WWW.AUDIOPT.COM • REVISTA DE AUDIO, CINEMA EM CASA E NOVAS TECNOLOGIAS
Ainda nesta edição: Sonus faber Principia 7 • Audiovector QR3 VPI Prime Signature/Kiseki PurpleHeart N.S. Atoll CD2000SE2 • AMG Giro/DS Audio W1 Townshend Audio Isolda EDCT devolo Gigagate
ALTA RESOLUÇÃO EM ÁUDIO
PARTE 2
AMG GIRO
+
CABEÇA DS AUDIO W1 E DA LUZ FEZ-SE MÚSICA
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N.º264 ANO 29 • BIMESTRAL • 4.00 € MAIO/JUNHO 2017 WWW.AUDIOPT.COM
REPORTAGEM COMPLETA
editorial/264 www.audiopt.com REVISTA DE ÁUDIO E CINEMA EM CASA N.° 264 | Ano 29 | Maio / Junho 2017 | 4.00m DIRECÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE:
R. Prof. Alfredo de Sousa, 7, 5.º Esq. 1600-188 Lisboa Telef. 213 190 650 Fax 213 190 659
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DIRECÇÃO
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Carlos Ribeiro, Vasco Félix, Holbein Menezes, João Zeferino, António Bento, Rui Nicola, Manuel Bernardes, Honorato Pimentel, Pedro Freitas, Daniel Santos, Leonel Marques e Pedro Flores REVISÃO
Manuel Coelho PAGINAÇÃO E ARTE FINAL
Cecília Matos, www.cecilia-designs.com IMPRESSÃO
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Devido à especificidade da maioria das questões apresentadas e à objectividade inerente às respostas, lamentamos informar os nossos leitores de que não nos é possível responder a consultas. TIRAGEM 10 000 exemplares PREÇO DE CAPA 4,00m DEPÓSITO LEGAL N.° 27134/89 REGISTO N.° 113788 ERC DISTRIBUIÇÃO
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Audioshow 2017, mais algumas razões para o seu sucesso
N
a minha reportagem sobre o CES 2017, publicada na edição anterior desta revista, mencionei que houve um certo desencanto por parte de visitantes e expositores relativamente ao número reduzido de visitantes, e resultou daí um interessante diálogo com o meu caro amigo Holbein Menezes, sempre com o seu sentido crítico bem alerta. Aduzia ele no seu e-mail («emeio», como ele chama à troca de mensagens electrónicas) que a redução do número de visitantes nos shows tem a ver com o facto de neles cada vez mais estarem presentes equipamentos excessivamente caros e que muitas vezes não cabem numa sala normal. Dou-lhe alguma razão nos seus argumentos, no que se refere ao facto de os diversos shows por esse mundo apresentarem fundamentalmente equipamento caro e que, em vários casos, não cabe numa sala normal. E, se olharmos para o meu artigo de antevisão e para a reportagem publicada nesta edição, veremos que o Audioshow não está imune a esse contágio, antes pelo contrário. Poderá alvitrar-se que tal acaba por reflectir um pouco a realidade social em que a classe média, que antes consumia equipamentos com preços entre os 500 e os 1000 euros, quase desapareceu, sendo a interpretação gráfica do extracto social uma pirâmide com uma base enorme (aqueles a que se chama remediados e algo acima disso e os que são mesmo pobres) tendo no topo uma pequena quantidade de privilegiados. Mas não me parece que seja esta a única razão, porque, se aplicássemos tais percentagens alegadamente socialmente representativas às 4000 pessoas que visitaram o Audioshow 2017, iríamos concluir que a esmagadora maioria nunca terá possibilidade de comprar uma grande parte dos equipamentos expostos. Mas o número de visitantes é sempre elevado. Será que são masoquistas? Pois olhemos noutras direcções: a primeira é que as pessoas gostam de visitar sítios bonitos e ouvir bons equipamentos, mesmo que não os possam ou não os queiram comprar naquela ocasião, tal como, no caso dos carros, as revistas com topos-de-gama continuam a vender-se muito bem. A segunda razão assenta em que os expositores no meu show têm preocupações extremas para garantir que os sistemas em demonstração tocam música ao seu melhor nível e preocupam-se em receber bem os visitantes, conversando com eles e discutindo pontos de vista. E toda esta preocupação compensa a um ponto tal que os visitantes estrangeiros, que passam por dezenas de shows ao longo de um ano, afirmam de modo unânime que o Audioshow é o melhor da Europa, logo depois do High-End Show de Munique. Por outro lado, voltando agora à minha reportagem sobre o CES 2017, é preciso não comparar alhos com bugalhos: o CES é um show profissional, dirigido aos lojistas e distribuidores de todo o mundo, muito em especial aos asiáticos. O show de Munique é um evento misto, com dois dias dedicados aos profissionais e o fim-de-semana aberto ao público em geral. E este formato acabou por ser muito mais agradável, desde logo para os expositores, que assim congregam num único evento uma grande variedade de visitantes, desde os totalmente profissionais ao grande público que pode ser um comprador final. Como tal, cada vez mais visitantes e expositores estão a aderir ao show de Munique, desde os europeus (é muito mais fácil ir à Alemanha do que cruzar todo o Atlântico e quase todos os Estados Unidos para chegar a Las Vegas, e isto no Inverno, quando o mais certo é ocorrerem tempestades e fortes quedas de neve) aos asiáticos. Somando a estas razões a realidade de uma boa parte dos putativos compradores aceitar como natural a subida de preço dos equipamentos, e o nível de vida na Alemanha ser dos melhores da Europa, não admira muito que Munique se tenha assumido como um dos maiores shows do mundo em termos da áudio de qualidade. Que podemos então concluir de tudo isto? Pois que não há dúvida que muito mudou no mundo nos últimos dez a vinte anos. Mas uma coisa permanece imutável e esperemos que por muitos anos: colocar esforço e dedicação na organização de um acontecimento e ter os ouvidos abertos para ouvir aqueles a quem o evento é destinado é meio caminho andado para o sucesso. Lá diz o velho ditado que nada se faz sem trabalho. E só temos que ficar satisfeitos quando o resultado desse trabalho é reconhecido e compensado. O melhor, então, é começar já a preparar o Audioshow 2018!
Estatuto editorial disponível em: www.audiopt.com/7/estatuto-editorial.html
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5_NOVIDADES
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Máquina de limpeza de discos Klaudio KD-CLN-LP200S · Melhoramentos nas Dynaudio Focus · Bases para cabos da In-akustik XD · Projectores multimédia Canon · Novas ProAC Response DB3 · Sistemas de áudio Pioneer Fayola · Barra sonora Monitor Audio ASB-10 · Hifiman HE400i com jack de 2,5 mm · Focal Listen · knosti Disco Antistat II, limpeza de discos a um preço acessível · Edições temáticas limitadas de gira-discos da Pro-Ject · Novo amplificador integrado Gryphon Diablo 120 · Avid Celsus e Sigsum · Jadis JA30 MkII · NAD Masters Series ampliada · Sonus faber Homage Tradition · Optoma apresenta novos projectores no ISE 2017 · Subwoofer sem fios Sumiko S.10 · Ultimate Audio distribui a Oyaide · iFi nano iDSD Light Edition e iDSD iOne já disponíveis
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DESTAQUES
15 Imacustica apresenta Wilson Audio Yvette 17 LG apresenta nova gama de televisores OLED para 2017 20 Exaudio abre loja 21 Ajasom (re)apresenta as Audiovector R11 22 B&W 800 D3 em antecipação na Viasonica 24 Samsung apresenta gama QLED em Portugal
TESTES
36 A festa dos melhores sons 48 Bons sons para todos os preços 55 O analógico e muito mais
26 Sonus faber Principia 7 – Requinte italiano acessível a todos 32 O encantamento do analógico 62 Atoll CD200SE2 65 De regresso ao futuro e outra vez ligado à corrente: o leitor/servidor transporte Cocktail Audio X50 68 AMG Giro + cabeça DS Audio DS-W1 – e fez-se luz sobre a música 73 Audiovector QR 3 – Coerência acústica 76 Cabos de coluna Townshend Audio Isolda EDCT neutralidade britânica 78 devolo Gigagate, giga-velocidade em multimédia
TECNOLOGIA ÁUDIO
DISCOPATIA
REPORTAGEM
60 A procura pela alta resolução em áudio (parte 2) «work in progress»…
80 Memórias Magnéticas
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Máquina de limpeza de discos Klaudio KD-CLN-LP200S
A KD-CLN-LP200S é uma máquina de limpeza de discos ultra-sónica, compacta e sem reservatório interno. A potência do gerador ultra-sónico é de 200 Watt e os transdutores estão colocados um de cada lado do disco, para uma maior eficiência, com a secagem a ter lugar através de potentes ventiladores, pelo que durante todo o processo de limpeza nunca há contacto mecânico com o disco. Ao mesmo tempo, dispositivos especiais de amortecimento
minimizam todo e qualquer ruído ou vibração. O líquido necessário para a limpeza é água destilada, a qual pode ser colocada num contentor exterior de 5 litros, dentro do qual se colocam o tubo de ligação e a bomba. A duração total do processo de limpeza está compreendida entre 3 e 9 minutos, com uma barra de LED’s a indicar a evolução desse processo.
Representante: Imacustica Tel.: 225 194 180 / 218 408 374 www.imacustica.pt
Melhoramentos nas Dynaudio Focus XD
A Dynaudio acaba de lançar a segunda geração da altamente conceituada série Focus XD. A nova gama de colunas activas digitais, agora com as designações 20, 30 e 60XD, representa uma evolução significativa relativamente à série anterior. A gama de 2017 sofreu uma reformulação do fluxo de processamento de sinal (incorporando elementos da gama LYD da linha de monitores profissionais de estúdio da Dynaudio) para melhorias substanciais na qualidade de som. A relação entre os amplificadores digitais e os drivers também foi optimizada, incluindo limitadores de sobrecarga. A dinâmica e a relação sinal/
ruído foram igualmente melhoradas e, no caso das Focus 60XD, até a extensão do grave sofreu melhoramentos. Um crossover menos complexo resultou em mais poder de processamento disponível para compensação do posicionamento das colunas, já que os ajustes por DSP corrigem as variações que ocorrem em termos de frequência e fase quando se colocam as colunas perto de uma parede ou de um canto. Também novo é o controlo de brilho derivado da gama Pro-Studio da Dynaudio LYD. Este sistema ajusta o carácter de toda a gama de frequência das colunas, ao invés de apenas ajustar os agu-
dos, e assim os utilizadores podem definir um som geral mais claro ou de tonalidade mais escura, de acordo com a sala e a acústica da mesma. A boa notícia final é que também os possuidores da antiga série XD podem ver as suas colunas actualizadas por software para as novas especificações.
Representante: Smartaudio Tel.: 211 944 015 www.smartaudio.pt
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novidades DESTAQUES
Bases para cabos da In-akustik A In-akustik acaba de anunciar o lançamento de novas bases para cabos, as quais continuam a utilizar o mesmo gel da versão anterior para transformar as vibrações em calor, mas acrescentam dois anéis de borracha para suspender o cabo, o que permite isolá-lo em termos definitivos contra qualquer tipo de vibração, diminuindo em simultâneo as capacidades parasitas e minimizando a sua carga mecânica sobre o equipamento a que está ligado. Estas novas bases de isolamento são muito versáteis porque aceitam diversos diâmetros de cabo e permitem a montagem deste a três alturas diferentes, mantendo-o sempre firmemente suspenso entre os dois anéis de borracha. Representante: Delaudio Tel.: 218 436 410 www.delaudio.pt
Projectores multimédia Canon
Representante: Canon Portugal, SA Tel.: 214 704 000 www.canon.pt
Novas ProAC Response DB3 As Response DB3 surpreendem de imediato pela riqueza e extensão do seu grave, resultado do pórtico bass-reflex situado na traseira. O tweeter é o mesmo utilizado em diversas outras propostas da marca, tendo uma cúpula de seda de 1 polegada. A unidade de graves foi totalmente redesenhada, recebendo uma nova suspensão e um tapa-pó de formato especial, e tem uma excursão alargada e um íman que cria um campo magnético bastante uniforme. A cablagem interna é toda efectuada com fio de cobre isento de oxigénio. A resposta em frequência estende-se dos 38 Hz aos 38 kHz, para uma sensibilidade de 88,5 dB/W/m e uma impedância nominal de 8 Ohm.
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Representante: Imacustica Tel.: 225 194 180 218 408 374 www.imacustica.pt
Combinando qualidade de imagem e versatilidade, os projectores compactos LV-HD420 e LV-X420 oferecem resolução nativa Full HD (1920 x 1080) e XGA (1024 x 768), respectivamente, bem como uma luminosidade de 4200 lúmen e uma elevada relação de contraste (8000:1 no caso do LV-HD420 e 10.000:1 para o LV-X420), tudo incluído num corpo compacto de 3,4 kg. Ambos os modelos incluem o sistema BrilliantColor e um conjunto de ajustes na qualidade de imagem, a capacidade de exibir conteúdo 3D através de DLP-Link System e um altifalante integrado de 10 W. Para uma instalação e manutenção mais simples os modelos incluem controlo por rede e entradas duplas HDMI com suporte MHL e sem filtros.
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Sistemas de áudio Pioneer Fayola Com os sistemas Fayola FS-W40 e FS-W50 a Pioneer introduz no mercado dois novos e modernos sistemas de áudio com um novo conceito. A ideia é que a instalação seja o mais simples possível e que a transmissão sem fios para os diversos espaços num ambiente doméstico tenha lugar sem restrições. Embora principalmente dirigido ao funcionamento em dois canais, o FS-W40 pode ser complementado com o subwoofer FS-SW40 e ainda com satélites extra com a referência FS-S40, de modo a transformar-se num completo sistema de áudio para cinema em casa. O streaming directo, a partir de serviços como Soptify, Deezer ou Tidal, está garantido, bem como é possível ligar a entrada HDMI do FS-W40 ou FS-W50 a um televisor para garantir um som de alta qualidade quando se vê televisão. A diferença principal entre o W40 e o W50 reside no facto de o segundo vir já equipado com o subwoofer.
Representante: Pioneer, Sucursal em Portugal Tel.: 218 610 340 www.pioneer.eu/pt
Barra sonora Monitor Audio ASB-10
Equipada com tecnologia Bluetooth, a ASB10 pode fazer streaming com qualidade de CD a partir de qualquer dispositivo móvel, ao mesmo tempo que está equipada com entradas digitais óptica e coaxial, o que lhe permite uma fácil interacção com um Representante: Delaudio Tel.: 218 436 410 www.delaudio.pt
televisor, e um jack de 3,5 mm para entrada de sinais analógicos. As três possibilidades de igualização permitem optimizar o som produzido para uma grande variedade de situações. Para os amantes de filmes com muita adrenalina, o subwoofer sem fios WS-10 é o complemento ideal desta barra sonora, bem como é possível ampliar as capacidades de ligação sem fios da ASB-10 juntando-lhe os transmissores e receptores WT-1 e WR-1, vendidos como opcionais.
Hifiman HE400i com jack de 2,5 mm
Representante: Imacustica Tel.: 225 194 180 / 218 408 374 www.imacustica.pt
Os Hifiman HE400i são auscultadores de tecnologia planar magnética, extremamente leves e com um elevado rendimento de 93 dB, o que significa que podem ser excitados por amplificadores de baixa potência, tais como os que equipam leitores de áudio portáteis ou smartphones. As suas conchas são fabricadas a partir de um polímero com base em plástico ABS e a bandolete tem um sistema de ajuste automático de pressão para um melhor conforto de utilização. As almofadas, muito confortáveis, são de cabedal e veludo. As versões mais recentes destes auscultadores estão agora equipadas com um jack de 2,5 mm.
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novidades DESTAQUES
Focal Listen
Projectados em França pelos engenheiros acústicos da Focal, os novos Listen combinam todas as vantagens de uns auscultadores portáteis premium. O excelente isolamento de ruído é garantido pelo projecto fechado e pelas grandes almofadas circumaurais, que preservam as qualidades acústicas destes auscultadores, mesmo em ambientes ruidosos. As espumas de alta densidade e com memória são sensíveis ao calor, oferecendo o máximo conforto ao ouvinte. Finalmente, na origem das qualidades acústicas de escuta estão os inovadores drivers de 40 mm.
Representante: Esotérico Tel.: 219 839 550 www.esoterico.pt
knosti Disco Antistat II, limpeza de discos a um preço acessível A knosti Disco Antistat II é uma máquina de limpeza de discos de estrutura muito simplificada, em que o disco gira dentro de um banho de líquido de limpeza reutilizável, sendo a sujidade retirada através de uma escova de pêlo de cabra macio. Uma estrutura externa aceita até 15 discos para secagem, e a movimentação destes ocorre através da actuação de uma manivela. Representante: Imacustica Tel.: 225 194 180 / 218 408 374 www.imacustica.pt
Edições temáticas limitadas de gira-discos da Pro-Ject
Representante: Supportview Tel.: 218 686 101/2 www.supportview.pt
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A Pro-Ject lançou recentemente alguns gira-discos temáticos, com produção limitada, de que se destacam um dedicado a George Harrison e outro aos Beatles em geral. No primeiro caso a base do gira-discos é o modelo Essential III, incorporando uma cabeça Ortofon OM10, uma poleia de alumínio cortado a laser e um prato de acrílico accionado por um motor totalmente redesenhado. Pode ser vendido com uma colecção de 12 LP’s em vinilo de 180 gramas com todos os trabalhos lançados pelo músico. Já o denominado Beatles 1964 está decorado com bilhetes dos 166 concertos efectuados pela banda em 15 países entre 1962 e 1964, sendo a base do projecto o gira-discos Debut Carbon Esprit SB, o qual vem equipado com uma cabeça Ortofon Red.
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Novo amplificador integrado Gryphon Diablo 120 Transformar o tão requestado Diablo 300 num produto acessível a um leque bem mais alargado de consumidores, eis o desafio que se colocou à Gryphon quando começou a desenvolver o Diablo 120. Mas isso não quer dizer que se poupasse naquilo que é realmente fundamental para uma excelente performance, o que é evidente não só quando se olha a sólida caixa exterior, construída a partir de blocos de alumínio e acrílico, como olhando para o seu apetecível interior: transformado de alimentação de 1200 VA, controlo de volume de 40 passos, controlado por microprocessador, ausência de malha global de realimentação, circuitos impressos com pistas de cobre de 70 mícrones, módulo opcional para streaming com DAC integrado e muito mais. Como a referência indica, a potência de saída por canal é de 120 W sobre 8 ohm, passando a 440 W sobre 2 ohm, para uma largura de banda que vai de 0,1 Hz a 250 kHz, -3dB.
Representante: Ultimate Audio Elite Tel.: 217 602 028 http://ultimate-audio.eu
Avid Celsus e Sigsum
Representante: Pauca Sed Bona Tel.: 912 315 200 www.paucasedbona.pt O High-End Show de Munique vai ser palco do lançamento de três novas propostas da Avid: o pré-amplificador e amplificador de potência Celsus e o amplificador integrado Sigsum. Como seria de esperar, o prévio Celsus tem uma entrada de phono da mais alta qualidade, podendo aceitar duas cabeças de gira-discos, e sendo
complementada por quatro entradas de linha. O imponente controlo de volume Alps RK50, utilizado no prévio Reference, mantém-se presente e a alimentação está contida numa caixa separada. Sobre o amplificador de potência Celsus pouco se pode dizer para já. No caso do Sigsum, pode-se desvendar que terá uma entrada de phono
Jadis JA30 MkII O Jadis JA30 MkII é um amplificador de potência do tipo monobloco, que pode ser equipado em alternativa com válvulas de saída dos tipos KT88, KT90, KT120 ou KT150, o que lhe permite debitar até 45 W em classe A. As restantes válvulas são uma ECC83 na entrada e uma ECC82 como desfasadora para o andar de saída em push-pull. Cada uma das válvulas de saída é protegida por um fusível e o circuito de polarização automática implica que, se se substituírem as válvulas de saída por um par emparelhado, não é necessário fazer qualquer ajuste no amplificador.
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Representante: Imacustica Tel.: 225 194 180 / 218 408 374 www.imacustica.pt
e quatro de linha e que mantém o controlo de volume Alps já mencionado, e tudo isto a um preço bem competitivo. Notícias bem mais completas serão trazidas bem fresquinhas do High-End Show de Munique, com reportagem a ser publicada na próxima edição.
NAD Masters Series ampliada
A NAD lançou recentemente o M50.2, uma unidade que fornece música de alta resolução a componentes do sistema ao qual é ligado, ou em streaming para outras unidades BluOS em modo multiroom, permitindo o armazenamento de ficheiros com resolução até 24 bit/192 kHz e capacidade de ripar CD’s, tudo num componente único e elegante que combina as funções dos antigos M50 e M52. Oferecendo apenas saídas digitais, mas incluindo AES/EBU e HDMI, a única adição necessária é um DAC ou pré-amplificador com DAC incorporado, como são os casos do M12 e do M17. Na verdade, o sistema BluOS integrado no M50.2 oferece aos utilizadores a mais ampla matriz de fontes de música para reprodução de alta resolução. Podendo os mesmos ripar CD’s em ficheiros WAV ou FLAC para armazenamento interno, ou baixar directamente música de alta resolução 24 bit/ 192 kHz sem necessitar de recorrer a um computador, poderão igualmente utilizar serviços de streaming ou aceder a uma biblioteca de música digital existente num disco rígido ou de rede. A segunda adição à linha Masters Series é o amplificador NAD M32 DirectDigital DAC, o qual combina as funções de pré-amplificação e amplificação de potência num único andar. Graças à tecnologia MDC da NAD, o M32 está pronto para todos os futuros upgrades, assegurando que o sistema nunca ficará obsoleto. Adicionando o módulo de MDC BluOS, o M32 torna-se um membro do ecossistema BluOS, abrindo assim as portas à sua biblioteca de música, independentemente de a mesma estar armazenada em discos rígidos ou na nuvem.
Representante: Esotérico Tel.: 219 839 550 www.esoterico.pt
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Sonus faber Homage Tradition As Homage Tradition são uma reinterpretação das Homage, um dos produtos mais icónicos da Sonus faber. A gama é constituída por quatro produtos: Amati, Guarneri, Vox e Serafino. Estas últimas, lançadas recentemente, são um modelo de chão, de três vias e meia, e têm como intenção prestar uma homenagem a Sunctus Serafino, um mestre fabricante de alaúdes que tinha uma oficina em Veneza na primeira metade do século XVIII. Têm uma saída bass-reflex do tipo aperiódico, uma impedância de 4 Ohm e uma resposta em frequência que vai dos 30 Hz aos 35 kHz. As Guarneri são um modelo de suporte, enquanto as Amati são, uma vez mais, um modelo de chão de 3,5 vias, sendo a gama complementada pela coluna central Vox. Os acabamentos disponíveis são em madeira Wengé ou em vermelho. Representante: Imacustica Tel.: 225 194 180 / 218 408 374 www.imacustica.pt
Optoma apresenta novos projectores no ISE 2017
Presente uma vez mais no ISE, a Optoma brindou os numerosos visitantes com algumas novidades interessantes. Os novos projectores de entretenimento caseiro da Optoma são versáteis e incluem a nova resolução UHD 4K UHD60, sendo de salientar que o GT1080Darbee inclui a tecnologia Darbee Visual Presence. Ideal para os entusiastas dos jogos, o novo projector GT1080Darbee de curta distância é o sucessor do popular GT1080e, que oferece resolução 1080p, duas portas HDMI, luminosidade de 3000 lúmen e uma rela-
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ção de contraste de 25.000:1. O Optoma GT1080Darbee faz descobrir um novo modo de jogo avançado com um tempo de resposta de 16 ms, enquanto a tecnologia de aprimoramento de imagem Darbee Visual Presence traz níveis revolucionários de profundidade e realismo às imagens. O novo projector profissional UHD 4K da Optoma – o 4K500 – usa um design DLP de chip único para evitar problemas de alinhamento e potenciar uma extrema precisão. A solução DLP UHD 4K oferece mais de 8 milhões de píxeis para a tela com 4 mi-
lhões de espelhos. Cada espelho é capaz de alternar mais de 9000 vezes por segundo, criando dois píxeis distintos e únicos no ecrã durante cada frame para apresentar uma resolução total de UHD 4K.
Representante: Ésistemas Tel.: Porto: 229 558 456 Lisboa 212 405 070 www.esistemas.pt
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Subwoofer sem fios Sumiko S.10
Representante: Imacustica Tel.: 225 194 180 / 218 404 374 www.imacustica.pt
O subwoofer Sumiko S.10 é um modelo activo sem fios, equipado com um amplificador de classe D de 500 W, o qual alimenta um altifalante de graves de 12 polegadas com cone em sanduíche de fibra de vidro, acoplado a um radiador passivo do mesmo diâmetro e construção idêntica. O receptor de radiofrequência está integrado na estrutura, embora seja disponibilizado, ao mesmo tempo, o mesmo nível de conectividade que temos num subwoofer convencional com ligação por cabo. Este receptor, com a referência WRX, está igualmente disponível para ser vendido em separado, o que permite aumentar a versatilidade das gamas S.0, S.5 e S.9 da Sumiko. A resposta em frequência do S-10 vai desde a frequência de corte superior, ajustável entre os 30 e os 120 Hz, aos 22 Hz/-6 dB .
Ultimate Audio distribui a Oyaide A Oyaide é uma empresa japonesa com uma longa tradição no fabrico de acessórios de precisão para utilização em áudio e não só. São bem conhecidas as fichas e tomadas para sector, que utilizam materiais de primeira qualidade, tais como o ródio, o berílio e a platina, usados para recobrir os terminas de contacto, sendo ainda as tomadas múltiplas para alimen-
tação de equipamentos um dos seus produtos mais interessantes e procurados. Estes acessórios são essenciais para todos os que prezam conseguir obter o máximo desempenho do seu sistema de áudio e passam a estar agora disponíveis entre nós através da Ultimate Audio.
Representante: Ultimate Audio Elite Tel.: 217602028 http://ultimate-audio.eu
iFi nano iDSD Light Edition e iDSD iOne já disponíveis
Representante: Smartaudio Tel.: 211 944 015 www.smartaudio.pt
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O nano iDSD Light Edition (LE) é o mais recente DAC de nível básico da iFi Audio. Possui o mesmo ADN que o multipremiado nano iDSD, mas sem a saída digital S/PDIF e selecção de filtro digital, funciona com ficheiros DSD128 e PCM384. Esta «máquina de bolso» faz parte do nível de entrada, mas com um pedigree que oferece o mesmo desempenho sónico do seu irmão mais caro. O nano iDSD iOne é um DAC versátil, compacto e completo. Na iFi, o som de alta qualidade é um modo de vida. O nano
iOne foi criado para audiófilos, mas também para aqueles que anseiam por uma melhor qualidade de som nos sistemas ou equipamentos existentes em casa, sejam eles um equipamento de streaming ou uma televisão 4K, uma consola de jogos como a XBox ou uma PlayStation 4, ou simplesmente para desfrutar de música através de um smartphone, tablet ou computador. As funcionalidades de Bluetooth e as entradas e saídas S/PDIF com isolamento galvânico propiciam um excelente desempenho em áudio puro.
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Imacustica apresenta Wilson Audio Yvette
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Imacustica deu seguimento ao Audioshow no fim-de-semana que se lhe seguiu para a apresentação das novíssimas colunas Wilson Audio Yvet-te. Esta apresentação decorreu a 10 e 11 de Março em Lisboa e 24 e 25 de Março no Porto. Para além das Yvette estiveram também em demonstração outras novidades que haviam sido apresentadas no Audioshow e que puderam assim ser de novo apreciadas desta feita nas salas de demonstração da Imacustica. Foram três os sistemas em apresentação. O primeiro era constituído pelas Wilson Audio Alexx com amplificação Dan D’Agostino Momentum Pre e monoblocos Progression, tendo na fonte o leitor DCS Rossini + Rossini Master Clock e gira-discos Air Force II com braço SAT (Swedish Analog Technologies) e célula Sumiko Palo Santos. As Wilson Audio Yvette foram demonstradas com amplificação Constellation Audio, nomeadamente o Preamp. 1.0 e amplificador Inspiration Stereo 1.0, com fonte DCS Rossini + Rossini Master Clock e
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um gira-discos EAT C-Sharp com unidade de phono Audio Research PH-6. As Yvette são um dos primeiros projectos de Daryl Wilson, o filho de Dave Wilson, que assegura assim a continuidade da marca e de uma sonoridade que tem conquistado adeptos por todo o mundo. Para este projecto Daryl utilizou várias das inovações tecnológicas desenvolvidas ao longo dos anos e implementadas em modelos de topo como as Sasha e Alexx. É o caso do tweeter Convergent Synergy Tweeter MKIII que é também utilizado nas Yvette e da unidade de médias frequências que é a mesma que é utilizada nas Alexandria XLF, bem como dos materiais compó-
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sitos X-Material e S-Material, proprietários da Wilson Audio e que são empregues transversalmente em toda a gama. O desenvolvimento das Yvette decorreu em simultâneo com o modelo Alexx, bem como do projecto de Dave Wilson para as novas Wamm. Não admira assim que as Yvette tenham no seu ADN um conjunto de características e inovações tecnológicas que foram concebidas para modelos bem mais acima na gama da Wilson Audio. No auditório da Imacustica as primeiras impressões auditivas não podiam ter sido mais entusiasmantes. Uma sonoridade rápida, de dinâmica desenvolta e notável transparência, o que, em conjunto com
uma imagem estéreo de grande amplitude, facultou uma reprodução musical de marcante arejamento, um sentido rítmico entusiasmante e uma invulgar capacidade para nos prender à audição de música. A Imacustica tinha também em demonstração os primeiros exemplares da nova série de colunas Tradition da Sonus faber, nomeadamente as Serafino e Guarneri. As Serafino foram demonstradas num sistema que incluía o amplificador Audio Research GSI75, fonte DCS Network bridge com DAC PS Audio DS e um leitor Audio Research CD-9. As belas monitoras Guarneri Tradition faziam as honras da casa no corredor ligadas a um amplificador Devialet.
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LG apresenta nova gama de televisores OLED para 2017 Jorge Gonçalves
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OLED é uma tecnologia que tem captado cada vez mais adeptos por esse mundo fora, com a penetração no mercado a triplicar de 2015 para 2016, isto enquanto o número de televisores UHD duplicou. Assente nessa realidade e no facto de a marca ser o único fabricante de painéis OLED a nível mundial, a LG Portugal estabeleceu uma posição de grande destaque no mercado nacional de TV durante 2016, tendo ficado a apenas 0,5% de ser o número 1 em Portugal em unidades e assumindo sem qualquer dúvida o primeiro lugar em termos de valor. A grande estrela da gama de televisores OLED da LG, a qual terá um total de 24
modelos, será sem dúvida o W7, o televisor que virtualmente se «cola» à parede. O design inovador do LG OLED W7 segue a filosofia da LG de que menos é mais (Less is More) e dá um realce particular ao ecrã. O perfil fino do LG OLED W7 faz com que pareça que o televisor levita no ar, transmitindo uma evidente sensação de imersão. Neste modelo, o painel OLED é colocado directamente na parede através de suportes magnéticos, evitando espaços indesejados entre o televisor e a parede, com a espessura final depois de instalado na parede a ser inferior a 4 mm. A sensação de imersão é completada pelas colunas e pela tecnologia de som Dolby Atmos, um formato de som surround que é integrado num televisor pela primeira vez e cuja
presença se vai estender a toda a gama de televisores OLED 4K da LG. A nova gama LG OLED TV 4K, que inclui os modelos 77/65W7, 65G7, 65/55E7, 65/55C7 e 65/55B7, oferece uma qualidade imagem de referência a partir de tecnologias tais como Preto Perfeito, Contraste Infinito, Cores Vibrantes, mas não só. Em 2017, os televisores LG OLED TV 4K possuem designs inovadores tais como: Ultrafino nos modelos B7 e C7, Imagem sobre Vidro no E7 e G7 e Papel de Parede, no recém-chegado W7. Como se tudo isto não chegasse, metade dos modelos para 2017 vai integrar a tecnologia de melhoramento de imagem Dolby Vision, em adição ao HDR10 e ao HLG (versão do HDR desenvolvida para
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emissões de TV por radiodifusão). O Dolby Vision é a tecnologia original de melhoramento de luminosidade e cor, desenvolvida pela Dolby, e na qual se usa Metadata dinâmico, ou seja, a informação que permite ao painel saber qual o conteúdo de luz da imagem é actualizada quadro a quadro, o que permite uma reprodução muito mais precisa dos níveis de luminosidade e de cor. Caso se estejam a visionar conteúdos standard, sem informação HDR, a função Active HDR recria o Metadata dinâmico durante o processamento de vídeo, melhorando assim substancialmente a qualidade da imagem.
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Uma vez que a nova gama estará equipada com a última versão da intuitiva plataforma de smart TV, o webOS 3.5, os utilizadores não terão dificuldade em aceder a conteúdos premium HDR disponíveis online, como por exemplo os conteúdos Dolby Vision disponibilizados pela Netflix. O sistema webOS 3.5 tem um conjunto de funcionalidades inovadoras, tais como o facto de, a partir da barra colorida onde estão todas as aplicações e funções (Launcher), o utilizador poder aceder a um mundo de entretenimento com aplicações e jogos. Em 2017 o webOS suporta os recentes conteúdos 360º que começam
a ser sugeridos nas mais diversas plataformas. Interessante ainda o facto de a nova versão do controlo remoto Magic Remote passar a disponibilizar duas teclas de acesso directo a serviços de VOD – uma para a Netflix, com a qual a LG tem uma parceria, e outra para a Amazon. Argumentos e qualidade não faltam e esta gama que globalmente será sem dúvida a mais completa que algum fabricante tem para sugerir aos consumidores, por isso antecipa-se um futuro bem risonho para a LG durante 2017. As apostas certas acabam sempre por compensar.
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Exaudio abre loja Jorge Gonçalves
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Exaudio, desde o seu início como parceiro comercial presente no mercado português com instalações na zona de Alcabideche, resolveu mudar-se um pouco mais para o interior de Cascais e abrir uma loja de venda directa ao público na Rua de Braga. Trata-se de um amplo e luminoso espaço com uma área de cerca de 150 metros quadrados, divididos por dois pisos. No piso de entrada temos duas zonas principais de demonstração, numa das quais estava instalado um sistema totalmente Audionote, com o prévio M2 Line e o amplificador de potência P1 SE Signature, sendo a fonte o leitor de CD’s S1ACD, enquanto na segunda localização brilhavam as colunas Manger s1, com amplificação Perreaux Eloquence 250i, leitor de CD’s Audionote CD 4.1x e streamer Merging Nadac. Nesta mesma área temos diversos pontos mais virados aos acessórios, muito em especial os auscultadores da Stax, enquanto no piso inferior está em preparação uma sala totalmente dedicada ao cinema em casa. Estão assim finalmente criadas as condições para que as diversas marcas representadas pela Exaudio possam ser demonstradas em condições que lhes permitam exprimir ao melhor nível as suas qualidades dentro de uma atraente sala de visitas que espera por todos aqueles de gostam de ouvir música do melhor calibre.
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Ajasom (re)apresenta as Audiovector R11
Jorge Gonçalves
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lguns distribuidores nacionais aproveitaram o facto de terem trazido até cá equipamentos raros (e algo caros) para prolongarem as sessões organizadas no Audioshow para as suas instalações. A Ajasom foi um deles e teve em demonstração por mais duas semanas o magnífico sistema apresentado no Pestana Palace: Audiovector R11 Arreté e electrónica da Nagra – monoblocos Nagra HD AMP, prévio Nagra Classic Preamp, leitor de CD’s Nagra CDP, conversor Nagra HD DAC, leitor-gravador digital Nagra Seven. Na fonte digital brilhava o gira-discos Bergmann Magne com cabeça Lyra Etna. Como já afirmei na reportagem do Au-
dioshow, este magnífico sistema tem um som bonito, muito límpido e espacial, com uma ausência de esforço na apresentação dos vários momentos musicais que causa espanto. As R11 sentiram-se como peixe na água na nova sala da Ajasom, demonstrando na globalidade as qualidades que acabei de descrever, quer seja com CD ou ficheiros digitais, quer com alguns discos especiais que revelaram uma vez mais a excelência do gira-discos da Bergmann. Valeu a pena a minha deslocação e a estadia de algumas horas a ouvir boa música, justificando-se assim completamente a «concorrência saudável» deste prolongamento do Audioshow. Venham, portanto, mais momentos destes que os audiófilos nacionais agradecem.
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B&W 800 D3 em antecipação na Viasonica Jorge Gonçalves
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s 800 D3 são as topo-de-gama da marca e foram aguardadas com larga expectativa por vários meses, depois da sua apresentação durante o High-End Show de Munique. São umas colunas excepcionais, ostentando uma referência que desde há muitos anos é olhada com reverência por tudo o que é audiófilo e engenheiro de som por esse mundo fora. Tendo como finalidade a pré-apresentação e a rodagem de um par de 800 D3 que iriam estar presentes no Audioshow, como não podia deixar de ser, a Viasonica organizou um conjunto de sessões de demonstração destas colunas fora de série, tendo eu comparecido numa dessas sessões, quando elas estavam acompanhadas por electrónica da Luxman: amplificador de potência M-900u, prévio C-900u e leitor de CD’s D-06u. Foi possível aperceber-me de que tinha perante mim uma colunas de excep-
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ção, com uma expansividade dinâmica e poder de grave assinaláveis, algo bem patente durante a reprodução de obras sinfónicas de grande complexidade. Imponentes como são, em termos volumétricos, as 800 quase que desapareciam de cena, mantendo sempre uma imperturbabilidade esfíngica perante qualquer situação que lhe fosse apresentada. Numa ou outra passajem, dependendo do tipo de música e do nível de audição, poderia ter-se uma ligeira noção de que talvez desse jeito ter ali mais um amplificador, o que realmente aconteceu mais tarde com a entrada de um M-900u na equação. Aí já não me foi possível comparecer porque estávamos na véspera do Audioshow, mas diz quem lá esteve que as 800 D3 soaram realmente sublimes. Mais uma boa sessão de demonstração com que os audiófilos portugueses foram brindados e só resta esperar que venham bem mais ocasiões destas.
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Samsung apresenta gama QLED em Portugal Jorge Gonçalves
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Samsung escolheu a belíssima Sala dos Embaixadores do Palácio Nacional da Ajuda para revelar a «Televisão da Luz», título atribuído pela marca à gama de Samsung QLED TV devido aos níveis de brilho e da experiência visual. A luminosidade global pode atingir 1500 nit, com picos de 2000 nit. Com as novas partículas da tecnologia quantum dot, a Samsung QLED TV pretende responder a todos os principais aspectos da qualidade de imagem, incluindo ângulo de visionamento, profundidade de cor, brilho e contraste. A Samsung QLED TV reproduz cores precisas e atinge praticamente 100 por cento na profundidade de cor. Adicionalmente, os níveis de preto profundo e de contraste da Samsung QLED
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TV oferecem uma experiência de visualização consistente, mais independente das condições de iluminação do local onde está a ser visualizada. Com a QLED TV, através da tecnologia HDR 1500 (High Dynamic Range), conseguem-se níveis elevados de luminosidade global e reprodução de detalhes, mesmo em zonas escuras. A interface Smart Hub foi igualmente melhorada, sendo muito mais simples e intuitivo o acesso a funções e conteúdos através do comando One Remote Control, bem como é possível controlar quase todo o funcionamento do televisor usando a App para telemóvel Smart View, disponível para iOS e Android. A ligação entre o televisor e a caixa onde se ligam todos os dispositivos externos tem lugar através de
um cabo óptico fino com 5 metros de comprimento, o qual fica quase invisível na parede e permite um afastamento razoável entre o televisor e os equipamentos a ele ligados. A montagem na parede é igualmente muito facilitada através do suporte No Gap Wall-mount, o qual permite não só ajustar a horizontalidade do ecrã, como deixa no final uma distância quase nula entre o televisor e a parede. Para já foram apresentadas as gamas Q7 e Q8, esta última com ecrãs exclusivamente do tipo curvo, e disponíveis nas dimensões de 49, 55 e 65 polegadas, no primeiro caso, e de 55, 65 e 75 polegadas no segundo. Faz ainda parte da nova gama QLED um modelo topo-de-gama, o Q9, com um ecrã plano de 65 polegadas.
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Sonus faber Principia 7
Requinte italiano acessível a todos João Zeferino
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s leitores mais antigos sabem que uma das minhas paixões audiófilas foram as colunas Sonus faber. Ao longo das últimas duas décadas o meu sistema contou primeiramente com as Electa, a que se seguiram as Electa Amator II e por fim as Guarneri Memento. Foi uma evolução sempre pensada e adequada ao espaço e ao sistema que ia construindo, mas mantendo-se uma característica sonoridade que sempre me soube cativar. Para além destas tive igualmente
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oportunidade de experimentar, no contexto da minha colaboração com a Audio & Cinema em Casa ao longo dos últimos 16 anos, outros modelos da marca que sempre revelaram possuir uma assinatura sónica com a qual facilmente os meus ouvidos se identificaram. Não admira pois que qualquer novo lançamento de um novo modelo da marca seja para mim motivo de especial interesse e motivação. Pouco mais de um ano passado sobre a análise que fiz à série Chameleon, eis que a marca volta a surpreender com o lançamento de uma nova série de colunas ainda mais baratas que as Chameleon
e que passam a definir o patamar de entrada na gama de colunas da marca italiana, as Principia.
Descrição Partindo da premissa de que «um som perfeito é um direito que assiste a todos os amantes de música», a Sonus faber concebeu as Principia como um modo mais acessível de aceder ao exclusivo som high-end. As Principia, cujas caixas de formato trapezoidal são obviamente inspiradas nos modelos Chameleon, herdam destas alguns dos componentes utilizados, como por exemplo o tweeter de
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cúpula DKM de 29 mm. Já a escolha de acabamentos é muito mais limitada, dispensando-se a opção por painéis coloridos intermutáveis, que inevitavelmente iriam encarecer o produto, tendo a marca optado pela universal cor preta. Na traseira dois pares de terminais de aperto que aceitam cabo nu, fichas banana ou forquilhas e permitem a bicablagem ou biamplificação. A colecção Principia é composta por cinco modelos, as monitoras Principia 1 e 3, seguem-se as colunas de chão Principia 5, de duas vias, as Principia 7, de três vias, e por fim a Principia C como canal central. Para além do tweeter de cúpula de 29 mm DKM comum a todos os modelos, são utilizadas unidades de 150 mm e 180 mm para as médias e baixas frequências, com cone de polipropileno termo-moldado, as quais possuem um acabamento que lhes confere o aspecto de unidades metálicas. No caso específico das Principia 7, em análise, são utilizadas duas unidades de 180 mm, uma de 150 mm e um tweeter. Trata-se de um modelo de três vias e bass-reflex frontal, com corte nos 250 Hz e 2500 Hz, impedância de 4 Ohm, uma sensibilidade de 90 dB (2,83 V/1 m) e uma potência admissível entre os 40 e os 300 Watt. As dimensões de 1060 x 270 x 355 mm permitem-lhes ser facilmente integradas numa sala de tamanho normal, mas asseguram uma volumetria suficiente para produzir registos graves com expressão, especificando a marca uma resposta em frequência entre os 38 Hz e os 25 kHz, ainda que não sejam indicados os parâmetros de medida.
Audições As Sonus faber Principia 7 foram integradas no meu sistema habitual, composto por conjunto prévio/ amplificador de potência Accuphase C-2120/P-4200, leitor digital Audiocom BDP-105EU
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teste Sonus faber Principia 7 Signature e ainda o gira-discos Michell GyroDec + Rega RB-300 + Benz Micro Glider. A cablagem constou dos Kubala-Sosna Fascination e Kimber Select KS-1121 nas interligações e Kimber Monocle XL nas colunas. A melhor posição de audição foi encontrada muito facilmente. O facto de o pórtico reflex estar na face frontal ajuda a evitar as interacções com a sempre complicada parede traseira. Bastaram assim algumas experiências para encontrar a melhor posição, acabando as colunas por ficar a cerca de 65 cm das paredes posteriores, 40 cm das paredes laterais e apontadas num ângulo de cerca de 30º para o local de audição. Uma elevada sensibilidade de 90 dB permite às Principia 7 alcançar elevados volumes de som com amplificadores de baixa potência, o que é especialmente importante se atendermos a que as estas colunas serão prioritariamente ligadas a amplificadores ou receivers A/V dentro do seu próprio escalão de preços. Logo às primeiras audições constatei que o som destas Sonus faber baratas de barato não tem nada. As Principia são capazes de gerar um som com uma grandeza de escala perfeitamente de acordo com as dimensões da caixa e, principalmente, sem acusar esforço ou dificuldade em transpor as passagens musicais mais exigentes. Nada melhor que uma música bem imponente como A Sussex Overture, numa excelente gravação da Reference Recordings, para demonstrar as capacidades dinâmicas de umas colunas de som. As Principia 7 proporcionaram-me uma audição verdadeiramente entusiasmante, capaz de aliar uma desenvoltura dinâmica extraordinária para umas colunas deste nível de preços, uma clareza de discurso notável e um sentido de escala imponente, mantendo todo o poder da orquestra sob um firme controlo e respeito pelo volume e dinâmica própria de cada naipe de instrumentos. Quando a música se torna mais complexa e a altos volumes de som, pode surgir a tendência para um encolher do palco e respectiva escala, mantendo-se todavia a agilidade e o sentido rítmico. O palco sonoro apresenta-se correcto. Tem início no plano definido pelas colunas e proporciona uma imagem estéreo de fino recorte, com uma boa definição lateral e em altura e uma profundidade de muito bom nível, que desafia uma vez mais o nível de desempenho expectável face ao preço. The Alan Parsons Project – Eye in The Sky soou particularmente poderoso e revelador e com um sentido rítmico assinalável, que nos transmite facilmente as
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intrincâncias dos arranjos da música de Alan Parsons. Já no Concerto para Piano e Orquestra em Ré menor de Mozart senti alguma falta do relaxamento necessário para a completa fruição da obra. Contudo há que notar que a comparação foi feita com as minhas muito mais dispendiosas colunas residentes ou por comparação de memória com as Guarneri Memento, insuperáveis no que a requinte e relaxamento diz respeito. Por comparação, as Principia 7 soam mais mecânicas e banais na forma como reproduzem música, ainda que a este nível de preços isso seja a norma vigente. Não faz sentido esperar encontrar o requinte tímbrico de umas colunas de 9000 m numas colunas de 1500 m. Com um registo agudo limpo, bastante extenso e isento de agressividades e uma gama média aberta e de apresentação clara, há que notar apenas alguma timidez nos registos graves mais profundos. Não com a batida da bateria, que soa sempre com o impacto e o poder necessários a conferir ritmo e energia às sonoridades mais modernas, mas antes lá no extremo do grave onde roncam as notas mais baixas dos contrabaixos e violoncelos, aquelas que conferem suporte ao edi-
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INTÉRPRETES
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EDITORA
Maria João Pires Wolfgang A. Mozart Conc. p/ Piano e Orq. N.º 26 Orquestra Filarmónica de Viena Claudio Abbado em Ré menor
DG (CD)
Malcom Arnold Aberturas
Orquestra Filarmónica de Londres Malcom Arnold
REFERENCE RECORDINGS (CD)
L. Bernstein West Side Story
Kiri Te Kanawa – José Carreras Tatiana Troyanos – Kurt Ollman Orquestra e coros sob a direcção de Leonard Bernstein
DG (CD)
Toros y Toreros
Cdt. Abel Moreno
AGORILA (CD)
John Williams Olympic Fanfare
National Symphonic Winds Lowell Graham
WILSON AUDIOPHILE (CD)
René Aubri Les Voyageurs
René Aubri
AS DE COEUR PRODUCTIONS (CD)
Patricia Kaas Scène de Vie
Patricia Kaas
COLUMBIA (CD)
The Alan Parsons Project Eye in The Sky
Alan Parsons
ARISTA RECORDS (CD)
Pink Floyd The Final Cut
Pink Floyd
CBS/SONY (LP)
Michel Camilo Portrait
Michel Camilo
CBS RECORDS (LP)
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fício sinfónico, surgem por vezes reticentes e demasiado leves, o que acaba por conferir à sonoridade uma ligeireza e velocidade de resposta agradável ainda que à custa de alguma da ancoragem necessária à segurança total que se exige com música sinfónica.
Conclusão Apesar do baixo preço, as Principia 7 não renegam a nobre linhagem de que descendem. Umas colunas com um design limpo, atraente, moderno e fácil de integrar numa decoração doméstica. Em termos de desempenho oferecem um valor notável para o preço a que são vendidas, sendo uma das opções a não descurar por quem procura colunas de três vias, de colocação no chão e com um preço até aos 2000 m e que ostentam, qual cereja no topo do bolo, um nome com o prestígio da Sonus faber. Especificações Principia 7 Sensibilidade
90 dB
Impedância nominal
4 Ohm
Potência admissível
40 – 300 Watt
Frequência de resposta 38 Hz – 25 kHz
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Frequências do crossover
250 Hz 2500 Hz
Tipo de caixa
3 vias Bass-reflex – pórtico frontal
Dimensões
1060 x 270 x 355 mm A/L/P)
Peso
18,9 kg
Preço
1540 m
Representante
Imacustica
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VPI Prime Signature/ Kiseki PurpleHeart N.S. O encantamento do analógico João Zeferino
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conjunto gira-discos VPI Prime Signature e célula Kiseki PurpleHeart N.S. revelou-se como o setup analógico mais extraordinário que tive o prazer de ouvir no meu sistema de som. Sabem os leitores habituais da Audio & Cinema em Casa que fui um dos entusiastas do som digital desde que o CD apareceu em Portugal, por volta de 1983/84. Contudo, e apesar de a minha colecção de música se ter baseado essencialmente em CD’s, dado que o período de maior crescimento da mesma coincidiu temporalmente com o lançamento do formato CD, nunca deixei de ter um cantinho reservado para o gira-discos e para o vinilo. Não deixa de ser curioso, contudo, que passados mais de 30 anos um gira-discos tenha exercido em mim um tal encanta-
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mento que me levou a ouvir LP atrás de LP, incluindo alguns que já há vários anos não eram retirados das capas, e a lamentar profundamente não ter dado a mesma importância ao LP que dei ao CD ao longo das últimas três décadas.
Descrição VPI Prime Signature A VPI Industries Inc. é uma empresa familiar que foi fundada por Harry e Sheila Weisfeld há cerca de 35 anos e que tem hoje ao leme Harry e o filho Mathew Weisfeld, que assume assim a responsabilidade pela continuidade da empresa e da marca. A VPI Industries Inc. esteve ausente do mercado luso nos últimos anos, tendo sido recentemente assegurado o seu regresso pela Ultimate Audio Elite. O modelo Prime Signature é uma evolução do modelo Prime, o primeiro con-
cebido por Mathew Weisfeld para a VPI Industries Inc. e que inaugurou uma plataforma de formato irregular e curvilíneo, entretanto já adoptada nos modelos mais recentes como este Prime Signature, e também no já anunciado Prime Scout, a ser lançado durante o ano de 2017. No Prime Signature a plataforma possui uma espessa placa de alumínio, ensanduichada entre duas placas de MDF para um bom amortecimento, com massa elevada, grande estabilidade mecânica, um eficaz controlo de ressonâncias e uma óptima rejeição de feedback. O acabamento exterior é realizado em vinilo de alta qualidade. O chassis assenta em quatro pilares de aço inoxidável, que foram concebidos para proporcionar isolamento e acoplamento mecânico à superfície de suporte. O motor é uma unidade síncrona AC de 24 pólos e
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300 RPM, que se encontra instalado num chassis independente, realizado em alumínio, sendo a única ligação com o prato a própria correia de transmissão. A chumaceira invertida conta com um bujão fabricado numa liga de bronze fosforoso e um veio de aço inoxidável endurecido, que é terminado numa esfera fabricada numa liga designada Chrome Steel, a qual possui uma dureza de 60 na escala de Rockwell. O veio é apoiado num disco de Peek, um polímero termoplástico de excelentes propriedades mecânicas. O prato é realizado em alumínio maquinado de grau 6061 e tem um peso de 9 kg. O braço que equipa a versão Signature do Prime é uma versão melhorada do JMW 10-3D Reference Arm, que apresenta a particularidade de ser obtido através de uma impressão 3D. Esta versão possui um acabamento Metallic Black e é internamente cablada com cabo Nordost Reference. O braço possui um design unipivot e permite uma fácil regulação de VTA (Vertical Tracking Angle), anti-skating e força de apoio
Kiseki PurpleHeart N.S. A célula Kiseki PurpleHeart que vinha instalada no gira-discos Prime Signature foi o meu primeiro contacto com um produto deste fabricante. Uma rápida consulta ao site da Ultimate Audio Elite e podemos ficar a saber um pouco da história da Kiseki, palavra japonesa que significa «milagre», e de como surgiu a marca há mais de três décadas, pelo texto que a seguir transcre-
vo: «A força motriz que fez a Kiseki, a célula mais usada nos sistemas de referência dos críticos mais astutos de áudio, é Herman van den Dungen, proprietário da Durob Audio BV na Holanda. A Kiseki nasceu de dois problemas que afligem a indústria das células. Um deles é a oferta, e infelizmente isso nunca será uma situação perfeita, pois produzir um bom produto é demorado. No entanto o maior problema é a variação de amostra para amostra. Herman trouxe ao mercado algumas das marcas mais notáveis no áudio high-end e ele exige um nível de precisão ainda maior do que os alemães ou os suíços. Herman ao apresentar a Kiseki sentiu que poderia alcançar um nível mais elevado de qualidade, tanto na fabricação como na reprodução dos seus LP’s.» Para os leitores mais interessados no historial da marca, aconselho uma visita ao seu site em http://kiseki-eu.com/ how-it-all-started/, onde poderão ficar a conhecer a intrincada rede de acontecimentos que culminaram no nascimento da Kiseki. A célula PurpleHeart N.S. é do tipo MC, com corpo exterior em madeira, uma haste de boro sólido com 0,3 mm de diâmetro e uma agulha de diamante polido até ao grau de espelho, com perfil Line Contact e as dimensões de 4 x 120 μm. A tensão de saída é 0,48 mV a 5 cm/s, perfeitamente adequada à maioria dos prévios de phono MC no mercado e sem necessidade de utilizar um dispositivo de amplificação extra. A impedância interna é de 42 Ohm e a res-
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posta em frequência é indicada como de 20 a 30.000 Hz ±1 dB, com uma separação entre canais de 35 dB a 1 kHz. A força de apoio recomendada situa-se entre os 2,0 e os 2,6 com 2,3 g de valor recomendado, exactamente aquele que eu utilizei para as audições, e com uma impedância de carga recomendada de 400 Ohm.
Audições Os VPI + Kiseki substituíram o Michell Gyrodec no meu sistema, tendo sido utilizado como prévio de phono o módulo AD-30 da Accuphase que se encontra instalado no prévio C-2120. A impedância de carga foi 300 Ohm, valor máximo permitido pelo módulo AD-30 mas ligeiramente inferior ao recomendado pela Kiseki. Contudo, dado que os resultados auditivos não podiam ter sido mais entusiasmantes, não senti necessidade de procurar uma solução alternativa. O restante sistema era o habitual, com o conjunto prévio/power Accuphase C-2120 / P-4200 e colunas Revel Ultima Studio 2, com cablagem Madrigal CZ-GEL, Kubala-Sosna Fascination e Kimber Select KS-1121 nas interligações, e nas colunas os Kimber Monocle XL. A estreia do VPI + Kiseki deu-se com Mahler, e devo dizer que não podia ter sido melhor escolha. A 2.ª Sinfonia, Ressurreição, interpretada pelo Coro e Orquestra Sinfónica de Londres, dirigidos por Sir Georg Solti numa gravação da Decca de 1966, foi um dos momentos mais exaltantes que experimentei nos últimos tempos.
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A profundidade do palco só tem paralelo na largura e altura do mesmo, oferecendo ao ouvinte um espectáculo sonoro capaz de nos envolver totalmente no acontecimento musical. Da grande variedade de equipamentos e colunas que têm passado pela minha sala de audições, não tenho memória de presenciar um palco sonoro capaz de fazer desaparecer as paredes laterais da sala. Foi como se ela tivesse passado a ter o dobro da largura. Impressionante. Ouvir um conjunto gira-discos/célula em que ambos são novidade para o ouvinte torna mais difícil perceber que componente contribui mais para o que se está a ouvir. À medida que fui progredindo nas audições fui percebendo estar na presença de uma célula verdadeiramente extraordinária e que terá uma cota-parte muito elevada de responsabilidade no som do conjunto. Contudo, é também verdade que qualquer célula só poderá demonstrar o seu potencial sonoro na medida em que a base, o gira-discos, ofereça as condições necessárias para que essa demonstração possa ser realizada. Pouco tempo depois
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destas audições tive oportunidade de ouvir, durante o Audioshow, a mesma célula montada num VPI Avenger Reference, um gira-discos da série superior da VPI mas no qual, apesar do sistema e da sala serem diferentes, pude perceber um conjunto de características sónicas que serão próprias da célula PurpleHeart. Em termos dessas características, o que me deixou de queixo caído foi a quantidade, intensidade e definição dos registos graves. Primeiramente com a entrada da 2.ª Sinfonia de Mahler e com a exposição vigorosa do tema entregue aos violoncelos e contrabaixos e, posteriormente, com o álbum The Wall dos Pink Floyd, a presença e intensidade dos registos graves nunca deixou de me surpreender. É um grave opulento, intenso e bem recortado, que se espraia pela sala de audições e que funciona sempre como uma sólida ancoragem da obra musical. Na zona alta do espectro sonoro sur-
ge um agudo limpo, cintilante e sem grão, mas que se pode revelar enérgico e dinamicamente desenvolto quando a música o exige. Os metais das grandes orquestras sinfónicas (ouça-se a entrada do 5º andamento, Im Tempo des Scherzos – Wild herausfahrend), a serem convidados a dar a sua contribuição em fortíssimo, soaram corpulentos, enérgicos e brilhantes como é próprio dos instrumentos de metal, mas também bem timbrados, harmonicamente ricos e luxuriantes e facilmente distinguíveis uns dos outros, nunca caindo na tentação de tornar a massa sonora um empastado de sons mas antes um conjunto bem diferenciado que naquela altura em concreto toca em simultâneo. A gama média distingue-se pela envolvência, correcção tímbrica e faculdade para revelar detalhe numa apresentação que não é nem muito frontal nem muito recuada. De um modo geral o palco inicia-se no plano definido pelas colunas e
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estende-se em profundidade, largura e altura de modo a ocupar o espaço em redor do sistema. A naturalidade da reprodução sonora não é sinal de desinteressante neutralidade, dado que a música é sempre apresentada com paixão, com fulgor. As vozes são reproduzidas de um modo muito fácil, sempre inteligíveis e articuladas, seja com trabalhos vocais individuais seja com massas vocais complexas.
Conclusão É ao comtemplar o que um conjunto como este pode fazer pela reprodução de música em modo analógico que somos levados a perguntar sobre a real necessidade do digital. Pelo menos de um ponto de vista estritamente qualitativo e musical, que não de conveniência. Já o disse antes e reafirmo que o conjunto VPI Prime Signature + Kiseki PurpleHeart foi o setup analógico mais extraordinário que já passou pelo meu sistema de som. Quando somos confrontados pela primeira vez com aquela sonoridade grandiosa, percebemos de repente o porquê de tantos acérrimos defensores do analógico que ao longo dos anos se mantiveram fiéis e nunca enveredaram pela música em modo digital. Independentemente do modo como o leitor ouve música, este é um conjunto que lhe dá acesso directo ao que de melhor se faz no campo da reprodução de música em discos de vinilo, e só por isso merece uma audição atenta que a Ultimate Audio Elite lhe poderá proporcionar. A mim não me resta outra conclusão senão a de uma veemente recomendação. Preços: VPI Prime Signature 7500,00 m Kiseki PurpleHeart N.S. 2990,00 m Representante: Ultimate Audio Elite Telef. 217 602 028 www.ultimate-audio.eu
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Discos utilizados nas audições: COMPOSITOR / OBRA
INTÉRPRETES
EDITORA
G. Mahler Sinfonia N.º 2 em Dó menor «Ressurreição»
Heather Harper – Helen Watts Coro e Orquestra Sinfónica de Londres Sir Georg Solti
DECCA
G. P. Telemann Abertura em Ré maior para Oboé, Trompete e Cordas
Maurice André (trompete) Concerto Amsterdam Franz Brüggen
TELDEC
B. Smetana Má Vlast
Orquestra Sinfónica da Radiodifusão da Baviera Rafael Kubelik
ORFEU
P. I. Tschaikowsky Concerto para Piano e Orquestra N.º 1 em Si bemol maior, Op. 23
Ivo Pogorelich Orquestra Sinfónica de Londres Claudio Abbado
DG
After Midnight The McNeely-Levin-Skinner Band
The McNeely-Levin-Skinner Band
SHEFFIELD LAB
Michel Camilo Portrait
Michel Camilo
CBS
Keith Jarrett The Köln Concert
Keith Jarrett
ECM RECORDS
Pink Floyd The Wall
Pink Floyd
EMI
Supertramp – Breakfast in America – The Logical Song – Goodbye Stranger
Supertramp
A&M RECORDS
Mike Oldfield Discovery
Mike Oldfield
VIRGIN RECORDS
ABBA The Visitors
ABBA
POLAR MUSIC
Sarah Vaughan with Clifford Brown – September Song – Lullaby of the Birdland – Jim – He´s My Guy
Sarah Vaughan with Clifford Brown
WAX TIME
Louis Armstrong & Duke Ellington – Duke’s Place – I’m Just a Lucky So and So – In a Mellow Tone
Louis Armstrong & Duke Ellington
WAX TIME
Claire Martin Too Darn Hot
Claire Martin
LINN RECORDS
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reportagem
a festa dos melhores sons
Jorge Gonçalves
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rganizar um show não é tarefa fácil, e mantê-lo durante quase 30 anos vivo e vibrante só acontece por esse mundo fora em muito poucos casos. E que razões poderão encontrar-se para que, ao fim de tantas edições, o Audioshow seja tão apelativo para os cerca de 4000 visitantes que nele estiveram presentes uma vez mais, coroando assim em 2017 o assinalável sucesso a que já tínhamos assistido no ano anterior? Seguramente bem mais que uma mas, para além da localização amplamente gabada por visitantes nacionais e estrangeiros, que se extasiam sem reservas perante a magnificência de um monumento nacional como o Pestana Palace, tenho que conferir igualmente uma elevada percentagem de responsabilidade ao excelente trabalho dos profissionais que nele participam, quer em termos de decoração dos espaços de demonstração, quer na incessante busca do som perfeito, perdendo incontáveis horas na afinação dos sistemas e na correcção da acústica das salas com um nível de perfeccionismo que, de acordo com o que sei de visitar tantos outros eventos deste tipo e do que me dizem constantemente todos os representantes das marcas que viajam até nós, é único na sua dimensão. E posso dizer com algum grau de certeza que, apesar de as permanentes solicitações me deixarem pouco tempo livre para permanecer em cada sala durante o período temporal que gostaria de lhe dedicar, pude visitá-las todas mais que uma
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1 Os ajuntamentos à porta das salas foram uma constante em quase todos os dias. 2 Sistema Diesis Roma com electrónica aqua e Aesthetix e fonte analógica AMG com cabeça DS Audio Master 1. 3 A DS Audio Master 1 é uma cabeça surpreendente pelo conceito tecnológico usado. 4 Prévio Aesthetix Calypso. 5 As hORNS Universum têm uma estética muito pouco convencional.
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vez e concluir que em 2017 deveremos ter tido um dos Audioshows com os melhores sons globais de todos os tempos. De facto, só alguém mesmo com uma premente necessidade de dizer mal conseguiria encontrar um sistema que não soasse bem e não encantasse os numerosos visitantes que permaneciam por longos períodos em cada sala e voltavam muitas vezes a ela. E esta constatação acabou por me fazer sentir feliz por já não termos durante o Audioshow uma competição que organizá-
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mos durante alguns anos no hotel Alfa e que tinha por fim premiar o melhor som do show, porque tenho a certeza de que teríamos dificuldades muito sérias quando chegasse o momento da decisão final. Fica assim desde já aqui expresso o meu reconhecimento pela qualidade do trabalho realizado pelos expositores presentes no Audioshow 2017. Parabéns pelos resultados conseguidos e comecemos já a pensar em novas realizações. Devo igualmente salientar, para além
da quantidade que criou verdadeiros engarrafamentos, os corredores do terceiro piso e as habituais filas na entrada da sala Campolina, da Imacustica, a muito interessante heterogeneidade do público visitante, composto por uma combinação dos indefectíveis de todos os anos com muitos jovens, atentos e interessados, com a brochura distribuída à entrada na mão, de modo a não perderem nenhum dos locais de exposição. E que agradável foi igualmente ver uma elevada percentagem de
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6 Transformador elevador para cabeças MC Kondo SFz. 7 Os auscultadores da Kennerton despertaram muita atenção. 8 Sistema principal da Imacustica, com as Wilson Alexx em grande destaque. 9 A «artilharia» por detrás das Alexx tinha um aspecto imponente. 10 Monobloco de potência Dan D’Agostino Progression. 11 O Air Force II reproduziu vinilo com um som de encantar.
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público feminino (pelo menos um terço do total em dois dos dias!) e ainda famílias inteiras a usufruírem do prazer de ouvir boa música. Parecem assim garantidas as condições para a renovação do ideal audiófilo a partir de novos elementos que garantirão que o prazer de escutar a música com qualidade será algo vivo e perene nos tempos vindouros. Falando agora sobre os espaços de exposição que me couberam ser objecto de uma análise mais apurada, começo pela zona das Cavalariças, circulando pelo piso térreo da esquerda para a direita. E tenho que reconhecer que a Ars Antiqua Audio trouxe até Lisboa artilharia de alto calibre. Começo por descrever o sistema, constituído por: colunas Diesis Roma, amplificador de potência Aesthetix Atlas e prévio Calypso, da mesma marca, fonte digital aqua La Diva e Formula, e analógica na forma do gira-discos AMG Giro com cabeça DS Audio Master 1. Uma vez mais as Roma, que já cá tinham estado em 2016, mostraram uma impressionante capacidade para encherem a ampla sala Lusitano I com um som dinâmico, explícito e espacialmente amplo. Logo ali ao lado tínhamos outro sistema baseado nas colunas de corneta hORNS Universum, amplificadas por nada menos que um mítico amplificador de potência Kondo Ongaku, complementado pelo prévio Kondo G-70 e prévio de phono GE-1 e transformador elevador para MC Kondo CFz. Isto porque a fonte principal era analógica, na forma do gira-discos AMG Viella V12, com braço AMG 12JT e cabeça Kondo IO-M. Tínhamos novamente aqui um som amplo e imediato, como é característico deste tipo de colunas e com uma correcção tímbrica que deixou muito ouvinte embasbacado. Num terceiro sistema pontuavam novamente umas colunas da hORNS, as Mummy, ligadas a electrónica da Burston, com cablagem Tellurium. Dentro desta sala e à entrada dela tínhamos a habitual presença da Kleifri Records que todos os anos vem de Madrid com preciosidades de vinilo avidamente procuradas por muitos dos visitantes. Continuando o périplo, no sentido dos ponteiros do relógio, cabe-me agora falar sobre um espaço para o qual era necessário meter uma cunha para entrar, pois as filas à entrada eram permanentes e bem longas, mesmo até ao momento de «encerrar as hostilidades». Este ano tive a sorte e o privilégio de ter podido assistir a uma sessão especial quase exclusiva para mim, com o Pereira e o Luís a esmerarem-se na escolha das faixas, proporcionando-me o tratamento completo das suas sessões de demonstração diárias, e ocupando eu o local de audição de desempenho máximo, o chamado sweet spot.
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Fosse na decorrência dessa oportunidade tão singular, fosse porque eram para aí quase dez horas da noite de sábado, tenho que dizer desde já que esta foi a vez em que o som da sala Campolina mais me agradou. As Wilson Audio Alexx «interpretaram» de maneira sublime música na nossa língua, com Rui Veloso e Maria Bethânia como principais intérpretes, bem como pude ouvir uma vez mais o disco de coros russos com que o Pereira me tem brindado por mais de uma vez e que já conheço razoavelmente bem. Ou pensava conhecer, porque as Alexx, depois de terem debitado com uma beleza notável as vozes de Bethânia e de Jeanne Moreau a declamarem alternadamente nas suas línguas natais, fizeram com que as vozes do coro quase se elevassem no ar e me fizessem sentir estar sentado no meio da igreja ortodoxa onde a interpretação foi gravada, rodeado pelos ícones de esplendorosa beleza que são apanágio desta religião. Notável, sem qualquer dúvida. Para completar este relato, falta-me apenas descrever o equipamento que acompanhava as Alex: monoblocos Dan D’Agostino Progression e prévio Agostino Momentum, fonte digital dCS Vivaldi (quatro peças separadas), gira-discos Air Force II com braço SAT e cabeça Koetsu Red, prévio de phono Audio Research Reference Phono 10 e condicionador de sector PS Audio Powerplant 10, quase tudo isto colocado sobre mesas da Artesania. Os monoblocos Progression tinham a distinção especial de receber a alimentação do sector depois de ela ter passado pelo novíssimo Transparent Power Isolator, com compensação do factor de potência. Não necessariamente no mesmo dia, neste caso foi no domingo, embora já tivesse passado pela sala da Ultimate Audio anteriormente por mais de uma vez, fui sujeito a mais uma experiência daquelas que raramente se esquece. Ouvir as Avantgarde Trio, com subwoofer Basshorn, a interpretarem Sang Mêlé, de Eddy Louiss, uma faixa que ouvi pela primeira vez já lá vão quase 30 anos reproduzida por umas Magneplanar, foi algo que me deixou a mim e aos numerosos presentes decididamente embasbacados! O Rui Calado tinha o volante nas mãos, mas isso não era suficiente para controlar os cavalos em acção, que seguramente eram mais do que os de um Bugatti Veyron. Este era um sistema de nível estelar e não apenas em termos de preço, capaz de colocar uma grande orquestra a fazer-nos sentir, em termos de qualidade e de nível de SPL, como se estivéssemos na sala de concertos, com os sopros dos instrumentos do mesmo nome a fazerem-nos abanar os colarinhos. E para tal, nem era necessária muita potência,
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12 A Ultimate Audio tinha um sistema imponente na sala Lusitano 2, com as Avangarde Trio a colocarem orquestras inteiras dentro da sala. 13 O topo do subwoofer Basshorn dava para sentar um largo grupo de pessoas em volta, caso pudesse ser utilizado como mesa. 14 A cabeça Ikeda Kai lê discos de vinilo com uma sonoridade sumptuosa. 14
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pois os Accuphase A-200, a funcionar em classe A, poucas vezes mostraram mais de 2… 3 W no vuímetro frontal! Os equipamentos complementares das impressionantes Trio e do Basshorn eram, para além dos amplificadores de potência já mencionados, o prévio C-2820 e o leitor de CD/ SACD DP-950, da mesma marca, o streamer Aurender N10 e o imponente gira-discos Dohman Helix 1, equipado com a cabeça Ikeda Kai. Tudo muito boas razões para os sons resultantes serem alvo de muitas conversas pelos corredores. Subindo ao primeiro andar encontrávamos à esquerda a sala da B&W, uma vez mais com um apelativo par de colunas, as novíssimas B&W 800D3. A electrónica que as acolitava era predominantemente da Rotel – amplificadores de potência RB-1590, leitor de CD’s RCD-1590 e prévio RC-1590, funcionando ainda o aria II, que chegou já quase a fechar o controlo, como servidor de música. Como seria de esperar de um topo-de-gama da B&W, o som era cheio, forte, imponente mesmo, principalmente quando dos crescendos orquestrais, e com uma alma que surpreendia quem entrava na sala e deparava, por exemplo, com uma faixa de música em que a bateria estivesse bem presente. Em apresentação passiva tínhamos um exemplar do novíssimo subwoofer DB2D, bem como o receiver Rotel RAP-1580 – oito entradas HDMI 2.0, descodificação Dolby Atmos 7.1.4, passagem de conteúdos 4K, 100 W por canal e quase tudo o mais que se possa querer. Continuando pelo corredor encontrávamos a Delaudio, este ano numa sala nova, bem mais ampla, embora o Delfim não a utilizasse na totalidade para
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optimizar as condições acústicas de reprodução. Não poderiam deixar de estar presentes as colunas da Raidho, depois dos excelentes resultados obtidos em diversas demonstrações efectuadas nas instalações da empresa. No caso vertente tínhamos então as C2.1, acolitadas por um subwoofer REL G1 MKII, e alimentadas por um amplificador integrado Pass INT250. A fonte era o leitor de CD/SACD Esoteric K-01x, complementado com o quase indispensável clock exterior V-Acoustics. A cablagem era predominantemente Black Sixteen e Black Sat. Um sistema de respeito, embora de preço global bem abaixo de muitos outros presentes no show, e com um som que extravasava ritmo e energia, bem condimentados com a excelente delicadeza de trato nos médios e agudos das Raidho. Os ares satisfeitos dos visitantes que quase permanentemente ocupavam todos os lugares sentados eram bem significativos de que apreciavam o que ouviam. Passando agora ao edifício principal,
15 Apesar dos dBs debitados pelas Avangarde Trio, os Accuphase A-200 estava sempre imperturbáveis como se pode ver pelo valor indicado no mostrador – apenas 1 W! 16 Gira-discos Elac Miracord, um relançamento comemorativo dos noventa anos da marca. 17 As B&W 800 D3 são um portento de engenharia e tocaram muito bem com electrónica Rotel. 18 Subwoofer B&W DB2D, da nova geração lançada recentemente pela B&W no mercado. 18
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19 O Rotel RAP-15800 faz tudo aquilo que qualquer amante da cinema pode querer hoje em dia e ainda descodifica o Dolby Atmos. 20 A electrónica do sistema da Delaudio -não é preciso um monte de equipamento para fazer boa música. 21 As Raidho C2.1 mostraram que um som elegante e muito musical pode encher uma sala bem grande. 22 Sistema da Delaudio com: Raidho C2.1, Pass INT-250 e Esoteric K-01x, com clock externo da V-Acoustics. 23 Audiovector R11 Arreté com electrónica Nagra – o problema era conseguir fechar a porta ao fim do dia, porque quem se sentava a ouvir música não se convencia facilmente a sair. 24 Conversor Nagra HD DAC.
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25 O Shunyata Research Hydra Denali D6000/T chegou mesmo quando o «controlo de entradas» do Audioshow estava quase a fechar. É um condicionador com alta capacidade de corrente e 6 tomadas de saída.
vou falar de duas salas mais que me couberam em sorte, depois da distribuição estabelecida em conjunto com o João Zeferino e o Daniel Santos que me vão coadjuvar nesta reportagem. A primeira era a Ajuda III, onde a Ajasom tinham mais um sistema de estalo: nada menos que as colunas de topo da Audiovector, as R11 Arreté, acompanhadas pelo seu mentor, Ole Klifoth e «alimentadas» pela electrónica da Nagra – monoblocos Nagra HD AMP, prévio Nagra Classic Preamp, leitor de CD’s Nagra CDP, conversor Nagra HD DAC, leitor-gravador digital Nagra Seven. Na fonte digital brilhava o gira-discos Bergmann Magne com cabeça Lyra Etna. Um conjunto de peso, não há dúvida. Mas peso a mais era algo que o som que saía das R11 não tinha – era muito belo, límpido, de um arejamento extremo e com uma imagem espacial que noutros tempos se associaria a umas grandes colunas de painel mas que os avanços tecnológicos na construção de altifalantes vieram provar que essa qualidade não era um exclusivo delas. A combinação Nagra/Audiovector funcionou aqui de um modo quase simbiótico, cada um fazendo desenvolver ao máximo as qualidades dos outros. Logo ali ao lado tínhamos toda a magia da imagem na sala da loja Belmiro Ribeiro, combinada com uma vasta colecção de equipamentos de streaming da Smartaudio. Em termos de imagem o grande destaque ia para a gama de televisores OLED da LG, na qual brilhava o topo-de-gama da linha Signature, com uma qualidade de imagem excepcional, bem como
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um dos primeiros exemplares da nova linha OLED para 2017, o 65B7V, isto para além de versões da linha Super UHD, esta algo mais acessível em termos de preços, embora sem os alucinantes negros do OLED. Praticamente em frente, a Samsung fazia igualmente a primeira apresentação da linha QLED, sendo igualmente possível apreciar algumas propostas da gama SUHD. Por parte da Smartaudio, tínhamos em exposição uma vasta gama de soluções de streaming da Electrocompaniet, Naim, Definitive Technologies, Bluesound e Venz. Muito por onde escolher.
Os visitantes estrangeiros, os prémios e outras curiosidades
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Uma vez mais, o Audioshow foi visitado por um bem importante número de fabricantes estrangeiros. Na impossibilidade de conseguir falar com todos, deixo aqui algumas notas sobre duas ou três muito interessantes e agradáveis conversas estabelecidas com três deles. E uma das mais esclarecedoras conversas foi a que estabeleci com Sven Boenicke, a alma mater por detrás das colunas com o mesmo nome que tanto sucesso fizeram este ano na sala Ajuda da Ultimate Audio. A primeira questão que lhe coloquei foi uma pergunta que certamente todos gostariam de lhe ter feito: como é que é possível umas colunas tão elegantes e estreitas terem um pulmão tão potente? Felizmente que as regras que se usam para as cantoras de ópera não se aplicam às colunas, senão as Boenicke nunca cantariam como cantam. Segundo Sven, as colunas da Boenicke são um conceito global em termos de escolha de materiais, desde os dos cones dos altifalantes em papel, ao tubo onde está enrolada a bobina, que é também de papel, à madeira das caixas e ao amortecimento das paredes. Sven acha igualmente que o facto de utilizar materiais orgânicos faz com que o nosso cérebro entenda imediatamente os sons e os harmónicos, e a forma proporcio-
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nada das suas colunas contribui para que elas sejam muito apreciadas pelo elemento feminino da equação de compra, um aspecto que nunca é de desprezar. Mas a revelação mais interessante da nossa conversa e que me foi feita em termos confidenciais, razão porque vou apenas indicar alguns aspectos gerais de tudo o que consegui saber e incluiu mesmo uma fotografia do protótipo e vários detalhes técnicos, foi que a marca tem em desenvolvimento umas colunas que serão revolucionárias em mais que um aspecto. Tudo começa por uma base cúbica com talvez 70 a 80 centímetros de lado, e em que as paredes radiam som directamente através de altifalantes desenvolvidos pelo fabricante italiano Powersoft. Estes altifalantes utilizam a tecnologia M-Force, com um íman móvel e um sensor de movimento que recorre à tecnologia Motional Feedback para se obter um movimento altamente linear. O crossover será muito simples com uma pendente de 6 dB/oitava e o altifalante de médios liga directamente a este, sem qualquer componente pelo meio. Para complementar todo este manancial de informação, Sven disse-me ainda que a fixação dos altifalantes será radicalmente diferente, uma vez que serão aparafusados pelo íman e não pela estrutura frontal, como é mais usual. E fico-me por aqui, antes que diga já tudo sobre umas colunas que pode ser que estejam em Munique sob a forma de protótipo mas o mais certo é só entrarem em produção mais lá para o fim do ano. E continuo com o simpático Maurizio Aterini, engenheiro de produção e a cara da Gold Note. Falámos sobre muita coisa durante quase uma hora, até porque Maurizio anda por estas andanças há um bom número de anos e temos um amplo número de amigos em comum. Um dos aspectos talvez menos conhecidos da actividade da Gold Note é o de que eles são predominantemente fabricantes e projectistas OEM, desenvolvendo equipamentos para outros fabricantes (estão entre as dez empresas mais importantes no domínio do áudio digital), embora ao longo dos últimos cinco anos se estejam mais a dedicar aos produtos comercializados sob a sua chancela. Em termos de desenvolvimentos futuros, pudemos conversar durante algum tempo sobre um conceito que venho tentando defender junto de diversos fabricantes e parece estar perto de ser uma realidade por parte da Gold Note. Trata-se de um servidor de áudio com todas as capacidades de streaming e que dispensa totalmente o computador, recorrendo a uma App própria que é compatível com uma vasta quantidade de telemóveis e tablets. No fundo trata-se de algo que
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26 O gravador digital Nagra Seven tinha alguns masters bem preciosos no seu interior. 27 Gira-discos Bergmann Magne com braço tangencial de suspensão a ar. 28 A nova linha de televisores LG para 2017 promete arrasar em temos de qualidade de imagem, a qual é muito melhorada pela introdução do formato Dolby Vision. 29 A tecnologia QLED é a resposta da Samsung ao OLED e está igualmente a chegar ao mercado. 30 A coluna sem fios Venz A501 faz streaming a partir de uma grande diversidade de fontes e aceita ficheiros com resolução PCM até 24 bit/192 kHz. 31 Sven Boenicke falou bastante sobre as tecnologias originais por detrás das suas coluna e que lhes permitem produzir um som bem para além daquilo que o seu tamanho pode dar a entender. 32 Com Maurizio Aterini, da Gold Note, pude falar durante quase uma hora sobre o mundo da electrónica ligada ao áudio e as novas tendências em termos de fontes streaming.
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tem a aparência de um componente normal de áudio e que, graças ao seu conceito, será finalmente um produto do género de ligar e começar a usar, sem necessidade de quaisquer procedimentos complicados para se integrar numa rede ou algo parecido. Depois de desenvolvido, este vai ser um conceito aberto, tipo Android, e convidarão outros engenheiros e fabricantes para aderirem a este conceito. No que se refere à tendência actual de concentração de marcas e isto veio a propósito da aquisição recente das marcas Denon e Marantz, Maurizio está de acordo comigo em termos de que no futuro a estrutura de comercialização existente irá sofrer vastas alterações, com as marcas a criarem redes de lojas próprias e os actuais lojistas e distribuidores a terem que mudar bastante o modo como trabalham actualmente, sob pena de desaparecerem. Provavelmente terão que utilizar o seu know-how para trabalharem em regime de franchising. Ole Klifoth é uma pessoa afável e disponível e que ainda se lembrava de uma visita que lhe fiz já lá vão para aí quase dez anos. Desta vez foi ele que veio até nós trazendo como companhia o seu novo topo-de-gama, as Audiovector R11 Arreté, o resultado de mais de 30 anos de projecto e desenvolvimento, para além de muitas audições. Segundo Ole, cada um dos componentes nelas utilizado, desde os parafusos aos componentes do crossover, foi cuidadosamente escolhido de modo a produzir a contribuição perfeita para o som final. Ole estava nitidamente satisfeito com o seu «navio almirante», destacando em especial o grande trabalho realizado em torno dos tweeters AMT, e confidenciou-me que achava ser esta a melhor ocasião para transferir não só a responsabilidade da gestão da empresa como a propriedade para o seu filho Mads Klifoth, o qual já é actualmente o CEO da Audiovector.
33 Ole Klifoth estava bem orgulhoso das R11 Arreté e tinha boas razões para isso. 34 Os sorteios no final do Audioshow são já uma tradição e dão origem a prémios bem apetecíveis. 35 Um dos prémios dos sorteios incluía um fim-de-semana ao volante de um poderoso e bem bonito Jaguar.
A fechar, e foi esta realmente a última situação a ter lugar no domingo já ao fechar do batente, tivemos as habituais sessões de escolha dos vencedores das promoções que tiveram lugar durante o Audioshow, com oferta de equipamentos e acessórios para todos os gostos. Tive o prazer de «oficializar» a escolha dos vencedores em praticamente todas essas situações e nessa qualidade deixo aqui desde já as minhas felicitações aos vencedores. No caso da Linn, Rui Brazão ganhou uma garrafa miniatura de whisky escocês e um LP especial comemorativo dos 40 anos da marca. Já na Ajasom tivemos três premiados: Jorge Santos com um conversor D/A Meridian Director; Nuno Tavares com um cabo de sector Furutech Power Guard-E11; José
Carlos Freitas com uns auscultadores ADL H118. No caso da my Hi-Fi House, Joaquim Moita Pina teve um prémio duplo: uma cabeça de gira-discos Gold Note Babele e um fim-de-semana a conduzir um Jaguar XE. Na Ars Antiqua Music, Carlos Laginha ganhou um cabo para gira-discos Kondo KSL-Vc II. Tudo somado e em jeito de conclusão, este foi um dos melhores Audioshows de sempre, quer pelas multidões de visitantes, quer pela qualidade dos sistemas em demonstração. E ainda tivemos um número importante de felizardos que trouxe para casa prémios que seguramente irá recordar toda a vida. Que mais se pode pedir? Talvez que 2018 repita todo este sucesso – acho que não é pedir demais…
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Bons sons para todos os preços
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João Zeferino
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ais um Audioshow e uma vez mais cumpriu-se a tradição de presentear os audiófilos e entusiastas do áudio com a possibilidade de audições de equipamentos dificilmente disponíveis no mercado durante o resto do ano. Não admira assim que o Audioshow seja um evento sempre aguardado com grande espectativa. Em que outra altura ou lugar é possível estar a ouvir umas Wilson Audio Alexx e no minuto seguinte ser confrontado com a imponência de umas Avantgarde Acoustic Trio? No evento deste ano julgo ser importante destacar o elevado nível qualitativo da generalidade dos expositores. Claro está que há sempre sistemas e/ou equipamentos que se destacam, contudo julgo que o nível global das apresentações foi bastante equilibrado e de qualidade muito elevada. Na sala Ajuda 1 a Ultimate Audio Elite (UAE) demonstrava em alternância dois sistemas de preços muito díspares. Um deles incluía na fonte o imponente gira-discos VPI Avenger Reference com célula Kiseki PurpleHeart, sendo ambas as marcas recentes representações da UAE. A electrónica era constituída pela unidade
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de phono de Ricardo Domingos RMD PH1 Phono Amplifier, um produto de concepção e fabrico portugueses e que revelou uma qualidade brilhante junto de componentes do calibre da electrónica Luxman, com o prévio C-900u, amplificadores de potência M-900u em modo monofónico e o leitor digital D-08u na fonte. A dar voz ao sistema estiveram as novíssimas Elac Concentro, a mais recente criação do fa-
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moso projectista Andrew Jones, agora ao serviço da marca alemã, com cablagem Kubala-Sosna. Ainda na mesma sala, mas no lado oposto, a UAE apostou na divulgação das colunas suíças Boenicke Audio. Ligadas a electrónica Parasound, nomeadamente prévio JC-2 BP e amplificadores monobloco JC1, quer o modelo Boenicke W11 quer as diminutas W5 produziram uma sonoridade
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1 Sistema VPI, Luxman e RMD com as Elac Concentro em grande destaque 2 O espectacular VPI Avenger Reference 3 As Boenicke W11 com electrónica Ayon e Parasound 4 As diminutas Boenicke W5 ainda irão dar que falar. 5
5 A electrónica Cyrus Audio está de novo disponível entre nós.
ampla, que se mostrou capaz de encher de música uma sala de dimensões avantajadas, com uma alegria e um sentido rítmico verdadeiramente contagiantes. A surpresa era bem visível no rosto de todos os que as ouviram e não podiam acreditar que um som daquele tamanho pudesse ter origem em colunas de dimensões tão comedidas. Na fonte esteve o leitor digital Ayon Audio CD 35. No hall de entrada a UAE demonstrava ainda uma variedade de DAC’s e amplificadores para auscultadores de marcas suas representadas, nomeadamente Luxman, Oppo, Audio-Technica, Melco e Aurender, assim como equipamentos da recém-representada Cyrus Audio, bem conhecida dos audiófilos portugueses, e ainda um destaque sobre os painéis acústicos para tratamento de salas da Artnovion. No Foyer Beau Séjour da Smartaudio/ Esotérico reinavam as esbeltas Dynaudio C4 Platinum. Acompanhadas por electrónica da Electrocompaniet, nomeadamente o prévio EC 4.8, o power AW180, e na fonte o Network Media Player ECM 2, leitor de CD’s ECM 1 e, como grande novidade, o condicionador de corrente AudioQuest Niagara 7000, cujos efeitos benéficos na sonoridade dos equipamentos que lhe são ligados têm sido amplamente aclamados por todos os que já tiveram oportunidade de experimentar. Na realidade, não sei se pelas qualidades intrínsecas dos componentes, se pela influência do AudioQuest Niagara ou se pela mestria do Alberto Silva, responsável pela instalação e afinação do conjunto, este sistema soou-me particularmente correcto do ponto de vista musical, com um entrosamento notável entre as diversas zonas do espectro e um comportamento dinâmico realista. Para além deste sistema principal, encontravam-se em exposição diversos modelos da Audiolab, com o conjunto 8300A
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e 8300CD, NAD C316 e C516, Mission LX2, Naim Uniti, CD5 XS e SuperNait 2, PSB X2T e Focal Sopra 1, bem como a nova série Contour da Dynaudio. Uma das salas que esteve sempre muito concorrida foi a Correio-Mor, onde a Imacustica havia instalado dois sistemas, de tal forma que apenas no domingo consegui arranjar um bom lugar para me sentar. Para além do interesse que as marcas
da Imacustica sempre despertam, havia ainda a demonstração por parte de Dennis Bonotto, da Nordost, das qualidades dos cabos da marca por comparação directa com cabos vulgares, desta vez dedicada aos cabos de rede e USB. O sistema utilizado nas demonstrações tinha como principal novidade as Sonus faber Serafino Tradition, um novo modelo dentro da gama Homage, também ela toda renova-
da e baptizada de Tradition e que continua a contar com os clássicos modelos Guarneri e Amati, agora também com o modelo intermédio Serafino. Na electrónica esteve o amplificador Audio Research GSI 75, o gira-discos EAT E-Sharp com célula Sumiko Blue Point 2 e cablagem Nordost Blue Heaven e Valhalla 2. O segundo sistema era composto por fonte digital DCS Rossini + Rossini Clock,
6 Sistema Electrocompaniet, AudioQuest Niagara e Dynaudio C4 7 Conjunto Naim + Focal Sopra 1 8 Conjunto NAD + Mission 9 Dennis Bonotto em plena sessão de demonstração 10 Magico S1 MKII com electrónica Constellation Audio e DCS 7
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11 O Metronome Kalista é sempre um deslumbramento.
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amplificação Constellation Audio Inspiration Preamp 1.0 e Stereo 1.0, colunas Magico S1 MK2 e cablagem Nordost Odin II. A Delaudio apresentava na sala Laranjeiras um sistema acessível e de agradável sonoridade. Na fonte estiveram o leitor de CD’s Roksan K3, o streamer wireless Asus Clique R100 e o Cocktail Audio X40, um network player com função CD ripper e DAC com suporte DSD/DXD. A amplificação esteve a cargo do integrado Roksan Kandy K3, e a dar voz ao sistema as colunas Monitor Audio Gold 100, e o subwoofer REL T5i. A cablagem esteve a cargo dos Black Sixteen e Black Sat e cabos de corrente In-akustik. Já falei no início de uma marca nacional em demonstração no Audioshow e de
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quanto me apraz ver a produção nacional em concorrência directa com os nomes mais consagrados da indústria do áudio. A Topaudio / Absolute Sound não fez a coisa por menos e tinha nada menos que três representantes do que se vai fazendo por cá. A Audolici apresentava o novo pré-amplificador de phono MM/MC AVP-01, equipado com tríodos 6N7, e também o amplificador integrado Audiolici A40 que, ligado a umas colunas Ubiq Audio Model One, exibia uma performance musical de grande riqueza harmónica. Na fonte estiveram os Chord transporte de CD’s + Dave DAC e o gira-discos Music Hall MMT 91. Também na fonte estava o segundo produto nacional, o ripper/servidor de música Innuos Zenith, disponível com discos rígidos de 1, 2 e 4 TB, função de cópia instantânea de CD’s e múltiplas funcionalidades com a ligação em rede. Por fim e também de origem nacional, há que mencionar os cabos Audiofidem Nexus Argentum, que ligavam os componentes e que tiveram certamente uma palavra a dizer na clarividente transparência e exemplar dinâmica exibida pelo sistema. À entrada da sala tínhamos um pequeno sistema com as Amphion Argon 3S ligadas a um conjunto de leitor de CD’s e amplificador integrado da linha fMj da Arcam. A Exaudio ocupava dois espaços de demonstração nas salas Janelas Verdes e Foz. Na primeira o destaque ia para premiado servidor de música Merging+Nadac, acompanhado por amplificação Perreaux Eloquence 250i, leitor digital
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Audio Note CD4.1x e as colunas Manger P1. A dinâmica e envolvência dos sons resultantes garantiram uma permanente presença de um largo número de visitantes na sala. Na sala Foz a estrela era o sistema Plato Class A, um sistema «tudo-em-um», que inclui servidor de música e vídeo wireless, rádio por Internet, serviços de streaming e download, conversão digital/ analógico e analógico/digital, de modo a poder digitalizar discos de vinilo, e amplificação em classe A ou classe AB, tudo num único chassis. Na fonte estava o transporte de CD’s Perreaux e no campo analógico estava o gira-discos Nottingham Analogue Space 294 com célula Transfiguration. E nas colunas as Audio Note. Na sala São Bento a Supportview exibia as mais recentes novidades das marcas suas representadas. A Pro-Ject Audio tinha diversas edições especiais dedicadas a personalidades tão conhecidas como George Harrison, Chaplin e The Beatles. Um produto da marca que desperta sempre curiosidade é o VT-E, um gira-discos que pode tocar na vertical. Ainda da Pro-Ject destaque para a máquina de limpeza de discos Vinyl Cleaner VC-5. Da Cambridge Audio encontravam-se os novos Network Players CXN e o topo-de-gama Azur 851N. O sistema em demonstração incluía o gira-discos The Classic, amplificação Unico Nuovo e CD Due e colunas Tannoy Revolution XT. Resta-me falar da sala da My Hi-Fi House, onde Carlos Moreira demonstrou um sistema de diversas marcas comercializadas pela sua loja, sendo de destacar o cuidado posto da decoração da sala, que se mostrava extremamente acolhedora. O sistema era basicamente constituído por componentes das marcas Moon e Gold Note. Da Gold Note estava o novo gira-discos Giglio com célula Vassari Gold e prévio de phono PH-10, bem como as novas e imponentes colunas XS-85. Da Moon eram o amplificador Evolution 700i, o transporte de CD Neo 260D, o DAC Evolution 780D e a fonte de alimentação 820S.
12 O sistema da Delaudio na sala Laranjeiras 13 O sistema da Topaudio tinha três marcas de origem portuguesa. 14 Amplificador integrado Audolici A40 15 Servidor de música Innuos Zenith 16 As colunas Manger P1 são a mais recente representação da Exaudio e estavam bem acompanhadas pelas electrónicas da Perreaux e da Audionote. 17
17 Digital vs analógico – Nottingham Analogue vs Plato Class A
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18 Pro-Ject The Classic com electrónica Unico e colunas Tannoy 19 O network player Cambridge CXS 20 O gira-discos Pro-Ject George Harrison é uma versão especial do Essential III numa edição limitada a 2500 exemplares. 21 My Hi-Fi House – Um grande sistema e uma decoração primorosa. 22 Italianas sem qualquer dúvida, as Gold Note A-3XL foram apresentadas com um acabamento especial nos painéis laterais que continha um largo número de cristais Swarovski.
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O analógico e muito mais
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Daniel Santos
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a sala Monteiro-Mor, Domingos Marcelino, da Mind the Music, apresentou um sistema Linn. A novidade recaía no módulo pré-amplificador e streamer Klimax DSM cuja conversão D/A foi redesenhada de raiz. O fabricante dá ênfase ao isolamento eléctrico entre os circuitos internos protegendo o delicado sinal de áudio de interferências. A fonte analógica assentava no gira-discos Klimax Sondek LP12, com braço Ekos SE e célula Kandid. O DSM ligava ao módulo Active Crossover, de onde saía o sinal para dois amplificadores de potência Akurate 4200 e para um Akurate 2200. O 4200 possui quatro amplificadores de potência internos, enquanto o 2200 possui apenas dois, perfazendo um total de dez amplificadores. As colunas em demonstração eram as Akuba-
rik Passive, que possuem cinco vias. Cada uma dispõe de cinco entradas directas para os drivers. Neste setup cada um dos dez amplificadores de potência era dedicado a um driver de cada coluna. As Akubarik são também caracterizadas por possuírem um driver de graves de tecnologia isobárica. Este driver isobárico, patenteado pela Linn, permite uma maior extensão do baixo até zero Hertz com menor distorção, em comparação com um driver convencional. Na sala Fronteira, Miguel Pais, da Zen Audio, demonstrou o amplificador integrado Lyngdorf TDAI 2170 e, como novidade, as colunas Lyngdorf satélite MH2 e os subwoofers activos BW2. Previamente às audições, o TDAI 2170 foi ajustado às características acústicas da sala Fronteira para compensar incorrecções provocadas pela sala. O sistema envolvido na correcção acústica, interno ao TDAI 2170, chama-se Room Perfect.
23 Gira-discos Linn LP12 Anniversary com braço Ekos SE e célula Kandid 24 O famigerado Klimax Exact DSM 25 Sistema Linn formado por: Klimax DSM e Klimax Sondek LP12; base de dados de música local (Netgear); módulo Active Crossover; amplificador de potência Akurate 2200 e dois amplificadores de potência Akurate 4200. 26 Sistema apresentado pela Zen Audio. As colunas satélite MH2 estão colocadas em cima de suportes e encostadas à parede tal como os subwoofers activos BW2 colocados nos cantos da sala, junto ao chão. 27 Gira-discos Reed, com destaque para o braço tangencial Reed 5T. 28 Amplificador integrado Lyngdorf TDAI 2170 e leitor de CD’s Lyngdorf CD2 29 A Diplofer apresentou um sistema baseado nas colunas Apertura Armonia e na electrónica da Trigon e da Burmester, com gira-discos Transrotor Leonardo.
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Entre as funcionalidades do TDAI 2170 destaca-se a ICC (Intersample Clipping Correction), que actua no sinal digital dando mais amplitude (12 dB) para as excursões do sinal. Esta funcionalidade tem como objectivo colmatar a compressão resultante da chamada «the loudness war» introduzida nas gravações originais devido a modas da indústria da música que são, infelizmente, seguidas e perpetuadas pelos estúdios. Como fonte digital tínhamos o leitor de CD’s Lyngdorf CD2 e como fonte analógica o gira-discos Reed sem correia. Como
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novidade foi apresentado o braço tangencial Reed 5T controlado por laser. Este braço necessita de alimentação fornecida pela fonte de 12 V da Reed, também apresentada como novidade. O pré-amplificador de phono era da ORT, com fonte de alimentação em separado, sendo produzido em Portugal por Ricardo Cruz. Na sala Galveias, Paulo Inácio, da Diplofer, tinha para audição as colunas Apertura Armonia, sendo as novidades reveladas na amplificação com o belíssimo Burmester 101 e na fonte digital com o streamer Trigon Trinity. No campo analó-
gico o setup era composto pelo gira-discos Transrotor TR Leonardo 25/60M, braço da mesma marca, modelo SME M2, e cabeça van den Hul The Frog. A fonte de alimentação do gira-discos Transrotor era a Konstant MI Reference. O pré-amplificador de phono era o Trigon Advance. Era assim patente uma grande aposta em marcas europeias, nomeadamente alemãs, como é o caso das Burmester, Trigon e Transrotor. O ano de 1977 deu bons frutos, um deles a Burmester. Todos os seus produtos são desenhados e construídos na Alemanha, em Berlim. A etiqueta «Made in
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Germany» é defendida pela marca, não só pela produção local do seu equipamento, mas também por ser concebida pelas mãos e mentes de técnicos altamente competentes. O Burmester 101 combina uma fonte de tensão analógica com um amplificador de potência em classe D. Possui um botão para comutar o estado da função Smooth, que permite ouvir um som mais agradável, porém detalhado, quando a audição é feita a baixos níveis de som. Mais jovem, do ano de 1996, a Trigon nasceu aspirando construir equipamento de gama alta com um preço que permita
30 Esta era a electrónica do sistema da Diplofer. Destaque para o amplificador integrado Burmester 101, na estante de baixo, e para o streamer Trigon Trinity, por cima. Uma grande aposta em equipamento verdadeiramente «Made in Germany».
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31 O streamer Trigon Trinity é um verdadeiro tudo-em-um. 32 Queimador de cabos Blue Horizon 33 A ligação às colunas utilizava os cabos Ansuz Speakz X Series. 34 Suportes e plataformas de desacoplamento da Bfly-Audio 35 Rádios Bluetooth Ruark R1 MKIII, um modelo conhecido como o «Aston Martin dos rádios». 36 A Audio Team presta todo o tipo de serviços no domínio do analógico e fá-lo com grande qualidade. 37 A Autumn Leaf Audio participou com um sistema de áudio baseado na electrónica Deltec com colunas da Alacrity Audio, incluindo um condicionador de corrente da Isotek.
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aos audiófilos não se ficarem apenas pelo sonho de ter um Trigon. Também cem por cento «Made in Germany» em Frankfurt, a Trigon prefere não correr atrás de modas e fazer a diferença através da inovação. O streamer tem o nome de Trinity porque combina a mais alta trindade de tecnologia, som e design. Reproduz música a partir de CD’s, de ficheiros em suportes externos como discos rígidos, a partir do stream online baseado em serviços como o Wimp e de rádio digital via Internet. Possui ainda uma entrada phono para gira-discos. O Trinity dispõe de um amplificador de potência de 2 × 125 Watt a 8 Ohm, mas também pode funcionar como pré-amplificador e ser ligado a um amplificador de potência externo. Na sala Bemposta, Jorge Alves, da AudioTeam, tinha exposto o gira-discos Rega Planar 2, o material de desacoplamento e plataformas da Bfly-Audio feito na Alemanha. As novidades eram as colunas Ruark
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Audio MR1 MKII, as quais diferem das anteriores por possuírem agora uma entrada óptica. A grande aposta era mais uma vez feita em torno da venda de preciosos discos de vinilo provenientes das etiquetas mais prestigiadas e avidamente procurados por todos os audiófilos. Na sala Santa Catarina, Rui Pedroso, da Autumn Leaf Audio, disponibilizou para audição o gira-discos da Analogue Works com braço da Jelco, modelo SA750B e, como novidade, a célula Hana SL da Excel Sound Corporation Japan. A célula SL é caracterizada por combinar novas técnicas de fabrico desenvolvidas pela Excel com materiais clássicos que já provaram as suas virtudes, tais como os ímanes de alnico. O alnico é uma liga de ferro contendo alumínio (Al), níquel (Ni) e cobalto (Co). A célula SL possui uma agulha com o formato Shibata. A sua congénere EL possui uma agulha elíptica. Apesar de a liga de alnico ser menos
poderosa que as mais actuais de samário-cobalto e neodímio, aquela permitiu à Excel construir um transdutor de muito baixa distorção, que é o que realmente importa. As versões SL e EL são células MC enquanto as SH e EH são células MM. O som da célula Hana passava pelos stepup MC passivo e prévio activo da Rothwell. O pré-amplificador era o Music First Audio Classic passivo. No estágio de potência estava o Deltec Precision Audio DPA SA1 onde ligavam as colunas Alacrity Audio, modelo Dundee 5, através dos cabos Ansuz Speakz, X Series. O equipamento encontrava-se ligado ao condicionador de corrente Isotek. Ainda como novidade foram expostos o queimador de cabos Blue Horizon , modelo Proburn, os filtros Isotek, modelos Polaris e Sirius Evo 3, e os cabos Isotek, sendo o modelo Initium o mais acessível e o Sequel o mais caro.
tecnologia de áudio
A PROCURA PELA ALTA RESOLUÇÃO EM ÁUDIO (PARTE 2)
«WORK IN PROGRESS»…
Pedro Flores
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amplificador e as colunas já estão curiosos acerca do novo elemento, neste trio que vai actuar em conjunto. Sabem o que faz e qual a missão, mas desconhecem as características e as qualidades que vai acrescentar ao sistema. Será pela correcta sinergia que o sistema vai render homenagem ao valor acrescentado que representa um ficheiro de HRA. Já com mais de dez anos, o PC revelava-se uma boa base de trabalho, no que ao (a) armazenamento e à (b) leitura de ficheiros de HRA diz respeito. «Hum, Pentium 4»…, foi a primeira reacção do informático responsável pela transformação. Depois de confirmadas as características, veio a sentença: «Mais vale investir num miolo novo!» Queria ele dizer que o processador e memória já não garantiam o funcionamento estável e rápido que se pretende. «Quando muito, para o armaze-
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1 Alguns fabricantes especializados propõem placas para computador com capacidade de leitura de ficheiros de alta resolução, incluindo nalguns casos o DSD. 2 A HD Tracks é uma das lojas online mais conhecidas no campo da venda de ficheiros de alta resolução. 3 Por este diagrama pode-se ter uma ideia gráfica da cadeia de processamento utilizada nos estúdios para os masters DSD ou DXD4 A iFI Audio resolveu promover a produção de um original em DSD 256 para ser ouvido através do seu amplificador de auscultadores Pro iCAN.
namento.» E a motherboard não permitiria a expansibilidade, ou seja, o sistema não suportaria ser actualizado… Dito isto, soluções? Como se disse na primeira parte desta série de artigos, o sinal flui por (1) fonte, (2) amplificação e (3) colunas. Mas onde é que é «feita» a música? Onde é que deixa de ser informática (dados) e passa a ser som de alta-fidelidade? No DAC! Também se disse que tudo está ligado por cabos e que «a ligação USB não permite a passagem deste tipo de sinal, na sua forma mais pura, sem o “retalhar”… e voltar a ordenar». Sinal DSD, entenda-se (como adiante se explicará). Acrescenta-se agora que está em causa o tipo de interface, que assume uma importância determinante em todo o processo (e na qualidade do som). O cabo suporta a passagem do sinal, mas a interface não gere sinais DSD. Nesta fase, situamo-nos em: (1) fonte, que se subdivide em (a) armazenamento + (b) leitura + (c) interface/cabo + (d) DAC. Para efeitos de explicação, vamos considerar apenas o tipo de ficheiro DSD, o mais exigente. Quase todos os tipos de ligação digital não suportam DSD ou nem conseguem gerir frequências de amostragem superiores a 192 kHz, em raros casos 384 kHz – a transmissão sem fios não é opção, face às limitações que ainda apresenta. Com duas excepções: fichas RJ45/Ethernet e USB. Naquele caso, o sinal flui, mas a implementação em termos de hardware/software é particularmente difícil e exigente,
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o que não se pretende neste nosso sistema. Não é por acaso que apenas algumas marcas avançaram por esta via. Já o protocolo USB é largamente utilizado, mas exige a «dissimulação» do sinal em PCM, sendo este posteriormente convertido para DSD (já no DAC). Um pouco como enganar a interface: o software lê o ficheiro DSD e envia-o para a interface USB, que o «retalha» em diversas partes. De seguida, «mascara-as» de PCM e procede ao envio, confiando que o DAC vai conseguir perceber a lógica e reconstrói o sinal original (DSD), antes de o converter em analógico. Todo este enquadramento levou à opção de fazer a (1) fonte «à imagem» do DAC. Ou seja, partir de um DAC com capacidade de gestão dos ficheiros DSD que lhe possam chegar via ligação USB.
Sumariando: 1 Fonte: (a) armazenamento + (b) leitura + (c) interface/cabo + (d) DAC; 2 DAC: (gestão) DSD + (ligação) USB; O que são ficheiros de HRA? De que forma se chega a um ficheiro de HRA? E o que são ficheiros DSD «nativos»? Vamos por partes: A alta resolução começa com… resoluções superiores aos 44,1 kHz do CD. Em termos práticos, porém, o primeiro formato considerado como (verdadeiramente) de alta resolução é o de 88,2 kHz (o dobro do CD). Os ficheiros de HRA podem assumir variados formatos, sendo os mais conhecidos os WAV e os FLAC (sempre respeitando os requisitos mínimos), como se comprova com uma visita aos sites anteriormente indicados. E, geralmente, são obtidos por manipulação/transformação em estúdio dos ficheiros PCM resultantes
da gravação (originalmente) analógica. E podem também assumir o formato DSD: a largura (teórica) da banda de frequência do sinal DSD é de 1,4112 MHz. E, com uma taxa de amostragem de 2,8224 MHz, é 64 vezes superior à do CD (44,1 kHz! Resumidamente, e a título de comparação, um sinal de áudio PCM a 192 kHz, poderá atingir uma largura de banda de 4.6 MHz, já no “campo DSD”, portanto. Os «nativos» (há quem prefira chamar-lhes «puros»), são aqueles em que o evento (analógico) foi captado (gravado) e originou um ficheiro master (analógico). Depois, pela modulação delta-sigma, foi convertido para Direct-Stream Digital (DSD). De seguida, e em resumo, foi mantido nesse formato e não transformado em PCM (com vista à gravação em suporte óptico). E é naquele formato DSD que chega ao DAC, onde vai ser convertido em… analógico. Apenas algumas editoras têm a capacidade de cumprir estes requisitos (entre outras, Yarlung Records, Challenge, Pentatone e, claro, a Sony).
Sumariando: – Analógico (evento)/ master – delta-sigma – DSD – PCM – delta-sigma – DSD + DAC – analógico, na generalidade dos casos; Ou – Analógico (evento)/ master – delta-sigma – DSD – DSD + DAC – analógico, no caso dos DSD; – Ficheiro de HRA: resolução superior a 88,2 kHz.
Chegamos, então, ao ponto onde se definiu o sistema: (1) fonte, (2) amplificação e (3) colunas. Funcionará tudo bem em conjunto? Quais são as qualidades que cada um dos «intervenientes» aportará ao trio que vai actuar em conjunto? Na parte 3 espero dar mais algumas achegas sobre este tema.
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teste
Atoll CD200SE2 As notícias sobre o falecimento dos CD’s têm sido exageradas – É o que nos diz o novo leitor, Leonel Garcia-Marques
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o final de 2009, a Linn, marca audiófila de reconhecido valor, tomou uma decisão pioneira e aparentemente visionária: deixou de produzir e comercializar leitores de CD’s. As razões que apresentou foram a redução progressiva das vendas de leitores e de CD’s que vinha a acontecer nos últimos anos mas, também, a disponibilidade crescente de alternativas superiores, os streamers (isto é, os leitores de rede) ou hard-disk players (leitores de discos rígidos). Estes equipamentos são capazes de reproduzir ficheiros de áudio com resolução igual ou superior à dos CD’s sem a desvantagem de ter de integrar a mecânica necessária à leitura dos discos como, por exemplo, a terrível gaveta móvel, exigente em alimentação eléctrica, ruidosa e pródiga em interferências. Bons argumentos, sem dúvida. Mas o facto é que as propostas de novos leitores não têm cessado de surgir e a sua quali-
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dade não tem parado de aumentar. Quer dizer, é precisamente nesta era do suposto declínio do CD que aparecem os melhores leitores de sempre e as propostas mais diversificadas que combinam outras funções. Porquê? Porque existem muitos audiófilos que possuem centenas ou milhares de CD’s e que não estão dispostos a «migrar» para discos rígidos ou a desfazerem-se da sua colecção. Além disso, o audiófilo tem alguma coisa de coleccionador, e perguntem a qualquer coleccionador se prefere coleccionar coisas materiais ou imateriais. Coleccionar coisas imateriais é pouco satisfatório, sobretudo se dependerem de meios que podem avariar de modo demasiado fácil em qualquer altura inesperada, isto é, discos rígidos, e acarretando, por isso, novas preocupações, cuidados e conhecimentos, quando uma das vantagens iniciais do CD era a sua suma simplicidade e fiabilidade. Vêm estas considerações a propósito, como não podia deixar de ser, do teste de uma nova proposta de leitor de CD’s, o Atoll CD200SE2.
Descrição A Atoll Eléctronique foi fundada em 1997 por dois irmãos: Stéphane e Emmanuel Dubreuil. Desde o início, a filosofia da marca, segundo a apresentação que vem no sítio da empresa, era a de suprir uma lacuna do mercado: a ausência de electróni-
ca de áudio de verdadeiro topo-de-gama a preços razoáveis. A gama 200, a que pertence o presente leitor de CD’s, tem vindo a ser desenvolvida a partir de 2008 com grande sucesso entre os audiófilos. O design do leitor CD200SE2 é agradável e contemporâneo, com o painel apresentando uma parte saliente em forma de barco, que contém o logo, a gaveta e um ecrã LED. As suas dimensões são 440 x 280 x 90 mm (L x P x A). Os botões de comando das funções de leitura estão colocados por baixo do ecrã LED, meio na parte recuada e meio na parte saliente do painel frontal. Este tem uma cor casca de ovo e o corpo é cinzento metalizado. Na parte de trás apresenta saídas analógicas RCA e digital S/PDIF coaxial, uma entrada IEC e um interruptor de alimentação. O CD200SE2 contempla ainda a possibilidade de actualização com uma placa opcional que inclui três entradas digi-
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tais: uma coaxial, uma óptica (Toslink) e uma USB. A versão que testei não incluía esta placa opcional. O CD200SE2 contém transformadores toroidais separados, um dedicado ao estágio de saída, com uma potência de 160 VA e outro dedicado aos dispositivos digitais, este de 15 VA. No seu coração está um chip DAC Burr-Brown PCM1792 – 24 bit/ 192 kHz, 8x oversampling, níveis de sinal/ruído de 129 dB e uma distorção a 1 kHz menor que 0,002%.
Audição Depois de dois dias de rodagem, experimentei o Atoll ligado ao meu equipamento residente: o amplificador Primare A.30 e as colunas Sonab OA-6 Typ-2. A primeira sensação foi muito positiva e de familiaridade, porque achei o seu desempenho muito semelhante (mas um pouco melhor) ao do meu leitor residente, o Primare C31. Talvez a justificação seja o coração: ambos possuem um chip DAC Burr-Brown – o Primare usa o PCM 1704 e o Atoll o PCM 1792, um chip mais moderno. Diga-se desde já que esta semelhança é muito lisonjeira para o Atoll, que custa um pouco mais de metade do preço do Primare. Onde o CD200SE2 prima é, sem dúvidas, nos médios e agudos, sobretudo em resolução e em transparência – as vozes emergem assim cristalinas e sem obstáculos e os violinos sem qualquer crispação. Mais: a percussão, sobretudo a que vive nas frequências mais altas, soa temporalmente precisa. Os baixos são pronunciados, todavia sem excessos e, em geral, as misturas musicais complexas são desvendadas com uma articulação e uma lucidez excelentes. Assim, no Orfeo de Christina Pluhar, Nahuel Pennisi foi capaz de fazer valer toda a riqueza do seu timbre único de um tenor ligeiro subtil e encantador. Carlos Mena e a Disfonik Orchestra misturam géneros musicais com sabedoria e Carlos Mena é um dos melhores contratenores da actualidade. Como exemplo, é só ouvi-lo a interpretar o imortal When I Am Laid in Earth, área de Dido e Eneas de Purcell. A melodia inesquecível e a tristeza vaga e vagarosa da área de Dido transparecem com a maior musicalidade possível num espaço intimista e indivisível. A capacidade de articulação do CD200SE2 transparece com arte na leitura das cantatas Wachet auf, de Buxtehude e Bach – linhas melódicas intricadas de canto e contracanto, solistas, coro e orquestra bem diferenciados, bem posicionados no palco sonoro e reprodução muito bem articulada mas sem perda de integração. Quatro vozes muito diferentes, a de Annie Haslam do Renaissance, um soprano etéreo, Luciana Sousa, uma voz quente aqui voltada para o jazz, Jennifer Warnes, uma voz um tudo nada roufenha mas bela, e Carminho, a emoção sem falha e um timbre esplendoroso. Quatro desafios que o CD200SE2 ultrapassou com mestria, sobretudo no caso da Carminho, muito graças à leveza e musicalidade da sua gama de médios. Chouchane Siranossian e Jos Von Immerseel (violino e piano-
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teste Atoll CD20z0SE2
Montagem do módulo opcional de entradas digitais para o CD200SE2.
-forte) interpretam na sua gravação L’Ange et le Diable, dois violinistas de quem se disse de um (Leclair) que tocava como um anjo e de outro como um diabo (Locatelli) e acrescentam outro (Tartini) a quem o Diabo teria inspirado pessoalmente. Um programa cheio de contrastes que o CD200SE2 enfrenta muito bem, quer em termos de correcção dos agudos, quer em termos de contrastes rítmicos, quer ainda em termos de musicalidade.
A competência na reprodução da gama de baixos é demonstrada cabalmente com o sax-tenor de Scott Hamilton, cheio de nuances graves, e o seu contrabaixista Ignazi González, pleno de potência mas com total precisão rítmica e aquela qualquer coisa misteriosa a que se chama swing.
Conclusão Como é facilmente inferível pelas minhas
Playlist Christina Pluhar & L’Arpeggiata
Orfeo Chamán
CD Erato
Carlos Mena & Disfonik Orchestra
Under the Shadow
CD Mirare
Chouchane Siranossian & Jos Von Immerseel
L’Ange & Le Diable
CD Alpha
The Bach Players
Sleepers Awake! “Wachet CD Hyphen auf”: Buxtehude & Bach
Luciana Souza
The Book of Chet
CD Sunnyside
Scott Hamilton
La Rosita
CD Blau Records
Carminho
Canta Jobim
CD Warner Parlophone
Renaissance
Live at the Carnegie Hall
CD Repertoire
Jennifer Warnes
Famous Blue Raincoat
CD BMG
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considerações acima expressas, o Atoll CD200SE2 ganhou um fã. A este nível de preço, muito competitivo, foi sem dúvida das melhores propostas que já ouvi. E considerando que com umas poucas mais centenas de euros, podemos acrescentar entradas digitais S/PDIF e sobretudo USB, o pacote oferecido pela Atoll torna-se quase imbatível. Se tiver um número considerável de CD’s e quiser um novo leitor, mesmo que pense em «migrar» para um servidor, encontra nesta proposta da Atoll (com ou sem placa de entradas digitais) uma referência difícil de bater na sua fatia de preços e até com o dobro do preço.
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De regresso ao futuro e outra vez ligado à corrente:
O leitor/servidor transporte Cocktail Audio X50
Leonel Garcia Marques
Descrição
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O X50 é um produto da Novatron, uma empresa sul-coreana que tem vindo a aperfeiçoar este tipo de produtos com a presente marca ou com a marca alternativa, a NovaFidelity. O X50 é um servidor/ ripper/ leitor/ streamer/ rádio DAB/FM e transporte digital. As cinco primeiras designações referem-se a coisas que o X50 faz, a última a uma coisa que ele não faz. Assim o X50 pode incluir dois discos rígidos (2,5” ou 3,5” HDD ou SSD) em RAID. Os discos SSD são mais recentes do que os HDD mas ainda têm menos capacidade de armazenamento e são mais caros, embora garantam um acesso muito mais rápido à informação. A possibilidade de os formatar em RAID permite que os dois se copiem contínua e simultaneamente para precaver perdas de informação (embora em RAID 1, como é o caso, se perca metade da capacidade de armazenamento). Mas, como o X50 permite dois discos de 1 TB, no caso de se utilizarem discos SSD, ou dois discos HDD de 6 TB cada, o problema não é grande. O X50 é um ripper, ou seja, pode gravar CD’s e guardá-los em formato digital sem compressão, quer dizer, conservando toda a informação contida nos CD’s. O X50 é também um leitor, porque pode ler os ficheiros de áudio armazenados nos seus discos internos. O X50 é um servidor, porque os ficheiros de áudio armazenados nos seus discos podem ser acedidos por outros equipamentos através de uma rede
utro dia, um amigo meu ficou a olhar para o equipamento testado neste artigo e perguntou-me: «O que é isto? O que faz?» Eu expliquei-lhe que era um leitor/servidor transporte digital de música. Ele insistiu desconfiado: «E faz o quê?» E eu expliquei outra vez. Ele concluiu: «É um enorme leitor de MP3». Aí eu desesperei, porque posso ter muitos defeitos, mas ouvir em formatos comprimidos não é certamente um deles. Bom, este é um exemplo dos problemas dos avanços tecnológicos e do futuro em geral. Muitos dos desenvolvimentos tecnológicos, económicos ou mesmo sociais são respostas a necessidades que ninguém sabia que tinha antes de essas respostas aparecerem! E as nossas necessidades vão mudando em função dos problemas e das lacunas causados pelos próprios avanços ou pela descoberta de novas necessidades. Quem adivinharia que precisaríamos de ligações USB nos nossos automóveis para carregar os nossos smartphones, que precisaríamos de lasers de elevada precisão para remover tatuagens ou nos fariam falta discos SSD com formatação em RAID para guardar a nossa colecção de ficheiros digitais de áudio? Mas, pelo menos no áudio digital, as tendências do futuro parecem cristalizar-se e amadurecer como é o caso do equipamento em teste, o Cocktail Audio X50.
doméstica sem fios, Ethernet ou Powerline, e utilizando, por exemplo, um streamer, um computador, um iPad, um smartphone, um DAP, etc. O X50 é um streamer, porque pode também, através de uma rede doméstica, ir buscar a música armazenada num servidor e fazer a sua leitura. O X50 é também um rádio DAB/FM e pode ainda ser utilizado para se aceder a serviços de online streaming, como o TIDAL ou o QOBUZ. O X50 é apenas um transporte digital, por não possuir qualquer conversor digital/analógico. Daí que não seja directamente compatível com um equipamento analógico complementar (um amplificador analógico, por exemplo), necessitando sempre de um DAC exterior para realizar a conversão de digital para analógico. Este aspecto é um sinal dos tempos, porque existem vantagens em usar um DAC dedicado, e muitas das pessoas que compram streamers com DAC incorporado acabam por recorrer também a um DAC exterior. A versão que me foi cedida para teste é uma versão sem discos duros instalados, daí que certos atributos não puderam ser testados (gravação de CD’s, leitura directa do discos rígidos internos, etc.) e usei-o, por isso, mais em streaming utilizando o meu servidor NAS, um WDEX2 de 8 Tb que está ligado à minha rede através de um dispositivo Powerline. O X50 vem em caixa dupla num bonito saco de pano escuro. Tem as dimensões de 441 mm (L) × 330 mm (P) × 100 mm (A)
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teste Cocktail Audio X50
e o peso de 10 kg. Incluídos estavam um controle remoto muito completo, um cabo de alimentação e um cabo de antena de FM. Normalmente, com o X50 vem um disco de dados que contém uma cópia do FreeDB, um software para a informação não musical dos CD’s (os tags) quando o X50 estiver off-line (no meu caso, o CD era omisso, mas foi fácil ir buscar o programa à Internet). Na fronte, o X50 tem uma placa de 12 mm de espessura de alumínio escovado de boa estética (também existe em negro). Igualmente na fronte, no lado esquerdo do canto superior, existe uma ranhura para CD’s e, mais em baixo, um grande botão On/Standby B e uma porta USB tipo A. À direita, temos um mostrador LCD de 7 polegadas, com uma resolução de 1024 × 600 píxel, um botão grande de OK/ Pausa/ Scroll e botões pequenos para o menu de navegação: FM/DAB, Return, Stop e Menu. Na parte de trás, o X50 apresenta as seguintes ligações e botões: interruptor geral de alimentação e fusível, entrada para relógio digital externo, saída I²S (HDMI, RJ45), saídas digitais S/PDIFF (uma coaxial e duas ópticas), saídas AES/EBU (XLR), gavetas para os discos HDD (2,5 ou
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3,5 polegadas) e SDD, entrada para antena DAB+/FM, entrada Ethernet LAN, saída HDMI para ligar a um ecrã exterior, saída de USB, entrada para USB 3.0 Host. O X50 é capaz de seguir os protocolos de rede UPnP (DLNA) Server/ Client/ Media Renderer, Samba Server/ Client, FTP Server, Web Server, etc. O X50 possui enorme flexibilidade no processamento dos formatos de áudio, processando ficheiros DSD (DSD64, DSD128, DSD256), DXD (24 bit/ 352,8 kHz), HD WAV (24 bit/ 192 kHz), HD FLAC (24 bit/ 192 kHz), APE/CUE, WAV, FLAC, ALAC, AIFF, AIF, AAC, M4A, MP3, WMA, Ogg Vorbis, PCM, M3U, PLS, etc.
Audição A configuração do X50 e a ligação à minha rede foi muito simples. Existe uma App com versões para sistemas operativos Apple e Android, a Novatron Music X. É uma aplicação funcional, mas acabei por fazer a configuração apenas a partir do LCD. Como disse acima o teste foi realizado recorrendo às funções de streaming a partir do meu NAS WDEXP2 e do serviço online Qobuz. Liguei o X50 ao DAC iFi iDSD Micro e, a partir daí, ao amplificador Primare A.31 e às colunas Sonab OA5-Type 2. A ligação ao Qobuz funciona impecavel-
mente. Mas o essencial do meu teste incidiu sobre a colecção de ficheiros digitais armazenada no NAS. De uma forma geral, o X50 ofereceu, sobretudo, clareza, discriminação de timbres e boa espacialidade. Estas são em grande parte as características do DAC que usei; por isso não existe razão para grandes espantos. E, de facto, em DSD, o desempenho foi excelente. O som do contrabaixo de Derek Jones, terno ou zangado mas sempre swingado, presente e com uma assinatura acústica característica surgiu imaculado através do X50, reflectindo uma fantástica gravação. Numa gravação ao vivo, menos excepcional do que a de Derek Jones, Bill Evans mostrou a música reflectida, melodiosa e quase intelectual que o define. Aqui o X50 deixou brilhar o piano sem atropelos de médios e agudos, com um som sério e sereno como convinha. Com Sara Vaughn, uma gravação mais vibrante mas menos equilibrada, o X50 não escondeu os excessos de brilho e contraste da gravação, mesmo trazendo consigo o ambiente explosivo do concerto. Mas, mesmo sem ser em DSD, o X50 portou-se muito bem. Veja-se só o caso de Rachelle Ferrer, os agudos inumanos, os contrastes a soarem plenamente, trans-
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Playlist Musica Antiqua Latina Corelli Bolognese Trio Sonatas by Corelli & Successors
24 bit/ 96 kHz Qobuz – DHM
Leila Schayegh
Farina: Sonate e Canzoni
16 bit/ 44,1 kHz Qobuz – Pan Classics
Bill Evans
Some Other Time: The Lost Session from the Black Forest Resonance 2ch128 DSD – Native Music
Lee Konitz
Frescalalto
24 bit/ 96 kHz (download Qobuz) Impulse
Derek Jones
Dusk Til Dawn Complete
11,2 MHz – DSF – Blue Coast Records
Sarah Vaughn
Live at Rosys
Resonance 2ch128 DSD – Native Music
Rachelle_Ferrell
Live in Montreux
16 bit/ 44,1 kHz (ripped) – Blue Note
Sallie Ford
Soul Sick
24 bit/ 96 kHz (download Qobuz) – Vanguard Records
mitindo a natureza ao vivo da gravação. Por outro lado, o boss do sax-alto voltou. Sim, Lee Konitz voltou, nesta recente gravação, com toda a sua imaginação, pureza do timbre e das ideias, sentido rítmico imparável, tudo reproduzido facilmente pelo X50. A voz de Sallie Ford, meio a gritar meio a cantar, num jeito rockability muito dela, emerge de uma gravação em que os instrumentos soam secos e cortantes, quase aos repelões, com uma agressividade divertida e deliciosa. O X50 pareceu o parceiro ideal para Sallie. E os violinos de Leila Schayegh e de Giordano Antonelli (dos Musica Antiqua Latina)? Soaram sempre com o timbre correctíssimo e o brilho necessário, quer em staccato quer em le-
gato, de acordo com a fantasia vertiginosa a correr por cima dos famosos ostinato de Corelli ou das danças antigas de Farina.
Conclusão O Cocktail X50 mostra uma evolução incrível relativamente aos modelos anteriores e mais modestos como o X10. É claro que o X50 é um equipamento que só exibirá todas as suas potencialidades com a inclusão de discos internos e em RAID. Essa é uma recomendação decisiva para os leitores que considerem este equipamento. Por outro lado, a sua personalidade audiófila vai sempre depender do DAC que lhe acoplar. Mas isso é só mais flexibilidade e possibilidade de actualização. Nada a opor.
E a presença do monitor LCD (ausente em tantas propostas de equipamentos semelhantes) e a possibilidade de ligação a um ecrã exterior são outros tantos argumentos a favor. Tudo isto a preço muito competitivo. Grande equipamento. E digo-lhe uma coisa, se a música é importante para si e ainda não sentiu necessidade de um servidor/ ripper/ leitor/ streamer/ rádio DAB/FM e transporte digital, senti-la-á, digo-lhe eu, mais cedo do que tarde. Se ainda não sentiu necessidade de um servidor/ ripper/ leitor/ streamer / rádio DAB/FM e transporte digital está prestes a chegar ao futuro mas ainda não chegou lá.
Cocktail Audio X50 Preço 1999 euros Representante Delaudio Telef. 218 436 410 www.delaudio.pt
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teste
AMG GIRO + CABEÇA DS AUDIO DS-W1
e fez-se luz sobre a música Jorge Gonçalves
A
AMG é um fabricante de gira-discos, cabeças e braços, sediado na Alemanha já há alguns anos e que funciona sob a direcção de Werner Roeschlau e do seu filho Julian Lorenzi. Todo o trabalho mecânico tem lugar integralmente dentro da fábrica, a qual está equipada com um conjunto de tornos e fresas do tempo analógico, ou seja, sem controlo por computador, e alguns desses equipamentos foram mesmo desenvolvidos e
fabricados para cumprirem as especificações definidas pela AMG e foram utilizados durante quase dez anos para fabricar peças para alguns dos gira-discos mais conceituados do mundo do analógico. A partir daí, passar à fabricação de gira-discos sob a sua direcção pareceu um passo lógico, e foi assim que nasceu o seu gira-discos topo-de-gama, o Viella V12, normalmente equipado com um braço de 12 polegadas. Mas hoje vou-me debruçar sobre o Giro, equipado com o braço 9W2.
Descrição técnica Gira-discos Um dos conceitos que um bom designer aprende logo de início é a frase designada «rasoura de Occam» e por muitos atribuída a Einstein, embora não haja uma certeza absoluta de que ele a tivesse mencionado oralmente nem existam documentos escritos que comprovem a sua autoria. De qualquer modo, a tradição oral tem muita força, e foi isso que aconteceu com esta frase simples mas cheia de significado: Toda e qualquer coisa deve ser tão simples quanto possível, mas não mais simples que isso. E, olhado sobre esse ponto de vista, o Giro é realmente o mais sim-
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ples possível em termos de estrutura: dois círculos de igual diâmetro, não concêntricos, e assentes um sobre o outro, sem qualquer recurso a suspensões. Quer o prato quer a caixa que alberga o veio de apoio são fabricados a partir de blocos de Delrin, enquanto a parte inferior, aquilo que poderíamos designar chassis, é de alumínio aeronáutico. A tracção do prato é efectuada através de uma correia que encaixa numa poleia de aço inox colocada no topo do veio de um motor de precisão de 18 V, fabricado na Suíça. O veio de apoio do prato, com 16 mm de diâmetro, é lubrificado hidrodinamicamente e assenta numa base de Teflon. A alimentação do motor tem lugar a partir de um alimentador externo que liga a um circuito electrónico de controlo de velocidade, do qual se destacam duas teclas de pressão acessíveis na parte superior do chassis e que permitem seleccionar as velocidades de 33 e 45 r.p.m. O Giro vinha acompanhado pelo braço 9W2, igualmente fabricado pela AMG a partir de alumínio aeronáutico, anodizado para eliminar as ressonâncias, e que utiliza o princípio de pivô duplo. O apoio vertical funciona de acordo com o mesmo
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princípio utilizado nos rotores dos helicópteros, recorrendo a dois fios de aço para possibilitar o ajuste fino do azimute sem prejudicar a livre movimentação no plano vertical. A cablagem tem lugar através de fios finíssimos de cobre isento de oxigénio, e os ajustes de antipatinagem e VTA têm lugar a partir de ímanes, um toroidal e dois em forma de barra. Para facilitar os ajustes existe uma bolha de nível colocada no topo do veio vertical e mais à frente darei algumas indicações sobre esse processo. A saída de sinal tem lugar na parte inferior do braço, através da já quase universal «ficha SME».
Cabeça DS Audio DS-W1 O que é uma cabeça de gira-discos do tipo óptico? Para já, não é a novidade que pode parecer a alguns. No final dos anos 60, princípio dos anos 70 a Toshiba lançou um produto deste tipo. Infelizmente, quer o tamanho quer a linearidade dos fototransístores e dos díodos fonte de luz deixavam naquele tempo muito a desejar, pelo que a ideia foi abandonada. Regressou mais tarde, no início dos anos 90, quando a Finial lançou um gira-discos com leitura por um feixe de luz laser. Mas diversos problemas fizeram com que o projecto nunca funcionasse em termos de grande público, embora seja voz corrente na indústria que algumas hemerotecas utilizam os poucos gira-discos que foram fabricados, a um preço assustador. O principal problema desses gira-discos da Finial, para além do preço na altura considerado algo
exagerado mas que hoje em dia se calhar já seria olhado com outros olhos, tinha a ver com a excessiva sensibilidade às poeiras, o que implicava que os discos tinham que estar impecavelmente limpos, quase aspirados. E eis que aqui há três para quatro anos começou a ouvir-se falar cá nas bandas ocidentais que uma empresa japonesa tinha «repescado» a ideia de fabricar uma cabeça do tipo óptico e que esse transdutor tinha sido recebido no mercado japonês com grande entusiasmo. E essa empresa não era propriamente um novato nas lides da óptica, pois tinha desenvolvido o joystick óptico juntamente com a Microsoft. E não tardou que o entusiasmo nipónico transbordasse cá para as bandas ocidentais, o que implicou que a DS Audio começasse a ter os seus produtos disponíveis na Europa, primeiro com os topos-de-gama DS-1 e DS-2, e mais recentemente com uma versão mais abordável, a DS-W1 de que vou falar hoje. E afinal o que é uma cabeça de gira-discos de tipo óptico de acordo com a leitura da DS Audio? Pois à primeira vista não se distingue muito de uma cabeça normal, pois tem os quatro pinos para os sinais de saída dos dois canais, um corpo muito parecido com qualquer outra cabeça, e o mesmo se passa com o cantilever de boro e a agulha do tipo Shibata. Onde se notam diferenças é no aparecimento de uma luz, vermelha na W1, azul na DS Master 1, embora isso não desvende muito sobre o que se passa no interior. E aí é
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que as coisas mudam muito, pois, em vez de termos bobinas a movimentarem-se dentro de um campo magnético (MC) ou ímanes a vibrarem junto a bobinas (MM), temos agora uma «persiana/ecrã» mais ou menos a meio do cantilever, ecrã esse que tapa mais ou menos, dependendo da sua posição, a luz emitida por um LED para um sensor rectangular, o qual apresenta na sua saída um sinal eléctrico proporcional à amplitude dos movimentos da agulha, funcionando o cantilever um pouco como uma alavanca de Arquimedes, o tal que disse: dêem-me uma alavanca suficientemente grande e eu deslocarei o
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teste AMG Giro + cabeça DS Audio DS-W1
mundo. Isto desde que tivesse o ponto de apoio certo, claro. Significa isto que quanto mais intensos forem os movimentos da agulha, mais amplos serão os movimentos do tal ecrã, por vezes correspondendo a movimentações micrométricas da agulha no sulco do disco. O facto do cantilever se mexer de modo totalmente livre implica que o sinal de saída não sofre dos inconvenientes provocados pelas forças de reacção que aparecem, de acordo com a lei de Lenz, sempre que movimentamos uma bobina dentro de um campo magnético, foças de reacção essas que criam um campo magnético oposto ao que desenvolveu o sinal eléctrico (força electromotriz), e a interacção dos dois campos magnéticos limita e amortece os movimentos do extremo do cantilever. Por outro lado, o sinal de saída de uma cabeça MC ou MM depende da velocidade com que a bobina ou o íman vibram, o que significa que temos sinais mais fortes nas altas frequências do que nas baixas, tornando-se necessária alguma correcção extra (para além da habitual correcção RIAA), principalmente no caso das cabeças MM, que gostam muito de ter alguma capacidade na entrada do prévio de phono. No caso das cabeças ópticas já não é necessária qualquer correcção extra.
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O sinal assim obtido entra naquilo a que eu vou chamar uma interface, porque produz a tensão de alimentação para a cabeça, recebe o sinal de volta, amplifica-o e efectua a correcção RIAA, apresentando depois na saída um sinal de nível de linha (500 mV), o qual pode ser aplicado a qualquer prévio sem entrada de phono. Poupa-se, portanto, um elemento no percurso do sinal e no sistema de áudio, embora, como em todos os casos, haja um preço a pagar por isso, mas lá para diante falarei sobre este qui pro quo. O equipamento que designei interface DS Audio está contido numa caixa de alumínio bem espesso e bem repleta: a um transformador de núcleo em C com dois enrolamentos secundários segue-se a rectificação por díodos Schotky de alta velocidade de comutação e a filtragem através de 13 condensadores Nichicon de 33.000 mF cada um (!). Aquilo a que poderemos propriamente chamar circuito de interface, e que não é mais que um prévio de phono com algumas pequenas modificações, contém uma vasta quantidade de transístores que cumprem as funções de amplificação e correcção RIAA do tipo passivo, com uma montagem interessante pelo facto de as resistências ficarem montadas na posição vertical, o que é muito
raro mas certamente tem como razão a necessidade de poupar espaço no circuito impresso, ao mesmo tempo que dá origem a percursos de sinal mais curtos. O sinal amplificado está disponível através de dois pares de ficha RCA, diferentes em si pelo facto de um deles estar equipado com um filtro subsónico, o qual pode ser útil no caso de sistemas de áudio que tenham problemas com sinais de frequência muito baixa. A cabeça DS Audio W1 vem protegida dentro de uma caixa resultante da fresagem de um bloco de alumínio sólido, com uma tampa superior em acrílico. Os pinos de ligação na traseira são em número de quatro, como numa cabeça normal, e as características principais da cabeça são como segue: separação de canais de 20 dB; peso de leitura entre 1,3 e 1,7 gramas, com 1,5 gramas como valor recomendado; cantilever de boro; agulha de perfil Shibata; e corpo de alumínio sólido.
Audições Tenho que começar por aplaudir os esforços mais recentes dos fabricantes de gira-discos para facilitar o trabalho dos amantes do vinilo em termos de afinação. De facto, depois dos tão badalados tormentos de afinação, por exemplo, de um LP12 de aqui há 30 anos, até a Linn aligeirou bastante esses esforços e outros fabricantes têm dado o seu melhor para que começar a ouvir um gira-discos seja pouco mais que tirar da caixa e pôr a tocar, como aliás acontece com a maioria dos equipamentos de áudio. Não posso dizer que o trabalho de montagem do Giro seja assim tão simples, mas não há dúvida de que se pode fazer num curto espaço de tempo, diria menos de uma hora, incluindo a afinação do braço. Tudo começa pela arrumação quase militar dos diversos componentes dentro de uma caixa quase cúbica, com o braço
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numa bela caixa de madeira que contém o cabo de ligação, igualmente da AMG, e as chaves para montagem e aperto. Como o veio está colocado dentro de uma unidade selada, basta retirar o prato, colocar com cuidado a correia sob o subprato existente na parte inferior deste e na poleia do motor e verificar se ela ficou bem montada e a rotação fica perfeitamente livre. Passa-se então ao braço, o qual encaixa directamente num anel existente na parte posterior do chassis e é equipado com um parafuso de aperto. Chegado aqui, deixo uma nota: a AMG dá indicações no sentido de se garantir de imediato que o nível indica uma posição perfeitamente horizontal, mas para mim isso não é importante antes de colocar a cabeça, até porque o ajuste final do VTA pode alterar todo o equilíbrio. Claro que é sempre importante garantir que o gira-discos em si está perfeitamente horizontal mas, para tal, eu prefiro utilizar uma convencional régua de nível do género utilizado na construção civil, e foi o que fiz neste caso, ajustando a altura dos pés até que tudo estivesse perfeito. Passei, portanto, à fase seguinte, retirando a cabeça da sua sólida protecção, e aparafusando-a com cuidado à concha do braço. É sempre uma operação delicada que causa alguma preocupação, mas não é nada do outro mundo, bastando ter algum cuidado, até porque a W1 não está equipada com a habitual protecção para a agulha e cantilever. Depois de efectuadas as ligações e apertados ligeiramente os parafusos de fixação, coloca-se então o contrapeso na parte traseira do braço e acerta-se este com cuidado até se obter a posição em que o tubo do braço fica perfeitamente horizontal. Deixo aqui uma crítica ligeira ao facto de o contrapeso não encaixar numa parte roscada do braço e não possuir qualquer graduação, o que torna complicado acertar o equilíbrio do con-
junto braço/cabeça para se ter o peso de leitura correcto, 1,5 gramas no meu caso, numa balança da Shure que tenho comigo há largos anos: ligeiramente para trás e é peso a menos, um nadinha para a frente e aí temos o peso a chegar num instante aos 1,7 gramas. Aqui é que se coloca a necessidade de usar de alguma paciência, mas tudo se faz desde que se tenha cuidado. A fase seguinte consistiu em acertar a posição exacta da cabeça em termos de geometria, para minimizar o erro de leitura. Como faço há largos anos, recorri ao esquadro de calibração dos irmãos Garrott, a melhor ferramenta que conheço para este fim e que tem dois pontos de ajuste perfeitamente definidos para verificar se a parte frontal da cabeça está perfeitamente paralela aos traços existentes no esquadro. É quase impossível que isso aconteça nos dois pontos mas eu acabo quase sempre por aceitar um pequeno desvio no ponto mais interior, garantindo que o primeiro ponto, situado mais junto ao exterior do disco esteja perfeitamente calibrado. E isto porque, na maior parte dos casos, as faixas mais importantes de cada disco se situam no início deste. Ao mesmo tempo, por gosto pessoal, subi muito ligeiramente a base do braço para que a o VTA fique mais perto daquilo de que eu gosto. Aqui é necessário uma vez mais cuidado, pois o levantar da parte traseira do braço pode implicar que quando a cabeça está sobre o disco o tubo do braço possa roçar no apoio do elevador, o que pode provocar distorção e mesmo saltos da agulha nos sulcos. Mas ninguém se deve preocupar com o que aqui descrevi que, digo-vos, levou mais tempo a escrever do que a fazer. E, na maior parte dos casos, quem vende o gira-discos procede a todos estes ajustes. Depois de tanta conversa, acho que já é mais que tempo de falar nas audições, porque afinal foi para isso que levei este conjunto para casa durante mais de duas
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semanas logo a seguir ao Audioshow. E as hostilidades foram abertas exactamente com um disco oferecido pelo David Sanz, da Kleifri Records, que uma vez mais esteve presente no nosso evento com os seus discos de vinilo. Tratou-se de The Jazz Album, com arranjos de Chostakovich sobre diversos temas musicais, muitos deles de música clássica, e num tom de jazz, interpretados pela orquestra do Concertgebow, conduzida por Riccardo Chailly. Já tinha ouvido algumas faixas deste disco ao longo do tempo mas nunca tinha tido oportunidade de o apreciar de uma forma global. E, convencido pelas notas da contracapa, decidi começar pelo segundo andamento, parte II, com o título Lento, do Concerto para Piano N.º 1 em Dó Maior. E foi como se se abrisse na minha frente todo um vasto panorama romântico que me fez lembrar as glamorosas fotografias dos campos irlandeses do filme Barry Lyndon, mas do original, porque a dita cópia digital restaurada que me tentaram impingir no ano passado ficava a milhas de distância da película analógica. Aliás, a estrutura desta peça alude em diversos momentos a música de filmes e talvez seja isso que faz com que se tenha um elevado prazer em ouvi-la, é quase como se estivéssemos a ver um filme sem necessidade de ter um ecrã com imagens na nossa frente – é só fechar os olhos e tudo acontece: um par romântico, uma paisagem esplendorosa, uma viagem de comboio, tudo aquilo que queira imaginar e que a deliciosa reprodução musical do gira-discos da AMG com a cabeça W1, também designada Nightrider, me dava a liberdade de apreciar. O som global era riquíssimo em harmónicos, com o trompete de Peter Masseurs a soar pura e simplesmente divinal, vivo como deve ser, por vezes mesmo entrando pelos ouvidos dentro, mas nunca excessivo ou gritante. Uma maravilha de se ouvir e um excelente começo.
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teste AMG Giro + cabeça DS Audio DS-W1
E vai daí passei a uma voz feminina, a de Rebecca Pidgeon, em Fhear a Bhata (O Homem do Bote), cantado quase a cappella, apenas uns ligeiros e suaves acordes de guitarra, tocada por Rebecca, e de violino, num típico estilo celta. A voz de Rebecca soava como se proveniente do nada, etérea e belíssima, com silêncios quase de uma estação espacial a girar em volta da Terra. Aliás, eu posso considerar, sem erro, a W1 a cabeça mais silenciosa que me foi dado ouvir a sulcar discos de vinilo. É um silêncio realmente notável mas talvez não tão frio como no espaço sideral, antes cálido e envolvente, se é que posso utilizar esta metáfora. A música no vinilo é quase sempre extremamente bela para os meus ouvidos, mas essa beleza fica realçada com esta bela fonte analógica. Como leitor ávido que sou desde há muitos anos de Jorge Luís Borges (tenho a sua obra quase toda), mal ficaria se não ouvisse aquilo que ele considerava uma maneira de se percorrer a vida, ou seja, o tango, na interpretação de outro grande mágico argentino, Astor Piazzolla, no disco Live in Wien. Embora eu não seja um grande fã dos discos DMM (Direct Metal Mastering), uma tecnologia de produção de LP’s inventada em conjunto pela Teldec (Telefunken/Decca) e pela Neumann e em que a matriz de prensagem é cortada directamente num master metálico, em vez de num original de laca que depois é metalizado, tenho que dizer que este disco resulta muito agradável de ouvir no Giro, com o violino e o piano muito detalhados, e o grave marcante e de fazer «dançar» o pé mesmo quando estamos sentados, leva-
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dos pela enorme mestria de Piazzolla no acordeão, um instrumento que sempre me disse muito desde muito pequeno, quando ouvia Eugénia Lima, uma das maiores intérpretes portuguesas deste instrumento e que por sorte era amiga de um dos meus tios. Quanta música bonita ouvi, tendo a ver com raízes populares e não só, porque esta grande intérprete tirava do acordeão verdadeiros monumentos de música mais erudita quando estava inspirada. Claro que Piazzolla é de outro mundo, mais astral, e o gozo com que ele transforma qualquer acorde num tango dengoso é algo que sempre me impressionou. Pena que a maioria das gravações que ele deixou como legado não o apresentem à altura do grande génio que ele foi e será para sempre. E como um grande produto merece sempre uma comemoração, nada como abrir um disco para celebrar, e foi isso que fiz com o LP da Mercury Frederic Fennell Conducts the Music of Leroy Anderson que tinha ainda guardado dentro do plástico de protecção. Este é um disco muito especial, com os Eastman Pops a emitirem todo o tipo de efeitos sonoros sob a forma de uma multitude de efeitos percussivos, tais como máquina de escrever, chicote, blocos de madeira, castanholas, sendo mesmo intercalados sons de cães e de gatos! Toda esta parafernália tem uma vivacidade e um realismo tal que, como muitas vezes me acontece com o fechar da porta do carro no final do LP de La Folia, pura e simplesmente saltei da cadeira com o som do chicote que saiu repentinamente das Yvette! E foi aqui bem evidente a capacidade de reprodução do palco espacial por parte desta fonte, com o ruído das teclas da máquina de escrever a ser originado a partir de uma posição central e frontal, ao mesmo tempo que a campainha marca o ponto no retorno do carreto no final de cada linha lá bem na esquerda, na zona da percussão, dando a ideia de que Fennell (era ele mesmo que escrevia à máquina)
tinha perante si uma máquina gigante. A percussão reproduzida pela W1 era algo de notável: cheia, mas sem empolamento, com um tempo perfeito, e uma extensão que dava toda razão à afirmação da DS Audio de que as cabeças de leitura óptica podem reproduzir graves de frequências tão baixas como 15 Hz (!). Se há algo mais que gostaria de ter por parte de uma fonte analógica tão superlativa talvez fosse uma imagem espacial um nadinha mais ampla, extravasando as paredes laterais das colunas, mas isso tem de certeza algo a ver com o meu feitio de querer sempre algo melhor.
Conclusão Esta combinação da AMG e da DS Audio funciona de um modo notável em conjunto, produzindo um som bonito até mais não, com uma gama média capaz de trazer até nós não só os sons como o cheiro das madeiras, os graves a estenderem-se até profundezas difíceis de abarcar e silêncios mesmo escuros, embora nunca frios. O preço da cabeça W1 pode ser considerado elevado (e não é barata, isso não) mas não nos podemos esquecer que por esse valor compramos uma cabeça e um belo prévio de phono, o que dilui, ou pelo menos divide por dois, o impacte. E parece que não sou só eu a ter esta opinião, porque tive que enviar rapidamente o equipamento de volta porque havia uma boa quantidade de audiófilos mortinhos por o ouvir. Gira discos AMG Giro e cabeça DS Audio DS-W1 Preços: AMG Giro com braço 9W2: 7800 m DS Audio DS-W1: 8800 m Distribuidor Ars Antiqua Audio Telef. 0034 607 846 527 www.arsantiquaudio.com
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Audiovector QR 3 Coerência acústica João Zeferino
P
assaram-se doze anos desde que tive a oportunidade de testar para a Audio & Cinema em Casa umas colunas da dinamarquesa Audiovector, na altura as Mi3 Signature. Uma das particularidades mais interessantes daquela gama de colunas e que continua com os actuais modelos da gama SR da Audiovector prende-se com a possibilidade de upgrade entre as diversas versões de cada modelo. Mantendo cada um a mesma caixa base, é dada ao utilizador a possibilidade de melhorar qualitativamente o produto, através da substituição dos altifalantes utilizados e das necessárias modificações no crossover. As QR 3, objecto do presente artigo, não são abrangidas pelo programa de upgra-
de, sendo antes uma proposta da Audiovector para procurar trazer para um escalão de preços mais acessível a qualidade dos modelos das gamas superiores.
Descrição As QR 3 são umas colunas de duas vias e meia, de colocação no chão e com um acabamento em lacado branco ou preto de grande qualidade, cujo design limpo e elegante será facilmente enquadrável na decoração doméstica mais sofisticada. A caixa possui um pórtico reflex na base, razão pela qual as colunas são apoiadas num suporte que as eleva alguns centímetros, de modo a permitir a saída de ar pelo pórtico. Esta configuração tem a vantagem, face ao mais comum posicionamento frontal ou traseiro do pórtico reflex, de interferir me-
nos com as características acústicas da sala de audições, tornando mais fácil e versátil o posicionamento das colunas. As QR 3 fazem uso de uma versão patenteada do tweeter AMT (Air Motion Transformer) que a Audiovector designa «Gold Leaf Air Motion Tweeter». Este possui uma placa frontal maquinada a partir de uma peça de alumínio aeronáutico, com uma malha dourada que controla a dispersão e actua como um filtro anti-sibilantes ou, como a marca lhe chama, um S-Stop Filter. As unidades de frequências médias-graves são fabricadas de acordo com as especificações da Audiovector. Os cones possuem duas camadas de alumínio separadas por uma camada de um material fibroso, com excelentes características de
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teste Audiovector QR 3 amortecimento, unidas por uma cola especial. A Audiovector chama a estas unidades «Pure Piston», porque combinam a leveza e rigidez do alumínio com a resiliência e modos de break-up a frequências mais elevadas dos materiais fibrosos. Enquanto um altifalante de 150 mm de alumínio típico começa a apresentar problemas a partir de uma frequência à volta dos 800 Hz, os altifalantes utilizados nas QR 3 podem trabalhar até aos 3 kHz sem apresentarem sinais de stresse. As QR 3 foram concebidas como umas duas vias e meia, o que significa que, embora as unidades de médios-graves sejam iguais, na prática uma delas funciona
como um altifalante de graves até aos 400 Hz, enquanto a outra funciona até aos 3 kHz, frequência a que passa o testemunho ao tweeter.
Audições As QR 3 substituíram as Revel no meu sistema, com o conjunto prévio/amplificador de potência Accuphase C-2120/P-4200, leitor digital Audiocom BDP-105EU Signature e ainda o gira-discos Michell GyroDec + Rega RB-300 + Benz Micro Glider. A cablagem constou dos Kubala-Sosna Fascination e Kimber Select KS-1121 nas interligações e Kimber Monocle XL nas colunas. As Audiovector QR 3 revelaram desde o início uma sonoridade muito coesa e uniforme que parece estar tão à vontade a reproduzir agrupamentos de jazz em instrumentos acústicos como a lidar com grandes massas sinfónicas ou a batida mais rude da bateria do rock dos Pink Floyd. A sua é sonoridade limpa, envolvente e extremamente agradável, encorpada sem ser pesada ou arrastada, e com um ímpeto rítmico que dá vida à música e que nos incute sempre uma vontade de ouvir mais, porque é sempre interessante e comunicativa. Globalmente, a sua sonoridade é muito suave e transparente, com
Discos utilizados nas audições:
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COMPOSITOR / OBRA
INTÉRPRETES
EDITORA
A. Bruckner Sinfonia n.º 9
Orquestra Filarmónica de Viena Nikolaus Harnoncourt
BMG RED SEAL (SACD)
S. Rachmaninov Rapsódia sobre Um Tema de Paganini Op. 43
Werner Haas – Piano Orq. Sinfónica da Rádio de Frankfurt Eliahu Inbal
PENTATONE (SACD)
A. Dvorak Stabat Mater
Christine Goerke – Marietta Simson – Stanford Olsen – Nathan Berg Coro e Orquestra Sinfónica de Atlanta Robert Shaw
TELARC (CD)
M. Mussorgsky – M. Ravel Quadros de Uma Exposição
Orquestra do Minnesota Eiji Oue
REFERENCE RECORDINGS (CD)
Eddy Louiss Sang Mêlé
Eddy Louiss
NOCTURNE (CD)
Patricia Barber Café Blue
Patricia Barber
PREMONITION RECORDS (CD)
Michel Camilo Portrait
Michel Camilo
CBS RECORDS (LP)
Ella Sings Brightly with Nelson
Ella Fitzgerald – voz Arranjos e direcção de orquestra: Nelson Riddle
WAXTIME (LP)
Pink Floyd The Final Cut
Pink Floyd
EMI (LP)
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agudos muito extensos e naturais, sem quaisquer resquícios de dureza mas também não se mostrando demasiado doces ou macios, com um registo grave intenso e poderoso mas sempre ágil e articulado, e com uma notável limpeza, ainda que naturalmente limitado pelas dimensões da caixa. O palco sonoro apresenta-se bastante amplo nas três dimensões, não sendo evidentes quaisquer sinais de constrangimentos. A facilidade com que as QR 3 conseguem corporizar uma orquestra sinfónica na sala de audições é mesmo verdadeiramente notável para umas colunas deste escalão de preços. Sem atingir a desenvoltura dinâmica que experimento com as minhas Revel, umas colunas de um escalão de preços muito acima das QR 3, o que me deixou perplexo foi precisamente o quanto estas QR 3 foram capazes de oferecer por um preço que não chega aos 2000 m. A gama média apresenta-se muito limpa, com uma sonoridade vibrante e extremamente comunicativa. Confere às vozes uma agradável sensação de presença sem artefactos, tendo resolvido com grande à-vontade situações complexas, como na gravação do Stabat Mater de Dvorak, com o qual desenvolveu um palco sonoro de apreciáveis dimensões, revelando com assinalável acuidade os diversos planos definidos pelos cantores solistas, a orquestra atrás destes e o coro no plano mais recuado, sem perda de focagem ou inteligibilidade. Uma excelente integração entre unidades activas confere uma coesão e uniformidade à sonoridade global das Au-
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diovector que são pouco comuns neste escalão de preços. Por outro lado, as QR 3 demonstraram ser capazes de corresponder de forma célere às solicitações dinâmicas do amplificador, respondendo alto e bom som sem quaisquer indícios de compressão, como ficou bem patente na audição de Sang Mêlé de Eddy Louiss, uma gravação extrovertida e dinamicamente espectacular que as QR 3 resolveram com alarde, emprestando ao som o nervo, o ritmo e o contraste dinâmico imprescindíveis a uma audição convincente. O tweeter é capaz de proporcionar agudos muito extensos, explícitos, bem timbrados mas sempre macios e isentos que quaisquer arestas cortantes. O piano é um instrumento sempre difícil pela exigência tímbrica e dinâmica, no entanto, com a excelente gravação do álbum Café Blue da Patricia Barber, o piano soou sempre acutilante e bem timbrado, provando a insuspeita qualidade do tweeter AMT utilizado nas QR 3.
Conclusão Do que antecede é fácil concluir o quanto as Audiovector QR 3 me agradaram. Umas colunas esteticamente muito apelativas, e que conseguem prestações sonoras bem acima do que o seu preço deixaria antever. Com uma sonoridade que se caracteriza por uma notável coesão, dinamicamente expressivas e com uma transparência notável, serão capazes de fazer justiça a sistemas mais modestos, onde poderão ser incluídas sem oferecerem dificuldade, mas também sem se revelarem como o elemento limitador se incluídas em sistemas de maiores pretensões.
Especificações técnicas Tipo de caixa
2 1/2 vias, bass reflex
Resposta em frequência
30 Hz a 45 kHz
Limite superior do tweeter
105 kHz
Sensibilidade
90 dB (2,83 V, 1 m)
Potência admissível
200 Watt
Impedância
4 - 8 Ohm
Altifalantes
Cone de médios-graves x 150 mm Tweeter de fita AMT
Frequências de corte
400 Hz, 3 kHz
Dimensões
942 x 190 x 232 mm (AxLxC)
Peso
15,4 kg
Preço
1800 m
Representante
Ajasom
Telef.
214 748 709
Web
www.ajasom.net
Audio & Cinema em Casa 75
teste
Cabos de coluna Townshend Audio Isolda EDCT neutralidade britânica
Jorge Gonçalves
A
Townshend Audio é uma empresa conhecida há largos anos no mercado (cerca de 50 anos), juntando sob a liderança de Peter Townshend uma equipa de engenheiros de áudio altamente qualificados que se tem dedicado a estudar quais as melhores combinações para se optimizar a performance dos mais diversos equipamentos de áudio. E é mesmo interessante deixar aqui transcrita a «receita» a que Townshend alvitra ter chegado para se atingir o nirvana do áudio: fontes quer digitais quer analógicas; transístores, válvulas e transformadores nos andares de amplificação; condutores de cobre da tecnologia Fractal Wires; caixas das colunas de aço ou pedra artificial e isolamento Seismic Load Cell para as colunas e componentes. É interessante, como qualquer receita, embora não deixe de ser um pouco parcial, já que algumas das soluções apontadas foram desenvolvidas pela Townshend, mas dá algumas pistas sobre aquilo que Peter e a sua equipa têm vindo a fazer ao longo dos anos. E os cabos de coluna de que vou falar hoje são novamente uma proposta pouco convencional, não só pela sua construção, como pelo facto de os condutores nele utilizados terem sido submetidos a um tratamento criogénico. Esses condutores, de
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formato em fita, são colocados muito próximo um do outro separados apenas por uma fina folha de polyester com 0,07 mm de espessura. Uma manga, igualmente de polyester, funciona como protecção e, ao mesmo tempo, confere solidez à estrutura. O facto de os condutores estarem situados a muito curta distância um do outro, combinado com terem uma resistência muito baixa (8,5 mOhm por metro), torna o cabo quase totalmente imune a interferências por campos electromagnéticos e faz com que a transferência de energia entre o amplificador e as colunas se efectue da melhor maneira possível. Em termos eléctricos, este cabo apresenta uma elevada capacitância e uma baixa indutância, o que significa que alguns amplificadores, como é o caso de diversos modelos da Naim, que confiam em encontrar um valor razoável de indutância do lado do cabo, se podem sentir desconfortáveis. E é essa a razão para a existência da caixa metálica, com a referência do cabo nela transcrita, que está inserida no extremo do cabo que deve ser ligado ao amplificador. Embora a caixa seja selada, não permitindo investigar o seu interior, diz a lógica que deverá conter uma pequena bobina de alguns microHenry para equilibrar o valor final da indutância do cabo. Para além de todos estes importan-
tes aspectos tecnológicos, é ainda interessante salientar a embalagem que contém o cabo, por ser muito pouco usual: nada menos que uma caixa de formato circular exactamente igual às que se usavam para armazenar os filmes de celulóide nos cinemas. Começa aqui a ser marcada a diferença mas mais virá em seguida, como se irá ver.
Audições O Isolda EDCT esteve comigo por um largo período, razão porque pôde ser ensaiado com nada menos de três tipos de colunas bem diferentes, as Quad ESL63, as Kef LS50 e as Wilson Audio Yvette, tendo como denominador comum a já habitual amplificação da Constellation, e como fonte o Accuphase DP85. Durante algum tempo, a electrónica Inspiration 1.0 foi substituída pelo conjunto NAD Masters M12 e M32, cujo teste foi publicado no número anterior da Audio & Cinema em Casa. Portanto, conclusões não faltam quanto aos diversos aspectos do seu desempenho e à sua versatilidade em termos
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monstrando-se assim à evidência as capacidades do cabo da Townshend, resultado sem dúvida da sua baixa resistência. Em termos globais, a recuperação de detalhes e a sensação de ambiência espacial resultante do uso deste cabo eram ambas de grande nível, recriando com grande verosimilhança a estrutura de naipes de uma orquestra sinfónica ou de um quinteto de jazz, com um posicionamento bem definido dos músicos e uma noção bem clara mesmo das mais pequenas minudências inerentes ao tocar de cada instrumento: quer um violino atacasse fortemente passagens mais intensas de uma obra de Paganini, quer emitisse os mais simples harpejos numa sinfonia de Mozart, tudo mantinha a perspectiva correcta e uma limpidez de assinalar nesta gama de preços. Ao mesmo tempo, se os Isolda EDCT se portaram muito bem com colunas que «gostam» de graves, como as LS50 e as Yvette, com as Quad ESL63 mostraram uma outra faceta de comportamento e que se traduziu numa gama média que transmitia os timbres perfeitos de cada instrumento, desde as flautas de Mozart aos violinos de Vivaldi ou Paganini, ou ainda à guitarra de Pete Metheny quando, por exemplo, ele toca em conjunto com Charlie Haden em Missouri Sky. Neste disco em especial, um dos que está na minha lista de favoritos, a definição dos tempos, a articulação e o controlo eram tão bem reproduzidos que eu podia quase visualizar as lânguidas vibrações da guitarra de Metheny na faixa 2, bem como as vibrações rítmicas bem definidas do contrabaixo que acompanha, sem nunca se sobrepor, a mestria deste grande guitarrista.
Conclusão
de combinação com uma boa diversidade de colunas. E, em face disso, vai ser muito rápido explicar de que modo vi a sua performance segundo mais que uma perspectiva. E a primeira constatação é que o desempenho do Isolda não mudou grandemente de caso para caso: o Isolda EDCT é um cabo muito neutro e que possui duas características que o distinguem de muitos outros – uma gama média limpa e bonita e um comportamento nos graves
capaz de pôr em sentido o mais desprevenido. E isso foi evidente nomeadamente com as Kef LS50 e as Wilson Yvette. Como já disse no teste destas últimas colunas, igualmente publicado na edição de Março/Abril da Audio & Cinema em Casa, assim que elas entraram em minha casa liguei-as aos NAD Masters que estavam em teste, usando como cabo o Isolda. E foi ver como saíam graves extensos, poderosos e profundos destas excelentes colunas, de-
Existem no mercado muitos cabos mas não são tantos assim os que sobressaem. Este Isolda EDCT mostrou ser um destes últimos, pela sua neutralidade, pela correcção tímbrica e pela excelente definição do grave que é possível obter com diferentes colunas. Com ele no sistema a audição de música torna-se envolvente e agradável, conferindo-lhe assim uma relação preço/ qualidade que não é fácil de bater. Merece, sem dúvida, uma audição cuidada para os que estejam a pensar mudar os cabos de coluna no seu sistema.
Cabos de coluna Townshend Audio Isolda EDCT Preço 1159 m Representante Esotérico Telef. 219 839 550 www.esoterico.pt
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teste
devolo Gigagate,
giga-velocidade em multimédia Jorge Gonçalves
A
devolo é uma marca que tem um enfoque especial na área dos powerline, dispositivos que permitem transmitir dados da Internet através dos cabos de alimentação de sector, tornando desnecessário estabelecer uma nova cablagem através da casa. Mas o dispositivo de que vamos falar hoje é ligeiramente diferente de um powerline, embora pretenda igualmente melhorar de maneira evidente o acesso à Internet numa habitação. Trata-se de um conjunto de dois equipamentos, o satélite e a base, que se ligam entre si através da rede Wi-Fi a 5 GHz e possibilitam o acesso à Internet no lado do satélite, quer sem fios quer recorrendo a cinco portas Ethernet. A largura de banda total é de 2 Gbit/s, partilháveis entre os acessos Wi-Fi, a porta Ethernet do tipo Gigabit e as quatro outras portas LAN do tipo 10/100. Para se obter o máximo rendimento da porta Gigabit devemos utilizar um cabo de especificação mínima CAT 5e, indo a devolo ao ponto de fornecer um cabo deste tipo juntamente com o conjunto Gigagate, o que não deixa de ser simpático. Esta ponte (bridge) de alta velocidade possibilita assim acessos muito rápidos em situações em que o débito de dados a velocidades elevadas é importante, nomeadamente no streaming de música ou
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filmes através de uma rede caseira. Ao mesmo tempo, disponibiliza localmente (junto ao satélite) um vasto número de ligações com e sem fios para conexão de todo o tipo de equipamentos, tais como consolas de jogos, smart TV, computador portátil, tablet, NAS, servidor, etc. A segurança, estabelecida automaticamente pela base e satélite entre si, é muito elevada, devido à encriptação AES. Um bónus muito interessante é a possibilidade de ligar até oito satélites a uma mesma base, o que torna quase inesgotáveis as capacidades de expansão. Diversos LED’s, de cor branca quando tudo está bem, sinalizam, quer na base quer no satélite, diversas situações tais como, apenas como exemplo, o estado da ligação entre o satélite e a base, o funcionamento da rede Wi-Fi, a ocupação das portas Ethernet e assim por diante. A ligação inicial da rede Wi-Fi pode ter lugar através de WPS, se o dispositivo que queremos ligar tiver também essa capacidade. A instalação da Gigagate é do mais fácil que se possa pensar: ligam-se a base e o satélite aos alimentadores, liga-se a base ao router através do cabo CAT 5e, insere-se cada alimentador numa tomada e espera-se que os LED’s se estabilizem, isto porque a ligação entre os dois dispositivos ocorre de forma automática. E isto sem sequer se recorrer ao programa Cockpit, que eu por acaso até tenho instalado no meu
computador, devido ao facto de ter em casa uma rede powerline com dispositivos 1200 AV+. Onde este programa se torna útil é quando é necessário fazer a actualização de software, porque nesse caso basta clicar nos símbolos de cada um dos equipamentos e seleccionar a função de actualização, isto caso não sejamos informados automaticamente sobre o facto de a actualização estar disponível. A configuração, quer do satélite quer da base, é novamente uma operação muito simples que tem lugar num ambiente web. Apenas um pequeno comentário sobre esta configuração: apesar de o manual de utilização apenas mencionar um valor de 40 MHz para a largura de banda máxima, depois de actualizado o software esse valor passa para 80 MHz. Em utilização, a Gigagate mostrou-se uma vez mais de manejo muito simples, isto para além de ser de grande utilidade. De modo propositado, instalei a base e o satélite relativamente afastados e com a incorporação de duas paredes entre ambos. Mesmo assim, as velocidades de acesso iniciais foram bem rápidas, mesmo quando apenas por Wi-Fi – utili-
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zando o LAN Speed Test cheguei facilmente a 70 Mbit/s numa configuração básica de escrita e leitura no meu NAS Synology. Mas claro que isto não mostrava nada de especial em termos daquilo que a Gigagate especifica e o Cockpit anunciava – 1040 Mbit/s entre base e satélite. Assim sendo, passei então para uma situação bem mais exigente: liguei o meu computador HP Omen PC15 à porta Gigagate através de um cabo de rede CAT 6, embora para tal tivesse que utilizar um adaptador Ethernet/USB 3.0, pois este notebook de excelentes especificações não tem porta Ethernet! Os resultados obtidos e mencionados em seguida, já de si excelentes, poderão então ainda muito provavelmente ser melhorados numa situação normal de ligação directa à porta Ethernet. Estabelecida a ligação, o mesmo teste LAN Speed Test já deu agora origem a algo como 266 Mbit/s em escrita e 147 Mbit/s em leitura, o que é muito bom, principalmente se tivermos em conta que estes resultados foram obtidos em simultâneo com a reprodução de um filme com qualidade 1080p (When Marnie Was There) a partir do mesmo dispositivo onde foram efectuados os testes de leitura e escrita de um ficheiro com 50 MB, o mencionado NAS Synology com 12 TB de capacidade total de disco instalada. E no caso do filme não consegui detectar qualquer hesitação na reprodução da imagem (nenhum frame perdido) ou do som. Tornei a fazer outro ensaio de reprodução, neste caso de ficheiros de áudio de alta resolução, com tamanhos da ordem dos 250 MB, novamente armazenados no NAS, utilizan-
do o JRiver, e tudo se processou de modo idêntico: a velocidade de leitura de 2700 kbit/s, mesmo em simultâneo com a reprodução do filme que já mencionei, foi algo que não causou qualquer dificuldade à Gigagate, que permitiu que a reprodução tivesse lugar ao mais elevado nível e sem nunca ter ocorrido qualquer hesitação na reprodução ou queda de qualidade. Apenas como que numa última experiência, propus-me transferir um filme com 5 GB para o NAS, a partir de um disco externo USB ligado ao computador. E fiquei a olhar para a barra de transferência do Windows 10 a indicar algo como 88 MB/s, o que corresponde a cerca de 700 Mbit/s, uma velocidade de grande nível para uma ligação que, queira-se ou não, está assente nas normas Wi-Fi. Nada mal, mesmo.
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pela devolo, e pude ver filmes e ouvir áudio de alta resolução, situações das mais exigentes que conheço, com a mais alta qualidade. Do meu ponto de vista este é um acessório recomendadíssimo, mesmo para quem não tenha problemas de maior com a rede Wi-Fi, porque os routers utilizados pelas operadoras de televisão e Internet não permitem de modo nenhum velocidades de transmissão de dados do nível das que se obtêm com a Gigagate ligada a uma das suas portas Ethernet.
Conclusão Mesmo submetida a um teste em condições extremas, a Gigagate portou-se de maneira impecável, conseguindo atingir velocidades de transferência de dados do mais elevado que é possível ter hoje em dia. As ligações de dados foram sempre muito estáveis, nomeadamente depois da actualização de software proporcionada
Devolo Gigagate Preço 230 m Representante devolo Portugal Telef. 913 595 962 www.devolo.com/pt
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discopatia
MEMÓRIAS MAGNÉTICAS honorato_pim@netcabo.pt
T
ão avaro e parcimonioso no uso do termo, proclamo-o (repito-o) agora em tom estrondoso: Stephin Merritt é um génio e a personalidade mais fascinante da moderna música popular norte-americana. E se o repito é porque já o afirmara em 2000, quando Discopatia atribuiu ao triplo álbum 69 Love Songs, dos Magnetic Fields (o veículo mais mediático de uma criação torrencial assinada por diversos nomes e semi-heterónimos), o galardão de melhor álbum do ano, a par de Nixon, dos Lambchop. Desde então, quer com os Magnetic Fields, quer com os demais ramos da frondosa árvore – Future Bible Heroes, 6ths, Gothic Archies – Stephin Merritt não nos tem poupado a uma obra tão controversa quanto perturbadora. Mas parece ser no formato longo que Merritt se transcende. Se 69 Love Songs (três CD’s) era uma inesperada obra-prima, o novo 50 Song Memoir (cinco CD’s) não o é menos, uma segunda obra-prima e o melhor disco de 2017 para uma Disco-
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patia «que raramente se engana e nunca tem dúvidas» (não, as inefáveis memórias de Cavaco Silva não são o meu actual livro de cabeceira).
69 Love Songs (1999, edição europeia em 2000) O projecto inicial consistia em 100 canções debitadas por ordem alfabética e destinadas a uma performance teatral. A redução para 69 (Coincidência? Com Stephin Merritt? Ah, ah!) ainda assim implicou um ano de trabalho, o maior lapso de tempo ocupado pelo autor à volta de um disco. A edição em triplo CD tem, logo à partida, algo de megalómano, gesto grandiloquente tão ao gosto dramático de Merritt. «Quis fazer um testamento sobre o amor, sem ser pretensioso ou grandioso.» Em vista desta nova e monumental obra, toda a sua produção anterior surge algo menor, exercícios electromelancólicos preparatórios da obra-prima vindoura. O álbum passeia-se por uma ampla variedade de géneros – cabaré, jazz lo-fi, country, folk, rock, blues, electro-pop – 69
minicanções sobre o estafado e imortal tema do Amor e seus motivos – perda, alegrias, infelicidade, depressão, encontro/ desencontro. A arte maior de Merritt está em a sua escrita soar a fresca, original, sobre o tema mais glosado desde sempre – «69 Love Songs não é sobre o amor, as canções de amor não são sobre o amor, mas sobre canções de amor.» «Tentei minimizar a produção de modo a ter mais liberdade de acção e poder abordar estilos musicais diferentes. Hoje em dia dá-se mais importância à produção que às canções e quis contrariar isso.» Decerto que nem todos os temas do álbum serão imortais – «já é difícil escrever um bom tema de amor, quanto mais 69» – mas mesmo os vagamente irritantes ou os interlúdios não-canções cumprem, quiçá desconhecendo-o, um papel valioso: o de fazer brilhar, por oposição, algumas das mais irresistíveis canções populares alguma vez registadas – Busby Berkeley Dreams, Washington, D.C., Acoustic Guitar, A Chicken with Its Head Cut Off e tantas, tantas outras. Ao editar um único CD, resumido, para amigos, Discopatia sentiu-se a perpetrar um crime ao excluir qualquer das faixas. Sobre o amor é, pois, o disco. Amor adolescente, pubescente, físico, platónico, heterossexual, indefinido e, claro, homossexual (é conhecida a militância gay de Merritt), álbum povoado de innuendos mais divertidos e provocatórios que panfletários. A pretty boy in his underwear If there’s a better reason To jump for joy Who cares… (Underwear) The world does the hula-hula When my boy walks down the street Everyone thinks he’s Petula So big and yet so petite … he’s a whole new form of life … and he’s going to be my wife (When My Boy Walks Down the Street) A fina ironia, humor negro e sensibilidade poética de Merritt fazem-nos com-
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panhia ao longo de três preciosas horas e 69 textos inteligentes e brincalhões (como habitualmente, com títulos irresistíveis – Fido, Your Leash Is Too Long, Let’s Pretend We’re Bunny Rabbits, Love Is Like a Bottle of Gin, The Cactus Where Your Heart Should Be), ternos e sarcásticos, onde o saudável prazer de chocar não é gratuito. As abundantes citações e evocações – Camus, Nino Rota, Saussurre, Billie Holliday, Holland/Dozier/Holland – são sentidas e não um mero name dropping. O leque vocal é alargado a mais vocalistas e à voz sensual de Claudia Gonson (sua manager, pianista e baterista), contraste etéreo com as tonalidades profundas de Merritt, soando como um Johnny Cash de volta ao futuro. «Desde Cole Porter que não há um letrista como Stephin Merritt» (Spin). «O maior escritor da sua geração» (LA Times). Os críticos não foram parcos em elogios a Merritt. Outrossim Discopatia. Em 2001 escrevia em Discopatia: «Cada vez com menor frequência surge na música popular (o mesmo sucederá nas outras artes) um artista à frente da sua era, maior que o mundo e envergonhando a concorrência. A seu tempo o foram, por exemplo Dylan, Zappa, Prince ou, em ondas cíclicas, os Beatles. Em face da sua discografia, ninguém mais apto actualmente que Stephin Merritt.» E mantenho-o.
50 Song Memoir (cinco CD’s – 2017) Em 2015, ano em que completou 50 anos, Stephin Merritt confrontou-se com um ar-
riscado desafio por Robert Hurwitz, o presidente da sua editora, a Nonesuch: escrever um álbum com 50 canções, uma por cada ano de vida e torná-lo uma extravagância musical. Merritt admite precisar de uma guiding line para escrever, e os seus melhores trabalhos foram temáticos – o mencionado 69 Love Songs, o álbum I (em que todos os temas começavam pela letra I), Distortion (disco inspirado na pop noisy dos Jesus and Mary Chain), o operático Showtunes ou The Tragic Treasury: Songs from a Series of Unfortunate Events, baseado na obra literária do seu amigo Daniel Handler (Lemony Snicket). Diz Merritt: «Preciso ter algumas regras para os álbuns dos Magnetic Fields, senão nunca sei onde começar e quando parar.» O desafio era de monta – Merritt é profundamente antibiográfico; e como concentrar os seus notáveis dotes de com-
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positor e ficcionista em si próprio, na sua vida? 1 «Encarei 50 Song Memoir como uma reacção a 69 Love Songs, um disco não ficcional. No novo álbum temi que toda a minha vida aí se dissipasse. Na verdade, fiquei a saber mais do meu passado após escrever sobre ele!» 50 Song verificou-se um prodigioso veículo para Merritt verter toda a sua gama de excentricidades, interesses musicais diversos e instrumentação bizarra – cerca de 100 instrumentos (ausente, hélàs, a guitarra portuguesa que António Chainho lhe oferecera em tempos e que Merritt confessa ser dos instrumentos mais difíceis de tocar que jamais lhe passou pelas mãos). Como norma disciplinadora, nenhum tema deveria contar com mais que sete instrumentos e cada instrumento não poderia surgir mais que sete vezes no quíntuplo álbum). «Diverti-me a tentar combinações improváveis, com temas dissonantes a suceder aos mais melodiosos, faixas sobreproduzidas (Lovers’ Lies, Be True to Your Bar) a alternar com temas descarnados (The Day I Finally… The Ex and I), percussões insólitas a conviver com pianos românticos. Tento sempre evitar a repetição e que as canções soem diferentes umas das outras.» E um dos desconfortos do(s) disco(s) é também um dos seus trunfos: a permanente surpresa, o challenge contínuo. Já houve quem descrevesse genialmente as canções de Merritt como um «bouquet de rosas atado com arame farpado». Mesmo em temas a priori desconfortáveis como Eye Contact, Dreaming in Tetris, Quotes, sob a capa dissonante alberga-se uma linha melódica cuja, com outra roupagem, poderia ser optada por um Michael Bolton ou Rod Stewart! Sim, é assim tão fascinante a escrita de Merritt. «Sempre gostei de sons estranhos e do ruído na música. Mas também adoro o bubblegum, por isso gosto do caos de flirtar com ambos os extremos, dos Can aos Abba, dos Neu aos Sweet. Sou tão perfeccionista quanto sensível a acidentes felizes. Mas gosto de os escolher.» Os cinco CD’s comportam cada um dez temas e passeiam-se pelas cinco décadas de vida do autor, da infância a 2015. E é fascinante sermos espectadores da evolução do jovem Stephin, da conturbada in1 Talvez daí o menor recurso a outros vocalistas, como ocorrera em álbuns anteriores. O que não se festeja. A voz de Merritt não é o mais aclamado dos seus instrumentos – «e quando comecei a gravar, então, era pavorosa, hoje sou um Pavarotti, por comparação». Se se lamenta a menor diversificação vocal, a concentração na voz de Merritt (embora pouco dotada, muito expressiva, à maneira de outros grandes não-cantores como Dylan ou Tom Waits) ajuda à verosimilhança e credibilidade no projecto biográfico.
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discopatia tty»), sempre a saída desafiadora e provocatória («Hey Jake, let’s make a serious mistake?»)
Disco 4 (1996-2005) A figura (ausente) do pai – «I’m sad; I never had a Dad… I’ve no need for fathers.» As depressões (Eurodisco Trio), as dificuldades nas relações amorosas, os abandonos, as novas atracções por jovens e namorados, a capacidade de verter essa coita em canções, com mais humor negro que revolta. A paixão pelos bares (Be True to Your Bar), onde escreverá o grosso da sua obra, sobretudo os bares gay, de variegada fauna humana. O imenso afecto por Nova Iorque, para a mãe uma cidade suja, perigosa, drogada, para Merritt encantadora (Have You Seen It in the Snow? Never Again)
Disco 5 (2006-2015) fância à descoberta da electrónica e dos clubes, da falta de amor caseiro à epidemia de sida em Nova Iorque, da assunção de uma (então) proscrita homossexualidade à permanente rejeição, dos sonhos de criança à resignação da maturidade. Como Merritt confessa no penúltimo e um dos melhores temas, I Wish I Had Pictures: Old memories are fading away… But I’m just a singer, it’s only a song The things I remember are probably wrong Mais que pela autenticidade ou pelo atestado histórico, 50 Song Memoir vale pela superior e artística recriação da vida do autor.
Disco 1 (1966-75) Foco no relacionamento errático (até aos 22 anos, Merritt confessa ter vivido em 33 locais diferentes) com a mãe, uma beatnick (My Mom Ain’t no Madam) com uma colecção de namorados (o pai, o cantor folk Scott Fagan, saiu de casa mesmo antes do nascimento de Stephin) cada um mais bizarro que o anterior e todos eles desdenhados pelo jovem. O primeiro tema introduz o tom do álbum. Em Wonder I’m From pergunta isso mesmo, onde terá sido concebido, provavelmente numa desbunda de rum entre beatnicks, num barco. Mas sem azedume ou rancor, mera e distante reconstituição do passado, permeada por um humor irónico e por uma distanciação que o leva a omitir nomes ou pormenores íntimos. O amor não primava pela presença, o isolamento e a autodepreciação uma constante, e até o gato (A Cat Called Dionysus) o odeia. A ida aos concertos incompreensíveis
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(Jefferson Airplane – They’re Killing Children over There) com a mãe e os amigos boémios, a descoberta do ícone Judy Garland, as primeiras festinhas gay, os sonhos de criança.
Disco 2 (1976-85) A descoberta da música de dança, da electrónica e do sintetizador, do Roland TB-303 e de John Foxx, dos Ultravox, role model despido de emoções. A atracção pelos clubes (Danceteria), o glamour da vida nocturna, do disco, as sonoridades, o teatro humano, o fascínio pela descoberta. O namedroping de favoritos (Einsturzend Neubaten, Shirelles, ESG, uma mistura excitante). As primeiras bandas («we made The Cramps sound orchestral»), a enfatuação com a Londres da época dos New Romantics e das poses afectadas – Vivienne Westwood, Blitz, as roupagens extravagantes e provocatórias. O sarcasmo pelo novo namorado da mãe, que detestava Can e Neu. A aristocracia do gosto, claramente elitista.
Disco 3 (1986-95) O coming of age, a escola (How I Failed Ethics), os livros (Ethan Frome) e, sempre, a música, tanto o disco (e posterior desencanto pelo seu excesso contaminador) como o psicadelismo representado pela sitar. A sombra das doenças (Weird Diseases), a pobreza, a avalanche de sida («all the young dudes of 25… few survive; we expected nuclear war, what should we take precautions for?»), a retirada para o anonimato («if only musicians were invisible or, like The Residents, identical»), a penúria («I could sell myself, if I was pre-
Los Angeles e o contraste com Nova Iorque, o desdém pela artificialidade e teatralidade dos seus personagens e hábitos, como o surf, mas desencanto com a crescente descaracterização de Nova Iorque (You Can Never Go Back to New York). Mais canções sobre desadequações amorosas e bandas sonoras abortadas (20.000 Leagues under the Sea), mas uma subtil inflexão por uma resignação de adulto, que não conformismo (a bela canção de amor Big Enough for Both of Us). O confessional I Wish I Had Pictures quase resume o programa de um álbum que termina com um inesperado happy end, Somebody’s Fetish – «even for me has Cupid found a place». 50 Song Memoir é uma enfeitiçante caixa de estilos musicais registada pelo Cole Porter da nossa geração, tão excessivo quanto contido, tão reservado quanto megalómano. Mas nunca menos que interessante. Sim, já o disse – o melhor álbum de 2017.