DEPARTAMENTO DO ARQUIVO DO ESTADO DE SECRETARIA
S.
PAULO
DA EDUCAÇÃO
NOÇÕES
DE
PALEOGRAFIA POR
UBIRAJARA DOLÁCIO MENDES
SSo Paulo 1953
NOÇÕES
DE
PALEOGRAFIA
MM
DEPARTAMENTO DO ARQUIVO DO ESTADO DE SECRETARIA DA
S.
PAULO
EDUCAÇÃO
NOÇÕES
DE
PALEOGRAFIA POR
UBIRAJARA DOLÁCIO MENDES
São Paulo 1953
:
DO MESMO AUTOR ""A Guerra Química"
—
n^s.
"O decréscimo
— —
—
de
abril
—
de Estatística
"Produzir mais
Económica
Rio
:
dezembro de
Paulo)
Tietê"
fevereiro de
—
—
—
Conselho de Expansão
Departamento do Arciuivõ. do Estado
1952.
—
—
Departamento do Ar-
fevereiro de 1953.
Departamento do Arquivo do Estado (S. Pau-
Paleografia e suas dificuldades"
—
"A F.E.B., Embaixada Estado
(S.
Paulo)
—
de amizade"
—
Departamento do Arquivo do
fevereiro de 1953.
—
Departamento do Arquivo do
setembro de 1953.
colaboração
"Depoimento de Oficiais da Reserva sôbre a F.E.B." oficiais)
3."
Edição
^'Verbos Ingleses" 1952.
Estadual
fevereiro de 1953.
Estado (S. Paulo)
Em
—
Tipos Caligráficos"
quivo do Estado (S. Paulo) "Material da Escrita"
Departamento
de 1948.
abril
—
—
1947.
remédio contra a inflação"
—
"Evolução das Escritas
"A
Pauioj
Departamento Estadual de Estatística
Boletim do
"Breve Histórico do Arquivo"
—
(S.
1942.
"Aproveitamento económico do
lo)
Revista"
nos coeficientes de natalidade no Estado de São Paulo"
Publicado no
(S.
em "Armas em
Publicado
de agosto e setembro de 1938.
—
— 1952. Kehdy) — Ed.
{com mais
15
Ed. Cobraci
(com Carlos
Brasil
—
setembro de
NOTA PRÉVIA
Em
de 1952, quando na direção do Departamento do Arquivo do Estado, o autor dêste trabalho, dr. Ubirajara fins
Dolácio Mendes, realizou
um
Curso Livre de Paleografia,
contando integralmente com o aplauso de todos aquèles que se interessam pelo assunto.
bemos das
Nós estávamos
dificuldades encontradas, das lutas que teve de
enfrentar para levar a cabo tão
endimento.
Os
tivas, pois o curso
uma
meio
quão necessário empreforam plenamente com-
mesmo
as melhores expecta-
obteve mais de duas centenas de inscrições
frequência média de 170 alunos.
Tal sucesso,
uma
útil
resultados, porém,
pensadores; o êxito ultrapassou
e
Sa-
entre êstes.
raro, raríssimo
mesmo, em
se tratando
especialização tão pouco conhecida e estudada
—
e,
também, levando-se em conta
zem bons paleógrafos — induziu-nos
a falta
a pensar
em
que nos
em novo
de
nosso fa-
curso,
desta vez, porém, dando-lhe as características de avançado,
dedicando-o àqueles que já tenham algumas noções da matéria. E, para não limitar as inscrições apenas aos isto é,
que acompanharam e concluíram o primeiro, o Departamento do Arquivo resolveu dar a lume êste trabalho, que tem por escopo servir de base elementar aos alunos que se iniciam no interessantíssimo estudo da Paleografia. São Paulo, outubro de 1953. José Soares de Souza Diretor.
APRESENTAÇÃO O deseja
uma
autor deve confessar, antes de mais nada, que não o.
título
A
de paleógrafo.
paleografia,
a seu ver, é
que demanda prática constante e atenção quase exclusiva. Para isso, é preciso que o estudioso dessa espearte
cialidade dedique a totalidade de seu
parativo de
letras,
tante manuseio
tempo ao
serviço
com-
à análise de tipos caligráficos e ao cons-
de documentos
Tendo de
antigos.
tratar,
paralelamente, de atividades outras, é evidente que o autor
não poderá, jamais,
— Porque,
um
ser
paleógrafo, na acepção do têrmo.
então, se abalançou a escrever êste trabalho?
perguntar-se-á.
E
o autor responderá:
Mero
desejo de juntar a sua modesta colaboração para
que os estudos de
história,
em
nossa terra, se baseiem cada
vez mais nos originais dos documentos antigos.
uma
Se lhe fôsse permitido adotar jocoso,
classificação de
tom
evidentemente sem desrespeito a ninguém, diria o
autor que há dois tipos de historiadores: os de segunda água.
os de primeira e
Os de primeira água seriam aqueles
que se vão abeberar nas fontes verdadeiras: os documentos antigos, cuidadosamente conservados pelos arquivos e bibliotecas.
Os de segunda água seriam
os historiadores que, ba-
seados nas afirmativas dos de primeira água, repetem os conceitos exfMDstos por êstes ou, à vista
do exp>endido por
êles,
tiram novas conclusões. Ora.
O
sr.
José da Silva é
um
ciencioso, cuidadoso e profundo.
grande historiador. Con-
Pesquisa sempre, revolve
os arquivos, busca constantemente estar
— — 7
bem amparado
por
Tem
documentação fidedigna. cados e seu
nome
dezenas de trabalhos publi-
é citado aqui e
um
no exterior como o de
como
E, nessas condições, as suas obras são usadas
mestre.
fonte para a feitura de outros volumes de história.
—
Mas
o
sr.
José da Silva
Não
não é Deus.
doso,
—
historiador de primeira água
Embora
é infalivel, portanto.
cuida-
embora meticuloso em seus estudos, poderá ocasionalUma se ter enganado na leitura de um documento. "s" que tomou por "f", um Paulo que leu Saulo, e suas
mente letra
conclusões já não correspondem inteiramente à verdade. Por
outro lado, ainda lendo corretamente o documento, poderá
Nem
interpretado imperfeitamente.
tê-lo
deixará de ser o mestre venerado.
homem
de
descoberto
ciência,
sem que com
perca
isso
em
E,
o
por
isso,
é claro,
como todo verdadeiro procurará
êrro,
corrigi-lo,
autoridade ou dignidade.
Acontece entretanto que, até perceber-se o engano, êste já foi repetido
segunda água
por dezenas de outros historiadores
—
e conclusões outras
se
—
os de
basearam no
êrro.
Consequência: o êrro acaba sendo considerado verdade
his-
tórica.
Os
conhecem inúmeros casos
historiadores
vezes, até, para desfazer
ginas
têm de
um
E nem
ser escritas.
Por
desses.
engano simples, milhares de pá-
sempre
se
consegue
com
sucesso repôr as coisas nos seus devidos lugares.
Meramente para
citar
um
exemplo: certo historiador
—
por sinal muito respeitado entre os pesquisadores de nossa história pátria
de lo",
uma
—
crê
que
em documento
congregação religiosa se possa
referindo-se
nossa cidade,
à
em
existente no arquivo
ler a
palavra "S. Pau-
data anterior a 1554.
Outros historiadores analisaram o documento e concluiram
que a palavra ficou
e,
ali
existente
às vésperas
ainda se discute se
em 25 de
do S.
4.°
não é
Paulo
janeiro de 1554.
"S. Paulo".
Mas
a dúvida
centenário da fundação da cidade, foi
realmente fundada ou não
Muitas dúvidas históricas não surgiriam, ou morreriam no nascedouro, se maior número de historiadores se valesse dos preciosos arquivos que possuímos.
Mas
a só
menção de papel
velho, bichado ou amarelado
pelo tempo, assusta muita gente e já produz comichões psicológicos.
Decifrar códices e cartapácios é
Não
sativo.
mente
porém, tão
é,
difícil
com
efeito can-
ou complicado como geral-
se pensa.
E
essa
a
é
finalidade
precípua dêste
livro.
Procurar
mteressar nossa gente na leitura dos nossos papéis velhos,
buscando mostrar, ao mesmo passo, que não há necessidade de
"decifrá-los".
Com
prática, a leitura dos
tigos passa a ser quase corrente.
documentos an-
E um mundo
de perspec-
interessantes se abre para os historiadores ao consul-
tivas
tarem os códices
—
muitos dêles ainda não publicados
—
conservados nos arquivos, quer públicos quer particulares.
Com
a
mesma
finalidade dêste livro, criou o Departa-
mento do Arquivo do Estado um "Curso Livre de Paleografia", cujas aulas estiveram a cargo dos srs. Drs. Américo de Moura, Tito
Lívio Ferreira, Antônio
Paulino de
Bueno de Azevedo Filho, Phillipe Wolff, Carlos da Lívio Gomide e Affonso E. Taunay. O autor teve
Almeida, Silveira,
a honra
de dar também a sua apagada contribuição.
O
êxito dêsse curso,
com mais de 200
inscrições,
mos-
que a Paleografia pode despertar. E foi exclusivamente o que encorajou o autor na feitura desta Pouco ou nada haverá de original neste trabalho. obra. trou o interêsse
Tudo
o que aqui se expõe pode ser encontrado nos tratados
da matéria, citados na bibliografia do fim do volume. Se algum mérito puder ter o autor do presente livro será apenas o de haver procurado sintetizar o que pôde encontrar sôbre o assunto, porque a sua contribuição pessoal terá sido, se não nula,
provavelmente de pouca ou nenhuma
valia.
São Paulo, setembro de 1953
U.D.M.
_9_
-
I
PALEOGRAFIA
—
DEFINIÇÃO E GENERALIDADES
Pela etimologia significado: grafia
é,
da palavra têm-se
de imediato o
=
paleos == antigo; graphein
escrever.
seu
Paleo-
portanto, escrita antiga, ou seja, o estudo da escrita
antiga.
Os autores, com variantes apenas na maneira de expor a idéia, bàsicamente definem a paleografia como sendo a decifração dos documentos antigos. Assim, Maurice Prou diz que: "Paleografia é a ciência das antigas escritas, que tem a decifração dos escritos da Antiguidade e da
por objeto
Idade Média". D. Jesus
Munoz y
Rivero define a paleografia como
sendo:
"A ciência da decifração dos manuscritos, tendo em consideração as vicissitudes sofridas pela escrita culos e nações, seja qual fôr a matéria
Salomon Reinach
diz:
"A Paleografia
a ciência
é
em todos os séem que ela apareça".
da decifração dos manus-
critos".
E
Agustin Millares Carlo:
"Paleografia é a ciência que trata do conhecimento e
interpretação das escritas antigas e que estuda as suas ori-
gens e evolução".
A
nosso ver poderíamos simplesmente dizer
Paleografia é a arte de finição,
conquanto mais
ler
curta,
modo, abrange tudo quanto ler
documentos
Esta de-
não tem limitações
se refere à matéria.
"A
que:
antigos".
e,
Na
dêsse
arte
de
o documento antigo estariam englobados a capacidade
de superar as vicissitudes sofridas pela
escrita, a
interpreta-
ção desta, o conhecimento de sua origem, evolução e época.
—
11
—
Paleografia e epigratia
<3uando se diz que a "paleografia é a arte de
cumentos
na sua acepção mais
ser
um documento com
vidro
Um
lata.
osso pode ser
mancha de sangue, sôbre
paleontológico; ua
ler
do-
não empregamos a palavra documento
antigos",
um
documento
o soalho,
pode
um feto disforme, guardado num um documento anátomo-patoló-
policial;
formol, pode ser
gico.
Os documentos
que constituem
objeto da
paleografia
são apenas aqueles vasados sôbre matéria mais facilmente perecivel e de fácil transporte,
como o
papel, o
pergaminho
e as tabuinhas enceradas. Se, entretanto,
como o mármore, difícil
uma
sôbre matéria dura,
infrcrição é feita
a pedra, metais, principalmente
transposição e
mento para idades
com
quando de monu-
a finalidade de servir de
futuras, então se diz
que
tais
documentos
pertencem ao campo de estudo de outra ciência: a Epigrafia.
As placas de barro da
em
embora feitas tempo que o papel ou o per-
escrita cuneiforme,
material mais resistente ao
gaminho, podem fazer parte do estudo paleográfico por
se-
rem de relativamente fácil transporte. O mesmo se pode dizer de escritos feitos pelos antigos em lâminas finas de curo ou de chumbo. Mas se a escrita cuneiforme foi feita numa coluna ou a placa metálica presa a um bloco de pedra, o paleógrafo
poderá eventualmente ser consultado para
Mas o documento do campo de ação da Epigrafia. a sua decifração.
já
passou a fazer parte
Paleografia e diplomática
Costuma-se estudar, paralelamente à paleografia, e ten-
do como objeto também ciência,
ou
arte,
os
documentos
intitulada Diplomática.
antigos,
E
uma
outra
os autores tim-
bram em separar nitidamente o campo de ação das duas matérias.
—
12
—
Dizem
êles
que a Paleografia estuda apenas os carac-
teres extrínsecos dos documentos: as letras
A
tos.
com que
Diplomática estuda o conteúdo.
A
são escri-
Paleografia
lê,
decifra o documento; a Diplomática interpreta-o e julga so-
bre a sua autenticidade e veracidade.
Chega-se a dizer que
"a paleografia estuda o corpo do documento; a diplomática,
a alma".
Entendemos que
isso
não passa de exagêro de especia-
Não é possível, lendo um documento, separar-se a sua parte extrínseca, as letras com que foi escrito, do seu teor lização.
intrínseco:
Grande número de vêzes o paleógrafo,
a idéia.
para poder decifrar o documento, se vale de textos semelhantes, para comparação;
sequência natural de
um
terminadas épocas. As
do sentido provável da trecho; de fórmulas
da
frase;
comuns
a de-
o pensamento por elas trans-
letras, e
mitido, são pois inseparáveis.
O
próprio paleógrafo é obrigado à análise e à crítica
daquilo que
Se assim não
lê.
agir,
fará face, por vêzes, a
Não há dúvida
trechos incompreensíveis ou absurdos.
após lido
mo
um
documento, é possível a
crítica
Êsse outrem, eviden-
por outrem, que não o paleógrafo.
Estaria fazendo a
temente, não estaria fazendo paleografia.
da
crítica à luz
com
história, à luz
Mas nada
outros textos.
correr ao
documento
da
lógica,
mais que
sem
original,
que,
do teor do mes-
ou por comparação isso
porque, sem re-
fazer paleografia portanto,
—
se êrro
houver
—
é in-
não pode o
crítico saber se o êrro
trínseco no
documento, se é êrro de leitura, se êrro de inter-
pretação. tar
Êsse simples trabalho
um nome
tão
pomposo —
rado ciência aparte.
crítico
não deve compor-
Diplomática
—
e ser conside-
Acrescente-se que o verdadeiro critico
original, se quiser ter certeza
tem de valer-se do ma, até mesmo quando sua finalidade seja a autenticidade do documento. Nessas condições,
—
13
—
do que
afir-
verificação
da
a nosso ver.
o
mais que
nome
pode
se
dando à
aceitar,
diferente, é a existência
crítica
uma
de
documental
um
paleografia diplomá-
tica.
Paleografias nacionais
Costumam critos antigos
2
3
4
leitura
dos manus-
Teriamos assim:
aos documentos. 1
denominar a
os autores
segundo as nações ou povos que deram origem
— Paleografia — Paleografia — Paleografias — Paleografias
grega. latina.
orientais.
francesa, espanhola,
italiana,
portu-
guesa, etc.
Entre nós, com referência aos documentos dos primeiros séculos de nossa colonização, deveriamos ter
uma
Paleo-
grafia Brasileira.
Não
são dessa opinião alguns dos mais assíduos leitores
dos nossos documentos antigos, entre os quais podemos citar
Taunay
o historiador Afonso E. Silveira.
Alegam
e o genealogista Carlos
que nossa
êstes
muito recente, e de relativamente o
nome de
dificultantes
mento da
fácil leitura,
Paleografia Brasileira.
considerando
em da
tinta,
primeiro lugar
leitura etc.)
(traças, são,
documentação
Não
é
da
ainda
para merecer
discutiremos.
Mas,
que certas características
amarelido do papel, descora-
nos nossos documentos, iguais às
que se oferecem aos europeus,
e,
meio de identificação dos nossos
em
segundo
códices,
lugar,
como
separando-os dos
de outra origem, somos pela denominação Paleografia Brasile:rc.
—
14
—
Relações entre a paleografia e outras ciências
—
Relações entre a Paleografia e a História
Da
ções são evidentes.
A
deriva a História. constituída por
um
relatório
tário.
A
uma
leitura
prova dos
um
como
fatos, tais
carta que ficou,
apresentado,
As
rela-
de documentos antigos é que
uma
deram, é
se
escritura de terras,
comunicado
um
feito,
inven-
Paleografia lerá êsses documentos; a História nêles
encontrará as bases, os porquês e o encaminhamento de cada sucesso histórico.
um
Sem
a Paleografia, a História seria apenas
um
amontoado de suposições ou
enorme de
desfiar
nar-
rativas transmitidas pela tradição oral.
Relações entre a Paleografia e a Filologia dar-se atual,
uma
— Ao
estu-
lingua, suas características hodiernas, sua sintaxe
não podemos deixar de lado a indagação de como che-
gou a língua ao estado presente.
Faz-se necessário, então,
voltar atrás, no tempo, afim de descobrir as várias transfor-
E
mações por que passou aquele idioma.
entra a Paleo-
aí
grafia, auxiliando o filólogo a decifrar as múltiplas particula-
ridades da escrita, possibilitando assim o estudo dos vários
com
estágios da língua, vra,
com
m^nto
com segurança mente
no sentido das
as alterações
da
paulatino
que,
as variações sofridas por cada pala-
sintaxe.
sem
frases,
com
Acreditamos
a Paleografia
como
o cambia-
afirmar
poder
auxiliar, dificil-
se compreenderia a existência da Filologia.
Relações entre a Paleografia e o Direito
—
Tais rela-
ções são facilmente deduzíveis quando se trata de investigar a história das
leis.
O
Direito
Romano, tronco robusto de
tôda a legislação atual, só pôde ser estudado através da do-
cumentação deixada. na decifração dos
E
o paleógrafo
leitura
em
chamado
a intervir
textos.
Mas, independentemente da casos há
foi
que a paleografia
das
história
vem em
de testamentos antigos, direitos à
—
15
—
leis,
múltiplos
do
jurista:
herança,
registro
auxílio
de terrenos, gio,
etc.
feitos
há séculos mas que entram hoje
em
lití-
Foi graças à leitura de documentos existentes no
Arquivo do Estado de de limites entre
S.
S.
Paulo que se decidiram as questões
Paulo e Minas.
Relações entre a Paleografia e as Ciências
em
geral
—
Desde Hipócrates, ou mesmo antes dêle, as tentativas de cura das várias moléstias, os medicamentos usados e os resultados obtidos sos; cias;
vêm sendo
os antigos alquimistas
anotados
em documentos
tomavam nota de
suas experiên-
a astrologia conservava, por escrito, as observações efe-
tuadas.
Buscando aproveitar o que, de bom,
antigos, e evitar os êrros cometidos, assim cias.
espar-
A
paleografia,
xados, contribue dêsse
foi feito
pelos
progridem as ciên-
com a decifração dos documentos deimodo para o progresso da humanidade.
—
16
—
II
EVOLUÇÃO DAS ESCRITAS Desde que o homem é um animal gregário, vê-se obrigado a todo o momento a transmitir suas idéias a seus seme-
E
lhantes.
isso se deu, é
bem de
desde os primórdios
ver,
da existência da humanidade.
A
princípio,
os primeiros
do homo
ancestrais
sapiens
terão transmitido seus pensamentos através do grito, do grunhido, do ronco.
Sons êstes que,
Mas
riam na palavra articulada.
comunicava as
que
se
em
a palavra
idéias aos presentes, isto
encontravam nas proximidades
Como
da emissão da voz. isto é, aos
que não
se
preservar a palavra, de
Terá
breve, se transforma-
e
é,
no instante mesmo
encontravam nas cercanias?
modo que
sido, talvez,
a idéia resistisse ao
sólo plástico o seu pé. solar.
E
a
bolo mudo,
pegada
mas
ali
E como tempo?
por observação direta da própria na-
humano teve a idéia de como seu pensamento. Quando um animal, ou
mem, passava por um
apenas
transmitir a idéia aos ausentes,
tureza que o ente
po o
falada
aos semelhantes
terreno
O
mole,
deixava
fixar
no tem-
o próprio ho-
impresso no
barro secava pela ação do calor
permanecia por muito tempo, sím-
eloquente, da
passagem do ser vivo pelo
local.
Aquela subsistia por
como
pegada impressa
no barro
muito tempo deu ao
deixar gravadas suas idéias.
homem
endurecido e a idéia inicial
que de
Seus primeiros desenhos,
rústicos ainda, imperfeitos, foram traçados no barro, matéria fácil
de ser encontrada, riscável até com o dedo.
tarde, aos poucos, é
que o
homem
Só mais
primitivo passou a dese-
nhar sôbre materiais mais duros, mais resistentes ao tempo,
como
a madeira, os ossos, a pedra.
—
17
—
Mas, voltando ainda à pegada, humana ou de animal, impressa nc barro. Essa pegada não era o homem, não era o animal.
Mas, sem embargo
cava, ou, mais que
passagem pelo
em
si
apenas
um homem
dado ao
se o barro já tinha
da representação pictórica das
lhe terá
ser por
representava-o.
disso,
Indi-
era a demonstração evidente de sua
local.
Dêsse modo, tivo a idéia
isso,
homem
coisas, a
primi-
pegada
um
sugerido a possibilidade de representar
uma
das suas partes.
inteiro, bastaria
Em
úa mão, ou
vez de desenhar
um
pé,
para simbo-
lizá-lo.
Assim terão nascido, por
certo, os
evidente que a coisa não se passou tão simplesmente se
poderá imaginar pelo que
mesmo,
É
símbolos gráficos.
foi dito até aqui.
como
Os séculos
e,
os milénios tiveram de passar por sôbre o ser hu-
mano, antes que
êste alcançasse ao atual estágio
de sua es-
crita.
Embora pareça paradoxal, um grande auxiliar do prohumano é a preguiça. É ela que sugeriu ao homem utilização dos animais, de modo a transferir para êstes o
gresso a
esforço físico que suas tarefas exigiam; é ela que pôs fer-
mento na imaginação do homo
sapiens, dando-lhe a idéia
roda, da alavanca, das máquinas,
sempre com o
fito
da
de pou-
par trabalho; é a ela que se deve a simplificação dos dese-
nhos primitivos, possibilitando a escrita
atual.
Os desenhos do homem das cavernas, à medida que a prática do desenhista aumenta, dois sentidos:
tendem a
ou evolue no espaço,
dimensionalmente
—
e nesse caso
isto é,
têm
nomia de
esforço.
em
em
desenvolve-se
tri-
início as representa-
ções escultóricas; ou aperfeiçôa-se no plano, sões apenas, e busca
aperfeiçoar-se
com duas dimen-
breve a simplificação
— para
eco-
Dessa simplificação é que resulta que
—
18
—
um
touro, por exemplo, se reduz a
po, 4 pernas, a
cauda e os
(fig.
Um homem
umas poucas
linhas: o cor-
chifres.
1)
acaba simbolizado unicamente pela cabeça,
tronco, braços e pernas,
em
traços simples, tal
como
as crian-
O
desenho
ças o desenham:
(fig. 2)
Assim
se originaram os sistemas de escrita.
primitivo, integral, se vai simplificando, ou, melhor dizendo, se vai desgastando,
dando em resultado uma representação
simbólica já suficiente para a expressão de idéias.
Exemplo
disso nos
tempos atuais é o alfabeto japonês,
que ainda conserva muito dos desenhos primitivos que lhe
deram origem.
Meramente
a
título ilustrativo,
símbolo representativo de mulher,
em
vejamos o
japonês (oná):
(fig. 3)
É
evidente que êsse desenho não tem semelhança
guma com um
ser
humano do
sexo feminino.
cido o fato de que as japonesas tuário tradicional,
um
um
costumam
usar,
penteado sui-generis,
ou mais grandes grampos:
Mas,
al-
é conhe-
com seu
ves-
no qual espetam
Com um
pouco de
imaginação pode-se
perfeitamente
supor que tenha sido esta a origem do ideograma oná, atra-
mas constante
vés de lento
desgaste:
(fig-
Caminho
O
5)
idêntico seguiu o alfabeto.
nosso alfabeto é originário do Egito.
do Mediterrâneo que surgiu a de ideogramas.
Mais
escrita hieroglifica, constituída
no próprio Egito, já ha-
tarde, ainda
via duas escritas paralelas:
a hieroglifica
ou na sua forma cursiva
a hierática
—
Foi nesse pais
na sua forma pura,
— usada apenas pelos
sacerdotes, e a que se intitulou demótica, utilizada pela massa dos
Esta já era simplificada e mais
que sabiam escrever.
E
corrente.
ela que,
é
variações adicionais
através
feitas
pelos semitas e pelos gregos, chega finalmente a nós, trans-
formando-se no alfabeto ocidental moderno.
À
guisa de ilustração, para verificarmos
— ou
pelo uso
como o
a simplificação pela preguiça
—
letra
M.
coruja
ou
tamente os desenhos, podemos lembrar o caso da Esta nasceu
mocho
da representação
integral de
uma
que, no egípcio antigo se dizia mulak.
tínuo desgaste, resultou no nosso
mu).
(que se
lê
da pode
ver,
do mocho
Quem
no nosso
um
tenha
M
M,
desgaste
altera len-
E, por con-
através do
grego
pouco de imaginação
atual, resquícios
do desenho
ain-
inicial
egípcio.
Desgastes dessa espécie sofreram todas as dra de Roseta, hoje no pollion, serviu
Museu
Britânico, decifrada por
de base ao estudo dessas alterações.
francês nela descobriu que
uma
A
letras.
Cham-
O
águia representava o A,
um
pe-
sábio
uma
pé representavam o B, uma serpente com cor-nichos o F, ua mão o T, um frango o U, e assim por diante. perna e
—
20
—
Há
trabalhos que mostram as sucessivas alterações por que passaram os antigos hieróglifos até que fôsse alcançado o estado atual de cada letra de nosso alfabeto. Ex.:
A
Fen
Hierático
Grego
cí-
Romaiio
Coluna Trajano(114 da nossa
(700 A. Cj (200 D.C.)
A. C.) '800-300 A. C.)
(900-600
(Hg.
Em
A A
^
2^
Hieróglifo (4500-500 A. C.)
era)
6)
resumo, pode-se dizer que todas as letras passaram
por três estágios, na sua formação:
—
1.°
Neste
O
estádio do ideograma.
estágio,
Lentamente,
tados.
as
mas sempre lembrando poderão
ser,
compõe de figuras inteiras, menos fiéis dos objetos represen-
a escrita se
a princípio cópias mais ou
desenho
o
também, formações
sugerir idéias abstratas.
Um
diantes poderá representar o
poderá indicar o o martírio ou a escrita
evoluem,
figuras
ob.jeto concreto
fé.
Entre nós
Mas em
comum.
Os ideogramas
inicial.
pictóricas,
círculo
sol,
simplificando-se,
com
o
fim de
rodeado de traços
irra-
uma
cruz
a luz, ou o brilho;
ou simbolizar o sofrimento,
tais
símbolos não se usam na
outros povos ainda se encontram
exerhplos de idéias abstratas representadas por ideogramas.
A
idéia de céu
fico
um
em
japonês (sô-lá) tem
grá-
desenho perfeitamente explicável:
(fig
Tudo sôbre
como símbolo
uma
indica,
aí,
7)
a intenção de simbolizar-se
linha horizontal (o sólo).
—
21
—
E, lá
em
uma
árvore
cima, o traço-
de cobertura: a abóbada
Autores há que acreditam
celeste.
que vários dos caracteres da numeração romana não passam de antigos ideogramas:
como
poderiam
III
II,
I,
ser considerados
a representação dos dedos, indicando as quantidades.
O V
possivelmente, a simplificação da figura formada
seria,
pela mão,
com
O IV e o VI de um dedo.
os quatro dedos juntos e o polegar afastado.
seriam a mão,
com
a diminuição
Ainda hodiernamente
se
ou acréscimo
encontram aplicações
Exemplos: os símbolos usados para repre-
de ideogramas.
sentar os planetas e signos do Zodíaco; os sinais de igualdade (
—
),
?
multiplicado por (x), dividido por (-^) e outros mui-
utilizados na matemática;
tos,
e
trânsito,
meta masculino"
9
os sinais das
(
P
)
e
como
placas do
indicando "lombada", "cruzamento", "curva
o simbolismo médico
clive";
(
os sinais de pontuação
(interrogação e admiração);
!
em
de-
para indicar "macho" ou "ga-
"fêmea" ou "gameta feminino"
); etc.
2.°
—
O
fonograma pode
O
estágio do íonograma.
como uma quase Assim como
ser considerado
consequência lógica da evolução do ideograma.
com podem
êste se simplifica
presentados se
o tempo,
também
que representasse a palavra
os sons por êle re-
Dêsse modo, o ideograma
abreviar.
casa, por exemplo, acabaria sen-
do usado para simbolizar apenas a primeira sílaba dessa paSupondo-se que o mesmo acontecesse com os ideogramas representativos de remo e gato, fácil seria escrevermos a palavra carrega, reunindo-se os ideogramas de casa, lavra.
remo
Os ideogramas, simplificados por
e gato.
representariam ideias mas apenas os sons vras.
Teriam
passado,
portanto,
a
certo, já
iniciais
fonogramas.
não
das pala-
O
fono-
grama é, pois, a representação de um som. A taquigrafia moderna usa sinais que, em vez de representarem as letras isoladas, como na escrita comum, representam sílabas ou sons.
Tais
sinais
são
verdadeiros
—
22
—
fonogramas,
portanto.
Certas abreviaturas atuais poderiam, por extensão ideológica, ser consideradas fonogramas: S. equivalente a São; S/ equivalente a seu, sua; Pg. (p no lugar de pa e g no lugar
de go); tes,
q.
=
que (abreviatura muito usada pelos estudan-
ao tomarem notas de aula);
OBSERVAÇÃO
R =
rua.
nem todas as abreviaturas, entretanto poderiam ser consideradas fonogramas. C/C, por exemplo, no sentido de "Contas Correntes", CIF cash, insurance e freighí), A/C (=aos cuidados de) e outras muitas, não representam sons e, sim, palavras completas, com dois e mais sons. Mas, ainda por extensão ideológica (pois não se trata de desenhos, entre os ideogramas.
—
3.°
O
:
mas
já
da
estágio
letras
poderiam classificar-se
definidas),
letra.
É o capítulo final da evolução da escrita. De sintético que era o desenho, representando o objeto por inteiro, reduz-se o seu simbolismo apenas à primeira sílaba, a
um som, para finalmente passar à representação dos sons elementares, com os quais se podem formar as palavras. É o final analí-
É
tico.
a
letra.
As
letras
do alfabeto
são, pois,
fonogramas
que, após longo processo de desgaste, chegaram a
mo
de simplificação, tanto na fórma como no
Além do
desgaste, outros
fatores
um
extre-
valor.
colaboraram
para o
atual aspecto de cada letra: o material usado na escrita, o
desejo de escrever mais depressa e a fantasia dos copistas.
O tido
material usado influiu no arredondamento e no sen-
do tracejado das
estilete,
letras.
sobre matérias duras
mármore, os traços
retos
Quando se escrevia com um como os metais, madeira ou
predominavam, pela maior
dade de sua escavação no material
rijo.
Quando
facili-
o papiro,
o pergaminho e o papel substituem aquelas bases da escrita e o estilete cede lugar à pena, as letras
começam a arredonAlém disso,
dar-se, os traços curvos se sucedem aos retos.
sendo a pena biselada e fendida para maior fluidez da tmta sobre o papel, as letras são mais facilmente escritas puxando-se a pena, isto fato
é,
fazendo-se os riscos de cima para baixo
que vem colaborar para a alteração da fórma das
—
23
—
letras.
o
desejo de escrever mais depressa provoca o não
vantamento da pena de sôbre a superfície do papel.
modo
as letras se vão, aos poucos, ligando
E mudando
cursiva.
escrita
de fórma,
umas
le-
Dêsse
às outras
na
consequentemente,
por lhe serem adicionados os traços de ligação. Finalmente, a fantasia alterações
dos copistas
também imprimiu
de vários tipos no desenho das
letras.
Com
a
intenção de embelezar a cópia feita e assim valorizar o seu trabalho,
caudas
des, etc. de,
cada escriba enfeitava as letras acrescentando-lhe
inúteis,
pontas recurvadas,
Isso tudo influiu,
na fórma das
de cada
uma
letras,
alças,
sinuosida-
com maior ou menor
intensida-
floreios,
dando em resultado o estado atual
delas.
—
24
—
III
TIPOS CALIGRÁFICOS Sob o
=
de "tipos caligráficos" (de Kalos
título
e Graphein '= escrever)
ou de "tipos de
englobar o estudo das várias modificações por que
sando a entre
foi
pas-
dando em resultado o sistema hoje corrente
escrita,
uma
Certo é que, para
nós.
belo
podemos
escrita"
análise
acurada, deve-
ríamos retrogradar nossa pesquisa até o alfabeto grego ou o fenício. Levando em conta, entretanto, que os atuais alfabetos ocidentais derivaram da fórma latina, é neste ponto
que iniciaremos o nosso estudo.
O 21
alfabeto latino provêio do grego e constava de apenas
letras,
O
existiam.
de
U
X
sendo o I
As
a última delas.
representava os sons de
letras J e
I e J;
e o
Pela época de Cicero (106 a 46 A.C.
e V.
dução de várias palavras gregas tornou necessária das letras literais
Y
e Z, o
U
do
e
Os mais
J.
E como
teriormente, usadas apenas no
início
cabeça).
a intro-
a
adoção
antigos do-
tais
letras foram, pos-
das frases, ou na parte
superior dos escritos, intitularam-se capitais pitis
os sons
)
de que se tem notícia apresentam as letras
todas de tamanho idêntico.
=
V
que elevou a 23 o número de símbolos
a 25, quando da criação do latinos
não
Só mais tarde é que êsse número passa
do alfabeto.
cumentos
U
No
(de caput, ca-
desenho das letras capitais, as linhas
verticais faziam ângulo reto
as horizontais, razão pela
com
qual êsse tipo de escrita é hoje intitulado de escrita capital
quadrada.
Era, outrossim, cópia
da nos monumentos
fiel
e nos dísticos
o ser conhecida, também, pelo
25
—
escrita usa-
escavados na pedra.
nome de
drada lapidaria.
—
do tipo de
Daí
escrita capital qua-
Exemplo de
escrita capital
(íig.
A
fórma dessas
letras,
quadrada:
8)
como
se vê,
não mais
mudou.
Para as nossas maiúsculas hodiernas, que chamamos "tipo de imprensa", são ainda as antigas capitais quadradas
que
nas
Existem
vigoram.
exemplares de papiros
que
com a caligrafia se podem situar
De
notar-se, entretanto,
tos
e,
nos
europeus
capital quadrada, todos éles
entre os séculos 2.°
os caracteres da capital
muitos
principalmente, pergaminhos escri-
que os
escribas,
correntemente, começaram
mais
museus
lati-
A.C.
com
e 3.°
datas
D.C.
buscando escrever
insensivelmente a
alterar
quadrada, encurvando os traços e
desobedecendo à precisão do encontro de linhas em ângulos retos. Resultou daí uma escrita que se denominou capital rústica.
Ex.:
líjUI\'AQVÍI>fOjnaVAl5íACIiOfUACDGI (Testaturque deos iterum se ad proelia cogi) (fig.
O cia
tracejado já não tão rígido indica por certo a tendên-
ao arredondamento dos tipos.
dar, efetivamente, 4.°
em
9)
ou
5.°
produzindo
século cristão,
uma
em
E
é isso
que
se
vem
resultado, já por volta
escrita
que se intitulou
virtude — supõe-se — de o arredondamento de — 26 —
a
do
uncial,
certas le-
tras
se
quem
assemelhar
à unha (unguía, em latim) (1). Há também, oue tal nome derive de uncia (= pohavendo nesse caso alusão ao tamanho excessivamen-
creia,
legar),
te grande dêsse tipo de
nos manuscritos.
letras,
ro íY^ O
R eS (fig.
Os autores costumam arredondamento das letras,
Ex.:
10)
realçar
o fato
a escrita
de que,
uncial
é
afóra o
ainda quase
totalmente formada de maiúsculas, provenientes da capital rústica. Fazem exceção o h e o q, com hastes acima e
abaixo do lineamento geral, hastes que indicam pertencerem letras já
tais
rísticas
a
uma fórma
minúscula.
da escrita uncial são apenas as
\ ò e Cfig.
É cia
da
na
escrita uncial
escrita cursiva.
Realmente caracteletras a, d, e e
ÇT)
11)
que se começa a observar a influên-
Chama-se cursiva a
escrita
que hoje diríamos "manuscrita", em contraposição ma".
A
m:
corrente,
à "de for-
capital quadrada, a capital rústica e a uncial
eram
usadas para os documentos importantes e para a cópia de livros.
Constituiriam a letra "de fôrma", da época.
A
cur-
siva era a comumente empregada em documentos de menor importância, cartas, notas, etc. Terá sido do cursivo que a escrita uncial retirou o seu
0.
E
é fácil
compreender qual
Tratando da escrita uncial, E. M. Thompson, em sua "Pa(1) "As palavras de S. Jerónimo, tantas ve/.es citadas leografia", diz: "uncialibus, ut vulgo aiunt, litteris" no prefácio do livro de Jó, jamais foram completamente explicadas. Não há nenhuma dúvida com respeito à fórma da escrita uncial, mas a etimologia da palavra
—
27
—
é desconhecida".
o caminho seguido, através dos tempos, pelo antigo tal,
em
pressa
E
capi-
virtude do desejo dos copistas de escrever mais de-
:
(fig.
Também
ee
£ e e
L E se
12)
pode retraçar a passagem do
H
maiúsculo
até o uncial e o minúsculo cursivo:
HH W M h k (fig.
E
o
mesmo com
13)
a letra A:
èvà (fig.
14)
Os mais antigos documentos
vem
situar-se por volta
cial se
manteve em uso
do
cx
escritos
4.° século
em
D.C.
tipo uncial de-
E
a escrita un-
até o século 8.° de nossa era.
Convém
nem sempre os documentos foram desenhados em É muito comum encontrarem-se páginas nas quais, de mistura com o uncial, o copista entrosou letras do tipo capital. Além disso, com o tempo, o cursivo vai cada vez
notar que
estilo puro.
mais influenciando a escrita que diríamos "documental" ou "livresca",
começa que
já
por
serem usadas nos
não era
uncial,
documentos e
livros.
do 5° ou 6.° século cristão um mas ainda não era cursivo. Êsse
a surgir, a partir
— 28 —
E tipo tipo
de
escrita se
denominou
principalmente
em
para
anotações
virtude de poder traçar-se
modo, para
certo
a
E
semi-uncial.
muito
foi
marginais ou
em
usado
interlineares,
caracteres menores.
adoção deste tipo de
letra influía
De
também
a crescente dificuldade na obtenção de matéria base da escrita:
papiro ou pergaminho.
Escrevendo com
letra
menor
o copista aproveitava mais o material de que dispunha:
(fig.
A
partir
do
8.°
século
15)
começam
a surgir tipos caligráíi-
cos a que se convencionou chamar nacionais,
embora todos
derivados da escrita
latina. Os museus e arquivos europeus guardam enorme cópia de documentos com a classificação
de
escritas
inglesa,
local
pontifícia,
que
cavam
merovingia,
geral,
isolar-se
etc.
longobárdica,
Todas
visigótica,
de maior
elas
irlandesa,
importância
considerando que os países, na época, bus-
uns dos outros.
Importante, entretanto,
o renascimento das letras sob o reinado de Carlos
Êste renascimento trouxe consigo
uma
reforma na
foi
Magna
caligrafia,
surgindo então a chamada minúscula carolina ou carolingia
(de Carolus
=
Carlos) que grandemente influenciou as de-
mais escritas nacionais.
mas
simples
e,
Considerada elegante, adotou
de certo modo, graciosas; e
sendo adotada gradualmente ao ponto de escritas.
É
o tipo carolíngio que,
subsiste valentemente tal" até a criação
como
escrita
da imprensa.
A
foi
aos
poucos
as
demais
alijar
com pequenas
variações,
"livresca" ou
"documen-
sua variante principal
a escrita gótica, que surgiu por volta do século XII.
—
29
—
for-
foi
/
:
Exemplo de
:
:
carolíngia
escrita
(quaerere divinum cogitur auxilium) 16)
(fig.
Exemplo de
escrita gótica
zattuô hõ lutabit (Pravus homo (fig.
Quanto à formado
A mão
sua fantasia,
Além
disso, o cursivo
forme o material da
uma
mais ou menos prática do
podiam
ou a
por base
não se pode dizer que tenha
cursiva,
escrita
tipos.
vitabit)
17)
grandemente a
alterar
naturalmente se
escrita.
Quando
foi
os
copista, escrita.
modificando con-
documentos tinham
táboa, e o tracejado era feito a estilete, era
forçoso que a fórma fosse mais geométrica, os ângulos firmes.
Passando para o papiro çadas as letras te
e,
mais tarde, para o pergaminho,
com uma pena de
tra-
ave, as linhas naturalmen-
vão tomando formas curvas, os ângulos vão desaparecendo
e surge a tendência
recer nosso
para as ligaduras.
pensamento, vejamos
romana, do Séc.
I
—
(Censiest
nam
(fig.
—
30
um
noster)
18)
—
Apenas para exemplo de
escla-
cursiva
As
letras são
bem
separadas, os traços não têm flexibi-
lidade.
Já no século VI as letras são mais unidas, o tracejado é quase todo curvilíneo: I
(huius splendedissimae urbis) (fig.
XVI
Finalmente no século
(fig.
Os manuscritos cada
letra,
de
19)
todas as letras são ligadas:
20)
apresentavam
modo que
formas
variadas
do paleógrafo os pode
só a prática
Estudaremos mais adiante, ao tratarmos das
decifrar.
para
difi-
culdades da leitura paleográfica, vários exemplos de cursivo.
Cabe aqui uma nota por linha,
a respeito
Como
nos livros antigos.
frases,
fácil era o cálculo
os
do comprimento copistas
das
fossem pagos
do preço quando se tratava de
Copiando trabalhos em prosa, todavia, cada escriba
versos.
podia distribuir as
letras
de
modo
a obter
um
maior rendi-
Para evitar êsse perigo estabeleceu-se o uso de serem os trabalhos copiados tomando por base o comprimento mento.
de
um
verso homérico de tamanho médio.
aproximadamente 36 bas.
As
letras,
ou
seja,
linhas escritas dentro dessa
—
31
Isso equivalia a
mais ou menos 16
síla-
medida eram chamadas
em
versus ou,
metria a
grego, stichoi,
donde a denominação de
estico-
Muitos escribas costuma-
sistema de medida.
tal
vam numerar os stichoi ou versus afim de facilitar a gem final para efeito de pagamento do trabalho. Os tas posteriores,
contacopis-
ao re-copiarem a obra, já não se preocupa-
vam em medir
as linhas.
Copiavam
o texto
livremente,
acrescentando apenas, nos devidos lugares, os números já
empregados pelo escriba do
original.
Tal numeração, além
dêsse lado prático, oferecia ainda a vantagem de permitir a citação precisa do texto: os capítulos do livro ficavam divi-
didos
em
versus.
Até hoje certos de numeração. é
em
A
livros clássicos
Bíblia é
um
conservam
exemplo
livros, capítulos e versículos.
Mais
tal
sistema
disso, dividida
que
tarde, os escribas
passaram a numerar os versus apenas de dez
em
dez ou de
cem em cem.
As poesias passaram a ter numeradas apenas as estrofes, desde que todas tivessem o mesmo número de versos. Com a imprensa, afastado o trabalho manual do copista, ficou também afastada a necessidade da numeração das linhas.
Hoje, as citações se fazem através da numera-
ção das páginas, indicando-se a edição da obra.
—
32
—
IV
MATERIAL USADO NA ESCRITA
No
desejo de transmitir a outrem suas idéias, o
utilizou-se a princípio dos materiais
à mão.
que pôde encontrar mais
Já vimos, mesmo, que o barro deve
meiro material de que
berem
êles
em
êsses
materiais,
ter sido o
Só com o tempo é que
se valeu.
descobrindo, ou criando, materiais outros
Estudando
homem
com
entretanto,
o
mesmo
prifoi
fim.
verificamos ca-
duas classes principais: o material destinado
a permanecer, a conservar a idéia exposta, e o material que se poderia considerar acessório, cuja permanência não entra
—
o que servia para gravar a idéia.
O
primeiro dêles poderemos intitular de base da escrita; o
se-
em
linha de conta
gundo
será o impressor da escrita.
Tendo em utilizados pelo
vista
que os
homem
bemos num quadro
três reinos
da natureza foram
na transmissão de suas
sinótico,
para facilidade de estudo, todos
os materiais que serviram para a escrita:
—
idéias, englo-
33
—
Argila, barro
Terracota, tijolos
Folhas Osso, marfim
Pedras,
MATERIAL
mármore f
Metais
Preciosos
!
I
Não
preciosos
Linho
BASE
Tabuinhas enceradas
Couro Papiro
Pergaminho Papel
Graphium Cálamo
(estilete)
Pincel Grafite (desde o Séc.
Pena de ave Pena metálica
MATERIAL
Caneta
tinteiro
Caneta esferográfica
IMPRESSOR
Preta CO +-'
c
h
Vermelha Outras cores Crisografia
—
34
—
XI)
—
1
Material base
Como
se vê por essa chave, foi
—
supõe
com
a argila
— como se
que o íiomem iniciou a descoberta de materiais para a escrita ou mesmo a descoberta da possibilidade de
A
transmissão da sua idéia.
mem
foi
feito
de barro
tradição bíblica de que o ho-
de certo modo, simbólica: teria
é,
humano primeiramente deixou
sido na argila que o espírito
uma
No
impressão definitiva.
homo
meiras manifestações do
mente
feitas
Um
para seus semelhantes.
abandonado numa caverna tal e
barro são deixadas
é algo casual,
não deliberadamente deixado pelo
a sua passagem pelo lugar.
as pri-
sapiens voluntária, expressa-
Ao
machado de silex meramente aciden-
homem
para marcar
passo que os desenhos que
Já constituem o embrião da idéia de se fazer notado pelos semelhantes ou pelos fazia
na argila
já
têm
essa finalidade.
pósteroS;
Assim começou o homem
a usar o barro, retirando
uma
parcela dêle do local onde o encontrasse para fazer os seus
Dentro
desenhos.
em
breve, porém,
foi
verificando
certas
alterações na argila utilizada. Por exemplo: assim que transferisse
para ela
um
ou desenho, deixando-a no
sinal
interior
de sua caverna, aquele pedaço de argila secava. Observou que o barro sêco mantinha por mais tempo o desenho efetuado, apesar das rachaduras
produzidas pela secagem.
É
evidente que lhe surgiu logo no cérebro a idéia de procurar a secagem de toda a argila na qual tivesse desenhado algo. Talvez por casualidade, terá deixado algum pedaço de barro
ao a
sol.
massa
Verificou assim que o sol secava mais rapidamente e
lhe
dava
primitivo terá dêsse
um
endurecimento maior.
modo
O
hoim-m
descoberto o cosimento, ao
sol,
da
argila. Só muito mais tarde é que veio a descobrir o que depois da hoje chamamos terracota, ou seja, terra cosida:
descoberta do fogo, é
claro.
Terá descoberto
cosido ao fogo, ou ao forno, obtinha
—
35
—
uma
(]ue
o barro
dureza muito maior.
Assim, pois,
ou
por experiências
é lentamente,
provocadas, que o
homem
acidentais
vai adicionando ao seu cabedal
jnovos materiais de escrita.
também utilizadas como maNão constituem elas matéria de grande resistência ao tempo. Mas foi encontrado no Nepal um manuscrito em folhas, com várias centenas de anos. Até As
folhas de árvore foram
base para a escrita.
terial
Jioje alguns
em
povos orientais costumam gravar
folhas de
palmeiras alguns de seus sortilégios e orações.
Das
folhas terá o
tacável das árvores. terno,
no
tico.
Do nome
liber,
Depois
homem
passado ao uso da casca des-
Os desenhos eram
feitos pelo lado in-
porquanto o lado externo é normalmente
rús-
latino liber derivou o português livro.
disso,
começou o homem a experimentar tam-
O homem
das
cavernas, nas suas lutas contra as feras afim de obter
ali-
bém
materiais mais resistentes, mais duros.
mento, observava que, após nutrir-se com carne do animal abatido, ficava
para
de posse dos ossos.
muitas utilidades.
Os
Utilizaram-nos
ossos lhe serviram
como armas
(pu-
em
nhais, tacapes, ponta de flexas), transformaram-nos
ins-
trumentos (agulhas, espetos, flautas), usaram-nos à guisa de totens
como
(caveiras, enfeites
tibias
cruzadas),
mesmo
aplicaram-nos
(batoques, penduricalhos,
como
indígenas da
E
África ou de certas ilhas do Pacífico ainda usam).
veram também sôbre os ossos.
resol-
fazer a experiência de representar suas idéias
Não importa que fossem
ossos chatos ou
ambos serviam igualmente. E Provavelmente com qualquer pedaço de
ci-
líndricos, pois
nêles
rabisca-
vam.
silex
de ponta
aguçada.
Posteriormente verificaram que podiam riscar nas pedras soltas, ou nas existentes no fundo de suas covas.
E
essa
a razão pela qual hoje se encontram, nas paredes das caver-
nas remanescentes dos períodos paleo e neolítico, desenhos ieitos pelo
homem
dessas épocas.
—
36
—
Mais tarde as civilizações que chegaram a criar sistemas de escrita buscaram materiais outros sôbre que pudessem deixar gravadas suas idéias.
Na
antiga
civilização egípcia
como base para
em
tas
tiras
Os
a escrita.
homem
Encontraram-se
usou
o linho,
múmias
en\oi-
de pano, nas quais havia desenhos pintados. escreveram
assírios
gando o alfabeto cuneiforme. sivamente pesado.
Em
o
Não
em tijolos de terracota empreMas êsse material era exces-
podia ser facilmente transportado.
face disso, é natural que o
homem
procurasse des-
cobrir bases de escrita, ou seja, materiais sôbre os quais es-
mas que fossem de fácil obtenção e relativamente de maneira que a idéia nêles impressa pudesse ser
crevesse, leves,
transportada para outro lugar
em
já tinha escrito
com
facilidade.
Se o
homem
folhas e cascas de árvores, o passo se-
guinte era quase lógico: a utilização da própria madeira da
em
árvore, talhada
sôbre êsses
pedaços o menos espessos possível.
pedaços experimentou
escrever
com
E
qualquer
instrumento duro de extremidade aguçada.
É A
quando entra em cena o graphium, ou gravação com
estilete.
madeira, não só demancomo não permite grande precisão no Alguma pessoa terá traço, tornando a escrita imperfeita. a outra matéria qualquer, idéia cobrir madeira com tido a de .
da certo esfôrço
estilete sôbre a
físico,
Nossos pósteros terão experimen-
mais facilmente gravável.
mesmo
tado, quiçá, até
o próprio barro,
espêssa espalhada sôbre a madeira. terão
feito,
não poderemos
às chapas de madeira
radas". tae.
Os
Em
E
foi
inú-
um banho
de cêra.
Cêra comum, cêra
assim que surgiram as "tabuinhas ence-
latinos as
grego:
outras tentativas
tê-las-ão feito
Até que alguém descobriu que podia dar
meras, por certo.
de abelhas.
Mas
saber.
em camada pouco
Que
chamavam
deltos, deltion
—
37
tabulae ou tabellae cera-
ou
—
deltidion.
Interessante
notar que as tabuinhas enceradas foram de uso
tempo
rante muito
Quando
comum
du-
e usadas extensivamente.
o texto que se desejasse escrever não coubesse
numa só tabuinha, juntavam-se duas ou mais delas formando uma espécie de volume, costumando-se ligá-las pelas bordas, como hoje fazemos com as páginas dos livros. Quando duas tabuinhas enceradas eram assim unidas, eram das de díptica.
Se fossem
intitula-
Quatro ou mais,
tríptica.
três,
políptica.
Segundo parece, a mais
comum
tores, as
tríptica
deve
ter sido a
forma de uso
Segundo alguns au-
das tabuinhas enceradas.
tabuinhas enceradas foram usadas para os serviços
ordinários da vida, para contas, cartas, apontamentos, exercícios escolares, etc. e
XI ou XII da
parece, até
era atual ainda tiveram aplicação.
Entre os romanos o marfim
do
em
algumas vezes emprega-
foi
lugar das tabuinhas enceradas.
lavores
uma época relamesmo nos séculos
foram utilizadas até
Ao que
tivamente recente.
esmeradíssimos
eram
Sendo que, neste
esculpidos
sôbre o
caso,
material
que, assim valorizado, se conservou para os tempos atuais.
Também
os
experimentados como base
metais foram
para a escrita: e não só os preciosos, como o ouro e a prata,
como também
os não-preciosos,
estanho ou ligas (bronze, crita
em
apresentava os outros:
Além da por que
p.
como
ex. ).
o cobre, o chumbo, o
Êste tipo de base de
mesmos inconvenientes que
pêso excessivo e
dificuldade de
ser
dificuldade de obtenção ou preço oneroso. foi
já
es-
vimos
esculpido.
Razões
abandonado.
Dos documentos escritos em ouro e em prata, em virtude do seu valor como metais nobres, poucos restaram. Terão sido fundidos e transformados
em
jóias
ou moedas.
São
mais comuns, nos museus epigráficos europeus, os documentos escritos
em chumbo
e bronze.
—
38
—
Paralelamente ao uso das tabuinhas enceradas, de extensa aplicação
no continente
europeu, desenvolveu-se
— no Egito — um outro
Sul do Mediterrâneo
ao
material base
para a escrita: o papiro.
O
com
papiro era feito
o caule de
uma
planta
{Cy pe-
rus papyrus) que crescia às margens do Nilo, na região do
Delta e hoje ainda existente na Núbia
Cyperus papyrus cêrca de dois
uma
é
e
O
na Abissínia.
espécie de junco, cuja haste alcança
metros de altura
coroada por
e é
elegante
umbela.
Não
se sabe,
com
precisão,
como
Segundo
obscuro, por Plínio.
A
era feito o papiro.
única noção que se tem é a dada, de
modo mais ou menos
a descrição por êle
feita,
pa-
rece que o método de fabricação era relativamente simples.
Cortada a planta, dela feita
(após se
em
instrumento cortante,
chamadas phiiyrae ou tas lado a lado sôbre
a
do
separava a haste.
se
Esta era des-
por intermédio
casca)
lhe extrair a
de
um
lâminas longitudinais muito finas Várias philyrae eram pos-
scissurae.
uma
prancha inclinada até alcançarem
Umedecia-se tudo com a água lodosa Transversalmente, colocava-se nova camada de
largura desejada. Nilo.
philyrae e se submetia o conjunto a secava-se ao
sol,
raspava-se
com uma
prensa.
em que
luscos as irregularidades do lado alisava-se
uma
Após
isso,
com carapaças ásperas de mo-
espátula de
marfim.
se
ia
escrever e
Estava pronta
a
plagula, ou página, de papiro.
Na
utilização
do papiro
é evidente
que, às
vezes, o
assunto exposto poderia demandar mais que o espaço oferecido por uma só plagula. Nesse caso, eram reunidas duas ou mais. Surgia aí uma dificuldade: como manusear o todo
formado pelas várias plagulae?
E
a questão foi solucionada
adiciomediante o enrolamento do papiro, para o que eram extreduas nados bastões cilíndricos, de madeira ou osso, às
midades.
Cada bastão
intitulava-se,
—
39
—
em
latim,
umbilicus e
sua finalidade, afora a de facilitar o enrolamento do papiro, proteger
era
sabidamente
material,
êste
Nenhum
frágil.
mas aparecem em desenhos da
umbilicus chegou até nós, época.
Do
do papiro expandiu-se por todo o mundo Não há documentação a respeito mas, ao que
Egito, o uso
ocidental.
Europa por volta do século
parece, foi introduzido na
III de
nossa era. Várias eram as vantagens que o papiro apresentava so-
— mais que — manuseável; de mais — de melhor
bre as tabuinhas enceradas:
— mais
2°
lae;
(pena
escrita
facilmente
em
leve
1.°
vez do estilete);
4.°
que as
caindo
em
tabuinhas enceradas
Nada mais
,
.
Era de
caro.
natural,
poucos,
fossem, aos
desuso ao ponto de, mais ou menos pelo século
XIV D C terem sido O papiro contudo, .
difícil
completamente abandonadas. sendo importado
do
um
ficava
Egito,
Houve, então, tentativas no
obtenção.
sentido de transplantar o seu cultivo para a Europa.
que
fácil
legibi-
lidade (tinta escura sôbre fundo claro). portanto,
as tabel-
3.°
viajante árabe, lá pelos fins
do século X,
Consta
teria visto
luxuriantes plantações de papiro nas vizinhanças de Paler-
Mas
mo.
tal cultura, já
nagem dos
rios
e
XV, com
por volta do século
pântanos da
ilha,
a dre-
desapareceu completa-
mente.
Um
outro material que
gum tempo
foi
o couro.
É
também
não comida a parte externa, ou ela
o
como base para
homem não
tinha
usado durante
foi
claro que, abatido seja, a
um
sua pele grossa, servia
a fixação do pensamento humano.
conseguido ainda
meios de
De modo que
convenientemente o couro.
al-
animal e
Mas
preservar
êste ressecava
ou
apodrecia.
Se ressecava, partia-se; se apodrecia, não con-
vinha
guardado por motivos óbvios.
tê-lo
não se sabe como, terá o servar
ésse
homem
material, terá
descoberto o
—
40
Mas
aos poucos,
descoberto os meios de con-
—
tanino,
extraindo-o
de
frutos,
de cascas de árvore, de nozes, e terá
ido,
aos pou-
também, melhorando o processo de conservação das peles: o curtimento. Entretanto, já por êsse tempo o papiro havia tomado o lugar de material precípuo na escrita e concos
homem abandonou
sequentemente o ver
em
as tentativas de escre-
couro.
Acontece porém que, pelos arredores do ano 200 A.C., Ptolomeu,
rei
do
Egito,
com ciúmes da sua
biblioteca de Ale-
xandria, e temendo que outras bibliotecas lhe pudessem fazer sombra, resolveu proibir a exportação de papiros do Egito para a Europa.
o
Diz a lenda, ou
da época, Eumene
rei
história,
que
decidiu descobrir
II,
para o papiro, que não era mais importado.
—
seus sábios ou pessoalmente
—
to (2)
terá descoberto o
um substituto, E através de
não se pôde saber ao cer-
meio de conservar couros
criando assim o pergaminho (de Pérgamo). aos poucos consegue alijar o papiro escrita,
em Pérgamo,
como
O
finos,
pergaminho
material básico da
em
virtude das vantagens que apresentava sòbre o
—
O
papiro: 1.
a
pergaminho
tante do que o papiro. rolar-se e desenrolar-se
o que não 2. ^
—
se
O
resistia
Êste,
com
mais ao manuseio consa repetição
do ato de en-
acabava partindo-se ou esfoliando-se,
dava com o pergaminho; pergaminho era mais resistente ao tempo e às
A
umidade, embora pudesse fazer deteriorar a escrita e auxiliar o ataque dos fungos à matéria base, era no entanto muito menos prejudicial ao pergaminho que ao intempéries.
papiro;
pergaminho podia ser usado por ambas as suas redundando isto numa economia de espaço. Um tex-
3a faces,
o
Pcrgamo
"Não é exato que o pergaminlio fosse invcnlado cm (?) animais era já aiUigo na porquanto o hábito de escrever sòbre peles de IMi.lolog.e Classique <le Manne! Reinacl. S. Pérsia e na Jônia",
-
-
Vol.
1,
pág. 41, nota
1.
—
41
—
to
que demandasse dois metros de papiro poderia ser
nos dois lados de 4.^
—
O
um
só
pergaminho
podia
ser
texto julgado já inútil era raspado
Um
pergaminho assim
(em grego:
A a
reaproveitado.
sôbre
e,
Um
êle, reescrevia-se.
intitulava-se palimpsesto
re-utilizado
de novo) ou codex rescriptus.
escrito
manufatura do pergaminho desenvolveu-se por toda
Europa.
E
os fabricantes dêsse material foram descobrin-
Os pergaminhos de mecom pele de carneiro. E,
do meios de cada vez melhorá-lo.
eram
lhor qualidade
os fabricados
entre êstes, havia ainda os tos",
escrito
metro de pergaminho;
finíssimos,
chamados "pergaminhos non-napele de
era usada a
para cuja fabricação
carneirinhos ainda não nascidos, ou recem-nascidos. tal como aconteceu com o papiro, que foi sendo medida que o pergaminho se firmava, também o pergaminho começou a desaparecer por volta do século 15, para dar lugar a novo elemento: o papel (3).
Depois,
alijado à
O lá
papel, segundo se diz, foi descoberto na China e de
trazido por viajantes para o
mundo
ocidental.
primórdios, o papel era fabricado de trapos. é
Nos
seus
Só mais tarde
que se vem a descobrir o processo de aproveitamento da
polpa dos vegetais,
isto é,
da celulose.
Era natural que o
papel afastasse o pergaminho pois que, ao lado das
em
vários pontos:
O papel é mais leve que É menos espesso que o
o pergaminho;
qualidades dêste, era-lhe superior 1. °
2. °
que os 3. °
manhos 4. °
— — — ^
livros
são
Pode
e côres
—
A
menos volumosos ser fabricado
em
mesmas
pergaminho, de
modo
e melhor manuseáveis;
todas as espessuras, ta-
que se desejarem;
matéria prima para a fabricação do papel é
de muito m.ais simples obtenção;
(3)
o método
Ao
que parece, a primeira fábrica européia de papel, segundo fundada em Fabriano (Itália) no ano de 1340.
chinês, foi
—
42.
—
—
5.°
É
mais fàcilmente costurável que o pergaminho;
e a cola (quer a vegetal, quer a animal)
adere melhor ao
papel.
Além do
cem
mais,
a descoberta da imprensa, verificouque o papel se adaptava melhor ao trabalho em série. As máquinas necessitavam sempre de um material estandarse
dizado, de
com
tamanho
e espessura fixos, o
que não podia dar-se
o pergaminho, pois êste tinha sempre as dimensões do
animal que lhe tivesse dado origem.
Assim
é
que o papel vai alijando o pergammho.
entretanto manteve-se
derado como
um
em
Êste
uso durante muito tempo, consi-
material mais elegante, mais nobre.
Tanto
bem pouco tempo, Diz-se mesmo que as
assim é que as bulas papais (4), até há ainda eram escritas bulas
continuam
em
pergaminho.
sendo
Acontece porém que
escritas
não
já
se
em pergaminho trata
até
hoje.
mais do pergaminho
verdadeiro, ou seja, extraído de carneiro, mas, de pergaminho
Êste pergaminho vegetal não passa de papel, que
vegetal.
processos
sofre
especiais,
transformando-se
em
similar
do
vero pergaminho.
O
pergaminho
foi
igualmente usado, durante muito tem-
po, para a feitura de diplomas.
que
um
Até hoje se costuma dizer
homem, quando completa
cumento comprobatório
disso,
um
curso e obtém o do-
"tem pergaminho".
davia, os diplomas não mais são feitos sim,
em
em pergaminho
e.
papel: papel grosso, cartolina de boa qualidade ou.
no máximo, pergaminho
Convém dos
Hoje, to-
vegetal.
agora lembrarmos a questão referente à forma
livros.
=
Uola. As carias _c msl Denominação orÍRÍn;iria <lc /'/(//(/ (4) clmnitHi, cm forma ções papais eram autenticadas com um sinclc <lc pcruaminlio .ni preso a um bola, e que era aposto diretamenlc no
pendente.
—
43
—
Ao
em
escrever
em
folhas,
com
tais materiais
Com
relação ao barro já o
de
que põe a
argila,
mesmo não
O homo
acontece.
formato a seu bel prazer.
Os
secar.
assírios
em
ou octogonal.
hexagonal
homem
cilindros e
em
tijolos
em
pla-
prismáticos, de base
Os metais também
permitem ao
Mas
êle se decide
a adoção de formas ad-libitum.
normalmente pelo
tijo-
deixaram documen-
tada sua história (através do alfabeto cuneiforme) cas argilosas,
Opta,
forma paralelepipédica, modelando
naturalmente, pela los
a
um
sapiens pode dar-lhe
homem
ossos ou na pedra, o
forma que lhes deu a mãe natura.
usou
formato
os metais
plano, dispondo
em
placas ou chapas de espessura e dimensões variáveis.
As bases da
escrita
começam a
em
estas eram, muitas vezes, reunidas
ou mais, através de ligaduras
feitas
em
fixar-se
das tabuinhas enceradas.
finitivas a partir
grupos de duas, três
numa
e,
qual se dava
volume,
um
neste, prender
O
uma
fio
Era
das bordas.
costume, também, deixar pendente a ponta do
dura
formas de-
Já falámos que
fio
da
liga-
pedaço de couro ou madeira, no
indicação do que existia escrito naquele
pendente assemelhava-se a
uma
Daí
cauda.
a denominação que os volumes assim caudados receberam
E
de caudex ou codex.
essa razão
dá hoje aos volumes antigos, ainda
do nome códice que se
mesmo quando não
feitos
de tabellae ceratae.
O
papiro não acompanhou o sistema usado nas tabui-
nhas enceradas, como sabemos.
ma um
cilíndrica,
em
rolo.
dos umbilicus
Dizia-se
e,
ao
Lia-se
mesmo
Para êle
um
foi
adotada a
for-
papiro desenrolando-o de
tempo, enrolando-o no outro.
volvere e evolvera ou plicare e explicara para a
ação de enrolar e desenrolar o papiro para a lus axplicitus equivalia a rolo lido. são,
quando o texto
mo
é explícito.
Daí
leitura.
dizer-se,
é facilmente compreensível,
Também
se
usam
— 44 —
Rotu-
por exten-
que o mes-
os termos explicar
uma
desenvolver
lição,
um
tema, lembranças evidentes do expli-
care e do evolvere latinos.
Quando surgiram não
ciais
os pergaminhos, seus utilizadores
se decidiram
ser dada.
ini-
de imediato quanto à fórma a lhes
Encontram-se pergaminhos, datando dos primei-
ros tempos de sua aplicação, quer sob o formato de rolo,
como
os papiros, quer sob o formato de códices,
beliae.
minho permitia dente que a
para
como
as ta-
Considerando que, ao contrário do papiro, o pergaa escrita sobre
ambas
as suas faces, era evi-
fórma de codex apresentava maior
leitura.
Consequentemente,
foi
facilidade
o sistema que acabou
vigorando e que se transmitiu, mais tarde, para o papel.
Os
nossos livros atuais são os herdeiros, pois, da fórma iniciada
com
as antigas tabuUae ceratae.
Pormenor
interessante,
dimensões dos volumes
em
também,
é o
que
diz respeito às
Êste não podia ter
pergaminho.
medidas precisas porquanto dependia do tamanho do animal de que
fosse
vam-no em
originário.
dois e isso se
Para
escrever-se podia exigir mais de rios
eram reunidos
facilitar
chamava um
um
o
manusêio, dobra-
O
folium.
folium
e,
e costurados pela dobra,
assunto a
nesse caso, vá-
formando volu-
mes de duas ou mais iolia. Razão por que dizemos atualmente que os nossos livros têm folhas. Quando o volume Se de três se compunha de duas folia intitulava-se binio. folia, ternio; quatro,
diante.
quaternio; cinco, quinternio; e assim por
Os mais comuns foram
os quaternios,
que deram
As folia reunidas davam em de grandes diin-folium chamados resultado por vezes dobravam mensões. Para maior manuseabilidade, ou cada folium ao meio. Ora, se êste já possuia uma dobra, Os duas lâminas, da segunda dobra resultavam quatro. origem aos nossos cadernos.
—
volumes —
seja,
livros assim feitos
chamavam-se, então, in-quarto.
Se nova
menor o volume, dobra era efetuada com o fim de tornar tinham-se então os códices in-octavo.
-- 45
—
Os
editores da atuali-
dade conservaram
denominações para os
tais
Quando dizem que um volume
livros
de papel.
ou
é in-quarto, in-octavo
in-
número de folhas de como veio da fábrica,
dezesseis (avos), estão referindo-se ao
que cada lâmina de papel,
livro
tal
produziu.
—
2
Material impressor.
a) Instrumentos
É barro,
ou desenhar sobre
êsses materiais, ta
homem começou
que quando o
claro
a utilizar-se
do
ou das tabuinhas enceradas, só poderia escrever sobre usando algo de pon-
êles,
dura porquanto, não fora assim, não conseguiria gravar o
E é assim que homem traçou
que desejava.
com o qual mais
como
primeiros desenhos
seus
Descobrindo
letras.
estilete,
entretanto
o
ou,
papiro
material de escrita, verificou que o estilete perdera sua
Não
utilidade. lia
o as
tarde,
surge o graphium, ou
era possivel escrever
como
matéria macia, delicada,
temente, teve de criar
perimentado o servira,
o graphium sôbre
Consequen-
era o papiro.
Terá
instrumento diferente.
pincel, a princípio,
por certo,
egípcios,
um
com
mesmo porque
como instrumento de
escrita
ex-
o pincel já
dos antigos
quando traçavam seus desenhos primitivos sôbre o
linho que envolvia as múmias.
Mas
precisava encontrar
um
instrumento de
cel.
Além
obtenção e de mais simples manufatura que o pin-
fácil
com um
homem
o
mais
disso, sôbre o papiro, a escrita tinha
de ser
feita
material qualquer que deixasse impresso o desenho:
a tinta, portanto.
O
instrumento devia
gravador da escrita mas também, ao portador da
tinta.
Surge então o cálamo.
nada mais nem menos do que cuja ponta
ser,
mesmo
era recortada
em
um bisel.
pois,
O
cálamo era
caniço, espécie de junco,
Mergulhado na
conservava na sua parte interna, por capilaridade,
—
46
—
não só o
tempo, o trans-
tinta,
uma
pe-
quena quantidade se
dela.
E
era assim que a tinta, ao passar-
a ponta do caniço, ou cálamo, sôbre o
para êste deixando, marcada a impressão
Mais
tarde, é descoberto
papiro, escorria
escrita.
também de
algo
fácil
obten-
de maior duração que o cálamo, e que
vem a ser a pena das aves. Aves existiam em quantidade e em qualquer lugar. As penas maiores podiam ser recortadas da mesma fórma que o caniço, dêsse modo servindo de instrumento para a escrita. Certo é que, com o tempo, criaram-se proção, e
cessos de melhoramento dessas penas de ave, dando-lhes ba-
mesmo
nhos de água fervente, ou
fazendo-as receber
espécie de têmpera, ao fogo ou dentro de
mas
bizarras.
semelhante ao
A
com pena,
ma-
os chifres de boi para lhes dar for-
como
se sabe, é
ua matéria córnea,
chifre.
Pena de
ave,
usada para cscre\cr
(fig.
A
forno, de
Tal como hoje fazem
neira que ela se tornasse mais dura.
os nossos caipiras
um
uma
pena de
21)
ave prolongou seu
uso até quase os
atuais, porquanto, se ela servia para o papiro,
dias
serviu tam-
para o pergaminho e para o papel. Todas estas bases eram matérias delicadas, de modo que a pena, também deApenas há cerca licada, deslizava sôbre elas sem as rasgar.
bém
de
um
século é que a pena de ave
foi
sendo substituida pelo
intitular instrumento metálico que, por semelhança, se veio
também de
pena: a pena metálica.
aperHoje, as penas de metal alcançaram um estado de espepenas existirem de ponto ao feiçoamento tão grande
—
47
—
cada tarefa: penas para desenho, para
cializadas para ros,
letrei-
para escritas de vários tipos e grossuras.
Já pelo dealbar deste século começou a ter grande uso que não passa de um tipo especial de pena
a caneta-tinteiro,
metálica, considerando-se o instrumento de escrita propria-
mente por
O
dito.
um
seu suporte, ou seja, a caneta é que passou
aperfeiçoamento que a torna não mais
mesmo tempo um
cabo para a pena, mas ao
um
simples
recipiente para
Quase poderíamos dizer que a caneta-tinteiro
a tinta.
é
cálamo modernizado porque, como o cálamo, transporta no seu
um
tinta
interior e a distribue por capilaridade pelo papel, à
medida que
a
pena sôbre
êle desliza.
Hoje, finalmente, e por sinal de mui recente entrada no
temos a
mercado, constitui-se
caneta esferográfica.
apenas de
um
à extremidade do qual se adapta
Deslizando
lica.
vai
girando
em
Esta,
em
síntese,
tubo, carregado de tinta pastosa,
uma
o aparelho sôbre
minúscula esfera metáo papel, a
modo
seu receptáculo, dêsse
esferazinha
transportando
a tinta do tubo para o papel.
A
caneta esferográfica tem suas vantagens e desvanta-
Por enquanto os nossos tabeliães não reconhecem as firmas feitas com canetas esferográficas, em virtude de que gens.
não dão talhe às
estas
racterísticos
letras.
E como
o talhe é
mais importantes e pessoais da
um
escrita, a
dos cacaneta
esferográfica reduz as possibilidades de individuação das letras e firmas.
Em
todo o caso, como é
se poderia considerar
a pena
comum
um
instrumento que
mais prático que a caneta-tinteiro ou
pela simplicidade da fabricação, preço
dico e por possibilitar as cópias a carbono, virá a
um
mó-
ter, talvez,
uso muito mais extenso do que a pena, ou a própria ca-
neta-tinteiro atual.
Só o futuro nos poderá dizer algo a
res-
peito.
É o
que a esferográfica venha a ter chamadas "penas japonesas", que eram
possível, entretanto,
mesmo
destino das
— 48 —
estiletes cónicos,
geralmente de vidro, com
uma
de ca-
série
naletas ao seu redor, convergindo para a extremidade. Eram "penas" que, como a esferográfica, também não produziam
São hoje quase desconhecidas, pelo menos entre
talhe.
A
atual geração talvez
nem
nós.
em
tenha, jamais, ouvido falar
"penas japonesas".
Os estudiosos de paleografia acham às vezes curioso o fato de os trabalhos da especialidade aludirem quase que exclusivamente à história da pena, parecendo esquecer o nosso muito útil e comuníssimo lápis.
Mas, o
também
lápis
a mina de chumbo,
XI
da nossa
foi
A
teve o seu lugar.
grafite,
com
Descobriu-se que seu uso se iniciou
era.
ou
usada mais ou menos desde o século
o tracejado das pautas para sôbre estas a pena poder escrever
em linhas retas. Nenhum documento
com
a grafite.
importante, entretanto,
Isso porque esta é facilmente apagada.
modo, quanto mais importante maior
risco
Hoje
fôsse
um
lápis é
Essa a razão
menos considerada.
a manufatura do lápis se encontra muito aperfei-
As
fábricas
produzem-no aos milhões.
Na
bricaçãõ, entretanto, não mais se usa a grafite pura
úa massa especial que forma a chamada mina dos
Por vezes, principalmente no que massa nem ao menos contém
côr, a
Dêsse
documento, corria
de ser alterado ou de desaparecer.
por que a escrita a
çoada.
escrito
foi
sua
fa-
sim,
e,
lápis.
se refere aos lápis-de-
grafite e, sim,
uma
tura de diferentes materiais corantes para uso pelos
misdese-
nhistas.
É
interessante
notar que, de
considerar a caneta esferográfica
o
lápis
com
e
tinta
a
caneta-tinteiro.
(embora uma
lidade de escrita do
bono
e
não deixa
certo
como
talhe.
—
entre
Por>que, se bem que escreva
tinta especial),
lápis, e,
modo, poderíamos
como um meio têrmo
49
—
êste,
tem
a
mesma
faci-
permite cópias a car-
b) Tintas.
As pretas
tintas
mais antigas de que se tem conhecimento são
A
ou vermelhas.
preta
tinta
mais antigos documentos egípcios, da
texto
os
escrito
essa côr.
O Mas
processo de fabricação da tinta preta variava muito.
parece que o sistema preferivelmente usado era o de
juntar negro-de-fumo
(fuligem)
cionavam-lhe por vezes
de
mesma fórma que
também possuem
pergaminhos mais remotos
com
encontra entre os
se
modo
a gordura dissolvida.
Adi-
uma pequena quantidade de vinagre,
que se pudessem interessar pela Os romanos usaram também a secreção de certos
a afastar os insetos
gordura.
moluscos
—
as cibas.
A
escrita
produzida por esta secreção,
entretanto, não era completamente negra.
lidade diluida que hoje se
Tinha uma tona-
denomina sépia (de
ciiba).
Durante a Idade Média muitas outras formas de preparação de tintas foram tentadas. foi
adicionada tentativamente.
A
ou animal, Por vezes juntavam à comcola, vegetal
posição pequena quantidade de vitríolo, fixador e
como
com fim
duplo:
como
Provavelmente êste é o motivo
inseticida.
por que muitos documentos, hoje existentes pelos arquivos,
sofreram corrosão ao longo do tracejado da
documentos
se
transformaram
em
verdadeiras
Exemplo de documento danificado por (Arquivo do Estado) (fig.
—
50
22)
—
escrita.
Tais
rendas cujas
tinta corrosiva
franjas são as bordas das letras que o antigo escriba traçou.
São documentos que não resistem ao manuseio e que nem sempre se tornam elegíveis para um trabalho de restauração, perdendo-se portanto.
A
tinta
vermelha, menos empregada que a preta, era frequentemente usada para dar realce a
entretanto muito
certos textos, para desenhos à guisa de enfeite, ou para escrita
côr
das
As matérias primas para
iniciais.
eram o cinábrio chumbo).
(sulfeto de mercúrio) e o mínio
salino de
Os
copistas
í.
a tinta dessa
(óxido
da Idade Média costuma-
vam ornar as iniciais dos capítulos com delicados desenhos em côres, entre as quais sobressaía o vermelho. Nasceu daí a arte da miniatura, derivando êsse_ térmo de mínio, substância por certo preferida pelos copistas
na feitura da tinta ver-
melha que usavam.
Além do
Há em
das.
ta verde.
preto e do vermelho, outras côres foram usa-
Orléans
uma
carta de Felipe
violeta e amarela.
ouro e prata. se crisograíia. rias poesias
A
E
com
tin-
encontram-se manuscritos grafados
em ouro ou prata Consta que Nero mandou escrever arte de escrever
em um
só volume,
conhecido documento
com
dêsse tipo,
de Carlos Magno, datando dos
fins
porém, é
era
necessário
suas vá-
O
mais
o Evangeliário
do século
8.°,
que
se en-
Para escrever
primeiramente corar
em
intitulou-
de ouro.
letras
contra na Biblioteca Nacional, de Paris.
prata
escrita
I
Outros documentos apresentam tintas de cór azul,
de vermelho
pergaminho, a fim de dar maior visibilidade à
escrita.
em o
O
mais afamado manuscrito dêsse género é o "Codex Argenteus",
contendo a tradução da
Bíblia,
que
se encontra
na
Universidade de Upsala.
rias tal,
Mais tarde, e até os tempos modernos, combinações váforam sendo experimentadas, inclusive as de base vegeque incluíam o taníno e o ferro. Sabe-se, por exemplo,
que a
tinta
"nankim" chinesa é
—
51
feita à
—
base de cola vegetal
'6
negro-de-fumo produzido pela queima de caroços de pês-
Nessas condições, poderíamos talvez
sego.
te
classificar as tin-
segundo o seu componente principal, ou quantitativamen-
tas
Teríamos, dêsse modo:
mais importante.
vegetais (à base de tanino, corantes vegetais, etc.)
animais (ciba, negro-de-fumo proveniente da queiTintas
ma
!
de matérias animais,
etc.)
minerais (ouro, prata, combinações químicas mo-
dernas)
É
provável que, na antiguidade, cada escriba preparas-
se sua própria tinta,
dida
do mestre.
quantidades tintas culos.
segundo fórmula de sua criação ou apren-
inconcebíveis
antigas, de
Farão o
natural, pois é sabido
de côr
azul,
manufaturadas
em
especializadas.
As
rudimentar, atravessaram
fabrico
mesmo
tintas
por fábricas
usamos
Hoje
as nossas tintas atuais?
que muitas
descoram à
luz
tintas,
com muita
A
os sé-
dúvida é
principalmente as facilidade.
Pode-
ríamos dar de ombros à questão ao nos lembrarmos de que
não é problema nosso, mas dos paleógrafos do porvir. sempre prudente prevenir, porém, a possibilidade de os nossos documentos atuais não sobreviverem de muito aos isso
É
seus rabiscadores.
Caso se apaguem com o tempo, contudo,
esperemos que a química do futuro venha a descobrir meios Jiábeis de fazer reviver
com segurança
—
52
—
a escrita desaparecida.
V CONSERVAÇÃO DE DOCUMENTOS Qualquer documente manuscrito, algum valor para o paleógrafo e para tretanto, êsse
que
documento
antigo,
pode oferecer
En-
os historiadores.
pode apresentar-se tão
estragado
ou mesmo de todo impeça a sua leitura pelo Disso ressalta desde logo a necessidade de con-
dificulte
estudioso.
servar os documentos e de restaurá-los, quando possível.
O
O
que conservar
problema da conservação envolve uma questão imO que se deve conservar e o que se deve inu-
—
portante: tilizar?
A nunca
resposta a essa pergunta não é se
fácil
pode saber quais os papéis que
de ser dada, pois irão
ter
valor no
que nenhum
indivi-
duo ou organização deseja ou pode preservar todos
os do-
Por outro
futuro.
lado, é de admitir-se
cumentos referentes à atividade na qual esteja envolvido.
A tempos
em ria
necessidade de destruição de papéis é evidente nos atuais.
Há
cinco séculos atrás, talvez
uma
pessoa
cada milhar sabia escrever; hoje a instrução é obrigatópara todos, multiplicando-se dêsse
modo
a quantidade de
indivíduos potencialmente capazes de deixar documentos de importância. crita,
Além
dessa difusão das possibilidades de
o preço irrisório do papel
es-
(em comparação com o que
custava o pergaminho) e os processos de duplicação
(car-
bono, mimeógrafo, impressão) facilitam na atualidade a pro-
dução de documentos
a tal
ponto que até
mesmo
os mais
convictos
advogados da conservação no interesse histórico
começam
a acreditar que, ao pesquizar dentro de nosso pe-
—
53
—
•
TÍodo, o historiador
do futuro será submergido numa verda-
maré de documentos.
deira
Destruir os documentos inúteis sempre que possível
uma
pois,
necessidade
vital.
Mas
o
é,
que destruir e o que
preservar tem sido o quebra-cabeças mais sério de tôdas as
organizações arquivísticas.
De um modo
geral pode-se dizer
papel cuja finalidade
foi,
que todo
e
qualquer
precisamente, o de anotar fatos de
efémera importância, podem ser desde logo destruídos; do
mesmo modo podem
ser inutilizados os
documentos de que
se saiba existir cópia obrigatoriamente conservada
em
outro
lugar.
Não obstante tais normas gerais, ainda a dúvida pode com respeito à destruição de papéis porquanto estes possuem, como bem o expôs uma publicação do Arquivo da pairar
Inglaterra, "trés fases distintas de possível utilidade:
1.^
—
•
—
Quando são requeridos para referências correntes; 2.^ Quando não se espera que sejam desejados mas podem, inesperadamente, ser necessitados; utilizáveis para
mente
feitos,
os
3.^
—
Quando não
são mais
propósitos para os quais foram original-
mas podem
ser
de valor cada vez maior para
referências históricas ou de caráter geral".
Por exemplo:
contas,
são de valor primário, ao
cartas e memorandos recebidos tempo em que chegam a nossas
mãos; são de importância secundária depois, porquanto legais;
um
legais já
podem
vir a ser
uma dezena
de anos
exigidos para propósitos
ou vários séculos após, quando até as finalidades
não entram
em
conta, poderão ser de valor para o
estudo de níveis de preços,
da posição ocupada por determi-
nada pessoa num determinado tempo, ou por qualquer uma das inúmeras razões que dizem respeito à história económica -ou social,
ou a quaisquer outros ramos da pesquisa.
— 54 —
:
Em
face de tal raciocínio devemos, então, conservar to-
das as cartas, contas e memorandos que nos dirijam?
que não.
Mas
também não
isso
que considerações
um documento devam
de possível futura utilidade de postas de lado.
significa
Claro
sei
Assim, pois, o problema de quais os papéis
a destruir fica sempre de pé,
desafiando a sagacidade do
arquivista.
A
publicação do Arquivo da Inglaterra a que nos refe-
rimos pouco atrás procurou dar normas para a eliminação
de papéis, evitando que inútil.
os arquivos se
Acreditando que, de
um modo
encham de material geral, as
normas
pre-
conizadas são as que mais se coadunam com a previsibilida-
de atual, iremos aqui reproduzi-las, sintetizando sempre que possível
A)
—
de deixar e
Sempre que
uma
a intenção fôr apenas a
evidência suficiente das atividades
métodos de ação de uma certa pessoa,
corporação ou instituição,
uma
família,
razoável elimina-
ção dos papéis deixados é tarefa relativamente fáDesde que seja feita logo (de regra, a única cil.
que torna difícil destruir cartas antigas é apenas a sua antiguidade) e por alguém que tenha tido relações com os negócios que produzi-
coisa
ram
os documentos.
Comumente, bastará preservar um
mero tivas
certo nú-
de documentos-chave e seleções representade séries que se conservam regularmente e
de documentos que se repetem rotineiramente. por Alguns espécimes devem ser selecionados mais estrutua ilustrar seu caráter representativo, para ra da organização ou interêsse
do negócio do que por
como, por exemplo, o casual autógrafo conhecido. Tal inte-
ocasional
encontro de
um
—
um
55
—
entretanto, não deve ser excluído
rêsse,
dois
ou mais espécimes
entre
e,
ilustrativos,
nome do personagem importan-
aquêle que traga o te
igualmente
poderá ser escolhido. Espécimes provenientes de
um
intervalos regulares durante
anos
também podem
número de
certo
ser de grande interesse,
in-
clusive sob o ponto de vista estatístico, se o do-
cumento envolver números.
—
B) é
Quando o objeto que
preservar
se
tem em mira
documentação referente a assuntos
também conservados por
técnicos, os quais são
ou de outras
quivos
individuais
mesma
espécie, a tarefa se torna
que envolve o problema de
instituições
mais
difícil
ar-
da por-
se estabelecer o grau
de importância de cada Organização, ou seja:
1
—
Se ela pertence a tituições
uma
categoria de Ins-
ou Organizações cujos arqui-
vos raramente foram preservados; 2
—
Se
mesma 3
—
categoria de
ela pertence à
importante,
em
relação
a
muito
outras
da
espécie;
Se pertence à
categoria
de organiza-
ções cuja história e desenvolvimento se-
jam de grande importância e apenas possam ser traçados mediante o uso de documentos coletivos. Dois cuidados a serem tomados: Primeiro
como no
—
É
preciso que, tanto neste caso
precedente, não
fundir a falta de sucesso cia.
tas
cometamos o
com
êrro de con-
a falta de importân-
Negócios que se não materializaram, propos-
não
aceitas,
—
inventos
56
—
não
aproveitados,
ne-
nhuns
lucros, tudo isso pode ter algum valor para a história do indivíduo, associação ou ramo de atividade em que tiverem lugar.
— Há
Segundo pela
um
valor extra que se obtém
conservação de dados
com regularidade, e pelo espaço de tempo e variedade de atividades por êles cobertos: um Diário profissional, ou uma séne de dados contábeis ou lançamentos, semelhantes em tudo a centenas de outros do mesmo
podem fornecer documentação fora do comum ou mesmo única, apenas em virtude do estipo,
paço de tempo por
—
C) quando
O
mais
se deseja
ir
ou pelas circuns-
êles coberto
em que foram
tâncias
feitos. difícil
problema de todos é
ao encontro das necessidades
potenciais do futuro pesquisador.
Na
verdade é
impossível pre-estabelecer condições que evitem a destruição daquilo que, mais tarde, possa vir a ter
porque não há limite para os assuntos cuja
valor,
documentação
seja de possível encontro
em
arqui-
E, de certo modo, tais possibilidades são im-
vos.
previsíveis, resses,
viam
porque cada geração cria novos
inte-
nos quais as gerações anteriores não ha-
cogitado. Pode-se apenas sugerir certas nor-
mas de proceder para dar uma ao mesmo tempo que
relativa segurança,
se consegue
uma
certa
eli-
minação: 1
peza,
—
Façamos constantes operações de limeliminando regularmente os documentos
absolutamente efémeros e
isso o
mais breve possí-
Não esperemos pela congestão. Documentos que não tiveram nenhuma utilidade para um negócio, de regra não têm mais nenhum valor, mesvel.
mo como
documentação de outros assuntos, apos
—
57
—
Por outro
alguns dias.
têm, realmente,
êles
um
lado,
convém
verificar se
caráter nitidamente efé-
mero. 2 incluir,
•
Entre os documentos efémeros deve-se
na maior parte das organizações moder-
o enorme acúmulo de papéis de pura rotina.
nas,
É
—
manter uma
necessário, por exemplo,
verifica-
ção horária, diária, mensal ou durante outros períodos quaisquer de tempo,
ou pessoas. rificações, registros,
tina se
com
Os documentos
relação a serviços
resultantes dessas ve-
sob a fórma de notas,
fichas, livros
de
ou outros, não passam de papéis de
ro-
na administração.
Serão importantes, talvez,
indicarem condições
mas
anormais;
perfeita-
mente dispensáveis em condições normais, assim que tiverem servido a seus 3
fins.
— Documentos referentes
apenas à admi-
nistração interna ou à rotina do serviço podem,
de
regra,
na sua quase totalidade,
E nisto se incluem Mas mesmo aqui da organização.
os papéis
ser destruídos.
que aludem a pessoas.
a seleção depende da natureza
Devem-se
distinguir as organiza-
ções que existem apenas para efetuar negócios ex-
ternos (firmas comerciais, por exemplo) das que
tém unicamente
serviços internos
colas e museus).
(tais
como
es-
Neste segundo caso, a organiza-
ção interna é obviamente a mais importante e sò-
mente os papéis muito repetidos formais é que considerações.
podem
e
de assuntos
ser destruídos
sem grandes
Por exemplo: no caso das
escolas,
o livro de ponto dos estudantes e professores estaria entre os
documentos de maior importância; ao
passo que os livros de ponto de
—
58
—
uma
firma comer-
não têm nenhum valor arquivístico passados
ciai
alguns mêses.
—
4
Como
critério
de caráter
a res-
geral,
do possível valor para tôda a espécie de interêsses não perfeitamente definidos, deve-se verificar se o documento ou uma série dêles, trata, nomeia ou tem relação com um grande número e peito
pessoas e /ou coisas e/ ou assuntos. Se tanto pessoas ou coisas estejam envolvidas em quantidade,
o papel
é,
provavelmente, candidato à preserva-
ção; se apenas pessoas,
ou só
ponhamos
outras,
— Com
5
o caso precisa
coisas,
ser particularmente estudado; se
nem umas nem
fora o papel.
relação a qualquer
documento
so-
bre o qual se tenha dúvida se se deve ou não con-
—
servar, o arquivista deve perguntar-se:
A
in-
formação aqui contida consta nalgum outro arqui-
Ou nalgum
vo?
gar não seja
um
outro lugar, ainda que ésse
arquivo?
Qualquer
lista
lu-
de no-
mes, por exemplo, que tenha sobrevivido a épocas
mesma não
anteriores pode ter valor, desde que a
conste de outra, impressa, da
mesma época
(no-
biliárquicas, policiais, telefónicas, etc).
6
—
Um
documento não
é,
também, obriga-
toriamente sem valor apenas porque se saiba dêle
tenham
sido tiradas muitas cópias, por meios me-
cânicos, e largamente distribuídas.
tas cópias,
em
Qualquer des-
virtude de notas adicionais ou pelo
lugar e circunstâncias de sua preservação pode ter
adquirido
uma
significação
Exemplo:
das restantes.
que sem nenhum valor
nha pertencido
a
—
totalmente
qualquer
literário particular,
Rui Barbosa, pode 59
diferente
livro,
—
ser
ainda
que
te-
precioso
em
agora,
virtude de alguma anotação marginal
nêle feita pelo grande jurista.
— Para
7
os propósitos
poderá muitas vêzes
um índice
ter
que ora
se discutem,
valor a conservação de
REGISTRO, mesmo quando
ou
os
papéis a que êles se refiram tenham sido destruí-
De
dos.
pode
simples existência de
fato, a
um
registro
às vêzes tornar possivel a destruição de mui-
tos papéis cuja única função é fazer volume.
A
normas oferecidas pelo Arquivo
essas sete
uma Oitava: Levando em consideração
inglês,
nós
acrescentaríamos 8
—
de micro-fotografia
existentes,
os
modernos métodos
tôda a vez que razoável dú-
vida se levantar quanto à destruição ou conservação de
documento, resta-nos truSndo-o destruído:
um des-
Assim, o papel não teria sido de todo
depois.
uma
ficou dêle
paço muitíssimo menor. intermediária,
de micro-fotografá-lo,
o recurso
até
que,
cópia
fiel
Esta seria
em
mas que ocupa um
uma se
definitivo,
es-
espécie de solução verificasse
que o
próprio microfilme podia ser destruído.
Documentos conservados ção,
ou
que,
a
nosso
ver,
devem
CONSIDERADOS DIGNOS
SEMPRE de
ser
conserva-
no Brasil: 1
2
mesma
— —
Documentos com data
Mapas ou
anterior a
1900;
planos, feitos a mão, anteriores a essa
data;
—
Outros documentos que, por lei, tenham de ser conservados (por exemplo: os talões de registros de casa3
mentos, nascimentos, óbitos e de imóveis);
—
Documentos de quaisquer Corporações, Irmandades Eclesiásticas, Autoridades Públicas, Comissões, Assembléias Legislativas, Fundações Beneficentes, Emprêsas de 4
Utilidade Pública ou Organizações de Serviços Sociais e que,
—
60
—
por acaso, se encontrem sob custódia particular.
documento desta
espécie deve ser destruído
Nenhum
sem um parecer
de pesquisadores;
—
5
Documentos
em que não pode
—
6
referentes
ao Serviço
um
haver destruição sem
Público,
caso
acurado estudo;
Escrituras e outros documentos que se refiram a
posse de terras;
—
7
Correspondência privada e Diárias ou notas, se
mantidos com excepcional regularidade ou em circunstâncias anormais, ou por pessoas de posição excepcional.
—
8 Jornais impressos (especialmente os do local) que, por sua natureza, forma ou quaisquer outros motivos, tenham
em
a probabilidade de não ser conservados
outro local ou
que, nesse outro local, corram risco de se oerder.
Além
dêsses,
OBRIGATÓRIA
de
conservação nos
ar-
quivos brasileiros segundo nosso parecer, os arquivos podem, entretanto, conforme as necessidades, circunstâncias ou con-
preservar
veniências,
entretanto, que
documentos
outros.
a finalidade do arquivo
Jamais esquecer, é preservar
coisas
úteis para a posteridade.
Como Vimes
até aqui a questão de o que se deve e o que se
deve conservar.
não
Selecionados
pretendem preservar para o
como
mantenham
íntegros,
os
documentos
futuro, resta-nos o
conservá-los, isto é, quais os se
êles
conservar
que se
problema de
métodos a usar para que
impedindo que
se deteriorem.
Para uma efetiva conservação dos documentos devem-se levar
em
conta:
a)
b) c)
O A O
local
que serve de depósito.
iluminação.
arejamento.
—
61
—
h)
A A A A A
i)
O
d) e) f)
g)
qualidade e acessibilidade das estantes. proteção contra umidade. proteção contra parasitas. proteção contra fogo. proteção contra a poeira. pessoal habilitado.
um
Estudemos sucintamente cada a)
O
local
A gar
dêsses tópicos,
antiga noção de arquivo correspondia a qualquer lu-
onde
alguma.
se
amontoassem
um
dos fundos,
sem ordem nem higiene
papéis,
Era quase sempre
um
uma
canto de escada,
corredor escuro,
uma passagem
sala
inaprovei-
tável.
Consequência dessa errónea maneira de ver era a
documentos
lização dos
ali
cessitasse de
A
depositados.
setos e os ratos ali se instalavam.
E
algum dos velhos papéis
no dia
inuti-
umidade, os
em
in-
que
se ne-
ali postos, ia-se
encon-
mofado ou empastado. Isso, supondo que o encontrassem, no meio da vasta desordem. trá-lo corroído,
Hodiernamente, verificada a necessidade e utilidade da conservação de documentos, quer por motivos históricos, quer por motivos outros, inclusive os de ordem económica, pro-
curam-se locais amplos, arejados e resistentes.
A
amplidão
responde à necessidade de espaço para as novas remessas de material, além de facilitar a constante limpeza; o arejamento dificulta a
infestação por parasitas; a resistência possibilita
a constante recepção de novos papéis
sem perigo de ruina
do prédio, com o consequente dano para os documentos.
Uma
fólha de papel, por muito leve
que
seja, se
a milhares ou milhões de outras, corresponderá a
extraordinariamente grande.
—
reunida
um
Pode-se calcular que, para 62
—
pêso
um
grande arquivo, a resistência média dos pisos não deve a 450 quilos por metro quadrado.
menor que 400 b)
A
iluminação
A que,
luz solar
como
combate o môfo
se sabe, são
e afasta os insetos
na sua maioria fotófobos.
a luz solar direta e constante é
documentos não só porque relando-os,
também
resseca ou
como também porque
Entretanto,
perniciosa para os
queima
os papéis,
descora as tintas.
pois, a luz ideal para os arquivos é
daninhos
ama-
Assim,
a luz difusa, branda e
suave.
c)
O
arejamento
O
ar
age benèficamente para
a
conservação
dos do-
Age como elemento mecânico, varrendo a umidade sempre que esta se torne excessiva. Age também como cumentos.
elemento químico, permitindo oxidações que dificultam a
ins-
Age ainda como
da
talação do môfo.
antissético,
pequena quantidade de ozona que possa
d)
A
antigas estantes
para habitação de
Por
colocado deira.
uma
de madeira eram terreno propicio de insetos destruidores, papiró-
série
que
vêzes acontecia
numa
Daí por
um
códice infestado
era
estante e os insetos se passavam para a madiante, retirado
dos os outros papéis que
bavam
possuir.
qualidade e acessibilidade das estantes
As fagos.
através
infestando-se
se
embora o códice atacado,
to-
pusessem naquela prateleira aca-
também.
praHoje tal perigo é obviado mediante o emprego de pode: 1." teleiras de aço, que têm as vantagens adicionais mudança: de caso em derem desmontar-se com facilidade
—
63
—
—
—
2.° permitirem os reajustes de alturas, de acordo com o tamanho dos papéis arquivados; e 3.° serem imunes ao fogo, dêsse modo dando menos aso aos incêndios.
—
Convém
lembrar, entretanto, que as estantes de aço são
menos aconselháveis nas
localidades situadas à beira-mar
em
virtude da possibilidade de corrosão, devida à maior umida-
em dissolução no ar. Nesse emprêgo da própria madeira, desde que
de atmosférica e ao iodo e cloro caso, é preferível o
convenientemente tratada por processos químicos, muitos dêles
à base de creosoto.
Além da
inatacabilidade pelos insetos, as prateleiras pre-
O
cisam ser acessíveis.
velho processo de se usarem todos
os cantos disponíveis dificultava a classificação nas estantes;
ocupando as paredes até o teto, obrigava ao uso de escadas e a adoção de serventes para a o sistema de divisões
movimentação acrescia
altas,
dos pacotes
guardados no
que a limpeza, nesses
Preferem-se hoje as estantes dispostas
que facilitam a
A
alto.
casos, deixava
isso
se
muito a desejar.
em
linhas para-
que não
ul-
trapasse dois metros, evitando as escadas e os serventes.
A
lelas,
classificação;
e de altura
limpeza pode ser mantida com menor dificuldade. e)
A
proteção contra umidade
Independentemente do môfo, a umidade pode, confor-
me
sua
manchas pela dissolução das folhas.
descoramento dos
intensidade, produzir o
tintas,
papéis,
ou o empastamento das
Se o descoramento é prejuízo de relativamente pou-
ca monta, o
mesmo
já
não
dificultam ou de todo
e do empastamento
se
pode dizer das manchas
impedem
— que
a leitura
— que
do documento
produz a aderência das
folhas,
inutilizando os códices.
Como groscópico..
sabemos, o papel é
um
material grandemente hi-
Os arquivos mantidos em
—
64
—
locais
amplos
e are-
jades serão menos sujeitos ao ataque da água
no
O
ar.
em
suspensão
que os prédios reservados à custódia de documentos possuíssem aparelhamento de ar condicionado, devidamente regulado para manter na atmosfera apenas a umidade necessária ao não ressecamento do papel. O preço de aquisição, montagem e manutenção de tal ideal seria
aparelhamento,
entretanto, cerceia o seu emprego generalizado.
f)
A
proteção contra parasitas
Tôda
a gente sabe que os ratos
papéis
em
terial
para forrar
geral, principalmente
seus ninhos.
com
roem
livros,
jornais e
o fim de conseguir
Mas
roedor não
êsse
maé
o
maior inimigo dos arquivos. Por paradoxal que pareça, os maiores inimigos dos documentos são insetos inconcebivel-
mente menores que (Tinea
saríicella,
traça dos livros
os ratos,
Tinea
em tamanho:
em
Mas
espécies), a
proliferam
com
tal
se
vigor
medem
que,
se
livros
por mi-
deixados
condições ideais para sua reprodução, poderiam dar cabo
de arquivos ver aqui a são,
comum
(Lepisma saccharina), o piolho dos
(Atropos divinatoria) possuem larvas que límetros.
a traça
ou outras
pellionella,
inteiros
em
lista inteira
poucos anos.
êles
transcre-
dos insetos que atacam o papel e que
genèricamente, intitulados
mos apenas que
Não iremos
de papirófagos.
Lembrare-
alcançam a 65 espécies, assim
distribuí-
das: ccleópteros (32 espécies); ortópteros (4); tisanuros (9);
pseudoneurópteros (6); himenópteros (1); lepidópteros (7); Acrescente-se a isso duas espécies de aracníoutros (6). deos e mais os
ratos, e
teremos o quadro dos pequenos gran-
des inimigos dos arquivos.
O
combate
a
êles
tem de
ser
constante, sem tréguas, porque a destruição que êles efetuam
no
silêncio das estantes
também não
tinuidade.
—
65
—
sofre solução de con-
ALGUNS INSETOS QUE ATACAM O PAPEL
Scleroderma domesticum. Kieff 26)
(fig.
Anobium
striatum,
(fig.
Oliv.
23)
Tenebroides mauritanicus, L. (fig.
25)
(fig.
27)
24)
Lepisma saccharina, L. (fig.
Ptinus lur, L.
Anobium
pertinax, L.
(fig.
28)
Exemplo
de documento corroído
pov traças
(Arquivo do Estado) (fig.
O
combate aos
29)
ratos é efetuado através da
dos arquivos longe de fábricas,
localização
hotéis, restaurantes, depósitos
de víveres ou qualquer outros possíveis centros de ção daqueles roedores. Além
—
disso, o
67
—
prolifera-
prédio não deve oferecer
facilidades para feitura de passagens para êsses animais;
o
cimento armado é o mais aconselhável.
Exemplo de volume corroído por
térmitas
(formigas brancas)
(Cliché extraido de "Patologia e Terapia dei Libro"
relação aos insetos e aracnídeos, o arejamento, a
luz e a limpeza são três
pre
A. Gallo)
30)
(fig.
Com
—
acrescentar a
armas de
valor.
A
constante vigilância;
elas,
a
porém, cum-
desinfecção
volumes atacados mediante aparelhamento apropriado;
dos e
a
aplicação de inseticidas sempre que possível e desde que os
produtos empregados não sejam prejudiciais ao papel. Processo
em não
interessante seria a
envólucros metálicos oxidar
—
volume infestado de
mesma
conservação dos
preferivelmente
completamente
impediriam o ataque dos jnais da
—
ratos,
fechados.
bem como
códices
alumínio,
Tais
por
envólucros
evitariam que
um
insetos transmitisse a infestação aos de-
prateleira.
—
Além 68
—
disso,
permitiria a inclu-
Exemplo
de volume corroido de ralos
(Cliché extraído de "Patologia
e
'J"erapia
di-1
i.ilirn"
—
A. dallo)
31)
são de inseticidas que, lentamente, acabariam a fauna existente
ali
dentro.
por suprimir
Vantagens acessórias do envó-
lucro metálico: diminuiriam as possibilidades de estragos por
umidade
e reduziriam quase a zero os perigos de fogo.
—
69
—
g)
A
proteção contra fogo
em
Sabe-se de muitos incêndios que têm transformado
nada o acervo de arquivos preciosos. Manter aparelhos contra
incêndio ou corpos de bombeiros eficientíssimos não é
tudo, no que tange a arquivos.
Isso porque, iniciado o fogo,
ainda que o consigamos apagar mediante largo uso de jactos
foi
das chamas estará
salvo
O
mesmo modo.
dágua, os papéis se inutilizariam do
que
imprestável pelo emprêgo da
água: o papel molhado se tansforma
em
pasta, a tinta dis-
solve-se.
À
vista dessas
considerações, importa
antes
o
evitar
ioga que combatê-lo.
Os processos para não inflamáveis na
isso
são conhecidos: uso de materiais
construção, paredes corta-fogo,
cortinas
de aço separando as várias secções, abolição de cortinas de
pano nas
Na
janelas, localização longe de fábricas, etc.
ganização interna, fazer
com que
empregados sejam separados das
os locais de trabalho dos
salas
modo
prateleiras, evitando-se dêsse
or-
onde
se situaram
possíveis
as
incêndios pro-
vocados por fumantes descuidados. h)
A
os
tipos, arrasta
A
proteção contra a poeira
além de transportar consigo germens de todos
poeira,
também
partículas
corantes, substâncias químicas.
do-se nas fibras do papel,
das
tintas.
O
de carbono,
Isso tudo
manchando-o
pode
ir
materiais
entranhan-
e alterando
a côr
próprio manusêio dos códices auxilia êsse tra-
balho nocivo pois os dedos dos consulentes vão fazendo
que a poeira
res
com
se fixe, nos cantos das páginas principalmente.
Limpeza constante, preferivelmente feita com aspiradode pó, é o método principal de combate a utilizar-se. A
Jocalização longe de fábricas
também
construções,
é necessária.
—
70
—
ruas muito
transitadas
e
i)
o
pessoal habilitado
É
evidente que o pessoal encarregado de cuidar de do-
cumentos antigos deve
sempenho dessa
plenamente habilitado para o de-
ser
Essa habilitação
tarefa.
diploma mas, sim, de muita prática
A
tade.
prática ensinará o pessoal
muitíssima boa von-
e
como
os melhores
vação.
Os
com que
modos de proceder para
só
des-
a sua conser-
especializados na matéria indicam
livros
Mas
processos.
com carinho
tratar
os cartapácios preciosos; a boa vontade fará
cubram
de
não dependo
vários
a boa vontade dos arquivistas amantes
de sua profissão fará com que expérimentem
métodos mais adaptáveis ao
local, à
apliquem os
e
temperatura média
rei-
nante, ou às condições a que tenham os documentos de submeter-se.
e ao
desde o
Se,
mente sua
um
início,
funcionário manifeste clara-
idiosincrasia aos papéis velhos, à luta contra o pó,
combate aos
insetos, a
está correndo perigo.
que ponham
É
boa conservação dos códices
com empregados
preciso contar-se
inteligência e disciplina no trato dos
Dentro dêste tópico cabe bem lembrar
migo dos documentos ainda não
citado:
consulentes dos arquivos têm o
mau
lhes
preciosos
apenas
em
interessem?
documen-
vir a ser úteis para a posteridade.
tos que sejam ou possam
que
E
quantos
rasgando-lhes pedaços
o
um
tipo de ini-
homem. Quantos
vêzo de furtar papéis
outros de.stroem
ou extraindo-lhes
códices páginas,
virtude de terem preguiça de lhes copiar por
teiro os textos?
Donde
já
se
arquivo deve, além do mais,
depreende que o pessoal de ter a
qualidade de
ou de marido ciumento: viver constantemente tra tais visitantes nocivos.
um
in-
um
Cérl^ero
vigilante con-
Processos de fotocópia
Ao
aludirmos pouco atrás às normas para a conserva-
ção e destruição de papéis preconizadas pelo Arquivo inglês,
acrescentámos ser a microfotografia rio
um
processo intermediá-
de destruição: destruia-se o original mas conservava-se o
ganhando assim em espaço sem de todo perder o do-
film,
cumento.
A
microfotografia resume-se na fotografia de documen-
tos usando-se o film miniatura, de
do,
num
só rolo
comum
se
35 milímetros. Dêsse mo-
podem acumular
as fotos
de 36
documentos.
Mas
o microfilme não é o único processo de conservação
num
arquivo,
Existe
também
fotográfica usável
mais vantajoso.
do documento.
um
em um
aparêlho, diretamente
Acendendo-se as lâmpadas existentes
dentro do aparêlho, e por
por
o
cópia fotostática direta ou por transparência, é feita
colccando-se o papel sensível, atrás
ser
fotos-
quer as diretas, quer as obtidas por reflexão.
táticas,
A
embora tudo indique o método das cópias
um tempo
devidamente controlado
embutido, impressiona-se o papel sensível
relógio
que, revelado e fixado, é a reprodução as côres invertidas:
fiel
do
original,
apresentam brancos.
fotocópia, e os traços pretos se
com
brancas ficam pretas na
as superfícies
Para
obviar êste inconveniente, a primeira cópia pode servir de
negativo para igual ao
uma segunda que
original.
A
será, então,
absolutamente
primeira cópia pode ser feita por re-
também. E deve sê-lo cbrigatòriamente quando o documento é escrito em ambas as faces, porque, neste caso, a fotocópia por transparência apresentaria ao mesmo tempo flexão
o que havia sido escrito nos dois lados.
Consequentemente,
a leitura se tornaria impossível.
Na
cópia
por reflexão
frente do original,
com
o papel
sensível é
colocado à
sua camada impressionável voltada
—
72
—
para
êste.
A
luz
alcança o original sível
O
que só então
do aparelho e,
atravessa o papel
sensível,
refletindo neste, volta para o papel sen-
se impressiona,
dando uma cópia negativa.
positivo é feito, depois, por transparência.
Para terminar, vejamos vantagens do microfilme seus usos particulares,
e
num quadro
as vantagens e des-
da cópia fotostática, acrescentando
isto
é,
onde preferivelmente devam
ser usados: (Vide pág. ssguinte)
—
73
—
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CA.
^
VI
RESTAURAÇÃO DE DOCUMENTOS Os documentos antigos podem _ nao mtegros, vítimas de três fórmas
apresentar-se,
quando
diferentes de danos:
a) Danos provenientes da degeneração da matéria de
que sao constituídos, de defeitos de sua
estrutura,
uso;
ou do
b) Danos provenientes do ataque de parasitas;
Danos produzidos por acidentes: incêndios, mentos, terremotos, tiros, explosões, quedas. c)
alaga-
Conforme a qualidade do dano, assim pode diferir a técnica a usar-se a fim de recompor a integridade do documento, quando tal recomposição seja possível.
Na maior parte das vêzes os códices se apresentam ao restaurador sob a forma de pacotes, com páginas apertadas umas
às outras.
Durante o tempo em que ficaram guardamalas ou baús, ou abandonados nalgum desvão esquecido, ainda que não tenham sofrido o ataque
em
dos
prateleiras,
da umidade ou de parasitas, os códices sofreram a agressão do tempo. Suas folhas, com apenas a natural umidade do ar
com
e
centenas
a pressão
do próprio pêso, durante dezenas ou
de anos, vão grudando-se
dando não em
umas
virtude da existência de
simplesmente pela ação mecânica,
às
outras.
goma ou
lenta,
de
mento, ou ajuste pelo tempo, das próprias
um
cola.
Gru-
Mas
intercambia-
fibras
do papel
ou do pergaminho.
O
primeiro trabalho do restaurador
várias folhas. deira,
sem
Usa para
isso
uma
pois, separar
as
ponta, procurando inserí-la cuidadosamente entre
as páginas, de
modo
a desgrudá-las.
Por vêzes
um movimento menos uma das folhas. rasgar pode
é tão íntima que
da espátula
é,
espátula de osso ou ma-
—
75
—
a aderência
delicado da lâmina
Nesse caso, o
res-
taurador usa do recurso de dar muitos e pequenos golpes
com
Com
isto
a espátula, batendo tôda a superfície do papel.
procura o desajuste das
com maior
páginas
Como
fibras,
de
modo
a separarem-se as
facilidade.
um
se vê, êste é
trabalho de paciência, onde a
pressa só pode ser prejudicial.
Quando
páginas do códice
as
ainda estão
serviço do restaurador é relativamente
no entanto quando o papel
plica-se
A
fácil.
foi
íntegras,
atingido por algum
dano sob uma ou mais das formas expostas pouco
Sabemos de capítulo tintas
corroem o papel.
anterior, por exemplo,
Será êste
um
atrás.
que certas
dos casos de degene-
A
ração da matéria de que é o documento constituído.
se transformou
Muitas vêzes, separadas as rendas
uma
litado de recompô-la
se-
nem
paração das folhas assim atingidas é trabalho moroso e
sempre profícuo.
o
com-
coisa
em
que
página, vê-se o restaurador impossibi-
em
face da imensidade de minúsculos
pedacinhos que se perderam no processo.
O mesmo da base da
se
pode dizer quando defeitos da estrutura
Há
escrita dificultam o seu descolamento.
casos,,
em que uma folha, na fabricação, ficou com esdiferentes em vários lugares. Ondei a espessura
verbi gratia,
pessuras fôr
mais
fina, é
natural que a resistência à tração seja menor.
Desse modo, a fôlha pode rasgar-se nesse
lugar, ficando tei-
mosamente aderida à página vizinha. Fato semelhante sucede quando os documentos são atingidos por água: produzse um empastamento que faz várias ou tôdas as páginas ficarem coladas, praticamente inutilizando tudo. Páginas rasgadas pelo use
pedaço rasgado deu, só
um
se
podem
recompostas se o
conservou dentro do códice.
adivinho
—
se os
houvesse
o que existiria escrito no trecho que se
bocado perdido
ser
fôsse
Se se per-
— poderia
foi.
imaginar
A menos
que o
muito pequeno e o paleógrafo pudesse
completar a idéia pelo sentido da
frase.
Quando
as páginas coladas foram vítimas de papirófa-
gos ou ratos, o cuidado do restaurador é semelhante ao que
deve
ter
quando
No
a tinta corroeu o papel.
rófagos é sempre
uma
interessante
caso dos papi-
prévia desinfecção dos
cartapácios a fim de evitar perigos maiores: há espécies de insetos e
mem, produzindo Quando
cs
um
erupções ou infecções.
documentos
nem sempre
destruição
papéis se encontram
foram atingidos
é completa.
da
interior
pelo fogo,
pilha ou
a
Sabe-se que, quando os
empilhados ou empacotados,
as folhas suficientemente apertadas, as
o
uma ou duas
aracnídio capazes de agredir o ho-
estando
chamas não atingem
pacote imediatamente.
A queima
se processa por camadas, de fora para dentro,
em
virtude de a combustão necessitar de oxigénio para seu
ali-
como que mento.
Combatido o incêndio
folhas ainda se salva.
por
inúteis,
restaurador separá-las-á, retirando,
as bordas carbonizadas.
^Nos cases
sempre graves: tos
O
a tempo, a parte central das
de alagamento, os
como
atingidos por
estragos produzidos
já dissemos pouco
atrás, os
são
documen-
água empastam-se, inutilizando-se
quase
sempre.
Os
terremotos, as quedas (de volumes inteiros), tiros e
explosões (5) produzem danos de caráter mecânico: perfuram, rasgam ou amassam os documentos. Danos que se
podem bilidade
considerar
de
menos graves
restauração
—
—
sob o aspecto da possi-
que os causados pelo
fogo ou
pela água.
de notar-se, outrossim, que os restauradores têm de sofreram dois ou lidar muitas vêzes, com documentos que bichados estejam papéis que mais tipos de dano. É comum Velhos pergaumidade. também empastados pela ação da
É
Alguns arquivos de cidades europeias durante a última conflagração.
(5) .gidos
—
77
—
foram
dui-aim-iile
n
minhos, cuja tinta era corrosiva,
Resultado
a visita das traças.
podem também
comum
ter recebido
dos incêndios é que,
acabam êles inutilizados de todo pela ação da água empregada para dar combate semi-inutilizados os códices pelo foge,
às chamaE.
Após separadas
as
folhas
de
um
códice,
o serviço se-
guinte do restaurador é a limpeza de fungos, papirófagos, pó e manchas.
O
pó é facilmente afastado mediante
cova-pincel, de
que
pêlos longos,
encontrarem
se
já
devem
bem
Os
macios.
uma
es-
papirófagos
estar mortos pela desinfecção
submeteu o volume, e são afastados pela mesma escova-pincel. Os fungos já representam trabalho prévia a que
se
maior, podendo-se empregar pano íimido
em
água e
álcool,
desde que se verifique ser a tinta suficientemente fixa para resistir
ao processo sem
esfregar
com
E
crita.
manchar-se ou
Nunca
descorar.
força o pano, para não dilacerar a base da es-
esperar sempre a secagem desta, quer para nova
aplicação, quer
para continuar o
processo de
restauração,
porque sua resistência se encontra diminuída, quando úmida.
Com sentar, atacar.
relação às
o restaurador
manchas que o documento possa apreprecisa conhecê-las
Manchas provenientes da
bem
lor
Tentar
pode dar como resultado a remoção da própria
escrito, danificando-se
são
também de
o texto.
de as
diluição da tinta por absor-
ção de umidade são pràticamente irremovíveis. las
antes
Manchas
tirá-
tinta
do
causadas pelo bo-
remoção porque o penicillium (ou podem instalar no papel ou no per-
difícil
outros cogumelos que se
gaminho) invsde a própria contextura da base da
escrita.
Manchas de gordura, ácidos ou outras podem ser eliminadas com solventes, fazendo-se sempre uma experiência prévia,
num
canto de folha, a fim de verificar se o solvente não
irá
causar danos maiores.
Neste estágio da restauração era
comum
que os antigos
restauradores tentassem reavivar a tinta, quando muito apa-
gada.
Recorreu-se ao ácido
ao tanino, ao sulfeto e
gálico,
ao sulfidrato de amónio, ao sulfeto de potássio produtos químicos. Sempre, entretanto, com
e
outros
a
resultados efé-
meros ou danosos. Consequentemente, hoje já não se empregam tais produtos. Mesmo porque, com a descoberta da luz ultra-violeta, a leitura pode agora dade de nos valermos da química.
Separadas
uma
as
o
delas,
folhas
limpa
e
passo seguinte
é o
ser feita
pria
A
restauração.
espátula
necessi-
convenientemente alisamento das
Qualquer dobra ou rugosidade pode não só tura subsequente à restauração
sem
como
criar
auxilia
cada
mesmas.
dificultar a
grandemente no
viço de se desfazerem as dobras; as rugas
podem
por simples pressão ou mediante
umidecimento.
A
próxima
ligeiro
sequência do processo
lei-
embaraços à próser-
ser alisadas
de restauração
é o
emparedamento das folhas. Dá-se êsse nome à colocação do documento entre duas folhas de papel transparente, ou entre duas las
telas finíssimas, de sêda
ou algodão.
Na Europa
as te-
de sêda parece terem a preferência dos restauradores;
entre nós prefere-se o papel transparente e o de uso mais
generalizado é o chamado papel
Tomando duas pincela com a cola que vão
ligar-se ao
cristal.
folhas de papel cristal, o restaurador as especial
de restauração pela
documento.
qual recebe
uma
Isto faz
com
Êste é então colocado entre
as duas folhas, sendo o conjunto submetido a
das.
face
uma
prensa na
pressão de aproximadamente duas tonela-
com que
bordas, ficando apenas
todo o excesso de cola se escape pelas
uma
ínfima película, bastante entre-
tanto para manter a adesão perfeita.
Emparedado
o documento e eliminada a cola excedente,
é aquele pôsto a secar, sol,
zir
ou o calor
artificial
pendurado
varais à sombra. a tinta
O
ou produ-
Após sêco deve o documento voltar à nela permanecer por 24 a 48 horas. Esta segunda
rugas no papel.
prensa e
em
poderiam descorar
—
79
—
prensagem, que pode ser rados, final,
feita
de vários documentos restau-
em conjunto, tem como finalidade dar o alisamento de modo que o papel, posteriormente, não venha a criar
ondulações ou rugosidades devidas à diferente contração das
camadas de que passou a
três
Só após
que
isso é
se
ser constituído.
podem submeter
os
documentos
aos serviços complementares, mais próprios da arte da en-
cadernação que da do restaurador: recorte das bordas, costura,
montagem sob
pelão,
a forma de volume, junção de capa (pa-
pano ou couro),
etc.
Cabe aqui lembrar que o emparedamento pel é o mais simples e barato de todos.
grande inconveniente:
documento com a
dificulta,
Mas
com
pa-
apresenta
um
feito
posteriormente, a leitura do
luz ultra-violeta.
Por êsse motivo, experimenta-se agora o emparedamen-
com lâminas de acetato de celulose. Êste processo já vem sendo usado nos Estados Unidos e, entre nós, na Biblio-
to
teca Nacional.
Apresenta
posterior leitura
com
por traças. lho especial
método as
Mas tem
as vantagens
de não
a luz ultra-violeta e de
os defeitos de necessitar de
— o laminador — para sua
impedir a
não ser atacado
um
apare-
aplicação; de ser
um
menos por enquanto; e de se arranharem lâminas de acetato com o uso, podendo mesmo chegar a caro, pelo
ficar foscas
com
o atrito constante
Razões
a leitura.
por que o
— dêsse modo
Arquivo do
impedindo
Estado de
São
Nos Estados Unidos enemparedamento experimental o com "ny-
Paulo ainda hesita na sua adoção. contra-se
em
fase
lon".
Resumindo, a restauração de
um documento
deve pas-
documentos
estiverem
sar pelas seguintes fases: 1
— Desinfecção (quando — Separação das — Limpeza. — 80 —
os
infestados). 2
3
folhas.
—
4
Recomposição (trechos rasgados, corroídos pela
tinta, etc).
— —
5
6
Alisamento (dobras e rugas).
Emparedamento (papel
cristal, tela
sêda ou
de
algodão). 7
8
9 10
— — — —
Prensagem úmida.
Secagem
natural.
Prensagem sêca (24 a 48 horas). Trabalhos complementares (serviço de encader-
nador).
(Evidentemente, usando-se
jninas de acetato de celulose, omitem-se as fases
A
titulo
com
o emparedamento 7,
lá-
8 e 9).
de curiosidade, damos aqui a fórmula de cola
atualmente usada pelo serviço de restauração do Departa-
mento do Arquivo do Estado de São Paulo:
COLA PARA RESTAURAÇÃO (Receita
que
nos
foi
fornecida
pelo Sr. José Rubi, restaurador de
documentos do Arquivo)
1 kg.
800
de farinha de de
grs.
Água
azedo
para formar
q.s.
A frio e
trigo
polvilho,
preferivelmente
um mingau
ralo
água é misturada à farinha
e
para evitar a formação de grumos. até transformar o todo sistência
pois de
modo
ao polvilho a
aos poucos, sendo necessário mexer sempre
num mingau
Cozer depois grosso (con-
aproximada de cola de sapateiro).
frio,
juntar mais água,
mexendo sempre, de mingau ralo. Após
a voltar à consistência de
—
81
—
De-
isso,
acrescentar
(Pedra hume)
colher das de sopa de Alúmen.
1
em pó
e 4 colheres das de sopa
da
seguinte solução:
Álcool 42°
800 gramas
Cânfora
(50 gramas app.)
4 tabletes
Formol
30 gramas
Mexer bem. A
cola estará então pronta para
ser usada.
Pincelá-la no papel cristal (e não no-
documento
a
Após coladas as do documento, levar à prensa para que o excesso seja ser
restaurado).
duas folhas de papel
expelido.
Retirar imediatamente após, colocando
as folhas a secar ao esta
cristal aos dois lados
ar.
Estufas não convém para
enrugar o
perigo de
secagem, pelo
papel..
o tempo
Após sêco
(dois ou três dias depois, se não estiver úmido), prensar novamente deixando
na prensa por 24 a 48 horas. Observações:
1.
—
A
cola feita só de polvilho
não "corre" bem sobre o papel.
O
trigo
facilita
o
es-
parzimento dela. 2.
—
O alúmen adicionado à cola tem duas vantagens: evita a rápida deterioração da mes-
ma, permitindo o seu uso até quatro
seu
ou mais dias após e dá maior
preparo;
consistência à massa. 3.
—
A
solução
álcool-cânfora-
formol tem propriedades '
—
82
seticidas,
—
sem
alterar
in-
a co-
loração
do
formol,
além
O
documento. de
suas pro-
priedades mumificantes empresta maior tensão à cola,
depois de sêca; o documen-
com
to restaurado
molada
passa
a
cola for-
uma
ter
aparência de pergaminho.
—
Essa
mesma
cionada de
solução, se adi-
um
quarto
do
seu pêso de gasolina branca serve
também para
lamento
em volumes
dos por insetos.
83
—
o pince-
ataca-
VII
DIFICULDADES DA LEITURA PALEOGRÁFICA
O
em
iniciante
paleografia jamais calcula quais e quan-
tas dificuldades se lhe
oporão na leitura paleográfica e que
terá de vencer para boa interpretação dos documentos.
Deixaremos de fazer considerações a respeito de o paleógrafo precisar conhecer a língua na qual está o documen-
vasado porquanto
to
remos à questão soal:
onde
quis dizer
um
é
isso
primário.
interpretativa, por ser
Também um fator
não aludiquase pes-
historiador de boa fé entende que o escriba
uma
coisa, outro historiador,
lhor das intenções, analisando a frase de
também com a memodo diverso, pode
chegar a conclusões completamente opostas. Assim, pois, deixando de lado êsses dois tópicos ineren-
vejamos quais as outras dificulda-
tes à leitura paleográfica,
des
com
as quais
1
—
À
tem de
se
haver o paleógrafo.
í
base da escrita
2
xn 0)
-a
3
3o
4 5
Q 1
—
— — — —
A
tmta
C
elas:
qualidade
J [
u
São
estado
qualidade
J ,
estado I
Ao
À
vocabulário, grafia e abreviaturas usados
caligrafia
Às tentativas de adulteração ou
falsificação
Dificuldades referentes à base da escrita.
a) Qualidade da base qual se escreve tem qualidades absorespalha fazendo com que as letras se fun-
Quando o papel no ventes, a tinta se
—
85
—
dam umas
às outras.
não só pode
Isto
dificultar a
leitura
mas, por vêzes, impossibilitá-la por completo.
Há também
alguns tipos de papel de lenta absorvência.
A
umidade atmosférica vai diluindo a tinta já sêca, fazendo com que esta se vá esparramando ao redor dos antigos tra-
Embora
ços.
êste processo leve dezenas,
vesse originalmente sido feita
ou
mesmo que
nas de anos, o resultado final é o
em
mesmo
cente-
se a escrita
ti-
papel de absorvência ime-
diata.
Falamos aqui apenas em papel porque o pergaminho,
como
se sabe, possui muitíssimo
de absorção da
menor ou nula capacidade
tinta.
b) Estado da base
Já vimos, ao tratar da restauração, que os documentos
podem
ser vítimas de
claro está irão
que
um
apresentar a
E
vários tipos diferentes de danos.
papel ou
mesma
um
pergaminho danificados não
facilidade de
leitura
que outros,
incólumes.
Antes de chegar às mãos do paleógrafo é de conveniên-
que os códices passem pelos cuidados do restaurador, o
cia
qual de plano eliminará as dificuldades que o leitor teria
com
a desinfecção, o descolamento de folhas grudadas e
limpeza
(6).
Deixando de
parte,
pois,
os
rentes a êsses trabalhos prévios, o paleógrafo se
com documentos que
problemas
a
ine-
tem de haver-
se apresentam:
Tarefas adicionais gue o paleógrafo terá a seu cargo, se não (6) contar com os serviços de nm restaurador. De qualquer modo, entretanto a leitura dos originais se deve processar preferivelmente antes de emparedados os documentos em papel cristal ou tela: os traços serão sempre mais visíveis e não haverá embaraços à leitura com luz ultra violeta.
—
86
—
—
1
incompletos corroídos por papirófagos ou pela tinta
ii
manchados por água ou ácidos
iii
—
i)
Quando
o documento está incompleto por se ha-
ver rasgado, queimado, comido de ratos ou
dano causado não tem conserto
didas, o
ao
leitor fazer
—
ii)
Os
com
folhas per-
Só resta
possível.
conjecturas a respeito dos trechos faltantes. papéis, pergaminhos
ou
corroídos por
livros
papirófagos poderiam entrar no tópico anterior pois não pas-
sam,
em
Mas
o
última análise, de documentos incompletos também.
dano
produzido pelos
aparte
em
mente
a leitura.
virtude de,
diversamente.
nem
insetos
merece
tratamento
sempre, impossibilitar completa-
Isso porque cada espécie ataca os códices
As
por exemplo, atacam apenas as
baratas,
bordas do papel ou pergaminho, danificando assim somente as
margens.
códices, de
queno
Há
que perfuram transversalmente os
traças
modo que em cada
furo.
página
um
apenas
fica
pe-
Outras corroem longitudinalmente, fazendo ca-
minhamentos em duas ou se a traça atingiu
com seu daninho
pequenos trechos de uma ou
Mas
se
labor
uma
outra palavra, é
vêzes, completar a frase pelo sentido
provável continuidade.
Assim, pois.
folhas visinhas.
três
uma
fagos atacou o documento (vide
fig.
só letra
ou
possível, às
ou pela sua natural e
inteira colónia
de papiró-
uma
29), ou se
larva de-
cidiu fazer seu ninho principal justamente na página que se
encontre
em
estudo, aí então frases
inteiras
e o paleógrafo pouco conseguirá obter
com
desapareceram as palavras re-
manescentes.
A
tinta corrosiva corta a
linhas traçadas pela pena
papel ou o pergaminho possível decifração.
em
Êste é
base da escrita ao longo das fig. 22), transformando o
(vide
autêntica renda, de
um
caso
em
difícil
ou im-
que o restaurador
tem de antecipar-se ao paleógrafo, buscando recompor o documento a fim de que a leitura seja possível.
—
87
—
—
iii)
As manchas de água apenas dificultam
a leitura
paleográfica quando a tinta não chegou a ser diluída; se isto
aconteceu, entretanto, e os arredores das letras se transfor-
maram em
borrões, a leitura de difícil passou a impossível.
Também
não se conseguem
documentos manchados
ler
por ácidos que tenham sido naqueles empregados
de operar
a revivescência das
Como
letras.
mancha
própria base da escrita, deixando
larga
contornos
inutilizado
mesmo
leógrafo:
ácido.
aí,
mesmo após Mas então se
o
escura,
de
documento.
uma segunda
tentativa
a mancha, desde que se use cria
um
impasse para o pa-
qual o ácido que o pesquisador anterior teria usa-
Além
do?
Ficou,
autores, pode-se fazer
de reavivamento, o
em
Mas, posteriormente, ataca a
possibilitando então a leitura.
Segundo alguns
fito
vimos
momentaneamente,
capítulo anterior, o ácido reaviva a tinta
irregulares.
com o
já
de compreender que êste processo empregável apenas quando o documento ainda não ti-
seria
disso, é
fácil
vesse sido restaurado.
2
—
Dificuldades referentes à
tirita.
a) Qualidade da tinta
As
tintas
Quando
podem
tintas adicionadas
da base da
ser corrosivas,
corrosivas
caso,
de vitríolo
escrita
expusemos linhas
—
—
laváveis e descoráveis.
por
exemplo, das
dão
em
antigas
resultado o corte
ao longo do tracejado das
letras,
como
atrás.
Consideram-se laváveis as tintas que, por não possuírem
um
elemento fixador, são fàcilmente solúveis, mesmo depois de sêcas. Sôbre estas tintas a simples umidade atmosférica
pode atuar dissolvendo-as, com dois resultados vêzes
concomitantes:
muito absorvente, a
1.°
—
quando
a
possíveis, às
base da
escrita é
tinta se espalha ao redor dos traços, pro-
duzindo manchas que dificultarão a posterior
—
88
—
leitura;
2°
—
com
o tempo, a tinta se vai transferindo de
outra que lhe esteja
em
contacto
e,
uma
página para
se esta última já possue
algo escrito, ficam os dois textos superpostos, o que chega a impossibilitar a compreensão das frases.
Sôbre as tintas laváveis também podem atuar os banhos
Documentos guardados em porões
acidentais ou provocados.
podem
receber a água das lavagens do soalho; ou,
quando dispostos de
em
são ocasionalmente
estantes,
do
inesperadas goteiras
teto.
O
mesmo vítimas até
papel conseguirá
certo ponto resistir ao empastamento e o pergaminho resistir
ao môfo. largas
Mas
a tinta, se solúvel, dissolver-se-á produzindo
manchas esparramadas pela
superfície das várias pá-
ginas atingidas pela água.
Não
com
confundir as tintas descoráveis
As descoráveis são
veis.
fixas,
isto é,
as tintas lavá-
não se diluem
facil-
mente com a umidade; mas apresentam a possibilidade de perder a côr com o tempo ou sob a ação da luz. Casos ha
em
que o descoramento
é completo, apagando-se de todo as
letras.
b) Estado da
As tintas produzem os
tinta
(qualidade)
corrosivas, laváveis e descoráveis
corroídos, lavados
escritos
e descorados
(es-
tado).
que luta o paleóJá temos noção das dificuldaes com Fácil comtinta. pela corroídos grafo em face dos textos o seu trabalho não se verá
preender
também que
plificado
quando o documento tenha
tido sua
nada sim-
tinta
lavada
(ou manchada) ou descorada.
É
no caso das
que tem aplicação, atualda luz ultra-violeta, a que nos
tintas descoradas
mente, a leitura com o auxílio
trabalho. temos referido várias vêzes em capítulos dêste
que maneira
agem
os
ráios
ultra-violetas para
leitura?
—
89
—
De
facilitar
a
Mé-
Constituintes essenciais das tintas usadas na Idade dia (e
mesmo
galha (7).
das tintas modernas) eram o ferro e a noz de
Todos
métodos usados com a finalidade de
os
tornar legivel a escrita apagada baseiam-se na sobrevivência
de moléculas de ferro ou do composto ferruginoso nas ca-
madas
superficiais
Os reagentes
do papel ou pergaminho.
quimicos tornavam visíveis os traços apagados, exatamente por se combinarem
com o
Sabemos en-
ferro remanescente.
vêm sendo
tretanto que os processos químicos
virtude de, posteriormente ao seu uso,
banidos
poderem
em
inutilizar os
documentos. recentemente que os ráios ultra-violetas emprêgo de uma lâmpada de vapor de mercúrio) possuem a particularidade de, embora invisíveis, torDescobriu-se
(obtidos
com
o
nar fluorescentes certas substâncias orgânicas, entre as quais
Compostos metálicos, porém,
o papel e o pergaminho. ficultam
Dêsse
essa fluorescência.
modo, numa
curecida, dirigindo-se ráios ultra-violetas sôbre to
que tenha traços de
escrita
com
de papel ou pergaminho adquirirá exceto nos pontos
em que houve
os traços escuros contrastando
uma
Ficam então
o fundo fluorescente, senluz
comum,
fluorescem os documentos nos quais se tenham em-
pregado produtos químicos para revivescência das
muito
documen-
brancura brilhante,
do dêsse modo possível a leitura do texto que, à se apresentava completamente apagado.
Não
di-
obs-
tinta ferro-gálica, a fôlha
algo escrito.
com
um
sala
especialmente
quando o
líquido usado
foi
letras
o
e
ácido
gálico.
É inútil o uso da lâmpada ultra-violeta, também, quando o documento tenha sido lavado, acidental ou intencional-
Chama-se noz de galha a urna espécie de vesícula ou engros(7) samento que se produz na casca de certas árvores, ciuando atacadas por insetos. Por. processos especiais, da noz de galha se extraem o ácido gálico e o ácido tânico, componentes de muitas tintas.
—
90
^
mente.
A
água terá
feito
esparramar-se a
tinta, distribuindo
portanto as partículas de ferro por tôda a superfície da base
da
escrita.
rescência,
Aplicando-se a luz ultra-violeta não haverá fluo-
donde o enxergar-se unicamente uma
cha de bordos
Aparelho de
larga
man-
irregulares.
luz ultra-violeta, usado na leitura de
cuja tinta esteja apagada (fig.
(fig.
32)
33)
documentos
Processo auxiliar na leitura de documentos é a fotografia
dos mesmos sob a ação de ráios infra-vermelhos.
Êstes ráios
têm poder de penetração,
fotográfica
facilitando
à câmara
fixação daquilo que existe na sub-superfície do papel ou
a
do pergaminho.
suponha que a
se
É
processo mais aplicável, todavia, quando
escrita foi casual
terada por tinta, pigmento ou
A
papel.
ou intencionalmente
mesmo uma
infra-vermelha
fotografia à luz
fina
é,
obli-
camada de
assim, preciosa
colaboradora do paleógrafo, quando êste busca conhecer o texto verídico dos documentos.
Os
fenómenos lio
3
não produzem
ráios infra-vermelhos são invisíveis e visíveis a olho nu.
Assim, a leitura
com
o auxí-
dêles só é possível através as fotografias obtidas..
—
Dificuldades referentes ao vocabulário, grafia e abreviaturas usados.
Ao
podem
paleógrafo não
cabulário empregado na data
exame.
E também
não
nesse tempo,
bem como
as ignorar, se
não
ficilmente
tiver
faltar
em que
conhecimentos do vofoi escrito
pode desconhecer
a
as abreviaturas então
o códice sob grafia
usual
comuns.
noções da terminologia da época,
Se di-
entenderá o documento, por mais clara e firme
que se apresente a
Apenas
caligrafia.
à guisa de ilustração,
plos de vocábulos
vejamos uns poucos exem-
usados entre nós, na época da coloniza-
ção (8):
Todos os exemplos dêste- capitulo serão tirados de (8) nacionais, não por querermos insistir na ideia da criação de
documentos
uma
paleografia brasileira, mas porque nos parece mais útil, tendo em vista a formação de historiógrafos consulentes assíduos de nossos arquivos.
—
92
—
—
Alfaia (subst.)
Móvel ou ornato de
— Guarnições
Alizares (subst. pl.) tas e janelas.
Arrátel
—
(subst.)
Medida de
casa.
de madeira nas por-
pèso, equivalente a
16
onças.
Arratens ou Arráteis
Baeta ou Baieta
de Arrátel).
(pl.
(subst.)
— Tecido
grosso, de
— Espécie de — Tecido de algodão Bombazina — Antigo calçado de Chapim — Cêrca, tapada. Faixo — Médico. Físico — O mesmo que Fogão ou Fogões Earregana (subst.)
lã.
tecido.
(subst.)
e linho.
sola alta.
(subst.)
(subst.)
(subst.)
(subst.)
fogo
ou
íogos.
—
No Fogo ou Fogos (subst.) ("Na vila há 50 fogos").
sentido de casa habitada,
família
— No (Escravo de — Pano de Liage ou Liagem — Mandador ou mandante. Mãdor — Moeda no valor de 320 Pataca — Vasilha de barro para conservar Perecleira vinho da — Vasilha para Pichel — de Tecido Serguilha — Vasilha de prata com fundo Tamboladeira sentido
Forro (adj.)
forro).
livre
linho grosseiro.
(subst.)
(subst.)
réis.
(subst.)
(subst.)
azeitonas.
tirar
(subst.)
(subst.)
pipa.
lã.
(subst.)
de
vidro,
em
que
se
depositavam vinho
e outras bebidas.
prmAlguns dêsses termos são ainda hoje conhecidos, em ainda cipalmente no interior. Nossos caipiras falam A algodão. baeta, denominando assim um tecido grosso, de muito pataca desapareceu do vocabulário atual, mas é ainda centavos. cruzeiros e de extenso o uso do valor réis, em vez
Com palavras lugares
certas relação à grafia, era hábito escreverem-se h nos com duplos p ou t, com y em vez de i, com
menos
esperados.
Ex.:
—
93
—
Cappa Foy
(capa)
-
(foi)
He, hera
(é,
Hir
(ir)
era)
Pay, paj
(pai)
Phthysica
(tísica)
Te,
té,
the,
thé,
athe,
athé,
atthé
(até)
Sappato
(sapato)
Sette
(sete)
Thio
(tio)
Além tência de
com
dêsse hábito curioso, devido por certo à não exis-
normas ortográficas
fixas,
tem o paleógrafo de
lutar
as variações e êrros gráficos dos escribas e copistas
do
tempo. Comuníssimas nos primeiros séculos de vida do nosso país,
por exemplo, são as grafias seguintes:
amarão
(amaram)
aSsynei, assynei, asigney
(assinei)
certoens
(sertões)
cessenta, ceSenta, ce senta
(sessenta)
confirmassam
(confirmação)
desfarsse
(disfarce)
dino
(digno)
exegar
(e chegar)
expediçoins
(expedições)
fassa
(faça)
forão
(foram)
lutaçam
(lotação)
onrroza
(honrosa)
pessuio
(possuo)
porpagação, porpagassam
(propagação)
sumiterio
(cemitério)
tãcbem
(também)
—
94
—
.
.
vaqua
(vaca)
203 dagosto de 16002
(23 de agosto de 1602)
Passando às abreviaturas, não são menores as dificuldades que se apresentam ao paleógrafo. Há abreviaturas muito conhecidas, e usadas até
hoje,
como
as seguintes:
A. D.
(Annus Domini)
D.
(Dom; fem Dona) (Deo Gratias) .
D.G. Novr°, IXbro ou 9bro
(novembro)
PP.
(papa)
:
SS.
(santíssimo)
V.G.
(Verbi gratia)
Xpel
(Christe Eleison)
Xpt., Xpto.
(Cristo)
Mas, a par dessas abreviaturas ainda comuns atualmente,
dezenas de outras, hoje desconhecidas, ou, pelo menos,
desusadas, existem nos documentos do Brasil Colónia.
jamos algumas
delas:
Alz'
(Alvares)
Cappes
(capitães)
Conffro
(conferido)
d»
(dito)
ecclezcas
(eclesiásticas)
fl-egas
(freguesias)
Frz'
(Fernandes)
Giz
(Gonçalves)
GR.
(Geraldo)
Irmo
(Jerónimo)
itra
.
lica,
(inteiramente)
mte
(licença)
lissa
(Lisboa)
Lx.
—
95
—
Ve-
.
.
.
mce
(mercê)
mss
(manuscritos)
m'
(muito)
nesr"o
(necessário)
Off«
(oficiais)
P.°
(Pedro)
Pl-a
(Pereira)
q
Ds
.
(que Deus guarde)
Rego
Reg",
(registro)
Roiz
(Rodrigues)
S Payo
(Sampaio)
.
va a
.
,
fl.
Va
(vila)
30 Vo. do Lo.2
Como
se
vê,
a
(a folhas 30 verso do livro 2)
paleografia é
uma
especialidade
além de paciência, exige esforço para a compreensão de
que, cer-
tos textos.
Porque, se o papel se apresenta mal conservado
ou bichado
e a tinta ilegível, ainda
lavras
temos de arcar com pa-
absurdas ou
desconhecidas, grafias
abreviaturas in-
comuns.
Razão por
gem com
relação a trechos da nossa história, exclusivamente
que,
às vezes, os pesquisadores diver-
por se verem face a algum documento de
dificil,
dúbia ou
impossível interpretação.
4
—
Dificuldades referentes à caligrafia usada.
As dificuldades encontradas pelo que tange à
caligrafia
dizem respeito
a) Falta de pingos nos
leitor
a:
ii
b) Falta de pontuação c)
Palavras ligadas (escrita encadeada)
d) Falta de extensão do documento
—
96
—
de códices no
e) Letras que se confundem f)
Tamanho
a)
A
das letras
de
falta
pingos nos ii dificulta a leitura de dovirtude de poder confundir-se essa letra com o e, com o c ou ainda com o r. Tendo-se à frente um manuscrito cujo autor foi vezeiro em deixar o i sem pingo, ire-
em
cumentos
mos por
certo tomar, mais de
h por
versa, e o
É comum,
b)
a
ou
//,
em
vez, o
m
por
ou
ni,
nos originais antigos, a falta ou
total ausência de pontuação.
ceber que,
uma
vice-
êste por aquêle.
Nessas condições, é
mesmo
fácil per-
muitos casos, as frases podem prestar-se a
in-
terpretações diversas, fornecendo ao paleógrafo alguns cabelos brancos, ou arrancando-lh'os aos poucos.
Complicação adicional
c)
ou
seja, escrita feita
Há
muito comum.
com
oferece a escrita
exemplos simples como:
ésstarse,
medeu, deque,
os casos
em que
encadeada,
poreste, e outros.
Ovale, acasa,
Mas
há também
o escriba não levanta a pena do papel a
E
não
ser para molhá-la
da:
"AnnodonascimentodeNossoSenhorJesusChristo
de
fig.
também
as palavras ligadas, coisa
no
tinteiro.
a frase fica tôda liga.
.
."
(Vi-
20).
A
d)
falta
de extensão dos documentos é
também
difi-
culdade que se apresenta ao paleógrafo porque, quando a
quantidade de frases é pequena, o decifrador tem menor nú-
mero de
possibilidades de comparar letras duvidosas.
escriba costuma escrever a perna do a
essa letra pode confundir-se então,
em
o.
assegurar-se
preciso observar,
partir
da pauta para os oo e os aa
melhor de
sua interpretação.
tipo de r minúsculo, manuscrito, semelhante a
Confunde-se ora com o lido pala
Se o
pouco levantada,
várias palavras semelhantes, qual o afastamento
que o escriba deu a assim,
com um
um Ê
ou
sala.
p, ora
com o
s.
uma
e,
Há um bengala.
Rala poderia ser
Se o documento fôr suficientemente lon-
—
97
—
go,
entretanto, o
o p e o
r,
em
serão repetidos
s
modo
palavras inconfundíveis, desse
qual o modelo seguido pelo escriba
inúmeras
indicando ao decifrador
em
cada
uma
daquelas
letras.
Os exemplos seriam muitos. Diremos apenas que, se o documento fôr curto (um recibo ou uma nota, por exemplo), a possibilidade de comparação de letras fica afastada, dificultando a leitura. Letras existem, na caligrafia
e)
que
apresentam
semelhança muito
m
creva, por exemplo, o
e o n
Dêsse modo. o n
superior.
com in ou ni, a que se também comum a feitura de I então o
hábito de,
I
e o T.
em 90%
Há quem
grande.
igual a
um
u e o
m
es-
se pa-
esquecesse de pingar o
É
/.
e J maiúsculos, semelhantes. Certas pessoas possuem o estranho
dos casos, esquecer-se de cortar o
zendo-o confundir-se
Se
de cada pessoa,
sem encurvar o traço na parte
fica
recerá
Ou
comum
com
o
t,
fa-
/.
acontece nos manuscritos modernos, atuais, que
isso
dizer dos antigos, feitos por escribas diversos, nas mais di-
versas condições?
Testamentos ditados aos escreventes das
entradas, verbi gratia,
mesmo (la
eram vertidos para o papel no sertam
e depois trazidos para a família pelos
Pode-se
bandeira.
exigir,
num
remanescentes
caso desses,
uma
caligra-
fia artística?
Cada escrevente poderá apresentar letras
que
comuns
se
confundem.
Entretanto,
várias e as
diferentes
mais
confusões
são:
p e h (quando a primeira haste do h abaixo da pauta e o laço superior
sando
fôsse
feita
estivesse
pas-
pouco
aberto) f
e s
p p assim:
e
(na escrita antiga o
(porque
s
f
certos
s
era escrito assim:
escrivães
)
—
98
—
costuniam
/ grafar
)
o
(um p de perna
e c
p
com um
m
meio abertc
c
curta
(
podia confundir-se
)
e ne (no caso de o escriba não fazer curvas as par-
m)
do
tes superiores
n e re (idem, com relação ao n) u e re
p
e
f
h e
m
(quando apareçam
//
ou
e ni
sem pingo)
ii
(idem)
in
nn e mi ou im (idem)
per ^
la:
(no caso
do
r
feito
semelhante
uma benga-
a
)
Vejamos apenas alguns exemplos de
confusão, para
me-
lhor ilustrar:
uma mesa
"Possuo Pode e
com
ser, aí,
mesa dc ccntni ou dc
(sem pingo)
i
çjf'..'^!^^
^'S^
ir
;
pinho.
Confusões de
c
com f:
com
na
"Ele
mão da moça.
.
."
sequencia da frase ("... uma certa a interpretação exala era a seque quantia em dinheiro") verificou-se e li (sem pingo) com h. pingo) (sem // com h de gunda. Confusões
Pode
ser índia
ou
tinha.
l.'ela
"Cândido Aparentemente Cândido Duval. são de
t
e
7',
Parece ser
"até
a
com
com
íx.
(9)
Vj
e
era Candido
dr
Confu-
lai.
y-t^-i-^^Ctir
"Até a
de o
Mas
além do encadeamento dctal (9).
<?
Exemplo que
vista.
Mas
é
"até
a
ocslc"
se pode ver à pág. 42 v.
de Terras de Jaboticabal, existente no
do livro
99
(lc'
_Kegislros
Arquivo do Estado de Sao
Vide pág. 83, penidtima linha, do livro (10) de Terras (Arquivo do Estado de São Paulo).
—
Confusões
(10).
—
140
dos
1
aulo.
r^egistros.
"O senhor Confusão de
Pinho ou Pintu.
'Tem como
A brejo.
frase quase
Ligação
f)
O
e
(11).
/;
limite
atheobujo
incompreensível
indevida
confusão de rc com
/
ii
de palavras,
falta
tamanho das
reduzidas dimensões.
a pena, ao traçar as
quando
apenas
formes, de dificílima
oíé
:
o
primeiro
e,
também
tra-
apresentam de
do
a solução
mão de uma
lupa.
é apenas aparente pois a ampliação
tornar legível a escrita.
letras
um
em
desenho
uma
Isso
porque
proporções diminutas, terá
umas das
outras.
A
es-
de ondulações quase uni-
interpretação.
papel absorvente, ou
Se a
isso
tinta corrosiva,
sibilidade absoluta de leitura paleográfica
—
se
Dir-se-á que se lance
grafado as linhas muito aproximadas
5
lida
Escribas houve que faziam caligrafia
ínfimo tamanho.
Mas essa simplicidade nem sempre é capaz de
um
ser
acento no
manuscritas pode
letras
problema é simples: basta que
crita se torna
deve
(12).
zer dificuldades para o paleógrafo,
minúscula, de
de
acrescermos
haverá impos-
do trecho.
Dificuldades referentes às tentativas de adulteração ou falsificação.
Antes de mais nada, convém lembrar que adulteração e falsificação não se
confundem na terminologia
técnica.
Do-
Vide pág. 68 v., linha 8, do livro 141 dos Registros de Ter(11) (Arquivo do Estado de São Paulo). Vide pág. 106 v. do-livro 156 dos Registros' de Terras (Ar(12) quivo do Estado de São Paulo). ras
—
100
—
cumento adulterado
é aquele que, verdadeiro
seu contexto modificado de preensão, cu
ab
teve
initio,
com-
a ficar alterada a sua
então exagerados ou
Documentos
numéricos.
modo
dados
reduzidos os seus
falsificados são os forjados, os ine-
xistentes a princípio e que foram criados inteiramente pelo
na
interessado
burla.
Exemplifiquemos
um
Certa pessoa passa a outra
O
mil cruzeiros.
O
recibo da quantia de cinco
um
recibo do valor de cincoenta
recibo era verdadeiro; o acréscimo é que
Trata-se de
é falso.
esclarecer.
portador do recibo adiciona o final enta
ao cinco, ficando então com mil cruzeiros.
para
um documento
Um
adulterado.
indivíduo consegue, de algum modo, a assinatura de soa qualquer
Nesse espaço
rior.
—
resse
—
com algum espaço em branco na
uma
declaração de venda,
e teremos aí
está que,
num
escreve então
um documento
um um
texto recibo,
outro
uma
que lhe
um
inte-
vale, etc.
Claro
forjado ou falsificado.
caso dêsses, a falsificação pode
pes-
parte supe-
ir
até à assi-
natura inclusive.
Quais as adulterações e
falsificações
que podem
interes-
sar ao paleógrafo?
Podemos responder que qualquer documento
.
antigo,
do
qual possa resultar algum valor, é passível de adulteração ou falsificação pelos
que pretendem locupletar-se com o
Os colecionadores de autógrafos pagam dinheiro pela assinatura de
brindo
um
sificadores la
como
Mas
um
No
em
bom
Desco-
branco, os
fal-
imitar a assinatura desejada, para vende-
autógrafo verdadeiro. as
adulterações e
falsificações
aquelas feitas sôbre papéis real quais
vezes
antigo personagem.
papel amarelado pelo tempo,
tentam
às
alheio.
podem
resultar alterações
substanciais
caso particular de documentos
_
101
mais comuns são
ou falsamente antigos e das
—
em
heranças.
referentes a terras, a
de-
.
nominação
mas
vulgar,
conhecida, dada
suficientemente
já
ao documento forjado, é "grilo" (13).
Porque
as tentativas de adulteração
ou
falsificação cons-
tituem dificuldades à leitura paleográfica?
Porque, sabendo
o paleógrafo
que de
um documento
por êle interpretado podem derivar resultados económicos,
compete-lhe
pode
em que
não prejudicar
nin-
mudança de pontuação
exame
enviar a êle
Mas
é evidente
pericial
ração no papel ou na
modo
que o paleógrafo não pode
a anotar
tinta, e
Pre-
lê.
de comparar
certas noções de grafistica a fim
ter
compete à
todos os documentos que
boa acuidade visual para
letras,
nos documentos
das burlas
constatação
técnica policial.
de
alerta para
a simples
alterar a idéia.
A
cisa
sempre
estar
Casos há
guém.
verificar diferenças
de colo-
grande poder de observação
pormenores estranhos, que passariam des-
percebidos a pessoas menos avisadas.
Desde que razoável
desconfiança de fraude se levante no espírito do paleógrafo,
deverá êle enviar o documento duvidoso à repartição cial
poli-
competente.
Apenas para sos de
ilustrar,
podemos aqui lembrar alguns
fraude descobertos por
paleógrafos do
ca-
Arquivo do
Estado.
Em se que
certo livro de Registros de Terras
uma
das páginas se apresentava
cura que as outras. livro
Tendo surgido
a
um
(14) observoupouco mais es-
dúvida, enviou-se o
para a perícia técnica, descobrindo-se que aquela pá-
gina fôra rísticas
ali
enxertada.
Para que apresentasse as caracte-
de antiguidade, haviam-na exposto ao
sol.
Anos de-
Várias são as supostas origens da denominação "grilo". Em (13) nosso trabalho "A Paleografia e suas dificuldades" anotámos a que nos pareceu mais razoável. Livro de Registro de Terras do Brás (14) de São Paulo )
—
102
—
(Arquivo do Estado
pois,
porém, o queimado do
idade deram
em
resultado
reunido ao amarelido pela
sol
uma
côr mais escura que as das
demais páginas, descobrindo-se assim a
Noutra declaração de
falsidade.
terras:
"Tenho 8 léguas a partir da ponte até o morro do Tamhú e meu cunhado Julio Breve 5 léguas da ponte até o riacho Fundinho. Tenho 6 léguas para a direita deste terreno do
também
Julio
A
12 léguas à esquerda
do
paiol".
nal, entretanto,
uma
apenas
veitaram os herdeiros de
da pontuação
em
as letras,
lupa.
ros era recente,
origi-
acrescentando
O
um
ponto-e-vir-
paleógrafo desconfiara
virtude de o papel ser de lenta absorvência.
bem como
O
pontuação, haviam criado ao
a
mancha
redor pequena
com uma
ponto-e-
Constava no
virgula nesse lugar. Disso se apro-
Júlio,
gula entre as palavras terreno e do.
seu
um
jxjntuação correta na segunda frase seria
vírgula entre as palavras Julio e também.
Todas
(15).
diluída,
facilmente
observável
ponto-e-virgula adicionado pelos herdei-
não se tendo dado ainda a absorção de umi-
dade do ar e entranhamento no
papel.
Caso interessante foi o descoberto pelo restaurador de documentos do Arquivo do Estado. Restaurando um livro de sesmarias, emparedou tôdas
as folhas
em
papel
cristal
E
notou,
citada em capítulo anterior. com espanto, que a tinta de uma das folhas, combinando-se com algum dos elementos da cola, mudou completamente de
usando a cola por nós
côr.
não
De é,
preta, passou a
um
vermelho arroxeado.
normalmente, atacada pela
cola.
Mas
o
A
tinta
falsificador,
adipara dar-lhe a aparência de antiga, provavelmente lhe no processo cionara algum produto que veio a alterar-se
(15)
com
Os nomes
e
outros nomes, Justiça de São Paulo. creto,
dados são imaginários. i\las ([ue grande trahallio deu a
—
103
—
de
denunciando a
restauração, assim
falsidade.
bem
que, diga-se de passagem, havia sido muito
não fôra a restauração,
teria
Falsidade feita pois,
passado completamente
des-
percebida (16).
Também
curiosa foi
a adulteração efetuada
em
certo
códice cujas páginas se apresentavam não só amareladas pelo
A
tempo como também bichadas. ter
burla
foi
o paleógrafo observado que a escrita,
passara junto a
uma
perfuração de traça.
descoberta por
em
E
certo ponto,
a tinta
man-
chara as bordas do furo, prova de que o trecho fôra escrito
não quando a fôlha muito depois, após
se
encontrava ainda íntegra, mas sim
ter a traça
perfurado o papel.
Houve ainda um documento que, datado do primeiro XIX, parecia ter sido escrito com pena me-
quarto do século tálica.
Ora.
Como
se
penas metálicas só se vul-
sabe, as
garizaram entre nós pelos
fins
do século passado, fato que
o falsificador possivelmente ignorasse, ou de que se tivesse esquecido.
Pelo exposto no presente capítulo vê-se que a leitura paleográfica não depende apenas de prática no entendimento
dos garranchos feitos pelos antigos escribas.
Depende tam-
bém de conhecimentos variados, da posse de uma paciência beneditina, de uma espécie de capacidade de adivinhação em certos casos, de atenção minuciosa e constante, além de espirito
sempre
alerta
um
contra os forjadores de documentos.
Apenas como adendo a êste capítulo, convém lembrar ainda o caso da publicação dos documentos lidos, publicação esta feita quer por entidades governamentais quer por particulares.
de
Vide Livro 23 de Patentes (16) São Paulo J.
—
104
e
Sesmarias (Arquivo do Estada
—
É de todo vantajoso que a reprodução impressa traga todos as falhas e erros do original, deixando a interpretação ao cuidado dos historiógrafos. Tem isto o fim de que
evitar
o paleógrafo possa, através de sua interpretação, alterar conciente ou inconcientemente algum parágrafo.
Até há bem pouco, as divulgações do texto de códices antigos traziam apenas, nos trechos por qualquer razão ilegíveis,
apenas
uma Imha
pontilhada.
Ex.:
Auto de posse do Gov
desta
ral
Capitania e Minas do
em
17
Anno do Nascimento de Nos mil setecentos e
do mez de Junho do Villa de
ahy
Sam
sto
aos qu ditto anno, nesta
Paulo, Cabessa de
os Juizes
de
dias
mui nobre
Co
tando
Ord
Isto trazia certas dificuldades para os historiógrafos por-
quanto
se
viam
de conseguir
êles obrigados a
ir
ao Arquivo na esperança
o trecho pontilhado, supondo-o apenas apa-
ler
gando à repartição depositária do documento, encontrava-o
gando à repartinão
depositária do documento, encontrava-o
entretanto corroído
de traça,
queimado ou rasgado, o
que
afastava de vez as possibilidades de leitura.
Por outro apagados,
lado,
podem
os trechos
antigamente
ilegíveis
hoje ser lidos graças à luz ultra-violeta
por
ou
Em
através fotografias tomadas com ráios infra-vermelhos. casos excepcionais, de necessidade extrema, poderia tentarse,
mesmo, o uso de reavivantes químicos.
o antigo sistema de linhas pontilhadas não vinha correspondendo plenamente às finalidades, razão por
Assim,
pois,
—
105
—
.
:
que o Arquivo do Estado adotou, por nossa sugestão, as guintes convenções
Quando rasgado ou
se-
roído por papi-
rófagos.
Quando apagado pelo tempo ou por umidade.
Quando
(ilegível)
mas
visível,
incompreen-
sível.
Em
Quando
grifo
possível
sido
pada
Um
a leitura
com
do trecho só tenha o auxílio da lâm-
ultra-violeta.
texto antigo pode aparecer impresso, agora, da se-
guinte maneira:
Se a
V Ex .
lhe parecer conveniente ao Real Ser-
.
viSso de S.Mag."'% que se execute logo este projecto
sem mais demora, com
que a estaçaon seacha
Eu me
avi eira q' ainda
acho com muita couza prevenida
como
nunca eu poderey já
nda que
expuz a
V Ex .
(ilegível) d'011iveira
Isso simplificará o trabalho se suas
que é
dúvidas recaírem
inútil abalar-se
em
do historiógrafo porquanto,
de seu local de trabalho para
Arquivo: aquele trecho não
saberá
trecho pontilhado, já
existe,
ir
até o
por ter sido corroído ou
Já se sua dúvida se situar em período tracejado ou "ilegível", poderá tentar a leitura da frase apagada, ou ter rasgado.
esperanças de conseguir decifrar o garrancho incompreendi-
do pelo paleógrafo.
—
106
—
VIII
PALEOGRAFIA NO BRASIL Pelos fins
do século passado e inícios do atual existiam entre nós pequenos livros que traziam reproduções de manuscritos, e
que eram dados a
posamente, ler os
"O
aos discípulos das escolas
ler
Um
primárias de então.
desses livros se intitulava até, pomPaleógrafo". Quando o aluno conseguisse
manuscritos
ali reproduzidos, e de autoria de Pedro II, Caxias, Rio Branco, Alvares de Azevedo e outros, era consi-
derado "formado"
em
leitura.
E
óbvio porém que essa leitura não representava o que na verdade se pode intitular "paleografia". Tratava-se ape-
nas de
facilitar
ao aprendiz o entendimento de caligrafias
variadas, de documentos da época,
com vocabulário
e abre-
viaturas então correntes.
Data, entretanto, mais ou menos désse aparição dos
primeiros pesquisadores,
mesmo tempo
a lerem
a
diretamente
no original os documentos antigos com finalidade historiográfica. Apenas para citar dois exemplos de São Paulo, poderíamos lembrar os nomes do Dr. Antônio de Toledo Piza, diretor
do Arquivo do Estado de 1893
gável de cartapácios, e a
quem
a
1905, leitor infati-
deve a publicação de 45
se
volumes dos "Documentos Interessantes para a História e Costumes de S. Paulo"; e o Dr. Orville Derby, americano que se apaixonou pelo
Brasil a ponto de se naturalizar bra-
sileiro e fazer pesquisas sôbre as coisas nossas,
portantes trabalhos, terra
de sua
inclusive
Aos poucos,
um
deixando im-
caráter histórico,
sôbre
a
eleição.
os
historiógrafos
tando da necessidade da
de
de
nacionais se
leitura paleográfica.
vão capaci-
Os trabalhos
Afonso Taunay constituem enorme repositório de
fa-
tos dos primórdios da vida brasileira, evidenciando a colos-
—
107
—
sal
quantidade de documentos antigos que o seu autor teve
de compulsar. Washington Luiz se torna outro grande
leitor
de códices, a êle se devendo a iniciativa da publicação das
Atas da Câmara de Sto. André da Borda do
mara de
Seu grande grafo da
auxiliar foi o Sr.
Câmara dos Deputados
São Paulo parece da publicação de
com
e da Câ-
ter sido
e paleógrafo nas horas vagas.
também, no
documentos antigos
Mas,
breve prazo,
a
Brasil, o pioneiro
para
fins
históricos,
"Documentos Interessan-
a divulgação dos supra citados
tes".
Campo
número veio a lume em 1914. Manuel Alves de Souza, taquí-
Paulo, cujo primeiro
S.
os demais
iriam acs poucos procurando fazer o
arquivos do
Brasil
mesmo, surgindo no
seio
dêles os auto-didatas da paleografia.
É
ainda
em São Paulo que
pela primeira vez se criam,
América do Sul, cargos públicos com a expressa denominação de "Paleógrafos". Deu-se isso em no
Brasil,
e,
parece, na
1935, na Prefeitura paulistana, ao ser criada a Divisão de
Documentação Histórica do Departamento de Cultura, do os
Secção do Arquivo.
cargos lotados na
sen-
Por motivos
que não nos compete analisar, porém, algum tempo eram os cargos de "Paleógrafo" reclassificados como
vários, e
depois,
de "Arquivistas".
O
vem
contrário
no funcionalismo estadual,
em
a dar-se, curiosamente,
1946: o cargo de "Arquivista"
do Departamento do Arquivo do Estado tem
mudada sua
denominação para a de "Paleógrafo". Importante salientar que o ocupante dêsse cargo, o Dr. Antônio Paulino de Almeida, há muito tempo, tor
já,
de cartapácios, embora
Com
desempenhava fôsse,
as funções de
oficialmente,
lei-
"arquivista".
relação a cursos para o aprendizado da Paleogra-
supomos que o primeiro movimento sério no sentido de criar um se deu na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, por volta de 1941 ou 1942. Não sabemos que fia,
razões impediram vingasse a idéia.
—
108
—
Já em 1938, também em São Paulo, fôra organizado o curso de Biblioteconomia (17), no qual se ministravam noções de Paleografia.
da
um
térias
programa
do currículo
a ser criada
em
Mas
essas noções
não constituíam
uma
isolado, pois faziam parte de
A
ain-
das ma-
vem bem que com pequeno número de no 2.° semestre). Foram seus regen-
escolar.
cadeira de Paleografia só
1947, se
aulas programadas (só
de 1947 a 1949, D. Lizette Toledo Ribeiro Nogueira; de 1950 a 1952, D. Zilá Taveira. Atualmente, rege-a o Sr. tes:
Giulio David Leoni, que e Paleografia"
também leciona "História do Livro nc curso de biblioteconomia do Instituto "Se-
des Sapientia".
Ao que ou seis Rio de
anos,
ou ainda funciona, no Mosteiro de
Janeiro,
Temos fia
nos constou, funcionou intra-muros há uns cinco
um
notícia,
que há uns
três
S.
Bento do
curso de paleografia.
também, de
um
ou quatro anos
Arquivo da Bahia para seus
breve curso de paleograteria sido
funcionários.
organizado pelo
O
Departamento
de História e Documentação da Prefeitura do Distrito Fedeentre novembro de 1950 e fevereiro de 1951 promoveu Curso Intensivo de Arquivologia cuja primeira parte era
ral,
um
constituída por Noções Gerais de Paleografia e Diplomática.
As
aulas estiveram a cargo de D. Maria Luisa
do
Sr.
Danneman
e
Otávio Calazans Rodrigues.
Finalmente o Departamento do Arquivo do Estado de
São Paulo promoveu o seu Curso Livre de Paleografia em fins
de 1952, o primeiro com as características de
"livre" isto
exames é, aberto a todos os interessados e sem a exigência de aprepágina de na gravados, de aproveitamento. Deixámos sentação destas "Noções de Paleografia", os nomes dos que se
foi
incumbiram das
aulas.
Organizado pela Prefeitura de S. Paulo, (17) anexado à Escola de Sociologia e Política.
—
109
—
l.in
1"40 u curso
A
paleografia, a nosso ver,
obtém dia
a dia maior nú-
mero de adeptos. necessitar: história,
Já não é preciso ser historiador para dela os pesquisadores, e os próprios estudantes de
cada vez
em maior número, procuram
quivos para aprender a critos
ler,
no
agora os ar-
original, os preciosos
que documentam a vida palpitante de sua
—
110
—
manus-
pátria.
EXEMPLARES DE MANUSCRITOS BRASILEIROS
)
\
L
.'I
'
.
'
Treclio
ile
,4
'
.
docunieiilo (Aniiiivi)
(fiR.
-
Ăiiis
<lc
il"
113
iId
l^sl, 1(1(1
34)
-
--s
^
srcnlci
16
LEITURA DO DOCUMENTO DO SÉCULO
16:
Imventr" da fazenda de Dyoguo
Sanches defunto
q' fez
o Juis
Estevão Ribr"
Anno do naSymento de NoSso Sõr Jhu Xpô de mil e quinhentos noventa e oyto annos
em
os
vynte e dous dias do mes de setenbro dc dyto
anno nos canpos de taquyvossu termo da
San Paulo da
Cap.'-'
de
Sam
he Capitão e guovernador
p.'
villa
do Brasil e de
V.''
de q'
Sua Magestade o
Sõr Lopo de Sousa sendo Juis Estevão Ribr" e
ssyn ccmiguo
zenteDioguo
onde o
t/'"'
por ter falesydo da vida pre-
Sanches nesta
dito Juis p/'""- ni"
sua
t.'""
caza e
fazenda
deu juramento dos
Santos Evangelhos sobre hu lyvro deles a Viuva
Apolonia Paes e aSi a P" de Moraes e Amdres
Fernandes nesta dyta
villa m.'^'* e lhes
carguo do dito
—
114
—
mãdou sob
Trecho de dociinieiito do sf-cnUi Arquivo do Estado) (
(fig.
—
35),
115
—
17
I.EITURA DO
DOCUMENTO DO SÉCULO
17:
oytenta e dous annos nesta villa de Cananea
em
caza dos paço do concelho aonde se achavão o Juizes presidentes Luis Antonio de Freitas e João
Francisco Lisboa e os mais ofeciais da camera e
ahy presente o Sargento mor Manoel Joze de
aquém
Jezus
tos evangelho
mão
elle Juis deferio
em hum
Juramento dos Sanque pos sua
Ilivro delles
bem
direyta e lhe emcaregou que
e verda-
deyramente service seo cargo de Juis de órfãos trianal
aSim como manda Sua Magestade que
aSim o prometeo
fazer e ce lhe deo
mento de tudo que tar
fis
este
lhe pertencia de
em
termo de poSe
empoSado com
poSe e Jura-
que para cons-
que aSynou o dito
o Juis e mais oficiais da
Camera
eu Joze da Silva escrivão da Camera que o
es-
crevy.
M/'' J.* /
Fr.'*^
/
Lx.-'
/
Sobral /
—
116
—
Pereira /
Pr.-''
/
Documento do sĂŠculo 18. (Aniuivo do I".sl;id()) Observe-se que o papel era uni lanio absorvculc-. l\Mk'Mi-sc ver sombras das palavras c^crUas no verso da tĂľllia (fig,
36)
LEITURA DO DOCUMENTO DO SÉCULO Aos
do mes de Julho de
oito dias
18:
mil, sete
Sam
centos, setenta, e oito, annos, nesta villa de
Joam
Baptista de Cananea no PaSso do Concelho
delia
onde
achava prezente o
se
Tuis prezidente
da Camara, e mais offeciaes da Camara para efeito de fazerem sua VereaSsam na forma da Ley, de
que para constar
fis
este termo.
E
eu Francisco
Antonio de Freytas Costa escrivam da Camara o Escrevy.
Prado
L.^^ /
Aos onze
dias
/
Silva
Pr.^ /
do mes de Julho de
mil, sete
Sam
centos setenta, e oito annos, nesta Villa de
Joam
Baptista de Cananea, no PaSso do Concelho
onde Seachava prezente o Juis Prezidente da Camara, e mais ofeciaes delia, para efeito de delia,
fazerem sua VereaSsam na forma da Ley de que para constar
este termo.
fis
E
eu Francisco An-
tonio de Freytas Costa Escrivam da
Camara
o Es-
crevy.
L.-^-''
/ Pr."
Prado //
Silva
/ V.t"
em
Corr.^'"
de 1778.
Barboza //
—
118
—
Documento do
século
(fig.
—
(Aniuivo do
V).
37)
119
—
F.sliido)
LEITURA DO DOCUMENTO DO SÉCULO
19:
N.° 22
Declaração que
fás
Anna Gertrudes M.^
Digo eu Anna Gertrudes Maria abaixo asSignada que sou senhora, e terras
mado
posSuidora de
e
hum
sitio
no Bairro desta Freguesia no logar cha-
bem posSuem partes no meos Irmãos Salvador Alves Garcia,
o Salgado, onde tão
dito Sitio os
Máximo
Rodrigues, Antonio da Crús, cujo
terras nos
sitio e
coube por falescimento de nosSa Mai
Izabel Maria da Conceição, e esta por posSe anti-
quisSima, que já
ali
morou a muitos annos;
confrontações são as seguintes, principia de lage
de pedra cortando rumo direito athe
vallo velho, e deste roda athe
hum
as
huma
hum
corrigo onde
tem periperi, edaqui roda corrigo abaixo athe no caminho que vai na tapera do falescido João Pinto, subindo caminho acima athe dar em hum espigão, rodando espigão abaixo athe dar em hum ti-
rumo
juco preto, e dahi segue trar nos vallos
direito athe encon-
de Raimundo Rodrigues de Freitas,
ficando asSim confrontado, de cujo
não posSuimos por
titulos,
sitio
e terras
mas sim por posSe de
muitos anncs já acima declarado.
da
Freguesia
Conceição dous de Setembro de mil oito centos cincoenta e quatro.
A
rogo de
Anna Gertrudes
Maria por não saber escrever. Antonio Jose Marciano = E nada mais nesta declaração em duplicata
—
em
cujos exemplares lancei a nota seguinte
Numero
vinte
dous:
Appresentado
no
dia
dous de Setembro de mil oito centos cincoenta e quatro,
o Vigário João Vicente Valladão
—
e
naquelle que fica archivado vai adatta do registro
que he a
mesma
supra.
ConS''"'
2
de Setembro
de 1854
Reg" 1$760
João Vicente Valladão
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PA-
In Boletim do Departamento do Arquivo do EsVol, X Fev. 1953.
—
123
—
ÍNDICE
Nota Prévia
b
Apresentação
7
Paleografia
—
Evolução das Tipos
Definição e generalidades
11
17
escritas
caligráficos
2,-i
Material usado na escrita
33
Conservação de documentos
-"'3
Restauração de documentos Dificuldades
da
leitura
paleográfica
Paleografia no Brasil
Exemplares de manuscritos Bibliografia
1^-'"
1"'
brasileiros
111
Imprimiu
JOテグ BENTIVEGNA Rua Tamandarテゥ, Tel.
32-3417
S.
n.
201
Paulo