Destaque Rural 10ª edição

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ANO II NÚMERO 10 RIO GRANDE DO SUL AGOSTO | SETEMBRO | 2015 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

INFORMAÇÃO COM PROPRIEDADE

SEMEADURA DE PRECISÃO O segredo de um grande potencial produtivo

Markus schmiedt

n PECUÁRIA Criação de gado: uma opção rentável

n CIÊNCIA Pesquisadores desvendam código genético do| trigo Agosto e Setembro 2015 | Rio Grande do Sul

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n SEMINÁRIO Sucessão Rural: processo gradual | 1 e planejado Ano II | nº 10


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CIRCULAÇÃO

EDITORIAL

Na largada é que se ganha a carreira

C

omeçar bem a lavoura não é garantia de que o produtor terá uma boa colheita, pois existem muitos fatores que influenciarão na produtividade final. Mas, começar a lavoura de forma inadequada certamente gera perda de produtividade e rentabilidade final da produção. No mês de agosto, a Destaque Rural esteve presente e fazendo a cobertura do Fórum de Discussão sobre Tratamento de Sementes Industrial Promovido pela Bayer, em Foz do Iguaçu-PR, no qual estiveram presentes pesquisadores reconhecidos nacionalmente e que foram unânimes no que diz respeito à importância da qualidade das sementes, em germinação, vigor e tratamentos adequados para garantia de altos rendimentos. Há poucos anos, o produtor colhia 45 sacas de soja por hectare e ficava muito satisfeito, hoje, graças a pesquisa e desenvolvimento tecnológico aliado à dedicação dos produtores estamos atingindo, tranquilamente, 80 sacas e temos potencial para aumentarmos ainda mais estes números. Mas existe um grande risco para continuarmos crescendo. Só este ano, segundo estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (ABRASS), quase um terço desta safra 2015/2016 será cultivada com sementes piratas. Um dado alarmante que pode tornar o Brasil um mercado não muito interessante para as empresas de pesquisa, que precisa de dinheiro para continuar investindo. Nesta edição fomos a Não-Me-Toque conhecer a propriedade do Produtor Rural Markus Schmiedt, que não abre mão de investir em tecnologias disponíveis e principalmente na gestão técnica da propriedade. Características que o fizeram atingir um aumento de 40% da produtividade em menos de uma década.

Boa Leitura! Leonardo Wink

www.destaquerural.com.br

CIRCULAÇÃO #edição 10 #Ano II #Agosto e Setembro Editora Riograndense CNPJ 17.965.942/0001-07 Inscrição Municipal 66829 Endereço Rua Cacilda Becker, 30 Boqueirão Cep 99010-010 Diretor Leonardo Wink Jornalista Responsável Rosângela Borges (MTB 11.637) Jornalistas Rosângela Borges Cecília Laner Colunistas

Gilberto Cunha Elmar Luis Floss Projeto Gráfico e Diagramação Cássia Paula Colla Revisão Débora Chaves Lopes Comercial Leonardo Wink Impressão Gráfica Sul Oeste Contatos leonardowink@destaquerural.com.br redacao@destaquerural.com.br

(54) 9947- 9287 Tiragem 6 mil exemplares

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ESPECIAL SEMEADURA DE PRECISÃO

ÍNDICE

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O segredo de um grande potencial produtivo

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Criação de gado: uma opção rentável

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Ciclus: um programa que veio para ficar

Crise econômica não assusta

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Bayer SeedGrowth promove 4º Fórum de Discussões TSI

Sucessão Rural: processo gradual e planejado

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Pesquisadores desvendam código genético do trigo

Biotrigo: R$ 20 milhões na nova estrutura

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CT& Bio

Gilberto Cunha

gilberto.cunha@embrapa.br

Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura - Embrapa Trigo

CARTOLA E A NEUROBIOLOGIA VEGETAL

Q

uando Angenor de Oliveira, o monumental compositor e poeta Cartola, escreveu em 1975 a antológica letra de “As Rosas Não Falam”, talvez não imaginasse que os versos “...Queixo-me às rosas / mas que bobagem, as rosas não falam / simplesmente as rosas exalam / o perfume que roubam de ti...” estivessem plenamente sintonizados com uma discussão acadêmica iniciada em 1973, com o lançamento nos EUA do livro de Peter Tompkins e Christopher Bird, “A vida secreta das plantas”. Ainda que a obra de Tompkins e Bird seja considerada um embuste científico ou uma peça de pseudociência, sua argumentação levantou questionamentos que se estendem até os nossos dias: afinal, os vegetais são seres inteligentes? A neurobiologia vegetal é necessária para explicar a sinalização entre plantas e o comportamento dessas em função do ambiente? As plantas são inteligentes ou os estudos que dão sustentação a esses achados são estúpidos? Evidentemente que as respostas dependem do que se entende por inteligência vegetal. O que não nos serve é a antropomorfização dos vegetais, por mais tentador que isso seja. O conceito de inteligência, neste caso, tem que ser pensado de forma não ortodoxa. Ninguém ignora que as plantas não possuem sistema nervoso central e nem cérebro para processar informações nos moldes que fazem os animais (especialmente os humanos).

Em nossas memórias, há de tudo um pouco. Desde bons, hilariantes, dramáticos, até maus momentos vividos. A tal ponto de um mero sabor ou aroma desencadear toda sorte de rememorações (vide as madeleines de Proust) e nos transportar no tempo e no espaço. Os vegetais, obviamente, não têm memórias como as nossas, que são formadas a partir de codificação de informações, seguida de armazenamento no cérebro e, posteriormente, podem ser recuperadas, com toda gama de nuanças emocionais tipicamente humanas. Todavia, as plantas também podem reter eventos do passado – os fenômenos de aclimatação e vernalização de sementes, além da memória transgeracional, sem alteração no DNA, que é atribuída à epigenética, são exemplos. A sinalização elétrica entre neurônios é essencial para a formação da memória, armazenamento e recuperação de informação. E nisso, pela existência de gradientes eletroquímicos entre células e a presença nos vegetais de substâncias que nos animais atuam como neurotransmissores (caso do glutamato), é que reside tanto o pleito dos que advogam a existência de uma memória vegetal, portanto de uma atuação consciente e inteligente, quanto a visão dos críticos que defendem como desnecessárias essas expressões. Entre os defensores da “inteligência vegetal” destacam-se aqueles que entendem a expressão como uma propriedade biológica inerente à vida, que é emergente de interações

celulares e de redes de comunicação. Outros advogam a favor da neurobiologia vegetal como uma visão integrada da sinalização entre plantas, a partir da habilidade intrínseca para processar informação recebida de estímulos bióticos e abióticos, que condicionam a melhor atuação futura (comportamento) para a planta em dado ambiente. A experiência sensorial das plantas, ainda que guarde semelhança com certos atributos da mente humana, é diferente da nossa e dos outros animais. É a emoção, não a racionalidade como muitos supõem, que nos diferencia dos outros seres vivos, inclusive potencializando a nossa dor, que é algo que as plantas não sentem, por não terem cérebro e nem córtex pré-frontal. A principal questão nesse debate, como bem frisou Daniel Chamoviz, no epílogo do seu livro “What a plant knows”, publicado em 2012, não é se os vegetais são inteligentes ou não, mas sim se as plantas são conscientes ou estão alertas para as flutuações que ocorrem no meio em que vivem. E a resposta é essa: sim, SÃO conscientes e ESTÃO sintonizadas com o ambiente ao seu redor, podendo, inclusive, modificar sua fisiologia com base em suas “memórias”. Quanto aos versos do Cartola, o poeta da Estação Primeira de Mangueira estava parcialmente certo, pois queixar-se às rosas pode ser bobagem, mas não porque elas não falam e sim porque elas são surdas.

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PECUÁRIA

Criação de gado: uma opção rentável Pecuaristas do RS estão aproveitando o bom momento Cecília de Cesar Laner

É

cada vez mais comum percebermos o cultivo de lavoura onde outrora víamos campos para o gado. Os produtores estão dei-

xando para trás a prática da pecuária e buscando suprir o mercado interno e externo de grãos. Entretanto, o desinteresse pela criação de gado fez com que a oferta do produto caísse, aumentando a rentabilidade daqueles que ainda investem em gado. Jair Rodrigues é um dos produtores que investe ano após ano na criação de gado. Diferente da maioria dos produtores que deixaram a prática de lado, Jair conta que há 15 anos não planta mais trigo nos 650 hectares da

propriedade que tem em Pontão. “Investir em trigo é um tiro no escuro. O agricultor depende de uma série de fatores que fogem do seu alcance, como clima, qualidade do grão e mercado, sem falar que o investimento na lavoura do cereal é bem pesado se compararmos com o investimento em pastagem para o gado”, pontua o produtor. Hoje a média de custo da lavoura de trigo é de R$ 1.200,00 por hectare, enquanto o custo da lavoura de aveia fica por volta dos R$ 500,00.

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“Planto pastagem nos 650 hectares da propriedade. Em 400 deles eu largo o gado e deixo 250 hectares de aveia para colher, sempre fazendo rodízio do local destinado à alimentação do gado e ao destinado à colheita”.

Jair Rodrigues e sua filha Valéria.

Compactação do solo Questionado sobre o comprometimento do solo nas zonas dedicadas à alimentação do gado, Jair Rodrigues argumenta que não há prejuízos. “Sempre tiramos o gado cerca de um mês antes de iniciarmos o plantio da soja. Neste período o solo se descompacta e a vegetação cresce, formando a cobertura necessária para o sistema de plantio direto. Desta forma, recuperamos a estrutura do solo para que a oleaginosa possa se desenvolver sem danos”, explica, salientando que nestes 15 anos nunca houve diferenciação no desenvolvimento da soja nas áreas cultivadas pela aveia para grão e naquelas onde foram destinadas à alimentação do gado. Rentabilidade Jair Rodrigues destaca que o mercado de gado de corte está passando por um excelente mo-

Plantel Em uma década e meia dedicada ao cultivo da lavoura aliada à pecuária, Jair Rodrigues conquistou um plantel de 300 cabeças de gado. Nos últimos três anos vem ainda investindo numa nova técnica: a recria de gado de corte e novilha holandesa. O produtor recebe fêmeas em sua propriedade com 200kg. Quando as mesmas atingem os 350kg são inseminadas e, no oitavo mês de gestação, retornam à propriedade de origem.

mento. A crise hídrica que assolou o sudeste, associada à diminuição da criação de gado no Rio Grande do Sul, especialmente na região sul, fez com que a oferta da carne diminuísse e, consequentemente, o preço aumentasse. “Hoje o pecuarista fatura em média R$ 5,50 por quilo do boi vivo”.

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Sucessão e ampliação do rebanho A filha de Jair, Valéria Rodrigues, está cursando o sexto semestre de Medicina Veterinária na Universidade de Passo Fundo. A criação na fazenda, em meio aos animais de produção como bovinos, suínos, ovelhas e também junto de cavalos e cachorros influenciou em sua escolha. “Cresci em contato com os animais, ajudando na lida, nas vacinações, castrações, de onde provém minha vontade de seguir os passos do meu pai, e sucedê-lo futuramente”. Valéria diz que a administração é do pai, é ele quem

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decide o que vai ser feito e quando. “Ele tem muito mais experiência que eu, mesmo assim aceita bem as opiniões, principalmente a minha, até porque sempre há novidades no meio da bovinocultura em termos de remédios e tratamentos. Eu ajudo sempre que posso, isto é, nos finais de semana e nas férias, em tudo que é necessário, desde recolher o gado no campo, até fazer fichas para cada novilha holandesa que recriamos”, conta a jovem. Segundo ela, a família tem planos em conjunto e ele tem seus planos pessoais. Um deles é expandir mais o rebanho, ocupar uma maior área

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de terra com os animais. “Como faço veterinária espero poder trabalhar em casa também, junto com meu pai. Estamos pensando em seguir a recria de novilhas holandesas e talvez montar um confinamento grande para bovinos de corte. Acredito que o fato de estar fazendo esse curso influencia nas escolhas futuras do meu pai em relação às áreas ocupadas para plantação de grãos e criação de gado. Enquanto ainda estou estudando é complicado porque não posso estar sempre lá ajudando, mas depois que me formar, espero poder me dedicar completamente à área”.


MANEJO TECNOLOGIA

Ciclus: um programa que veio para ficar

esperado”, recorda Kerber. Passaram-se os primeiros cinco anos de Ciclus e as expectativas vinham correspondendo. Então, o programa passou a ser mais difundido e a alcançar mais produtores interessados a trabalhar com a agricultura de precisão. “Nestes últimos dois anos, percebendo o retorno do investimento, os produtores passaram a acreditar no programa, entendendo que trabalhar com agricultura de precisão é trabalhar com investimento e construção da fertilidade do solo, o que leva até dois anos para apresentar retorno”.

Cotrijal difunde agricultura de precisão entre os produtores Cecília de Cesar Laner

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ão é novidade para ninguém que a tecnologia está cada vez mais presente na vida de todos, inclusive daqueles que trabalham no campo. Se até pouco tempo era improvável ver alguém ter acesso à internet na zona rural, hoje já observamos sem nenhum espanto os agricultores a monitorar suas propriedades pelo celular. E é percebendo essa necessidade de investir em tecnologia para ter melhores resultados na lavoura que a Cotrijal de Não-Me-Toque desenvolveu o programa Ciclus, que tem por objetivo levar a agricultura de precisão aos produtores. O coordenador do programa Ciclus, Leonardo Kerber, explica que o mesmo teve início em 2007, como projeto paralelo ao projeto Aquárius*. “Entre 2007 e 2009 trabalhamos basicamente coletando amostras de solo, investindo em material e capacitando pessoal para trabalhar com as

Leonardo Kerber: Coordenador do Ciclus

informações coletadas e gerando mapas”. Foi a partir de 2009 que o projeto tomou a dimensão de programa e passou a levar seus benefícios ao produtor, que tinha a amostragem de solo coletada para a aplicação adequada de corretivos e fertilizantes. “Até 2012, embora trabalhando com muito afinco, ainda estávamos divulgando o programa com certa moderação, pois estávamos mais preocupados em coletar informações e analisar o resultado. Foi um período de examinar se o nosso trabalho realmente teria o resultado

Funcionamento “Através de todo este estudo realizado nas lavouras dos proMas o que é Agricultura de Precisão? A agricultura de precisão é uma filosofia de gerenciamento agrícola que parte de informações exatas, precisas e se completa com decisões adequadas. É uma maneira de gerir um campo produtivo metro a metro, levando em conta o fato de que cada pedaço da fazenda tem propriedades diferentes. O principal conceito é aplicar os insumos no local correto, no momento adequado, as quantidades de insumos necessários à produção agrícola, para áreas cada vez menores e mais homogêneas, tanto quanto a tecnologia e os custos envolvidos o permitam. Definição feita pelo Engenheiro Agrônomo do BADESUL, José Luis da Silva Nunes

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dutores é que mapeamos quais são os talhões de alta, média e baixa produtividade. E é justamente a partir deste resultado que passamos a trabalhar, ou seja, investir em calcário, adubo e fertilizantes de maneira adequada, conforme a necessidade apresentada nos mapas. Assim, evitamos o desperdício de investir onde não há necessidade, além de corrigir e estruturar o solo para nos trazer o retorno esperado”, esclarece. Conforme dados registrados pela Cotrijal e pelos próprios agricultores, a produtividade nas áreas manejadas com agricultura de precisão é de 5 a 8 sacas a mais por hectare (no caso da soja). Futuro A partir de 2016 o programa Ciclus deve ousar ainda mais, investindo em imagens de satélites das lavouras. Desta forma, outro mapa deve ser gerado: o mapa de colheita. O mesmo deverá conter as zonas de alta, média e baixa produtividade, a partir do índice de massa folhar. Economia e uso racional de recursos Um dos produtores que apostou no programa Ciclus é o engenheiro agrônomo Giordano Schiochet. Em 2009 ele começou a trabalhar com agricultura de precisão através do programa da Cotrijal, numa área de 31,5 ha. “Hoje a propriedade de minha família (350 ha) está com 70% da área corrigida neste sistema. Após atingir os 100% nossa meta é realizar todo o ciclo de coleta e correção a cada três anos”, projeta Giordano. O agrônomo lembra que em 2009 a produtividade média de soja ficava em torno de 50 sacas/ha e que na safra 2014/2015 a média subiu para 76 sacas/ha. “Claro que o melhoramen10 |

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Programa Ciclus em números Hoje já são aproximadamente 650 produtores engajados no programa, numa área de 60 mil hectares. Para atender toda esta demanda, a Cotrijal conta com 13 caminhões para aplicação de calcário e fertilizantes (07 próprios e 06 terceirizados), que atendem de forma regionalizada todos os municípios de abrangência da cooperativa, além de 11 quadriciclos (02 próprios e 09 terceirizados) para coletar as amostragens de solo. Para que o mapa seja gerado, uma amostra de solo é coletada por hectare. Para ter acerto garantido, o programa Ciclus desenvolve mapas mais precisos, com maior variação de doses em curtas distâncias, o que garante um acerto de 90% na dose aplicada.

to genético de cultivares e defensivos mais eficientes na proteção da cultura foram fatores determinantes para este acréscimo significativo, mas acredito que a agricultura de precisão também seja um dos fatores para o bom resultado na lavoura”. Porém, para Giordano, o diferencial da AP está na economia. “Eu vejo a economia e o uso racional dos recursos como principal vantagem da AP. A coleta georreferenciada das amostras de solo nos permite identificar os pontos de alta, média e baixa fertilidade e assim quantificar e alocar devidamente os insumos. Hoje no mercado temos máquinas capazes

de realizar o trabalho de distribuição de maneira eficiente e precisa, desde que calibradas e reguladas de maneira correta (o operador bem instruído tem um papel fundamental). Não seria inteligente realizar um excelente trabalho de coleta e interpolação de dados e perder na hora da distribuição. Terceirizo todo o trabalho tanto de coleta de amostras quanto de distribuição em taxa variável da cooperativa Cotrijal, a qual somos associados. Em paralelo à agricultura de precisão, julgo indispensável um eficiente sistema de plantio direto e a preocupação com a conservação do solo”, conclui.

*Projeto Aquarius: É uma parceria, iniciada em 2000, entre as empresas Cotrijal, Massey Ferguson, Yara, Stara e Universidade Federal de Santa Maria, através do NEMA e do Setor de Uso e Manejo e Conservação do Solo (Departamento de Solos), com objetivos comuns de desenvolver o ciclo completo de agricultura de precisão. Experiência pioneira no sul do Brasil na forma e na amplitude da pesquisa da agricultura de precisão. Com o objetivo de avaliar essa ferramenta no sul do Brasil, a iniciativa privada, o produtor rural (Fazenda Anna, associados da Cotrijal) e o instituto de ensino e pesquisa (UFSM) estão desenvolvendo em conjunto o Projeto Aquarius. Esse projeto é pioneiro em implementar no RS áreas comerciais com o ciclo completo de agricultura de precisão. O projeto foi inicialmente desenvolvido em duas áreas: a área Schmidt com 124 ha e a área da Lagoa com 132 ha no município de Não-Me-Toque, RS. Atualmente conta com 16 áreas distribuídas no Alto Jacuí, totalizando 729 ha. Ainda, possui um rico banco de dados contendo resultados de análises de solo e rendimento de culturas.

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MANEJO EXPOINTER

Ernani Polo, secretário de Agrícultura e Pecuária do RS

Crise econômica não assusta 38ª edição da feira investe em tecnologia para público

Cecília de Cesar Laner

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Expointer é uma feira consolidada e todo ano reúne produtos da agropecuária e maquinários de toda a América Latina. Este ano

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a feira conta com a exposição de mais de 4 mil animais e também oferece aos visitantes a Feira da Agricultura Familiar, palestras técnicas, a Exposição de Artesanato do Rio Grande do Sul, shows, eventos culturais, concurso e leilões de animais. Mas a novidade que mais chama atenção para a 38ª edição da feira é o aplicativo para smartphones, que traz dicas, programação e informações sobre o evento. Para que a Expointer pudesse ser realizada este ano sem

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nenhum comprometimento, o parque Assis Brasil passou por reformas, pois foi atingido por um vendaval no final de 2014. As estruturas foram recuperadas pelo governo do Estado, numa ação conjunta a entidades parceiras do parque, que abraçaram a mobilização. O governador Ivo Sartori declarou no lançamento da Expointer, no dia 5 de agosto, que este é um evento que precisa de estímulo e colaboração. “Mesmo com os ares de dificuldades econômicas no

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Estado e no país, manter este evento já uma forma de desafiar o amanhã e vamos superá-lo com unidade, vontade e disposição”, enfatizou o governador. A revista Destaque Rural entrou em contato com o secretário de Agricultura e Pecuária do Rio Grande do Sul, Ernani Polo, que respondeu algumas questões. Destaque Rural - A Expointer é uma feira renomada e consolidada, que traz sempre grande retorno para o setor agropecuário gaúcho e nacional. Defina a real importância da Expointer para o RS.

Ernani Polo - A Expointer é um momento chave para o setor primário, pois serve como

“Mesmo com os ares de dificuldades econômicas no Estado e no país, manter este evento já uma forma de desafiar o amanhã e vamos superá-lo com unidade, vontade e disposição”

vitrine para os produtos do campo, além de proporcionar oportunidades para bons negócios, troca de experiências e participação nos seminários que servem para atualizar os produtores sobre as novidades que podem lhe auxiliar no dia-a-dia. Além disso, a Expointer também movimenta a economia local com os visitantes que vem de outras cidades, estados e até mesmo de outros países. Isso é bom para a rede de serviços, como hotéis, táxis e restaurantes. Também é importante salientar que a feira é sucesso de público. Muitas pessoas vão até lá apenas ver os animais, passear e se divertir com a família. Outro fato importante é que a Expointer é a maior feira a céu aberto da América Latina, uma referência no setor agropecuário e isto sempre pesa para que tenhamos ótimos resultados.

Destaque Rural –

O Brasil e o Estado vêm atravessando uma crise financeira. De que forma a Expointer foi prejudicada com a atual situação do mercado?

Ernani Polo - Sabemos que estamos enfrentando um momento difícil e que as taxas de juros estão elevadas, entretanto, a agropecuária segue tendo um papel fundamental para nosso Estado. Por ser uma feira já consoli-

dada, os fabricantes vieram dispostos a vender e, consequentemente, negociar com os compradores. Mesmo que o momento não seja dos melhores, tiemos mais uma Expointer de sucesso, em que pese esta crise que é nacional e até mesmo global.

Destaque Rural –

Buscando sempre trazer aos visitantes mostras de tecnologia e inovação para o campo e no trato com os animais, de que maneira os expositores driblaram o mau momento do mercado? E quanto ao Estado, haverá investimentos no setor para fomentar a economia?

Ernani Polo - Realizando um contato maior com o público que visitou a feira, explicando e levando a qualidade dos seus produtos aos consumidores, pois tivemos excelência nesta questão. A cada ano há sempre inovações tecnológicas a serem lançadas que surpreendem e atendem aos anseios dos visitantes da Expointer. Este ano, por exemplo, tivemos o lançamento de um aplicativo para smartphones, que forneceu todas as informações da feira diretamente no celular. O Estado fará ações para o fortalecimento do setor primário através do suporte às cadeias produtivas e da manutenção das ações da secretaria como órgão incentivador do meio rural.

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MANEJO SEMENTES

Bayer SeedGrowth promove 4º Fórum de Discussões TSI Bayer CropScience.

Evento reuniu mais de 60 produtores de sementes do Sul do País Rosângela Borges

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mpliar o potencial produtivo de sementes no Brasil com soluções que atendem à demanda nacional e dar continuidade à evolução tecnológica a serviço do produtor foram alguns dos temas abordados durante o 4º Fórum de Discussões TSI (Tratamento de Sementes Industrial), promovido pela Bayer, por meio de sua área Bayer SeedGrowth, em Foz do Iguaçu, Paraná, nos dias 30 e 31 de julho. O evento, que reuniu mais de 60 pro14 |

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dutores e representantes de empresas produtoras de sementes do Sul do País, trouxe palestras com foco principal no desenvolvimento de tecnologias em sementes e proteção de sementes. Entre os temas tratados no evento: teste de germinação em sementes e importância da semente de qualidade, sustentabilidade na produção de sementes, proteção da soja intacta, lançamento da campanha de CropStar®, legislação de sementes e TSI, Selo de Qualidade/ Serviços Bayer SeedGrowth e estratégias da unidade de Sementes da | Rio Grande do Sul | Ano II | nº10

Legislação José Neumar Francelino, ex-coordenador do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), levou ao evento a ampla discussão sobre o receituário agronômico para o tratamento de semente industrial. Segundo ele, as normas são elaboradas por uma equipe com representantes do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA). “Esta é uma questão que a Federação dos Engenheiros Agrônomos deve estar mais presente, pedindo acento nestes debates porque a coisa está sendo levada para uma situação inapropriada à atividade agrícola em relação ao TSI. Entendemos que ele é benéfico para o meio ambiente, tendo em vista a melhoria na saúde do trabalhador, pois é automatizado. Outro aspecto é que o registro dos defensivos agrícolas é feito por espécies e não por praga. Está sendo dado entendimento na área jurídica, nos MP de que tem que ser feita receituário agronômico por praga e não por espécie. Há uma divergência no que se refere à lei federal de agrotóxicos, em relação ao receituário agronômico, hoje é o ponto mais forte das discussões, assim como resíduos sólidos como sobras de sementes e embalagens”. De acordo com o Francelino, houve uma evolução no caso das embalagens, nas quais muitas são com forro e uma película de cobertura que não


há mais liberação de pó em relação ao tratamento, há proteção da semente do próprio produto utilizado no processo. “Este é o foco que deve ser trabalhado neste segmento de sementes, TSI e entidade dos engenheiros agrônomos, que está ficando fora da discussão. É algo que pode impactar a produção de alimentos se algumas atitudes forem adotadas, do ponto de vista de interpretação jurídica e não do ponto de vista da prática da tecnologia que envolve o TSI. As discussões em torno do tema estão fazendo com que os produtores fiquem alheios a estas discussões e eles poderão ser prejudicados com ações judiciais como cassação do título do engenheiro agrônomo, entre outras penalidades”. O diferencial O palestrante José de B. França Neto, presidente da Abrates e engenheiro agrônomo da Embrapa Soja, destacou que o sucesso na lavoura depende basicamente de uma semente de boa qualidade. “O sojicultor deve começar corretamente com semente de boa qualidade e uma semeadora de alta precisão, para que haja boa distribuição das sementes e consequentemente obterá a população de plantas adequadas, vigorosas. Para tanto, é necessário caracterizar esta semente e as empresas de sementes estão todas habilitadas para isto, por meio de seus laboratórios, e o produtor poderá ter acesso a esta qualidade na hora de comprar um lote”. França Neto lembra que só para a semente de soja são 11 testes de vigor que podem ser realizados.

Preço Outra questão debatida foi em relação ao custo elevado das sementes que oneram o produtor. Mesmo assim, o engenheiro aponta que pesquisas mostram que o produtor que começa sua lavoura com uma semente de alta qualidade terá ganho de produtividade embutido na própria semente, em torno de 10% e, em alguns casos, até 30%. “Isto é um ganho automático que o produtor tem quando ele compra esta semente de alta qualidade. Não tenho dúvida que é um seguro que vem embutido na semente. O fato dele comprar uma semente de alto vigor já garante uma população de plantas adequada, com ganho de produtividade. Mesmo que 2015 seja um ano de crise, com aumento de insumos como adubo, fertilizantes, inseticida, fungicida e da própria semente, sabemos que o produtor acaba buscando economizar utilizando sua própria semente salva ou utilizando o mercado informal, com aquisição se sementes pirata, o que não recomendamos, embora sabemos que o mercado faz isso. Esta semente é ilegal e não deve ser uma prática. A semente salva é permitia por lei, mas de 80% a 90% desta semente produzida no Brasil não tem o mínimo de qualidade, porque a maioria dos produtores não detém a tecnologia de produção de semente de alta qualidade. A semente custa caro porque o produtor tem que investir em tecnologia para ter uma semente de qualidade”, finalizou.

“Os laboratórios de sementes que trabalham com soja no Brasil estão habilitados para fazer estes testes. Para tanto, na hora da compra, o produtor pode demandar germinação e lote de alto vigor. Se todos buscarem isto o produtor vai se habilitar para colocar no mercado somente lotes de alta qualidade”. Diacom: 35 anos Ademir Henning, engenheiro agrônomo da Embrapa Soja, destacou em sua palestra, o uso do Diacom – método que combina Tetrazólio e patologia de sementes desenvolvido em 1980 e utilizado até hoje. “Desenvolvemos este método onde ensinamos a técnica de avaliar corretamente os lotes”. Entre os fatores que podem causar problemas de germinação na semente de soja estão os problemas fisiológicos: dano mecânico, dano de umidade, percevejo mal contro-

lado. Se há problemas fisiológicos não há tratamento. Ainda os problemas de ordem sanitária, fungos, por exemplo, que podem infeccionar a semente em determinados anos, causando a reprovação de lote em laboratório. “Há duas opções: uma é usar o Diacom. Se for problema de infecção por um fungo que ocorre quando tem chuva na colheita, ele pode fazer germinação na areia, que aprova os lotes ou armazenar estes lotes desde que tenham boa qualidade fisiológica, sem dano mecânico. Armazena, o fungo desaparece e aumenta a germinação e aprova os lotes. Há solução e um bom tratamento com fungicida sistêmico resolve”. Muitos lotes de sementes têm sido salvos graças ao método. Pacote tecnológico Roberson Lima, diretor de Bayer SeedGrowth, conta que a Bayer CropScience tem feito investimentos

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no decorrer dos anos no desenvolvimento de tecnologias em sementes e proteção de cultivos, que inclui a proteção de sementes, com modos químicos e biológicos. “Todo este pacote tecnológico não chega ao mercado só por força da Bayer. Temos uma atuação forte na cadeia de valor e os produtores, empresas produtoras de sementes, que são um elo importante dentro dessa cadeia. Neste foco, temos uma parceria muito consistente com empresas multiplicadoras de sementes do Brasil, o que é realidade do Sul do País” destacou Lima. O diretor explicou que o foco principal do Fórum foi congregar as pessoas envolvidas em torno de temas que balizam o trabalho da Bayer para que haja avanço no desenvolvimento de soluções para o produtor rural brasileiro. “Os temas foram relacionados à manutenção e a proteção do potencial produtivo das sementes, e como mantemos a tecnologia a serviço de mais produtividade no Brasil, e também toda a questão relativa à continuidade da evolução tecnológica a serviço do produtor. Com isso conseguimos posicionar a eficiência que todos nossos parceiros têm em relação à produção de sementes, genética a serviço da produção e como que apoiamos toda esta tecnologia: protegendo este potencial produtivo, sendo o parceiro ideal para as tecnologias atuais, tanto em genética como em biotecnologia. Todos estes tópicos, que são extremamente importantes para alavancar a produção industrial no Brasil, foram abor16 |

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José de B. França Neto, presidente da ABRATES e engenheiro agronomo da Embrapa Soja

dados, e entendemos que juntos conseguimos reforçar a importância da nossa missão, que é o da ciência para uma vida melhor”. Lançamentos A Bayer CropScience como empresa inovadora visa atender o mercado por meio de um portfólio de soluções, incluindo produtos biológicos. A inoculação via TSI é uma demanda dos produtores de sementes e agricultores. A parceria entre Bayer e a Novozymes trazem o CTS 200® (Inoculante Longa Vida) – tecnologia que contribui para a fixação biológica de Nitrogênio via TSI e que garante a sobrevivência do Rhizobium por um longo perío-

do de tempo (38 dias registrado pelo MAPA) possibilitando que a sementes que você compra tratada com inseticidas e fungicidas também esteja pré-inoculada com CTS 200® sem afetar a sobrevivência do Rhizobium. “A maior propaganda do TSI é o próprio TSI” Para Eduardo Souilljee, engenheiro agrônomo que atua na área comercial e TSI na Sementes Roos, o evento trouxe novidade técnicas fundamentais sobre TSI, procedimento relativamente novo para as empresas no que se refere a tratamento de sementes. “Como é algo novo estamos nos atualizando sobre o TSI a cada

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que estão vinculadas como multiplicadoras e a própria Bayer, envolvida na comercialização das soluções para o tratamento de sementes. “O Fórum cumpriu o papel de dar maior segurança aos produtores, mostrando que estamos fazendo a coisa certa. Compreendemos que o TSI traz maior eficiência. É uma necessidade, não se tem conhecimento desta atividade no Brasil e precisamos saber o caminho a ser tomado. A melhor propaganda do TSI é o próprio TSI”. Troca de experiências Mauro Jochelavicius, responsável pelo setor de sementes da Sementes Beé, acredita que o Fó-

rum promoveu uma importante troca de experiências entre as empresas produtoras. “Todos aprendemos mais. O pessoal da Bayer nos coloca situações em que há necessidade de conhecimento”. Mesmo assim, Jochelavicius destaca que algo é o que projetam e outra a realidade. “É um tema em que se sempre há novidades, apesar de que ainda faltam muitos resultados oficiais em cima de vários fatores. Dependemos da legislação, temos que nos adaptar, mas precisamos de ainda mais envolvimento do governo. Com certeza o evento da Bayer ajudou a sabermos mais sobre o tema. Dependemos de leis e acabamos tendo que nos adaptar”.

A Bayer CropScience encontro. O Fórum foi uma bela oportunidade de aprofundarmos o tema. Vimos quantidade de empresas com produtos biológicos aplicados via semente sendo menos tóxico para o meio ambiente, o que é uma necessidade. Compreendemos ainda as questões legais ligadas à legislação, com a participação do MAPA e Embrapa, em que debatemos a melhoria da qualidade das sementes também. Para termos tratamento industrial precisamos de sementes de alta qualidade e uma coisa leva a outra. O Fórum enriqueceu nossa compreensão”. Para Souiljee, é fundamental debates como este, nos quais estão envolvidas as áreas de pesquisa, as empresas

A Bayer é uma empresa global, com suas principais atividades concentradas nas áreas de saúde, agricultura e materiais de alta tecnologia. A Bayer CropScience, subgrupo da Bayer AG e responsável pelo negócio agrícola, tem vendas anuais de EUR 9.494 bilhões (2014), sendo uma das líderes mundiais em ciências agrícolas e inovação nas áreas de sementes, proteção de cultivos e controle de pragas não-agrícolas. Oferece uma excelente gama de produtos, incluindo sementes de alto valor, soluções inovadoras para a proteção de cultivos baseadas em modos de ação químicos e biológicos, bem como extensivos serviços de suporte para o desenvolvimento de uma agricultura moderna e sustentável. Na área de produtos não-agrícolas, a Bayer CropScience tem um amplo portfólio de produtos e serviços para o controle de pragas, que abrange desde aplicações de casa e jardim até para o segmento de reflorestamento. A empresa conta com uma força de trabalho global de mais de 23.100 colaboradores e está presente em mais de 120 países. No Brasil, faz parte do Grupo Bayer, com mais 119 anos de atuação no País e aproximadamente quatro mil colaboradores. A Bayer CropScience, no Brasil, conta com mais de 1,9 mil colaboradores, uma instalação industrial em Belford Roxo (RJ) e um Centro de Pesquisa e Inovação no Estado de São Paulo.

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SEMEADURA DE PRECISร O

O segredo de um grande potencial produtivo

Marcus Schmiedt, trabalha hรก dez anos com plantio preciso 18 |

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O segredo de um grande potencial produtivo Rosângela Borges

O

aumento da produtividade das culturas agrícolas depende de uma combinação de fatores específica e de um gerenciamento de resultados. Aliar genética, melhoramento de plantas, solo, nutrição, rotação de culturas, agricultura de precisão e maquinário de ponta fazem parte da conjugação de sucesso que levam Markus Schmiedt, multiplicador da Cotrijal (Cooperativa Agropecuária e Industrial), a resultados surpreendentes: em menos de uma década a produção de soja aumentou mais de 40%, saltou de uma média de 45 para 78 sacos por hectare. É no interior do município de Não-Me-Toque, no Norte do Rio Grande do Sul, que o produtor e médico veterinário, formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), implementa tecnologias que a cada ano aumentam os tetos produtivos em uma área de 830 hectares. Às margens de uma bela lagoa, acompanhada de extensas coxilhas avista-se a Agropecuária NH, propriedade herdada do pai, Ingbert Schmiedt, e gerenciada por Markus há três anos. Entre os fatores para o ótimo desempenho produtivo, o multiplicador destaca a semeadura de precisão. Segundo ele, garantir a qualidade da semeadura é muito importante para começar bem a lavoura, aproveitar o potencial da semente, da fertilidade do solo e transformar isso em plantas que sejam bem formadas e obtenham o melhor rendimento possível. Medidas que fazem parte do trabalho cotidiano de Markus. Há dez anos a semeadura de precisão foi adotada e a cada ano melhores resultados são confirmados. Para isso são feitas adaptações, novas implantações, até se chegar as práticas mais adequadas e atuais, fruto também do apoio técnico e especializado desenvolvido pela Cotrijal. “Não vamos utilizar o potencial genético da semente se não houver solo de acordo com a necessidade para determinado tipo de semeadura. Em cada gleba é feita análise de solo de precisão e, em cima dos resultados, avaliamos a quantidade de semente por metro linear, qual cultivar e a época de plantio”, explicou o engenheiro agrônomo da Cotrijal, Robinson Barboza, que presta assistência técnica há nove anos na Agropecuária NH. Agosto e Setembro | 2015 | 18 e19 Rio Grande do Sul | Ano II | nº 10


Funcionário Beto, operando os equipamentos de semeadura

Inovação Há 11 anos Markus visitou propriedades nos Estados Unidos, percebeu as diferenças e o que precisava ser repensado em termos de maquinário e mão-de-obra. “Quando fui ao exterior percebi um problema que aqui logo iríamos enfrentar: a falta de mão-de-obra. Nos EUA propriedades de 500 ou mil hectares são administradas por um casal e mais um funcionário. Lá, as mulheres também trabalham na lavoura e isso só é possível pela tecnologia empregada. Compreendi que precisava investir em boas condições de trabalho com máquinas de maior tecnologia. E fiz isso. Precisamos oferecer outros meios de deixar o pessoal contente para trabalhar”, disse o pro20 |

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dutor, que há nove anos já utilizava semeadora de 13 linhas, enquanto no Brasil ainda utilizam de sete linhas. A intenção sempre foi avaliar o que compensaria e um dos fatores foi compreender o que é mais vantajoso, uma máquina maior abrangendo mais áreas ou várias máquinas menores. “O objetivo aqui é diminuir o tempo do funcionário na lavoura e na agricultura de precisão as máquinas modernas fazem melhor este papel. Percebemos a necessidade de equipamentos maiores com potencial de rendimento em janelas curtas de plantio”, explica Barbosa. Rotação de culturas A rotação de culturas também é | Rio Grande do Sul | Ano II | nº10

determinante. “O milho incrementa a massa seca e a matéria orgânica e evita que fungos, que atacam o sistema radicular da soja, causem maiores problemas”, explica o agrônomo. Ele ressalta que em alguns anos houve produção em mais de um talhão, superando 100 sacos de trigo por hectare, cevada mais de 90 sacos, milho em 2014 ficou em torno de 215 bruto e soja 78 o bruto. “Como aqui o solo é bem manejado, a área tem maior potencial produtivo. No momento de implantar é preciso ter velocidade de máquinas, com aferição de equipamentos. Hoje em dia se tem equipamentos com maior tecnologia e a aferição é ainda mais frequente e rápida. Nesta propriedade a calibração era


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to a cultura tem potencial de produzir a mais. “Tentamos trabalhar evitando comercializar a semente com menos de 80% de vigor. Precisa um padrão de potencial produtivo. Quem tem o produto bom coloca a germinação, pureza e vigor sem medo e sabe de onde tirou a semente. Normalmente os produtores que colocam apenas o dado que a semente tem mais de 80% de germinação sem outras especificações é porque não obteve bons resultados.

Semeadura precisa

feita de forma sistemática, mas as máquinas com maior tecnologia auxiliam nesta tarefa. Hoje se consegue este objetivo com a própria máquina em tempo real. O sensor de distribuição consegue verificar linha a linha o que está caindo no solo, quantas sementes por linhas, população e média. Ela aumenta ou baixa a população tanto de fertilizante como semente. É possível inserir um cartão onde colocará o tipo da lavoura e ela irá calcular o que precisa de magnésio, fósforo, enxofre e taxa variável de semente”. O engenheiro agrônomo da Cotrijal alerta aos produtores que não adianta irrigação se não tiver manejo para produzir alto potencial. “Utilizar o sistema de irrigação e não conhecer a cultura não adianta. Muitos produtores rasgam dinheiro colocando muita água ou menos que o necessário. Se 22 |

60% da área com multiplicação de sementes que demonstra a qualidade do manejo

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colocar água no momento errado perde potencial produtivo. A irrigação deve estar dentro do sistema”. Resultados Robinson explica que há resultados que mostram o mesmo grão que beneficiar por tamanho e passar por processo industrial pode chegar de 7% a 10% a mais de incremento de potencial produtivo e acima de 90% de vigor. “A cada 1% de aumento de vigor na semente impacta em kg, mostrando o quan-

A doença nem chega a lavoura A aplicação precoce de fungicidas previne a chegada de doenças nas lavouras de Markus. Para o produtor, é preciso aplicação para evitar a entrada de doença. “Depois que se estabeleceu a doença, a lavoura já está com 10% de perda, então, reduzimos para cada 15 dias a aplicação e no máximo 20 dias”.

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Recomendação diferenciada “Fizemos um mapa de fertilidade da área e testamos os cultivares. As empresas fazem uma recomendação média, com sugestão de número de sementes por metro linear. Elas chegaram a estes números tendo que saber qual cultivar, qual formato de abertura de folha. Fizemos testes e este ano colocamos todos os materiais que se tem hoje no campo, com população recomendada pela empresa e mais duas populações que imaginamos uma ser correta e uma maior para mostrar que acima do que é recomendado também não dá certo. O produtor precisa compreender que deve ser cauteloso em certas situações. Com a alta produtividade a recomendação poderá ser maior. Esta propriedade permite população do milho mais elevada em virtude da fertilidade de solo e manejo que é feito aqui. Por isso conseguimos chegar a uma recomendação diferenciada. Desde 2008 é feita a seme-


Fazenda Schmiedt - Talhão - 61.34 hectares Análise de solo - Número da amostra

Cliente: Markus Gustavo Schmiedt Área de Contorno: 56,41 (ha) Mín: 2,329155 Méd: 32,441006 Máx: 59,224275 Desvio Padrão: 14,830041 Prof. da Amostra: 0 (cm) - 12,5 (cm) Data Inicial: 26/08/2009 11:24:16 Data Final: 26/08/2009 11:24:16

Fazenda Schmiedt - 12 Talhão - Gustavo 61.28 hectares Cliente: Markus Schmiedt Área deTextura: Contorno: 56,41 Análise de solo %(ha) Argila Mín: 2,329155

Méd: 32,441006 Máx: 59,224275 Desvio Padrão: 14,830041 Prof. da Amostra: 0 (cm) - 12,5 (cm) Data Inicial: 26/08/2009 11:24:16 Data Final: 26/08/2009 11:24:16

COTRIJAL (54) 3332 2562

enda Schmiedt - 12 Talhão - 61.28 hectares Análise de solo - Textura: % Argila

COTRIJAL (54) 3332 2562 Cliente: Markus Gustavo Schmiedt Cliente: Markus Gustavo Schmiedt ÁreaÁrea de Contorno: 56,41 (ha) de Contorno: 56,41 (ha) Mín: 2,329155 Mín: 2,329155 Méd: 32,441006 Méd: 32,441006 Máx: 59,224275 Máx: 59,224275 Desvio Padrão: 14,830041 Desvio 14,830041 Prof. daPadrão: Amostra: 0 (cm) - 12,5 (cm) Data Inicial: 26/08/2009 11:24:16 Prof. da Amostra: 0 (cm) - 12,5 (cm) Final: 26/08/2009 11:24:16 DataData Inicial: 26/08/2009 11:24:16 Data Final: 26/08/2009 11:24:16

COTRIJAL (54) 3332 2562

Cliente: Markus Gustavo Schmiedt Área de Contorno: 61.50 (ha) Mín: 32.1 (%) Méd: 42.4 (%) Máx: 64.7 (%) Desvio Padrão: 5.4 (%) Prof. da Amostra: 0 (cm) - 15 (cm) Data Inicial: 08/05/2012 16:10:35 Data Final: 08/05/2012 16:10:35

COTRIJAL

adura talhão talhão, de (54) por 3332 2562 forma parcelada, de acordo com percentual da cultura do milho. A semeadura, precisa, está dentro do contexto da agricultura de precisão. Não é simplesmente plantar, é um sistema todo envolvido com a terra, o modo de distribuição de sementes, velocidade e vaCliente: Markus Gustavo Schmiedt riedade”, destaca Barbosa. Área de Contorno: 61.50 (ha) Mín: 32.1 (%) Méd: 42.4 (%) Precisão x planejamenMáx: 64.7 (%) Desvio Padrão: 5.4 (%) Prof. da Amostra: 0 (cm) - 15 (cm) Data Inicial: 08/05/2012 16:10:35 Data Final: 08/05/2012 16:10:35

Cliente: Markus Gustavo Schmiedt ntorno: 61.50 (ha)

Não adianta só saber produzir, é preciso saber comprar

Cliente: Markus Gustavo Schmiedt Área de Contorno: 61.50 (ha) Mín: 32.1 (%) Méd: 42.4 (%) Máx: 64.7 (%) Desvio Padrão: 5.4 (%) Prof. da Amostra: 0 (cm) - 15 (cm) Data Inicial: 08/05/2012 16:10:35 Data Final: 08/05/2012 16:10:35

COTRIJAL Rua Júlio Graeff, 01 Não Me Toque, Rio Grande do Sul 99470-000 (54) 3332 2562 FONTE: ROBINSON BARBOSA

nos dá, compreendendo que to Segundo Markus, nada é iso- há limites para produção. Não COTRIJAL lado e Graeff, a precisão e o planeja- adianta querer tirar 120 sacos Rua Júlio 01 Não Me Toque, Rio Grande do Sul 99470-000 mento são fundamentais. “É de soja porque não compensa, (54) 3332 2562 preciso cada vez mais explorar o custo sai alto. Trabalhamos ao máximo a área que temos. para 80 a 90 e mesmo com inComprar terras está complica- tempéries ainda é pagável. Já do, então eu aproveito a área tivemos 90 hectares com proque posso e coloco em cima dutividade batendo 90 sacos de produtividade, para tanto é e 135 hectares com quase 90 preciso saber como manejar e sacos também. Mas todas são devolver para a terra o que ela áreas com manejo, condições, material e época de plantio

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Sucessão Markus está desde 1996 na atividade. Depois que saiu da faculdade de medicina veterinária, trabalhou quatro anos na Cotrijal. Saiu da cooperativa trabalhou com o pai Ingbert Schmiedt e há três anos assumiu as granjas. Tem a irmã, que é proprietária de uma das granjas e a mãe com quem ambos tem sociedade em uma empresa. A família já realizou o processo de sucessão rural. Robinson Barbosa engenheiro agrônomo da Cotrijal e gerente da agropecuária NH

organizada. Adequamos o material à época, com fertilidade e rotação. Sabemos que tem material que não pode ser em monocultura, precisa ser em cima de uma rasteva de milho. Os números crescentes de bons resultados são obtidos a partir de muito estudo”. Investimentos Hoje o investimento de um produtor é anual, especialmente em correção, calcário e fertilizantes. Enquanto o investimento em maquinário dura muitas décadas, a compra de adubos, fertilizantes, entre outros produtos é feito de forma sistemática. “Muitos utilizam a rotação de culturas do milho para diluir o investimento em correção, por exemplo. A cada quatro anos o produtor que tem potencial exploração de grão precisa re24 |

Numa semeadura precisa, para ter potencial maior produtivo tem que trabalhar com várias variáveis como cultura de inverno, por exemplo.

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por no solo até três toneladas de calcário, com agricultura de precisão enxergamos que a profundidade tem que ser de zero a 20 ou 20 a 40, com necessidade de condicionar o solo. A cada três safras tem que colocar grande volume de material. Uma tonelada de calcário custa R$ 110, três toneladas ficaria R$ 300, com aplicação salta para R$ 400 por hectare. No caso destas quatro granjas que somam 830 hectares. São 211 hectares, por ano, vezes 400, totalizando R$ 200 mil de investimento em correção. Se não fizer isto não adianta nem o melhor equipamento nem o mais dedicado profissional que não terá bons resultados. O investimento em maquinário é diluído, mas a correção é periódica. Por isso é preciso planejar. Quando Markus adquiriu fertilizan-

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te, cotado em dólar, pagou R$ 1.620,00. Hoje o mesmo produto está R$ 2.120,00. Os defensivos comprados a R$ 401 passaram para R$ 520 o quilo. O planejamento é que faz travar o custo, diminuir o investimento. Não adianta só saber produzir, é preciso saber comprar”, afirma Robinson. Fatores Markus está desde 1996 na atividade. Depois que saiu da faculdade de medicina veterinária, trabalhou quatro anos na Cotrijal. Saiu da cooperativa trabalhou com o pai Ingbert Schmiedt e há três anos assumiu as granjas. Tem a irmã, que é proprietária de uma das granjas e a mãe com quem ambos tem sociedade em uma empresa. A família já realizou o processo de sucessão rural.


SEMINÁRIO

Sucessão Rural

processo gradual e planejado Sindicato rural de passo Fundo Promove debate sobre empresas familiares Rosângela Borges

A

sobrevivência das propriedades rurais e a necessidade de preparo para gestão eficiente são temas presentes no cotidiano das empresas familiares agropecuárias. Cada vez mais preocupados com a manutenção de seus bens, os proprietários de terras precisam debater este tema ainda em vida com seus sucessores, evitando conflitos e deixando seu importante legado a ser usufruído. Para que isto aconteça é necessário planejamento, e as novas configurações familiares trazem ainda a necessidade de definir o processo sucessório, levando em conta a afinidade e interesse por parte dos herdeiros, para que mantenham ou qualifiquem ainda mais o negócio, que na maioria das vezes, é administrado a gerações. Murilo Damé Paschoal, con-

Cerca de 150 pessoas participaram do evento

sultor e sócio-proprietário da empresa Safras & Cifras, destaca a importância da construção gradual da sucessão. “O processo de sucessão mudou nesta nossa geração, especialmente em função do tamanho da família, que reduziu o número de filhos e também em função do regime de casamento, onde o número de divórcios é maior em relação à geração anterior, portanto, o risco de perda de parte do patrimônio da família é muito maior. Em contraponto, vimos à entrada dos filhos por afinidade e não por pressão como existia no passado, o que é positivo”. O especialista lembra que antigamente os pais queriam levar todos os filhos para a propriedade. “Agora eles

querem a participação dos herdeiros que possam agregar valor ao negócio. É preciso respeitar a capacidade e vontade de cada um de produzir na sua área. Nem todas as empresas têm espaço para todos os filhos, então, é preciso respeitar a afinidade e a formação profissional de cada um, garantindo sucesso nesta gestão e a permanência do negócio”. Manutenção do controle do patrimônio Murilo especifica que um processo de sucessão, na empresa rural familiar, com planejamento permite à família atingir o objetivo principal de manter com os familiares o controle sobre o patrimônio e o negócio rural. “A partir de um processo

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“Todos os filhos serão herdeiros, mas nem todos serão sucessores”.

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de sucessão organizado em vida, na presença dos pais, se consegue evitar e/ou minimizar os danos de uma boa parte dos conflitos que poderiam ocorrer na empresa familiar, que na ausência de uma organização prévia poderiam ser determinantes para o seu rompimento. Temos que levar em consideração que a imensa maioria das empresas rurais são familiares e estas carregam consigo uma série de desafios, que tornam os processos de sucessão mais complexos, como por exemplo: a presença de três gerações na mesma empresa; a necessidade de manutenção da escala de produção; o número maior de divórcios; a relação menos autoritária entre pais e filhos; o maior nível de formação dos filhos; a necessidade de equilibrar os interesses internos da empresa com as necessidades de cada família que depende dos recursos da empresa. Com o processo de sucessão planejado, procura-se aumentar as chances da empresa familiar se manter geração após geração, através de uma relação mais profissional e empresarial entre pais, filhos e netos, gerando maiores resultados e, principalmente, mantendo a harmonia familiar.” A sobrevivência das empresas familiares Para Murilo, o vital para sobrevivên-

cia dos negócios familiares é a comunicação e transparência entre os próprios sócios. Para tanto, destacou um estudo realizado pelo Williams Group que revelou que 60% dos fracassos das empresas familiares se dão pelo rompimento da comunicação e pela perda da confiança entre os sócios, o que agrava situações problemáticas e gera inúmeros outros conflitos. Este mesmo estudo revelou ainda que 25% dos fracassos se dão pela preparação inadequada dos sucessores. “Inevitavelmente, a vontade dos membros da família de perpetuar o negócio é o ponto de partida para o sucesso. O alicerce para atingir esta vida longa da empresa familiar é o estabelecimento de um conjunto de regras, que priorizam a unidade do negócio e buscam a prevenção e solução de conflitos, conduzindo para uma nova perspectiva de êxito, estabilidade e longevidade das empresas familiares. A percepção e a gestão dos conflitos, que colocam em risco a sociedade, também são importantes para a adaptação e a continuidade da empresa familiar, pois possibilitam o incentivo à criatividade, à reflexão, ao trabalho em equipe, à vontade de mudança e ao estabelecimento de metas ambiciosas e alcançáveis, permitindo o amadurecimento e crescimento do negócio”.

Manter a competitividade O especialista diz que uma vantagem competitiva importante nos negócios rurais é a escala de produção e o processo de sucessão planejado visa manter o tamanho dos negócios, além de permitir o crescimento dos mesmos, o que é extremamente importante para a escala de produção. “Por fim, ainda podemos destacar que um processo de sucessão bem feito permite a formatação de uma nova estrutura tributária para a atividade rural, o que agrega importantes resultados em termos econômicos”.

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Qualificação e visão empresarial A cultura rural brasileira tem como característica principal a vontade da família de se perpetuar na propriedade da terra, mas este objetivo nem sempre é alcançado. A continuidade não está diretamente ligada apenas ao interesse por parte dos sucessores em manter o negócio familiar ou participar dele, muito embora este interesse seja o ponto de partida. “Um dos fatores preponderantes é a preparação dos futuros sucessores do negócio familiar desde cedo, introduzindo a paixão pelas raízes da família e pelo próprio negócio. O tratamento da propriedade rural como uma empresa efetivamente, com uma gestão empresarial, com controles econômicos eficientes, com estrutura organizacional de cargos, funções e salários de forma profissional, sem dúvida contribui e muito para atrair os sucessores para futura entrada neste negócio”. Para o especialista, não há dúvidas que o tratamento do negócio rural como uma empresa é um grande atrativo aos sucessores, pois qualquer sócio de qualquer empresa se sente muito mais atraído para participar de um negócio bem organizado e transparente, com boas práticas de governança, diferente do que ocorre em propriedades mais conservadoras, fechadas, com gestão centralizada, com informações arquivadas e concentradas numa única pessoa, com ausência de comunicação e ausência de prestação de contas. Preparação Não é apenas a empresa que deve estar preparada para receber os sucessores, mas sim, os sucessores devem se preparar para ingressar e agregar valor. “De uma maneira geral, temos vis-


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Tecnologia para agricultura Agosto e Setembro | 2015 | Rio Grande do Sul | Ano II | nยบ 10

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Ciloter e Murilo (Safras & Cifras), Leonardo Wink (Destaque Rural), Adalberto Coimbra ( Grupo Agros), Manuela Bertagnolli (Butiá) e Lisandro Webber (Sementes Webber)

to que os sucessores estão cada vez mais preparados do ponto de vista das tecnologias utilizadas para conduzir as lavouras e tornar estas cada vez mais produtivas. De qualquer forma, os sucessores não podem esquecer-se da necessidade de se preparar em outros aspectos, nos quais destacamos os seguintes: gestão econômica/financeira; gestão tributária; visão empresarial sobre o negócio da família e sobre o posicionamento de cada familiar no trabalho da empresa; governança na empresa rural. Todos os filhos serão herdeiros, mas nem todos serão sucessores. Então, cada vez mais os filhos devem se qualificar em todos os aspectos citados acima. Em 2015, não podemos pensar que a gestão de uma empresa rural se resume exclusivamente à condução da parte técnica das lavouras. Por isso, têm sido cada vez mais comum trabalhos de preparação de herdeiros e sucessores que buscam justamente qualificá-los, sob todos estes aspectos citados, criando 28 |

uma visão efetivamente empresarial sobre o negócio da família”.

Não podemos pensar que a gestão de uma empresa rural se resume exclusivamente à condução da parte técnica das lavouras. Por isso, têm sido cada vez mais comum trabalhos de preparação de herdeiros e sucessores criando uma visão efetivamente empresarial sobre o negócio da família”.

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Murilo Damé Paschoal, consultor e sócio-proprietário da empresa Safras & Cifras.

Garantindo competitividade no mercado Adalberto Coimbra, diretor do Grupo Agros, afirma que empresas bem administradas garantem competitividade no mercado, com necessidade de alinhamento e conhecimento por parte de quem trabalha no negócio. “O aspecto principal é que a família consiga construir uma relação de confiança e respeito para permitir discutir um tema que é extremamente difícil, que é a forma como fará com que o patrimônio produza renda e atenda ao propósito, que é fazer com que a família se torne unida e viável. Se não tiver uma organização, um planejamento e acima de tudo não estruturar instâncias que permitam que a discussão seja produtiva, vai haver uma possibilidade muito grande de um conflito, uma deterioração das relações. Há

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necessidade de planejar cada passo, preparar os membros da família para que nem todos os conflitos se tornem relevantes e que isto seja feito no âmbito do negócio”. Segundo Coimbra, há uma melhor percepção da sucessão rural atualmente. “As pessoas estão buscando um nível maior de conhecimento, até porque o interesse é cada vez maior em permanecer ativo. Os exemplos do passado mostram que muito das empresas se perdeu pelo fato de não terem feito esta preparação. Buscam conhecimento, mas na hora fazer uso em prol do benefício coletivo, onde sai da situação de dono que sempre tem razão-, para a situação de sócio – dividindo diferenças e multiplicando capacidades -, isto, às vezes, não é compreendido”. Sementes Webber: um exemplo de sucessão rural A família Webber, de Co-


xilha, no Norte gaúcho, é dos exemplos de uma sucessão rural planejada, com objetivos e regras pré-estabelecidas. Eles lançaram mão da ajuda de consultorias para chegar a um denominador comum: beneficiar os herdeiros e manter a empresa fundada em 1960, pelo casal Setembrino e Dirce. A primeira Unidade de Beneficiamento de Sementes foi fundada em 1976, comercializando sementes de soja para o Rio Grande do Sul e demais estados. O interesse dos filhos na área rural certamente facilitou o processo de sucessão rural. As duas filhas do casal, Celi e Eni, graduaram-se em Agronomia, auxiliando na consolidação da empresa Sementes Webber. Em 1991, o filho Lisandro graduou-se em Ciências Contábeis, passando a exercer a administração da empresa, junto com a família. O trabalho rendeu frutos e em 2012 foi iniciada a construção da segunda Unidade de Beneficiamento de Sementes, também em Coxilha, com capacidade de beneficiamento de 20 toneladas de semente por hora, para atender à demanda da produção de sementes de soja, para a empresa Pioneer e cevada para a Ambev. Os resultados já foram relevantes de imediato: a produção de sementes de cevada superou, em 2012, 4.300 toneladas; a de soja, em 2013, 3.900 toneladas. Para Lisandro, atual diretor administrativo e financeiro, a sucessão rural garante a continuidade e o crescimento do grupo familiar, proporcionando a diluição dos custos de produção pela escala de produção e resultando em maiores lucros pelas melhores negociações de compras e vendas de insumos e produtos em larga escala. “O ponto mais impor-

tante, não só na empresa familiar, é a transparência, todos os resultados e todas as combinações devem estar muito claras para todos os sócios. Em nossa família vemos a nossa propriedade como uma empresa a vários anos e desta forma estamos administrando ela, pois se ela não tiver resultados positivos e não mostrar melhorias ao longo dos anos, com certeza não irá despertar interesse em nossos sucessores. A juventude de hoje quer novidades, mas estas novidades precisam agregar resultados para o negócio. Todas as novidades que surgem a todo momento no Agro e as mudanças na administração das Propriedades Rurais de forma empresarial, com certeza estão despertando um maior interesse dos sucessores para continuidade da empresa familiar”. Ele destaca que os sucessores de hoje e do futuro estão cada vez mais qualificados, pois o acesso ao estudo e as informações comerciais no meio rural estão muito mais fáceis do que há vinte anos. “Os nossos antecessores conseguiram crescer muito mais no esforço, dedicação e tentativas, que em muitas vezes deram errado. Hoje com a qualificação dos jovens os erros são muito menores e consequen-

temente os riscos do negócio são menores, o que faz o negócio ter um resultado melhor, estimulando ainda mais os sucessores a permanecerem”, finalizou. Para Cilotér Borges Iribarrem, sócio da empresa Safras & Cifras, há vários fatores que contribuem para o processo de sucessão ser diferente atualmente. “Tanto é que vimos um evento com auditório cheio, onde há pais, filhos e netos debatendo a sucessão rural. É um tema palpitante em todo o país, é preocupação dos agentes financeiros, das multinacionais e das próprias famílias. Uma das questões que mudou é a expectativa de vida, que aumentou, onde várias gerações com perfis diferentes trabalham juntas. São pessoas de 25 anos e 70 trabalhando juntas, e essa é a maior diferença no processo de sucessão rural e precisamos nos ater a estes fatores”, alerta. Outra questão que o especialista destaca é a competitividade. “Negócio que se fraciona, se perde na escala e termina, então é preciso investir antes de dividirmos o que temos, por isso é preciso um bom planejamento da sucessão familiar. É importante que os produtores saibam o que precisa ser feito”.

I Seminário sobre Sucessão Rural O tema sucessão rural norteou o debate no I Seminário sobre Sucessão Rural, ocorrido no auditório do Sindicato Rural de Passo Fundo, no mês de agosto. Gerações que representam empresas familiares agropecuárias da região norte debateram, com especialistas na área, a busca pela permanência dos negócios, a mudança no perfil das famílias e a necessidade de maior conhecimento por parte dos sucessores. O Seminário foi promovido pelo Sindicato Rural de Passo Fundo em parceria com a Revista Destaque Rural. Além de palestrantes de empresas como Safras & Cifras e Grupo Agros, cases das famílias Bertagnoli e Webber fizeram parte do debate.

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CIÊNCIA

Pesquisadores desvendam código genético do trigo Redução no tempo de lançamento de novas cultivares e incremento na produtividade estão entre os possíveis benefícios dos estudos Fabiana Duarte Rezende

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mundo inteiro está vivenciando, nos últimos 10 anos, um momento de grande mudança nos estudos genéticos genômicos. O desenvolvimento e a redução no custo de tecnologias de sequenciamento e a de genotipagem em larga escala, associados ao surgimento de novos modelos genético-estatísticos apontam para um aumento da eficiência dos programas de melhoramento usando abordagens de melhoramento molecular, estudos de associação genômica ampla e de seleção genômica ampla. “Aqui, o termo eficiência deve ser entendido tanto na redução do tempo necessário para lançamento de novas cultivares atendendo às constantes demandas do mercado, quanto para geração de materiais genéticos com incrementos de produtividade. Não esquecendo a necessidade do avanço e da aplicação, por parte dos produtores, de métodos de manejo recomendados, há uma grande perspectiva que essa eficiência se traduza no aumento da produção de alimentos. Dessa forma, acredito num cenário otimista para suprir a crescente demanda de trigo”, explica o pesquisador da Embrapa Trigo – Núcleo de Melhoramento e Biotecnologia, Luciano Consoli.

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Entenda o sequenciamento do genoma do trigo

Se a previsão de crescimento da população mundial se confirmar, será necessário aumentar em 70% a produção de trigo até 2050.

De forma geral, todo projeto de sequenciamento de genoma refere-se à obtenção, ou desvendamento, do código genético de forma organizada da espécie estudada. Em outras palavras, significa conhecer toda a sequência do DNA que compõe cada cromossomo de forma contínua, de uma extremidade até a outra. É possível considerar três etapas fundamentais para a finalização do sequenciamento de um genoma:

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- obtenção de um grande número de sequências de DNA representando todos os cromossomos;

- desenvolvimento de um mapa físico, onde a ordem das sequências é estabelecida para cada cromossomo;

Segundo Consoli, considerando estas etapas, o trabalho publicado na revista Science em 18 de julho último, faz referência à conclusão da primeira etapa e dos avanços realizados na segunda e terceira etapa. “Subentende-se dessa forma que o trabalho ainda não terminou. A não conclusão do trabalho está explícita no título do artigo com o uso da palavra “draft”, que pode ser traduzida como rascunho”. Ainda de acordo com o pequisador, a segunda etapa está bastante avançada, com a conclusão dos trabalhos para 12 dos 21 cromossomos do trigo. Apenas o cromossomo 3B apresenta as três etapas finalizadas. Segundo a pesquisadora francesa Catherine Feuillet do INRA, responsável pelo trabalho com o cromossomo 3B e co-presidente do Consórcio Internacional, serão necessários mais três anos para

3 - produção de uma sequência de referência para cada cromossomo, incluindo a identificação de todos os genes de cada cromossomo.

a conclusão dos demais cromossomos. “No entanto, devido ao tamanho e a complexidade do genoma do trigo, esse fato não tira o mérito do trabalho publicado. Ao contrário, representa Apenas o cromossomo uma grande conquista para a 3B do trigo é comunidade científica. Ape2 vezes maior nas o cromossomo 3B do trigo é 2 vezes maior que todo o que todo genoma do arroz e, o genoma o genoma do arroz e, o genoma do trigo é 5 vezes maior que o genoma humano.

do trigo é 5 vezes maior que o genoma humano”, destaca o pesquisador da Embrapa. Além do tamanho, o trigo apresenta outros complicadores como elevada percentagem de sequências repetitivas e a natureza hexaplóide, com a presença de três genomas (A, B e D) com alta homologia. “Com essas caracterísitcas seria praticamente inviável a obtenção do genoma de referência usando ferramentas tradicionais de sequenciamento, mesmo as de nova geração. De forma inovadora, o IWGSC usou uma estratégia para a obtenção das sequências específicas para cada cromossomo”, explica. Diferente do habitual, o grupo decidiu primeiro isolar os braços curto e longo de cada cromossomo para, posteriormente, realizar a obtenção das sequências. O Consórcio Internacional de Sequenciamento do Genoma do Trigo (IWGSC – International Wheat Genoma Sequencing Consortium) iniciou os trabalhos em 2005 e conta com mais de 1000 participantes em 57 países.

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O sequenciamento por si só não altera em nada o processo de melhoramento genético. No entanto, é a utilização do conhecimento gerado e o emprego nos processos de melhoramento genético que podem resultar em benefícios para o produtor”.

Destaque Rural - Qual o uso destas informações?

Luciano Consoli – “Uma vez estabelecida a ordenação de todo o DNA do genoma do trigo, estudos e resultados mais precisos serão possíveis para o entendimento da estrutura, organização e evolução do genoma de uma das espécies mais importantes para a alimentação humana. Até o momento já foram anotados mais de 124 mil genes no genoma do trigo. Esses resultados, mesmo que intermediários, apresentam potencial para diversas áreas como no desenvolvimento de marcadores moleculares distribuídos pelos diferentes 32 |

cromossomos, servindo de base para a identificação de proteínas de interesse reveladas em estudos de proteômica, para isolamento de genes de interesse, dentre outros. Outro ponto que merece ser mencionado é que o conhecimento do genoma de uma cultivar não representa todo a variabilidade presente na espécie. No entanto, a disponibilização de um genoma de referência facilita e acelera a obtenção de genomas de outras cultivares, servindo como molde”.

Destaque Rural O que isso implica na vida do produtor?

Luciano Consoli – “Ape-

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nas desvendar o genoma não traz impacto para a vida do produtor. No entanto, o uso das informações geradas em programas de melhoramento genético proporciona a aceleração do processo de desenvolvimento de cultivares. Com isso, o produtor pode ter acesso com maior rapidez a cultivares mais eficientes, tanto do ponto de vista a problemas tradicionais quanto do surgimento de novas adversidades à cultura. Gostaria de salientar que o sequenciamento por si só não altera em nada o processo de melhoramento genético. No entanto, é a utilização do conhecimento gerado e o empre-

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no uso de informações genômicas no melhoramento para características controladas por um grande número de genes. O potencial produtivo enquadra-se nesse tipo de característica e, o uso de abordagens de genética molecular no desenvolvimento de genótipos superiores apresenta grande potencial para o aumento na produção de alimentos”.

Destaque Rural- O es-

tudo do genoma do trigo, assim como de outros produtos, pode ser considerado uma revolução e apontar um novo panorama para a produção e para o campo?

go nos processos de melhoramento genético que podem resultar em benefícios para o produtor”.

Destaque Rural - O que os

pesquisadores poderão fazer com estes dados?

Luciano Consoli – “As pos-

sibilidades para o desenvolvimento de pesquisas são inúmeras e, ariscaria dizer que o limite está na imaginação dos pesquisadores. Trazendo para o lado mais aplicado, a disponibilidade de um mapa de referência facilita tanto a identificação como o isolamento de genes relacionados com características de desenvolvimento, de qualidade ou de resistência a estresses bióticos e abióticos

de uma determinada cultivar de trigo. Como já citado, essas informações podem ser usadas como marcadores moleculares acelerando o processo de geração de cultivares. Outra possibilidade após o isolamento de genes de interesse está associada à manipulação desses genes, desde a alteração do nível de expressão até o isolamento e a transferência para diferentes espécies”.

Destaque Rural - Qual a importância deste estudo para a produção de alimentos no mundo?

Luciano Consoli –

“Do ponto de vista prático, é crescente o número de publicações demonstrando as vantagens

O limite está na imaginação dos pesquisadores”.

Luciano Consoli – “Apenas o estudo do genoma não deve ser considerado uma revolução para a produção. A capacidade de uso das informações geradas nesse tipo de estudo, atrelada à capacidade de desenvolvimento de materiais genéticos superiores e de outros produtos biotecnológicos pelas diferentes instituições e empresas aponta para um novo panorama de produção. Já estamos vivenciando um momento com produtos disponíveis com alta tecnologia incorporada, o que demanda uma maior capacitação dos produtores. Para a concretização dessa revolução, a evolução do potencial genético tem que ser acompanhado pelo desenvolvimento e emprego de métodos de manejo adequados e recomendados”, conclui Consoli.

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DESTAQUE EMPRESAS

Biotrigo: R$ 20 milhões na nova estrutura

Com quase 14 hectares, investimento conta com o primeiro prédio sustentável da área do agronegócio do Brasil

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creditar no trigo brasileiro e no crescimento das exportações resultou no investimento de R$ 20 milhões na nova sede da Empresa Biotrigo Genética de Passo Fundo. Liderada pelos irmãos Ottoni Rosa Filho e André Cunha Rosa, a empresa conta hoje com 46 colaboradores em seu quadro funcional, desponta como a maior empresa da área de melhoramento de trigo do país e garante o reconhecimento internacional. Nos 14 hectares da nova sede estão distribuídos os laboratórios de sementes, fitopatologia, qualidade e biotecnologia, celeiros de armaze-

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nagem, estufas, experimentação e os setores administrativo, comercial e de novos negócios. Um prédio autossustentável Acreditando na sustentabilidade da agricultura no país, a direção da Biotrigo investiu neste conceito para a construção do prédio principal, sendo o primeiro do país, na área, a garantir a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE) de Projeto Nível A, por meio da Procel. Entre as características que nortearam a edificação iniciada em 2012: o aproveitamento de água, telhas com uso de materiais como isopor, vidros que re| Rio Grande do Sul | Ano II | nº10

fletem o calor e automação de energia elétrica, gerando grande economia. “Podemos programar a hora das luzes apagarem, assim como a utilização somente daquelas que serão necessárias. Há toda uma organização de fios, cabos, interruptores para que haja esta economia e utilização inteligente da energia. É algo inovador que começa desde a concepção da planta até a conclusão da obra”, explica quem. O diretor conta que somente do projeto elétrico foram reduzidas 70% das lâmpadas para que se tornasse verdadeiramente sustentável. “Colocamos apenas o que era essencial e cômodo para o trabalho”. “Acreditamos em trigo no Brasil” A frase de Ottoni demonstra a grande vontade de empreender na área e para tanto ele e o irmão André decidiram, em 2012, ampliar a empresa,


DESTAQUE EMPRESAS investindo em melhores condições de trabalho para a equipe. “Confiamos que este investimento irá retornar na questão do crescimento do trigo no país. Montamos uma estrutura para que os colaboradores tenham todas as condições de trabalho que merecem para que possamos crescer. Para nós o capital humano é essencial”, conta. Reconhecimento internacional O Programa de melhoramento genético da Biotrigo é reconhecido internacionalmente pelos excelentes resultados de produtividade e características agronômicas A empresa tem como característica a agilidade em seu programa, gerando um grande diferencial competitivo para quem escolhe sua genética para multiplicar as sementes. As cultivares resultam de pesquisa e investimento em tecnologia. Por isso são reconhecidas internacionalmente como de excelente produtividade e de um ótimo balanço entre qualidade para a indústria panificadora e características agronômicas, facilitando o manejo e oferecendo segurança ao produtor rural. Para garantir uma boa rentabilidade ao produtor, a empresa investe constantemente na produção de novas variedades de sementes de trigo. Nos modernos laboratórios de Fitopatologia, Biotecnologia e de Qualidade, diariamente milhares de amostras passam por testes e ensaios com o objetivo de produzir sementes com alta

“Acreditamos que a agricultura precisa ser sustentável e colocamos aqui o melhor em termos de sustentabilidade”.

pureza física e sanitária. Antes de ser lançadas no mercado, as cultivares são testadas quanto à evolução de rendimento, condições de sanidade, reações frente

ao stress, plantio em diferentes solos, com diferentes aplicações de fertilizantes e defensivos. Nos laboratórios, experientes geneticistas e pesquisadores

Biotrigo detém 67% do mercado comercial de trigo do Brasil Foi de quatro anos o período necessário para que a Biotrigo Genética, com sede em Passo Fundo, RS, mostrasse o representativo trabalho comercial que faz pelo país. Até o final de 2014 a empresa deteve cerca de 90% do mercado de trigo do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e 55% do Paraná (que deve aumentar este ano). Os dados demonstram o acerto na busca pela qualidade industrial, algo que contribuiu para que o Rio Grande do Sul tivesse capacidade para produção de trigo para panificação. Diferente de grãos como a soja, o trigo tem diferentes tipagens conforme o produto a ser produzido - pão, massa, bolo, pizza, entre outros. E a segregação ocasiona a necessidade de busca de mercado, como os moinhos. “É a produtividade que paga a conta, mas precisamos melhorar resistência, sanidade – tanto na folha quanto na espiga e no produto final”, destaca o gerente comercial da Biotrigo, Lorenzo Mattioni Viecili. Ele lembra que há muita qualidade industrial no RS, mas há necessidade de melhorar a questão de recebimento das empresas, segregação para atender ao mercado interno e externo. Para mostrar estas diferentes tipagens e qualidades, a Biotrigo vai até o produtor por meio de dias de campo e seminários técnicos e ainda distribui kits de sementes com várias cultivares orientando sobre cada produto. “O trabalho que fizemos aqui está sendo reconhecido por toda a região que é muito exigente”.

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DESTAQUE EMPRESAS também desenvolvem cruzamentos com alvo em distintas regiões tritícolas produtivas do Brasil e dos países do Mercosul, permitindo ter uma grande base genética para desenvolver os melhores produtos. Todo esse processo garante que sejam selecionados as melhores sementes para um mercado cada vez mais exigente. Trigo para nutrição animal: um novo mercado Entre as novidades o TBIO Silus I, um trigo específico para cilagem, secagem e feno (alimentação animal), que não será destinado às indústrias. “Se trata de um trigo específico para nutrição animal que será colocado nas áreas onde não é plantado trigo convencional, como por exemplo, propriedades que trabalham com gado de leite e gado de corte. “Ele não fere o trato digestivo, tem bom valor energético, palatabilidade. Criamos um novo mercado sem interferir na qualidade industrial, buscando o equilíbrio de alimentação, para que tenhamos também constante produção de carne e leite”. O lançamento está previsto para 2016 e já há projeto para o TBIO Silus II que atenderá regiões mais quentes e chegará ao Cerrado brasileiro. Cabotagem Um dos gargalos do Rio Grande do Sul apontados por Lorenzo é a dificuldade de exportar o trigo que produz. “Das três milhões de toneladas 36 |

produzidas em 2014, apenas 1,3 milhão foram consumidas e 1,7 milhão toneladas ficaram paradas à espera de compradores. Com a super oferta os preços despencam e o mercado cada vez mais qualificado, fica prejudicado por falta de ferrovias e aumento de insumos como frete, diesel... O centro consumidor brasileiro está em SP e o trigo gaúcho precisa passar por duas fronteiras (SC e PR)”. Lorenzo afirma que a única saída seria a cabotagem, ou seja, o transporte de navio com bandeira brasileira até um porto do país. Mas hoje só duas empresas brasileiras fazem este trabalho, com baixa capacidade – apenas 10 mil toneladas, enquanto empresas internacionais têm capacidade

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para 60 mil toneladas. “Há um monopólio e a cabotagem está limitando o escoamento. Há grande necessidade de navios brasileiros maiores. Existem alternativas com algumas ações de governo, como a estruturação de portos. É histórico que toda a logística precisa ser remodelada e há condições para isto, basta interesse. O Estado conta com empresas como a Biotrigo que aumentam a qualidade do trigo que às vezes não é vista porque há super oferta”. O diretor comercial destaca que o RS tem 4,5 milhões de hectares de soja e apenas 900 mil hectares de trigo, - reduziu em 200 mil hectares de 2014 para 2015 -, uma queda que irá refletir na economia do Estado. “O incentivo à triticultura só tem a beneficiar o RS, onde

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DESTAQUE EMPRESAS a área deve aumentar, atendendo até o nordeste do país, duplicando a renda, podendo plantar o dobro da área com tamanha qualidade industrial. O Brasil importa sete milhões de toneladas de trigo e não consome toda a produção do próprio país. O trigo ajudaria o RS a tirar o pé da lama, pois dobraria o consumo de insumos, aquecendo todo o mercado”. Limitações que viram oportunidades Muitas das limitações são vistas como oportunidades, ressaltou Lorenzo. “A melhoria de qualidade, com aumento da produtividade por unidade de área são fatores que nos impulsionam a persistir acreditando no crescimento do trigo brasileiro. Há propriedades que colhiam 50 sacas por hectare e hoje colhem 90 sacas. O perfil do trigo mudou muito com a melhoria da qualidade industrial”, disse. Um exemplo disso é a cultivar TBIO Iguaçu, lançada no estado de Dakota do Norte, nos EUA. “Os americanos estão plantando o trigo brasileiro e aprovando os resultados. Este trigo poderá

ser comprado como grão pelo Brasil, uma ironia”. Tecnologia que chega ao campo Um aplicativo de celular que disponibiliza informações completas sobre as cultivares e conta com uma calculadora exclusiva, onde se pode calcular quanto de sementes o produtor deve usar por hectare, estimativa de produtividade (podendo ser utilizada

Aplicativo irá notificar por meio de um ícone, com o símbolo da Biotrigo, nos celulares em que estiver instalado, comunicados técnicos exclusivos com importantes dados

em outras culturas como soja e milho), durante todo o ano, auxiliando na tomada de decisão no estabelecimento da cultura. Criado pela Biotrigo para preencher uma lacuna antes não alcançada até os produtores, este aplicativo está em vias de remodelação, onde irá contar com vídeos e outras ferramentas de atualização. Ele também irá notificar por meio de um ícone, com o símbolo da Biotrigo, nos celulares em que estiver instalado, comunicados técnicos exclusivos com importantes dados, com programação conforme a região abrangida. “Com o crescimento do uso de celulares se torna uma ferramenta importante aos agricultores e encontramos assim uma forma de nos comunicar, além das redes sociais, o site da Biotrigo e outras ferramentas de informação.

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OPNIÃO

Elmar Luiz Floss

elmar@grupofloss.com

Engenheiro Agrônomo e licenciado em Ciências, Dr. em Agronomia, Diretor do Instituto Incia

IMPORTÂNCIA DA FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE NITROGÊNIO PELA SOJA

A

soja é a mais importante cultura brasileira produtora de grãos, em área cultivada, produção de grãos, empregos diretos e indiretos gerados e as divisas obtidas com sua exportação (saldo de 32 bilhões de dólares em 2014). As divisas obtidas com a exportação de soja dos últimos 50 anos foram responsáveis pelo desenvolvimento da região Norte dos RS. Poucas atividades do agronegócio geraram um desenvolvimento tão expressivo no meio rural e urbano no interior brasileiro. Mesmo com o aumento da produção de soja, esse grão continua tendo liquidez no mercado em função de seu alto valor nutritivo, para uso na alimentação humana, especialmente pelos orientais, e no arraçoamento animal. O farelo de soja é a base para a produção de frangos e suínos, cuja demanda mundial é crescente. Cada 100 kg de grãos de soja apresenta de 37 a 4 kg de proteína, de 17 a 23 kg de óleo e aproximadamente 28 kg de glicídios. O óleo de soja é um dos óleos mais utilizados na alimentação humana e, atualmente, na produção de biodiesel. A proteína da soja apresenta um valor biológico e nutritivo semelhante à proteína animal, quando considerado o teor e balanço de aminoácidos. Portanto, um produtor de soja que colheu, na última safra, uma média de 60 sacas/ha (3.600 kg/ha), produziu em média 1.440 kg de proteína. Como a carne bovina tem em média 27-30% de proteína, essa colheita representa o equivalente a 7.200 kg de carne por hectare. A proteína é constituída de 16,5% de nitrogênio. Portanto, para que um hectare de soja sintetize 1.440 kg de proteína bruta, são necessários, em média, 350 kg de nitrogênio, como constituinte dos grãos e para crescimento adequado das plantas

(formação de raízes, caules, folhas, flores, vagens e grãos). Se o produtor de soja tivesse que fornecer todo esse nitrogênio através dos fertilizantes, teria que aplicar aproximadamente 800 kg/ha de uréia. Nesse caso, o custo de produção desse grão seria elevado e a rentabilidade seria muito menor. Felizmente, entre 75 a 85% desse nitrogênio a planta de soja obtém através da fixação biológica de N (FBN), realizada em simbiose com bactérias (gênero Bradyrhizobium), que formam nódulos nas raízes. A planta de soja realiza a fotossíntese, utilizando como fonte de energia a luz solar, transformando a água (absorvida do solo) e o gás carbônico (retirado do ar) em açúcares, aminoácidos e outros compostos. Parte desse açúcar circula até a raiz, servindo de substrato alimentar das bactérias dos nódulos da raiz. Com a energia da decomposição desses açúcares, tais bactérias fixam o gás nitrogênio do ar, o mais abundante dos gases atmosféricos, cuja concentração é de 78%. Primeiramente, as bactérias utilizam todo o N fixado para elaborar seus constituintes biológicos, garantindo o crescimento exponencial característico de colônias bacterianas, no aumento do número e no tamanho dos nódulos. Quando a soja atinge o estádio de desenvolvimento de cinco folhas (V5, quatro trifólios)), os compostos nitrogenados formados nos nódulos das raízes, na forma de ureídios (ácido alantóico e alantoínas), passam para a raiz e são transportados, pela água, até as folhas da soja. Cada ureídio tem 4 átomos de nitrogênio. Na folha, esses ureídios são degradados por enzimas (que exigem obrigatoriamente o manganês como cofator), liberando ureia e na segunda etapa, amônia (reação enzimática dependente do níquel). Esse nitrogênio é utilizado na elaboração dos mais diferentes compostos nitrogenados, como clorofila,

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DNA, RNA, vitaminas, hormônios, aminoácidos, proteínas, dentre outros. Para que essa fixação de nitrogênio seja eficiente e atenda as exigências de rendimentos de grãos de soja, cada vez mais elevados, há necessidade de inocular as sementes, anualmente, antes da semeadura ou aplicado diretamente no sulco de semeadura. O custo do inoculante é, em média, de apenas R$2,50 por dose, para inocular as sementes utilizadas na semeadura de um hectare. Considerando o grande benefício dessa prática e o baixo custo do inoculante, recomenda-se o uso de pelo menos duas doses para cada 50 kg de sementes. Além da adequada inoculação, especialmente a qualidade do inoculante, deve ter uma alta disponibilidade no solo de cálcio, magnésio, fósforo, enxofre, boro, cobalto e molibdênio. O cobalto e o molibdênio podem ser aplicados no tratamento de sementes, em jato dirigido no sulco ou aplicados via foliar, no estádio V3-V4 da soja, juntamente com o herbicida. O cobalto tem como função a formação da leghemoglobina (substância avermelhada do nódulo), a “hemoglobina das leguminosas”, responsável pelo controle do oxigênio no nódulo. A recomendação é de 1 a 5 g de cobalto por ha. Já o molibdênio é constituinte da enzima nitrogenase, que catalisa a fixação do gás nitrogênio (N2) pela bactéria. Como 15 a 25% do nitrogênio extraído pela soja é absorvido do solo, o molibdênio também atua como cofator de enzima Nitrato redutase, responsável pela redução do nitrato (forma principal de absorção) em amônia (forma de assimilação) do nitrogênio. Indica-se a aplicação de 12 a 25g de molibdênio no tratamento de sementes ou 25 a 50g de molibdênio quando aplicado no sulco ou via foliar. Certamente, a inoculação e a aplicação de cobalto e molibdênio são as tecnologias de maior retorno econômico na cultura da soja.


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