Nocoes de paleografia Ubirajara Mendes

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DEPARTAMENTO DO ARQUIVO DO ESTADO DE SECRETARIA

S.

PAULO

DA EDUCAÇÃO

NOÇÕES

DE

PALEOGRAFIA POR

UBIRAJARA DOLÁCIO MENDES

SSo Paulo 1953



NOÇÕES

DE

PALEOGRAFIA

MM



DEPARTAMENTO DO ARQUIVO DO ESTADO DE SECRETARIA DA

S.

PAULO

EDUCAÇÃO

NOÇÕES

DE

PALEOGRAFIA POR

UBIRAJARA DOLÁCIO MENDES

São Paulo 1953


:

DO MESMO AUTOR ""A Guerra Química"

n^s.

"O decréscimo

— —

de

abril

de Estatística

"Produzir mais

Económica

Rio

:

dezembro de

Paulo)

Tietê"

fevereiro de

Conselho de Expansão

Departamento do Arciuivõ. do Estado

1952.

Departamento do Ar-

fevereiro de 1953.

Departamento do Arquivo do Estado (S. Pau-

Paleografia e suas dificuldades"

"A F.E.B., Embaixada Estado

(S.

Paulo)

de amizade"

Departamento do Arquivo do

fevereiro de 1953.

Departamento do Arquivo do

setembro de 1953.

colaboração

"Depoimento de Oficiais da Reserva sôbre a F.E.B." oficiais)

3."

Edição

^'Verbos Ingleses" 1952.

Estadual

fevereiro de 1953.

Estado (S. Paulo)

Em

Tipos Caligráficos"

quivo do Estado (S. Paulo) "Material da Escrita"

Departamento

de 1948.

abril

1947.

remédio contra a inflação"

"Evolução das Escritas

"A

Pauioj

Departamento Estadual de Estatística

Boletim do

"Breve Histórico do Arquivo"

(S.

1942.

"Aproveitamento económico do

lo)

Revista"

nos coeficientes de natalidade no Estado de São Paulo"

Publicado no

(S.

em "Armas em

Publicado

de agosto e setembro de 1938.

— 1952. Kehdy) — Ed.

{com mais

15

Ed. Cobraci

(com Carlos

Brasil

setembro de


NOTA PRÉVIA

Em

de 1952, quando na direção do Departamento do Arquivo do Estado, o autor dêste trabalho, dr. Ubirajara fins

Dolácio Mendes, realizou

um

Curso Livre de Paleografia,

contando integralmente com o aplauso de todos aquèles que se interessam pelo assunto.

bemos das

Nós estávamos

dificuldades encontradas, das lutas que teve de

enfrentar para levar a cabo tão

endimento.

Os

tivas, pois o curso

uma

meio

quão necessário empreforam plenamente com-

mesmo

as melhores expecta-

obteve mais de duas centenas de inscrições

frequência média de 170 alunos.

Tal sucesso,

uma

útil

resultados, porém,

pensadores; o êxito ultrapassou

e

Sa-

entre êstes.

raro, raríssimo

mesmo, em

se tratando

especialização tão pouco conhecida e estudada

e,

também, levando-se em conta

zem bons paleógrafos — induziu-nos

a falta

a pensar

em

que nos

em novo

de

nosso fa-

curso,

desta vez, porém, dando-lhe as características de avançado,

dedicando-o àqueles que já tenham algumas noções da matéria. E, para não limitar as inscrições apenas aos isto é,

que acompanharam e concluíram o primeiro, o Departamento do Arquivo resolveu dar a lume êste trabalho, que tem por escopo servir de base elementar aos alunos que se iniciam no interessantíssimo estudo da Paleografia. São Paulo, outubro de 1953. José Soares de Souza Diretor.



APRESENTAÇÃO O deseja

uma

autor deve confessar, antes de mais nada, que não o.

título

A

de paleógrafo.

paleografia,

a seu ver, é

que demanda prática constante e atenção quase exclusiva. Para isso, é preciso que o estudioso dessa espearte

cialidade dedique a totalidade de seu

parativo de

letras,

tante manuseio

tempo ao

serviço

com-

à análise de tipos caligráficos e ao cons-

de documentos

Tendo de

antigos.

tratar,

paralelamente, de atividades outras, é evidente que o autor

não poderá, jamais,

— Porque,

um

ser

paleógrafo, na acepção do têrmo.

então, se abalançou a escrever êste trabalho?

perguntar-se-á.

E

o autor responderá:

Mero

desejo de juntar a sua modesta colaboração para

que os estudos de

história,

em

nossa terra, se baseiem cada

vez mais nos originais dos documentos antigos.

uma

Se lhe fôsse permitido adotar jocoso,

classificação de

tom

evidentemente sem desrespeito a ninguém, diria o

autor que há dois tipos de historiadores: os de segunda água.

os de primeira e

Os de primeira água seriam aqueles

que se vão abeberar nas fontes verdadeiras: os documentos antigos, cuidadosamente conservados pelos arquivos e bibliotecas.

Os de segunda água seriam

os historiadores que, ba-

seados nas afirmativas dos de primeira água, repetem os conceitos exfMDstos por êstes ou, à vista

do exp>endido por

êles,

tiram novas conclusões. Ora.

O

sr.

José da Silva é

um

ciencioso, cuidadoso e profundo.

grande historiador. Con-

Pesquisa sempre, revolve

os arquivos, busca constantemente estar

— — 7

bem amparado

por


Tem

documentação fidedigna. cados e seu

nome

dezenas de trabalhos publi-

é citado aqui e

um

no exterior como o de

como

E, nessas condições, as suas obras são usadas

mestre.

fonte para a feitura de outros volumes de história.

Mas

o

sr.

José da Silva

Não

não é Deus.

doso,

historiador de primeira água

Embora

é infalivel, portanto.

cuida-

embora meticuloso em seus estudos, poderá ocasionalUma se ter enganado na leitura de um documento. "s" que tomou por "f", um Paulo que leu Saulo, e suas

mente letra

conclusões já não correspondem inteiramente à verdade. Por

outro lado, ainda lendo corretamente o documento, poderá

Nem

interpretado imperfeitamente.

tê-lo

deixará de ser o mestre venerado.

homem

de

descoberto

ciência,

sem que com

perca

isso

em

E,

o

por

isso,

é claro,

como todo verdadeiro procurará

êrro,

corrigi-lo,

autoridade ou dignidade.

Acontece entretanto que, até perceber-se o engano, êste já foi repetido

segunda água

por dezenas de outros historiadores

e conclusões outras

se

os de

basearam no

êrro.

Consequência: o êrro acaba sendo considerado verdade

his-

tórica.

Os

conhecem inúmeros casos

historiadores

vezes, até, para desfazer

ginas

têm de

um

E nem

ser escritas.

Por

desses.

engano simples, milhares de pá-

sempre

se

consegue

com

sucesso repôr as coisas nos seus devidos lugares.

Meramente para

citar

um

exemplo: certo historiador

por sinal muito respeitado entre os pesquisadores de nossa história pátria

de lo",

uma

crê

que

em documento

congregação religiosa se possa

referindo-se

nossa cidade,

à

em

existente no arquivo

ler a

palavra "S. Pau-

data anterior a 1554.

Outros historiadores analisaram o documento e concluiram

que a palavra ficou

e,

ali

existente

às vésperas

ainda se discute se

em 25 de

do S.

4.°

não é

Paulo

janeiro de 1554.

"S. Paulo".

Mas

a dúvida

centenário da fundação da cidade, foi

realmente fundada ou não


Muitas dúvidas históricas não surgiriam, ou morreriam no nascedouro, se maior número de historiadores se valesse dos preciosos arquivos que possuímos.

Mas

a só

menção de papel

velho, bichado ou amarelado

pelo tempo, assusta muita gente e já produz comichões psicológicos.

Decifrar códices e cartapácios é

Não

sativo.

mente

porém, tão

é,

difícil

com

efeito can-

ou complicado como geral-

se pensa.

E

essa

a

é

finalidade

precípua dêste

livro.

Procurar

mteressar nossa gente na leitura dos nossos papéis velhos,

buscando mostrar, ao mesmo passo, que não há necessidade de

"decifrá-los".

Com

prática, a leitura dos

tigos passa a ser quase corrente.

documentos an-

E um mundo

de perspec-

interessantes se abre para os historiadores ao consul-

tivas

tarem os códices

muitos dêles ainda não publicados

conservados nos arquivos, quer públicos quer particulares.

Com

a

mesma

finalidade dêste livro, criou o Departa-

mento do Arquivo do Estado um "Curso Livre de Paleografia", cujas aulas estiveram a cargo dos srs. Drs. Américo de Moura, Tito

Lívio Ferreira, Antônio

Paulino de

Bueno de Azevedo Filho, Phillipe Wolff, Carlos da Lívio Gomide e Affonso E. Taunay. O autor teve

Almeida, Silveira,

a honra

de dar também a sua apagada contribuição.

O

êxito dêsse curso,

com mais de 200

inscrições,

mos-

que a Paleografia pode despertar. E foi exclusivamente o que encorajou o autor na feitura desta Pouco ou nada haverá de original neste trabalho. obra. trou o interêsse

Tudo

o que aqui se expõe pode ser encontrado nos tratados

da matéria, citados na bibliografia do fim do volume. Se algum mérito puder ter o autor do presente livro será apenas o de haver procurado sintetizar o que pôde encontrar sôbre o assunto, porque a sua contribuição pessoal terá sido, se não nula,

provavelmente de pouca ou nenhuma

valia.

São Paulo, setembro de 1953

U.D.M.

_9_



-

I

PALEOGRAFIA

DEFINIÇÃO E GENERALIDADES

Pela etimologia significado: grafia

é,

da palavra têm-se

de imediato o

=

paleos == antigo; graphein

escrever.

seu

Paleo-

portanto, escrita antiga, ou seja, o estudo da escrita

antiga.

Os autores, com variantes apenas na maneira de expor a idéia, bàsicamente definem a paleografia como sendo a decifração dos documentos antigos. Assim, Maurice Prou diz que: "Paleografia é a ciência das antigas escritas, que tem a decifração dos escritos da Antiguidade e da

por objeto

Idade Média". D. Jesus

Munoz y

Rivero define a paleografia como

sendo:

"A ciência da decifração dos manuscritos, tendo em consideração as vicissitudes sofridas pela escrita culos e nações, seja qual fôr a matéria

Salomon Reinach

diz:

"A Paleografia

a ciência

é

em todos os séem que ela apareça".

da decifração dos manus-

critos".

E

Agustin Millares Carlo:

"Paleografia é a ciência que trata do conhecimento e

interpretação das escritas antigas e que estuda as suas ori-

gens e evolução".

A

nosso ver poderíamos simplesmente dizer

Paleografia é a arte de finição,

conquanto mais

ler

curta,

modo, abrange tudo quanto ler

documentos

Esta de-

não tem limitações

se refere à matéria.

"A

que:

antigos".

e,

Na

dêsse

arte

de

o documento antigo estariam englobados a capacidade

de superar as vicissitudes sofridas pela

escrita, a

interpreta-

ção desta, o conhecimento de sua origem, evolução e época.

11


Paleografia e epigratia

<3uando se diz que a "paleografia é a arte de

cumentos

na sua acepção mais

ser

um documento com

vidro

Um

lata.

osso pode ser

mancha de sangue, sôbre

paleontológico; ua

ler

do-

não empregamos a palavra documento

antigos",

um

documento

o soalho,

pode

um feto disforme, guardado num um documento anátomo-patoló-

policial;

formol, pode ser

gico.

Os documentos

que constituem

objeto da

paleografia

são apenas aqueles vasados sôbre matéria mais facilmente perecivel e de fácil transporte,

como o

papel, o

pergaminho

e as tabuinhas enceradas. Se, entretanto,

como o mármore, difícil

uma

sôbre matéria dura,

infrcrição é feita

a pedra, metais, principalmente

transposição e

mento para idades

com

quando de monu-

a finalidade de servir de

futuras, então se diz

que

tais

documentos

pertencem ao campo de estudo de outra ciência: a Epigrafia.

As placas de barro da

em

embora feitas tempo que o papel ou o per-

escrita cuneiforme,

material mais resistente ao

gaminho, podem fazer parte do estudo paleográfico por

se-

rem de relativamente fácil transporte. O mesmo se pode dizer de escritos feitos pelos antigos em lâminas finas de curo ou de chumbo. Mas se a escrita cuneiforme foi feita numa coluna ou a placa metálica presa a um bloco de pedra, o paleógrafo

poderá eventualmente ser consultado para

Mas o documento do campo de ação da Epigrafia. a sua decifração.

passou a fazer parte

Paleografia e diplomática

Costuma-se estudar, paralelamente à paleografia, e ten-

do como objeto também ciência,

ou

arte,

os

documentos

intitulada Diplomática.

antigos,

E

uma

outra

os autores tim-

bram em separar nitidamente o campo de ação das duas matérias.

12


Dizem

êles

que a Paleografia estuda apenas os carac-

teres extrínsecos dos documentos: as letras

A

tos.

com que

Diplomática estuda o conteúdo.

A

são escri-

Paleografia

lê,

decifra o documento; a Diplomática interpreta-o e julga so-

bre a sua autenticidade e veracidade.

Chega-se a dizer que

"a paleografia estuda o corpo do documento; a diplomática,

a alma".

Entendemos que

isso

não passa de exagêro de especia-

Não é possível, lendo um documento, separar-se a sua parte extrínseca, as letras com que foi escrito, do seu teor lização.

intrínseco:

Grande número de vêzes o paleógrafo,

a idéia.

para poder decifrar o documento, se vale de textos semelhantes, para comparação;

sequência natural de

um

terminadas épocas. As

do sentido provável da trecho; de fórmulas

da

frase;

comuns

a de-

o pensamento por elas trans-

letras, e

mitido, são pois inseparáveis.

O

próprio paleógrafo é obrigado à análise e à crítica

daquilo que

Se assim não

lê.

agir,

fará face, por vêzes, a

Não há dúvida

trechos incompreensíveis ou absurdos.

após lido

mo

um

documento, é possível a

crítica

Êsse outrem, eviden-

por outrem, que não o paleógrafo.

Estaria fazendo a

temente, não estaria fazendo paleografia.

da

crítica à luz

com

história, à luz

Mas nada

outros textos.

correr ao

documento

da

lógica,

mais que

sem

original,

que,

do teor do mes-

ou por comparação isso

porque, sem re-

fazer paleografia portanto,

se êrro

houver

é in-

não pode o

crítico saber se o êrro

trínseco no

documento, se é êrro de leitura, se êrro de inter-

pretação. tar

Êsse simples trabalho

um nome

tão

pomposo —

rado ciência aparte.

crítico

não deve compor-

Diplomática

e ser conside-

Acrescente-se que o verdadeiro critico

original, se quiser ter certeza

tem de valer-se do ma, até mesmo quando sua finalidade seja a autenticidade do documento. Nessas condições,

13

do que

afir-

verificação

da

a nosso ver.

o


mais que

nome

pode

se

dando à

aceitar,

diferente, é a existência

crítica

uma

de

documental

um

paleografia diplomá-

tica.

Paleografias nacionais

Costumam critos antigos

2

3

4

leitura

dos manus-

Teriamos assim:

aos documentos. 1

denominar a

os autores

segundo as nações ou povos que deram origem

— Paleografia — Paleografia — Paleografias — Paleografias

grega. latina.

orientais.

francesa, espanhola,

italiana,

portu-

guesa, etc.

Entre nós, com referência aos documentos dos primeiros séculos de nossa colonização, deveriamos ter

uma

Paleo-

grafia Brasileira.

Não

são dessa opinião alguns dos mais assíduos leitores

dos nossos documentos antigos, entre os quais podemos citar

Taunay

o historiador Afonso E. Silveira.

Alegam

e o genealogista Carlos

que nossa

êstes

muito recente, e de relativamente o

nome de

dificultantes

mento da

fácil leitura,

Paleografia Brasileira.

considerando

em da

tinta,

primeiro lugar

leitura etc.)

(traças, são,

documentação

Não

é

da

ainda

para merecer

discutiremos.

Mas,

que certas características

amarelido do papel, descora-

nos nossos documentos, iguais às

que se oferecem aos europeus,

e,

meio de identificação dos nossos

em

segundo

códices,

lugar,

como

separando-os dos

de outra origem, somos pela denominação Paleografia Brasile:rc.

14


Relações entre a paleografia e outras ciências

Relações entre a Paleografia e a História

Da

ções são evidentes.

A

deriva a História. constituída por

um

relatório

tário.

A

uma

leitura

prova dos

um

como

fatos, tais

carta que ficou,

apresentado,

As

rela-

de documentos antigos é que

uma

deram, é

se

escritura de terras,

comunicado

um

feito,

inven-

Paleografia lerá êsses documentos; a História nêles

encontrará as bases, os porquês e o encaminhamento de cada sucesso histórico.

um

Sem

a Paleografia, a História seria apenas

um

amontoado de suposições ou

enorme de

desfiar

nar-

rativas transmitidas pela tradição oral.

Relações entre a Paleografia e a Filologia dar-se atual,

uma

— Ao

estu-

lingua, suas características hodiernas, sua sintaxe

não podemos deixar de lado a indagação de como che-

gou a língua ao estado presente.

Faz-se necessário, então,

voltar atrás, no tempo, afim de descobrir as várias transfor-

E

mações por que passou aquele idioma.

entra a Paleo-

grafia, auxiliando o filólogo a decifrar as múltiplas particula-

ridades da escrita, possibilitando assim o estudo dos vários

com

estágios da língua, vra,

com

m^nto

com segurança mente

no sentido das

as alterações

da

paulatino

que,

as variações sofridas por cada pala-

sintaxe.

sem

frases,

com

Acreditamos

a Paleografia

como

o cambia-

afirmar

poder

auxiliar, dificil-

se compreenderia a existência da Filologia.

Relações entre a Paleografia e o Direito

Tais rela-

ções são facilmente deduzíveis quando se trata de investigar a história das

leis.

O

Direito

Romano, tronco robusto de

tôda a legislação atual, só pôde ser estudado através da do-

cumentação deixada. na decifração dos

E

o paleógrafo

leitura

em

chamado

a intervir

textos.

Mas, independentemente da casos há

foi

que a paleografia

das

história

vem em

de testamentos antigos, direitos à

15

leis,

múltiplos

do

jurista:

herança,

registro

auxílio


de terrenos, gio,

etc.

feitos

há séculos mas que entram hoje

em

lití-

Foi graças à leitura de documentos existentes no

Arquivo do Estado de de limites entre

S.

S.

Paulo que se decidiram as questões

Paulo e Minas.

Relações entre a Paleografia e as Ciências

em

geral

Desde Hipócrates, ou mesmo antes dêle, as tentativas de cura das várias moléstias, os medicamentos usados e os resultados obtidos sos; cias;

vêm sendo

os antigos alquimistas

anotados

em documentos

tomavam nota de

suas experiên-

a astrologia conservava, por escrito, as observações efe-

tuadas.

Buscando aproveitar o que, de bom,

antigos, e evitar os êrros cometidos, assim cias.

espar-

A

paleografia,

xados, contribue dêsse

foi feito

pelos

progridem as ciên-

com a decifração dos documentos deimodo para o progresso da humanidade.

16


II

EVOLUÇÃO DAS ESCRITAS Desde que o homem é um animal gregário, vê-se obrigado a todo o momento a transmitir suas idéias a seus seme-

E

lhantes.

isso se deu, é

bem de

desde os primórdios

ver,

da existência da humanidade.

A

princípio,

os primeiros

do homo

ancestrais

sapiens

terão transmitido seus pensamentos através do grito, do grunhido, do ronco.

Sons êstes que,

Mas

riam na palavra articulada.

comunicava as

que

se

em

a palavra

idéias aos presentes, isto

encontravam nas proximidades

Como

da emissão da voz. isto é, aos

que não

se

preservar a palavra, de

Terá

breve, se transforma-

e

é,

no instante mesmo

encontravam nas cercanias?

modo que

sido, talvez,

a idéia resistisse ao

sólo plástico o seu pé. solar.

E

a

bolo mudo,

pegada

mas

ali

E como tempo?

por observação direta da própria na-

humano teve a idéia de como seu pensamento. Quando um animal, ou

mem, passava por um

apenas

transmitir a idéia aos ausentes,

tureza que o ente

po o

falada

aos semelhantes

terreno

O

mole,

deixava

fixar

no tem-

o próprio ho-

impresso no

barro secava pela ação do calor

permanecia por muito tempo, sím-

eloquente, da

passagem do ser vivo pelo

local.

Aquela subsistia por

como

pegada impressa

no barro

muito tempo deu ao

deixar gravadas suas idéias.

homem

endurecido e a idéia inicial

que de

Seus primeiros desenhos,

rústicos ainda, imperfeitos, foram traçados no barro, matéria fácil

de ser encontrada, riscável até com o dedo.

tarde, aos poucos, é

que o

homem

Só mais

primitivo passou a dese-

nhar sôbre materiais mais duros, mais resistentes ao tempo,

como

a madeira, os ossos, a pedra.

17


Mas, voltando ainda à pegada, humana ou de animal, impressa nc barro. Essa pegada não era o homem, não era o animal.

Mas, sem embargo

cava, ou, mais que

passagem pelo

em

si

apenas

um homem

dado ao

se o barro já tinha

da representação pictórica das

lhe terá

ser por

representava-o.

disso,

Indi-

era a demonstração evidente de sua

local.

Dêsse modo, tivo a idéia

isso,

homem

coisas, a

primi-

pegada

um

sugerido a possibilidade de representar

uma

das suas partes.

inteiro, bastaria

Em

úa mão, ou

vez de desenhar

um

pé,

para simbo-

lizá-lo.

Assim terão nascido, por

certo, os

evidente que a coisa não se passou tão simplesmente se

poderá imaginar pelo que

mesmo,

É

símbolos gráficos.

foi dito até aqui.

como

Os séculos

e,

os milénios tiveram de passar por sôbre o ser hu-

mano, antes que

êste alcançasse ao atual estágio

de sua es-

crita.

Embora pareça paradoxal, um grande auxiliar do prohumano é a preguiça. É ela que sugeriu ao homem utilização dos animais, de modo a transferir para êstes o

gresso a

esforço físico que suas tarefas exigiam; é ela que pôs fer-

mento na imaginação do homo

sapiens, dando-lhe a idéia

roda, da alavanca, das máquinas,

sempre com o

fito

da

de pou-

par trabalho; é a ela que se deve a simplificação dos dese-

nhos primitivos, possibilitando a escrita

atual.

Os desenhos do homem das cavernas, à medida que a prática do desenhista aumenta, dois sentidos:

tendem a

ou evolue no espaço,

dimensionalmente

e nesse caso

isto é,

têm

nomia de

esforço.

em

em

desenvolve-se

tri-

início as representa-

ções escultóricas; ou aperfeiçôa-se no plano, sões apenas, e busca

aperfeiçoar-se

com duas dimen-

breve a simplificação

— para

eco-

Dessa simplificação é que resulta que

18


um

touro, por exemplo, se reduz a

po, 4 pernas, a

cauda e os

(fig.

Um homem

umas poucas

linhas: o cor-

chifres.

1)

acaba simbolizado unicamente pela cabeça,

tronco, braços e pernas,

em

traços simples, tal

como

as crian-

O

desenho

ças o desenham:

(fig. 2)

Assim

se originaram os sistemas de escrita.

primitivo, integral, se vai simplificando, ou, melhor dizendo, se vai desgastando,

dando em resultado uma representação

simbólica já suficiente para a expressão de idéias.

Exemplo

disso nos

tempos atuais é o alfabeto japonês,

que ainda conserva muito dos desenhos primitivos que lhe

deram origem.

Meramente

a

título ilustrativo,

símbolo representativo de mulher,

em

vejamos o

japonês (oná):

(fig. 3)

É

evidente que êsse desenho não tem semelhança

guma com um

ser

humano do

sexo feminino.

cido o fato de que as japonesas tuário tradicional,

um

um

costumam

usar,

penteado sui-generis,

ou mais grandes grampos:

Mas,

al-

é conhe-

com seu

ves-

no qual espetam


Com um

pouco de

imaginação pode-se

perfeitamente

supor que tenha sido esta a origem do ideograma oná, atra-

mas constante

vés de lento

desgaste:

(fig-

Caminho

O

5)

idêntico seguiu o alfabeto.

nosso alfabeto é originário do Egito.

do Mediterrâneo que surgiu a de ideogramas.

Mais

escrita hieroglifica, constituída

no próprio Egito, já ha-

tarde, ainda

via duas escritas paralelas:

a hieroglifica

ou na sua forma cursiva

a hierática

Foi nesse pais

na sua forma pura,

— usada apenas pelos

sacerdotes, e a que se intitulou demótica, utilizada pela massa dos

Esta já era simplificada e mais

que sabiam escrever.

E

corrente.

ela que,

é

variações adicionais

através

feitas

pelos semitas e pelos gregos, chega finalmente a nós, trans-

formando-se no alfabeto ocidental moderno.

À

guisa de ilustração, para verificarmos

— ou

pelo uso

como o

a simplificação pela preguiça

letra

M.

coruja

ou

tamente os desenhos, podemos lembrar o caso da Esta nasceu

mocho

da representação

integral de

uma

que, no egípcio antigo se dizia mulak.

tínuo desgaste, resultou no nosso

mu).

(que se

da pode

ver,

do mocho

Quem

no nosso

um

tenha

M

M,

desgaste

altera len-

E, por con-

através do

grego

pouco de imaginação

atual, resquícios

do desenho

ain-

inicial

egípcio.

Desgastes dessa espécie sofreram todas as dra de Roseta, hoje no pollion, serviu

Museu

Britânico, decifrada por

de base ao estudo dessas alterações.

francês nela descobriu que

uma

A

letras.

Cham-

O

águia representava o A,

um

pe-

sábio

uma

pé representavam o B, uma serpente com cor-nichos o F, ua mão o T, um frango o U, e assim por diante. perna e

20


trabalhos que mostram as sucessivas alterações por que passaram os antigos hieróglifos até que fôsse alcançado o estado atual de cada letra de nosso alfabeto. Ex.:

A

Fen

Hierático

Grego

cí-

Romaiio

Coluna Trajano(114 da nossa

(700 A. Cj (200 D.C.)

A. C.) '800-300 A. C.)

(900-600

(Hg.

Em

A A

^

2^

Hieróglifo (4500-500 A. C.)

era)

6)

resumo, pode-se dizer que todas as letras passaram

por três estágios, na sua formação:

1.°

Neste

O

estádio do ideograma.

estágio,

Lentamente,

tados.

as

mas sempre lembrando poderão

ser,

compõe de figuras inteiras, menos fiéis dos objetos represen-

a escrita se

a princípio cópias mais ou

desenho

o

também, formações

sugerir idéias abstratas.

Um

diantes poderá representar o

poderá indicar o o martírio ou a escrita

evoluem,

figuras

ob.jeto concreto

fé.

Entre nós

Mas em

comum.

Os ideogramas

inicial.

pictóricas,

círculo

sol,

simplificando-se,

com

o

fim de

rodeado de traços

irra-

uma

cruz

a luz, ou o brilho;

ou simbolizar o sofrimento,

tais

símbolos não se usam na

outros povos ainda se encontram

exerhplos de idéias abstratas representadas por ideogramas.

A

idéia de céu

fico

um

em

japonês (sô-lá) tem

grá-

desenho perfeitamente explicável:

(fig

Tudo sôbre

como símbolo

uma

indica,

aí,

7)

a intenção de simbolizar-se

linha horizontal (o sólo).

21

E, lá

em

uma

árvore

cima, o traço-


de cobertura: a abóbada

Autores há que acreditam

celeste.

que vários dos caracteres da numeração romana não passam de antigos ideogramas:

como

poderiam

III

II,

I,

ser considerados

a representação dos dedos, indicando as quantidades.

O V

possivelmente, a simplificação da figura formada

seria,

pela mão,

com

O IV e o VI de um dedo.

os quatro dedos juntos e o polegar afastado.

seriam a mão,

com

a diminuição

Ainda hodiernamente

se

ou acréscimo

encontram aplicações

Exemplos: os símbolos usados para repre-

de ideogramas.

sentar os planetas e signos do Zodíaco; os sinais de igualdade (

),

?

multiplicado por (x), dividido por (-^) e outros mui-

utilizados na matemática;

tos,

e

trânsito,

meta masculino"

9

os sinais das

(

P

)

e

como

placas do

indicando "lombada", "cruzamento", "curva

o simbolismo médico

clive";

(

os sinais de pontuação

(interrogação e admiração);

!

em

de-

para indicar "macho" ou "ga-

"fêmea" ou "gameta feminino"

); etc.

2.°

O

fonograma pode

O

estágio do íonograma.

como uma quase Assim como

ser considerado

consequência lógica da evolução do ideograma.

com podem

êste se simplifica

presentados se

o tempo,

também

que representasse a palavra

os sons por êle re-

Dêsse modo, o ideograma

abreviar.

casa, por exemplo, acabaria sen-

do usado para simbolizar apenas a primeira sílaba dessa paSupondo-se que o mesmo acontecesse com os ideogramas representativos de remo e gato, fácil seria escrevermos a palavra carrega, reunindo-se os ideogramas de casa, lavra.

remo

Os ideogramas, simplificados por

e gato.

representariam ideias mas apenas os sons vras.

Teriam

passado,

portanto,

a

certo, já

iniciais

fonogramas.

não

das pala-

O

fono-

grama é, pois, a representação de um som. A taquigrafia moderna usa sinais que, em vez de representarem as letras isoladas, como na escrita comum, representam sílabas ou sons.

Tais

sinais

são

verdadeiros

22

fonogramas,

portanto.


Certas abreviaturas atuais poderiam, por extensão ideológica, ser consideradas fonogramas: S. equivalente a São; S/ equivalente a seu, sua; Pg. (p no lugar de pa e g no lugar

de go); tes,

q.

=

que (abreviatura muito usada pelos estudan-

ao tomarem notas de aula);

OBSERVAÇÃO

R =

rua.

nem todas as abreviaturas, entretanto poderiam ser consideradas fonogramas. C/C, por exemplo, no sentido de "Contas Correntes", CIF cash, insurance e freighí), A/C (=aos cuidados de) e outras muitas, não representam sons e, sim, palavras completas, com dois e mais sons. Mas, ainda por extensão ideológica (pois não se trata de desenhos, entre os ideogramas.

3.°

O

:

mas

da

estágio

letras

poderiam classificar-se

definidas),

letra.

É o capítulo final da evolução da escrita. De sintético que era o desenho, representando o objeto por inteiro, reduz-se o seu simbolismo apenas à primeira sílaba, a

um som, para finalmente passar à representação dos sons elementares, com os quais se podem formar as palavras. É o final analí-

É

tico.

a

letra.

As

letras

do alfabeto

são, pois,

fonogramas

que, após longo processo de desgaste, chegaram a

mo

de simplificação, tanto na fórma como no

Além do

desgaste, outros

fatores

um

extre-

valor.

colaboraram

para o

atual aspecto de cada letra: o material usado na escrita, o

desejo de escrever mais depressa e a fantasia dos copistas.

O tido

material usado influiu no arredondamento e no sen-

do tracejado das

estilete,

letras.

sobre matérias duras

mármore, os traços

retos

Quando se escrevia com um como os metais, madeira ou

predominavam, pela maior

dade de sua escavação no material

rijo.

Quando

facili-

o papiro,

o pergaminho e o papel substituem aquelas bases da escrita e o estilete cede lugar à pena, as letras

começam a arredonAlém disso,

dar-se, os traços curvos se sucedem aos retos.

sendo a pena biselada e fendida para maior fluidez da tmta sobre o papel, as letras são mais facilmente escritas puxando-se a pena, isto fato

é,

fazendo-se os riscos de cima para baixo

que vem colaborar para a alteração da fórma das

23

letras.


o

desejo de escrever mais depressa provoca o não

vantamento da pena de sôbre a superfície do papel.

modo

as letras se vão, aos poucos, ligando

E mudando

cursiva.

escrita

de fórma,

umas

le-

Dêsse

às outras

na

consequentemente,

por lhe serem adicionados os traços de ligação. Finalmente, a fantasia alterações

dos copistas

também imprimiu

de vários tipos no desenho das

letras.

Com

a

intenção de embelezar a cópia feita e assim valorizar o seu trabalho,

caudas

des, etc. de,

cada escriba enfeitava as letras acrescentando-lhe

inúteis,

pontas recurvadas,

Isso tudo influiu,

na fórma das

de cada

uma

letras,

alças,

sinuosida-

com maior ou menor

intensida-

floreios,

dando em resultado o estado atual

delas.

24


III

TIPOS CALIGRÁFICOS Sob o

=

de "tipos caligráficos" (de Kalos

título

e Graphein '= escrever)

ou de "tipos de

englobar o estudo das várias modificações por que

sando a entre

foi

pas-

dando em resultado o sistema hoje corrente

escrita,

uma

Certo é que, para

nós.

belo

podemos

escrita"

análise

acurada, deve-

ríamos retrogradar nossa pesquisa até o alfabeto grego ou o fenício. Levando em conta, entretanto, que os atuais alfabetos ocidentais derivaram da fórma latina, é neste ponto

que iniciaremos o nosso estudo.

O 21

alfabeto latino provêio do grego e constava de apenas

letras,

O

existiam.

de

U

X

sendo o I

As

a última delas.

representava os sons de

letras J e

I e J;

e o

Pela época de Cicero (106 a 46 A.C.

e V.

dução de várias palavras gregas tornou necessária das letras literais

Y

e Z, o

U

do

e

Os mais

J.

E como

teriormente, usadas apenas no

início

cabeça).

a intro-

a

adoção

antigos do-

tais

letras foram, pos-

das frases, ou na parte

superior dos escritos, intitularam-se capitais pitis

os sons

)

de que se tem notícia apresentam as letras

todas de tamanho idêntico.

=

V

que elevou a 23 o número de símbolos

a 25, quando da criação do latinos

não

Só mais tarde é que êsse número passa

do alfabeto.

cumentos

U

No

(de caput, ca-

desenho das letras capitais, as linhas

verticais faziam ângulo reto

as horizontais, razão pela

com

qual êsse tipo de escrita é hoje intitulado de escrita capital

quadrada.

Era, outrossim, cópia

da nos monumentos

fiel

e nos dísticos

o ser conhecida, também, pelo

25

escrita usa-

escavados na pedra.

nome de

drada lapidaria.

do tipo de

Daí

escrita capital qua-


Exemplo de

escrita capital

(íig.

A

fórma dessas

letras,

quadrada:

8)

como

se vê,

não mais

mudou.

Para as nossas maiúsculas hodiernas, que chamamos "tipo de imprensa", são ainda as antigas capitais quadradas

que

nas

Existem

vigoram.

exemplares de papiros

que

com a caligrafia se podem situar

De

notar-se, entretanto,

tos

e,

nos

europeus

capital quadrada, todos éles

entre os séculos 2.°

os caracteres da capital

muitos

principalmente, pergaminhos escri-

que os

escribas,

correntemente, começaram

mais

museus

lati-

A.C.

com

e 3.°

datas

D.C.

buscando escrever

insensivelmente a

alterar

quadrada, encurvando os traços e

desobedecendo à precisão do encontro de linhas em ângulos retos. Resultou daí uma escrita que se denominou capital rústica.

Ex.:

líjUI\'AQVÍI>fOjnaVAl5íACIiOfUACDGI (Testaturque deos iterum se ad proelia cogi) (fig.

O cia

tracejado já não tão rígido indica por certo a tendên-

ao arredondamento dos tipos.

dar, efetivamente, 4.°

em

9)

ou

5.°

produzindo

século cristão,

uma

em

E

é isso

que

se

vem

resultado, já por volta

escrita

que se intitulou

virtude — supõe-se — de o arredondamento de — 26 —

a

do

uncial,

certas le-


tras

se

quem

assemelhar

à unha (unguía, em latim) (1). Há também, oue tal nome derive de uncia (= pohavendo nesse caso alusão ao tamanho excessivamen-

creia,

legar),

te grande dêsse tipo de

nos manuscritos.

letras,

ro íY^ O

R eS (fig.

Os autores costumam arredondamento das letras,

Ex.:

10)

realçar

o fato

a escrita

de que,

uncial

é

afóra o

ainda quase

totalmente formada de maiúsculas, provenientes da capital rústica. Fazem exceção o h e o q, com hastes acima e

abaixo do lineamento geral, hastes que indicam pertencerem letras já

tais

rísticas

a

uma fórma

minúscula.

da escrita uncial são apenas as

\ ò e Cfig.

É cia

da

na

escrita uncial

escrita cursiva.

Realmente caracteletras a, d, e e

ÇT)

11)

que se começa a observar a influên-

Chama-se cursiva a

escrita

que hoje diríamos "manuscrita", em contraposição ma".

A

m:

corrente,

à "de for-

capital quadrada, a capital rústica e a uncial

eram

usadas para os documentos importantes e para a cópia de livros.

Constituiriam a letra "de fôrma", da época.

A

cur-

siva era a comumente empregada em documentos de menor importância, cartas, notas, etc. Terá sido do cursivo que a escrita uncial retirou o seu

0.

E

é fácil

compreender qual

Tratando da escrita uncial, E. M. Thompson, em sua "Pa(1) "As palavras de S. Jerónimo, tantas ve/.es citadas leografia", diz: "uncialibus, ut vulgo aiunt, litteris" no prefácio do livro de Jó, jamais foram completamente explicadas. Não há nenhuma dúvida com respeito à fórma da escrita uncial, mas a etimologia da palavra

27

é desconhecida".


o caminho seguido, através dos tempos, pelo antigo tal,

em

pressa

E

capi-

virtude do desejo dos copistas de escrever mais de-

:

(fig.

Também

ee

£ e e

L E se

12)

pode retraçar a passagem do

H

maiúsculo

até o uncial e o minúsculo cursivo:

HH W M h k (fig.

E

o

mesmo com

13)

a letra A:

èvà (fig.

14)

Os mais antigos documentos

vem

situar-se por volta

cial se

manteve em uso

do

cx

escritos

4.° século

em

D.C.

tipo uncial de-

E

a escrita un-

até o século 8.° de nossa era.

Convém

nem sempre os documentos foram desenhados em É muito comum encontrarem-se páginas nas quais, de mistura com o uncial, o copista entrosou letras do tipo capital. Além disso, com o tempo, o cursivo vai cada vez

notar que

estilo puro.

mais influenciando a escrita que diríamos "documental" ou "livresca",

começa que

por

serem usadas nos

não era

uncial,

documentos e

livros.

do 5° ou 6.° século cristão um mas ainda não era cursivo. Êsse

a surgir, a partir

— 28 —

E tipo tipo


de

escrita se

denominou

principalmente

em

para

anotações

virtude de poder traçar-se

modo, para

certo

a

E

semi-uncial.

muito

foi

marginais ou

em

usado

interlineares,

caracteres menores.

adoção deste tipo de

letra influía

De

também

a crescente dificuldade na obtenção de matéria base da escrita:

papiro ou pergaminho.

Escrevendo com

letra

menor

o copista aproveitava mais o material de que dispunha:

(fig.

A

partir

do

8.°

século

15)

começam

a surgir tipos caligráíi-

cos a que se convencionou chamar nacionais,

embora todos

derivados da escrita

latina. Os museus e arquivos europeus guardam enorme cópia de documentos com a classificação

de

escritas

inglesa,

local

pontifícia,

que

cavam

merovingia,

geral,

isolar-se

etc.

longobárdica,

Todas

visigótica,

de maior

elas

irlandesa,

importância

considerando que os países, na época, bus-

uns dos outros.

Importante, entretanto,

o renascimento das letras sob o reinado de Carlos

Êste renascimento trouxe consigo

uma

reforma na

foi

Magna

caligrafia,

surgindo então a chamada minúscula carolina ou carolingia

(de Carolus

=

Carlos) que grandemente influenciou as de-

mais escritas nacionais.

mas

simples

e,

Considerada elegante, adotou

de certo modo, graciosas; e

sendo adotada gradualmente ao ponto de escritas.

É

o tipo carolíngio que,

subsiste valentemente tal" até a criação

como

escrita

da imprensa.

A

foi

aos

poucos

as

demais

alijar

com pequenas

variações,

"livresca" ou

"documen-

sua variante principal

a escrita gótica, que surgiu por volta do século XII.

29

for-

foi


/

:

Exemplo de

:

:

carolíngia

escrita

(quaerere divinum cogitur auxilium) 16)

(fig.

Exemplo de

escrita gótica

zattuô hõ lutabit (Pravus homo (fig.

Quanto à formado

A mão

sua fantasia,

Além

disso, o cursivo

forme o material da

uma

mais ou menos prática do

podiam

ou a

por base

não se pode dizer que tenha

cursiva,

escrita

tipos.

vitabit)

17)

grandemente a

alterar

naturalmente se

escrita.

Quando

foi

os

copista, escrita.

modificando con-

documentos tinham

táboa, e o tracejado era feito a estilete, era

forçoso que a fórma fosse mais geométrica, os ângulos firmes.

Passando para o papiro çadas as letras te

e,

mais tarde, para o pergaminho,

com uma pena de

tra-

ave, as linhas naturalmen-

vão tomando formas curvas, os ângulos vão desaparecendo

e surge a tendência

recer nosso

para as ligaduras.

pensamento, vejamos

romana, do Séc.

I

(Censiest

nam

(fig.

30

um

noster)

18)

Apenas para exemplo de

escla-

cursiva


As

letras são

bem

separadas, os traços não têm flexibi-

lidade.

Já no século VI as letras são mais unidas, o tracejado é quase todo curvilíneo: I

(huius splendedissimae urbis) (fig.

XVI

Finalmente no século

(fig.

Os manuscritos cada

letra,

de

19)

todas as letras são ligadas:

20)

apresentavam

modo que

formas

variadas

do paleógrafo os pode

só a prática

Estudaremos mais adiante, ao tratarmos das

decifrar.

para

difi-

culdades da leitura paleográfica, vários exemplos de cursivo.

Cabe aqui uma nota por linha,

a respeito

Como

nos livros antigos.

frases,

fácil era o cálculo

os

do comprimento copistas

das

fossem pagos

do preço quando se tratava de

Copiando trabalhos em prosa, todavia, cada escriba

versos.

podia distribuir as

letras

de

modo

a obter

um

maior rendi-

Para evitar êsse perigo estabeleceu-se o uso de serem os trabalhos copiados tomando por base o comprimento mento.

de

um

verso homérico de tamanho médio.

aproximadamente 36 bas.

As

letras,

ou

seja,

linhas escritas dentro dessa

31

Isso equivalia a

mais ou menos 16

síla-

medida eram chamadas


em

versus ou,

metria a

grego, stichoi,

donde a denominação de

estico-

Muitos escribas costuma-

sistema de medida.

tal

vam numerar os stichoi ou versus afim de facilitar a gem final para efeito de pagamento do trabalho. Os tas posteriores,

contacopis-

ao re-copiarem a obra, já não se preocupa-

vam em medir

as linhas.

Copiavam

o texto

livremente,

acrescentando apenas, nos devidos lugares, os números já

empregados pelo escriba do

original.

Tal numeração, além

dêsse lado prático, oferecia ainda a vantagem de permitir a citação precisa do texto: os capítulos do livro ficavam divi-

didos

em

versus.

Até hoje certos de numeração. é

em

A

livros clássicos

Bíblia é

um

conservam

exemplo

livros, capítulos e versículos.

Mais

tal

sistema

disso, dividida

que

tarde, os escribas

passaram a numerar os versus apenas de dez

em

dez ou de

cem em cem.

As poesias passaram a ter numeradas apenas as estrofes, desde que todas tivessem o mesmo número de versos. Com a imprensa, afastado o trabalho manual do copista, ficou também afastada a necessidade da numeração das linhas.

Hoje, as citações se fazem através da numera-

ção das páginas, indicando-se a edição da obra.

32


IV

MATERIAL USADO NA ESCRITA

No

desejo de transmitir a outrem suas idéias, o

utilizou-se a princípio dos materiais

à mão.

que pôde encontrar mais

Já vimos, mesmo, que o barro deve

meiro material de que

berem

êles

em

êsses

materiais,

ter sido o

Só com o tempo é que

se valeu.

descobrindo, ou criando, materiais outros

Estudando

homem

com

entretanto,

o

mesmo

prifoi

fim.

verificamos ca-

duas classes principais: o material destinado

a permanecer, a conservar a idéia exposta, e o material que se poderia considerar acessório, cuja permanência não entra

o que servia para gravar a idéia.

O

primeiro dêles poderemos intitular de base da escrita; o

se-

em

linha de conta

gundo

será o impressor da escrita.

Tendo em utilizados pelo

vista

que os

homem

bemos num quadro

três reinos

da natureza foram

na transmissão de suas

sinótico,

para facilidade de estudo, todos

os materiais que serviram para a escrita:

idéias, englo-

33


Argila, barro

Terracota, tijolos

Folhas Osso, marfim

Pedras,

MATERIAL

mármore f

Metais

Preciosos

!

I

Não

preciosos

Linho

BASE

Tabuinhas enceradas

Couro Papiro

Pergaminho Papel

Graphium Cálamo

(estilete)

Pincel Grafite (desde o Séc.

Pena de ave Pena metálica

MATERIAL

Caneta

tinteiro

Caneta esferográfica

IMPRESSOR

Preta CO +-'

c

h

Vermelha Outras cores Crisografia

34

XI)


1

Material base

Como

se vê por essa chave, foi

supõe

com

a argila

— como se

que o íiomem iniciou a descoberta de materiais para a escrita ou mesmo a descoberta da possibilidade de

A

transmissão da sua idéia.

mem

foi

feito

de barro

tradição bíblica de que o ho-

de certo modo, simbólica: teria

é,

humano primeiramente deixou

sido na argila que o espírito

uma

No

impressão definitiva.

homo

meiras manifestações do

mente

feitas

Um

para seus semelhantes.

abandonado numa caverna tal e

barro são deixadas

é algo casual,

não deliberadamente deixado pelo

a sua passagem pelo lugar.

as pri-

sapiens voluntária, expressa-

Ao

machado de silex meramente aciden-

homem

para marcar

passo que os desenhos que

Já constituem o embrião da idéia de se fazer notado pelos semelhantes ou pelos fazia

na argila

têm

essa finalidade.

pósteroS;

Assim começou o homem

a usar o barro, retirando

uma

parcela dêle do local onde o encontrasse para fazer os seus

Dentro

desenhos.

em

breve, porém,

foi

verificando

certas

alterações na argila utilizada. Por exemplo: assim que transferisse

para ela

um

ou desenho, deixando-a no

sinal

interior

de sua caverna, aquele pedaço de argila secava. Observou que o barro sêco mantinha por mais tempo o desenho efetuado, apesar das rachaduras

produzidas pela secagem.

É

evidente que lhe surgiu logo no cérebro a idéia de procurar a secagem de toda a argila na qual tivesse desenhado algo. Talvez por casualidade, terá deixado algum pedaço de barro

ao a

sol.

massa

Verificou assim que o sol secava mais rapidamente e

lhe

dava

primitivo terá dêsse

um

endurecimento maior.

modo

O

hoim-m

descoberto o cosimento, ao

sol,

da

argila. Só muito mais tarde é que veio a descobrir o que depois da hoje chamamos terracota, ou seja, terra cosida:

descoberta do fogo, é

claro.

Terá descoberto

cosido ao fogo, ou ao forno, obtinha

35

uma

(]ue

o barro

dureza muito maior.


Assim, pois,

ou

por experiências

é lentamente,

provocadas, que o

homem

acidentais

vai adicionando ao seu cabedal

jnovos materiais de escrita.

também utilizadas como maNão constituem elas matéria de grande resistência ao tempo. Mas foi encontrado no Nepal um manuscrito em folhas, com várias centenas de anos. Até As

folhas de árvore foram

base para a escrita.

terial

Jioje alguns

em

povos orientais costumam gravar

folhas de

palmeiras alguns de seus sortilégios e orações.

Das

folhas terá o

tacável das árvores. terno,

no

tico.

Do nome

liber,

Depois

homem

passado ao uso da casca des-

Os desenhos eram

feitos pelo lado in-

porquanto o lado externo é normalmente

rús-

latino liber derivou o português livro.

disso,

começou o homem a experimentar tam-

O homem

das

cavernas, nas suas lutas contra as feras afim de obter

ali-

bém

materiais mais resistentes, mais duros.

mento, observava que, após nutrir-se com carne do animal abatido, ficava

para

de posse dos ossos.

muitas utilidades.

Os

Utilizaram-nos

ossos lhe serviram

como armas

(pu-

em

nhais, tacapes, ponta de flexas), transformaram-nos

ins-

trumentos (agulhas, espetos, flautas), usaram-nos à guisa de totens

como

(caveiras, enfeites

tibias

cruzadas),

mesmo

aplicaram-nos

(batoques, penduricalhos,

como

indígenas da

E

África ou de certas ilhas do Pacífico ainda usam).

veram também sôbre os ossos.

resol-

fazer a experiência de representar suas idéias

Não importa que fossem

ossos chatos ou

ambos serviam igualmente. E Provavelmente com qualquer pedaço de

ci-

líndricos, pois

nêles

rabisca-

vam.

silex

de ponta

aguçada.

Posteriormente verificaram que podiam riscar nas pedras soltas, ou nas existentes no fundo de suas covas.

E

essa

a razão pela qual hoje se encontram, nas paredes das caver-

nas remanescentes dos períodos paleo e neolítico, desenhos ieitos pelo

homem

dessas épocas.

36


Mais tarde as civilizações que chegaram a criar sistemas de escrita buscaram materiais outros sôbre que pudessem deixar gravadas suas idéias.

Na

antiga

civilização egípcia

como base para

em

tas

tiras

Os

a escrita.

homem

Encontraram-se

usou

o linho,

múmias

en\oi-

de pano, nas quais havia desenhos pintados. escreveram

assírios

gando o alfabeto cuneiforme. sivamente pesado.

Em

o

Não

em tijolos de terracota empreMas êsse material era exces-

podia ser facilmente transportado.

face disso, é natural que o

homem

procurasse des-

cobrir bases de escrita, ou seja, materiais sôbre os quais es-

mas que fossem de fácil obtenção e relativamente de maneira que a idéia nêles impressa pudesse ser

crevesse, leves,

transportada para outro lugar

em

já tinha escrito

com

facilidade.

Se o

homem

folhas e cascas de árvores, o passo se-

guinte era quase lógico: a utilização da própria madeira da

em

árvore, talhada

sôbre êsses

pedaços o menos espessos possível.

pedaços experimentou

escrever

com

E

qualquer

instrumento duro de extremidade aguçada.

É A

quando entra em cena o graphium, ou gravação com

estilete.

madeira, não só demancomo não permite grande precisão no Alguma pessoa terá traço, tornando a escrita imperfeita. a outra matéria qualquer, idéia cobrir madeira com tido a de .

da certo esfôrço

estilete sôbre a

físico,

Nossos pósteros terão experimen-

mais facilmente gravável.

mesmo

tado, quiçá, até

o próprio barro,

espêssa espalhada sôbre a madeira. terão

feito,

não poderemos

às chapas de madeira

radas". tae.

Os

Em

E

foi

inú-

um banho

de cêra.

Cêra comum, cêra

assim que surgiram as "tabuinhas ence-

latinos as

grego:

outras tentativas

tê-las-ão feito

Até que alguém descobriu que podia dar

meras, por certo.

de abelhas.

Mas

saber.

em camada pouco

Que

chamavam

deltos, deltion

37

tabulae ou tabellae cera-

ou

deltidion.

Interessante


notar que as tabuinhas enceradas foram de uso

tempo

rante muito

Quando

comum

du-

e usadas extensivamente.

o texto que se desejasse escrever não coubesse

numa só tabuinha, juntavam-se duas ou mais delas formando uma espécie de volume, costumando-se ligá-las pelas bordas, como hoje fazemos com as páginas dos livros. Quando duas tabuinhas enceradas eram assim unidas, eram das de díptica.

Se fossem

intitula-

Quatro ou mais,

tríptica.

três,

políptica.

Segundo parece, a mais

comum

tores, as

tríptica

deve

ter sido a

forma de uso

Segundo alguns au-

das tabuinhas enceradas.

tabuinhas enceradas foram usadas para os serviços

ordinários da vida, para contas, cartas, apontamentos, exercícios escolares, etc. e

XI ou XII da

parece, até

era atual ainda tiveram aplicação.

Entre os romanos o marfim

do

em

algumas vezes emprega-

foi

lugar das tabuinhas enceradas.

lavores

uma época relamesmo nos séculos

foram utilizadas até

Ao que

tivamente recente.

esmeradíssimos

eram

Sendo que, neste

esculpidos

sôbre o

caso,

material

que, assim valorizado, se conservou para os tempos atuais.

Também

os

experimentados como base

metais foram

para a escrita: e não só os preciosos, como o ouro e a prata,

como também

os não-preciosos,

estanho ou ligas (bronze, crita

em

apresentava os outros:

Além da por que

p.

como

ex. ).

o cobre, o chumbo, o

Êste tipo de base de

mesmos inconvenientes que

pêso excessivo e

dificuldade de

ser

dificuldade de obtenção ou preço oneroso. foi

es-

vimos

esculpido.

Razões

abandonado.

Dos documentos escritos em ouro e em prata, em virtude do seu valor como metais nobres, poucos restaram. Terão sido fundidos e transformados

em

jóias

ou moedas.

São

mais comuns, nos museus epigráficos europeus, os documentos escritos

em chumbo

e bronze.

38


Paralelamente ao uso das tabuinhas enceradas, de extensa aplicação

no continente

europeu, desenvolveu-se

— no Egito — um outro

Sul do Mediterrâneo

ao

material base

para a escrita: o papiro.

O

com

papiro era feito

o caule de

uma

planta

{Cy pe-

rus papyrus) que crescia às margens do Nilo, na região do

Delta e hoje ainda existente na Núbia

Cyperus papyrus cêrca de dois

uma

é

e

O

na Abissínia.

espécie de junco, cuja haste alcança

metros de altura

coroada por

e é

elegante

umbela.

Não

se sabe,

com

precisão,

como

Segundo

obscuro, por Plínio.

A

era feito o papiro.

única noção que se tem é a dada, de

modo mais ou menos

a descrição por êle

feita,

pa-

rece que o método de fabricação era relativamente simples.

Cortada a planta, dela feita

(após se

em

instrumento cortante,

chamadas phiiyrae ou tas lado a lado sôbre

a

do

separava a haste.

se

Esta era des-

por intermédio

casca)

lhe extrair a

de

um

lâminas longitudinais muito finas Várias philyrae eram pos-

scissurae.

uma

prancha inclinada até alcançarem

Umedecia-se tudo com a água lodosa Transversalmente, colocava-se nova camada de

largura desejada. Nilo.

philyrae e se submetia o conjunto a secava-se ao

sol,

raspava-se

com uma

prensa.

em que

luscos as irregularidades do lado alisava-se

uma

Após

isso,

com carapaças ásperas de mo-

espátula de

marfim.

se

ia

escrever e

Estava pronta

a

plagula, ou página, de papiro.

Na

utilização

do papiro

é evidente

que, às

vezes, o

assunto exposto poderia demandar mais que o espaço oferecido por uma só plagula. Nesse caso, eram reunidas duas ou mais. Surgia aí uma dificuldade: como manusear o todo

formado pelas várias plagulae?

E

a questão foi solucionada

adiciomediante o enrolamento do papiro, para o que eram extreduas nados bastões cilíndricos, de madeira ou osso, às

midades.

Cada bastão

intitulava-se,

39

em

latim,

umbilicus e


sua finalidade, afora a de facilitar o enrolamento do papiro, proteger

era

sabidamente

material,

êste

Nenhum

frágil.

mas aparecem em desenhos da

umbilicus chegou até nós, época.

Do

do papiro expandiu-se por todo o mundo Não há documentação a respeito mas, ao que

Egito, o uso

ocidental.

Europa por volta do século

parece, foi introduzido na

III de

nossa era. Várias eram as vantagens que o papiro apresentava so-

— mais que — manuseável; de mais — de melhor

bre as tabuinhas enceradas:

— mais

lae;

(pena

escrita

facilmente

em

leve

1.°

vez do estilete);

4.°

que as

caindo

em

tabuinhas enceradas

Nada mais

,

.

Era de

caro.

natural,

poucos,

fossem, aos

desuso ao ponto de, mais ou menos pelo século

XIV D C terem sido O papiro contudo, .

difícil

completamente abandonadas. sendo importado

do

um

ficava

Egito,

Houve, então, tentativas no

obtenção.

sentido de transplantar o seu cultivo para a Europa.

que

fácil

legibi-

lidade (tinta escura sôbre fundo claro). portanto,

as tabel-

3.°

viajante árabe, lá pelos fins

do século X,

Consta

teria visto

luxuriantes plantações de papiro nas vizinhanças de Paler-

Mas

mo.

tal cultura, já

nagem dos

rios

e

XV, com

por volta do século

pântanos da

ilha,

a dre-

desapareceu completa-

mente.

Um

outro material que

gum tempo

foi

o couro.

É

também

não comida a parte externa, ou ela

o

como base para

homem não

tinha

usado durante

foi

claro que, abatido seja, a

um

sua pele grossa, servia

a fixação do pensamento humano.

conseguido ainda

meios de

De modo que

convenientemente o couro.

al-

animal e

Mas

preservar

êste ressecava

ou

apodrecia.

Se ressecava, partia-se; se apodrecia, não con-

vinha

guardado por motivos óbvios.

tê-lo

não se sabe como, terá o servar

ésse

homem

material, terá

descoberto o

40

Mas

aos poucos,

descoberto os meios de con-

tanino,

extraindo-o


de

frutos,

de cascas de árvore, de nozes, e terá

ido,

aos pou-

também, melhorando o processo de conservação das peles: o curtimento. Entretanto, já por êsse tempo o papiro havia tomado o lugar de material precípuo na escrita e concos

homem abandonou

sequentemente o ver

em

as tentativas de escre-

couro.

Acontece porém que, pelos arredores do ano 200 A.C., Ptolomeu,

rei

do

Egito,

com ciúmes da sua

biblioteca de Ale-

xandria, e temendo que outras bibliotecas lhe pudessem fazer sombra, resolveu proibir a exportação de papiros do Egito para a Europa.

o

Diz a lenda, ou

da época, Eumene

rei

história,

que

decidiu descobrir

II,

para o papiro, que não era mais importado.

seus sábios ou pessoalmente

to (2)

terá descoberto o

um substituto, E através de

não se pôde saber ao cer-

meio de conservar couros

criando assim o pergaminho (de Pérgamo). aos poucos consegue alijar o papiro escrita,

em Pérgamo,

como

O

finos,

pergaminho

material básico da

em

virtude das vantagens que apresentava sòbre o

O

papiro: 1.

a

pergaminho

tante do que o papiro. rolar-se e desenrolar-se

o que não 2. ^

se

O

resistia

Êste,

com

mais ao manuseio consa repetição

do ato de en-

acabava partindo-se ou esfoliando-se,

dava com o pergaminho; pergaminho era mais resistente ao tempo e às

A

umidade, embora pudesse fazer deteriorar a escrita e auxiliar o ataque dos fungos à matéria base, era no entanto muito menos prejudicial ao pergaminho que ao intempéries.

papiro;

pergaminho podia ser usado por ambas as suas redundando isto numa economia de espaço. Um tex-

3a faces,

o

Pcrgamo

"Não é exato que o pergaminlio fosse invcnlado cm (?) animais era já aiUigo na porquanto o hábito de escrever sòbre peles de IMi.lolog.e Classique <le Manne! Reinacl. S. Pérsia e na Jônia",

-

-

Vol.

1,

pág. 41, nota

1.

41


to

que demandasse dois metros de papiro poderia ser

nos dois lados de 4.^

O

um

pergaminho

podia

ser

texto julgado já inútil era raspado

Um

pergaminho assim

(em grego:

A a

reaproveitado.

sôbre

e,

Um

êle, reescrevia-se.

intitulava-se palimpsesto

re-utilizado

de novo) ou codex rescriptus.

escrito

manufatura do pergaminho desenvolveu-se por toda

Europa.

E

os fabricantes dêsse material foram descobrin-

Os pergaminhos de mecom pele de carneiro. E,

do meios de cada vez melhorá-lo.

eram

lhor qualidade

os fabricados

entre êstes, havia ainda os tos",

escrito

metro de pergaminho;

finíssimos,

chamados "pergaminhos non-napele de

era usada a

para cuja fabricação

carneirinhos ainda não nascidos, ou recem-nascidos. tal como aconteceu com o papiro, que foi sendo medida que o pergaminho se firmava, também o pergaminho começou a desaparecer por volta do século 15, para dar lugar a novo elemento: o papel (3).

Depois,

alijado à

O lá

papel, segundo se diz, foi descoberto na China e de

trazido por viajantes para o

mundo

ocidental.

primórdios, o papel era fabricado de trapos. é

Nos

seus

Só mais tarde

que se vem a descobrir o processo de aproveitamento da

polpa dos vegetais,

isto é,

da celulose.

Era natural que o

papel afastasse o pergaminho pois que, ao lado das

em

vários pontos:

O papel é mais leve que É menos espesso que o

o pergaminho;

qualidades dêste, era-lhe superior 1. °

2. °

que os 3. °

manhos 4. °

— — — ^

livros

são

Pode

e côres

A

menos volumosos ser fabricado

em

mesmas

pergaminho, de

modo

e melhor manuseáveis;

todas as espessuras, ta-

que se desejarem;

matéria prima para a fabricação do papel é

de muito m.ais simples obtenção;

(3)

o método

Ao

que parece, a primeira fábrica européia de papel, segundo fundada em Fabriano (Itália) no ano de 1340.

chinês, foi

42.


5.°

É

mais fàcilmente costurável que o pergaminho;

e a cola (quer a vegetal, quer a animal)

adere melhor ao

papel.

Além do

cem

mais,

a descoberta da imprensa, verificouque o papel se adaptava melhor ao trabalho em série. As máquinas necessitavam sempre de um material estandarse

dizado, de

com

tamanho

e espessura fixos, o

que não podia dar-se

o pergaminho, pois êste tinha sempre as dimensões do

animal que lhe tivesse dado origem.

Assim

é

que o papel vai alijando o pergammho.

entretanto manteve-se

derado como

um

em

Êste

uso durante muito tempo, consi-

material mais elegante, mais nobre.

Tanto

bem pouco tempo, Diz-se mesmo que as

assim é que as bulas papais (4), até há ainda eram escritas bulas

continuam

em

pergaminho.

sendo

Acontece porém que

escritas

não

se

em pergaminho trata

até

hoje.

mais do pergaminho

verdadeiro, ou seja, extraído de carneiro, mas, de pergaminho

Êste pergaminho vegetal não passa de papel, que

vegetal.

processos

sofre

especiais,

transformando-se

em

similar

do

vero pergaminho.

O

pergaminho

foi

igualmente usado, durante muito tem-

po, para a feitura de diplomas.

que

um

Até hoje se costuma dizer

homem, quando completa

cumento comprobatório

disso,

um

curso e obtém o do-

"tem pergaminho".

davia, os diplomas não mais são feitos sim,

em

em pergaminho

e.

papel: papel grosso, cartolina de boa qualidade ou.

no máximo, pergaminho

Convém dos

Hoje, to-

vegetal.

agora lembrarmos a questão referente à forma

livros.

=

Uola. As carias _c msl Denominação orÍRÍn;iria <lc /'/(//(/ (4) clmnitHi, cm forma ções papais eram autenticadas com um sinclc <lc pcruaminlio .ni preso a um bola, e que era aposto diretamenlc no

pendente.

43


Ao

em

escrever

em

folhas,

com

tais materiais

Com

relação ao barro já o

de

que põe a

argila,

mesmo não

O homo

acontece.

formato a seu bel prazer.

Os

secar.

assírios

em

ou octogonal.

hexagonal

homem

cilindros e

em

tijolos

em

pla-

prismáticos, de base

Os metais também

permitem ao

Mas

êle se decide

a adoção de formas ad-libitum.

normalmente pelo

tijo-

deixaram documen-

tada sua história (através do alfabeto cuneiforme) cas argilosas,

Opta,

forma paralelepipédica, modelando

naturalmente, pela los

a

um

sapiens pode dar-lhe

homem

ossos ou na pedra, o

forma que lhes deu a mãe natura.

usou

formato

os metais

plano, dispondo

em

placas ou chapas de espessura e dimensões variáveis.

As bases da

escrita

começam a

em

estas eram, muitas vezes, reunidas

ou mais, através de ligaduras

feitas

em

fixar-se

das tabuinhas enceradas.

finitivas a partir

grupos de duas, três

numa

e,

qual se dava

volume,

um

neste, prender

O

uma

fio

Era

das bordas.

costume, também, deixar pendente a ponta do

dura

formas de-

Já falámos que

fio

da

liga-

pedaço de couro ou madeira, no

indicação do que existia escrito naquele

pendente assemelhava-se a

uma

Daí

cauda.

a denominação que os volumes assim caudados receberam

E

de caudex ou codex.

essa razão

dá hoje aos volumes antigos, ainda

do nome códice que se

mesmo quando não

feitos

de tabellae ceratae.

O

papiro não acompanhou o sistema usado nas tabui-

nhas enceradas, como sabemos.

ma um

cilíndrica,

em

rolo.

dos umbilicus

Dizia-se

e,

ao

Lia-se

mesmo

Para êle

um

foi

adotada a

for-

papiro desenrolando-o de

tempo, enrolando-o no outro.

volvere e evolvera ou plicare e explicara para a

ação de enrolar e desenrolar o papiro para a lus axplicitus equivalia a rolo lido. são,

quando o texto

mo

é explícito.

Daí

leitura.

dizer-se,

é facilmente compreensível,

Também

se

usam

— 44 —

Rotu-

por exten-

que o mes-

os termos explicar

uma


desenvolver

lição,

um

tema, lembranças evidentes do expli-

care e do evolvere latinos.

Quando surgiram não

ciais

os pergaminhos, seus utilizadores

se decidiram

ser dada.

ini-

de imediato quanto à fórma a lhes

Encontram-se pergaminhos, datando dos primei-

ros tempos de sua aplicação, quer sob o formato de rolo,

como

os papiros, quer sob o formato de códices,

beliae.

minho permitia dente que a

para

como

as ta-

Considerando que, ao contrário do papiro, o pergaa escrita sobre

ambas

as suas faces, era evi-

fórma de codex apresentava maior

leitura.

Consequentemente,

foi

facilidade

o sistema que acabou

vigorando e que se transmitiu, mais tarde, para o papel.

Os

nossos livros atuais são os herdeiros, pois, da fórma iniciada

com

as antigas tabuUae ceratae.

Pormenor

interessante,

dimensões dos volumes

em

também,

é o

que

diz respeito às

Êste não podia ter

pergaminho.

medidas precisas porquanto dependia do tamanho do animal de que

fosse

vam-no em

originário.

dois e isso se

Para

escrever-se podia exigir mais de rios

eram reunidos

facilitar

chamava um

um

o

manusêio, dobra-

O

folium.

folium

e,

e costurados pela dobra,

assunto a

nesse caso, vá-

formando volu-

mes de duas ou mais iolia. Razão por que dizemos atualmente que os nossos livros têm folhas. Quando o volume Se de três se compunha de duas folia intitulava-se binio. folia, ternio; quatro,

diante.

quaternio; cinco, quinternio; e assim por

Os mais comuns foram

os quaternios,

que deram

As folia reunidas davam em de grandes diin-folium chamados resultado por vezes dobravam mensões. Para maior manuseabilidade, ou cada folium ao meio. Ora, se êste já possuia uma dobra, Os duas lâminas, da segunda dobra resultavam quatro. origem aos nossos cadernos.

volumes —

seja,

livros assim feitos

chamavam-se, então, in-quarto.

Se nova

menor o volume, dobra era efetuada com o fim de tornar tinham-se então os códices in-octavo.

-- 45

Os

editores da atuali-


dade conservaram

denominações para os

tais

Quando dizem que um volume

livros

de papel.

ou

é in-quarto, in-octavo

in-

número de folhas de como veio da fábrica,

dezesseis (avos), estão referindo-se ao

que cada lâmina de papel,

livro

tal

produziu.

2

Material impressor.

a) Instrumentos

É barro,

ou desenhar sobre

êsses materiais, ta

homem começou

que quando o

claro

a utilizar-se

do

ou das tabuinhas enceradas, só poderia escrever sobre usando algo de pon-

êles,

dura porquanto, não fora assim, não conseguiria gravar o

E é assim que homem traçou

que desejava.

com o qual mais

como

primeiros desenhos

seus

Descobrindo

letras.

estilete,

entretanto

o

ou,

papiro

material de escrita, verificou que o estilete perdera sua

Não

utilidade. lia

o as

tarde,

surge o graphium, ou

era possivel escrever

como

matéria macia, delicada,

temente, teve de criar

perimentado o servira,

o graphium sôbre

Consequen-

era o papiro.

Terá

instrumento diferente.

pincel, a princípio,

por certo,

egípcios,

um

com

mesmo porque

como instrumento de

escrita

ex-

o pincel já

dos antigos

quando traçavam seus desenhos primitivos sôbre o

linho que envolvia as múmias.

Mas

precisava encontrar

um

instrumento de

cel.

Além

obtenção e de mais simples manufatura que o pin-

fácil

com um

homem

o

mais

disso, sôbre o papiro, a escrita tinha

de ser

feita

material qualquer que deixasse impresso o desenho:

a tinta, portanto.

O

instrumento devia

gravador da escrita mas também, ao portador da

tinta.

Surge então o cálamo.

nada mais nem menos do que cuja ponta

ser,

mesmo

era recortada

em

um bisel.

pois,

O

cálamo era

caniço, espécie de junco,

Mergulhado na

conservava na sua parte interna, por capilaridade,

46

não só o

tempo, o trans-

tinta,

uma

pe-


quena quantidade se

dela.

E

era assim que a tinta, ao passar-

a ponta do caniço, ou cálamo, sôbre o

para êste deixando, marcada a impressão

Mais

tarde, é descoberto

papiro, escorria

escrita.

também de

algo

fácil

obten-

de maior duração que o cálamo, e que

vem a ser a pena das aves. Aves existiam em quantidade e em qualquer lugar. As penas maiores podiam ser recortadas da mesma fórma que o caniço, dêsse modo servindo de instrumento para a escrita. Certo é que, com o tempo, criaram-se proção, e

cessos de melhoramento dessas penas de ave, dando-lhes ba-

mesmo

nhos de água fervente, ou

fazendo-as receber

espécie de têmpera, ao fogo ou dentro de

mas

bizarras.

semelhante ao

A

com pena,

ma-

os chifres de boi para lhes dar for-

como

se sabe, é

ua matéria córnea,

chifre.

Pena de

ave,

usada para cscre\cr

(fig.

A

forno, de

Tal como hoje fazem

neira que ela se tornasse mais dura.

os nossos caipiras

um

uma

pena de

21)

ave prolongou seu

uso até quase os

atuais, porquanto, se ela servia para o papiro,

dias

serviu tam-

para o pergaminho e para o papel. Todas estas bases eram matérias delicadas, de modo que a pena, também deApenas há cerca licada, deslizava sôbre elas sem as rasgar.

bém

de

um

século é que a pena de ave

foi

sendo substituida pelo

intitular instrumento metálico que, por semelhança, se veio

também de

pena: a pena metálica.

aperHoje, as penas de metal alcançaram um estado de espepenas existirem de ponto ao feiçoamento tão grande

47


cada tarefa: penas para desenho, para

cializadas para ros,

letrei-

para escritas de vários tipos e grossuras.

Já pelo dealbar deste século começou a ter grande uso que não passa de um tipo especial de pena

a caneta-tinteiro,

metálica, considerando-se o instrumento de escrita propria-

mente por

O

dito.

um

seu suporte, ou seja, a caneta é que passou

aperfeiçoamento que a torna não mais

mesmo tempo um

cabo para a pena, mas ao

um

simples

recipiente para

Quase poderíamos dizer que a caneta-tinteiro

a tinta.

é

cálamo modernizado porque, como o cálamo, transporta no seu

um

tinta

interior e a distribue por capilaridade pelo papel, à

medida que

a

pena sôbre

êle desliza.

Hoje, finalmente, e por sinal de mui recente entrada no

temos a

mercado, constitui-se

caneta esferográfica.

apenas de

um

à extremidade do qual se adapta

Deslizando

lica.

vai

girando

em

Esta,

em

síntese,

tubo, carregado de tinta pastosa,

uma

o aparelho sôbre

minúscula esfera metáo papel, a

modo

seu receptáculo, dêsse

esferazinha

transportando

a tinta do tubo para o papel.

A

caneta esferográfica tem suas vantagens e desvanta-

Por enquanto os nossos tabeliães não reconhecem as firmas feitas com canetas esferográficas, em virtude de que gens.

não dão talhe às

estas

racterísticos

letras.

E como

o talhe é

mais importantes e pessoais da

um

escrita, a

dos cacaneta

esferográfica reduz as possibilidades de individuação das letras e firmas.

Em

todo o caso, como é

se poderia considerar

a pena

comum

um

instrumento que

mais prático que a caneta-tinteiro ou

pela simplicidade da fabricação, preço

dico e por possibilitar as cópias a carbono, virá a

um

mó-

ter, talvez,

uso muito mais extenso do que a pena, ou a própria ca-

neta-tinteiro atual.

Só o futuro nos poderá dizer algo a

res-

peito.

É o

que a esferográfica venha a ter chamadas "penas japonesas", que eram

possível, entretanto,

mesmo

destino das

— 48 —


estiletes cónicos,

geralmente de vidro, com

uma

de ca-

série

naletas ao seu redor, convergindo para a extremidade. Eram "penas" que, como a esferográfica, também não produziam

São hoje quase desconhecidas, pelo menos entre

talhe.

A

atual geração talvez

nem

nós.

em

tenha, jamais, ouvido falar

"penas japonesas".

Os estudiosos de paleografia acham às vezes curioso o fato de os trabalhos da especialidade aludirem quase que exclusivamente à história da pena, parecendo esquecer o nosso muito útil e comuníssimo lápis.

Mas, o

também

lápis

a mina de chumbo,

XI

da nossa

foi

A

teve o seu lugar.

grafite,

com

Descobriu-se que seu uso se iniciou

era.

ou

usada mais ou menos desde o século

o tracejado das pautas para sôbre estas a pena poder escrever

em linhas retas. Nenhum documento

com

a grafite.

importante, entretanto,

Isso porque esta é facilmente apagada.

modo, quanto mais importante maior

risco

Hoje

fôsse

um

lápis é

Essa a razão

menos considerada.

a manufatura do lápis se encontra muito aperfei-

As

fábricas

produzem-no aos milhões.

Na

bricaçãõ, entretanto, não mais se usa a grafite pura

úa massa especial que forma a chamada mina dos

Por vezes, principalmente no que massa nem ao menos contém

côr, a

Dêsse

documento, corria

de ser alterado ou de desaparecer.

por que a escrita a

çoada.

escrito

foi

sua

fa-

sim,

e,

lápis.

se refere aos lápis-de-

grafite e, sim,

uma

tura de diferentes materiais corantes para uso pelos

misdese-

nhistas.

É

interessante

notar que, de

considerar a caneta esferográfica

o

lápis

com

e

tinta

a

caneta-tinteiro.

(embora uma

lidade de escrita do

bono

e

não deixa

certo

como

talhe.

entre

Por>que, se bem que escreva

tinta especial),

lápis, e,

modo, poderíamos

como um meio têrmo

49

êste,

tem

a

mesma

faci-

permite cópias a car-


b) Tintas.

As pretas

tintas

mais antigas de que se tem conhecimento são

A

ou vermelhas.

preta

tinta

mais antigos documentos egípcios, da

texto

os

escrito

essa côr.

O Mas

processo de fabricação da tinta preta variava muito.

parece que o sistema preferivelmente usado era o de

juntar negro-de-fumo

(fuligem)

cionavam-lhe por vezes

de

mesma fórma que

também possuem

pergaminhos mais remotos

com

encontra entre os

se

modo

a gordura dissolvida.

Adi-

uma pequena quantidade de vinagre,

que se pudessem interessar pela Os romanos usaram também a secreção de certos

a afastar os insetos

gordura.

moluscos

as cibas.

A

escrita

produzida por esta secreção,

entretanto, não era completamente negra.

lidade diluida que hoje se

Tinha uma tona-

denomina sépia (de

ciiba).

Durante a Idade Média muitas outras formas de preparação de tintas foram tentadas. foi

adicionada tentativamente.

A

ou animal, Por vezes juntavam à comcola, vegetal

posição pequena quantidade de vitríolo, fixador e

como

com fim

duplo:

como

Provavelmente êste é o motivo

inseticida.

por que muitos documentos, hoje existentes pelos arquivos,

sofreram corrosão ao longo do tracejado da

documentos

se

transformaram

em

verdadeiras

Exemplo de documento danificado por (Arquivo do Estado) (fig.

50

22)

escrita.

Tais

rendas cujas

tinta corrosiva


franjas são as bordas das letras que o antigo escriba traçou.

São documentos que não resistem ao manuseio e que nem sempre se tornam elegíveis para um trabalho de restauração, perdendo-se portanto.

A

tinta

vermelha, menos empregada que a preta, era frequentemente usada para dar realce a

entretanto muito

certos textos, para desenhos à guisa de enfeite, ou para escrita

côr

das

As matérias primas para

iniciais.

eram o cinábrio chumbo).

(sulfeto de mercúrio) e o mínio

salino de

Os

copistas

í.

a tinta dessa

(óxido

da Idade Média costuma-

vam ornar as iniciais dos capítulos com delicados desenhos em côres, entre as quais sobressaía o vermelho. Nasceu daí a arte da miniatura, derivando êsse_ térmo de mínio, substância por certo preferida pelos copistas

na feitura da tinta ver-

melha que usavam.

Além do

Há em

das.

ta verde.

preto e do vermelho, outras côres foram usa-

Orléans

uma

carta de Felipe

violeta e amarela.

ouro e prata. se crisograíia. rias poesias

A

E

com

tin-

encontram-se manuscritos grafados

em ouro ou prata Consta que Nero mandou escrever arte de escrever

em um

só volume,

conhecido documento

com

dêsse tipo,

de Carlos Magno, datando dos

fins

porém, é

era

necessário

suas vá-

O

mais

o Evangeliário

do século

8.°,

que

se en-

Para escrever

primeiramente corar

em

intitulou-

de ouro.

letras

contra na Biblioteca Nacional, de Paris.

prata

escrita

I

Outros documentos apresentam tintas de cór azul,

de vermelho

pergaminho, a fim de dar maior visibilidade à

escrita.

em o

O

mais afamado manuscrito dêsse género é o "Codex Argenteus",

contendo a tradução da

Bíblia,

que

se encontra

na

Universidade de Upsala.

rias tal,

Mais tarde, e até os tempos modernos, combinações váforam sendo experimentadas, inclusive as de base vegeque incluíam o taníno e o ferro. Sabe-se, por exemplo,

que a

tinta

"nankim" chinesa é

51

feita à

base de cola vegetal


'6

negro-de-fumo produzido pela queima de caroços de pês-

Nessas condições, poderíamos talvez

sego.

te

classificar as tin-

segundo o seu componente principal, ou quantitativamen-

tas

Teríamos, dêsse modo:

mais importante.

vegetais (à base de tanino, corantes vegetais, etc.)

animais (ciba, negro-de-fumo proveniente da queiTintas

ma

!

de matérias animais,

etc.)

minerais (ouro, prata, combinações químicas mo-

dernas)

É

provável que, na antiguidade, cada escriba preparas-

se sua própria tinta,

dida

do mestre.

quantidades tintas culos.

segundo fórmula de sua criação ou apren-

inconcebíveis

antigas, de

Farão o

natural, pois é sabido

de côr

azul,

manufaturadas

em

especializadas.

As

rudimentar, atravessaram

fabrico

mesmo

tintas

por fábricas

usamos

Hoje

as nossas tintas atuais?

que muitas

descoram à

luz

tintas,

com muita

A

os sé-

dúvida é

principalmente as facilidade.

Pode-

ríamos dar de ombros à questão ao nos lembrarmos de que

não é problema nosso, mas dos paleógrafos do porvir. sempre prudente prevenir, porém, a possibilidade de os nossos documentos atuais não sobreviverem de muito aos isso

É

seus rabiscadores.

Caso se apaguem com o tempo, contudo,

esperemos que a química do futuro venha a descobrir meios Jiábeis de fazer reviver

com segurança

52

a escrita desaparecida.


V CONSERVAÇÃO DE DOCUMENTOS Qualquer documente manuscrito, algum valor para o paleógrafo e para tretanto, êsse

que

documento

antigo,

pode oferecer

En-

os historiadores.

pode apresentar-se tão

estragado

ou mesmo de todo impeça a sua leitura pelo Disso ressalta desde logo a necessidade de con-

dificulte

estudioso.

servar os documentos e de restaurá-los, quando possível.

O

O

que conservar

problema da conservação envolve uma questão imO que se deve conservar e o que se deve inu-

portante: tilizar?

A nunca

resposta a essa pergunta não é se

fácil

pode saber quais os papéis que

de ser dada, pois irão

ter

valor no

que nenhum

indivi-

duo ou organização deseja ou pode preservar todos

os do-

Por outro

futuro.

lado, é de admitir-se

cumentos referentes à atividade na qual esteja envolvido.

A tempos

em ria

necessidade de destruição de papéis é evidente nos atuais.

cinco séculos atrás, talvez

uma

pessoa

cada milhar sabia escrever; hoje a instrução é obrigatópara todos, multiplicando-se dêsse

modo

a quantidade de

indivíduos potencialmente capazes de deixar documentos de importância. crita,

Além

dessa difusão das possibilidades de

o preço irrisório do papel

es-

(em comparação com o que

custava o pergaminho) e os processos de duplicação

(car-

bono, mimeógrafo, impressão) facilitam na atualidade a pro-

dução de documentos

a tal

ponto que até

mesmo

os mais

convictos

advogados da conservação no interesse histórico

começam

a acreditar que, ao pesquizar dentro de nosso pe-

53


TÍodo, o historiador

do futuro será submergido numa verda-

maré de documentos.

deira

Destruir os documentos inúteis sempre que possível

uma

pois,

necessidade

vital.

Mas

o

é,

que destruir e o que

preservar tem sido o quebra-cabeças mais sério de tôdas as

organizações arquivísticas.

De um modo

geral pode-se dizer

papel cuja finalidade

foi,

que todo

e

qualquer

precisamente, o de anotar fatos de

efémera importância, podem ser desde logo destruídos; do

mesmo modo podem

ser inutilizados os

documentos de que

se saiba existir cópia obrigatoriamente conservada

em

outro

lugar.

Não obstante tais normas gerais, ainda a dúvida pode com respeito à destruição de papéis porquanto estes possuem, como bem o expôs uma publicação do Arquivo da pairar

Inglaterra, "trés fases distintas de possível utilidade:

1.^

Quando são requeridos para referências correntes; 2.^ Quando não se espera que sejam desejados mas podem, inesperadamente, ser necessitados; utilizáveis para

mente

feitos,

os

3.^

Quando não

são mais

propósitos para os quais foram original-

mas podem

ser

de valor cada vez maior para

referências históricas ou de caráter geral".

Por exemplo:

contas,

são de valor primário, ao

cartas e memorandos recebidos tempo em que chegam a nossas

mãos; são de importância secundária depois, porquanto legais;

um

legais já

podem

vir a ser

uma dezena

de anos

exigidos para propósitos

ou vários séculos após, quando até as finalidades

não entram

em

conta, poderão ser de valor para o

estudo de níveis de preços,

da posição ocupada por determi-

nada pessoa num determinado tempo, ou por qualquer uma das inúmeras razões que dizem respeito à história económica -ou social,

ou a quaisquer outros ramos da pesquisa.

— 54 —


:

Em

face de tal raciocínio devemos, então, conservar to-

das as cartas, contas e memorandos que nos dirijam?

que não.

Mas

também não

isso

que considerações

um documento devam

de possível futura utilidade de postas de lado.

significa

Claro

sei

Assim, pois, o problema de quais os papéis

a destruir fica sempre de pé,

desafiando a sagacidade do

arquivista.

A

publicação do Arquivo da Inglaterra a que nos refe-

rimos pouco atrás procurou dar normas para a eliminação

de papéis, evitando que inútil.

os arquivos se

Acreditando que, de

um modo

encham de material geral, as

normas

pre-

conizadas são as que mais se coadunam com a previsibilida-

de atual, iremos aqui reproduzi-las, sintetizando sempre que possível

A)

de deixar e

Sempre que

uma

a intenção fôr apenas a

evidência suficiente das atividades

métodos de ação de uma certa pessoa,

corporação ou instituição,

uma

família,

razoável elimina-

ção dos papéis deixados é tarefa relativamente fáDesde que seja feita logo (de regra, a única cil.

que torna difícil destruir cartas antigas é apenas a sua antiguidade) e por alguém que tenha tido relações com os negócios que produzi-

coisa

ram

os documentos.

Comumente, bastará preservar um

mero tivas

certo nú-

de documentos-chave e seleções representade séries que se conservam regularmente e

de documentos que se repetem rotineiramente. por Alguns espécimes devem ser selecionados mais estrutua ilustrar seu caráter representativo, para ra da organização ou interêsse

do negócio do que por

como, por exemplo, o casual autógrafo conhecido. Tal inte-

ocasional

encontro de

um

um

55


entretanto, não deve ser excluído

rêsse,

dois

ou mais espécimes

entre

e,

ilustrativos,

nome do personagem importan-

aquêle que traga o te

igualmente

poderá ser escolhido. Espécimes provenientes de

um

intervalos regulares durante

anos

também podem

número de

certo

ser de grande interesse,

in-

clusive sob o ponto de vista estatístico, se o do-

cumento envolver números.

B) é

Quando o objeto que

preservar

se

tem em mira

documentação referente a assuntos

também conservados por

técnicos, os quais são

ou de outras

quivos

individuais

mesma

espécie, a tarefa se torna

que envolve o problema de

instituições

mais

difícil

ar-

da por-

se estabelecer o grau

de importância de cada Organização, ou seja:

1

Se ela pertence a tituições

uma

categoria de Ins-

ou Organizações cujos arqui-

vos raramente foram preservados; 2

Se

mesma 3

categoria de

ela pertence à

importante,

em

relação

a

muito

outras

da

espécie;

Se pertence à

categoria

de organiza-

ções cuja história e desenvolvimento se-

jam de grande importância e apenas possam ser traçados mediante o uso de documentos coletivos. Dois cuidados a serem tomados: Primeiro

como no

É

preciso que, tanto neste caso

precedente, não

fundir a falta de sucesso cia.

tas

cometamos o

com

êrro de con-

a falta de importân-

Negócios que se não materializaram, propos-

não

aceitas,

inventos

56

não

aproveitados,

ne-


nhuns

lucros, tudo isso pode ter algum valor para a história do indivíduo, associação ou ramo de atividade em que tiverem lugar.

— Há

Segundo pela

um

valor extra que se obtém

conservação de dados

com regularidade, e pelo espaço de tempo e variedade de atividades por êles cobertos: um Diário profissional, ou uma séne de dados contábeis ou lançamentos, semelhantes em tudo a centenas de outros do mesmo

podem fornecer documentação fora do comum ou mesmo única, apenas em virtude do estipo,

paço de tempo por

C) quando

O

mais

se deseja

ir

ou pelas circuns-

êles coberto

em que foram

tâncias

feitos. difícil

problema de todos é

ao encontro das necessidades

potenciais do futuro pesquisador.

Na

verdade é

impossível pre-estabelecer condições que evitem a destruição daquilo que, mais tarde, possa vir a ter

porque não há limite para os assuntos cuja

valor,

documentação

seja de possível encontro

em

arqui-

E, de certo modo, tais possibilidades são im-

vos.

previsíveis, resses,

viam

porque cada geração cria novos

inte-

nos quais as gerações anteriores não ha-

cogitado. Pode-se apenas sugerir certas nor-

mas de proceder para dar uma ao mesmo tempo que

relativa segurança,

se consegue

uma

certa

eli-

minação: 1

peza,

Façamos constantes operações de limeliminando regularmente os documentos

absolutamente efémeros e

isso o

mais breve possí-

Não esperemos pela congestão. Documentos que não tiveram nenhuma utilidade para um negócio, de regra não têm mais nenhum valor, mesvel.

mo como

documentação de outros assuntos, apos

57


Por outro

alguns dias.

têm, realmente,

êles

um

lado,

convém

verificar se

caráter nitidamente efé-

mero. 2 incluir,

Entre os documentos efémeros deve-se

na maior parte das organizações moder-

o enorme acúmulo de papéis de pura rotina.

nas,

É

manter uma

necessário, por exemplo,

verifica-

ção horária, diária, mensal ou durante outros períodos quaisquer de tempo,

ou pessoas. rificações, registros,

tina se

com

Os documentos

relação a serviços

resultantes dessas ve-

sob a fórma de notas,

fichas, livros

de

ou outros, não passam de papéis de

ro-

na administração.

Serão importantes, talvez,

indicarem condições

mas

anormais;

perfeita-

mente dispensáveis em condições normais, assim que tiverem servido a seus 3

fins.

— Documentos referentes

apenas à admi-

nistração interna ou à rotina do serviço podem,

de

regra,

na sua quase totalidade,

E nisto se incluem Mas mesmo aqui da organização.

os papéis

ser destruídos.

que aludem a pessoas.

a seleção depende da natureza

Devem-se

distinguir as organiza-

ções que existem apenas para efetuar negócios ex-

ternos (firmas comerciais, por exemplo) das que

tém unicamente

serviços internos

colas e museus).

(tais

como

es-

Neste segundo caso, a organiza-

ção interna é obviamente a mais importante e sò-

mente os papéis muito repetidos formais é que considerações.

podem

e

de assuntos

ser destruídos

sem grandes

Por exemplo: no caso das

escolas,

o livro de ponto dos estudantes e professores estaria entre os

documentos de maior importância; ao

passo que os livros de ponto de

58

uma

firma comer-


não têm nenhum valor arquivístico passados

ciai

alguns mêses.

4

Como

critério

de caráter

a res-

geral,

do possível valor para tôda a espécie de interêsses não perfeitamente definidos, deve-se verificar se o documento ou uma série dêles, trata, nomeia ou tem relação com um grande número e peito

pessoas e /ou coisas e/ ou assuntos. Se tanto pessoas ou coisas estejam envolvidas em quantidade,

o papel

é,

provavelmente, candidato à preserva-

ção; se apenas pessoas,

ou só

ponhamos

outras,

— Com

5

o caso precisa

coisas,

ser particularmente estudado; se

nem umas nem

fora o papel.

relação a qualquer

documento

so-

bre o qual se tenha dúvida se se deve ou não con-

servar, o arquivista deve perguntar-se:

A

in-

formação aqui contida consta nalgum outro arqui-

Ou nalgum

vo?

gar não seja

um

outro lugar, ainda que ésse

arquivo?

Qualquer

lista

lu-

de no-

mes, por exemplo, que tenha sobrevivido a épocas

mesma não

anteriores pode ter valor, desde que a

conste de outra, impressa, da

mesma época

(no-

biliárquicas, policiais, telefónicas, etc).

6

Um

documento não

é,

também, obriga-

toriamente sem valor apenas porque se saiba dêle

tenham

sido tiradas muitas cópias, por meios me-

cânicos, e largamente distribuídas.

tas cópias,

em

Qualquer des-

virtude de notas adicionais ou pelo

lugar e circunstâncias de sua preservação pode ter

adquirido

uma

significação

Exemplo:

das restantes.

que sem nenhum valor

nha pertencido

a

totalmente

qualquer

literário particular,

Rui Barbosa, pode 59

diferente

livro,

ser

ainda

que

te-

precioso


em

agora,

virtude de alguma anotação marginal

nêle feita pelo grande jurista.

— Para

7

os propósitos

poderá muitas vêzes

um índice

ter

que ora

se discutem,

valor a conservação de

REGISTRO, mesmo quando

ou

os

papéis a que êles se refiram tenham sido destruí-

De

dos.

pode

simples existência de

fato, a

um

registro

às vêzes tornar possivel a destruição de mui-

tos papéis cuja única função é fazer volume.

A

normas oferecidas pelo Arquivo

essas sete

uma Oitava: Levando em consideração

inglês,

nós

acrescentaríamos 8

de micro-fotografia

existentes,

os

modernos métodos

tôda a vez que razoável dú-

vida se levantar quanto à destruição ou conservação de

documento, resta-nos truSndo-o destruído:

um des-

Assim, o papel não teria sido de todo

depois.

uma

ficou dêle

paço muitíssimo menor. intermediária,

de micro-fotografá-lo,

o recurso

até

que,

cópia

fiel

Esta seria

em

mas que ocupa um

uma se

definitivo,

es-

espécie de solução verificasse

que o

próprio microfilme podia ser destruído.

Documentos conservados ção,

ou

que,

a

nosso

ver,

devem

CONSIDERADOS DIGNOS

SEMPRE de

ser

conserva-

no Brasil: 1

2

mesma

— —

Documentos com data

Mapas ou

anterior a

1900;

planos, feitos a mão, anteriores a essa

data;

Outros documentos que, por lei, tenham de ser conservados (por exemplo: os talões de registros de casa3

mentos, nascimentos, óbitos e de imóveis);

Documentos de quaisquer Corporações, Irmandades Eclesiásticas, Autoridades Públicas, Comissões, Assembléias Legislativas, Fundações Beneficentes, Emprêsas de 4

Utilidade Pública ou Organizações de Serviços Sociais e que,

60


por acaso, se encontrem sob custódia particular.

documento desta

espécie deve ser destruído

Nenhum

sem um parecer

de pesquisadores;

5

Documentos

em que não pode

6

referentes

ao Serviço

um

haver destruição sem

Público,

caso

acurado estudo;

Escrituras e outros documentos que se refiram a

posse de terras;

7

Correspondência privada e Diárias ou notas, se

mantidos com excepcional regularidade ou em circunstâncias anormais, ou por pessoas de posição excepcional.

8 Jornais impressos (especialmente os do local) que, por sua natureza, forma ou quaisquer outros motivos, tenham

em

a probabilidade de não ser conservados

outro local ou

que, nesse outro local, corram risco de se oerder.

Além

dêsses,

OBRIGATÓRIA

de

conservação nos

ar-

quivos brasileiros segundo nosso parecer, os arquivos podem, entretanto, conforme as necessidades, circunstâncias ou con-

preservar

veniências,

entretanto, que

documentos

outros.

a finalidade do arquivo

Jamais esquecer, é preservar

coisas

úteis para a posteridade.

Como Vimes

até aqui a questão de o que se deve e o que se

deve conservar.

não

Selecionados

pretendem preservar para o

como

mantenham

íntegros,

os

documentos

futuro, resta-nos o

conservá-los, isto é, quais os se

êles

conservar

que se

problema de

métodos a usar para que

impedindo que

se deteriorem.

Para uma efetiva conservação dos documentos devem-se levar

em

conta:

a)

b) c)

O A O

local

que serve de depósito.

iluminação.

arejamento.

61


h)

A A A A A

i)

O

d) e) f)

g)

qualidade e acessibilidade das estantes. proteção contra umidade. proteção contra parasitas. proteção contra fogo. proteção contra a poeira. pessoal habilitado.

um

Estudemos sucintamente cada a)

O

local

A gar

dêsses tópicos,

antiga noção de arquivo correspondia a qualquer lu-

onde

alguma.

se

amontoassem

um

dos fundos,

sem ordem nem higiene

papéis,

Era quase sempre

um

uma

canto de escada,

corredor escuro,

uma passagem

sala

inaprovei-

tável.

Consequência dessa errónea maneira de ver era a

documentos

lização dos

ali

cessitasse de

A

depositados.

setos e os ratos ali se instalavam.

E

algum dos velhos papéis

no dia

inuti-

umidade, os

em

in-

que

se ne-

ali postos, ia-se

encon-

mofado ou empastado. Isso, supondo que o encontrassem, no meio da vasta desordem. trá-lo corroído,

Hodiernamente, verificada a necessidade e utilidade da conservação de documentos, quer por motivos históricos, quer por motivos outros, inclusive os de ordem económica, pro-

curam-se locais amplos, arejados e resistentes.

A

amplidão

responde à necessidade de espaço para as novas remessas de material, além de facilitar a constante limpeza; o arejamento dificulta a

infestação por parasitas; a resistência possibilita

a constante recepção de novos papéis

sem perigo de ruina

do prédio, com o consequente dano para os documentos.

Uma

fólha de papel, por muito leve

que

seja, se

a milhares ou milhões de outras, corresponderá a

extraordinariamente grande.

reunida

um

Pode-se calcular que, para 62

pêso

um


grande arquivo, a resistência média dos pisos não deve a 450 quilos por metro quadrado.

menor que 400 b)

A

iluminação

A que,

luz solar

como

combate o môfo

se sabe, são

e afasta os insetos

na sua maioria fotófobos.

a luz solar direta e constante é

documentos não só porque relando-os,

também

resseca ou

como também porque

Entretanto,

perniciosa para os

queima

os papéis,

descora as tintas.

pois, a luz ideal para os arquivos é

daninhos

ama-

Assim,

a luz difusa, branda e

suave.

c)

O

arejamento

O

ar

age benèficamente para

a

conservação

dos do-

Age como elemento mecânico, varrendo a umidade sempre que esta se torne excessiva. Age também como cumentos.

elemento químico, permitindo oxidações que dificultam a

ins-

Age ainda como

da

talação do môfo.

antissético,

pequena quantidade de ozona que possa

d)

A

antigas estantes

para habitação de

Por

colocado deira.

uma

de madeira eram terreno propicio de insetos destruidores, papiró-

série

que

vêzes acontecia

numa

Daí por

um

códice infestado

era

estante e os insetos se passavam para a madiante, retirado

dos os outros papéis que

bavam

possuir.

qualidade e acessibilidade das estantes

As fagos.

através

infestando-se

se

embora o códice atacado,

to-

pusessem naquela prateleira aca-

também.

praHoje tal perigo é obviado mediante o emprego de pode: 1." teleiras de aço, que têm as vantagens adicionais mudança: de caso em derem desmontar-se com facilidade

63


2.° permitirem os reajustes de alturas, de acordo com o tamanho dos papéis arquivados; e 3.° serem imunes ao fogo, dêsse modo dando menos aso aos incêndios.

Convém

lembrar, entretanto, que as estantes de aço são

menos aconselháveis nas

localidades situadas à beira-mar

em

virtude da possibilidade de corrosão, devida à maior umida-

em dissolução no ar. Nesse emprêgo da própria madeira, desde que

de atmosférica e ao iodo e cloro caso, é preferível o

convenientemente tratada por processos químicos, muitos dêles

à base de creosoto.

Além da

inatacabilidade pelos insetos, as prateleiras pre-

O

cisam ser acessíveis.

velho processo de se usarem todos

os cantos disponíveis dificultava a classificação nas estantes;

ocupando as paredes até o teto, obrigava ao uso de escadas e a adoção de serventes para a o sistema de divisões

movimentação acrescia

altas,

dos pacotes

guardados no

que a limpeza, nesses

Preferem-se hoje as estantes dispostas

que facilitam a

A

alto.

casos, deixava

isso

se

muito a desejar.

em

linhas para-

que não

ul-

trapasse dois metros, evitando as escadas e os serventes.

A

lelas,

classificação;

e de altura

limpeza pode ser mantida com menor dificuldade. e)

A

proteção contra umidade

Independentemente do môfo, a umidade pode, confor-

me

sua

manchas pela dissolução das folhas.

descoramento dos

intensidade, produzir o

tintas,

papéis,

ou o empastamento das

Se o descoramento é prejuízo de relativamente pou-

ca monta, o

mesmo

não

dificultam ou de todo

e do empastamento

se

pode dizer das manchas

impedem

— que

a leitura

— que

do documento

produz a aderência das

folhas,

inutilizando os códices.

Como groscópico..

sabemos, o papel é

um

material grandemente hi-

Os arquivos mantidos em

64

locais

amplos

e are-


jades serão menos sujeitos ao ataque da água

no

O

ar.

em

suspensão

que os prédios reservados à custódia de documentos possuíssem aparelhamento de ar condicionado, devidamente regulado para manter na atmosfera apenas a umidade necessária ao não ressecamento do papel. O preço de aquisição, montagem e manutenção de tal ideal seria

aparelhamento,

entretanto, cerceia o seu emprego generalizado.

f)

A

proteção contra parasitas

Tôda

a gente sabe que os ratos

papéis

em

terial

para forrar

geral, principalmente

seus ninhos.

com

roem

livros,

jornais e

o fim de conseguir

Mas

roedor não

êsse

maé

o

maior inimigo dos arquivos. Por paradoxal que pareça, os maiores inimigos dos documentos são insetos inconcebivel-

mente menores que (Tinea

saríicella,

traça dos livros

os ratos,

Tinea

em tamanho:

em

Mas

espécies), a

proliferam

com

tal

se

vigor

medem

que,

se

livros

por mi-

deixados

condições ideais para sua reprodução, poderiam dar cabo

de arquivos ver aqui a são,

comum

(Lepisma saccharina), o piolho dos

(Atropos divinatoria) possuem larvas que límetros.

a traça

ou outras

pellionella,

inteiros

em

lista inteira

poucos anos.

êles

transcre-

dos insetos que atacam o papel e que

genèricamente, intitulados

mos apenas que

Não iremos

de papirófagos.

Lembrare-

alcançam a 65 espécies, assim

distribuí-

das: ccleópteros (32 espécies); ortópteros (4); tisanuros (9);

pseudoneurópteros (6); himenópteros (1); lepidópteros (7); Acrescente-se a isso duas espécies de aracníoutros (6). deos e mais os

ratos, e

teremos o quadro dos pequenos gran-

des inimigos dos arquivos.

O

combate

a

êles

tem de

ser

constante, sem tréguas, porque a destruição que êles efetuam

no

silêncio das estantes

também não

tinuidade.

65

sofre solução de con-


ALGUNS INSETOS QUE ATACAM O PAPEL

Scleroderma domesticum. Kieff 26)

(fig.

Anobium

striatum,

(fig.

Oliv.

23)

Tenebroides mauritanicus, L. (fig.

25)

(fig.

27)

24)

Lepisma saccharina, L. (fig.

Ptinus lur, L.

Anobium

pertinax, L.

(fig.

28)


Exemplo

de documento corroído

pov traças

(Arquivo do Estado) (fig.

O

combate aos

29)

ratos é efetuado através da

dos arquivos longe de fábricas,

localização

hotéis, restaurantes, depósitos

de víveres ou qualquer outros possíveis centros de ção daqueles roedores. Além

disso, o

67

prolifera-

prédio não deve oferecer


facilidades para feitura de passagens para êsses animais;

o

cimento armado é o mais aconselhável.

Exemplo de volume corroído por

térmitas

(formigas brancas)

(Cliché extraido de "Patologia e Terapia dei Libro"

relação aos insetos e aracnídeos, o arejamento, a

luz e a limpeza são três

pre

A. Gallo)

30)

(fig.

Com

acrescentar a

armas de

valor.

A

constante vigilância;

elas,

a

porém, cum-

desinfecção

volumes atacados mediante aparelhamento apropriado;

dos e

a

aplicação de inseticidas sempre que possível e desde que os

produtos empregados não sejam prejudiciais ao papel. Processo

em não

interessante seria a

envólucros metálicos oxidar

volume infestado de

mesma

conservação dos

preferivelmente

completamente

impediriam o ataque dos jnais da

ratos,

fechados.

bem como

códices

alumínio,

Tais

por

envólucros

evitariam que

um

insetos transmitisse a infestação aos de-

prateleira.

Além 68

disso,

permitiria a inclu-


Exemplo

de volume corroido de ralos

(Cliché extraído de "Patologia

e

'J"erapia

di-1

i.ilirn"

A. dallo)

31)

são de inseticidas que, lentamente, acabariam a fauna existente

ali

dentro.

por suprimir

Vantagens acessórias do envó-

lucro metálico: diminuiriam as possibilidades de estragos por

umidade

e reduziriam quase a zero os perigos de fogo.

69


g)

A

proteção contra fogo

em

Sabe-se de muitos incêndios que têm transformado

nada o acervo de arquivos preciosos. Manter aparelhos contra

incêndio ou corpos de bombeiros eficientíssimos não é

tudo, no que tange a arquivos.

Isso porque, iniciado o fogo,

ainda que o consigamos apagar mediante largo uso de jactos

foi

das chamas estará

salvo

O

mesmo modo.

dágua, os papéis se inutilizariam do

que

imprestável pelo emprêgo da

água: o papel molhado se tansforma

em

pasta, a tinta dis-

solve-se.

À

vista dessas

considerações, importa

antes

o

evitar

ioga que combatê-lo.

Os processos para não inflamáveis na

isso

são conhecidos: uso de materiais

construção, paredes corta-fogo,

cortinas

de aço separando as várias secções, abolição de cortinas de

pano nas

Na

janelas, localização longe de fábricas, etc.

ganização interna, fazer

com que

empregados sejam separados das

os locais de trabalho dos

salas

modo

prateleiras, evitando-se dêsse

or-

onde

se situaram

possíveis

as

incêndios pro-

vocados por fumantes descuidados. h)

A

os

tipos, arrasta

A

proteção contra a poeira

além de transportar consigo germens de todos

poeira,

também

partículas

corantes, substâncias químicas.

do-se nas fibras do papel,

das

tintas.

O

de carbono,

Isso tudo

manchando-o

pode

ir

materiais

entranhan-

e alterando

a côr

próprio manusêio dos códices auxilia êsse tra-

balho nocivo pois os dedos dos consulentes vão fazendo

que a poeira

res

com

se fixe, nos cantos das páginas principalmente.

Limpeza constante, preferivelmente feita com aspiradode pó, é o método principal de combate a utilizar-se. A

Jocalização longe de fábricas

também

construções,

é necessária.

70

ruas muito

transitadas

e


i)

o

pessoal habilitado

É

evidente que o pessoal encarregado de cuidar de do-

cumentos antigos deve

sempenho dessa

plenamente habilitado para o de-

ser

Essa habilitação

tarefa.

diploma mas, sim, de muita prática

A

tade.

prática ensinará o pessoal

muitíssima boa von-

e

como

os melhores

vação.

Os

com que

modos de proceder para

des-

a sua conser-

especializados na matéria indicam

livros

Mas

processos.

com carinho

tratar

os cartapácios preciosos; a boa vontade fará

cubram

de

não dependo

vários

a boa vontade dos arquivistas amantes

de sua profissão fará com que expérimentem

métodos mais adaptáveis ao

local, à

apliquem os

e

temperatura média

rei-

nante, ou às condições a que tenham os documentos de submeter-se.

e ao

desde o

Se,

mente sua

um

início,

funcionário manifeste clara-

idiosincrasia aos papéis velhos, à luta contra o pó,

combate aos

insetos, a

está correndo perigo.

que ponham

É

boa conservação dos códices

com empregados

preciso contar-se

inteligência e disciplina no trato dos

Dentro dêste tópico cabe bem lembrar

migo dos documentos ainda não

citado:

consulentes dos arquivos têm o

mau

lhes

preciosos

apenas

em

interessem?

documen-

vir a ser úteis para a posteridade.

tos que sejam ou possam

que

E

quantos

rasgando-lhes pedaços

o

um

tipo de ini-

homem. Quantos

vêzo de furtar papéis

outros de.stroem

ou extraindo-lhes

códices páginas,

virtude de terem preguiça de lhes copiar por

teiro os textos?

Donde

se

arquivo deve, além do mais,

depreende que o pessoal de ter a

qualidade de

ou de marido ciumento: viver constantemente tra tais visitantes nocivos.

um

in-

um

Cérl^ero

vigilante con-


Processos de fotocópia

Ao

aludirmos pouco atrás às normas para a conserva-

ção e destruição de papéis preconizadas pelo Arquivo inglês,

acrescentámos ser a microfotografia rio

um

processo intermediá-

de destruição: destruia-se o original mas conservava-se o

ganhando assim em espaço sem de todo perder o do-

film,

cumento.

A

microfotografia resume-se na fotografia de documen-

tos usando-se o film miniatura, de

do,

num

só rolo

comum

se

35 milímetros. Dêsse mo-

podem acumular

as fotos

de 36

documentos.

Mas

o microfilme não é o único processo de conservação

num

arquivo,

Existe

também

fotográfica usável

mais vantajoso.

do documento.

um

em um

aparêlho, diretamente

Acendendo-se as lâmpadas existentes

dentro do aparêlho, e por

por

o

cópia fotostática direta ou por transparência, é feita

colccando-se o papel sensível, atrás

ser

fotos-

quer as diretas, quer as obtidas por reflexão.

táticas,

A

embora tudo indique o método das cópias

um tempo

devidamente controlado

embutido, impressiona-se o papel sensível

relógio

que, revelado e fixado, é a reprodução as côres invertidas:

fiel

do

original,

apresentam brancos.

fotocópia, e os traços pretos se

com

brancas ficam pretas na

as superfícies

Para

obviar êste inconveniente, a primeira cópia pode servir de

negativo para igual ao

uma segunda que

original.

A

será, então,

absolutamente

primeira cópia pode ser feita por re-

também. E deve sê-lo cbrigatòriamente quando o documento é escrito em ambas as faces, porque, neste caso, a fotocópia por transparência apresentaria ao mesmo tempo flexão

o que havia sido escrito nos dois lados.

Consequentemente,

a leitura se tornaria impossível.

Na

cópia

por reflexão

frente do original,

com

o papel

sensível é

colocado à

sua camada impressionável voltada

72


para

êste.

A

luz

alcança o original sível

O

que só então

do aparelho e,

atravessa o papel

sensível,

refletindo neste, volta para o papel sen-

se impressiona,

dando uma cópia negativa.

positivo é feito, depois, por transparência.

Para terminar, vejamos vantagens do microfilme seus usos particulares,

e

num quadro

as vantagens e des-

da cópia fotostática, acrescentando

isto

é,

onde preferivelmente devam

ser usados: (Vide pág. ssguinte)

73


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^


VI

RESTAURAÇÃO DE DOCUMENTOS Os documentos antigos podem _ nao mtegros, vítimas de três fórmas

apresentar-se,

quando

diferentes de danos:

a) Danos provenientes da degeneração da matéria de

que sao constituídos, de defeitos de sua

estrutura,

uso;

ou do

b) Danos provenientes do ataque de parasitas;

Danos produzidos por acidentes: incêndios, mentos, terremotos, tiros, explosões, quedas. c)

alaga-

Conforme a qualidade do dano, assim pode diferir a técnica a usar-se a fim de recompor a integridade do documento, quando tal recomposição seja possível.

Na maior parte das vêzes os códices se apresentam ao restaurador sob a forma de pacotes, com páginas apertadas umas

às outras.

Durante o tempo em que ficaram guardamalas ou baús, ou abandonados nalgum desvão esquecido, ainda que não tenham sofrido o ataque

em

dos

prateleiras,

da umidade ou de parasitas, os códices sofreram a agressão do tempo. Suas folhas, com apenas a natural umidade do ar

com

e

centenas

a pressão

do próprio pêso, durante dezenas ou

de anos, vão grudando-se

dando não em

umas

virtude da existência de

simplesmente pela ação mecânica,

às

outras.

goma ou

lenta,

de

mento, ou ajuste pelo tempo, das próprias

um

cola.

Gru-

Mas

intercambia-

fibras

do papel

ou do pergaminho.

O

primeiro trabalho do restaurador

várias folhas. deira,

sem

Usa para

isso

uma

pois, separar

as

ponta, procurando inserí-la cuidadosamente entre

as páginas, de

modo

a desgrudá-las.

Por vêzes

um movimento menos uma das folhas. rasgar pode

é tão íntima que

da espátula

é,

espátula de osso ou ma-

75

a aderência

delicado da lâmina

Nesse caso, o

res-


taurador usa do recurso de dar muitos e pequenos golpes

com

Com

isto

a espátula, batendo tôda a superfície do papel.

procura o desajuste das

com maior

páginas

Como

fibras,

de

modo

a separarem-se as

facilidade.

um

se vê, êste é

trabalho de paciência, onde a

pressa só pode ser prejudicial.

Quando

páginas do códice

as

ainda estão

serviço do restaurador é relativamente

no entanto quando o papel

plica-se

A

fácil.

foi

íntegras,

atingido por algum

dano sob uma ou mais das formas expostas pouco

Sabemos de capítulo tintas

corroem o papel.

anterior, por exemplo,

Será êste

um

atrás.

que certas

dos casos de degene-

A

ração da matéria de que é o documento constituído.

se transformou

Muitas vêzes, separadas as rendas

uma

litado de recompô-la

se-

nem

paração das folhas assim atingidas é trabalho moroso e

sempre profícuo.

o

com-

coisa

em

que

página, vê-se o restaurador impossibi-

em

face da imensidade de minúsculos

pedacinhos que se perderam no processo.

O mesmo da base da

se

pode dizer quando defeitos da estrutura

escrita dificultam o seu descolamento.

casos,,

em que uma folha, na fabricação, ficou com esdiferentes em vários lugares. Ondei a espessura

verbi gratia,

pessuras fôr

mais

fina, é

natural que a resistência à tração seja menor.

Desse modo, a fôlha pode rasgar-se nesse

lugar, ficando tei-

mosamente aderida à página vizinha. Fato semelhante sucede quando os documentos são atingidos por água: produzse um empastamento que faz várias ou tôdas as páginas ficarem coladas, praticamente inutilizando tudo. Páginas rasgadas pelo use

pedaço rasgado deu, só

um

se

podem

recompostas se o

conservou dentro do códice.

adivinho

se os

houvesse

o que existiria escrito no trecho que se

bocado perdido

ser

fôsse

Se se per-

— poderia

foi.

imaginar

A menos

que o

muito pequeno e o paleógrafo pudesse

completar a idéia pelo sentido da

frase.


Quando

as páginas coladas foram vítimas de papirófa-

gos ou ratos, o cuidado do restaurador é semelhante ao que

deve

ter

quando

No

a tinta corroeu o papel.

rófagos é sempre

uma

interessante

caso dos papi-

prévia desinfecção dos

cartapácios a fim de evitar perigos maiores: há espécies de insetos e

mem, produzindo Quando

cs

um

erupções ou infecções.

documentos

nem sempre

destruição

papéis se encontram

foram atingidos

é completa.

da

interior

pelo fogo,

pilha ou

a

Sabe-se que, quando os

empilhados ou empacotados,

as folhas suficientemente apertadas, as

o

uma ou duas

aracnídio capazes de agredir o ho-

estando

chamas não atingem

pacote imediatamente.

A queima

se processa por camadas, de fora para dentro,

em

virtude de a combustão necessitar de oxigénio para seu

ali-

como que mento.

Combatido o incêndio

folhas ainda se salva.

por

inúteis,

restaurador separá-las-á, retirando,

as bordas carbonizadas.

^Nos cases

sempre graves: tos

O

a tempo, a parte central das

de alagamento, os

como

atingidos por

estragos produzidos

já dissemos pouco

atrás, os

são

documen-

água empastam-se, inutilizando-se

quase

sempre.

Os

terremotos, as quedas (de volumes inteiros), tiros e

explosões (5) produzem danos de caráter mecânico: perfuram, rasgam ou amassam os documentos. Danos que se

podem bilidade

considerar

de

menos graves

restauração

sob o aspecto da possi-

que os causados pelo

fogo ou

pela água.

de notar-se, outrossim, que os restauradores têm de sofreram dois ou lidar muitas vêzes, com documentos que bichados estejam papéis que mais tipos de dano. É comum Velhos pergaumidade. também empastados pela ação da

É

Alguns arquivos de cidades europeias durante a última conflagração.

(5) .gidos

77

foram

dui-aim-iile

n


minhos, cuja tinta era corrosiva,

Resultado

a visita das traças.

podem também

comum

ter recebido

dos incêndios é que,

acabam êles inutilizados de todo pela ação da água empregada para dar combate semi-inutilizados os códices pelo foge,

às chamaE.

Após separadas

as

folhas

de

um

códice,

o serviço se-

guinte do restaurador é a limpeza de fungos, papirófagos, pó e manchas.

O

pó é facilmente afastado mediante

cova-pincel, de

que

pêlos longos,

encontrarem

se

devem

bem

Os

macios.

uma

es-

papirófagos

estar mortos pela desinfecção

submeteu o volume, e são afastados pela mesma escova-pincel. Os fungos já representam trabalho prévia a que

se

maior, podendo-se empregar pano íimido

em

água e

álcool,

desde que se verifique ser a tinta suficientemente fixa para resistir

ao processo sem

esfregar

com

E

crita.

manchar-se ou

Nunca

descorar.

força o pano, para não dilacerar a base da es-

esperar sempre a secagem desta, quer para nova

aplicação, quer

para continuar o

processo de

restauração,

porque sua resistência se encontra diminuída, quando úmida.

Com sentar, atacar.

relação às

o restaurador

manchas que o documento possa apreprecisa conhecê-las

Manchas provenientes da

bem

lor

Tentar

pode dar como resultado a remoção da própria

escrito, danificando-se

são

também de

o texto.

de as

diluição da tinta por absor-

ção de umidade são pràticamente irremovíveis. las

antes

Manchas

tirá-

tinta

do

causadas pelo bo-

remoção porque o penicillium (ou podem instalar no papel ou no per-

difícil

outros cogumelos que se

gaminho) invsde a própria contextura da base da

escrita.

Manchas de gordura, ácidos ou outras podem ser eliminadas com solventes, fazendo-se sempre uma experiência prévia,

num

canto de folha, a fim de verificar se o solvente não

irá

causar danos maiores.

Neste estágio da restauração era

comum

que os antigos

restauradores tentassem reavivar a tinta, quando muito apa-


gada.

Recorreu-se ao ácido

ao tanino, ao sulfeto e

gálico,

ao sulfidrato de amónio, ao sulfeto de potássio produtos químicos. Sempre, entretanto, com

e

outros

a

resultados efé-

meros ou danosos. Consequentemente, hoje já não se empregam tais produtos. Mesmo porque, com a descoberta da luz ultra-violeta, a leitura pode agora dade de nos valermos da química.

Separadas

uma

as

o

delas,

folhas

limpa

e

passo seguinte

é o

ser feita

pria

A

restauração.

espátula

necessi-

convenientemente alisamento das

Qualquer dobra ou rugosidade pode não só tura subsequente à restauração

sem

como

criar

auxilia

cada

mesmas.

dificultar a

grandemente no

viço de se desfazerem as dobras; as rugas

podem

por simples pressão ou mediante

umidecimento.

A

próxima

ligeiro

sequência do processo

lei-

embaraços à próser-

ser alisadas

de restauração

é o

emparedamento das folhas. Dá-se êsse nome à colocação do documento entre duas folhas de papel transparente, ou entre duas las

telas finíssimas, de sêda

ou algodão.

Na Europa

as te-

de sêda parece terem a preferência dos restauradores;

entre nós prefere-se o papel transparente e o de uso mais

generalizado é o chamado papel

Tomando duas pincela com a cola que vão

ligar-se ao

cristal.

folhas de papel cristal, o restaurador as especial

de restauração pela

documento.

qual recebe

uma

Isto faz

com

Êste é então colocado entre

as duas folhas, sendo o conjunto submetido a

das.

face

uma

prensa na

pressão de aproximadamente duas tonela-

com que

bordas, ficando apenas

todo o excesso de cola se escape pelas

uma

ínfima película, bastante entre-

tanto para manter a adesão perfeita.

Emparedado

o documento e eliminada a cola excedente,

é aquele pôsto a secar, sol,

zir

ou o calor

artificial

pendurado

varais à sombra. a tinta

O

ou produ-

Após sêco deve o documento voltar à nela permanecer por 24 a 48 horas. Esta segunda

rugas no papel.

prensa e

em

poderiam descorar

79


prensagem, que pode ser rados, final,

feita

de vários documentos restau-

em conjunto, tem como finalidade dar o alisamento de modo que o papel, posteriormente, não venha a criar

ondulações ou rugosidades devidas à diferente contração das

camadas de que passou a

três

Só após

que

isso é

se

ser constituído.

podem submeter

os

documentos

aos serviços complementares, mais próprios da arte da en-

cadernação que da do restaurador: recorte das bordas, costura,

montagem sob

pelão,

a forma de volume, junção de capa (pa-

pano ou couro),

etc.

Cabe aqui lembrar que o emparedamento pel é o mais simples e barato de todos.

grande inconveniente:

documento com a

dificulta,

Mas

com

pa-

apresenta

um

feito

posteriormente, a leitura do

luz ultra-violeta.

Por êsse motivo, experimenta-se agora o emparedamen-

com lâminas de acetato de celulose. Êste processo já vem sendo usado nos Estados Unidos e, entre nós, na Biblio-

to

teca Nacional.

Apresenta

posterior leitura

com

por traças. lho especial

método as

Mas tem

as vantagens

de não

a luz ultra-violeta e de

os defeitos de necessitar de

— o laminador — para sua

impedir a

não ser atacado

um

apare-

aplicação; de ser

um

menos por enquanto; e de se arranharem lâminas de acetato com o uso, podendo mesmo chegar a caro, pelo

ficar foscas

com

o atrito constante

Razões

a leitura.

por que o

— dêsse modo

Arquivo do

impedindo

Estado de

São

Nos Estados Unidos enemparedamento experimental o com "ny-

Paulo ainda hesita na sua adoção. contra-se

em

fase

lon".

Resumindo, a restauração de

um documento

deve pas-

documentos

estiverem

sar pelas seguintes fases: 1

— Desinfecção (quando — Separação das — Limpeza. — 80 —

os

infestados). 2

3

folhas.


4

Recomposição (trechos rasgados, corroídos pela

tinta, etc).

— —

5

6

Alisamento (dobras e rugas).

Emparedamento (papel

cristal, tela

sêda ou

de

algodão). 7

8

9 10

— — — —

Prensagem úmida.

Secagem

natural.

Prensagem sêca (24 a 48 horas). Trabalhos complementares (serviço de encader-

nador).

(Evidentemente, usando-se

jninas de acetato de celulose, omitem-se as fases

A

titulo

com

o emparedamento 7,

lá-

8 e 9).

de curiosidade, damos aqui a fórmula de cola

atualmente usada pelo serviço de restauração do Departa-

mento do Arquivo do Estado de São Paulo:

COLA PARA RESTAURAÇÃO (Receita

que

nos

foi

fornecida

pelo Sr. José Rubi, restaurador de

documentos do Arquivo)

1 kg.

800

de farinha de de

grs.

Água

azedo

para formar

q.s.

A frio e

trigo

polvilho,

preferivelmente

um mingau

ralo

água é misturada à farinha

e

para evitar a formação de grumos. até transformar o todo sistência

pois de

modo

ao polvilho a

aos poucos, sendo necessário mexer sempre

num mingau

Cozer depois grosso (con-

aproximada de cola de sapateiro).

frio,

juntar mais água,

mexendo sempre, de mingau ralo. Após

a voltar à consistência de

81

De-


isso,

acrescentar

(Pedra hume)

colher das de sopa de Alúmen.

1

em pó

e 4 colheres das de sopa

da

seguinte solução:

Álcool 42°

800 gramas

Cânfora

(50 gramas app.)

4 tabletes

Formol

30 gramas

Mexer bem. A

cola estará então pronta para

ser usada.

Pincelá-la no papel cristal (e não no-

documento

a

Após coladas as do documento, levar à prensa para que o excesso seja ser

restaurado).

duas folhas de papel

expelido.

Retirar imediatamente após, colocando

as folhas a secar ao esta

cristal aos dois lados

ar.

Estufas não convém para

enrugar o

perigo de

secagem, pelo

papel..

o tempo

Após sêco

(dois ou três dias depois, se não estiver úmido), prensar novamente deixando

na prensa por 24 a 48 horas. Observações:

1.

A

cola feita só de polvilho

não "corre" bem sobre o papel.

O

trigo

facilita

o

es-

parzimento dela. 2.

O alúmen adicionado à cola tem duas vantagens: evita a rápida deterioração da mes-

ma, permitindo o seu uso até quatro

seu

ou mais dias após e dá maior

preparo;

consistência à massa. 3.

A

solução

álcool-cânfora-

formol tem propriedades '

82

seticidas,

sem

alterar

in-

a co-


loração

do

formol,

além

O

documento. de

suas pro-

priedades mumificantes empresta maior tensão à cola,

depois de sêca; o documen-

com

to restaurado

molada

passa

a

cola for-

uma

ter

aparência de pergaminho.

Essa

mesma

cionada de

solução, se adi-

um

quarto

do

seu pêso de gasolina branca serve

também para

lamento

em volumes

dos por insetos.

83

o pince-

ataca-



VII

DIFICULDADES DA LEITURA PALEOGRÁFICA

O

em

iniciante

paleografia jamais calcula quais e quan-

tas dificuldades se lhe

oporão na leitura paleográfica e que

terá de vencer para boa interpretação dos documentos.

Deixaremos de fazer considerações a respeito de o paleógrafo precisar conhecer a língua na qual está o documen-

vasado porquanto

to

remos à questão soal:

onde

quis dizer

um

é

isso

primário.

interpretativa, por ser

Também um fator

não aludiquase pes-

historiador de boa fé entende que o escriba

uma

coisa, outro historiador,

lhor das intenções, analisando a frase de

também com a memodo diverso, pode

chegar a conclusões completamente opostas. Assim, pois, deixando de lado êsses dois tópicos ineren-

vejamos quais as outras dificulda-

tes à leitura paleográfica,

des

com

as quais

1

À

tem de

se

haver o paleógrafo.

í

base da escrita

2

xn 0)

-a

3

3o

4 5

Q 1

— — — —

A

tmta

C

elas:

qualidade

J [

u

São

estado

qualidade

J ,

estado I

Ao

À

vocabulário, grafia e abreviaturas usados

caligrafia

Às tentativas de adulteração ou

falsificação

Dificuldades referentes à base da escrita.

a) Qualidade da base qual se escreve tem qualidades absorespalha fazendo com que as letras se fun-

Quando o papel no ventes, a tinta se

85


dam umas

às outras.

não só pode

Isto

dificultar a

leitura

mas, por vêzes, impossibilitá-la por completo.

Há também

alguns tipos de papel de lenta absorvência.

A

umidade atmosférica vai diluindo a tinta já sêca, fazendo com que esta se vá esparramando ao redor dos antigos tra-

Embora

ços.

êste processo leve dezenas,

vesse originalmente sido feita

ou

mesmo que

nas de anos, o resultado final é o

em

mesmo

cente-

se a escrita

ti-

papel de absorvência ime-

diata.

Falamos aqui apenas em papel porque o pergaminho,

como

se sabe, possui muitíssimo

de absorção da

menor ou nula capacidade

tinta.

b) Estado da base

Já vimos, ao tratar da restauração, que os documentos

podem

ser vítimas de

claro está irão

que

um

apresentar a

E

vários tipos diferentes de danos.

papel ou

mesma

um

pergaminho danificados não

facilidade de

leitura

que outros,

incólumes.

Antes de chegar às mãos do paleógrafo é de conveniên-

que os códices passem pelos cuidados do restaurador, o

cia

qual de plano eliminará as dificuldades que o leitor teria

com

a desinfecção, o descolamento de folhas grudadas e

limpeza

(6).

Deixando de

parte,

pois,

os

rentes a êsses trabalhos prévios, o paleógrafo se

com documentos que

problemas

a

ine-

tem de haver-

se apresentam:

Tarefas adicionais gue o paleógrafo terá a seu cargo, se não (6) contar com os serviços de nm restaurador. De qualquer modo, entretanto a leitura dos originais se deve processar preferivelmente antes de emparedados os documentos em papel cristal ou tela: os traços serão sempre mais visíveis e não haverá embaraços à leitura com luz ultra violeta.

86


1

incompletos corroídos por papirófagos ou pela tinta

ii

manchados por água ou ácidos

iii

i)

Quando

o documento está incompleto por se ha-

ver rasgado, queimado, comido de ratos ou

dano causado não tem conserto

didas, o

ao

leitor fazer

ii)

Os

com

folhas per-

Só resta

possível.

conjecturas a respeito dos trechos faltantes. papéis, pergaminhos

ou

corroídos por

livros

papirófagos poderiam entrar no tópico anterior pois não pas-

sam,

em

Mas

o

última análise, de documentos incompletos também.

dano

produzido pelos

aparte

em

mente

a leitura.

virtude de,

diversamente.

nem

insetos

merece

tratamento

sempre, impossibilitar completa-

Isso porque cada espécie ataca os códices

As

por exemplo, atacam apenas as

baratas,

bordas do papel ou pergaminho, danificando assim somente as

margens.

códices, de

queno

que perfuram transversalmente os

traças

modo que em cada

furo.

página

um

apenas

fica

pe-

Outras corroem longitudinalmente, fazendo ca-

minhamentos em duas ou se a traça atingiu

com seu daninho

pequenos trechos de uma ou

Mas

se

labor

uma

outra palavra, é

vêzes, completar a frase pelo sentido

provável continuidade.

Assim, pois.

folhas visinhas.

três

uma

fagos atacou o documento (vide

fig.

só letra

ou

possível, às

ou pela sua natural e

inteira colónia

de papiró-

uma

29), ou se

larva de-

cidiu fazer seu ninho principal justamente na página que se

encontre

em

estudo, aí então frases

inteiras

e o paleógrafo pouco conseguirá obter

com

desapareceram as palavras re-

manescentes.

A

tinta corrosiva corta a

linhas traçadas pela pena

papel ou o pergaminho possível decifração.

em

Êste é

base da escrita ao longo das fig. 22), transformando o

(vide

autêntica renda, de

um

caso

em

difícil

ou im-

que o restaurador

tem de antecipar-se ao paleógrafo, buscando recompor o documento a fim de que a leitura seja possível.

87


iii)

As manchas de água apenas dificultam

a leitura

paleográfica quando a tinta não chegou a ser diluída; se isto

aconteceu, entretanto, e os arredores das letras se transfor-

maram em

borrões, a leitura de difícil passou a impossível.

Também

não se conseguem

documentos manchados

ler

por ácidos que tenham sido naqueles empregados

de operar

a revivescência das

Como

letras.

mancha

própria base da escrita, deixando

larga

contornos

inutilizado

mesmo

leógrafo:

ácido.

aí,

mesmo após Mas então se

o

escura,

de

documento.

uma segunda

tentativa

a mancha, desde que se use cria

um

impasse para o pa-

qual o ácido que o pesquisador anterior teria usa-

Além

do?

Ficou,

autores, pode-se fazer

de reavivamento, o

em

Mas, posteriormente, ataca a

possibilitando então a leitura.

Segundo alguns

fito

vimos

momentaneamente,

capítulo anterior, o ácido reaviva a tinta

irregulares.

com o

de compreender que êste processo empregável apenas quando o documento ainda não ti-

seria

disso, é

fácil

vesse sido restaurado.

2

Dificuldades referentes à

tirita.

a) Qualidade da tinta

As

tintas

Quando

podem

tintas adicionadas

da base da

ser corrosivas,

corrosivas

caso,

de vitríolo

escrita

expusemos linhas

laváveis e descoráveis.

por

exemplo, das

dão

em

antigas

resultado o corte

ao longo do tracejado das

letras,

como

atrás.

Consideram-se laváveis as tintas que, por não possuírem

um

elemento fixador, são fàcilmente solúveis, mesmo depois de sêcas. Sôbre estas tintas a simples umidade atmosférica

pode atuar dissolvendo-as, com dois resultados vêzes

concomitantes:

muito absorvente, a

1.°

quando

a

possíveis, às

base da

escrita é

tinta se espalha ao redor dos traços, pro-

duzindo manchas que dificultarão a posterior

88

leitura;


com

o tempo, a tinta se vai transferindo de

outra que lhe esteja

em

contacto

e,

uma

página para

se esta última já possue

algo escrito, ficam os dois textos superpostos, o que chega a impossibilitar a compreensão das frases.

Sôbre as tintas laváveis também podem atuar os banhos

Documentos guardados em porões

acidentais ou provocados.

podem

receber a água das lavagens do soalho; ou,

quando dispostos de

em

são ocasionalmente

estantes,

do

inesperadas goteiras

teto.

O

mesmo vítimas até

papel conseguirá

certo ponto resistir ao empastamento e o pergaminho resistir

ao môfo. largas

Mas

a tinta, se solúvel, dissolver-se-á produzindo

manchas esparramadas pela

superfície das várias pá-

ginas atingidas pela água.

Não

com

confundir as tintas descoráveis

As descoráveis são

veis.

fixas,

isto é,

as tintas lavá-

não se diluem

facil-

mente com a umidade; mas apresentam a possibilidade de perder a côr com o tempo ou sob a ação da luz. Casos ha

em

que o descoramento

é completo, apagando-se de todo as

letras.

b) Estado da

As tintas produzem os

tinta

(qualidade)

corrosivas, laváveis e descoráveis

corroídos, lavados

escritos

e descorados

(es-

tado).

que luta o paleóJá temos noção das dificuldaes com Fácil comtinta. pela corroídos grafo em face dos textos o seu trabalho não se verá

preender

também que

plificado

quando o documento tenha

tido sua

nada sim-

tinta

lavada

(ou manchada) ou descorada.

É

no caso das

que tem aplicação, atualda luz ultra-violeta, a que nos

tintas descoradas

mente, a leitura com o auxílio

trabalho. temos referido várias vêzes em capítulos dêste

que maneira

agem

os

ráios

ultra-violetas para

leitura?

89

De

facilitar

a


Mé-

Constituintes essenciais das tintas usadas na Idade dia (e

mesmo

galha (7).

das tintas modernas) eram o ferro e a noz de

Todos

métodos usados com a finalidade de

os

tornar legivel a escrita apagada baseiam-se na sobrevivência

de moléculas de ferro ou do composto ferruginoso nas ca-

madas

superficiais

Os reagentes

do papel ou pergaminho.

quimicos tornavam visíveis os traços apagados, exatamente por se combinarem

com o

Sabemos en-

ferro remanescente.

vêm sendo

tretanto que os processos químicos

virtude de, posteriormente ao seu uso,

banidos

poderem

em

inutilizar os

documentos. recentemente que os ráios ultra-violetas emprêgo de uma lâmpada de vapor de mercúrio) possuem a particularidade de, embora invisíveis, torDescobriu-se

(obtidos

com

o

nar fluorescentes certas substâncias orgânicas, entre as quais

Compostos metálicos, porém,

o papel e o pergaminho. ficultam

Dêsse

essa fluorescência.

modo, numa

curecida, dirigindo-se ráios ultra-violetas sôbre to

que tenha traços de

escrita

com

de papel ou pergaminho adquirirá exceto nos pontos

em que houve

os traços escuros contrastando

uma

Ficam então

o fundo fluorescente, senluz

comum,

fluorescem os documentos nos quais se tenham em-

pregado produtos químicos para revivescência das

muito

documen-

brancura brilhante,

do dêsse modo possível a leitura do texto que, à se apresentava completamente apagado.

Não

di-

obs-

tinta ferro-gálica, a fôlha

algo escrito.

com

um

sala

especialmente

quando o

líquido usado

foi

letras

o

e

ácido

gálico.

É inútil o uso da lâmpada ultra-violeta, também, quando o documento tenha sido lavado, acidental ou intencional-

Chama-se noz de galha a urna espécie de vesícula ou engros(7) samento que se produz na casca de certas árvores, ciuando atacadas por insetos. Por. processos especiais, da noz de galha se extraem o ácido gálico e o ácido tânico, componentes de muitas tintas.

90

^


mente.

A

água terá

feito

esparramar-se a

tinta, distribuindo

portanto as partículas de ferro por tôda a superfície da base

da

escrita.

rescência,

Aplicando-se a luz ultra-violeta não haverá fluo-

donde o enxergar-se unicamente uma

cha de bordos

Aparelho de

larga

man-

irregulares.

luz ultra-violeta, usado na leitura de

cuja tinta esteja apagada (fig.

(fig.

32)

33)

documentos


Processo auxiliar na leitura de documentos é a fotografia

dos mesmos sob a ação de ráios infra-vermelhos.

Êstes ráios

têm poder de penetração,

fotográfica

facilitando

à câmara

fixação daquilo que existe na sub-superfície do papel ou

a

do pergaminho.

suponha que a

se

É

processo mais aplicável, todavia, quando

escrita foi casual

terada por tinta, pigmento ou

A

papel.

ou intencionalmente

mesmo uma

infra-vermelha

fotografia à luz

fina

é,

obli-

camada de

assim, preciosa

colaboradora do paleógrafo, quando êste busca conhecer o texto verídico dos documentos.

Os

fenómenos lio

3

não produzem

ráios infra-vermelhos são invisíveis e visíveis a olho nu.

Assim, a leitura

com

o auxí-

dêles só é possível através as fotografias obtidas..

Dificuldades referentes ao vocabulário, grafia e abreviaturas usados.

Ao

podem

paleógrafo não

cabulário empregado na data

exame.

E também

não

nesse tempo,

bem como

as ignorar, se

não

ficilmente

tiver

faltar

em que

conhecimentos do vofoi escrito

pode desconhecer

a

as abreviaturas então

o códice sob grafia

usual

comuns.

noções da terminologia da época,

Se di-

entenderá o documento, por mais clara e firme

que se apresente a

Apenas

caligrafia.

à guisa de ilustração,

plos de vocábulos

vejamos uns poucos exem-

usados entre nós, na época da coloniza-

ção (8):

Todos os exemplos dêste- capitulo serão tirados de (8) nacionais, não por querermos insistir na ideia da criação de

documentos

uma

paleografia brasileira, mas porque nos parece mais útil, tendo em vista a formação de historiógrafos consulentes assíduos de nossos arquivos.

92


Alfaia (subst.)

Móvel ou ornato de

— Guarnições

Alizares (subst. pl.) tas e janelas.

Arrátel

(subst.)

Medida de

casa.

de madeira nas por-

pèso, equivalente a

16

onças.

Arratens ou Arráteis

Baeta ou Baieta

de Arrátel).

(pl.

(subst.)

— Tecido

grosso, de

— Espécie de — Tecido de algodão Bombazina — Antigo calçado de Chapim — Cêrca, tapada. Faixo — Médico. Físico — O mesmo que Fogão ou Fogões Earregana (subst.)

lã.

tecido.

(subst.)

e linho.

sola alta.

(subst.)

(subst.)

(subst.)

(subst.)

fogo

ou

íogos.

No Fogo ou Fogos (subst.) ("Na vila há 50 fogos").

sentido de casa habitada,

família

— No (Escravo de — Pano de Liage ou Liagem — Mandador ou mandante. Mãdor — Moeda no valor de 320 Pataca — Vasilha de barro para conservar Perecleira vinho da — Vasilha para Pichel — de Tecido Serguilha — Vasilha de prata com fundo Tamboladeira sentido

Forro (adj.)

forro).

livre

linho grosseiro.

(subst.)

(subst.)

réis.

(subst.)

(subst.)

azeitonas.

tirar

(subst.)

(subst.)

pipa.

lã.

(subst.)

de

vidro,

em

que

se

depositavam vinho

e outras bebidas.

prmAlguns dêsses termos são ainda hoje conhecidos, em ainda cipalmente no interior. Nossos caipiras falam A algodão. baeta, denominando assim um tecido grosso, de muito pataca desapareceu do vocabulário atual, mas é ainda centavos. cruzeiros e de extenso o uso do valor réis, em vez

Com palavras lugares

certas relação à grafia, era hábito escreverem-se h nos com duplos p ou t, com y em vez de i, com

menos

esperados.

Ex.:

93


Cappa Foy

(capa)

-

(foi)

He, hera

(é,

Hir

(ir)

era)

Pay, paj

(pai)

Phthysica

(tísica)

Te,

té,

the,

thé,

athe,

athé,

atthé

(até)

Sappato

(sapato)

Sette

(sete)

Thio

(tio)

Além tência de

com

dêsse hábito curioso, devido por certo à não exis-

normas ortográficas

fixas,

tem o paleógrafo de

lutar

as variações e êrros gráficos dos escribas e copistas

do

tempo. Comuníssimas nos primeiros séculos de vida do nosso país,

por exemplo, são as grafias seguintes:

amarão

(amaram)

aSsynei, assynei, asigney

(assinei)

certoens

(sertões)

cessenta, ceSenta, ce senta

(sessenta)

confirmassam

(confirmação)

desfarsse

(disfarce)

dino

(digno)

exegar

(e chegar)

expediçoins

(expedições)

fassa

(faça)

forão

(foram)

lutaçam

(lotação)

onrroza

(honrosa)

pessuio

(possuo)

porpagação, porpagassam

(propagação)

sumiterio

(cemitério)

tãcbem

(também)

94


.

.

vaqua

(vaca)

203 dagosto de 16002

(23 de agosto de 1602)

Passando às abreviaturas, não são menores as dificuldades que se apresentam ao paleógrafo. Há abreviaturas muito conhecidas, e usadas até

hoje,

como

as seguintes:

A. D.

(Annus Domini)

D.

(Dom; fem Dona) (Deo Gratias) .

D.G. Novr°, IXbro ou 9bro

(novembro)

PP.

(papa)

:

SS.

(santíssimo)

V.G.

(Verbi gratia)

Xpel

(Christe Eleison)

Xpt., Xpto.

(Cristo)

Mas, a par dessas abreviaturas ainda comuns atualmente,

dezenas de outras, hoje desconhecidas, ou, pelo menos,

desusadas, existem nos documentos do Brasil Colónia.

jamos algumas

delas:

Alz'

(Alvares)

Cappes

(capitães)

Conffro

(conferido)

(dito)

ecclezcas

(eclesiásticas)

fl-egas

(freguesias)

Frz'

(Fernandes)

Giz

(Gonçalves)

GR.

(Geraldo)

Irmo

(Jerónimo)

itra

.

lica,

(inteiramente)

mte

(licença)

lissa

(Lisboa)

Lx.

95

Ve-


.

.

.

mce

(mercê)

mss

(manuscritos)

m'

(muito)

nesr"o

(necessário)

Off«

(oficiais)

P.°

(Pedro)

Pl-a

(Pereira)

q

Ds

.

(que Deus guarde)

Rego

Reg",

(registro)

Roiz

(Rodrigues)

S Payo

(Sampaio)

.

va a

.

,

fl.

Va

(vila)

30 Vo. do Lo.2

Como

se

vê,

a

(a folhas 30 verso do livro 2)

paleografia é

uma

especialidade

além de paciência, exige esforço para a compreensão de

que, cer-

tos textos.

Porque, se o papel se apresenta mal conservado

ou bichado

e a tinta ilegível, ainda

lavras

temos de arcar com pa-

absurdas ou

desconhecidas, grafias

abreviaturas in-

comuns.

Razão por

gem com

relação a trechos da nossa história, exclusivamente

que,

às vezes, os pesquisadores diver-

por se verem face a algum documento de

dificil,

dúbia ou

impossível interpretação.

4

Dificuldades referentes à caligrafia usada.

As dificuldades encontradas pelo que tange à

caligrafia

dizem respeito

a) Falta de pingos nos

leitor

a:

ii

b) Falta de pontuação c)

Palavras ligadas (escrita encadeada)

d) Falta de extensão do documento

96

de códices no


e) Letras que se confundem f)

Tamanho

a)

A

das letras

de

falta

pingos nos ii dificulta a leitura de dovirtude de poder confundir-se essa letra com o e, com o c ou ainda com o r. Tendo-se à frente um manuscrito cujo autor foi vezeiro em deixar o i sem pingo, ire-

em

cumentos

mos por

certo tomar, mais de

h por

versa, e o

É comum,

b)

a

ou

//,

em

vez, o

m

por

ou

ni,

nos originais antigos, a falta ou

total ausência de pontuação.

ceber que,

uma

vice-

êste por aquêle.

Nessas condições, é

mesmo

fácil per-

muitos casos, as frases podem prestar-se a

in-

terpretações diversas, fornecendo ao paleógrafo alguns cabelos brancos, ou arrancando-lh'os aos poucos.

Complicação adicional

c)

ou

seja, escrita feita

muito comum.

com

oferece a escrita

exemplos simples como:

ésstarse,

medeu, deque,

os casos

em que

encadeada,

poreste, e outros.

Ovale, acasa,

Mas

há também

o escriba não levanta a pena do papel a

E

não

ser para molhá-la

da:

"AnnodonascimentodeNossoSenhorJesusChristo

de

fig.

também

as palavras ligadas, coisa

no

tinteiro.

a frase fica tôda liga.

.

."

(Vi-

20).

A

d)

falta

de extensão dos documentos é

também

difi-

culdade que se apresenta ao paleógrafo porque, quando a

quantidade de frases é pequena, o decifrador tem menor nú-

mero de

possibilidades de comparar letras duvidosas.

escriba costuma escrever a perna do a

essa letra pode confundir-se então,

em

o.

assegurar-se

preciso observar,

partir

da pauta para os oo e os aa

melhor de

sua interpretação.

tipo de r minúsculo, manuscrito, semelhante a

Confunde-se ora com o lido pala

Se o

pouco levantada,

várias palavras semelhantes, qual o afastamento

que o escriba deu a assim,

com um

um Ê

ou

sala.

p, ora

com o

s.

uma

e,

Há um bengala.

Rala poderia ser

Se o documento fôr suficientemente lon-

97


go,

entretanto, o

o p e o

r,

em

serão repetidos

s

modo

palavras inconfundíveis, desse

qual o modelo seguido pelo escriba

inúmeras

indicando ao decifrador

em

cada

uma

daquelas

letras.

Os exemplos seriam muitos. Diremos apenas que, se o documento fôr curto (um recibo ou uma nota, por exemplo), a possibilidade de comparação de letras fica afastada, dificultando a leitura. Letras existem, na caligrafia

e)

que

apresentam

semelhança muito

m

creva, por exemplo, o

e o n

Dêsse modo. o n

superior.

com in ou ni, a que se também comum a feitura de I então o

hábito de,

I

e o T.

em 90%

Há quem

grande.

igual a

um

u e o

m

es-

se pa-

esquecesse de pingar o

É

/.

e J maiúsculos, semelhantes. Certas pessoas possuem o estranho

dos casos, esquecer-se de cortar o

zendo-o confundir-se

Se

de cada pessoa,

sem encurvar o traço na parte

fica

recerá

Ou

comum

com

o

t,

fa-

/.

acontece nos manuscritos modernos, atuais, que

isso

dizer dos antigos, feitos por escribas diversos, nas mais di-

versas condições?

Testamentos ditados aos escreventes das

entradas, verbi gratia,

mesmo (la

eram vertidos para o papel no sertam

e depois trazidos para a família pelos

Pode-se

bandeira.

exigir,

num

remanescentes

caso desses,

uma

caligra-

fia artística?

Cada escrevente poderá apresentar letras

que

comuns

se

confundem.

Entretanto,

várias e as

diferentes

mais

confusões

são:

p e h (quando a primeira haste do h abaixo da pauta e o laço superior

sando

fôsse

feita

estivesse

pas-

pouco

aberto) f

e s

p p assim:

e

(na escrita antiga o

(porque

s

f

certos

s

era escrito assim:

escrivães

)

98

costuniam

/ grafar

)

o


(um p de perna

e c

p

com um

m

meio abertc

c

curta

(

podia confundir-se

)

e ne (no caso de o escriba não fazer curvas as par-

m)

do

tes superiores

n e re (idem, com relação ao n) u e re

p

e

f

h e

m

(quando apareçam

//

ou

e ni

sem pingo)

ii

(idem)

in

nn e mi ou im (idem)

per ^

la:

(no caso

do

r

feito

semelhante

uma benga-

a

)

Vejamos apenas alguns exemplos de

confusão, para

me-

lhor ilustrar:

uma mesa

"Possuo Pode e

com

ser, aí,

mesa dc ccntni ou dc

(sem pingo)

i

çjf'..'^!^^

^'S^

ir

;

pinho.

Confusões de

c

com f:

com

na

"Ele

mão da moça.

.

."

sequencia da frase ("... uma certa a interpretação exala era a seque quantia em dinheiro") verificou-se e li (sem pingo) com h. pingo) (sem // com h de gunda. Confusões

Pode

ser índia

ou

tinha.

l.'ela

"Cândido Aparentemente Cândido Duval. são de

t

e

7',

Parece ser

"até

a

com

com

íx.

(9)

Vj

e

era Candido

dr

Confu-

lai.

y-t^-i-^^Ctir

"Até a

de o

Mas

além do encadeamento dctal (9).

<?

Exemplo que

vista.

Mas

é

"até

a

ocslc"

se pode ver à pág. 42 v.

de Terras de Jaboticabal, existente no

do livro

99

(lc'

_Kegislros

Arquivo do Estado de Sao

Vide pág. 83, penidtima linha, do livro (10) de Terras (Arquivo do Estado de São Paulo).

Confusões

(10).

140

dos

1

aulo.

r^egistros.


"O senhor Confusão de

Pinho ou Pintu.

'Tem como

A brejo.

frase quase

Ligação

f)

O

e

(11).

/;

limite

atheobujo

incompreensível

indevida

confusão de rc com

/

ii

de palavras,

falta

tamanho das

reduzidas dimensões.

a pena, ao traçar as

quando

apenas

formes, de dificílima

oíé

:

o

primeiro

e,

também

tra-

apresentam de

do

a solução

mão de uma

lupa.

é apenas aparente pois a ampliação

tornar legível a escrita.

letras

um

em

desenho

uma

Isso

porque

proporções diminutas, terá

umas das

outras.

A

es-

de ondulações quase uni-

interpretação.

papel absorvente, ou

Se a

isso

tinta corrosiva,

sibilidade absoluta de leitura paleográfica

se

Dir-se-á que se lance

grafado as linhas muito aproximadas

5

lida

Escribas houve que faziam caligrafia

ínfimo tamanho.

Mas essa simplicidade nem sempre é capaz de

um

ser

acento no

manuscritas pode

letras

problema é simples: basta que

crita se torna

deve

(12).

zer dificuldades para o paleógrafo,

minúscula, de

de

acrescermos

haverá impos-

do trecho.

Dificuldades referentes às tentativas de adulteração ou falsificação.

Antes de mais nada, convém lembrar que adulteração e falsificação não se

confundem na terminologia

técnica.

Do-

Vide pág. 68 v., linha 8, do livro 141 dos Registros de Ter(11) (Arquivo do Estado de São Paulo). Vide pág. 106 v. do-livro 156 dos Registros' de Terras (Ar(12) quivo do Estado de São Paulo). ras

100


cumento adulterado

é aquele que, verdadeiro

seu contexto modificado de preensão, cu

ab

teve

initio,

com-

a ficar alterada a sua

então exagerados ou

Documentos

numéricos.

modo

dados

reduzidos os seus

falsificados são os forjados, os ine-

xistentes a princípio e que foram criados inteiramente pelo

na

interessado

burla.

Exemplifiquemos

um

Certa pessoa passa a outra

O

mil cruzeiros.

O

recibo da quantia de cinco

um

recibo do valor de cincoenta

recibo era verdadeiro; o acréscimo é que

Trata-se de

é falso.

esclarecer.

portador do recibo adiciona o final enta

ao cinco, ficando então com mil cruzeiros.

para

um documento

Um

adulterado.

indivíduo consegue, de algum modo, a assinatura de soa qualquer

Nesse espaço

rior.

resse

com algum espaço em branco na

uma

declaração de venda,

e teremos aí

está que,

num

escreve então

um documento

um um

texto recibo,

outro

uma

que lhe

um

inte-

vale, etc.

Claro

forjado ou falsificado.

caso dêsses, a falsificação pode

pes-

parte supe-

ir

até à assi-

natura inclusive.

Quais as adulterações e

falsificações

que podem

interes-

sar ao paleógrafo?

Podemos responder que qualquer documento

.

antigo,

do

qual possa resultar algum valor, é passível de adulteração ou falsificação pelos

que pretendem locupletar-se com o

Os colecionadores de autógrafos pagam dinheiro pela assinatura de

brindo

um

sificadores la

como

Mas

um

No

em

bom

Desco-

branco, os

fal-

imitar a assinatura desejada, para vende-

autógrafo verdadeiro. as

adulterações e

falsificações

aquelas feitas sôbre papéis real quais

vezes

antigo personagem.

papel amarelado pelo tempo,

tentam

às

alheio.

podem

resultar alterações

substanciais

caso particular de documentos

_

101

mais comuns são

ou falsamente antigos e das

em

heranças.

referentes a terras, a

de-


.

nominação

mas

vulgar,

conhecida, dada

suficientemente

ao documento forjado, é "grilo" (13).

Porque

as tentativas de adulteração

ou

falsificação cons-

tituem dificuldades à leitura paleográfica?

Porque, sabendo

o paleógrafo

que de

um documento

por êle interpretado podem derivar resultados económicos,

compete-lhe

pode

em que

não prejudicar

nin-

mudança de pontuação

exame

enviar a êle

Mas

é evidente

pericial

ração no papel ou na

modo

que o paleógrafo não pode

a anotar

tinta, e

Pre-

lê.

de comparar

certas noções de grafistica a fim

ter

compete à

todos os documentos que

boa acuidade visual para

letras,

nos documentos

das burlas

constatação

técnica policial.

de

alerta para

a simples

alterar a idéia.

A

cisa

sempre

estar

Casos há

guém.

verificar diferenças

de colo-

grande poder de observação

pormenores estranhos, que passariam des-

percebidos a pessoas menos avisadas.

Desde que razoável

desconfiança de fraude se levante no espírito do paleógrafo,

deverá êle enviar o documento duvidoso à repartição cial

poli-

competente.

Apenas para sos de

ilustrar,

podemos aqui lembrar alguns

fraude descobertos por

paleógrafos do

ca-

Arquivo do

Estado.

Em se que

certo livro de Registros de Terras

uma

das páginas se apresentava

cura que as outras. livro

Tendo surgido

a

um

(14) observoupouco mais es-

dúvida, enviou-se o

para a perícia técnica, descobrindo-se que aquela pá-

gina fôra rísticas

ali

enxertada.

Para que apresentasse as caracte-

de antiguidade, haviam-na exposto ao

sol.

Anos de-

Várias são as supostas origens da denominação "grilo". Em (13) nosso trabalho "A Paleografia e suas dificuldades" anotámos a que nos pareceu mais razoável. Livro de Registro de Terras do Brás (14) de São Paulo )

102

(Arquivo do Estado


pois,

porém, o queimado do

idade deram

em

resultado

reunido ao amarelido pela

sol

uma

côr mais escura que as das

demais páginas, descobrindo-se assim a

Noutra declaração de

falsidade.

terras:

"Tenho 8 léguas a partir da ponte até o morro do Tamhú e meu cunhado Julio Breve 5 léguas da ponte até o riacho Fundinho. Tenho 6 léguas para a direita deste terreno do

também

Julio

A

12 léguas à esquerda

do

paiol".

nal, entretanto,

uma

apenas

veitaram os herdeiros de

da pontuação

em

as letras,

lupa.

ros era recente,

origi-

acrescentando

O

um

ponto-e-vir-

paleógrafo desconfiara

virtude de o papel ser de lenta absorvência.

bem como

O

pontuação, haviam criado ao

a

mancha

redor pequena

com uma

ponto-e-

Constava no

virgula nesse lugar. Disso se apro-

Júlio,

gula entre as palavras terreno e do.

seu

um

jxjntuação correta na segunda frase seria

vírgula entre as palavras Julio e também.

Todas

(15).

diluída,

facilmente

observável

ponto-e-virgula adicionado pelos herdei-

não se tendo dado ainda a absorção de umi-

dade do ar e entranhamento no

papel.

Caso interessante foi o descoberto pelo restaurador de documentos do Arquivo do Estado. Restaurando um livro de sesmarias, emparedou tôdas

as folhas

em

papel

cristal

E

notou,

citada em capítulo anterior. com espanto, que a tinta de uma das folhas, combinando-se com algum dos elementos da cola, mudou completamente de

usando a cola por nós

côr.

não

De é,

preta, passou a

um

vermelho arroxeado.

normalmente, atacada pela

cola.

Mas

o

A

tinta

falsificador,

adipara dar-lhe a aparência de antiga, provavelmente lhe no processo cionara algum produto que veio a alterar-se

(15)

com

Os nomes

e

outros nomes, Justiça de São Paulo. creto,

dados são imaginários. i\las ([ue grande trahallio deu a

103


de

denunciando a

restauração, assim

falsidade.

bem

que, diga-se de passagem, havia sido muito

não fôra a restauração,

teria

Falsidade feita pois,

passado completamente

des-

percebida (16).

Também

curiosa foi

a adulteração efetuada

em

certo

códice cujas páginas se apresentavam não só amareladas pelo

A

tempo como também bichadas. ter

burla

foi

o paleógrafo observado que a escrita,

passara junto a

uma

perfuração de traça.

descoberta por

em

E

certo ponto,

a tinta

man-

chara as bordas do furo, prova de que o trecho fôra escrito

não quando a fôlha muito depois, após

se

encontrava ainda íntegra, mas sim

ter a traça

perfurado o papel.

Houve ainda um documento que, datado do primeiro XIX, parecia ter sido escrito com pena me-

quarto do século tálica.

Ora.

Como

se

penas metálicas só se vul-

sabe, as

garizaram entre nós pelos

fins

do século passado, fato que

o falsificador possivelmente ignorasse, ou de que se tivesse esquecido.

Pelo exposto no presente capítulo vê-se que a leitura paleográfica não depende apenas de prática no entendimento

dos garranchos feitos pelos antigos escribas.

Depende tam-

bém de conhecimentos variados, da posse de uma paciência beneditina, de uma espécie de capacidade de adivinhação em certos casos, de atenção minuciosa e constante, além de espirito

sempre

alerta

um

contra os forjadores de documentos.

Apenas como adendo a êste capítulo, convém lembrar ainda o caso da publicação dos documentos lidos, publicação esta feita quer por entidades governamentais quer por particulares.

de

Vide Livro 23 de Patentes (16) São Paulo J.

104

e

Sesmarias (Arquivo do Estada


É de todo vantajoso que a reprodução impressa traga todos as falhas e erros do original, deixando a interpretação ao cuidado dos historiógrafos. Tem isto o fim de que

evitar

o paleógrafo possa, através de sua interpretação, alterar conciente ou inconcientemente algum parágrafo.

Até há bem pouco, as divulgações do texto de códices antigos traziam apenas, nos trechos por qualquer razão ilegíveis,

apenas

uma Imha

pontilhada.

Ex.:

Auto de posse do Gov

desta

ral

Capitania e Minas do

em

17

Anno do Nascimento de Nos mil setecentos e

do mez de Junho do Villa de

ahy

Sam

sto

aos qu ditto anno, nesta

Paulo, Cabessa de

os Juizes

de

dias

mui nobre

Co

tando

Ord

Isto trazia certas dificuldades para os historiógrafos por-

quanto

se

viam

de conseguir

êles obrigados a

ir

ao Arquivo na esperança

o trecho pontilhado, supondo-o apenas apa-

ler

gando à repartição depositária do documento, encontrava-o

gando à repartinão

depositária do documento, encontrava-o

entretanto corroído

de traça,

queimado ou rasgado, o

que

afastava de vez as possibilidades de leitura.

Por outro apagados,

lado,

podem

os trechos

antigamente

ilegíveis

hoje ser lidos graças à luz ultra-violeta

por

ou

Em

através fotografias tomadas com ráios infra-vermelhos. casos excepcionais, de necessidade extrema, poderia tentarse,

mesmo, o uso de reavivantes químicos.

o antigo sistema de linhas pontilhadas não vinha correspondendo plenamente às finalidades, razão por

Assim,

pois,

105


.

:

que o Arquivo do Estado adotou, por nossa sugestão, as guintes convenções

Quando rasgado ou

se-

roído por papi-

rófagos.

Quando apagado pelo tempo ou por umidade.

Quando

(ilegível)

mas

visível,

incompreen-

sível.

Em

Quando

grifo

possível

sido

pada

Um

a leitura

com

do trecho só tenha o auxílio da lâm-

ultra-violeta.

texto antigo pode aparecer impresso, agora, da se-

guinte maneira:

Se a

V Ex .

lhe parecer conveniente ao Real Ser-

.

viSso de S.Mag."'% que se execute logo este projecto

sem mais demora, com

que a estaçaon seacha

Eu me

avi eira q' ainda

acho com muita couza prevenida

como

nunca eu poderey já

nda que

expuz a

V Ex .

(ilegível) d'011iveira

Isso simplificará o trabalho se suas

que é

dúvidas recaírem

inútil abalar-se

em

do historiógrafo porquanto,

de seu local de trabalho para

Arquivo: aquele trecho não

saberá

trecho pontilhado, já

existe,

ir

até o

por ter sido corroído ou

Já se sua dúvida se situar em período tracejado ou "ilegível", poderá tentar a leitura da frase apagada, ou ter rasgado.

esperanças de conseguir decifrar o garrancho incompreendi-

do pelo paleógrafo.

106


VIII

PALEOGRAFIA NO BRASIL Pelos fins

do século passado e inícios do atual existiam entre nós pequenos livros que traziam reproduções de manuscritos, e

que eram dados a

posamente, ler os

"O

aos discípulos das escolas

ler

Um

primárias de então.

desses livros se intitulava até, pomPaleógrafo". Quando o aluno conseguisse

manuscritos

ali reproduzidos, e de autoria de Pedro II, Caxias, Rio Branco, Alvares de Azevedo e outros, era consi-

derado "formado"

em

leitura.

E

óbvio porém que essa leitura não representava o que na verdade se pode intitular "paleografia". Tratava-se ape-

nas de

facilitar

ao aprendiz o entendimento de caligrafias

variadas, de documentos da época,

com vocabulário

e abre-

viaturas então correntes.

Data, entretanto, mais ou menos désse aparição dos

primeiros pesquisadores,

mesmo tempo

a lerem

a

diretamente

no original os documentos antigos com finalidade historiográfica. Apenas para citar dois exemplos de São Paulo, poderíamos lembrar os nomes do Dr. Antônio de Toledo Piza, diretor

do Arquivo do Estado de 1893

gável de cartapácios, e a

quem

a

1905, leitor infati-

deve a publicação de 45

se

volumes dos "Documentos Interessantes para a História e Costumes de S. Paulo"; e o Dr. Orville Derby, americano que se apaixonou pelo

Brasil a ponto de se naturalizar bra-

sileiro e fazer pesquisas sôbre as coisas nossas,

portantes trabalhos, terra

de sua

inclusive

Aos poucos,

um

deixando im-

caráter histórico,

sôbre

a

eleição.

os

historiógrafos

tando da necessidade da

de

de

nacionais se

leitura paleográfica.

vão capaci-

Os trabalhos

Afonso Taunay constituem enorme repositório de

fa-

tos dos primórdios da vida brasileira, evidenciando a colos-

107


sal

quantidade de documentos antigos que o seu autor teve

de compulsar. Washington Luiz se torna outro grande

leitor

de códices, a êle se devendo a iniciativa da publicação das

Atas da Câmara de Sto. André da Borda do

mara de

Seu grande grafo da

auxiliar foi o Sr.

Câmara dos Deputados

São Paulo parece da publicação de

com

e da Câ-

ter sido

e paleógrafo nas horas vagas.

também, no

documentos antigos

Mas,

breve prazo,

a

Brasil, o pioneiro

para

fins

históricos,

"Documentos Interessan-

a divulgação dos supra citados

tes".

Campo

número veio a lume em 1914. Manuel Alves de Souza, taquí-

Paulo, cujo primeiro

S.

os demais

iriam acs poucos procurando fazer o

arquivos do

Brasil

mesmo, surgindo no

seio

dêles os auto-didatas da paleografia.

É

ainda

em São Paulo que

pela primeira vez se criam,

América do Sul, cargos públicos com a expressa denominação de "Paleógrafos". Deu-se isso em no

Brasil,

e,

parece, na

1935, na Prefeitura paulistana, ao ser criada a Divisão de

Documentação Histórica do Departamento de Cultura, do os

Secção do Arquivo.

cargos lotados na

sen-

Por motivos

que não nos compete analisar, porém, algum tempo eram os cargos de "Paleógrafo" reclassificados como

vários, e

depois,

de "Arquivistas".

O

vem

contrário

no funcionalismo estadual,

em

a dar-se, curiosamente,

1946: o cargo de "Arquivista"

do Departamento do Arquivo do Estado tem

mudada sua

denominação para a de "Paleógrafo". Importante salientar que o ocupante dêsse cargo, o Dr. Antônio Paulino de Almeida, há muito tempo, tor

já,

de cartapácios, embora

Com

desempenhava fôsse,

as funções de

oficialmente,

lei-

"arquivista".

relação a cursos para o aprendizado da Paleogra-

supomos que o primeiro movimento sério no sentido de criar um se deu na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, por volta de 1941 ou 1942. Não sabemos que fia,

razões impediram vingasse a idéia.

108


Já em 1938, também em São Paulo, fôra organizado o curso de Biblioteconomia (17), no qual se ministravam noções de Paleografia.

da

um

térias

programa

do currículo

a ser criada

em

Mas

essas noções

não constituíam

uma

isolado, pois faziam parte de

A

ain-

das ma-

vem bem que com pequeno número de no 2.° semestre). Foram seus regen-

escolar.

cadeira de Paleografia só

1947, se

aulas programadas (só

de 1947 a 1949, D. Lizette Toledo Ribeiro Nogueira; de 1950 a 1952, D. Zilá Taveira. Atualmente, rege-a o Sr. tes:

Giulio David Leoni, que e Paleografia"

também leciona "História do Livro nc curso de biblioteconomia do Instituto "Se-

des Sapientia".

Ao que ou seis Rio de

anos,

ou ainda funciona, no Mosteiro de

Janeiro,

Temos fia

nos constou, funcionou intra-muros há uns cinco

um

notícia,

que há uns

três

S.

Bento do

curso de paleografia.

também, de

um

ou quatro anos

Arquivo da Bahia para seus

breve curso de paleograteria sido

funcionários.

organizado pelo

O

Departamento

de História e Documentação da Prefeitura do Distrito Fedeentre novembro de 1950 e fevereiro de 1951 promoveu Curso Intensivo de Arquivologia cuja primeira parte era

ral,

um

constituída por Noções Gerais de Paleografia e Diplomática.

As

aulas estiveram a cargo de D. Maria Luisa

do

Sr.

Danneman

e

Otávio Calazans Rodrigues.

Finalmente o Departamento do Arquivo do Estado de

São Paulo promoveu o seu Curso Livre de Paleografia em fins

de 1952, o primeiro com as características de

"livre" isto

exames é, aberto a todos os interessados e sem a exigência de aprepágina de na gravados, de aproveitamento. Deixámos sentação destas "Noções de Paleografia", os nomes dos que se

foi

incumbiram das

aulas.

Organizado pela Prefeitura de S. Paulo, (17) anexado à Escola de Sociologia e Política.

109

l.in

1"40 u curso


A

paleografia, a nosso ver,

obtém dia

a dia maior nú-

mero de adeptos. necessitar: história,

Já não é preciso ser historiador para dela os pesquisadores, e os próprios estudantes de

cada vez

em maior número, procuram

quivos para aprender a critos

ler,

no

agora os ar-

original, os preciosos

que documentam a vida palpitante de sua

110

manus-

pátria.


EXEMPLARES DE MANUSCRITOS BRASILEIROS



)

\

L

.'I

'

.

'

Treclio

ile

,4

'

.

docunieiilo (Aniiiivi)

(fiR.

-

Ă­iiis

<lc

il"

113

iId

l^sl, 1(1(1

34)

-

--s

^

srcnlci

16


LEITURA DO DOCUMENTO DO SÉCULO

16:

Imventr" da fazenda de Dyoguo

Sanches defunto

q' fez

o Juis

Estevão Ribr"

Anno do naSymento de NoSso Sõr Jhu Xpô de mil e quinhentos noventa e oyto annos

em

os

vynte e dous dias do mes de setenbro dc dyto

anno nos canpos de taquyvossu termo da

San Paulo da

Cap.'-'

de

Sam

he Capitão e guovernador

p.'

villa

do Brasil e de

V.''

de q'

Sua Magestade o

Sõr Lopo de Sousa sendo Juis Estevão Ribr" e

ssyn ccmiguo

zenteDioguo

onde o

t/'"'

por ter falesydo da vida pre-

Sanches nesta

dito Juis p/'""- ni"

sua

t.'""

caza e

fazenda

deu juramento dos

Santos Evangelhos sobre hu lyvro deles a Viuva

Apolonia Paes e aSi a P" de Moraes e Amdres

Fernandes nesta dyta

villa m.'^'* e lhes

carguo do dito

114

mãdou sob


Trecho de dociinieiito do sf-cnUi Arquivo do Estado) (

(fig.

35),

115

17


I.EITURA DO

DOCUMENTO DO SÉCULO

17:

oytenta e dous annos nesta villa de Cananea

em

caza dos paço do concelho aonde se achavão o Juizes presidentes Luis Antonio de Freitas e João

Francisco Lisboa e os mais ofeciais da camera e

ahy presente o Sargento mor Manoel Joze de

aquém

Jezus

tos evangelho

mão

elle Juis deferio

em hum

Juramento dos Sanque pos sua

Ilivro delles

bem

direyta e lhe emcaregou que

e verda-

deyramente service seo cargo de Juis de órfãos trianal

aSim como manda Sua Magestade que

aSim o prometeo

fazer e ce lhe deo

mento de tudo que tar

fis

este

lhe pertencia de

em

termo de poSe

empoSado com

poSe e Jura-

que para cons-

que aSynou o dito

o Juis e mais oficiais da

Camera

eu Joze da Silva escrivão da Camera que o

es-

crevy.

M/'' J.* /

Fr.'*^

/

Lx.-'

/

Sobral /

116

Pereira /

Pr.-''

/


Documento do sĂŠculo 18. (Aniuivo do I".sl;id()) Observe-se que o papel era uni lanio absorvculc-. l\Mk'Mi-sc ver sombras das palavras c^crUas no verso da tĂľllia (fig,

36)


LEITURA DO DOCUMENTO DO SÉCULO Aos

do mes de Julho de

oito dias

18:

mil, sete

Sam

centos, setenta, e oito, annos, nesta villa de

Joam

Baptista de Cananea no PaSso do Concelho

delia

onde

achava prezente o

se

Tuis prezidente

da Camara, e mais offeciaes da Camara para efeito de fazerem sua VereaSsam na forma da Ley, de

que para constar

fis

este termo.

E

eu Francisco

Antonio de Freytas Costa escrivam da Camara o Escrevy.

Prado

L.^^ /

Aos onze

dias

/

Silva

Pr.^ /

do mes de Julho de

mil, sete

Sam

centos setenta, e oito annos, nesta Villa de

Joam

Baptista de Cananea, no PaSso do Concelho

onde Seachava prezente o Juis Prezidente da Camara, e mais ofeciaes delia, para efeito de delia,

fazerem sua VereaSsam na forma da Ley de que para constar

este termo.

fis

E

eu Francisco An-

tonio de Freytas Costa Escrivam da

Camara

o Es-

crevy.

L.-^-''

/ Pr."

Prado //

Silva

/ V.t"

em

Corr.^'"

de 1778.

Barboza //

118


Documento do

século

(fig.

(Aniuivo do

V).

37)

119

F.sliido)


LEITURA DO DOCUMENTO DO SÉCULO

19:

N.° 22

Declaração que

fás

Anna Gertrudes M.^

Digo eu Anna Gertrudes Maria abaixo asSignada que sou senhora, e terras

mado

posSuidora de

e

hum

sitio

no Bairro desta Freguesia no logar cha-

bem posSuem partes no meos Irmãos Salvador Alves Garcia,

o Salgado, onde tão

dito Sitio os

Máximo

Rodrigues, Antonio da Crús, cujo

terras nos

sitio e

coube por falescimento de nosSa Mai

Izabel Maria da Conceição, e esta por posSe anti-

quisSima, que já

ali

morou a muitos annos;

confrontações são as seguintes, principia de lage

de pedra cortando rumo direito athe

vallo velho, e deste roda athe

hum

as

huma

hum

corrigo onde

tem periperi, edaqui roda corrigo abaixo athe no caminho que vai na tapera do falescido João Pinto, subindo caminho acima athe dar em hum espigão, rodando espigão abaixo athe dar em hum ti-

rumo

juco preto, e dahi segue trar nos vallos

direito athe encon-

de Raimundo Rodrigues de Freitas,

ficando asSim confrontado, de cujo

não posSuimos por

titulos,

sitio

e terras

mas sim por posSe de

muitos anncs já acima declarado.

da

Freguesia

Conceição dous de Setembro de mil oito centos cincoenta e quatro.

A

rogo de

Anna Gertrudes

Maria por não saber escrever. Antonio Jose Marciano = E nada mais nesta declaração em duplicata

em

cujos exemplares lancei a nota seguinte

Numero

vinte

dous:

Appresentado

no

dia

dous de Setembro de mil oito centos cincoenta e quatro,

o Vigário João Vicente Valladão

e

naquelle que fica archivado vai adatta do registro

que he a

mesma

supra.

ConS''"'

2

de Setembro

de 1854

Reg" 1$760

João Vicente Valladão


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ção francesa de L. Berland) Lefèvre,

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Phillipe

PEUS

PA-

In Boletim do Departamento do Arquivo do EsVol, X Fev. 1953.

123



ÍNDICE

Nota Prévia

b

Apresentação

7

Paleografia

Evolução das Tipos

Definição e generalidades

11

17

escritas

caligráficos

2,-i

Material usado na escrita

33

Conservação de documentos

-"'3

Restauração de documentos Dificuldades

da

leitura

paleográfica

Paleografia no Brasil

Exemplares de manuscritos Bibliografia

1^-'"

1"'

brasileiros

111




Imprimiu

JOテグ BENTIVEGNA Rua Tamandarテゥ, Tel.

32-3417

S.

n.

201

Paulo




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