Daniel Blaufuks

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DANIEL BLAUFUKS


DANIEL BLAUFUKS


DANIEL BLAUFUKS Mão com Pistola de Brincar, 2010, C-print, 70 x 100 cm


O Ofício de Viver de Daniel Blaufuks A série de "O Ofício de Viver" é um trabalho em fotografia, inspirado pelos diários de Cesare Pavese (e também pelo filme “El Sur” de Victor Erice), sobre a experiência do tempo e das recordações que sobram dos dias que passam sem deixar rasto. Os trabalhos fotográficos a preto e branco e a cores e apresentados em variados formatos, são fragmentos escolhidos de um período de tempo complexo para o seu autor. A série é composta por imagens, quase naturezas mortas, da banalidade do quotidiano, encenadas para este trabalho em espaços recolhidos e com pouca ou nenhuma ligação com o exterior. São peças em diálogo consigo mesmas, como páginas de um diário, de um tempo que parece suspenso. São fotografias sem acontecimento ou documento ou ruído. Não são imagens de paisagens nem de rostos nem de guerras. Estão muito distantes das vítimas no Iraque, Afeganistão, Irão, Palestina ou Haiti. E, no entanto, tudo isso aconteceu enquanto este trabalho foi produzido e muito acontece enquanto este trabalho é agora visto. Enquanto vivemos, enquanto sabemos, enquanto pouco ou nada fazemos. As fotografias, com uma forte carga simbólica, remetem não só para a nossa memória pessoal, como igualmente para representações presentes na Pintura e no Cinema e que fazem já parte da memória visual comum: os limões de Cézanne, o monge de Zurbaran ou o candelabro da sala de baile em “O Leopardo”. Na História de Arte um copo de água simboliza "pureza", o vidro “fragilidade” e um limão "fidelidade", mas outras relações metafóricas ou simbólicas são possíveis e desejadas com as imagens expostas: a angústia, o desejo, a memória, a vaidade, a luz, a ausência, a possibilidade de suicídio, a solidão, o recolhimento, a esperança, etc. São trabalhos que

autor não a imagem em si, mas o que ela representa ou pode representar dentro de um mesmo espaço e de um mesmo momento.

autor não a imagem em si, mas o que ela representa ou pode representar dentro de um mesmo espaço e de um mesmo momento.

Escreve Pavese no seu caderno: "Durante a viagem de comboio pensei que aqueles campos que via fugir, as cortinas de árvores, as casas, os recantos, as recordações de outros tempos, tudo serviria para fabricar memórias, para gerar o passado. Por banal que fosse o momento, e, no fundo, aborrecido, reencontrá-lo um dia já não seria banal" e anota num outro dia que "não se recordam os dias, recordam-se os instantes".

Escreve Pavese no seu caderno: "Durante a viagem de comboio pensei que aqueles campos que via fugir, as cortinas de árvores, as casas, os recantos, as recordações de outros tempos, tudo serviria para fabricar memórias, para gerar o passado. Por banal que fosse o momento, e, no fundo, aborrecido, reencontrá-lo um dia já não seria banal" e anota num outro dia que "não se recordam os dias, recordam-se os instantes".

Esta percepção de perda imediata do presente será aquilo a que chamamos vulgarmente de "momento". Uma fotografia é uma cristalização dessa mesma experiência, uma "imagem-tempo" (e não, como no cinema, uma “imagem-movimento"), e é, simultaneamente, passado e presente sobrepostos numa única experiência. O que (não) acontece nestas imagens poderá ter acontecido ontem ou hoje ou vir a ser amanhã ou todos os dias.

Esta percepção de perda imediata do presente será aquilo a que chamamos vulgarmente de "momento". Uma fotografia é uma cristalização dessa mesma experiência, uma "imagemtempo" (e não, como no cinema, uma “imagemmovimento"), e é, simultaneamente, passado e presente sobrepostos numa única experiência. O que (não) acontece nestas imagens poderá ter acontecido ontem ou hoje ou vir a ser amanhã ou todos os dias.

As fotografias são contentores de um instante, que se transforma num espaço de tempo infinito. E é através das fotografias e de uma gestão diária do factor tempo ou, melhor, da perda deste, e não da experiência de tempo em si (que flui sem que verdadeiramente nos apercebamos), que adquirimos a percepção e a memória dum presente, que rapidamente se transforma em passado. A imagem fixa, tal como, pela sua inutilidade, um relógio parado, alerta-nos precisamente e por um breve momento para esse fluxo cronológico constante e eternamente presente. É precisamente o tempo interrompido que nos torna conscientes do tempo em movimento. Todas as fotografias vão aparentemente contra essa corrente do tempo, constituindo assim um presente sempre presente. É a memória que as transforma em momentos, o

As fotografias são contentores de um instante, que se transforma num espaço de tempo infinito. E é através das fotografias e de uma gestão diária do factor tempo ou, melhor, da perda deste, e não da experiência de tempo em si (que flui sem que verdadeiramente nos apercebamos), que adquirimos a percepção e a memória dum presente, que rapidamente se transforma em passado. A imagem fixa, tal como, pela sua inutilidade, um relógio parado, alerta-nos precisamente e por um breve momento para esse fluxo cronológico constante e eternamente presente. É precisamente o tempo interrompido que nos torna conscientes do tempo em movimento. Todas as fotografias vão aparentemente contra essa corrente do tempo,


DANIEL BLAUFUKS O Ofício de Viver Solo show at Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisbon, 17/03– 15/05 2010


DANIEL BLAUFUKS O Ofício de Viver Solo show at Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisbon, 17/03– 15/05 2010


DANIEL BLAUFUKS views from the exhibition at Photo London, 2016 (with Carlos Carvalho Arte Contemporânea)


DANIEL BLAUFUKS views from the exhibition at Photo London, 2016 (with Carlos Carvalho Arte Contemporânea)


DANIEL BLAUFUKS Mulher Deitada | A Faca, 2010, C-Print, 70 x 100 cm


DANIEL BLAUFUKS ร Espera do Chรก | Taรงa e Duas Tangerinas, 2010, C-Print, 30 x 40 cm


DANIEL BLAUFUKS Quinze Minutos, 2010, C-Print, 30 x 40 cm


DANIEL BLAUFUKS Calendário Perpétuo, 2010, C-Print, 30 x 40 cm


DANIEL BLAUFUKS Candelabro, 2010, C-Print, 120 x 160 cm


DANIEL BLAUFUKS Caixa de Plástico | Frasco com Açúcar, 2010, C-Print, 70 x 100 cm


DANIEL BLAUFUKS Caixa de Plรกstico | Peรงa de roupa, 2010, C-Print, 120 x 160 | 70 x 100 cm


DANIEL BLAUFUKS Série series All the Memory of the World, part one, 2014, C-Print, 100 x 160 cm


DANIEL BLAUFUKS Série series All the Memory of the World, part one), 2014, C-Print, 100 x 160 cm


DANIEL BLAUFUKS, Views from the exhibition All the Memory of the World, part one, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa, 2014


DANIEL BLAUFUKS, Views from the exhibition All the Memory of the World, part one, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa, 2014


DANIEL BLAUFUKS, Views from the exhibition All the Memory of the World, part one, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa, 2014


DANIEL BLAUFUKS, Views from the exhibition All the Memory of the World, part one, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa, 2014


DANIEL BLAUFUKS Sem título Untitled (da série from the series Fábrica), 2013, Inkjet print, 100 x 170 cm


DANIEL BLAUFUKS Sem título Untitled (da série from the series Fábrica), 2013, Inkjet print, 100 x 170 cm


DANIEL BLAUFUKS views from the exhibition at Paris Photo, 2014 (with Carlos Carvalho Arte Contemporânea)


DANIEL BLAUFUKS views from the exhibition at Paris Photo, 2014 (with Carlos Carvalho Arte Contemporânea)


DANIEL BLAUFUKS 24 de Maio de 2013 (da sĂŠrie from the series Dos Dias Perdidos), 2014, Inkjet print, 80 x 80 cm


DANIEL BLAUFUKS 29 de Maio de 2013 | 28 de Agosto de 2013 (da sĂŠrie from the series Dos Dias Perdidos), 2014, Inkjet print, 80 x 80 cm


DANIEL BLAUFUKS Sem título Untitled (da série from the series Corte), 2014, Inkjet print, 120 x 150 cm


DANIEL BLAUFUKS Sem título Untitled (da série from the series Corte), 2014, Inkjet print, 120 x 150 cm


DANIEL BLAUFUKS Sem título Untitled (da série from the series Hiato), 2014, Inkjet print, 60 x 80 cm


DANIEL BLAUFUKS | Um saco de plรกstico from the series Um mundo igual a este, 2013 C-Print, 120 x 160 cm


DANIEL BLAUFUKS | Um saco de plรกstico from the series Um mundo igual a este, 2013 C-Print, 120 x 160 cm


DANIEL BLAUFUKS Sem título Untitled (da série from the series Hiato), 2014, Inkjet print, 120 x 160 cm


DANIEL BLAUFUKS Sem título Untitled (da série from the series Hiato), 2014, Inkjet print, 60 x 80 cm


DANIEL BLAUFUKS Sem título Untitled (da série from the series Hiato), 2014, Inkjet print, 120 x 160 cm


DANIEL BLAUFUKS No Próximo Sábado Solo show at Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisbon, 11/01– 28/02 2006


DANIEL BLAUFUKS No Próximo Sábado Solo show at Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisbon, 11/01– 28/02 2006


DANIEL BLAUFUKS | Lives and works in Lisbon. Solo shows (selection) Prece Geral (Fundação Eugenio de Almeida, Évora, 2015), All the Memory of the Word, Part One (curated by David Santos, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisbon, 2014), Works on Memory, (curated by David Drake and Filipa Oliveira, Ffotogallery, Cardiff, 2012), Fábrica, (Usina Cultural, João Pessoa, 2014), Fábrica, (CAAA, Guimarães, 2013), Três quartos de memória (Fundação Eva Klabin, Rio de Janeiro, Brasil, 2011), Hoje é sempre ontem (curated by Luiz Camillo Osório, MAM, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brazil, 2011), Perecs Büro (curated by Sérgio Mah, Kunstverein Ruhr, Essen, Germany, 2010), A memória da memória, (Carpe Diem, Lisboa, 2010), O ofício de viver, (Galeria Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisboa, 2010), Viagens com a minha tia / Travels with my Aunt, (Solar - Galeria de Arte Cinemática, Vila do Conde, 2009), Album (Centro Cultural Vila Flor. Guimarães, Portugal, 2008), Cinema Motel, (Elga Wimmer PCC, New York City, 2006), No Próximo Sábado, (Gallery Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisbon, 2006), A Perfect Day, (Museu do Chiado, Lisbon, 2005), Collected Short Stories, (Centro de Arte Moderna, Fund. Calouste Gulbenkian, Lisbon, 2003). Group exhibitions (selection) [7] Places, [7] Precarious Fields, (Fotofestival Mannheim, Ludwigshafen, Heidelberg, 2015, curated by Urs Stahel), Usine de Rêve, Centro de Artes Visuais,Coimbra, 2015 (curated by Ana Anacleto), Visitação (Corte), Igreja de São Roque, Lisboa, 2014 (curated by Paulo Pires do Vale), Photobienanale Logos, Museum of Photography, Thessaloniki, 2014, Entre Memória e Arquivo, Museu Coleção Berardo, Lisboa, 2013 (curated by Ruth Rosengarten), Tarefas Infinitas, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2012 (curated by Paulo Pires do Vale) Between Times, Instants, intervals, durations (Photoespaña.Teatro Fernán Gómez, Centro de Arte . Madrid, Spain, 2010), Da outra margem do Atlântico, alguns exemplos da fotografia e do vídeo português (curated by Paulo Reis,

Centro de Artes Hélio Oiticica . Rio de Janeiro, Brazil), Parangolé: Fragmentos desde los 90 en Brasil, Portugal y España Patio Herreriano - Museo de Arte Contemporáneo Español, Valladolid (curated by Paulo Reis and David Barro), 2008, 50 Anos de Arte Portuguesa, (Fundação Calouste Gulbenkian, Lisbon, 2007), BES Photo, (Centro Cultural de Belem, Lisbon, 2007), Del Zero al 2005, (Fundacion Marcelino Botin, Santander, 2005), Erich Kahn, (Museu de Arte Moderna – Colecção Berardo, Sintra, 2005), 20 + 1, (Centro Galego de Arte Contemporânea, Santiago de Compostela, 2004), We Are The World, (Chelsea Art Museum, New York City, 2004), RE-Location Shake, (National Museum of Contemporary Art, Bucharest, 2004), Pallazzo delle Libertà, Palazzo delle Papesse, Siena, 2003, Arquivo e Simulação - Archive and Simulation, (LisbonPhoto, Centro Cultural de Belém, Lisbon, 2003), Artists in Residence 2002-2003, (Location One, New York, 2003), Open Studios, (International Studio and Curatorial Program, New York, 2002), London Art Biennale,(Shoreditch Town Hall, London, 2000), O Autoretrato na Colecção, (Fundação Calouste Gulbenkian, Lisbon, 1999), Linha de Sombra, (Centro de Arte Moderna, Lisbon, 1999), Biennale Internazionale di Fotografia, (Palazzo Bricherasio, Torino, 1997), En la piel de Toro, (Centro de Arte Reina Sofia, Madrid, 1997), Imagens para os Anos 90, (Fundação de Serralves, Porto, Culturgest Lisbon, 1993). Collections (selection) Byrd Hoffman Foundation, New York, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisbon, Centro Cultural de Belém, Lisbon, Centro Galego de Arte Contemporânea, Santiago de Compostela, Colecção BES, Lisbon, Fundação PLMJ, Lisbon, MEIAC, Badajoz, Museu de Arte Contemporânea, Funchal, Museu de Arte Contemporânea - Colecção Berardo, Sintra, Palazzo delle Papesse, Siena, Sagamore Art Collection, Miami and The Progressive Collection, Ohio.

DANIEL BLAUFUKS | Panorama de Veneza from the series O Ofício de Viver, 2010 C-Print, 70 x 100 cm


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