiro jamais tinha vivido fase parecida. Posso dizer com orgulho que presenciei o início de tudo. Primeiro como curioso, depois como praticante, e agora como jornalista. Nem mesmo os mais otimistas imaginariam que, em tão pouco tempo, teríamos por essas bandas torneios rivalizando com a WSOP, o EPT e o WPT – se ainda não em premiações, pelo menos em estrutura e organização. Circuitos como o BSOP, o LAPT e o recém-criado BPT não �icam devendo em nada às séries internacionais mais famosas. Mas não é só nos feltros que notamos esta evolução. Fora dele, a Confederação Brasileira de Texas Hold’em realiza um trabalho fundamental na regulamentação do nosso esporte mental. Até mesmo o canal de televisão mais in�luente do país rendeu-se a esse fato, com uma matéria sobre o título de André Akkari em Las Vegas. E não haveria de ser diferente, levando em conta que o mais tradicional canal de esportes do mundo sempre tratou o poker dessa forma. Quem, em sã consciência, haveria de dizer o contrário? Sim, amigos, o poker cresceu. Nunca o Brasil se deu tão bem na WSOP. Nunca tivemos, em um mesmo ano, tantos torneios com jogadores de qualidade. Nunca vimos nossas mídias de massa falar tanto sobre o poker. Sim, amigos, o poker brasileiro é uma realidade. Não beira o absurdo que as autoridades simplesmente não enxerguem – ou não queiram enxergar – isso? Marcelo Souza – Jornalista Responsável @marcelo_cardplr


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Sumário Especiais

Conteúdo

44. Best poker team brasil Vivendo o Sonho 70. Play Poker Alagoas O melhor do poker no NorteNordeste

6. Carta ao Leitor

76. Que Rei Sou Eu - A Origem das Figuras do Baralho

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16. Estratégia vs. Tática por Matt Matros 22. Vencedores Dos Championships Os campeões dos eventos mais

60. PLO no Poker After Dark por Jeff Hwang duros da WSOP 85. Página Rosa com Alessandra Braga

34. Sharks dos Pampas por Tio Max

10. DIÓGENES MALAQUIAS

30. PEDRO NOGUEIRA

36. André “dexx”

Coaching na Cabeça Nesse guia rápido, Diógenes revela que fatores você deve levar em consideração na hora de escolher as aulas de poker que melhor se adequam às suas necessidades enquanto jogador.

Bret Gordon Pedro cita e comenta as lições que aprendeu com Bert Gordon, personagem do livro “The Hustler”, de Walter Tervis, mostrando que uma obra sobre sinuca pode trazer muitos insights sobre poker.

De Maníaco a Nit Dexx desmistifica algumas ideias sobre os estilos de jogo, mostrando que não existe estilo vencedor ou perdedor, e sim que é preciso entender a lógica por trás de cada um.

66. CHRISTIAN KRUEL

80. Ed Miller

O Dilema do Prisioneiro Através de um dos problemas mais famosos da Teoria dos Jogos, CK apresenta ao leitor uma das armas mais importantes no poker, o “metagame”.

Tilt às Avessas Nesta edição, Ed Miller nos mostra o descontrole emocional sofrido pelos jogadores que, ao ganhar muitas fichas, ficam eufóricos e param de refletir bem sobre suas decisões.

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ComENTárioS

Diógenes Malaquias @diogenes1608

COACHING NA CABEÇA

GUIA RÁPIDO SOBRE AULAS DE POKER

E Diógenes Malaquias é fundador do site de treinamento universodopoker.com, onde dá aulas de cash game online.

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xistem diversas formas de evoluir como jogador de poker. São livros, revistas, vídeos, fóruns online e mais uma gama de ferramentas que nos auxiliam nesse sentido. Porém, uma delas em especial dá um retorno realmente acima da média: as aulas de poker, ou “coaching”. Olhando para trás em minha trajetória como jogador, percebo que acabei construindo outra carreira paralela, como professor. Além de ter jogado alguns milhões de mãos online, eu já trabalhei em algumas escolas de poker como instrutor de vídeos, de aulas particulares e em grupo. Eu também tenho aulas com jogadores mais evoluídos, e percebo o quanto isso me acrescenta. Pensando

nisso, é importante esclarecer alguns pontos e tirar algumas dúvidas para que você usufrua ao máximo dessa interessante alternativa para sua evolução enquanto jogador.

Conheça o preço

Quando o assunto é aulas de poker, vale dizer que os preços são todos em dólar e podem variar de $50 a $1.000 por hora, dependendo do professor. Para chegar a esse valor, o jogador leva em conta quanto ele ganha por hora jogando, quão “famoso” ele é e quanto vale o seu tempo.


Por exemplo, eu tenho um amigo que joga online na mesa nl-50, que tem blinds de 25-50 centavos. Ele deve ganhar algo em torno de $15 por hora jogando, assim, oferece coach para limites até nl-10 cobrando $15 por hora. O preço dele é calculado com base no seu ganho por hora, em que ele recebe, sem variância, o mesmo valor que ganharia jogando.

No diâmetro oposto estaria um jogador como Tom “Durr” Dwan, que cobra 6.500 dólares por hora. É mais do que ele ganharia jogando, mas, como Durr é um sujeito milionário e conhecido, esse é o preço do seu tempo. Vale ressaltar que, em média, o preço dos gringos é menor do que o dos professores nacionais, pois aqui no Brasil a oferta é muito menor. @CARDPLAYERBR

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ComENTárioS

Otimize a escolha Em outras palavras, quer dizer “aprenda o máximo possível pagando o mínimo possível”. Não contrate grandes coaches para lhe ensinar conceitos básicos. Isso você aprende em outros lugares, como em bons livros, por exemplo. Se você for iniciante, não adianta contratar os superpro�issionais para lhe dar aulas, pois o que você precisa aprender é o conteúdo do seu nível. Seria algo como colocar um professor com pós-doutorado para dar aula na pré-escola. Se você tiver dinheiro sobrando, vá em frente e contrate-o, mas tenha em mente que não é a opção ideal. O jogador iniciante precisa se preparar antes de tentar galgar voos mais altos. Quando isso acontecer, ele estará apto para fazer as perguntas certas e extrair o máximo de conhecimento dos professores mais caros. É assim que funciona. É o caso de um jogador de torneios recreativo que queira melhorar suas habilidades. Para ele, o ideal é contratar um professor vencedor em torneios de buy-ins médios, de $30 a $50 dólares. Por um serviço como esse, o preço de 60 a 80 dólares por hora está muito bem pago. Depois de fazer essas aulas, voltadas especi�icamente para o nível e o interesse dele, a tendência é que esse jogador recreativo se torne vencedor em torneios de buy-in pequeno. O próximo passo será estudar com alguém que vença torneios de $100 a $200 dólares. Naturalmente, a hora-aula custará mais caro. Só então – e se o jogador recreativo quiser adentrar nas minúcias do jogo – é que ele deve buscar a ajuda do superpro�issional. O investimento será caro, mas pode ser pago com o dinheiro ganho graças ao conhecimento adquirido com as aulas anteriores.

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SE VOCÊ FOR INICIANTE, NÃO ADIANTA CONTRATAR OS SUPERPROFISSIONAIS PARA LHE DAR AULAS. SERIA ALGO COMO COLOCAR UM PROFESSOR COM PÓSDOUTORADO PARA DAR AULA NA PRÉ-ESCOLA.


Busque professores atualizados A oferta de aulas de poker é vasta, principalmente em inglês, mas estou convencido de que quase nenhuma cobra um valor justo. A grande maioria é in�lacionada. Também é preciso �icar atento ao fato de que muitos jogadores se davam bem no poker até 2008 já não conseguem ser vencedores nos dias atuais. O poker está em constante evolução. Esses jogadores �icaram para trás. Um exemplo disso são jogadores como “whitelime”, que chegou a ter milhões de lucros nos cash games, e cobra $650 por hora para dar coach, mas que hoje em dia não é vencedor nos limites em que valeria a pena pagar um valor tão alto.

Já com Daniel “jungleman12” Cates acontece exatamente o contrário. Ele destrói nos jogos mais caros da atualidade e cobra $1.200 a hora. A diferença é que ele faz o investimento valer cada centavo. Para saber se determinado coach é bom ou não, você deve analisar, acima de tudo, seus resultados atuais. Também é interessante observar os posts que eles publicam em fóruns, principalmente sobre análise de mãos e conteúdo teórico. Falando por mim, eu não escolho um coach por causa da fama. Quanto a recomendações de ex-alunos, bem, isso também pode ser uma faca de dois gumes. Então, os critérios que eu utilizo para escolher meus professores são três: resultados, resultados e ainda resultados. Mais direto, impossível. Até a próxima. ♠

OS CRITÉRIOS QUE EU UTILIZO PARA ESCOLHER MEUS PROFESSORES SÃO TRÊS: RESULTADOS, RESULTADOS E AINDA RESULTADOS. MAIS DIRETO, IMPOSSÍVEL.

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“Já fiz várias apostas nessa vida. Mas quer saber, parceiro, em minha humilde opinião, eu não sou um apostador qualquer. Nunca saio em busca de um trouxa. Eu procuro um vencedor, e faço dele um trouxa...” Amarillo Slim

! e v e r Em b obiografia do maior

A aut de todos os tempos apostador


m i l S o l l i r a m A O Grande Malandro

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COMENTÁRIOS

Matt Matros mattmatros.com

Estratégia Pense menos em termos táticos e mais em estratégicos

Matt Matros é autor de The Making of a Poker Player. Ele é também técnico da cardrunners.com.

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á várias maneiras diferentes de se pensar sobre poker. Livros foram escritos ensinando a isolar tells físicas, a evitar o tilt, a analisar o jogo por meio de conceitos matemáticos e, é claro, a jogar mãos específicas em situações específicas. O poker é um jogo bastante atraente justamente devido à variedade de habilidades que exige. Mas como saber em quais dessas habilidades devemos nos concentrar? Muitas coisas podem ser importantes, mas a maioria de nós só consegue se concentrar em uma única coisa por vez. Não há como prescrever um método infalível para

vs.

TÁTICA todos, mas posso dizer que a maioria dos jogadores se beneficiaria se pensasse menos em termos táticos e se concentrasse mais na estratégia. Para aqueles que porventura não saibam a diferença (eu não sabia até pouco tempo atrás), estratégia se refere às decisões sobre o seu plano geral de jogo. Já táticas são mecanismos pelos quais você executa esse plano. Planejar jogar de forma agressiva, na esperança de ganhar mais potes do que seus oponentes, é uma


estratégia. Decidir se vai dar raise de três ou duas vezes e meia o big blind com um par de setes é uma tática, assim como decidir se dá raise ou fold com um flush draw, bem como todas as decisões que se baseiam em leituras ou intuição. Estratégia e tática são, obviamente, correlatas. O segredo é que ter uma estratégia clara pode simplificar bastante as decisões táticas, como você verá. A grande maioria das análises de poker são táticas. As pessoas querem saber o que fazer com AK depois de dar uma continuation bet, ou quão grande deve ser o stack delas para que possam semiblefar all-in no flop, ou se o espirro do oponente significa que ele está blefando ou apostando pelo valor. Essas análises são importantes: é praticamente impossível melhorar como jogador se você nunca debater consigo mesmo diante de uma decisão tática. Contudo, são as escolhas estratégicas que geralmente acabam determinando o nível de habilidade de alguém.

Durante minha carreira no poker, todas as vezes em que tive a sorte de avançar na minha compreensão do jogo, sempre houve uma mudança estratégica, não tática. Eis alguns exemplos: Quando comecei, eu tomei a decisão estratégica de focar não nos meus resultados, mas na minha evolução enquanto jogador. Portanto, eu evitava me tornar um daqueles jogadores (que eu conhecia tão bem) que aprendiam a ganhar nos jogos de limites muito baixos e nunca se preocupavam em adentrar em territórios mais arriscados. Eles ficam presos em determinado nível de habilidade para sempre. Durante minha investida inicial nos torneios de poker, minha estratégia era tentar fazer minhas fichas durarem o máximo possível. Mas eu só comecei a ser bem sucedido nos torneios depois que mudei isso e passei a ativamente tentar acumular mais fichas.

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ComENTárioS

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Muitos jogadores se apegam à ideia de que podem evitar situações de alto risco marginalmente lucrativas, pois são habilidosos o bastante para escolher apenas as situações de risco baixo e lucratividade alta. Eu também pensei assim durante um tempo. Mas, quando resolvi me encarar como um jogador mediano e me sentir satisfeito tirando proveito de toda situação lucrativa, eu me tornei um bom jogador de torneios. Antes de fazer tais ajustes estratégicos, eu era basicamente dinheiro morto. Nossa vantagem no poker advém de termos um melhor plano de ataque, uma melhor abordagem e uma melhor estratégia geral do que o outro cara. E, é claro, mudanças estratégicas conduzem a mudanças táticas. De fato, depois de decidir usar uma estratégia diferente, você se surpreenderá fazendo mais mudanças táticas do que jamais faria 18

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com a estratégia anterior. Digamos que você decida fazer um dos ajustes que mencionei acima, saindo de uma estratégia de sobrevivência e adotando uma de acumulação de fichas. E digamos que esteja diante de uma decisão all-in com J9 suited e odds de 2-1 sobre o seu dinheiro. Pela estratégia anterior, você talvez não passasse muito tempo pensando. Você simplesmente daria fold depressa, sabendo que tinha a pior mão, e sem querer se envolver em uma situação ruim. Utilizando a nova estratégia, você também não precisaria pensar muito. Você daria insta-call, sabendo que está recebendo o preço correto. Cada estratégia conduz a uma tática totalmente oposta.


Pode ser assustador implementar uma estratégia nova no seu jogo, e é por isso que algumas pessoas evitam fazer isso. Não caia nessa armadilha. O que assusta mais: experimentar novas ideias e testar abordagens diferentes no poker ou deixar de ter grandes lucros por estar preso à estratégia que sempre usou? Não há nada mais assustador do que permanecer estagnado. Alguns jogadores acham que têm certo estilo natural, seja ele tight-aggressive, tight-passive, loose-aggressive, maníaco ou o que quer que seja. Jamais caia nessa armadilha também. A única coisa que deve ser natural para você é o desejo de maximizar seus ganhos.

DePois De DeciDir Usar Uma estratégia DiFerente, vocÊ se sUrPreenDerá FaZenDo mais mUDanÇas táticas Do QUe Jamais Faria com a estratégia anterior. Se o seu estilo tiver que mudar para você poder faturar mais dinheiro no poker, que assim seja. Meu estilo de jogo favorito é qualquer um que me dê fichas. Eu propositadamente abordei pouquíssimos ajustes estratégicos nesta coluna, pois descobrir qual é a melhor estratégia para um jogador em particular é um processo altamente específico. Além disso, trabalhar em melhorias estratégicas no seu próprio ritmo é grande parte desse processo. Reserve algum tempo para pensar sobre seu plano geral nesse jogo louco que é o poker. É possível que mudanças drásticas na maneira como você pensa conduzam a um drástico aumento na sua conta bancária. ♠

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WSOP 2011

BRIAN RAST PLAYER´S CHAMPIOSHIP DE US$50.000

texto-base: Ryan Lucchesi

Até o início do prestigiado Player´s Championship de US$50.000, nenhum jogador havia ganhado mais de um bracelete nesta WSOP. Alguns dos 127 inscritos no evento tinham a chance de mudar a situação, mas precisariam superar o field talvez mais difícil do ano e competir em oito modalidades de poker. Um desses jogadores era o profissional Brian Rast, que ganhara seu primeiro bracelete da WSOP em um evento de pot-limit hold’em de $1.500 no começo de junho. No supertorneio, ele enfrentou adversários focados não apenas em abocanhar parte da prize pool de US$6.144.000, mas também em vencer para adicionar seu nome ao troféu Chip Reese. No final, Rast emergiu vitorioso do heads-up decisivo, derrotando Phil Hellmuth para se tornar campeão. JR: Você veio para Las Vegas e passou a disputar cash games high stakes. Porém, curiosamente, grande parte dos $3 milhões que você ganhou em sua carreira veio dos torneios. Você se considera um jogador de torneios ou de cash games? BR: Eu sempre fui mais jogador de cash do que de torneios. Meu foco sempre foi em encontrar a melhor ação, e frequentemente encontro isso nos jogos paralelos. Há uma razão para as pessoas gostarem de torneios. Eles são empolgantes e você tem a chance de ganhar um valor enorme, mas eles também são muito voláteis, e a variância sempre afeta algumas pessoas. Até esse ano, eu precisei me forçar a acreditar que minha hora estava próxima após tantas tentativas.

Os 12 trabalhos de Hellmuth O segundo colocado no Player´s Championship foi o folclórico Phil Hellmuth, recordista de braceletes da WSOP, com 11. Ele ficou em 2º lugar outras duas vezes na World Series desse ano.

JR: O evento $50.000 Players Championship é composto por oito jogos e um field que inclui os melhores jogadores do mundo. Nesse torneio, como você aborda as modalidades que lhe são mais fáceis? BR: Eu estava um pouco à frente da turma quanto aos mixed games. Não sou um expert, mas passei um ano ou dois trabalhando nisso. Eu meio que parei no último ano, mais ou menos, simplesmente porque queria focar em cash games de no-limit hold’em e pot-limit Omaha, mas no geral eu costumo ser bastante sólido em diversas variantes do poker. Eu tento gerar um pouco de ação durante as rodadas de pot-limit Omaha. Todo mundo era competente em no-limit, então eu tirei proveito do jogo fraco de Omaha de alguns. Fiquei aliviado quando chegamos à mesa final e passamos a jogar exclusivamente no-limit hold’em. ♠ CARDPLAYERBR

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“ELKY”

BERTRAND GROSPELLIER SEVEN-CARD STUD CHAMPIONSHIP DE US$10.000 texto-base: Ryan Lucchesi

Antes do poker, Bertrand Grospellier já era uma lenda dos games, mais especificamente de Starcraft, do qual foi campeão mundial. Com sua vitória na WSOP 2011, ele deu mais um passo para tornar-se uma lenda também no pano verde: “ElkY” ganhou o Seven-Card Stud Championship de $10.000, embolsou $331.639 e conquistou seu primeiro bracelete. Com a vitória, ele se tornou o quarto jogador a ganhar a Tríplice Coroa, apenas seis anos depois de migrar para a arena live. Seu título da WSOP se juntou ao do PokerStars Caribbean Adventure 2008 e ao do WPT Festa al Lago 2008, dando ao francês a tão cobiçada honraria do poker. Entenda um pouco melhor o pensamento de “ElkY” com relação ao Seven Card Stud. RL: Você já afirmou que um dos seus pontos fortes no poker é a observação. Esse é um aspecto importante do seven-card stud. É por causa dessa habilidade que você conseguiu aprender tão rápido? BG: Isso foi muito importante, e realmente me ajudou muito. É uma qualidade que lhe ajuda bastante quando você precisa saber quantos outs tem, dependendo de qual você acha que seja o bordo e que cartas foram distribuídas, e ajuda muito quando você está decidindo com que mãos deve começar a jogar. Esse foi o problema quando ficamos short-handed, pois você não vê tantas cartas. RL: Com sua experiência atual, que conselho você daria aos jogadores que querem aprender seven-card stud? BG: É muito importante permanecer sempre focado. Há algumas situações em no-limit hold’em nas quais, se você tiver uma mão ruim, é bom conhecer o ritmo do jogo, pois você não vê tantas cartas, então sabe quando ficar longe da ação. Mas em stud, se você desviar a atenção da ação durante cinco segundos e três jogadores descartarem, você não sabe quais eram as cartas deles. Se um jogador descartar e um rei já tiver ido para o lixo, e você tiver um rei aberto, isso pode mudar demais a ação e a dinâmica. Mesmo que você tenha uma boa mão e suas cartas abertas sejam fortes, eles não lhe respeitarão tanto, pois um rei já está morto. Há muitas coisas a se observar. É muito importante prestar atenção a cada minuto do jogo. ♠

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Outro feito impressionante:

Elky é também o jogador que detém o recorde de mais mesas jogadas ao mesmo tempo na internet, com 62 mesas simultâneas


WSOP 2011



WSOP 2011

JAKE CODY HEADS-UP CHAMPIONSHIP DE US$25.000

texto-base: Ryan Lucchesi

Para Jake Cody, a vitória no Heads-up Championship de US$25.000 foi a cereja do bolo de uma boa fase que começou em 2010, quando ele cravou o EPT Deauville, faturando US$1.199.037, e também o London Poker Classic, que lhe garantiu mais $425.492 dólares. Com os US$851.192 recebidos na WSOP, seus ganhos na carreira saltaram para $2.901.131. Além disso, ele conseguiu uma proeza até então exclusiva de dois jogadores, o norte-americano Gavin Griffin e o também britânico Roland de Wolfe: Jake Cody se tornou o terceiro, e mais jovem, detentor da Tríplice Coroa do Poker. Confira algumas dicas de Jake Cody para Heads-Up: RL: Como você se prepara para um torneio heads-up? JC: Antes de jogar, principalmente torneios live, eu grindava um pouco heads-up online. Ultimamente tenho assistido a muitos vídeos de treinamento heads-up high stakes.

O caminho de Jake Cody rumo ao título: 1ª fase: Brandon Adams 2ª fase: Frank Kassela 3ª fase: Dani Stern Oitavas: Jonathan Jaffee Quartas: Anthony Guetti Semifinal: Gus Hansen Final: Yevgeniy Timoshenko

RL: Que conselho você daria para os jogadores que querem começar a jogar mais heads-up? JC: Considero muito importante ser destemido e autocrítico. Mesmo que você ache que está jogando bem, ainda assim deve considerar algo a mudar e melhorar. Também é preciso ser muito flexível ao jogar heads-up. Uma das coisas mais importantes aqui é se ajustar aos seus oponentes para combater seus estilos. Não facilite para eles. Seja sempre aquele que faz com que eles respondam perguntas. RL: Se um jogador tiver uma forte leitura sua no heads-up, como você tenta mudar sua estratégia? JC: Eu costumo desacelerar as coisas e gastar alguns segundos em cada decisão que tomo. Quando o cara está puxando todos os potes, é como se tivesse levado você para as cordas, mas isso também pode ser uma estratégia sua para esfriar a luta. No futebol, seria como ficar trabalhando a bola no campo de defesa até encontrar os melhores espaços.♠

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CrÔNiCA

pedro Nogueira @pedronogueira87

Bert gordon

e as liÇÕes de uM personageM canalHa de uM livro soBre sinuca

Pedro Nogueira é jornalista, já disputou torneios internacionais de poker, como a WSOP Europe, e é blogueiro da revista Alfa, da Editora Abril.

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empre tive certo fascínio pela sinuca. E, nos últimos tempos, um impulso súbito vem me levando a consumir um número considerável de livros sobre o jogo. Não são livros, devo notar, de técnicas ou estratégias. Tratam-se, simplesmente, de histórias que giram em torno da mesa. Apenas neste mês, li quatro. Dois de

ficção, duas biografias. Assim que os terminei, encomendei outros três na Amazon. O que posso afirmar, depois de muita leitura e pesquisa, é o seguinte: se há um autor que se destaca dos demais, ele é o americano Walter Tevis (1928-1984). São dele os romances “The Hustler” e “The Color of Money”, ambos adaptados ao cinema em ótimas produções. O primeiro, com Paul Newman no papel prin-


cipal de Fast Eddie Felson, recebeu em português o título de “Desafio à Corrupção” (sabe-se lá por quê). No segundo, Tom Cruise, então aos 23 anos, juntou-se a Newman no elenco. “A Cor do Dinheiro”, aliás, foi dirigido por Martin Scorsese. Apesar de “A Cor do Dinheiro” ter um bom enredo, não há dúvidas de que Tevis atingiu o apogeu de sua inspiração em “The Hustler”. O motivo? O personagem Bert Gordon, um empresário canalha e sem ética que, no entanto, tem um conhecimento profundo da psicologia humana. Com sua atitude arrogante, Bert está presente nos melhores diálogos do livro. Ele é um verdadeiro filósofo do jogo.

Digo “jogo” porque as conclusões que Bert faz não se limitam, apenas, à sinuca – mas ao jogo numa dimensão maior. Muitos de seus conceitos se aplicam, também, ao poker. “Sinuca não é como futebol americano. Ninguém paga você por jardas. Quando você está apostando, o placar é realmente simples. No fim do jogo, você conta o dinheiro. É assim que você descobre quem é o melhor. É o único jeito”. Parece óbvio. Mas será que é? Já vi dezenas de jogadores aplicando jogadas incríveis na mesa de poker (seja pagando um blefe ou fazendo um outplay) e, mais tarde, deixando o jogo zerados. Muitas vezes, aliás,

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CRÔNICA

Muitas vezes, aliás, eu fui esse jogador. Satisfeito por praticar moves épicos e esquecendo o que realmente odds e contar cartas – eu sabia quando tinha 15 anos. Mas o homem que importa: sair da mesa com o ganha o jogo é aquele que busca as grandes apostas, cria coragem e tem lucro. o caráter de olhar para cinco adver-

eu fui esse jogador. Satisfeito por praticar moves épicos e esquecendo o que realmente importa: sair da mesa com o lucro. “Além disso, se você está apostando dinheiro, mantenha a sua cabeça limpa. Você começa a beber uísque enquanto joga e o álcool lhe dá uma desculpa para perder. Isso é uma coisa de que você não precisa, uma desculpa para perder”. Depois, Bert completa: “E ganhar, isso pode ser pesado nas suas costas. Você solta esse peso quando encontra uma desculpa. Então, tudo que você precisa fazer é

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aprender a sentir pena de si mesmo. É um dos melhores esportes, sentir pena. Apreciado por todos. Especialmente os perdedores natos”. A conversa acima aconteceu depois de Fast Eddie, um jovem de talento ímpar, enfrentar Minnesota Fats, então considerado o maior jogador do país. Na primeira metade do jogo, Fast Eddie dominou seu adversário completamente. Assim, provou a todos – e a si mesmo – que era o melhor. Mas, no fim da sessão, que durou mais de 20 horas, Minnesota Fats prevaleceu. Por quê? Segundo Bert, pela falta de caráter de Fast Eddie. “Quando você está apostando uma grande quantia de dinheiro, joga mais o jogador do que as cartas. Como no poker. Todo mundo sabe jogar as

sários e fazer a aposta que ninguém pensou. Não é sorte. O que você pode fazer é jogar a porcentagem e, quando a aposta crítica aparecer, segurar o estômago firme e empurrar pesado”. Bert Gordon é um dos anti-heróis mais interessantes que já encontrei na literatura. Abjeto, cruel e sem escrúpulos. Mas, ao mesmo tempo, praticante de uma filosofia de jogo perfeita. Que, se aplicada da maneira correta, pode ajudar muito na mesa de poker. Para mim, pelo menos, tem funcionado. ♠


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IOMA por T

Um dos que participaram da aventura dos “Sharks dos Pampas” em Las Vegas foi o porto-alegrense Rafael Cohen, que disputou o evento #28. Depois de passar short para o Dia 2, Cohen conseguiu manterse no jogo até alcançar o primeiro ITM gaúcho na Série Mundial. Ele foi 197º colocado e embolsou cerca de US$3 mil. Rafael Martins, campeão gaúcho em 2010, também não ficou para trás. Jogando o evento #52 de Mixed Hold’em, ele também conseguiu entrar na faixa de premiação. Esse também não teve vida fácil. Durante quase todo o torneio, quem esteve em sua mesa foi ninguém menos do que Mike “The Mouth” Matusow. Dentre 580 inscritos, Rafael terminou na 53ª posição. Marcelo Fonseca, craque do Rio Grande do Sul que tem no currículo uma mesa-final do LAPT e outra do BSOP, embora não tenha tido nenhum resultado expressivo na WSOP, só não fez chover nos eventos do Caesars. Com diversas mesas finais e vários ITMs, Marcelinho saiu de Vegas lucrando mais de 10 mil dólares. Só que a epopeia gaúcha precisava de um resultado expressivo. E veio. No último evento de no-limit antes do Main Event, Cassimiro “CASHmiro” Lima jogou o fino. Ao longo de todos os dias ele enfrentou adversários de peso, como o profissional Gavin Smith, que foi completamente anulado pelo gaúcho. Aplicando raises e reraises a todo o momento, ele colocou enorme pressão em seus adversários, que ficaram completamente perdidos. Infelizmente, o poker agressivo de Cassimiro “colocou um alvo” em suas costas. E um jovem francês, cansado de apanhar na mesa, acabou dando um péssimo call contra o brasileiro. Para tristeza da torcida, o turn acertou em cheio a mão do gringo. Fim de torneio para Cassimiro. Passada a tristeza pela bad beat, veio a alegria pela 20ª colocação e pelo prêmio de US$22 mil. Agora é continuar trabalhando duro, porque no ano que vem o Rio Grande do Sul e seus “Sharks” prometem mostrar ainda mais força e, quem sabe, trazer um bracelete para o Brasil.


ANáLiSE

andré dexx @dexx_rj andredexx.com

DE NIT A MANÍACO UM SOBREVOO SOBRE OS ESTILOS DE JOGO

andré “dexx” é instrutor do site tvpokerpro.com e um dos mais respeitados jogadores de cash games online do país.

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uito se fala em estilos de jogo. Agressivo, passivo, tight, loose e por aí vai. Mas será que há um estilo claramente vencedor? O que é verdade e o que não é quando o assunto são as posturas de jogo? Neste artigo, vamos conversar um pouco sobre isso. Já começo dizendo que não existe estilo vencedor ou perdedor: há jogadores vencedores em todos os estilos. O importante é entender a lógica com que cada estilo explora o jogo, e como eles conseguem obter uma vantagem quando as cartas estão na mesa e a ação a todo vapor.

Antes, porém, uma ressalva: a maioria esmagadora dos jogadores vencedores adota uma estratégia agressiva. Na hora extrair mais dinheiro de situações marginais (jogando com um par, por exemplo), eles contam tanto com sua postura agressiva quanto com a possibilidade de o oponente dar fold, a famosa fold equity. Além disso, são sujeitos que blefam bastante, nem sempre de forma ponderada. Em outras palavras, o grande objetivo quando se joga de maneira agressiva é induzir calls de mãos piores e representar mãos mais fortes visando a expulsar oponentes.


Partindo da premissa de que a agressividade deve ser nossa pedra de toque, vamos dar uma olhada nos estilos que mais nos interessam, na teoria e na prática.

Loose-Agressive (LAG)

É o mais comum entre os jogadores vencedores. Sua lógica consiste em jogar um volume grande de mãos. Estatisticamente, algo próximo de 25%. Na terminologia do poker, seria um valor em torno de 25 VPIP e 20 PFR, índices dos softwares de captação de dados que mostram a porcentagem de vezes que um jogador entrou voluntariamente no pote (Voluntarily Put money In Pot) e a sua porcentagem de raises antes do flop (Pre-Flop Raises). @cardplayerbr

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COMENTÁRIOS O GRANDE OBJETIVO QUANDO SE JOGA DE MANEIRA AGRESSIVA É INDUZIR CALLS DE MÃOS PIORES E REPRESENTAR MÃOS FORTES VISANDO A EXPULSAR OPONENTES.

Com isso, o LAG consegue uma imagem de jogador solto e agressivo, que não está selecionando tanto as mãos. É desse modo que ele consegue ação de mãos piores, fazendo disso o fundamento de sua estratégia para arrecadar o máximo de dinheiro das mesas. Ainda assim, um bom jogador que adote o estilo loose-aggressive consegue tanto escolher suas mãos com qualidade como também usar a agressividade seletiva. Na prática, esse estilo tende a se deparar com cenários mais ou menos assim: o herói está em middle position e o vilão, no big blind. O herói tem AQ, KQ ou QJ e aposta no flop, no turn e no river, extraindo valor com essa mão nas três streets, em um bordo com Q7258. O vilão, em razão da imagem do herói, possivelmente mostraria algo como Q9.

Maníaco (LAG Extremo)

Há ainda uma extensão do estilo loose-aggressive, uma ala radical, mais insana, que poucos jogadores vencedores adotam. Nesse LAG extremo, os maníacos jogam algo em torno de 30 a 40% das mãos. Usando o fato de terem um range muito amplo, eles conseguem extrair valor de mãos marginais e frequentemente intimidam os oponentes, que acabam desistindo do pote. O estilo maníaco é bastante difícil de se dominar, já que torna extremamente fácil passar do limite da agressividade, ou mesmo entrar no modo tilt, e começar a vomitar fichas.

Tight-Aggressive (TAG)

O segundo estilo mais utilizado pelos jogadores vencedores. Aqui, dá-se muita atenção à seleção de mãos pré-flop, caso em que se consegue uma qualidade de mãos superior a dos oponentes tanto antes quanto depois do flop. Um jogador forte atuando no estilo TAG também consegue se aproveitar desse fato para expulsar seus oponentes do pote, blefando com muito mais facilidade. 38

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Por outro lado, jogadores nesse estilo são obrigados, muitas vezes, a parar de atacar. É o caso do exemplo a seguir, em que o herói, por ser um jogador TAG, resolve extrair valor só no flop e no turn. Isso acontece porque, se ele apostar no river, só receberá ação de mãos melhores que a sua. Faz parte da lógica do estilo tight-aggressive. O herói está em posição intermediária e o vilão, no BB. O herói tem AQ, KQ ou QJ, e aposta no flop e no turn, e, assim como o oponente, dá check no river. Dessa forma, ele extraiu valor em apenas duas streets, em um bordo com Q7258. O vilão mostraria algo como Q9. @cardplayerbr

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ANÁLISE

SE POR UM LADO É VERDADE QUE O ESTILO LAG TORNOU-SE O MAIS LUCRATIVO EM RAZÃO DA PASSIVIDADE DOS OPONENTES DE OUTRORA, POR OUTRO LADO É BOM FICAR ATENTO AO FATO DE QUE, EM RAZÃO DA AGRESSIVIDADE DOS JOGOS DE HOJE, A POSTURA NIT DEVERÁ SER UM POUCO MAIS EXPLORADA DAQUI PARA FRENTE.

Nit (TAG Extremo) Na outra extremidade do pêndulo, em contraponto aos maníacos, temos os jogadores exageradamente tight, os chamados nits. É cada vez mais raro encontrar alguém com essa característica que seja bem sucedido no poker moderno. Afinal, as escolas de poker ao redor do mundo pregam o estilo LAG. Entretanto, se por um lado é verdade que o estilo loose-aggressive tornou-se o mais lucrativo em razão da passividade dos oponentes de outrora, por outro é bom ficar atento ao fato de que, em razão da agressividade dos jogos de hoje, a postura nit deverá ser um pouco mais explorada daqui para a frente.

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A dificuldade de se adotar esse estilo é determinante para que ele seja impopular. Assim como acontece com os maníacos, os nits jogam de modo completamente diferente do que ensinam as escolas de poker. O tight-aggressive extremo precisa prestar muito mais atenção na hora de extrair valor de uma mão, pois qualquer agressividade a mais pode ser usada contra ele mesmo. Como o range de um nit é sempre forte, ele acabará recebendo ação apenas de mãos melhores, e perderá dinheiro. No fim das contas, a principal preocupação do TAG extremo é não se tornar previsível, sendo obrigado a jogar passivamente suas mãos e a usar a agressividade do oponente

contra ele mesmo – ou seja, fazendo muitos slowplays. O nit também deve usar a qualidade das suas mãos em seu favor, tanto no sentido de extrair valor como para blefar com mais eficiência, aproveitando-se de sua imagem. A questão é que existem grandes jogadores em praticamente todos os estilos. Independentemente da opção escolhida, o mais importante é saber usar as ferramentas corretas de cada um, e nunca fechar a cabeça para novas possibilidades. Como você já deve ter percebido, no poker como na vida, os mais criativos levam vantagem. Sempre. ♠


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ê c o v e u q a r a p d i l o i d u n q a n h a l r a t b m o Tra c r e k o p e u q i t a pr

G

OR . H T B WW.C


o d n e v i V o

h n o o S lo Souza

por Marce

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a g a V a d a t s i u q A Con Ano passado, logo depois de ver Luis Campelo, Gamarra e companhia na World Series Of Poker, em Las Vegas, eu havia tomando uma decisão: eu disputaria o CBO. Acompanhar todos os jogadores apenas da torcida me fez perceber o quanto eu queria estar do outro lado. Eu sabia que não seria fácil vestir a camisa do Best Poker Team Brasil, mas acreditava que era possível buscar uma das vagas, afinal, eram 30 este ano. O início foi desanimador. Acabei perdendo várias etapas por causa de compromissos de trabalho e não pude me dedicar o quanto eu gostaria. Por outro lado, Marcos Sketch, um dos principais nomes do poker nacional, tinha começado de maneira arrasadora, cravando a segunda etapa e chegando à mesa final nas duas seguintes. Ali, eu achei que a vaga do Main Event já tinha dono, mas não foi bem assim.

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A definição do Campeonato Brasileiro Online ficou mesmo para última etapa. E foi sofrida. Sketch, Yuri ”xapalapadio” Fonseca e “LFT.14” chegaram à mesa final brigando pela vaga do Main Event. Logo de cara, “LFT.14” foi eliminado em 10º lugar e teve que se consolar com o terceiro lugar no ranking geral. Yuri caiu em oitavo, mas ainda tinha chances.


Com a eliminação de seus principais concorrentes, Sketch precisava chegar ao heads-up para conquistar o CBO 2011. Infelizmente para ele, o sonho que parecia tão próximo começou a se transformar em pesadelo quando os short stacks começaram a conseguir sucessivas dobradas. E foi pelas mãos de um desses jogadores com poucas fichas que Marcos Sketch acabou caindo em 6º lugar. Yuri “xapalapadio”, que estava “secando” Sketch, como ele mesmo me contou no aeroporto, no embarque para Vegas, viu a vaga do Main Event cair em seu colo, e sagrou-se o grande campeão do CBO. Quanto a mim, fui punido pela falta de planejamento. Ao final das 16 etapas, eu era o 77º do ranking. Restava tentar as vagas nos Sit and Go´s da repescagem, que seriam minhas últimas chances de conseguir um lugarzinho no time (dê uma olhada em “Entenda o CBO”). Para piorar, acabei perdendo as duas primeiras repescagens. Eu só teria mais uma chance. Aos 48’ do segundo tempo, finalmente consegui. Em um torneio relativamente tranquilo, em que só coloquei meu stack em risco uma única vez, superei quase sessenta jogadores e comemorei, junto com “betodalu” e “pitaoufmg”, que me acompanharam durante o jogo, meu tão sonhado passaporte para a WSOP.

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a h c i F a Cai Apesar da vaga assegurada, a ficha só caiu mesmo alguns dias antes da viagem. A ansiedade veio sem aviso: “Vou disputar um evento da World Series Of Poker”, eu pensava, perplexo. Por diversas vezes me imaginei jogando com lendas do poker como Phil Hellmuth, Johnny Chan e Doyle Brunson. E quanto ao bracelete, quem não sonha em ganhar um? Ali, eu começava a entrar no clima da World Series, sempre com aquela ponta de esperança de que eu poderia conseguir a cravada da minha vida em Las Vegas. Os dias até a data de embarque passaram voando. E aqui preciso fazer uma menção a dois sujeitos: Thiago Moreira e Rodrigo Duarte, do Best Poker. Os dois representantes do site trabalharam muito bem e fizeram com que nós, jogadores do Team Brasil, não precisássemos nos preocupar com muita coisa além de jogar poker.

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Luíz Portnoi


“ Vegas, Baby! A chegada em Las Vegas é sempre sensacional. Mesmo sendo minha terceira passagem pela “Sin City”, eu me sentia como se estivesse vivendo aquilo pela primeira vez. Antes mesmo de pousar você entende porque a cidade atrai milhões de turistas dos quatro cantos do mundo: ainda de dentro do avião é possível avistar os hotéis, aquelas construções faraônicas dedicadas ao entretenimento de milhões de pessoas todos os anos. Não dá para descrever a sensação de estar em Vegas. Em vez de colocar no papel, eu sugiro que todo mundo que é louco por poker simplesmente vá até lá e veja com os próprios olhos.

Após sair do aeroporto, nosso destino seria o hotel MGM Grand, um dos maiores do mundo. São mais de 5.000 quartos, um cassino que parece não ter fim, lojas a perder de vista e até jaulas com leões de verdade, sem falar na mundialmente famosa MGM Grand Garden Arena, que já recebeu em seu palco estrelas como os Rolling Stones e Paul McCartney, e também eventos antológicos como a luta entre Evander Holyfield e Mike Tyson – aquela mesmo, da mordida na orelha.

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Como se não bastasse, no final de semana do nosso evento seria realizado ali o UFC 132. Eu mal podia acreditar que estava hospedado a poucos metros de onde aconteceriam as lutas que todo mês eu acompanho pela TV. E não é que eu acabei andando lado a lado com Chuck Liddell e seu cabelo moicano inconfundível? O ex-campeão do UFC atravessava os salões do hotel enquanto vários fãs o abordavam. E mais, em que lugar do mundo eu teria visto Bruce Buffer, a voz marcante do UFC, e logo em seguida o ator Kevin James, famoso pelas pataquadas em comédias hollywoodianas? Acho que só em Las Vegas mesmo. Mas voltemos ao que interessa: poker.

Vivendo o Sonho O Best Poker Team Brasil foi formado por 27 jogadores vindos de todos os cantos do país. Nossa missão era levar a bandeira brasileira o mais longe possível no Evento #54 da WSOP. E todos sabiam que a tarefa seria difícil: por causa do buy-in de US$ 1.000, começaríamos com apenas 3.000 fichas e provavelmente enfrentaríamos um dos maiores fields da história da WSOP. Assim, um simples erro no início do torneio poderia lhe custar todo o stack. O Dia 1A foi realizado em 02 de julho, mas apenas oito jogadores do time entrariam em campo. Foi o caso de Luis “luanpeju” Campêlo, Afrânio “apa_rj”, Luis “snakecobra”, Daniel “danielg28”, Luis “portiba”, Marcos Sketch, Brian “black.chip”, e o campeão do CBO 2010 “Betodalu”. Eles foram para o pano logo no sábado, mas apenas “luanpeju” conseguiu avançar.

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Optei por jogar o Dia 1B, como o restante do time. Nosso grupo era formado pelos 20 jogadores restantes do Best Poker Team Brasil, além do próprio campeão do CBO 2011 Yuri “xapaladio”, que, mesmo tendo vaga garantida no Main Event, resolveu pagar o buy-in do evento e se juntar ao esquadrão. Os blinds começavam em 25-25, subindo de hora em hora. Apesar de não demonstrar, eu estava muito ansioso, não tenho vergonha de admitir. Logo nas primeiras mãos tive meu momento “donkey”, em que você não quer receber cartas como JJ, AJ, AQ ou até AK, simplesmente por medo de jogar e se complicar. Para embolar ainda mais o meio de campo, na minha canhota estava um detentor bracelete (depois fiquei sabendo que era um tal de Peter Smurfit, irlandês campeão de Pot-Limit Omaha em 2007). Ali, percebi que realmente estava sentindo a pressão, mas esperava que fosse momentânea. Pelo menos no futebol, as coisas voltam ao normal depois que a bola rola, e eu esperava que na WSOP fosse igual. E foi.

Em menos de duas órbitas coloquei minha cabeça no lugar e mantive o foco. Nunca joguei um torneio tão concentrado. Eu estava sem fones de ouvidos, sem conversar na mesa e por aí vai. Pude dar o melhor de mim. Minha estratégia era jogar agressivamente quando recebesse mãos fortes, e não desperdiçar fichas com as especulativas. Mas logo no segundo nível de blinds minha estratégia caiu por terra... Depois de acertar dois pares no flop, três cartas de copas no bordo deram um flush ao meu oponente. Fiquei com apenas 1.300 fichas. Em poucos minutos, os blinds iriam para 50/100, e eu ficaria em situação muito delicada.

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“ s t u O s Trê Trocando a marcha e acelerando um pouco o jogo, consegui puxar alguns potes. Ao término do quarto nível, eu estava de volta, com 4.000 fichas, e bem mais confiante. Na volta do segundo break eu teria quase 30 big blinds, e outros oito companheiros de time seguiam vivos. Túlio Sá, com 15.400 fichas, era quem estava em situação mais confortável. O quinto nível de blinds começou com dois jovens muito agressivos sendo colocados à minha esquerda. Isso, aliado ao fato de que só estava recebendo mãos marginais, me fez cair perigosamente para 2.800 fichas. O início do sexto nível trouxe meu primeiro par de reis do torneio, e consegui eliminar um short stack. Pouco depois, outra grata surpresa, um inédito par de ases. Escondendo a força da minha mão até o river, puxei outro belo pote. Agora, com blinds em 100-200 e antes de 25, eu estava na casa das 6.000 fichas.

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O sexto nível já se encaminhava para o final quando eu fui do céu ao inferno em duas mãos. Na primeira, puxei um pote de quase 3 mil fichas ao acertar um bom call com Ace-high no river. Confiante, só conseguia pensar, “agora vai”. Mas o banho de água fria veio poucas mãos depois. Lembro perfeitamente que faltavam nove minutos para o break, quando recebi QQ nas posições iniciais da mesa. Aumentei para 525 e vi todos darem fold até o chip leader da mesa, que era o mais ativo até ali. Ele me olhou por alguns instantes e anunciou um reraise para 1.700. A ação voltou para mim, e um turbilhão de imagens e pensamentos invadiu minha cabeça. Shove? Call? Reraise? Depois de pensar em apenas pagar, decidi que o all-in era a melhor jogada. Eu sabia que ele poderia me pagar com mãos piores, já que seus reraises não vinham sendo respeitados na última órbita – e um detalhe que não mencionei: meu call de A-high tinha sido contra ele. Empurrei minhas 8.000 fichas restantes e vi em seu rosto uma expressão que parecia dizer: “ninguém me respeita nesta mesa?”. Ele rapidamente anunciou o call. Eu estava sem meus óculos e, quando ele virou um ás e uma figura na outra ponta da mesa, imaginei que era ás e rei. Olhando melhor, vi quer era uma dama. Eu era favorito. Infelizmente, o sentimento de alegria acabou logo no flop, quand o dealer mandou uma azeitona no bordo. Era o ás que não podia bater, mas bateu. Fim do torneio para mim. Fim do sonho.


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Meu primeiro sentimento foi de revolta. “Pô, como o cara coloca a metade do stack em um A-Q?” Mas de cabeça fria, conversando com amigos e outros jogadores mais experientes, fui ficando mais calmo. Restava torcer pelos únicos representantes do Best Poker Team Brasil que conseguiram avançar para o Dia 2, Túlio Sá e Luís Eduardo “luanpeju” Campelo. E eles não decepcionaram. Dos 4.576 jogadores que compuseram o segundo maior field da WSOP fora os Main Events, cerca de 500 ainda estavam na briga pelo título no Dia 2, e 463 ficariam ITM. Não deu nem pra dizer que a o estouro da bolha foi emocionante, já que não demorou nem meia hora para que os premiados fossem conhecidos. E os dois representantes dos Best Poker seguiam firmes e fortes. Curioso é que, em 2010, Túlio Sá também havia jogado o torneio pelo Best Poker Team Brasil e também havia ficado ITM. Já Luís Eduardo Campelo estava na torcida pelo seu irmão e xará Luís “TATOAA” Campelo, que, assim como Túlio, também entrara na zona de premiação defendendo as cores do Team Brasil em 2010. Pena que a saga dos dois últimos sobreviventes terminou antes da hora. Túlio caiu na 263ª colocação e embolsou US$ 2.676. Luís Campelo se envolveu em um allin triplo pouco depois. Com A♥K♥, ele viu seus adversários mostrarem par de dez e de damas. Parecia um bom cenário, mas o par de dez acabou levando a melhor com um straight. Luís se despediu do torneio na 199ª posição, faturando US$ 3.088. As duas premiações alcançadas pelo Best Poker Team Brasil talvez tenham sido pouco se levarmos em conta o tamanho do time. Mas poker é assim mesmo. Ao final, a sensação foi de dever cumprido. Sem dúvida o CBO é campeonato único, que realiza o sonho de 30 jogadores de participar da maior série de poker do mundo. E a boa notícia é que você não precisa ser nenhum gênio para fazer parte desse time. Querem exemplo melhor do que o meu? Sou jornalista, jogador recreativo, mas pude realizar o sonho de jogar uma WSOP graças ao CBO. E junto comigo, outros tantos. Certamente, o Campeonato Brasileiro Online pode nos proporcionar uma experiência inesquecível. E em breve tem mais. A temporada 2011/2012 começa em algumas semanas. Serão outras 30 vagas, e eu certamente estarei de novo na briga por uma delas. ♠

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Entenda O CBO

O

Campeonato Brasileiro Online do Best Poker é uma das maneiras mais fáceis de ir para Las Vegas e jogar a WSOP com todas as despesas pagas. São 30 pacotes, sendo um deles para o Main Event, incluindo passagem, hospedagem e buy-in. É possível adquirir o pacote completo antecipado, com desconto, que dá o direito de jogar todas as 16 etapas. O jogador também pode pagar o buy-in de cada etapa separadamente. Os torneios ocorrem aos domingos, a cada 15 dias. Além das 16 etapas regulares, existem ainda pelo menos outras três oportunidades de conseguir a vaga através da repescagem. Confira como conseguir sua vaga:

CLASSIFICAÇÃO DIRETA É feita através do ranking geral. Os 20 melhores jogadores após as 16 etapas regulares ganham o pacote diretamente. O campeão leva uma vaga para o Main Event de $10.000 dólares. REPESCAGEM (SIT ‘N GO) a) Os jogadores entre as posições 21 e 50 no ranking geral disputam um torneio exclusivo, valendo três vagas. b) Os jogadores entre as posições 51 e 100 no ranking geral disputam um torneio exclusivo, valendo uma vaga. c) Os jogadores que adquiriram o pacote antecipado disputam um torneio exclusivo, valendo três vagas. d) Os jogadores que participaram de pelo menos 12 etapas disputam um torneio exclusivo, valendo três vagas.

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Buy-in: US$ 1.000 Prizepool: US$ 4.118.400 Field: 4.576 inscritos

Team Brasil 2011

Eduardo Gonçalves - “scorrido”

Israel Pereira - “israel.lopes”

Oliveiro Ribeiro - “oliveirojr1” 56

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André Silva - “decoribeiro”

Brian Bernardo - “black.chipp”

Eduardo de Lima - “cerebro bh”

Ernesto Antônio - “disampa”

Luíz Portnoi - “portiba”

Renato Lins - “thenewphase.”

Marcelo Souza - “tpawner”

Yuri Fonseca - “xapalapadio”


WSOP Evento #54

Celso Adami - “celsoa”

Claúdio Ramos “claudioRam0s”

Daniel Gassman “danielg28”

Afrânio Perez “apa_rj”

Luciano Oliveira - “lutifarnese”

Guilherme Chenaud - “g.chenaud”

Henry Ducret - “jucabalajj”

Luíz Grandini - “snakecobra.”

Marco Oliveira - “mapof”

Marcos Cerqueira - “m.cerqueira”

Marcos Sketch - “sketch1967”

Luís Campelo - “luanpeju”

Zaldo Natzuka - “gamarrafcp”

Fred Bittencourt - “fbittenca”

Túlio Sá - “Tulio Sa”

Roberto Rodrigues - “betodalu” @CardPlayerbr

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ganhe uma camisa


ANáLiSE

Jeff Hwang jeffhwang.com

POT-LIMIT OMAHA NO POKER AFTER DARK

Jeff Hwang é um jogador de poker semiprofissional e autor de três aclamados livros de pot-limit Omaha. Você pode conferir seu site no endereço jeffhwang.com

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E

m abril, o pot-limit Omaha fez sua primeira aparição na TV nacional nos Estados Unidos, no formato de cash game, quando a NBC exibiu duas semanas de cash games de PLO no Poker After Dark. Os participantes da primeira semana eram Phil Ivey, Patrik Antonius, Tom Dwan, Phil Galfond, Brian Hastings e Brandon Adams, com o especialista em PLO online Jared “Harrington25” Bleznick substituindo Adams na segunda semana. O jogo tinha buy-in de $100.000 e blinds de $300-$600. Durante a maior parte das duas sessões, também havia um straddle de $1.200, e um segundo straddle de $2.400 em várias mãos. Vamos analisar uma mão da segunda semana, quando os stacks eram um pouco maiores.

PRÉ-FLOP ($2.100): Galfond posta o straddle do UTG. Ivey dá fold. Ivey jogou com muitas mãos piores do que 9754 com duas do mesmo naipe até então, mas Hastings falava depois dele com um stack honesto de $248.000, pouco mais de 200BB. Hastings começou a semana com $89.000, e acumulou quase $150.000 ao longo das últimas 23


3

BLEZNICK

DWAN

10 K

3

$100.000

8

9 Q

$61.000 3

8

6

4

GALFOND

3

6

5

Q

4

8 Q 3

3

5 A

button

utg

ANTONIUS

$233.000

IVEY 9

7

5

4

7 9

sit-out

$92.000 mãos televisionadas. Ele estava bastante ativo ultimamente: dessas últimas 23 mãos, Hastings jogou 14 de 21, tendo �icado de sit-out em duas delas, e deu raise pré-�lop seis vezes, inclusive tribetando algumas vezes. Em vez de se arriscar jogando fora de posição, Ivey largou sua mão marginal.

AÇÃO: Hastings ($248.000) abre raise de $3.500 do button. Ele continuou com sua agressividade, abrindo raise com um completo lixo.

5

$248.000

4

A

6

big blind

small blind

HASTINGS

10 9

K

9

8

6

9

Q

cutoff

$468.000 AÇÃO: Bleznick dá fold. Dwan ($100.000) volta reraise de $12.000. Dwan tribetou fora de posição com uma mão que também não era de primeira linha. Como eu disse, Hastings estava extremamente ativo ultimamente. Além disso, havia outro histórico recente relevante: na primeira semana de jogo (que na vida real ocorreu apenas uma hora ou duas antes de começar a segunda semana), Hastings abriu raise do button, Dwan tribetou dos blinds e Hastings deu fold.

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ANáLiSE

Talvez Hastings dê fold novamente. Caso contrário, o resultado será um cenário de RSP baixo (razão stack/pote de menos de 4), que é uma desvantagem menor para Dwan quando joga fora de posição.

AÇÃO: Galfond dá fold. Hastings dá call. Aparentemente, A533 com duas do mesmo naipe não nuts é uma daquelas mãos com as quais você dá fold diante de um raise, a não ser que tenha um heater monstro. FLOP ($25.500): A♥ K♦ 8♥. Dwan dá check. Essa é uma situação um tanto desconfortável para Dwan. Ele tem par do meio, nada mais. Acho que a melhor jogada dele, em geral, é apostar e depois dar fold diante de um raise. Para dar check aqui, ele precisaria achar que seu rei tinha algum valor, e que Hastings não tentaria dar steal caso ele desse check.

AÇÃO: Hastings dá check. A jogada de Hastings faz mais sentido. Ele tem um top pair fraco com um �lush draw fraco, e não quer apostar e ter que dar fold diante de um check-raise.

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TURN ($25.500): T♠. Dwan aposta $16.400. Dwan acerta dois pares e aposta quase dois terços do pote.

AÇÃO: Hastings dá call. Sob a perspectiva de Hastings, a primeira aposta em um pote heads-up é sempre suspeita, e ele não pode dar fold por causa de uma bet simples.

RIVER ($58.300): J♦. Dwan dá check. Nesse momento, Dwan está apenas torcendo por um showdown, pois há pouquíssima coisa com que Hastings possa ter dado call na aposta do turn que não derrote dois reis e dois dez. Hastings, por outro lado, tem apenas uma jogada, que é apostar, pois: (a) há pouquíssima coisa que Dwan possa ter que Hastings derrote com seu par de ases e 5 como kicker, e (b) a menos que Dwan tenha dado check com o nut straight, ele terá di�iculdades em pagar uma aposta com esse bordo.

AÇÃO: Hastings aposta $32.000. Dwan dá insta-fold. Essa mão é uma lição sobre vantagem de posição. Com isso a seu favor, Hastings foi capaz de jogar contra Dwan com muito mais precisão do que Dwan pôde jogar contra Hastings, o que lhe custou o pote, abocanhado pelo brilhante Brian Hastings. ♠


WSOP em 2005 e 2006 BSOP em 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011 CPH em 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011 LAPT em 2010 e 2011 Full Tilt 750K em 2010 PCA Bahamas em 2011 Tower Torneos em 2011 ARSOP em 2011 BPT em 2011 Nem o Brasil chegou em tantas finais de campeonato assim.

Tenha em casa o mesmo baralho utilizado nos maiores torneios de P么quer do mundo. Dispon铆vel nos Naipes Grande e Peek.

www.

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CBTH NEWS Federação de Texas Hold’em do Rio de Janeiro

Federação Baiana de Texas Hold’em

A

Federação de Texas Hold’em do Rio de Janeiro – FTHRJ se concentrou, no ano de 2011, na reformulação completa do Campeonato Carioca de Texas Hold’em – CCTH, hoje uma das séries regionais mais bem organizadas e elogiadas e que tem uma das melhores, senão a melhor, estrutura de blinds entre todas, dando total prioridade a habilidade dos competidores e que, após 7 etapas, irá consagrar o Campeão Carioca de Texas Hold’em, reconhecido pela FTHRJ. Os planos para 2012 serão a reestruturação de cargos, levantamento e cadastro de todos os praticantes do Estado e a integração de clubes ativos que ainda não sejam afiliados. Será feito também um planejamento para assessorar, avaliar e afiliar novos clubes, pois o Rio de Janeiro talvez seja um dos estados onde mais existam candidatos a criação de um Clube de Texas Hold’em.

CALENDÁRIO CCTH TEMPORADA 2011 1ª Etapa - 25 a 25 de Fevereiro 2ª Etapa - 14 a 18 de Abril 3ª Etapa - 26 a 30 de Maio 4ª Etapa - 28 de Julho a 01 de Agosto 5ª Etapa - 01 a 05 de Setembro 6ª Etapa - 13 a 17 de Outubro 7ª Etapa - 17 a 21 de Novembro

Depois de muita luta no ano de 2009, a FBTH conseguiu realizar, em 2010, o circuito Baiano de Texas Hold’em com muito êxito, que já é um sucesso no Estado, tendo participantes de várias cidades baianas. Sabemos que a luta é grande para tirar o preconceito contra o esporte que mais cresce no mundo, e a FBTH tem como objetivo mostrar a sociedade o quão social é o Texas Hold’em, onde famílias inteiras já se divertem praticando em suas residências em todo mundo. O campeonato baiano, através do apoio da federação, já atraiu investidores no Circuito, com o vencedor de 2010 já sendo patrocinado pelo site ROXPOKER.com, e os investimentos de sorteios ao vivo continuarão ao longo do circuito para atrair mais atletas deste emocionante esporte. Com o apoio de todos, acreditamos que este ano de 2011 será mais forte que 2010 e, assim, muitas novidades virão para a Bahia e o nosso Estado continuará sendo um GRANDE CELEIRO de jogadores, como os baianos que já estão pelo Brasil afora consagrados e reconhecidos.


ĂŞ c o v e u q a r a p e o d d a n d i a l i h l u q n a r Traba t m o c r e k o p e u pratiq R

G.B R O . H T B WWW.C


CoLuNA

Christian Kruel @christiankruel

O DILEMA

DO PRISIONEIRO INTRODUÇÃO À TEORIA DO METAGAME

CK é um dos pioneiros do poker no Brasil. Ele também é membro integrante do Full Tilt Red Pro Team.

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M

etagame é o termo que de�ine qualquer estratégia, ação ou método utilizado em um jogo que “vai além” do conjunto das regras pré-estabelecidas. São os fatores externos, como informações ou recursos, que afetam as nossas decisões dentro do jogo. A aplicação prática do metagame se baseia na análise do método de opções. Curiosamente, ela foi utilizada pela primeira vez para estudar problemas como a corrida

de armas estratégicas e a proliferação nuclear. Tenso, não? Pois bem, a teoria do metagame também já foi aplicada na biologia, nas ciências sociais, nos negócios e até em operações militares, como a recente guerra do Afeganistão. A título de informação, de acordo com essa teoria, a primeira fase de análise das opções consiste em


quatro passos: I – estruturação do problema e identi�icação das questões que envolvam o ato de decidir; II – identi�icação das partes interessadas em controlar essas questões, direta ou indiretamente; III – estabelecimento de um inventário de opções políticas do qual as partes interessadas poderão se utilizar para controlar os problemas; IV – determinação das possíveis dependências entre as opções políticas. Parece algo distante e complicado, mas é provável que você tenha visto uma situação de metagame no cinema e nem tenha se dado conta disso. Quem assistiu ao �ilme “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (Warner, 2008) deve se lembrar da cena das balsas com explosivos... Pois bem, não

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ComENTárioS

entrarei em detalhes aqui para não estragar a surpresa de quem ainda não viu, mas posso adiantar que ela foi inspirada em um jogo chamado “O Dilema do Prisioneiro”, exemplo clássico de metagame. Funciona assim: dois suspeitos, A e B, são presos pela polícia. A polícia tem provas insu�icientes para condená-los, mas, separando os prisioneiros, oferece a ambos o mesmo acordo: se um deles, confessando, testemunhar contra o outro e esse outro permanecer em silêncio, o que confessou sai livre, enquanto o cúmplice silencioso cumpre 10 anos de sentença. Se ambos �icarem em silêncio, a polícia só pode condená-los a 6 meses de cadeia cada um. Se ambos traírem o comparsa, cada um leva 5 anos de cadeia. Cada prisioneiro toma sua decisão sem saber que o que o outro vai fazer, e nenhum tem certeza da decisão do outro. O jogo se desenvolve numa matriz simples de 2 por 2, deceptiva, que pode ser usada para ilustrar o valor e as limitações da teoria dos jogos no que diz respeito aos jogos mentais, caso do poker. A sua simplicidade o torna ainda mais interessante como referencial para explicar o comportamento humano. Além disso, ele é fácil, e é aí que mora o perigo. Analogias entre ele e os assuntos humanos são mais bem empregadas para estudar as suas insu�iciências e apontar o que foi deixado de fora. Elaborando a matriz 2 por 2 do jogo, chegaremos à seguinte situação:

Dilema do Prisioneiro

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Nega

Nega

Ambos são condenados a 6 meses.

Delata

B é condenado a 10 anos. A sai livre.

Prisioneiro A

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Prisioneiro B

Delata

A é condenado a 10 anos. B sai livre. Ambos são condenados a 5 anos.

Analisando friamente o diagrama, vemos que a única forma de “não perder” o jogo é delatando, levando em conta que, não delatando e sendo delatados, teremos a maior condenação e veremos nosso comparsa �icar livre. Assim, se cada jogador fosse adotar a estratégia em que seria “impossível” perder, ambos delatariam os parceiros e o equilíbrio do jogo seria encontrado em A e B delatando. Porém, como podemos perceber, a solução de equilíbrio não é a melhor para


CADA JOGADOR FAZ O MELHOR PARA SI MESMO, TOMANDO COMO DADO QUE O OUTRO TAMBÉM SE COMPORTARÁ DA MESMA MANEIRA.

ambas as partes. De fato, quem escolher delatar estará adotando a pior opção possível, tendo em vista o equilíbrio. Porém, adotar a melhor estratégia transcende as regras do jogo e entra no campo das suposições: “O que será que meu colega fará? Ele vai me delatar ou não? Con�io nele ou não?” Ou seja, para adotar a “melhor” solução, precisamos de uma informação que está fora do jogo. No entanto, se o jogo fosse repetido muitas vezes, um prisioneiro acabaria tomando sua decisão baseada na decisão tomada no jogo anterior pelo outro prisioneiro. Ou seja, se

no primeiro jogo os dois negaram, no próximo seria provável que continuassem assim, até que um dia um dos dois resolvesse trair. No próximo, então, o outro também trairia até que os dois traíssem, chegando assim na situação de equilíbrio. Mesmo achando que a solução de equilíbrio nesse caso não é uma decisão acertada, já que os dois perdem, somos obrigados a reconhecer que é realmente inteligente: cada jogador faz o melhor para si mesmo, tomando

como dado que o outro também se comportará da mesma maneira. Pois bem, guarde essas informações com atenção, porque no próximo artigo vamos conversar sobre a aplicação dessa teoria ao Texas hold’em, com ênfase em torneios e com exemplos da WSOP. Então, não perca as cenas do próximo capítulo! ♠

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Orla de Maceiテウ

O MELHOR DO POKER NA REGIテグ NORTE-NORDESTE @CardPlayerbr

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A

vencedores do 4 PPA

4ª edição do Poker Player Alagoas foi para lá de especial. Não apenas por causa da estrutura oferecida aos jogadores, que disputaram um evento de primeira linha na linda cidade de Macéio, ou por causa do field com mais de 130 participantes. Em se tratando do padrão de qualidade que vem sendo mostrado pelo PPA, isso é o mínimo que se espera do evento.

O torneio foi marcante, principalmente porque comemorou o primeiro aniversário da principal série de poker do Norte-Nordeste. O PPA é uma iniciativa liderada por André Cavalcanti, presidente da Federação Alagoana de Texas Hold’em, que vem se mostrando uma franquia praticamente irretocável no que diz respeito às questões de organização e técnica. “Estive presente em todas as edições do PPA, nas três últimas como diretor, e posso falar com conhecimento de causa sobre o crescimento deste torneio e a preocupação da FATH em transformá-lo em referência” avalia o diretor do torneio Fábio Maia, que completa:

1 PPA - Julho 2010

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“o cuidado com os detalhes é impressionante. Nada é menosprezado ou deixado de lado”. Além de terem participado de um evento de primeira linha, os inscritos concorreram a diversos brindes. A FATH sorteou entre os participantes eletrodomésticos Latina, Camisas da FATH e baralhos Copag. Ao todo foram 135 inscritos, gerando uma prize pool superior a R$ 30 mil. No domingo, com apenas 34 sobreviventes, a disputa seguiu muito acirrada. 15 jogadores ficariam ITM, e o campeão levaria mais de R$ 8 mil. Com a mesa final formada, a ação seguiu

2 PPA - Novembro 2010


mesa finalistas

intensa. Foram mais de cinco horas de jogo em uma final table que incluía sete alagoanos, um sergipano e um baiano. Parecia que o título ia ficar em casa, mas Celso Vinicius, um “forasteiro” vindo da Bahia, fez um torneio impecável e foi campeão sem contestação.

Diante de uma empreitada como essa que André Cavalcanti, Fábio Maia e todo o pessoal da Federação Alagoana vêm desenvolvendo, não resta dúvida de que o PPA é a série que está apresentando ao Brasil o notório potencial do poker na Região Norte-Nordeste. ♠

“O PPA em nada deixa a desejar aos grandes circuitos que passam pelo Brasil. É incrível como uma equipe tão reduzida consegue promover um evento deste nível. André Cavalcanti e toda a equipe do PPA estão de parabéns”, finalizou Fábio Maia, com a sensação de dever cumprido, após o sucesso de mais uma etapa do Poker Player Alagoas.

3 PPA - Abril 2011

4 PPA - Julho 2011

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Classificação da 4 Etapa do Play Poker Alagoas 1º. Lugar – Celso Vinicius Rodrigues (Bahia)– R$ 8.650,00 2º. Lugar – José Marcelo Medeiros – (Alagoas) – R$ 5.250,00 3º. Lugar – Luiz Fernando de Melo Chaves (Alagoas) – R$ 3.240,00 4º. Lugar – Wei Paulo (Alagoas) – R$ 2.550,00 5º. Lugar – Hiran Bass (Sergipe) – R$ 2.190,00 6º. Lugar – Marcos Moura (Alagoas) – R$ 1.850,00 7º. Lugar – Marcelo Beltrão Siqueira (Alagoas) – R$ 1.540,00 8º. Lugar – Marcelo Costa Torres (Alagoas) – R$ 1.260,00 9º. Lugar – Luís Henrique Teixeira Caetano (Alagoas) – R$ 860,00

FICHA TÉCNICA Play Poker Alagoas (PPA) – 4ª Etapa Local: Maceió Mar Hotel (Maceió – AL) Data: 29 a 31 de julho Buy-in: R$ 285,00 Inscritos: 135 jogadores Prize Pool: R$ 30.840 Organização: FATH 74

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QUE REI SOU EU? A Origem das Figuras do Baralho por Rodolfo Moraes

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humanidade sempre se pautou pela incessante busca de significado, como se nada pudesse acontecer “por acaso” ou “por acidente”, como se por trás de tudo tivesse de haver um sentido transcendental. O poker, obviamente, não poderia ficar de fora dessa necessidade de achar porquês em tudo. Há muito se especula sobre as origens das cartas do baralho. Quem seriam os rostos reais por trás dos reis, damas e valetes?

Quem esperava ler aqui histórias mirabolantes e fantasiosas sobre as personagens por trás das figuras das cartas, já adianto: ninguém real (no sentido tanto de realeza quanto de realidade) inspirou os mundialmente conhecidos reis, damas e valetes com os quais damos nossas baralhadas. Portanto, não se pode afirmar que determinada carta corresponda a uma personalidade específica. A afirmação acima tem como principal fonte o website snopes.com, que serve de referência para tudo que diz respeito a lendas urbanas, folclore, mitos, rumores e informações equivocadas. E talvez a origem das figuras dos baralhos se encaixe nesta última categoria. De fato, ninguém disseminou uma lenda urbana ou rumor, nem criou um mito ou folclore sobre a realeza das cartas. O que aconteceu foi uma interpretação equivocada de uma prática dos manufaturadores de baralhos franceses. Explico.

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recebeu inúmeras influA confecção de baralhos do s, com variações que iam ências ao longo dos ano nai dos ntidade e natureza número de cartas à qua 56 am suí pos lo, por exemp pes. Os baralhos italianos, , três) tipos de figuras: rei não (e tro qua cartas, com aesp s, naipes eram cálice dama, valete e servo. Os o passar do tempo, a Com s. tõe das, moedas e bas sartada” e os baralhos pas figura do servo foi “desca . tas car 52 de ram a ter o padrão atual os espanhóis excluíram Ao adotarem o baralho, ros as, incluíram os caballe as damas e, no lugar del luexc bém tam es mã ale . Os (cavaleiros de montaria) i), (re ig kön as figuras de íram as damas, chamando m me (ho ann erm erior) e unt übermann (homem sup os am car difi mo da ain nicos inferior) reais. Os germâ por símbolos franco-itálicos os ndo tui sti sub , pes nai bolotas. sinos, corações, folhas e

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Já os franceses foram além: deixaram de fora o übermann e reincluíram a dama; adotaram os corações e as folhas dos alemães (as últimas foram viradas de cabeça para baixo para adquirir a conhecida forma do naipe de espadas); a partir das bolotas conceberam e adaptaram o naipe de paus; e substituíram os sinos por ouros (do francês carreaux, azulejos envernizados usados em igrejas). A partir disso, especulações históricas começaram a atribuir significado a cada naipe, dizendo que cada um representava um setor da sociedade: a igreja, os militares, os burgueses e os camponeses. Mas tudo não passa de suposições. Quanto às cartas figurativas ou reais, a ideia de que elas foram baseadas em personagens históricas verídicas tem uma razão de ser: um baralho confeccionado por volta de 1567 por Pierre Maréchal, que ainda se encontra preservado no museu da cidade francesa de Ruão, contém inscrições que indicam textualmente quem são as figuras ali representadas, o que fez com que se pensasse que todas as cartas reais tinham sido baseadas nas mesmas personalidades. Contudo, uma análise histórica mais profunda revela que diversos notáveis serviram de inspiração, a depender da época e da localidade. As primeiras escolhas para as identidades dos reis foram Salomão, Augusto, Clóvis e Constantino, mas, durante a última parte do reinado de Henrique IV (1553-1610), elas foram mais ou menos padronizadas e representavam Carlos Magno (copas), Davi (espadas), César (ouros) e Alexandre, o Grande (paus). Os nomes das rainhas, por sua vez, sempre foi objeto de muita especulação, por não serem tão facilmente identificáveis: Judith, a rainha de copas, é associada à Imperatriz Judite (esposa do filho de Carlos Magno) ou Isabel da Bavária (esposa de Carlos VI e mãe de Carlos VII); Palas (espadas) representaria Atenas, a deusa grega da guerra, ou a heroína francesa Joana d’Arc; Agnès Sorel (a amante de Carlos VII) ou a esposa de Jacó seriam Rachel, a dama de ouros; e Argine (paus), que é um acrônimo para “Regina” (Rainha), seria María de Aragón (esposa de Carlos VII) ou a deusa romana Juno (irmã e esposa de Júpiter, o deus dos deuses).

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Carlos Magno


Gravura de Joana D´arc

Já as identidades dos valetes sempre permaneceram constantes: La Hire (Étienne de Vignoles, Cavaleiro e Herói da França) como o valete de copas; Ogier (um dos cavaleiros de Carlos Magno em Chansons de Geste, que é levado pela bruxa Morgana le Fay na lenda do Rei Artur) como o valete de espadas; Heitor (herói de Troia) como o valete de ouros; e Lancelot (outro cavaleiro da mitologia Arturiana) como o valete de paus. Essa prática francesa de associar personagens reais às figuras de seus baralhos chegou ao fim após a Revolução Francesa, no final do século XVIII. Depois de Luís XIV e Marie Antoinette terem sido condenados à guilhotina, símbolos da monarquia passaram a não ser mais bem vindos na nova república. Quanto ao ás, a carta suprema do baralho, ela representa ao mesmo tempo o número 1, o A, o alpha. Bem como o sol, Alá, Deus. Enfim, o ás possui diversos significados, quase todos transcendentais. Não por acaso, ele encerra a ideia de ciclo. Isso justificaria, por exemplo, o straight poder tanto começar quanto terminar com o ás. Mas fica uma pergunta no ar: não tivessem os revolucionários franceses posto fim a essa tradição, será que as figuras das cartas de baralho continuariam a representar os mesmos personagens? Diante dessa dúvida, vale o exercício de imaginar quem seriam, nos dias de hoje, os reis, damas e os valetes que estampariam nossas cartas. Você arriscaria algum palpite? ♠

O ÁS POSSUI DIVERSOS SIGNIFICADOS, QUASE TODOS TRANSCENDENTAIS. NÃO POR ACASO, ELE ENCERRA A IDEIA DE CICLO. ISSO JUSTIFICARIA, POR EXEMPLO, O STRAIGHT PODER TANTO COMEÇAR QUANTO TERMINAR COM O ÁS

Detalhe da pintura dos jogadores da corte da rainha Elizabete, ilustração do livro “Como Era a Vida no Reinado de Elizabete: Inglaterra 1533-1603”, TimeLife Books, Alexandria, Virginia, 1998, p. 40-41.

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ANáLiSE

ed miller edmillerauthor notedpokerauthority.com

tilt às avessas

ed miller é uma das maiores autoridades mundiais em teoria do poker. ele é instrutor do stoxpoker.com

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ocê se senta para jogar no-limit hold’em de $1-$2 em uma mesa cheia. O jogo está acontecendo há algum tempo. Dois jogadores têm grandes stacks, e outros dois seguram suas últimas fichas. Em média, quantos de seus nove oponentes estão, nesse momento, tiltados? Eu diria que todos. Sim, os nove. Hoje em dia, nos jogos baratos de no-limit hold’em, eu diria que todo mundo que está jogando há meia hora ou mais está em tilt.

Isso soa ridículo? Se você define o tilt de forma limitada (perder um grande pote e depois pirar por causa disso), obviamente é bobagem achar que todo mundo está tiltado. Mas eu tenho uma definição mais ampla. Eu acho que você está em tilt quando permite que suas decisões sejam significativamente afetadas pelo seu estado emocional. E, com base nessa visão, quase todo mundo jogando poker está tiltado.


Eis o motivo. Pode-se presumir que qualquer um que tenha perdido uma quantia relevante de dinheiro esteja tiltado. O número de jogadores de poker capaz de perder e verdadeiramente deixar para lá é muito pequeno. E eu não esperaria encontrar um deles em uma mesa aleatória de $1-$2.

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ANáLiSE

Existem, ainda, aquelas pessoas que ficam mais ou menos no zero a zero durante a sessão. Há duas maneiras de isso acontecer. Você pode não receber cartas boas e ficar dando fold, ou pode jogar potes e ficar numa montanha-russa que lhe deixa, por ora, de volta no ponto de partida. Dar fold após fold é frustrante, bem como a montanha-russa. Quanto mais alguém fica empatado no poker, maior a sua frustração. E jogadores nessas condições tendem a tentar forçar a ação em vez de esperar por oportunidades que vêm de forma natural. 82

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Finalmente, há os vencedores. Esses não podem estar tiltados, podem? É claro que sim, e geralmente estão. Vencedores tendem a entrar no que eu chamo de “tilt às avessas”. Eles estão tão eufóricos por terem acumulado todas aquelas fichas, que param de pensar claramente sobre suas decisões. Eis os sinais do tilt ao contrário:

Jogadores em tilt às avessas começam a jogar muito mais mãos do que normalmente jogariam. Se você joga poker live, já viu isso acontecer. Um cara ganha um pote tão grande, que joga as


Jogadores em tilt às avessas começam a jogar muito mais mãos do que normalmente jogariam. Se você joga poker live, já viu isso acontecer. cinco mãos seguintes com uma montanha enorme e mal organizada de fichas à sua frente. Durante esse período, ele leva três vezes mais tempo para agir do que o normal. Ele precisa parar de organizar as fichas, tirar as cartas do meio delas e então tomar uma decisão. Ele dá fold? Nunca. Eu talvez conte nos dedos o número de vezes na minha vida em que vi um jogador casual abocanhar um pote monstruoso e dar fold pré-flop na mão seguinte (jogadores regulares tendem a ser melhores quanto a isso). Esse cara está muito mais propenso a dar call sem olhar sua mão do que olhar sua mão e depois dar fold. É o tilt às avessas. Esse jogador acabou de ganhar uma montanha de fichas, então é empolgante mandar uma ficha de volta ao pote para jogar a mão seguinte. E a seguinte, e a seguinte. Ele também tende a pagar raises e reraises de forma mais loose. A euforia de uma grande vitória o encoraja a permanecer na ação o máximo possível. Uma boa maneira de explorar essa tendência é ficando mais loose quanto aos seus padrões de raise (e particularmente de reraise) contra esse jogador quando você tiver posi-

ção. Se ele estiver disposto a jogar a maioria das mãos valendo $80-$100 em um jogo de $2-$5, eu volto reraise com pocket pairs altos e médios, de ases até AT, e KQ. Se eu estiver no button (e, portanto, tiver chances particularmente pequenas de me deparar com alguém ainda por falar segurando uma mão alta), diminuirei ainda mais esses padrões. Você pode não se sentir totalmente confortável jogando com KQ em um pote de $200 pré-flop, mas quando um cara está disposto a dar call fora de posição com K4 offsuit ou Q2 suited, você definitivamente deve colocar seu dinheiro no pote.

Jogadores tiltados às avessas tendem a levar sua estratégia pós-flop normal ao extremo. Digamos que um jogador normalmente ruim tenha acabado de ganhar um pote enorme dando call com o segundo par contra um grande blefe no river. Durante o resto da noite, eu espero que esse cara pague ainda mais do que normalmente paga. Ele dará call no flop com qualquer coisa. Dará call diante de apostas fortes no turn com um par de dois. Ele não necessariamente dará call com qualquer mão no river, mas, se tiver novamente aquele “feeling” de que alguém está blefando, não hesitará em pagar um empurrão com qualquer parzinho. Afinal, um grande call foi o que o deixou feliz para começo de conversa,

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Análise

então ele dificilmente se intimidará diante de outro. E não é só dar call o que os “tiltados às avessas” fazem em excesso. Caso sejam blefadores, eles começarão a blefar mais, geralmente em situações ridículas e sem possibilidade de sucesso. Se gostarem de supervalorizar mãos como top pairs e overpairs em bordos coordenados, farão isso ainda mais. Em situações nas quais apenas dariam call com, digamos, um par de damas em um bordo com três cartas para flush e três para straight antes do tilt invertido, agora eles darão raise e tentarão colocar mais dinheiro no pote. Explore tais mudanças das maneiras mais óbvias. Se eles estiverem pagando mais, aposte pelo valor com mãos mais fracas do que as com que você normalmente apostaria. Se estiverem blefando mais, dê check com mãos boas e depois pague a aposta deles. Se estiverem entrando muito light, jogue suas mãos fortes com agressividade. E em todos esses casos, reduza a sua frequência de blefes. Jogadores em tilt às avessas são os piores para se tentar blefar. Esse tipo de tilt pode ser traiçoeiro. Se você está com muitas fichas, se sentirá bem. Se sentirá afiado. Você não cogitará estar jogando mal. Mas pode muito bem estar. Eu costumava ter problemas com o tilt às avessas, e eis como mudei isso. Fiz exatamente o oposto de todas

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Jogadores tiltados às avessas tendem a levar sua estratégia pós-flop normal ao extremo. [...] Afinal, um grande call foi o que o deixou feliz para começo de conversa, então ele dificilmente se intimidará diante de outro.

as coisas que os tiltados fazem. Eu fiquei um pouco mais tight pré-flop. Depois, joguei o feijão com arroz básico: mais check-folds em flops que não acertei, menos continuation bets, menos blefes, menos calls heroicos. Consciente ou inconscientemente, os jogadores parecem esperar que um cara com uma enorme montanha de fichas aja de forma insana. Ao ficar mais sério após uma grande vitória, eu evitava os perigos do tilt às avessas ao mesmo tempo em que era pago com minhas mãos boas. Se você sofre desse tipo de tilt, recomendo vivamente que você tente esses ajustes.

Agora, voltemos àquele jogo 10-handed no qual todo mundo está tiltado. Os perdedores estão irritados, frustrados e com medo de não sobreviverem a mais uma carta do river. Os que estão no zero a zero estão entediados e frustrados, e querem forçar a ação. E os vencedores se sentem invencíveis, e começam a jogar feito loucos, como se não fosse nada. Ninguém está sóbrio, exceto talvez o cara que acabou de se sentar. Poker: uma cachaça e tanto. ♠



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