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Vivemos uma pandemia. Mudamos os hĂĄbitos de higiene, as relaçþes sociais, a forma de trabalhar e de estudar. Mudamos, tambĂŠm, a percepção sobre os espaços: nossa casa nunca antes nos pareceu tĂŁo pequena - ou tĂŁo grande, tĂŁo sem graça, monĂłtona. Percebemos defeitos antes nunca vistos por nĂłs. Seja no mundo fĂsico, seja no mundo espiritual. Dessa forma, temos buscado amenizar o choque de realidade com a arte: estamos consumindo mais filmes, mĂşsicas, livros e artes plĂĄsticas em 2020. Temos fĂĄcil acesso Ă arte graças a sua democratização, que fez a cultura se diversificar, abranger mais identidades e conquistar mais espaço no cotidiano. Antes, a arte era consumida apenas pelas pessoas que tinham acesso a museus, exposiçþes e galerias, agora ela vai atĂŠ onde o pĂşblico estĂĄ: os grafites nos muros da cidade, os mĂşsicos nas esquinas das ruas, os poetas nas praças, as sĂĄtiras nos jornais. A arte se difundiu em todas as classes sociais, popularizou-se - ou melhor, a arte popular ganhou voz. Hoje, a arte estĂĄ no MASP, mas tambĂŠm estĂĄ na casa
mulher baiana que produz filtros de barro para ganhar sua renda.
Assim, com a expansão do consumo e do acesso à arte, muitas pessoas se profissionalizaram nesse ramo. No Brasil, segundo dados do IBGE 2017, são mais de 10 milhþes de pessoas que trabalham com artesanato, movimentando R$50 bilhþes na economia brasileira por ano. Em 1978, pela Lei nº 6.533/78, a profissão do artista foi regulamentada. Desde então, a oferta e a demanda da arte só vêm aumetando. E ela não estå presente apenas no meio profissional, mas no educacional. No Instituto Ybi, em São Paulo, por exemplo, foi realizado o Projeto Pitombeira, que viabilizou o acesso à ågua e resgatou a dignidade por meio de uma nova perspectiva profissional das tÊcnicas de lapidação de pedras naturais. Hå, tambÊm, exemplos de ressoacialização de detentos a partir da arte-educação, como Ê o caso de Valdir Amaral da Cruz, 48 anos, da Penitenciåria de Bauru, que ministra curso para duas turmas de 20 detentos cada. Um de seus alunos disse: "Fiquei em regime fechado por cinco anos e a
minha mente tambĂŠm estava fechada. Este curso serviu para abrir a cabeça e ver outras possibilidades alĂŠm do crime". A arte no trabalho e na educação tem, portanto, um enorme potencial transformador social. É de extrema importância que os seres humanos tenham contato com a produção artĂstica desde pequenos, para terem consciĂŞncia de que tudo pode ser feito com as prĂłprias mĂŁos.
No Brasil, segundo o IPHAN 2018, temos 47 bens imateriais registrados originados das 5 regiĂľes do paĂs. Dentre eles hĂĄ desde o “Teatro de Bonecos Popular do Nordesteâ€? atĂŠ o “Modo de Fazer Cuias do Baixo Amazonasâ€?. Em qualquer cidade brasileira ĂŠ possĂvel encontrar tĂŠcnicas populares de produção artĂstica autĂŞnticas, que compĂľem a cultura do paĂs, que sĂŁo ensinadas de geração a geração, seja em uma conversa despretenciosa entre vizinhas, seja com o pai ensinando o filho a ter um ganha pĂŁo. Outra questĂŁo importante ĂŠ nossa capital: tombada PatrimĂ´nio Mundial, BrasĂlia carrega o simbolismo e a responsabilidade de ser o maior patrimĂ´nio tombado da humanidade, com seus 112,25 km². No entanto, nunca teve uma polĂtica pĂşblica de manutenção e conservação. Vemos, hoje, os Setores da cidade mal cuidados, deteriorados e, muitas vezes, com uma polĂtica de uso de solo ultrapassada. SerĂĄ que realmente estamos aproveitando o potencial cultural de nossa capital?
Segundo o Censo Pop Rua, realizado em 2008, o Brasil tem cerca de 31.922 adultos em situação de rua. 82% sĂŁo homens e 53% tĂŞm entre 25 e 44 anos de idade. 67% das pessoas se declaram pardas ou negras e 52% possuem algum parente que mora na mesma cidade em que estĂŁo vivendo. Os principais motivos para viver na rua sĂŁo problemas com ĂĄlcool/drogas (36%); desemprego (30%) e desavenças com a famĂlia (29%). Desses 31.922 adultos, 71% trabalham com alguma atividade remunerada, como coleta de materiais reciclĂĄveis, flanelinha, construção civil e limpeza, apesar de apenas 2% terem carteira assinada. 25% desses 31.922 nĂŁo possuem documento de identificação, o que dificulta a obtenção de emprego formal e acesso a serviços/programas governamentais. PorĂŠm, 74% sabem ler e escrever. Dessa forma, o problema da população em situação de rua nĂŁo estĂĄ em si mesma, nĂŁo ĂŠ por falta de vontade dela. Grande parte tem capacidade para ser empregada e mudar de vida. O problema estĂĄ nas polĂticas pĂşblicas e na falta de oportunidade a essa população. Cada um desses 31.922 adultos entrevistados para o Censo Pop Rua 2008 carrega consigo uma bagagem de conhecimento tĂŠcnico e cultural ignorada pelo Estado, que criou programas sociais insuficientes para o atual cenĂĄrio das ruas brasileiras.
É nesse contexto que o projeto CASA foi elaborado: um Centro de Apoio Social e ArtĂstico no Setor Comercial Sul, em BrasĂlia, Brasil.
Para entender melhor a demanda, a pesquisa do objeto de estudo iniciou-se com a anĂĄlise dos Centros Pop. Devido Ă pandemia da COVID-19, nĂŁo foi possĂvel realizar uma visita tĂŠcnica ao local. Usou-se como embasamento teĂłrico para este tĂłpico o artigo “A influĂŞncia dos espaços pĂşblicos no comportamento das mulheres em situação de rua do Plano Piloto de BrasĂliaâ€?, de Rayssa Vidal, de 2019.
Consiste de um Centro de incentivo cultural com o intuito de lecionar e profissionalizar a população em situação de rua local, proporcionando eventos, exposiçþes, oficinas, concertos, apresentaçþes e aulas para o pĂşblico. O projeto serĂĄ uma reconversĂŁo do EdifĂcio Dona Angela para novos usos, na Quadra 03 do Setor Comercial Sul (SCS) - atualmente em desuso, abrangendo, tambĂŠm, a Praça do Povo, localizada ao lado do EdifĂcio. O programa do Centro tem como objetivo divulgar nomes artĂsticos para toda a cidade, criando atividades diurnas e noturnas para ocupar o Setor de forma a garantir o direito Ă cidade e Ă cultura tanto para os visitantes quanto para os prĂłprios comerciantes e moradores do local, alĂŠm de dar apoio para atender Ă s necessidades bĂĄsicas destes, como arrecadação de doaçþes, higiene bĂĄsica e restaurante popular.
Centro Pop ĂŠ uma instituição que oferece rotina diĂĄria de cafĂŠ da manhĂŁ e almoço, banhos, auxĂlio com documentação, assistĂŞncia social, entre outros, nĂŁo sendo um alojamento. No Plano Piloto de BrasĂlia, estĂĄ a sede do Centro no Sgas 903 Sul, prĂłxima ao Setor Comercial Sul, a qual auxilia cerca de 250 pessoas em situação de rua por dia. Apesar disso, os Centros Pop nĂŁo conseguem suportar a demanda das pessoas que utilizam seus serviços. E nĂŁo ĂŠ com a criação de mais Centros como esse que a demanda serĂĄ atendida. É preciso repensar as assistĂŞncias sociais, os alojamentos, ĂŠ preciso que o governo realmente se preocupe em saber as caracterĂsticas
da população de rua para criar programas mais eficazes. Cabe Ă sociedade compreender que as pessoas nĂŁo estĂŁo na rua porque querem. E, apesar de uma cama temporĂĄria e uma refeição diĂĄria fazerem total diferença na vida dessas pessoas, ĂŠ preciso pensar a longo prazo, dar-lhes oportunidade nĂŁo apenas para sobreviverem a mais um dia, mas para saĂrem da rua de vez.
 É com essa motivação que o projeto CASA tem como ponto de partida o “fazer com as mĂŁosâ€?: o caminho para proporcionar Ă s pessoas em siutação de rua do SCS uma oportunidade de profissionalização e conhecimento pessoal, ao mesmo tempo que estimula as atividades culturais de BrasĂlia. Segundo Moreto (2012), entende-se por “fazer com as mĂŁosâ€? as atividades que despertam a produção individual, a subjetividade, a arte para alĂŠm do belo, que ĂŠ de grande valia para as pessoas que se encontram em situação de rua. Isto porque a produção artesanal de pinturas, quadros, esculturas, mosaicos, filmes, mĂşsicas, peças de teatro pode ser exposta para alĂŠm das paredes do Centro Pop, permitindo a visibilidade da pessoa em situação de rua em outra linguagem, em outro aspecto, de novas perspectivas, de um ângulo crĂtico, subjetivo, poĂŠtico. A perspectiva da arte permite ao usuĂĄrio mostrar Ă sociedade e a si mesmo como ele gostaria de ser visto, escutado, assistido. É importante a valorização das produçþes artĂsticas da população
de rua nos Centros Pop e em outros espaços culturais do DF. É essa abordagem de grande valor para a autoestima, para o acreditar em si mesmo e para refletir sobre suas habilidades e escolhas.
A cultura oferece maneiras instigantes de relacionar o cidadão com sua comunidade, o que pode ser especialmente importante para a juventude em risco e as vizinhanças em que o crime e a pobreza são endêmicos, pois desperta um interesse por sua cidade, seu bairro e por si mesmos. A presença da cultura pode afastar a violência, porque cria uma sensação de pertencimento ao local, e as pessoas se sentem responsåveis por cuidar do espaço. Em 2015, antes de o Setor Comercial Sul virar palco
para eventos noturnos, foram registrados 8 assassinatos na regiĂŁo de janeiro a junho. Em 2016, apĂłs os eventos se inciarem, no mesmo perĂodo nĂŁo foi registrado nenhum homicĂdio nem estrupo. Ainda em 2016, as ocorrĂŞncias por trĂĄfico de drogas diminuĂram 42,3% comparados os dois anos. Esses nĂşmeros sĂŁo frutos, alĂŠm da revitalização do SCS, das atividades culturais que ali ocorrem. Segundo Klaumann, 2016, deve-se promover acessibilidade Ă população em situação de rua a toda manifestação cultural, assim como propiciar a participar dela e a aprender prĂĄticas artĂsticas. Deve-se, tambĂŠm, apoiar outras iniciativas com cunho cultural, viabilizando a possibilidade de renda Ă população em situação de rua; apoiar açþes que possam dialogar e conscientizar a comunidade sobre essa população, divulgando seus trabalhos culturais.
A cultura deve ser eixo fundamental para a busca de soluçþes criativas para a vida comum na cidade. O futuro da arte nĂŁo ĂŠ artĂstico, mas urbano. Isso porque o futuro do “homemâ€? nĂŁo se descobre nem no cosmo, nem no povo, nem na produção, mas na sociedade urbana (LEFEBVRE, 1968).
Â? Â? Entende-se por economia criativa o conjunto de negĂłcios baseados no capital intelectual e cultural e na criatividade que gera valor econĂ´mico. A indĂşstria criativa estimula a geração de renda, cria empregos e produz receitas de exportação, alĂŠm de promover a diversidade cultural e o desenvolvimento humano. Concretamente, a ĂĄrea criativa gerou uma riqueza de R$155,6 bilhĂľes para a economia brasileira em 2015, segundo o “Mapeamento da IndĂşstria Criativa no Brasilâ€?, publicado pela Firjan em dezembro de 2016. A participação do PIB Criativo estimado no PIB brasileiro foi de 2,64% em 2015, quando a IndĂşstria Criativa era composta por 851,2 mil profissionais formais.
Portanto, a cultura tambĂŠm ĂŠ lucrativa do ponto de vista financeiro. Ela pode ser um excelente salva-vidas. As atividades culturais tĂŞm enorme potencial para fazer frente a muitos desafios sociais que acometem as cidades. Cidades de todas as partes estĂŁo preocupadas em criar um propĂłsito comum quando laços tradicionais de etnia, lĂngua, e religiĂŁo jĂĄ nĂŁo sĂŁo conexĂľes determinantes. Para alĂŠm de como construir cidades, ĂŠ superior saber como desenvolver os cidadĂŁos. Um plano de cultura ĂŠ uma maneira menos arriscada de fazer o coração de sua cidade pulsar. Os benefĂcios podem ser numerosos, incluindo um fortalecimento econĂ´mico e uma nova maneira de lidar com problemas sociais e econĂ´micos em comunidades marginalizadas. Como acontece nos esportes, o treinamento cultural nĂŁo cria apenas habilidades, mas uma atitude disciplinada na construção de habilidades. Em alguns casos, ele realmente abre caminho para carreiras em potencial. O conhecimento adquirido pelas artes pode dar a uma pessoa a confiança e a experiĂŞncia que os empregadores procuram.
O projeto CASA tem como objetivo abranger todo e qualquer tipo de manifestação artĂstica tanto da população em situação de rua quanto de pessoas externas ao SCS, oferecendo o espaço e as ferramentas necessĂĄrias para a produção e educação artĂstica, enaltecendo a diversidade cultural da cidade natal de todos. A exposição a um universo de arte nĂŁo restrito pode libertar do condicionamento estĂŠtico imposto pelo mercado atravĂŠs da mĂdia, que determina um sĂł padrĂŁo para todos, independentemente das especificidades individuais ou de grupos. A cultura expressa o percurso do homem, da sua luta. Por isso ĂŠ fundamental aproximar a população em situação de rua da sua cultura de origem, articulando-a a sua histĂłria e Ă comunidade em que vive o artista.
Â? Â? O Setor Comercial Sul ĂŠ um organismo vivo. Um ecossistema inteiro observa-se ali, cuja função ĂŠ de extrema importância para BrasĂlia. Apesar disso, o Setor estĂĄ em um atual estado de degradação - tanto relacionado Ă condição arquitetĂ´nica
de suas edificaçþes quanto da insfraestrutura urbana local, o que exige atenção e intervenção. Em outras palavras, na escala urbana, o SCS precisa de uma revitalização, que ĂŠ entendida, segundo o grupo de pesquisa Reabilita, da PĂłs Graduação da FAU-Unb, como a intervenção em um espaço urbano considerado social, cultural e, sobretudo, economicamente morto - apenas 24% das construçþes do SCS sĂŁo ocupadas, segundo os indicativos de vacância imobiliĂĄria de 2017. Pretende-se, portanto, resgatar o direito do espaço urbano Ă inserção na cidade a que pertence. Revitalização constitui uma prĂĄtica preservacionista em que ao valor cultural do patrimĂ´nio urbano vem-se somar um outro valor: o econĂ´mico. É aqui que a atividade turĂstica desempenha papel fundamental. Afinal, ĂŠ o turista, na realidade, quem agrega o valor econĂ´mico ao bem patrimonial - entendendo, aqui, como turista qualquer pessoa que venha a visitar e a utilizar os serviços e atividades oferecidos pelo Setor. No entanto, o processo de revitalização estĂĄ associado ao processo de gentrificação: as
melhorias do espaço urbano provocam uma valorização imobiliĂĄria, que acarreta um aumento de aluguĂŠis, que termina por expulsar antigos moradores e comerciantes locais. Por isso, o projeto CASA tem consciĂŞncia de seu potencial gentrificante e adota como partido um projeto pensado e destinado sobretudo para e pela população em situação de rua local. Em seu programa, ela que realizarĂĄ as funçþes desempenhadas pelo edifĂcio - tais como administração, recepção e coordenação. Assim, alĂŠm dos ateliĂŞs de produção, das salas de aula, dos eventos e das exposiçþes, o edifĂcio como um todo serĂĄ espaço para capacitar a população. É aqui que entra o conceito de autossuficiĂŞncia: o Centro de Apoio Social e ArtĂstico nĂŁo ĂŠ um alojamento, nĂŁo ĂŠ um Centro Pop, nĂŁo ĂŠ uma escola de arte. O CASA ĂŠ um projeto complementar a eles. É um ciclo constante de hierarquia em que os prĂłprios usuĂĄrios do espaço ensinarĂŁo os futuros inscritos no programa a crescer tanto socialmente quanto profissionalmente, ajudando-se uns aos outros, com constantes trocas de experiĂŞncias.
 Entende-se por manifesto uma declaração formal que transmite intençþes, opiniĂľes, decisĂľes ou ideias polĂticas particulares a uma pessoa ou a um grupo de pessoas. Dessa forma, a arquitetura manifesto ĂŠ aquela arquitetura que declara uma intenção. O projeto CASA tem a intenção de falar por si sĂł. Em meio aos blocos de edificĂos do Setor Comercial Sul, o CASA contrapĂľem-se Ă arquitetura rĂgida da capital. A experiĂŞncia artĂtica inica-se nĂŁo apenas quando o indivĂduo adentra o edifĂcio, mas sim quando, em seu campo de visĂŁo, jĂĄ ĂŠ possĂvel localizar-se na Praça do Povo. A Praça e a construção dialogam entre si em um manifesto a favor da arte contemporânea, da arte acessĂvel, polĂtica e social. Para tanto, o EdifĂcio Dona Angela passarĂĄ por um processo de reconversĂŁo, que ĂŠ entendido como uma atualização do uso da edificação em busca de um melhor desempenho desta - atualizando a acĂşstica, a estrutura, os espaços, entre outros para resgatar o valor de uso da obra.
A análise do terreno escolhido para o objeto de estudo iniciou-se com a leitura do Relatório do Plano Piloto de Lúcio Costa. Nele, o urbanista menciona Brasília como a “cidade planejada (...) capaz de tornar-se, com o tempo, além de centro de governo e administração, num foco de cultura dos mais lúcidos e sensíveis do país”. Os Setores Comerciais Sul e Norte, juntamente com o Setor Bancário, localizam-se na intersecção entre dois grandes eixos que compõem a cidade e cujo acesso se dá por todos os lados, por transporte público, a pé, de bicicleta ou em automóvel. É no que se costuma denominar de “coração” da cidade, de marco zero que se encontra o local do projeto CASA. Apesar de Brasília ser uma cidade planejada em setores, hoje em dia a função de cada um deles já não está mais tão bem definida e caracterizada. O Setor Cultural já não comporta mais as principais atividades culturais da cidade, além de o próprio Teatro Nacional estar interditado há meses.
Vista aérea do Plano Piloto de Brasília. Fonte: Google Earth, 2020.
Portanto, até que ponto é favorável à população enrigecer a função dos setores de uma cidade? Gehl (2010), argumenta a debilidade do Plano Piloto na escala humana, em que a interação entre o usuário e o meio físico é afetado pelo planejamento rígido, o que desconsidera as experiências propostas pelos espaços com tipologias orgânicas. Apesar de a população em situação de rua existir em todas as Regiões Administrativas de Brasília, é no Plano Piloto que ela mais se encontra, devido à maior concentração de riqueza, de serviços e de oportunidades disponíveis, a qual a população está sempre em busca para sua sobrevivência. Porém, o Plano Piloto não supre as necessidades da diversidade social, caracterizando a cidade como excludente, separatista e elitista, focando nas ambições apenas de uma parcela da sociedade. É com essa perspectiva que o projeto CASA tem como intuito gerar novas atividades na capital, reformulando a função do uso do solo do SCS - que não vive apenas
de comércio - e atualizando o espaço urbano à real demanda da população. Com tal objetivo, é necessário, segundo Rossetti (2013), saber diferenciar as intervenções no Patrimônio entre “agressão”, “infração” e “irregularidade” das regras e das normas próprias da área tombada. Quando se fala em intervenção no Plano Piloto, há muitos que a rejeitam, devido à possível perda do valor histórico do bem. Porém, como disse Mário de Andrade, toda cidade é histórica e está em constante transformação, acumulando cada vez mais cultura para suas gerações futuras. Brasília não deve ser uma exceção: uma cidade incialmente planejada para 500 mil habitantes hoje com 2,481mi, considerando o entorno - precisa, pelo menos, de uma mínima atualização em sua configuração espacial e em suas normas de construção civil. A cidade precisa seguir vivendo o seu cotidiano urbano, a despeito do monumental e do midiático. Como disse Lúcio Costa, 1991: para enfrentar os inúmeros problemas do dia a dias das questões de preservação, é preciso ter
Vista aérea do Setor Comercial Sul. Fonte: Google Earth, 2020.
disposição, firmeza e flexibilidade. Se, por um lado, faltam calçadas que representam o grau mĂnimo de civilidade urbana, por outro lado BrasĂlia continuamente demandarĂĄ novas arquiteturas que possam complementar suas funçþes de cidade-capital. O projeto CASA tem como objetivo resgatar um espaço vazio de BrasĂlia e articulĂĄ-lo aos hĂĄbitos de usar e de circular pelo espaço da cidade. AlĂŠm disso, ĂŠ de entendimento consolidado que a utilização de um bem desativado - como o EdifĂcio Dona Angela - ĂŠ uma maneira de assegurar sua preservação. Entre um edifĂcio coorporativo e o Centro de Apoio Social e ArtĂstico aqui proposto, certamente a população interna e externa ao Setor Comercial Sul teria mais cuidado e identificação por este Ăşltimo.
É o Setor que pertence Ă Escala GregĂĄria pensada por LĂşcio Costa, fazendo parte de um conjunto de outras trĂŞs Escalas (Residencial, Monumental e BucĂłlica). Segundo LĂşcio, a GregĂĄria ĂŠ onde as dimensĂľes e o espaço sĂŁo deliberadamente reduzidos e concentrados a fim de criar clima propĂcio ao agrupamento. Apesar de a configuração incialmente pensada por LĂşcio Costa nĂŁo permanecer mais a mesma, o Setor Comercial Sul tornou-se o maior polo de eventos culturais pĂşblicos de BrasĂlia, fazendo jus a sua função de ser um espaço para agrupamento. A ĂĄrea do Setor abrange desde o final do Parque da Cidade atĂŠ o inĂcio do Eixo RodoviĂĄrio Oeste, sentido sul. É composto por 7 quadras, cada qual com hierarquias e normas construtivas diferentes, como, por exemplo, o gabarito de suas edificaçþes. Para conhecer melhor o SCS, foi realizado, antes do inĂcio da pandemia, um passeio turĂstico guiado oferecido
pelo No Setor - um instituto que tem como objetivo a transformação do centro de BrasĂlia por meio da ocupação e da ressignificação do espaço pĂşblico, que inaugurou sua atuação com o projeto Setor Carnavalesco Sul, o primeiro carnaval integrado Ă comunidade que mora ou frequenta o SCS. No passeio turĂstico foi possĂvel perceber a importância arquitetĂ´nica que o Setor tem para BrasĂlia: o local abriga edifĂcios projetados por grandes nomes, como os EdifĂcios Morro Vermelho e Camargo CorrĂŞa, de JoĂŁo Filgueiras Lima, e o EdifĂcio Denasa, de Oscar Niemeyer com um painel decorativo de Athos BulcĂŁo. Ademais, foi possĂvel perceber como a arte e a cultura estĂŁo presentes literalmente em todas as paredes do SCS: existe um enorme museu aberto de grafites ali dentro, principalmente em uma ĂĄrea denomidada Buraco do Rato, que jĂĄ foi palco de um projeto entre o GDF e artistas. O projeto inicial do Setor Comercial Sul comportava um grande corredor central que penetrava o meio de toda a ĂĄrea, criando um caminho direto da W3 sul atĂŠ a estação de metrĂ´ da Galeria dos Estados. Esse corredor central foi construĂdo apenas em 2015, e sua construção mudou por completo os fluxos que antes ali existiam. Espaços como a Praça do Povo, que antes fazia parte do dia a dia dos pedestres, sendo atĂŠ mesmo palco para diversas manifestaçþes sindicais, estĂŁo completamente abandonados e vazios. O Setor Comercial Sul, para muitos, deixou de ser um local de permanĂŞncia e se transformou em um local de passagem. O projeto CASA destina-se ainda a resgatar os sentimentos de pertencimento e de permanĂŞncia do SCS, reconhecendo seu potencial cultural, arquitetĂ´nico, urbano e econĂ´mico no coração de BrasĂlia.
Mapa do Setor Comercial Sul. Fonte: prĂłpria.
Pelo Setor Comercial Sul passam cerca de 150 mil pessoas diariamente. Segundo o jornal Metrópoles, em 2019, o GDF autorizou projetos de revitalização para o Setor Comercial Sul com um custo total de R$4,2mi. Entre os projetos a serem realizados ao longo dos próximos anos está a melhoria na acessibilidade construção de novas rampas, calçadas e iluminção pública; há a intenção de criar uma rua 24h no Setor com quiosques para atender a população e turistas; há, também, a intenção de atrair para a região bares e restaurantes. Além disso, a SEDUH (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação) já concluiu e encaminhou para licitação, em 2019, um novo projeto para a Praça do Povo, objeto de estudo deste trabalho, cujo custo total será de R$1,70mi. O Governo também está planejando destinar de 20% a 25% dos imóveis do
Setor Comercial Sul à habitação social. “Principalmente, porque a região é extremamente subutilizada em fins de semana. Mas é preciso priorizar a vocação original do lugar, que é comercial. Isso significa que não podemos autorizar destinações inteiras de edifícios para moradia”, frisou o presidente do CAU/DF, arquiteto Daniel Magabeira. Todos esses projetos visam à melhoria da infraestrutura urbana e arquitetônica do Setor Comecial Sul. Porém, é necessário que o GDF realize essas obras de intervenção com bastante diálogo com a população que ali vive e trabalha, pois eles representam as reais identidade e demanda do espaço. Caso contrário, a revitalização será apenas mais uma causa da gentrificação dos pedaços de Brasília pedaços, aqui, entendidos como aquele espaço intermediário entre a casa (o privado) e o público, ou entre a casa e a rua (DA MATTA, 1985).
“Não é porque eu roubei, trafiquei, matei. Respeita a gente, arruma um emprego pra “nós” tentar mudar de vida, mas não, eles discriminam. A gente tira uma cadeira e acham que a gente vai roubar”
“Tenta limpar quem está querendo ser limpo. Segundo, dê uma ocupação a essa pessoa. Ocupar a mente, não importa a área, pra ela não ficar ociosa”
“Agora eu não sou mais um detento, eu sou um cidadão”
“Rapaz, mas o difícil sabe o que é? Um banho e uma roupa limpa, e a almentação”
Falas de pessoas em situação de rua retiradas do documentário Setor Comercial Sul: Relatos da rua, de 2018
“Eu preciso ter confiança nas pessoas, porque as pessoas não confiam em mim”
“Eu tô querendo só um emprego, na verdade, falta pra mim só isso. Pra eu me encaixar na vida e viver socialmente igual todo mundo vive”
Renders do novo projeto de revitalização para a Praça do Povo a ser realizada pelo GDF.
Â? Conforme mencionado, o GDF aprovou um novo projeto de revitalização para a Praça do Povo, localizada no extremo sul da Quadra 03 do Setor Comercial Sul. O projeto a ser executado pelo Governo, como ĂŠ possĂvel ver nas imagens ao lado, foi elaborado de forma completamente arbitrĂĄria, sem diĂĄlogo com a população local, e nĂŁo contempla grandes mudanças para melhorar as condiçþes de infraestrutura para criar um espaço mais prooĂcio para a convivĂŞncia e a permanĂŞncia dentro do Setor. A Praça do Povo foi e ĂŠ um enorme sĂmbolo do urbanismo de BrasĂlia: antes muito utilizada pela população, sendo ponto de encontro atĂŠ mesmo para manifestaçþes, seus valores cultural, histĂłrico e de uso precisam ser levados em conta para uma nova intervenção a ser feita no espaço, diferentemente do que foi projetado pelo GDF. É com o intuito de fazer algo que realmente serĂĄ utilizado pelos pedestres que o projeto CASA engloba a Praça do Povo, mantendo-a como um espaço pĂşblico, mas agregando novos usos, sendo palco para exposiçþes, atividades e eventos impulsionados pelo CASA.
1117m
O projeto CASA, como mencionado anteriormente, estĂĄ localizado no Setor Comercial Sul, no Plano Piloto, em BrasĂlia, Brasil.
GrĂĄfico: MĂn (1110m), MĂŠd (1114m), MĂĄx (1117m) Totais do perĂodo: Distância 250m - Ganho/perda de elevação: 0m/-6,57m - Inclinação MĂĄx -,-4.7% - Inclinação MĂŠd -,-2.9%
1110m
Ele se encontra na Quadra 03, nos lotes 15, 16 e 28, onde atualmente estĂĄ o EdifĂcio Dona Angela, ao lado da Praça do Povo, no extremo sul do SCS.
25m
50m
75m
100m
125m
150m
175m
200m
O local de implantação tem uma topografia pouco acentuada (3%), como pode ser visto na figura ao lado, no perfil de elevação, em que foi feito um corte de 250m no terreno do projeto. AlĂŠm disso, o Setor Comercial Sul estĂĄ localizado ao lado de outros Setores de BrasĂlia, como o Setor MĂŠdico Hospitalar Sul, o Setor de RĂĄdio e TelevisĂŁo Sul e o Setor Hoteleiro Sul, sendo um pĂłlo de encontros, atividades, serviços e transição de diversos pedestres diariamente na cidade.
Mapas do Plano Piloto e do Setor Comercial Sul. Fonte: Google Earth, 2020. Mapa de implantação do projeto CASA e entorno e Perfil de elevação. Fonte: própria.
O projeto se encontra em uma årea bastante arborizada do Setor Comercial Sul devido à presença da Praça do Povo. Apesar disso, a edficação recebe raios solares durante boa parte do dia, sendo necessåria uma maior atenção para evitar a incidência solar direta em suas fachadas. O mesmo ocorre com a Praça, sendo necessårio, para tornå-la um espaço de permanência, algum mecanismo de sombra mais abrangente do que a própria vegetação presente. Os ventos predominantes vêm do leste, proporcionando uma boa ventilação natural ao longo da edifcação, principalemnte devido a sua menor dimensão em comparação com os outros blocos prediais do Setor Comercial Sul.
Mapa de vegetação existente e mapa de condicionantes climåticas. Fonte: própria.
225m
250m
A oeste, encontra-se a Aveinda W3 sul, via arterial bastante movimentada, de deslocamento norte-sul no Plano Piloto, que faz parte da rota de diversos Ă´nibus que circulam por BrasĂlia.
A leste, encontra-se o Eixo W, via de trânsito råpido que atravessa todo o Plano Piloto.
As vias de fluxo secundĂĄrio, S2 e S3, delimitam o SCS ao norte e ao sul, respectivamente, e o separam do SMHS e do SHS. SĂŁo vias largas que funcionam como barreiras visuais e fĂsicas para os pedestres, que precisam contornĂĄ-las e andar pelos bolsĂľes de estacionamento para atravessar os Setores. Dentro do SCS, as vias tambĂŠm sĂŁo barreiras: dividem e permeiam cada Quadra do Setor, enquanto os estacionamentos e carros interrompem o deslocamento direto dos pedestres.
Via arterial Via coletora Linha de metrĂ´ Via local
Mapa do sistema viĂĄrio. Fonte: prĂłpria.
O fluxo de pedestres leste-oeste ĂŠ o maior, devido ao Corredor Central, que atravessa todos os edifĂcios do SCS. É um eixo de deslocamento que une fluxos vindos, principalmente, da Estação Galeria de metrĂ´, da rodoviĂĄria, do Eixo W e da via W3 Sul, servindo de conexĂŁo para o centro da cidade.
Por ser uma mancha urbana com muitos vazios, o Setor tem vĂĄrias possibilidades de deslocamento, porĂŠm com diversos obstĂĄculos: calçadas quebradiças, poucas rampas, taludes, carros estacionados em locais inapropriados, a ponto de que ĂŠ possĂvel afirmar que o SCS ĂŠ um local em que o carro ĂŠ mais priorizado do que o pedestre. Os pontos de Ă´nibus prĂłximos sĂŁo bastante utilizados, criando um fluxo maior de pessoas entre a via W3 Sul e a via S3. O deslocamento do pedestre ĂŠ majoritariamente sombreado, devido aos edifĂcios e Ă arborização do Setor.
Fluxo do pedestre Pontos de ônibus Estação de Metrô Galeria
Mapa de fluxos de pedestres, pontos de Ă´nibus e metrĂ´. Fonte: prĂłpria.
O Setor Comercial Sul estĂĄ bem conectado aos modais quando se compara com outros pontos da cidade. Com uma caminhada de apenas 300m ĂŠ possĂvel chegar ao Eixo W ou Ă W3 Sul. As vias locais internas tiveram seus sentidos alterados recentemente, o que favoreceu a conexĂŁo de carro entre os setores adjacentes, principalmente com o SMHS e as travessias de pedestres em vias locais internas do Setor receberam semĂĄforos.
Vista Oeste ao local de implantação. Fonte: própria.
Vista do local de implantação. Fonte: própria.
Vista do local de implantação. Fonte: própria.
Vista Sul ao local de implantação. Fonte: própria.
Vista Norte ao local de implantação. Fonte: própria.
Vista Leste ao local de implantação. Fonte: própria.
Vista do Corredor Central. Fonte: prĂłpria.
Vista do banheiro pĂşblico. Fonte: prĂłpria.
Vista da horta comunitĂĄria. Fonte: prĂłpria.
A via que separa o SCS do SHS nĂŁo tem nenhum ponto de Ă´nibus, o que contribui para uma maior presença de fachadas cegas dos edifĂcios, menor fluxo de pessoas e maior cruzamento de carros, que compromete a segurança pĂşblica no local. HĂĄ grandes descontinuidades para o pedestre entre o SCS e os demais locais em seu entorno, alĂŠm de o sistema viĂĄrio ser superdimensionado, com enormes bolsĂľes de estacionamento.
Segundo a SEDESTMIDH, em 2019, BrasĂlia contabiliza mais de 3 mil pessoas em situação de rua, porĂŠm o nĂşmero ĂŠ maior (perto de 6 mil), pois a pasta considera sĂł quem jĂĄ passou por algum atendimento nas unidades de suporte do Governo. Elas se concentram no centro da capital, na rodoviĂĄria e nas proximidades do SCS, em busca de sustento. Esse nĂşmero cresceu 20% em um ano. Mais de 70% das pessoas em situação de rua no DF tĂŞm entre 4 e 8 anos de estudo. Crise econĂ´mica e problemas estruturais sĂŁo as principais causas do aumento dessa população. O nĂşmero de abrigos ĂŠ insuficiente para a quantidade de pessoas que estĂŁo na rua: nĂŁo comportam nem 20% da demanda no DF. A contagem oficial do IBGE, que ocorreria
em 2020 foi adiada devido Ă pandemia. Portanto os seguintes dados foram recolhidos de 2005 a 2009:
Único de programas sociais, o que dificulta o acesso a programas de transferência de renda, de habitação etc.
- BrasĂlia ĂŠ a 4ÂŞ capital com mais pessoas em situação de rua; - A maior parte tem entre 25 e 55 anos; - 70,9% da população de rua trabalha, principalmente com a coleta de material reciclĂĄvel.
Em 2011, o Projeto Renovando a Cidadania apontou que no DF 18,9% da pop. em situação de rua nasceram no DF, 17,7% na Bahia, 9,8% em Minas Gerais e 8,9% em Goiås.
Segundo o IBGE, em 2017, o desemprego atingiu 13,2mi de brasileiros e o IPEA, em 2020, constatou que a real população em situação de rua do paĂs chega a 222 mil pessoas, mostrando que menos de 40% estavam no Cadastro
Silva (2006) corrobora que a população em situação de rua, desde meados da dĂŠcada de 1990, compĂľe o que se denomina lumpenproletariado, isto ĂŠ, a “parte da classe trabalhadora que se encontra no pauperismo, ĂŠ apta ao trabalho, mas nĂŁo ĂŠ absorvida pelo mercadoâ€?.
 Â? O principal uso do solo do Setor Comercial Sul ĂŠ o comercial e de serviços, comportando lanchonetes, lojas, bancos e escritĂłrios. HĂĄ tambĂŠm prĂŠdios institucionais - como SEGETH, INFRAERO e MinistĂŠrio do Trabalho e da SaĂşde, prĂŠdios culturais como Museu dos Correios Fundação Cultural Palmares e Centro Cultural Canteiro - e prĂŠdios educacionais - como SENAC, SESC e a Casa da Cultura da AmĂŠrica Latina. O Setor funciona durante o horĂĄrio comercial, mas ĂŠ subutilizado no horĂĄrio noturno. Os edifĂcios de escritĂłrios e clĂnicas ficam abertos atĂŠ as 20h, com alguns chegando atĂŠ as 22h, a unidade do SESC Gastronomia mantĂŠm cursos atĂŠ as 22:30 e a unidade do CAPs (Centro de Atenção Psicossocial) - espaço muito utilizado pela população em situação de rua local - fica aberta atĂŠ as 21h. Outras atividades noturnas sĂŁo residuais e acontecem esporadicamente, sendo festas e eventos pagos. É importante ressaltar que a Lei do SilĂŞncio, que permite ruĂdos sonoros atĂŠ as 22h - nĂŁo se aplica ao Setor, sendo este um grande potencial para comportar atividades noturnas, proporcionando melhorias na segurança, na economia e no bem estar da cidade.
Comercial e serviços Institucional Institucional Hospitalar Turismo Residencial Mapa de uso do solo. Fonte: própria.
Quanto Ă s normas de edificação pertinentes ao projeto CASA, o documento dispĂľe: - Permitir a ocupação de cobertura no mĂĄximo em 40% da ĂĄrea do lote ou projeção; - O coroamento desse acrĂŠscimo nĂŁo pode ultrapassar de 3m a altura ora em vigor; - O acrĂŠscimo destina-se exclusivamente Ă ĂĄrea de lazer, lanchonetes e restaurantes; - É permitido o acesso por elevadores Ă cobertura. O gabarito do SCS se diferencia de uma Quadra para outra, como ĂŠ possĂvel observar no mapa ao lado. O edifĂcio do projeto CASA tem gabarito de 3 a 6 pavimentos.
15-20 pavimentos 11-14 pavimentos 7-10 pavimentos 3-6 pavimentos 1-2 pavimentos Mapa de gabaritos. Fonte: prĂłpria.
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Projeto: Lina Bo Bardi Localização: SĂŁo Paulo, Brasil Ano: 1977/1982 Ă rea: 22.026,02 m² construĂda - Projeto de reabilitação de uma antiga FĂĄbrica de Tambores que se transformou em um Centro Cultural e Esportivo; - O projeto tem um teatro com duas plateias e um palco no centro - interação entre artista e pĂşblico - provocação mĂştua - experiĂŞncia coletiva; - As cadeiras do teatro sĂŁo “desconfortĂĄveisâ€? (duras) para o pĂşblcio ter uma postura digna e altiva ao artista - referĂŞncia da GrĂŠcia, na Roma Antiga, em que o teatro era uma experiĂŞncia coletiva, transformadora e polĂtica; - As passarelas aĂŠreas do projeto sĂŁo de concreto protendido, porĂŠm o restante da estrutura ĂŠ de concreto armado - estrutura original da fĂĄbrica. - Atividades culturais (oficinas, aulas, exposiçþes, exibiçþes) gratuitas ou de baixo custo para aproximar as pessoas das artes sem a necessidade de uma instituição formal de ensino.
Planta baixa geral do tĂŠrreo. Fonte: Archdaily.
Foto de um dos ateliĂŞs de oficina. Fonte: Marco Antonio.
Foto do espaço de leitura. Fonte: Fernando Stankuns.
Planta baixa do teatro. Fonte: Archdaily.
Foto do teatro. Fonte: Fernando Stankuns.
Croqui do teatro de Lina Bo Bardi. Fonte: Sesc Pompeia.
Planta baixa da Nave 17C. Fonte: Archdaily.
Corte longitudinal da Nave 17C. Fonte: Archdaily.
Projeto: Arturo Franco Localização: Madri, Espanha Ano: 2006 Ă rea: 6.000 m² - Projeto de reabilitação de um antigo abatedouro de gado construĂdo em 1907; - Complexo de mais de 20 naves - hoje, cada uma delas foi reabilitada e ĂŠ gerida por instituiçþes diferentes; - A Nave 17C, destinada ao projeto Intermediae, promove a criação da arte contemporânea por meio de um programa de bolsas impulsionado pela Câmara Municipal de Madri; - O projeto ĂŠ uma intervenção no patrimĂ´nio histĂłrico que nĂŁo se reduz apenas ao mĂnimo necessĂĄrio - a estrutura ĂŠ original e aparente e os novos materiais sĂŁo limpos, rĂgidos, retos e translĂşcidos - como a mesa da bilheteria que ĂŠ uma enorme chapa de aço industrial reutilizada; - A Nave comporta uma bilheteria, dois banheiros e dois espaços de exposição com planta baixa livre; - Usou-se cortiça como isolamento tĂŠrmico, tĂŠcnica utilizada no antigo abatedouro.
Foto årea de expoisção. Fonte: Carlos Fernåndez.
Foto acesso banheiro. Fonte: Carlos FernĂĄndez.
Foto estrutura. Fonte: Carlos FernĂĄndez.
Foto bilheteria. Fonte: Carlos FernĂĄndez.
Projeto: Benthem Crouwel Architects Localização: Amsterdam, Holanda Ano: 2012 Ă rea: 26.500 m² - O museu jĂĄ existia em um edifĂcio ao lado, construĂdo em 1895; - O novo edifĂcio ĂŠ uma intervenção de constraposição: nĂŁo tenta imitar o antigo, pelo contrĂĄrio, distoa completamente com o objetivo de diferenciar os dois perĂodos de construção e introduzir um novo contexto histĂłrico e funcional ao museu; - O novo edĂficio ĂŠ um anexo do antigo, ou seja, o fluxo ĂŠ compartilhado; - Dentro do museu, a transição de um edifĂcio para o outro ĂŠ muito sutil; - A nova entrada principal teve o cuidado de nĂŁo “apagarâ€? os vazios da praça em que o projeto ĂŠ inserido - o chĂŁo da praça continua atĂŠ o hall de entrada do museu; - A grande cobertura do novo edifĂcio avança atĂŠ a praça, criando espaços de convivĂŞncia entre ambas;
Planta baixa geral. Fonte: Archdaily.
Fachadas Oeste. Fonte: Archdaily.
Corte transversal. Fonte: Archdaily.
Foto dos dois edifĂcios. Fonte: Jannes Linders.
Foto do espaço embaixo da cobertura. Fonte: Jannes Linders.
Foto do interior com os dois edifĂcios. Fonte: Jannes Linders.
Projeto: JoĂŁo Pires da Fonte Localização: Lisboa, Portugal Ano: 2007/2008 Ă rea: 9.000 m² construĂda - Antiga Companhia de Fiação e Tecidos Lisbonense, de 1846; - Transformou-se em um complexo criativo ocupado por empresas e profissionais das ĂĄreas da moda, publicidade, comunicação, multimĂdia, arte, arquitetura, mĂşsica e gastronomia, entre outros, gerando atividades que atraem visitantes para redescobrirem a zona antes subutilizada; - Os espaços de cirulação possuem plantas livres, utilizados para pontos de encontro, feiras, exposiçþes e shows. JĂĄ os espaços ocupados estĂŁo em uso fixo para cunho cultural e comercial; - A estrutura original permanecce, composta de ferro, pedra e tijolos no estilo industrial; - SĂŁo mais de 200 locais para empresĂĄrios residentes, que empregam cerca de 1000 pessoas e atraem 1 milhĂŁo de visitantes por ano.
Mapa do complexo. Fonte: LX Factory.
Foto da feira na årea de circulação. Fonte: Pinterest.
Foto de uma grĂĄfica. Fonte: LX Factory.
Foto de uma banca de revistas. Fonte: LX Factory.
Foto de um escritĂłrio. Fonte: LX Factory.
Foto de um restaurante Fonte: LX Factory.
 Â? Projeto: Mathews + Associates Architects Localização: PretĂłria, Ă frica do Sul Ano: 2019 Ă rea: 12.989 m² - ConstruĂdo para abrigar, ao lado de uma universidade, a vasta coleção de artefatos de ouro da civilização sul africana Mapungubwe, obras pĂşblicas do paĂs; - AlĂŠm de nove galerias, o projeto tambĂŠm inclui em seu programa um auditĂłrio com 115 lugares, escritĂłrios adminitrativos, armazenamento, conservação de arte e ĂĄreas de quarentena e um restaurante; - Assemelha-se a um cofre de concreto aparente; - A passarela aĂŠrea tem uma proteção de concreto perfurado em formas e padrĂľes de estamparia em tecido da cultura local; - O complexo abrange duas praças: a Praça da Arte e a Praça do Museu. Esta tem acesso pĂşblico e comporta um restaurante e eventos e funçþes pĂşblicas.
Zoneamento. Fonte: Archdaily.
Planta baixa geral do tĂŠrreo. Fonte: Archdaily.
Foto do projeto. Fonte: Jan Hugo.
Planta baixa geral do 1Âş pavimento. Fonte: Archdaily.
Foto do concreto perfurado. Fonte: David Southwood.
Foto do interior das galerias. Fonte: David Southwood.
Â? Â? Â? Â?  Projeto: Ahmed Hossam Saafan Localização: Fustat, Egito Ano: 2019 Ă rea: 81 m² - Iniciativa social em um dos maiores assentamentos informais do Cairo. Por meio de serviços de bufĂŞ e outras formas de produção de alimentos, a iniciativa oferece emprego digno e treinamento vocacional para mulheres imigrantes, refugiadas e egĂpcias; - Um novo volume foi adicionado Ă estrutura orginial, a ampliação foi localizada acima do 1Âş piso e incluiu um estĂşdio de arte, uma ĂĄrea de convivĂŞncia, um escritĂłrio administrativo e um espaço de teatro/oficina; - Por meio da arquitetura, o edifĂcio visa a servir como uma plataforma interativa para crianças, jovens e adultos, ao integrar estratĂŠgias de design conscientes, com o intuito de melhorar a qualidade de vida do local. Internamente, o edifĂcio buscou a criação de um ambiente homogĂŞneo que sugere solidariedade, permitindo que uma plataforma seja fornecida a cada participante, de forma a valorizar e celebrar a diversidade.
Planta baixa dos 4Âş e 5Âş pavimentos. Fonte: Archdaily.
Croqui corte longitudinal. Fonte: Archdaily.
Foto do projeto. Fonte: Ahmed Hossam Saafan.
Foto do teatro/oficina. Fonte: Ahmed Hossam Saafan.
Foto ĂĄrea de convivĂŞncia. Fonte: Ahmed Hossam Saafan.
Foto da cobertura. Fonte: Ahmed Hossam Saafan.
‚ Projeto: Lacaton & Vassal Localização: Lille, França Ano: 2013 Ă rea: 3.791 m² - É um lugar de disseminação cultural que opera tanto a escala urbana como a local. É parte dos 28ha do processo de reestruturação urbana do Setor de Arras; - O projeto delicadamente “deslizaâ€? sob uma cobertura acessĂvel que aloja um jardim pĂşblico. No interior, o volume principal do hall toma a ĂĄrea central, desprendendo-se dos pontos de apoio de carga; - O projeto possui apenas duas fachadas, formando uma forte identidade visual e tornando o edifĂcio parte da permeabilidade de seu entorno.
Configuração festival de 400 assentos. Fonte: Archdaily.
Foto espaço festival. Fonte: Philippe Ruault.
Configuração arquibancada. Fonte: Archdaily.
Foto ĂĄrea de convivĂŞncia. Fonte: Philippe Ruault.
Configuração espetåculo 400 assentos. Fonte: Archdaily.
Foto hall de entrada. Fonte: Philippe Ruault.
‚ ƒ„ Â… † ‡ ˆ ‰ Š Projeto: Lina Bo Bardi, Edson Elito Localização: Bela Vista, Brasil Ano: 1984/1994 - O teatro, que foi fundado em 1958 e possuĂa formato de arena, com duas plateias opostas, sofreu um incĂŞndio, no qual tudo foi perdido; - Em 1984 inica-se, a recuperação desse importante teatro manifesto; - O teatro desenvolve-se por meio de uma faixa de terra, conformando a passarela central com cerca de 1,50 metros de largura sobre pranchas de madeira e com extensĂŁo de 50 metros de comprimento entre o acesso frontal e fundos, e pĂŠ direito de 13m, aproximando a ideia de rua, marcando o eixo do espetĂĄculo e desfragmentando os limites entre o palco e a plateia; - No terreno do teatro, serĂĄ construĂdo um parque (Parque Bixiga) que, assim como o Oficina, serĂĄ um manifesto, depois de muita luta da comunidade para conseguir a autorização de sua construção, onde serĂŁo plantadas centenas de ĂĄrvores em seus 13.000m².
Plantas baixas gerais. Fonte: Archdaily.
Cortes. Fonte: Archdaily.
Croqui do Parque Bixiga. Fonte: G1.
Foto do palco e das arquibancadas. Fonte: Nelson Kon.
Foto do camarim no nĂvel superior. Fonte: Nelson Kon.
Foto do Teatro Oficina. Fonte: Nelson Kon.
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‹ Projeto: azab Localização: Mallavia, Espanha Ano: 2018 Ă rea: 1.350 m² - A globalização tambĂŠm impĂľe ao planejamento urbano uma perda de valores contextuais e sociais que sĂŁo transferidos para seus planos e edifĂcios. Diante desta situação, ĂŠ urgente que a arquitetura recupere os espaços tradicionais; - O projeto nĂŁo visa Ă criação de um novo espaço, mas sim recuperar o significado especial do seu lugar emblemĂĄtico. Para tanto, propĂľe-se a introdução de uma sĂŠrie de dispositivos que atualizam a praça, ampliando suas possibilidades de uso e permitindo que se torne um espaço de diversĂŁo para todas as idades; - O projeto propĂľe, para isso, a cobertura do auditĂłrio externo da Plaza Elizalde e sua conversĂŁo e adaptação para se tornar um espaço de lazer multigeracional; - A nova distribuição de usos da ĂĄrea de lazer ĂŠ, entĂŁo, ordenada por zonas, com trĂŞs espaços diferenciados, mas interligados, que multiplicam as possibilidades do antigo auditĂłrio.
Corte longitudinal. Fonte: Archdaily.
Corte transversal. Fonte: Archdaily.
Esquema. Fonte: Archdaily.
Foto interior. Fonte: Luis DĂaz DĂaz.
Foto implantação. Fonte: Luis DĂaz DĂaz.
Foto cobertura. Fonte: Luis DĂaz DĂaz.
ÂŒ † „ ‹Ž  ‰ ‘‰ Projeto: Alexandre Picanço, Paulo Vieitas Localização: Distrito de Ponta Delgada, Portugal Ano: 2020 Ă rea: 900 m² - Uma boa parte da população utiliza o “Coretoâ€? como elemento urbano de referĂŞncia para o convĂvio social. Ao mesmo tempo que a antiga praça oferecia um espaço para convĂvio e atuaçþes festivas, tornou-se um elemento de ruĂdo visual, desvalorizando eventuais edifĂcios histĂłricos ou com interesse patrimonial; - Optou-se por desenhar um elemento central, que surge como uma reinterpretação desse mesmo “Coretoâ€?, servindo como referĂŞncia na utilização da praça e como organizador de todo o espaço. É elemento sobre-elevado, que permite nĂŁo sĂł o seu uso como banco e zona de estar, mas tambĂŠm como palco para atuaçþes diversas.
Foto implantação. Fonte: Paulo Prata.
Foto detalhe. Fonte: Paulo Prata.
Foto do Coreto. Fonte: Paulo Prata.
Foto do Coreto. Fonte: Paulo Prata.
Planta Baixa. Fonte: Archdaily.
Corte. Fonte: Archdaily.
Projeto: Bjarke Ingels (BIG) Localização: Copenhague, Dinamarca Ano: 2011 Ă rea: 4.3 ha - Em quase um quilĂ´metro de comprimento, Superkilen atravessa um dos bairros mais etnicamente diversos e socialmente desafiadores na Dinamarca, criando um espaço urbano verdadeiramente original, com uma forte identidade em escala local e global; - O parque ĂŠ dividido em trĂŞs zonas: a praça vermelha (red square), o mercado preto (black market) e o parque verde (green park) e ĂŠ concebido como uma imensa exibição das melhores prĂĄticas urbanas - uma coleção de objetos cotidianos globalizados dos mais de 60 paĂses natais dos habitantes locais; - “HĂĄ um esforço para representar cada nacionalidade vivendo na vizinhança, atravĂŠs de artes pĂşblicas e programas especĂficos... o que ĂŠ um Ăłtimo retorno para os investimentos de U$34 por pĂŠ quadrado.â€?
Mapa distribuição dos paĂses. Fonte: BIG.
Foto vista aĂŠrea. Fonte: Dragor Luft.
Foto perspectiva. Fonte: Iwan Baan.
Foto perspectiva. Fonte: Dragor Luft.
Foto mobiliĂĄrio urbano. Fonte: BIG.
Foto mobiliĂĄrio urbano. Fonte: BIG.
ÂŒ ’‰ ‚ Projeto: Dasic FernĂĄndez Localização: Riyahd, ArĂĄbia Saudita Ano: 2019 Ă rea: 38.000 m² - O artista Dasic FernĂĄndez foi convidado pela DesignLab Experience para criar um projeto colorido, uma obra de arte sem precedentes, que tem 38.000m² de tinta sobre o piso, localizado no deserto mais seco do mundo. Dasic, como diretor criativo, e uma equipe de 14 pessoas, composta por um engenheiro, 2 arquitetos e 11 artistas, desenvolveram o projeto em 40 dias seguidos; - “Busco respeitar a tradição dos padrĂľes geomĂŠtricos tĂpicos da regiĂŁo, trazendo-os ao presente e misturando-os com o meu trabalho pessoal. Quanto ao desenho, enfatizei as transiçþes de um padrĂŁo para outro, isso porque eu queria deixar um registro visual no trabalho de integração do passado e do presente e tambĂŠm da transição social e cultural pela qual a ArĂĄbia Saudita estĂĄ passando agora.â€?
Foto vista aĂŠrea. Fonte: VIP Films.
Foto passeio. Fonte: Roberto Conte.
Foto detalhe. Fonte: VIP Films.
Foto detalhe. Fonte: Roberto Conte.
Foto vista aĂŠrea noturna. Fonte: VIP Films.
Foto geral do projeto. Fonte: VIP Films.
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ƒ † “   ” Para formular o programa de necessidades do objeto de estudo, primeiramente foram especificados trĂŞs principais grupos de atividades para, posteriormente, detalhar e destrinchar cada um deles. Esses grupos sĂŁo: Elas e Eles - referente Ă população em situação de rua local que utilizarĂĄ os serviços sociais e artĂsticos do CASA; Arte e Cultura, que se prende ao conceito principal do projeto de ensinar, profissionalizar e proporcionar atividades a partir das artes (plĂĄsticas, cĂŞnicas, musicais); Serviços e Apoio - que se atĂŠm Ă ĂĄrea mais tĂŠcnica e formal do projeto.
São demandas que foram diagnosticadas após a pesquisa realizada com as referências projetuais e após uma breve conversa com as pessoas em situação de rua e os jå atuantes apoiadores sociais do SCS - as entrevistas foram limitadas e reduzidas devido à pandemia da COVID-19.
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Ponto de arrecadação e distribuição de doaçþes;
Espaço externo para eventos (Praça do Povo);
Recepção/Bilheteria;
Pintura com tinta de terra;
Administração;
Mostras de cinema;
Ponto de acolhimento e instruçþes ao futuro inscrito no programa;
Salas/ateliĂŞs de aula;
Bar/Cafeteria;
Shows;
Banheiros;
Oficina de cerâmica;
Restaurante popular;
Salas de exibição;
VestiĂĄrios;
Aula de instrumentos musicais;
FraldĂĄrio;
Aula de histĂłria da arte;
DML;
Clube do livro;
Sala de apoio;
Produção de papel;
Sala de segurança;
Oficina de marcenaria;
DepĂłsito (carga e descarga);
Oficina de costura;
ArmĂĄrios;
Xilogravura;
Galerias;
Sala multimĂdia; Acervo SCS;
Concursos premiados; Teatro; Gravação audiovisual;
Fotos do exterior do EdifĂcio Dona Angela, mostrando sua relação com a Praça do Povo. Fonte: prĂłpria.
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“   ” O projeto tem o intuito de começar pela Praça do Povo. É a praça que guiarĂĄ o pedestre atĂŠ o interior do edifĂcio, como uma enrome entrada principal, de modo a priorizar o acolhimento e nĂŁo o distanciamento da arquitetura com o pĂşblico alvo - a população em situação de rua. Mesmo assim, resgatando a arquitetura manifesto mencionada na Introdução ao projeto, o EdifĂcio Dona Angela passarĂĄ por uma renovação estĂŠtica de suas fachadas, para distoar da rigidez do Setor Comercial Sul, para atrair os olhos ao centro da cidade, para “gritarâ€? a real demanda da população de rua e acabar com a invisibilidade e subutilização do espaço. Para tanto, o EdifĂcio sofrerĂĄ uma intervenção de contraposição, isto ĂŠ, sua nova arquitetura, em respeito ao valor histĂłrico do SCS - como mencionado antes, diversos arquitetos importantes, como LelĂŠ, Niemeyer e Athos deixaram sua marca no local, nĂŁo imitarĂĄ o antigo: dita arquitetura apresentarĂĄ ao Setor o contexto contemporâneo, distoando-se do perĂodo de construção dos demais prĂŠdios, para evitar, tambĂŠm, o falso histĂłrico.
O CASA toma como principal objetivo a anĂĄlise real da demanda da cidade e entende que o espaço urbano deve sofrer alteraçþes e manutençþes frequentes para estar em constante ritmo com os seus usuĂĄrios, de modo a aproveitar, da forma mais sutentĂĄvel possĂvel, o potencial econĂ´mico, social e cultural do solo. O uso ĂŠ a melhor forma de conservação do patrimĂ´nio e, portanto, para manter-se em condiçþes de atender Ă s exigĂŞncias da sociedade atutal, as edificaçþes devem receber adaptaçþes. Para condensar melhor as diretrizes projetuais, foi utilizada uma metodologia de oficina de projeto, em que, primeiramente, sĂŁo pensados os princĂpios relevantes do projeto, depois a quais conceitos esses princĂpios estĂŁo ligados e, por fim, chegam-se Ă s diretrizes, que representam os princĂpios postos em prĂĄtica no desenho. O resultado estĂĄ exposto no quadro ao lado.
Setor Comercial Sul
População em situação de rua
Profissionalização
Arte e Cultura
Autossuficiência
A rua, o Setor, é o “pedaço” da população em situação de rua.
O meio externo também fará parte do projeto: atividades ao ar livre, a Praça do Povo vira o projeto.
Elas e eles como criadores do programa do projeto.
O programa do projeto, além do programa básico de necessidades, será formulado pela própria população em situação de rua: quais atividades eles vão querer ali.
Capacitar a população em situação de rua para entrar no mercado de trabalho.
Eles terão aulas em ateliês para, futuramente, serem os próprios artistas e professores do CASA e de outros lugares.
O “fazer com as mãos”, a arte como instrumento educacional e profissionalizante.
Espaços propícios e estimulantes à produção criativa, tais como galerias, ateliês e espaço para eventos culturais.
Independência financeira e administrativa a longo prazo.
O projeto será feito, principalmente, para e pela população em situação de rua, criando um ciclo econômico que entra-sai-entra no CASA.
Croquis iniciais para a formulação das diretrizes projetuais.
Fotos do interior do Edifício Dona Angela, mostrando sua configuração de planta baixa livre com mezanino. Fonte: própria.
Devido Ă pandemia da COVID-19, o EdifĂcio Dona Angela, que ĂŠ vigiado durante o dia por segurança privada, estava de portas fechadas, sendo possĂvel visualizar seu interior - para a relização do levantamento - apenas pela ĂĄrea externa, atravĂŠs da pele de vidro que envolve a edificação. Dessa forma, por uma boa parte do semestre letivo 1/2020, o acesso para anĂĄlise da estrutura e das condiçþes do EdifĂcio foi limitado. ApĂłs algumas tentativas falhas de entrar em contato com a Administração do Plano Piloto para conseguir uma cĂłpia dos desenhos tĂŠcnicos do EdifĂcio, foi realizada uma visita no local do projeto no dia 23 de novembro de 2020, em que foi possĂvel fazer o levantamento do andar tĂŠrreo, cuja estrutura se replica nos outros 2 pavimentos acima. Portanto, a planta baixa do EdifĂcio Dona Angela, tal qual como ele ĂŠ hoje, estĂĄ disponibilizada ao lado, para facilitar a compreensĂŁo de como o EdifĂcio ĂŠ e quais serĂŁo as modificaçþes realizadas no processo de reconversĂŁo de uso para a concretização do projeto CASA, deixando claro o seu “antesâ€? e “depoisâ€?. A reconversĂŁo de uso e a escolha por nĂŁo demolição do EdifĂcio Dona Angela ĂŠ preferĂvel devido Ă atual situação da vacância dos lotes do Setor Comercial Sul: muitos edifĂcios estĂŁo vazios, de portas fechadas, com placas de “vende-seâ€? ou “aluga-seâ€?.
Portanto, ĂŠ preciso ter cautela com a especulação imobiliĂĄria: devido Ă presente crise enconĂ´mica que atinge o Brasil, intensificada pela pandemia da COVID-19, os edifĂcios do SCS sĂŁo vendidos a um preço irrisĂłrio para, posteriormente Ă crise, serem revendidos por preços muito altos, fazendo que seus novos proprietĂĄrios e, consequentemente, frequentadores do espaço sejam de uma classe econĂ´mica mais alta do que a atual, expulsando quem jĂĄ estĂĄ lĂĄ, quem nĂŁo tem condiçþes de acompanhar o superfaturamento do solo do Setor. O CASA nĂŁo tem o intuito de demolir a histĂłria do patrimĂ´nio de BrasĂlia para dar um novo uso ao local de forma arbitrĂĄria, que afete a realidade de quem realmente faz parte do “pedaçoâ€?. O CASA tem o intuito de reafirmar a existĂŞncia e o valor do EdifĂcio Dona Angela e da Praça do Povo, permanecendo com suas estruturas originais.
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Área externa coberta
Acesso principal de vidro Vigas engastadas
Distância de 4m do Edifício Dona Angela para a Praça do Povo
Envoltório de vidro
PLANTA BAIXA GERAL TÉRREO, 1º PAV. E 2º PAV.
2
5
10m
N
Fachada do Edifício Dona Angela.
1,80m Entrada principal do Edifício, voltada para a Praça do Povo (fachada sul).
Diversos desníveis entre o Edifício Dona Angela e a Praça do Povo, que dificultam a conexão e circulação de um para o outro, além de tornarem o espaço pouco acessível.
Único acesso direto, sem rampa, entre a Praça do Povo e a entrada principal. Poucos locais de permanência na Praça do Povo.
Muitos espaços ociosos na Praça do Povo. Lanchonetes existentes na Praça do Povo que são utilizadas diariamente por quem frequenta o Setor Comercial Sul.
Vegetação e calçadas mal cuidadas e deterioradas. Interior do térreo do Edifício Dona Angela.
Sala de exibição
Ponto de acolhimento Administração
Sala de segurança
Praça do Povo
Recepção/ Bilheteria
Acesso
Acervo SCS
Ponto de arrecadação
Cafeteria/ Bar
Banheiro
Galerias
Salas/ateliês de aula
Auditório
Depósito
Banheiro
DML Estacionamento
Banheiro público
Banheiro Banheiro/vestiário funcionários Sala de apoio
Sala multimídia
Restaurante popular Manutenção
Social
Serviços e Apoio Elas e Eles (comunidade em situação de rua do SCS) Arte e Cultura
à rea total de intervenção 4.260m²
PLANTA BAIXA LOCALIZAĂ‡ĂƒO
25
50
100m
N
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Área coberta da Praça do Povo 1.210m²
Área descoberta da Praça do Povo 1.512m²
PLANTA BAIXA PRAÇA DO POVO
20
30
50m
N
Banheiro público 48m²
Cafeteria/Bar 240m²
Banheiro/vestiário funcionários 48m²
Administração 48m²
Restaurante popular 96m²
Ponto de arrecadação de doação e acolhimento 96m²
Recepção 210,90m²
Corredor e espaço expositivo efêmero 115,20m²
PLANTA BAIXA GERAL TÉRREO
Corredor e espaço expositivo efêmero 115,20m²
2
5
10m
N
Banheiro 48m²
Banheiro 48m²
Acervo SCS 48m²
Atêlies/ Salas de aula 240m²
PLANTA BAIXA GERAL 1º PAV.
Galerias 192m²
2
5
10m
N
Banheiro 48m²
Sala de exibição/ Sala multimídia 145m²
Auditório 288m²
Sala técnica/ manutenção/ depósito 95m²
PLANTA BAIXA GERAL 2º PAV.
2
5
10m
N
O programa de necessidades serĂĄ distribuĂdo ao longo dos 3 pavimentos do EdifĂcio Dona Angela, sendo o Ăşltimo pavimento dedicado ao auditĂłrio.
Nova cobertura de 5m de altura, que parte da laje do EdifĂcio Dona Angela, integra a Praça e a edificação, servindo de proteção contra sol e chuva para a realização de eventos e atividades na Praça.
Estudo de fluxos.
Processo criativo: expansão e junção da Praça do Povo com o Edifício Dona Angela.
Integração direta da Praça do Povo com o acesso principal do Edifício Dona Angela. Novas escadas e rampas que não existem no local - serão implantadas.
Atividades externas - como oficinas, apresentações, aulas, exposições e rodas de conversa com a população em situação de rua e visitantes - serão realizadas na Praça do Povo.
Além da programação de atividades do CASA, haverá uma praça de alimentação pública na Praça do Povo, onde as atuais lanchonetes da região poderão se estabelecer.
Equipamentos e mobiliários urbanos de uso efêmero e flexível, como palcos e assentos para apresentações, farão parte da Praça do Povo, dando a possibilidade de diversos usos para o espaço conforme a demanda dos usuários.
Escadas coloridas Cobertura metĂĄlica
Cobertura metĂĄlica
Pintura interativa com o ambiente
Bancos flexĂveis para diversos usos
Palcos efĂŞmeros de paletes
Pinturas na fachada
Escultura urbana interativa
Esquadrias coloridas
Faixa de pedestres colorida
Pavimentação colorida
Cobertura metálica e edificação colorida
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