Lisboa ribeirinha
Pelas margens do rio Do Parque do Tejo à Doca de Pedrouços
Carlos Jarnac
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O autor nasceu na Suíça por acidente, cresceu em Cascais por sorte, morou no Estoril por casamento e vive, agora, em Lisboa por conveniência.
Lisboa ribeirinha
Pelas margens do rio
Carlos Jarnac
S
empre com sabor a maresia, vamos passear pela Lisboa ribeirinha, junto às margens do rio, desde o Parque do Tejo, no Parque das Nações, até à Doca de Pedrouços, em Algés.
A
pesar de pertinha, pertinha, a margem do rio, durante décadas e décadas esteve longe do público. Era uma Lisboa portuária, industrial, ferroviária... Só em meados do século XX,
É uma caminhada de ponta a ponta da cidade, de nascente Mundo Português, em 1940. para poente e do nascer ao pôr-do-sol. Vamos atravessar várias Lisboas, onde se cruzam épocas distintas, áreas de lazer e de trabalho, caminhos de ferro e zonas portuárias, edifícios religiosos e armazéns industriais e onde a modernidade se encosta ao tempo antigo.
e culminada agora com a total Naus, tornando-se esta quase uma praia urbana. junta-se ao trabalho o lazer, o desporto, a cultura e a ciência.
N
Ponte Vasco da Gama
Sacavém
L
O S
Parque do Tejo
Doca dos Olivais
LISBOA
Matinha
Poço do Bispo Xabregas
Santa Apolónia Rocha Cais Conde de do Sodré Óbidos Alcântara
Algés Doca de Pedrouços
Junqueira
Terreiro do Paço
a rc
Ce
Belém
Ponte Sobre o Tejo
de
18
km
RIO TEJO
A
o longo dos séculos, Lisboa roubou muitos metros cúbicos ao
equestre. Em Alcântara o rio chegava ao Calvário. Em Belém, as águas paravam no Real Cais de Belém (hoje estátua de fez-se sentir de uma forma brutal. Afonso de Albuquerque) e a O desenvolvimento industrial e a frente dos Jerónimos era um necessidade de novas, maiores e modernas instalações portuárias e fabris, bem como o caminho-deferro foram os responsáveis por eram margem do rio, bem como a esse “roubo”. Nalguns locais foi Fábrica de Tabacos Lisbonenses mais de 1000 metros rio a dentro. (hoje Teatro Ibérico), em Xabregas. E ainda era Tejo C metade da área da Fábrica de ribeirinha há alguns anos atrás? Gás da Matinha (actualmente desactivada). rio correr por onde hoje se rasgam as avenidas Infante D.Henrique, Resumindo, para sul Lisboa para oriente e 24 de Julho/India, cresceu a roubar rio. Esperemos para ocidente. Tudo isso era “O que se Tejo. E era Tejo também metade do tira ao mar, mais cedo ou mais Terreiro do Paço - a água chegava tarde, o mar recupera.” onde hoje se encontra a estátua seja verdadeira.
Parque das Nações que Lisboa já conheceu. O que foi uma doca de amaragem de hidroaviões e um vasto ponto de vista ambiental, servido por muitos e variados equipamentos envolventes. Raras vezes na vida de uma cidade acontece o que aqui aconteceu; A sorte grande para arquitectos e engenheiros. E é nesta nova e moderna Lisboa, que só chega à maioridade em 2016, que começa a cidade, com um imenso Tejo pela frente.
194...
2015
...e vai a lua. Aqui começa a cidade com as boas vindas da princesa Catarina de Bragança, que em 1662 partiu para Inglaterra, fez-se rainha e instituiu o muito britânico .
O Passeio e Parque do Tejo a caminho de Lisboa.
Uma doca lamacenta abre espaรงo a petiscos para quem aqui vive.
O Gil recebe de braรงos abertos os canoistas mais velho, ainda entusiasma por estas zonas.
Um novo vocábulo entrou no dicionário; dronómetro. “brinquedos” aéreos e equipamentos sofesticados.
Nos anos 40, anos de guerra, esta larga doca servia a manobra dos grandes hidroaviþes intercontinentais. Atlântico e Conhecimento, o Oceanårio,
Brincar com a água é sempre um fascínio...em qualquer idade.
Diagonais que se cruzam na Marina do Parque das Nações...
...onde também há habitações permanentes.
...para a engolir por inteiro.
Com perícia e elegância a Garça-branca-pequena plana sobre o almoço...de botinhas douradas.
Matinha
2014
1938
Um cais que já teve actividade frenética como apoio à indústria petroquímica.
...arrasta-se penosamente pela lama...
...por entre passadeiras instรกveis...
...e novos protagonistas. O tempo nĂŁo anda para trĂĄs.
Equipamentos obsoletos ou arte moderna?
Pont천es que se desfazem, rio a dentro.
Mostra-se e esconde-se, consoante a marĂŠ.
Poรงo do Bispo Primeiro chegou o clero, depois a nobreza e a seguir o povo. Assim cresceu esta Lisboa.
2014
1917
Doca do Poรงo do Bispo. Aqui, hรก pouco recreio.
Um navio atracado a 1.100 km de casa.
Ancorado em Ă guas turvas.
2,8 km de mercadorias ligam Santa Apolónia à Matinha.
Fachada sul das novas instalações desenhadas, em 1917, pelo arquitecto Norte Junior (cinco vezes longo do século. Apesar de tudo, está a 2 anos do centenário.
E mesmo encostada ao povo, a nobreza. Palácio Xabregas do navegador Tristão da Cunha, o tal que em 1514 foi a Roma impressionar o Papa, leopardos, papagaios, perús, etc...
E mais Ă frente, o clero. Portal da torre sineira da Igreja da Madre de Deus, fundada em 1509.
Um trio visto repetidas vezes, ao longo desta frente ribeirinha.
A proa de um navio?
Santa Apol贸nia E em 1865 chegou o comboio. Os carris tra莽aram assim uma fronteira entre a cidade e o rio. 187...
2014
Inaugurada em 1865, servia a Linha do Norte. S贸 no s茅culo XX atravessou a linha de fronteira.
Terreiro do Trigo visto do Cais do Ginjal.
Zona de partidas e chegadas, por terra e por mar.
Grande parte dos visitantes que chega Ă cidade por via marĂtima, ĂŠ largada aqui aos milhares...
...recebida por velhos edifĂcios.
Dois membros da antiga Frota Branca, bacalhoeiros da Terra Nova, dos anos 40 do século XX. Em 1951, o livro do australiano Alan Villiers, A Campanha do Argus, imortalizou a frota, os seus navios e tripulações. A última viagem foi em 1973. Restaurados e reabilitados, hoje têm funções lúdicas e de formação.
Vários apetrechos necessários à pesca.
Muito bacalhau deslizou por este convés, no gelado Mar do Norte, depois de descarregados os pequenos Dóris. Eram embarcações de fundo chato, carregavam cerca de 900 kg de pescado, levavam um tripulante e viajavam empilhados aos cinco de cada vez.
O navio escola alemão e um porta-helicópteros da Royal Navy. Há muito que já lá vai a guerra dos espiões, na Lisboa de 40. A Igreja de São Miguel foi testemunha.
Campo das Cebolas visto do Cais do Ginjal.
Praça do Comércio Foi aqui que o poder se instalou em 1500 e é aqui que a cidade vira a sul.
188...
2014
Praça do Comércio vista do Cais do Ginjal.
Cais das Colunas. O meio da cidade.
Para a esquerda o que jĂĄ passou...
...para a direita, o que ainda aĂ vem.
Uma praça que já viu de tudo, com espanto e olhos bem abertos; festas, feiras, paradas, celebrações e recepções, mas também manifestações, torturas, touradas, tragédias, assassinatos e execuções.
Neste Y, abriam-se as Portas da Ribeira, na Muralha Fernandina, que desembocavam na C창mara de Lisboa, de quatrocentos.
Onde hoje se estende esta esplanada, Na esquina, uma placa assinala o regicĂdio.
O torreão do poder, quase divino, é hoje espaço de cultura.
Quando a provĂncia vem Ă cidade.
Depois de um tratamento em 2013, o rei Dom José mostrou-se de cara e corpo lavado, tal como a sua montada. ao cavalo e cavaleiro, mas é com a última se torna...sublime. Já as cobras, essas, cumprem o seu papel: manter longe a passarada e os seus indesejados dejectos.
Topo do arco, voltado Ă cidade...
...e ao rio.
Uma cidade onde tudo pode acontecer.
Em pleno sĂŠculo XXI...
...um assalto pirata...
...termina com sucesso.
O Tejo das fragatas...
...é tempo que já lá vai.
E já lá vão também, com saudade, projectos a dois.
Mostra-se e esconde-se, consoante a marĂŠ.
Tempo novo para a velha Ribeira das Naus, polvilhada de gente, de sol, de preguiça...
...e de mĂşsica.
Num dia solarengo de Junho, chapĂŠus houve muitos...
“- Por esse, bem posso esperar...sentada�.
Uma luta antiga...contra ventos e marĂŠs.
O sol quando aquece n達o olha...
O dever...
com sabor...a rio.
É daqui que se governa Lisboa. O edifício construído em 1774, encontra-se exactamente em cima do antigo Pátio da Capela da Patriarcal do Paço Real, arrasado em 1755.
E mesmo encostada ao povo, a nobreza. PalĂĄcio Xabregas. de navios foram construĂdos e reparados nestes estaleiros.
Viradas a sul, rampas de relva estendem-se onde outrora se lanรงavam navios ao Tejo.
Mesmo para quem tem pedalada, o sobe-e-desce de Lisboa tem consequĂŞncias.
Cais do Sodré
Com receio que a Ribeira das Naus fosse insufeciente para dar resposta a todos os trabalhos navais, em 1515 o rei D. Manuel determina:
Provisão per que el Rei manda que avendo respeito á necessidade que ha nesta cidade de Lixboa de lugar onde se possão espalmar e correger as náos se nem ofore nem dee de oforamento nhum chão na praia de Cata que Farás, assim como vai desde o cerco que vai as casas que forão do Secretário Antonio Carneiro até Sanctos e esteja sempre desocupada a dita praia.
1873
2014
Cais do SodrĂŠ visto do Cais do Ginjal.
Velhos armazĂŠns esperam novas actividades.
Abenรงoa a cidade desde 1959.
são « » e o serviço é « no romance “Os Maias”.
. As instalações
S達o Paulo e Mercado da Ribeira vistos do Cais do Ginjal...e de quem chega de barco.
Aí vão mais 518 pessoas “vender” Lisboa por esse mundo fora.
E lembrando Fausto “O barco vai de saída”.
132 anos com cheiro a fruta e agora tambĂŠm a...modernidade.
Muito mais que um mercado, ĂŠ o Mercado da Ribeira fundado em Janeiro de 1882.
Esperam pacientemente a hora de ponta.
Uma rampa com saudades do peixe, dos pescadores e das varinas.
Conta-se uma história. em Santos que tinha como especialidade coelho; coelho servido de diversas maneiras e com grande sucesso. Vinha gente de fora só para provar esta iguaria. Em meados de oitocentos, com as obras do inúmeras construções
foram demolidas e o estabelecimento também foi apanhado nesse turbilhão. Para espanto de todos, foram encontradas enterradas nos seus terrenos anexos, centenas de peles de letrinhas longínquas, pelar-se-ia por esta descoberta.
Para cá e para lá...
...uma moda que é só saúde.
De cabeça dura e de dentes bem cerrados, espera uma amarração que não chega há muito.
Espelho de uma época industrial e austera é hoje um espaço de diversão e prazer.
Entre 2 docas, uma marina bem vestida mas onde nunca ninguĂŠm morou.
Santos visto do Cais do Ginjal.
Tercenas do MarquĂŞs. Descemos das Janelas Verdes, viramos Ă Naquele tempo, o Tejo morria aqui.
Uma paleta de tons pastĂŠis, voltada a norte...
...e voltada a sul.
Santos/Alc창ntara
2014
Desenho de Alfredo Keil de
1873
Fascinante emaranhado de ligaçþes...seguras.
Ao estilo inglĂŞs
Antes desta
Actualmente encontro com o outro lado o mundo.
Lofts.
“- Nem para norte, nem para sul, durmo já aqui, quentinho.”
Belém/Pedrouços
Zona emblemática dos Descobrimentos em quinhentos, tornou-se local régio em setecentos, coabitou perigosamente perto da indústria em oitocentos, sofreu uma revolução em novecentos e é a meca do turismo da cidade no século XXI.
187... 2014
Com 82 janelas pararelas ao rio, sรฃo quase 400 metros de Cordoaria, fรกbrica real fundada em 1779.
Explosivo, o Museu da Electricidade mostra saudades da sua antiga vocação, quando era Central Tejo: produzir energia.
Energia solar que ajuda a fazer, de novo, praia em Belém.
Embora não pareça, a luta de galos é pela conquista e domínio do comércio do Índico.
...o “Leão dos Mares” que distribuiu fruta da época com sucesso e morreu em que Portugal teve a sua maior
Uma Rola-do-mar passeia-se no rio.
Novo edifício pensado, desenhado e construído para alojar os cerca de 80 coches - colecção única no mundo - que moravam no Picadeiro mudança de casa deu-se em Maio de
E ali bem perto, àquela tecnologia de ponta do século XVIII, junta-se a tecnologia de ponta do século XXI.
Um alinhamento quinhentista e, talvez, a rua da cidade com mais restaurantes por m2.
Todo este espaço já foi rio, até ao casario. E por isso foi Rua do Cáes. Hoje para chegar ao Tejo temos de caminhar pelo relvado, atravessar a estrada, cruzar a linha férrea, atravessar de novo a estrada e passar pela Doca de Belém. Em linha recta são 320 metros.
e uma produção de 20 mil unidades diárias. A segunda em 1904 numa pequena farmácia de esquina,
A renda calcรกria tece um clรกustro.
Na subida poente do padrão descobrimos D. Filipa de Lencastre e Fernão Mendes Pinto. A sua Peregrinação E a bordo do Por este rio acima, do Fausto, podemos fazer essa viagem...imperdível.
Todos os que por aqui passam, procuram o seu lugar no mundo.
Uma vez encontrado, os pensamentos soltam-se para longe.
Em troca de alguns euros, a mĂşsica vem dos Andes.
A remos ou Ă vela, a nove ou a dois..
...tudo serve para gozar o rio.
Na praça de um império que já lá vai, uma gaivota agita-se num dia cinzento.
CCB. A polémica já la vai.
E também aquece, uma doca que é um sucesso.
Ouro sobre azul.
Esperam uma boa reabilitação depois de serem...Universidade Moderna.
Rua do Arco da Torre. A rua mais pequena de Lisboa...uma dúzia de passos e já está. Em meados de oitocentos, Almeida Garrete passou férias nesta casa...para ir a banhos à Praia de Pedrouços.
Gaivota de pedra.
Paredes meias com a Torre de BelĂŠm e o Museu do Combatente, estĂĄ gravada na pedra a homenagem a todos os
E para salvar vidas, existe desde 2010 um centro de de janelas abertas à investigação de ponta no campo da biomedicina.
Doca de Pedrouรงos, que jรก foi de pesca e de brilho intenso.
E ĂŠ aqui que acaba Lisboa, o passeio e o dia.
Foram quase 18 km de frente ribeirinha. Entre museus, monumentos e espaços de até ao Museu do Combatente. E abriu o apetite. Está na altura de olhar para
...petiscar sabores de Lisboa. Bom apetite.
esde 1930.
Lisboa ribeirinha
Pelas margens do rio Do Jardim do Tejo à Doca de Pedrouços
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