Planejamento estratégico nas micro e pequenas empresas: análise crítica de modelos existentes e proposta de integração INTRODUÇÃO No Brasil, existem cerca de 10,7 milhões de MPEs. Esse número corresponde a mais de 98,2% do total de empresas e a mais da metade dos empregos formais no país (SEBRAE, 2016). Esse cenário mostra a abrangência e reforça a importância das MPEs no contexto brasileiro. Existe toda uma discussão sobre os fatores que contribuem para o sucesso e sobrevivência das MPEs. Um desses fatores é a adoção de práticas gerenciais diversas, incluindo o Planejamento Estratégico (PE), definido como um processo de determinar a missão, os objetivos principais, as estratégias e as políticas que governam a aquisição e a distribuição de recursos (PEARCE et al. 1987). Entre outros, os estudos de Johan Bergström et al. (2013) e Gibcus e Kemp (2003), mostram uma relação positiva entre PE e performance para pequenas e médias empresas. Analisando a literatura de PE, se torna evidente que também há uma clivagem sobre concepções gerais de um plano. Foram encontrados dois principais modelos para o PE: a abordagem tradicional e o business model framework. A abordagem tradicional preconiza que, a partir de análises externas e internas, se torna possível identificar pontos fortes e fracos assim como oportunidades e ameaças e, dessa forma elencar fatores chave de sucesso e vantagens competitivas que podem ser sustentáveis. Assim é gerado o lucro econômico acima da média do mercado (SEZNICK, 1957; ANSOFF, 1965). Já o Business Model Framework (BMF) resultou de uma derivação do Business Model Generation (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2010) e foi apresentada por Tom Hulme, em 2011 em uma palestra para investidores. Sob o argumento de que o ambiente está cada vez mais dinâmico e em constante mudança, o modelo de Hulme se apresenta em um único framework e se baseia em diversos blocos conceituais, nomeadamente: a proposição de valor, o segmento de clientes, os canais, o modelo de precificação, a estratégia competitiva, a estratégia de crescimento, os recursos, os parceiros e os custos. As duas abordagens diferem nas suas formas de adoção, análise e implementação. A abordagem tradicional tende a adotar um padrão mais analítico e sequencial, ou seja, costuma adotar ferramentas analíticas para cada uma das proposições que serão consolidadas e refletidas nos objetivos estratégicos. O BMF, por sua vez, tende a seguir uma análise mais sistêmica e flexível, ou seja, um modelo que intrinsecamente adota uma filosofia de reinvenção. Dadas essas diferenças, torna-se importante discutir como as MPEs entendem poder se valer desses modelos alternativos e como eles têm sido usados. Nesse contexto, o objetivo do artigo consiste em entender como são percebidos e usados os principais modelos de planejamento estratégico encontrados na literatura de MPEs. De forma emergente, com base nos resultados dos dados recolhidos junto de MPEs e de consultorias estratégicas que atendem MPEs, também é sugerida uma proposta de aplicação integrada dos dois modelos de acordo com diferentes demandas do empreendedor. Para isso, foi aplicada uma metodologia qualitativa de caráter indutivo, se utilizando de entrevistas em profundidade para identificação de padrões e real aderência dos frameworks ao seu dia a dia. PROBLEMA DE PESQUISA E OBJETIVO A importância das micro, pequenas e médias empresas no cenário econômico brasileiro, segundo Filho e Nunes (2010), pode ser reconhecida em diversas perspectivas, sobretudo na capacidade de geração de emprego e renda. Segundo dados do Sebrae (2016), as MPEs correspondem a 41% da massa de remuneração paga aos empregados formais nas empresas privadas. Apesar de vital para a economia de qualquer país, a literatura existente em estratégia 1