Plantas medicinais e processos de cura Xakriabá Creuza Ferreira dos Santos Juvenira Ferreira de Araújo Marli Gonçalves Araújo Valdeir Marcos de Almeida
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Presidência da República Ministério da Educação Secretaria Executiva Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão Diretoria de Políticas para Educação do Campo, Indígena e para as Relações Étnico_Raciais Universidade Federal de Minas Gerais Reitor: Clélio Campolina Diniz Vice-Reitora: Rocksane de Carvalho Norton Faculdade de Letras Diretor: Luiz Francisco Dias Vice-Diretora: Sandra Maria Gualberto Braga Bianchet Núcleo Transdisciplinar de Pesquisas Literaterras Coordenadora: Maria Inês de Almeida Orientação Mara Vanessa F. Dutra | Amanda Lima (monitora) Preparação dos originais Stéphanie Paes Rodrigues - LABED/FALE/UFMG Ilustrações e fotografias Os autores Projeto gráfico e diagramação Ana Carvalho - Fernando Ancil | Casa Paraisópolis Coordenação editorial
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Maria Inês de Almeida
Plantas medicinais e processos de cura Xakriabá Creuza Ferreira dos Santos Juvenira Ferreira de Araújo Marli Gonçalves Araújo Valdeir Marcos de Almeida
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LITERATERRAS / FALE / UFMG BELO HORIZONTE 2013
Esta publicação contém conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade brasileira. O acesso a esses conhecimentos para fins de pesquisa científica, bioprospecção e desenvolvimento tecnológico deve estar de acordo com as normas previstas na Medida Provisória nº 2.186-16, de 23 de agosto de 2003.
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Dedicamos este livro às pessoas da comunidade e às gerações futuras. Enfim, a todos que valorizam os nossos conhecimentos sobre a medicina e métodos de cura tradicionais, para que eles se fortaleçam cada vez mais na vida dos Xakriabá.
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Antigamente o nosso povo curava suas doenças com as plantas medicinais. Eles tinham muita fé nos remédios caseiros preparados por eles e nem acreditavam nos remédios dos brancos. [...] Antes tudo era possível, hoje poucas pessoas acreditam nas ervas e quase não utilizam os remédios caseiros: a maioria procura os médicos. Deus está em primeiro lugar, depois as plantas medicinais. Basta acreditar e ter fé. Pesquisa do aluno Mauro
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SUMÁRIO
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APRESENTAÇÃO
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O DOM DE CURAR
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PLANTAS QUE CURAM
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DEPOIMENTO DO SENHOR EVARISTO HISTÓRIA DA MULHER COMO SURGIRAM OS BENZEDORES E REZADEIRAS ANTIGOS O DOM DELA A CURA PELAS PLANTAS PESQUISA COM O SENHOR VALDEMAR O CERRADO E AS PLANTAS MEDICINAIS AS PLANTAS MEDICINAIS DO CERRADO Alcansul Alecrim dos gerais Cabelo-papo-de-ema Cabelo-de-negro Cabocla Calunga Catuaba Cervejinha Dorete Espada-de-são-jorge Folha-larga Jatobá-dos-gerais Malaca Pau-doce Pequi Quina-branca Quina-preta Roseta Ruibarbo Sambaíba
São-gonçalinho Sexta-feirinha Tiborna Veludo
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PESQUISA COM DONA OTÍLIA A IMPORTÂNCIA DA CAATINGA AS PLANTAS MEDICINAIS DA CAATINGA Angico Babosa Bálsamo Braúna Caatinga-de-porco Caiçara Cipó-da-trindade Cipó-tripa-de-galinha ou cipó-escada-de-macaco Desenrola Imburana-de-cheiro Juá-mirim Jurubeba Polista Postemeira Sabugueira Umbu-maroto Velame
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AS PLANTAS MEDICINAIS DE HORTA Capim-santo Confrei Cravinho Folha-santa Marvão Melindro
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COMO CUIDAR DA SAÚDE DOS ANIMAIS PLANTAS QUE SERVEM DE REMÉDIO PARA OS ANIMAIS Algodão e mastruz Anilo Babosa Batata-de-purga Caraíba Caroba Favela Gendiroba
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Jatobá Mamona Maracujá Pinhão Piteira Polista Quina-preta e unha-d’anta Sucupira Tiú (Teiú) ANIMAIS QUE SERVEM COMO REMÉDIO Beija-flor Cacheiro Coelho Ema Gado Galinha Gambá Lagartixa Meleta ou mixila Tatu Veado-catingueiro ou bukimuju, em Xakriabá
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PROCESSOS DE CURA
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ORAÇÕES Oração para curar dor de dente Oração para retirar cisco do olho Oração para cortar íngua Oração para curar arca caída ou espinhela Oração para curar enzipa Oração para curar dor de cabeça Reza para curar dor de barriga Benzimento para curar quebrante Histórias sobre quebrante PROMESSAS Promessa para Santo Reis Promessa para São Gonçalo Ladainhas Histórias relacionadas a promessas CONCLUSÃO AGRADECIMENTOS BIBLIOGRAFIA
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APRESENTAÇÃO
Há dez anos era bastante praticado o uso das plantas medicinais e de animais no processo de cura das doenças. Porém percebemos que, no decorrer desses dez anos, a população indígena foi deixando de frequentar a farmácia mais próxima de casa, que é 100% natural, para utilizar remédios industrializados, por já virem prontos e práticos para o uso. As orações também sempre foram muito importantes no processo de cura das pessoas aqui no Xakriabá. Acreditamos em seu poder e somos curados por elas, procurando quem as conhece bem e fazendo e cumprindo as promessas de cura. Hoje em dia, porém, são poucas as pessoas que as utilizam. Ao vermos a necessidade de fortalecer esses conhecimentos tradicionais, começamos a investigar esses assuntos com os conhecedores mais velhos do Xakriabá, e obtivemos conhecimentos que, às vezes, sem este trabalho, não iríamos adquirir. Entrevistamos pessoas de nossas aldeias, pessoas que têm um conhecimento profundo em relação às plantas medicinais, à importância das orações e dos animais que servem de remédio. Coletamos todos esses dados e trabalhamos em cima do material, comparando com outras pesquisas que fizemos em livros, apostilas e até mesmo através de palestras. Com essa pesquisa, nos deparamos com pessoas que estavam no preparo para seguir o caminho da sabedoria, e aprendemos a dar mais valor aos aspectos culturais que nossos velhos cultivavam antigamente. Nossa pesquisa teve como finalidade envolver as pessoas da nossa comunidade. Por isso incluímos nossos alunos nas atividades, para que nossos conhecimentos em relação aos ensinamentos tradicionais se multipliquem cada
vez mais, e comecem a ser praticados em nossas aldeias. Pedimos para que eles pesquisassem entre os seus pais e familiares, e trabalhamos os temas através de conversas e de atividades de produção de textos e desenhos. Envolver os alunos nessa pesquisa foi importante para que eles também ampliassem e fortalecessem os seus conhecimentos. O resultado de todo esse trabalho reunimos agora neste livro. Através dele, queremos incentivar as pessoas a valorizarem e compreenderem a importância das plantas, dos animais e das orações na saúde humana, e mostrar aos jovens o quanto é importante o conhecimento das pessoas mais velhas em relação à cura das doenças. Com este livro, o leitor poderá refletir sobre como as plantas, os animais, as orações e as promessas têm o poder da cura, e obterá informações importantes que poderão ajudá-lo a compreender melhor esses assuntos. A ideia é essa. Esperamos que dê bons resultados e que esse trabalho seja um material útil. Que as pessoas de nossas comunidades e das demais utilizem cada vez mais remédios das ervas naturais, e que venham a incentivar os jovens a se interessar por nossa cultura e a valorizá-la, porque são eles que vão ser a ponte pela qual serão conduzidos esses conhecimentos de geração a geração.
Os autores
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1 O DOM DE CURAR
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Senhor Evaristo mora na Aldeia Caatinguinha, há 13 km da Aldeia Prata. Ele tem aproximadamente 68 anos de idade e é um raizeiro conhecedor espiritualístico. Há mais de 25 anos, ele trabalha com sua corrente de guias espirituais superpoderosos, muito importantes nas ações de seu trabalho e nos processos de cura das pessoas.
DEPOIMENTO DO SENHOR EVARISTO
mão dos entendidos que vêm da Amazônia. Então as pessoas mais novas têm que aprender isso, porque esse tipo de coisa não pode acabar aqui dentro da reserva Xakriabá. Antigamente, e até hoje mesmo, existem remédios só para homem, mulher e para as crianças.” REMÉDIO PARA A MULHER
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“Antigamente não existia médico, não existia estrada, não existia nada. Aqui ó, era mata bruta; só tinha os troncos velhos, os troncos velhos entendidos, que eram curadores e trabalhavam com a cabocla velha também. Então, esses tipos de gente antiga, primeiro foi o finado Estevão e do finado Estevão passou para o finado Seu Manoel, que eram os caras entendidos aqui. Então passou para o finado Zé Gomes. Se tivesse uma pessoa doente, ia à casa dele. Podia estar do jeito que seja, ele passava a mão num cordão e em três folhas daquela e mandava para a casa daquela pessoa. No outro dia estava sã. Só que aquele benzimento dele, que ele benzia, ele já criava melhora. Então... Então esse tipo de coisa com um tempo passou para o finado Jerônimo. Os troncos velhos, que eram entendidos à indígena, eram os que tratavam do povo. A dona daqui, ela morreu sadia porque não passou para as mãos dos médicos: ela teve o repouso na casa. Hoje a gente só vive doente. A mulher acaba de ganhar a criança no hospital, ela toma banho e come de tudo; então ela já vem de lá doente. E de primeiro não tinha isso. Aqui toda vida nós tínhamos esta fé nos benzedores aqui dentro da reserva, que eram uns benzedores entendidos e, por isso, nós não podemos desfazer dos benzedores, não. Todo laboratório vai feito pela mão de quem? Ele vai feito pela mão dos entendidos. Todos os remédios de farmácia são feitos pela
“Um deles só serve assim, se juntam, usam três partes. Juntam a raiz da umburana-decheiro, a raiz da quina-branca, a raiz da unhad’anta. Então raspa a pele fina das raízes, lava e depois descasca ela e põe para secar. Depois de secar, mói, socando no pilão ou machucando em um pano. Depois coloca o pó num vidro pra ser guardado e usado sempre. Pode dar a qualquer cabocla, ela pode estar com suspensão na cabeça, de dieta, que não vai fazer mal a ela. Esse é o remédio da mulher. Quando ganha a criança, pode dar esse remédio. Ela pode estar descadeirada, com suspensão na cabeça... Esse medicamento é usado duas vezes ao dia, no café, de manhã, e à noite. Pode cheirar sempre o pó como torrado .” REMÉDIO PARA A CRIANÇA “O remédio é o ruibarbo. Arranca a raiz, lava, raspa e coloca ao sol para secar. Depois mói e coloca o pó num vidro. Esse remédio cura dor de barriga em criança e adulto e é bom também para abrir o apetite.’ REMÉDIO PARA O HOMEM “Arranca a raiz do jatobá, a raiz do ipê, a aroeira, o ruibarbo, a sexta-feirinha e a rochinha, raspa e junta tudo isso e coloca ao sol para secar. Depois faz o pó. Coloca duas colheres do pó para curtir de um dia para outro com água e depois côa e coloca numa garrafa,
adiciona uma pitada de açúcar e pronto. Esse remédio cura muitos tipos de inflamação no corpo, parte interna.”
HISTÓRIA DA MULHER
Pesquisa da aluna Edileuza
Tinha uma mulher chamada Nestora. Ela sabia muito sobre remédio caseiro. Quando foi um dia, ela fez uma panelada de erva-doce para beber, mas ela não podia tomar porque estava menstruada. Ela tomou e, quando deu uma semana, ela passou mal e foi para o hospital. Antigamente os índios curavam doenças com remédios do mato. Eles não tomavam remédio de farmácia. Ela disse que conheceu pessoas que tinham doenças graves e se curaram com raízes do mato. Os índios, antigamente, sabiam quais eram os remédios que curavam cada tipo de doença. Eles mesmos preparavam os remédios e tomavam com muita fé e eram curados. Minha mãe falou ainda dos benzedores que ajudam muito as pessoas doentes a encontrar a cura. São essas as histórias de nosso povo. Estamos cobertos de remédios e hoje as pessoas não estão dando muito valor para as plantas medicinais, que são úteis para curar várias doenças. Quando alguma pessoa adoecia, procurava remédio do mato. Para curar cólica ou outras dores, tomava chá de velame. Além dos remédios, existem outros tipos de cura, como, por exemplo, mel de abelha e também através de pessoas que sabem benzer outras pessoas (benzedores), que sabem benzer de quebrante e mau-olhado em crianças, e também receitam algum remédio de ervas. Muitas pessoas têm 18
prevenção por meio de vacinação, mas o quebrante e o mau-olhado não têm nenhum tipo de vacina; somente os benzedores e os remédios do mato ou de horta, como arruda, coentro, poejo, hortelã, chique-chique, ervadoce, que se usa para fazer o chá para a criança tomar. Para pessoas que sofreram derrame, a banha de sucuri serve para amolecer as juntas, mas é um remédio fino (requer muito cuidado), não podendo ser utilizado em excesso. O sucuri é um animal que raramente é encontrado por estar em extinção na nossa região.
COMO SURGIRAM OS BENZEDORES E REZADEIRAS ANTIGOS
Pesquisa da aluna Marcilene Santana com o Senhor Silvio da Prata
Antigamente não tinha médico. Então o povo pediu a Deus formas de tratamento para curar as doenças. Deus enviou meios espirituais, através de orações, e muitas pessoas conseguiram vários tratamentos que foram aprovados. Os benzedores e rezadeiras existem há muito tempo. Umas pessoas aprendiam a benzer – já vinha da sua inteligência e memória –, daí um ensinava aos outros, até mesmo de pai para filho. Surgiram de umas pessoas mais velhas, porque elas tinham muita fé. Hoje a gente ainda tem essa fé nos benzedores e rezadeiras, e esses benzedores ainda existem. Quando uma pessoa adoecia, as pessoas mais velhas, por terem muita fé, benziam, e se as pessoas melhorassem, aí essa pessoa que benzeu seria procurada pelos doentes sempre, se tornando, assim, um(a) curador(a). Estes curadores surgiram de uma experiência que Deus nos deixou e surgiram também das
pessoas mais velhas, que ensinaram a elas a serem benzedoras, e assim eles estão até hoje. Ainda hoje existem muitos benzedores de quebrante, espinhela, dor de estômago, dor de cabeça, dor de dente, dor de barriga; benzedeira de enzipa, cisco no olho. Existem também curadores em quem a gente sempre tem muita fé. Os benzedores surgiram pela tradição dos mais velhos para os jovens; muitos já nasceram com o dom.
O DOM DELA A pergunta sobre quem é dono do conhecimento acompanhou a mesma dinâmica da reflexão sobre sua origem e forma de transmissão: “o primeiro dono é Deus Criador, depois as pessoas mais velhas que usaram e trouxeram o conhecimento até nós. Também as pessoas que têm dom e o interesse de aprender”; “o dono é aquele que valoriza”; “o conhecimento não tem dono tem é dom”; “o conhecimento não tem dono tem é herdeiro, passa de pai para filho”.
Articulação Pacari
Através de nossa pesquisa nos deparamos com pessoas que têm o dom da sabedoria. Durante a conversa com o Senhor Evaristo, ele contou que a sua neta já começa a seguir parte de seu conhecimento, ou seja, ela está recebendo as correntes espirituais. A menina tem 13 anos de idade e já está seguindo o caminho do avô. Isso porque para Deus ela foi a escolhida para seguir este objetivo. Quando ela passava mal, os seus parentes a levavam ao médico, mas os médicos não encontravam nela nenhum tipo de doença. Ela voltava para casa e recebia os remédios do 19
campo e as ervas naturais necessários para o tipo de problema que ela teria. Na verdade isso não era doença: este era o momento em que ela estava recebendo os guias espirituais e se preparando para ser curadora. Ele conta que ela ficava sofrendo desmaio, que é sinal de que ela estava se preparando para ser benzedora, raizeira. O Sr: Evaristo disse ainda que ela já faz o processo de cura das crianças: quando uma criança chega doente, ela fica olhando e se aproxima, passa a mão na cabeça da criança e de imediato a criança já começa a ficar esperta e se sente bem. Quando ele vai para a mesa fazer os trabalhos e benzimentos, a neta pede para ir com ele, dizendo que quer aprender a trabalhar com ele. Segundo ele: “significa que ela já tem um poder para esse tipo de trabalho, isso é o dom dela!” Ele disse que, quando parar de trabalhar na mesa, vai entregá-la à neta, para ela dar continuidade ao trabalho.
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2 PLANTAS QUE CURAM
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Muitas doenças surgiram através das águas contaminadas, das poeiras e da friagem como, por exemplo, a febre, a gripe, as dores de cabeça, o mal-estar. Surgiram doenças também devido à poluição que aumentou e, com o passar do tempo, a natureza foi mudando as forças de suas energias, e surgiram vírus que prejudicam muito a vida humana e a dos animais. E através da mistura do branco com o índio e de alimentos que utilizam produtos químicos. O povo Xakriabá conheceu as plantas medicinais pelos mais velhos, devido à necessidade, pois antes não existia médico, então eles costumavam utilizar muito as plantas medicinais. Os jovens Xakriabá iam com os velhos para o mato, onde os velhos mostravam as plantas que serviam de remédio. Os pais passavam seus conhecimentos para os filhos: pegavam as plantas e utilizavam, acreditando em seu poder de cura. Uma vez que não tinham conhecimento de antibióticos, procuravam os remédios no mato e preparavam para tomar. As que davam certo, ou seja, as que curavam, eram separadas, e assim foram sendo conhecidas e foram passando de geração a geração. Texto resultado de entrevistas realizadas pelos alunos da Escola Oaytomorim com seus pais.
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A CURA PELAS PLANTAS
PESQUISA COM O SENHOR VALDEMAR
Para nós, Xakriabá, plantas medicinais são ervas naturais que servem para curar diversos tipos de doenças, cada uma agindo de uma forma, seja por uso externo, ingestão ou em tratamento espiritual (benzimento por pessoas experientes). Cada planta medicinal tem uma ciência, tanto na hora de colher como na hora de preparar. As pessoas que conhecem as plantas e as que trabalham com espíritos costumam escolher algumas delas durante a Semana Santa. Eles falam que essas plantas estão “bentas” ou “benzidas” por terem sido colhidas nesta data. Uma mesma planta, dependendo da parte que se usa e da forma que ela for preparada, serve para curar diferentes doenças. Por exemplo, a raiz do mastruz serve para curar gripe, já a folha serve para curar vermes, machucadura etc. Atenção: se for uma planta que os animais, tanto domésticos como selvagens, não comerem, com certeza é uma planta venenosa. Se for utilizável, deve ser em pequena quantidade. Os animais têm o dom de saber o que pode fazer mal. E muitas plantas que os animais comem com certeza servem de remédio. As espécies de plantas que, quando cortadas, ficam de cor preta também são venenosas.
Num domingo nublado, quatro e meia da tarde, saímos juntos com o Senhor Valdemar Ferreira dos Santos, raizeiro e benzedor, para pesquisar as plantas do Cerrado que servem de remédio. Saímos juntos pelo Cerrado, atravessamos uma cerca de arame e logo avistamos as plantas medicinais. O raizeiro já foi nos ensinando sobre elas. Seguimos em frente e ele ia mostrando as folhas, raízes, galhos e flores, e nos falava para que doença serviam. Durante a caminhada, ele mostrou vários rastros de animais, cocô de coelho, frutos comestíveis, entre outros. Às vezes ele parava e ficava observando ao seu redor, parecia que estava tentando encontrar algo. Com seu facão na mão, cortava alguns galhos, retirava cascas das árvores e nos dava para sentirmos o aroma da planta. Ao pôr do sol, voltamos para casa deixando para trás a bela paisagem da natureza, levando somente a sabedoria que o velho sábio nos passou.
Eu aprendi a conhecer as plantas medicinais com meu avô, quando eu era menino, Um tempo depois ele faleceu. E meu pai já conhecia muitos tipos de remédios que tinha aprendido com meu avô, e assim continuei aprendendo com meu pai; e também eu tive muita amizade com um velho que era raizeiro e receitava o remédio. Ele se chamava Máximo e morava na Aldeia Riachinho. Ele também já morreu. Eu era pequeno e muito amigo dele. Eu saía de casa para dormir em sua casa. Durante o dia eu e ele saíamos para o mato na busca do conhecimento desses remédios, isso tanto na aldeia dele como também em minha aldeia, porque ele vinha passear em minha casa. Nessas viagens para o mato eu fiquei conhecendo essas variedades de plantas que conheço hoje. Senhor Valdemar Ferreira dos Santos 25
O CERRADO E AS PLANTAS MEDICINAIS
existentes em nosso território Xakriabá. Encontramos várias ervas que servem de remédio. São elas: alcansul, cabelo-de-negro, cabelo-papode-ema, cabocla, catuaba, cervejinha, calunga, dorete, folha-larga, jatobá, malaca, pau-doce, pequi, quina-branca, quina-preta, roseta, ruibarbo, sambaíba, são-gonçalinho, sexta-feirinha, tiborna, veludo e outras.
AS PLANTAS MEDICINAIS DO CERRADO
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O território Xakriabá tem aproximadamente 53 mil hectares divididos em 27 aldeias e seis subaldeias que abrigam mais ou menos 9 mil índios. Desse território, 70% é predominantemente de Cerrado, que quase não se utiliza para o plantio de alimentos, porque as roças são cultivadas nas matas, em terras de barro argiloso. O Cerrado para o povo Xakriabá tem uma importância muito grande pela sua diversidade e pela sua riqueza. Por isso o seu manejo sempre deve ter em vista a sua preservação, o que para nós é essencial, pois sabemos que vivemos dentro de uma natureza viva, que nos traz saúde, conhecimento e aprendizado. Preservar o Cerrado é o objetivo do povo Xakriabá porque sabemos que nele encontramos as plantas para fazer nossos remédios e os frutos nativos para o alimento. Sabemos também que o Cerrado tem uma função muito importante pela sua característica de porosidade, que facilita a infiltração das águas das chuvas, para fazer o abastecimento dos lençóis freáticos, que alimentam as nascentes e córregos. Os conhecedores e benzedores conhecem muitas plantas medicinais sobre as quais aprenderam com os seus pais, tios, avós ou até mesmo com seus irmãos mais velhos. No dia 24 de agosto de 2009, convidamos o Senhor Valdemar, liderança da Aldeia Prata, para fazer uma pesquisa de campo sobre as plantas medicinais. Ele explicou qual a importância que as plantas têm para a saúde humana. Percorremos uma área de 1m observando as plantas, conhecendo as mais diversas espécies
ALCANSUL Uma planta que mede aproximadamente 1 m de altura, possui caule do tipo talo e folhas que medem 2 cm de largura por oito cm de comprimento. Esta planta se adapta às encostas de pedreiras com pouca vegetação ao seu redor. O alcansul serve para curar tosse e inchaço no corpo. A parte que se utiliza para fazer remédio é a raiz, que é raspada e colocada em água para se fazer um chá. Para curar tosse coloca-se uma medida de açúcar em uma vasilha e leva-se ao fogo, mexendo até queimar. Coloca-se o chá pronto junto ao açúcar queimado e mistura-se, para então poder tomar. Utilizar esse medicamento por várias vezes até melhorar a tosse e a pessoa se sentir bem. Para curar inchaço no corpo é usado o mesmo chá, sem o açúcar. Também se pode cozinhar a raiz em quantidade maior e usar no banho para obter a cura. O alcansul é uma planta muito amarga que anula o gosto doce de qualquer outro alimento doce que for colocado na boca: se a pessoa mastigar um pedaço de sua casca, vai sentir um
sabor amargo que logo ficará doce e continuará assim. Se depois comer qualquer outro tipo de doce, como rapadura, doce de leite, açúcar, mel etc., não sentirá o gosto desses alimentos. ALECRIM É uma planta de pequeno porte em forma de talos que mede de 40 a 50 cm de altura. Suas folhas são minúsculas. Por ser uma planta muito sensível, não pode ser tocada por pessoas desconhecidas, porque ela murcha e morre, principalmente se for tocada por pessoas que têm a mão ruim e mau-olhado. Essa planta tem poder espiritual, tira os males e moléstias do corpo. Para ser usada é só preparar o remédio, cozinhando a planta, e tomar banho com ele. As folhas também podem ser usadas no preparo de simpatias. Existe uma espécie de alecrim que é denominada alecrim-do-campo, que se encontra no Cerrado. Seu caule é de pequeno porte e reto, com muitos ramos e folhas pequenas, ásperas e ovaladas. Possuem flores de cor branca dispostas em cachos terminais. É semelhante à erva-cidreira e suas folhas são utilizadas para curar dor no corpo e gripe. CABELO-PAPO-DE-EMA
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Um capim baixo e de folhas finas que atinge aproximadamente de 10 a 20 cm de altura. É uma espécie de capim que gosta de lugares com pouca vegetação ao seu redor, e também de morros e locais com pedras de fogo. Tem um aroma bem delicioso, igual ao de uma planta que serve de remédio para gripe, o junco, encontrado em baixas e lugares arejados, como lagoas. O cabelo-papo-de-ema serve de remédio para fechar o corpo contra mau-olhado, conhecido como quebrante. Basta fazer o chá da raiz para utilizar. É também muito usado para combater os espíritos ruins que vêm das pessoas más. Para isso, é preciso pegar a raiz do
capim, colocar junto com três dentes de alho e um pedacinho de chifre de boi, e fazer o patuá para carregar no bolso ou na carteira, para se livrar das maldições. Esse capim também é indicado para dar à criança quando estiver com dor de barriga. É só arrancar a raiz, machucar e colocar em um caneco com um pouco de água e uma pitada de açúcar. Leva-se ao fogo por alguns minutos para fazer o chá, que deve ser tomado duas vezes ao dia até a pessoa melhorar. CABELO-DE-NEGRO É uma árvore que mede no máximo 3 m de altura, com muitos galhos, de caule cinza na parte externa e roxa na interna, e folhas em forma de pera. Essa árvore serve para sarar ferimentos em qualquer parte do corpo, principalmente aqueles que demoram muito tempo para cicatrizar. A parte usada é a entrecasca do caule, que é a sua segunda massa. Depois de recolhida, leve ao fogo para cozinhar e lave com o remédio o local que vai ser tratado. Esse remédio também é usado em ferimentos de animais. CABOCLA Uma planta que sai em locais com pouca vegetação ao seu redor. Essa planta cresce aproximadamente 70 cm e tem, no máximo, dois galhos em forma de talo. Tem poucas folhas e parece uma planta que tem o nome popular de maria-chiquinha, mais conhecida como sensitiva ou dormideira. Na ponta do galho da cabocla sai uma flor vermelha e redonda. Suas pétalas parecem um monte de cabelinho espetado para cima. Ela serve para curar dor de barriga de criança recém-nascida. É só cozinhar a flor, fazer o chá e tomar.
CALUNGA É uma espécie de planta de porte pequeno, que cresce aproximadamente 1,5 m. Seu caule é preto com manchas brancas. Essa planta serve para curar congestão, que é um problema causado por excesso de comida no estômago. E cura resguardo quebrado, que a mulher sente quando ela está de parto novo e leva um susto, o que causa tontura e dor de cabeça. Para sarar a congestão é utilizada a raiz da planta. Raspe, faça o chá e tome; ou coloque o chá junto com uma dose de azeite de mamona e tome como um purgante. Para curar o resguardo quebrado provavelmente é feito o purgante. É só juntar o chá da raiz da calunga com o chá de outra planta, chamada papaconha, e misturar as duas com uma dose de azeite de mamona e tomar. Depois de utilizar esse purgante, tem que fazer repouso de três a quatro dias, para obter um resultado melhor. Além desses, com a calunga se faz outro tipo de remédio, chamado simonte, que é conhecido também por torrado. Para preparar é só raspar a raiz e colocar no sol ou na beira do fogo para secar. Depois de seco, machucar até formar o pó. Colocar em um frasco para guardar e usar sempre que precisar. Também é usado para curar resguardo quebrado. CATUABA Conhecida como fêmea, a catuaba é uma espécie de planta quase rasteira, com folhas duras que medem pouco mais de 1 cm de largura por 10 cm de comprimento. Existem três tipos de catuaba com propriedades iguais e com o mesmo efeito. O que diferencia uma da outra é o tamanho do pé e das folhas. Essa planta serve para dor nos ossos e reumatismo, sendo que a parte utilizada é a folha. Faz-se o cozimento dela e usa-se para tomar banho. Esse mesmo procedimento é usado para dar banho em crianças ou só lavar as pernas delas para que possam caminhar mais cedo. 28
A catuaba serve também como estimulante sexual. Mas tem uma ciência: tem que cavar a raiz sem arrancar do chão, raspar de baixo para cima e tomar o pó misturado em água ou pinga. Mas quando terminar de raspar é preciso jogar novamente a terra no buraco para soterrar a raiz, para a planta não morrer, porque se a planta morrer, o remédio não faz o efeito. CERVEJINHA É um tipo de planta que chega a uma altura de 2 m. Sua cor é cinza e sua função é tratar infecção de rins e urina. A parte usada é a raiz, que é preciso arrancar e raspar, colocando a raspa junto com um pouco de água e açúcar. Esse remédio é semelhante à cerveja que é comercializada, porque ele tem o mesmo gosto e, quando se mexe o chá, ele ajofa. DORETE Planta que mede no máximo 1 m de altura. Seu caule não é grosso e tem forma de talo; suas folhas, redondinhas, têm 9 mm de largura por 9 mm de comprimento. Sua raiz é indicada para tratamento de reumatismo, dor nas pernas e qualquer tipo de dor que a pessoa estiver sentindo. As folhas servem para dar banho em crianças, para fortalecer os nervos delas e para que elas endureçam rápido. Isso ocorre porque o caule e as folhas são duras. Por isso que a força da planta age nesse sentido. ESPADA-DE-SÃO-JORGE Todos conhecem popularmente essa planta. As folhas dela parecem com espadas e têm a cor verde pintada de preto. Medem aproximadamente 6 cm de comprimento por 60 cm de largura e têm 3 mm de espessura. Essa planta contém muita água em seu interior e não tem caule. Ela serve para expulsar os espíritos ruins.
É preciso pegar as folhas, colocar na água bem morna por alguns minutos e depois usar o chá para tomar banho. Também quando a pessoa estiver desastrada, com encosto ruim e que ninguém consegue segurar, é só dar uma surra com três espadas para a pessoa se acalmar. FOLHA-LARGA É uma planta de caule rastejante. Tem esse nome por causa da forma de sua folha, que é larga. Essa planta é pequena, tem aproximadamente 50 cm de altura, se adapta em lugares com pouca vegetação. Dela se utiliza a folha para fazer o chá para curar dores nas costelas ou em lugares em que já se levou pancada. JATOBÁ-DOS-GERAIS Uma árvore frutífera muito fácil de ser encontrada, pois existe em abundância. Tem o caule retorcido, com casca grossa de cor cinza, e bastantes galhos. Seu tamanho pode chegar até 8 m, suas folhas são quase redondas e saem no galho aos pares, separando-se em dois ramos. As crianças e os jovens da aldeia costumam fazer uma brincadeira com as folhas: eles pegam as folhas duplas que estão juntas, fazem um buraco em cada uma delas e colocam nos olhos, simulando o uso de óculos. O jatobá produz frutos que servem de alimento. A época em que ele dá fruto é de agosto a outubro. Esse fruto pode ser comido puro ou pode-se também fazer uma vitamina chamada de jacuba. Para fazer a vitamina, primeiro é preciso colocar a fruta na água por algumas horas e depois mexer para soltar a massa da semente. Depois bata essa massa no liquidificador junto com açúcar e sirva normalmente. A cor e o sabor lembram a vitamina do abacate. Essa vitamina serve para tratar criança quando ela está com desnutrição. As pessoas da região também costumam fazer pão da massa do fruto do jatobá para se alimentar. O caule do jatobá produz uma resina que 29
é utilizada para curar uma dor no estômago conhecida por nós, Xakriabá, como arca caída. Também cura fratura e junta retorcida. É só pegar a resina, moer, deixar ficar o pozinho, misturar com azeite de mamona e colocar no local a ser tratado. A resina agarra no local e só solta depois que tiver sarado. Esse remédio também pode ser preparado na água e tomado para curar as dores. MALACA Uma planta encontrada nas encostas de morros e em locais com pouca vegetação em suas proximidades. A malaca é uma planta pequena, que mede no máximo 1,20 m de altura. Suas folhas têm um formato arredondado. Esta planta serve para fechar o corpo e é utilizado junto com catuaba. O efeito da malaca é igual ao da catuaba, e quando se misturam as duas, melhor é o efeito do remédio. A parte que se utiliza da planta é a raiz. É preciso raspar as raízes das duas plantas – o malaca e a catuaba –, colocá-las juntas em uma panela e levar ao fogo para cozinhar. Não se pode tomar em excesso. Use somente o necessário: 100 ml. PAU-DOCE É uma árvore de porte médio, que tem o caule de cor cinza e cresce aproximadamente 4 m. A espessura de sua casca é de 4 mm e tem poucas folhas, que se localizam mais nas pontas dos galhos e são duras, curvadas e medem 6 cm de largura por 18 cm de comprimento. Essa planta se chama pau-doce porque a casca dela é doce. As pessoas gostam de chupar a casca e ingerir sua água adocicada. Ela serve para combater a doença de chagas. É só cozinhar a casca em cinco litros de água e, após esfriar, usar para tomar banho. Usa-se também para curar lixa e furúnculo no corpo da pessoa, utilizando-se o mesmo método.
PEQUI Uma árvore frutífera de porte grande que pode medir até 10 m de altura. O seu caule é retorcido e de cor cinza. Não encontramos dificuldade de reconhecer seus órgãos: suas folhas são arredondadas, ela produz um fruto, chamado também de pequi, com uma casca de 8 mm de espessura que abriga de um a quatro frutos redondos. Esses frutos são amarelos, têm um sabor bem exótico e servem de alimento para o ser humano. O pequi só pode ser colhido depois que cair no chão. É quando ele está maduro. Nele existe uma massa que para ser servida é preciso levar ao fogo durante 30 minutos, para que ela se solte da castanha (fruto interno). Também pode-se comer essa castanha, que fica dentro do pequi, depois de colocada no sol para secar. O Pequi é um fruto bastante consumido pela população da região. Da massa contida nele se extrai um óleo. Coloca-se a fruta para cozinhar bem e mexe-se até a massa soltar da castanha. Em seguida leva-se essa massa ao fogo para fritar até obter o óleo. Esse óleo é indicado para curar gripe e bronquite. É preciso misturá-lo com mel de jataí e manteiga para tomar. A dose para adultos é de uma colher de sopa, três vezes ao dia; para crianças, uma colher de chá, duas vezes ao dia, até melhorar. Esse óleo puro serve para sarar ferimentos de seres humanos e animais. QUINA-BRANCA Uma árvore que cresce até 4 m, tem caule de cor cinza e com casca grossa. As folhas são pequenas e verdes, e medem 3 cm de largura por 7 cm de comprimento. A quina-branca é utilizada para curar suspensão de mulher, um mal que as mulheres sentem em relação à menstruação. Esse remédio também serve para curar gripe e, segundo os raizeiros falam, ajuda a fazer crescer os cabelos, se cozinhar as folhas da planta e lavar a cabeça 30
com o chá. Para o processo de cura da suspensão é só tirar a casca do caule da planta, cozinhar e tomar banho da cabeça aos pés com o chá. Para sarar a gripe, tire a casca da quina-branca e da quina-preta, cozinhe-as juntas e use para tomar banho. QUINA-PRETA É uma árvore de porte médio, de tronco retorcido de casca grossa. Ela é uma planta que cura tosse e gripe. Para ser utilizada é preciso retirar sua entrecasca e cozinhar junto com a outra espécie de quina, que é a quina-branca. É um banho que se faz para lavar a cabeça, para curar a gripe que fica fixada nela. Para curar tosse raspa-se a entrecasca e coloca-se na água, deixando curtir alguns minutos antes de poder tomar. ROSETA É uma planta rasteira (seu caule cresce estendido no solo), mas ela não enraíza. Suas folhas são pequeninas, e suas flores são minúsculas e de cor roxa. Quando essas flores começam a secar, elas transformam-se em espinhos que podem perfurar a pele da pessoa que não tomar cuidado. A raiz da roseta é roxa e serve para curar dor de barriga e ferimento em umbigo de criança recém-nascida. Para ser usada é preciso pegar a raiz, raspar e colocar em um copo com água. Deixar curtir por alguns minutos e tomar em doses. Repetir a dose no máximo duas vezes ao dia. O procedimento para curar umbigo de criança é colocar a raiz para secar ao sol e moer até ela se transformar em um pó, que será colocado em cima do umbigo da criança. Nessa planta existe uma substância que ajuda a purificar o sangue e deve-se tomar sempre. Serve também para inflamação no útero e quentura no intestino.
RUIBARBO Os raizeiros conhecem três tipos de ruibarbo, sendo que dois são encontrados no Cerrado. O terceiro tipo é encontrado na Caatinga. Um dos dois que é encontrado no Cerrado mede aproximadamente 1 m de altura, tem folhas de 3 cm de comprimento por 8 cm de largura e de cor amarela. A segunda planta do Cerrado mede o mesmo que a primeira, a folha mede 4 cm de comprimento por 4 cm de largura e têm a cor verde-escura. Sua raiz é vermelha. O terceiro, que é da Caatinga, mede aproximadamente 1,80 m de altura, com folhas pequenas e raiz amarelada. De todos os três tipos de ruibarbo são utilizadas só as raízes, porque a substância que cura fica localizada nessa parte da planta. O ruibarbo amarelo do Cerrado serve para curar tosse comprida (tuberculose) e serve para qualquer dor, inflamação no pulmão e no intestino. Para ser utilizada a planta. é preciso arrancar a raiz e raspar. Em seguida, colocar para ferver com água de acordo com a quantidade de raiz e ir tomando sempre, até curar a doença. O ruibarbo vermelho do Cerrado é indicado para estimular o apetite quando a pessoa está sem vontade de se alimentar. Esse remédio serve também para as mulheres quando estão menstruadas. Se a menstruação dela estiver desregulada e ela sentir dor de cólica, é só usar esse remédio que melhora. Para preparar é só pegar a raiz do ruibarbo, tirar a casca e quebrar um pouco, colocar em um copo com água e deixar curtir por alguns minutos ou de um dia para outro. Depois é só tomar em doses, três vezes ao dia. SAMBAÍBA
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É uma moita arredondada com folhas também redondas. Ela serve para dor de estômago e dor de pancada. A parte utilizada é a raiz, que se coloca na água e deixa-se curtir para fazer o remédio. Deve-se tomar várias vezes até melhorar.
Também são utilizadas as folhas em quebraduras de ossos, como os dos braços, das pernas ou qualquer outro lugar. Neste procedimento, pega-se a folha, amassa-se, coloca-se junto com um pouco de sal e amarrase em cima da fratura. Senhor Valdemar, raizeiro conhecedor das plantas medicinais do Cerrado, disse que na época em que não existia médico para cuidar dos índios Xakriabá, eram curadas as fraturas com esse tipo de remédio, e o resultado era ótimo. SÃO-GONÇALINHO Esta planta é uma moita que cresce 1 m no máximo, tem muitas folhas, que medem 8 cm de comprimento por 1,5 cm de largura e se encontra em qualquer lugar do Cerrado. As folhas dessa planta servem para curar dor nas costelas, dor que aparece de repente. É só cozinhar a folha e tomar banho com o chá. É também utilizado este banho em simpatias. SEXTA-FEIRINHA Planta rasteira com folhas compridas e estreitas. Ela tem uma ciência que só pode ser colhida em um dia de sexta-feira, porque ela é uma planta com poder espiritual. Ao se tomar o chá dessa planta na sexta-feira, ela tem o poder de fechar o corpo, curar dores do corpo e dor de barriga. A parte usada é a raiz, que tem a cor roxa quando é feito o chá.
TIBORNA É uma árvore de porte médio, caule retorcido e áspero com casca grossa de cor cinza. Essa planta contém muito leite no caule e nas folhas. Esse leite é semelhante ao da seringueira. As folhas são duras, grossas e têm a forma comprida. Existem dois tipos de tiborna,
de portes diferentes e características iguais, mas fazem o mesmo efeito e ambas são localizadas no Cerrado. Essa planta serve para curar congestão, que acontece quando a pessoa come um tipo de comida que o estômago não aceita. A parte que se utiliza da planta é a raiz, que é raspada, colocada em um copo com água e deixa-se curtir de um dia para outro no sereno. Esse remédio é um tipo de purgante que é tomado em doses para limpar o intestino. Quando o toma, a pessoa até vomita – porque é um remédio muito amargo – e a cura é mais rápida. Ao utilizar o remédio é preciso fazer repouso, para não tirar a reação dele e também porque a pessoa pode ficar pior e ter algumas complicações. O leite dessa planta serve para curar juntas deslocadas e furúnculo no corpo. No momento m que a folha é retirada da árvore, sai um leite no talo que já pode ser colocado imediatamente no local a ser curado. VELUDO Planta só encontrada em lugares mais altos e de morros e pedras, esta espécie é de porte médio, mas algumas podem crescer muito. O caule é de cor cinza e serve de madeira para fazer cerca, porque o veludo é muito resistente a cupim e não apodrece fácil. As folhas, de cor verdes e cinza, medem 14 cm de comprimento por 9 cm de largura, são duras e a maioria é curvada. O veludo serve para aliviar ou curar dor de dente, quando estiver inflamado. Tire a casca da planta e coloque na água, adicione um pouco de sal, deixe curtir por alguns minutos e faça bochecho várias vezes até melhorar. Atenção: não se deve ingerir, pois pode prejudicar a saúde.
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Alecrim dos Gerais
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Catuaba
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Cervejinha
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Dorete
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Folha larga
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Pau doce
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Pequi
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Quina branca
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Quina preta
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SambaĂba
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Unha d’anta
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Roseta
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Ruibarbo Vermelho dos Gerais
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Sucupira
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Sรฃo Gonรงalinho
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Tiborna
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Veludo
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Alcansul
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Cabelo de Negro
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Jatobรก
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Planta Cabocla
PESQUISA COM DONA OTÍLIA
A IMPORTÂNCIA DA CAATINGA
Dona Otília Ferreira de Araújo mora na Aldeia Sapé, tem 60 anos de idade e é uma pessoa conhecedora de algumas variedades de plantas medicinais nativas e hortaliças. Seus conhecimentos foram adquiridos através de seus pais, tios e pessoas mais velhas. Em um dia, de manhã, saímos com Dona Otília para a mata, em busca dos conhecimentos das plantas medicinais. Percorremos uma área de quase 1 km de distância, onde encontramos diversos tipos de plantas. Enquanto íamos caminhando, Dona Otília mostrava as plantas, tocava nelas e explicava como colhia e utilizava. Ela arrancava algumas raízes de plantas e mostrava para nós conhecermos. Durante a caminhada que fizemos Dona Otília nos contou que não utilizava remédio de farmácia, mas sim remédios das plantas naturais, preparados por ela mesma. De volta para casa, Dona Otília nos levou à sua horta para nos mostrar os tipos de plantas medicinais que ela costuma plantar. Há muito tempo que ela tem um canteiro de plantas para facilitar, porque quando precisar já tem perto de casa, para seu uso e das demais pessoas que vêm à procura desses remédios. Ela usou o mesmo processo anterior para explicar as formas de uso das plantas de horta.
A Caatinga possui vegetação composta por plantas altas e baixas, adaptadas à escassez de água. Na época da seca, as folhas dessas plantas caem em razão de elas não perderem a água contida no interior de seu caule e troncos. Esta reserva de água, elas utilizam enquanto não chove, podendo sobreviver ao longo período de seca, comum na região. A Caatinga é o lugar em que as pessoas costumam cultivar milho, feijão, abóbora, maxixe, melancia, quiabo, dentre outras espécies conhecidas no Xakriabá. A sua terra é argilosa, própria para o plantio, e desenvolve muito bem o que nela se planta. Para nosso povo, a Caatinga tem uma importância muito grande pela sua imensa variedade de espécies de plantas de fazer remédio, além de madeira de lei, que o nosso povo Xakriabá tira para a confecção de artesanato, como pilão, colher, gamela; para a fabricação de cama, mesa, prateleira, portas, janelas, e principalmente para a construção de casas de moradia.
Dona Otília Ferreira de Araújo mora na Aldeia Sapé, tem 60 anos de idade e é uma pessoa conhecedora de algumas variedades de plantas medicinais nativas e hortaliças. Seus conhecimentos foram adquiridos através de seus pais, tios e pessoas mais velhas.
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BÁLSAMO
AS PLANTAS MEDICINAIS DA CAATINGA
ANGICO Uma espécie de planta que nasce em terras de rochas calcárias. Essa árvore cresce até 12 m de altura e aproximadamente 1,3 m de diâmetro. O caule, de cor roxa, é resistente e ramificado, e tem cascas muito ásperas que há muitos anos atrás eram utilizadas pelos índios como ralo para ralar mandioca (macaxeira). Até pouco tempo essa prática ainda era adotada pelos mais velhos. O angico é utilizado como lenha para fogueira, quando o caule está seco. A casca serve para curar gripe. Serve também para purificar o sangue, abrir o apetite e curar gastrite. É preciso colocar a casca na água para curtir e poder extrair a substância.
Uma planta de caule cinza que mede aproximadamente 7 m de altura, é muito ramificada e tem folhas estreitas e compridas. Na época da seca caem todas as folhas dessa planta, para evitar sua perda de água. Essa planta serve para curar inflamações internas, por exemplo: dores em algumas partes do corpo ou causadas por pancada. Partes utilizadas: a raiz e a entrecasca do caule, que devem ser colocadas para curtir em um copo com água por 1 h. Tome o remédio em doses, uma vez por dia até melhorar. BRAÚNA Conhecida também como pau-preto, é uma árvore de porte grande que pode chegar até 15 m de altura, que nasce mais nos solos da Caatinga, mas também pode ser encontrada em outros tipos de solo. O seu caule tem cor preta e apresenta várias ramificações com alguns espinhos nos galhos, suas folhas são pequenas e ovaladas. Essa árvore tem uma substância que serve para curar dor de barriga, dor de estômago e gastrite. Também tem o efeito de purificar o sangue. CAATINGA-DE-PORCO
BABOSA
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As folhas dessa planta têm formato de espada, com espinhos em suas bordas, e medem em média 50 cm de altura. Essas folhas são agrupadas na base da planta, que tem aproximadamente 50 cm de espessura. A babosa se encontra em terrenos de argila e em hortas. Sua folha, ao ser colocada na água, forma uma baba que serve no tratamento antiinflamatório, para moléstias do estômago, dores no corpo; serve também para manchas, retirar vermes de pessoas e no tratamento de câncer. Pode ser utilizada na água ou no café.
É uma árvore de porte médio, encontrada na Caatinga ou em Carrasco, que tem aproximadamente 6 m de altura. O seu caule é de cor cinza com manchas e muito ramificado, sua folha mede aproximadamente 1 cm de largura por 2,5 cm de comprimento. A entrecasca da planta serve para curar gripe, misturando-se com cipó-da-trindade, imburana de cheiro, juá-mirim e angico (ver cipó-da-trindade, p. 38). Também serve para curar congestão (dor de barriga): raspe a casca, coloque dentro de um copo com água, deixe curtir por alguns minutos ou faça o chá e tome
mais de uma vez. Cura também inflamações internas.
Uma planta de pequeno porte, com muitos galhos e folhas pequenas. Seu caule é cinza. Dá frutos com formato de esfera que são comestíveis. A raiz dessa planta serve para curar dor de barriga, porque ela é uma planta fresca, e serve também como anti-inflamatório de uso interno. Preparo do remédio: Cavar e medir 1 palmo da raiz e arrancar. Para fazer o remédio, medir 3 três dedos da raiz a cada vez, fazer o chá e tomar.
Esses nomes foram dados devido às curvas que o cipó faz e por ele ser achatado. É uma planta trepadeira anual, que possui caule em forma de cipó, de cor marrom e não contém folhas. Ela é encontrada apoiada no alto das árvores de grande porte. Esse cipó é popularmente usado no tratamento de problemas de coluna. Para fazer o remédio retire pequenos pedaços do cipó, em forma de rodelas, e parta ao meio. Coloque em uma vasilha com água para cozinhar e tome o chá em pequenas doses por vários dias, até melhorar. Não precisa misturar com outros remédios.
CIPÓ-DA-TRINDADE
DESENROLA
É uma espécie de planta em forma de cipó encontrada na mata. Chega até 11 cm de diâmetro. É uma planta trepadeira, com caule de cor avermelhada. Suas folhas são pequenas e arredondadas, ficam dispostas na parte mais alta dos ramos, mas também se encontram fixadas na parte do caule que fica perto do solo. A casca dessa planta é usada como remédio para curar gripe, em conjunto com outros ingredientes, como a casca da imburana, da caatinga-de-porco, a folha madura do juá-mirim e a casca do angico. Reúnem-se todos esses ingredientes, coloca-se dentro de uma vasilha com água e leva-se ao fogo para cozinhar. Faz-se o chá e toma-se ou então faz-se um xarope, acrescentando-se ao chá, durante o cozimento, 1 xícara (chá) de açúcar ou rapadura queimada, mexendo-se até dissolver o açúcar queimado. Tome em pequenas doses por vários dias para melhorar a gripe. Esse tipo de xarope faz o mesmo efeito que o chá faz. (Segundo a pessoa entrevistada, a população em geral diz fazer o queimado).
É uma planta pequena, anual, de raízes largas e resistentes e caule cinza. Suas folhas são pequenas. A raiz serve para curar disenteria de criança e câimbra de sangue (quando a pessoa está obrando sangue). Para usar é preciso arrancar a raiz da planta e colocar junto com a casca da goiaba branca, cozinhar e tomar o chá.
CAIÇARA
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CIPÓ TRIPA-DE-GALINHA OU CIPÓ ESCADA-DE-MACACO
IMBURANA-DE-CHEIRO É uma planta que se encontra na mata bruta. A árvore cresce até 7 m de altura e 1,70 m de diâmetro. Seu caule é de cor verde e muito ramificado. Tem uma pele bege que fica fixada no tronco mas sempre se solta. Suas folhas são pequenas, medem 1,5 cm de largura por 3 cm de comprimento, e localizam-se nas pontas dos ramos. A imburana-de-cheiro possui madeira de lei de grande utilidade na fabricação de móveis como portas, janelas, mesas e outros. Existe também a imburana vermelha, que externamente é semelhante à imburana-de-
cheiro, porém não serve de remédio e sim para a fabricação de artesanatos como gamela, colher de pau, pilão de mesa para beneficiar tempero, peças ornamentais. Esta árvore produz uma semente que serve para dor no estômago, congestão e cólica. Para ser usada a semente, é necessário levá-la ao fogo para ser torrada e depois misturar a outros tipos de remédio, como a casca seca da laranja e chifre de boi torrado na brasa e raspado, obtendo-se um pó. A casca da imburana serve para curar gripe, misturada a outras plantas como a casca da caatinga-de-porco, a folha madura do juámirim e a casca do angico e do cipó-da-trindade (ver cipó-da-trindade, p. 38). Sua casca também serve para lavar a cabeça quando a pessoa estiver gripada, ajudando a retirar a gripe que está na cabeça. O procedimento é cozinhar a casca junto com outra planta, que se chama marcela, ou sozinha, e lavar a cabeça. Depois de ter usado o remédio, não se pode molhar a cabeça com água durante três dias, para não sofrer sequelas como inchaço no rosto. JUÁ-MIRIM É uma espécie que se adapta em qualquer tipo de solo, mas se encontra mais em alguns lugares do que em outros. Essa árvore é da família do juá, com as mesmas características. A diferença é que o juá-mirim só cresce até 3,5 m de altura. Contém muitos galhos e suas folhas são pequenas. O seu fruto é 1/3 da semente do juá, é verde e quando está maduro fica amarelo. É comestível. A casca serve para gripe. JURUBEBA É uma planta arbustiva, ereta, que alcança 3 m de altura. Encontra-se em áreas desmatadas. Possui caule espinhoso e com pelos grandes. Suas folhas são alternadas, de bordas sinuosas ou recortadas, às vezes com coloração azulada. 58
Os frutos têm forma esférica, são verde-claros e esbranquiçados quando maduros. Possuem sementes em abundância, em forma de discos. A raiz é indicada para o tratamento de gripes. Para ser utilizado arranca-se a raiz e colocase em uma panela para cozinhar. Pega-se uma pedra virgem (aquela pedra que fica toda soterrada) e coloca-se no fogo. Quando a pedra estiver vermelha igual brasa de fogo, coloca-se em uma vasilha com uma medida de açúcar para queimar junto. Em seguida, acrescenta-se o chá da jurubeba para fazer o queimado. Usase duas vezes ao dia. POLISTA É uma planta que se encontra na mata, mas algumas pessoas gostam de plantar em casa, para facilitar na hora do uso. Ela é da família da bucheira e tem características iguais: o caule, que é fino e ramificado desde a base, é conhecido como trepador, porque cresce fixado em outros caules, como planta de porte grande, ou em estacas. Essa planta dá uma fruta que quando seca fica como uma bucha. Essa bucha serve para curar sinusite. Para usar, as pessoas pegam um pouco de água, colocam em uma vasilha e levam ao fogo para mornar. Depois batem a buchinha dentro da água por alguns minutos, até formar uma espuma. Em seguida, sugam essa espuma pelo nariz. Mas é preciso usar várias vezes para ter um bom resultado. Quando a pessoa está usando esse remédio, precisa fazer repouso e não pode se molhar nem tomar água fria ou gelada, porque esse remédio pode dar uma reação muito forte e pode até fazer inchar o corpo da pessoa, principalmente o rosto, e pode complicar mais a saúde, causando mais doenças.
POSTEMEIRA Uma planta média que contém quatro ramos finos, em forma de cipó, desde a base. Suas folhas são grandes e ovaladas. A raiz desta planta serve para curar dores no corpo. Para preparar o remédio, primeiro arranque a raiz e lave com água em abundância. Machuque e coloque para cozinhar por alguns minutos. Deixe esfriar e tome. SABUGUEIRA Uma planta de pequeno porte, de caule ereto e cilíndrico de cor cinza. Suas folhas são ovaladas e ficam expostas na ponta dos ramos. O sumo da folha serve para cicatrização de feridas. Após lavar o ferimento com água e sabão, coloque em cima o sumo verde extraído das folhas. UMBU-MAROTO Uma planta de porte médio que possui muitas ramificações e caule espinhoso. Suas folhas são pequenas e ovaladas. É uma planta eflorescente que dá frutos de cor verde que ficam amarelados ou alaranjados ao amadurecer. Esses frutos são comestíveis e têm um sabor delicioso. A entrecasca do caule serve para curar dor no intestino, calor no fígado, estômago e rins. Para usar, coloque a entrecasca na água, deixe curtir por alguns minutos e tome duas vezes ao dia. VELAME É uma espécie de planta encontrada na Caatinga e também no Carrasco, de caule esverdeado e cilíndrico. Seu tamanho chega até 2 m, suas folhas são ovaladas, com bordas onduladas. As folhas são pequenas, de cor cinza, dispostas na ponta dos ramos. Do caule dessa 59
planta sai um leite que serve para curar dor de dente. É preciso arrancar a folha e colher aquele leite que sai do talo e do caule, colocando em um pequeno pedaço de algodão para pôr em cima do dente que está doendo.
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Angico
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Braúna
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Catinga-de-porco
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Cip贸 escada-de-macaco ou tripa de galinha
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Imburana
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Juรก-mirim
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Bรกlsamo
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Caissara
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Cip贸 da Trindade
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Desenrola
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Postemeira
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Sabogeira
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Umbu Maroto
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Velame
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Jurubeba
FOLHA-SANTA
AS PLANTAS MEDICINAIS DE HORTA
CAPIM-SANTO Uma planta caseira, com flores semelhantes às do capim. Suas folhas e suas raízes possuem um forte aroma que serve como calmante. O capimsanto serve também para gripe, juntando-o com outras plantas medicinais que têm o mesmo efeito, e para pressão alta. Basta preparar o chá e tomar. CONFREI Uma planta que mede de 30 a 40 cm de altura e contém folhas verde-escuras, alongadas e largas, aglomeradas desde a base. É um medicamento de uso externo. Ao ser ingerido pode causar câncer no fígado. O sumo da folha do confrei é utilizado como cicatrizante de feridas e cortes. CRAVINHO O cravo é uma planta conhecida popularmente, utilizada em jardins para ornamento. Ela alcança até 80 cm de altura, seu caule é frágil e suas folhas são esverdeadas, pequenas e compridas. Essa planta produz flores amareladas e alaranjadas que ficam expostas na ponta dos ramos, e suas pétalas são muito próximas umas das outras. As folhas possuem um cheiro picante, e são usadas, assim como outras plantas, no preparo de chás para tratamento de gripe. Serve também para diminuir a febre. 75
Planta hortaliça em forma de moita que mede mais de 90 cm de altura e é toda ramificada. Seu caule é verde, redondo e delicado. Suas folhas são grandes, carnosas, de forma ovalada e denteadas nas bordas. Essas folhas contém um sumo verde que é indicado para dor nos olhos, gastrite e outros tipos de dores. Também serve para mulher quando estiver no período da TPM, se sentir uma hemorragia. Para ser usado no olho, coloque uma folha em um pano, esfregue e esprema no local. Para os demais é preciso tomar o sumo na água, em pequenas doses.
MARVÃO É uma planta hortaliça. Tem o formato de uma moita e alcança aproximadamente 30 cm de altura. Suas folhas nascem desde a base até as pontas dos ramos, são esverdeadas e ovaladas. Essa planta é usada no tratamento de inflamações internas do corpo e dor de barriga (dor intestinal). Também cura gripe. Para ser usado, prepare com a folha um xarope ou faça um chá. Para o tratamento de dor intestinal e de inflamações é preciso preparar um purgante junto com outras plantas, como manjerona, poejo e hortelã, e com o óleo extraído da mamona, chamado também de azeite. MELINDRO Uma planta hortaliça semelhante ao alecrim e que mede de 50 a 70 cm de altura. Suas folhas são verdes, aglomeradas e estreitinhas, feito talos. Não possui caule: cresce em forma de moita. É utilizado o melindro para sarar qualquer dor que se esteja sentindo. É só preparar junto com outras plantas medicinais. Ela também
tem poder espiritual. Tem o mesmo efeito do alecrim. É preciso utilizar em uma sexta-feira para obter um resultado mais forte.
COMO CUIDAR DA SAÚDE DOS ANIMAIS
Na nossa região existem várias plantas que servem de remédio para curar as doenças dos animais. Elas podem ser encontradas tanto na mata quanto no tabuleiro. Entre elas podemos destacar as seguintes: sucupira, quina-preta, unha-d’anta, barbatimão, batata-de-purga, caraíba, tiú, paulista, favela, pião, anilo, jatobá, mamona, babosa, caroba, maracujá, piteira e gendiroba. Os mais velhos falam que quando o animal estiver com ferimento e com bichos (popular bicheira), não podemos colocar remédio no local em dia de domingo, porque o remédio não faz efeito (os bichos não morrem). O animal não melhora, nem a reza vale, sendo nesse dia. Simpatia para curar tosse de cachorro Há uma simpatia muito eficaz para curar tosse de cachorro. Basta fazer um colar com sabugo de milho: quebre o sabugo em pequenos pedaços, enfie um barbante nos pedaços, formando o colar, e coloque no pescoço do cachorro. Não tire o colar do pescoço dele. Deixe cair por si próprio. A fé é o instrumento mais importante do processo.
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PLANTAS QUE SERVEM DE REMÉDIO PARA OS ANIMAIS
facilitar na hora do uso. Essa planta tem algumas utilidades, como passar no cabelo, beber e dar a animal. Para animal, use dessa forma: pegue a folha da babosa, coloque em uma vasilha com água para ferver, depois deixe esfriar e dê ao animal para beber quando ele estiver pesteado. Serve para gado e cavalo. Também serve para quando o gado estiver com broca no chifre. É só seguir o mesmo procedimento. BATATA-DE-PURGA
ALGODÃO E MASTRUZ São plantas que muitas pessoas cultivam nos quintais das próprias casas e que servem para os animais como gado, cavalo e porco. Esse remédio é para quando o animal estiver com alguma inflamação interna ou machucado. Para preparar o remédio é só machucar junto com o sal e dar ao animal para comer ou colocar no cocho junto com a água para o animal beber. Essas plantas também servem de remédios para as pessoas. ANILO Uma planta encontrada em terra de argila ou arenosa. Suas folhas são usadas para curar machucado de animais e também para osso quebrado, deslocado e inchaço no ser humano. Como preparar: pegue folhas do anilo e machuque no pilão misturando com sal (pode acrescentar dois pingos de querosene). Para o tratamento, amarre no lugar onde estiver doendo, deixe por alguns dias e espere o resultado. BABOSA É uma planta que se encontra na mata, mas muitas pessoas plantam em casa, para 77
É uma planta da mata que serve de remédio para cavalo, gado, porco cachorro e gato. Para o cavalo e para o gado tem que pisar na planta com sal e dar para o animal comer. Também se pode fazer cozimento da raiz ou da rama. Para o porco pode ser usado na lavagem: pegue a raiz da batata, pise e coloque na lavagem ou até mesmo num pouquinho de comida. Para o cachorro e para o gato é só pisar, colocar na comida e dar a eles para comer. Serve para cachorro, gato e porco quando estiverem pesteados, isto é, sem querer comer; para alisar o pelo deles, e para engordá-los também. Serve para purificar o sangue do gado e do cavalo e combate os carrapatos. Este remédio serve também para as pessoas. CARAÍBA É uma planta do Cerrado que serve de remédio para gado, jegue, cavalo e burro. O remédio dessa planta é usado quando o animal está com disenteria: raspe a casca da planta e coloque na água. Depois de algum tempo que estiver curtida, tire as raspas e dê a água para o animal beber.
CAROBA
MAMONA
É uma planta nativa da mata. Ela é utilizada para dar a galinha, peru e cocá quando estão com uma doença conhecida popularmente como caroço ou boba. Como utilizar: pegue a raspa da planta e coloque no cocho com água para as galinhas beberem. Faça isso durante alguns dias e os caroços vão murchando e acabam.
Planta que a gente costuma plantar no quintal de casa ou nasce mesmo sem plantar. Dela se obtém um óleo muito usado como remédio. Para extrair o óleo, faça assim: pegue a semente da planta, torre, depois pise no pilão e coloque ao fogo numa vasilha para ferver por um bom tempo. Ainda fervendo, vá tirando o óleo que aparece na superfície da panela e passe para outra panela. Isso já é o óleo. Quando terminar, coloque esse óleo para ferver mais um pouco, depois tire do fogo, deixe esfriar e coloque numa garrafa para guardar. Fica um resto da mamona na panela, que a gente pode usar em ferimentos de animais. O óleo pode dar para qualquer tipo de animal beber, pode passar na pele para alisar o pelo e pode usar para engordar o animal. Serve também para matar vermes em cachorros. A gente também toma o óleo como purgativo. A dosagem é de meio a um copo (50 a 100 ml).
FAVELA Planta do Cerrado. Seu fruto serve para curar tosse de animais como cavalo, jegue e gado. Pegue a fruta, pise no pilão com sal e dê ao animal. GENDIROBA Essa planta é uma espécie ramificada encontrada na mata. Sua semente serve para curar animais como cachorro, porco e gato. O remédio feito dela é usado quando o animal está pesteado, sem querer comer: pegue a semente e torre, tire a casca grossa e machuque. Coloque na comida ou na lavagem e dê ao animal para comer. Serve também para limpar o pelo do animal e para engordá-lo. Esse remédio serve também para o ser humano. JATOBÁ É uma planta do Cerrado que produz uma resina que usamos para curar deslocamentos e machucados de todos os animais e também em pessoas. A gente pode beber o chá para aliviar dores. Para sarar machucado de animais ou de gente, pise a resina no pilão e coloque um pouco de azeite de mamona. Pegue um pedaço de algodão e cole a resina no lugar machucado e amarre um pano por cima. Esse remédio, quando usado, dá um bom resultado. 78
MARACUJÁ O pé do maracujá é uma planta que se encontra em diversos lugares e que serve de remédio para porco quando ele estiver vomitando ou descadeirado. Como usar: arranque a raiz do maracujá e coloque para cozinhar (pode ser junto com a rama). Depois de cozido, deixe esfriar e coloque no cocho para o porco beber. PINHÃO Planta nativa da mata que serve para curar peste (tosse) de cachorro e porco. É só pegar a semente, torrar, machucar e colocar na comida ou na lavagem.
PITEIRA
SUCUPIRA
É uma planta em forma de espada que se encontra em qualquer lugar. Ela serve para matar piolho de cavalo. Primeiro pegue a folha da piteira, pise no pilão ou corte em pequenos pedaços e coloque para cozinhar. Depois de cozido, coloque para esfriar e dê banho no animal com o remédio. Faça isso várias vezes.
É uma planta encontrada em quase todo o Xakriabá. Existem duas espécies dessa planta, sendo uma do Cerrado e a outra da mata (Caatinga). Sabemos que só a do Cerrado serve de remédio. As partes que utilizamos para remédio são a semente e a casca. O remédio serve para curar peste – um tipo de tosse – em cavalo. Tire a casca, pise nela no pilão, misture ao sal e coloque no cocho ou lambedor para o animal comer. Pode ser usado para proteger gado (boi), jegue e galinha de outros males. Se preferir pode ferver a casca, misturar em um pouco mais de água e dar ao animal. Serve para alisar o pelo, engordá-lo e ainda mata vermes. Para galinha, coloque no cocho com água para curar catarro.
POLISTA É uma espécie de bucheira, ramificada. Encontra-se na mata, mas muita gente costuma plantar em casa, pois essa planta serve de remédio. É indicada para curar cavalo e jegue quando estão com peste (tosse). Pode colocar no sal ou fazer o defumador e dar ao animal. Para fazer o defumador usa-se outros ingredientes, como coentro, palha de resta de alho e pano. Então pegue isso tudo, coloque em uma lata e leve ao fogo, mas é só para fumaçar e colocar para o animal inalar por alguns minutos. Podese fazer de dois a três dias em sequência para obter o resultado. QUINA-PRETA E UNHA-D’ANTA São plantas do Cerrado utilizadas para fazer remédio para animais. É feito do mesmo jeito da sucupira: pega-se a casca e coloca-se no sol para secar e depois pisa-se no pilão junto com o sal. Depois coloca-se no cocho para o animal comer. Serve para gado, cavalo, jegue. Age no sangue dos animais para evitar que peguem carrapatos, ou serve até mesmo para cair os carrapatos quando já têm muitos. A raiz delas é usada mais para os animais e o caule é usado mais para os seres humanos.
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TIÚ (TEIÚ) Planta do Cerrado que serve para curar peste em cavalo e jegue. Pegue a raiz, raspe e coloque para secar. Depois misture ao sal e dê para o animal comer. Serve também para porco e cachorro quando estão com tosse. Para o porco pode-se colocar na lavagem (resto de comida) e pôr no cocho para comer; para o cachorro pode ser colocado na comida.
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Anil
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Marv達o
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Confrei
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Folha Santa
Folha Santa
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Capim Santo
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Sucupira
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Cravinho
CACHEIRO
ANIMAIS QUE SERVEM COMO REMÉDIO
Além das plantas, existem animais que são muito úteis como remédio. Alguns deles são o coelho, o meleta, o cacheiro, entre outros. Antigamente existiam muitos desses animais e hoje não tem mais como antes. O coelho é mais fácil de encontrar em nosso território, mas o meleta e o cacheiro hoje são muito raros porque eles estão em extinção.
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É um animal que existia em grande quantidade em nossa região. Hoje é muito difícil encontrá-lo, devido à caça sem controle e fora de época, e também por causa do desmatamento, das queimadas. Com isso foram desaparecendo de nossa região. O cacheiro serve para várias doenças. Dele usamos o espinho, que serve para doença do ar (epilepsia) e para febre. Queima-se e torrase seu espinho e faz-se o chá. Nele podem-se misturar outros ingredientes, como: imburana, casca de ovo, óleo de pau. Para melhor resultado é necessário fazer essa mistura. COELHO O couro desse animal serve de remédio para queimadura. Primeiro tire o couro, depois torre na brasa de fogo, faça um pó e coloque sobre a queimadura várias vezes até sarar.
BEIJA-FLOR
EMA
Todo mundo conhece a beija-flor. É um pássaro bem pequeno, suas penas são verdes e ela dá notícias boas. As pessoas falam que quando ela entra numa casa podem esperar que qualquer notícia ou visita está por vir. Também, quando ela vem até a gente, alguma coisa boa vai acontecer. O seu ninho serve para curar epilepsia, conhecida também em nossa região como “doença de ar”. Não só o ninho da beija-flor, mas também semente de melancia, girassol, espinho de cacheiro. Faça essa mistura e dê para a pessoa tomar. Dizem que a pessoa não pode saber que tem essa doença e tem que tomar o remédio sem saber para que ele serve, senão o mal pode voltar. São experiências que devem ser cumpridas para um bom resultado do tratamento.
A ema é uma ave muito conhecida em nossa região. A moela dela serve para quem sofre de úlcera. Para preparar a moela da ema, tem que torrar e depois colocar na água. Depois é só beber. GADO O gado é uma das criações que se expandiu muito em nosso território. A sua presa (dente) é boa para fazer chá e dar para a criança que está naquela fase de nascer dente, e também para quando ela está com o dente recolhido, ou seja, o dente não quer nascer, talvez porque a criança levou muitos yombos, o que pode fazer o dente ficar recolhido. Então pegue nove presas do gado, nove nós de cana-caiana, sem deixar quebrar o olho
do nó e nove espinhos de laranja. Corte um nó da cana em forma de cruz e jogue um pedaço na direção em que o sol sai. Em seguida, torre as presas do gado, pegue os outros ingredientes – os espinhos de laranja e os outros nós de cana – e coloque tudo junto para ferver. Depois de pronto, dar à criança para tomar umas três vezes ao dia, durante nove dias, e é só ter fé que a criança ficará boa. O chifre do gado serve para dor no estômago, ou para quando a pessoa está com o estômago ruim por causa de alguma coisa que lhe fez mal. Para prepará-lo, tire uma lasquinha do chifre, junte com hortelã, coentro, casca de laranja torrada e ponha para ferver. Depois de pronto, pode colocar açúcar ou sal e tomar. GALINHA A banha da galinha serve para criança que está com chieira (catarro) no peito. Coloque a banha da galinha para esquentar e passe no peito da criança até obter o resultado da melhora. Depois de matar a galinha sempre tire a banha e guarde para essa necessidade. A pena da galinha-arrepiada serve para dor de cólica. Pegue a pena da galinha-arrepiada e torre. Depois de torrada, pegue, dissolva na água e pode tomar. O sangue da galinha-de-pescoço-pelado serve para pessoas que já foram picadas por bichos como cobra, escorpião, etc. Mate a galinha e passe o sangue no lugar da picada. Observação: a pessoa não pode comer da carne da galinha. GAMBÁ O osso do gambá serve para curar reumatismo. Raspe o osso do animal para obter um pó que depois pode ser tomado no café.
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LAGARTIXA A lagartixa é um animal que existe em grande quantidade em nossa aldeia. O chá dela serve para curar sarampo. Pegue a lagartixa e coloque para cozinhar, para fazer o chá e depois dar para as pessoas beberem. Mas a pessoa não deve saber o que está bebendo, até porque se souber do que é o chá, não toma. Esse remédio para nós tem uma grande importância. Um remédio feito em segredo, que é abençoado para nós, pois o chá de lagartixa é um santo remédio para essa doença que antes era muito frequente em nossa região. MELETA OU MIXILA Um animal que servia muito de alimento para as famílias mas que agora também são poucos, assim como todos os animais que antes existiam em abundância e hoje não se encontra mais. O couro da meleta serve para furúnculo e quentura no sangue. Seu cabo também serve para epilepsia e dor de dente. Torre seu couro, machuque até virar pó e pode tomar na água ou na pinga (cachaça). O couro desse animal serve para curar olho quando sai no corpo. Coloque para torrar na brasa de fogo depois moa bem até obter um pó. Coloque no café e tome. TATU O tatu vive no Cerrado e se alimenta de insetos como formiga, cupim e mariposa, e também de milho. Sua morada é em buracos. Do tatu utilizamos a banha, que serve para curar bronquite e ferida.
VEADO-CATINGUEIRO OU BUKIMUJU, EM XAKRIABÁ A canela do veado-catingueiro serve para fazer a criança caminhar mais cedo. Basta pegar a canela do animal, cozinhar e deixar esfriar. Depois pegue a água e lave as pernas da criança do joelho para baixo. Faça isso umas três vezes. Também da canela do veado pode ser retirado um óleo que combate problemas como surdez.
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Mentraste
3 PROCESSOS DE CURA
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Os processos de cura entre as pessoas de nosso povo Xakriabá têm muita importância e muita força. Antigamente, era muito difícil as pessoas ficarem doentes e terem que ir ao médico, mas quando elas adoeciam, procuravam se curar através de orações, fazendo promessas e usando remédios naturais, feitos de plantas e de alguns animais silvestres. Muitos ainda confiam no poder dessas orações, promessas e remédios naturais para alcançar a cura. Todos esses elementos passam por um processo que vai desde o preparo até o momento de se tomar um remédio, ou de se fazer uma oração. Tudo isso envolve um grande saber e um rico conhecimento para nós, povos indígenas.
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REMÉDIO PARA DOR DE DENTE
ORAÇÕES
As pessoas quando estavam com dor de dente desatinada, raspavam um pouquinho de noz-moscada, colocavam um pouquinho de farinha, um pouquinho de fumo, colocavam no cachimbo e davam à pessoa para fumar. ORAÇÃO PARA RETIRAR CISCO DO OLHO
A gente faz oração de livrar o corpo da gente, reza para benzer de quebrante, mauolhado, dor de barriga. Às vezes, por exemplo, uma pessoa cai e machuca o pé e dizem que é carne quebrada. Tem a reza contra enzipa, que é quando uma pessoa leva um corte ou tem ferida grande na perna ou no braço. No livro Sobre a literatura Xacriabá aprendemos que oração e reza são coisas diferentes. Oração é um jeito de pedir a Deus ou outro santo para conseguir alguma coisa, como acabar com uma tempestade, curar uma doença, proteger a colheita da roça e outras coisas importantes. A reza já é feita para os espíritos, para pedir proteção ou conseguir ajuda na cura de doenças. “Há reza para tudo, envolvendo Deus, homem, plantas, animais e simpatias.”
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Esta oração se faz simplesmente rezando no olho da pessoa com alguns ramos de árvores. Primeiro ter fé em Santa Luzia, protetora dos olhos, para ter um bom resultado. Assim como outras orações, é recomendável primeiramente a fé em Deus e na pessoa que está fazendo a oração. Essa oração é rezada uma vez no dia e logo já se percebe a melhora. ORAÇÃO PARA CORTAR ÍNGUA Para cortar íngua se usa um tição de fogo, fazendo uma cruz no local da íngua. Quando o processo de cura entra na íngua, logo se percebe o efeito e a melhora é rápida. Fazer esse processo de cura sempre à noite, ao deitar.
ORAÇÃO PARA CURAR DOR DE DENTE
ORAÇÃO PARA CURAR ARCA CAÍDA OU ESPINHELA
Essa oração é muito importante para quem tem fé. É a oração para curar dor de dente. Primeiro molha-se o dedo em água morna e então se inicia a reza fazendo uma cruz na bochecha, no local da dor do dente. Reza-se três dias seguidos. Observação: Só se pode utilizar essa reza se o dente estiver doendo bastante. Se doer pouco e utilizar a reza, a dor aumenta. Para que a cura seja completa, basta ter fé e seguir essas recomendações.
Quando uma pessoa está com arca caída, ela fica sem apetite e sente dor no estômago. Isso acontece quando a pessoa pega muito peso, principalmente quando o peso é pego desde criança. Quando a pessoa percebe que está sentindo os sintomas há muitos dias, ela tem de procurar um benzedor. O tratamento com a oração deve ser feito durante nove dias ou três sextas-feiras, duas vezes ao dia, às seis horas da manhã e às seis da tarde. Para fazer a oração, a pessoa deve ficar deitada com uma colher nas mãos, enquanto o benzedor puxa cada dedo dos
pés e mãos. Se os dedos não estalarem é sinal de confirmação do problema. Prosseguindo, cruzam-se os braços da pessoa três vezes para a direita e para a esquerda, rezando a oração. Durante o tratamento, a pessoa que está sendo tratada deve fazer repouso e não pode pegar peso acima de 1 kg. No tratamento o benzedor tem que ser de sexo oposto ao da pessoa que está sendo tratada: o processo de cura é mais forte assim. Se não tiver a pessoa para rezar e fazer um cordão (patuá), a gente mesmo pode levantar a arca caída: é só procurar uma árvore que tem galhos baixos, onde a gente se dependura, laçando as mãos no galho. Para cada três vezes que dependuramos, rezamos uma parte da reza, até terminar. A reza é: “arca caída, procura seu lugar com os poderes de Deus e da Virgem Maria. Ave Maria, Ave Maria.” De preferência, deve-se dependurar em árvore de espinhos. ORAÇÃO PARA CURAR ENZIPA Quando uma pessoa leva uma pancada ou corte, e infecciona o local, ficando avermelhado, quente e com dor ardente, podemos dizer que é a enzipa. Assim, procuramos um benzedor, que utiliza na mão um tição de fogo aceso em movimentos acima de 20 cm de distância do local e/ou três galhos de ramos verdes, auxiliado pela reza. Esse tratamento pode ser feito várias vezes até se sentir a melhora. ORAÇÃO PARA CURAR DOR DE CABEÇA Os benzedores falam que quando uma pessoa está com dor de cabeça bem forte e essa dor sempre se repete, é porque a pessoa pegou muito sol quente. Então isso acontece quando a pessoa não se protege do sol. Quando essa dor não passa, eles procuram o benzedor. O benzedor pega uma garrafa de vidro transparente e coloca água. Logo depois 9
põe um pano branco sobre a cabeça da pessoa e coloca a garrafa em cima do pano, virada para baixo, Então começa a oração. Se estiver com sol, começam a subir umas gotinhas de água para cima da garrafa, e se ficar asserenada, dizem que a dor de cabeça é por causa de sereno que a pessoa pegou em noites frias... REZA PARA CURAR DOR DE BARRIGA
Texto resultado de entrevista com José de Almeida
Quem reza falou que é feita dessa maneira: quando tem uma pessoa com dor de barriga bem forte, reza-se na barriga da pessoa. Ao começar a reza, vai-se rezando e fazendo cruz na barriga até terminar a reza. Mas a pessoa que estiver sentindo a dor tem que ter fé em ser curado. Senhor José falou que ele mesmo, que reza, não tem fé, mas a pessoa que quer ser curada tem que ter. Os homens só podem ensinar a reza para as mulheres e as mulheres que sabem rezar podem ensinar para os homens. E, de preferência, deve ser ensinado num dia de sexta-feira. Se homem ensinar para homem e mulher ensinar para mulher, a reza fica fraca. BENZIMENTO PARA CURAR QUEBRANTE O quebrante é um tipo de mau-olhado que acompanha mais as crianças de 0 a 3 anos. Quando está com quebrante, a criança fica com mal-estar, com diarreia e fica muito triste. A oração para quebrante é muito usada em nossa aldeia, e tem que ter muita fé para ela dar bons resultados. As mães de nossa aldeia têm muita fé nela. Antes só alguns mais velhos sabiam essa oração, hoje alguns jovens já praticam. O ideal é quanto mais pessoas souberem rezar melhor. Para benzer de quebrante, os benzedores usam três galhos de fedegoso, arruda, carrapicho ou 97
outra árvore qualquer (normalmente usa-se mais o galho do fedegoso). Feita a oração, essa pessoa que benze pega os três ramos e joga no mato pelas costas. Durante a reza, se o ramo ficar bem murcho, o benzedor sentir dor no corpo, a criança ficar sempre cuspindo e com moleza no corpo é porque esta criança tem quebrante muito forte. E quando isso acontece o benzedor recomenda que se mande mais pessoas benzerem a criança antes que esse quebrante passe para as tripas dela. Se isso acontecer, a criança pode até morrer. Se a criança for homem, tem que procurar mulheres para benzer; se for mulher, o benzedor será homem. Segundo a tradição, homem só pode ensinar a oração para mulher e mulher para homem. Esse aprendizado oposto será para a oração ficar mais forte. Essa oração pode ser feita somente durante o dia. Depois que anoitece e nos finais de semana não se pode rezar. É uma ciência que os benzedores têm. HISTÓRIAS SOBRE QUEBRANTE
Creuza Ferreira dos Santos
Contava a minha avó que eu sempre estava com quebrante e ela sempre mandava os benzedores me benzerem. Até que um dia um benzedor muito bom, por nome de José Caetano, me benzeu e falou: “Essa criança só vai parar de levar quebrante quando ela passar para 3 anos de idade”, e isso foi verdade. Eu também tenho uma história da minha filha. Ela também era uma criança que pegava muito quebrante. Então um dia foi preciso eu mandar fazer um cordão para ela. A partir daí o quebrante foi diminuindo e hoje não é como antes. Esse cordão que eu falo é usado no pescoço ou no braço da criança e é feito somente por algumas pessoas. Ele é feito de coco-tucum e de algodão. Então, quando uma pessoa olhar para ela com mau-olhado, este mau-olhado pega no cordão que está na criança. Esse cordão pode ser usado até por pessoas adultas. 98
PROMESSAS
Aqui na nossa reserva Xakriabá, as pessoas costumam fazer promessas para se curarem de algumas doenças. Como as pessoas têm muita fé em todos os santos, isto é, cada pessoa acredita em seu santo preferido, e cada um é especifico para uma cura, fazendo suas promessas e cumprindo certinho, do jeito que prometem, com certeza, se Deus quiser, essas pessoas são curadas. Os santos para quem fazemos as promessas são: Santa Luzia, principalmente para as doenças dos olhos; São Brás, principalmente para as doenças da garganta; São José, principalmente para não morrer de fome nem de tosse comprida. E têm outros que a gente não especifica para fazer as promessas. São eles: Santo Reis, São João, Nossa Senhora Aparecida, Bom Jesus, Santa Cruz, São Gonçalo. PROMESSA PARA SANTO REIS A promessa para Santo Reis é feita assim: se a pessoa estiver doente, passando mal, a própria pessoa ou um parente faz uma promessa, dizendo: “Se Santo Reis ajudar (o nome da pessoa) a melhorar, vou mandar cantar um Reis” e fala o total de casas, por exemplo: 6, 12, 18, 24 ou 48 casas, lembrando que esse número tem que ser par e que o que vale mesmo é ter fé. É um grupo de pessoas que canta o Reis. Na folia de Santo Reis, por as pessoas terem fé, elas pagam a promessa de cantar, e têm que cantar no total de casas que prometeram. É uma caminhada com muitas pessoas acompanhando e o dono da promessa seguindo na frente com o
santo na mão. Ao chegar numa casa, ele ajoelha com o santo na cabeça e uma vela na mão, e fica assim durante todo o tempo da cantoria. Ao terminar de cantar o Reis daquela casa, ele faz o agradecimento e passa para outra casa, e assim sequencialmente até a última casa. Ao longo da caminhada não podemos voltar para trás porque os mais velhos falam que estamos pisando nos rastros dos mesmos e isso faz mal. Ao chegar de volta na casa do dono da promessa, cantase o Reis e por último reza-se para finalizar. A promessa está cumprida. PROMESSA PARA SÃO GONÇALO Quando tem uma pessoa doente, a gente costuma fazer promessa para ela se tornar curada. Uma delas é a de fazer a dança do São Gonçalo, que a gente faz desse jeito: “Se São Gonçalo ajudar que (fala o nome da pessoa) melhora, vou mandar dançar (fala o total de rodas)”. Podem ser 6, 12, 18, 24, lembrando que têm que ser números pares. Daí tem que convidar as pessoas que dançam e o meieiro. Quando for o dia de cumprir a promessa, as mulheres que dançam têm que vestir roupa de cor branca, e os arcos têm que ser enfeitados de cor branca. E tem o meieiro, que fica com um garfo e uma colher. O meieiro é o único homem e as mulheres têm que dançar aos pares. Ao terminar de dançar o total de rodas, tem a reza. Ao terminar a reza, dá-se farofa e então está pronto. Essas promessas têm que ser cumpridas do jeito que se fez, porque se não forem cumpridas certo, dizem que o santo não recebe e tem que se fazer de novo. As mulheres que forem dançar, segundo os mais velhos, se forem casadas, têm que ter sido casadas na igreja, e se forem solteiras, têm que ser moças virgens. Mulher grávida também não pode dançar, porque se teimar e for dançar, as flores do arco caem todas no meio da roda.
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LADAINHAS A ladainha é assim, por exemplo, nas rezas mesmo, a gente promete uma ladainha quando uma pessoa está doente. Fala assim: “Ó meu Senhor, São Bom Jesus da Lapa (ou até mesmo outro santo que a pessoa tem muita fé), faz ajudar o meu filho (ou alguma pessoa que esteja doente)”. Se a pessoa melhorar, no dia 6 de agosto, dia de São Bom Jesus, lá em frente ao altar, a pessoa que fez a promessa manda rezar duas ladainhas para o Nosso Senhor Bom Jesus. Aí, quando for no dia e aquela pessoa estiver bem, chega lá e manda rezar as ladainhas. Então, aquela pessoa senta de joelho e coloca a vela na mão e as rezadeiras rezam. Aí está cumprindo a ladainha. Nós, Xakriabá, acreditamos muito nos milagres e sabemos que eles existem, pois temos muita fé em fazer nossas promessas e ladainhas aos santos e com fé será curado. HISTÓRIAS RELACIONADAS A PROMESSAS
Creuza Ferreira dos Santos
Diz a minha tia Izabel que ela tinha uma espinha no olho, mas não foi de nascença. Aí passou um bom tempo e a espinha não sumiu, então ela teve de fazer uma promessa à Santa Luzia, dizendo assim: “Se Santa Luzia me ajudar, que eu melhorar, no dia 13 de dezembro eu vou rezar em intenção à Santa Luzia.” Então passou alguns dias e foi acabando a espinha. Quando foi no dia de Santa Luzia, ela convidou as rezadeiras e demais pessoas da aldeia e rezou. Então a sua promessa está cumprida. Isso também aconteceu com meu irmão. Ele fez uma promessa de rezar para Santa Luzia e ele melhorou. Então ele teve que cumprir sua promessa, fazendo a reza. Nessa reza, a gente dá farofa, refrigerante, café, bolo e algumas bebidas para as pessoas que participam.
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CONCLUSÃO
No início do nosso trabalho, começamos a investigar os conhecedores mais velhos do Xakriabá e foi através deles que obtivemos conhecimentos que, às vezes, sem esse trabalho nós não iríamos adquirir. Através dessa pesquisa, descobrimos muitas informações importantes e essenciais para nossa própria aprendizagem, por exemplo, tinha plantas que víamos todos os dias, mas não sabíamos que era remédio. Pesquisamos pessoas de nossa aldeia e outras aldeias, pessoas que tem um conhecimento profundo em relação às plantas medicinais, a importância das orações, animais que servem de remédio. Coletamos todos esses dados e trabalhamos em cima do material, comparando com outras pesquisas que fizemos através de livros, apostilas e até mesmo às vezes de palestras e descobrimos que as coisas andam juntas umas com as outras e muitas das informações são iguais. Também com esse trabalho aprendemos como chegar aos conhecedores e fazer perguntas sobre determinada coisa sem constranger a pessoa, ou seja, como realizar uma entrevista. Deparamos com pessoas que estavam no preparo para seguir o caminho da sabedoria. Enfim, com essa pesquisa aprendemos a dar mais valor aos aspectos culturais que nossos velhos usavam mais antigamente. Envolvemos nossos alunos nessas atividades, para que nossos conhecimentos se multipliquem cada vez mais em relação aos ensinamentos tradicionais e que comecem a praticar em nossa aldeia. A ideia é essa. Esperamos que dê bons resultados e que esse trabalho seja um material útil e que as pessoas da comunidade e as demais outras utilizem mais os remédios das ervas naturais e que vem incentivar aos jovens a interessar e valorizar a nossa cultura, porque são eles que vão ser a ponte pela qual serão conduzidos esses conhecimentos de geração para geração.
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente a Deus por nos dar força e saúde para realizarmos nosso trabalho; A nossos familiares pelo apoio que sempre nos deram; Às pessoas da comunidade, que diretamente ou indiretamente contribuíram para o desenvolvimento de nossa pesquisa; A nossos alunos, que são nossa fonte de inspiração; A todos os professores do curso FIEI, especialmente a nossa orientadora, Mara Vanessa F. Dutra, e à monitora, Amanda Lima, que nos deram grande apoio na organização deste livro.
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BIBLIOGRAFIA
ARTICULAÇÃO PACARI. Farmacopéia popular do Cerrado. Goiás: Articulação Pacari, 2009. 342 p.: il. SILVEIRA, Elza Gonçalves da. Sobre a literatura Xacriabá. Belo Horizonte: FALE/UFMG, CGEEI/ SECAD/MEC, 2005.
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Ficha catalográfica elaborada pelos Bibliotecários da Biblioteca FALE/UFMG
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Plantas medicinais e processos de cura Xakriabá / [organização: Creuza Ferreira dos Santos... [et al.]]. – Belo Horizonte : FALE/UFMG : Literaterras, 2012. 78 p. : il., fots, color.
Este livro foi produzido no âmbito do curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas da UFMG, sob orientação da professora Mara Vanessa F. Dutra, como um dos requisitos para obtenção do título de professor multidisciplinar dos ensinos fundamental e médio: línguas, artes e literatura. A monitoria foi de Amanda Lima. Bibliografia: p.105 ISBN: 978-85-7758-195-5
1. Índios Xakriabá – Brasil – Costumes e rituais. 2. Índios da América do Sul – Brasil – Costumes e rituais. 3. Plantas medicinais. 4. Medicina primitiva . I. Santos, Creuza Ferreira dos. II. Dutra, Mara Vanessa. III. Lima, Amanda. IV. Universidade Federal de Minas Gerais. CDD : 898.3
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Impresso em papel supremo alta alvura 90g (miolo) e supremo 250g (capa), fonte Palatino. Belo Horizonte, 2013.