Jornal do Comércio - Jornal da Lei 28/08/2018

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Porto Alegre, terça-feira, 28 de agosto de 2018 - Nº 47 - Ano 21

Um debate mais que necessário Mergulhado em uma crise de violência, o Brasil precisa se afastar das certezas ideológicas e abrir caminhos para novas ideias em busca da pacificação

A

violência sempre esteve presente na história do Brasil. Desde a chegada dos conquistadores portugueses, passando pela Colônia e pelo Império, e chegando até a República, principalmente a partir da década de 1940, com a industrialização da Era Vargas e a consequente migração em massa da população do campo para as cidades. O crescimento populacional veio acompanhado pelo aumento das desigualdades sociais, e esse prato da balança não foi equilibrado, do outro lado, por políticas públicas de habitação, emprego, urbanização, educação, saúde e renda. Hoje, falar em Brasil é falar em violência. Os números provam isso. A violência e o Brasil caminham juntos, com aquela apertando com força a mão deste. Essa dependência acabou por gerar um cenário de abuso permanente. Enquanto o Brasil se esconde, busca proteção atrás de muros, grades, cercas elétricas e câmeras de monitoramento; a violência, por sua vez, toma as ruas, desfila sem preocupações, exibe seu poder, intimida a todos. Um país inteiro refém do medo. Medo de ser assaltado, de ter o carro roubado, de ser vítima de sequestro, medo de ser agredido, de ser estuprada, de ser assassinado. Um país com medo dos bandidos – e também da polícia. Se é fato que o Brasil e a violência são velhos conhecidos, nunca se perderam de vista, se conhecem profundamente, não é menos verdade que esse envolvimento pode ser, ao menos, enfraquecido. Já passou da hora de, seriamente, se discutir a relação. Um velho e conhecido ditado popular diz que não existem soluções simples para problemas complexos. No caso da violência brasileira, não há receita pronta. O que é sabido, no entanto, é que o modelo atual, de desequilíbrio penal, com dogmas tradicionais se sobrepondo aos fatos, e v isões de mundo turvadas em razão de posições ideológicas, fracassou.

Não é inteligente persistir em algo que não está dando certo por receio de que a mudança irá piorar o quadro. A ciência ensina muito a respeito disso. O método científico não se apega ao erro, mas não foge dele. Ao contrário, faz do erro um trampolim para o acerto. É preciso testar. Se der errado, corrija-se e teste-se de novo. Um dos pais da psicanálise, o austríaco Carl Jung (1875-1961), em sua genialidade, resume bem isso. “Queremos ter certezas, e não dúvidas; resultados, e não experiências; mas nem mesmo percebemos que as certezas só podem surgir através das dúvidas; e os resultados, somente através das experiências.” O Brasil precisa fomentar a dúvida, estimular o contraponto, valorizar a troca de ideias, se ver livre das amarras que as certezas trazem de arresto. O que fazer, então? Qual caminho tomar? Quem decide o que deverá ser feito? Quando deverá ser feito? Onde? Como? As perguntas estão todas aí. Não há momento melhor para se proporem projetos, se apresentarem ideias, se defenderem mudanças do que o atual, pré-eleições presidenciais. É por meio do debate aberto, sem preconceitos, que os pensamentos evoluem. As soluções têm de partir da sociedade. É ela que tem de apontar o rumo.


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