Bauru, 13 de abril de 2018
3º termo - Jornalismo/FAAC - Unesp
Dia Internacional da Síndrome de Down e o desafio em busca da igualdade Data tem o objetivo de trazer informação e inclusão das pessoas com a deficiência
Por Anne Hernandes e Letícia Alves
N
Reprodução/Roberto Ortega
o último dia 21 de março foi comemorado o Dia Internacional da Síndrome de Down. Desde 2006, ano em que foi reconhecido pela ONU, o dia objetiva dar visibilidade ao tema, diminuir o preconceito e estimular a inclusão de pessoas com a deficiência. A data faz referência à condição genética responsável por ocasionar a síndrome: a presença de três cromossomos no par 21, conhecida como trissomia do 21. Quem nasce com essa situação genética tem além das características físicas como olhos amendoados e cabelos mais finos, deficiência intelectual e propensão a doenças cardíacas e problemas respiratórios. De 1866 - ano em que o médico britânico Robert Langdon Down descobriu a síndrome de Down - até os dias de hoje, houve mudanças na vida de quem tem essa condição genética. Quando as pesquisas estavam em está- “É papel da sociedade proporcionar condições para que eles desenvolvam suas potencialidades”, defende Luci gios iniciais, os cientistas independentes dos anos 50, Jerome síndrome passaram a participar visual, além de promover uma veio com o objetivo de intensiLeJeune e Patricia Jacobs, no- do sistema educacional de forma educação especial e incentivar o ficar a divulgação e a conscienmearam a síndrome de “mongo- inclusiva. Hoje, com desenvolvi- apoio à inclusão escolar. tização. Luci afirma que “toda lismo”, termo que atualmente é mento acompanhado, elas ocucampanha sobre deficiência é considerado pejorativo. pam escolas regulares e cargos bem vinda, já que favorece a inNos anos 70, após revisões de específicos no mercado de trabasobre o tema em ques“EXISTEM PESSOAS formação termos científicos, a trissomia do lho. tão” e, em relação à data, com21 foi renomeada para Síndro- Em Bauru, a APAE (Associação DIFERENTES COM plementa que o “dia 21 de março me de Down, em homenagem ao de Pais e Amigos dos Excepciotambém contribui para isso, pois DIREITOS IGUAIS.” leva a sociedade a perceber que seu descobridor. Nessa década, nais) é um exemplo de instituimesmo vinte ção que traexistem pessoas diferentes com anos após a balha com a direitos iguais.” descoberta, a inclusão de Entretanto, apesar dos avanços condição gepessoas com Para Luci, o acompanhamento realizados ao longo do tempo, nética era tradeficiências fí- com a criança deficiente é es- ainda existem barreiras sociais tada de forma sicas, visuais e sencial pois “previne possíveis para as pessoas com Síndrome silenciosa e intelectuais. alterações no desenvolvimento de Down na sociedade. A gerenpessoas no Brasil possuem a rotina de Luci de Paula, global, por meio de orientações e te de saúde opina que a inserção Síndrome de Down quem a posgerente de saú- inserção de atividades de estimu- ainda não é satisfatória. suía era rea(Fonte: IBGE, Censo 2010) de responsável lação adequadas, dependendo da Para ela “‘inclusão’ significa falizada basicana instituição, fase do desenvolvimento em que zer parte de algo e a inclusão somente dentro conta que as se encontra”, conta. cial de pessoas com a síndrome de casa. áreas de atua- De acordo com dados do censo de Down significa pertencer à No fim do século XX, com o ção no local são amplas, e vão de de 2010 do IBGE, há cerca de sociedade, e usufruir dos direitos reconhecimento dos direitos assistência social à educação e 270 mil pessoas no Brasil com como cidadão, e este fato ainda fundamentais da criança e do saúde, realizando serviços como síndrome de Down e o dia In- não se deu com relação às pessoadolescente, as pessoas com a reabilitação física, intelectual e ternacional em sua homenagem as com deficiência”.
270 mil
Ciência e Saúde Diagramação: Rafaela Thimoteo
Jorn. Resp.: Liliane de Lucena Ito MTB: 40969
Brasil é pioneiro em inclusão nas faculdades O mesmo não pode ser dito sobre a educação fundamental
Por Fellipe Gualberto
F
oi aprovada em dezembro de 2016 a Lei que faz com que as faculdades e os institutos federais do Brasil incluam em seu programa de cotas pessoas com deficiência. Em 2017 o primeiro vestibular com essas cotas foi realizado e, em 2018, esses alunos chegaram à universidade. Vera Capellini é vice-diretora da Faculdade de Ciências na Unesp Bauru e tem pós-doutorado em educação inclusiva. Ea diz que, apesar de ainda ter várias críticas, o Brasil é muito avançado na questão das leis que possibilitawm a inclusão do deficiente no ensino superior. A pesquisadora diz que com a chegada desses alunos, as faculdades terão que se adaptar. “Vai um tempo ainda até que a gente aprenda e se modifique
para garantir a qualidade, mas no acesso, o Brasil é pioneiro e temos exemplos de faculdades que, por conta dos núcleos de acessibilidade, já tem formado professores capacitados”. Apesar da situação do ensino superior ser esperançosa para pessoas com síndrome de Down, o mesmo não acontece no ensino fundamental. Mariana Campos é graduada em pedagogia pela Unesp Bauru e diz que muitas vezes a inclusão se torna exclusão, já que uma professora não tem tempo para dar atenção especial para o aluno com síndrome de Down e para outros 30. Segundo Mariana: “quando alunos ‘normais’ apresentam dificuldades, através do lúdico tudo fica mais fácil e compreensível para ele. Com o aluno porta-
dor de síndrome de Down não que esse não é um caminho fáé nem um pouco diferente”. cil: “O professor não consegue se qualificar por falta de tempo e também de dinheiro, pois muitos trabalham em duas, três escolas, para conseguir um salário digno”. Segundo o IBGE, quando o assunto é síndrome de Down na universidade, existem apenas 40 estudantes dentre as 300 mil pessoas que têm essa síndrome no país. Vera Capellini diz que: “O vestibular é conteudista e funciona de uma única forma, ele acaba excluindo não só pessoas com síndrome de Down”. Vera finaliza pontuando que pesExposição do TCC de Mariana soas com síndrome de Down têm Reprodução/Arquivo Pessoal um atraso cognitivo, mas que isso não significa de maneira alguma Ela acrescenta que a principal incapacidade, ao contrário da área que o Brasil deve avançar é crença popular que atinge até meso preparo dos profissionais, mas mo professores de universidades.
Inserção de deficientes no mercado de trabalho Empresas contratam pessoas com síndrome de Down e percebem melhora no ambiente
Por Caroline Doms
A
s pessoas com síndrome de Down têm desenvolvido cada vez mais atividades que antes eram consideradas exclusivas de “pessoas normais”. Elas estudam, se divertem e trabalham. A inserção no mercado de trabalho as estimula a desenvolver habilidades que antes eram limitadas, proporciona a interação com outras pessoas e marca a transição da fase infanto-juvenil para a fase adulta. Desde 1991, as empresas brasileiras contratam funcionários com diferentes tipos de deficiência. A Lei 8213/91, conhecida como Lei de Cotas para Deficientes, exige que as instituições com mais de 100 funcionários contratem no mínimo 2% de pessoas com deficiência. O professor doutor em Legisla-
ção, Carlo José Napolitano, conta que a lei não especifica qual tipo de deficiência o funcionário pode ter para ser contratado. “A deficiência pode ser mental, intelectual, física ou motora”. As empresas que não cumprem a Lei de Cotas para Deficientes pagam uma multa sem valor fixo. Várias empresas contratam funcionários com síndrome de Down. A rede de supermercados Pão de Açúcar, por exemplo, é uma das instituições que possui um “Departamento da Diversidade”. É nele que acontece a contratação de pessoas com vários tipos de deficiência, incluindo essa síndrome. O gestor de uma das lojas da rede em Campinas, Ariosto Pereira, conta que esses funcionários recebem o mesmo salário que os demais da empre-
sas e também podem ser promovidos à outras funções. Para a adaptação dos funcionários com síndrome de Down no ambiente de trabalho, o supermercado chama a mãe, ou o familiar mais próximo, para trabalhar por um dia com o deficiente. Ariosto também aponta que a presença de um funcionário com síndrome de Down faz o ambiente de trabalho ficar mais humanizado. “Muitas empresas contratam psicólogos para tentar acalmar o ambiente de trabalho, mas a presença de uma pessoa com alguma deficiência, faz com que os outros funcionários desenvolvam mais paciência”, acrescenta. A área da empresa em que o funcionário vai trabalhar varia de acordo com as suas individualidades. Ariosto menciona que há um funcioná-
rio com síndrome de Down na loja em Campinas que prefere desenvolver atividades sozinho. Por conta disso, ele repõe as frutas e legumes. O gestor diz que “é bom para o desenvolvimento dele, pois separa os alimentos sistematicamente por cor e, enquanto não acaba a atividade a que foi designado, não para nem para conversar”. As funções executadas pelos funcionários com a síndrome devem ser simples e ajudar no seu desenvolvimento físico ou mental. Em geral, elas trabalham empacotando ou repondo mercadorias. Ariosto diz que os clientes muitas vezes são rudes quando não percebem a deficiência, mas que pedem desculpas, se adaptam e passam a tratá-lo melhor depois de notar a presença da síndrome.