PEMAU - MERCADO SUL

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mercado sul

CADERNO PARA CONSTRUÇÃO COLETIVA DE POSSÍVEIS CENÁRIOS DE REABILITAÇÃO SUSTENTÁVEL ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA, E REISSIGFICAÇÃO DO ESPAÇO COM BASE NO DIREITO À CIDADE



mercado sul

CADERNO PARA CONSTRUÇÃO COLETIVA DE POSSÍVEIS CENÁRIOS DE REABILITAÇÃO SUSTENTÁVEL ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA, E REISSIGFICAÇÃO DO ESPAÇO COM BASE NO DIREITO À CIDADE Autor(es) Liza Andrade1; lizamsa@gmail.com; Oscar Ferreira2; oscarlferreira@gmail.com; Vanda Zanoni2; vandaz@terra.com.br; Carlos Luna2; carlosluna@unb.br; Patrícia da Silva Gomes2; Raíssa Gramacho3; raigramacho@gmail.com; Gabriel Perucchi3; g.perucchi@gmail.com; Sacha Quintino3; sacha.qpereira@gmail.com; Máwere Portela3; m_herisson@live.com; Carmen Jimenez Castro3; cahjimenezc@gmail.com; Thalyta Fernandes3; thalhyf@gmail.com; Igor Araújo Dias3; igor_a_raujo@hotmail.com; Victor Rocha3; rocha2395@gmail.com; Carolina Tavares3; caroltavaresunb@gmail.com; Átila Rezende3; atila1993@hotmail.com; Débora Quinderé3; deboraquindere@gmail.com; Alessandra Zamboni3; Amanda Alves Sicca Lopes3; Bruna Raíssa Magoni Rambo3; Eduardo Santos Dantas3; Fernanda Amorim dos Santos3; Flávia de Souza Meireles3; Iara Lemos Silva3; Júlia Erendira Wolff Ouriques3; Layla Anne Thomé Araújo3; Mariana Marques Teixeira3; Mariana Navarro Machado de Abreu3; Tayra Covolan Figueiredo3; Thalyta Fernandes Ferreira3; Thayná Gonçalves Sampaio3; Gabriel Oliveira3; Lara Bossaerts3; (1) Coordenadora do Escritório Modelo CASAS e Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (2) Professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (3) Estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília


Foto por Mercado Sul Vive


“A transformação do mundo necessita tanto do sonho quanto a indispensável autenticidade deste depende da lealdade de quem sonha às condições históricas, materiais, aos níveis de desenvolvimento tecnológico, científico do contexto do sonhador. Os sonhos são projetos pelos quais se luta. Sua realização não se verifica facilmente, sem obstáculos. Implica, pelo contrário, avanços, recuos, marchas às vezes demoradas. Implica luta. Na verdade, a transformação do mundo a que o sonho aspira é um ato político e seria uma ingenuidade não reconhecer que os sonhos têm seus contrassonhos. É que o momento de que uma geração faz parte, porque histórico, revela marcas antigas que envolvem compreensões da realidade, interesses de grupos, de classes, preconceitos, gestações de ideologias que se vem perpetuando em contradição com aspectos mais modernos.” FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação. São Paulo: Paz e Terra, 2015. p. 61-62


Foto por Liza Andrade


sumário introdução_5 direito à cidade_13 urbanismo_27 infraestrutura_43 arquitetura_49 estrutura_55 padrões_61 cenários_73


Foto por Mídia Ninja


introdução

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apresentação Este caderno apresenta o processo de projeto desenvolvido pelo Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo / Centro de Ação Social em Arquitetura e Urbanismo Sustentável EMAU/ CASAS da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB junto ao coletivo Mercado Sul Vive com objetivo de gerar possíveis cenários futuros do espaço do antigo Mercado Sul de Taguatinga e discutir os desafios e novas abordagens dos processos participativos. Os estudos de arquitetura e urbanismo foram baseados nas dimensões da sustentabilidade, social, cultural, econômica e ambiental. Pretende-se chamar a atenção sobre a prática autônoma de ocupações urbanas no Brasil e discutir o papel do arquiteto consciente de seu compromisso político-cidadão atuando não só como

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“designer de lugares”, mas também no processo de mediação pelo direito à cidade e à moradia. Procurou-se conciliar estudos sobre a situação política-fundiária com o processo de projeto até o momento. Esse processo se deu procurando reco nhecer o interesse dos diversos grupos e promover o compartilhamento de soluções e trocas de pontos de vista para chegar a tomada de decisões. Dessa forma, geraram-se diretrizes com soluções emergentes na forma de padrões espaciais (parâmetros) baseados em Alexander et (1977) e Andrade (2014) e nas dimensões da sustentabilidade, social, cultural, ambiental e econômica, que podem contribuir para a ressignificação do espaço e melhoria da qualidade de vida.


Foto por Mercado Sul Vive

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Foto por Mercado Sul Vive

o que é o coletivo mercado sul vive?

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Analisando a história do Mercado Sul percebe-se o seu potencial ao longo dos anos como ponto de encontro de poetas, músicos e artistas que frequentavam o local. Construído inicialmente para fins comerciais na década de 1950, antes da inauguração de Brasília funcionava como uma feira livre, com armazéns, armarinhos, açougues, lanchonetes. Porém, com a chegada das redes

de supermercados à cidade na década de 1970 levou muitos comerciantes à falência. Na década de 1980 virou reduto da boemia com bares e casas de prostituição, mas como todo espaço da boemia atraía a população artística da região. O espaço do Mercado Sul como atividade artística e cultural ocorreu de fato na


década de 1990 e nos anos de 2000. Com o Teatro de Mamulengo Invenção Brasileira, do mestre mamulengueiro Chico Simões, virou um Ponto de Cultura, atraindo cada vez mais artistas, produtores e agitadores culturais.

Para conhecer mais, visite www.mercadosul.org/ e facebook.com/mercadosulvive ou acesse pelos códigos abaixo!

Em fevereiro de 2015, ocorreu a ocupação do espaço com a apropriação dos boxes ociosos pelos moradores e trabalhadores locais, que os utilizam para a realização de atividades culturais, cozinha comunitária, permacultura, entre outros. O movimento cumpre um papel de resistência social, cultural e política no Mercado Sul, realizando encontros de artistas, músicos, mulheres do campo e da cidade, movimentos sociais, grupos de saberes populares, acadêmicos, entre outros. Tal articulação visa promover de forma aberta e horizontal a disseminação de conhecimentos. Além disso, o movimento Mercado Sul Vive convoca assembleias que promovem o envolvimento entre comerciantes e moradores, além de contribuir para melhorias locais e cuidados ambientais. As manifestações culturais locais promovidas pelo Coletivo Mercado Sul Vive contribuem para a ressignificação do espaço e a preservação do patrimônio cultural, este último, constantemente ameaçado pela degradação. Destacam-se entre as ações promovidas pelo coletivo Mercado Sul Vive a festa junina, o maracatu, o bumba-meu-boi, apresentações musicais e a Ecofeira. No momento, a ocupação Mercado Sul Vive reivindica a desapropriação das edificações abandonadas e o apoio governamental para a revitalização do espaço.

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O Mercado Sul compreende uma área de 4875m² (75 x 65m), localizada no Setor B Sul, em Taguatinga. O conjunto é composto por 3 blocos enfileirados com 28 lojas cada, com áreas entre 7,5 a 10 m² e pequenos galpões. Atualmente, abriga vários ofícios, como costureiras, borracharia, oficina, prato-feito, café-bar, ateliê, luteria, espaço cultural, produtora, estúdio de comunicação, rádio, manicure, cabelereiro, alfaiate, igreja, brechó, entre outros. Os boxes originais foram alterados, há lojas que uniram espaços contíguos e alguns boxes tornaram-se residências.

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Fotos por Mercado Sul Vive


metodologia O trabalho foi desenvolvido a partir da disciplina de Prática em Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo – PEMAU ofertada pela cadeia de Projeto do Departamento de Projeto, Expressão e Representação (PRO) da FAU/ UnB, ministrada pelos professores: Liza Andrade, coordenadora do CASAS e do Departamento de Projeto, Representação e Expressão, Carlos Luna, Vanda Zanoni e Oscar Ferreira do Departamento de Tecnologia (TEC). Apesar de vinculada ao CASAS, a disciplina foi ofertada aos estudantes do curso de graduação de forma a ampliar o acesso à extensão. O trabalho foi estruturado de forma horizontal entre professores e estudantes e dividido em 5 partes: (1) verificação da situação existente: a situação fundiária, os aspectos políticos e socioculturais da identidade local entre os membros da comunidade e como isso se expande para a sociedade; (2) identificação de como o Mercado Sul se insere na vizinhança, no contexto urbano local, e em Taguatinga (acessibilidade, legibilidade, identidade, infraestrutura e conforto ambiental); (3) levantamento da organização dos espaços internos e a relação dos usuários com o espaço (conforto ambiental, ergonomia, funcionalidade, instalações); (4) identificação dos problemas nas construções e as soluções que já foram dadas; (5) identificação das ações e práticas mais sustentáveis existentes na comunidade. Foram realizadas visitas técnicas com momentos de envolvimento e integração por meio de café comunitário, elaboração de mapas mentais e aplicação de questionário de aproximação. O questionário contemplou diversos itens como, a identificação pessoal, as formas de inserção do Mercado Sul no contexto urbano, a organização dos espaços e a relação dos usuários, os problemas nas construções e as soluções adotadas e, por fim, a identificação de ações e práticas mais sustentáveis na comunidade.

O questionário foi elaborado por todos os Grupos de Trabalhos – GT, com o objetivo de contemplar todos os eixos temáticos: Direito à Cidade: reflexões teóricas e análises de caso semelhantes ao Mercado Sul, pensando em uma ocupação e produção justa e democrática do espaço na cidade. Urbanismo: aspectos de vizinhança e abrangência urbana, entendendo como o Mercado Sul se insere em Taguatinga. Infraestrutura: levantamento e identificação das condições de água, drenagem, esgoto e energia. Arquitetura: questões físicas e ambientais das construções e seus entornos imediatos. Estrutura das edificações: levantamento e investigação de peças estruturais e seus aspectos patológicos;

Para o estudo do ambiente construído e as relações existente com o contexto urbano, as análises foram fundamentadas segundo as dimensões da sustentabilidade: ambiental, social, econômico e, cultural e emocional, que se desdobram em princípios, critérios, indicadores de desempenho e verificadores. As análises mais detalhadas estão no relatório técnico disponível do Escritório Modelo CASAS e no Coletivo Mercado Sul Vive.

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direito à cidade

Esse capítulo faz considerações sobre a prática autônoma de ocupações urbanas no Brasil e discuti o papel que o profissional e estudante de arquitetura e urbanismo podem exercer nesse contexto, refletindo sobre o cotidiano em sua atuação técnica e política. O arquiteto consciente de seu compromisso político-cidadão tem um importante papel a desempenhar quanto às ocupações urbanas e projeto de lugares, atuando no processo de mediação pela luta por direito à cidade e à moradia.

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Ocupações

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Para Rolnik (2016) é possível reconhecer a legitimidade que as ocupações têm em seus discursos apartidários, travando por meio de resistências pontuais uma verdadeira luta pelo lugar. Seja lugar de moradia, seja lugar de expressão cultural, seja lugar de educação. O resultado desse movimento tem sido duplo: de um lado pela arte, desde 1990, em vários lugares do mundo, ações de coletivos artísticos em problemáticas situacionais, trabalhando a partir da cidade e intervindo em seus espaços com representações e situações performáticas; de outro lado pelo ponto de vista dos movimentos sociais, formas tradicionais de representação política e a proliferação de grupos autonomistas e anarquistas, de novas formas de autorrepresentação.


As ocupações além de resistir por habitação, almejam ressignificar lugares públicos menosprezados, o que simboliza não só uma luta pelo individual coletivo, mas pela apropriação do espaço da cidade a fim de permitir que a população o reconheça e nele intervenha. Henri Lefebvre definiu, em 1986, o direito à cidade como o direito de não exclusão da sociedade urbana tanto das qualidades quanto dos malefícios que a vida urbana oferece. Lefebvre (2001) elabora sobre a segregação socioeconômica e a marginalização das pessoas no espaço urbano; a luta pelo direito à cidade seria construída e conquistada por grupos com motivações sociais e políticas. Este direito corresponde à necessidade de locais qualificados, de encontro, onde as relações não seriam tomadas pelo “valor de troca” guiado pelo comércio ou pelo lucro, e sim por “trocas sociais livres”. David Harvey defende que o direito à cidade é mais do que acessar o que já existe, é um direito coletivo onde todos devem ter o poder e a liberdade de moldar as decisões e as condições da cidade que afetam suas vidas, para fazer e refazer as cidades e a si mesmos. Desta forma constrói-se uma cidade qualitativamente compatível com o tipo de vida que se quer levar. Logo, ocupações culturais baseadas na reivindicação do direito à cidade podem ser caracterizadas como práticas políticas de formação de uma nova ideia de apropriação do espaço urbano, indo no contra senso das cidades-negócios. A Constituição Federal (CF) de 1988 entende que o uso da propriedade deve ser limitado em razão do bem social coletivo e do desenvolvimento da cidade, onde o cumprimento da função social da propriedade é a principal diretriz a assegurar o atendimento dos cidadãos quanto à qualidade de vida, à justiça social, e ao desenvolvimento das atividades econômicas. Fica garantido o direito à propriedade desde que esta cumpra sua função social definida pelo Plano Diretor, podendo ser desapropriada por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, com indenização em dinheiro, proporcional ao valor de mercado. O Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257, de 2001, regulamenta o capítulo de política urbana da CF e apresenta normas que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo. O Estatuto tem como diretrizes gerais a garantia do direito a cidades sustentáveis, gestão democrática, ordenação e controle do uso do solo e a regularização fundiária. Para o cumprimento dessas diretrizes, o Estatuto conta com instrumentos urbanísticos que devem ser aplicados conforme a necessidade de cada situação. A recentemente aprovada Medida Provisória 759/2016, dispõe aspectos relacionados ao acesso à terra. Em muitos pontos, a MP procura reafirmar direitos que já estavam previstos e reuni-los em um mesmo dispositivo legislativo. Além disso, essa regulamentação instaura alterações em diversos outros dispositivos do código civil e normas de diferentes hierarquias, incluindo o Estatuto da Cidade. INSTRUMENTO E OBJETIVOS

APLICAÇÃO

CARACTERÍSTICAS E OBSERVAÇÕES

Do parcelamento, edificação ou uti- Áreas determinadas pelo Plano Diretor Plano diretor e leis municipais deterlização compulsórios em solo urbano não edificado, subutili- minam as condições e prazos zado ou não utilizado Evitar expeculação imobiliária; garantir a função social do lote Do IPTU progressivo no tempo

Áreas determinadas pelo Plano Diretor em solo urbano não edificado, subutiliEvitar expeculação imobiliária; garan- zado ou não utilizado. No caso do não tir a função social do lote cumprimento do instrumento anterior

Prazo máximo de cinco anos. O valor da alíquota não excederá a duas vezes o valor referente ao ano anterior até atingir alíquota máxima de 15%

Da desapropriação com pagamento Áreas determinadas pelo Plano Diretor em títulos em solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado. No caso do não cumprimento do instrumento anterior Evitar expeculação imobiliária; garan- (Cinco anos de cobrança do IPTU protir a função social do lote gressivo)

Município partirá para desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública. O Município ou o adquirente do imóvel tem as mesmas obrigações de parcelamento, edificação ou utilização previstas anteriormente.

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INSTRUMENTO E OBJETIVOS

APLICAÇÃO

CARACTERÍSTICAS E OBSERVAÇÕES

Da usucapião especial de imóvel urba- Aquele que possuir como sua área ou edifi- O possuidor pode acrescentar o tempo de no cação urbana de até 250,00 m², ininterrup- sua posse à de seu antecessor, contanto tamente e sem oposição, utilizando-a para que ambas sejam contínuas. Garantir o domínio do terreno a um ocu- sua moradia ou de sua família, adquirir-lhepante -á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel. As áreas urbanas com mais de 250,00m² quadrados, ocupados por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos ou mais initerruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os lotes, podem ser usucapiadas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.

O condomínio especial constituído é indivisível, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio. A usucapião especial coletiva de imóvel urbano servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis.

Da concessão de uso especial para fins VETADO de moradia Do direito de superfície

O proprietário urbano poderá conceder a As condições e obrigações deverão ser outrem o direito de superfície do seu ter- estabelecidas em contrato que deve atenGarantir o cumprimento da função social reno, por tempo determinado ou indetermi- der a legislação urbanística. da propriedade nado. Do direito de preempção

Áreas determinadas pelo plano diretor

O Poder Público tem a preferência para a aquisição de imóvel urbano em caso de venda do imóvel

Da outorga onerosa do direito de cons- Áreas determinadas pelo plano diretor truir

O plano diretor deve definir áreas onde o direito de construir pode ser exercido acima do coeficiente de aproveitamento básico adotado, mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficiário. Em algumas áreas o plano diretor pode definir a possibilidade de alteração de uso do solo mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficiário. As leis municipais deverão determinar: a fórmula de cálculo para a cobrança, os casso de isenção do pagamento da outorga e a contrapartida do beneficiário.

Garantir o acesso ao Poder Público à áreas para regularização fundiária, habitação de interesse social, reserva fundiária, ordenamento e direcionamento da expansão urbana, equipamentos urbanos e comunitários, espaços de lazer e áreas verdes, unidades de preservação ambiental, histórico, cultural e paisagístico

Arrecadar recursos municipais para investimentos na cidade

Da transferência do direito de construir Áreas determinadas pelo plano diretor em imóveis considerados necessários para: Garantir o cumprimento da função social implantação de equipamentos urbanos da propriedade sem ferir o direito de e comunitários, preservação ambiental, propriedade histórica, paisagística, social ou cultural, ou regularização fundiária e habitação de interesse social.

Os benefícios dessas operações devem ser distribuídos entre a população diretamente afetada, poder público e investidores privados. O Poder Público tem a liberdade de oferecer incentivos como modificações dos parâmetros e características de parcelamento, uso e ocupação do terreno, potencial adicional de construção, dentre outros. É recomendado a implementação de programas habitacionais atrelados às operações urbanas, especialmente em casos que envolvam remanejamentos de famílias.

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INSTRUMENTO E OBJETIVOS

APLICAÇÃO

CARACTERÍSTICAS E OBSERVAÇÕES

Do estudo de impacto de vizinhança

Áreas determinadas pelo plano diretor em imóveis considerados necessários para: Evitar que atividades desenvolvidas te- implantação de equipamentos urbanos e nham um impacto urbano maior que infra- comunitários, preservação ambiental, hisestrutura urbana possa suportar. tórica, paisagística, social ou cultural, ou regularização fundiária e habitação de interesse social.

Poder Público poderá autorizar o proprietário de imóvel urbano, privado ou público, a exercer em outro local, ou alienar, mediante escritura pública, o direito de construir previsto no plano diretor.

Do estudo de impacto de vizinhança

O estudo de impacto de vizinhança apresentará efeitos positivos e negativos para a população residente na área e suas proximidades, e deve incluir: adensamento populacional, equipamentos urbanos comunitários, uso e ocupação do solo, valorização imobiliária, geração de tráfego e demanda por transporte público, ventilação e iluminação, paisagem urbana e patrimônio natural e cultural.

Lei municipal deverá estabelecer quais empreendimentos e atividades privados Evitar que atividades desenvolvidas te- ou públicos que serão sujeitos ao EIV para nham um impacto urbano maior que infra- sua aprovação. estrutura urbana possa suportar.

Tabela 2 - Estatuto da Cidade

As lutas sociais do período da redemocratização brasileira reivindicavam principalmente a participação efetiva e direta da sociedade civil na construção das políticas públicas, atingindo um marco histórico no capítulo da Política Urbana da Constituição de 1988, que reconhece o direito à propriedade, o que inclui, conceitualmente, aqueles que não a possuem. O Estatuto da Cidade é a peça chave deste capítulo da constituição, e ao fornecer tantos instrumentos como arcabouço legal nos processos de regularização fundiária, reitera a heterogeneidade da realidade urbana brasileira. A nova MP 759/2016, prescrita em plena turbulência política e em um mandato de legitimidade duvidosa, vai em direção contrária a essa construção coletiva e socialmente abrangente que se buscou na caminhada dos instrumentos urbanos antecedentes. Impondo uma agenda já conhecida globalmente, que visa mercantilizar a moradia, essa abordagem política coloca cada vez mais em risco o exercício do direito à habitação, como apontado por Raquel Rolnik (2015, p. 32), e traz consequências trágicas ligadas à supressão desse direito para populações economicamente frágeis e desamparadas juridicamente dentro do jogo do mercado. O mais grave, contudo, é a contradição entre os interesses mercantilistas incutidos na nova medida e o modo como a ocupação se constrói e atua dentro do espaço que reivindica, por meio de propostas anti-hegemônicas. A MP 759/2016 não se preocupa em criar uma cidade menos desigual e sim em aquecer o mercado imobiliário pela desburocratização do processo, mas a forma proposta cria um sistema que apenas aparenta ser mais ágil e simples, quando na realidade fica à mercê de arbitrariedades jurídicas. Considerando que nossa sociedade é consideravelmente desigual, essa possível arbitrariedade possibilita julgamentos infundados e despóticos, prejudicando comunidades perversamente inclusas no corpo social. A partir desta análise e dada à complexidade do que é a luta pelo direito à cidade dentro do contexto sociopolítico das cidades brasileiras, buscou-se referências de outras ocupações ao redor do país, a Ocupação Mariana Crioula (Figura 1), no Rio de Janeiro, e o Espaço Comum Luiz Estrela (Figura 2), em Belo Horizonte.

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anos e de acordo com Lucas, em 2015 passou por aprovação em todas as instâncias.

Figura 1 - Ocupação Mariana Crioula

O nome da Ocupação faz homenagem a Marianna Crioula, importante símbolo da resistência dos negros contra a escravidão, por volta de 1838 liderou a maior rebelião já ocorrida na região do Vale do Café, a 120 km da cidade do Rio de Janeiro. O movimento surgiu em dezembro de 2011: “Na contracorrente dos projetos de intervenção segregatórios na região portuária, sua luta é pela manutenção do povo pobre na área. O casarão, um antigo depósito mal utilizado, faz parte agora do projeto de reforma no qual estão envolvidos 60 famílias. Conectado a luta por políticas públicas pelo direito à cidade, o projeto prevê a construção de moradias, a organização da cooperativa para geração de renda e o resgate da memória local .” Os arquitetos envolvidos Lucas Faulhaber, Bruno Calo e Núbia França, que na época era a única profissional – recém – formada, se envolveram por meio do contato já travado entre o EMAU da UFRJ e o MNLM (Movimento Nacional de Luta pela Moradia). O financiamento do projeto foi feito pelo MCMV Entidades, que estipula uma série de padrões muitas vezes impossíveis de serem atendidos por não viabilizar as necessidades específicas de certa comunidade. A ocupação demandava, por exemplo, um espaço para geração de renda, que foi chamado de “espaço de uso comum”, porque o financiamento não pode ser feito a fim comercial. A parte habitacional foi pensada para 60 apartamentos com tipologias diferentes, ainda que o MCMV não permitisse unidades individuais, conseguiu-se a flexibilização desta regra para a criação de um e dois quartos, conseguindo atender ao programa. O processo todo durou cerca de três

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Figura 2 - Espaço Comum Luiz Estrela

O nome do espaço é uma homenagem ao artista de rua Luiz Estrela, morto na cidade de Belo Horizonte. “Estrela era poeta, performer, intelectual, morador de rua, homossexual. Trazia consigo a luta do artista pela arte, a luta do cidadão pelo direito à vida e à cidade.” Segundo Deise Alves Eleutério, CAU A64579, uma das arquitetas envolvidas na revitalização do Espaço: A proposta de ocupação cultural surge da reunião de um grupo de artistas, ativistas, educadores, profissionais autônomos e produtores culturais que deram início a uma série de estudos e discussões sobre autogestão, cultura, cidade, políticas públicas e participação cidadã. A urgência motivou o ato: a urgência por uma cultura independente, livre das amarras do mercado e dos mecanismos de incentivo; a urgência em tomar para si as rédeas dos processos de transformação e de efetivá-los coletiva e colaborativamente; a urgência em salvaguardar um espaço da

1 - (FONTE http://mnlmrj.blogspot.com.br/2012/11/comemoracao-1-ano-mariana-crioula.html).


memória em ruínas e livrá-lo do abandono absoluto.Apos um longo inicio de ocupação, obtivemos a cessão de uso do casarão, garantindo sua infra-estrutura. O Espaço Comum Luiz Estrela deu vida a um antigo imóvel público abandonado, um casarão construído no início do século 20, que abrigou enfermarias do Hospital Militar na década de 30. Desde 1980, a linda casa Eclética, localizada à Rua Manaus, 348, se encontrava em estado de completo abandono, em descumprimento à função social da propriedade (art. 5º, inc. XXIII) e ao dever constitucional do Poder Público de proteção do patrimônio histórico cultural (art. 216, § 1º). Diante da impossibilidade de ocuparmos o casarão devido a sua fragilidade estrutural, conformamos uma equipe transdisciplinar para construir um projeto de restauração. A primeira proposta foi de encontro a um dos desejos do coletivo: que o espaço abrigasse propostas formativas e processuais. Criamos um processo formativo a que chamamos Laboratório de Patrimônio/ Núcleo de Restauro e memória, a primeira ação foi a de desenvolver, através de oficinas colaborativas, o Projeto de Restauração que contemplasse, a história, a arqueologia e a arquitetura. Tendo como desafio futuro criar o processo formativo que dará conta da restauração do casarão. Através do processo colaborativo, atualmente temos aprovado o projeto de restauro na Diretoria Municipal de Patrimônio e buscamos recursos através de fundos de cultura, sem incentivo privado. O núcleo de restauro se encontra todas as sextas no casarão, que já iniciou obras de estabilização estrutural, que são inclusive de parceria com o estado que se responsabilizou por esse dano, no caso.

Qual o contexto da ocupação Mercado Sul Vive? Atualmente, a Ocupação Mercado Sul Vive enfrenta problemas relativos à regularização fundiária. Em contrapartida, a Superin-

tendência do IPHAN/DF, na nota técnica 02/2015 (01551.000161/2015-14 de 24 de fevereiro de 2015), considera a manutenção do espaço apropriado por grupos de praticantes de atividades culturais como de grande valia para o exercício da cidadania. Ressalta a importância de se trabalhar a cultura como uma dimensão social para que, assim, as dimensões cotidiana, habitação e trabalho sejam agregadas à ressignificação do espaço operado pela comunidade de forma a evitar o processo de gentrificação com intervenções meramente arquitetônicas e estéticas. O Governo do Distrito Federal também mostrou apoio à ocupação no documento do Processo nº 360.000.062/2015, onde declara que “considera desapropriar a área para transformá-la num pólo de atividade cultural em Taguatinga”. Por cartas e ofícios diversas entidades e órgãos governamentais manifestaram apoio a Ocupação Mercado Sul Vive como importante instrumento de atuação cultural e representatividade da população na busca por um projeto de cidade mais igualitária, justa e liberta. Dentre eles estão o coletivo VERaCIDADE, o MInC, FBES, SENAE. A Assessoria Jurídica Universitária Popular – AJUP - da Faculdade de Direito da UnB vem trabalhando com conjunto com o CASAS e obteve uma vitória com a suspensãoda Ação de Reintegração de Posse impetrada contra a Ocupação baseando-se no Estatuto da Cidade, os argumentos: (1) o não cumprimento da função social da posse e da propriedade; (2) a violação do direito fundamental à moradia e a cultura; (3) a correta identificação das propriedades e (4) as negociações entre o Movimento e os poderes executivos Distrital e Federal acerca da desapropriação do imóvel para fins de residência artística. Em Outubro de 2016 ocorreu a audiência de Conciliação, Instrução e Julgamento. O juiz entendeu que, como o processo tramita contra a Ocupação Cultural Mercado Sul VIVE, e como esta não se trata de pessoa física nem jurídica, não está apta à representação judicial. Para tanto, determinou a nomeação individual dos ocupantes, e negou a reintegração de posse com uso de força policial. O juiz reconheceu ainda a importância da atuação do movimento na defesa do interesse cultural na região de Taguatinga, e a legitimidade de suas manifestações, decisão que deu força ao movimento e vem sustentan-

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do-o, junto com o apoio do IPHAN e MinC, de outros coletivos culturais, do reconhecimento local, regional, nacional e internacional e, principalmente, da intensa cooperação entre os ocupantes em autogestão. Acredita-se no valor da ocupação dos imóveis inutilizados, anteriormente degradados, como manifestação política do direito à cidade, devendo este ser garantido a todos pelo Estado. Todo imóvel, privado ou público, cumpre uma função social. Neste caso, os imóveis em questão encontram-se abandonados pelos proprietário e pelas instituições públicas, razão pela qual, compreendemos a legitimidade da ocupação como resistência e luta a favor da “função social” de tais imóveis. Tal condição é prevista pelo Poder Público no Artigo 2º do Estatuto da Cidade, que visa à garantia do direito a cidades sustentáveis, “entendido como direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho, ao lazer, para as presentes e futuras gerações”. Há que se levar em conta, também, a ordenação e o controle de uso do solo como iniciativas voltadas para “evitar a retenção especulativa do imóvel urbano, que resulte na sua subutilização ou não utilização”. O direito à cidade, debate que muitos autores já se debruçaram sobre, adquiriu aspectos muito mais urgentes. Visto que esse espaço se transformou cada vez mais alvo da produção de capital excedente, com os diversos e modernos mecanismos guiados pelo capital financeiro e pela propriedade, é preciso entender que a cidade deve ter outros valores a não ser aqueles que incentivam formas de exploração secundárias e a excluem como local de outras trocas sociais e culturais.

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Decorre das demandas particulares do Mercado Sul o estudo refinado dos instrumentos do Estatuto da Cidade, principalmente da outorga onerosa do direito de construir, que prevê a possibilidade de alteração do uso do solo mediante pagamento apropriado, e da transferência do direito de construir, que autoriza o proprietário do imóvel a construir em outro lote, quando o imóvel/lote em questão for de interesse histórico, ambiental, social ou cultural. Os questionamentos acerca da nova MP 759/2016 refletem a urgência de ações de combate à agenda global de mercantilização da moradia, haja vista os inúmeros casos citados por Rolnik em Guerra dos Lugares, que possuem como denominador co-

mum o descaso geral da lógica neoliberal sobre os interesses coletivos na cidade. A nova medida provisória, não por acaso, vem com uma intenção política muito clara de intensificar o mesmo fenômeno de financeirização que exclui os habitantes, enrustido de um discurso de inclusão por meio da aquisição de propriedade e concessão de crédito, mesmos instrumentos já observados em outras partes do mundo.

O que os moradores do Mercado Sul pensam? É importante conhecer a comunidade para promover eventos com o envolvimento efetivo da comunidade. A partir deste conhecimento, Davis et al. (2013) enumeram os seguintes princípios para esse planejamento: inclusão, respeito, clareza de propósitos e competências, fortalecimento do conhecimento, estreitamento de relações entre os atores, confiança, envolvimento sustentável, apresentação de resultados. Com base nos questionários aplicados aos moradores e as pessoas que utilizam o espaço como fonte geradora de renda foram desenvolvidos infográficos que refletem os dados coletados sobre cada um dos aspectos aqui analisados.

Figura 3 - Cartaz do jogo de sonhos


Qual a situação dos boxes do Mercado Sul? 62%

33%

4%

alugado

próprio

ocupado

moradia

misto (moradia e loja)

loja

outro

O imóvel onde você reside apresenta apenas esse fim? 36%

64%

moradia

misto (moradia e loja)

O imóvel onde você trabalha apresenta apenas esse fim? 32%

misto (moradia e loja)

68%

loja

A partir dos dados coletados, pode-se concluir que a quantidade de boxes alugados se destaca em relação ao número de boxes próprios e ocupados. Com relação aos usos que são aplicados, o comércio é o mais representativo. Abrangendo atividades comoserralheria, marcenaria, cabeleleiro, ateliê de costura, brechó, comunicação visual e entre outros.Nos boxes destinados a ocupação, identifica-se como ‘outros’ atividades como ateliê de artesanato, criações e ofícios.

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Quantas pessoas moram por boxe? 30%

10%

30%

20%

10%

Nos boxes destinados a moradia, percebe-se que a maioria abriga de 2 a 3 moradores. Existindo frações que chegam a abrigar até 7 moradores, apesar dos boxes não apresentarem dimensões adequadas para abrigar esse número de pessoas.

Há quanto tempo você mora no Mercado Sul? Menos de 1 ano 4% 1 a 2 anos 12% 5 a 10 anos 28%

22

Janeiro

2 a 3 anos 12% 3 a 5 anos 8% Mais de 10 anos 36%

Dentre os moradores, a maior parcela reside há muito tempo no Mercado Sul, destacando-se a faixa de moradores que reside a mais de 10 anos e entre 5 e 10 anos.


Qual o seu nível de escolaridade?

sem instrução ou analfabeto

ensino fundamental

ensino médio

ensino superior

Quanto da sua renda depende do Mercado Sul?

5%

27%

18% 23%

18% 9%

Nada 9%

Metade

completo

incompleto

5%

Quanto à escolaridade, entre moradores que apresentam Toda a renda Mais da metadeas maiores porcentagens dividem-se ensino médio completo e ensino fundamental incompleto. Persistindo ainda a existência de mora18% 68% dores que são analfabetos ou sem instrução. Dado esse representa um reflexo da grande parte das cidades brasileiras, onde a maior parte da população não tem acesso ao ensino superior e até mesmo ao ensino primário.

Quanto da sua renda depende do Mercado Sul? Nada

Metade 5%

9% Mais da metade

Toda a renda

18%

68%

Qual a sua renda familiar? De 1/2 SM a 1 SM 4% De 1 SM a 2 SM 23% De 2 SM a 3 SM 18%

De 3 SM a 4 SM 27% De 4 SM a 5 SM 5% Acima de 5 SM 18% Dado Perdido 5%

Quanto à renda, percebe-se que a grande maioria tem sua renda total dependente das dinâmicas de comércio exercidas no Mercado Sul, onde a faixa de renda mais representativa está entre 3 Qual a sua renda familiar? e 4 salários mínimos. De 1/2 SM a 1 SM

De 3 SM a 4 SM

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Você acha que o Mercado Sul deve ser reconhecido como patrimônio histórico e cultural?

NÃO SIM 55%

32% NS/NR 14%

Você acha que o Mercado Sul deve ser revitalizado? NÃO 5% SIM 91%

NS/NR 4%

A maior parte dos moradores reconhece o Mercado Sul em sua relevância histórica e cultural dentro do Distrito Federal. Além de reconhecer a importância de sua revitalização.

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Foto por Mídia Ninja


O que podemos concluir? O Mercado Sul representa um importante elemento de resistência político e social no processo de construção da cidade. Suas iniciativas tem sua raiz no compartilhamento de saberes, na troca de cultura e conhecimento, sendo espaços abertos a qualquer pessoa. São espaços de muita troca e construção popular, importantes pra a cultura local. E que, portanto, devem ser mantidas e incentivadas dentro da nossa sociedade atual.

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Foto por Liza Andrade


urbanismo

Esse capítulo apresenta o estudo desenvolvido para a análise do Mercado Sul em seu contexto urbano a partir das dimensões da sustentabilidade ambiental, social, econômico e, cultural e emocional descritas na Tabela 1 - Dimensões Morfológicas do Processo de Urbanização e Princípios de Sustentabilidade deste trabalho.

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tabela 1 Dimensões Morfológicas do Processo de Urbanização e Princípios de Sustentabilidade. Tomou-se como base a metodologia desenvolvida por Andrade e Lemos (2015), exposta em “Sustentabilidade e Qualidade da Forma Urbana”. Esta contempla a legislação urbana e ambiental e os conflitos entre questões urbanas e questões ambientais (agenda marrom e agenda verde) segundo a amplitude dos Princí- pios de Sustentabilidade (Andrade, 2005) e a sinergia entre as agendas (ONU-HABITAT, 2009), além das questões relacionadas à forma urbana propostas pelo Grupo DIMPU – Dimensões Morfológicas do Processo de Urbanização, da FAU/ UnB (HOLANDA, 2013) em Holanda e Kohlsdorf (1996).

PRINCÍPIOS DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL •

PROTEÇÃO ECOLÓGICA E AGRICULTURA URBANA Respeito aos ecossistemas atendimento ao Código Florestal, às Resoluções do CONAMA 302, 303 e369, e as leis ambientais respectivas a cada região, bem como planos de recuperação de nascentes ou florestas. Existência de agricultura urbana na cidade: hortas comunitárias, hortas individualizadas. •

INFRAESTRUTURA VERDE: GESTÃO D’ÁGUA, DRENAGEM NATURAL E TRATAMENTO DE ESGOTO ALTERNATIVO Observação da bacia hidrográfica, em relação à drenagem e ao esgotamento sanitário. A abordagem sustentável caminha em duas escalas: sistemas de tratamentos de águas residuais com plantas para as casas (zona de raízes) ou para o empreendimento como um todo (wetlands). Os empreendimentos de natureza mais compacta podem utilizar menos água, se preparados tecnicamente, que loteamentos suburbanos com densidades mais baixas. • CONFORTO AMBIENTAL Resposta do espaço com relação ao desempenho luminoso, térmico, acústico e de qualidade do ar •

PROMOÇÃO DOS SISTEMAS ALTERNATIVOS DE ENERGIA E DIMINUIÇÃO DA PEGADA ECOLÓGICA A eficiência energética pode ser colocada sob dois aspectos. Primeiramente, para as moradias, sob a ótica de uso da energia utilizada, vindaxx de fontes renováveis como o sol, o vento e a biomassa. Em segundo lugar, sob o viés da redução de combustíveis fósseis utilizados nas moradias, carros e indústrias. • SAÚDE O ambiente não deve apresentar vulnerabilidade ambiental, decorrente de materiais tóxicos e poluição do ar, do solo e das águas. •

REDUÇÃO, REUTILIZAÇÃO E RECICLAGEM DE RESÍDUOS Para o desenho de empreendimentos sustentáveis, os 3R’s incluem redução do gasto de energia, reuso das edificações e reciclagem de resíduos de construção, e compostagem do lixo orgânico.

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PRINCÍPIOS DE SUSTENTABILIDADE SOCIAL • URBANIDADE Desempenho do espaço urbano, considerando a interação social por meio do desenho da malha viária e das macroparcelas com maior integração, conectividade, espaços externos positivos, constitutividade dos espaços, diversidade de uso do solo e acessibilidade. •

COMUNIDADE COM SENTIDO DE VIZINHANÇA Oportunidades para a sociabilidade, participação no processo, e desenvolvimento pessoal em espaços públicos e instalações comunitárias. • MORADIAS ADEQUADAS Diversidade e mistura de classes sociais, estabelecidas com variedade de moradias, custos diferenciados e acessibilidade universal garantida. •

MOBILIDADE E TRANSPORTES SUSTENTÁVEIS Existência de estruturas adequadas a diferentes modais de mobilidade (pedestres, ciclistas e automobilistas) e inibidoras do uso de combustíveis fósseis, aliada à disponibilidade de transporte público eficiente.

PRINCÍPIOS DE SUSTENTABILIDADE CULTURAL E EMOCIONAL REVITALIZAÇÃO URBANA Recuperação e valorização de infraestrutura existente em áreas urbanas degradadas ou patrimônios culturais abandonados, promovendo o incremento da ocupação dessas áreas. LEGIBILIDADE E ORIENTABILIDADE Os espaços devem responder a necessidade de orientação dos usuários nos lugares, obtidos com a conectividade entre bairros e diferenciação entre bairros e continuidade de caminhos IDENTIFICABILIDADE Reconhecimento de características particulares ao espaço urbano resultantes de diversidade tipológica em pequenos agrupamentos e efeitos visuais que promovam imagens mentais e percepção da paisagem urbana. AFETIVIDADE E SIMBOLOGIA A forma física dos lugares promove satisfação emocional quando laços afetivos se estabelecem pelo reconhecimento de qualidades e plasticidade da configuração urbana

PRINCÍPIOS DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA • ADENSAMENTO URBANO A ocupação urbana mais densa em áreas centrais associada ao uso comercial diminui o deslocamento, diminuindo a emissão de dióxido de carbono em viagens locais, e melhora o sentido de comunidade nos espaços públicos. • DINÂMICA URBANA Economia de recursos financeiros no processo de construção e manutenção dos espaços urbanos como uso efetivo desses espaços, resultante de condições adequadas de infraestrutura, mobiliário urbano, iluminação e sistema viário. •

DESENVOLVIMENTO DA ECONÔMICA LOCAL EM CENTROS DE BAIRROS Espaços que favoreçam a existência de centralidades na malha viária e mescla de funções, e atividades localizadas a distâncias caminháveis.

Após o levantamento, os alunos da disciplina de PEMAU, observando as soluções adotadas pela comunidade do Mercado Sul, geraram padrões de soluções para resolver os problemas apontados nos questionários realizados com os moradores. A metodologia de padrões utilizada é resultado dos trabalhos de Alexander et al (1977) e de Andrade (2014). Alexander et al (1977) define padrão como: “uma regra (esquema) de três partes que expressa uma relação entre um certo contexto, um problema, e uma solução”. Desta forma, um problema pode ter diversos padrões de solução, e a comunidade escolhe o mais adequado para seu contexto, fazendo com que a identidade do local seja preservada.

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Qual o contexto do Mercado Sul? Para que possamos entender melhor de que maneira a sustentabilidade do Mercado Sul se desenvolve, e de que maneira se desenvolve sua relação com a comunidade, precisamos compreender em que meio ele se insere, quais sao suas dinâmicas, quais fatores interferem ou não em sua habitabilidade e qual é a percepção de quem usurflui desse espaço. Totalmente interligado a criação e desenvolvimento de Taguatinga, observou-se a trajetória cultural, política, econômica e social do Mercado Sul e sua importância não só a escala local mas também regional do Distrito Federal.

longo da Avenida Comercial, que favorecem por meio das fachadas voltadas para a rua, a grande quantidade de transeuntes e maior movimento nesta região.

Figura 6 – Mapa de percursso

Figura 7 – Mapa de localização com volumetria Figura 4 – Mapa de localização do Mercado Sul (Taguatinga, DF, Brasil), Google Earth, 2017.

Figura 5 – Mercado Sul

Com base na dimensão cultural, foram levantados dados que mostraram a relevância do Mercado Sul como ponto de atração cultural em Taguatinga. Para uma melhor compreensão da interrelação dos espaços, foi feita uma sequência visual, compreendendo o trajeto entre a estação do metrô, um dos modais principais da cidade, e o Mercado. A estação mais próxima do Mercado é a Estação Praça do Relógio, que dista um pouco mais de um quilômetro do mesmo.

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Nesse percurso é possível observar a grande quantidade de atividades comerciais ao


Figura 8 – Percusso visual

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A sequência visual evidencia a predominância de edifícios em altura, comércios, fachadas publicitárias e intenso movimento de pedestres e automóveis. A medida que o percurso se desvia da avenida, a escala se altera, e a predominância passa a ser de edifícios residenciais. E um pouco mais a frente, a escala é novamente alterada, para muros e fachadas de lotes residenciais. Por fim, vemos a chegada ao Mercado Sul. O trajeto como um todo não deixa clara a existência do mercado até que se chegue nas suas imediações. O caráter comercial do Mercado foi, portanto, sendo diminuído pela variedade e imponência publicitária da Avenida Comercial. Contudo, nos últimos anos, o espaço floresceu como atividades culturais. Atividades essas que conferem identidade ao Mercado Sul, e que referenciam-o como ponto de cultura em Taguatinga.

atende a escolas com o objetivo de difundir a cultura popular brasileira em suas diversas manifestações, mas principalmente o Teatro de Mamulengo. No mesmo espaço, ensaiam também o grupo feminino de musicistas, brincantes e pesquisadoras As Batuqueiras, cujo principal objetivo é propagar a cultura do Maracatu, Samba de Coco, Ciranda e ritmos da cultura Mandengue, principalmente entre mulheres como forma de empoderamento e valorização da figura feminina. Os grafites são outro elemento de identidade da paisagem do Mercado Sul. Eles estão presentes em muitas fachadas e, no geral, existe carinho e reconhecimento pela arte ali produzida. Os grafites representam um marco na paisagem que foge da monotonia das fachadas do entorno.

A Ecofeira é um exemplo dessas atividades. Todo mês desde de 2013, no fim de semana de lua cheia, a Ecofeira reuni artesãos, artistas e a comunidade em um encontro capaz de proporcionar um momento de debate acerca de pontos cruciais da nossa sociedade, oferecendo uma tarde de cultura para a comunidade.

Figura 9 – Ecofeira

No Mercado Sul são desenvolvidas várias atividades com diferentes focos, desde as lojas de ofícios a rodas de debates abertas a todas as pessoas. Pelo movimento Mercado Sul Vive, essa produção se intensifica na produção de cultura e saberes populares.

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O espaço de ação artística e cultural Invenção Brasileira, cujo nome homenageia o mestre Solon de Carpina, oferece cursos, oficinas, ensaios, reuniões comunitárias e também

Figura 10 – Manifestações artísticas

Com o objetivo de nos aproximar e entender melhor como a comunidade e o espaço físico se relacionam, buscou-se aplicar a atividade de desenvolvimento de Mapas Mentais, feitos pelos próprios moradores e demais usuários da região. A atividade consiste em mapear informa-


ções relacionadas ao Mercado Sul e seu contexto urbano, captando a visão de cada participante individualmente e identificando sua relação com o espaço. Através desta atividade pode-se compreender melhor a dinâmica do mercado em Taguatinga, identificando pontos de referência importantes para os moradores, problemas e potencialidades, rotas comuns, a simbologia do mercado para a comunidade, a visão dos usuários quanto as ligações do Mercado Sul com o entorno, entre outras. Foram obtidos diferentes resultados e interpretações através da atividade. A seguir podem ser vistos alguns dos mapas produzidos.

Os pontos de Referência na Vizinhança indicados pelos usuários do Mercado Sul foram: Super Mercado Super Maia, Pamonharia, Padaria, Posto de Gasolina, Avenidas Samdú e Comercial, Parque, Praça do Relógio, Metrô, Igreja Nossa Senhora de Fátima. Localidades próximas com conectividade baixa ou precária: Samambaia e Ceilândia (principalmente para pedestres e ciclistas).

Problemas identificados: • Infraestrutura do Mercado Sul: problemas de acessibilidade, coleta de lixo, iluminação pública, telhados com problema de infiltração • Infraestrutura do entorno: calçadas em péssimo estado, falta de ciclovias ou ciclofaixas, paredão de prédios localizados na Avenida Comercial que segrega o espaço do Mercado

Potencialidades: •

Pólo de cultura da região, promoção de festas e eventos, forte identificação com o local, interesse e promoção de práticas sustentáveis, proximidade com o parque, utilização da bicicleta como meio de transporte (mesmo sem a presença de ciclovias), relação de carinho entre comunidade e espaço.

Com base na Dimensão Social, foram desenvolvidos mapas de uso do solo, cheios e vazios, gabaritos, equipamentos e raios de influência dos equipamentos para se pudesse perceber as relação do Mercado Sul com seu entorno direto.

Figura 11 – Mapas mentais

O mapa de uso do solo mostrou que o entorno imediato é composto, em sua maioria, por residências, mas há também uma quantidade significativa de atividades comerciais e uso misto na vizinhança. As avenidas EPTG, Samdú e Comercial concentram a maior parte do comércio, sendo as duas últimas importantes pontos de referência, acesso e oferta de serviço para o Mercado. O mapa de cheios e vazios apontou um densa ocupação do espaço, não só por edificações mas também por uma grande quantidade

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de área pavimentada. Nesse sentido, o parque adimite um grande papel ambiental na medida em que se apresenta com uma das únicas áreas capazes de drenar a água da chuva. O mapa de gabaritos mostra que o entorno imediato é composto por edifícios de baixo gabarito, de um ou dois pavimentos. Os edifícios mais altos concentram-se ao longo do Pistão Sul e na Avenida Comercial, sendo esta o local onde se encontra a maior variedade de alturas, devido a grande quantidade de áreas de uso misto que ali se concentram. Percebe-se que as edificações localizadas na Avenida comercial marcam a paisagem como uma barreira entre a avenida e os Setores B e C sul, estabelecendo uma relação de negação. O mapa de equipamentos mostra que o entorno do Mercado caracteriza-se por uma grande quantidade de equipamentos de uso institucional. E apesar de existirem muitas praças na região, essas, em sua maioria, não possuem equipamentos de entretenimento ou atrativos, como parquinho infantil e equipamentos de ginástica. Algumas se encontram até mesmo sem vegetação, sem espaços sombreados e sem áreas permeáveis. O mapa de raios de influência pode mostrar com que constância esses equipamentos se lozalizam. Outros equipamentos: Posto policial = raio 2000m; Batalhão de incêndio = 1 unidade para cada 120.000 hab; Praças = raio máx. 600m; Parques de bairro = raio máx. 2400m; Equipamentos culturais = raio 2500m

N

Figura 12 – Mapa de uso do solo

N

34

Figura 13 – Mapa cheios e vazios


N

Figura 14 – Mapa de gabaritos

N

Figura 15 – Mapa de equipamentos

35


N

Figura 16 – Mapa de raios de influência

Com base na dimensão econômica pôde ser analisado como funciona a mobilidade local. No decorrer das últimas décadas, Taguatinga assumiu uma função polarizada das atividades econônomicas e da oferta de trabalho, absorvendo também parte da mão de obra das cidades vizinhas. Pesquisas da CODEPLAN de 2015/16 mostram que a maior parte da ocupação da população está relativa ao comércio, seguida por serviços gerais e serviços pessoais. E que quase metade da população mora e trabalha na própria região e a segunda maior parcela no Plano Piloto. Fatores esses que interferem nas dinâmicas sociais e na maneira como os equipamentos de mobilidade interferem na locomoção dos moradores locais. A partir do mapa de mobilidade podemos perceber como as vias priorizam o trânsito de veículos particulares em detrimento de pedestres e ciclistas. Com relação ao transporte público, temos paradas com um raio de abrangencia de 500 m e localizadas nas principais avenidas, além de uma estação de metrô na Praça do Relógio.

N

36

Figura 17 – Mapa de mobilidade


No entorno imediato ao Mercado Sul, o transporte é feito, em geral, a pé ou de bicicleta, apesar das péssimas condições de infraestrutura. Percebe-se que a dimensão das calçadas é igualmente inadequada para comportar o fluxo nas três grandes avenidas principais. Nas ruas locais o grande problema é o desnivelamento das calçadas que dificulta a assecibilidade.Nas ruas internas ao Mercado Sul há a presença de carros de alguns moradores. Mas quando ocorrem eventos, as ruas assumem o papel de espaço de eventos. Entretanto mais uma vez a locomoção é prejudicada pela pavimentação irregular.

Figura 18 – Caixa das Vias

igura 19 – Ruas do beco em dia de evento

Com base na dimensão ambiental foram levantados dados sobre o conforto ambiental e práticas sustentáveis. Nessa analise pode ser percebido problemas de infraestrutura, drenagem das águas pluviais, pouco reuso da água da chuva e desconforto térmico na maioria dos boxes, sendo que essa última poderá ser melhor abordada no capítulo de Arquitetura das Edificações. Outro aspecto que chama atenção é o uso de práticas sustentáveis. O Ateliê Tempo Eco Arte, “espaço livre de artes e ofícios”, existe desde 2002, transformando resíduos sólidos em objetos de uso cotidiano, como cadeiras, mesas, estantes, objetos de decoração, cenários, instrumentos musicais, etc. Desenvolvem pesquisa em reaproveitamento desses materiais, principalmente o papelão e sacos de cimento, fazendo daquele espaço vivo de convivência e sustentabilidade. Além disso, no Mercado Sul a o cultivo de hortas urbanas pelos próprios moradores, instrumento importante para a drenagem local.

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Figura 20 – Artesanato

Figura 21 – Hortas Urbanas

O que os moradores do Mercado Sul pensam? Qual meio de transporte você usa? 22%

a pé

7%

35%

5%

13%

18%

bicicleta

carro

metrô

carona

ônibus

A partir dos dados coletados, pode-se perceber que a maioria dos residentes do Mercado Sul utilizam o carro particular como maior meio de locomoção dentro da cidade.

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Quais os pontos de referência da vizinha para chegar no Mercado Sul? 14%

18%

pamonharia

igreja

14%

14%

32%

23%

clube dos 200

padaria

super maia

alameda shopping

23%

hotel canada

23%

rubão e tapuia

Os moradores identificaram vários lugares como pontos de referencia locais do Mercado Sul. Dentre eles, os mais significativos foram o supermercado Super Maia, o Alameda shopping, o hotel Canada e as lojas Rubão e Tapuia.

A vizinhança costuma frequentar o Mercado Sul? NÃO 28% NS/NR

SIM 64%

8% A maioria dos moradores revelaram que a vizinhança constuma frequentar o Mercado Sul, o que evidencia sua importância para a cultura da comunidade local.

Quais áreas de lazer e cultura da região você frequenta? 14%

5%

academia ao ar livre

praça

5%

5%

55%

27%

18%

64%

quadra de esporte

cinema

parque

teatro

espaços culturais

outros

Quando questionados sobre suas opções de lazer e cultura, 55% dos moradores revelaram frequentar parques e 64% revelaram frequentar outras atividades, dentre elas estão o Taguatinga Shopping, Centro Espírita no Guará, o SESC Paulo Otran, pubs alternativos, caminhada na rua, a Católica do Pistão Norte, a Associação Portuguesa e outros clubes.

Como você avalia os grafites e pinturas do Mercado Sul? Gosto Gosto muito 32% Nem gosto nem desgosto 18%

27% Desgosto 9% Desgosto muito 14%

Quanto aos grafites e pinturas, a maioria dos moradores mostrou identificabilidade.

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Qual o déficit de expectativas quanto a práticas sustentáveis e autossuficientes? 64%

reaproveitamento de água

36%

27%

27%

18%

produção de alimentos/horta

reciclagem de lixo

autossuficiência de recursos econônicos

troca de habilidades e serviços

18%

18%

14%

moeda própria do local

compartilhamento de ações

valorização do patrimônio

14%

construção com materiais alternativos

Quando questionados sobre interesse na viabilização de algumas práticas sustentáveis e autossuficientes, o maior déficit está no reaproveitamento de água.

Foto por Mercado Sul Vive

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O que podemos concluir? No contexto urbano de Taguatinga, o Mercado Sul encontra-se visualmente isolado dos espaços de maior fluxo, pouco sinalizado, ofuscado pelo paredão de edifícios e pelo apelo publicitário da Avenida Comercial. Seus moradores possuem acesso aos equipamentos urbanos próximos, devido à localização central do mercado, mas sofrem com problemas locais de infraestrutura. Entre os pontos críticos percebidos no Mercado Sul estão: a pavimentação irregular, a falta de acessibilidade, pouca iluminação pública, principalmente dentro dos becos, o lixo gerado pela feira que ocorre no “quadradão” às quartas-feiras, problemas com a drenagem e esgoto a céu aberto.

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Foto por Liza Andrade


infra_ estrutura Esse capítulo apresenta o estudo realizado sobre a infraestrutura urbana do Mercado Sul e está baseado em três tópicos principais: acesso à água, energia elétrica e saneamento básico. Como metodologia do trabalho, o estudo foi estruturado em nas dimensões de sustentabilidade apontadas pela Tabela 1 - Dimensões Morfológicas do Processo de Urbanização e Princípios de Sustentabilidade deste trabalho. A partir dessa divisão, foi realizado um questionário com os moradores do Mercado Sul e, com os dados obtidos, foram diagnosticados problemas para se encontrar, com a participação da comunidade, possíveis soluções.

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Qual o contexto do Mercado Sul? Após a realização de um levantamento de dados físicos, pode-se concluir que: a coleta de lixo é feita na Av. Samdu Sul e deveria ser feita, também, na região do Mercado Sul, porém moradores relataram que nunca viram o caminhão desse serviço. Ou seja, os resíduos gerados no local não têm a destinação que deveriam, ocasionando acúmulo de lixo em certos pontos, como nas hortas urbanas.O desnível do terreno causa acúmulos de água da chuva, principalmente devido a existência de bocas de lobo entupidas. A iluminação pública é abundante no Mercado Sul, tendo ao todo 14 postes de luz, porém moradores relataram que, em algumas noites, os postes não acendem e dependem de sua cobrança para seu haja devido funcionamento. As alterações de gabaritos das lojas desencadearam problemas nas calhas, um dos principais problemas para os moradores, pois as calhas originais foram modificadas ou desativadas.

Figura 23: Drenagem de água

Figura 24: Postes de Luz

Além desses dados, os moradores do Mercado apontaram os seguintes problemas: o fechamento do beco que havia entre os boxes, dando margem a diferentes formas de apropriação daquele espaço e à falta de saneamento; a ausência de banheiro público, necessário para a demanda de eventos que ocorrem no espaço.

Figura 25: Alteração do gabarito

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Figura 22: Coleta de lixo

Figura 26: Simulação da Calha original


O que os moradores do Mercado Sul pensam? Como você avalia a infraestrutura do Mercado Sul?

iluminação pública

abastecimento de água

esgoto ótimo

drenagem bom

regular

pavimentação ruim

energia elétrica

coleta de lixo

péssimo

A partir desses dados, pode-se concluir que os principais serviços com maior insatisfação são o esgoto e a pavimentação, devido à quantidade de água suja nas ruas. Assim, cada loja/moradia adota uma solução particular para o problema de esgoto. Apesar de o abastecimento de água e a iluminação pública terem um bom nível de satisfação, é importante ressaltar que a fiação elétrica está em um estado precário e que 5 dos lotes entrevistados não tem acesso à água, sendo obrigados a se adaptarem a formas alternativas para consumir água.

Como funciona o acesso à energia? 84%

CEB

8%

4%

4%

Compartilha a conta com o vizinho

Gato

Outros

Mesmo com um número reduzido de questionários aplicados, o gráfico acima mostra que 84% dos imóveis estão cadastrados no registro da CEB. Os 16% restantes representam um total de 4 imóveis, dentre os quais o uso de energia nem sempre é diário e constante.

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Você paga a conta da CAESB? SIM

3

5

11

NÃO

1

1

3

moradia

misto (moradia e loja)

loja

Dentre os 5 imóveis indicados como não registrados, são adotadas alternativas como o armazenamento de água da chuva em caixa d’água ou galões, o compartilhamento com um imóvel vizinho, ou a conexão com a rede geral de distribuição, justificadas pelo baixo consumo de água, o que não condiz com o alto custo de taxas cobradas por serem os imóveis caracterizados como comerciais.

Você reutiliza a água? Você seleciona o lixo orgânico e reciclável? SIM

NÃO

20%

80% SIM 44%

NÃO 56%

Pode ser observado que 20% dos entrevistados, o equivalente a 5 imóveis, reutilizam água, afirmando ser para a lavagem da calçada, chão e garagem, e para regar as plantas e “se refrescar”, como brincou uma das entrevistadas.

Você seleciona o lixo orgânico e reciclável?

SIM 44%

NÃO 56%

Você recicla o próprio lixo?

NÃO 72%

SIM 24% NS/NR 4%

Os dados levantados a respeito da reciclagem de lixo são favoráveis à iniciativa de uma gesVocê recicla o próprio lixo? tão mais sustentável dos resíduos, mesmo que apenas 24% o faça, pois os 44% que selecionam seus resíduos estimulam os demais e a eles mesmos a darem fins alternativos para tais.

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SIM

NÃO


O que podemos concluir? As águas pluviais no Mercado Sul podem ser reaproveitadas, resolvendo o problema de acúmulo de água suja, a partir de uma cisterna, a partir do desentupimento das bocas de lobo e a partir da drenagem da água pelo solo e pelas raízes das árvores. Novas lixeiras podem ser

implantadas no “beco” para evitar o acúmulo de lixo nas ruas e nas hortas urbanas. Além disso, cada lixeira pode ser especificada para um tipo de resíduo, para uma futura reciclagem do lixo. As calhas quebradas ou em desuso podem ser reformadas para melhor aproveitamento e direcionamento da água da chuva. Para uma melhor permanência em eventos que ocorrem no Mercado Sul, pode-se instalar banheiros públicos, o que também motivaria a convivência entre os moradores nas ruas.

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Foto por Mídia Ninja


arqui_ tetura

Esse capítulo pretende abordar os principais aspectos observados no que diz respeito à arquitetura, o conforto ambiental e a acessibilidade das edificações, esta última com base na NBR 9050. E em que medida interferem na qualidade de vida da comunidade.

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Qual o contexto do Mercado Sul? Após a aplicação de questionários com moradores e análises físicas no Mercado Sul, pode-se concluir a atual situação do ambiente edificado, desde suas fachadas até o seu comportamento térmico. Os edifícios que configuram o tecido do conjunto possuem uma unidade quanto sua tipologia, através de seus elementos arquitetônicos e desenho volumétrico, com um traçado regulador unitário que confere identidade na paisagem edificada de Taguatinga. A topografia onde se encontra inserido o conjunto garante um desnível, que molda as diferenças de altura das edificações, além de próprias alterações de gabarito feitas pelos moradores. As calçadas não garantem conforto para os usuários que frequentam o espaço e não possuem as dimensões conforme a NBR 9050. Toda a pavimentação do Mercado Sul apresenta rupturas e recalques, o que confere a falta de segurança do pedestre de pessoas com dificuldades de locomoção, tornando a circulação no espaço repleta de barreiras e desafios. As organizações internas das edificações variam de acordo com as necessidades de cada morador, medidas estas alteradas, através de improvisos no layout original das tipologias. Devida a grande incidência de sol durante o dia nas edificações, nenhuma garante o devido conforto térmico aos moradores e a materialidade ideal. Muitas esquadrias são inseridas de forma indevida nas edificações, sem preocupação como seu comportamento térmico e como elas influenciam na temperatura da edificação. O conjunto recebe uma grande quantidade de ventos leste, porem nenhuma edificação aproveita o potencial local de ventilação, pelas indevidas aberturas nas fachadas.

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Foto por Mercado Sul Vive


O que os moradores do Mercado Sul pensam?

A acessibilidade é criticada pelos moradores, pela falta de qualidade dos ambientes externos, como a pavimentação e as alturas das calçadas, que garantem riscos para as crianças e pessoas com dificuldades de locomoção. As maiorias dos moradores consideram péssima a situação de acessibilidade no Mercado Sul, identificando rampas e calçadas como elementos de insegurança no espaço externo.

51


Cada morador possui uma configuração familiar diferente, necessidades diversas e etc, entretanto cada moradia foi sendo adaptada de acordo com as novas demandas pessoais. Através de dados atingidos, os moradores de diferentes tipologias analisadas afirmam que os espaços suprem as necessidades cotidianas, e apenas uma minoria identifica problemas de organização interna nas edificações.

Cada edificação garante suas particularidades, porem existe uma falta de conforto térmico intrínseco em todas as unidades do conjunto, tornando o espaço habitável com baixa qualidade de permanecia. A falta de conforto térmico nas edificações foram uma das questões mais apontadas como problema no Mercado Sul, devido a grande incidência solar durante o dia. Uma parcela de 52% dos moradores afirma que o espaço não garante de conforto térmico e 60% não garante de uma boa luminosidade.

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Como foi indicado nos dados acima, o conjunto do Mercado Sul garante um grande potencial de recebimento de ventos leste. Muitos moradores reclamam da sensação abafada dos cômodos, devido a falta de amplas aberturas. Entre os vários problemas que impedem a entrada de ventilação, 50% dos moradores apontam que a falta de janelas é o fator principal. As estreitas dimensões das portas e janelas garantem 20%, segundo eles, dos problemas de ventilação.

A materialidade dos elementos arquitetônicos, segundo os moradores, é um dos causadores dos principais problemas da falta de desempenho térmico dos edifícios. A partir do questionário, uma proposta de cortinas e venezianas foi sugerida, entretanto 56% dos moradores não acreditam que a solução seja efetiva, e apenas 24% acredita que seria uma boa alternativa para reduzir a baixa qualidade térmica das edificações. Em relação ao calor interno do edifício, 48% dos entrevistados analisaram como desconfortáveis, dentre os períodos do dia, 96% responderam que o período da tarde é o mais quente e, por fim, 58% disseram que a ventilação provinda de portas e janelas é suficiente para ventilar os ambientes. Mostrando assim que o calor é proveniente da falta de sombra, dos valores térmicos provindos de cada material e não da falta de ventilação natural. Logo, para a melhoria do mesmo, a abertura de portas e janelas não é a solução, e sim o uso de proteção solares, sombreamento e mudança dos materiais da janela e cobertura. Em outra questão, 38,5% dos 41,9% que responderam que a abertura de portas e janelas não é suficiente para ventilar os ambientes, alegaram que isso se deve à falta de janelas. Para isso, é necessário um estudo de orientação dos ventos, para que as aberturas sejam estratégicas e contribuam para o fluxo das correntes quentes e frias.

O que podemos concluir? Existe uma necessidade de alterações no ambiente já edificado, na tentativa de adaptações que garantam acessibilidade universal e bom desempenho térmico dos edifícios. Apesar da baixa qualidade física arquitetônica, elas conferem identidade ao lugar, através de sua paleta de cores e intervenções feitas pelos próprios moradores, o que garante autenticidade perante as demais edificações que circundam o conjunto do Mercado Sul. Seria viável uma assistência técnica capaz de identificar os problemas mais críticos e propor soluções práticas e sustentáveis, que dialogasse com os princípios da ocupação. As calçadas devem ser adaptadas para todos os tipos de usuários, através da sua devida nivelação, assim como a pavimentação externa. Substituir as esquadrias antigas por novas, com devidas vedações e materialidade que não absorvesse tanto calor. Utilizações de brises nas fachadas iriam garantir o conforto necessário às edificações durante o dia e aberturas estratégicas nas fachadas garantiriam a permeabilidade visual e entrada de ventilação.

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Foto por Mercado Sul Vive


estrutura Esse capítulo analisou o complexo de edificações que compõem o Mercado Sul com a finalidade de se realizar um levantamento capaz de apresentar as condições em que se encontra a estrutura do local e de que maneira isso pode interferir na vida dos moradores. A análise de patologias e do estado de conservação das diferentes tipologias que integram aquele espaço (moradias, lotes desocupados, comércios, espaços públicos) foram feitas por meio de um levantamento fotográfico que apresenta as nítidas condições de deterioração da estrutura, principalmente, no exterior das edificações. Após o primeiro levantamento, foram apresentadas algumas teses que discorrem melhor sobre alguns tópicos da construção civil e as implicações da falta de manutenção como mofos, manchas, alvenaria estrutural, marquises, calhas, telhados, etc. A análise do estado de conservação das edificações do Mercado Sul foi organizado para ser desenvolvido em cinco etapas. A primeira foi a elaboração de um cronograma que organiza alguns passos a serem seguidos e a segunda se trata do levantamento de dados. A terceira etapa está atrelada à análise da situação atual, seguida da elaboração de propostas para trabalhos futuros bem como a definição dos objetivos a serem atingidos, e, por fim, a realização de possíveis planos e estratégias que resultem em soluções para alguns problemas observados no Mercado sul.

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Qual o contexto do Mercado Sul? As primeiras visitas ao espaço visavam uma análise não apenas do ponto de vista técnico, mas a partir de diferentes perspectivas, o que ocasionou uma aproximação com a comunidade e gerou, posteriormente, um melhor entendimento do espaço e do seu contexto. Após uma série de visitas e rodas de conversa propostas pelo público local, começou-se a tomar uma maior dimensão acerca do cotidiano dos moradores e de como os trabalhos funcionavam no mercado sul. Após a análise, foi dado início ao levantamento e por meio de fotos e anotações foi possível organizar os lotes em um esquema unificado que facilitavam a orientação para realizar o levantamento, conhecido como batalha naval do beco. A partir dessa coleta de dados, foi diagnosticada cada patologia estudada nos lotes tendo como base o roteiro de inspeção predial.Para a melhor avaliação dos levantamentos e para maior compreensão da atual situação do local, o grupo, juntamente com os professores, organizou uma lista de termos relevantes na avaliação das patologias mais evidentes no Mercado Sul.

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Trinca

Estado em que um determinado objeto ou parte dele se apresenta partido, separado em partes. Exemplo: a parede está trincada, isto é, está separada em duas partes.

Rachadura

Estado em que um determinado objeto ou parte dele apresenta uma abertura de tal tamanho que ocasiona interferências indesejáveis.

Deterioração

Estado alterado para pior; danificação, decomposição, estrago.

Calha

Cano aberto na parte superior para escoar águas pluviais que caem do telhado; calheira.

Mancha

São depósitos normalmente brancos que se formam sobre a superfície do concreto, argamassas, tijolos, pedras e outros materiais porosos, que alteram a estética dos acabamentos.

Infiltração

Ação de fluido que se insinua ou penetra nos interstícios de corpos sólidos.

Marquise

Cobertura em balanço.

Inspeção Predia

Conjunto de exames visuais para verificar a capacidade funcional da edificação.

Deformações

Qualquer mudança da configuração geométrica do corpo que leve a uma variação da sua forma ou das suas dimensões após a aplicação de uma ação externa. Desgaste gradual de um corpo qualquer que sofre transformação química e/ ou física, proveniente de uma interação com o meio ambiente.

Corrosão

Revestimento

Ação ou efeito de revestir, para proteger e/ou dar acabamento.

Tabela 3 – Conceitos das patologias.

O levantamento foi baseado no roteiro da inspeção predial e os elementos que compõem esse tópico são: Marquises, telhado/calha, rachadura, fungos e manchas, infiltrações, instalações elétricas, esquadrias e revestimentos. Apenas 31,8 % dos lotes do bloco A apresentam marquises do projeto original, sendo que grande parte delas encontram-se em uma situação bastante preocupante. A deterioração, a infiltração e a deformação dessas coberturas são patologias capazes de colocar em risco a saúde e a segurança das pessoas que freqüentam aquele espaço, pois, a qualquer momento, podem vir a desabar. A ausência de marquises em alguns locais condiciona os moradores a tentarem improvisar esse elemento construtivo de algumas formas, como por exemplo, aplicando tendas e coberturas metálicas, fator que pode não corresponder a melhor alternativa por não visar um conforto térmico eficiente. Em pontos específicos do Mercado Sul, é possível visualizar calhas expostas e que direcionam as águas decorrentes da chuva para destinos não tão adequados e que não visam o reaproveitamento. Em diversos locais das edificações é nítida a presença de manchas e fungos ocasionados pela umidade trazida pela chuva, mas que pode também ser decorrente da capilaridade ou vazamento em redes hidráulicas. Esses problemas são observados em 59% dos lotes do bloco A. As rachaduras e as fissuras existentes na estrutura intensificam os processos de infiltra-


ção (presentes em 36.3% dos lotes do bloco A) que, posteriormente, dão origem às manchas e aos mofos, patologias com poder de gerar complicações à saúde dos moradores. Outro aspecto presente em algumas edificações é a instalação elétrica exposta e problemas similares que prejudicam 18,1% dos lotes do bloco A. Os fios que fazem parte das instalações deveriam estar protegidos a fim de evitar acidentes como choques elétricos, incêndios, etc, principalmente, em um local específico onde os fios estão expostos ao contato com a chuva e sem proteção adequada. Em diversas partes do Mercado Sul, as esquadrias que integram as edificações encontram-se desgastadas e enferrujadas, especialmente pelo fato de serem constituídas por materiais suscetíveis a oxidação e estarem em contato direto com a água das chuva. Além desse fator, observa-se, ainda, que as aberturas destinadas à aplicação das janelas apresentam deterioração, falta de acabamento, e até preenchimento, de forma a dar origem a uma fachada cega.

O que os moradores do Mercado Sul pensam? Existe alguma situação de risco no seu imóvel?

SIM 36%

NÃO 64%

O infográfico mostra que a maioria dos entrevistados não considera que o imóvel em que habita/frequenta oferece algum tipo de risco do ponto de vista estrutural, possivelmente, por observarem algumas anomalias das edificações como um problema simples e que não causaria risco à vida e à saúde dos moradores.

Qual situação de risco você observa no imóvel?

Corrosão das ferragens 12%

Afundamento do piso 12%

Trincas 17%

Falta de reboco Perigo de desabamento Telhado antigo Rachaduras Má qualidade da construção Paredes enfraquecidas

Deformação da marquise 6%

Calhas

Outros 53%

Instalações elétricas expostas Encanações de ferro expostas Tubulação de cobre antiga (contaminação)

A leitura do gráfico permite concluir que, dos problemas apontados pelos moradores, a maioria é resultado de um processo de desgaste que a estrutura dos boxes sofreu ao longo do tempo, principalmente, por serem edificações antigas e sem um processo de manutenção frequente.

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Existem problemas de umidade no seu imóvel?

SIM (52%) NÃO (44%) DADO PERDIDO (4%)

Quais problemas de umidade você observa no imóvel?

Goteira 25%

Mofo 17%

Infiltração 20%

Vazamento pela calha e problemas relacionados

Inundação 8%

Vazamento 22%

Outros 8%

Entupimento de rede de água

A maioria dos entrevistados reconhece problemas de umidade no local em que habita, uma situação que merece atenção pois essas formas de patologia estão diretamente ligadas à proliferação de fungos e bactérias bem como a intensificação de doenças do sistema respiratório.

Você utiliza a marquise?

SIM 16%

NÃO 80%

NS/NR 4%

A maioria dos entrevistados não utiliza a marquise da sua moradia, uma realidade que se explica, principalmente, pelo fato de que muitas coberturas analisadas apresentam problemas de deformidades e patologias estruturais, oferecendo, dessa forma, risco de desabamento.

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Se você pudesse reformar sua casa, o que gostaria de modificar ou construir?

-"Só uma reforma". -"Gostaria de construir um apartamento, existe espaço para reconstruir". -"Não pode mexer, não sei". -"Pintura, pisos, aumentar". -"Colocaria uma laje para mais um pavimento, faria para moradia própria". -"Acabei de reformar". -"Botar piso, trocar as portas, botar uma janela alta, trocar o teto que está caindo". -"Só o piso mesmo". -"Construir um segundo andar com escada externa, com marquise, com banheiro em cima e embaixo". -"As portas e janelas, entradas e telhados". -"Aumentaria o pé direito, construiria mais um pavimento e forro". -"Reboco e pintura, muito antigo". -"Fecharia o andar do mezanino inteiro para atender ao quarto". -"Aumentar a casa, fazer segundo e terceiro andar". -"Para reformar, teria que passar o trator em tudo". -"Melhorar acabamento e adicionar pavimentos". -"Arrumar piso e parede, fazer um sobrado" -"Fazer mais um pavimento - cobertura de lazer (uso próprio)". -" Construiria mais pavimentos para alugar". -"Fazer um jardim, melhorar o banheiro público e acrescentar um pavimento". -"Ampliação vertical" -"Reformar a marquise, fazer jardim em cima. Falta pintar o beco inteiro, reestruturar o beco todo".

Conclui-se que, quando questionados acerca de possíveis intervenções a serem feitas nas edificações do mercado sul, a grande maioria dos entrevistados demonstra interesse em ter seu imóvel reformado ou modificado, um dado que explicita ainda mais a realidade referente às condições de conservação da estrutura das edificações.

O que podemos concluir? A partir dos dados retirados do questionário e do levantamento fotográfico, é possível perceber a situação em que se encontra o Mercado Sul, principalmente no que se referem às patologias, anomalias, problemas estruturais e outros diversos aspectos que interferem na qualidade de vida da comunidade que faz parte daquele local. Problemas como infiltração, mofo, instalações, fissuras, ferragens expostas, esquadrias enferrujadas, entre outros, estão presentes de forma abrangente nas construções do Mercado Sul. As próximas etapas do projeto realizado pelo CASAS no Mercado Sul visam criar propostas para solucionar os nítidos problemas presentes naquele local, pois, mesmo sendo complicações de caráter estrutural são capazes de interferir diretamente na forma como vivem as pessoas que ali frequentam.

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Foto por Mídia Ninja


padrões O processo de projeto foi construído a partir de demandas reais das comunidades, passando pela análise do problema (identidade local, padrões espaciais e de acontecimentos e princípios de sustentabilidade), sistematização de padrões para estabelecer uma linguagem com a comunidade, aumentando a sua participação no processo, na forma de códigos geradores, baseados em Alexander et al (1977) e em Andrade (2014), e, por fim, proposta de soluções a partir dos padrões identificados e selecionados. De acordo com Alexander et al (1977) cada solução proposta em cada padrão é escrita no formato de instrução, contendo um caráter abstrato. A partir daí, cabe a cada um interpretar da melhor forma, adaptando suas preferências às condições e ao local do projeto. Por esta razão, as soluções não são impositivas, contêm apenas o essencial, a variável comum para a maioria dos lugares em busca do sucesso da solução do problema, o que permite ser utilizado como método de processo de projeto que incluiu o sujeito idealizador e o sujeito recebedor daquela solução.

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA SUSTENTABILIDADE SOCIAL SUSTENTABILIDADE CULTURAL E EMOCIONAL

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SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL PROBLEMA/ CONTEXTO

RECOMENDAÇÕES

Na situação atual, percebe-se que internamente aos boxes há muito acumulo de calor. Uma possível solução seria a utilização de ventilação cruzada.

Faça aberturas nas paredes entre boxes não conjugados para que haja ventilação cruzada no edifício.

NOME/ ILUSTRAÇÕES VENTILAÇÃO CRUZADA ENTRE BLOCOS

USO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS

O sistema de produção atual tem gerado quantidades exorbitantes de resíduos, e a dificuldade em dar destino adequado a toda essa produção tem gerado grandes impactos ao Planeta. Dessa forma, a reciclagem torna-se uma ótima alternativa.

Faça a reciclagem de resíduos produzidos pelos moradores.

JARDIM DE CHUVA

A utilização de jardins de chuva minimiza os problemas de drenagens presentes em áreas adensadas.

Construa jardins de chuva nas esquinas do Beco.

TELHA DE AMIANTO

O amianto é um material tóxico, a utilização de telhas de amianto contamina a água da chuva que corre por elas e vai em direção as calhas, além intoxicar as pessoas pela respiração e/ ou ingestão do material da telha que se desfaz com tempo, já que o teto não apresenta forro.

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Não utilize telha de amianto.


NOME/ ILUSTRAÇÕES

PROBLEMA/ CONTEXTO

RECOMENDAÇÕES

CIRCULAÇÃO DE AR

O interior das edificações não possui um conforto térmico satisfatório.

Crie SHEDs que permitam ativar a circulação cruzada e aproveitar a iluminação natural.

VEGETAÇÃO NA MARQUISE, COMO PROTEÇÃO SOLAR

O uso de elementos verdes nas fachadas gera agradabilidade visual e melhoram o conforto térmico interno das edificações.

COLETA DE ÁGUA DA CHUVA

Utilize elementos verdes nas fachadas.

A coleta de água da chuva minimiza problemas de drenagem existentes dentro de centros urbanos, além de se transformar em benefício para o usuário que reduz gastos na conta de água.

Instale calhas que farão a coleta da água da chuva e direcione a reservatórios para que seja adequadamente usada.

A horta permite a auto-sustentabilidade da comunidade, permitindo o cultivo de verduras e legumes: uma alimentação saudável.

Perpetue mais pontos de horta comunitária ao redor do Mercado.

HORTA URBANA

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SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL PROBLEMA/ CONTEXTO O Mercado Sul realiza atividades que acontecem ao livre, mais especificamente, entre as edificações, e por isso a incidência solar bem como as chuvas pode interferir na qualidade das atividades e no conforto do ambiente.

RECOMENDAÇÕES

NOME/ ILUSTRAÇÕES COBERTURA PARA OS ESPAÇOS COLETIVOS

Utilize estruturas que sirvam como coberturas que possam ser manipuladas de acordo com a necessidade das atividades.

BANHEIRO SECO

A construção de banheiros seco é uma boa alternativa para a utilização por visitantes e em grandes eventos.

Construa banheiros públicos que não demandem de infraestrutura pública. O banheiro seco não utiliza água, sendo os dejetos compostados junto com matéria orgânica seca

BANHEIROS PÚBLICOS

A adequação de boxes ociosos para uso como banheiros públicos é uma solução interessante para o uso em dias de grandes eventos e para visitantes do Mercado Sul.

Adeque boxes ociosos para uso como banheiros públicos.

PAVIMENTAÇÃO PERMEÁVEL

A pavimentação externa não garante a infiltração da água pelo uso excessivo do asfalto impermeável.

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Utilize uma pavimentação constituída de peças permeáveis drenantes de concreto poroso.


NOME/ ILUSTRAÇÕES

PROBLEMA/ CONTEXTO

RECOMENDAÇÕES

Utilizar nas coberturas matérias de lona e/ou com cores escuras faz com que o espaço coberto por este se torne ainda mais quente.

Substitua coberturas de lona por materiais mais adequados e cores escuras por claras, pois estas refletem a luz contribuindo para uma melhor conforto térmico.

COBERTURAS DAS MARQUISES

ILUMINAÇÃO NATURAL

O uso de iluminação natural Dimensione adequadamente internamente às edificações ga- as aberturas e/ou instale clarrante salubridade e economia aboias nas edificações. com gastos de energia elétrica.

POSTO DE COLETA E RECICLAGEM

Instalar postos de coleta e reciclagem são formas de facilitar e incentivar sistemas de reciclagem.

Mantenha sempre dispostos pontos de coleta e reciclagem acessíveis aos moradores.

As disposições das árvores em pontos estratégicos garantem através do sombreamento uma melhor eficiência em ventilação e temperatura.

Definir pontos para plantações de árvores, principalmente em áreas de maior permanência coletiva.

ÁRVORES PARA SOMBREAMENTO

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SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL PROBLEMA/ CONTEXTO A cisterna é uma boa alternativa para a armazenagem de água.

RECOMENDAÇÕES

NOME/ ILUSTRAÇÕES CISTERNA PARA RESERVA DA ÁGUA DA CHUVA

Construa um reservatório de água, que recolha a água da calha central e auxilie na reutilização de água da chuva.

ÁRVORES FRUTÍFERAS

Estimulam o convívio entre moradores nas ruas, para a poda e colheita, além de fornecerem frutas e sombra para a comunidade, propiciando um ambiente habitável por alguns animais.

Plantem pequenos pomares de árvores frutíferas, em jardins e terrenos comuns, ao longo de caminhos e ruas, sempre onde haja grupos bem estabelecidos e capazes de cuidá-los e de coletar as frutas.

LIXEIRAS

O descarte inadequado de resíduos sólidos gera inúmeros problemas as cidades e a natureza, como poluição de rios, lagos e mares, por contaminação de toxinas, interferindo na fauna e flora. Por isso, instalar lixeiras incentiva a coleta e descarte adequados do lixo.

Instale lixeiras em pontos estratégicos.

MOBILIÁRIO URBANO

Mobiliário urbano é uma solução para reunir pessoas nas ruas e praças e, com isso, fortalecer as relações de comunidade.

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Instale bancos em pontos atrativos a comunidade.


NOME/ ILUSTRAÇÕES ILUMINAÇÃO PÚBLICA

SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA PROBLEMA/ CONTEXTO

RECOMENDAÇÕES

A iluminação dos espaços públicos transmite a sensação de segurança aos moradores que circulam nesses espaços durante a noite.

Instale sistemas alternativos de iluminação pública.

A manutenção de edifícios conectados é importante para evitar a existência de espaços ociosos.

Mantenha os edifícios conectados.

O uso da calçada como um espaço de permanência e não só como um espaço de transição e fluxo.

Estimular as relações entre os moradores através de mobiliários práticos e flexíveis em conexão com as calçadas.

Intercalar habitação com outros usos ajuda na manutenção da vitalidade dos espaços.

Sempre mantenha a habitação intercalada a usos comerciais.

EDIFÍCIOS CONECTADOS

MOBILIÁRIO EXTENSOR DE CALÇADA

HABITAÇÃO INTERCALADA COM OUTROS USOS

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SUSTENTABILIDADE SOCIAL PROBLEMA/ CONTEXTO Grandes praças que não são devidamente usadas de nada contribuem para o processo de vitalidade das cidades. Além disso, espaços densos transmitem sensação de segurança.

RECOMENDAÇÕES

NOME/ ILUSTRAÇÕES DENSIDADES DE PEDESTRES

Entre os blocos percebe-se densidade de pedestres, entretanto em seus arredores parece-se pouco movimento. Criar uma praça, que sirva de ponto de atração para a comunidade do Mercado e a do arredor, promoveria um fluxo constante. PASSARELAS ENTRE BLOCOS

A circulação entre um bloco e Crie passarelas entre os blocos outro só pode ser feita pelas para que a circulação entre os extremidades do conjunto. blocos seja mais ativa e diversificada.

VIDA NOTURNA

A promoção de atividade noturnas garante vitalidade e segurança a rua.

Mantenha atividades noturnas periodicamente.

PORTÃO RETRÁTIL

Os blocos que compõem o Mercado Sul não possuem permeabilidade entre eles e o acesso de uma rua para outra só pode ser feito fazendo um caminho nada prático.

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Use portões basculantes como uma ferramenta que garante não só permeabilidade física (comércios vazados) como também permeabilidade visual.


NOME/ ILUSTRAÇÕES

PROBLEMA/ CONTEXTO

RECOMENDAÇÕES

As calçadas que compõem os blocos do Mercado Sul apresentam muitos desníveis, o que reflete, de forma direta, na locomoção dos pedestres e na acessibilidade.

Construa rampas ao longo das calçadas e promova, assim, uma circulação mais eficiente e acessível.

Inibir a passagem de carros e transformar ruas em ruas para pedestres garante interação social e desenvolve relação de comunidade entre as pessoas que frequentam esse espaço.

Adeque ruas normais em ruas de pedestre inibindo a passagem de carros ou mesmo sinalizando a rua pintando-a.

RAMPAS

RUAS DE PEDESTRES

ESTACIONAMENTO DE BICICLETAS

O estímulo a transportes alternativos é muito importante no processo de crescimento das cidades, pois o uso excessivo de carros é responsável por inúmeros problemas, como poluição, congestionamentos e entre outros.

Disponibilizar bicicletários nos arredores do Mercado Sul estimulará o uso desse transporte alternativo por moradores e visitantes.

CIRCULAÇÃO ENTRE BLOCOS

A conexão entre os boxes do mercado sul não apresenta praticidade.

Realize aberturas nas lojas e nos boxes para que a permeabilidade entre os blocos seja garantida.

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SUSTENTABILIDADE SOCIAL PROBLEMA/ CONTEXTO Criar pontos de encontro dá oportunidade para que as pessoas possam se divertir, ter acesso a atividades culturais e fortalecer as relações de comunidade. Por esse motivo, é de grande importância a manutenção desses espaços.

RECOMENDAÇÕES

NOME/ ILUSTRAÇÕES PONTO DE ENCONTRO

Mantenha atividades frequentes nos espaços já destinados a eventos.

UTILIZAÇÃO DA MARQUISE COMO VARANDA

A utilização das marquises como varanda garantirá metragem extra aos boxes, além de possibilitar um espaço de descanso e lazer ao ar livre.

Caso verificada a viabilidade estrutural da marquise, utilize-a como varanda.

MOBILIÁRIO INTERNO

O interior das edificações do Mercado Sul apresenta uma disposição de mobiliário pouco flexível e pouco eficiente.

Utilize peças de mobiliário adequadas ao contexto e que visem uma circulação confortável. Uma idéia possível é a confecção de mobiliário com MDF.

MOBILIÁRIO EXTENSOR DE CALÇADA

O uso da calçada como um espaço de permanência e não só como um espaço de transição e fluxo.

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Estimular as relações entre os moradores através de mobiliários práticos e flexíveis em conexão com as calçadas.


NOME/ ILUSTRAÇÕES AMARELINHA

SUSTENTABILIDADE CULTURAL E EMOCIONAL PROBLEMA/ CONTEXTO

RECOMENDAÇÕES

Utilizar de elementos lúdicos dá mais oportunidades às crianças de vivenciar os espaços da cidade.

Desenhe amarelinhas nas ruas de pedestres e outros elementos lúdicos para as crianças.

A promoção de atividades nas ruas como a Ecofeira, garante vitalidade, lazer e relações a comunidade.

Manter e fortalecer as atividades da Ecofeira.

Atividades teatrais na rua dá mais oportunidades à comunidade de acesso à cultura e a vivenciar os espaços da cidade.

Construir um pequeno palco, de preferência com materiais móveis e reutilizáveis, como pallets, por exemplo.

Um espaço de discussões na comunidade promove união e organização para manter e melhorar os espaços do Mercado Sul.

Construir cadeiras de fácil mobilidade para realizar as rodas de conversa em qualquer local do Beco.

ECOFEIRA

TEATRO

RODAS DE CONVERSA

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SUSTENTABILIDADE CULTURAL E EMOCIONAL PROBLEMA/ CONTEXTO

RECOMENDAÇÕES

NOME/ ILUSTRAÇÕES OFICINAS

A realização de oficinas com os moradores, como de construção de brinquedos e de concerto de bicicletas, garante a sustentabilidade da comunidade

Criar um espaço com mesas e prateleiras para guardar ferramentas e outros acessórios para a realização das oficinas.

EVENTOS DE MÚSICA

Atividades musicais realizadas em espaços públicos dá mais oportunidades à comunidade de acesso à cultura e a vivenciar os espaços da cidade.

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Construir um pequeno palco móvel e colocar tomadas voltadas a rua, para poder ligar os equipamentos de som.


cenários

Com base em todo o levantamento situacional do Mercado Sul e na metodologia de Padrões foram desenvolvidos uma série de possíveis cenários para o espaço que podem contribuir para a ressignificação do espaço e melhoria da qualidade de vida dos que ali habitam.

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mapa de localização dos cenários

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