"Desisti das coisas próprias de menino..."

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"DESISTI DAS COISAS PRÓPRIAS DE MENINO..."

Crescer e ampliar o entendimento sobre si mesmo e o mundo que lhe cerca é natural do Ser Humano. Quando isto não ocorre é porque há um retardo mental ou barreiras psíquicas que lhe impedem o desenvolvimento. Hoje, adultos, ao lembrarmo-nos da infância, percebemos que alguns comportamentos, sentimentos, linguagens, sonhos e crenças não fazem mais sentido. Isto devido à visão que se estendeu. O território que se expandiu para além dos olhos familiares levou ao contato com novos conhecimentos, informações e interações que modificaram o modo de ver. O Papai Noel, o coelhinho da páscoa, o bicho papão, o “homem do saco” foram para o tempo de criança e, na maturidade, perdem o encanto. Será? Para a maioria, que não se desenvolveu no entendimento, essas personagens apenas mudaram de nomes. O bicho papão reside nas figuras más: diabo, demônio, ...; Papai Noel se reflete nas coisas boas: Deus, .... As ideias fantasiosas continuam as mesmas, apenas tomam um ar de seriedade, e não mais de conto de fada. Mesmo havendo estas fantasias reais em nosso interior, muitas vezes — nem sempre — é preciso reconhecê-las como tais para haver um grau de liberdade. O adulto que conta uma história do “bicho papão” para uma criança sabe que é apenas uma história, mas para a criança não, para ela a personagem não é inocente, é real em sua mente, capaz de gerar sintomas fisiológicos reais, medos e mesmo visões. Quando a criança cresce, ela precisa entender que o que ouviu é apenas uma história para que, assim, alcance liberdade e não sinta sempre o medo e os sintomas fisiológicos reais. Nesta perspectiva, há falas, sentimentos e pensamentos infantis que devem permanecer somente na primeira infância. Quando eu era menino — disse o judeu Shaul (Paulo) —, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino (1 Co 13.11). Na maturidade de hoje — digo eu — não falo, não sinto e não penso Deus e a vida como quando tinha 10, 15 ou 25 anos, da mesma forma que quando na minha velhice não falarei, sentirei ou pensarei como atualmente. Existe entendimentos próprios de menino que precisam ser desertados, desistidos (καταργεω katargeo gr. - fazer cessar, pôr um fim em, pôr de lado, anular, abolir) — como disse Shaul (Paulo) de si mesmo —, se assim desejarmos avançar em entendimento, mesmo que esse entendimento signifique entender que o que falo, sinto ou penso é apenas algo que vejo como em um espelho, obscuramente (αινιγμα ainigma gr. - enigma, mistério) — parafraseando Paulo (1 Co 13.12) — uma imagem misteriosa, invertida e refletida; apenas uma imagem em constante movimento.

Carlos Coléct


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