Infinitamente Mulher vol.10

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Organização Casa do Poeta Brasileiro de Santiago em parceria com Centro Materno Infantil Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Cultura de Santiago

Infinitamente Mulher vol. 10 1ª EDIÇÃO

SANTIAGO-RS CASA DO POETA BRASILEIRA DE SANTIAGO 2021

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Copyright © 2021

Direitos desta edição reservados aos organizadores.

Editoração: Casa do Poeta Brasileiro de Santiago Revisão de linguagem: Fátima Friedriczewski Diagramação: Antônio Santos - antonio.expresso@outlook.com Capa: Vanessa Oben Impressão: Ponto Cópias - Santiago/RS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

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Apresentação Tito Beccon, Silveira Martins, João Oliveira, Felipe Lopes, Barão do Rio Branco em todas essas ruas santiaguenses nomeadas no masculino. Existe uma Aline, uma Fabiane, uma Abigail, uma Ângela, existe uma alma feminina, permeada por decepções, vitórias, coragem e medo. Essas almas femininas estão em cada cantinho desta cidade e, principalmente, neste livro. Tenho a certeza que você se encontrará com elas nessa leitura. E sabe por que você se encontrará com essas almas femininas? Porque elas são você também. Tudo que está escrito nas linhas deste livro são pequenas narrativas do que a alma feminina vivencia, do que nós enquanto mulheres somos e experimentamos, desde as pequenas crianças feridas que nos habitam até a mulher guerreira entranhada em cada pedacinho dessa nossa alma. Alma essa, que pulsa em nossos corações, que vibra em nosso olhar, que respira e transpira. Você, leitora deste livro, irá em diversos momentos, acreditar que aquela história é sua, que a mulher que a escreveu é muito parecida com você ou que ela poderia ser sua melhor amiga. Sim, somos mais parecidas do que supúnhamos, e por sermos tão parecidas e ao mesmo tempo tão singulares, que você amará cada uma das escritas que vem a seguir, você desejará pegar seu chimarrão, seu chá, seu cafezinho e tirar um dedinho de prosa com a alma feminina por detrás das palavras. Pode ser que você nunca encontre as es03


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critoras desse livro e se esse encontro não acontecer, lembre-se, você é elas também. Todas somos uma, é assim que a vida nos fez semelhantes no amor, nas capacidades e habilidades. Desfrute desses escritos como você estivesse lendo sua própria história de vida. Desfrute desses escritos como quem se presenteia. Desfrute desses escritos como quem acredita no pulsar da alma feminina. E acima de tudo, desfrute desses escritos com um sorriso no rosto e o sentimento de que sua alma feminina está fazendo o melhor que é possível a cada momento. Um abraço carregado de ternura, da minha alma feminina para a sua. Kelin Garcia Pinheiro Uma mulher exatamente como você.

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Sumário Abigail Favero Pinto........................................................11 Aldorete Martins............................................................12 Alessandra Betin.............................................................14 Aline Soares Antunes.....................................................16 Amanda Gloger Turmina.................................................17 Amanda Nunes Dornelles...............................................19 Ana Paula da Rosa Britto Machado.................................20 Ana Paula Nunes Milani..................................................22 Ana Paula Sampaio Duarte Lima.....................................25 Analia Sanches Dorneles.................................................27 Analia Sanches Dorneles.................................................28 Anelise Xavier Miguel.....................................................29 Angela Maria Genro.......................................................30 Angélica Erd....................................................................36 Angelita Xavier Miguel....................................................38 Antonia Nery Vanti (Vyrena)...........................................40 Arlete Gudolle Lopes......................................................45 Aurea Machado Dorneles...............................................47 Ayda Bochi Brum............................................................48 Brisabel do Amaral.........................................................49 Camilla Cruz...................................................................50 Camila Canterle Jornada (Mila Journée).........................54 Carla Rodrigues..............................................................57 Caroline Kucera dos Reis.................................................60 Catharina Antochevis Pereira..........................................61 Catia Cilene Pires da Rosa...............................................63 Catia Luzia Bonotto........................................................66 Cinthia Moreira Machado...............................................67 Cisnara Pires Amaral.......................................................68 05


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Clari Salerno Reimann.....................................................73 Clarice Xavier...................................................................75 Cristine Xavier Miguel Guerim.........................................76 Daniela Arce....................................................................78 Daniela Wulff da Silveira Trapp..............................................79 Darlene Cristina Colaço Chaves.......................................85 Darlene Honório Medeiros.............................................86 Débora Melo...................................................................88 Deise Pinto Marchezan...................................................89 Dejanira Nunes Cordeiro das Chagas...............................91 Eduarda da Silva Bittencourt...........................................92 Eleandra Bonatto............................................................97 Eliane Aparecida Dorneles Lopes Bessa..........................99 Elisabeth Cristina Hruschka do Amaral.........................100 Elisandra Minozzo.........................................................101 Elisete Heydet Cattelan.................................................103 Elisete Heydet Cattelan.................................................104 Elizabeth Pimenta (Capsaicina).....................................105 Elisangela Amaral...........................................................107 Emmily Soares Bernardes.............................................110 Enadir Obregon Vielmo.................................................114 Erilaine Perez................................................................118 Fabiani Nunes Turchetti................................................120 Fátima Friedriczewski...................................................123 Fernanda Chaves do Nascimento..................................125 Gabriele Pedroso Pazini................................................127 Geanine Bolzan Cogo....................................................128 Gisele Marchi Pinto......................................................129 Gisele Vieira Rodrigues.................................................130 Ieda Beltrão....................................................................131 Indiara Fátima da Silva..................................................134 06


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Iliane Michelini Vieira....................................................135 Ilma Schiffer Bernardi....................................................137 Isabel Cristina da Rosa...................................................138 Isabela Oliveira Carlosso................................................145 Ivone Rodrigues de Vargas.............................................147 Jane Mariza Dornelles Tusi.............................................149 Juanita Canabarro..........................................................150 Juliana Borges................................................................151 Júlia Cordeiro Das Chagas..............................................152 Juliana Aline Zucolotto..................................................153 Laís Nunes da Silva.........................................................154 Laura Ortiz Marques......................................................155 Leiza Maria Goulart Xavier............................................158 Lélia Ziquinati Peixoto.....................................................159 Letícia Flores Solner de Oliveira.....................................162 Lidiane Locateli Barbosa................................................163 Lígia Rosso.....................................................................165 Lilian Balbueno..............................................................167 Lilian Ferraz Zanella Paz.................................................169 Luana Diello...................................................................170 Luciana Betin Machado..................................................174 Luciana de Oliveira Strunkis Ramos...............................176 Lucineide de Fátima Marian...........................................177 Luiza Zolin Tier...............................................................178 Mara Rebelo e Maria Joceli Figueiredo..........................181 Mara Flores Pereira.......................................................183 Maria Aparecida Nunes Azzolin.....................................185 Marcele Favero Almeida................................................187 Marelisa Obregon Vielmo Bianchini...............................188 Maria Eduarda Pavanelo Dorneles..................................191 Maria Luiza Lima............................................................192 07


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Marisa de Fátima Ourique Lopes...................................194 Marilaine Rodrigues de Souza........................................196 Mariza Machado Sagin...................................................197 Marlene Brandão...........................................................198 Michele Joanine Matos Ibarros......................................199 Muriéli Miguel Schmitz..................................................200 Naíse Munhões Quartieri...............................................202 Natália Cunha.................................................................205 Natháli Fratta de Almeida..............................................207 Nedi de Fatima Corcini...................................................208 Neiva Dorneles......................................................................210 Nuraciara Friedriczewski Xavier......................................212 Oara de Fatima dos Santos Dorneles.............................214 Priscila Reolon...............................................................215 Quésia Edinice de Souza Pereira Vieira..........................216 Raquel Da Silva Machado..............................................217 Renata Lemos Da Silva...................................................218 Rosa Eli Viero Sarturi.....................................................220 Rosemari Gindri.............................................................222 Rozelaine Aparecida Martins.........................................227 Rúbia Santi Pozzatto.......................................................228 Sandra Maira dos Santos da Luz....................................233 Silvana da Rosa..............................................................234 Simone Meirelles do Nascimento..................................237 Sirlei Gatiboni................................................................239 Sofia Ribeiro..................................................................241 Sofia Viero Sorgetzt........................................................242 Solange Garcia(Sol)........................................................244 Sonia Odete Leitemperger..............................................245 Stephanie Cendon Machado Zimpel..............................247 Taiany Colpo Correa.......................................................250 08


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Tania Pedroso.................................................................251 Thanize Dethetis de Lima...............................................253 Thaís Cortes Sagrilo.......................................................256 Vanessa Moletta Pazza...................................................259 Vanise Quincozes Poleto................................................260 Verena Poltosi Albiere....................................................262 Victória Nunes Ramos....................................................263 Virginia Braga Dal Carobo..............................................266 Vitória Fonseca dos Santos de Oliveira..........................268

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Desejo Abigail Favero Pinto Desejo que tenhas: Afetos gratuitos, Palavras benditas. Encontro de olhares, Abraços festivos. Gargalhadas de amor, Motivos para seguir, Caminhos a desvendar. Gratidão seja tua prece. Enfim, te desejo A graça da vida!

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Graça divina Aldorete Martins Numa tardinha me chamei para um passeio. Sim! Eu mesma me convidei. Na praça quase deserta num dos seus bancos me acomodei E por longo tempo fiquei a observar, A tarde que se ia levando, o sol que já se ajeitava para dormir. Em mãos sempre tenho lápis e papel para não decepcionar minhas inspirações. Escrevi frases afins... Sublinhei palavras grifando suas terminações Em tempos e modos fui conjugando, pois eram verbos que aos meus sentimentos iam dando fiéis sentidos. Minha alma vagava e nas suas varandas declarações foram tecendo redes. E haverá sempre alguém a indagar com insistência: - Acaso seria uma tentativa para afastar a solidão? Talvez...Quem sabe... O que sei... É de que quando estava sentada naquele banco senti que nas páginas do papel encontrei aconchego. E não me foi surpresa receber esse carinho. Amar! Viver! Sentir! Foram os verbos priorizados, E nos tempos passado, presente, futuro foram conjugados. 12


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Nestas conjugações aos poucos me identificava em consequência dos modos usados... Numa sintonia com as terminações. Trazia das lembranças uma saudade bandida, Das vivências que são presenças uma infinita gratidão, Nos conjugados a longo prazo, estranhas sensações... Estavam acompanhadas por visitantes que ao meu lado se sentaram, Visitantes invisíveis para uns, impossíveis para outros... O passeio se fez diferente na prosa escrita e na bagagem levada na alma. Aprendizados de vida... É a vida ensinando que ela é uma graça divina.

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Mulher preferida Alessandra Betin Você me lembra coragem E me traz muitas lembranças Sua força, sua garra Que acompanho desde a infância Há quem diga que é tudo lindo Que é só aumentar o espaço Mas é enfrentar o mundo inteiro E em troca ganhar um abraço Ser mãe não é fácil É sobrecarga e pressão É carregar o mundo nas costas E um filho no coração Agradeço por ter você por perto Por me acalmar quando estou nervosa Por me proteger dos meus pensamentos E me abraçar quando estou ansiosa Agradeço pelas noites em claro Em que eu sentia medo de ficar sozinha E você ficava sempre comigo Fazendo chá na cozinha

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Obrigada por ter sido tudo Tudo que precisei Sem você não sou nada E sem você nunca serei Peço sempre pela sua proteção Para lhe ter sempre comigo Mãe é a nossa pessoa no mundo E muito melhor que qualquer amigo Todas as mães do mundo São um pedaço de Deus na terra Caminham do nosso lado Até mesmo quando a gente erra Eu escrevo esse poema, mãe Para você sempre lembrar Que lhe amo a todo momento Independente de onde vou estar E para encerrar essa homenagem Quero lhe dedicar minha vida E que você sempre lembre Que é minha mulher preferida.

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A menina Aline Soares Antunes Quando o dia amanhece O sol se põe a brilhar A menina se levanta E a Deus agradece Pelo dia que vai iniciar Durante o dia A menina gosta muito de brincar E também de estudar Anoiteceu, Feliz ela adormeceu Sabe quem é essa menina? Essa menina sou eu.

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Padrões e mudanças necessárias Amanda Gloger Turmina Desde a nossa concepção somos moldados por influências e trazemos à tona um padrão que se torna maior que a essência A essência humana não é como a de um perfume é preciso saber o que ela emana e não o que sentimos por costume O costume é um hábito, torna tudo menos complexo porém, não olhamos para dentro e fica difícil reconhecer o próprio reflexo É fato que muito tempo passa enquanto tentamos seguir um modelo que já não cabe mais, ultrapassa e acabamos pedindo, a Deus, apelo Em um momento de dúvida até questionamos a nossa identidade mas vão ser as experiências vividas que mostrarão a realidade

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O que verdadeiramente importa é o que somos e sentimos, aqui e agora o futuro pode bater à porta mas ter pressa não resolve, só apavora O medo dá espaço para a estagnação o que não sai do lugar se torna casa nós que decidimos se essa morada será morada do padrão ou de (r)evolução

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Como será daqui para frente? Amanda Nunes Dornelles Sempre me disseram que é em meio às dificuldades que vemos quem são as pessoas que nos cercam. Em quarentena, vemos amor, vemos solidariedade, vemos pessoas se doando umas pelas outras para que todos possam viver. A compreensão dos limites nos cercou. Porém, se ligo a televisão vejo a destruição do ser humano. Quando o homem se tornou o centro do universo? Quando foi que o dinheiro começou a valer mais do que uma vida? Mas, mesmo assim, vemos à luta. A luta de pessoas que tentam manter erguida uma sociedade, a luta de pessoas que pensam em igualdade. E, em meio a essa luta, quem vence? O que nos destrói ou o que nos ergue? Seremos livres ou permaneceremos trancafiados? Teremos voz ou ficaremos mudos? Afinal, nesta luta, quem vence quem?

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Quando eu voltar Ana Paula da Rosa Britto Machado Quando eu voltar quero ser luz, paz e amor... Quando eu voltar quero ser sol, céu e lua... Quando eu voltar quero sentir o que antes eu não sentia... Quando eu voltar quero fazer tudo o que antes eu não fazia... Quando eu voltar quero ser o que antes eu não seria... Quando eu voltar não vou reclamar, esperar, eu vou lutar... Quando eu voltar quero amar e ser amado, quero beijar e ser beijado, chorar e ser consolado... Quando eu voltar vou ser luz na escuridão, não serei só mais um na multidão... Quando eu voltar quero sentir o vento, sentir o sol, sentir a lua ... Quando eu voltar não serei mais arrogante, serei significante... Quando eu voltar quero aprender a amar, saber perdoar... Quando eu voltar quero correr ao encontro de tudo o que eu tive e perdi... Quando eu voltar quero olhar pra frente, ser presente, independente se vai ser pra sempre... Quando eu voltar quero ser alguém que vai além sem me importar com o porém... Quando eu voltar quero dividir tudo o que conquistei... 20


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Quando eu voltar não verei a vida como antes, foram momentos marcantes que ficarão no coração de qualquer viajante...

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E, quando for beijar alguém... Ana Paula Nunes Milani Por favor, não testes esse beijo em mim. Não testes nada em mim. Nem tuas palavras vazias, nem tuas mentiras sujas, nem teu humor azedo insuportável, nem tua necessidade de se engrandecer pra alimentação desse teu ego minúsculo que tu precisas que pareça grande diante dos outros. Por favor, não ouses tentar se aproximar de mim. Sempre que tiveres uma oportunidade de me deixar em paz, por favor não a desperdices. Tudo que tens a oferecer é a tua aparência bem alinhada de quem está por cima do charque. Tu não conheces a tua própria essência e tampouco sabe se dirigir a nenhum tipo de mulher. Atira-te desesperadamente como se elas fossem alvos e não mereces a atenção de nem um tipo de Marília. Nem Marília de Dirceu, nem Marília Gabriela, nem Marília Mendonça. Cabe ressaltar que uma garrafa de Tanqueray por noite não te transforma em um homem mais másculo, em um "macho-alfa" (risos), mas, sim, te transforma em um alcoólatra endividado. És teu próprio algoz quando pensas que te impões por meio de autoritarismo, arrogância e azedume, e sempre terei blasfêmias morais o suficiente para te detonar em qualquer que seja a discussão que resolvas empezar. É claro que não te desejo a ruína, e nem precisaria, já que, diuturnamente, empinando o nariz nas alturas, tu cor22


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res atrás dela obstinadamente. Tenho certeza de que teu empreendimento diário em fracassar será recompensado. Meu conselho é que segures a emoção. Tu não és Michael Jordan, Michael Jackson ou Michael Kors para andar se comportando como se fosse uma entidade. Pode ser que, um dia, tu consigas vislumbrar que o que importa não é o que as pessoas veem. O que importa é como tu pensas, como tu sentes as coisas, se é que tu tens capacidade para sentir alguma coisa. É uma pena, mas o subterfúgio para as tuas dores é depositar uma falsa idolatria por tii mesmo que te transforma em uma pessoa com visíveis problemas mentais. Sinto te dizer, e ser repetitiva, mas o visual límpido e impecável, o cabelinho na régua e os trajes de grife minuciosamente combinados não substituem o odor fétido das tuas palavras de amargura e incansável auto exaltação. Enfim, a tua sistemática é a mais manjada de todas: fingir que gosta de boas leituras, mentir que considera Belchior e música latina alternativa a coisa mais espetacular desse mundo, simular que admira a boa cultura e forjar um discurso (breve e rasteiro, para não ser desmascarado logo de chegada) de pessoa desconstruída. Enches a boca para dizer que sou uma mulher catártica (claro que não usas esse termo, porque evidentemente não sabes o que é uma catarse), mas prefiro mil vezes a minha verborragia autêntica ao teu rompante forjado. Poupemo-nos. Da próxima vez, não finjas. Sê. Ou melhor, não vai haver próxima vez. Pelo menos, não aqui. 23


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Despeço-me com os usuais ares de Lady Di, Lady Gaga e Lady Million. Quando fores te afastar de alguém, testa esse afastamento em mim. Quando for se livrar de alguém, testa esse livramento em mim. Quando fores sumir da vida de alguém, por favor, eu insisto, testa esse sumiço em mim.

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Nos dias que correm, devemos absorver, perpetrar clichês... Ana Paula Sampaio Duarte Lima Com a união sempre fazendo a força, ouvindo a voz rouca das ruas e abraçando uma causa! Abrindo espaço na agenda, acolhendo de braços abertos e tentando agradar gregos e troianos (que no caso somos o nosso eu mesmo!). Vivemos aparando as arestas, de longe com a avançada tecnologia. Caindo por terra, extrapolando, jogando às traças e consultando o travesseiro, o coração e a mente, o nosso presente... uma caixinha de surpresas. Consternar-se profundamente, da boca pra fora, gera polêmica e nos faz pensar com os nossos botões sobre o erro gritante que dispensa apresentações (in) visivelmente emocionadas. Do Oiapoque ao Chuí, um caminho já trilhado, damos nomes aos bois, mas precisamos de uma injeção de ânimo! Precisamos dar a volta por cima, chutar o balde com fé em Deus e pé na tábua. Verdadeiro tesouro, no apagar das luzes vestimos a camisa e levantamos acampamento. Recarregar as baterias, para respirar aliviado se precisa ser um caminho já trilhado pra preencher uma lacuna com a vitória esmagadora de viver e lutar...

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Todo esforço, até agora, não pode ir por água abaixo. Então vamos pôr as barbas de molho. Vivendo e aprendendo Viver é lutar!

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Entre a bala e o sonho Analia Sanches Dorneles Somos parte de um todo esfacelado, de um todo partícula, folha solta. De um todo que conhece o toque da bala que rasga o sonho. De um todo que sangra dias e noites, mas sempre levanta, pois sabe que é preciso construir caminhos e pontes...

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Sonho Analia Sanches Dorneles Contemplo a trilha que me leva a outros mundos meus pés de asas quebradas choram, o vento anuncia temporais e lágrimas. Não posso tocar a estrada, mas ela me desafia. É preciso esperar, recompor o voo, sonhar, apenas sonhar..

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Um dia especial Anelise Xavier Miguel Foram trinta e sete semanas de espera. Pensava como seria seu rosto, qual seria seu cheiro. Foram dias de felicidade sem explicação. Também teve dias de ansiedade e preocupação. A contagem regressiva para sua chegada ocorreu dia a dia. Contei cada dia e cada minuto para ter você em meus braços. Mais um dia se passou. E, a noite chegou. Noite fria e calma de agosto. Nem imaginava que aquela noite passaria e tão logo ao amanhecer você estaria em meus braços. E foi assim que você chegou. Tão pequena e indefesa, chorando forte e me fazendo chorar também. Chegou neste mundo mostrando para que veio, foi uma guerreira. Ao mesmo tempo um amor e uma serenidade imensa em seus olhos. Olhos estes que encantam todos onde passa. Ah, sabe que cheiro você tinha? Cheiro de baunilha, ou doce de leite... Cheiro que fecho os olhos diariamente e sinto, e que vou sentir pela vida toda.

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A grande oportunidade Angela Maria Genro Fevereiro de 2020. As minhas férias tiveram os seus dias destinados a minha mudança para a casa nova. Melhor dizendo, para o apartamento novo. Bobagem isso de "nomes". O meu apartamento é térreo e parece mesmo uma casa, tendo três lindos pátios (coisa que eu não tive em mais ou menos 40 anos de vida). Toda a reforma, os projetos estruturais, os acabamentos, a decoração , etc., foram pensados e discutidos por mim e minha mãezinha, antes dela ter voltado à Pátria Celestial, 4 meses antes do término da obra. Enfim, nas ditas férias, coloquei em prática quase todos os planos que tínhamos feito juntas. Quase. Após alguns dias da minha volta ao trabalho, em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde declarou o surto de uma "pandemia". Céus! A maioria de nós nem sabia o que era pandemia. Na correria, fui ao dicionário: "enfermidade epidêmica amplamente disseminada". Putz! A coisa era grave. Um tal de coronavírus rapidamente começou a contaminar o Mundo. Sim, o misterioso novo coronavírus, que causa a infecção COVID-19 e que surgiu em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China, alastrou-se por todos os países, deixando as pessoas em estado de alerta geral e a comunidade científica em polvorosa e causando muitas mortes. E ele, claro, chegou em Santiago. A gravidade dos sintomas varia, desde sintomas ligeiros semelhantes à constipação até pneumonia viral grave com insuficiência respiratória potencialmente fatal. Então, sur30


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giu o temível fantasma da "intubação". Outra corrida ao dicionário: " intubação nasotraqueal, é um procedimento no qual o médico insere um tubo desde a boca da pessoa até a traquéia, de forma a manter uma via aberta até o pulmão e garantir a respiração adequada. Esse tubo é ainda ligado a um respirador, que substitui a função dos músculos respiratórios, empurrando o ar para os pulmões". PQP! Não deu outra: estávamos (eu e minhas colegas) trabalhando em um momento e, em outro, por ordem de nossas chefias, já estávamos organizando freneticamente as nossas coisas para irmos para casa em razão de um "lockdown". O que? Abri o Google: "lockdown é uma expressão em inglês que significa confinamento ou fechamento total. É o método mais radical imposto por governos para que as pessoas cumpram o período de distanciamento social". Trocando em miúdos, a partir daquele momento, teríamos que ficar trancados cada qual na sua casa, saindo somente em casos de urgência e usando máscara e álcool gel. Pior: não sabíamos quando isso iria terminar. Já em casa, fomos bombardeados com notícias acerca do vírus, pelos meios de comunicação. Tudo se resumia em especulações, pois os cientistas ainda estavam tentando pesquisar a novidade. Quanto ao nosso trabalho, ficamos esperando instruções para realizarmos nossas atividades em tele trabalho. Os primeiros dias de isolamento passaram in albis. Sim, ninguém estava preparado para uma pandemia, para enfrentar um inimigo invisível e tão poderoso. Após certo tempo, recebemos um Plano de Retorno Gradual às Atividades Presenciais com Distanciamento Controlado. O nome é 31


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pomposo, mas o que deu origem a ele não é. De acordo com o Plano e por eu ser portadora de algumas comorbidades (comprovadas documentalmente), passei a trabalhar somente em home office. Em dois dias da semana, eu pegava pilhas de processos para fazer o cumprimento e as devolvia para o respectivo encaminhamento. No início, foi difícil a adaptação. Era um tal de separar um espaço para a montagem de um escritório, instalar equipamentos, instalar os Sistemas para a realização efetiva das atividades, blábláblá. Ah! E as dúvidas e ajudas eram realizadas somente por telefone...quando conseguíamos ligação. Óbvio que os servidores de todo o Estado ligavam ao mesmo tempo , causando um "colapso" telefônico. E isso aumentava mais o estado nervoso. Para piorar, foi implantado um novo sistema do qual não tivemos nenhum treinamento presencial, somente por vídeo e num tempo exíguo. Quando o trabalho ficou mais ou menos organizado, dentro das condições possíveis, prestamos mais atenção no inimigo propriamente dito. Novamente, as notícias que chegavam davam conta de que "os efeitos mundiais da pandemia incluem instabilidade social e econômica (queda do mercado global de ações), corridas às compras, xenofobia e racismo contra pessoas de descendência chinesa e do leste asiático a disseminação on-line de informações falsas e teorias da conspiração sobre o vírus, e o encerramento de escolas e universidades em pelo menos 115 países, afetando bilhões de estudantes", sem contar o fechamento de estabelecimentos comerciais e o aumento significativo na taxa de desemprego. Instalou-se o caos. E o que dizer da nossa reclusão involuntária em casa? 32


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Bem, eu só posso falar da minha. Cada pessoa tem uma maneira de sentir e reagir. Que nada acontece por acaso isso a gente sabe e, no meu caso, eu acredito piamente nisso e o isolamento social me colocou à prova. Eu trabalho desde os meus 13 anos, por iniciativa e estímulo do meu pai que me convidou para "ajudar" no escritório dele. Eu, capricorniana de carteirinha, abracei a oportunidade e aprendi o que pude e, quando cheguei na idade de trabalhar mesmo, já tinha uma boa bagagem de conhecimentos e muita boa vontade. Bem, os anos foram passando e, após alguns empregos e duas faculdades, acabei fazendo concurso para o Tribunal de Justiça, tendo passado e estou exercendo o cargo de Oficial Escrevente desde o ano 2000 (ano marcante, né?). Só que, com o passar do tempo , foram surgindo os "desgastes físicos" inerentes à idade e eu fui ficando cansada de sair todos os dias de casa, de ficar longe da família, dos meus bichinhos de estimação, das coisas que me trazem pequenas felicidades,... Então, eu comecei a pensar em aposentadoria, em ficar em casa curtindo o meu lar. Eu queria muito ter aproveitado mais a companhia da minha mãezinha e, na hora do chimarrão, nós duas sonhávamos com isso. Mas, Deus tem sempre o plano Dele: foi ela desencarnar e veio a pandemia. Então, de repente, eu me vi na situação que eu queria: em casa. Bem... forçada, trancada, mas em casa, trabalhando e cuidando da família. Enquanto eu via amigos e colegas se desesperando por causa do isolamento, eu encontrava cada vez mais paz e relaxamento. O meu trabalho começou a render bem mais que no modo presencial, pois encontrei o silêncio necessário à minha concentração, o conforto de minhas roupas esportivas, o ambiente aprazível 33


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com plantas e animais, a presença e o carinho da família, a alimentação na hora certa, ... E sair de casa somente para coisas muito importantes, como ir ao médico, fazer exames, ir à farmácia e ao supermercado, adotando os protocolos de proteção indicados . E o vírus? Bem, eu confesso que tenho um medo muito grande de ser infectada. Eu já tive (e tenho) tantos problemas de saúde, já tive H1N1 (e foi horrível; pensei que fosse morrer), que todo o cuidado é pouco. Mas, eu sou firme na minha fé. Do início da pandemia até hoje, a ciência evoluiu rapidamente e vacinas estão sendo produzidas, na esperança de, pelo menos, minimizar os efeitos do vírus a fim de que ninguém mais precise ser hospitalizado. Eu sei que essa pandemia não é muito diferente das outras várias pandemias que já ocorreram antes e que ainda poderão vir a ocorrer. Assim como qualquer outro tipo de fenômeno da natureza, vulcões que acabam destruindo cidades, furacões e problemas econômicos, tudo isso aí, trata também de uma necessidade espiritual para que as pessoas cresçam, se aprimorem, para se tornarem espíritos melhores. E, segundo a doutrina espírita, quando uma grande coletividade de espíritos atinge um determinado estágio de crescimento e muda para uma outra etapa de vida, a gente dá o nome de ciclos de crescimento do mundo. E agora, quando o Planeta Terra está passando por uma outra etapa, está numa transição, chamamos esta de regeneração. Isso quer dizer que uma grande coletividade de pessoas vai se dedicar para o bem, enquanto uma coletividade menor vai dar passos na maldade e interesses próprios. Enfim, eu entendo que tudo isso que estamos passando 34


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se faz necessário. Então, vamos aproveitar a oportunidade para evoluirmos.

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Para além dos muros Angélica Erd Essas janelas me lembram tanto Caio F. Acho que sempre me imaginei num apartamento antigo estilo mil novecentos e alguma coisa lendo e pensando em alguma coisa dele. Tudo aqui me inspira literatura, de formas que nem que quisesse poderia explicar. Tenho pensado muito em versos do Fernando Pessoa, pela primeira vez depois de muito tempo, sinto por um momento que compreendo a sensação de estar viva e talvez grata, mesmo que alguma coisa ainda doa. A vida além dos muros da doença pode ser maravilhosamente linda devo admitir. Penso muito em você, mesmo que sua imagem já não seja tão clara e nítida na minha cabeça. Chego a sentir saudades, mas nunca ligo, tampouco escrevo, exceto agora. A distância foi um presente que nos foi dado e eu o abraço, e me perdoo por tudo que foi e não volta mais. Desejo-lhe uma fé enorme e o amo mesmo hoje eu sendo outra e você também, porque ainda que diferentes, nossa conexão física, mental ou espiritual nunca poderá ser rompida e você bem sabe. Eu queria muito que você também se encontrasse e talvez até tropeçasse ainda que sem querer em alguma coisa bonita, que lhe fizesse sorrir por dentro. São tempos difíceis, de pandemia e solidão, mas ainda que solitários eu acredito muito no que possamos ser capazes de sentir com honestidade. Você deveria se permitir, eu estou tentando, faz bem sabe, acalma a gente por dentro ainda que a paz seja uma senhora que não goste muito de olhar em nossa 36


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cara, como dizia aquele poema. Tenho pensado muito também nessa docilidade estabelecida que nos persegue, já que nos foi enraizada a tanto tempo. Esse constrangimento de ocupar um espaço, de ser humano ou simplesmente incomodar que de alguma forma está impregnado em tudo, você não sente isso também? Esse jeito louco de viver escancarando portas, gritando pelas ruas, é tão difícil, não? Essa educação de calar e obedecer revolta-me e mesmo assim externar o óbvio é extremamente complicado. Um dia ainda vamos quebrar essas correntes, enquanto isso lutamos porque é isso que podemos fazer agora, não desistir e incomodar bastante ainda. Bom, devo ser agora breve e dizer que na minha pequenez ainda que sem importância nesse mundo de tantos egos eu penso, sinto e agradeço por todo tempo que esteve comigo. Eu sei também que você fez tudo que pode para sobreviver e ainda que nada tenha sido fácil e nunca será a gente tem que tentar seguir e na medida do possível se perdoar, eu espero que um dia você tente e consiga. Escreva-me para contar. Ah você todo meu axé e fé!

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Estrada Angelita Xavier Miguel Ando pela estrada sem destino, em busca de aventuras e alegrias. Pelo caminho vou encontrando rosas, porém muitos espinhos e muitas pedras, tropeço, algumas vezes desequilibro, outras vou direto pro chão. Estou na estrada procurando algo que ainda não identifiquei, algo que preencha o imenso vazio que há em mim. Paraliso num instante, olhar vazio, perdido no horizonte... Essa estrada está tão longa e deserta, sem as tão sonhadas aventuras e alegrias. O tempo tão precioso vai passando rapidamente, sem que eu perceba o verdadeiro significado da vida. Já não suporto mais caminhar nessa estrada deserta, que consome minha alma. Um caminho sem volta, preciso seguir em frente à procura de uma saída... Retornar é impossível, não há como mudar o que já foi. É preciso coragem de fazer diferente, de ser diferente, de mudar os sonhos, os planos, tentar enxergar longe nessa estrada, tentar ver ao longo da estrada um pontinho de esperança, por mais pequeno que seja, se agarrar a ele e sentir a imensa luz que transbordará minha alma. Enfim, encontrarei a tão sonhada alegria, que na verdade, sempre esteve ali bem pertinho. Dentro de mim. Enfim, descobri que o tempo todo ela esteve tão próxima, então é preciso liberar de dentro de mim, deixar essa 38


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luz interna extravasar e me consumir por inteira e, quem sabe, assim o caminho será de flores, aromas e sabores inexplicáveis. Acredito que em algum lugar nessa estrada minha alma se libertará dessa prisão temporária e vagará num infinito de cores brilhantes e coloridas numa mistura de paz e aconchego. Então terei chegado ao fim da estrada.

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A sorte de Ana Antonia Nery Vanti (Vyrena) Ana foi sempre uma criança retraída... Fechada em si mesma. Era a única mulher entre três irmãos homens, quem sabe por isso era assim. Seu prazer maior era ficar quietinha num canto lendo ou ouvindo música. Era muito mimada pelos pais e irmãos, que a adoravam. Na escola, era aplicada, mas não se misturava muito com os colegas, por isso a chamavam de pretensiosa. Com o passar do tempo, com mais idade foi ficando mais sociável, tinha algumas amigas, mas que teria sido melhor se não as tivesse. Eram meninas bem pra frente, como elas mesmas se intitulavam. Viviam nas redes sociais, tinham namorados virtuais e foram ensinando tudo isso a Ana, que acabou largando as leituras e infiltrando-se nesse meio. Já não se importava nem mais com a música, que tanto amava. Tinha centenas de amigos no Facebook, e entre esses amigos, apareceu Juanito, que dava em cima de todas as meninas ingênuas como Ana. Ela logo se perdeu por seus encantos, e por suas manhas de conquistador. Passavam horas no Messenger, batendo papo e Ana lhe contava todos os seus segredos, todos os seus desejos. Isso era um incentivo para o conquistador Juanito, que 40


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mentia e iludia Ana, dizendo ser o que não era, que frequentava a universidade, fazia curso de engenharia e estava quase no final. Quando acabasse, ele trabalharia na firma de engenharia da família. E então eles se casariam e seriam felizes para sempre. Ana acreditava em tudo, sem desconfiar das más intenções de Juanito. Nessa altura, ela já estava apaixonada e faria qualquer coisa que ele pedisse. Nessa época, Ana estava com 16 anos estava quase acabando o ensino médio. Pretendia cursar a faculdade de Artes. Seus pais e irmãos, nem desconfiavam do que estava se passando. Ela fazia tudo às ocultas. Depois que todos iam para seus quartos, ela pegava o celular, fechava-se no quarto entregava-se ao romance com Juanito. Vivia sonhando em encontrar o rapaz ao vivo, para poder senti-lo, e fazer no real o que faziam ali. Mas ele nem queria falar sobre isso. O tempo foi passando e Ana continuava enganando os pais e pressionando Juanito. Até que um dia, para surpresa e felicidade da incauta Ana, o rapaz, decidiu marcar um encontro... mas teria que ser num local onde ninguém os visse. Ana, nem pensou: -Mas é claro, meu amor. Onde você quiser e quando quiser. Claro que o mais breve possível. Tá? -Sou a mulher mais feliz do mundo, só em pensar que vou poder sentir seu toque. - Eu também, minha flor, não vejo a hora. - Não entendo por que demorei tanto para aceitar seu 41


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pedido... Sou um babaca, mesmo. - Vamos marcar para a próxima quarta-feira. Você diz que vai para a aula, mas vem se encontrar comigo. Vou te dar o endereço. - Anota aí... - Ok, amor, já estou com papel e caneta na mão... Pode dizer. Ele lhe deu o endereço de uma casa no subúrbio, que disse ser de seus pais, que só muito raramente iam lá. - Não tem muito conforto, mas para uma tarde de amor, vai ser ótima. Aguardo você, lá pelas 15 horas. - Ah... Não vejo a hora, Juanito. -Nem eu... rssss. Ana continha a ansiedade, para que esse dia chegasse logo e ela conhecesse o Juanito em carne e osso. Quando chegou o dia marcado, Ana aprontou-se para o encontro, com seu melhor e mais bonito vestido. Fez de tudo para parecer o mais bonita possível. Ao sair, sua mãe perguntou, sorrindo: - Pra que isso, minha filha, vai à escola ou a alguma festa? - Ah... mãe, hoje vai ter uma festinha na nossa turma, não quero estar diferente de minhas colegas. Nem eram 14 horas, chamou um Uber e foi para o local do encontro. Pretendia chegar antes e esperar por Juanito no local. Quando chegou, viu que estava, tudo fechado, com exceção de uma janela. Ela se dirigiu para ali, pé, ante pé e espiou para o interior. Ouviu conversas e risadas lá dentro. O quarto estava cheio de grandes caixas lacradas. Ela ouviu a voz de alguém que dizia: - Você é doido Juanito? Convidar essa garota, logo hoje, 42


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que chegou a mercadoria, para vir te encontrar aqui? - Encontrar-me, não, queridos, encontrar a nós três... Hoje é o dia em que vamos nos divertir à bessa com essa sonsa. Ela pensa que estou apaixonado... kkkkk. Logo eu? - Vão logo esconder as caixas. Não demora ela chega e não pode ver nada daquilo. É naquele quarto que vamos nos aproveitar da tolinha. Ana ficou atordoada, tremia, que nem vara verde. Deu meia volta e correu para a rua, em busca de um ônibus para sair dali o mais depressa possível. Mas não foi direto para casa, ficou andando meio que sem rumo, até chegar a hora de voltar pra casa. À noite, Juanito a chamou no Messenger. Ela fingiu tranquilidade e se desculpou, dizendo que não compareceu ao encontro, porque sua mãe ficou doente. Juanito não gostou de ser passado para trás e disse que estava tudo acabado entre eles. Era isso que Ana queria... Ficou até feliz, por ser ele a terminar. Passados alguns dias, seus pais estavam na sala, assistindo as notícias da TV, quando Ana entrou e ouviu algo que quase a fez desmaiar. O repórter dizia o seguinte: - Hoje, finalmente foi desmantelada a quadrilha de traficantes de armas e drogas, comandadas, pelo marginal, João Ávila, mais conhecido por Juanito. O material foi encontrado escondido numa casa abandonada, no subúrbio enquanto os marginais dormiam tranquilamente no quarto ao lado. - Vejam o rosto dos bandidos. E mostraram as fotos, entre elas a de Juanito. Ana pensou consigo mesma: -- Dessa me livrei... Messenger com desconhecidos, nunca mais. 43


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- Obrigada, meu Deus, por ter me livrado da armadilha de Juanito, ou seja, lá quem for o safado.

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Muito além do meu azul Arlete Gudolle Lopes Apesar de minha preferência recair mais sobre uma tonalidade, queria reter, em mim, todas as cores do mundo. Muitas delas seriam bem sutis, apenas delineadas. Tantas, exuberantes, agressivas de tão vivazes. Outras nem cor seriam. Não passariam de meras nuances, frutos estranhos criados por um imaginário rebelde. Haveria tons intempestivos que se insinuariam delicados. Transgrediria tudo. Mudaria nomes. Obrigaria que se desenvolvessem em permanente movimento ou em dança. Se deslocariam no espaço num frenético e arrebatado flamenco, se contorceriam no acalorado ritmo do samba. Teriam a dramaticidade trágica de um tango ou flanariam pelos ares tão mágicas, tão leves e tão serenas como uma doce valsa. Acalmadas, se irromperiam num exótico carimbó, num maxixe, talvez, num jazz. Rodopiariam enamoradas numa dança de salão, ou explodiriam saltitantes ao som de um rock'n'roll ou de um blues. Todas essas cores teriam a leveza do ar sem poluição. Ganhariam a densidade do ouro ou o esplendor dos diamantes. Carregariam, em sua essência, o som das mais lindas palavras, das mais amorosas, das que soam tais carícias aos ouvidos das pessoas sensíveis, daquelas que se deixam enfeitiçar apenas pelos ecos da emoção. Encheriam de brilho os olhos dos otimistas e de exclamações espantadas o olhar turvo dos pessimistas e dos raivosos. Essas cores superariam todos os obstáculos da indiferença. Abrandariam os corações mais endurecidos. Teriam uma 45


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insuspeita missão: a de transformar as acusações injustas em elogios explodindo de afeto. Todas essas cores seriam tão especiais que transcenderiam os limites da vida e, como a mais generosa das fadas, presentearia os seres bons com o mágico poder de lhes garantir a eternidade. Nelas, conteriam todos os abraços, todos os risos, todos os perdões. Não haveria lugar para lágrimas, porque essas cores deixariam de ser fruto de meu imaginário. Eclipsariam a minha cor preferida e arrombariam o espaço para conceder a todos o direito supremo de usufruírem a felicidade. Por serem tão diferenciadas, se expandiriam por toda parte para ultrapassarem o azul, aquele mesmo que havia reservado só para mim.

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Para minha Mãe! Aurea Machado Dorneles Mãe velha querida, que os invernos da vida deixaram o branco das geadas na cor dos cabelos As rugas no rosto, o doce no olhar, Mostrando que a vida é um constante buscar Sei que de ti herdei essa força primitiva, essa fé que me anima Pois sempre irei lembrar, somos fortes, somos guerreiras, Mesmo suaves, com sorriso de menina Quero ser como foste, corajosa, doce e forte Que não me falte força no braço nem coragem para pelear Por um futuro melhor, com dignidade e respeito Que eu saiba sempre buscar o que é meu de direito Que eu sempre saiba conjugar esse lindo verbo Amar Ser mãe é carregar no rosto o dom da bondade, da preocupação, da força! Mãe querida meu exemplo de vida!!!

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Visão Celeste Ayda Bochi Brum Contemplo o céu em noite enluarada, a procura da minha estrela amada. Olho, paciente, com amor e calma e, grata a vejo, com ternura n'alma. Ela, lá estava, de esplendor bordada. Entre estrelas, luzia, delicada. Num doce encanto, coração acalma, E o pobre mundo, com carinho exalma. Paz ao planeta, de mortais insanos! Ela faz conferência entre as estrelas Buscando a luz de todos os Arcanos. E o céu se abre em doce rosicler. E eu pude examiná-las, pude vê-las! Vi Maria, em seu porte mulher!

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Rabiscos de Sentimentos Brisabel do Amaral Que mulher é essa? Que sonha, que corre e que faz? Que cresce, cai, levanta e desperta... Ela é luz, ela é brilho... Tem dias de escuridão também... Passou pelo casulo e ousou conhecer a metamorfose. Aprendeu renascer, repensar, reagir e refazer. Entendeu que esta sequência se chama VIDA! Aprendeu inclusive, a ressurgir como fênix... E então, Finalmente, percebeu que a vida é uma cartilha... Estuda quem quer... Aprende quem precisa! E aprendeu ainda mais... aprendeu que é infinitamente mulher!

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Lentes urbanas Camilla Cruz A chuva cessou e deu lugar a uma fria escuridão. Ela trancou a porta, guardou as chaves no bolso das calças e desceu as escadas do gélido corredor daquele edifício antigo e semiarruinado. Seria preciso pegar dois ônibus para chegar ao bairro central, onde tudo era visível. A fumaça saía da boca de todos que conversavam nas ruas. No meio daquelas vozes indistintas, era como se estivessem fumando, mas sem tragar cigarro algum. Mais cedo, ela havia organizado sua mochila com todo o material necessário para que ninguém pudesse reconhecêla. Da última vez, não teve tanta sorte. Casais aproveitavam a noite quente para namorar, pessoas solitárias levavam seus cachorros para passear e jovens bebiam bebidas alcoólicas coloridas pelas calçadas. Desta vez, ela chegaria logo no início da fria madrugada. Alguns postes piscavam incessantemente. O cheiro fétido dos bueiros devorando as ruas era insuportável para quem não vivia naquela cidade. A chuva havia empurrado a água do esgoto para as calçadas, transbordando tudo aquilo que não cabia mais, todo o excesso. Entretanto, o fedor já não a incomodava mais. Ao entrar no ônibus lotado, ela ficou de pé, tentando enxergar a janela para ler o que as paredes diziam. Ao longo do caminho, as luzes da cidade davam pistas de onde andava. Ela precisou tirar o casaco e colocar dentro da mochila para aliviar o sufoco da lotação. Observou que uma menina de uns vinte e poucos anos 50


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estava lendo um livro fino. Tentou enxergar o título na capa e no exato momento em que ela virou a página, viu que ali dizia: Poemas para ler no escuro. O celular da menina tocou e ela recusou a chamada. Devia ser algum daqueles números que, quando atendemos, ninguém enuncia nada. A parada estava semivazia. O próximo ônibus demorou alguns minutos para chegar. Estava atrasado noite adentro. Assim seria melhor, porque dava para notar que as ruas se esvaziavam cada vez mais com o passar do tempo. Logo quando ela subiu, pôde sentar no assento da janela. Leu os dizeres no muro: livres e vivas. As lojas, bares, cafés e restaurantes mostravam que estava perto do centro. Talvez, estar viva não fosse o suficiente. Talvez, para estar livre, fosse necessário se libertar dolorosamente. Ter uma sobrevida é estar vulnerável a qualquer tipo de situação violenta. Bastava ouvir tudo que Olívia, sua amiga de infância, a tinha contado. Bastava ver as marcas de invasão nos braços magros e nas costas delicadas de Olívia. A culpa estava perseguindo a vítima e não o acusado. Ninguém acreditaria nela. Ela puxou a corda e desceu do ônibus rapidamente. Colocou a mochila nas costas e sentiu o vento penetrar seus cabelos azuis. Resolveu prendê-los e colocar sua touca e seu casaco. Estar no coração frenético da urbe era libertador de muitas formas. Não a reconheceriam, não falariam com ela, não a ouviriam. Naquele lugar, ela seria apenas mais alguém na multidão. Era semelhante à sensação de mergulhar no mar, onde há uma paz no silêncio que retumba. O rumo era incerto. Porém, a proposição era precisa. As 51


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ruas estavam com mais carros transitando do que pessoas caminhando. No ar, pairava uma atmosfera úmida e nebulosa. Não havia lua nem estrelas. Ela caminhou várias quadras, observando, desinteressadamente, os mendigos, os amantes e as prostitutas. Todos estavam buscando seu lugar na noite. Aquele prédio enorme parecia um lugar apropriado. Não havia câmeras em canto algum. Ela tinha acabado de conferir. Rapidamente, tirou da mochila a bandana preta e amarrou-a no rosto para tapá-lo. Escalou o muro com aptidão e subiu quatro andares. Pegou o molde de acetato e a tinta spray vermelha. Utilizando a técnica de estêncil, pichou em cada andar de cima para baixo. Foi descendo com prontidão e concretizando sua arte. Sua ação foi deixando marcas temporárias no corpo da cidade, enquanto ela, supostamente, dormia. Seria impossível passar por aquela avenida e ignorar aqueles gritos. A tinta vermelha escorria como sangue coagulado, estampando os dizeres em letras garrafais multiplicados em cada um dos andares: MANA, EU ACREDITO EM VOCÊ. O fim da madrugada se aproximava calmamente. Depois de tirar a bandana, guardá-la na mochila e trocar de casaco, ela correu até a parada para pegar o ônibus de volta. Ao chegar em casa e colocar a mão gelada tremendo nos bolsos, tateando inutilmente, deu-se conta de que havia perdido as chaves do apartamento. Naquela manhã ensolarada e ventosa, ocorreria a inauguração da exposição fotográfica da aclamada fotógrafa Sônia Mendes no museu de arte moderna da cidade. No suntuoso cartaz da porta estava escrito: Os gritos das ruas. 52


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Vinte e duas fotografias de pichações estavam espalhadas pelo amplo salão, transgredindo o que se entedia como arte. As vozes da cidade estavam completamente anônimas. A pichação dela estava lá. Ela não tinha nome, sequer tinha rosto. O estuprador também não tinha nada disso. Olívia tinha. Gritos inflamáveis permeavam aqueles registros, como um rompimento do silenciamento previsto. Como um pacto daqueles que não tem direito de exposição lícita. Todos sabem que as paredes não deveriam ser violadas.

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Fiquem em cada momento Camila Canterle Jornada (Mila Journée) Fiquem em cada momento fiquem em cada coração fiquem em cada lembrança fiquem em cada memória fiquem em cada melhor fiquem em cada música fiquem em cada poema fiquem em repouso pousem usem a imaginação e fiquem... fiquem com as coisas que um dia você nunca imaginou ficar mas imaginem, mas sonhem, mas tentem... e tentem muitas vezes, cada novo dia, é um a mais em casa. por isso fiquem em cada momento tentem, tentem... tentem lembrá-los. fiquem olhando para a lua fiquem com os olhos no céu fiquem com a noite fiquem em silêncio e tentem, tentem... tentem imaginar o quanto estamos próximos muito próximos debaixo do mesmo brilho da mesma luz, do mesmo sol, do mesmo dia... 54


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e não importa aquilo que não fizemos quando achávamos desculpas para não fazer o mais importante agora é tentar, mas tentem muitas vezes, porque logo em breve essas lembranças estarão novamente soltas pelas esquinas pelas ruas, praças, parques, bares, pelo mundo... soltas na música, nas vozes dos artistas, nos aplausos do público... depois desses dias, meses, anos... os abraços não serão mais os mesmos, serão mais fortes, mais vivos, mais intensos os beijos serão... serão tão frequentes que já consigo imaginar aqui dentro do coração a cada batida, um novo beijo, um novo sorriso, uma nova vida mais viva, mais linda, mais simples, bonita! mas tentem, tentem... tentem imaginar... o quanto iremos nos aproximar sem medo o quanto vamos nos abraçar sem alarme o quanto vamos olhar sem receio o quanto vamos tocar os rostos, a pele, o corpo... de uma forma tão intensa que vamos sentir o amor, esse amor, que um dia não imaginávamos que poderíamos sentir falta mas tentem, tentem lembrar do quanto é importante apenas imaginar nesse momento os tantos que ainda vamos ter se todos nós, nesse momento, apenas 55


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ficarmos em casa para poder nos abraçar novamente como se fosse a primeira vez de um toque, de um beijo que um dia ficou distante de nós todos, de mim, de você, do mundo. por isso, lembrem todos os dias que um dia, o abraço se tornou impossível.

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Costumes novos para velhos hábitos Carla Rodrigues Os dias estão bastante chuvosos, graças a Deus, além da pandemia aqui no Sul e em todo o planeta, paira na região uma intensa seca, mas finalmente a chuva molhou a terra e trouxe alívio para diversas culturas agrícolas. Neste instante estou no meu local de trabalho, não há ninguém mais além de mim, no silêncio me vejo em diferentes costumes, a "nova" rotina exige alguns esforços, no meu dia a dia tenho realizado minhas refeições na empresa. Durante a noite anterior antes de encerrar meu dia organizo meu futuro almoço para o dia seguinte. Não vou em casa, nem há lugar algum no intervalo das 12h ... permaneço onde estou e aproveito para cultivar a minha nova maneira de ver a vida. No silêncio predial da empresa ouço apenas as minhas ideias e a chuva inteira lá fora.... Poderia me esquivar de mim e tentar "fugir", afinal estou absolutamente só nesse local, mas não, eu amo refletir em meio a solidão e assim escuto meu pequeno coração, a mente se abre para minha própria companhia. E antes como era? Às vezes eu nem sei explicar ao certo, sinto saudade da liberdade, o uso das máscaras e o distanciamento social eu até me habituei com eles.... Mas é como se estivesse forçadamente cumprindo algo, alinhando e repetindo para meu cérebro mensagens como:" é fácil, nem precisa muito" ou "olhem como são bonitas as máscaras se assemelham a um lingerie" e concluo que precisa ser cuidada como tal, etc. 57


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Os argumentos em minha mente tentam a todo tempo me convencer da importância dos novos hábitos. Meus costumes novos precisam sobrepor as manias antigas, nada de sair com o nariz ou boca livres por aí... tal como a tradicional frase das mães "não vai colocar o nariz pra fora" cabe perfeitamente na nossa atual realidade... Pois bem, respirar livremente nunca foi tão almejado para mim, lembro-me de um amigo a dizer: "mas Carla, existem coisas muito piores por aí do que uma simples máscara.... ". É verdade, então me desligo e esqueço que nada mais importa, não há como ter uma pista do futuro, somente há o momento presente, o agora, o hoje para dar conta das nossas dores. Vem em minha mente uma expressão que conheci na minha especialização em Liderança e Coaching em 2019, o Savoring. Nem sei se meu conhecimento adquirido no curso será executado como imaginei no meu meio profissional, mas isso também já não é "tão" importante, para mim, tudo o que aprendi se reflete hoje em minha evolução. Savoring é uma técnica muito difundida na psicologia positiva que significa saborear, reprogramar a mente para viver o agora, sem ansiedades, sem os atropelados pensamentos de sabotar o tempo ou saltar para o futuro violentamente. Essa técnica me parece muito valiosa no meu agora e o que posso fazer além de adquirir costumes novos saudáveis, mais dignos e solidários para meus hábitos mesquinhos, egoístas e cônicos. No meu coração procuro não cavar armadilhas para mim mesma, em outros tempos eu poderia me sabotar com minhas velhas manias, porém hoje, necessito me repaginar para novas ideias e ideais, na 58


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tentativa titubeante e tosca de alcançar meus sonhos harmônicos que estão tal como Savoring, aguardando para meu despertar consciente.

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Águas curativas Caroline Kucera dos Reis As ingênuas lágrimas de tristeza Tão sinceras como aquelas de emoção De alegria Nelas também existe grandeza; A ternura das lágrimas de tristeza Por aquilo que não saiu como o planejado Pelo fato de algo nos ter magoado. Escorrem pelo rosto em direção ao coração Mas sempre são interrompidas Antes que tomem conta dele. Elas também demonstram ternura Como o choro de criança A malícia vai embora Só a inocência a reinar. Seu coração cheio de sentimento Não suportou sozinho e mandou aos olhos Águas que descem pelo rosto Para não explodirmos por tanto sentimento resguardado Os olhos lacrimejam e choram. E na água misturada descem os sentimentos de anos De agora e do que virá Enquanto descem vão limpando As águas curativas estão saindo Levando consigo qualquer sentimento entristecido E para aquele que andava triste Só depois da deságua é que se é capaz De voltar a ser feliz. 60


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Poexistir! Catharina Antochevis Pereira Ao passar do tempo buscamos viver com mais sabedoria, adaptando nossa vida, com equilíbrio e harmonia. Aprendemos escolher o necessário, priorizando a essência, com amor, gratidão e alegria, e sorrisos na convivência. Sem viver o deserto das ilusões, com fé, criamos esperança, ouvindo a voz do coração, sem esquecer da razão. Cada dia é um recomeçar, um adaptar-se à realidade, com momentos de desafios, abraçando oportunidades. Do passado, temos lembranças de sonhos vividos e ilusões perdidas, permanecendo na memória, influenciando o agora.

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Do presente, temos a vivência Com novas ideias de ações, para o futuro da existência. Vivemos, bem, na solitude com nossa própria companhia, com gratidão, por existir mais um dia. Coexistimos com a realidade do ser com poesia e alegria de viver... Futuro? Está por vir. É o mistério do existir...

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As muitas faces de uma guerreira Catia Cilene Pires da Rosa Ao mergulharmos no passado, e olharmos através das janelas das antigas casas de fazenda, encontraremos mulheres fruto de uma sociedade tradicional e conservadora, na qual eram criadas apenas para as lidas domésticas, religião e para o casamento, sem sequer poder opinar, escolher, participar ou decidir a respeito do seu futuro. Limitavam-se a cumprir seus deveres e seguir seus destinos, muitas vezes cruéis, de total submissão, no qual tinham poder apenas sobre seus sonhos, sonhos de grandes amores e paixões verdadeiras, desejos carnais e aqueles mais distantes da sua realidade, sonhos de dias melhores de igualdade e liberdade. O cenário começa a mudar, e elas se deparam com a necessidade de tomar as rédeas do trabalho nas Estâncias para assim garantir a segurança e o sustento de suas famílias enquanto seus homens lutavam durante duros e longos dez anos na guerra. Tornam-se, então, protagonistas de suas vidas tendo que encarar dias difíceis de trabalho árduo, medos e incertezas. Surgem então lindas exceções, mulheres que não se contentam em serem apenas meras espectadoras e empunhando garruchas e espadas, lado a lado dos bravos guerreiros nos campos de batalha decidem fazer parte desta guerra. Anita, Ana Terra, Cabo Toco, Bibiana e muitas outras anônimas, cada uma no seu tempo, imprimem brilhantemente e para sempre suas "faces" de bravas e destemidas mulheres farrapas, fazendo parte de fato da história 63


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do povo rio-grandense. Postura simples, leal e companheira, a mulher gaúcha contribui para a formação da sociedade da época, mas que a passos lentos, com rígidos padrões hierárquicos onde eram cobradas a todo o momento, os quais exigiam-lhes o recato e a submissão, elas não desistiram jamais de continuar lutando mesmo que sofrendo em busca do respeito e do lugar que lhes é de direito. Novas "faces" vão surgindo e a história se construindo, mulheres negras, índias, bugras, mulatas, gringas, alemãs, etnias não menos bravas e fortes, mulheres de coragem que agora somam e se tornam singulares na beleza de seus atos, vozes e corpos. Bendita mulher gaúcha da qual somos fruto dessa miscigenação, de mãos calejadas, porém carinhosas, almas escravizadas, mas ansiosas por dias de liberdade, dignas de nossa eterna admiração, olhos que veem o futuro dotados de total firmeza e acalento de quem soube ser mãe, guerreira, amiga, mulher... Hoje há muito que comemorar, conquistastes o direito de fazer as tuas escolhas, desde as mais simples como usar vestido de prenda ou bombacha, decidir a respeito do seu trabalho, laçar, jogar futebol, ter filhos, quem quer ter ao seu lado durante a sua caminhada, e o mais importante, quem ela quer SER, as "faces" que deseja ter e mostrar. Não quer holofotes apenas reconhecimento, e que a cada tropeço e obstáculo que a vida lhe apresenta, mulher gaúcha se torna mais forte para lutar e vencer. Na atualidade somos reflexo de muitas "faces" que ao longo da história nos trouxeram até aqui, somos nossas mães, avós, tias, amigas, anônimas mas que são, com certeza, exemplos a seguir e grandes inspirações, somos nos64


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sas raízes, porque são elas que nos sustentam, mas sem permitir que nos imobilizem, somos nossas referências e nossas origens para que não nos esqueçamos jamais de onde viemos, porque somente que tem orgulho do passado sabe onde quer chegar. De todas as "faces" da mulher gaúcha, a "face" da mulher guerreira de fibra e coragem, que ama e quer ser amada, que respeita e quer ser respeitada, merece o nosso aplauso. Viva, lute e construa a sua própria FACE.

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Somos prisioneiros de nossa própria liberdade Catia Luzia Bonotto E de repente o mundo mudou, o que era normal agora já não é mais. Parece que o tempo parou. Já não somos livres... E a liberdade de ir e vir ficou restrita. E até respirar ficou difícil... Quem diria que seria assim O mundo (a terra) nos deu a mais duras das lições... Não somos perfeitos Não somos donos do tempo E nem somos os únicos seres vivos da terra. Precisamos do ar, das plantas, dos animais... Precisamos de nós mais humanos, mais sensatos, mais responsáveis pela vida e não só pela nossa, mas pela vida de nossos semelhantes. Somos um todo, e nesse todo fazemos parte de uma pequeníssima porção, e sim "somos grãos de areia no meio do deserto". Precisamos uns dos outros... E aprendemos a lição: a vida é um bem mais precioso, e a empatia é a chave para um mundo melhor... Enfim esperamos que tudo isso passe logo, e assim poderemos estar juntos novamente para celebrar a liberdade não só a minha, mas de todos nós; como um todo.

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Conversas Cinthia Moreira Machado Em um sombreado de cinamomo, poderia ter desenvoltura para deixar a conversa rolar e muitas histórias, recuerdos de uma vida sofrida escutar, não me gera desconforto ouvir, deixar que de certa maneira as expressões contidas nas palavras também venham à tona nas rugas e nas marcas que carregam no corpo e na face, cada nova palavra escuto como surpresa, um presente que pra sempre comigo carregarei. Na roda de chimarrão vem as lidas sofridas, na lavoura, no campo, com filhos pequenos e muitos afazeres desde a lida no lar, naquela época podia viver sem aquilo, mas nada é mais insubstituível como um ente querido, podem parecer óbvias as mudanças que despontam no horizonte, a tecnologia toma espaço, prenúncio em recolher-se as loucuras do ser humano. Mas nada tira o apreço de um entardecer no campo, do cantarolar dos passarinhos, da vaca com seu terneiro, da égua xucra que pinoteia no campo, da adrenalina de correr dos quero-queros, no campo há trabalho, não há descanso, sempre tem algo pra fazer, seja a vaca no brete ou na pastagem, tirar leite, compartilhar com a bicharada, fazer queijo, um doce pra alegrar a vida, um pouco aqui outro acolá, mas sempre perto do rancho e a cada dia uma nova história, uma lembrança pra recordar. Abençoadas sejam as dádivas generosas que nos surpreendem tantas vezes e nos salvam de nós mesmos. Que cada um se veja como um ser sentimental completo que abuse de boas compaixões que a vida harmoniza, valoriza o que e quem importa as pessoas ao seu redor e seus sentimentos. 67


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Mutações, Pandemia do Covid-19 e ascensão do plástico: tragédias ambientais Cisnara Pires Amaral O século XXI traz à tona as preocupações em relação ao equilíbrio do meio ambiente e suas consequências para a saúde humana, quando nos deparamos com um microrganismo letal, que demonstra a fragilidade da saúde em relação aos descasos com o ecossistema. Vivemos a era em que despejamos nossas medicações em ralos de pias ou lixo; consumimos desenfreadamente, compramos animais exóticos ou silvestres, poluímos rios e mares; provocamos queimadas; desviamos os cursos de rios. São tantas as atrocidades em relação ao meio que não conseguimos colocá-las em um papel. Depois de assegurar níveis sem precedentes de prosperidade, saúde e harmonia, e considerando tanto nossa história pregressa como nossos valores atuais, as próximas metas da humanidade serão provavelmente a imortalidade, a felicidade e a divindade. Reduzimos a mortalidade por inanição, a doença e a violência; objetivaremos agora superar a velhice e mesmo a morte. Salvamos pessoas da miséria abjeta, temos agora de fazê-las positivamente felizes. Tendo elevado a humanidade acima do nível bestial da luta pela sobrevivência, nosso propósito será fazer dos humanos deuses e transformar o Homo sapiens em Homo deus (HARARI, 2016). Essa ânsia em se tornar superior e feliz, está contribuindo para que sejamos responsáveis pelas mazelas em que nos encontramos. Dentro dessa perspectiva, será que nos 68


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questionamos sobre a relação da atual pandemia, as mutações e os desequilíbrios ambientais? Compreendemos que os animais exóticos ou selvagens possuem seus próprios microrganismos. Charles Darwin já explicava em sua teoria que todos os seres vivos estão sujeitos a seleção natural. Mas qual a relação desse cientista com nossas vivências? O ser humano retira do hábitat natural os animais exóticos ou silvestres, seja para comercializar, para contribuir com o tráfico de animais, por mero prazer em manter em sua residência um animal diferente; porém esquece que esses seres vivos possuem microrganismos que sob pressão seletiva (ausência de alimentos, competição, maus tratos, parasitas...) podem reproduzir. Após a reprodução, a seleção natural, seleciona os genes que mais se adaptam a tais situações, e estes poderão estar sujeitos a mutações. Essas mutações chegam ao organismo humano desencadeando uma série de consequências para a saúde. Diamond (2012) traça um paralelo em seu livro "Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso", observando que as degradações ambientais proporcionam vulnerabilidades, comparando a extinção de algumas tribos relacionadas com as práticas adotadas para manejo do solo e dos rios, caça predatória e domesticação de animais exóticos, exaurindo seus recursos naturais; porém, deixa claro que as extinções não estão relacionadas apenas ao dano ambiental, existe outro fator predominante, o capitalismo que gera o consumo desenfreado. Estes fatores supracitados podem colaborar para que o material genético sofra alterações em seus pares de bases nitrogenadas, que acabam sendo conhecidas pelo nome 69


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de mutações. Assim, nos encontramos, expostos a microrganismo letais, como é o caso do COVID-19 e acabamos sem capacidade de desencadear uma luta igualitária, pois o vírus é capaz de reproduzir em larga escala em nossas células; além de estar suscetível a novas mutações. Assim, até que a vacina esteja disponível, resta nos realizar medidas profiláticas, que auxiliem o organismo como a utilização de álcool gel, lavar as mãos, utilizar máscaras e utilizar o plástico em nosso cotidiano. E falando em plástico, utilizamos esse produto atualmente nos hospitais, laboratórios, empresas e diferentes locais de trabalho, como estratégia de proteção. Estamos nos encaminhando para outro desequilíbrio de grandes proporções, se não pensarmos em medidas mitigatórias, para equilibrar a utilização de polietileno. Em novembro do corrente ano, foi lançado o "Atlas do Plástico: fatos e números sobre o mundo dos polímeros sintéticos", pela Fundação Heinrich Böll, esse material deixa claro que só no Brasil, são mais de 11 milhões de toneladas de plástico, o que coloca o país como 4º maior produtor de lixo plástico no mundo e salienta que a reciclagem é apenas a segunda forma mais eficiente de resolver o problema. A opção melhor é mais simples é não produzir, nem consumir tanto plástico. Para melhorar suas propriedades, os plásticos são frequentemente misturados com aditivos químicos, como plastificantes, retardadores de chama e corantes. Muitos desses aditivos tornam o material mais flexível ou durável. Mas eles podem prejudicar o meio ambiente e a saúde. Eles podem escapar do material e chegar na água ou no ar, terminando em nossa comida (ZAMORA et al, 2020). 70


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Em contraponto, a esse estilo de vida "cômodo", introduziu-se no nosso meio os canudos de plástico, sacolas, placas de poliestireno, utensílios de polipropileno, entre outros, que fazem da comodidade a essência de uma economia capitalista que apenas visa lucro (ZAMORA et al, 2020). O que nossos governantes estão fazendo em relação a essa mazela? Qual a minha contribuição em relação a esse acúmulo? Quais as medidas mitigatórias adotadas pelo município em que resido? São questionamentos fundamentais, precisamos repensar o uso desse material, criar leis que proíbam a utilização de canudos de plástico, auxiliar a coleta seletiva, compreender a importância da reciclagem para a sustentabilidade do meio. Esse texto é apenas um chamamento para que não cheguemos ao colapso, para que possamos compreender a importância da cadeia alimentar, do respeito aos animais, da conservação dos recursos naturais. Termino esse chamamento com a descrição realizada por Jared Diamond (2010) no Livro o Terceiro Chimpanzé: as nossas qualidades singulares são responsáveis pelo nosso atual êxito biológico como espécie. Nenhum outro animal de grande porte é nativo em todos os continentes nem se reproduz em todos os hábitats, dos desertos e do ártico à floresta tropical. Nenhum animal selvagem tem uma população comparável à nossa. Porém, dentre as nossas qualidades singulares, há duas que, atualmente, põem em risco a nossa existência: a nossa propensão a matar os nossos semelhantes e a destruir o meio ambiente. Desse modo, resta nos compreender a importância da nossa responsabilidade como Homo sapiens em manter a 71


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homeostase do meio em que nos encontramos, compreendendo o impacto dos resíduos plásticos na comunidade em que vivemos. É preciso considerar que este é um problema social e que ações de sustentabilidade são ferramentas para mitigar esse problema. Referências DIAMOND, J. Colapso: como as sociedades escolhem seu sucesso ou fracasso.8º ed. Rio de Janeiro: Record, 2012. DIAMOND, J. O terceiro Chimpanzé: a evolução e o futuro do ser humano. Rio de Janeiro: Record, 2010. HARARI, Y. N. Homo Deus: uma breve história do amanhã.1ºed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. ZAMORA, A.M. et al. Atlas do Plástico: fatos e números sobre o mundo dos polímeros sintéticos. Rio de Janeiro: Heinrich Böll Stiftung, 2020.

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Manhã quente e ensolarada de dezembro Clari Salerno Reimann Amo andar pelas ruas tranquilas de Santiago. Feliz, porque alguém no passado, teve a brilhante ideia de plantar 10 árvores em uma quadra só! Tenho sentimentos de paz e tranquilidade. Tenho a liberdade de tirar a máscara, mesmo que só por alguns momentos, enquanto respiro o ar fresco que as árvores me proporcionam. Nesse paraíso verde, há uma orquestra formada por diferentes pássaros. Gorgeios, cantos, arrulhos, conversas, formam uma sinfonia muito alegre. Um pedido desesperado de socorro, não consegue abafar essa alegria. Na calçada, à minha frente, vejo um filhote de pomba silvestre. Ele estava tão perto de mim, que meu coração bateu mais forte! Ele chama desesperadamente pela mãe e esta responde a cada choro do filhote. Será que ele caiu do ninho? Sua mãe forçou o seu primeiro voo? Como vai sobreviver?! Parece muito assustado e despreparado para enfrentar as dificuldades! Mesmo assim, decidi não intervir na vida dessa ave, pois há um processo natural, o qual devo respeitar. Dou alguns passos e não consigo prosseguir. Assustado, mal consegue firmar-se em pé, enquanto tenta fugir. Delicadamente o coloco em um pequeno refúgio, por entre as grades, no pátio de um pequeno edifício, enquanto afirmo: - Você vai ficar bem! Vai crescer e logo vai voar! Sua mãe está cuidando de você! Deixo-o com o coração apertado. Em casa, após uma pesquisa, descubro que os filhotes 73


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são alimentados com o "leite de pomba". Como assim?! Sim! O tal "leite" que é secretado pelas paredes da moela dos pais, é o único alimento que o filhote recebe nos primeiros dias de vida. Depois, começa a receber sementes semidigeridas, que os pais regorgitam no papo dos filhotes. É o "leite de pomba" que garante a sobrevivência dos pombinhos, mesmo nas épocas que faltam insetos e outras fontes de alimento. Genial, não?! Posso aprender algo? Sim! A criação de Deus é perfeita! Ele pensou em cada detalhe! O amor e cuidado da mãe é mero acaso? Certamente, não! É um instinto ou dom que o Autor da vida colocou nos seres vivos que criou. Aprender a voar pode ser doloroso, mas é necessário. Cair e levantar faz parte do processo. E mais; "Nenhum pássaro cai, sem que Deus não veja," assim afirmou Jesus. Nunca estou só. Deus cuida de mim e me ama com amor mais forte do que a morte. Ele já me deu provas suficientes desse amor. Amor que não mereço, mas aceito, pois não consigo mais viver sem ele.

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Lembranças Clarice Xavier Hoje perdida em pensamentos... lembranças me fazem pensar o que faz você ficar marcado na memória de alguém. Um cheiro, uma cor, um momento, um segundo, uma hora ou uma vida inteira. Talvez uma fração de segundos se deixa uma marca que nem o tempo consegue apagar... Talvez sejam lembranças de outra vida, de um outro tempo. O tempo sempre brincando com a gente e trazendo lembranças. O tempo que abranda e acalma, mas fica com tudo guardado. Lembranças que em seu coração ficaram para sempre gravadas.

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Ausência Cristine Xavier Miguel Guerim Ela chega sorrateira, sem avisar, ou talvez, venha há tempos dando pequenos sinais que passam despercebidos. Alguns dizem que é o grande mal do nosso século. Diferente de algumas enfermidades como o diabetes ou uma doença viral como a gripe, que são facilmente diagnosticados e logo recebem tratamentos específicos adequados. Com a depressão tudo é diferente e complexo. Detectar os primeiros sintomas, o diagnóstico, o tratamento, nada é simples quando se trata dessa doença. Quais suas causas? O que a constitui? Quais são os parâmetros? Qual o gatilho que a aciona? O que a desperta dentro de cada indivíduo? Difícil saber a resposta para tais perguntas, uma vez que ela pode atingir pessoas de diferentes idades, níveis sociais e gênero. Crianças, adolescentes, mulheres, homens, pobres ou ricos, pessoas que enfrentam dores profundas como a perda de um filho, quem está enfrentando o caos na vida pessoal, amorosa ou mesmo profissional, mas ela pode simplesmente se manifestar em pessoas bem resolvidas, que têm tudo aquilo que precisam para alcançar a felicidade e realização. É como se ela estivesse adormecida dentro de cada um de nós, apenas esperando para se manifestar. A dor faz parte da vida. O pesar quando perdemos um ente querido, alguém que amamos profundamente, pequenas perdas ou desilusões amorosas. A dor nos faz humanos, com ela aprendemos e geralmente nos tornamos pessoas melhores. 76


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O que muitos desconhecem, talvez, seja o grande abismo trazido pela doença. O que as pessoas com depressão buscam, na minha opinião, não é a ausência da dor, afinal ela faz o sangue correr em nossas veias e permite assim que a gente se sinta vivo. É o não sentir, não conseguir alegrar-se, ou amar, ou odiar, é a ausência de emoções, o grande nada o verdadeiro problema. De repente tudo fica cinza, tudo perde o sentido, a razão de ser, de um instante para outro não há mais ânimo, fé ou mesmo esperança, o que resta é um imenso vazio, um abismo, a vontade de não fazer nada, de ficar só, de afastar-se de tudo e de todos. Nos últimos meses, tivemos experiências reveladoras, durante esse período de isolamento social. A angústia existencial, nossa fragilidade humana, nossa vulnerabilidade, foi possível perceber que não estamos no controle de tudo. De uma hora para outra todos tivemos que parar, repensar e reorganizar nossas vidas. Que possamos diante desse cenário, dar mais valor àquilo que é realmente importante: a vida. Que tenhamos mais empatia. Que a gente julgue menos, critique menos, que possamos entender que o outro sente diferente de nós, que aquilo que não me causa dor pode ferir meu semelhante. Depressão não é invenção, não é escolha. É uma avalanche que leva tudo o que está em sua frente afetando diretamente não apenas quem é diagnosticado com ansiedade, pânico ou depressão, mas também a família, os amigos, as pessoas próximas. Sou leiga no assunto, mas dedico esse texto, ao meu esposo Fabricio Guerim, que enfrenta há quase dois anos essa doença cruel e a todas as pessoas que de uma maneira ou de outra tem o curso de sua vida alterado drasticamente pela depressão. Sejam fortes, mesmo quando tudo parece desmoronar e saibam que nunca estão sozinhos. 77


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Clausura Daniela Arce Em uma noite escura, somos sonhos às vezes, um tanto obscuros mas, quando a luz da lua reflete nos tornamos estrelas radiantes que trazem algo impressionante! Sonhos cheios de amor e paz mas nos momentos de dor somos poços de tristeza e escuridão! Quem somos no universo? Questionei certa vez ao meu âmago, a resposta foi clara e ríspida: -Somos o queremos ser nosso livre-arbítrio é a resolução! Então quero ser luz e não sombra na clausura! Levar o que acreditamos, a esperança, paciência, paz e amor ao próximo. Resiliência e determinação fazem o ser humano acreditar no amanhã e tirar a sombra da solidão essa é a cura para a clausura!

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Gratidão Daniela Wulff da Silveira Trapp Às vezes na vida aparentemente está tudo bem, até que o inesperado acontece. No dia 07 de agosto de 2020, uma sexta-feira acordei com a triste tarefa de dar um abraço na minha amiga e colega de faculdade Caroline, pois seu amado pai tinha falecido na noite anterior, passei a manhã toda junto a ela e sua família no velório e enterro, após isso voltei para minha residência para almoçar com minhas filhas, organizamos a vianda do meu marido, fui até o seu trabalho deixar o seu almoço e para a escola Thomás Fortes para corrigir alguns trabalhos de alunos que tinham deixado na escola, devido ao trabalho remoto no qual estávamos trabalhando por consequência da pandemia do Coronavírus, como disse um dia normal na vida de uma dona de casa, mãe, esposa, amiga e professora. Chegando em casa estacionei meu carro no início da rampa que dá acesso à garagem e por um descuido, desatenção ou até falha de memória puxei o freio de mão mas não engatei no P, comando que mantém o carro parado, desci para entrar na cozinha caminhando calmante e em segundos senti o carro passando por mim, me jogando contra a janela com uma grade, me esmagando, e continuou descendo até bater na garagem, e eu fiquei caída com muita dor, pedindo socorro. A dor que senti é indescritível, foi muito forte e desesperadora. Ao ouvir meus gritos os vizinhos correram até o portão e as minhas filhas apareceram assustadas sem entender o que estava acontecendo, pedi para que chamassem meu marido Éder, e a minha filha mais velha Ana Luísa ligou para ele, e a minha 79


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filha mais nova Maria Clara ligou para a amiguinha Julia avisando que eu estava caída sem saber ao certo o que teria acontecido pois elas estavam dentro de casa e não viram o acidente, o que me aliviou muito, pois elas estarem próximas colocaria elas em risco também. Os vizinhos chamaram a Samu, meu marido chegou, depois a minha amiga Suelen, sua filha Julia, seu marido Alan, meu cunhado Edenir e todos me olhavam atordoados com os meus gritos sem entender como teria acontecido, porque teria ocorrido um absurdo desses. Ainda assim pensavam que seria somente um braço quebrado, uma perna machucada, e eu nos primeiros atendimentos que recebi da equipe da Samu tive certeza que era mais, a dor era imensa, eu já não conseguia raciocinar direito, não enxergava quase nada, tudo foi escurecendo e a dor aumentando. Ao chegar no hospital eu via vultos, escutava vozes, mas tinha muita consciência de nada a não ser da dor, achei que não aguentaria, mas conseguia pensar nas minhas meninas, minhas filhas, meus tesouros e pedi a Deus e ao doutor que não me deixasse morrer. Fizeram exames, viram a gravidade, hemorragia interna, pulmão perfurado, braço, clavícula, bacia e costelas quebrados e então fui levada ao bloco cirúrgico, perdi um órgão, o baço, e muito sangue, o doutor Leonardo avisou ao meu marido e a meus amigos e parentes que era grave e que o possível tinha sido feito, só restava orar a Deus. Fiquei dias lutando com as dores totalmente sedada, entubada no CTI, pedindo para voltar a viver, tendo sonhos e escutando uma voz bem perto de mim dizendo FORÇA, FORÇA, e era tudo o que eu queria ter, força para viver, suportar as dores e acordar daquele pesadelo. 80


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Após uma semana em coma no CTI comecei a acordar aos poucos, abria os olhos ligeiramente e era medicada novamente para suportar as dores, e os sonhos voltavam, em alguns momentos o que restava era rezar, pedir a Deus força para lutar e então eu repetia internamente "O Senhor é meu pastor e nada me faltará", eu clamava ao Senhor incansavelmente. E os dias foram passando e eu recuperando, o doutor Maurício, o doutor Juliano, o doutor Caetano, os enfermeiros e os técnicos em enfermagem me passavam confiança. Algumas delas chegavam no meu ouvido e me incentivavam a ter força, falavam que sabiam que as minhas meninas estavam bem e tinha muita gente rezando por mim. Todos ali sentiam a minha ansiedade pela vontade de voltar, a minha necessidade de falar sem poder. E aquelas poucas palavras me faziam tão bem que elas nem tinham noção, faziam a minha vontade de viver cada vez maior, pois nunca imaginamos o quanto somos fortes e o quanto podemos suportar. Depois de longos dias finalmente o doutor Maurício considerou possível o meu marido entrar na CTI, foram apenas cinco minutos mas muito felizes para mim, naquele momento realmente me senti viva, eu sabia o quanto ele estaria ansioso e apreensivo assim como eu, apesar de ainda não poder falar me senti em paz, pois ele conseguiu me transmitir confiança. A minha alegria só aumentava ao ver o doutor Mauricio e o doutor Vinícius começando a falar na possibilidade de tirar o tubo, sentia um alívio quando eles estavam perto de mim e me davam coragem e segurança. No dia em foi retirado o tubo a minha vontade era falar sem parar, agradecer a todos os cuidados recebidos, mas as forças ainda eram poucas e eu conseguia sorrir. Queria sorrir para aqueles que eram os meus anjos 81


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da guarda, sorrir para a minha amiga de infância e enfermeira Daiane, a qual sofreu em me ver naquele estado e foi uma profissional exemplar. E então nesse momento o que eu podia fazer era reconhecer a mão de Deus em todos os detalhes da minha vida, é Ele quem vai arrumando tudo em seu lugar, pode doer, mas é melhor. Que sejamos gratos a Deus pelas alegrias e dores, pois tudo é permissão de Deus para realizar o melhor em nossas vidas. Ainda tinha a cirurgia do braço para ser feita que estava imobilizado devido a quebradura, então conheci o doutor Vinicius traumatologista, o qual realizou a mesma brilhantemente e me avisou que a próxima era da clavícula e que ficaria sem caminhar por noventa dias para colar a quebradura da bacia. Assim foi o meu reinicio de vida, sai do CTI e fui levada para o quarto pelos enfermeiros para finalmente conversar com meu amado marido, e quanto nervosismo o nosso, parecia que tínhamos ficado anos sem nos ver, quando ficamos a sós dentro do quarto da unidade 400 choramos muito de felicidade e nervosismo pois sabíamos que ainda tínhamos muitas etapas a vencer. Revi minhas filhas por vídeo chamada, uma emoção indescritível. A minha recuperação foi um misto de alegria por estar viva e medo por não poder caminhar, erguer os braços para comer, tomar banho, dar um abraço, coisas simples do dia a dia eu não conseguia e ai a insegurança me tornou em alguns momentos frágil. Chorei ao ver minhas amigas e comadres novamente, a cada dia uma delas passava o dia me cuidando e a noite a espera era pelo meu marido, e assim a Suelen, Ana Quelen, Andréa, Jarise, Maria Lúcia, Angela e Andressa ao me 82


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amparar durante os dias no quarto do hospital me falavam o quanto tinham sofrido, o quanto forte eram as orações que todos estavam fazendo para a minha recuperação, o que novamente me tornava corajosa para recomeçar, e então comecei a entender e acreditar que aquelas vozes que eu escutava era a força das inúmeras orações, de amigos, colegas, parentes próximos ou longe, conhecidos, alunos, ex-alunos, seus familiares e até mesmo desconhecidos. E minhas certezas ficaram mais fortes, que não existe nada mais poderoso que a oração, nada mais forte que a fé e nada maior que Deus. Devido a uma febre que teimava em não baixar ainda estive internada por cinco dias em Santa Maria para ser examinada e tratada por um infectologista, mais um período distante de minha família, mas junto da minha comadre Silvia que nos ajudou muito, cuidando e nos fortalecendo. E finalmente, a alegria de voltar para casa foi imensa, abraçar minhas filhas amadas, minha sogra dona Marlene que é uma segunda mãe, a qual cuidou das minhas filhas, do meu marido e da minha casa incansavelmente, pois ela sabe o quanto tudo isso é importante para mim, a segurança deles e o prazer em organizar minha casa que é herança de meus pais, tenho muito orgulho de morar e cuidar dela como meus eles gostariam. E a gratidão foi enorme em saber o quanto minhas meninas foram cuidadas e acarinhadas pela família, tias, tios e dindas para que elas tivessem força neste período de espera. Foram meses de fisioterapia com o doutor Vinicius e mimos e cuidados da minha querida enfermeira e agora amiga Adriana, os quais se tornaram muito importante na minha reabilitação. As incontáveis mensagens de carinho recebidas foram uma por uma lidas e relidas, as ligações por mim ou por meu marido atendidas todas nos acalentaram, e assim nunca 83


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terei palavras suficientemente fortes para agradecer. E como na vida nada é por acaso, tudo tem uma razão, gosto de pensar e relembrar na linda promessa da minha amiga Joseane, a qual muitos amigos se engajaram e se esforçaram para cumprir junto dela e de sua amada família, e assim a fé nos levou longe. Meus grandes amigos saíram de frente da polícia federal caminhando até a igreja do distrito de Ernesto Alves, lugar que adoro estar junto de meus amigos e família, por isso gratidão e fé é o que nos move. Não foi fácil nenhuma das etapas, a minha recuperação ainda faz parte do meu cotidiano, vencendo dores e enfrentando receios. E assim a gratidão pra mim é quando você, mesmo diante de um turbilhão de problemas, ainda agradece por ter saúde, lucidez, fé e forças para enfrentar. Talvez em alguns momentos nos deparamos em nos perguntar o porquê de algo tão grave, mas eu prefiro pensar que sou uma vitoriosa, e desejo sempre agradecer a segunda oportunidade de viver, então gratidão é reconhecer que a vida é um presente de Deus, e que em muitos momentos difíceis da vida, os amigos são aquelas pessoas com quem podemos contar, são as pessoas que vão nos apoiar, nos ajudar a nos reerguermos e a seguir em frente. Ter amigos de verdade é a coisa mais importante da vida, e eu sei que tenho esse privilégio, o que me torna a pessoa mais feliz e amada do mundo. Antes de tudo FÉ, depois de tudo, GRATIDÃO.

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Lições de uma pandemia Darlene Cristina Colaço Chaves Ah pandemia! por que te demoras? está na hora ... de ires embora. Quanta inquietação na alma humana que do peito clama brados de solidão que apertam o coração... Quanta lição remetendo à redenção... o homem se debate a pensar mas o instante é de resgatar Já não há mais pressa agora, o eu humano pensa... nos sentimentos esquecidos de um tempo adormecido... Urge identificar o amor para valorizar no eu do silêncio ... razões para abraçar.

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O impostor Darlene Honório Medeiros Mulher, Melhora a tua cara. O que é que vão pensar? Que não és prendada. Que não és educada. Que não és do lar. Coloca tua roupa mais polida E teu batom quase sem cor. Nem decote, nem ousadia... Aguenta calada e finge torpor. Mulher, Deixa de marra. Por que não paras de reclamar? Pega a vassoura. Limpa a calçada. Cabeça ocupada não tem tempo de questionar. Se tu te pões bonita, Depois não reclames da dor. Pois, o batom vermelho (que ironia!) Faz com tirem da tua vida toda a cor. E se eu, por acaso, te encostar a mão, A culpa não é minha, não. Estou cansado! Fiquei nervoso e sem direção. Tu não foste compreensiva. Não me deste atenção. Estou te pedindo perdão... Arrependido de todo o meu coração. 86


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Se fores embora, nossos filhos o que pensarão? E a família, os vizinhos, os amigos? Que confusão!" Quando no escuro da noite alguém, sem consentimento, te desvirginou, Foi a minissaia, a hora, teu comportamento que motivou. - Porque se ela estava à noite na rua é porque não se cuidou. (E, assim, a sociedade não condena moralmente o abusador). Se estás gorda demais, se estás magra demais, Se estás sincera demais, se estás feliz demais, Se és mãe demais, feminina demais, Se o teu decote é profundo, Se o machismo não define teu mundo, Se o teu cabelo é curto, comprido, Azul, amarelo ou colorido. Mulher, O impostor está no mundo enraizado. O mal que te aflige é estrutural, Poda tudo o que puder, Te humilha e te oprime mesmo parado, Faz o teu bem parecer mal. Não te deixa ser o que quiseres E fingindo querer teu bem Tenta impedir que estejas plena. Parafraseando um ditado antigo ( mesmo não sendo vingança, Ou às vezes até sendo) Ele mata a alma e envenena. 87


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Proibido Débora Melo Posso ver, é tão claro como o dia Quente como o sol que queima minha pele É tudo tão sensorial, uma mistura de música com poesia Transborda além dos ossos Eu jamais conseguiria sozinha Olhar através das cortinas Vejo o brilho nos olhos Conto os passos, controlo minha euforia Eu jamais conseguiria sozinha Tento encontrar as palavras na minha cabeça Está tudo tão vazio Um silêncio doce com melancolia Macio como um gatinho Que ameaça, mas nunca morde Eu tento sustentar a minha solidão Atravesso as paredes feitas de algodão Deve haver um mapa em algum lugar Sigo marcas em cores pastéis feitas no chão Estes sinais que vem e vão Sinto-me mais uma na multidão Conto os dias do meu jeito enrolado Escrevo histórias nas paredes do meu quarto Está tudo confuso e conectado Meus sonhos, o presente, o passado… É proibido sonhar acordado Assisto a lua acender Eu jamais conseguiria entender Essa noite que cai em mim Como em um ciclo vicioso, sem fim. 88


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O futuro Deise Pinto Marchezan Como será o amanhã? Como as crianças que estão chegando vão encontrar nosso planeta? É muito importante para o escritor a imaginação, com ela levamos até o leitor, reflexões, e, nesse momento, imagino uma criança, que sonha com um futuro cercado de amor, assustada com o mundo. - Mamãe eu queria achar uma lâmpada mágica! Estou com medo, quero ter um futuro tranquilo e ser feliz. Mas, não poderia fazer apenas três pedidos. Eu pediria para que todas as crianças pudessem brincar e estudar, que os adultos não as machucassem e não trabalhassem cedo demais. Queria que todas elas tivessem sua família e que suas mães não as abandonassem. - Como eu queria saber se aqueles homens que usam gravatas estão cuidando do meu futuro e trazendo mais oportunidades, para quando me tornar jovem, não tenha que sair de casa e ir para outra cidade, deixando papai e mamãe. Quero também que não falte alimento para ninguém. Não quero ver mais ninguém nas ruas cobertos por papelões, dormindo com frio. - E, quando eu for adulto, quero ser um bom homem; respeitar a todos, saber escutar minha família e não só pensar no meu trabalho. Quero abraçar meu filho, brincar sem estar com pressa. Quero viver feliz, andar pelas ruas livremente. Quero conseguir escutar o canto dos pássaros e observar a natureza. 89


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- Quero ser um bom amigo, não ter inimigos. Ter a voz suave e as palavras abençoadas. Quero ensinar meus filhos que Jesus é o nosso grande amigo e jamais vai nos abandonar e que viver bem é viver em paz. - Mamãe, será que existe mesmo essa lâmpada mágica? Se não existe vou continuar tentando e vou sempre pedir ajuda ao Papai do Céu. - Ah! Mamãe, como eu queria que o mundo estivesse cheio de amor.

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Vida Dejanira Nunes Cordeiro das Chagas Nas idas e voltas que a minha vida deu aprendi muitas coisas, que sou responsável pelas minhas escolhas, por tudo que semeei no meu caminho, pelos pensamentos que espalhei. Por onde passei aprendi que coisas boas, atitudes, geram coisas melhores ainda, que ninguém cruza nosso caminho em vão, que sempre vamos ter algo a aprender e também a ensinar. Aprendemos mais errando, porque quando acertamos ninguém repara. Quando erramos, todos apontam o dedo para nós mesmo nem nos conhecendo. Tento não errar, mas erro, tento passar para meus filhos que a maior riqueza está naquilo que o dinheiro não compra, amor, carinho, gratidão, temos que aprender a sermos mais gratos pelas coisas simples da vida, pelo sol, pela lua, por abraços. Aprendi nesses tempos de pandemia, eu gosto de abraços... hoje eu sei, vai parecer clichê, mas umas das melhores coisas da vida é um abraço sincero e que tudo de bom cabe num abraço. Aprendi que é caindo que me levanto mais forte, que amigos verdadeiros são poucos: conto numa mão, mas eles existem, que família é a base de tudo, que a pandemia veio para mostrar que perante Deus somos todos iguais. Hoje nas ruas também todos mascarados, vi olhares tristes e desanimados, outros que pareciam sorrir para mim, aprendi uma coisa, talvez a mais importante, daqui para frente vou dar mais valor aos olhares do que às palavras. 91


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Há um pássaro amarelo no meu peito Eduarda da Silva Bittencourt Minhas amigas não querem mais viver. Todos os dias eu acordo assustada pensando que elas se suicidaram. Nós somos jovens e temos um longo caminho pela frente - é o que os velhos diriam. Mas no fundo nós já temos nosso caminho traçado e estabelecido pela sociedade em que crescemos. Não, a culpa não é só dela, a culpa também é nossa por aceitar pouco e dentro desse pouco se estabelecer morada. Dentro de nós inunda de água o deserto em que nossas almas habitam. E nós drenamos; o choro que é engolido, a seca que atravessa. E nós não pisamos nas poças como se fossemos pular, temos medo de molhar os pés. Nada é seguro. São tempos difíceis pra todos, e a individualidade, onde fica? Para alguns o oásis ainda existe e vocês não notam como isso é brilhante? Mesmo seco, árido, pálido e frio, ainda há sinal de água - em especial aos olhos. Para outros o deserto só se estabelece como um elemento terra. Nada mais. Nós somos o nosso próprio bicho de sete cabeças atarefado com a corrida diária da sobrevivência. E mesmo assim ainda somos um só. Pensando por sete, tendo braços de três. A conta não fecha, e nem deveria fechar. Olho pra fora e a chuva não cansa de cair, no início ela vem mansa, como quem não quer nada. A primeira gota em solo fértil é estrondo, - as plantas pensam que finalmente serão regadas, já que faz mais de semanas que eu nem passo pelo jardim. Cheiro de flor me lembra da morte, - o meu olfato não precisa me lembrar o que meu crânio martela sete vezes ao dia. A chuva incomoda, ela me parece. 92


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Bastou uma gota aterrissar para as outras sentirem-se seguras para se jogarem do ar. Maria vai com as outras. E elas vieram, de uma só vez, sem deixar uma roupa no varal sequer seca. E por que deveria? A concessão não leva a nada. Um pássaro pousou na bicicleta do meu filho, ficou bicando o banco como se fosse comida, talvez estivesse bebendo a água que se criou nas dobras dele. Lembro-me de um poema do Bukowski e sinto a necessidade de trazer esse pássaro para o meu leito. Abrir a caixa torácica e deixar ele lá. Cantando pra mim. "Há um pássaro amarelo no meu peito que insiste em sair, mas eu derramo lágrimas de uma extremidade há outra em seu corpo, e inalo o ar demasiado denso de uma atmosfera em restrição, assuntos que ele e ela, e a dor que há no ato entre os dois nunca saberão. Há um pássaro amarelo em meu peito que se acostumou com o vazio e não mais canta o canto dos vivos hoje chora junto a mim sinfonia nossa" Será que ele morreria sufocado? Talvez o ar que exista dentro de mim seja perecível, por isso respiro mal e não tenho continuidade de fala. O tempo está parando e a chuva diminuindo. Logo menos vou tirar o excesso de água das plantas que tiveram seu vaso dilacerado, suas raízes inundadas, atravessadas pelo querer do outro. Metáfora bonita pra te dizer que não dá mais, o papel de planta não me cai bem. Parada e sucessível ao desejo dos outros, eu não quero o desejo dos outros, eu nem sei do desejo dos outros. Tenho pés que são só meus, o esquerdo é mais chato, o direito um pouco estreito, meus dedos não se estabelecem em ordem crescente, eles são de vários tamanhos e 93


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formas, o dedo ao lado do dedão consegue ser maior que o próprio dedão, isso sempre me causou dor quando uso sapatos apertados. Mas eles são meus, entende onde eu quero chegar? E entende que pra onde eu quero chegar são eles quem me levam? Eles que correm comigo, andam comigo, nadam comigo. Sinto cócegas perto do calcanhar e entre os dedos. Roí as unhas até os quinze anos de idade e se eu quiser consigo roer agora. Entende? Se eu quiser, com eles eu posso tudo que eu sentir vontade. Por serem meus. Eu sei sobre meus pés melhor do que eu sei sobre os outros, os outros não são meus. Mesmo que minha possessividade cochiche em meu ouvido que sim. Mas não, eu não posso tomar alguém pra mim e costurar aos meus pés "olha você vai ser meu sexto dedo e nós viveremos juntos pra sempre" eu não teria pés suficientes para dedos extras. Por isso nenhuma parte do meu corpo deve ser extra, por isso não é. Eu nasci só, no útero que me carregou tinha somente eu tomando banho de líquido amniótico. Nove meses submersa, me formando. Eu fui o esperma do meu pai implantado no ventre da minha mãe. Como semente eu cresci até não ter mais pra onde ir, precisei nascer. O nascimento deveria ser bonito, mas é a parte mais triste do processo. Bonito mesmo é nadar durante nove meses sem precisar se preocupar com nada, às vezes sentir uma dorzinha quando a mãe estava triste, mas é só uma dorzinha, é ela, não eu, o cordão precisa ser cortado e quando for cortado o problema já não se refere a mim. Se refere? E quando o cordão é cortado? Ao sair de dentro dela; ou no primeiro sinal de rejeição materna, ou no sopro de infelicidade, ou no momento em que ela chora e a dorzinha não ecoa mais, ou nunca ele será decepado? A chuva au94


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mentou e com ela veio um vento frio. Minhas canelas estão de fora e a meia é curta demais pra um dia como esse. São cinco e meia e eu ainda estou de pijamas, não li os livros que precisava, me sentei e olhei a chuva, conversei com ela, admirei. Às vezes o mundo nos come tanto que parar e refletir nos parece perda de tempo. E não é, perda de tempo é não sentir as gotas, ter medo de molhar os pés, não passear na chuva com receio de umedecer o pijama que nem foi trocado ainda. Poderia usar guarda-chuva, mas que perca de tempo é usar guarda-chuva. Não se entregar totalmente ao desejo e nem renunciar. Guarda-chuva. Agora entendo o meu ex-marido, não devemos ter amarras quando o desejo bate à porta, comedimentos não são bem-vindos. Meu filho ainda continua com o pijama, talvez eu não seja um exemplo tão bom. O céu parece um cérebro, máquina a vapor. As nuvens se formam como circunvoluções, cada uma de seu jeito. Esses dias eu li que a anatomia do cérebro é única para cada um. Como impressões digitais meu cérebro se adequa perfeitamente a mim. E não há em mais ninguém; cinza claro é para todos, diferente dos pulmões que são rosa e porventura do tempo, ou das cicatrizes, pode se tornar preto, e do coração que é vermelho embora as veias sejam azuis. Nosso corpo é como o céu, cada pedaço de um molde. As nuvens lá de cima contraem e dilatam ritmadas pelo vento. Incrível como a percepção das coisas modifica conforme o movimento a nossa. Sentada eu sinto o mundo girar ao meu redor; o sopro de deus nos objetos, que também são objetos humanos, que também são objetos feitos por humanos. Essa grama que cresce desregulada foi eu quem plantei, as flores que secam e se inundam pelas águas foi eu quem en95


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terrei; o pinheiro de natal que cismei em ver crescer junto ao meu filho e que agora parece mais uma moita que evolui com a incerteza de ter donos pra sempre - também é meu, embora incerto. Ô plantinha, nada é pra sempre, nem o enfeite de madeira em formato de anjo que ainda está preso em teu galho - e nós já estamos em setembro e esse adereço vai fazer aniversário daqui três meses. Faltam três meses para o fim de um ano que nem senti passar. A atípica dele me foi exaustiva, como pra todos. Dois mil e vinte; número quatro; construção de base segura para o futuro. Só pode ser piada, os astros riem da nossa cara nesse momento. Ou deus, no entanto eu nem sei se acredito nele. Meu pensamento se perde aos poucos, mas se perder também é se achar - mesmo que angustiante. A angustia também é trilha - mesmo que insegura. O pássaro que antes pousava na bicicleta do meu filho agora voa no céu. Flutua um pouco e se esconde entre os tufos da araucária. Até onde ele consegue ir? O quão longe suas asas pairam? E eu, até onde minha esperança me levará? Espero, profundamente, não ter asas de cera.

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Amor-próprio Eleandra Bonatto Mulheres não querem ser ignoradas, traídas ou maltratadas. Quando uma mulher diz: não. É NÃO. Quando uma mulher diz: está doendo. Está doendo sim. Quando ela diz: Pare! Olhem só que coisa... é PARE! Quando dizem que uma mulher está "louca", geralmente ela só está cansada de falar com voz normal e ser ignorada, então ela grita e chora e clama. Que a escutem antes do grito! Mulheres são otimistas. Muito. Porque em geral acreditam no que o outro diz, dão chances, tentam outra vez. Na certeza - incerta - de que o próximo será verdadeiro, leal e a respeitará. Quando isso não acontece, lá vai ela tentar de novo, acreditar que agora vai. Algumas tem essa "sorte" (que deveria ser comum), de encontrar alguém especial, dedicado, honesto, em atitudes e sentimentos, que a respeita e escuta. Que compreende que a mulher pode ser o que quiser e ainda assim, o amar. A essas mulheres minha admiração e gratidão, pois nos mostram que relacionamentos saudáveis existem. Mas hoje, eu escrevo para todas as outras, aquelas que ainda buscam uma relação que acrescente, não tome. Um amor onde a mulher não precise fingir orgasmo, porque a frágil autoestima masculina não compreende que: foi você, homem, que não se dedicou o suficiente, ela não é fria, você é quem não sabe quais botões acionar. Por isso mu97


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lheres fingem. Ou alguém acha que elas adoram dizer que "foi bom" quando não foi? A essas mulheres eu digo: não desistam, não se contentem com menos do que merecem, não se anulem, jamais mendiguem o que deve ser dado espontaneamente, para que assim reconheçam aquele companheiro o qual entenderá que mulheres são movidas a hormônios, palavras, lágrimas, sorrisos e atitudes e querem um amante, amigo e parceiro para dividirem a caminhada na sinuosa estrada que é viver.

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Gratidão a Deus por toda benção!! Eliane Aparecida Dorneles Lopes Bessa Como é bom sentir a presença de Deus na nossa vida, saber que Ele está sempre ao nosso lado nos amparando com a sua mão divina! Mesmo quando nos sentimos sozinhos e perdidos, o Senhor está conosco, mostrando a direção certa para seguirmos pelo melhor caminho! Somos seres vitoriosos pelo simples fato de estarmos vivos, por ganharmos uma nova oportunidade todos os dias de conquistar algo novo e de procurar ser melhor em todos os sentidos. Sou muito agradecida por todas as vitórias que já alcancei na minha vida, das mais difíceis àquelas mais simples, que conquistamos todos os dias. A cada vitória me sinto mais viva, mais abençoada, mais amada e ainda mais protegida. A cada vitória tenho mais certeza que as próximas batalhas também serão vencidas, o medo já não é mais um obstáculo e por isso o meu Deus me deixa sempre muito agradecida!

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Sentimentos de bichos e gente se confundem Elisabeth Cristina Hruschka do Amaral Acordei dia desses com nosso cãozinho latindo de maneira diferente. Era para chamar a nossa atenção, pois tinha acabado de ser pai de quatro lindos filhotes, sendo que um era menorzinho. Saí para o pátio e fui até a casa, onde estavam a mãe e os filhotes. O pai, muito feliz, ficou do lado de fora, somente a balançar o rabo, demonstrando tamanha felicidade. Dois dias depois morreu um cãozinho - aquele que era o menor, o mais fraquinho. Ele foi afastado, pela mãe, do restante da ninhada. O silêncio tomou conta do pátio. Achei estranho. Chamei o pai para dar comida, ele não apareceu,... não havia um barulho sequer, nem dos filhotes, nem da mãe. Fui até a porta da casinha deles e a cena, que vi, me comoveu muito: mãe, filhotes e pai de um lado e o bichinho morto do outro, como se estivessem fazendo a despedida. Naquele dia a casa toda ficou triste, mas, ao mesmo tempo, afloraram sentimentos de família, de união, de bemquerer, de ressignificar o que é a VIDA.

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A mulher sábia Elisandra Minozzo Era um lindo domingo de primavera, enquanto lia "A ciranda das mulheres sábias" de Clarissa Pinkola Estés, fui visualizando algumas das tantas mulheres sábias que perpassaram o meu destino, e o quanto cada uma me moldou e me ensinou, quando o sentimento de desamparo bateu, e ele bate! Ah, sim! Qual mulher nunca se sentiu perdida, cansada e insegura, sem saber para onde seguir? Bom, nesses momentos é sempre bom ter a mulher sábia por perto, aquela que já despertou e vai poder lhe indicar o caminho, pois ela já o percorreu, já tem a marca da batalha vencida, ou perdida, mas já o conhece. É preciso aprender a reconhecer a mulher sábia a volta, e distinguir daquela que ainda não despertou, aprender a ouvir a mulher sábia do seu interior. Não importa onde ou como estamos vivendo, a chama dourada da sabedoria está lá, em cada mulher, ela pode despertar ou não, contentar-se com o vazio de uma vida posta para ela, ou escolher rasgar-se e remendar-se até que se permita brilhar com a chama dourada da mulher sábia. No fundo sabemos distinguir o tom de voz da mulher sábia quando ela chega, o sussurro de seus conselhos que algumas vezes não dizem o que queremos ouvir. A mulher sábia pode ter lhe ensinado como ser ou como não ser, como bater a maionese, ou o que não falar para os "homens" de si, como agir no trabalho, ou o que vestir para namorar, quem sabe apenas ter lhe dado uma receita de bolo ou chá, você pode ter usado os conselhos ou simplesmente descartado. 101


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A mulher sábia se passa pela mulher comum ao seu lado, para entregar o recado no momento certo, no momento que você precisa e está pronta para receber. Quantos recados dela deixamos escapar todo dia! Sem dar permissão para que ela se aproxime o suficiente para que possamos ouvi-la. A mulher sábia não necessariamente é uma velha, mas pode ser, embora a mulher sábia nunca envelheça, pois o que a move não conta tempo, o que a move está além. Ela já fez a viagem por sua própria sombra e se conhece, e se reconhece na outra mulher sábia quando a vê, elas trocam, elas conversam, suas cicatrizes vão ter semelhanças, e uma sempre estará disposta a carregar a outra nos braços quando for preciso. Fico imaginando se a mulher sábia em mim, já começa a despertar, e fico agradecendo cada sussurro das que vieram antes de mim, e me indicam o caminho, nunca me indicaram o caminho mais fácil, mas sempre aquele que eu precisava percorrer. E assim permanecerá, como foi com àquelas que vieram antes, e seguirá com as que ainda virão, mas somente com as que estiverem dispostas a se aproximar o suficiente para ouvir seus sussurros de sabedoria, porque a mulher sábia passa discretamente, embora jamais despercebida.

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Descomplicar o que complicamos... Elisete Heydet Cattelan Lendo uma postagem do Facebook, onde uma criança de 5 anos explica o que é o amor, tive a certeza que devemos manter vivo em nosso mais íntimo ser a doçura de ser criança, sua sinceridade, simplicidade, descomplicar a vida...Em reposta ao que é amor ela disse: "O amor é...quando perdemos um dente e não importa, pois sabemos que nossos amigos vão nós amar, mesmo faltando um pedaço de nós". Quão singela e bela a resposta de um ser inocente, doce, descomplicado, puro. Que possamos sempre ver a vida com os olhos de uma criança, que nada nem ninguém destruam nossos sonhos, que sejamos puros de alma e coração, que saibamos amar com a leveza e despreocupação desse ser tão sublime que se chama criança. Já ouvi pessoas dizendo que deveríamos nascer ao contrário, pois nascemos sem saber nada e quando adquirimos sabedoria já está na hora de partirmos... Deus é perfeito! Criou o ser humano como deveria ser... Nascemos puros, e assim deveríamos permanecer e ir adquirindo conhecimento, sabedoria, sem deixar nossos sonhos escorrerem por entre os dedos... Ainda há tempo de fazermos renascer a criança adormecida que existe em nós!

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Liberdade... Elisete Heydet Cattelan Ser livre Livre das amarras Da vida, Do desamor, Liberdade Oh! Doce palavra Que nos encanta Que nos liberta Que nos aprisiona Tantas contradições Nos sentimentos Liberdade é pouco Livre Por fora Preso por dentro Liberta-te Da opressão Da negatividade Dos outros De ti mesmo

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Renovação Elizabeth Pimenta (Capsaicina) Vivemos dias, semanas, meses... com liberdade encolhida, como pássaros sem asas, sós, reclusos em seus ninhos. Em nosso rosto às vezes redesenhado estava o medo a angústia, a incerteza de que um dia tudo voltaria à leveza dos sonhos inocentes das crianças com um sorriso apenas renovar esperanças. O covid 19, vírus nefasto, veio lento de início, parecia um pesadelo passageiro, tendo como regra o distanciamento, uso de máscaras, higiene das mãos, ficar em casa: enclausuramento. com mau presságio de domiciliar prisão, alastrou-se no planeta como mensageiro, evidenciando preconceitos e vaidades marcado por crise, política, social, crise econômica, ambiental. A pandemia expos a vulnerabilidade das mulheres, dos idosos, das crianças dos abandonados da sociedade global, do sistema de saúde: a precaridade, somados aos que conviveram o luto 105


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tão próprio, infinito e particular pois este é o processo que passamos no cotidiano da ausência que nos faz chorar, difícil aceitar... Deus! Somente a fé pode nos confortar. Enfim, para a doença veio a vacina A ciência com incansável dedicação nos oferece uma saída, uma solução. É preciso paciência, cuidados e persistência, busquemos todos a imunização, almejando o fortalecimento humano criando e propondo mudanças interiormente vacinados contra a prepotência deixando no passado as diferenças o egoísmo, os mitos e as desavenças. Nossos sonhos, são cheios de esperança pois é possível vislumbrar renovação com novos valores e sentimentos trilhando o caminho da aceitação de nós mesmos e do outro, sem distinção unidos em todos os momentos exercitando o comprometimento de jogar fora as pedras e o ódio, abandonar a violência, que deixa cicatrizes Dar valor coletivo à vida e ser mais felizes

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Meu filho, meu amor, minha saudade diária... Elisangela Amaral Quando um filho morre o tempo para; e quando o tempo começa a andar nada é igual...não tem como recomeçar, pois não há como voltar ao começo. Ressignificar a vida é preciso, pois a vida que eu sonhava não existe mais, e dar um novo significado a ela é seguir em frente. Homenagear você, meu filho, é voltar a viver, a sorrir, é fazer as coisas rotineiras que dão sentido ao nosso viver. Pois tudo continua, a gente acorda todos os dias, o coração bate, a vida se impõe diante de cada alvorecer. No dia 28/10/2001 você nasceu...e no dia 17/10/2020...De repente você partiu ou teve que partir, eu não sei... Só sei que o tempo passa e a saudade de você só aumenta. Por mais que eu saiba, que a morte ainda é um dos maiores mistérios da vida, e que morrer faz parte da vida, ver você partir é a dor mais doída que carrego comigo. Nenhuma mãe ou pai deveria sepultar o seu filho, mas nem sempre o ciclo da vida segue esse princípio. O tempo passa, e vai passar muito tempo talvez, e tenho a certeza que ninguém vai ouvir de mim uma história de superação... escutar que superei a tua partida, a morte do meu filho...isso jamais. Mas se por acaso alguém se dispor a sentar do meu lado, com certeza escutará uma linda história de amor. Sabe, meu filho e minha filha sempre foram e continuarão sendo a melhor parte de mim. Ao escutar do imenso amor materno que tenho, você não vai se arrepender de me ouvir. Em alguns momentos haverá emoção, lágrimas poderão rolar ao imaginar como ainda consigo viver ... e em outros você 107


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vai sorrir e ter a certeza de que é o amor de mãe que me põe de pé todos os dias. Vou falar ainda pra você da superação... a minha superação em acordar todo dia, banharme, conseguir comer, beber e sair...da minha superação em sorrir. Senta comigo e me escuta, não tenha medo, não peço muita coisa...apenas uma amizade que me escute... Sei que meu fardo é pesado e jamais vou pedir que alguém o carregue comigo...mas se vez ou outra puderes estar ao meu lado, você me ajudará torná-lo mais leve. E tenha certeza que vou falar, silenciar, vou sorrir e vou chorar...mas lhe peço deixa eu falar do amor que sinto pelo meu filho amado que vive no céu... se você se propor me ajudar, vou ter certeza que se importa comigo. Superar eu não vou, mas com você segurando minha mão quando eu precisar será menos doloroso suportar. E o que torna os dias mais leves são as lembranças, as doces lembranças... Filho, sua caminhada aqui na terra foi linda, e sua partida deixou um enorme vazio no coração de todos que lhe conheciam e conviveram com você. Aqui na terra foi um vencedor, uma pessoa simples, de caráter que conquistou a todos com seu jeito de ser. Você vive em cada coração que lhe ama, em cada lembrança, em cada detalhe que lembra você. Você é Um Anjo de Luz na Eternidade, e um dia desejo lhe abraçar novamente, sou grata a Deus por ser sua mãe e pelos anos de convívio, sei que fiz o que pude para você estar/ser feliz aqui. Parafraseando tua amiga Gil, emano amor e luz para você, meu filho amado, Marcelo Eduardo Amaral da Silva... Obrigada por ter sido tanto quando tudo foi tão pouco pra mim, meu único arrependimento foi não ter passado mais tempo contigo! Que você encontre a paz e descanse, meu anjo, estamos todos aqui sentin108


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do uma falta enorme de você, da sua energia. Obrigada por me ensinar tanto com essa sua alegria, eu sempre vou levar você comigo, amo-o eternamente! Pra Sempre Nós.

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Aquelas que lutam Emmily Soares Bernardes Quem é esse alguém que vem tentando me derrubar? De onde vem essa voz tentando me desmoralizar? A quem pertencem esses dedos me apontando defeitos inacabáveis? Quem é que anda ora sussurrando, ora esbravejando "cala-te, menina"? Mostra-te. Encara-me de igual para igual. Tens coragem? Acaso não sabeis que nasci abençoada? Que venho de uma longa linhagem de mulheres tão fortes quanto se pode ser? Não foste avisado que eu nunca ando sozinha? Que carrego todas elas dentro de mim, mãe, avós, tias, primas, irmãs e amigas. Em cada célula minha uma parcela de sua força. Não sabeis que minha pele é resistente armadura de ouro, colorida pela luz do Sol? Não sabeis que meus ossos são majestosas colunas de mármore? Não sabeis que meus olhos são como faróis cintilantes sobre as águas do mar tenebroso? Não sabeis que minhas mãos são mágicas ferramentas, capazes das mais maravilhosas obras? Não sabeis que meu sangue é fervente lava correndo pelas minhas veias, e que meu coração é montanhoso vulcão de onde a lava desce? 110


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Não é de teu conhecimento, mas este coração que tenho não foi feito para cair de amores pelo primeiro que me trate como lixo. Este coração foi programado para disparar como um alarme, sempre atento ao perigo ao qual me exponho toda vez que ponho os pés fora de casa. Não é teu conhecimento, mas essa mente que tenho não foi feita para pensar a todo momento em roupas, sapatos e maquiagem. Essa mente foi treinada para sempre trabalhar o dobro, sendo sempre uma boa menina, e só assim poder exigir o mínimo de respeito. Não é de teu conhecimento, mas este corpo que tenho não foi feito pra tu olhar e achar bonito, ou tocar quando bem entender. Este corpo foi construído para resistir a todos os ataques que foram apontados para mim desde o momento em que recebi minha sentença: "é uma menina". Não é de teu conhecimento, mas esse corpo é indestrutível, pois sua perfeição foi esculpida no ventre amoroso de uma mãe. Eu venho de uma longa linhagem de mulheres imortais. Mulheres que viveram num mundo impiedoso, injusto, perigoso. Que foram caladas, mas que, por fim, aprenderam a mostrar sua voz. Foram agredidas, mas, por fim, aprenderam a se proteger. 111


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Foram subjugadas, mas, por fim, aprenderam a se impor. Foram humilhadas, mas, por fim, aprenderam a se amar. Aprender fez com que sobrevivessem. Desde as primeiras, que precisaram sozinhas. Também nós, que aprendemos umas com as outras. Até aquelas que já nascerão sabendo que merecem mais. Elas crescerão conscientes de sua força. Viverão seguras de si mesmas, de seu valor. E não será necessário lutar por sobrevivência, pois o mundo não será mais uma ameaça. Eu acredito. Acredito, pois, nasci da primeira mulher na família a se formar em uma universidade. Acredito, pois, nasci da mulher que criou até os filhos que não eram dela. Acredito, pois, nasci de uma mulher nascida do ventre livre de uma outra mulher que outrora foi escrava. Acredito, pois, venho de uma longa linhagem de mulheres de fé. Mulheres imortais. Mulheres livres, mulheres que gritam, mulheres que lutam. Mulheres que se impõem. Mulheres amadas. Mulheres sobreviventes. Então não sejas ingênuo. Quem pensas que és? Acreditas ser capaz de manter uma filha de guerreiras no chão? 112


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Não és. Pois assim como aquelas antes de mim, eu me levantarei quantas vezes forem necessárias. Manter-me-ei de pé por elas, é tudo por elas. Mulheres, e tudo que elas representam.

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Minha vida em versos: aos meus amores, somando momentos Enadir Obregon Vielmo I Conta a história que era usada pelos faraós como joia. Assim como o garimpeiro labuta a vida inteira para extrair pedras, sustento da família. Também o amor é simples e puro e se renova a cada dia. Abençoados 57 anos de união, contagiados pela emoção das palminhas dos bisnetos no pulsar do coração. Para nossos amores, a gratidão. II Cedinho o Hermes anuncia: Hoje é dia da Família. Veja só que maravilha! Bons fluidos e sentimentos neste confinamento. De repente, o Beto aparecia com notícias da Olaria e o projeto da reforma do espaço do bem-estar que queria. ? Veja só que alegria! ? O essencial é "Ser Família".

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III A noite desceu e o Nato, lá do "Doce Refúgio" do Perau, apareceu. Com o moletom rasgado na busca dos cordeirinhos desgarrados. Trouxe limas e ovos e um peixe que nos surpreendeu. Valeu uma jaqueta antiga que o pai lhe ofereceu. A família é como se fosse o nosso "Outro Eu". IV Quando a gente se compromete consigo mesmo, o universo passa a ser nosso aliado. Uma conspiração sideral é o resultado pelo poder de realização que nos é outorgado. É mágico, sublime e poderoso. Ser ousado e esforçado. V Nessa travessia, quem diria! Até a internet avaria. Telefono para a Oi. É na Duque de Caxias, três, dois, oito, E se foi todo o dia... Aparece um mascarado, que sobe no telhado, e de pronto o aparelho é consertado; Eita! Genro abençoado, Aceite nosso obrigado!

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VI A oração é muito mais força do que solução. É a vida da nossa alma, estudo, trabalho, ação. Você é responsável pelo bem-estar do seu irmão. VII Chegou bem disposta e apressada Com um rolo de paredex na mão Ajoelhou-se frente ao tapete e iniciou sua missão. De onde veio essa santa inspiração? Dar segurança aos meus avós do coração. Foi para a Chilli animada, realizada com a ação. VIII A vida é bem querer. É preciso saber viver. O tempo está dentro de nós. Descobrir o que quer fazer, investir, Insistir e as preciosas horas com os netos curtir. O que faz a diferença é Saber envelhecer. IX Homem de fé, companheiro e amigo. Que acolhe, une e reúne a família. A gente se revela e se descobre contigo. É puro amor, emoção, devoção. Sua vida é uma Bênção Divina, inspiração, gratidão.

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X Na semana do Dia das Mães, Um anseio no meu coração existia, Que o "Cuca" sintonizaria. Veio lá de Beltrão para compartilhar a vida com a família. Momentos que o coração deseja e a Providência enseja. XI Domingo de manhã, o vencedor do jogo em família me desafia Vamos jogar lá na sombra da mangueira? Achei uma maravilha. Larguei a louça da pia, Mergulhei nas cartas. Sinergia total! Por duas cartelas, ele ficou com o avental. XII Durante a semana, como um raio de luz, ela passa Com aquela atitude interior de atenção e disponibilidade, Incentiva a fazer o melhor pela nossa saúde. Nossa menina reconhece e valoriza nossas dificuldades. À tardinha, a Chiquinha nos deseja "Uma noite tranquila" com afetividade. XIII Vieram outras meninas para aumentar a família. As Filhas do Coração. Dedicadas, alegres e amorosas. Com a Bênção da Geração. A Silvana, médica, a Silvana, Psicóloga e a Rosane, advogada. Por nós muito amadas. 117


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Percepções Erilaine Perez Silêncio. Mais uma tarde inicia com prenúncios de mormaço. Silencio eu também, porque sempre gostei de ouvir o som das coisas inaudíveis. Uma brisa suave balança as longas folhas das palmeiras ali em frente. Ouço as vozes que se formam ao percorrer o talhe longo dessas folhas. Há pássaros novos nos ninhos. Trinam bem baixinho, quem sabe esperam a fêmea-mãe que está por retornar com algo que lhes alimente e cale por algum tempo. As orelhas do gato, aos meus pés, estalam, porém não vencem a sua preguiça, e ele segue dormindo. Papéis se arrastam em espiral pela calçada, também levados pela movimentação breve do ar. O cachorro da vizinha espirra. E um carro passa. Fecho os olhos. Há um silêncio grande por dentro de todas as coisas. Perfaz a tarde que se forma dentro de mim também. Ouço os ponteiros que marcam as batidas do meu próprio tempo. Existo e vibro como tudo o que passa lá fora e tenho vozes que surgem dessa quietude que em mim insiste. Quero ouvi-las. Silencio mais uma vez. Há um pássaro que bica no meu peito, mas não mata a minha fome. Há preguiça aninhada no meu colo (quisera ser como o gato que se deixa levar por ela). Há papéis que encho de símbolos tintos na minha mente, eu os escuto a se arrastar em pensamentos que nunca passam. Abro os olhos. Coloco a tarde modorrenta que se estende em plano de fundo. Retiro o foco dos meus becos interiores. Volto minha atenção para a casa, nos sons que ela tem. Há muita vida em toda a sua formação. Energia retida 118


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de tantos que nela estiveram e, maior ainda, daqueles que nela vieram buscar abrigo e refúgio. O sol tisna sobre as telhas de zinco e elas se contorcem, estalando feito velhos ossos, entrevados pela falta de movimento. O chuveiro pinga de quando em vez e quebra o tempo (que também escorre aos pingos). A porta do roupeiro se abre, sem que ninguém a toque. Os risos da minha infância correm pelos corredores da casa - que também vibra e vive e não passa nunca na memória. A tarde mormacenta se alonga sobre meus ouvidos. Há um silêncio profundo sobre todas as coisas - que vou decifrando quando me permito calar junto com ela. Com os olhos fechados dou-me conta da prevalência de um sentido sobre o outro. Os grandes enigmas existenciais não são tangíveis. Tampouco podem ser percebidos com o mero olho de quem vê (mas não enxerga). Se tudo o que parece insensível se faz vivo (tocado por algum outro fenômeno natural), tudo o que existe faz parte do mesmo arranjo da vida. Silenciar para entender o seu significado é a nossa grande missão. Estaremos todos aptos a esse entendimento?

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O poder da gratidão! Fabiani Nunes Turchetti A gratidão faz com que você seja receptivo às bênçãos de Deus. Tudo o que você quer que a vida lhe oportunize chega a você mais rápido quando você é grato. Grato a quê? Grato à vida, à luz e ao calor do Sol, ao verde das árvores, às flores que embelezam e perfumam, aos pássaros que nos encantam com seu canto que a vida é alegre e boa; grato a Deus, aos seus pais, ao seu marido, esposa, namorado(a), companheiro(a) ou seus filhos, que sempre vêm para ensinar a melhorar a nós mesmos, aos seus antepassados; grato às dificuldades que geram excelentes aprendizados, ao passado que lhe trouxe até aqui, ao futuro que você está construindo; grato ao ar que você respira, às suas roupas, à música que você gosta, ao livro que você lê. Em tudo há motivos para ser grato. É o sentimento de gratidão que lhe conecta com o poder de Deus. O poder infinito que emana de Deus é aproveitado por você se estiver receptivo. E essa receptividade acontece com a gratidão. Somos feitos à imagem e semelhança de Deus, portanto, somos perfectíveis. E ao longo do nosso processo evolutivo, vamos transformando as nossas vidas e as vidas ao nosso redor de acordo com os nossos pensamentos e ações. Quando ativamos o poder da gratidão, a fé vem junto. A fé se manifesta quando há gratidão, quando há reconhecimento do poder de Deus em nossa vida. Gratidão é assim: Gratidão é a assinatura de Deus colocada na sua obra, quando se é grato, alcança-se a 120


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individualização que liberta para atingir esse estado. O caminho é longo e atraente, fascinante e muito desafiador, então quando se é grato a gente não experimenta, nem decepção, nem queixas, porque não se espera nada em troca. A gratidão é algo que deve ser desenvolvido por todos nós, a vida está sempre nos oportunizando aprendizados e sempre devemos agradecer. Até mesmo por aquele "não" que recebemos, que logo ali na frente pode se tornar um "sim". Todos os dias ao acordarmos podemos nos perguntar, quantas coisas eu posso fazer, quantas coisas eu posso corrigir, quantas coisas eu posso aprender, o que mais é possível, como posso melhorar? O sentimento de gratidão nos faz crescer e evoluir, e acreditar em algo maior que tanto nos consola, nos auxilia nas dificuldades e nas tempestades da nossa vida, nesse agradecer diário, vamos construindo a nossa vida. Cultive o hábito de ser grato. Porque quem é grato se torna uma pessoa melhor, atrai o que há de melhor e recebe o que há de melhor. A gratidão é um sentimento muito nobre e deve ser cultivada no nosso dia a dia. O que é gratidão afinal? Quando alguém é gentil comigo ou faz algo, eu agradeço! Isso é EDUCAÇÃO! Não é Gratidão. Eu vou ao Centro Espírita, na igreja ou templo e agradeço! Isso é ORAÇÃO! GRATIDÃO É MUDANÇA DE OLHAR. Ao invés de você olhar para o que não está dando certo, você começa a olhar para o que está dando certo. 121


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GRATIDÃO tem a ver com AMOR! Que Deus possa nos amparar e nos abençoar e nos ajudar nesse processo de evolução e que possamos desenvolver a gratidão através do amor no nosso dia a dia.

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Luz e sombra em nós Fátima Friedriczewski Todos nós que vivemos nesta dimensão estamos afeitos à dualidade: temos um lado luz e um lado sombra. E temos que conviver com isso. O lado sombra são nossos traumas, nossas dores congeladas no tempo, a palavra engasgada e não dita, o silêncio que não veio, mas que sobrou. O lado luz são nossa alegria, nossa leveza, os abraços dados, as horas plenas, a conexão com o centro de nós mesmos. Perguntamo-nos se não temos que jogar o nosso lado sombra fora, jogá-lo bem longe, para que não mais obscureça nossa vida. Pois eu digo que devemos abraçá-lo, aconchegá-lo junto ao nosso peito. Quando olhamos e abraçamos a nossa sombra, quando cuidamos dela com carinho, não cuidamos da sombra dos outros. Isso tudo nos remete a uma tradição muito antiga, mas também muito atual, a tradição original dos remanescentes da dimensão de Capela, que alcançaram um elevado grau de pureza e desenvolvimento interior, que prevê três aspectos no nosso desenvolvimento: o não julgamento, o amor incondicional e a conexão com a essência. O não julgamento é justamente isto: olharmos para nós, para a nossa sombra, curarmos as nossas dores, colocarmonos no lugar do outro quando preciso. As coisas que nos incomodam nos outros são aquelas que gritam dentro de nós. O outro é sempre o espelho em que nos miramos e 123


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vemos refletida a nossa imagem. O amor incondicional é o amor por todos os seres indistintamente, amor sem posse, sem interesse, amor simplesmente pela alegria de amar. E amar é sempre partir. A conexão com a essência acontece naquele momento indelével, que parece que foi uma eternidade e foi só um instante, em que através da meditação, conectamo-nos com a parte superior de nós mesmos, com a Dimensão Superior, ou a Máxima, e voltamos transformados em alguém melhor. Somos seres em construção, que vivemos num planeta lindo, a nossa Nave-Mãe Terra! Somos repletos de potencialidades e estamos em evolução. Cabe a cada um de nós fazer o melhor por si próprio, e quando fazemos isto, também mudamos o nosso entorno, melhoramos o mundo.

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Nosso tecer diário Fernanda Chaves do Nascimento Vivemos num emaranhado de teias que vamos construindo ao longo de nossas vidas... Nem sempre essa construção é feita com a mais simétrica harmonia... Mas ela acontece todos os dias... Nesse tear vivemos os mais diversos tipos de enredos: de sonhos, desilusões, amores, mágoas, amizades e, mesmo sem querer, tristezas e decepções também são tecidas no tear da convivência... Em alguns momentos construímos teias que aproximam, outras nos afastam e, nesse emaranhado de nós, é tecido um grande abismo, algumas nos aprisionam, sufocam e até nos paralisam, mas ainda bem que existem as teias que libertam, que nos trazem alento e paz... Não podemos esquecer das teias que nos amparam nos momentos mais difíceis que passamos em nossas vidas, apesar de existirem teias que nem imaginaríamos, mas nos soltaram... O que dizer das teias complicadas, envolvidas por mal entendidos que ao longo do tempo nos assustam, que mesmo depois que se desmancham ainda nos assombram despertando os sentimentos mais sombrios... Mas ainda bem que existem as teias da cura, do amor e da esperança, elas que nos ajudam a ser um ser humano melhor, a acreditar novamente em nós mesmos, a sonhar e assim essas teias vão iluminando o nosso caminho com a sua prece, com a sua luz... 125


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Essas teias diárias que construímos e reconstruímos, sem nos darmos conta que são breves, frágeis e raras e que um dia serão apenas memórias a serem lembradas, guardadas, eternizadas ou esquecidas... Que possamos fazer dessas teias momentos simples, bonitos e verdadeiros que em cada teia construída estejamos por inteiros, com o coração aberto aos bons sentimentos e acima de tudo que sejamos honestos com cada teia... E assim seguimos nesse tecer diário, até quando não nos cabe saber, apenas viver...

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Ser infinita Gabriele Pedroso Pazini Ser profunda Ser intensa Não ter pressa Tu não afundas Na curva, destaca-te No perfume, és presença Não chores, ó, rosa de jardim A vida é passagem, tu gostas de mim Gostas de mim, de ti, e de nós Mulheres guerreiras, infinitas Pensa em nós, neles, nelas Não desistas, seja pelas Pelas dores, por amores Por paixões, por ilusões Por risos, por choros Deixa tua marca no mundo!

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O que é ser livre? Geanine Bolzan Cogo As saudades dos tempos de infância vêm e vão e nos trazem momentos de completa inocência, onde víamos amor em tudo, ou completamente tudo. Quando adolescentes, meninas se transformam em moças inseguras de seus corpos, de suas ideias, e o que eram certezas de antes, viram medos constantes. A juventude vem mostrar a todas nós para que viemos ao mundo! Temos mais segurança de nossas escolhas e nos firmamos em um propósito, ou em mais de um. Mais uma década e meia e nos apresentamos como um espírito livre! Somos assertivas em nossas falas, choramos quando é preciso e nos abraçamos umas às outras para seguir em frente - mesmo com saudade daquela menina que deixamos para trás. Mulheres livres costumam ser comparadas com adjetivos hostis. Homens, muitos deles, têm uma percepção de perigo, real ou imaginário, ao se depararem com elas. A verdade é que somos autênticas, e isso só as experiências da vida que vão nos mostrar. Sabemos que a estrutura da sociedade é machista e patriarcal, impondo-nos determinados comportamentos - físicos e mentais - para cada passo que dermos. Mas uma coisa é certa: depois que descobrimos a nossa liberdade, nunca mais seremos as mesmas!

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Saudade... Gisele Marchi Pinto Afirmação da alma de que algo nos foi caro; que nos foi raro; de que nos fez bem. De que coisas boas foram vividas. Saudade, Faz brotar dos olhos lágrimas ardidas, que escorrem pelo rosto e ao encontrarem a boca, se misturam a um riso tímido, que os lábios tentam esconder. Saudade, Força poderosa. Tem o dom de encher nossa alma de luz, ao trazer uma lembrança feliz do coração. Mas também, sabe maltratar como ninguém, quando ressalta uma ausência, mostrando o vazio que se tem. Saudade, Tem nome, tem idade, tem endereço e simplesmente está em algum lugar, em algum tempo... em uma caixinha das coisas que foram ou em outra, das que nem puderam ser. Saudade, Coisa valiosa, guardada com todo zelo no peito. Quando vem, chega sem pedir licença e por coincidência, a minha sempre me leva até o calor de certo alguém. É... Saudade é assim, coisa sem fim.

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Depois da tempestade Gisele Vieira Rodrigues À noite meus olhos choram E naquela noite enquanto eu olhava para o céu e admirava as estrelas, eu chorei Enquanto minhas lágrimas rolavam e molhavam meu rosto eu acreditei Acreditei que um dia tudo passaria, a dor cessaria para nunca mais voltar e minha alegria reinaria Percebi que as minhas lágrimas eram um desabafo, ou até um consolo e com elas toda a dor sairia do meu corpo Notei que depois de toda tempestade um arco-íris surge lá no horizonte, e nele é que depositamos nossa esperança E vi minha alma se encher de alegria, onde a tristeza um dia fez morada, hoje ela não mais vivia Ah, como eu ainda amo sonhar, sonhar com um dia em que todas as dores possam acabar E então eu acordei, Amanheceu e percebi quão grande é a esperança que habita em mim, num dia a dor veio e no outro teve fim!

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Caixinha de veludo vermelha Ieda Beltrão A brisa toca de leve as folhas secas que saltam para todos os lados como a brincar brejeiras pela terra seca. O olhar da linda moça se perde naquele cenário, sorri como uma cúmplice das folhas douradas e brincalhonas. Por um momento sente vontade de saltitar livre como elas, brincar com o ar, respirar sem nada sentir, apenas alegria. Um suspiro, ela se volta para o horizonte, parece querer ver algo que não chega, algo que não consegue ver. Suas mãos pequenas e delicadas alisam impaciente uma caixinha de veludo vermelho. Um perfume doce se espalha pelo ar, parece de jasmim. Ela tenta entender de onde vem, olha em volta, e vê apenas árvores quase nuas e terra seca. O sol quente e impiedoso parece feliz em acariciar seus cabelos cor de mel, envoltos por uma longa fita branca. Ela agora sorri, e por Deus, até parece um anjo de tão bela! Sim, agora estou chegando, sim, era eu que ela estava à espera. De longe a vejo, como pode ser tão linda a minha amada, chega a ofuscar a luz de tão perfeita. Tento amenizar o passo, preciso conter a emoção, a vontade de tomá-la nos braços, beijar seus lábios rosados e esquecer tudo em seus braços de fada. Ela me olha de um jeito tão doce, me envolve, aquece minha alma. Não, não quero me apressar, vou diminuir os passos, sim, é melhor assim! Quero prolongar o máximo esse momento, preciso fazer isso. O silêncio torna-se insuportável, aumenta o som das batidas de meu coração, que parece querer saltar do peito. 131


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Mas é natural, afinal sei que estou diante do amor de minha vida. Tão pertinho, a poucos metros e estarei a sua frente. Um bem te vi canta faceiro, como a debochar de minha ansiedade. Estufa o peito a ave alegre e solta "bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi". Sinto vontade de rir, meus lábios trêmulos, apenas esboçam um sorriso tímido e sigo em frente, apertando entre as mãos uma caixinha de veludo vermelho. O tempo de repente pareceu parar, nada além dela parecia existir. Estava bem a minha frente, seu rosto era mimoso, seus longos cabelos de mel balançam ao vento, brilham ao sol, luz que se espalha, fagulhas cintilam no ar. Tão linda, tão perto, sinto o perfume de rosas a me envolver. A moça de vestido azul parece não ter pressa, apenas me olha com ternura. Sonho! Olha-me com amor, sim eu sei que seus olhos não podem mentir, eles traduzem o que sente o coração. A voz suave toma conta daquele deserto seco. Não consigo aceitar suas palavras, não quero compreender. Minha voz sai rouca de dor, tem as mesmas palavras. Trocamos as caixinhas de veludo vermelho, sem nem ao menos tocar nos dedos. Raquel e Fábio gravados nas alianças brilhantes. Sorrimos em meio à confusão de sentimentos negados, olhamos o horizonte confusos de tanta dor e mais uma vez vamos nos afastando. Ela vai se distanciando na companhia do cachorrinho marrom, que corre alegre ao seu lado, fiel amigo que sente sua tristeza. Fico ali incapaz de me mover, de tirar os olhos daquela moça linda, meu amor. Olho para a caixinha delicada. Ra132


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quel! Sim, preciso seguir em frente, ela está a minha espera, minha noiva está a espera, ela sabia que a irmã entregaria a mim nesta tarde. A moça de vestido azul corre agora estrada afora, o cãozinho marrom segue a seu lado. Ela aperta a caixinha vermelha na mão. Arde, ela precisa se apressar. Fábio! Sim, ele a espera, sim seu noivo a espera. Ele sabia que o irmão entregaria a mim nesta tarde. Bem -te -vi, bem- te -vi, bem- te -vi canta a ave amarela testemunha de um amor. Triste canto do pássaro que tentou sem sucesso dizer a eles que amor de almas não se apaga, tenham paciência. Bem -te -vi, bem- te- vi....

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Cartas marcadas Indiara Fátima da Silva Então... O que é a vida em relação à morte? A vida é um jogo vencido jogo de cartas marcadas e nós somos o carteado, onde a morte sabe quando e como ganhar o jogo. A vida é um blefe e a cada hora que passa, buscamos ter mais, ser mais... justificando necessidades da vida esquecendo que, ao nascer, a vida nos entrega pra morte. Caminhamos com ela, lado a lado até o último instante decisivo do jogo. Quando a morte escolhe uma vida, e dentro da sua jogada, dá sua última cartada.

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Reflexão Iliane Michelini Vieira Hoje, parei para refletir na situação que começamos a viver há mais ou menos um ano atrás, com a atual pandemia de COVID 19. Sei que tudo tem sua hora e o seu momento certo, pois creio que a vontade de DEUS nem sempre é a nossa. Acredito que a humanidade estava precisando de transformações, pois os sentimentos de amor, respeito, afeto e valorização tinham se perdido. Agora nesses novos tempos as pessoas tiveram que se adaptar e se reinventar para poder sobreviver nesse grande cenário, pois toda a sociedade passa pelo mesmo problema. Em virtude disso, as famílias ficaram mais unidas, estão se valorizando mais, o amor e o afeto entre as pessoas está fluindo, enfim, a sociedade começou a ter harmonia, reconhecendo que a vida faz sentido quando somos amados e respeitados uns aos outros. Desse modo, conclui que a vida repleta de compromissos profissionais e pessoais, não levava a devida importância que dávamos, assim, não percebíamos que era tão essencial a atenção, o afeto, o amor, o carinho e as pessoas não reservavam tempo suficiente para viver esses momentos especiais. Aprendi que temos que amar mais, confiar mais e valorizar as pessoas que estão ao nosso redor. Devemos amar mais uns aos outros, confiar mais nas pessoas, porque orar por alguém é dizer" eu te amo", o ato de orar é uma forma de demonstrar afeto, mesmo que seja de longe ou sozinho 135


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é fortalecer quem desejamos que esteja bem. Enfim, não precisamos estar juntos para abraçar ou transmitir positividade a alguém, ou seja, é abraçá-lo invisivelmente sem sua presença física, é o amor incondicional. Ame, respeite, valorize-se e viva o hoje como se fosse o seu último dia.

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Colcha de retalho Ilma Schiffer Bernardi A minha história é contada de forma fragmentada, como se fosse uma colcha de retalhos. Cada pedaço é uma parte de mim e da minha vida. Escolhidos e recortados no tamanho certo da minha inspiração, coloridos ou não, dependendo do cultivo das emoções que se encontram na base das principais ações construtivas. Unindo um pedaço no outro com carinho, desvelo e atenção fui confeccionando a minha escrita, de retalho em retalho pensei serem as páginas de meu livro. Com cuidado, escolhi os melhores tecidos, pintando com um olhar luminoso e pacífico as mais lindas imagens, sem deixar de lado, aqueles que talvez amarelecidos pelo tempo já não precisaram mais fazer parte das minhas lembranças. A faculdade humana imaginativa traz a capacidade de criar formas mentais ou formas - pensamentos que agem ativamente em torno do meu "eu" criador que, em palavras, valorizo e dou importância fixando em minha intimidade e concretizando em policromias diversas. Se eu colocasse esta colcha de retalhos em minha cama, meu sono seria mais leve e meus sonhos os mais instigantes em todos os matizes.

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Fronteiras Isabel Cristina da Rosa Entre todas as coisas que me impulsionam, o desejo de conhecer o estilo de vida de outros países, creio que seja o que mais me fascina. Tenho percorrido caminhos, viajando sozinha, em busca de aprendizado e vivência com diferentes culturas, costumes, línguas e curiosidades. Nos 42 países já visitados, sempre houve uma empolgação ao cruzar as fronteiras, na expectativa do que encontraria no percurso, novas pessoas, novas experiências e um novo desafio. Falo em desafio porque sou mulher e uma mulher viajando sozinha precisa de determinação e coragem quando se joga no mundo carregando somente uma mochila nas costas. Nunca tenho um roteiro bem definido, gosto de ter um rumo, mas não um plano engessado, porque sei que vou mudar de ideia no caminho. Então, tudo que vier sempre será um grande desafio, um aprendizado e uma surpresa. O mundo não é um bicho papão, mas tem coisas que necessitam de atenção e de cuidado redobrado, além de uma boa estrela da sorte, é claro. Já passei por muitas situações inusitadas e, algumas delas, foram nas fronteiras. Cada país tem suas regras e, temos que nos adaptar a elas, como forma de respeito à nova terra que nos recebe. Certa vez, decidi viajar pela Ásia, eu tinha 2 meses para "mochilar" e escolhi Tailândia, pelo desejo de conhecer as belas ilhas e praias no sul do país. Porém, após 3 dias em Bangkok, me dei conta de que passar 2 meses no mesmo lugar, não seria interessante para mim que gosto de circu138


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lar e, então, resolvi mudar o rumo e sair em direção contrária para explorar outras cidades e países próximos antes de ir para o sul. Saí de Bangkok de trem em direção ao norte da Tailândia, viagem espetacular, visitei Chiang Mai, Chiang Rai e algumas aldeias incríveis, fazendo amizade e trocando experiências. Daí, fui a Mianmar, país que há pouco tempo liberou a fronteira para receber turistas estrangeiros. Até aí tudo tranquilo. Foi então, que decidi conhecer o VIETNÃ, país que sempre me atraiu pela sua história. Para isso, eu teria que chegar a fronteira de LAOS e, atravessar este país para chegar em Hanói, capital do VIETNÃ. Aí começa a aventura. Eu tinha 3 opções, barco, ônibus ou avião. Como boa mochileira, optei pelo mais barato e fui de ônibus. Na fronteira de Laos, embarquei num ônibus em direção a LUANG PRABANG, uma cidade ao norte do país, onde eu poderia obter o visto para o Vietnã. O percurso era de 478km, o que imaginei fazer em 5horas, porém, a viagem durou, não menos que 12horas. O trajeto era um verdadeiro desfiladeiro, cheio de curvas apertadas e abismos que, em vários momentos, me imaginei despencando montanha abaixo. Sem falar no ônibus, que até o piso era furado. Mas tudo bem, eu adoro aventuras e era uma experiência de algumas horas. A velocidade não passava de 30km, 40km/h e, em muitos lugares o ônibus parava e dava ré para que outro cruzasse sem que, nenhum caísse nos penhascos. Aí senti o verdadeiro e real significado de "frio na barriga". Laos é um país muito pobre e o ônibus, no qual embarcamos, não tinha banheiro, não tinha ar-condicionado e o encosto da poltrona à minha frente estava quebrado e, conforme o balanço, o encosto caía nos meus joelhos. Não 139


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deu outra, cortei a cortina e usei a cordinha para amarrar o banco. Às 5h 30min da manhã, ainda escuro, chegamos num posto de gasolina na beira da estrada e o motorista gritou: "LUANG PRABANG"! E todo mundo começou a descer, pegar sua bagagem e embarcar nas TUK TUKS (motocicletas que servem de táxi). Eu fui a última a descer porque estava no fundo do ônibus e, para minha surpresa.... Cadê minha mochila??? Estava muito escuro e só sobrava uma marrom no chão e, eu disse ao motorista: - Esta não é minha mochila. Mas não havia outra e o motorista dizia que era. Logo pensei: alguém levou por engano. Em meio a "é ou não é", eu já estava apavorada e o motorista insistia que aquela era a minha mochila e, eu dizia que não, a minha não é marrom, é cinza com detalhes vermelhos. Foi quando o motorista sorriu, com poucos dentes na frente, deu uma caminhada ao redor da mochila olhando bem para ela e começou a chutá-la. Eu não estava entendendo nada, mas vi que começou a sair uma poeira densa da mochila e ele reforçou os chutes até que, para minha surpresa, apareceu as cores cinza e vermelha, era a própria coberta de terra. Então, foi minha vez de sorrir e lembrar que, quando embarcamos, vi o fundo do ônibus furado e, em muitos trechos da montanha a estrada era de terra, a qual entrava no ônibus e nós cobríamos o nariz e a boca para não engolir poeira, nesta exótica estrada de fronteira. Chegando em Luang Prabang, fui providenciar uma pousada e o visto para entrar no Vietnã. Se há uma coisa que tenho muito cuidado, é com meu passaporte, perder isto em viagem num país estrangeiro é encrenca na certa. Informei-me com a dona da pousada onde eu poderia fazer o visto e, para meu espanto ela disse: - Eu ligo pra lá e eles 140


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vêm buscar teu passaporte aqui. Eu disse: - O quê? Como assim? Entregar meu passaporte assim é arriscado. E a dona na maior calma me disse: - Mas aqui é assim. E pegou o fone, ligou e como num raio logo esbarrou ali um cara de moto e perguntou se era eu que queria o visto para o Vietnã. Geleiiiiiii mas disse sim. Ele estendeu a mão para pegar o passaporte e disse: - volto em 2 dias com o visto. Gelei outra vez. Olhei para dona da pousada e ela disse tranquila: sim, pode confiar. Passei 2 dias explorando a cidade e acabei me encantando com a infinidade de templos budistas e a natureza linda que a rodeia, porém, rezei 24 horas para meu passaporte voltar com o visto. E voltou, daí entendi que a simplicidade e a tranquilidade do povo estão ligadas à confiança e embarquei num voo para o VIETNÃ, para compensar o tempo de espera. VIETNÃ é um país belo e apaixonante pela sua gente simples, amável e hospitaleira, e, por conta disso, decidi viajar de norte a sul, ou seja, de Hanói a Hó chi min, durante 2 semanas, explorando tudo que me foi possível pelo caminho. Há lugares fantásticos. Chegando em Ho chi min, antiga Saigon (lugar onde aconteceu a guerra do Vietnã) me preparei para cruzar a fronteira do Camboja e, chegar às ilhas do sul da Tailândia, que era meu primeiro destino da viagem. Pesquisei na internet a forma de obter meu visto cambojano, vi o custo, mas, fui me certificar numa agência de turismo se precisava algo mais ou quais as recomendações para entrar no país. A agência era uma filial do Camboja instalada no Vietnã para fazer o transporte de ônibus, de viajantes que cruzam a fronteira. Então, o visto poderia ser feito diretamente com a agência, através do guia, que faria o trâmite de todos os passageiros na imigração. Ok, parti141


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mos. Assim que saímos, o guia deu boas-vindas e comunicou que ia recolher os passaportes e o valor de U$35,00 de cada um para pagar o visto. Eu levantei o braço e disse: Senhor eu vi na internet que é U$25,00. Ele me olhou e respondeu: - U$35,00. E eu disse: vou pagar o valor que vi na internet, porque eu mesma posso fazer minha imigração. Afinal, eu havia pagado a passagem do ônibus na agência. E o cara não me respondeu, pegou o telefone e fez uma ligação falando em vietnamita, língua que eu não entendia, e veio até mim e disse: - fala com meu chefe. Eu perguntei se ele falava em inglês porque eu não falo vietnamita. Eu peguei o fone e o chefe não me deu tempo de falar nada e disse:- você está no meu ônibus e vai pagar o valor que eu quero ou vai ficar presa na fronteira e desligou o telefone sem me dar tempo de resposta. Eu entreguei o fone ao guia, paralisei por uns minutos e disse:Ok, aqui estão os U$35,00 do meu visto. O cara deu um sorrisinho com o canto da boca e se afastou. Eu pensei: bom, é melhor pagar o que eles querem e me livrar de encrenca. Ao chegar à fronteira, descemos do ônibus e o guia disse: vou fazer os vistos e, vocês podem passear comer algo e, em 1hora estejam aqui para seguirmos. Eu estava com fome e, tudo que achei ali, foi ovo cozido, pé de galinha e um tipo de salgadinho cheio de corante. Comi ovos como se fosse um bom risoto italiano. Passado o tempo, encontramos o guia e, ele disse: - vamos passar a bagagem no raio-x e o agente de imigração vai chamar um por um, entregar o passaporte e fazer uma foto e novamente me deu aquele sorrisinho de deboche. E começou a chamada e todos iam passando... passando... meu nome estava demorando... só restava um passaporte 142


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quando ele gritou Isabel!! Ufffa, finalmente sou eu e o agente me olhou e disse: - passa aqui. E meu coração acelerou. (Em um segundo me imaginei naqueles documentários de Férias na Prisão.) Saí da fila e o agente perguntou: - Essa bolsa é tua? - Sim, respondi. - Abra! Disse ele com um tom autoritário na voz. Eu tinha minha mochila e mais uma bolsa que acabei comprando no Vietnã, porque lá as coisas são muito baratas e me empolguei comprando roupas e souvenirs, então a bolsa estava cheia. Eu a abri e o agente pegava uma peça de cada vez e dizia: isso é teu? -Sim, eu disse. E ele falou: - Quer levar? U$30,00, e isso também? Sim, tudo meu. E ele U$50,00.... outra U$25,00....outra U$40,00 e assim foi com metade das coisas que eu havia comprado, a soma de tudo, (que paguei muito barato), já estava superfaturado em mais de U$300,00 . Na hora pensei: Ferrei-me, preciso fazer alguma coisa para sair dessa. Eu olhei para o agente e vi que ele tinha soltado meu passaporte na mesa para abrir minha bolsa e tentar me extorquir e reagi dizendo: Senhor: meu ônibus está saindo e, como se tivesse muito atrasada, passei a mão no meu passaporte, coloquei a mão no ombro do agente e disse: Comprei isso tudo para presentear alguém e você foi o escolhido, fique com tudo que estou atrasada e puxei minha bolsa (porque a mochila já estava nas costas) e saí rápido em direção à porta, foi quando ele me chama de novo e disse sorrindo : Hey brasileira, você precisa fazer a foto e, muito obrigado. Eu não sabia se ria ou chorava, mas, optei pelo sorriso porque souvenirs tem em toda parte. E assim adentrei no Camboja deixando para trás o que seria um bom agrado aos amigos, em forma de propina a quem tentava me extorquir, por não ter concordado com um valor 143


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superfaturado do visto. Fronteiras são assim, circunstâncias diversas e inusitadas. Cada país te recebe de alguma maneira e, quando viajamos sozinhas, temos que ter mente aberta e estar preparadas para situações de impasses, além da importância da comunicação e do jogo de cintura na resolução de problemas. Sem isso, talvez por lá eu ainda estivesse.

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*Ser* humano Isabela Oliveira Carlosso No verão que antecedeu a pandemia eu estava no litoral com minha família. Certo dia, na praia, fui comprar um crepe em uma lojinha no outro lado da calçada, à beira mar. Enquanto esperava na fila, notei um casal de idosos se aproximando, o homem guiava a frágil mulher em uma cadeira de rodas. Não conseguindo levantá-la na rampa que havia na entrada do estabelecimento, a deixou ali embaixo e perguntou o que ela queria. Alguns minutos depois trouxe dois sorvetes, alcançando um a ela, acompanhado de um leve beijo na bochecha. Em seguida, continuou empurrando sua cadeira até saírem da minha vista. Não pude exatamente descrever o que havia sentido com aquele momento. Voltando à areia, marejei os olhos emocionada. Notei, então, que viver é muito mais que estar vivo, é estar rodeado de pessoas e memórias ao seu lado, é muito mais do que se submeter a pessoas e situações que nos façam mal, muito mais do que seguir o que a sociedade impõe, muito mais do que deixar a nossa felicidade de lado e esquecê-la no caminho. Viver é um lindo conjunto, um verbo cheio de significados abstratos e como é mais lindo ainda você completar essa tarefa de incontáveis pequenos lindos momentos com intensidade e ter o privilégio único de chegar ao fim da vida sabendo que a sua valeu a pena, unicamente por ter sido a sua e aproveitar o descanso podendo analisar pacientemente o passado, é tudo que deveríamos desejar para nossa 145


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vida. Alguns meses depois, chegou essa tão devastadora e inesperada pandemia que acabou com nossa liberdade e a paz de muitas pessoas sensíveis, como eles. É tão reconfortante pensar que me cuidando, do meu próprio jeito e de alguma forma, pequena, mas importante, ajudei-os a estarem mais seguros, todos nós. Hoje, refletindo sobre o retrato que havia feito naquele dia, percebi que a empatia é a mais bela virtude do ser humano, por preservar nossa essência de ser um conjunto, de ser humano!

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Fragmentos de uma vida a dois Ivone Rodrigues de Vargas Já fui inteira, hoje sou feita de fragmentos, em instantes vi minha vida sólida se esfacelar e se transformar em muitos pedaços. Uma vida inteira construída a dois, de repente, tornar-se em apenas uma. Cada detalhe, cada lembrança dos momentos construídos e vividos é o que restou. Minha vida agora está toda fragmentada, sem unidade, dividiu-se em várias partes, pequenos instantes que vivi no decorrer dos anos. Sei que nada jamais será como antes pois minha história foi mudada, esmigalhada em pequenas partes, tornandose impossível de restaurar. O que me cabe agora é juntar meus caquinhos e guardar dentro do meu coração. Agora me falta o principal elemento, a minha base: Ele. Quando se constrói uma vida a dois e a gente se vê só literalmente se perde o chão. Agora sem meu pilar, minha linda construção se esfarelou, alguns pedaços serão recuperados, outros perdidos para sempre. A cada nascer do sol, eu me pergunto: Quem sou eu agora? O que sobrou? O que eu faço? Aonde me encaixo? Confesso, ainda não encontrei as respostas, mas vou juntar o maior número possível de cacos no meio dos escom147


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bros que virou meu coração e disso vou refazer a minha vida, fazendo do nosso casamento um lindo mosaico, transformando tudo o que vivemos e construímos em uma obra de arte, para que todos possam apreciar nossa linda história de amor vivida durante 28 anos. A você minha base, meu pilar, meu esposo, meu amor Jorge Alberto Abi de Vargas!

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Quimera da infância Jane Mariza Dornelles Tusi Espiga de milho Boneca da infância Que quando criança Contigo eu brincava Cabelo arrumado Com laço de fita E o nome de Rita Eu te batizava Conversas baixinhas Guardavas segredos Tocavas meus dedos Com a palha esverdeada E quando a colheita Vestiu-se de ausência Levou a inocência E um sonho embalado Quem dera novo grão Que ao solo lançado Germinasse o legado E a amizade guardada.

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Poetizando... Juanita Canabarro A noite chegou A madrugada sonhou E o dia acordou Saudei com alegria O escuro da noite E o claro do dia Abri uma janela No meu pensamento E minhas lembranças Brincaram com o vento Com o coração e olhos atentos Fiquei envolvida em mil sentimentos Perguntas busquei E respostas encontrei Viajei ao passado E voltei num repente Sentindo que a vida É um Divino presente.

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O farol em nós Juliana Borges Um farol, Um guia, Um talismã, Quem sabe uma novela? O que é nosso é luz a iluminar caminhos. Perceber que a cada lâmpada acesa, uma mente brilha. A cada abraço, nossa luz se multiplica. Que o sucesso não está no fim, ele é o caminho, um líder de si mesmo firmado na crença de que não é sorte. De que a cada mão estendida, experiência vivida, nossa certeza só aumenta, o FAROL se expande. E sua luz, acreditem, torna sem limites o que pensamos ser possível. Ela vira nossa mais sublime OPORTUNIDADE! De viver intensamente e Inspirar outros seres humanos Pela FORÇA DO BEM! 151


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Amores Júlia Cordeiro Das Chagas Amores são como asas Que nos fazem voar De todas as maneiras Faz bem amar Amar a vida, saber viver Aproveitar a cada minuto Sem medo de se arrepender Tudo na vida passa Um dia você é criança Em outro é uma "velha" limpando a vidraça. Por isso não perca a esperança Você pode ter mil amores Mas ame-se em primeiro lugar Nem tudo na vida são flores O mais importante saber amar...

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Essência Juliana Aline Zucolotto As pessoas te veem e pensam que te conhecem. Rotulam-te pelo que vestes, pelo que usas, por com quem tu andas. Emitem conceitos sobre ti baseado no que elas enxergam. Mas a tua essência...essa só tu conheces. Tua jornada é solitária, mulher. Só tu sabes quanto já andou, quantas vezes caiu. Quanto doeu levantar e continuar andando. Quantas vezes gargalhou de desespero e quantas chorou de alegria. Quantas vezes errou tentando acertar e quantas outras acertou mesmo sem saber o que estava fazendo. Quantas vezes gritou socorro sem ninguém ouvir e quantas vezes agradeceu por estar só, só você e Deus. Quantas vezes ajudou e foi ajudada, errou e se corrigiu. Só tu conheces tua jornada, tuas lutas, tuas derrotas ou tuas vitórias, teus pesadelos e teus sonhos. Tua essência é única, formada e forjada pela tua história. O que os outros pensam? Ah isso é com eles. E eles não sabem nada sobre ti. 153


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Futebol/mulher Laís Nunes da Silva Futebol um esporte mundialmente conhecido por vezes visto como um cenário masculino, hoje temos mulheres fortes e corajosas brilhando em campo ou nas arquibancadas. Mulher não é sexo frágil não, vence preconceitos e quebra tabus o tempo todo, mulher suporta dores como a do parto, carrega bebê no seu ventre por meses e inúmeras outras coisas. Mulher é uma dádiva que deve ser respeitada em todos as circunstâncias dessa vida, lugar de mulher é aonde ela quiser, seja dona de casa, ou seja, em um jogo de futebol. Mulher tem virtude, não abaixa a cabeça, segue na luta constante por igualdade em pleno século XXI; o tempo passa, mas, infelizmente, não são todos que evoluem, alguns ficam presos em um passado desigual e preconceituoso, mas seguimos exigindo nossos direitos e cumprindo com os nossos deveres em sociedade.

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Lágrimas de ouro Laura Ortiz Marques Havia sempre uma voz sussurrando nos sonhos límpidos de Héctor. E por isso decidiu procurar quem tanto o chama. Estava de frente uma estrada escura tomada por ventos frios, fazendo seu corpo tremer estando coberto por roupas finas, junto com os seus cabelos rebeldes sobre a altura dos olhos que se movimentaram como ondas calmas. A voz de sua mente se chama Angel. Todas as noites, Héctor esteve parado diante de papéis colados no diário, com anotações da mensagem que a garota lhe dizia em seus longos devaneios. Passou a crer que realmente era um anjo. "Encontra-me na estrada da lua. As luzes vão te guiar." Sempre assim. Calma, serena, suave... Lunaris, a estrada poderia dar a sua clareza, quando houvesse certeza obtida sobre o que realmente quer. Héctor fitou o céu, tendo o desígnio a própria Lua. Ela parecia demorar a descer no local certo de encontro. Entretanto, a voz da menina voltou a murmurar como se estivesse colada ao ouvido. Porém, não estava mais em um devaneio, causando-lhe surpresa. Poderia considerar uma parte da luz que o guiaria até o seu encontro. O moreno tomou o lugar - não literalmente - de um inseto desorientado. Virou de um lado para o outro em procura da moça que o chama. Mais uma vez, a estrela (não se dando a mediocridade de ser chamada de satélite) era a sua principal visão, e agora a sua luz no breu da estrada. - O que quer de mim? - resmungou apertando forte a própria mão. 155


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Suas unhas foram postas em seus joelhos, tendo o mesmo castigo das mãos, recebendo a pressão em desespero. - Angel... - clamou no mesmo tom que ela propôs desde o momento de sua chegada aos devaneios: calmamente. ..... O silêncio se fez presente. Uma pequena gota dourada pingou sobre as águas do lago Aylin, cujo era considerado um lugar sagrado para os viventes da lua. Visível ao olho nu, um halo se forma ao redor da imensa Lua. Conforme o pingo foi derramado, a auréola se fecha contra a estrela e no mesmo minuto, verteu-se em líquido amarelado com diversos astros. O mapa foi entregue e o caminho muito mais iluminado. Humanos possuem suas crenças neste vasto luzeiro nãonatural, tendo o conceito de que seus desejos devem ser feitos em determinadas fases. Mas para quem vive nesta galáxia, a própria lua permite que seus corações encontrem o que tanto necessitam. O pingo dourado nas águas de Aylin pode ser interpretado como "um desejo foi realizado". Assemelha-se com a estrela que cai e passa pelo céu da Terra - estrela cadente , sendo que os terráqueos fazem um pedido a ela. A finura dos lábios do jovem se estica para sorrir. A figura morena, também, esperava no fim do mapa. Seus pés enfrentaram uma corrida intensa para que chegassem ligeiro até a garota. O coração bate forte como tambores, o corpo todo estremece e a euforia comandando as emoções neste próspero momento. Quando os olhares se encontraram, uma lágrima áurea caiu sobre a face pálida de ambos. - Irmão... 156


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- Então era você que tanto falava comigo. Como eu não percebi antes? - Lembra o que acontece conosco quando a mamãe também partiu? A gente esquece para que não tenhamos que sentir dor. Temos sorte de nos encontrarmos antes de eu ir embora de verdade. Héctor foi rápido em puxar o corpo da irmã para dentro do seu abraço, encaixando o rosto em seu pescoço. - Amo te, Angel... - Amo te, Héctor... A carne virou em pó dentro do abraço do irmão. Um suspiro foi deixado no ar pela alma que partiu.

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Minhas rosas Leiza Maria Goulart Xavier Amarelas, vermelhas, laranjas, brancas, lilás e rosas... Um pouco difícil de cultivá-las, mas nada que um jardim bem cuidado elas não se desenvolvam... Cultivei seis lindas rosas no decorrer da existência no jardim da minha vida. Foram botões que se tornaram lindas roseiras com lindas rosas. Flores perfumadas são meus botões que nasceram das minhas rosas... Meus botões...Minhas roseiras Dedico esta singela mensagem para minhas filhas, netas e bisneta. Elas são minhas rosas, minhas roseiras e meus botõezinhos... Mas eu adoro cultivar rosas de todas as cores!

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Felicidade Lélia Ziquinati Peixoto Existe uma exigência em nossa vida atual, sermos felizes. Emerge um questionamento: _ essas exigências da sociedade são impostas para sermos felizes ou para parecermos felizes? Nessa perspectiva já pensamos na diferença entre ser e parecer. Tudo o que punge mora em nossa alma, escondido da realidade, aflorando de vez em quando em alguma situação específica na tentativa de fazermos parte dessa felicidade. A ideia de felicidade é atual. Raramente víamos nossos avós, bisavós, falando sobre felicidade. Felicidade profissional, amorosa, familiar, social. Não percebíamos essa associação da felicidade aos acontecimentos das relações interpessoais. As pessoas simplesmente escondiam seus sentimentos e frustrações no íntimo de seu ser. Não era comentado, falado, partilhado. Atualmente a felicidade é fruto de um individualismo, cada pessoa prioriza o que a deixa feliz e nesse contexto, as redes sociais se encarregam de tornar a felicidade obrigatória! A opinião do outro pode influenciar o que nos tornam felizes. Essa felicidade das "redes sociais" é mensurada por curtidas e compartilhamentos. Queremos apenas elogios aos nossos atos e decisões em um mundo que cobra nossa identidade em tudo. Nesse mundo a exigência é ser empático, compreensivo ultrapassando até os limites da ética. Dentro dessa visão a internet dá vazão ao desejo sermos o centro das atenções e assim, felizes. 159


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A maioria das pessoas não compartilha dores e fracassos, mas inundam o face com alegrias e vitórias... Vaidade. E levamos a vida comparando. A vaidade nos compara com os abaixo, a inveja com os acima, nunca estamos presentes e felizes no exato momento que vivemos. É impressionante como algumas pessoas gostariam de serem amadas incondicionalmente, sem críticas, ofensas, asperezas. Seriam plenamente felizes. Nessa constante busca pela felicidade acabamos nos tornando efêmeros. Deixamos as pequenas conquistas, gestos e momentos simples de nosso dia a dia para buscarmos a imortalidade de nossos pensamentos e ideias, seja através de um livro, um filme, um ato heroico, uma postagem incrível. Queremos ser lembrados pelos netos, gerações futuras, posteridade. Isso nos torna felizes, reconhecimento! Visibilidade! Fama! Para muitos isso é felicidade. Todos esses conceitos mudam muito, porém uma certeza sempre prevalece. Felicidade não é um privilégio de alguns. Não devemos esperar o futuro para sermos felizes, ou depositar na outra pessoa toda esperança para tal, ou infelizmente, em bens materiais. Achamos que dinheiro traduz felicidade? Dinheiro e felicidade são coisas distintas, mas não são opostas. Se buscarmos só o dinheiro não seremos felizes. Mas se buscarmos a felicidade através da positividade, de disciplina, de nossos sonhos, com objetivos e metas o dinheiro será uma consequência aliado a felicidade. Precisamos viver de forma simples, valorizando as riquezas existentes próximas, diárias, gratuitas. 160


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Sejamos felizes agora, não adiemos a felicidade, ela é atual e depende do seu grau de otimismo, de amor próprio, resiliência. O tempo passa inexoravelmente, a vida é rápida, breve, intensa. Precisamos viver intensamente, sem deixar "a vida me levar", estarmos presentes na promoção de nossa vida, para que ela não perca o sentido. Exercitar o perdão, o amor próprio, cultivar os relacionamentos, cuidar da saúde física e mental, buscando a satisfação. Trabalhe com amor, e esteja com as pessoas que você ama. Não esqueçamos do que realmente importa. Viver e ser feliz.

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Sorrisos Letícia Flores Solner de Oliveira Qual a importância que damos para um simples sorriso? O sorriso que nos alivia, que nos dá forças Há momentos que só o sorriso nos salva Tivemos tempos ruins, que quando passaram o sorriso apareceu Como é bom poder sorrir com quem a gente ama Que o sorriso seja nosso parceiro pela vida Que o sorriso seja abundante Que sorrir seja um momento único.

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Impressionantes (im)pressões em I Lidiane Locateli Barbosa (Im)pensável (Im)perdoável (Im)possível (Im)praticável (Im)prestável (In)abalável (In)acabável (In)aceitável (In)admissível (In)calculável (In)cansável (In)censurável (In)cicatrizável (In)combinável (In)comensurável (In)comparável (In)computável (In)confiável (In)confortável (In)declinável (In)delineável (In)descritível (In)desejável (In)disfarçável (In)dissociável (In)domável (In)dominável 163


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(In)dubitável (In)esgotável (In)estimável (In)evitável (In)explicável (In)igualável (In)imaginável (In)inteligível (In)observável (In)tolerável (In)sofismável (In)superável (In)suportável (In)variável (Ir)remediável (Ir)resistível (Ir)responsável Instinto ideal, inspirado, irreal Ilusão idolatrada, ilimitada, indeterminada Inspirações inusitadas Ilação imediata, instantânea, imaginada Insipiente, inesperada, incessante Incluindo irracionalidades, impensadas Inconfidencialidades inexpressíveis Instabilidades inexpressadas Instantaneamente... (IM)PRESSÕES.

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Quem é o opressor? E quem é o oprimido? Lígia Rosso "O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos". (Simone de Beauvoir) Muitas vezes deixei de postar nas redes sociais o que penso, pois senti medo da OPRESSÃO disfarçada de liberdade. Porém, meu momento atual de profundas reflexões está me permitindo fazer o que todo escritor tem como missão: ESCREVER para promover o pensar-agir-transformar a partir de si mesmo! Vejamos alguns pontos importantes para refletirmos sobre esse tema: O que dizer das pessoas que morrem assassinadas brutalmente porque reagem contra injustiças, pois não baixam a guarda frente aos opressores? Infelizmente, os casos de crimes raciais são um exemplo disso e estampam as capas de jornais mundiais mostrando essa árdua face da opressão em pleno século 21. Há opressores e oprimidos. NÓS somos cúmplices da opressão quando não reagimos, seja onde for! A violência doméstica é outro exemplo: o opressor e seus cúmplices (amigos, familiares) não hesitam em culpar a mulher, esposa, mãe. O discurso é sempre o mesmo: ela provocou! Isso é OPRESSÃO, meus senhores e senhoras! A própria imprensa mundial sofre boicotes dependendo do que notícia. Isso é opressão! Milhares de mulheres são estupradas e levam a culpa, surgiu até o tal do estupro culposo. Absurdo! Se reagem, se denunciam carregam esse sentimento de culpa pela roupa que vestiam no momento do crime. E a lista de exemplos de opressão só aumenta, 165


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tornando-se impossível colocá-la num texto só. Portanto, faço da escrita a minha catarse, única forma que consigo me recolocar no mundo. Um escritor não pode privar-se da liberdade de seu pensar por medo. Tendo-se em vista essas reflexões, concluo que sou aquela flor solitária que teima em florir por entre arames farpados. Sou esta que resiste, cuja voz não se cala e, mesmo no silêncio, fala. -------------------DESAFIO - reflita sobre esta pergunta: de quais opressores/opressões você já foi cúmplice ao longo da vida?!Todos nós já erramos nesse sentido, seja na vida pessoal, profissional ou familiar. Alimentamos atitudes opressoras sem perceber. Mas, sempre é tempo de reavaliar caminhos, decisões e atitudes. #resista

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Vamos? Lilian Balbueno Vamos dançar na chuva? Mas, cuidado! Dançar na chuva não é para qualquer um. Dançar na chuva é somente para os corajosos. Os desenvoltos. Os que não tem medo de parecer ridículos em frente aos outros. Dançar na chuva é não ter medo de se molhar. De se atrasar. De pegar um resfriado. É não ter medo que as sandálias escapem dos pés E que as lágrimas escapem dos olhos. Dançar na chuva, meu bem, É para quem quer viver. Experimentar. Errar, acertar, errar de novo e não esmorecer. Dançar na chuva chama trovões. Às vezes, granizo. Às vezes, ventania. Às vezes... sol! O extraordinário é isso: Quando a chuva passa, Quem dançou está mais forte. Mais habilidoso. Mais vivo. Se der sorte, até conseguirá enxergar um arco-íris. É desafiador dar seus passos com a vontade de sentir, de 167


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ousar, de conquistar. Sem capa, sem sombra, sem uma suposta proteção. A verdade é que quem se molha, para o bem ou para o mal, aprende, agrega, cresce, acrescenta. Podendo, assim, ensinar, desafiar e seguir corajosamente em frente. Sem medos das próximas tempestades.

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Silêncio Lilian Ferraz Zanella Paz A paz parece ligada ao silêncio Onde se faz barulho nada se escuta Onde nada se escuta, ninguém se entende Onde ninguém se entende, há luta Onde há luta, não entra a paz. Por isso, antes da paz Tem que vir o silêncio... Quem sabe a solidão Talvez uma saudade Quiçá a serenidade Silêncio, com certeza! Não há como haver paz No meio do barulho Uma palavra e zaz! Vem o embrulho Vem a confusão Então: psiu! Nem um Piu..."

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75 dias Luana Diello Nunca fui boa em falar, não quando se trata das coisas que sinto, por isso escrevo, não que eu seja melhor nisso, mas aqui fica mais fácil pois não preciso te olhar, e por favor não entendas isso como covardia, é que dói muito perceber que a magia dos teus olhos se foi. Concluímos que não havia sentido beijar outras bocas, tocar outros corpos, no início achei bacana da tua parte, concordar com minhas condições e assim iniciamos nossa história devagar, quase parando. O louco nisso tudo, foram os encontros carregados de todos os clichês, lembro bem do dia em que tu fizestes um bolo de chocolate com recheio de chocolate e cobertura de chocolate com raspas de chocolate, somente porque eu estava com TPM e depois colocamos o colchão na varanda, com vista para o mar e um céu estrelado somente para nós, olhamo-nos por alguns minutos e sorriamos, sempre sorriamos sem motivos, então tu passaste a mão no meu rosto para retirar os cabelos que tocavam na minha boca que tremia, eu fechei os olhos enquanto tu te aproximavas sorrindo, sim eu sei que estava de olhos fechados, mas às vezes eu abria somente para te ver sorrir antes dos nossos beijos, lembro que depois deitei em teu peito e suspirei, sei lá, até a TPM é agradável quando temos quem nos cuide. A intenção era de uma noite avassaladora, primitiva e aeróbica, mas nossa única certeza é que conosco tudo acontece naturalmente e ali estávamos apenas entrelaçando os dedos, eu te agradecendo por tanto e tu respondendo que 170


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o toque físico começa na mão, eu sei que muita gente não entenderia se ouvisse as coisas que nos dizemos, mas adormecer no teu peito, sentir teu calor, acordar com o sol mansinho e teu carinho aquecendo meus braços gelados, é tão a gente. Eu colecionei momentos assim, hoje é tão difícil olhar pra tela do celular e não ter nenhuma mensagem tua, até pisar na grama dói pois eu lembro das nossas caminhadas descalços, os piqueniques, as trilhas, os exercícios. Eu poderia não ter permitido que tu despisses minha alma, mas essa não seria eu, nego-me acreditar em um amor raso, um relacionamento feito somente de risos nada mais é do que um romance de verão. Mas, eu vou seguir escutando todas as músicas que selecionamos para nossas viagens, não me importa se minha garganta vai secar, ou o quão agudo será meu falsete, esse prazer em cantá-las tu não vais me tirar. Sabes, eu não consigo diagnosticar quais foram os primeiros sinais que entre nós crescia um abismo, se foram as conversas demais, franqueza demais, amor demais? Quando te perguntei, pois tenho esse direito recebi o teu silêncio, depois de uma insuportável insistência, um sussurro. Pela primeira vez na vida dei créditos às juras de amor, pela primeira vez na minha vida eu disse sim, acredito que uma hora me distraio e o luto desaparece, até lá talvez eu te esqueça, assim como tu esqueceste de tanta coisa que me disse, das canções, dos cafés, de nós. Fica muito difícil, acreditar que há poucas semanas tu tinhas tanta certeza, segurança, orgulho de tudo que construímos em 75 dias, e do nada mandas uma mensagem comunicando que reformulou a vida, que tudo mudou, mas 171


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que eu deveria entender, afinal eu medito, tomo suco verde, não como carne, já fiz até yoga, abraço árvores, sou a louca dos signos e planto a minha lua, e seria muito fácil superar pois tenho amigas maduras, uma gata, dois cachorros, um vasto estoque de vinhos, e uma terapeuta renomada! Como pode uma boca tão linda falar coisas tão cruéis? Mas, o auge do teu egoísmo, hipocrisia, covardia e narcisismo foi dizer que todo o amor que tu sentiste por mim, continua aí guardadinho no teu coraçãozinho, eu bem que podia ter previsto que era a maior furada me envolver com um leonino com Vênus em Gêmeos, que eu poderia contar sempre com a tua amizade. Ah, vai pra o inferno com essa tua solidariedade! Cara, eu prefiro viver atordoada por algumas semanas, possivelmente te enxergando até nos formatos das nuvens, mas sabe qual é a nossa diferença? Eu vou sair dessa, e vou sair bem, mais esperta, experiente e cheia de amor, o que sinto é lindo, profundo e transcendental, enquanto a ti? Nada! A cada anoitecer me importo cada vez menos, cansei de romantizar os motivos que precisei caçar para justificar tuas ações de cafajeste. Caso ainda tenha ficado alguma dúvida, eu não tenho problema com rompimentos e nem idade para morrer de amores, apenas vivê-los! Tudo na vida pode machucar, menos o que fizemos em nome do amor, não que ele nos torne imunes, é impossível amar sem consciência, e se a temos com ela vem a maturidade, e paramos de agir por impulso (ou medo), respeitamos o outro e nós mesmos, pois sabemos que somos um só. Eu sigo desejando exatamente as mesmas coisas na tua vida, igual daquela vez em que decidimos abrir os olhos 172


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juntinhos no momento do clímax, e assim proferimos bênçãos na vida do outro. Cara, vai ser feliz, voa! Toma um banho de mar, compra umas roupas, faz voluntariado por aí, sério tenta fazer algo de útil, só que para os outros. Sei que escrevi demais, e como não fazer com tanta coisa entalada, machucando, torturando, sufocando, que me prendia a ti? Na real, eu só queria te dar um conselho, por favor aprende te comunicar, fala o que sentes, mas se isso for demais, faz um voto de silêncio e não te comprometas. Cara, se um dia a gente se cruzar nesse mundão eu quero que tu saibas que te amei, mas não te garanto que ainda eu goste de ti, não que eu seja incapaz de sentimentos duradouros, é que tu não mereces tanto, nem meu amor, nem minhas lágrimas.

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A mulher que não é só flor Luciana Betin Machado A dor na alma duma mulher A difícil escolha de ser o que quiser Tentar florir todos os dias Tentar viver só de alegrias Ser presente na dura rotina Escolher o rumo certo em cada esquina Mas essa mulher não é só uma flor Mesmo assim se produz no amor Inventada por tantos ditos maldosos Inacabada por muitos estilos penosos Seus sonhos são puros e verdadeiros Seus destinos por vezes cruéis e traiçoeiros A mulher que não é só uma flor Ela sim foi quem inventou o amor Faz-se presente em todo lugar E conhece seu semelhante só no olhar Regou o mundo com a certeza Que foi criada pela própria natureza Cresceu forte e sem direitos Em muitos lugares se fez respeito

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A dor do amor virou uma página Sacramentada em uma máquina De um dia triste já esquecido Porque o amor nasceu esculpido Sentir- se amada e desejada sempre Carregando seu coração no ventre Na longa espera do amor maior Nos braços carrega um mundo melhor Sonhar virou sentido de vida Realizar já é uma atitude sofrida Mas essa mulher que não é só flor Foi inspirada no mais puro amor...

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Mulher Luciana de Oliveira Strunkis Ramos Mulher Mulher morena Morena do doce requebrado. Teus lábios carmim, Singelam palavras doces Num encanto sem fim. Tua pele Sobre o sol cintila, Corpo dourado, emoldurado Traz também as lutas Dos sonhos aventurados. Teus passos leves Flutuam em meio a espinhos. Andanças e danças, Traz na alma A ternura dos carinhos. És flor, és deslumbre, És furacão, és guerreira. Delicadeza e leveza Em teu olhar reflete, Verdade e sutileza. Mulher Mulher morena És sensível, forte e madura Qualidades ou defeitos Não importa És linda, leve, segura. 176


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Escolhas Lucineide de Fátima Marian Nunca esqueças do que vale a pena Faze escolhas em tua vida Se precisar de ajuda não hesites Aprende o valor das coisas e das pessoas Respeita quem te ama Sê paciente Olha ao teu lado e sente o que vida te propõe Não a traias Não fujas de teus erros Sabes o porquê de tudo isso? Porque a vida é feita de escolhas O caminho que percorremos agora implica no que decidimos ontem Sê prudente, ousa, sonha, faze de teus atos a luz brilhante de tua estrela!!!

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Vida Luiza Zolin Tier Vida é um entrelaçar De saudades e esperanças Realidades indiscutíveis Sonhos impossíveis Talvez, desilusões! É crença, descrença, Valor absoluto, Valor relativo. É o ontem, É o hoje, É o amanhã. É elevar-se É purificar-se É liquificar-se É edificar-se, Mas é também, Cair no fundo do poço. É debater-se Esfacelar-se E não encontrar saída. É a vida! 178


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No emaranhado interior de si mesmo Se analisa Se destrói Se corrói Se descobre E então? É a vida! A válvula de escape: O verso, A palavra, O abandono! É a vida! E, diante de tantas negativas, Um fio de fé, De resistência De esperança, De sobrevivência Existe! E o sobrenatural Espiritual Inabalável aparece

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E a matéria? Fenece! E, afinal, o que é que fica? Eis que uma centelha de luz surge, E acende a chama Da verdade, Da transitoriedade, Da vida que volta, Que floresce E amadurece E permanece Cíclica Eterna.

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Por trás da máscara Mara Rebelo e Maria Joceli Figueiredo Quem nunca desejou que o mundo parasse ao menos um minuto e desse uma trégua na frenética rotina do cotidiano? Em uma inusitada ocasião o mundo realmente parou por um ano inteiro fazendo a população aprender a conviver consigo mesma devido às medidas de distanciamento social. Foi nesse cenário que muitas mulheres foram convidadas a fazer as pazes com o lar, lugar que por muitos séculos foi sinal de uma opressão que limitava quem elas poderiam ser, o que poderiam dizer, fazer ou até mesmo pensar. O desafio agora era se fazer ouvir sem poder revelar o movimento dos lábios ao falar. Porém, a voz abafada por trás de uma máscara não inibiu o poder transformador daquelas que todos os dias transparecem sua verdade. Elas continuaram infinitamente mulheres.... Mãe que virou professora dos filhos, empresária responsável pelo ganha pão de tantas famílias que teve que administrar tudo de dentro de casa, aquela que teve que dobrar a jornada de trabalho para pagar as contas, a que não teve o privilégio de se isolar e precisou se expor aos riscos de uma pandemia, aquela na linha de frente fazendo o possível para salvar vidas que importam para alguém... É por elas, por todas nós e por tantas outras que a palavra vem dando voz a histórias, reflexões e versos repletos de empatia, sororidade e beleza; discutindo sobre a força e a vulnerabilidade da mulher, sobre a posição da mesma na sociedade, sobre as nuances acerca da expressão da femi181


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nilidade; provando através da arte e da escrita que o lugar ao qual a mulher pertence não são quatro paredes em uma rua qualquer. O lugar ao qual a mulher pertence é onde ela quiser estar e ousar ser quem verdadeiramente é.

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Solito Mara Flores Pereira Bafeja o vento norte Prenuncia temporal, -Em três dias! Fala o ancião Sabedoria de vida As dores avisam E as memórias vagam, A noite insone regurgita A vida a cobrar o Preço! A amada mãe, os irmãos queridos, O orgulho de ser companheiro do pai, -Vai dar bom este guri! Ainda escuta sua voz Ajudar a mãe e a levar roupas até o rio Brincadeiras com os irmãos ... Se perder nesse regurgitar é tão natural! Nem percebe a chuva, Ainda está mastigando memórias Solito apenas sonha Campo verde florido Suas mãos infantis tocam flores Ouve seu nome, Mamãe chama Quanta saudade dessa voz! -Papai quer te ver filho! Então corre para aquele abraço! Sente o calor e o amor naquele abraço triplo Exulta de alegrias! -Vai brincar, teus irmãos esperam! Lá estão, presença esperada, 183


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Sorrisos abertos, algazarra juvenil Até o cusco Amigo o esperava -Vamos correr? Seus olhos convidavam É só liberdade, vento nos cabelos, risos soltos! Pela terceira manhã Ninguém entendeu O sorriso em seu rosto vincado Não acordou, disseram- Não acordou! Talvez continue lá, feliz em sua eterna infância!

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Ciclos Maria Aparecida Nunes Azzolin Ciclos da natureza. Ciclos da vida... Tudo é aprendizagem e processo no viver e conviver... Sinta! Sinta-se. Alegre-se! Já é primavera e os pássaros cantam felizes... enchendo a vida de encanto, para quem se dispõe a contemplar. Viva! Reviva... Experimente! Reinvente-se. Feche os olhos... Respire... Ouça. Perceba. Perceba-se! O verão rima com diversão! Alegre-se! Comemore! Cante e dance mesmo que saia do ritmo... Sorria! Ria de si mesmo! Permita-se! Outono... 185


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Alegre-se! Folhas caídas...lições aprendidas! Ciclos começam... Ciclos terminam! Renovação e esperança! Inverno! Ah! Inverno! Alegre-se! Cachecol, lareira e chocolate quente! Vinho! Conversas e namoro... Momento de aquecer o coração. Aguçar a mente... Pensamento... Reflexão e ação. Sonhar e planejar. Realizar. A natureza canta, e você também... Se assim desejar.

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Refúgio Marcele Favero Almeida Faço do silêncio Meu abrigo, meu refúgio E dos meus pensamentos Um certo prelúdio. Dos encantos e utopias Dos gritos e murmúrios Em tudo que anseio Deixo-me perder Em um doce devaneio. Nessas idas e vindas De meu ser Em completas emoções Sinto-me em total companhia De minhas perfeitas imperfeições.

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Para onde vamos? Marelisa Obregon Vielmo Bianchini Pandemia! Tempo de vivências difíceis. Muitos desafios gerando ansiedade, Receio, insegurança e medo. Muitas aprendizagens significativas: Ser resiliente, ressignificar. Adaptar, transformar. Aperfeiçoar, inovar. Tempo de distanciamento. Saudade de encontrar as pessoas. Visitar, abraçar, confraternizar. Conviver! E para quem ama viajar? Fazer o quê?! Resgatar os espaços próximos Guardados nas lembranças Da infância dos filhos. Preparávamos o chimarrão, O lanche, a máquina fotográfica E partíamos conhecer Os espaços rurais de Santiago. Assim era e voltou a ser!

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Para onde vamos hoje? Passear no "Perau". Memórias gratificantes Que trazem o Ser Criança, A possibilidade de sonhar. Outro domingo: Chapadão! Relembrar os passeios No parreiral do tio André. O cheiro de polenta assada Na chapa do fogão. E os causos contados Na mesa de jantar. O mirante infinito do Chapadão Que permite visão panorâmica Enchendo nossos olhos Com as belezas naturais de Jaguari. O Vale do rio Curuçu Rodeado de pequenas propriedades, Casas pintadas, jardins floridos, Animais na pastagem, Lavouras de fumo, soja, milho Trazendo prosperidade.

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A Linha 1 com sua Gruta, Riqueza geológica única. Lugar de fé, paz e beleza. Atraindo visitantes também Para sua igreja, Descoberta por olheiros Cenário das novelas globais. Gruta de Ernesto Alves. Lugar místico e abençoado Com as Graças alcançadas Pelos devotos de Nossa Senhora de Fátima. O Túnel de Lava Pés Resquício da estrada de ferro, Que levava os viajantes à capital. Época em que o tempo Corria devagar, sem pressa. Cruzava Curuçu, Jaguari... O trem a fumaçar. Belas paisagens a vislumbrar. Hoje precisamos ficar atentos Para que o tempo não se sobreponha Ao que julgamos ser importante na vida. Passear, passear, passear. É o que queremos. Faz nossa mente voar. E se extasiar.

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Você Maria Eduarda Pavanelo Dorneles Gostar de você é a maior idiotice que eu já cometi perder-me nos meus próprios pensamentos é doloroso pensar na gente junto é consolador Parece ser tão simples, mas nós conseguimos complicar tudo pode ser coisa da minha cabeça, mas, céus, a gente combina tanto! Conversar com você me faz sentir em outro universo como se naquele lugar tumultuado estivesse só nós dois. Queria que você pensasse o mesmo, sentisse o mesmo queria que você me procurasse assim como lhe procuro será que você sente? será que você procura?

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Cheiros... Maria Luiza Lima Às vezes a frase "a vida passa muito rápido" se encaixa em determinados momentos, aqueles, os mais simples. Até quando se está em um local onde a última vez que fora foi quando criança, parece até que aquele lugar tem um cheiro característico, que você não sabe dizer ao certo. Quando eu era pequena estudava em uma escola e ficava o dia inteiro por lá, lembro-me que todas as vezes que almoçava sentia um cheiro único de feijão. Depois que sai da escola foram poucas as vezes que senti aquele cheiro, mas sempre que sentia lembrava do mesmo dia em que vestia uma roupa roxa toda combinando (coisa da minha mãe) e fazia muito frio, lembro também de todos os colegas sentados à mesa, até então nunca mais os vi. Assim eu vejo que a vida passa rápido, e que naquele momento eu não tinha nem um plano, nem um sonho, e não imaginava que a minha vida seria como é agora. Nesse tempo já se passaram mais de 12 anos, e parece que foi ontem que estava sentindo aquele cheiro. Ah, a infância... tão perto e ao mesmo tempo tão longe... Também tem os cheiros característicos de quem eu tenho convivência, cheiros doces me lembram a minha mãe que por incrível que pareça tem cheiro de bala, os perfumes mais fortes me lembram o meu pai, e cheiros de brinquedos novos me lembram o meu irmão. Hoje há um ano dos meus tão sonhados 18 anos, a tão desejada maioridade, vejo que cresci mais rápido do que 192


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esperava, e que a ânsia por fazer 15 anos já está no passado há um bom tempo e que tudo o que planejei desde o 9º ano da escola, vou ter que colocar em prática. "É, acabou a mamata" como diz o meu pai, a partir de agora começamos a mudar nossos pensamentos e focar no nosso futuro, porque aqueles cheiros de infância vão nos acompanhar para sempre... E sempre vou lembrar de como era bom apenas aproveitar cada momento sem pensar no amanhã.

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Num instante, de repente... Marisa de Fátima Ourique Lopes Ela acordou para a vida Decidiu: Respirou fundo Enxugou as lágrimas Curou as feridas Juntou os caquinhos Encarou seu espelho e a imagem que a aterrorizava De repente, mais que de repente Decidiu: Despir-se do figurino deplorável Daquele reflexo "efeito zumbi" Dos escombros, fez um templo de uma mulher decidida, energizada E daquilo de ruim que viveu Veio o estímulo e combustível para seguir em frente!

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Decidiu: Sacudiu a poeira E ganhou o mundo que antes ofuscara o seu brilho e a sua beleza Que fechou portas e oportunidades Que duvidou da sua capacidade De repente, mais que de repente Ela renasceu como uma fênix Bela e triunfante, Linda e empoderada Deu a volta por cima Decidiu, enfim... Vestir-se de amor próprio jurou jamais deixar algo ou alguém ousar tocá-lo. Fez dele o seu mantra, a sua cartilha E se foi distribuir amor para quem dele precisa! De repente, decidiu!

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Entardecer Marilaine Rodrigues de Souza Entardecer que chega... Levando consigo o meu sol.... Sol que se põe... Dando lugar à lua... Lua que brilha com a companhia das estrelas... Sejam bem-vindas suas lindas... Estou feliz por vê-las... E assim tranquilamente posso ressonar sem ao menos poder tê-las..."

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Volta para mim! Mariza Machado Sagin Mais uma noite cai e eu novamente pensando em ti. Fecho os olhos e te imagino na lua que ilumina a noite escura. No sol que aquece as manhãs de inverno. No suave balanço das folhas que caem na linda tarde de outono. Tudo passa em minha mente como se estivesse vivendo cada momento. Chego a sentir teu cheiro e o toque de tuas mãos. As horas passam, os dias se vão e eu ainda espero por ti. Volta para mim e enxuga a lágrima que molha meu rosto. Volta para mim, pois ainda te espero. Assim como as flores esperam pelo orvalho da noite. Como os rios esperam pela água da chuva, em dias de céu nublado. Volta para mim com sua maneira simples de ser e permanece comigo, pois preciso acreditar que amar ainda é possível. Ainda te espero! Volta para mim!

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Primeiro amor Marlene Brandão Hoje recordo, faz tantos anos Que nos amamos e não mais te vi Porque o destino que traça os planos Te levou pra longe e não te esqueci. Foste o primeiro, o meu amor louco Que durou tão pouco e desapareceu Que destruiu a minha esperança Só tua lembrança que permaneceu. O meu primeiro amor, o meu amor primeiro Foi tão verdadeiro quando em mim nasceu Eras meu tudo, amor, minha vida E na despedida esse amor morreu. E tu partiste para outros braços E os nossos passos não foram iguais Jurastes a outra o amor eterno Veio o inverno e não voltaste mais. Se amas outra, nada importa agora Foste embora e eu aqui estou Mas ainda te amo e algo me diz Que não és feliz e eu também não sou.

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Somos todas Marias Michele Joanine Matos Ibarros Somos louvor Somos amor Somos calor Somos motivação Sem fim, sem dor Somos os pés Que andam descalços no desconhecido Somos o destino proibido Somos o que não sabemos Somos Marias que amariam E sofreriam ao mesmo tempo Somos aquilo no imperfeito Somos bagunça no tabuleiro Mesmo sendo rainhas É apenas um jogo aonde Nós Marias saímos e voltamos A hora que devemos Só basta saber quando Morreremos

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Quem somos nós? Muriéli Miguel Schmitz Somos fogo que arde e queima, somos gelo que esfria e derrete... Tão sensíveis que somos, mas tão fortes e tão guerreiras. Somos tudo, menos frágeis. Somos navios querendo ancorar, somos borboletas livres procurando néctar em algum lugar... Somos tudo. Tudo. Tu.... E o telefone tocou e avisou uma mãe naquela noite fria de inverno que sua filha não viria para casa. O inverno passou, o florir da primavera chegou, depois veio o outono com a queda das folhas e o verão cujo único brilho era o sol... Assim passaram as estações e o tempo. - "Mãezinha, estou no céu... O mundo é tão cruel. - Aqui na colônia só tem gente legal, vovô está aqui, mas não tenho medo dele, sei que irá me proteger. Por que mamãe que o mundo é tão cruel? Não chores, minha mãezinha... Estou bem, mas com muita, muita, muita saudade do teu colinho... não fiques triste pela Kyara, estamos bem, foi vovô que me trouxe para brincar comigo, precisa ver ela correr e buscar a bolinha, quando falo em ti, mãezinha, ela se balança e acoa, acho que tem saudade tua também, mãezinha quando der nós vamos se ver." E ao despertar em lágrimas, Adriana colocou a água ferver para o café e foi se lavar... Voltou, tomou o seu café e ligou o rádio... Tocava a música Gostava tanto de você do 200


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Tim Maia, e mais uma vez se emocionou... Lembrou que fazia 6 anos que havia perdido sua filha, e com a mente em turbilhão se recordou também da sua irmã que havia sido vítima de feminicídio recentemente. Questionava-se do porquê as coisas tinham acontecido com ela... por que sofria tanto? Por que perdeu as pessoas que mais amava? Decidida, limpou as lágrimas e terminou de se arrumar, não queria se atrasar... Adriana com os doces que fazia para vender conseguiu se manter e se formar... Agora era advogada, defendia o direito de todos... Lutava pela igualdade, pela equidade... Lutava pelos direitos das mulheres. Se tinha uma coisa que Adriana sabia era quem era. Mulher, decidida e batalhadora. Eu diria ainda muito mais, mas a delimitaria... Adriana, você é tudo isso e muito mais. E você quem é? Quem somos nós? Eu vos digo, somos quem quisermos ser.

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Precisamos deixar de ser hipócritas e falar sobre gordofobia Naíse Munhões Quartieri Estou beirando os 52 anos de idade e sempre fui "gordita". Nasci um bebezão com 4k200gr e ao longo desses anos é muito corriqueiro eu ouvir frases do tipo: "O rosto é tão bonito, só precisava perder alguns quilinhos", "Falo para o teu bem, não que eu não te ache bonita", "É importante tu emagrecer para ter saúde" "Não diga que ela é gorda, ela vai ficar triste" e por aí vai.... Essas afirmações são totalmente gordofóbicas e deixa explícito o preconceito com as pessoas gordas, aquelas que não se encaixam no padrão de beleza estabelecido: corpo magro, alto e sem celulites. A gordofobia é uma forma de discriminação ligada à aparência física e, por isso, atinge muito mais as mulheres e, infelizmente, pode causar desde a sensação de não pertencimento até o desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão. Entre os países da América Latina, o Brasil é um dos campeões no consumo de remédios para emagrecer, segundo pesquisa da Nielsen Holding, realizado entre outubro de 2018 e fevereiro de 2019. Desse índice, 84% desses consumidores são mulheres, e, mesmo após a realização de campanhas de alerta sobre os perigos do uso contínuo desses medicamentos, ainda é grande o número de pessoas que buscam suplementos alimentares, termogênicos e outros produtos que prometem acelerar o processo de emagrecimento. A Psicóloga Amanda Santos de Souza, que escreveu o li202


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vro "Digna de ser amada" sobre a pressão social dos padrões estéticos, explicou que a gordofobia é uma estigmatização do corpo, principalmente feminino. "Já existe um foco social voltado para nós que define o corpo físico como valor da mulher, e a estrutura gordofóbica da sociedade reforça ainda mais essa ideia." A busca das mulheres pelo corpo ideal, desde muito jovens, e que é reforçada pelos padrões estéticos estabelecidos socialmente, faz crescer os índices de problemas relacionados à saúde mental. "Em algumas situações, as mulheres começam a criar uma auto-aversão. Nesses casos, nós percebemos que é comum ocorrer o isolamento social. A pessoa para de realizar atividades de lazer e começa a ter vergonha do próprio corpo. Muitas pessoas deixam de praticar esportes, ou preferem não frequentar uma academia. Esses podem ser fatores de risco para transtornos psicológicos, desenvolvendo angústia, sensação de desajuste, inadequação e não pertencimento", disse Amanda. Eu percebo que por meio da minha profissão de comunicadora e por ter pais e marido que sempre me viram como "um ser humano normal", posso e tenho a obrigação de ajudar outras mulheres a não se sentirem inferiores, menosprezadas e diminuídas por estarem com sobrepeso ou gordas. Recentemente eu estava em uma loja experimentando roupas e uma mocinha, também cliente, e bem magra falou para a atendente "Tudo o que essa gorda veste fica bem". Olhei para ela e respondi: "É que eu sou bonita e minha autoestima é muito elevada"! E é isso que nós mulheres "fora do padrão" de beleza devemos fazer na hora de comprar roupas ou frequentar uma academia. 203


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Hoje em dia, todas as lojas possuem roupas em tamanhos maiores. A moda é uma maneira de fazer com que as mulheres não se sintam excluídas ou diminuídas na hora comprar peças de roupas, as academias também estão cheias de mulheres rechonchudas fazendo seus exercícios de cabeça erguida e com muita tranquilidade. Contudo, o mercado ainda não está preparado para o público plus size. Por isso é importante que nós mulheres, passemos a nos aceitar como somos, a acreditar em nosso potencial enquanto esposa, mãe e profissional. Precisamos ser vistas de várias formas, não podemos tirar fotos sempre atrás de alguém ou de algum objeto, precisamos fazer com que nossos corpos apareçam, precisamos expor nossa beleza e nos aceitarmos acreditando que Bonito é ser real! Bonito é ser feliz! Bonito é se aceitar e se amar!

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Viver é uma arte Natália Cunha Permita-se a liberdade De mostrar todo o seu ser Rindo à toa quando der vontade descobrindo a essência do viver Admirando os tons do céu Pintado de novo a cada dia De forma que nem em papel Se vê tanta ousadia Solte-se de suas amarras Sejam elas, externas ou internas E decida lutar suas batalhas Que em seu íntimo, parecerão eternas Seja corajosa para destacar-se Com uma personalidade única Mesmo em uma tarde chuvosa Em busca de sua identidade Procurando por sabedoria Achou beleza e riqueza Entrou na harmonia Da orquestra da natureza

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Pura, bela e dançante Toque mais um sonante Para a moça deslumbrante Cante ao vento norte Conte todas as estrelas Se tiver alguma sorte Verá brilhar as mais belas Tragam os cantores Com seus tambores Admirem, meus senhores A obra-prima dos pintores O criador é artista Não deixou nada a parte Tudo em nossa vista Afinal, viver é uma arte.

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O sorriso que me fez amar-te Natháli Fratta de Almeida Ó sol que ilumina Seu lindo rosto de menina Menina cujo olhar me alucina Menina do sorriso que me termina Tu tens essa coisa só tua Que me deixa no mundo da lua O jeito que em mim tua beleza atua Vem e deixa que a coisa flua Vem comigo pra Marte Juro para sempre amar-te Todos os dias conquistar-te Fazendo do nosso amor uma arte Uma arte para nos eternizar Eternizar o sorriso que fez por ti me apaixonar Que me deixa quase sem ar E consegue o mundo derrubar Aquele sabe? Que nem o infinito nele cabe Que tem que cuidar para que nada desabe Torcendo para que ele nunca acabe

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Ah! 2020... Nedi de Fatima Corcini Dias de medo, insegurança, vontade de ir, e ter que ficar; palavras que não eram usuais: máscaras, protocolos, e distanciamento, ecoavam em nossos ouvidos a todo momento. O menos passou a ser mais, o cuidado pessoal refletiuse, mais ainda, com o seu semelhante... Posso afirmar que neste período de isolamento, a família, oração e a leitura, exerceram sobre mim os seus poderes mágicos, livrando-me do aprisionamento provisório da alma, subjugados às armadilhas sinuosas desse período, tão caótico. Desse modo, ofereço aos possíveis leitores, a minha singela reflexão, compartilhando pensamentos, e quem sabe criando novos estímulos, através de minhas expressões pessoais. E é por este motivo que resolvi escrever esta crônica, para expor minhas "impressões", que passam ocupar a minha mente, enquanto penso naquilo que desejo expor. Nesse sombrio 2020, passamos a orar mais, a buscar Deus, em um turbilhão de emoções...agradecer pelo ar que respiramos, por viver mais um dia com saúde. Tristeza pelas vidas que se perderam. Passamos a valorizar muito os profissionais de saúde, onde muitos perderam suas vidas, em prol das vidas que se foram, e das que ficaram. Os abraços, ah! Como fizeram falta. Um carinho, uma reunião em família, boas risadas, como fizeram falta, mas, mesmo assim, nos ancoramos na esperança, ante a possi208


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bilidade de um naufrágio. Nossos olhos passaram a expressar nossos sentimentos como nunca...um olhar medroso, feliz, triste, emocionado, apaixonado, que conseguia por vezes, alimentar nossa alma. Uma lição para a vida toda, aprendida rapidamente. Hora de nos reinventarmos, e continuar nossa caminhada, firmes e fortes, com toda a certeza de que vencemos uma batalha, um período que ficou lá atrás, apesar dos dissabores e dos muitos ensinamentos que nos deixou. Eis aí a minha experiência pessoal, no período de 2020, e o que resultou em escrever essas linhas. As múltiplas faces de muitas leituras, e o carinho da família, salvaram-me das possíveis armadilhas existenciais de qualquer tipo. Assim, despeço-me convidando-os para uma leitura reparadora. A vida continua!

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Seda Morna Neiva Dorneles O seu toque parece seda morna, que sobre minha pele derrama. Seu olhar inverte o lado. vira do avesso os pensamentos... E dores, em risos transforma... Enquanto a faísca vira chama e, faz arder o coração. Nada que eu faça pode evitar este enlace. É como interpretar o dueto, mesmo que a dúvida me abrace. Só restando, executar a melodia a quatro mãos...

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Tudo funciona por regência: O encontro, a magia, a atração. Resultado em consequência. E é de almas, a perfeita conexão.

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Entender e compreender Nuraciara Friedriczewski Xavier Nesse ano que passou tive muitos questionamentos principalmente sobre a interpretação da realidade. Mas, com certeza, a questão de entender e compreender foi sem sombra de dúvida o que dominou a minha mente por mais de um mês: compreender a pandemia ou entender a pandemia. Estes dois termos parecem iguais, mas não são, eles têm vários significados. O termo "entender" teve uma longa jornada do Oriente até Roma, nesse período em que se formaram muitos conceitos que conhecemos até os dias de hoje. Tenda é como se chamam as habitações de quem mora no deserto. O "intendere" em latim significa reforçar, esticar, estender o conhecimento até chegar ao objetivo. Estar na mesma tenda significa estar na mesma sintonia, ter os mesmos conhecimentos prévios para de fato entender. O "entender" tem mais a ver com o todo, com o contexto, abrange toda uma realidade. O termo "compreender", também latino vem do "comprehensione", tem os significados de incluir e englobar, atingir algo com a inteligência, aquilo que está mais próximo de si, mais restrito. Depois de tudo o que aconteceu no mundo neste ano, posso dizer que a minha percepção da realidade é completamente diferente, que não só compreendo, mas entendo o todo: esse novo normal, com otimismo e alegria. 212


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Para encerrar, cito Leonardo Boff: "Cada um lê com os olhos que têm. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto".

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Gratidão Oara de Fatima dos Santos Dorneles Repentinamente uma bomba me assombra os sentidos. Não sei o que pensar, o que fazer. Medo, tristeza, angústia se apresentaram no meu dia-adia. chorei... Então mergulhei o mais profundo do meu eu e orei ao Senhor criador de todas as criaturas, fortaleci minha fé, renasci como fênix, repensei atos e ações, pois não fomos orientados a viver o hoje, estamos em busca do amanhã que nem sabemos se virá. Pois é, nada é por acaso. Às vezes ironicamente, precisa acontecer algo ruim, para que possamos nos reinventar e agradecer pela liberdade, pela vida do outro, pelo abraço que por momentos nos foi negado. Enfim ser grato pela Vida e por tudo o que nos faz feliz agora.

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A felicidade está Priscila Reolon Não pode ser a vida tão perfeita, Se as pessoas andam tão enlouquecidas, com pressa, sem tempo para nada Nem ao menos para serem amadas. Se não existe uma pausa no seu dia para refletir, orar e pedir; Se em vez de aplaudir as vitórias de seus amigos você as inveja Tornando dos seus sonhos um breu sem querer. Pensam ter riquezas e bens materiais, sempre melhor do que o do outro Mas não sabe ter educação e tratar seu irmão como igual Ter amor ao próximo e a si Camuflam seus fardos e tristezas, reclamam .... E me pergunto: O que será felicidade na cabeça desta gente? ¿?????? Para mim a felicidade está: No ver e no observar, mudando a cada dia nossos conceitos, Está no redimir-se e ter orgulho em voltar atrás. Está na fé e na gratidão Na reflexão e na aprendizagem. Está no pouco se queixar do sofrimento, tirando dele as lições para o nosso amadurecimento. Está na alegria pelo outro e na empatia que muitos pregam, mas nem ao menos sabem seu significado. A felicidade é uma busca constante por todos, mas para ter precisa estar dentro de nós. 215


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Rimas de Deus Quésia Edinice de Souza Pereira Vieira Deus o maior poeta Fez rimas como ninguém Com um estilo singelo Que somente Ele tem Rimou noite com luar Rimou sol com calor Rimou praias com ondas do mar Namorados rimou com amor Fez rimas com a natureza Rimou abelha com mel Rimou flores com beleza E nuvens rimou com céu Rimou risos com criança E saudade com partida Rimou homem com esperança E mesmo a morte rimou com vida.

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Devaneio e tempo Raquel Da Silva Machado O tempo que vejo é bem mais que os minutos do relógio, são as cores do céu, a luz do luar e a minha própria voz. Eu acabei de perder meu tempo, o tempo que passa e eu nem vejo, o dia que passa e me leva, a noite que chega, obscura. Onde está o meu relógio? Em que tempo e espaço me coloco? Ao falar, me sinto sem nexo, em nenhum momento ouvida, muito menos interpretada. Ao abrir minha boca, sinto que estou longe dos que me rodeiam e do tempo que permanece a passar, distante de mim. Por que ninguém me ouve? Por que ninguém me vê? Cadê o tempo e os segundos e os minutos e tudo? Cadê minha resposta? Há quem me chame de louca, mas sei que pode ser real. Posso ser real e, junto disso, as loucuras e pensamentos sem sentido e sem lógica. Eu não sei o que é o tempo. Eu não posso culpá-lo. Julgo quem eu nem enxergo e ainda grito: "não passa, fica..." estou a pensar que o tempo não me ouve, nem ele nem ninguém. Estou a pensar que tudo vai e eu permaneço lá atrás. Sempre estou a pensar! Tu pensas? Se sim, sabes que eu poderia até tentar enlouquecidamente parar, mas os pensamentos fixaramse em nós. Agora, o tempo parou. Agora estou sozinha com a minha cabeça que não se acalma. Que mundo mais injusto! (Estou a pensar.)

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Quem eu sou? Renata Lemos Da Silva Sou humana, alguém que sente, pensa, chora, vive uma vida com propósito. Que busca cada dia sonhar sonhos que mesmo que pareçam impossíveis, creio em um Deus que faz o impossível acontecer. Uma alguém que ri, caminha, viaja e contempla toda a criação sobre essa terra e assim sabe que vale a pena viver e descobrir a cada dia quem eu sou e para que estou aqui. Tenho falhas, defeitos, cometo erros, mas estou disposta a pedir perdão sempre que necessário. Sou alguém comum, mas que desejo viver uma vida incomum, porque acredito que cada um de nós nasceu para fazer algo que ninguém mais poderá fazer. Sei que não somos pessoas insubstituíveis, mas somos seres únicos, pois diante de quase 8 bilhões de pessoas nessa terra não há ninguém com o mesmo DNA meu e nem o seu, por isso eu pergunto, quem é você? Sou alguém que não tem medo de buscar novos desafios, que sabe correr riscos porque sei aonde desejo chegar, sou alguém segura, porque sei onde está meu alicerce e sei de onde vim e para onde vou. O desafio de saber quem somos não é fácil, porém não é impossível, mas para isso é preciso morrer para si, para sua própria vontade e saber que nos encontramos naquele que nos criou, por isso hoje eu sei quem eu sou, porque me descobri naquele que me criou para viver uma vida plena e com propósito. Assim deixo essa reflexão para que vocês venham a descobrir quem são, sem ter medo de errar, fa218


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lhar e terem que recomeçar, pois em cada dia que se inicia há uma nova chance de descobrir quem você é. Descubra quem você é e viva a vida que você foi criada para viver.

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Dez, Infinitamente! Rosa Eli Viero Sarturi Dez estações .....dez temores .........dez paixões ..........dez amores Dez verões, dez outonos, invernos e primaveras Na trilha das estações percorreram poesias e textos, belos, amarelos, do tempo..., desengavetados escritas, gentilmente desenvergonhadas, foram dez! No intenso calor do verão, cor, pele, atração..., à escrita, inspiração No doce frio do outono, aconchego à palavra, embala Inverno, alimento d'alma, substrato à escrita, recita Em cores, cheiros e versos, a mais bela estação, instiga... o coração. Temores... do autorretrato, disfarçado, camuflado das imagens transformadas em palavras, modeladas do olhar tímido, apreensivo, talvez subversivo da contagem regressiva, que momento! Mil batimentos! Paixões... antes escondidas, bem dobradas, embrulhadas seladas na memória, descritas só em pensamentos, Secretas, avassaladoras, intactas... grafadas! em versos, ou contos, ou textos, escritas! 220


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Amores... pelo mar ou pelo ar, humanos ou animais Da natureza, visível ou invisível, tudo é inspiração Amores exagerados, densos, intensos, sonhados Fervor de amor ou paixão, como saber?! Escreva, então! Sim!... Muito mais que dez lembranças, multiplicadas por tantas...dez! Das emoções descritas e sentidas e em dez anos vividas, sim, foram dez!

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A terra dos enforcados Rosemari Gindri Região isolada, um vale entre montanhas. Principal atividade econômica: plantio e comercialização de folhas de fumo. Como decorrência desse cultivo, logo muitas fábricas de cigarro foram construídas na região e o povo ficou feliz, pensando que o progresso havia chegado. As pessoas que não gostam de trabalhar na lavoura, ou as que queriam ter uma remuneração garantida no final do mês, procuraram emprego nelas. Se depois disso a condição econômica dos moradores da cidade melhorou, a saúde de muitos piorou: doenças respiratórias, alergias e outras começaram a castigar as pessoas e nenhum tratamento tentado demostrava eficácia. Algumas décadas depois da instalação das fábricas, um outro comportamento, desconhecido dos animados agricultores que haviam começado aquele povoado, assombrou a todos: tristeza profunda, sem que fossem identificadas as causas, e um desânimo que fazia com que se recusassem a trabalhar. Como consequência disso, estes foram rotulados de preguiçosos, inclusive por familiares e passaram a ser discriminados. Mês após mês aumentava o número dos portadores da doença que atingia principalmente os operários das fábricas. Um jornal da época apresentou a seguinte manchete: "Operários apresentam doença até então desconhecida." E o artigo destacava: "Tristeza e desânimo afasta operários das atividades e 222


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fábricas fazem novas contratações..." Sem procurar tratamento médico, alguns pediam demissão e outros eram demitidos. Quando agricultores resolveram tornar-se operários, alguns venderam suas propriedades rurais para adquirir imóveis mais perto das fábricas e, os que não o fizeram, afastados das atividades por demissão ou por decisão pessoal, retornaram a elas e às atividades anteriores. Frederich foi um desses operários. Depois de faltas consecutivas, foi chamado pelo gerente da empresa e, muito envergonhado, contou que andava desanimado e, pela manhã, não tinha coragem de levantar da cama. No final daquele mês, junto com o comprovante de depósito de pagamento, recebeu uma convocação para apresentar-se ao departamento pessoal. O que já era esperando aconteceu: foi demitido. Com o valor recebido, resultante de 12 anos de contribuição, fez algumas melhorias no sítio e passou a residir lá, com a esposa e os três filhos. Para ter uma fonte de renda familiar, aumentou a criação de porcos e de galinhas. Por não confiar em bancos, o que sobrou da importância recebida, ele entregou à mulher, que segundo dizia, administrava o dinheiro melhor do que ele. Quinze anos de um casamento tranquilo, com três filhos saudáveis e obedientes, o casal não tinha motivos para não estar bem. Mas nem a mudança para o sítio melhorou a condição de saúde de Frederich. Tentando entender e ajudar o marido, Hilda perguntou: - Por que tu tá assim, meu velho? - Não sei, não tenho mais vontade de viver. - Mas porque não, se a gente vive tão bem? E olha que a gente não tem o que reclamar nem dos filhos! 223


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- Eu sei de tudo isso, mas não sinto alegria. Só quero ficar quieto, em qualquer lugar e que ninguém venha me perturbar. Percebendo que não adiantaria argumentar, ela comunicou a ele o que pensava ser uma boa ideia: - Vamos pedir orientação ao padre. - Posso até ir, só pra te contentar, mas sei que não vai adiantar nada - foi o seu comentário. Irritada, ela perguntou: - E o que vai adiantar, então? - Acho que só me resta morrer. Assustada, ela demorou para perguntar: - Suicídio é um pecado! Não me diga que tu tá pensando nisso! - Desde que amanhece o dia e eu não tenho coragem de sair da cama, até a hora de dormir, porque eu sei que vou ver o sol nascer sem ter pregado o olho! Angustiada, ela justificou: - Mas eu faço sempre o seu chá... - Faz e não adianta nada. -Qual o motivo de tanta tristeza, Frederich? - Não sei. Só sei que não tem a ver contigo, nem com os filhos. É alguma coisa comigo mesmo. Alguns dias depois, foram pedir orientação ao padre que o aconselhou a rezar mais e convidou o casal a fazer um retiro espiritual para avivar a fé. Na sua opinião, a doença que ele apresentava era falta de fé, de ter Deus no coração. E assim foi feito. Também não resolveu o problema. E os meses foram passando sem que o ex-operário apresentasse alguma melhora, pelo contrário, estava cada vez mais calado. Em uma nova tentativa, a esposa marcou con224


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sulta com um médico que havia começado a clinicar no pequeno povoado e ouviu um diagnóstico que soou estranho aos seus ouvidos: depressão! - É doença? - Sim, mas não como a senhora deve entender que seja uma doença. - E passa para os outros? - Não... - Menos mal. - Não é do corpo, é doença emocional. Ela repetiu a palavra que nunca havia escutado: - Emocional... Depois de algumas orientações, o casal saiu do consultório com uma receita nas mãos. Passaram pela farmácia e a esposa ficou pensando na recomendação do médico: "Não deixe os remédios com ele: guarde em um lugar que ele não descubra e só entregue o comprimido que deve ser tomado na hora certa." - E por que isso? - Porque é mais garantido. Mesmo sem entender o motivo, ela resolveu seguir o conselho do doutor e ficou pensando onde poderia esconder as caixas de remédio. O único lugar que apenas ela frequentava era o galinheiro e, em um girau onde colocava algumas cestas, a caixa passou a ficar escondida. Os meses foram passando e, mesmo fazendo uso de medicação, a tristeza não abandonou Frederich. E as ideias de morte também o acompanhavam, sempre. Uma manhã, chegando para consulta, souberam que mais duas pessoas haviam cometido suicídio. As mortes tinham dois aspectos em comum: todos haviam sido funcio225


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nários das fábricas de cigarro e aconteceram por enforcamento, o que aumentou o pavor de Bertha. - Tu não pensas me deixar só com os guris, né Frederich? - ela perguntou ao marido - Pensar em morrer eu penso, todos os dias, mas me falta coragem! - Nem inventa de fazer isso: nós temos que encaminhar nossos filhos! E o suicídio é o maior pecado: Deus que decide a nossa hora! E as mortes continuaram acontecendo, a ponto do local passar a ser denominado "A terra dos enforcados". Uma equipe veio da capital para investigar as causas das fatídicas ocorrências e ficou quase um mês entrevistando os familiares dos suicidas. O cemitério precisou ser aumentado e foi contratado um ajudante para o coveiro. Em uma manhã, pouco antes das comemorações do Natal, Bertha acordou cedinho para tirar leite e preparar a primeira refeição da família e percebeu que o marido não estava mais na cama. Nervosa, ela saiu a sua procura e ao abrir a porta da frente, deparou com uma cena que nunca mais a abandonaria: o corpo do marido dependurada em uma viga da varanda que ele mesmo havia construído! A depressão levara mais um trabalhador da Terra dos Enforcados!

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Resignação Rozelaine Aparecida Martins Uma lua quase cheia me acompanhava, quebrando a escuridão da noite. Caminhei pelas ruas da cidade, cruzei por adolescentes, cheirosos, cheios de esperança, como outrora também fui. Quem sabe encontrar seu amor, quem sabe viver a energia de sua juventude, dançar e divertir! Cruzei por "teles" apressadas a entregar lanches, pizzas ... Cruzei por casas com luzes acessas e apagadas. E o que foi feito de meu sonho de noite? Senão uma cama macia para o corpo cansado da lida diária. Aonde foi a vontade de encontrar amor! Porquanto a lua me basta! As redes, nem tanto sociais, cansam meus olhos míopes e longínquos, perdidos com tantos assédios virtuais, guerras de pensares. Aí como tudo isso me cansa! Exposição de felicidade, aceite de curtir. Estou aqui, sou alegria e tristeza, sou dor e prazer, sou luz e, também, escuridão. Quero chegar em casa, forjar um sorriso, agradecer e dormir. Amanhã vai ter sol! Consola-me a lua e o sol, elementos solitários na vastidão do universo. Como eu cumprem seu destino!

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Aroma de flores do campo Rúbia Santi Pozzatto Ela foi embora e já fazia dois meses que Bruno não saia para passear com Zeus, o cãozinho dela. Doía-lhe os olhos do pequeno vira-lata a lhe pedir carinho enquanto procurava Patrícia pela casa, sem sucesso nenhum. Então naquela quinta-feira pela manhã, enquanto do céu nublado pequenas gotículas iam ao chão, calçou o tênis e pegando a guia, saiu com Zeus pelo parque. Aquele céu cinza parecia seus últimos dias, o sol não aparecia, e na sua alma também não. Seu sol era ela, e ela se foi. Zeus caminhava vagarosamente, prestando somente atenção em seu tutor, e não ligava para os cães na rua. "Ele também sente tua falta" pensou Bruno elevando o pensamento a Patrícia através das doces lembranças que guardava como um tesouro. Zeus latiu forte e alto quando Bruno fora atravessar a rua, sem olhar para os lados, alheio que estava em seus pensamentos, e quase fora atropelado. Ele o tinha alertado. Zeus sentia falta dela, mas o protegia. E então naquele momento resolveu que cuidaria de si e do seu amigo de quatro patas, seguindo o que chamaria agora de vida sem sua companhia física. Sua grande amiga, sua esposa. Bruno, apesar de triste, buscou olhar para cima e agradecer. Entendia que temos propósitos e um tempo certo para cada situação. Patrícia lutou anos contra o tumor, e acabou partindo. Precocemente para alguns, ligeiramente para outros, mas para Bruno, nesse dia, no tempo dela. Ela o preparou para a possibilidade, mas só agora ele vinha acei228


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tando. Tal como flor que desabrocha depois de tempestades, o seu amor de juventude desabrochava para a liberdade do espírito, sorriria nos jardins da eternidade, sem dor. Pensando nisso, Bruno tranquilizou-se. Um aroma agradável de flores enchia o ambiente. Parecendo perceber o pensamento do amigo, Zeus abanou o rabinho e começou andar de forma mais rápida e feliz, o que fez Bruno tentar correr um pouco. Correram por mais de uma hora, o sol até surgiu. O suor molhava ambos, o vento soprava leve aumentando a sensação de bem-estar. Bruno sorriu ao ver Zeus feliz e ofegante e então pensou que a vida, era bela e estava hora de recomeçar. "Patrícia gostaria que eu seguisse. Que não parasse minha vida. Acho que ela concordaria com isso". Pensou ao vestir a camiseta branca que ela lhe presenteara no último aniversário - aproximadamente um mês antes da doença reaparecer e lhe levar a óbito. Colocou seu boné, naquela tarde quente, e deixando Zeus em casa, foi para seu novo hobby, a corrida. Quase seis meses depois daquela manhã cinzenta com Zeus, Bruno já havia retornado ao trabalho e, sagaz que era, havia ganhado uma promoção. Suas metas eram atingidas com maestria e tinha uma relação saudável com os colegas. Ele voltou a sorrir, passeava com Zeus, frequentava bares e restaurantes com os amigos. Em uma das noites mais animadas que teve até então, quando uma moça se aproximou e lhe olhou com semblante sorridente, lembrouse que já era hora de dar mais um passo. Quando chegou em seu quarto, naquela noite falou com a esposa como se ela estivesse ali. Perguntou-lhe se estava 229


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certo em tentar de novo e chorando de saudades, com o sorriso de seu grande amor em mente, adormeceu. Embora sem jamais esquecê-la ele entendia. Zeus latia feliz e dava piruetas no ar em frente a poltrona onde Patrícia costumava sentar e ler enquanto olhava a paisagem, e como quem lembra de uma velha amiga, Bruno respirou fundo enquanto pensava "Meu amor! Quanta saudade! Como amar outra mulher? Como recomeçar a ter um lar?! Quero que descanse, mas às vezes, essas dúvidas persistem". Foi do choro ao sorriso ao perceber que Zeus, feliz, latia paralisado, abanado o rabo e olhando para a poltrona de Patrícia, o fazendo perceber que havia algo de diferente no ar: um aroma doce de flores do campo invadia o cômodo onde estavam, lhe dando agradável sensação. Lembrou-se do quanto ela amava o aroma do campo, do seu abraço amável. Patrícia estava viva, em algum lugar. Bruno pensou em Patrícia, antes de desencarnar, enquanto lhe dizia: "Está tudo bem, siga em paz e feliz." A sensação era que ela estivesse ali, lhe dizendo essas palavras. A sensação era tão intensa que ele olhou para trás bem rápido, e não viu nada, somente Zeus feliz abanando o rabinho e enquanto o suave aroma se espalhava pelo ambiente. O aroma surgia sempre que feliz ele pensava em Patrícia, e num sonho encontrou-a em um campo com inúmeras flores. O abraço apertado da companheira de jornada, com o cabelo comprido como antes da quimioterapia, o sorriso gentil e sereno daquela a quem muito deu a mão, não lhe fazia sentir vontade de acordar e voltar para casa. "Ah se eu pudesse ficar aqui" pensou ele. E sem que ele tivesse verbalizado, ela disse: "Mas não pode! Você deve seguir! Em breve conhecerá alguém que lhe despertará afe230


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to pleno, e então saberá que sim, tudo tem seu tempo". Bruno ainda perguntou: "Mas não se ama só uma vez?!" ao que Patrícia sorrindo respondeu: "E por que meu querido, um sentimento tão maravilhoso, poderia ser sentido somente por alguns?" e ainda com a sensação dos lábios dela beijando sua face, acordou. Os dias que se seguiram foram tão intensos no trabalho, que Bruno até esqueceu seu 'sonho'. Quando atingiram as metas e fecharam um novo negócio, ele saiu com alguns colegas e agora seus sócios, comemorar. Nessa noite foi apresentado a Flávia, uma nova amiga de Rute, sua cunhada. Com quem conversou boa parte da noite. Moças o acompanharam algumas vezes nos últimos meses, mas nenhuma delas despertou-lhe uma emoção maior, de forma que respeitosamente, ele não lhes dava esperança de um novo encontro. Até aquela noite! Bruno percebeu que gostou de Flávia e pedindo seu contato a Rute, a chamou para sair. Os encontros foram seguindo semanalmente regados a muita conversa e sorrisos. Durante um desses encontros, a proximidade foi tanta que não houve como fugir do que os ligava. Ambos ficaram viúvos jovens e compreendiam a dificuldade de se assumir um novo amor. Porém quando abriam seu coração um ao outro, esqueciam as dores e liberavam o amor que estavam construindo e então, o aroma das flores do campo fazia se sentir. Anos depois, ao descobrir que Flávia estava esperando um filho seu, Bruno ajoelhou-se e agradeceu. Quando Piedro nasceu, Bruno sentiu o perfume das flores do campo na sala de espera da maternidade e compreendeu, que Patrícia é que estivera ali em todos os momentos. 231


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Em uma tarde, anos depois, enquanto Bruno amarrava o cadarço do primogênito que se preparava para correr no jardim, Flávia sentiu o aroma das flores do campo e pensou em seu falecido marido, mas não se permitiu entristecer, o que lhe fez ouvir da voz do antigo companheiro: "O verdadeiro amor não se desgasta, quanto mais se dá, mais se tem. Você já ouviu por aí". Na cena ainda havia Zeus rodopiando feliz, enquanto o pequeno Piedro dizia: "Que cheirinho gostoso!". Então o casal se olhou emocionado e sorriu. Sabiam que seus outros grandes amores cuidavam do amor deles agora. Aqueles que amamos, nunca morrem, apenas voltam para casa antes nós! Moral da história: Ame sem medo, dê o seu melhor e entenda que os finais de ciclos chegam, e por mais felizes que tenham sido, eles dão espaço ao novo, que em breve iniciará! Confie!

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Infinita Sandra Maira dos Santos da Luz Ela passava por dias difíceis Às vezes, sucumbia... Não conseguia segurar as lágrimas Ninguém, além dela, sabia o quanto doía. As dores, as mágoas, espinhos da vida Parecia impossível se fazer florescer. Mas foi deixando os dias passarem... Pra calmamente poder renascer. Ela é força, é turbilhão de vida! Veste-se de luz, enfrenta a si... É dela ser amor em meio ao caos. Chorar, secar, gritar, calar, sorrir! Levanta, muda o rosto, sorri largo. Põe as dores na bolsa e sai. Ela se maquia, perfuma... inebria! Fica mais encantadora cada vez que se reconstrói!

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Exilados das marés Silvana da Rosa Ouço a canção das marolas. Elas dançam em vem e vai. O oceano avança mais e mais Com o violento balanço das águas. A maré está alta, José, de Drummond! Exilado entre quatro paredes, Suspiro Gonçalves Dias. Mas não distante de minha terra natal. Preso em minha terra, em minha casa, em 4 paredes. As turbulentas águas aprisionam-me em solidão. Longe, longe do convívio social Por detrás da janela, Lembranças de afago, de sorriso incontido, de palavra no olhar. A maré ...alta, José! No balançar das águas Segundos, dias, meses submergiram nas eternas noites oceânicas. Pela janela, o dia está lindo! Mas não é o mesmo domingo de muitos outros destas várias décadas vividas. Os dias são tristes! Dias encharcados pelas marés em lágrimas. 234


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A maré..., José! Da janela, avessas pinturas. Criatividade não floresce em clausura, Ao contrário de Van Gogh. Em exílio, preciso me refletir nO Espelho sem as fardas, os títulos de Machado de Assis. Para o agora, conhecer-me preciso. No templo de Apolo em Delfos ou de minha janela Conheças a ti mesmo, Sócrates. Conheço a mim? Cubro e me descubro em 4 paredes. Descubro que a direção do caminho não é o horizonte, Galeano. A fonte divina é semente em mim. Maré..., José! Em exílio, necessitamos encontrar-nos em nós. Nas terras de carne férteis, precisamos florescer Seres, verdadeiramente, humanos. Dentro de 4 paredes, Face, whatts app, instagram não preenchem infinitos espaços. Jamais substituem calorosos abraços de almas em comunhão. Maré...! De minha janela, Sinto faltas que não sentia: Cheiro de liberdade, gosto de despreocupações, som de alegria. 235


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Que passe tormentos de pandemia. Esperemos dias melhores. Quando chegarem, não seremos mais os mesmos. Estaremos homens melhores.

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A máscara, o rosto e o resto! Simone Meirelles do Nascimento Quem diria que a máscara não caiu. Pelo contrário, ela virou o rosto e o resto. Fingimento. Duas caras. Fantasia. Esconderijo. Não. A máscara se tornou respeito, cuidado, zelo, amor, consideração. Quem diria que o rosto virou metade máscara. Não para esconder, mas para proteger. Agora vejo. O resto. O rosto. O sorriso foi parar no olhar. E o olhar se tornou representante do rosto. Expressão. Carinho. Alegria. Dor. Tristeza. Perda. Todo rosto resumido, no resto. Um rosto. Cansado. Exausto. Recluso. A máscara não caiu. Passou a fazer parte. Do rosto. Do resto. A casa ficou pequena, ou grande. O tempo não parou, mas fez parar. Mudou. Tudo e nada. A máscara, o rosto e o resto. O que ficou? O olhar que sorri. A esperança. O esperar. Ainda não acabou. O mundo se reinventou. Será que melhorou? A máscara não caiu. O tempo mostrou. Quem sim. Quem não. Quem. Quem diria. A máscara nos protegeu. O que restou? 237


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Aprendizado. Para quem aceitou aprender. Amor para quem aceitou amar. Empatia para quem aceitou olhar para o outro. A máscara. O rosto. O resto. Foi o que ficou.

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A velha hospedaria Sirlei Gatiboni "O coração tem mais quartos que uma pensão de putas" disse Gabriel García Márquez. Porque ele não conheceu o meu. Não há apenas quartos, além da fachada alegre e ensolarada, com varandinhas para o mar, há alas enormes, subterrâneas, escondidas. Alas úmidas e frias, onde alocamse hóspedes residentes há muito, embora indesejados. A ala da Mágoa, a primeira do subsolo, sempre gotejando, sempre murmurando, ouço-a de todos os cômodos, enlouquecedora. Atrás, a ala fétida da Inveja. Não sei quantas vezes, inutilmente, troquei-lhe a fechadura, não tem jeito, vez ou outra encontro a porta aberta, escancarada, envergonhando-me com seu interior apodrecido. Mais abaixo, a ala dos Sentimentos Mesquinhos, pobre e mal mobiliada, concentrei-me em desativá-la, mas sempre sou interrompida, gastando todas as minhas forças para apagar incêndios corriqueiros na super-ala do Medo. Alas e mais alas, um espaço bem maior do que a edificação visível. Um perigo constante para toda a estrutura, com suas rachaduras e pilares carcomidos. Há apenas uma acomodaçãozinha sólida, a última, eu soube que tem acesso a um corredor que leva ao lado de fora, é fresca e arejada, se aberta a porta, pode deixar entrar ar puro e calor do sol, pode arejar todo o subterrâneo, nunca consigo acessá-la, o cômodo anterior, do Orgulho, está há anos abarrotado, até hoje só consegui ver o nome acima da porta, "Perdão" está escrito. Certa feita, exausta de inutilmente tentar faxinar o porão, deparei-me no saguão com um 239


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cusquinho querendo entrar. Não, não, um já morou aqui e precisei expulsar um hóspede v.i.p. por conta disso. Vá embora, more ao menos do lado de fora. Nada. O cusquinho choramingou, arranhou a porta, insistiu, chorou alto. Tanto fez, tanto espremeu-se, que passou pela fresta da porta (tem sempre uma fresta na porta do meu coração). Acomodou-se, na entrada, no lugar de honra. Fez mais, deixou a fresta aberta, entrou a matilha! Circulam por toda parte, lambem os hóspedes, exploram aqui e ali. Descobriram uma torre inexplorada com acesso pelo sótão, acharam quentinha e segura e lá fizeram seus aposentos. Quando depareime maravilhada com o esconderijo, dei-me conta que nesse velho hotel quase condenado há uma pilastra firme, em forma de torre, desde o chão do quartinho trancado do subsolo, passando pelos quartos dos hóspedes ilustres, pela suíte gigantesca do meu filho, até acima do teto, o que mantém a frágil estrutura quando cambaleante pelos alagamentos constantes das alas inferiores. Tem uma plaquinha empoeirada, não entendo o que diz, não conhecia essas três palavras juntas: Amor-Puro-Desinteressado.

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Mudança Sofia Ribeiro Hoje quando amanheceu Senti o sol entrar em meu quarto. Lembrei o dia que você desapareceu Deixando-me só seus rastros Oh, vida injusta e ingrata! Pelo teu abandono não perdoo Sou um cubo de gelo, insensata Para que, agora, consiga alcançar voo Quem dizia: - abandonada! Dirá, adiante: realizada! Porque ao tornar-me Uma mulher de maldade Descobri-me feliz. O sorriso é uma porta que abre A todos que a procuram Uma nova oportunidade Para quem sempre busca Um olhar de carinho Um gesto de solidariedade Para seguir um caminho Caminho de sonhos! Pedras, tristeza, escuridão São detalhes, hoje Vivemos em uma imensidão Para que nunca se desista Para que se persista Com brilhos nos olhos E paz no coração! 241


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Realeza Sofia Viero Sorgetzt Domingo, 30 de junho de 2002, bilhões de olhares ao redor do mundo estão voltados para a final da Copa do Mundo de Futebol da FIFA. Daiana não lembra de praticamente nada do jogo em si, mas lembra da surra que levou da prima naquele dia. Essa história talvez pudesse ser lembrada aos risos se fosse uma confusão entre crianças, mas não. Daiana nem havia completado 12 anos, sua prima tinha 25. Assim como os lances da partida entre Brasil e Alemanha, por mais que se esforçasse, a menina batizada com o nome de Princesa de Gales, mas cuja vida era zero glamour, jamais conseguiu lembrar por que levou aquela "tunda". Talvez, em algum lugar muito escondido em seu interior, Daiana pensou em chamar o seu pai para defendêla, até se dar conta que não sabia nem que cara ele tinha. No dia em que Cafu, ao levantar a taça do pentacampeonato da Seleção Brasileira, gritou, quase que literalmente, para todo o mundo ver e ouvir um "Regina, eu te amo", dirigido à sua esposa, Daiana em algum momento desejou que, se a vida não lhe permitira ser filha de algum membro de alguma realeza, ou calciatore ou cartola poderosíssimo, então algum rei, nem que fosse do futebol, viesse buscá-la para transformá-la na sua Regina. Esse dia nunca chegou. Algumas horas mais tarde, Daiana buscou refúgio na casa de outra pessoa da sua família. O Fantástico noticiava que Chico Xavier havia feito a passagem para o plano espiritual, partindo, conforme desejo manifestado e registrado, em um 242


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dia em que o Brasil estava em festa. Envolta naquele sentimento de comoção, houve um momento em que Daiana se olhou no espelho do corredor em que ficava o único banheiro da casa, viu seus cabelos negros, sua blusa verdeclaro e conseguiu se sentir um pouco em paz. Se o rei não veio resgatá-la, talvez algum espírito de luz mandou-le umas migalhas de alento para que não se sentisse tão desamparada.

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Pés descalços Solange Garcia(Sol) Você dança com os pés descalços, pois sua alma é como as flores. Você dança nos campos abertos, pois seus braços batem como as asas de um pássaro sonhador. Muitos dizem que você é uma bruxa, e eu acredito. Você dança com o vento e a natureza parece se curvar diante a ti. Nem Afrodite tem tal beleza. Mesmo debaixo do céu mais escuro, na noite mais fria. Todos conseguem lhe ver dançando, pois você é a própria chama quando dança com o coração. Sente a liberdade no seu peito, a natureza aos seus pés. E o vento nos seus cabelos enquanto dançou. Sobre o campo, sua mente vaga até chegar ao Rei Sol. Na dança da vida, você põe-se a bailar. Sobre você o manto azul celeste do céu. Sob seus pés o verde carpete de flores salpicados. Você não é Rainha, mas tem seu próprio reinado. Pois você é MULHER.

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Pampa gaúcho Sonia Odete Leitemperger Dos Tauras de outras eras, Herdamos a descendência De cultuar as tradições Da nossa velha querência Nossos heróis do passado Eram fortes destemidos Para defender o Rio Grande Lutavam de peito erguido Tinham a alma Xucra E o instinto de gaúcho Topavam qualquer parada Sempre aguentando o repuxo Muitos anos se passaram Meu velho Rio Grande antigo Mais teu passado de glória Os gaúchos trazem consigo No lombo do velho pingo As vestes viradas em trapos Te defenderam meu pago Com sangue heróis de farrapos

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Os gritos de liberdade Ecoavam neste chão Dos caudilhos que peleavam De lança firme na mão Rio Grande pampa gaúcho O teu passado de glória Ficou gravado para sempre Nos anais da nossa história Somos a cepa crioula Bem simples não temos luxo Só o orgulho de ser filho Deste Rio Grande gaúcho

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Uma vida por Ela... Stephanie Cendon Machado Zimpel E os ponteiros do relógio giravam como uma constante, devagar, ritmados, ecoando no quarto vazio, sentimentos que ela escondera nos seus primeiros seis anos de vida. Pela janela, Ela observa os moleques da rua chacoalhado seus corpos enquanto pulavam pelas poças d'água como se estivessem saltando em uma competição oficial. Aliás, por muitas vezes em seus devaneios das tardes solitárias em que passara na janela, idealizou diversas competições, em que seria a capitã do time, àquela a que todos procurariam, a mais querida, mais talentosa, a que levantaria a taça de campeã. E aqueles pingos d'água vindo do céu cairiam em seu rosto, gelando suas bochechas e molhando seus cabelos encaracolados. Como sentir aqueles pingos de chuva era bom! E o cheiro... Ah o cheiro! De chuva, de grama molhada, adentrando por suas narinas, causando arrepios desde a cabeça até o dedão do pé. Mas a vida de Ela não era tão fácil assim... Como criança sonhadora passeava por diversos países, e às vezes até visitava as estrelas! Como criança real, mal podia passar do portão de sua casa, visto sua condição de saúde tão debilitada e o momento necessário de distanciamento social. Ela não sabia o que era pandemia e quando ouviu pela primeira vez na televisão viu escorrer dos olhos de sua mãe três lágrimas, enquanto seu pai a abraçava estarrecido. Nada mais natural, sendo sua mãe da linha de frente, uma enfermeira conceituada que naquele momento viu sua vida gi247


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rar. E nesse contexto fora feito um acordo, o pai se afastaria de sua função como professor universitário e a mãe sairia por alguns meses para trabalhar no hospital da cidade na linha de frente contra o COVID-19. Ela ficaria com o pai, em casa, em isolamento, algo que ela já conhecia, mas que agora tinha um sabor diferente, mais triste e amargo com à distância de sua mãe. E então assim Ela passava os dias, na janela de seu quarto, solitária, observando as outras crianças que brincavam na rua, entre uma tempestade e outra, mesmo com as recomendações de ficar em casa. Então um dia tudo mudou, e com uma atitude bem planejada, mas de extremo impulso, Ela decidiu que sairia de casa. O céu mesclava entre cinza escuro e nuvens brancas como algodão. Já podia sentir o cheiro gostoso da chuva vindo, e as folhas das árvores balançavam sem parar. Foi em um descuido do pai que a menina saiu pelo portão, correndo imediatamente para os abraços acalorados dos amigos que molhados a esperavam do outro lado da rua. E assim Ela fez talvez sua última grande aventura, sob o olhar desesperado do pai que agora corria na sua direção. Os meses seguintes foram de angústia e alegria... Finalmente Ela encontrou sua mãe, no hospital, depois de meses, e se não fosse seu quadro delicado de pneumonia e positivada COVID, tudo seria perfeito. Ela estava com quem mais amava, cuidando dela com todo amor e carinho. E no quarto também tinha janela! Mas agora suas viagens eram de sua cama e seus olhos brilhantes estavam cansados demais... Ela decidiu que naquela tarde faria sua última viagem, ali mesmo, no conforto estranho daquele quarto frio com todos aqueles bipes, a menina fechou seus olhos e vi248


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ajou por entre as nuvens, sentindo o cheirinho dos pingos d'água, realizando competições em que ela era a maior, a capitã, a vencedora Ela!

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Tá meio estranho, mas parece que tá dando certo Taiany Colpo Correa Acabei de colar o chapéu do abajur na parede, escorei entre a capa do violão e a parede, foi com uma fita dupla face; está meio estranho, mas aparentemente deu certo, está iluminando exatamente onde eu queria pra escrever essa carta pro tempo. Vou te chamar assim pra não ficar tão na cara o quanto tu tens me feito bem. Essa história do abajur é das melhores que tenho pra te contar (risos). É, a coisa está volátil, tempo. Teve um dia desses que acordei e o que eu mais queria era te ver passar, bem pertinho de mim como se eu pudesse te agarrar, te abraçar e dizer o quanto é bom te ter aqui. Aí, quase no fim do dia tu me apareces. Chamas-me pra tomar um sorvete e me diz que a gente esfriou. Como assim se é verão? Alguma coisa aconteceu e desalinhou as estações em nós (que brega, parei). Vou tentar parar. No mais tardar do dia eu queria era nos proteger de qualquer coisa passageira que fizesse a gente se perder - o medo, a cobrança, as correrias do dia a dia ou algum desejo teu em que eu não me fizesse presente. Que egoísmo seria o meu tentar ser presença nos momentos em que tu planejas o depois, entendi que essa ideia de futuro é mesmo suposição. Sabe, tempo, eu achei que não ia mais querer te ver depois desse dia "que a gente esfriou" e foi o que aconteceu. Já nem te vejo. Fico eu e o silêncio no maior sossego e não é que é bom? Uma vida é a chuva que ocorre lá fora e deixa a gente continuar e tu, tempo, escorrega dentro de mim até no meu jeito de olhar. 250


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Teatro no palco da vida Tania Pedroso Máscaras no baile Máscaras no dia a dia Máscaras no trabalho Máscaras nas relações Fantasias de baile Proteção do dia a dia Sobreviver no trabalho Defesa nas relações Coloridas no baile Preto e branco no dia a dia Neutra no trabalho Vermelha nas relações Máscaras na diversão Máscaras sombrias Máscaras necessárias Máscaras gritando Máscaras nas artes Máscaras em defesa da saúde Máscaras pertinentes Máscaras contornando diferenças

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Máscaras encharcadas Máscaras poluídas Máscaras para purificar Máscaras fazendo a diferença Máscaras desidratadas Máscaras saturadas Máscaras para salvar Máscaras imponentes

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A música de 2020 Thanize Dethetis de Lima Sou da era 1999, naturalmente familiarizada com a globalização e com o fácil acesso à informação. Durante minha adolescência, umas das frases que mais escutei foi "- Hoje as relações dos jovens só ocorrem pelas redes sociais", ou então, "- É preciso ter contato físico, abraço, olho no olho, os jovens de hoje não fazem mais isso". Então, chegou o ano de 2020, aos 21 anos de idade minha intenção era fazer o que os adultos/experientes aconselhavam, olho no olho, diversão, festas, descobrir o mundo através das minhas próprias mãos, cultivar meu espírito aventureiro natural do típico aquariano. Desejava experienciar, conversar, dançar, no entanto, junto com o novo ano chegaram também os primeiros casos de Coronavírus ao Brasil. No começo, não acreditava nas proporções de caos que o novo vírus viria a causar, mas, em poucos meses já noticiava-se a pandemia mundial da Covid-19. Por conseguinte, o que era pra ser uma quarentena de quinze dias, passou a ser um mês, dois meses, quatro meses, seis meses, oito meses e já viramos o ano e continuamos no ritmo que a Covid-19 toca. Essa música, tocada pela Covid-19, anuncia sonhos adiados, viagens canceladas, empregos perdidos, traumas psicológicos, momentos de dor, de saudade e de tristeza, mas pior que todos as utopias que foram deixadas de lado nesse ano de 2020, foram as vidas perdidas para a Covid-19, histórias que não poderão ser concluídas, aniversários que nunca serão comemorados e, principalmente, famílias desoladas pela dor de nem 253


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sequer poder despedir-se de seu ente querido. A música que prendeu a atenção de todos no ano de 2020, a qual foi tocada pela Covid-19, mudou a vida do brasileiro, do gaúcho e do santiaguense, fez com que mudássemos nossa forma de trabalhar, de estudar e de matar a saudade dos amigos e familiares. Anteriormente, os aniversários eram comemorados com bolo, bebidas, músicas e abraços, hoje, as comemorações se restringem a uma chamada de vídeo pelo whatsapp. E ai, frente ao que eu ousaria chamar de "adaptação tecnológica", pergunto-me, em meio a todo esse caos, o que tanto questionavam sobre os jovens, todos estão fazendo, relações através de telas, abraços através de telas, conversas, olhares, tudo através das telas. De fato, se ao menos soubéssemos o que o tempo, ou melhor, o que o ano de 2020 nos reservava, teríamos feito como Caetano Veloso lá em 1979, uma Oração ao Tempo, pedindo um ano de luz; Um ano de vida, ao mesmo tempo que recitaríamos os versos "Compositor de destinos/ Tambor de todos os ritmos (...) Por seres tão inventivo/ E pareceres contínuo/ Tempo, tempo, tempo, tempo/ És um dos deuses mais lindos", cantaríamos a todo pulmões, em uma só voz, na esperança de um ano melhor. No entanto, não imaginávamos o caos que iria se instaurar em nossas vidas, nem fantasiávamos os protocolos de distanciamento social, com o uso constante de álcool em gel e muito menos com a obrigatoriedade do uso de máscaras, não sonhávamos com o que a nossa vida viria a se tornar em decorrência da Pandemia. Mas, hoje, após alguns longos meses seguindo as medidas de segurança, idealizamos o dia em que poderemos fazer como Caetano 254


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Veloso em sua canção Alegria, Alegria, lançada em meados de 1967, durante a ditadura militar, eu poderia até ousar na minha humilde paródia e realizar uma pequena troca do lenço por máscara, e assim cantaríamos "Sem lenço (máscara), sem documento/ Nada no bolso ou nas mãos/ Eu quero seguir vivendo, amor/ Eu vou", e assim, cantaremos quando enfim pudermos nos abraçar, vibrar e então voltar a viver sem medo de que algo invisível e mortal nos ataque. E para o ano de 2021, qual será a melodia que vamos seguir? Espero que os versos do novo ano representem a esperança por dias melhores, e que as estrofes recitem as alegrias e os amores de uma vida tranquila, de paz e saúde, ou seja, uma vida bem vivida, na qual possamos sair de trás das telas e ir ao encontro do outro, afogar a saudade em um abraço apertado, e que finalmente, tanto jovens, quanto crianças, adultos e idosos, possamos seguir o conselho que recebi durante minha adolescência, que possamos VIVER, viver na sua mais sublime essência! Mas agora, farei como Caetano em sua canção Menino Deus, composta em 1982, numa melodia a Deus, peço luz e proteção para o ano de 2021..." Menino Deus/ Quando tua luz se acenda/ A minha voz comporá tua lenda/ E por um momento haverá mais futuro do que jamais houve/ Mas ouve a nossa harmonia/ A eletricidade ligada no dia/ Em que brilharias por sobre a cidade".

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Aquela mulher do espelho Thaís Cortes Sagrilo O espelho sempre me trouxe desconforto. Quando criança era uma menina de olhos tristes que me olhava, como que implorando para que eu pulasse, dançasse, cantasse, e falasse do mundo que só eu tinha acesso na minha cabeça, porém, meninas comportadas deveriam ficar sentadas e caladas. Mas aquela garota insolente certamente não sabia disso. Deveria ser uma daquelas meninas que senta sem cuidar o vestido, ou que fala o que bem tem vontade. Ela deve ser aquele tipo de criança que brinca do que quer, na hora que quer. Garota sem limites, nunca gostei dela. Cresci e a menina do espelho foi embora, dando lugar a uma adolescente feia, de testa grande, braços igualmente grandes, desproporcionais ao seu corpo. Ela me chamava, queria conversar. Mas eu estava muito ocupada escondendo a minha testa grande e tentando agradar as pessoas a minha volta. Demanda muito tempo e energia se enquadrar nos padrões do que os outros esperam de nós. É como usar um sapato apertado, não é nada fácil andar assim. Dói muito e exige esforço. Às vezes eram sapatos grandes demais para os meus pés, neste caso, tinha que me manter equilibrada para não cair. Tudo isso exige envolvimento. Não sobrava tempo para ela. Eu estava tão preocupada em tentar me moldar no perfil da moça certinha, aquela que fosse a filha ideal, a irmã ideal, a mulher ideal, a mãe ideal, que eu nem percebi quando 256


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a adolescente foi embora passando o seu lugar para uma mulher no espelho. Ela era toda desfigurada, de tanto tentar agradar aos outros, entretanto, sem sucesso. Parecia que estava perdida, pedindo por ajuda. Acho que até ouvi ela gritando algumas vezes. Mas sabe como é, eu ainda não tinha tempo. Certo dia, depois de ficar exausta com todas as cobranças comigo mesma, a ponto de ficar paralisada, e sem forças para ir a lugar algum, eu caí. Caí em frente do espelho. Pela primeira vez olhei verdadeiramente para ele, e silenciei para ouvir o que aquela mulher do espelho tinha para dizer. Meu espanto, foi quando percebi que aquela mulher era eu mesma. Espanto maior foi por não saber nada sobre ela, ou melhor, sobre mim. Afastei-me tanto do meu verdadeiro "eu", que já não sabia mais quem era. No fundo, acho que nunca soube. Sempre deixei que vivessem por mim um conjunto de personagens, que variavam de com o momento, e com quem contracenava. E sempre com o objetivo de agradar ao público. Não havia, até aquele momento, percebido o quanto tinha ferido a mim mesma todos aqueles anos. Foi então que senti a minha sujeira, afinal, eu não era a mulher "perfeita" como eu havia idealizado, estava muito longe disso. Chorei. Mas neste momento eu vi a menina, a adolescente e a mulher. As três vieram, pegaram nas minhas mãos, e me ajudaram a levantar. Ensinaram-me que a sujeira faz parte da vida. Viver é um eterno errar e acertar. E pensando bem, o que é certo? 257


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O que é errado? Quem disse? Quem definiu isso? Percebi que preciso das três partes de mim para me manter em pé e seguir. E é desta maneira que caminhamos agora, menina, moça e mulher, de mãos dadas. Decididas a buscar a nossa essência, a descobrir o nosso verdadeiro "eu", e em harmonia com a imagem daquela mulher do espelho.

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Um amor à esquina do tempo Vanessa Moletta Pazza E aquela estrela entregue em uma noite de sexta-feira, tendo como testemunha só eu, tu e a lua cheia, eternizou no céu uma lembrança, que traz sempre a esperança de que o brilho nem se compara ao brilho nos meus olhos quando te veem. A maior estrela, não será jamais maior que o meu amor. Foi um objetivo alcançado, ter-te para sempre lembrado. Onde uma noite solitária e estrelada jamais será a mesma. Oh, lua, ainda bem que tu sabes o que escrevo. Não falo sobre desapegos, trago verdades.

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Ser mulher Vanise Quincozes Poleto Ser mulher é estar preparada para enfrentar inúmeros desafios. Mesmo com todas as conquistas, ainda não conseguimos o espaço que nos é merecido. Somos discriminadas, violentadas, abusadas e desrespeitadas. É inadmissível que mesmo que tenhamos conquistado teoricamente a igualdade, ainda precisemos travar uma luta diária. Somos mães, profissionais, provedoras, motoristas, fizemos uma jornada dupla, entre casa, trabalho e filhos. Ainda assim, somos julgadas por nossas escolhas. Se não desejamos ser mães, somos vistas como alguém incompleto. Se temos muitos filhos, somos criticadas. Enfim, vivemos com a constante expectativa de agradar uma sociedade patriarcal que espera que sejamos tudo isso, e que nos mantenhamos jovens, bonitas e incansáveis. E quando questionamos isso, somos tachadas de malamadas ou de frustradas, pois esquecem que somos seres humanos e que temos dores, muitas vezes nos sentimos impotentes e incapazes de superar tantas lutas diárias. Esperamos tanto, que as pessoas que convivemos saibam quando estamos com medo e apenas nos abracem, sem nos julgar. Que notem nosso silêncio quando estamos cansadas demais. Esperemos que nossos filhos, ou companheiros (as), não se irritem quando mostramos preocupação excessiva, ou que a entendam quando nos tornamos chatas, mas entendam nosso zelo, e o recebam com delicadeza e bom humor. Que percebam nossa fragilidade e não a associem a fra260


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queza, nem se aproveitem disso. Que entendam que podemos gritar, esbravejar e não nos chamem de loucas. Que percebam ainda que podemos reclamar, e que sejamos ouvidas, mesmo quando não fizemos alardes ou nos tornamos impacientes. Entenda também, que dizemos palavrões, perdemos a compostura, mesmo quando esperam que sejamos educadas, tolerantes e que se em algum momento percamos a graça outro ainda assim me ache linda e me admire. Que os outros não nos considerem sempre disponíveis, sempre necessariamente compreensivas, mas nos aceitem quando não estamos podendo ser nada disso. Que sejamos mulheres, independentemente de ter filhos, de alcançar um enorme sucesso profissional, de não ser um modelo de beleza, ou estar com o cabelo arrumado, ou as unhas bem-feitas, ou que sejamos ótimas cozinheiras, arrumadeiras ou que estejamos sempre arrumadas. Somos simplesmente mulheres, e isso já é uma grande dádiva, visto que esperam que sejamos a perfeição, mesmo que a nossa história seja permeada de enormes tiranias. Que, finalmente, entendam que mesmo se às vezes, por mais nos esforcemos não somos a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa vulnerável e forte, incapaz ou gloriosa, assustada e audaciosa, apenas uma mulher.

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Via de mão dupla Verena Poltosi Albiere E a gente passa boa parte da nossa vida atrás da verdadeira felicidade, da carreira bem-sucedida e do tal amor correspondido. A gente corre contra o tempo, para se estabilizar na vida, encontrar a "pessoa certa" e constituir uma família. A gente tenta, erra, corrige, acerta e mesmo assim, às vezes, parece que não foi o suficiente. A gente luta e defende quem a gente ama e, às vezes, recebe de volta, mágoa e revolta. A gente se doa para que um relacionamento dê certo, modifica até postura, tentando fazer com que realmente dê certo. Mas falta algo, falta o encaixe, igual ao de um quebra-cabeças, onde uma peça necessita da outra para que tenha o resultado esperado. Falta o frio na barriga à espera daquela pessoa, as famosas borboletas no estômago. Relacionamentos são uma via de mão dupla e tem muita gente se desencontrando, porque estão andando na contramão. E a gente se dá conta de que, muitas vezes, o que temos, parece insuficiente. Para outros, representa muito. E, que é nos pequenos gestos, que estão os grandes feitos. E, é nas pequenas coisas que mora a nossa felicidade. O que somos é o que nos torna verdadeiramente grandes.

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Lugar de mulher é na engenharia! Victória Nunes Ramos O ano é 2021 e eu estou no último ano da faculdade. Pois bem. Dia desses me peguei em uma crise existencial que me gerou a clara sensação de que eu morreria de fome depois que me formasse. Pensando nisso, incessantemente comecei a procurar na internet o que eu precisaria fazer para ser uma boa engenheira, e que habilidades eram requeridas para que eu me encaixasse perfeitamente na profissão que escolhi, como se buscasse uma fórmula ou receita de bolo para seguir e poder respaldar minha maneira de agir. Como já esperava, a maioria dos textos salientavam a peculiaridade desses cursos de serem massivamente dominados por homens (inclusive caí de paraquedas em alguns trazendo as diferenças hormonais que conduziam as mulheres a terem menos interesse pelas engenharias ou cursos com aptidões similares). Eis que me deparo com algumas publicações listando as características de um bom engenheiro, trago aqui algumas. Número um: pensamento lógico. Veja bem. Você, leitor, conhece alguma mulher que deixou de conseguir o que queria? Da ideia concebida na cabeça de uma mulher, decorrem-se vinte minutos até que, ao final, ela tenha convencido o mundo de que a Terra é plana, em apenas uma sequência de discursos e porquês que seguem um caminho perfeitamente lógico, e, se precisar, até com personagens. Número dois: facilidade com cálculos. Dia 12 eu tenho o casamento de uma amiga e por isso preciso lavar o meu cabelo hoje para cair a lavagem no dia certo, só que 263


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daqui três dias vou limpar a casa, então amanhã preciso ir até o centro mas não posso gastar mais do que esse valor, visto que dia 21 eu pago meu cartão de crédito e só tenho isso na conta, mas meu filho tem prova no dia 5 e tenho apenas oito dias e meio para ajudar nos estudos, e como a prova é às 8:30, consigo 10 minutos pra chegar na minha consulta. Deu para entender? Número três: capacidade de resolver problemas e de gerenciar o tempo. Uma mulher é capaz de, ao mesmo tempo, falar para o(a) companheiro(a) que a relação não pode seguir como está, pedir para os pais não saírem de casa porque estamos em pandemia, limpar o machucado do filho, ligar para o encanador, encomendar a cortina da sala naquele site que está com frete grátis, tomar uma lata de cerveja, entregar o relatório do trabalho e ainda sobra tempo para estender a roupa que estava na máquina. Número quatro: atenção aos detalhes. Vire o porta-retratos preferido dela mais para a esquerda e considere-se morto. Número cinco: habilidades de comunicação. A despeito do que a história nos conta, a gestão de pessoas, sem dúvidas, nasceu dentro da cabeça de uma mulher. É incontestável e brilhante a facilidade para elevar a confiança e a produtividade de uma equipe, ou de conseguir delegar todas as tarefas em casa e fazer com que sejam cumpridas em um prazo preestabelecido, com pouquíssimas palavras (ou olhares). Número seis: trabalhar sob pressão. Uma mulher é capaz de trabalhar o dobro para provar sua competência, ser fiscalizada por homens (e ter seu salário inferior aos que possuem o mesmo cargo), ouvir horas de pressões sociais sobre sua maneira de agir e sobre o seu relógio biológico, e, finalmente, findar o dia deslumbrante! 264


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Enfim, após longas e longas buscas, descobri algo muito interessante. Eu já tinha todas as habilidades. Sorte? Sim! Eu nasci mulher!

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Até quando Virginia Braga Dal Carobo Somos feitos do sol que nos abraça feito sinfonia numa sorrateira alegria para dissipar este tempo cujo intento desconhecemos... esmorecemos enquanto vivemos um dia, mais um dia sem, contudo, sermos e estarmos livres deste flagelo que nos é imposto neste viver composto de um ritual a contragosto Aprendemos a sorrir com os olhos enquanto guardamos a face e tudo que enlace a vívida cor do batom que a muitos compõe insistimos e resistimos descobrimos a cada dia que estarmos viva é o empreendimento do momento as vaidades guardadas num tempo que se consome. entre tu , eu e nós existe a espera... resilientes seguimos 266


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nossos descaminhos tomara que aprendamos a ser um com o outro já que descobrimos a pequenez de que somos feitos quiçá, sejamos refeitos pelo sol e pela dose que cura liberta e livra não só o corpo mas a alma enquanto acalma essa dor que por ora dura.

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Sê tu, mulher! Vitória Fonseca dos Santos de Oliveira Tu mulher Ser que ilumina, que fascina Olha o quão incrível tu és! Mulher é tipo agro É pop, é top É mãe, é filha É do lar é do (a)mar! É funcionária, é empresária É confeiteira, sem dúvida a melhor quituteira É forte, é guerreira Com ela, a família inteira vence qualquer barreira! Por isso, não te esqueças mulher O ser único e incrível que tu és! Olha pra tua vida! Olha o quanto tu cresceste, o quanto tu venceste! E que isso seja só o começo, para ser sem medo, a mulher que tu quiseres!

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