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Leonardo Castelo Branco - São Paulo/SP

No espelho

Leonardo Castelo Branco - São Paulo/SP

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Dá vertigem (em fúria) olhar a si mergulhar na luz e cegar-se por um instante sentir o gosto do cigarro que já não fuma como o amputado sente o que já não existe [mas persiste.

Que tal este reflexo de rosto convexo? nariz macetado, peles pelancas, pés de galinha barba por fazer, cabelos pela hora da morte. Os primeiros fios brancos perdidos como náufragos, olheiras lapidadas em três décadas de insônia. Eu sou as lágrimas que não chegam aos olhos; sou uma raiva cega, um desejo mudo de mudança a falta de coragem de cobrir este poema de porrada.

Veja, sou este vazio cheio de coisas: metade homem, metade hábito, metade gosto, metade escarro. Sou eu mesmo neste reflexo? Sou as palavras que brotam da alma da alma a inquietude de um coração nu em praça pública o chiado que habita o intervalo das canções aquele que ouve Bach no amolar da faca.

Também sou essa coisa inominável: o medo de que tudo e nada aconteça por exemplo, o lustre cair na minha cabeça enquanto meus pensamentos atravessam a lua; sou a certeza de que toda vida não basta; toda vida é tempo de menos.

Olhe, sinta o ruflar da pele feita de verso e verbo a valsa dos raios vulcânicos exploradores de bibliotecas a cabeça ancorada em poemas e hipotecas o torpor do corpo invadido; do corpo maldito um grito de socorro nunca ouvido perdido entre milhões de gritos de socorro

ouvidos. Repare nestes olhos instigados pelo pecado a timidez das tatuagens vencidas pelo tempo [nunca

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