convivĂŞncias #2 casa tomada
apresentação
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Essa temporada de Ateliê Aberto foi acompanhada por um Ateliê Teórico, uma tentativa de que a prática e a teoria sobre a prática convivessem e dialogassem intimamente nesses dois meses de processo. O Ateliê Teórico – por ser a primeira edição com este formato ou por inexperiência de suas integrantes ou por qualquer outro motivo – ficou procurando (e não encontrando) seu lu_ Tábata Makowski é formada em Letras/USP e Cinema/FAAP. É no Teatro, porém, que está a maioria de suas realizações. _ Atualmente, é integrante do Coletivo Urbano de Teatro, grupo de artistas que têm a cidade – os movimentos, os sons, a arquitetura, a vida na metrópole, as relações humanas estabelecidas – como ponto de partida para investigações e intervenções artísticas; e que, neste momento, estão estudando a questão teatro/ performance no teatro pósdramático. O Coletivo possui dois trabalhos, dos quais é codiretora e dramaturga: CIDADE(S) – cartão postal em 4 atos e Jornada/4 atos.
gar no processo da Casa Tomada, uma metodologia, uma maneira de atuar que fosse coerente com o processo aberto que a Casa propõe. Por fim, como sugestão das próprias diretoras da Casa, o Ateliê Teórico se incumbiu de produzir um texto, sobre algum aspecto do processo do Ateliê Aberto #2, para ser publicado na Convivências #2, a revista que seria feita ao fim e sobre o Ateliê Aberto #2. Nós, do Ateliê Teórico, frente a essa proposta, ficamos com vontade de produzir um texto que fosse, em algum aspecto, uma troca (entre nós e os artistas do Ateliê), e não apenas um recorte descritivo do processo vivido na Casa. Porque vivência, troca e processo parecem ser a tônica dessa experiência de residência. Depois de dias indo à Casa, acompanhando pedaços do trabalho dos artistas, conversando com eles ou acompanhando conversas entre eles, conversando com as outras pessoas da Casa, percebemos que a conversa em si era uma possibilidade de ferramenta, uma forma de abordar questões que surgiram recorrentemente nos diálogos da Casa. Dúvidas, crises, ideias, sensações, velhas questões, novas questões, o processo vivido, o processo de trabalho, a residência, o transformar-se, o permanecer, a exposição final, os cadernos de anotação, o processo aberto. Tudo era conversado. E toda essa conversa era, também, o processo vivido no Ateliê Aberto #2.
E então, de repente, o conteúdo era forma e as conversas se transformaram em conteúdo para a publicação. Gravamos três conversas; mais de três horas de material. Os temas das conversas foram previamente elencados: a residência; o processo; o processo aberto; os encontros; o blog; os cadernos; a exposição; a publicação. O texto que apresentamos aqui, portanto, é um recorte dessas conversas. E um recorte em certo sentido autoral, já que fomos nós, do Ateliê Teórico, que decidimos quais fragmentos colocar e como ordená-los. É uma produção construída a partir de material documental (as conversas gravadas), mas que, em última análise, é ficcional (construção nossa) – o que, no nosso ponto de vista, é muito rico, porque revela o fato de esse texto ser um olhar sobre a Casa, uma possibilidade, uma verdade e não um discurso hegemônico. E isso vai direto ao encontro da proposta da Casa – vários artistas com seus vários processos. Várias pessoas. Convivendo.
Carolina Mendonça e Tábata Makowski
_ Carolina Mendonça é artista do sexo feminino de vinte e cinco anos paulistana filha de gaúcho formada em artes cênicas na ECA-USP 2008, onde realizou trabalho de conclusão de curso baseado em estudos sobre espaço. Criou obras variadas em intervenção urbana, instalação, performance e fotografia. _ Entre estes trabalhos artísticos destacam-se a vídeoperformance Paisagem com Homem e Mulher filmada na Rodovia Fernão Dias entre BHSP (2009); a performance Muro em Diagonal | Metaforas Espaciais com Experiência Concreta, na Verbo 2009 da Galeria Vermelho; e uma instalação urbana, o Projeto Colunas (2008). _ Já Expôs a série fotográfica Habitat, MAC- SP (2009) e participou da Verbo 2007 com a instalação Vending Machine. _ Atualmente faz do caminhar sua estética e prática diária. Buscando compreender o que é ser latino-americano.
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residĂŞncia
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Eu vejo isso daqui como uma passagem. Lógico que você pode finalizar coisas. Mas, para mim, quando você se propõe a fazer uma residência artística é mais para você ter um tipo de experiência e não para chegar a determinado lugar. É pelo momento. Então, quando eu penso numa exposição depois de uma residência, para mim é muito… porque exposição eu poderia fazer lá no meu ateliê, sabe? Não mudaria nada. O legal de uma residência é você se deslocar do seu ambiente, das suas coisas, e ir para outro ambiente que pode gerar coisas, pode gerar mudanças em você pessoalmente e no seu trabalho também. Acho que isso é legal, ter essa abertura e ter um pouco esse tempo de conviver com as pessoas, trocar ideias. Se ficar muito focado em “tenho que fazer esse projeto” acaba não sobrando muito tempo para isso.
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dos encontros por Luísa Horta
Partimos de uma premissa histórica pessoal
Inúmeros tracejados atribuem à imagem
para a construção de uma carga imagética que
uma realidade que se define pelo desenho de
decorre da expectativa formada a respeito de
uma história atravessada por razões de traba-
um lugar nunca antes visitado.
lho assim como de intimidade. Nos tornamos
A imaginação vem pautada por desejos,
ao mesmo tempo agentes e receptores das
por objetivos, por medos, por encantos, mui-
mudanças decorrentes deste trajeto, que em-
tas vezes sem controle, mas nem por isso me-
bora sejam percebidas diferentemente por ca-
nos edificada.
da um que o vivencia, guardam em comum o
Adentramos o espaço desconhecido em busca do que fora antes concebido, lançando mão
receptáculo de todas as experiências sensíveis ali depositadas.
de ações em prol do que gostaríamos de realizar
Percebendo o caminho percorrido até ago-
ali dentro. Eis que somos envolvidos pela expe-
ra, vemos a importância do surgimento deste
riência, que vem transformar o castelo de ideias
terreno de convergência qual podemos cha-
em um caderno de escolhas. Passamos então a
mar de encontros, que por sua vez só se torna
caminhar entre anotações de descobertas e des-
possível a partir da desconstrução conjunta do
confortos, alternando surpresas e frustrações.
ideal de indivíduo.
É difícil traçar um limite. O que eu mudei por causa do período de residência… O trabalho está sempre em mudança. Para uns é mais visível do que para outros. Mas eu acredito que, a partir do momento em que a gente se propõe a ir para um lugar com a intenção de criar e não simplesmente para expor algo que já estava pronto, a gente se propõe a estar aberta à possibilidade de algumas influências e isso vai gerar alguma mudança no trabalho. Acho que a mudança pode ser imediata ou ficar meio hibernando para um momento posterior. Fechar um ciclo para depois partir de novos pontos. Rosana Mariotto, professora e artista
_ Luísa Horta iniciou seu contato com as artes através do circo. Durante cinco anos participou de espetáculos e de atividades ligadas à arte educação. Paralelamente ao circo transitou pelo teatro e pela dança contemporânea, como produtora e também como intérprete. _ No cinema atuou no longa Mulher à Tarde, de Afonso Uchoa, que recebeu Menção Honrosa na 13a Mostra de Cinema de Tiradentes. Na área de direção de arte integrou o projeto Entre… do Coletivo Acaso, que resultou em um espetáculo de improvisação. _ Há dois anos estuda na Universidade Federal de Minas Gerais, onde divide sua formação entre as Artes Gráficas e a Fotografia. Tem como foco o desenvolvimento de projetos autorais, investigando a foto como performance, o livro enquanto objeto, investindo no cruzamento de linguagens como integração das várias facetas de sua formação.
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Tata Amaral, cineasta
A residência não mudou meu trabalho, mas me fez pensar outras coisas, buscar outras coisas. Me fez arriscar, me interessar por certas técnicas que eu não me interessaria. Não sei o que eu vou fazer com isso, mas me abriu para outras possibilidades. Na verdade, me deu muita vontade de trabalhar coletivamente, voltar a trabalhar coletivamente. Várias coisas surgiram, conversando. Mas eu estou fechando um ciclo. Depois eu vejo o que faço com isso. O que mais ficou foi trabalhar com um coletivo. Você sair dos seus conflitos, das paranóias do seu trabalho. Aqui é um coletivo que funciona bem; você se expõe enquanto indivíduo para escutar o coletivo, outras perspectivas. Às vezes me vejo muito presa nos meus conflitos. Agora consigo visualizar melhor o que estou fazendo, deixar umas coisas de lado, para depois. A gente não decide a hora em que as coisas vão mudar, elas mudam por elas mesmas.
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PROCESSOs
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O que é esse ‘processo’ sobre o qual a gente está falando? É o processo de fazer a obra ou é o trabalho de concepção? A gente pensou duas coisas sobre essa questão do processo.
A primeira, seria a concepção do trabalho mesmo, o processo de criação do trabalho, de ver de onde o trabalho vem, ver trabalhos anteriores, quais as referências para o trabalho atual. A outra é o processo de feitura. Que eu acho que não é tão interessante. Porque é só o trabalho na matéria. Acho que todo mundo já tem uma noção de como um trabalho é feito. Por isso não sei se interessa falar sobre isso.
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PROCESSO ABERTO
Essa situação de parecer que o processo está em aberto e, na verdade, ele não estar. Nem um pouco. Eu estava pensando: onde é o espaço do processo?
Na sua cabeça. Pois é. Para mim o processo é muito mental e o processo físico só se dá
_ Erica Ferrari, 28, vive e trabalha em São Paulo. Graduada em Artes Plásticas pela ECA-USP em 2008, participa individualmente e com o grupo Hóspede de mostras desde o ano de 2005. _ Individualmente, expôs na Galeria Emma Thomas e na Galeria Baró em 2009. Para 2010 prepara-se para o 61º Salão de Abril em Fortaleza e a exposição individual no Palácio das Artes (MG). Em sua pesquisa, tem como interesse a paisagem e os instrumentos de passagem e contenção que condicionam a vivência urbana, utilizando referências materiais e formais do mobiliário doméstico. _ Das atividades realizadas com o grupo Hóspede, se destacam o projeto Laboratório Hotel – formação de centro de estudo e residência no Largo da Batata (SP) – patrocinado pela Secretaria de Estado da Cultura em 2007, além das seleções em iniciativas como o Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo e a Temporada de Projetos do Paço das Artes.
quando já tem alguma ideia na cabeça. Aí sim ele se dá no espaço. 19
blog
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Você pode ter um blog, se conscientizar dessa plataforma e desenvolver um conteúdo para isso. Outra coisa é saber: O que é essa transmissão do processo? O que é essa exposição? O que ela significa? Essa coisa da Casa, de ser tudo aberto, de estar tudo no blog... Para as pessoas que estão aqui o processo está mais aberto do para quem vê só o blog. O blog funciona pra mostrar o que aconteceu ou o que a gente quer mostrar. É uma comunicação, um jornal, não é 24h. É a imagem que você está dando de você mesmo.
Marcio Harum, curador
É como uma vitrine: você põe as peças... e as pessoas veem. Eu já botei umas coisas no blog, mas, de uns tempos pra cá, eu não vejo muito sentido, acho meio solto. O blog não é minha linguagem. No blog estão escolhas que eu fiz. Eu quis colocar uma imagem e não outra, um texto e não outro. É um lugar público tanto quanto um lugar expositivo. São coisas que eu quero colocar lá para as pessoas verem. A partir disso estou construindo uma imagem sobre mim. Quem é que acessa o blog? Várias pessoas que não são do ambiente de arte veem o blog. É 23
Gabriel Bá, quadrinista
uma maneira de acessar outras pessoas que não vão a exposição. Eu vi o blog do Ateliê Aberto #1. Eu não sei se não achava legal o que via ou o estar exposto. De alguma forma a gente não tem tanta noção dessas ferramentas, do poder das redes de relacionamento. Tem muito ainda para experimentar, para entender como se apropriar, como se utilizar disso. O blog da Casa Tomada parece que é uma ferramenta a favor do processo. Um acompanhante do processo. A gente fala que o importante é a vivência e o processo. O blog acompanhou o que foi o processo da casa. Acompanhou? O blog existe para olhar para a casa, como uma tentativa de exteriorizar o processo. E por que não aconteceu isso? Porque o processo de trabalho é individual. O blog não é meu processo, é como uma notinha do jornal. Sabe quando tem uma notinha? É isso que eu coloco lá. Tem uma esfera pública de meu pensamento e que não é a exposição.
A Clarissa falou uma coisa interessante aquele dia: as redes de comunicação são subutilizadas. Quem acessa um blog acessa de um jeito conformado. Tem a opção de comentar, mas quem comenta? O blog é uma informação fragmentada; a pessoa faz o que quiser com a informação e nada retorna para eu me construir com o que a pessoa achou. As pessoas não têm noção de que, de repente, podem interferir no processo de um artista. Se as pessoas comentassem, colocassem no blog o que pensassem... de maneira livre...
Eduardo Brandão, galerista
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cadernos
Normalmente eu tenho vários cadernos. Eu, normalmente, tenho 4 cadernos. Eu usava 4 cadernos também. Eu não gosto de caderno. Eu uso vários cadernos. Eu tenho muitos papeizinhos também. Eu, por exemplo, tenho vários cadernos ao mesmo tempo. Mas agora eu só estou com um. Por causa da Casa Tomada. Porque eles me deram esse e eu acabei concentrando. Eu tenho me questionado por que eu vou deixar meu caderno na Casa. Eu aceitei no começo, mas agora está me incomodando. Porque o processo vai ficar aqui. E o meu processo? E a fotocópia? Eu já pensei na fotocópia, mas é diferente. O caderno é do artista, eu acho. Se eu quiser fazer qualquer coisa com ele depois... O meu caderno tem 5 páginas, 4 figuras. O resto é branco. O meu eu uso bastante. Esse caderno não é um caderno real. Não é o meu caderno normal, é outro caderno.
São Paulo, 28 de Abril, 2010 por Caroline Valansi Resolvi escrever sobre minha angústia em
ma, me transformo em massa. Viro mais um nes-
São Paulo. Aqui, estou me sentindo perdida – ou
se volume. Sou um mecanismo pré-educado de
extraviada. Minha criação está indo pra um lado
organização que funciona em relação ao fluxo do
muito clichê. Atualmente preciso me afastar das
momento. Por exemplo, se preciso deixar os ou-
pessoas do meu ateliê. Existe uma pressão de
tros fragmentos da massa (outros indivíduos) sa-
certezas, de acertar o ponto e saber aonde que-
írem do vagão do metrô para depois eu entrar,
ro chegar. Me percebo num buraco negro e que
obedeço os avisos escritos na porta. Se preciso
até agora fui para um lugar que não é o meu.
andar pela direita na fila indiana para o fluxo an-
Preciso achar algum elo afetivo entre minha arte
dar mais ágil, obedeço. E por aí vai.
e a cidade, ela que está me “inspirando”.
O segundo tema tem a ver com as cores
Tenho pesquisado sobre São Paulo. O cinza,
(branco, preto e cinza), os muros, as grades, os
a dureza, os muros, as pessoas. Tudo que qual-
chãos e as paredes de São Paulo. Aspectos ób-
quer um que não seja daqui certamente pesqui-
vios de se perceber a partir de um olhar estran-
saria ou perceberia. A cidade se conclui sempre a
geiro. Nesse âmbito externo, onde a cidade es-
partir desse mesmo olhar. A aspereza das artérias
tá dada para mim, tenho trabalhado o desenho
e becos, do universo urbano, está por toda parte.
(frotagens de muros e ruas). Busco também al-
Achava – porque agora tenho dúvidas – que gos-
go tridimensional, porém acho que nesse as-
taria muito de trabalhar aqui. Escrever nos muros.
pecto o buraco negro está mais fundo.
Me comunicar com as pessoas. Estabelecer um diálogo, quase anônimo, quase coletivo.
Há algum tempo venho me interessando em trabalhar o espaço tridimensional. Sair do
Tenho dois assuntos em questão aqui em São
plano e abraçar o espaço 3d. Não sei se isso
Paulo. O primeiro e mais imediato: trato da dua-
tem me atrapalhando neste lugar, a maior cida-
lidade entre ser um indivíduo específico e tam-
de do país. Sempre resolvi meus trabalhos com
bém, em algumas situações constantes, em per-
fotografias e obtive sucesso. Essa passagem de
tencer à massa. O que isso quer dizer? São Pau-
um suporte para o outro está me frustrando.
lo é constituída pela mistura de povos e culturas.
Não possuo controle da técnica.
Eu não sou daqui. Me sinto única nas minhas ra-
Tenho me sentindo uma artista atrasada.
ízes, particularidades e ações. Por outro lado, es-
Queria ter mais certeza, ter o pertencimento da
tou vivendo numa cidade onde existe uma imen-
minha arte. Essa angústia leva-me ao desabafo
sa aglomeração de pessoas e um caos em busca
e ele ilustra a minha busca de descobrir a rela-
de seu desenho de urbe. Quando a cidade me
ção entre o meu trabalho de antes e o de ago-
coloca em situações nas quais preciso trabalhar
ra. (Talvez nem haja relação.) Sempre falei das
para o bom funcionamento de São Paulo, funcio-
relações existentes entre as pessoas, memória,
namento que ela necessita e exige para si mes-
fotografia... Quando achar a resposta, escrevo. 29
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Solange Farkas, curadora
Quando eu penso que isso vai ser visto por outra pessoa, já muda o que vou escrever. No meu, tudo o que eu quero eu boto. Não penso se vão ler. Esse caderno eu comecei fazendo como se fosse o blog. As imagens que eu punha no blog, eu punha no caderno. Depois... Eu não sei o que faria com um caderno público. Eu acho muito esquisito o que é da intimidade passar para a esfera pública. Eu penso como um espaço de investigação e, como espaço de investigação, é onde registro pistas do que estou construindo. Eu assumi desde o princípio que ia ser isso. Não estou fazendo minhas anotações mais profundas e íntimas. Eu gosto muito de escrever, mas não fico escrevendo divagações muito subjetivas. Coisas de diário. Essa parte eu não escrevo. Mas tudo que é de trabalho eu coloco ali. Eu sei que eu comecei a escrever para a pessoa que vai ler meu caderno. Que pode existir ou não. Agora eu estou gostando de escrever para essa pessoa. Essa situação me levou a isso: eu escrevo para uma pessoa que eu não sei como levar em consideração porque eu nem sei se ela existe. Eu, por exemplo, tenho vários cadernos ao mesmo tempo e todos são misturados; têm de tudo, desde a lista do supermer-
cado até uma frase que eu vi na rua. É uma bagunça. E uma bagunça bem banal, que me ajuda a fazer as coisas. Publicar essa banalidade não faz sentido. Tem sentido pra mim, mas não pra quem vai ler. Então você fez seleção. Já que o caderno vai ser quase que uma interface, que vai passar pela instância pública da web, não faz sentido publicar sobre o chuchu no supermercado. Eu colo nota de supermercado, das coisas que comprei, o preço dos materiais, os telefones dos caras, o mapa para onde eu estou indo, desenho de ideias. Estou anotando banalidades que eu acho importantes, que fazem parte do meu processo. Só vai ser um objeto de fetiche, de repente. Eu gosto de caderno, de ver caderno de outras pessoas, de outros artistas. Uma anotação, um desenho, às vezes nem é um trabalho finalizado, faz você entender algo sobre o artista. De repente, através de um comentário de um preço que ele pagou no chuchu você percebe alguma coisa no trabalho dele. Eu acho bonito, já fiz muito. Mas eu penso muito rápido; e não consigo colocar no caderno.
_ Clara Crocodilo nasceu em 1987, vive e trabalha em São Paulo. Atualmente é graduanda em Artes Plásticas pela ECA-USP. _ Em 2008 mudou-se para Paris onde realizou um intercâmbio de estudos de um ano na Université Paris VIII. Em 2010 prepara trabalhos para o 61º Salão de Abril em Fortaleza, para uma coletiva em Novo Hamburgo, bem como para a exposição dos formandos em Artes Plásticas da ECA-USP. _ Sua pesquisa se empenha, principalmente, em discutir o território no qual a arte é informada pela vida. Seu trabalho busca refletir de maneira crítica sobre a condição da vida contemporânea, conjugando a esse interesse um discurso poeticamente expressivo. Quanto ao suporte, suas obras se caracterizam por transitarem livremente entre diversas linguagens, como desenho, vídeo, instalações, intervenções espaciais e urbanas.
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encontros
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Encontro é sempre uma surpresa. Cada pessoa que veio analisou o trabalho com suas próprias referências, com suas próprias histórias de vida, com tudo o que a influencia. Essa possibilidade de diferentes olhares é muito rica. Tiveram uns encontros mais legais... mais pertinentes. Tiveram alguns que ficaram soltos... fora de contexto. Porque também depende do interesse de cada um. Cada pessoa se identificou e aproveitou mais de algumas visitas que de outras. É delicado esse assunto. Claro que alguém que não é das artes plásticas pode ter contribuição ativa no nosso trabalho; mas, no geral, acontece algo em via contrária – a gente conhece mais o trabalho da pessoa em vez de a pessoa conhecer e questionar nosso trabalho. É isso que é interessante: a gente conhecer pessoas de outras áreas; a gente descobrir outros terrenos. Sair um pouco do “apenas” artes plásticas. Às vezes, uma pessoa de outra área pode ver outra coisa no seu trabalho, algo que alguém das artes plásticas não veria. É bom virem pessoas de outras áreas e é bom entender que, às vezes, não faz muito sentido mostrar o trabalho para alguém. Porque talvez esse alguém não se aproxime daquilo do jeito que estamos acostumados. Cada visita me fez olhar meu trabalho; pensar, em relação ao meu trabalho, o que ela estava falando. Eu tenho olhado meu trabalho através das falas de cada visita. Para mim, o que é mais intenso nem é o que vem, mas eu me colocando diante de várias pessoas, eu falando sobre o meu próprio trabalho. Como apresentei para cada um. Toda vez ter que falar e toda vez falar diferente, tendo que ser clara. Foi um exercício de entender o que falar, de entender como falar cada coisa que pensei ou fiz. A cada visita, foi um novo jeito de apresentar o trabalho e,
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consequentemente, um novo olhar sobre. Penso que tem a ver com diálogo, com abertura para o diálogo. Quando a pessoa vem aberta para a possibilidade de construção desse diálogo, fica mais interessante. Tem a ver com criarmos estratégias para que o diálogo aconteça – como eu posso falar do meu próprio trabalho de forma que se construa um diálogo, de forma que quem está ouvindo entenda, para eu poder ouvir o que o outro realmente pensa, o que o outro tem a dizer. Essa prática, sobretudo para o artista, de ter que falar sobre o trabalho é muito importante. Você tem que verbalizar certas coisas que não são lineares, que não são lógicas na sua cabeça; você tem que fazer outra pessoa entender minimamente o que
Nino Cais, artista
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Silvia Mecozzi, artista
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você está pensando. É um processo de tradução, em certo sentido. Porque é um campo abstrato, a que você nem tem acesso direito, e você tem que colocar para outra pessoa de maneira que ela entenda. E que faça algum sentido ou que faça reverberar, da mesma maneira que reverbera em você. Cada vez que falo e escuto, volto para o trabalho com uma visão diferente. O trabalho vai se construindo à medida que se fala sobre ele. É um processo de mão dupla. Eu falo, a pessoa ouve e me dá uma nova resposta para o trabalho. Nessa história de estar em grupo, sempre as mesmas pessoas, vão se construindo coisas no diálogo; uma esfera do diálogo. Clarissa Diniz, idealizadora da revista Tatuí
_ Carlota Mazon, inicia o curso de Artes Plásticas na FAAP em 2002. Ganha bolsa de dois anos referente a Anual de Arte. Frequenta aulas de desenho de Lucia Koch e realiza o projeto final de bacharelado Circuitos com sua orientação. Cursa Licenciatura orientada por Thiago Honório. _ Em 2008 vai para Espanha onde faz pós-graduação em Arte Pública na Universidad Politécnica de Valencia. Durante este período participa da coletiva no Centro Cultural CaRevolta no bairro de Valencia. Faz workshops e se comunica com artistas da América Latina e da Espanha. Ganha bolsa para um Curso de Verão nas Ilhas Canárias. _ Em 2009 faz parte da III Mostra do Ciclo de Exposições do CCSP e é selecionada para o Rumos Artes Visuais. _ Neste ano participa do ateliê aberto Casa Tomada e trabalha na 29ª Bienal de São Paulo, onde acompanha um grupo de universitários. Vive em São Paulo. 45
Marcelo Tas, artista e comunicador
A cada diálogo e a cada reunião vai aumentando o meu conhecimento sobre o meu trabalho e o trabalho do outro. São muito importantes esses vínculos que vão se construindo na prática dos diálogos. O diálogo não é só com os convidados; é, principalmente, com a gente. Diferente dessas pessoas que vêm aqui e veem um recorte, uma parte do processo, a gente participa de tudo e vai absorvendo, absorvendo... São legais os dois momentos do diálogo. O diálogo com a pessoa estrangeira, para quem preciso explicar tudo em dez minutos para que ela entenda o que estou fazendo; e o diálogo com quem já está aqui e pra quem não preciso me explicar tanto. É legal ter esses diferentes níveis de compreensão.
Nota sobre a possibilidade por Erica Ferrari Houve o incômodo: com a prerrogativa de
Uma passagem na qual resultados sempre se-
uma ‘exposição’, de finalizar um processo de
rão alcançados. Através de um tipo de experi-
trabalho, de formalizar obras, de iluminar, de li-
ência de deslocamento e revisão, há mudanças
dar com um espaço expositivo, de atender às
pessoais e no trabalho se houver abertura pa-
demandas apresentadas. Necessidade de que
ra tal. Neste contexto, um projeto não precisa
houvesse a almejada troca com os outros artis-
necessariamente ser levado a cabo, ele pode
tas, a pesquisa artística, a exposição pessoal e
se transformar, se modificar a partir do que es-
do trabalho a convidados da Casa e leitores do
tá sendo experienciado ou ser finalizado e ge-
blog, a adaptação a uma cidade estrangeira, a
rar novas inquietações. Assim, qual é o interes-
geração de produtos. Neste contexto de ‘Ateliê
se sobre o processo de trabalho de um artista?
Aberto’, o que é relevante?
Ou de sete artistas jovens?
A imersão do artista em uma residência,
A visualização do processo pode ser tão sig-
cujo perfil define-se como um espaço de re-
nificativo que se torne elucidador de uma obra,
flexão, é um momento de transformação e re-
que lhe agregue relevância e o faça compre-
visão de seu trabalho e de seu próprio lugar
ensível, que potencialize os conceitos envolvi-
na formatação contemporânea de produção
dos no trabalho. Ou pode ser uma curiosidade,
de arte. Uma ocasião em que há a possibili-
eventualmente encantadora.
dade de se forjar um espaço de diálogo hori-
O chamado ‘processo’ de um artista pode
zontal (compartilhado entre indivíduos em um
ser abordado como o da feitura da obra (que
momento de vida similar), de questionamento
envolve a materialização) e o de concepção da
mútuo, de tentativas fora do eixo galeria/insti-
obra (que envolve o conceito, as referências, os
tuição. Para tanto, se faz necessário a autocrí-
trabalhos anteriores). Obviamente não são as-
tica, a constante revisão dos posicionamentos
pectos autônomos, mas que se retroalimen-
tomados e a abertura a novos direcionamen-
tam. No entanto, o espaço real deste ‘proces-
tos, em uma tentativa de extrapolar a réplica a
so de trabalho’ é mental. Como transmitir es-
modelos engessados e cultivar de fato algo es-
se espaço não palpável? Talvez conversando e
timulante para todos os envolvidos.
formando uma malha de apoio visual e textu-
Uma residência artística é um momento
al isso seja minimamente possível. O comparti-
(pensar sobre a pesquisa que se desenvolve e
lhamento com os outros em tal situação privi-
sobre o processo de trabalho se torna mais im-
legiada pode abrir perspectivas que extrapo-
portante do que chegar a um produto final).
lem as de cada indivíduo envolvido. 47
Exposição
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O que falamos sobre a exposição é que podia ser mais um open studio, ao invés de uma exposição com obras prontas. Ser uma data em que a Casa abre para as pessoas, mas nós continuamos trabalhando. Algumas obras vão estar prontas e outras não, porque estamos em um processo de mudança. O que eu vejo é que essa conversa surgiu da impossibilidade de fazer. E aí veio essa ideia do open studio. Estávamos incomodados porque cada um estava muito concentrado nessa pressão psicológica de ter que ter um trabalho pronto para uma exposição para daqui dois meses. As pessoas mudaram de cidade ou estão mudando o trabalho, estão arriscando coisas novas. Ficarem concentradas na exposição acabava fazendo com que não fosse aproveitado o espaço de diálogo que é possível aqui. Ou mesmo o campo que tem para experimentar, que é a melhor parte de estar nesse ambiente, onde você não tem tanto uma pressão externa de exposição. Por isso pensamos em continuar esse processo que está aqui, agora; estaremos trabalhando, discutindo… Seria alguma coisa como “abertura do ateliê”, mas… não sei. Já chama Ateliê Aberto, então open studio não dá. Encerramento do Ateliê Aberto talvez... A gente ficou meio sem palavras, mas a ideia era que as pessoas viessem visitar, conversar com a gente, quem se interessar. Essa seria a mudança. As pessoas poderiam vir várias vezes, porque o trabalho estará sendo feito. Pode ser que um dia o trabalho fique pronto, e aí vamos conversar sobre ele, se ele vai mudar de lugar, por que o trabalho já está “pronto”. Queremos criar um ambiente aberto ao diálogo, o que muitas vezes não acontece numa exposição. Vamos colocar a explanação do processo de concepção e vamos continuar fazendo os trabalhos. Às vezes nem precisa
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de conversa, a pessoa olha e diz “olha, esse trabalho veio disso, disso e disso”. Vamos pensar o espaço de exposição sem esquecer que é uma casa. Então, a iluminação, por exemplo, é a da casa. Vamos criar um espaço dentro disso. As pessoas vão ocupando esses espaços de exposição desde agora, à medida que forem encontrando soluções para expor seus trabalhos, sem ter tanta rigidez. Um pouco os lugares de trabalho já foram assim, se fazendo. Você vai achando seu espaço. A ideia também é complementar o espaço de trabalho de cada um com indicações de referências pertinentes ao processo de construção do trabalho, intra e extra arte. Mais o portfólio para o visitante ter uma base de onde vem o desenvolvimento dessa nova etapa do trabalho de cada um. Discutimos muito a relação do nome Exposição. Não queríamos criar uma expectativa de uma coisa que não vai acontecer. Parece melhor e mais sincero com o processo de cada um a gente fazer esse ‘Ateliê Aberto’. Ampliar essa possibilidade de estar
com os trabalhos. Queremos divulgar isso, para que as pessoas venham com esse olhar, sabendo que a gente está aqui para trocar. Mas esse formato não é um open studio. Porque tem vocês trabalhando aqui em baixo, mas, no andar de cima, tem trabalhos que vocês montaram. Esse formato para mim é a exposição de alguma coisa. Então é o que? Exposição + Open Studio? Mas vocês vão montar essas referências para serem vistas, é um tipo de exposição, porque só open studio não é. Acho que é um meio termo. Então, o que é isso? Uma coisa que vocês têm que pensar é se vocês não estão nessa recusa de expor, arriscando uma oportunidade de exercício, inclusive. De exercitar pensar o espaço de uma maneira interessante. O que vocês estão querendo com esse despojamento? Talvez existam maneiras de construir esse despojamento aproveitando a situação de uma maneira mais ativa. Muito dessa decisão de não fazer uma exposição propriamente dita vem de querer aproveitar a Casa e as experiências que tivemos aqui, incorporar isso no processo final, que seria a exposição. Porque aqui é um lugar onde podemos experimentar algumas coisas, e não só apresentar a obra finalizada.
Devaneio sobre a hospitalidade por Wiliam Toledo*
Antes de começar esta breve especulação
sim, entende-se implicitamente que aquele que
sobre as relações de hospitalidade que se esta-
é recebido deve conhecer e respeitar a língua,
belecem entre agentes culturais no âmbito das
as leis e os costumes do dono da casa, cuidan-
artes visuais, devo sugerir a quem busque res-
do para não tornar-se um parasita. Convém, ali-
postas claras e categóricas, consideradas racio-
ás, que o recebedor da benesse questione seus
nais, confiáveis e operáveis, que pule este texto.
próprios costumes e leve os questionamentos a
A hospitalidade, ou a aceitação do outro em
seu lugar de origem. Ocasionalmente admite-se
nosso país, em nosso museu, em nossa casa, em
que hóspede aporte sugestões e ações que aju-
nossa publicação, representa um perigo a ser
dem a revitalizar a casa que o recepciona como
medido e tem por finalidade atender ao impe-
contrapartida à hospitalidade. Dos donos da ca-
rativo ético de hospedar. Ao selecionarmos nos-
sa espera-se a hospitalidade anfitriã como de-
sos hóspedes por sua origem, currículo, idioma,
monstração de boa conduta social, sem a qual a
filiação ideológica, idade, carta de recomenda-
hostilidade se descortinaria.
ção ou quaisquer outros critérios que nos pare-
As relações de hospitalidade entre artistas,
çam relevantes, buscamos nos isentar da possi-
patronos e público variam ao longo da história
bilidade de estar abrigando elementos indese-
ocidental. Os artistas medievais estavam a servi-
jáveis. No entanto, hospitalidade e hostilidade
ço do poder político e religioso, com o propósi-
têm a mesma raiz etimológica [1].
to de plasmar a ideologia dominante em obje-
A necessidade de proveito mútuo entre hós-
tos e, portanto, não eram hóspedes, eram clara-
pede e hospedador nunca foi oculta, mas é par-
mente serventes com mais ou com menos pres-
te da noção arquetípica de hospitalidade que a
tígio. Dos artistas geômetras e anatomistas do
hierarquia não seja mencionada entre os parti-
assim chamado “Renascimento” esperava-se,
cipantes dessa relação de trocas. Para que a re-
frequentemente, que tivessem alguma autono-
cepção do Outro seja vista como hospitaleira,
mia intelectual: quanto maior a capacidade de
ela deve afigurar-se desinteressada. Ainda as-
o hóspede produzir conhecimento, maior o sta-
* Mais conhecido como Billy, integrou o grupo do Ateliê Aberto #2 participando do projeto como assistente da artista Erica Ferrari
tus dos donos da casa, desde que, é claro, não houvessem abusos heréticos vindos a público. Foi durante o que a história econômica denomina como “primeira revolução industrial”, ao final do século XVIII, que surgiram os museus abertos à visitação pública na Europa. Se antes as coleções de arte eram exclusivamente privadas (da igreja, dos nobres e dos burgueses), a nova e espetacular instituição [2] museal precisava ajudar a legitimar o ideal iluminista dando boas vindas à classe trabalhadora para exibir-lhe seus troféus da “alta cultura”. Paralelamente ao início da progressiva subdivisão científico-classificatória, que proporciona a criação de museus cada vez mais especializados a partir do século XIX , ocorre a ruptura ordenatória entre artes aplicadas e uma arte supostamente pura, que não se vincula à utilidade imediata e quer situar-se no campo do livre exercício estético: uma arte que diz não se interessar em ser hóspede nem serviçal do poder, mas depende da hospedagem nos salões, na imprensa e no comércio para se legitimar. Um grupo de jovens artistas e intelectuais que criou seu próprio salão não oficial (para hospedar a si e seus pares) recebeu de um jornalis-
[1] Hospes, em latim, significaria, literalmente, “convidado-senhor” por derivação de hosti–pet-s. O sentido primitivo de hostis é “convidado” e denotava uma relação de troca igualitária e compensatória que previa doação, recebimento e retribuição. Esta relação instituída perde importância no sistema posteriormente estabelecido no mundo romano. Quando as sociedades primitivas adquirem o sentido de nação, as relações interpessoais deste tipo desaparecem, restando a distinção entre o que está dentro e o que está fora da civitas. Através de um desenvolvimento cujas condições exatas são desconhecidas, a palavra hostis assume tom de “hostil” e daí em diante passa a designar “inimigo”. O sufixo -pet alterna-se com -pot ou –pat. Em indo-europeu significava originalmente ”ele mesmo” (himself), mas que, por referir-se também à representatividade de uma casa, clã ou tribo, passou a designar “mestre/senhor/chefe/ amo”. Este sufixo subsistiu no latim adquirindo significação de domínio, o que originou as palavras modernas “poder”, “potente”, “potestade” e “posse”. Emile Benveniste (1973) Indo-European language and society. Faber & Faber Ltd. London. pp. 72-83. [2] Entendo instituição como um padrão de controle, ou seja, uma programação da conduta individual imposta por setores da sociedade ao indivíduo e dotada de historicidade e moralidade. Sendo resultado da ação de inúmeros indivíduos que agregam-lhe significados ao longo do tempo ela não é imutável. No decorrer da história o museu adquire o status de instituição social tornando-se um sistema organizacional com funções sociais consideradas relevantes pela sociedade e pelos seus membros ou o que Marilena Chauí denomina como “(...) uma ação social, uma prática social fundada no reconhecimento público de sua legitimidade e de suas atribuições (...)”. Importa ressaltar a distinção entre instituição social e organização social, sendo a segunda baseada na divisão racional e econômica do trabalho, instrumento voltado para a realização de tarefas, otimização de meios e uso racional de tecnologias destinadas ao alcance de metas estabelecidas e que, ao contrário da instituição social, não precisa se questionar sobre “(...)sua própria existência, sua função, seu lugar no interior da luta de classes” . Assim os atuais museus se assemelham, cada vez mais, às organizações com as quais se associam ou competem.
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ta o apelido pejorativo de “Impressionistas” em
resposta a esta situação temos, em um pólo, as
1874 e conseguiu ter suas pinturas incorporadas
novas instituições artísticas que precisam de-
ao Musée du Luxembourg dezenove anos mais
monstrar seu caráter democrático ao hospedar
tarde, inaugurando, assim, o senso de urgência
quem grita insatisfeito à sua porta [3] mas que,
dos museus de arte em acolher o novo e apri-
apesar da vocação pública, estão imersas no li-
morar sua função “civilizatória”, “educativa” que
beralismo econômico e tornaram-se reféns do
conhecemos hoje.
capital corporativo que entrou pela porta dos
A voracidade do capitalismo impõe a subs-
fundos, levou casa como suvenir, e agora exige
tituição contínua de produtos e a criação de
resultados de bilheteria. Em outro pólo estão
novas necessidades de consumo, e nada mais
as iniciativas não-oficiais que repelem a coop-
apropriado do que cultivar a livre iniciativa ar-
tação e permanecem numa semi-invisibilida-
tística como propaganda da liberdade individu-
de. Entre os dois extremos há uma imensa ga-
al e como aumento da oferta de produtos cul-
ma de procedimentos que negociam, migram,
turais “autônomos” dentre os quais se pode pin-
tangenciam-se e se entrecruzam.
çar os que convém hospedar. Não é casualida-
Nos Estados Unidos, por exemplo, tanto as
de que mesmo aqueles que honestamente não
cooperativas de artistas dos anos 1950 quan-
pretendiam se tornar hóspedes do sistema te-
to o movimento de espaços alternativos de fi-
nham sido acolhidos por ele quando demons-
nais dos anos 1960 buscavam sua autodeter-
trado o potencial comercial do setor iconoclasta
minação, mas as cooperativas tinham, primor-
da arte de vanguarda. O capitalismo pode se dar
dialmente, objetivos parecidos com os das ga-
ao luxo de escolher seus “adversários”.
lerias comerciais, e os espaços alternativos de-
Como vemos no esboço caricatural traçado
sejavam ser hospedadores mais abrangentes,
até aqui, os produtores e promotores de artes
controlando de modo autônomo a produção
visuais já se dão conta, desde longa data, da
e distribuição da arte que não se enquadrava
tensão entre seus objetivos e os do Outro. Em
nos interesses do circuito expositivo oficial e
comercial, criando o que Chin Tao Wu [4] chama de stablishment do anti-stablishment, ou seja, desembocando na imitação de museus e galerias comerciais que eram incapazes de dar uma resposta rigorosa à questão do poder, inclusive de seu próprio poder em relação ao
[3] Não se trata de um fenômeno exclusivamente local, mas pode-se citar, a título de ilustração, a polêmica envolvendo o pixo e a 29ª Bienal de Arte de São Paulo. [4] Chin Tao Wu é autora do livro Privatização da Cultura – A intervenção corporativa nas artes desde os anos 80, Boitempo Editorial
mundo da arte (e que,em alguns casos, recebiam assistência institucional). Enquanto pessoas com formação suficiente para perceber o próprio desejo de insurgência pretendiam fundar um poder artístico paralelo, a instituição debatia-se na tentativa de ser novamente hospedada pela atenção do público e repensava a museologia para incluir experimentos artísticos, eventos de entretenimento cultural, colóquios, aulas, etc. Hoje, examinando os limites e possibilidades da produção artística em perspectiva histórica, ainda permanece a necessidade de questionamento sobre a efetividade e o grau de senso de realidade dos objetivos de promotores das artes visuais, sejam eles institucionais ou não, e sua relevância para o debate público.
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Publicação
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A publicação já tem um formato, ela já existe como publicação. Igual à anterior. Ela vai continuar existindo. Acho que não pode mudar. Ela tem uma especificidade de tamanho, para compor a série. Não é como um caderninho que cada vez vai ser de um jeito, é uma publicação da Casa que vai além do Ateliê. Não sei por que vocês estão discutindo isso. Encarar as coisas assim tão separadamente, não faz sentido. “O artista faz o objeto e o teórico escreve a crítica”. Nós não estamos interessados nessa separação tão clara. Acho que tudo aqui diz respeito a todos. Acho que é isso, não é para fazer um livro de artista. É uma publicação, com um determinado formato. O nome Convivências me remete diretamente ao Ateliê Aberto. A convivência que acontece entre os artistas.
Vocês deveriam fazer o trabalho de vocês ou estar mais preocupados com isso, menos com a revista. Não estamos decidindo a publicação, nós já decidimos. O que estamos fazendo aqui é uma conversa de conteúdo da revista. Achamos que seria interessante, já que aqui é uma residência, um ateliê, o conteúdo da revista ser essas conversas. Inclusive essa discussão, agora, é conteúdo. Acho que tem uma questão que é: o que é o trabalho de vocês? Essa é uma questão que surgiu desde que começou a conversa sobre fazer uma exposição. O trabalho de vocês é pensar a exposição, ou é pensar a exposição e a publicação? Eu acho que não importa. A gente tem essa mente pragmática que quer catalogar tudo. Não importa; eu estou aqui, eu sou o meu trabalho. O que eu fizer é o meu trabalho. Se é a publicação, pode ser… Quantas pessoas vão vir aqui pessoalmente?
_ Caroline Valansi (1979) vive e trabalha no Rio de Janeiro, individualmente e com o coletivo OPAVIVARÁ!. Graduada em Cinema, faz mestrado em Arte e Filosofia (PUC-RIO). Os principais temas em sua produção artística são as relações humanas, com ênfase no tempo, na impermanência das coisas, na subjetividade, nas raízes, na memória e na afetividade. _ Frequentou cursos no Ateliê da Imagem, Escola de Artes Visuais do Parque Lage e no Ateliê do prof. Charles Watson. Obteve Menção-honrosa de fotografia na Mostra Latino America de Artistas Jovens (Buenos Aires, 2004). _ Suas principais exposições individuais foram: Memórias Inventadas em Costuras Simples (CCJE, RJ, 2009) e Confluências (Galeria Maria Martins, RJ, 2004). Entre suas coletivas se destacam: 2 em 1 (Cavalariças da EAV do Parque Lage, RJ, 2009); Bienal do Triângulo (Uberlândia, 2007). E em 2010 participou da Residência Artística – Interações Florestais Terra UNA.
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Escala Doméstica por Carlota Mazon A primeira relação entre as duas palavras me parece que se dá pela diferença, já que uma está atrelada à matemática, à razão e ao número. Enquanto a segunda, pode ser relacionada ao afetivo, ao desejo e ao erro. O desentendimento, o desconforto parece que vem da tentativa de entender a relação da diferença, porque aqui a Escala Doméstica é proposta como campo ou espaço de trabalho. As relações se criam dentro deste espaço que é casa, ateliê, estúdio de música, de fotografia, sala, cozinha, quintal, banheiro, escada... Uma casa, em grande escala, mesclada que se insinua como espaço para ser “tomado” - mas nunca chega a este ponto e sim o contrário ocorre - somos tomados por ela [1]. Um corpo de tensão se instala. Uma tensão já conhecida, comum, porém surpreendente, porque não se esperava. Uma tensão que propicia a discussão e o questionamento das condições de uso, de convivência. Afinal, que condições são estas? Se entendemos que todo espaço está cheio de possibilidades, podemos concluir que uma realidade incômoda parece propor, de antemão, a busca de outras saídas.
[1] Podemos fazer uma clara alusão ao conto de Cortázar, entre outras, se entendemos a casa que ele descreve como sendo nosso corpo. Porém, como aceitar a apatia dos personagens que deixam sua casa ser tomada? E, por outro lado, como entender, essa estrutura “arquitetada” que se instaura no espaço? CORTÁZAR, Julio. “Casa Tomada” in: Bestiário, 1986, Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
100 pessoas? O que fica é a publicação. Não vai ser só um catálogo que “ah, tem uns desenhos”. Não, tem ideias, tem trocas. Tem pensamentos visuais, tem pensamentos textuais. E se tem toda essa história de valorizar o processo, então a publicação também é o momento congelado de um pensamento que surgiu aqui. E que diz respeito a nós mesmos. E essas nossas conversas são também o processo.
_ Rodrigo Castro é artista visual, formado em 2006 pela Faculdade Santa Marcelina (SP), possui uma produção contemporânea com diversas mídias como o vídeo, a instalação, a performance e a pintura. Dentro de suas criações artísticas muitas vezes utiliza objetos banais do cotidiano para criar situações incomuns e ressignificar as relações do próprio artista com os objetos. _ Já participou em diversas mostras e festivais, entre elas, a mostra de vídeo CONTAINER Art sob curadoria de Lucas Bambozzi e Cao Guimarães no Parque Villa Lobos (SP, 2008). Em 2010 participou da mostra Paradas em Movimento: Wonderland – Ações e Paradoxos no Centro Cultural São Paulo. Além da individual Narcissus na Galeria de Arte Copasa (BH, 2008). Atualmente participa do projeto do site www.filmaholix.de, do Up-and-comming International Film Festival Hannover, Alemanha, sob curadoria de Solange Farkas.
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A Utopia como lugar possível; ou, pequeno dicionário de palavras proibidas (no discurso da arte contemporânea) por Ana Luisa Lima
“O discurso do ‘fim’ não
O cristianismo e o comunismo morreram, ainda assim, há um
significa que ‘tudo acabou’,
ranço que permanece nas bocas contemporâneas toda vez que
mas exorta a uma mudança
ousam falar as palavras que uma vez comandaram os modos de
no discurso, já que o objeto
pensar e agir destes modelos ideológicos. Algumas até as engo-
mudou e não se ajusta
lem antes de. Porque uma vez ditas, sobejam os embaraçosos
mais aos seus antigos
pedidos de desculpas. Falharam! (Os modelos, ou – nós – os se-
enquadramentos.”
guidores destes modelos?) É por isso que já não se pode ceder
Hans Belting em O fim da história da arte
ao amor, ao engajamento e à utopia. A necessidade de declarar o fim nem sempre significa deparar-se com o fim de fato. Mas de tentar antecipá-lo numa atitude desesperada por mudança. É menos doído assegurar a mentira do “eu não te amo mais” do que lidar com o amor diariamente desafiado pela relação (aparentemente) fadada ao fracasso. Para sobrevivermos aos amores, nós os chamamos -ex; e aos percalços da história, fica mais bonito falarmos em pós-. A criação dos pós-, sobretudo nos dias contemporâneos, me pego pensando, mais parece remédio paliativo para controlar a ansiedade coletiva frente à ausência de transformações profundas – até por que essa mesma coletividade se convenceu (ou foi convencida, não sei ao certo) de que as mudanças virão a despeito de sua responsabilidade –, do que (re)ajustes das formas de pensar e agir diante dos acontecimentos históricos. Nessa vida de pós-pós-tudo, ninguém mais admite o ranço (depois de tanto pós- cria-se também o distanciamento histórico. Refugiados de modo cientificista na arte, já não há quem ouse voltar a falar em amor, engajamento e utopia (?).
Do amor (1) Tatuí, revista de arte independente com versões online e impressa, surge em 2006 no Recife-PE como fanzine e atualmente encontra-se em seu oitavo número. Editada pelas pesquisadoras Ana Luisa Lima e Clarissa Diniz, a publicação se debruça sobre debates pertinentes à recente produção artística, em especial, a brasileira. Conta com colaboração de artistas, críticos, curadores, pesquisadores, educadores e escritores de diversas partes do Brasil. Suas edições – que já tiveram lançamentos em Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro – são nacionalmente distribuídas em livrarias, bancas de revista e instituições culturais. A revista tem sido convidada a participar de eventos e debates tais como o SPA das Artes (Recife-PE), Seminário Internacional do Museu da Vale (Vila VelhaES), Fora do Eixo (Brasília-DF) e Bienal do Livro (Recife-PE). Hoje contando com múltiplas fontes de financiamento como a Prefeitura do Recife, o Governo do Estado de Pernambuco e a FUNARTE (MinC), todo conteúdo produzido pela Tatuí está disponível em www.revistatatui.com
A despeito disso, sei que há, em Pernambuco, pelo menos, dois corações deveras piegas: que acreditam no amor como meio, no engajamento como forma e na utopia como meta. Desde 2006, a revista Tatuí não é outra coisa senão uma construção diária de utopias. O lugar (im)possível sempre foi (e é) demarcado para além de nossa possibilidade; o amor, a força motor de nossos esforços; e o engajamento, a maneira de fazer que se juntem a nós outros corações – talvez não assumidos, mas igualmente piegas – que, de alguma forma, se dedicam ao projeto. Há quatro anos atrás, o fanzine Tatuí era o lugar (im)possível que precisava ser construído. Não havia em Recife (e continua não havendo), um espaço onde pudessem convergir encontros e interlocuções de ideias acerca das artes visuais, em que as vozes fossem plurais e de valores equidistantes a despeito de suas origens/formações. 67
(2) Tainá Azeredo e Thereza Farkas,
A cada novo projeto (edição dos números impressos e revis-
idealizadoras e coordenadoras da Ca-
ta online), o lugar (im)possível se restabelece. Lançamo-nos ao
sa Tomada.
desafio não só da captação de recursos, de engajamento dos (novos) colaboradores, de projetos editoriais mais aprofunda-
(3) O encontro fazia parte da agenda de encontros promovidos pelo programa de residência ateliê aberto #2.
dos (sem deixar de ser experimentais), como também de ampliar a acessibilidade aos conteúdos e possibilidade de trocas diversas através de encontros interpessoais.
(4) Os quatro dias na Casa Tomada me possibilitaram belos encontros com: Carlota Mazon, Carolina Mendonça,
Do engajamento
Caroline Valansi, Clara Crocodilo, Erica Ferrari, Habacuque Lima, Josefa Pereira, Luísa Horta, Mayra Martins, Mayana Redin, Rodrigo Castro, Rosana Mariotto, Tábata Makowski, Tainá Azeredo, Thais Graciotti, Thereza Farkas e William Lima. (5) Dos grandes modelos, só restou soberano o capitalismo.
Nesse sentido, a Tatuí, hoje, não se trata, apenas, de uma revista. É um projeto coletivo (apesar de ter suas ações catalisadas pelas editoras) articulado por uma rede de colaboradores que ao fomentar encontros para debates e oficinas, promove também, trocas simbólicas e de afeto. Tais trocas, por sua vez, alicerçam a possibilidade de novos lugares a serem construídos... Através dessa rede, chegamos à Casa Tomada(SP). Para minha surpresa e alegria, descobri que por trás deste projeto há também dois corações – será que posso dizê-los piegas? Porque não foi de outro jeito que, senão com amor, fomos recebidas. Tínhamos sido convidadas para uma tarde de debate e, quando nos demos conta, já estávamos envolvidas pelo afeto. Não à toa, continuei frequentando a Casa nos quatro dias que se seguiram. Uma vez ali acolhida, passei a desejar as trocas – e foram muitas. Era caminhar pelos cômodos do sobrado e não tardava encontrar preciosidades em forma de gente. Nesses poucos dias, meu repertório se ampliou enriquecidamente: sobre música, teatro, dança, arquitetura, cinema... Foram deba-
tes sobre arte, política, coletivos, subjetividade, editais e políticas públicas, publicações de arte, processos criativos, poesia... Naqueles dias lá, entendi que, pelos pavimentos, os encontros edificam e potencializam o projeto Casa Tomada. Assim, os artistas e pesquisadores residentes, convidados das mais diversas áreas de atuação e visitantes espontâneos, alimentam a si mesmos e fazem alimentar os desejos de criação individuais e coletivos. Daí, se pode imaginar que não havia outro jeito que não fosse o me render ao engajamento. A Casa Tomada, à semelhança da Tatuí, se (re)pensa e se (re)faz a cada novo projeto do programa de residência ateliê aberto; tanto quanto, costura, com afeto, sua rede de colaboradores para construir seus lugares (im)possíveis. Da utopia
Sem os grandes modelos ideológicos, ficou um lugar por ali, adiante, ainda por ser demarcado e construído: sem palavras de
_ Josefa Pereira nasceu em Vitória da Conquista (BA) mas chegando em São Paulo ainda bebê cresceu entre os bairros da Mooca, Vila Prudente e Tatuapé. E é também nos extremos da periferia leste desta cidade que hoje atua como artista orientadora de grupos de dança. _ Começou a dançar ainda pequena. Se formou em balé clássico na Escola Municipal de Bailado, passou por alguns estúdios de dança da cidade e se graduou em performance e dança no curso de Comunicação das Artes do Corpo (PUC-SP). _ Seu interesse criativo começa a delinear um campo de investigação que utliza-se de recursos das artes visuais e da performance para explorar as relações do corpo que dança como um corpo que se move em construção simbólica com diferentes espaços e inspira-se na invenção de jogos e regras colaborativas para formar conteúdos expressivos.
ordem, ou pílulas teóricas anti-ansiedade coletiva. 69
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agradecimentos Alessandra Mattavelli Antonio Paulino do Santos Simone Ayoub Carolina Mucin Pedro Marques Ana Luisa Lima Beco da Arte Clarissa Diniz Eduardo Brandão Gabriel Bá Lucas Bambozzi Marcelo Tas Marcio Harum Nino Cais Ronaldo Entler Rosana Mariotto Silvia Mecozzi Solange Farkas Tata Amaral Claudia Azeredo Pedro Farkas
equipe
Equipe da casa tomada direção Tainá Azeredo e Thereza Farkas.
produção Maya Mecozzi
conselho Habacuque Lima
convivências #2
textos Carolina Mendonça e Tábata Makowski
projeto gráfico Lila Botter impressão e acabamento Mattavelli 73
índice remissivo de imagens capa: Carlota Mazon PG. 6 e 7: Clara Crocodilo PG. 8: Caroline Valansi (acima);
Josefa Pereira (abaixo) PG. 9: Erica Ferrari PG. 13: Carlota Mazon PG. 16: Caroline Valansi PG. 17: Rodrigo Castro PG. 19: Rodrigo Castro PG. 20 e 21: Josefa Pereira PG. 26 e 26: Josefa Pereira PG. 28 e 29: Clara Crocodilo PG. 30 e 31: Clara Crocodilo PG. 33: Josefa Pereira PG. 34 e 35: Luísa Horta PG. 37: Caroline Valansi PG. 38 e 39: Josefa Pereira PG. 40: Josefa Pereira PG. 48 e 49: Caroline Valansi PG. 51: Luísa Horta PG. 52: Josefa Pereira PG. 53: Caroline Valansi PG. 56: Josefa Pereira PG. 58 e 59: Luísa Horta PG. 60 e 61: Josefa Pereira PG. 62 e 63: Carlota Mazon PG. 65: Caroline Valansi PG. 67: Josefa Pereira PG. 69: Carlota Mazon PG. 70 e 71: Clara Crocodilo PG. em papel vegetal: Caroline Valansi
A Casa Tomada é um espaço reservado para práticas, investigações e reflexões de caráter artístico. O projeto surgiu da vontade de construir um espaço que fosse um ponto de convergência entre as diversas áreas de atuação das artes. Focado em todo o processo de produção e não somente no produto final, o Ateliê Aberto tem como proposta incentivar a discussão e o desenvolvimento de trabalhos motivados pela vivência compartilhada na Casa, além de discutir o hibridismo de linguagens nos processos artísticos contemporâneos. www.casatomada.com.br
Rodrigo Castro APAGA A LUZ Videoperformance, 2010 Flipbook: para assistir, segure com o polegar esquerdo na marcação ao lado e folheie rapidamente as páginas.