Convivências #3

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convivĂŞncias #3 casa tomada


Isto não é uma pesquisa.

Comportei-me como se houvessem duas posições simultâneas e a do pesquisador e a do artista. Mas omiti que, de um ao e incerto, estava assinalado. E estava assinalado pela e a arte toda uma série de cruzamentos; ou, antes, de um adverso, trabalhos que solapam e destroem, golpes de lança que vocês estão lendo, cuja forma sem dúvida reconhecem é" (não é substancialmente ligado a..., não é constituído (quer dizer, essa palavra pertencente a sua linguagem, feita você lê neste momento traduzem). Isto não é uma pesquisa

Isto é arte.

*Ana elisa caRramaschi e paula borghi participaram como pesquisadoras do ateliê aberto #3


convivências #3 casa tomada

por Ana elisa e paula*

bem separadas uma da outra, no interior do mesmo espaço: outro, um liame sutil, instável, ao mesmo tempo insistente palavra "isto". É preciso, portanto, admitir entre a pesquisa ao outro, ataques lançados, flechas atiradas contra o alvo e feridas, uma batalha. Por exemplo: "isto" (esta publicação e do qual acabo de desatar os liames caligráficos) "não por..., não recobre a mesma matéria que...) "uma pesquisa" de sonoridades que você pode pronunciar e cujas letras que pode, portanto, ser lido assim:


INTRODUçãO (Paula)

diferente, pois a forma com que ele trabalha é outra, mais íntima; assim o texto se desenvolveu a partir de uma

Sinto como se houvesse uma

conversa propriamente dita. Já o texto

impossibilidade em dizer o que está

Projeto Experimenta! Ou El Dorado é

acontecendo de imediato, pois mesmo

resultado de um projeto feito a seis

o mais ágil locutor precisa que a ação

mãos, com Mavi Veloso, Arthur Tuoto e

aconteça primeiro para depois fazer

eu, porém escrito a duas.

a locução, da mesma maneira que o

Entendo minha participação nesta

tradutor precisa antes da locução para

publicação como uma das possibilidades

então traduzi-la, e assim por diante...

em dividir um pouco de minha

Isto é, há sempre um tempo e um espaço

experiência, pois além de precisar de um

entre uma fala e outra.

distanciamento (tempo e espaço),

Portanto, é muito difícil “falar” de algo que ainda está em desenvolvimento, visto que a publicação é lançada concomitantemente com a exposição e que ainda estamos em convivência, em laboratório. Desta maneira, dos 4 textos que apresento, apenas Da janela faz reflexão ao trabalho específico Todos os Livros Na Biblioteca, Na Janela, de Rita Soromenho. Este trabalho, infelizmente não se encontra em exposição, embora tenha sido desenvolvido durante o Ateliê Aberto #3 e como um site specific para a Casa Tomada. Quanto aos outros textos, de uma maneira ou outra, são frutos de uma construção em conjunto. Os textos FROM : TO e CUT up são conversas que tive com os artistas Arthur Tuoto e Alexandre B., respectivamente, com cada um de uma maneira; a fim de tornar palpável suas pesquisas. Em

acredito que existam coisas que só podem ser exprimidas a partir da própria experiência, pois o próprio pensar em arte já é uma experiência de arte. Então pergunto, qual a diferença entre ser um pesquisador e ser um artista, tendo em vista que todo artista é um pesquisador?

da janela

Todos os Livros Na Biblioteca, Na Janela, de Rita Soromenho

Há aproximadamente um mês e meio a artista portuguesa Rita Soromenho reside no Brasil; aqui aprendeu a comer

conhecimento? E que quando não vividos são apenas objetos sólidos? Quando Rita nos apresenta Todos

goiabada e pão de queijo, a se perder e a

os Livros Na Biblioteca, Na Janela ela se

se achar, a falar outro tipo de português e

apropria de todos os livros da biblioteca

a recusar-se a comprar um casaco porque

da Casa Tomada como um objeto, mas

o Brasil é um país tropical, mesmo com

antes os vive. Para a construção do

uma temperatura de 19 graus.

trabalho, a artista passa por uma prática:

Entretanto, há outras maneiras de atingir o conhecimento, como por

a de empilhar, de construir e de erguer uma estrutura densa.

exemplo através dos livros; estruturas

Assim, Rita ergue uma “janela de

sólidas capazes de tornar palpável os

livros” na frente de uma janela de vidro,

FROM : TO o texto se desenvolveu

A cultura não é um OBJETO de estudo,

pensamentos, as ideias e as vivências.

criando uma janela de pensamentos.

através de uma troca de e-mails, visto

mas gera objetos a serem estudados.

Poder-se-ia então dizer que os livros são

Uma janela que nos convida a abri-la, a

que grande parte da pesquisa de Arthur

Qual seria a melhor maneira de

objetos provenientes de uma prática de

retirar um livro de cada vez e vivenciá-lo.

acontece on-line. Com Alexandre foi

conhecer uma cultura senão vivendo-a?

conhecimento e que geram também

Uma janela de objetos transcendentes.

Paula Borghi Paula Borghi, 1986, vive e trabalha em São Paulo. Bacharelado em Educação Artística e Habilitação em Artes Plásticas, FAAP, orientada pela Dra. Christine Mello. Seu trabalho mais recente foi a residência como pesquisadora no Ateliê Aberto #3 da Casa Tomada. Integra o grupo COMO e beco da arte. Como curadora, realizou a individual da artista Renata Egreja (2010), tem uma exposição agendada para março de 2011 no Memorial Meyer Filho, Florianópolis, e participou do projeto Expomus – Novos Curadores. Enquanto artista, tem como destaque as seguintes exposições: 2°MIP Belho Horizonte (2009), 5ª Mostra de Vídeo da FASM (2009), 40° Anual de Artes da FAAP (2008/2009) e 32° Salão de Arte de Ribeirão Preto- SARP (2007). Também já foi assistente de Eduardo Brandão na Galeria Vermelho (2009/2010), estagiária da curadoria do Centro Cultural São Paulo – CCSP (2008/2009) e assistente da curadora Ana Paula Cohen no Projeto Istmo - arquivo flexível (2005).


convivências #3 casa tomada

from : to

Além de ser um dos primeiros vídeos que trata dessa potencialização do gesto no

On 10/4/10, Paula Borghi <pahpaula@

meu trabalho, ela estava simplesmente

hotmail.com> wrote: Então, aproveitando

olhando pela janela, eu notei uma luz

que estamos viajando gostaria de iniciar

especial entrando, tinha uma câmera

nosso ciclo de conversar virtuais. Uma

fotográfica do meu lado, eu liguei a

vez você me falou que conheceu sua

câmera no modo filmagem e gravei. O

namorada pela internet.

vídeo tem exatamente 1 minuto, que é o

Fico pensando, você a conheceu através de uma imagem eletrônica,

Frame do vídeo Fábula de um esquecimento, de Arthur Tuoto

tempo limite da memória para filmar (era uma câmera digital antiga).

a minha imagem dela, em especial

dela, acontece de ter uma câmera ao lado

queria saber um pouco como isso

I See You, 2008 (www.arthurtuoto.

desse encantamento por ela, que

e eu filmo sem pretensão ou sem saber

aconteceu, entender melhor esta

com) surgiu do nosso primeiro encontro

acredito nunca termina mas vai só

exatamente aonde vou usar aquilo. Na

natureza eletrônica.

pessoalmente, eu gravava e ela não

se transmutando em outras formas,

verdade ela ainda está presente mesmo

sabia que a câmera estava ligada. É

outras possibilidades de olhar, e etc etc.

nos filmes mais “sérios” (várias aspas aí),

isso?

um flagrante dessa coisa intensa do

No trabalho acadêmico dela também

como por exemplo no diálogo entre nós

Date: Thu, 14 Oct 2010 11:16:22 -0300

encontrar pela primeira vez etc.

existe essa busca pelo olhar e por novas

sobre o caso Isabela naquele filme que

possibilidades dentro disso, e como o

você viu, só que lá é mais uma partilha

Você poderia falar um pouco sobre

From: arthur.tuoto@gmail.com

Corpse #5 (vimeo.com/1419372) é parte

To: pahpaula@hotmail.com

de uma instalação coletiva em vídeo, um

processo dela é a pesquisa, e o meu é o

social/política (coisa que temos muito) do

Consegui roubar internet do vizinho,

pouco desse nosso transitar constante

“fazer artístico”, acho que os vídeos são o

que de fato um encantamento afetivo.

então aí vai, vou tentar responder tudo

que foi a primeira fase do relacionamento

meu melhor resultado disso tudo.

Mas ainda assim, diz muito sobre essas

bem intuitivamente.

talvez... Acho que o único vídeo mais

Na verdade eu nunca tinha pensando muito nisso, mas de fato a nossa relação se iniciou ‘virtualmente’, ou ‘digitalmente’,

Mas teria muito mais pra pensar dentro

“encomendado”, talvez por isso ele é o

disso. Eu gosto desses vídeos com ela

menos funcional.

mas não considero, digamos, o principal

O vídeo Em Setembro, 2010 (www.

mudanças e permanências do meu olhar sobre nós e o que nos circula. Mas acho que bem basicamente é

do meu trabalho, são mais vislumbres

isso, se eu pensar em alguma outra coisa

seja por imagem/chat, seja por telefone/

arthurtuoto.com) é o super-8 que você

que eu gosto de registrar e acredito que

te mando.

skype, etc. E é claro que no mundo digital

já viu, que de certa forma reitera aquela

tenham uma força afetiva legítima e por

On 2010/10/14 Paula Borghi <pahpaula@

esse processo de encantamento é sempre

ideia do gesto e da delicadeza material.

isso mesmo essa potência. E são coisas que

hotmail.com> wrote: Engraçado você

surgem muito naturalmente de qualquer

dizer que nunca havia pensado nisso!

muito forte, justamente porque existe

Nem sei se era pra eu estar falando

toda uma idealização do outro (caso que

desses trabalhos aqui, mas eles são

forma, nunca planejei fazer um filme com

faz com que vários casais se encontrem

provavelmente o que melhor espelham

ela, ou mesmo filmar ela e essa imagem

Quando vejo seus vídeos (principalmente os com a Tainah) para

na net talvez). E logo depois do primeiro encontro, quando existe a realidade, esse encantamento até aumenta, na espera do

leitura de portfólio

próximo encontro e consequentemente na alimentação desse ‘ideal’. Na verdade no meu caso não sei se isso um dia terminou, acho que foi mudando, indo pra outras áreas da minha psique (e de alguma forma o meu trabalho mostra isso), ela sempre esteve presente no meu cotidiano desde então de uma maneira quase orgânica, desde que nos falávamos pela internet até quando fomos morar juntos, alguns vídeos que talvez mostrem

Ao longo do processo de residência do Ateliê Aberto #3,

melhor essa ‘cronologia do afeto’:

sentiu-se a necessidade de fazer leituras dos portfólios dos

Em Tainah, 2008 (www.arthurtuoto.

artistas e pesquisadores abertas a todos os participantes

com), uma espécie de haikai digital,

para que, assim, conhecessem mais a fundo as produções

que acredito explora bem esse

uns dos outros. Para isso, convidamos os curadores Marcio

encantamento, ainda que ‘discreto’ de

Harum, Josué Mattos e Yasmina Reggad.

alguma forma, essa ‘explosão silenciosa’.


“Videografias de Contato”. Não deixa

com eles tendo essa noção, alguma coisa

de ser um contato anônimo também,

talvez se perderia.

diferentes! Mas tem algo que

subversivo também, porque quem trava

aproxima os dois.

o contato talvez seja só eu, o homem

Acho que a melhor maneira de você descobrir um ambiente é ficar invisível dentro dele.

Delito, 2010. São flagrantes completamente

Claro, o encantamento pode acontecer

Frames dos vídeos de Arthur Tuoto: Tainah, I See You, Em Setembro e Corpo Delito, respectivamente

inconsciente na calçada, aqueles ao redor,

tanto por uma imagem de amor, como

mesmo a Tainah, são filmados sem saber.

por uma imagem de um assassinato (ou

Mesmo a questão dos diálogos, aquele

até mesmo guerra, lembrando dos vídeos

entre eu e o meu amigo no Ensaio para

que você me mostrou da guerra do

um Vídeo Vigilância, ou com a Tainah

Iraque). Você pode falar um pouco disso,

no Corpo Delito, são diálogos que eu

do contato e do encantamento.

gravei sem eles terem conhecimento,

Date: Fri, 15 Oct 2010 14:07:04 -0200

apropriações “ilegais” talvez. Acho que

From: arthur.tuoto@gmail.com

tudo isso acontece porque não gosto de

É bem a frase do Jem Cohen: “And as

To: pahpaula@hotmail.com

interferir na coisa em si, por exemplo, se

I became invisible, I started to see things

A questão do encantamento/fascínio

eu descesse na rua e filmasse o corpo do

that had once been invisible to me.” A

eu já havia pensado sim, sempre penso.

cara, ou se antes de começar a gravar o

imersão no ambiente é tanta que você

Digo que nunca havia pensado nessa

diálogo com meu amigo eu falasse pra

começa a fazer parte dele e a notar coisas

coisa da imagem eletrônica da Tainah ser

ele que a coisa estaria sendo gravada,

que antes era invisíveis a você.

o meio pelo qual eu primeiro a conheci, e

tudo seria diferente. A minha presença

On 2010/10/18 Paula Borghi

como, ou se, isso influenciou os vídeos e

iria interferir nos fatos/conversas, não que

<pahpaula@hotmail.com> wrote: Nossa

o meu olhar, etc.

eu já não interfira do jeito que faço, mas

estas suas últimas frases me fizeram

Aliás, essa questão do encantamento é mim fica muito claro o encantamento

algo que se dá muito pelo meio eletrônico

através da imagem.

mesmo em alguns casos, ou pelo menos

Acho que o mesmo acontece com

vai se materializar de fato no meio

outras personagens de seus vídeos, claro

eletrônico. Sejam as coisas “reais” filmadas

com uma intensidade outra.

(Tainah, homem inconsciente na calçada),

Você já pensou na imagem

sejam as coisas filmadas da Tv, como no

videográfica como um meio de você

Transcomunicação, que você já viu, que

criar “contato”?

o fascínio em si se dá pela inconstância/

Um contato com esta imagem anô. nima, sabe? Por exemplo, pensando no vídeo I See You, você grava sem avisá-la que a câmera estava ligada e usa a palavra flagrante para descrever este momento. De uma maneira completamente outra você faz a mesma coisa em Corpo-

materialidade de um sinal televisivo e, talvez, nossa relação de espectador com aquilo e toda a política do olhar que está invariavelmente atrelada a isso. Engraçado você usar a palavra Contato, um termo que já usei em alguns textos sobre outros trabalhos e que de certa forma se adequaria ao meu é

Projeto Experimenta! ou El Dorado

Isadora Ferraz Isadora Ferraz, vive e trabalha em São Paulo. É graduada em Artes Visuais, pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Atualmente desenvolve sua pesquisa em torno do desenho, da pintura e da performance, privilegiando os diferentes elementos envolvidos no processo de criação. Participa do grupo Cavuca voltado para procedimentos de intervenção nos desenhos e gravuras dos outros integrantes. Frequentou cursos e ateliês como: gravura com Paulo Penna e Técnicas Experimentais com Helena Freddi , Ateliê Livre de Gravura com Alex Cerveny e o curso de monotipia com Dudi Maia Rosa . Teve trabalhos publicados em livros e revistas, dentre eles Partilha (Prêmio PAC-2008) de Gabriel Rath Kolyniak, Notas.Atos. Gestos de Silvio Ferraz e Revista MININAS (2006). Em 2008 foi assistente de Alex Cerveny na exposição Correspondência Nasca e realizou a performance Caduceu de Rafael Nunes. Participou das coletivas IV Salão da Casa da Xiclet Salão da Piscina (SP) e coletiva Nossos Olhares realizada na Galeria 13 do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.


convivências #3 casa tomada

Mavi Veloso Mavi Velosos é natural de Pacaembu e mineiro de sotaque. Graduado em Educação Artística com Licenciatura em Arte Visual pela UEL – Londrina, tem formação e treinamento em diversas artes corporais e, desde 2007, tem transitado por: Escola Municipal de Circo; Escola Municipal de dança; Treinamento-Improvisação com Ana Teixeira; Percepção Física com Alejandro Ahmed e Mariana Romagnani; workshop sobre desenho com Estêvão Haesser e Jorge Bucksdrieker, entre outros. Entre os trabalhos realizados destacam-se: despétalas repétalas e trampolim pra coração enamorado, Casa de Cultura UEL_ Artes Plásticas, Londrina (2010); Deus é Milionário, cena performática, Semana Acadêmica de Artes Cênicas UEL, Londrina (2010); PAPECLARKOITICICA, intervenção-performance do Coletivo MANADA , em Londrina (2010); MIP2 apresentação com BOLHA com Estela Tiemy(2009) e Instalações Efêmeras, como resultado do workshop com Dudude Herrmann, Belo Horizonte; Contenda, teatro visual, com Jussara Ruas, direção de Margarida Morini Vine, no Sesc Fernando de Noronha, Londrina (2008).

lembrar muito de um livro, Invenção de Morel, do Aldolfo Bioy, você conhece? Pois bem, o narrador está em um

só acontece na imersão mesmo. Mas por um lado esse encantamento todo não pode fugir do controle, se

pela coisa toda. Por isso sempre existe esse

do que uma boa justificativa para nos

intervalo saudável, até pra ver se de fato

conhecermos melhor. Naquele tempo

existe alguma coisa ali ou não.

costumávamos passar horas em volta

ambiente tão imersivo e busca tanto por

não vira só mais um dispositivo de

ficar invisível que começa a ver coisas

contemplação e pronto, coisa que

que antes era invisível a ele. Mas este

acontece com muitas obras (e que já

começar a “ver coisas” pode também ser

aconteceu comigo várias vezes também).

um estado de loucura, não?

Por isso acho que o trabalho mesmo

Date: Fri, 22 Oct 2010 15:14:17 -0200

está em achar um equilíbrio entre esse

Lembro-me do primeiro encontro dos

Arthur e eu começávamos nosso projeto,

From: arthur.tuoto@gmail.com

fascínio e um conceito quase racional

residentes do Ateliê Aberto #3 na Casa

mesmo sem saber que ele seria um

To: pahpaula@hotmail.com

(político?) sobre esse olhar, ainda que

Tomada, havia muito pão aquele dia!

projeto. No começo era apenas um

Então, acho que qualquer obsessão pode

partindo da intuição... O que sempre leva

Resultado: tivemos pão para a semana toda,

motivo para nos conhecermos, que

virar loucura né, até por uma paisagem/

bastante tempo, essa ‘descontaminação’

foi uma delícia! Pena que no dia em que

depois virou o grande e extraordinário

imagem. Alguém me disse uma vez

do ambiente, da imagem, pra aí sim poder

surgiu o projeto Experimenta! ou El Dorado o

Experimenta! ou El Dorado.

que existe uma coisa chamada “Teoria

trabalhar nela. A própria imagem do cara

pão estava mofado. Pena ou não, foi a partir

da Paisagem”, que é quando você fica

inconsciente na calçada, eu filmei em 2007,

deste mofo que surgiu a conversa.

olhando tanto tempo uma mesma

mas só agora achei um lugar pra ela ou

imagem/paisagem que passa a perceber

estou conseguindo lidar com isso. Porque

Mavi Veloso, Arthur Tuoto e eu (Paula

coisas que antes não percebia ou que

se eu fosse trabalhar com ela (e com todas

Borghi) estávamos tomando um café e

mesmo não estão lá. Aliás, o nome

as imagens) logo que filmo, talvez me

conversando sobre a vida. Era a segunda

daquele filme do Roberto Bellini que te

animaria demais com tudo e perdesse o

semana de convivência na Casa Tomada

mostrei se chama Teoria da Paisagem, mas

rumo, já que o meu olhar estaria viciado

e o ato de tomar café nada mais era

Compartilhar o pão é o mesmo que compartilhar ideias; foi assim que tudo surgiu.

projeto Experimenta! ou El Dorado

No dia 17 de setembro de 2010,

não sei se é exatamente por esse motivo,

da mesa comendo pão, tomando café e batendo papo. Pois bem, o projeto Experimenta! ou El Dorado surgiu em uma dessas tardes, entre um café e outro. Entre um café e outro, Mavi,

Quando nos demos conta da

tem tudo a ver de qualquer forma. Você

dimensão do projeto, Arthur começou a

viu esse trecho do Jem Cohen né, Lost

negar sua participação, que aliás é muito

Book Found (www.youtube.com), mostra

pertinente visto tratar-se de Arthur.

bem essa relação de invisibilidade dele

Porém, neste momento já não havia

com a cidade proveniente desse estado

mais volta; o pão já estava dentro do

imersivo e ainda mais por esse estado

pote com tampa vermelha, mofando e

de ‘marginal’ digamos, no sentido de

caminhando pela Casa.

um indivíduo ignorado pelos outros e

Experimenta! ou El Dorado permitia

que passa a fazer parte da paisagem. O

um canal de interação entre o objeto

melhor modo de conhecer um ambiente

“pão” e as pessoas que estavam na Casa,

acho que é simplesmente ficar parado e

possibilitava que o “pão” circulasse

olhar, mesmo uma cidade, um lugar novo

conforme a vontade de cada um, e

etc, as pessoas se preocupam tanto em

foi a partir desta liberdade que o pior

‘desbravar’ tudo, andam por tudo, que

aconteceu: misteriosamente, no dia 22

acabam não vendo nada, acabam não sendo invadidas por nada, e essa invasão

Esquema do projeto Experimenta! ou El Dorado

de setembro, o pão sumiu. Foi o fim do Experimenta! ou El Dorado.


dre Ele escreve uma página de texto,

ca tudo suspenso? ¶ CUT up ¶ alexan-

se você for pensar... ¶ APAULA Então fi-

pra cima e acabou a ideia de gravidade,

dade é uma inversão, ela está pingando

É uma brincadeira com isso tudo. Na ver-

vou até um lugar, a partir dali é com ela.

gota. Eu cheguei em um ponto, eu só

neira que encontrei de controlar aquela

no caso, toda essa coisa do caos foi a ma-

mo o que o Magritte faz com a janela. E

mensão, como se abrisse um portal. Co-

lidade física, mas que dá uma outra di-

ca. Que é um recurso físico, de uma rea-

que é o mais legal, que é a inversão óti-

XANDRE E tem aquela brincadeira toda

3D. É um jogo, você cria um jogo. ¶ ALE-

relação direta com Magritte, só que em

gotinha pingando, me veio a tona esta

na residência na Guignard, o que tinha a

do você me mostrou o trabalho que fez

copo, janela, moldura, cadeira... Quan-

PAULA E também tem uma repetição:

serem modificados completamente. ¶

toda aquela imagem e aquele cenário

pequenos deslocamentos que “fazem”

que não estava na primeira imagem. São

gunda já não tem o cara na cadeira, na

ta essa imagem tirada do jornal, na se-

do em quatro partes; em uma ele retra-

rativa e uma história. O quadro é dividi-

e todo um cenário que sugere uma nar-

outra ele coloca um objeto em um lugar

corta a página em quatro e emenda ela.

cut

Ele pega uma outra página, emenda, e a frase que forma [ele usa]. O que muda

você vê um cara sentado numa cadeira e a partir dali ele fez um quadro. Na tira balho onde ele pegou um tira de jornal o mais vital dele. Nesse livro tem um traé o que eu acho mais legal no Magritte, usando elementos que estão “aqui”. Isso segue falar de coisas muito complexas mo tempo que é muito simples, ele connaturalidade que até espanta! Ao mesma coisa que é super real, ele usa de uma algum jeito transformar aquilo tudo nuturas do Magritte, mas ele consegue de to simples. É tudo muito banal nas pin-

up

completamente. Nos livros do Burroughs

mum dos objetos, de uma maneira muijetos. Ele consegue ultrapassar o uso co-

ele usou isso muito. Em Naked Lunch, que

essa reação meio metafísica com os ob-

é incrível... são universos completamen-

fluência bem forte. Por isso mesmo, por

te alucinados do cara, e ele ainda envol-

os trabalhos dele. Pra mim ele é uma in-

via isso com o universo das drogas. O ca-

co do imaginário dele, até porque adoro

ra tomava muita droga, essa era a pro-

XANDRE Eu acho que partilho um pou-

posta do livro, buscar essa inconsciência,

com uma esperteza mesma, não? ¶ ALE-

um absurdo, no viés das drogas. ¶ PAU-

também usa, não? E de uma certa forma,

LA Como uma experiência? ¶ ALEXAN-

cância. Ás vezes você usa objetos que ele

DRE Como experiência, e fica bem legal.

tem com os objetos, os signos e a signifi-

Eu tenho uns vídeos dele fazendo isso,

Isso é uma coisa que o Magritte também

com essa técnica do ‘cut up’. Ele escreve

do que a gente dá pras coisas. ¶ PAULA

um texto, recorta as frases e monta ou-

cria para se moldar ao humano. O senti-

tro texto. Isso é bem legal, é bem do sur-

mo se fossem naturezas que a gente re-

realismo. Um procedimento dentro dis-

e que são super adaptáveis à gente, co-

so que você esta falando. Textos ao aca-

pra gente, como uma segunda natureza,

so que juntos formam um segundo tex-

trói, percebi que os objetos são voltados

to. ¶ PAULA Mas é um acaso meio pro-

essas coisas matérias que a gente cons-

gramado também, não? ¶ ALEXANDRE

le dia, sobre o cuidado que damos para

Querendo ou não é, porque depois ele

que a gente teve com o Nino [Cais] aque-

tenta organizar o acaso. Para ter uma lei-

tos que a gente fabrica. Numa conversa

tura ele tem que remanejar aquelas fra-

pensar na gente, seduzido pelos obje-

ses, para criar o mínimo de ligação. Que-

objeto, como forma de cultura. Da pra

rendo ou não, o acaso é um contra-lado.

é. E isso ultrapassa para a sedução do

¶ PAULA Todo o acaso tem uma organi-

eu não sei e nem me interessa saber qual

zação. ¶ ALEXANDRE É isso que eu fiquei

aqueles objetos. Por algum motivo que Mas querendo ou não, tudo é caos. O

universo é o caos, a gente como ser hu-

mano que tenta organizar isso, dar um

sentido pras coisas. Porque as coisas não

tem sentido inerente nelas. ¶ PAULA Se

a gente quiser analisar o grau de orga-

nização, ou de caos, podemos falar de

entropia. Mas tudo é contaminado, por-

que é assim que as coisas surgem, não?

¶ ALEXANDRE Eu acho, pelo menos, na

minha percepção. Porque o cosmos é

essa coisa, quase um acaso. E isso aca-

ba com a ideia que existe uma mente

organizadora das coisas. Considerando

que isso não existe, as coisas se formam

por elas mesmas, você não acha?! É um

encontro de coisas que formam ou ge-

ram aquilo, onde muitas vezes não tem

muita regra. ¶ PAULA Pode-se dizer, en-

tão, que seu trabalho segue mais ou me-

nos assim? ¶ ALEXANDRE Eu acho que

dialoga com isso, querendo ou não, é o

que eu passo com os trabalhos. Uma coi-

sa que te ultrapassa, que você não con-

segue capturar. Como se você tentasse

capturar uma coisa que sempre está te

escapando. Uma busca de algo sempre

em fuga, fugir disso. A ideia das maripo-

sas surgiu como uma armadilha para as

mariposas afim de capturá-las e não tem

uma lógica, é uma armadilha super alea-

tória: são objetos. Eu queria, que por al-

gum motivo, elas se interessassem por

pensando depois que você falou aquela parada do caos. Fiquei pensando muito nisso, até colocando isso dentro das coisas. Dentro desse trabalho que eu tô fazendo aqui na Casa Tomada e de outros que eu já fiz. O que é engraçado, porque quando você pensa no caos é uma coisa que te ultrapassa, e a organização é esse corpo que se forma dentro do acaso. O acaso que possibilita um campo formar os outros corpos; as organizações.


convivências #3 casa tomada

INTRODUçãO (Ana Elisa)

aceitei questionar os processos alheios. Talvez eu procure uma relação de identidade. Talvez acredite numa

A princípio não estava interessada em

identidade compartilhada ou no espelho

falar sobre os trabalhos das pessoas.

dos outros. E talvez essas propostas

As pessoas me interessam mais que

venham a me convencer de que o

tudo. Comecei a residência interessada

indivíduo é algo a ser explorado no

em investigar as relações, as interações

sentido de desconstruir o individualismo.

no espaço. Fugi durante um tempo de

Pensei em me tornar totalmente

todos os trabalhos. Eu queria conhecer

porosa e entrar nas pesquisas alheias

personalidades, motivações, energias

procurando o que me interessa na origem

que envolvem cada processo.

das representações dos outros, em cada

Interessa-me indagar pelo que move

processo artístico com o qual convivi.

Armadilha para mariposas, de Alexandre B

com um limite, que nesse momento,

specific porém não utiliza a parede como

acontece a partir de uma data.

suporte para o desenho.

as pessoas, pelo que faz com que elas se

Por muitas vezes procurei o meu

movam, por vezes, juntas, com que elas

eu aqui. E o meu eu é aquele que se

troquem, que elas sejam contagiadas

comunica, que constrói memória,

nessas conversas com cada artista se

umas pelas outras. Interessa-me procurar

memória desse processo.

apresenta como e-mails que foram

pela estrutura que se abre ao contágio,

Procurei nos pequenos detalhes da

O formato que se estabeleceu

Quer dizer, o que está por trás dessa opção, em manter o desenho no papel? Sei que seu trabalho tem uma relação

trocados, e estão reproduzidos da

forte com os livros e com os cadernos de

encontrar o que permite a contaminação.

convivência compreender cada um em

mesma maneira como aconteceram. Não

anotações, e essa relação fica explicitada

o porquê de cada um, o que nos faz

seu processo. E nas pequenas frases

pretendi com isso construir materiais

quando se coloca as próprias páginas dos

permanecer no mundo e nos faz querer ser

entender os seus porquês. Num processo

discursivos sobre cada um, pois trata-

cadernos arrancadas expostas na parede.

artista. Interessa-me a pergunta original,

meio voyeurístico, procurei anotar

se de evidenciar a relação. Foram então

aquela que estamos sempre procurando...

pequenas coisas, recortes de realidades

feitos apontamentos que serviram

avançar para a parede, e foi aí que

Interessome pelo processo que transforma, reforma, e muda o entorno.

faladas, pra construir esse trabalho.

como entradas e maneiras de entrar em

comecei a me questionar.

Talvez eu procure nos outros as minhas

Eu tentei encontrar nesses processos,

contato com cada produção.

Mas seria comum fazer o desenho

Essa ação de arrancar as páginas do

um processo pra mim, que aqui, foi novo e

O interesse pelo processo e pelos

caderno é parecida com a de “quebrar”

diferente de tudo que já fiz. Isso aqui é uma

procedimentos é a linha que une tudo

com a ideia do livro como algo sagrado

tentativa de ecoar todos os trabalhos.

nessa publicação, afim de fazer um

e duradouro. Mantemos com cuidado,

material que seja experimental, propondo

e mesmo assim, o livro continua sendo

questões, de maneira investigativa.

comido pelas traças, pelo tempo que

Enquanto escrevo, ainda estamos todos em prática artística, cada um em sua pesquisa, com limiares tênues nos separando. É doloroso pensar que

construir

fragilidades

destrói tudo aos poucos. Você se adianta e destrói os livros

respostas. Devo estar fazendo isso. Faço

quando as inter/intra relações (as da

porque achei perguntas dentro de mim

troca e as internas a cada trabalho)

em algum momento e achei legítimo

começam a se adensar, o processo

(Para Isadora) O primeiro ponto que

os objetos, uma nova relação com esse

voltar essa pergunta aos outros também.

chega a um fim. Mas como afirmamos e

questiono sobre seu trabalho é o fato de

material de passagem (o livro é material

reafirmamos muitas vezes nesses meses,

colocar seu desenho na parede, mas ele

de passagem porque dificilmente os

todo o trabalho se resolve no embate

continua no papel. Você trabalha o site-

lemos mais de uma vez – somente os mais

Voltei num momento para questionar o meu próprio processo, e como proposta,

e os cadernos, mas propõe com essa destruição um novo envolvimento com

Ana Elisa Carramaschi Ana Elisa Carramaschi é paulista, licenciada e Bacharel em Educação Artística pela FAAP e atualmente cursa história da arte no MIS-SP. Durante os últimos anos desenvolveu paralelamente ao seu trabalho de arte, projetos no mercado criativo de cinema e publicidade com direção de arte e montagem/edição de vídeo, atividades que fornecem grande parte do conhecimento técnico que leva para a produção em arte. De 2009 a 2010 integrou o coletivo editorial do Canal Contemporâneo e nesse período realizou a relatoria para o III Simpósio Internacional de Arte Contemporânea. Está finalizando seu primeiro curta-metragem, projeto em que realizou o roteiro, co-produção e direção de arte. Seu trabalho plástico se desenvolve principalmente em fotografia, vídeo e instalação, com um grande interesse na exploração da imagem e linguagem do corpo. Mantém o desenho e a escrita como prática para construção de projetos e desenvolvimento conceitual da pesquisa. Valoriza uma formação baseada em múltiplas experiências, traçando um caminho transdisciplinar.


jantares

queridos – e eles servem como passagem de memória, cultura e conhecimento de geração para geração) que não necessita lidar com a estabilidade das coisas quer

A cada edição do Ateliê Aberto, a Casa Tomada oferece três

dizer, propõe uma relação em que as

jantares à convidados com diferentes atuações no campo das

coisas não precisam durar.

artes para que, de forma bastante informal, os participantes

Sendo assim, pensamos no olhar

conversem e tenham contato com situações diversas do

para os livros como algo perene, para

circuito. Nesta edição o projeto contou com a participação de

passar a ser um olhar de natureza-morta,

Cacá Rosset, Galeria Mendes Wood e Ana Maria Tavares.

principalmente, como nos motivos Vanitas. Esta palavra parece ser essencial nesta compreensão do seu trabalho. A palavra Vanitas, em latim, significa

que nenhum conhecimento completará. Entendo também a inversão das

simbolismo envolvido nos motivos Vanitas,

Penso no seu desenhar como um ato

vejo nesse processo de site-specific uma

de resistência do desenho. São questões:

“vazio” e tem relação com a passagem

flores como uma reversão de valores.

necessidade de construir no próprio trabalho

Porque desenhar se posso scannerar,

do tempo dando insignificância para a

Sem atrativos por artes funerárias e

a expressão da fragilidade das coisas.

xerocar, fotografar, imprimir do google?

vida na terra e fala sobre a efemeridade

caveiras, os desenhos em papel, livros

de coisas ligadas à vaidade.

esburacados e as flores secas e invertidas

Quando você cavuca um livro, coloca ali

lembram a brevidade da vida, a futilidade

um espaço vazio. Em um conto de Borges, A

de agradar, o envelhecer, a certeza do

Biblioteca de Babel (1), ele fala da completude

apodrecimento, da morte... Quer dizer,

que imaginamos estar expressa nas obras

todo o gesto está marcado pela relação

literárias, como se uma biblioteca que

com a efemeridade da vida e com o vazio

abarcasse “todos os livros” abarcasse

que sucede o desaparecimento das coisas.

também a resposta pra todas as coisas:

Porém, no seu processo, não se trata de

1- BORGES, Jorge Luis. A Biblioteca de Babel In: ________. Ficções. Porto Alegre: Editora Globo, 1972. 84-94

sobre o

desenho

e o tempo

Como o interesse do seu desenho lida com relações de modelo e naturalismo, ele poderia ser resolvido facilmente em outras técnicas e fico intrigada com a resistência desse desenho. Ele é parte constituinte do seu trabalho, e não tem finalidade em si: é parte de instalações que necessitam também de outros elementos. O desenho, no seu trabalho, tem

“Quando se proclamou que a

ilustrar todas essas questões como os still-

(Para Alexandre B) Alê, muitas perguntas

importância expressiva menor, compondo-

Biblioteca abarcava todos os livros, a

life do norte da Europa nos séculos XVI e

vem à cabeça enquanto te escrevo, mas

se em relação a outros objetos como

primeira impressão foi de extravagante

XVII, que ilustravam pelos motivos Vanitas

a vontade é de não depender da sua

matéria no espaço, e não como composição

felicidade. Todos os homens sentiram-

a passagem do tempo através de uma das

resposta, porque pretendo construir

em si. Você alia o desenho a objetos e o

se proprietários de um tesouro intacto

técnicas mais duradouras da história da

um material que tenha independência.

desenho objetualiza-se e ganha dimensão

e secreto. Não havia problema pessoal

arte: a pintura à óleo. Este trabalho durará,

De alguma maneira, você é co-autor no

poética enquanto acesso ao tempo que leva

ou mundial cuja eloquente solução

no máximo, até o fim dessa exposição.

sentido de propulsor das questões as

para o desenho ser feito.

não existisse nalgum hexágono. O

Também a performance que você pretende

quais vou me referir.

universo estava justificado, o universo

fazer lida com esta relação com o efêmero.

Co-autor porque vejo o seu processo

Voltamos então à questão de arrancar as

e me pergunto o tempo todo: “Porque o

então chegamos perto e olhamos pra

usurpou bruscamente as dimensões

Imagino a instalação vista de longe com muitos objetos cobertos por mariposas,

ilimitadas da esperança.”

folhas do papel e colá-las na parede, com

desenho?” e “Porque eu desenho?”. O meu

mariposa e descobrimos: “é desenho” e

Ao explicitar esse “vazio” do livro

fita crepe, e não apresentá-las de maneira

questionamento dessa prática parte da

essa afirmação nos leva à um outro tempo,

fazendo neles buracos, você também nos

regular (que posteriormente se possa retirá-

observação de seu processo como alguém

esse tempo que acontece dentro do ateliê

diz sobre esse espaço do desconhecido, e

las dali). Para além de lidar com o mesmo

que desenha, e questiona esse fazer.

do artista, e longe do facebook, da tv,

alexandre b Alexandre B é natural de Belo Horizonte, e atualmente reside e trabalha na cidade de São Paulo. Formado em Comunicação Social pela UFMG e Artes Plásticas pela Escola Guignard/ UEMG – (habilitação Desenho e Fotografia), desenvolve trabalhos que trafegam entre o desenho, vídeos e objetos. Tem participado em festivais e exposições no Brasil e no exterior, dos quais se destacam: 15º Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil, realizada na cidade de São Paulo (2005); KunstFilm Biennale Köln – Bienal de Filmes de Arte de Colônia, Alemanha (2005); Videodanza BA, Argentina (2006); 10º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte (2008); 59º Salão de Abril, Fortaleza (2008); a coletiva 10+20, na Galeria Emma Thomas, em São Paulo (2010) e as exposições individuais Entrebranco no Palácio das Artes em Belo Horizonte, Minas Gerais (2006); Ateliê Aberto da Escola Guignard (2010) e Quando Nada, Museu Universitário de Arte -MUnA, Uberlândia, este em fase de produção para 2011.


convivências #3 casa tomada

forma de enfrentamento às técnicas

inexplicáveis objetos de desejo para estes

hoje. Vejo o desenho possuindo mais que

animais. Ou, a sedução que normalmente

nunca um frescor, capaz de surpreender

objetos da cultura, objetos de consumo,

e se adaptar constantemente à

feitos para nós, exercem.

contemporaneidade. Desenho porque

Pelo Desenho Soberano

pra mim é natural e chega a ser uma

Alê, interessante ler este trecho em

obsessão pela linguagem. • em relação ao tempo, acho que o

Jardim do Minotauro, de isadora Ferraz

que você diz de que o desenho viveu “à sombra de outras técnicas”. Tanto a sombra

desenho carrega em si esta carga. É um

quanto a companhia de outras técnicas

fazer muitas vezes relacionado a uma

estão presentes no seu fazer. Penso em

incompletude, um apontamento constante

relacionar a sombra à incompletude, àquilo

a algo sempre por vir. Seu aspecto temporal

que remete à ausência, a sombra seria uma

se faz ainda mais acentuado quando

lembrança da coisa que não está ali.

comparado às mídias mecânicas, ainda mais

Não questionamos “porque estou

do cinema, da rua, de todas as situações

“Você vê o que está vendo?” Será então

no caso das mariposas, em que me propus

desenhando?”, o desenhar é um ato

mentais frenéticas e acontecimentos mil.

o seu desenhar um resgate de uma

a “reproduzir” estes insetos de papel de

absolutamente voluntário, o querer basta.

atitude mais observadora, que nos traz à

maneira numerosa. Me questionei

Mas o que acompanha este querer? Seria

protesto pelo tempo do desenho. Eu

consciência de pensar por quê as coisas

diversas vezes antes de começar a

romântico querer resgatar o passado,

também protesto pelo mesmo: pelo

existem e por quê fazemos o que fazemos?

empreitada, em outras possibilidades

mas é absolutamente contemporânea

técnicas que dialogassem com o desenho

a discussão sobre as agruras da falta

Penso no seu desenho como um

tempo do olhar cuidadoso, pelo tempo

Oi Ana! Que surpresa ótima este texto.

da calma, da atenção, de observar até

Realmente me despertou questões sobre

(que o substituiria ou o representasse)

de tempo. Nesse sentido o tempo do

entender, e da resistência ao nosso tempo.

o desenho e meu fazer na Casa.

e que me dariam uma certa rapidez no

desenho é desejo nos dias de hoje.

E porque perdemos a relação com o tempo que as coisas levam para serem

Por que não desenho?

processo. Mas não consegui escapar ao

• penso que desenhar pode ser

desenho “tradicional”, feito à lápis, e

essas questões, pois não questiono o meu

Estou parafraseando um processo com

feitas, vejo sua escolha por estes objetos

considerado um sinal de “resistência” em

que faria este tempo gritar. O tempo

fazer, mas sim o seu, e assim descubro

cotidianos e banais, inseridos nesse tempo-

meio a tantas possibilidades técnicas de

da feitura, uma artesania da imagem.

coisas sobre o fazer desenho, que pode ser

frenético de maneira vulgar, desapercebida,

reprodutibilidade, porém acredito que o

No fim fiquei rendido a ele, como as

meu, seu, e de qualquer um que desenha.

sendo envoltos por este outro olhar-tempo.

desenho tem autonomia, portanto não

mariposas que se atraem irracionalmente

Essas coisas-eletrodomésticos, coisas

seria um sub-gênero nem uma dissidência

pelas lâmpadas. Na tentativa de se criar

remetem ao tempo que não está ali, que

carro, coisas-made-in-china estão perdidas

relativa a qualquer outra linguagem contra

armadilhas para estes seres de papel, eu

aparece como sombra, que remonta o

na órbita do consumo, que circulam pelo

a qual faria uma oposição. Seria mais

acabei capturado por elas.

gesto, e constrói os pequenos desenhos.

mundo sem que saibamos ao certo de

uma possibilidade técnica à disposição.

onde vieram e para onde vão. No cotidiano

Podemos algumas vezes pensá-lo como

cotidianos. O desenho como objeto.

remontam o gesto gritante das mariposas

atrelamos nosso olhar-vida à elas com a

uma alternativa á monumentalidade

Imagem e suporte se confundindo,

atraídas erroneamente pela luz artificial

mesma preocupação que vemos o sol de

dos formatos, e em diálogo com outras

transformando-se numa mesma coisa. O

(elas procuram na verdade, a luz da lua),

todos os dias. Falamos portando de um olhar

mídias. De qualquer forma ele é hoje

desenho no papel: qual o limite que define

mas erroneamente elas estão ali, atraídas

que procura revalorizar as coisas, e rebela-se

uma linguagem legítima, assumida como

o desenho (imagem) e o papel (espaço)? O

contra os “modos dominantes de valorização

atividade principal de inúmeros artistas.

que determina onde começa um e acaba o

• os desenhos em relação a objetos

• já determinaram a morte da pintura

outro? O desenho que de repente deixa o

“do império de um mercado mundial

algumas vezes na história da arte, porém

plano bidimensional se instala no espaço.

que lamina os sistemas particulares de

ela continua viva e dinâmica. O desenho

O mundo que serve de forma e referência

valor, que coloca num mesmo plano de

sempre viveu à sombra de outras técnicas

ao desenho, agora é coberto, tomado por

equivalência os bens materiais, os bens

e nunca teve um reconhecimento que nos

ele (lembro-me de um conto de Borges em

culturais, as áreas naturais etc”

fizesse pensar na importância de sua morte.

que havia um reino onde foi construído um

Na sua instalação final, imagino a luz,

Ele sempre viveu como um fantasma, uma

mapa que seria tão fiel ao seu referente,

a montagem, como uma construção que

sombra, seja no campo das artes visuais,

inclusive em escala, que tomou o lugar

parece querer devolver o olhar poético pra

seja na arquitetura, no cinema, etc.

do reino). Dois caminhos que podemos

da atividade humana”, como diz Guattari (1):

esses objetos, e junto, um olhar político

• no meu caso, não penso de forma

A reprodução dessas mariposas

As mariposas nos objetos também

percorrer, levados pelas mariposas:

que vê o que se está vendo. Ou seria o

romântica, como algo que estivesse

objetos que seriam invisíveis por sua

cobrir os objetos com um questionamento:

resgatando o passado e usando como

“cotidianeidade”, de repente tornam-se

Imagem do caderno de Alexandre B


Imagem do caderno de Alexandre B

quase todas as ideias postas à mesa fazem

forjar? Tantas vezes sentimos que novas

parte do universo de significação do

montagens de experiências como de

artista na busca de entender e resolver seu

Oiticica, Matta-Clark, ficam tentando

trabalho. Na Casa não foi diferente.

forjar aquelas experiências, não?

Enquanto todos os residentes partiram

Imagem do caderno de Alexandre B

Comecei a me questionar então as seguintes coisas:

para a realização de seus projetos

Porque, supostamente, devemos

particulares, você manteve a elaboração de pelos objetos. Remetem à essa agonia

possibilidades, sempre relacionadas à ideias

acontecer enquanto experiência coletiva

transformar uma experiência em arte (estar

agitada da luz, mas estão ali paradas.

trazidas por uma conversa aqui outra acolá.

e não projeto individual. Mas essa não

numa residência artística é uma experiência

parecia ser a resposta.

de arte, assim como um laboratório de física

Essa relação absurda, como você diz,

A proposta que estava sendo levada

Repensamos sobre várias conversas,

é uma experiência em física) em uma nova

da atração das mariposas pelo opaco, me

adiante era a das Terezas com lençóis,

faz pensar que a sobreposição do desenho

roupas e panos amarrados e torcidos uns

ideias e proto-ideias. E num momento

experiência de arte? Como, ou pra quê

sobre esse objetos, me diz que apesar das

aos outros, presos à mesa do 3º andar da

você disse: “Aquelas experiências já

reformular essa experiência?

adversidades do tempo que voa, o desenho

Casa, de onde partiriam para espalhar-se

aconteceram”. Nesse momento entendi

repousa ali suavemente. Sobrepondo-se à

para salas e andares como nervos e/ou veias

que sim, que já haviam acontecido e

cheguei à novas perguntas: Toda forma de

todo movimento descartável, o desenho

arteriais que se amarravam à mesa de jantar

eram suficiente enquanto experiência

arte deve ir em algum momento

repousa suave nos seus objetos, numa

como um ponto umbilical da Casa Tomada.

de arte. Fiquei pensando que refazê-las

para uma exposição? Toda forma de

seria apenas um ato de preencher um

arte deve ser pública?

revelação de soberania.

Isso partia da constatação que a mesa

espaço, mas ele de fato estava vazio?

Acho engraçado pensar: Será o

da cozinha era um ponto nevrálgico de

desenho autoridade suprema sobre a

nossa convivência, alimentando nossas

E perguntei: “Você ainda quer fazer as

área geográfica “objeto”, ou você deixará

barrigas e cabeças. Dessa ideia surgiu a

Terezas”? Você: “Aquela mesa não é mais o

o objeto aparecer? Será o desenho

possibilidade do projeto virar performance,

ponto que costumava ser.” Entendi naquele

coabitante esquizofrênico repousando

seria pedido para que os visitantes da

momento, que pra você, mais importante

suave sobre a obsolescência?

exposição doassem roupas, e as Terezas

que fazer um trabalho era construir uma

seriam feitas durante a exposição. Os

experiência que fosse verdadeira. E para

visitantes fariam parte então da matéria-

que continuar com o trabalho se a mesa não

veia de “circulação” da Casa.

é mais a mesa das Terezas?

1- GUATTARI, Félix. As três ecologias. São Paulo: Papirus, 1990.

produzir ou

Porém, quanto mais os residentes

Tentando responder pra mim mesma,

Mavi: “Quer dizer, o trabalho das Terezas

Simulação

da cidade:

reconstrução da

arte enquanto sistema (Para Gui) Quando conversamos sobre

mergulhavam em seus trabalhos

poderá acontecer, mas se a mesa não tiver

a qualidade da palavra obra enquanto

particulares, mais escassas ficaram

mais aquela potência o trabalho não fará

descrição de um trabalho de arte e em

essas conversas em torno dessa

sentido. Se forem feitas as Terezas como

tudo que esta palavra (obra) implica, penso

(Para Mavi) Nos 2 primeiros meses na Casa

mesa, e enquanto todos os projetos

uma tentativa de recriar ou evidenciar

que seu trabalho pode ser um manifesto

Tomada, tivemos conversas intensas, de

se encaminhavam, você continuava

aquelas relações, estas estarão presentes

da arte enquanto rede. Sendo a rede,

cada uma delas surgiam 200 ideias que

interessado em investigar possibilidades.

na obra em exposição ou será uma outra

portal de acesso à informação que está em

coisa que não a experiência? Torna-se um

todos os lugares (da periferia ao centro), e

Não produzir?

poderiam virar 400 projetos. É comum que

Várias vezes tentei entender o que você

dessas conversas saiam trabalhos, primeiro

estava procurando. Em um momento,

objeto/obra, mas a experiência da mesa

a obra, estanque de exclusão (dos lugares

porque quase tudo pode acabar se

perguntei se você procurava por adesão,

deixa de existir em detrimento da obra?”

privilegiados, centrais).

transformando em arte e também porque

porque seus projetos pareciam querer

Portanto, recriar a experiência é

André Parente (1) fala que “a rede é a

Arthur Tuoto Arthur Tuoto é de Curitiba e trabalha com vídeo, fotografia e novas mídias. Através de uma obra de intenso trânsito entre as artes visuais e o cinema, conta com exibições em mais de 50 festivais e exposições no Brasil e ao redor do mundo, destacando: aluCine Latin Media Festival (Canadá), Festival Internacional de Curtas-Metragens-São Paulo (Brasil), DokumentART – European Documentary Film Festiva (Alemanha/Polônia), Exposição Time is Love (Galerie Octobre/ França), Exposição Digital Landscapes (Galeria do TMG/Portugal) e 5ª Bienal Latino-Americana de Artes Visuais Vento Sul (Brasil). Através de reconfigurações do cotidiano e da memória, Arthur tece uma obra diversificada que inclui videoarte, vídeo instalação, ficção e documentário experimental. Atualmente desenvolve o projeto Landscape Memory, trabalho sobre as novas percepções videográficas proporcionado por câmeras digitais, celulares e outros objetos, além dos possíveis impulsos criativos e debates sobre a política do olhar que estão atrelados a tais dispositivos.


convivências #3 casa tomada Gui Cunha Gui Cunha é mineiro, formado em artes plásticas pela Escola Guignard – UEMG e bolsista pela Pittsate University – KS – EUA. Desde 2001 participa de salões, bienais, exposições coletivas e individuais. Em 2001 abriu a exposição Human condition na Pittsate University e como artista convidado participou da exposição itinerante AMTRAK/NASA. Foi selecionado para a Bienal da Recôncavo Baiano em 2004 e 2008. Em 2004 expôs em O corpo revelado na Galeria da CEMIG-BH e é co-fundador do estúdio de fotografia Mineral Image. Em 2007 participou do FotoRio na exposição Beleza e Poder, exibida no galpão das artes urbanas na cidade do Rio de Janeiro com sua curadoria. Trabalha como artista visual nas áreas de desenho, videoarte, cinema, performance e fotografia. Como diretor de fotografia e artista digital já participou de três curta metragens do diretor Fernando Pinheiro, selecionados para mais de 140 festivais em todo mundo. Com a Trama Cia de Dança, onde atua como coordenador de processo criativo, recebeu o prêmio da Caixa Cultural 2009 (Curitiba) com o espetáculo Pequenas punições diárias em que atua como videoartista.

imobilidade necessária para recolher o que

bairro afastado, propondo instalar no centro

como as coisas pulsantes que estão fora da

pra cidade de Curitiba “fechada em

deve nela transitar” e resolve a contradição

da cidade algum tipo de manifestação que

Casa, para dentro da Casa.

brancura e verde”, para as imagens de

entre presença e ausência, estando nós

remetesse às nossas atividades.

afastados do fenômeno mas próximos à

No desenrolar dos processos que

Se este ambiente pretende reorganizar

mídia com eventos violentos – históricos

o espaço da cidade dentro do espaço de

ou de crime – misturadas às imagens

uma rede de informações que extrai de uma

aconteceram durante as tentativas de

residência, me pergunto, o que surgirá a

banais, olhar para a distorção, chuvisco

realidade possível, algum saber. Ele cita Bruno

realização dos seus projetos, como num

partir da convivência nesse espaço?

e fantasmas da imagem televisiva com

Latour (2): a informação não é um signo, mas

buraco-negro, que suga qualquer matéria

uma relação estabelecida entre dois lugares,

de suas proximidades, você recolheu

uma periferia e um centro, sob a condição que

todo material pelo qual cruzou, tecendo

(1) PARENTE, Andre. Imagens que a razão ignora: imagens de síntese e a rede como novas dimensões comunicacionais. In: Revista Galáxia, São Paulo, v.2, nº4, 113-123, 2002. Idem. p.120

entre eles circule um veículo, uma inscrição.

uma teia de informações que deverá se

(2) Idem. p 120

Porque transformar o mundo em informação?

apresentar no espaço como um sistema

Porque a informação permite resolver de

de visualização caótico de sua experiência

forma prática – por meio de operações

numa cidade também caótica. Essa

de seleção, de extração, de redução e de

construção parece querer ser, para além

inscrição – a contradição entre a presença e

de uma visão retrospectiva, também uma

Arthur, lendo o texto do Flusser que te

com a situação?” e a como resposta

a ausência em um lugar. A informação não é

rede de informações que remonta as

mostrei comecei a escrever isso aqui.

formula-se o gesto de olhar como ato

uma forma no sentido aristotélico, mas uma

relações que você travou e as circunstâncias

relação prática e material entre dois lugares: o

com as quais cruzou, reproduzindo a

objetivo, a princípio, trabalhar as imagens

centro negocia com a periferia o que deve ser

instantaneidade da cidade no ambiente da

em vídeo que investigam flagrantes do

ou a destruição dos pontos de vista

produzido para que a ação à distância sobre

Casa, através de um ambiente de imersão

olhar. Num primeiro momento, esse olhar

estabelecidos (1), ele relata que Forest, ao

ela seja mais eficaz.

pelo excesso e no acúmulo.

se volta para flagrantes afetivos, onde

filmar uma ação, estaria usando a câmera

você busca o sensorial como chave para

como “ferramenta epistemológica, um

Esse pensamento está ligado ao processo

Como você mesmo disse, virou um

desprogramação e

Ressignificação Entendo que seu processo tem como

interferência. Mas além de querer trabalhar todas essas imagens, existe a necessidade de alterar os contextos, levando os fenômenos de massa, as imagens do espetáculo – da violência ao Big Brother – para a ideia de antiespetáculo. Isto porque em todas as situações, o que lhe vem é a pergunta “Como lidar

político: o de testemunhar e apontar. No texto de Vilém Flusser Fred Forest

científico de estudo (selecionar, recolher,

trabalho de “organização do espaço e das

o olhar. Num segundo momento você

instrumento para compreender”. Flusser

isolar, estudar), mas que se aproxima

relações, que completa um ciclo”, ciclo

recorre ao estranhamento como chave

narra a seguinte experiência: enquanto

dos processos contemporâneos com o

que significa que acordos estabelecidos

para o olhar. Este segundo momento

ele explicava a Fred Forest uma tese,

que podemos chamar de montagens de

em outro espaço durante os seus

acontece como flagrantes clandestinos,

este a filmava. Ambos acompanhavam o

“sistemas”, que muitas vezes se estabelecem

agenciamentos, deverão se repetir, desde

que exercem para o olhar uma relação

instrumento “câmera” tendo efeito direto

como rede. Artistas sempre precisaram de

o mais primitivo até o monetário, trazendo

entre fascínio e trauma.

sobre a “coisa a ser compreendida”: o

outros profissionais para realizar seus projetos,

as “retroalimentações e microssociedades”

Você apresenta várias situações: olhar

próprio discurso de Flusser.

tenho pensado em como o papel do artista

“Quando Forest sentia que seu esforço

mudou. Gerenciar um projeto não tem mais

em compreender modificava minha

a ver com a relação com as técnicas mas com

explicação, seu propósito modificava-

um compêndio de atividades que às vezes

se mais uma vez”.

são plataformas para o desenvolvimento

Aqui ele vem provar “a maneira como

de ideias inter/transdisciplinares que geram

um material revela suas virtualidades

condições ideais e ambientes físicos e/

durante sua manipulação, e a maneira

ou virtuais para processos colaborativos.

como um propósito inicial muda sob

Acabam sendo microssistemas que refletem o

o impacto das novas virtualidades

macrossistema.

portanto descobertas.” No seu trabalho, você usa imagens e sons captados

Desde a nossa primeira conversa na exposição do Beuys você se mostrava

clandestinamente, não há a interação (do

interessado em estabelecer a relação

referente) no material a ponto de alterar

entre o que acontece no Centro com a

o conteúdo que está sendo captado.

Periferia, naquele momento, pensando na comunicação do que acontece na Casa,

Imagem do caderno de Mavi Veloso

Entre Flusser e Forest, havia a investigação da significação do gesto


isso se torna completamente íntimo, como você bem colocou. É quase como uma maneira particular de resistir a essas

Gui Cunha em atividade proposta pelo artista Nino Cais

jogos de

revelar/bloquear

imagens, que ao mesmo tempo em que

(Para Rita) Lembrei daquela conversa

me atraem (simplesmente pelo desejo de

que tivemos na biblioteca. No blog, você

descobrir o quão longe já fomos), a minha

fala sobre um revelar: “usar todos os

maneira de resistência deve ser essa. Uma

livros nas prateleiras da biblioteca para

proposta ao mesmo tempo sedutora

construir uma parede de livros na vitrine

(voyeur, o flagrante) mas também uma

da Casa foi algo a que me propus pouco

denúncia desses imperativos do olhar.

depois de iniciar a residência. Pensei

Mas bom, acho que para responder

pela observação do quanto a interação

que você intuiu bem algumas nuances e

com o instrumento alternava palavras

questões do meu trabalho. Na verdade

suas questões preciso ler o texto de Flusser,

e pensamentos. Já você constrói outra

eu estava desenvolvendo um texto

enquanto isso tenta ler o da Jô Gondar.

maneira de buscar a mesma significação

chamado Experiências com o Real (notas

do gesto (do fenômeno, do observador-

assim revelar o conteúdo, da sala e da Casa, ao exterior.” Fiquei pensando em um jogo de

Mas além do dispositivo, vale ressaltar a

bloquear/revelar. Naquele dia conversamos

sobre um processo) em que tento divagar

questão da montagem, ainda mais quando

sobre imagens de olhos biônicos na vitrine

câmera, espectador ou daquela pessoa

sobre isso usando o texto de uma

se lida com apropriações. Aliás, chama

como engenhocas tubos-de-submarino

que vê posteriormente sua conversa

psicanalista como base, sobre imagens

a atenção o trabalho do Godard nesse

projetando-se pra fora da Casa para que o

gravada): altera o contexto, perverte

de terror, subjetividade e como agregar

sentido, acredito que em várias montagens

interior fosse visto pelo passante, e sobre

as relações iniciais, co-relaciona outras

tudo isso. E também trabalhos do Chris

em que ele mistura imagens de arquivo,

sua ideia de empilhar livros pela cidade,

imagens e áudios e estes fazem o

Marker, Godard e Jem Cohen.

fotos e imagens próprias, ele tenta

fazendo barreiras no caminho das pessoas

também integrar subjetivamente toda essa

na rua ou um convite para a leitura.

fenômeno sair do macropolítico de

Entendo essa ressignficação como uma tentativa de criar um sentido para

experiência traumática que é olhar para o

Sua intenção na rua parecia querer

essas imagens invasivas. Pensando na

mundo e seu passado, ou simplesmente

estimular uma reação frente ao trabalho,

instrumentos (técnicos) para investigar

ideia do trauma, como diz a Jô Gondar

estar no mundo em pleno século XXI. Em

obstruindo um caminho e obrigando

conteúdos que de alguma maneira estavam

citando o Freud, o trauma vem a ser um

especial nesses curtas:

as pessoas a fazerem outro ou entrar no

“programados” para acontecer de um jeito,

problema de economia psíquica. O tom

- Jean-Luc Godard: Dans le noir du temps

embate com a barreira (destruir, ler, furtar,

e que acontecem de outro. O instrumento

da experiência excede a tolerância do

- Origins of the 21st Century (1/2)

etc). Parecia interessante uma barreira

que manipula a forma tem efeito direto

sujeito de elaborar ‘psiquicamente’ um

- Origins of the 21st Century (2/2)

de livros, sendo a leitura um percurso e a

sobre a coisa a ser compreendida, que

sentido para aquilo. Quando sofremos

modifica-se novamente. Ambos os casos

uma experiência traumática, repetimos

meu filme preferido de todos os tempos.

caminho estabelecido. No processo de

criam novas virtualidades e buscam

aquela imagem mentalmente a fim

- Jean-Luc Godard: Je Vous Salue Sarajevo

empilhamento na Casa, você faz revelar

novas significações o tempo todo:

de agregar aquilo subjetivamente, e

(1993) (todos em: www.youtube.com)

uma parte dela, os livros, mas barra o olhar

desprogramando conteúdos e construindo

de criar um imaginário próprio para

a todo momento ressignificações. Vejo aí a chave antiespetacular. Será esse enfim

“massa” pro micropolítico do “íntimo”. São diferentes estratégias que buscam

o “ato político” o de desprogramação e ressignificação dos conteúdos? Ana, gostei das observações, acho

E principalmente nesse, que talvez seja

parede de muros uma barreira contra um

Aí ele faz uma reflexão sobre a nossa

que atravessa a transparência do vidro.

uma experiência de olhar que excede

relação com a cultura de massa. Dá uma

Depois da leitura de portfólio com a

qualquer relação associativa possível.

olhada nos vídeos e voltamos a conversar.

O vídeo aqui entra como tentativa de integrar esse trauma, de criar esse imaginário palpável e lidar com isso. E

(1) FLUSSER, Vilém. Fred Forest ou a destruição dos pontos de vista estabelecidos. In: Ars. São Paulo: vol. 7, nº 13. Jan-Jun, 2009

Yasmina, pensei nos outros trabalhos. Você nos revela achados de arquitetura transformados em matéria surreal de imagem, mostra flores transformadas em

Rita Soromenho Rita Soromenho nasceu em Lisboa e depois de se licenciar e de uma curta passagem pela produção cinematográfica, mudou-se para Londres. Em 2007 concluiu o master em Fotografia no LCC, University of the Arts London. Seu processo de trabalho passa pela experimentação, deambulação urbana e pelo aleatório. Suas obras são frequentemente reflexões sobre espaços e tempos entre o aqui e o ali, passado e presente, uma coisa ou outra. Exposições selecionadas incluem: 2009 Nem Tanto ao Mar Nem Tanto a Terra, VPF Cream Art, Lisboa (individual); 2008 New Contemporaries, Liverpool Biennial and London; Anticipation, com curadoria de Kay Saatchi e Catriona Warren; Chobi Mela International Photography Festival, Daka, Bangladesh; Through The Lenses, Royal West of England Academy; 2007 Kaunas International Photography Festival, Lithuania. Seu trabalho foi finalista em Sony World Photography Awards (2009) e IPG Terry O’Neill 2007 Awards (2007), e recentemente publicado na Source Photographic Review (Spring 2010) e pretence à prestigiosa coleção da Fundação Calouste Gulbenkian (UK).


convivências #3 casa tomada

visitas

Decidi então abandonar as ‘imagens’ em prol dos ‘objetos’. Tornou-se mais interessante explorar o objeto, o negativo, a placa de vidro. Todo este processo de pesquisa e experimentação deu origem a um questionamento sobre a própria fotografia e minha relação com ela. O fato de eu não ter no passado trabalhado diretamente com a temática da memória, fez surgir uma série de dúvidas e questões. O ego, o apego ao passado, a preciosidade das coisas, a imortalidade... Sontag diz que “A fotografia que faz do passado um objeto de consumo representa um atalho. Toda Como parte do programa de acompanhamento da residência, a Casa Tomada

a coleção de fotografias é um exercício de

sempre convida artistas, professores, curadores, para fazerem visitas aos

montagem surrealista da história”.

participantes e trazerem um pouco de sua trajetória pelas artes. Cada visitante,

Onde se situa então o meu trabalho?

porém, trouxe além de seu percurso, uma proposta e uma visão diferente para

Na encruzilhada entre o acidente

o grupo. Marcelo Cidade falou sobre a relação de seu trabalho com o espaço

(surrealista) e a (des)construção do

urbano; Flávia Ribeiro construiu um paralelo entre as bienais dos 80 e as de hoje;

espaço fotográfico, que valor tem o meu

Andre Costa mostrou alguns vídeos de artistas no intuito de discutir os aparatos e

trabalho enquanto prática artística ou

dispositivos do vídeo relacionando-os com trabalhos produzidos no Ateliê Aberto

questionamento da fotografia? Lá vem

#3; Nino Cais propôs um exercício de colagem, no qual os artistas usaram sua

o ego e as palavras do Flusser: “o canal é

própria pesquisa como material para a atividade; Rodolpho Parigi falou sobre como

para o fotógrafo um método de torná-lo

o seu repertório cotidiano o conduz para a criação do seu trabalho; Daniele Marx e

imortal e não morrer de fome”.

Marcos Sári, do Projeto Meio, conduziram um workshop no qual os participantes

Ana, vou encontrando as questões à

produziram cartazes para serem colados pela cidade; e Alejandra Muñoz comentou

medida que vou trabalhando. Resolvo

e problematizou os trabalhos que estavam sendo desenvolvidos pelos participantes.

os dilemas através da expressão de uma sensibilidade que procura teorias e ideias para se aprofundar. A Filosofia da

buquês e nos convida a imaginar seus

coleção ou arquivo fotográfico de viagem,

fotografias anônimas, por meio de uma

Caixa Preta, de Flusser, foi pilar. Quero

caminhos. Mas nos bloqueia a visão do seu

este álbum de família, é aqui abordado

imposição do meu ego e das minhas

acrescentar que a ‘mão’ é importante para

percurso. Quando se bloqueia uma visão

como um mosaico “composto de grãos,

próprias imagens, enquanto universo

mim, o fazer, o re-arranjar. Não é o clicar

apresenta-se outra. Você esconde seus

não de ondas, funcionando como um

simbólico, não parecia ser mais do que um

que me move, portanto. O importante não

trajetos e sua poética, parece reconstruir

quebra-cabeças, como jogo de permutação

exercício de confrontação com o eu.

é se usei uma câmara ou um scanner. Tudo

o acesso a eles, que fazem o espectador

entre elementos claros e distintos”. Flusser

encontrar um caminho pessoal.

define o gesto de fotografar como um

Janela iniciei uma pesquisa em torno da

corpos, para uma nova visão ou modo de

Notas (noturno de chopin)

“gesto caçador” que produz fotografias já

passagem do tempo, da meditação, do

olhar o espaço, o tempo, as coisas.

Este novo modo de (des)ordenar as

programadas na memória do fotógrafo e

inconsciente, do inconsciente coletivo e

imagens, este “quebra-cabeças”, lembrou-

do aparelho. A fotografia como “brinquedo,

do arquétipo (e do Jung).

me umas anotações que fiz anteriormente

como as cartas do baralho”.

que diziam que o re-agrupar das placas

O meu engajamento com este

Com Todos os Livros da Biblioteca, na

Sempre me foi familiar o universo

parece remeter para o contato com os

Novos percursos de imagem, textos e memória Acho que você continua fazendo jogos

dessas imagens encontradas. Quase

de bloquear/revelar. Quando você resolveu

de vidro é feito de um modo não ego-ista

material passou também por uma série

como se eu pudesse ter captado

se desfazer das imagens para lidar com

(‘egotistic’) e não óbvio. Uma poética que

de hesitações, mudanças e finalmente

e enquadrado aqueles mesmos

os negativos de forma objetual, se livrou

ressona o aleatório surrealista, o criar de

decisões. Depois de longa experimentação

momentos. Como se tivesse roçando

do peso de lidar com uma história que

uma nova forma que lida com uma narrativa

com as imagens, dando o meu sentido

ombros com o fotógrafo original e

o tempo todo se relaciona com a sua.

antiga. Uma viagem que não pretende ser

a este material, encontrado num monte

cada um de nós tivesse “caçado”, cada

Acho natural que os processos artísticos

ficcional ou simbólica mas que lida com

de entulho, percebi que não estava a

uma das duas imagens, com ângulos

esbarrem na história do artista e que todo

a superfície e o objeto em detrimento da

fazer sentido para mim. A ideia de ‘tornar

ligeiramente diferentes, que constituem

trabalho seja um pouco confessional.

informação (em cada imagem original). Esta

minhas’, de pôr a minha marca nestas

cada negativo estereoscópico.

Mas tem um tanto de nós que acaba por


Geometrias Negativas, de Rita Soromenho

se desfazer em prol do trabalho, numa busca de um outro eu que transcende nós mesmos e se apresenta tanto pra nós quanto para outras pessoas: essa é a carga simbólica da arte. Talvez por isso tenha sido difícil se desfazer daquelas imagens: lidar com essa carga simbólica faz com que passemos a achar que aquilo nos pertence. Falávamos para você: destrua os negativos Rita! E ao se perguntar: “Como vou lidar com essas imagens, como vou

na imagem, dada pelo olhar que

sincronicidade imagética por ciclos. (...) O

anotações “negativos maus”) e reverbera

processá-las?”. E, ao invés de você vaguear

percorre aqueles negativos antigos,

tempo que circula e estabelece relações

nesse encontro a questão sobre a memória

pela cidade para construir aqueles

e se reconfigura pela nova imagem

significativas é muito específico: tempo de

e o apego ao passado e faz do encontro,

bloqueios nas ruas (as pilhas de livros que

técnica que está na nossa frente. Aqueles

magia. Tempo diferente do linear, o qual

processo para uma filosofia particular.

você imaginava fazer), criou muros com os

negativos só podem ser velhos, e aquela

estabelece relações causais entre eventos.”

negativos e novos percursos em imagem

mão que os manipula só pode manipulá-

(1). O trabalho se torna uma encruzilhada

imagens? Não sabemos. Mas necessária

bidimensional. Essas imagens viraram

los depois de todos esses anos, e essa

surrealista pois lida com esse tempo circular,

parece ser a tarefa de ao trabalhá-las,

então abstração em quarto grau:

nova imagem criada é tecnologia século

e o significado das imagens dá significado

encontrar significado para a vida, para os

XXI manipulando tecnologia antiga.

a esse encontro com os negativos, e os

encontros, para a existência.

de negativos formam labirintos que

Esse vaguear pela imagem vai e volta no

negativos encontram significação na mão

“A filosofia da fotografia é necessária

bloqueando a visão total da narrativa

tempo como um eterno retorno:

do artista. Por isso não importa se você usa

porque é reflexão sobre as possibilidades de

câmera ou scanner, pois o que importa é

se viver livremente num mundo programado

Essas “construções” de geometrias

das imagens das placas, revelam novas

“Ao vaguear pela superfície, o olhar

Seria necessário trabalhar estas

narrativas dentro da imagem que

estabelece relações temporais entre os

o que acontece a partir do “modo de olhar

por aparelhos. Reflexão sobre o significado

fotografa as formas das placas. Você

elementos da imagem: um elemento é visto

o espaço, o tempo, as coisas”. Olhar que

que o homem pode dar à vida, onde tudo

reconstrói as dimensões retiradas pela

após o outro. O vaguear do olhar é circular:

procura uma ressignificação dada pelo fazer,

é acaso estúpido, rumo à morte absurda.

fotografia (no negativo) em geometrias

tende a voltar para contemplar elementos

pelo rearranjar da mão do artista: o artista

Assim vejo a tarefa da filosofia da fotografia:

na caixa de luz, e abstrai novamente estas

já vistos. Assim, o “antes” se torna depois,

encontra negativos que já pareciam pedir

apontar o caminho da liberdade.” (2)

dimensões em imagens bidimensionais.

e o depois se torna o “antes”. O tempo

pelo esquecimento (vontade do autor de

Temos de novo uma relação com o

projetado pelo olhar sobre a imagem

se desfazer destas placas, algumas imagens

1- FLUSSER, Vilém. Filosofia da Caixa Preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Rio de Janeiro: Sinergia Relume Dumará, 2009 p.8

vaguear e com a passagem de tempo

é o eterno retorno. O olhar diacroniza a

já estavam sumindo e outras tinham

2- idem p.78

equipe

agradecimentos

casa tomada Direção e Curadoria: Tainá Azeredo e Thereza Farkas Produção: Iara Andrade Assistência de Curadoria: Jaime Lauriano Programação visual: Habacuque Lima

Afonso Cunha Alejandra Muñoz Ana Maria Tavares André Costa Cacá Rosset Daniele Marx Escola Helen Keller Felipe Dmab Flávia Ribeiro Gustavo Garde Josué Mattos

convivências #3 Textos: Ana Elisa Carramaschi e Paula Borghi Projeto gráfico: Lila Botter

Capa: Bolha, trabalho de Mavi Veloso, foto de Rita Soromenho

apoio

Marcelo Cidade Marcio Harum Marcos Sari Matthew Wood Nino Cais Pedro Mendes Rodolpho Parigi Rutger Emmelkamp TeTo Projects Videobrasil Yasmina Reggad

A Casa Tomada é um espaço reservado para práticas, investigações e reflexões de caráter artístico. O projeto surgiu da vontade de construir um espaço que fosse um ponto de convergência entre as diversas áreas de atuação das artes. Focado em todo o processo de produção e não somente no produto final, o Ateliê Aberto tem como proposta incentivar a discussão e o desenvolvimento de trabalhos motivados pela vivência compartilhada na Casa, além de discutir o hibridismo de linguagens nos processos artísticos contemporâneos. www.casatomada.com.br


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