MILFONTES

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carlosjarnac

MILFONTES litoralalentejanoparaosladosdevilanovade


O autor nasceu na Suíça por acidente, cresceu em Cascais por sorte, morou no Estoril por casamento, vive agora em Lisboa por conveniência e passa férias em Milfontes por prazer.

2013


Um bocadinho de história… ...de Vila Nova de Milfontes Em 1486 o rei D. João II funda a vila, concedendo-lhe o estatuto de sede de concelho, tendo sido, muitos anos depois, "despromovida" a freguesia e agregada a Odemira, em resultado da reforma administrativa desenhada no século XIX.

Planta do século XVI.

Apesar da presença humana na região ser muito antiga - data do Paleolítico – e do registo de alguns vestígios romanos, o litoral alentejano ao tempo da reconquista cristã era um território escassamente povoado (ainda hoje o é) e desorganizado, sendo por isso uma preocupação constante da coroa, desde D. Afonso III. A margem norte do Rio Mira chegou mesmo a ser fronteira do Portugal cristão e do Portugal islâmico.
Os repetidos assaltos, saques e pilhagens de que era alvo esta costa – perpetrados por corsários e piratas - foi um dos motivos para a dificuldade de fixar população ao longo dos séculos. A expressão fazia todo a sentido por estas bandas.

“Há mouro na costa”

Em 1582, já em plena época filipina, deu-se um dos mais violentos e dramáticos ataques à povoação, por parte de corsários magrebinos, deixando-a praticamente arrasada. E em 1597, piratas ingleses acabam o serviço, pilhando e saqueando tudo o que restava da vila

“…agindo não só como homens sem Deus e sem fé, mas como homens sem entendimento” relata um antigo.


Assim, em 1599 iniciou-se a construção do Forte de São Clemente, a fim de dar protecção à vila, ao comércio e à navegação. Aos poucos Vila Nova de Milfontes foi crescendo e consolidando-se em volta da fortaleza, só guarnecida e armada cerca de 80 anos depois de edificada. A vila, piscatória e agrícola, foi ganhando estatuto na região, mas não resistiu, no entanto, com elegância, ao forte, rápido e desordenado crescimento urbano dos anos 70 e 80 do século XX.

Uma pena.

Pelas óbvias razões já apontadas, o património cultural e arquitectónico é escasso, destacando-se o Forte de São Clemente, a Igreja Matriz Nossa Senhora da Graça e a ermida de São Sebastião. Em contraponto, o património ambiental desta região é de uma notável diversidade e beleza, magistralmente esculpido com arribas, falésias, dunas, praias, montados, planícies, serra e rio. Tudo isto a servir de habitat a uma fauna e flora variada, por vezes única, temperado por bom clima e fortes cheiros, a estevas, a mato, a mar…

Curioso, é que é graças a este historial de violência e à consequente diminuta densidade populacional, somado à sua geografia, que o litoral alentejano é hoje uma região sublime. Uma sorte.

Planta e alçado da fortaleza ao tempo da sua construção. Vista de Milfontes na primeira metade do século XX.


Assim sendo, Vila Nova de Milfontes é oficialmente uma freguesia portuguesa do concelho de Odemira, distrito de Beja, situada na foz do Rio Mira e inserida no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Possui 75,88 km² de área e cerca de 5000 habitantes (densidade de 66 hab/km²), segundo o senso de 2011.

A padroeira da vila é Nossa Senhora da Graça e o seu dia é 15 de Agosto.


De Vila Nova de Milfontes... Da foz do Mira...

...a Sines. Vista da Serra do Cercal. ...Ă ponte. Vista da margem sul.


O sol descobre o Mira. S達o 07:40 de um dia de Agosto.


E a vila acorda...pacĂ­fica.


Com 373 m de comprimento, a ponte de Milfontes data de 1978. As ameijoas, essas, sempre lรก estiveram.


E as ostras tambĂŠm, um bocadinho mais a sul, rio a dentro.


Acabada de abrir é só pingar limão.


Esta nem com lim達o.


A primeira luz do dia, desenha ondas no leito...


...e pinta casas ao longo da margem.


As figueiras dizem-nos que estamos a caminho do sul.


As estevas temperam o Mira.



J谩 bem no interior, s贸 mesmo de barco.


Rocha d´Água d´Alto, no sopé da Serra do Cercal.



Vรกrios verdes, vรกrios cheiros.


Estruturas clรกssicas...


...novas soluçþes.


Entre Milfontes e o Malh達o, depois de uns meses molhados.


Amanhecer escuro.


Coentros em flor...


...e bolinhas amarelas.



Num bosque nas Malhadinhas, os cogumelos nascem como cogumelos.


Chorão abre-se à polonização.


Um Calocoris Roseomaculatus almoรงa.


Vai sempre girando...atrรกs do sol.


Mariposa-Colibri tambÊm almoça.


Vivem cerca de 4 anos como ninfas (submersas) e s贸 2 meses como adultas.


Uma Cauda-de-Andorinha poloniza.


Aranha-de-Cruz, passeia-se num pomar.



3 a 4 cm

Pode viver 10 anos

Rela Meridional Pequeno anfíbio sem cauda, que habita no sul do país, de cor verde vivo, com uma lista escura que sai da narina e termina por cima do ombro. Vivem em habitats húmidos com vegetação abundante: prados, juncais, matos e florestas, lagoas e linhas de água. Alimentação Caçam activamente de noite: Formigas

Escaravelhos Moscas Aranhas Gafanhotos Outros invertebrados

Reprodução

Lagoas Carcas de rega Prados inundados Riachos Ribeiras

Olhares rendilhados.



Pisco-de-peito-ruivo

É uma ave, monogâmica, abundante em Portugal, sobretudo na época fria. Vive em florestas húmidas, parques, jardins com arbustos e perto de água. São em geral residentes. Tem um canto muito melodioso, variado e melancólico. Alimentação

Insectos Aranhas Minhocas Caracóis Bagas Frutos moles Nidificação

Buracos no solo Taludes Muros Raízes de árvores velhas Casas abandonadas

14 cm

Pode viver 10 anos


O 8933 n達o me queria ali.


Um areal privado.


Por aqui também há hora de ponta.


Gaivota-de-asa-escura Ave parcialmente migradoura que passa o Inverno no sul da Europa. Em Portugal é muito abundante nos estuários dos rios, orla costeira, pisciculturas, salinas, lagoas, cursos de água, barragens, açudes, estações de tratamento, terrenos alagados, lixeiras e zonas urbanas. Vive até 30 anos 135 cm Alimentação

Peixe Crustácios Invertebrados aquáticos Crias e ovos de aves Material vegetal Roedores Desperdícios Nidificação

Junto à costa Ilhas Dunas Terrenos planos Margens de lagos Zonas pantanosas Falésias rochosas


Ninhos longe do perigo.


Cenรกrios imponentes, em terra...


...e no mar.


Cabelos ao vento.


200 cm

115 cm Vive até 33 anos

Cegonha Branca

Em 1994 (último censo), a população portuguesa foi estimada em 3490 casais a maior parte dos quais localizados na metade sul do país. Procuram os alimentos em terrenos abertos ou em zonas de água pouco profunda, caminhando ou correndo com o bico apontado para o chão. Alimentação

Insectos Vermes Mamíferos Peixes Repteis Anfíbios

Reprodução

Árvores Falésias Telhados Chaminés Postes eléctricos



Penthouses únicas no mundo. Cabo Sardão.


Casal monog창mico.


Depois da pesca as asas secam ao sol.


150 cm

90 cm

Vive 18 anos

Corvo-marinho-de-faces-brancas Ave aquática, de médio-grande porte, de plumagem quase totalmente negra.
Nadador exímio mergulha para acapturar o peixe. Em Portugal é visto,
sobretudo de Setembro a Abril, em zonas costeiras ou em locais húmidos.
É geralmente solitário.

Alimentação

Peixe Anfíbios Crustáceos Moluscos Nidificação

Em colónias Árvores perto de água Penhascos Solo


Almograve. E se Renoir ou Monet tivessem passado por aqui?


Cabo Sard達o.


Mais a sul.


Pequena enseada.


Vagas sucessivas.


Pesca agitada.


Flora variada.


...e tudo o vento levou.


Hรก mouro na costa?


42 km

17 m

O Farol do Cabo Sardão, localizado na Ponta do Cavaleiro, foi inaugurado em 1915, electrificado em 1950 e automatizado em 1984. E no dia 7 de Março de 1915 era emitido o aviso aos navegantes, que anunciava a entrada do farol em funcionamento. Dizia assim:

68 m

“Estabelecimento e funcionamento da luz do farol do Cabo Sardão. A partir de 15 d’Abril do corrente, começará a funccionar a luz do farol, situado na ponta do Cavaleiro ou Cabo Sardão. O aparelho iluminante, que é de 3ª ordem, môdelo grande, está montado sobre uma tôrre quadrada, de cantaria e azulejo branco, com 8,90 m d’altura, a qual fica situada a meio das habitações dos faroleiros. A luz é branca, de grupos de três clarões de 15 em 15 segundos, com um alcance luminoso de 29 milhas, n’um estado de transparência média da atmosfera e iluminando todo o horizonte marítimo(...)” Cruzado com as luzes do Cabo de São Vicente e de Sines, ficava assim muito bem illuminada esta parte da costa portuguesa.



Fatias salgadas...


...e salada de cores.


Chor천es nacionalistas.


Cravo-das-areias despidos.


Almograve.


Porto C么vo.


Indica o caminho da praia.


Fim de dia no Malh達o.


Lรก mais a norte, Sines.


AmanhĂŁ ĂŠ mais um dia de Novembro.


Um mineral com sonhos caninos, entre o Malh達o e os Aivados.


No vai e vem das marĂŠs, descobrem-se...


...tesouros naturais. Agora, entre os Aivados e o Malh達o.



Bem bronzeado, leva sovas de mar e sol desde 1996.


Ia a caminho de Portim達o, mas num dia de Dezembro ficou por aqui, na Pedra do Patacho.


Portinho do Canal, bem cedo, poucos minutos a norte da vila.


Hรก peixinho para o almoรงo.


Daqui n達o saio...


...daqui ninguĂŠm me tira.


Na seguranรงa do porto.


“...Quem anda ao mar Não tem dia, não tem hora Nunca sabe quando chega Nem quando se vai embora...” Quem anda ao mar - do Álbum Entre Luas Quadrilha


Fototografia de anónimo.

Tristes sinais dos tempos, num monte da região. Orgulhosamente de pé e cheio de vida nos anos 40 do século XX... ...e 70 anos depois, teimosamente de pé e cheio de mato. Há muito que está em marcha a desertificação do “interior”.


E, no entanto, hĂĄ muito boas razĂľes para se ficar por aqui, doces e salgadas.


Bagnet de tomate


E para concluir o passeio com um travo salgado, nada melhor que uma sugestão gastronómica, importada é certo, mas que não podia casar melhor com esta região. É uma receita provençal - Bagnet - de cor e sabor mediterrânicos, à base de tomate e em que todos os ingredientes se encontram aqui com facilidade. Óptima para acompanhar grelhadas de carne (qualquer uma), batadas cozidas, ou servida com fatias de pão, acabadas de tostar. Mas, se combinar este molho com o melhor pão do mundo (pelos menos do mundo que conheço), o da Venda Fria, nas Brunheiras, então o resultado é absolutamente delicioso. Segue receita para um frasco grande:

Escalda-se o tomate, pela-se, tiram-se as sementes e colocam-se numa taça. Pica-se muito bem o manjericão a salsa, o alho e junta-se ao tomate já preparado. Acrescenta-se mostarda, o vinagre, o sal e a pimenta. Mistura-se tudo muito bem com um garfo e de seguida verte-se o azeite em fio, mexendo lentamente. Rectifica-se os temperos e coloca-se num frasco que vede bem (como na imagem) e vai ao frigorífico (aguenta 48h). Serve-se sempre frio.

Et voilá, são apenas 25 minutos na cozinha, para depois, com todo o tempo do mundo e pela tardinha, gozar e partilhar esta especialidade em boa companhia, debaixo de uma preguiçosa e fresca sombra alentejana. Bom apetite.


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FotografiasCarlosJarnac20052013 DesignCarlosJarnacOutubro2013 carlos.jarnac@gmail.com


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