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Diversidade no Brasil

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Soberania Capilar

Soberania Capilar

O Brasil é o país com a maior diversidade de pessoas do mundo, e essas variações acontecem, também, a partir dos vários tipos de cabelos existentes. Dentre eles os cacheados e crespos, que como publicado em uma pesquisa produzida pela Kantar WorldPanel, representam 51,4% da população total e, em outra pesquisa realizada pelo Instituto Beleza Natural em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), mais recente, este índice alcançou 70%. Esses dados deixam bastante evidente que são muitas pessoas que possuem este tipo de cabelo, mas que por conta dos estigmas de uma sociedade racista, promovem alterações para se encaixarem dentro dos padrões. As questões inclinadas à existência do corpo negro no Brasil baseiam-se em uma série de fenômenos sociais, que historicamente se modificam em passos lentos. Sabe-se que após o fim da escravidão, opressões aos corpos de mulheres e homens pretos continuam e as anulações hoje em dia acontecem de formas diferentes, entretanto, muito evidentes, pois se trata de uma situação estrutural, que está enraizada na cultura brasileira. Partindo deste princípio, percebemos em um determinado momento, pessoas negras usando o cabelo para a construção da identidade do seu corpo, e quando elas começam a protagonizar espaços em que sua identidade é reconhecida a partir da sua verdadeira imagem, este ato se transforma em empoderamento e posicionamento político. No que diz respeito à imagem da mulher, essa ressignificação de suas identidades como mulheres negras, se inicia muitas vezes com um processo chamado de transição capilar, que se baseia em parar de usar química nos fios para que estes fiquem alisados e aceitar seus cabelos naturais. Sobretudo, reconhecer em seus volumes crespos toda a história que carrega sua ancestralidade preta, o que acaba por se tornar um processo de libertação dessas articulações dos padrões europeus de beleza que priorizam mulheres com cabelos lisos. Sendo assim, podemos analisar o cabelo como parte de um corpo social, ou seja, este pode ser utilizado para melhor compreensão das relações entre o corpo negro e a sociedade, como exemplo, a representação simbólica e importante dos fios crespos e cacheados, teve uma função marcante em diversos momentos históricos, sendo um dos maiores e principais deles tendo ocorrido na década de 60. Como forma de resistência, foi o movimento Black Power, que em linhas de seu discurso levantou questionamentos relativos à imposição da alteração na estrutura do cabelo de pessoas negras, para adequação em padrões euro centralizados. E podemos perceber claramente que essas tentativas de adequar-se a uma sociedade, que na verdade deveria adequar-se ela própria à existência do povo preto, é ainda muito forte nos dias de hoje.

Portanto, estes fatos só ressaltam o que Fanon (2008, p. 186) outrora definia em seus estudos sobre a alienação psíquica do corpo negro, onde ele enfatiza que “o negro, mesmo sendo sincero, é escravo do passado”, ou seja, após décadas do fim da escravidão, ainda percebemos muita coisa a se mudar, muitas pessoas pretas tendo que ressignificar suas identidades para que, mesmo que em meio a gritos, tenham um mínimo de visibilidade e protagonismo em espaços que lhes pertencem por direito. Mas acredito que em determinado momento esses atos políticos de luta e resistência resultarão em uma mudança radical nos padrões impostos pela postura dominante da branquitude.

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