CASA GUARAREMA TERRA + TUMA
Caroline A. Manolio 10313936 Isadora Rodegheri Trevisan 10370423 Matheus de Sousa Santos 10370419
Trabalho de conclusão da disciplina AUH0125 - Arquitetos e Críticas ministrada pela profa. dra. Mônica Junqueira de Camargo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
1° semestre de 2020
JUSTIFICATIVA O tema do trabalho em questão surgiu da inquietação em se pesquisar as obras dos novos nomes da arquitetura brasileira: escritórios formados por jovens arquitetos, com atividade recente, mas com uma produção e proposições características, assim como reconhecimento acadêmico e comercial. Em meio à pesquisa de escritórios que despontaram no cenário atual da arquitetura paulista, encontramos o Terra + Tuma, formado em 2006, com certo reconhecimento e uma série de premiações. A obra ‘Casa Guararema’ nos interessou pela aplicação de uma técnica aparentemente inovadora no cenário atual: o uso da terra compactada. Decidimos investigar a obra a partir da ótica da aplicação dessa técnica, suas simbologias e significados, limitações técnicas, seu diálogo com outros projetos do escritório e sua expressão na obra de outros arquitetos.
localização
Guararema, região metropolitana
data de construção
2020 - em construção
autores
Danilo Terra, Fernanda Sakano, Juliana Terra e Pedro Tuma
área
61 m²
programa
dois quartos banheiro cozinha sala
estrutura
terra compactada
CONTEXTO O município de Guararema localizado na região metropolitana de São Paulo é o lugar que ampara e dá nome a esta pequena obra, a qual vem sendo construída em um sítio nos arredores da região urbanizada da cidade. O próprio trajeto pelo qual se transita para chegar a esta espécie de pavilhão configurado como casa, muito indica as condições como esta se apresentou, austera e monumental. Contudo só é possível compreender a adjetivação desta obra por estes termos uma vez que, se tenha em mente todo trajeto experimentado durante os 15 minutos que precederam a primeira vista desta casa. Conforme nos afastamos da entrada da cidade e seguimos em direção a obra, a primeira imagem que marcou foi uma atmosfera temporal completamente díspar daquela a qual habitualmente convivemos, a agitada e incessante dinâmica da capital paulista. Em Guararema o tempo parecia não correr sob as mesmas lógicas, as ruas estavam vazias e silenciosas, e a parada em frente a praça da Igreja Nossa Sra. da Escada, uma construção secular e coincidentemente construída em taipa-de-pilão, parecia invocar uma época que para nós, aos 20 e tantos anos, só era conhecida através de relatos de nossos avós e pais. O restante do trajeto no qual passamos pelo Rio Paraíba do Sul para então sair da estrada asfaltada e passar a caminhar sobre um percurso turbulento e fechado pela mata,
preparavam os olhos e as emoções para desembocar em uma clareira onde a pequena casa parecia marcar solenemente o cume do terreno. Assim, ao chegar cada vez mais perto da obra por uma “rua” que a circundava aparentemente em um desenho orientado pela topografia e definitivamente não ortogonal, parecia uma espécie de encerramento dramático do percurso onde era possível vislumbrar sem impedimentos duas faces em perspectiva da casa a pelo menos 50 metros de distância. Dizemos que somente por esta perspectiva é possível a austeridade e monumentalidade da obra, pois este pequeno canteiro de obras ali presente era uma das poucas informações da presença humana, aparentava ser um obra que, posteriormente confirmado pela conversa com o construtor, “desbravava” a ocupação daquele terreno. Austera, portanto, por ter um traço completamente ortogonal e de acabamento refinado, uma característica que pouco remonta à rusticidade daquela paisagem. Um desenho que foi importado para ali. E monumental uma vez que, focaliza toda a atenção e protagonismo deste sítio, uma obra que se eleva e centraliza para marcar e instaurar uma nova dinâmica que irá reformular todos os preceitos deste território.
PROGRAMA A casa de Guararema, por motivos lógicos, constitui os preceitos básicos do que se estrutura como uma casa. No entanto, a partir de conversas com os arquitetos do escritório, o ato de se referirem a casa como um pequeno pavilhão nos atentou quanto à constituição programática da casa. Assim, esta curiosidade se validou quando Pedro Tuma revelou um preceito que estava presente em seu repertório, a tipologia “Culata Yovai”. Neste relato, Tuma revela por meio da tese de doutorado do professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) Antonio Carlos Barossi o conceito deste tipo de construção como dois blocos afastados entre si e unidos por uma cobertura única. Desta forma há a criação de um espaço vazio central.
croquis do arquiteto paraguaio José Cubilla
Essa organização espacial denominada “Culata Yovai” ou “Vivienda de Cuartos Enfrentados” me foi descrita então como uma construção com dois blocos fechados contrapostos, com um espaço entre eles coberto e vazado. As áreas fechadas podem abrigar tanto os quartos como uma sala, um depósito ou, nas configurações mais recentes, a cozinha. O espaço central tem uma utilização variada e flexível, tanto para o trabalho como para o estar, sendo local de encontro e passagem, constituindo-se numa transição quer entre um “quarto” e outro, quer entre um lado e o outro das áreas externas. O sistema construtivo remeteria às ocas indígenas, com seus esteios centrais sustentando um tronco na cumeeira, onde se apoia o encaibramento em duas águas e balizando o espaço central. (BAROSSI, 2005, pág. 3)
Tendo este relato somado a análise dos desenhos do projeto da casa Guararema é possível claramente entender a forma com que estes arquitetos se valeram desta organização espacial de uma arquitetura vernacular sul-americana para organizar e articular este programa. Desta forma, os quartos e banheiro são colocados nos “blocos laterais” e o “vazio” central recebe a cozinha e o que se pode considerar uma sala. E ainda, a partir disto se pode compreender esta obra como o conjunto mínimo de funcionalidades nas quais uma casa tradicional se constitui: quarto, banheiro, sala e cozinha.
ESTRUTURA A construção estrutural desta residência se deu de forma completamente aliada à elaboração dos limites da casa, da sua vedação, ou seja, a utilização da terra compactada na construção permite que esta residência funcione de maneira autoportante. Assim, a técnica se assemelha ao funcionamento da alvenaria estrutural, em que o sistema tradicional viga-pilar não é necessário. Contudo, a única ressalva para este projeto é a utilização da ancoragem da cobertura no radier construído para sustentar a obra. Pois, devido às cargas naturais de vento que tendem a impulsionar a cobertura para cima, a técnica de terra compactada não é capaz de suportar este tipo de esforço. Portanto, é através de tirantes toda a estrutura metálica na qual será feito o fechamento superior foi presa ao embasamento de concreto.
MATERIAL Como visto, esta obra foi construída valendo-se da técnica de terra-compactada, uma alternativa contemporânea a taipa-de-pilão, um dos métodos citados pelos arquitetos como referência em conversa sobre a casa. Porém, é importante já frisar a diferença entre a técnica utilizada na construção desta casa (terra-compactada) da técnica taipa-de-pilão, pois ambas, apesar de apresentarem grande semelhanças visuais quando finalizadas, passam por processos de execução e constituição física bastante diferentes, o que consequentemente torna seus funcionamentos físico e químico bastante díspares. Desta forma, evita-se confusão entre os termos ao longo deste trabalho, visto que, por vezes houve o equívoco por parte dos veículos de comunicação em chamar esta técnica contemporânea de taipa-de-pilão, uma técnica que remonta a condições e contextos completamente diferentes as quais estas novas obras foram desenvolvidas. Uma materialidade que mesmo aparentando um ponto de inflexão dentro do repertório do escritório Terra + Tuma usufrui das mesmas bases de diálogo dos arquitetos quanto à escolha dos materiais, pois ao optar pelo uso da terra compactada nesta obra foram levadas em consideração as restrições e dificuldades quanto ao transporte dos materiais e execução pela mão-de-obra. Sob este olhar, a Casa Guararema ganha o peso de reconfigurar todas as dinâmicas presentes no terreno na qual vem sendo construída, a inauguração de um recinto humano que remonta a imagens da fundação da cidade de São Paulo pelos jesuítas com a construção do “Pateo do Collegio” em taipa-de-pilão. E ainda da própria construção da “cidade de taipa”.
Desta forma, o relógio que parece não obedecer às mesmas lógicas do tempo em Guararema, onde a vida acontece em passos pacatos, pode marcar um passo adiante na discussão da arquitetura onde o próprio peso histórico da técnica se valendo da terra como matéria prima encontra um ponto de intersecção na prática construtiva paulista contemporânea. Com isso, o privilégio deste pequeno sítio em manter-se “atrasado” quanto a chegada da urbanização permite a ele rememorar e enaltecer de forma monumental esta técnica e sua estética.
MÉTODO CONSTRUTIVO O método construtivo da terra compactada aparentemente vem ganhando cada vez mais espaço no mercado e exemplares dentro do cenário da arquitetura, contudo, ainda é difícil encontrar estudos e normas sobre este tipo de construção. Desta forma, nossa maior fonte de referência quanto a este assunto se baseou na visita feita ao canteiro e conversa com o chefe de execução das paredes em terra, Daniel Mantovani (terra compactada - construções sustentáveis) Como relatado inicialmente, o canteiro de obras da casa era bem reduzido e com poucas ferramentas. Segundo Daniel, a obra em sua fase de execução do levantamento de paredes operava com 4 funcionários contando com ele. Assim, com uma betoneira, um conjunto de formas, um compactador manual, 4 funcionários especializados e a mistura de terra + concreto + areia + uma pequena porção de água é possível erguer a obra, valendo-se desta técnica. As paredes variam de espessura, em seus encontros há chanfros para evitar quinas frágeis, um desenho que privilegia encontros entre paredes em diferentes direções para melhorar a estabilidade, e aberturas sempre de piso a teto. Essas são algumas das características desta obra inteiramente em terra compactada que se apoia e se materializa sob a experiência destes profissionais.
ESCRITÓRIO
Arquitetos do escritório. Fonte: ArchDaily
O escritório Terra + Tuma foi fundado em 2006, pelos arquitetos Danilo Terra e Pedro Tuma, poucos anos após a graduação dos mesmos na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Com o desenvolvimento do escritório, foram associadas à equipe as arquitetas Fernanda Sakano e Juliana Terra. A partir de então buscaram priorizar uma maior qualidade nos projetos ao invés de atenderem a um grande número de projetos. A atuação do escritório é muito embasada no pragmatismo e na intenção de concretização das obras, não apenas de desenvolvimento do projeto. Além disso, outra preocupação que conduz os projetos é a da linguagem arquitetônica como consequência e não como objetivo. Assim, o escritório trabalha valorizando o potencial e as circunstâncias específicas de cada projeto, integrando o ambiente e escolhendo os materiais associados ao conforto e à qualidade. Até o momento, a produção arquitetônica realizada é sobretudo residencial e comercial. Um dos seus mais renomados projetos é a Casa Vila Matilde, que alcançou projeção nacional e internacional, eleita “Building of the Year” pelo site ArchDaily, selecionada para o Pavilhão do Brasil na 15° Mostra Internacional de Arquitetura - Bienal de Veneza 2016 e premiada na Bienal Iberoamericana de Arquitectura y Urbanismo. A notoriedade da obra deve-se à realização de um bom projeto acessível financeiramente. Outros projetos também já foram reconhecidos nas Bienais de Rotterdam e Quito, além do escritório ter sido vencedor do Prêmio AsBEA por duas edições consecutivas.
Casa Vila Matilde. Foto: Pedro Kok
DIÁLOGOS COM AS OBRAS DO ESCRITÓRIO Analisando a produção do escritório, vê-se que há uma tendência a exprimir a verdade do material. As obras expressam, a partir de sua imagem, o processo construtivo do edifício incorporado à estética do projeto.
Casa Mipibu. Foto: Nelson Kon
Casa Maracanã. Foto: Pedro Kok
Dentro da produção publicada do escritório há o uso recorrente de alguns materiais, como por exemplo o tijolo de concreto, o concreto aparente, esquadrias metálicas e vidro. A forma com que estes materiais se apresentam nas obras evocam a memória do processo executivo das mesmas, sempre dando a impressão aos olhos leigos de “obras inacabadas”. A mesma situação pode, mesmo que de forma mais branda, se aplicar à Casa Guararema, objeto de estudo deste trabalho, em que a casa vira imagem e semelhança do chão desgramado. Uma casa que poeticamente e quase que literalmente se faz do chão onde é erguida. Levantada através do conhecimento técnico humano, mas enaltecendo a mais vã e básica matéria que encontramos no planeta: a terra.
Casa Guaianaz. Foto: Pedro Kok
Além disso, vê-se uma aproximação na disposição espacial das plantas: a presença recorrente de um vazio central - já exposto anteriormente neste trabalho pela analogia da Casa Guararema com a Culata Yovai. Nem sempre as plantas seguem a disposição característica da Culata Yovai, mas o vazio central é uma constante. Os vazios configurados pelos pátios internos funcionam como as áreas externas da casa, mas também organizam a casa. Além de proporcionar luz e ventilação necessárias para salubridade e qualidade espacial, eles articulam os ambientes.
Casa das Jabuticabeiras. Foto: Pedro Kok
Na Casa Mipibu, a decisão de trazer os caixilhos para dentro foi um meio de lidar com a situação urbana local: apenas a elevação frontal era livre de interferências das edificações em seu entorno. Com o vazio, o interior tornou-se extremamente aberto. Na Casa das Jabuticabeiras o vazio é alocado na casa de maneira bem parecida à disposição espacial da Casa Mipibu. Já a Casa João de Barro tem seu programa desenvolvido a partir do próprio vazio. Todos os cômodos são voltados para ele - um pátio, no qual está locada a piscina.
Casa João de Barro. Foto: Pedro Kok
Casa Mipibu Foto: Nelson Kon
Planta pavimento superior, Casa Mipibu. Fonte: ArchDaily - ModiďŹ cada pelo grupo
Planta tĂŠrreo, Casa das Jabuticabeiras. Fonte: ArchDaily - ModiďŹ cada pelo grupo
Planta térreo, Casa João de Barro. Fonte: ArchDaily - Modificada pelo grupo
DIÁLOGOS COM OBRAS BRASILEIRAS COM O MESMO MATERIAL: A TERRA Em conversa com o Terra + Tuma, foram citados alguns exemplos de arquitetura contemporânea de escritórios nacionais que também estão experimentando técnicas construtivas com terra, apontando o atual interesse na retomada do uso desses métodos nos projetos. Entre eles estão o Brasil Arquitetura, Jacobsen Arquitetura, Arquipélago Arquitetos e Estúdio Piloti Arquitetura. Conforme comentado pelos arquitetos, essas referências recentes também contribuíram para os clientes da Casa Guararema compreenderem melhor as características de uma construção com terra, além de desconstruir alguns estigmas que possam estar associados à técnica, como visões que a relacionam com a precariedade e a pobreza, ao caráter provisório ou mesmo à Doença de Chagas, associando as edificações como criadouros do barbeiro. Tais estigmas negativos, conforme apontado por Franke (2017), são retratos de países onde as técnicas com terra foram empregadas por necessidade de moradia e falta de opção, como no Brasil, fundamentados em construções de baixa qualidade.
CASA EM CUNHA, 2019 - ARQUIPÉLAGO ARQUITETOS Localizada em região serrana no sertão de Cunha, interior de São Paulo, a casa está implantada no alto do morro da paisagem. Para sua construção, a tecnologia construtiva da taipa foi revisitada de forma contemporânea, em conjunto também foram incorporados outros materiais, como tijolos nas paredes e madeira, no piso e na cobertura. Além da obra estar em um sítio isolado, podemos perceber outras similaridades com a Casa Guararema, como a valorização do contato visual com a paisagem, pela presença de grandes esquadrias de vidro de chão ao teto na sala de estar e pela composição de uma varanda contínua, que acompanha os diversos cômodos da casa, facilitando a comunicação com o ambiente externo. Casa em Cunha. Foto: Federico Cairoli
CASA DE TAIPA, 2018 - ESTÚDIO PILOTI ARQUITETURA
Casa de taipa Foto: Estúdio Piloti
Igualmente situada na cidade de Cunha, em uma área rural, o projeto da casa necessitava de uma planta compacta e da simplificação dos materiais sem comprometimento da qualidade, para reduzir os custos no orçamento. Dessa forma, a escolha pelo uso da taipa mostrou-se o mais adequado, visto que ela apresenta boa durabilidade e não necessita de grandes finalizações. Essa linguagem de materiais mais naturais, evitando-se excessos, compõe tanto a estrutura da casa quanto os demais acabamentos. As principais semelhanças observadas com a Casa Guararema, além da situação de ambas em meio à paisagem natural, são a solução adotada para a cobertura, realizada com estrutura de madeira e telhas metálicas e a localização das áreas de serviço na parte mais externa da casa.
DIÁLOGOS COM OBRAS INTERNACIONAIS COM TERRA A princípio, o uso da terra compactada na Casa Guararema parece acenar com um certo ineditismo no cenário da arquitetura contemporânea, principalmente quando analisada a partir da comparação com as obras ligadas ao mercado imobiliário brasileiro da atualidade, em que se vê a predominância do uso do concreto e um certo conservadorismo em relação ao uso recorrente dos mesmos materiais. Em verdade, o uso da terra, seja no caso da terra compactada como de outras técnicas similares, como a taipa de pilão, é visto na obra de muitos arquitetos atuais. Em alguns, a expressão dessas técnicas deixa de ser vista como um mero experimentalismo, um capricho pontual, para tornar-se uma linguagem recorrente no portfólio. Ajijic, projeto da Tatiana Bilbao. Foto: Iwan Baan
É o caso da arquiteta Tatiana Bilbao, expoente da arquitetura mexicana, assim como outros escritórios da América Latina: Equipo de Arquitectura (Paraguai), Arquitectura X (Equador) e Sur Tierra Arquitectura (Chile). Distante do cenário latino, e portanto, sem o contextualismo característico da América Latina, pode-se citar a ‘Casa na Caverna’, obra do escritório chinês HyperSity Architects. A ideia aqui era seguir a tectônica das habitações vernaculares dentro de cavernas. Nesse caso, a taipa é uma mistura de argila e areia proveniente das montanhas próximas, que reflete as tradições das construções locais faz com que este novo anexo respeite o contexto do entorno a partir de outra materialidade.
Casa na Caverna, Hipersity Architects. Fonte: ArchDaily
O uso da terra encontrou espaço de expressão inclusive no sistema dos Star Architects. Recentemente, foi finalizada em Gana a construção Centro de Cirurgia Infantil Emergencial em Uganda, projeto de Renzo Piano. O arquiteto é famoso pela sua linguagem high-tech e suas obras de expressão nitidamente contemporânea e com utilização de materiais de ponta, mas apostou de maneira certeira no uso da terra em Uganda como meio de se encaixar à paisagem, porém, utilizando métodos industriais, como a pré-fabricação. Nesse sentido, se assemelha ao escritório Herzog & de Meuron no projeto da Ricola Kräuterzentrum, também construída a partir de um canteiro altamente industrializado.
Centro de Cirurgia Infantil Emergencial, projeto de Renzo Piano. Foto: Giorgio Grandi
Ricola Kräuterzentrum, projeto de Herzog & de Meuron. Foto: Iwan Baan
CONSTRUÇÃO COM TERRA Elaborado pelo grupo CRATerre (Centro Internacional de Construção em Terra), o diagrama apresenta os diferentes grupos de sistemas construtivos antigos e modernos que utilizam a terra crua como matéria-prima. De todas as variedades, foram estabelecidos três grupos: A - utilização da terra de forma monolítica e portante; B - utilização da terra sob a forma de alvenaria; e C utilização da terra como enchimento de uma estrutura suporte. A terra compactada (5) faz parte do grupo A, sendo portanto um sistema de elevação in situ, sem separação entre material e componente construtivo; assim, a transformação do solo e a edificação são constituídas em um mesmo processo. Nessa técnica, o material é compactado entre fôrmas denominadas taipais. A compactação pode ser feita manualmente, com um pilão de madeira ou, mais recentemente, com equipamentos pneumáticos. Também fazem parte deste grupo a terra escavada (1), a terra plástica (2), a terra empilhada (3) e a terra modelada (4).
Diagrama dos tipos de construção com terra crua Fonte: CRATerre
No grupo B, para sistemas em alvenaria, encontram-se os blocos apiloados (6), os blocos prensados (7), os blocos cortados (8), os torrões de terra (9), a terra extrudida (10), adobe mecânico (11), adobe manual (12) e adobe moldado (13). Já no grupo C, cujas técnicas consistem na associação de uma estrutura suporte na qual a terra é utilizada como elemento secundário, no enchimento ou revestimento de outras estruturas, fazem parte a terra de recobrimento (14), a terra sobre engradado (15), a terra palha (16), a terra de enchimento (17) e a terra de cobertura (18).
Tal diversidade de métodos construtivos utilizando a terra crua deve-se ao fato desse material estar presente desde as primeiras manifestações construtivas do homem e nas mais variadas culturas, proporcionando técnicas para diferentes características de solo. Hoje, cerca de um terço da população mundial vive em construções de taipa, tijolos de adobe, de tabique ou de blocos de terra comprimida. Modestas ou monumentais, estas arquiteturas estão presentes em 190 países e testemunham uma qualidade de inovações técnicas que aliam estreitamente saber-fazer e arquitetura. (CRATerre, 2011)
Construir com terra proporciona muitas vantagens em termos de conforto térmico, acústico e durabilidade da obra. Apesar do uso da terra como material construtivo ter passado por um período de declínio com a industrialização da construção e os avanços tecnológicos, conforme apontam Nito e Amorim (2015), percebe-se a busca pelo retorno dessas práticas construtivas em diversos países, principalmente com o fomento das questões de sustentabilidade.
ÍNDICE DE IMAGENS programa Croquis Culata Yovay. Croquis de José Cubilla retirados da tese de doutorado de Antônio Carlos Barossi: Ensino de projeto na FAUUSP: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Tese (Doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16131/tde-03022010-101545/pt-br.php> Acesso em: 15/06/2020. escritório Arquitetos do escritório. Foto: autor desconhecido. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/926343/arquicast-entrevista-terra-e-tuma-arquitetos-associados> Acesso em: 01/07/2020. Casa da Vila Matilde. Foto: Pedro Kok. Disponível em: <http://terraetuma.com/portfolio/casa-vila-matilde> Acesso em: 01/07/2020. fotografias e desenhos da Casa Guararema produzidos pelo grupo
diálogos com as obras do escritório Casa das Jabuticabeiras / Terra e Tuma Arquitetos Associados. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/927561/casa-das-jabuticabeiras-terra-e-tuma-arquitetos-associados> Acesso em: 20/06/2020. Casa Guaianaz / Terra e Tuma Arquitetos Associados. Disponível em: <http://terraetuma.com/portfolio/casa-guaianaz> Acesso em: 20/06/2020. Casa João de Barro / Terra e Tuma Arquitetos Associados. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/904820/casa-joao-de-barro-terra-e-tuma-arquitetos-associados> Acesso em: 20/06/2020. Casa Maracanã / Terra e Tuma Arquitetos Associados. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-87312/casa-maracana-slash-terra-e-tuma-arquitetos-associados> Acesso em: 20/06/2020. Casa Mipibu / Terra e Tuma Arquitetos Associados. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/790884/casa-mipibu-terra-e-tuma-arquitetos-associados> Acesso em: 20/06/2020. diálogos com obras brasileiras com o mesmo material: a terra Casa de Taipa em Cunha / Estúdio Piloti. Disponível em: <https://www.estudiopiloti.arq.br/projeto-residencia-casa-de-taipa-cunha-sp> Acesso em: 20/06/2020. Casa em Cunha / Arquipélagos Arquitetos. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/937625/casa-em-cunha-arquipelago-arquitetos> Acesso em: 20/06/2020.
diálogos com obras internacionais com o mesmo material Construção em taipa / 15 projetos impressionantes. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/894351/construcao-em-taipa-15-projetos-impressionantes> / acesso em 20/06/2020.
REFERÊNCIAS BAROSSI, Antonio Carlos. Ensino de projeto na FAUUSP: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Tese (Doutorado em Estruturas Ambientais Urbanas) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16131/tde-03022010-101545/pt-br.php> Acesso em: 15/06/2020. CRATerre, Cátedra Unesco Arquitetura de Terra, EcologiK e Architectures à vivre. Manifesto pelo direito a construir em terra crua. 2011. FRANKE, L. N. Arquitetura Contemporânea em Terra: modos de ver e fazer. Dissertação de Mestrado - Curso de Arquitetura, Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Portugal, 2017. NITO, M. K. S.; AMORIM, A. M. M. C. Sistemas construtivos em terra crua: panorama da América Latina nos últimos 30 anos e suas referências técnicas históricas. In: CASTRO, Ana; ASSAL, Marianna Boghosian Al. Revista Cadernos de Pesquisa da Escola da Cidade. São Paulo: Editora da Cidade, 2015. p. 11-18. Disponível em: <http://www.escoladacidade.org/wp/wp-content/uploads/cadernos_pesq_ec_n1.pdf> Acesso em: 20/06/2020.
VISITA À OBRA CASA GUARAREMA. Acompanhado pelo Chefe de Execução da obra Daniel Mantovani. 24.04.2020. ENTREVISTA CASA DA VILA MATILDE + CASA GUARAREMA. Entrevista cedida por Pedro Tuma. 01.06.2020. Estavam presentes: Alexandre Martins, Caroline Manolio, Cecília Barreto, Isadora Trevisan, Marina Porto Miranda, Matheus Santos e Pedro Tuma. PLANTAS E CORTES DA CASA GUARAREMA. Desenvolvidas pelo grupo com base nos desenhos cedidos pelo escritório Terra + Tuma.