Agosto 2014 Número 128 Ano X Tiragem 3.000 exemplares
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Mestre Ézio Suzarte, o motorista Edson Napoleão e o tripulante José Antonio de Sousa chegam de viagem de 48 dias ao mar em busca do camarão-rosa. Págs. 4 e 5
Em busca do camarão-rosa O recadastramento para a carteira de pescador profissional artesanal já pode ser feito nas Colônias de Pescadores. A inscrição para pescadores artesanais iniciantes também está aberta. Pág. 6
José Antonio Rodrigues, o Passarinho, fala de duas paixões, a pesca e o samba. Págs. 2 e 3
Festa do Camarão na Moranga prossegue até 7 de setembro em Bertioga. Pág. 3
Beto Camarão e Neide mostram as semelhanças entre a culinária do litoral e a do interior paulista. Pág. 8
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Passarinho, pesca e samba é com ele mesmo
Passarinho mostra que o Portinho tem um ... ...espaço agradável para reunir associados
Alô amigo, Zé Passarinho Com os amigos da maré você não estará sozinho Hoje é carnaval A nossa banda vem homenagear Um cara legal que tem história para contar Os amigos da maré brincam o carnaval com o Passarinho no maior astral Amigo para qualquer parada Dá nó em pingo d´água Ninguém pode negar Mas na hora da folia O Passarinho é só alegria.
Banda Amigos da Maré
José Antonio Rodrigues, o Passarinho, entende de pesca desde criança. Nascido em 1955, morou sua vida toda em Vicente de Carvalho, Guarujá, e como todo menino que vive à beira da maré, bem cedo caiu na água para pescar. A arte aprendeu um pouco com o avô materno José, e outro tanto com o tio Jacó. “Tio Jacó tinha mais paciência, gostava de levar sobrinho pescar”, lembra. Até 18 anos foi só pesca artesanal. Vendia peixe de carrinho na rua e para bancas do Mercado Municipal. “Tinha a banquinha do seu Andó, do Carlinhos, eles compravam parati, tainha, carapeba, robalo e bagre cabeçudo”, conta. “Robalo não tinha muito valor na época”, comenta. O pai era pescador artesanal e usava tarrafa feita de linha corrente 24, tingida com casca de jacatirão para ficar durinha e armada para pegar camarão. Usava também rede de espera para pegar peixes. Passarinho e o irmão Constantino pegavam camarão e peixes na rede. Com 10 anos de idade já pescava. “Na década de 60, meu avô materno levava a gente pegar mero com mais de 80 quilos no canal do estuário”, lembra com saudades. “Meu avô, José Carlos Picinó, foi um dos fundadores da Colônia de Pescadores Z-3 de Vicente de Carvalho”, afirma. Nascido em 1882 em Sergipe, chegou por volta de 1910 em Vicente de Carvalho, distrito do Guarujá, na época conhecido como Bocaina. O avô paterno, o espanhol Antonio Rodriguês y Rodriguês em 1913 veio da Espanha com a esposa Rafaela, grávida, para Vicente de Carvalho, às vésperas de estourar a I Guerra Mundial. Nesse mesmo ano, nasceu o pai de Passarinho, José, carinhosamente apelidado de Pepe. O
Defesos
Tainha (Mugil platanus e Mugil liza) 15/03/14 a 15/08/14 (proibida em todas as desembocaduras estuarino-lagunares do litoral das Regiões Sudeste e Sul). A partir de 15 de maio, a temporada anual da pesca da tainha será aberta somente no litoral, permanecendo fechada até 15 de agosto nas desembocaduras estuarino-lagunares. (veja Instrução Normativa 171 9/5/2008 em www.jornalmartimpescador.com.br/legislação) Sardinha (Sardinella brasiliensis) 15/06/14 a 31/07/14 e 1/11/14 a 15/02/15 - Emalhe de fundo >20 AB –Parada da frota de 15/05 a 15/06
Moratórias
Cherne-poveiro (Polyprion americanus) 06/10/2005 a 6/10/2015 - Mero (Epinephelus itajara) 17/10/2012 a 17/10/2015 - Tubarão-raposa (Alopias superciliosus)- tempo indeterminado - Tubarão galha-branca (Carcharinus longimanus)-tempo indeterminado - Raia manta (família Mobulidae) - tempo indeterminado - Marlim-azul (agulhão-negro) – Makaira nigricans- comercialização proibida - Marlim-branco (agulhão-branco) - Tetrapturus albidus –comercialização proibida - Marlim-branco (agulhão-branco) Tetrapturus albidus –comercialização proibida
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Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo Presidente Tsuneo Okida
Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP CEP: 11030-350 Fone: (013) 3261-2992
Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP christinamorim@gmail.com Fotos e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - belacarrari@hotmail.com Impressão: Impressão:Diário Diáriodo do Litoral: Litoral Fone.: Fone.:(013) (013)3226-2051 3226-2051 Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia
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avô Antonio, judeu convertido ao cristianismo, era lavrador, plantava macieiras e criava ovelhas na Catalunha. Em Vicente de Carvalho, abriu um empório no bairro da Bocaina, em Guarujá. O pai de Passarinho, Pepe, além de construtor de barcos, pescava e trabalhava no empório. Passarinho é casado com dona Maria Aparecida, a Cida, com quem tem quatro filhos, dois homens e duas mulheres. Nenhum filho seguiu a carreira da pesca. Passarinho hoje pesca apenas nas horas vagas, para consumo próprio. Do pai Pepe herdou também o prazer de cozinhar e aprendeu muitas receitas típicas espanholas como a paella e o bacalhau. Mas sua especialidade, quando reúne os amigos, é preparar um marisco lambe-lambe como ninguém, que ele chama com bom humor de paella caiçara. Dirige desde 2009 a Capatazia da Colônia de Pescadores Z-3, no Portinho Salgado Filho em Vicente de Carvalho. Em 2012, o
local foi cenário do filme sobre a vida de Lula (Lula, o filho do Brasil), recriando a moradia do ex-presidente quando era criança em Vicente de Carvalho. É ali que muitos pescadores se reúnem no domingo à noite para curtir um samba de raiz e os petiscos preparados pela Cida. Porque, além da paixão pela pesca, Passarinho gosta de um bom samba, principalmente na época do carnaval quando sai na Banda Amigos da Maré e também na Escola de Samba Mocidade Amazonense. Por sua alegria e entusiasmo foi homenageado em 2013 pela banda com um samba em seu nome. No Portinho, aos domingos, acompanha as apresentações dos grupos Estilo Brasileiro (da família Jesus), e Percepsamba. O Portinho Salgado Filho fica na avenida Salgado Filho, no Jardim Santense. Quem curte ouvir e dançar boa música brasileira vai lá que vai gostar.
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Passarinho e sua super receita de marisco lambe-lambe
O Portinho Salgado Filho foi cenário de filme sobre a vida de Lula
O avô espanhol Antonio e o pai José
Festa do Camarão na Moranga de Bertioga Dia 8 de agosto teve início a 21ª Festa do Camarão na Moranga em Bertioga. A expectativa é que até o encerramento em 7 de setembro, 12 mil pessoas prestigiem a festa, todos os finais de semana (sextas-feiras, sábados e domin-
gos). A Festa acontece em uma tenda montada na Praça de Eventos, na Praia da Enseada, ao lado do Forte São João. A organização é da Colônia de Pescadores Z-23, sob a coordenação do presidente João Espírito Santo, com apoio da
Prefeitura de Bertioga, por meio da Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura, e apoio do Arroz Tio João e Brahma. Além do camarão na moranga, haverá outras opções como porções de isca de peixe, camarão-
sete-barbas, fritas, outros frutos do mar, além de doces, sucos e batidas. No local também haverá venda de pastéis e doces, feitas por entidades beneficentes. A festa irá acontecer às sextasfeiras, com jantar, a partir das
20 horas; aos sábados, almoço e jantar, a partir das 12 horas, e aos domingos, somente almoço. A Praça de Eventos está localizada na Avenida Thomé de Souza, ao lado do Forte São João, na Praia da Enseada (Centro).
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Coluna Fotos:Comunicação Corporativa
Em busc
Pescadores enfrentam viagem d
Embraport apoia festa do Padroeiro da Ilha Diana Como parte das comemorações do Dia do Bom Jesus, santo padroeiro da Ilha Diana, a Embraport promoveu um dia diferente e divertido para os moradores da comunidade no último dia 6 de agosto. Brinquedos como pula-pula, cama elástica, piscina de bolinhas, gangorra e escorregador foram colocados em frente à Unidade Municipal de
Educação (UME) da Ilha e fizeram a alegria de muitas crianças que, além da brincadeira, também puderam aproveitar as barraquinhas de pipoca, algodão doce, churros e bebidas. A ação contou com a presença de aproximadamente 200 pessoas e foi uma forma encontrada pela empresa de contribuir com o resgate de aspec-
tos históricos e tradições do local, iniciativas que estão na pauta de projetos realizados pela Embraport, como o Programa Vida Caiçara, o Ecoférias, Cine na Ilha, entre outros que mantém a Embraport próxima da comunidade vizinha, considerada um dos últimos redutos da cultura caiçara na cidade de Santos.
Ouvidoria Embraport: 0800 779-1000 faleconosco@terminalembraport.com.br www.terminalembraport.com.br
Viver mais no mar do que em terra é a rotina de muitos pescadores profissionais. Essa é a vida daqueles que se dedicam à pesca do camarão-rosa. Quando a tripulação do barco Lisa I chegou ao píer em Guarujá, litoral de São Paulo, dia 22 de julho, após 48 dias em alto mar, todos saíram para ver a família e cuidar de problemas pessoais. Afinal, depois cerca de cinco dias em terra o barco já estava pronto para uma nova viagem. O catarinense Ézio Suzarte, mestre do barco, diz que a pesca é sua vida. “Gosto mais de ficar no mar do que em terra”, confessa. Fica até preocupado pensando como vai ser na hora de parar de trabalhar. Embora já esteja aposentado, diz que pensa sempre em “esticar mais um pouquinho”. Ézio, hoje com 64 anos, começou como pescador artesanal na juventude em Santa Catarina, e mais tarde entrou na pesca profissional de camarão. Trabalha na Sincro Empresa de Pesca Ltda, do armador Hélio Marcelino, desde 1970. “O mar para gente é uma aventura. Nunca é igual. Sai hoje o tempo está de um jeito, daqui a pouco muda”, diz. Na década de 80, morando em Santos, já era mestre em barco camaroneiro na mesma companhia de pesca que está hoje. Uma boa equipe é o sucesso de uma boa pescaria, onde cada um exerce uma função. O mestre Ézio é o responsável pela navegação e pela pescaria e conta com o apoio de uma equipe experiente. O contra-mestre Aguinaldo, é o responsável pelo convés e pela manutenção dos equipamentos. O paraense Edson Napoleão é o motorista, que cuida da manutenção dos motores, e da casa de máquinas. O tripulante é o maranhense José Antonio de Sousa, pescador profissional que ajuda o contra-mestre na manutenção, e o responsável pela cozinha é Sebastião Marcio Santos Mescoito. Segundo o mestre, o barco tem licença para operar da divisa do Espírito Santo com Bahia até divisa com Uruguai. No entanto os pesqueiros preferidos
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sca dos rosas
em de mais de um mês no mar em busca do camarão-rosa
O mestre Ézio Suzarte, o motorista Edson Napoleão e o tripulante José Antonio de Sousa
Peças de madeira chamadas portas servem para abrir as redes no fundo do mar
O mestre Ézio e a filha Érica
são Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. As distâncias da costa variam em cada estado e vão de cerca de 10 a 40 milhas, dependendo de onde se inicia a queda da plataforma continental. A embarcação mede 22,10 m de comprimento e 6,50 m de largura e opera com arrasto duplo, com o uso de dois tangones, longas hastes de madeira que são abaixadas lateralmente para descer as redes. O arrasto é feito por quatro pranchas de madeira chamadas de portas, duas de cada lado, cada uma com 2,40 de comprimento por 85 centímetros de largura. “Tem uma rede de pesquisa que vai na popa e é lançada para procurar o camarão”, explica Ézio. Quando encontram o camarão, as redes de arrasto são lançadas. Nos meses de junho e julho o barco se deslocou para o Rio de Janeiro. Lá a descida da plataforma começa de 10 a 15 milhas da costa e é possível trabalhar de 30 a 200 metros de profundidade. Depois do arrasto as redes são puxadas a bordo com o guincho hidráulico, aí é preciso separar o camarão de outros pescados. A rede traz também peixes como goete, trilha, corvina, linguado e moluscos como lula e polvo. Depois de lavado, o pescado é separado para ser congelado na câmara frigorífica. Esses cuidados garantem que o pescado chegue sempre em ótimas condições de conservação. “Nos últimos três anos deu bastante camarão, este ano já diminuiu um pouco”, conta Ézio. A produção média por viagem que chegou a 8 toneladas, hoje está em cerca de 5 toneladas. Ézio acredita que o defeso não está na época certa, deveria ser de dezembro a abril, mas ainda assim diz que ajuda na manutenção do estoque. Ézio é viúvo, tem quatro filhos, Érica, 33 anos, Eduardo, 30, Sheila, 36, Reni, 41, além de dois netos e duas netas. Nenhum entrou na pesca. “O Eduardo veio pescar algumas vezes, mas estudou Direito e seguiu outra carreira”, explica. A filha Érica ainda está mais próxima ao mar, como secretária da empresa onde o pai trabalha. Quando o assunto é o modo de preparo do camarão-rosa, Ézio é tradicional. “Muita gente gosta à milanesa ou com legumes, mas minha receita favorita é o camarão no bafo”, confessa. O preparo é muito simples, e conserva o sabor natural do pescado. Quem quiser experimentar, aí vai o passo a passo. Ézio garante que esta saudável receita é a preferida dos moradores de Florianópolis.
Ézio, há mais de 40 anos no mar
Camarão catarinense Ingredientes: 500 g de camarão-rosa com cabeça e casca 1 cebola e um dente de alho picado pimenta-do-reino sal azeite Preparo: Colocar camarão, cebola, alho, pimenta-doreino numa panela com meio copo de água. Tampar e deixar cozinhar no bafo por 8 minutos. Ao final, colocar sal e azeite.
Os catarinenses apreciam o camarão-rosa no bafo com pouco tempero
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Aposentadoria especial para artesanal é aprovada no Senado Foi aprovado substitutivo de Lei do Senado (PLS) 150/2013, dia 5 de agosto, que concede aposentadoria especial a pescadores artesanais. O ministro da Pesca e Aquicultura, Eduardo Lopes, acredita que a Câmara Federal irá confirmar a proposta aprovada, já que “a medida é, antes de tudo, uma conquista social, justa e necessária”. Diversos senadores saudaram a aprovação do projeto, que teve como base duas proposições de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS). O substitutivo foi apresentado pelo senador Benedito de Lira (PP-AL). O substitutivo aprovado concede aposentadoria especial a pescadores e trabalhadores de atividades
afins a partir dos 25 anos de contribuição previdenciária. Pelo texto aprovado, durante o período de suspensão da pesca esses trabalhadores deverão receber o salário-defeso, no valor do piso salarial da categoria, a ser custeado pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O salário-defeso será o substituto do seguro-desemprego pago quando ocorre a paralisação ou suspensão das atividades de pesca em decorrência de ato do Executivo federal. O projeto estabelece que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) averbará como tempo de contribuição o período de defeso decorrente de ato ou norma da União, bastando para isso um simples requerimento
e que o segurado comprove sua inscrição no Registro Geral da Pesca. O substitutivo dispensa a categoria de comprovar, ao reivindicar esse benefício junto ao INSS, o tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. Além do mais, estabelece que o deferimento da aposentadoria especial para esses segurados considerará como preponderante a ação dos agentes naturais. O substitutivo também deixa claro que os pescadores e trabalhadores de atividades afins não serão excluídos do Registro Geral da Pesca se exercerem outra atividade profissional no período de defeso.
PESCADOR
Em caso de captura acidental de golfinhos ou tartarugas marinhas, é importante devolver os animais que ainda estiverem vivos ao mar. Se chegarem mortos a bordo, ligue a cobrar para os telefones do Projeto Pescador Amigo: (13) 99601.2570/99603.0986, para que possamos encaminhá-los a nossos laboratórios de pesquisa. O Projeto Pescador Amigo, realizado pelo Biopesca com patrocínio da Petrobras tem por objetivo preservar a convivência entre a pesca e os animais marinhos. Colabore, seja um Pescador Amigo.
PESCADOR , FAÇA A MANUTENÇÃO DE SUA LICENÇA NO PRAZO Para a manutenção da licença de pescador profissional , o interessado deverá apresentar na Colônia de Pescadores ou unidade do MPA no prazo de até 60 (sessenta dias), contados da data de seu aniversário os seguintes documentos:
-Relatório de Exercício de Atividade Pesqueira na categoria de Pescador Profissional Artesanal -Cópia do Número de Inscrição de Trabalhador (NIT) inscrito como segurado especial
--1 foto 3x4 recente, com foco nítido e limpo OBS: O procedimento para manutenção da licença iniciará com os aniversariantes do mês de setembro de 2014, os aniversariantes dos meses de janeiro a
julho de 2014 farão a partir da data do seu aniversário em 2015. As regras do recadastramento estão contidas na Instrução Normativa MPA no 15 de 11/08/2014 (veja a IN no 15 na íntegra no site www.jornalmartimpes-
Homenagem ao Messias Para onde foi Messias, Tecendo redes no céu Para pegar peixe-lua Peixe-estrela E não chegar a São Pedro de mãos vazias... Manoel Messias dos Santos passou os últimos dias de sua vida fazendo redes. Era sua paixão, assim como a pesca. Nascido em São Gonçalo-RJ em 25 dezembro de 1938, viveu desde 1950 em Vicente de Carvalho, onde era associado da Colônia de Pescadores Z-3. Faleceu dia 8 de julho de 2014 de enfarte. Dizia sempre, “Minha vida é o mar que eu amo”. Messias teve seis filhos com Eliete, de quem se separou. Teve ainda 46 netos e 13 bisnetos. Lygia Mesquita, sua dedicada companheira nos últimos anos de sua vida, afirma que a paixão de Messias pelo mar e pelas artes de fazer redes o acompanharam até seus últimos momentos.
cador. com.br em legislação). NOVAS INSCRIÇÕES PARA PESCADORES ARTESANAIS INICIANTES ESTÃO LIBERADAS E JÁ PODEM SER FEITAS EM SUAS RESPECTIVAS COLÔNIAS.
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Importância da veterinária na aquicultura é discutida em Congresso A importância da Medicina Veterinária no desenvolvimento da Aquicultura foi um dos temas desenvolvidos no 41º Conbravet – Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária que aconteceu de 7 a 10 de agosto em Gramado-RGS. Palestra abordando o assunto foi proferida pelo médico veterinário Augusto Perez Montano, que contou com a participação de quatro palestrantes do Brasil e um do Uruguai. O tema central do congresso foi “Um Mundo Uma Saúde”, reunindo especialistas do Brasil e do exterior. O Conbravet aconteceu no momento em que a pecuária nacional chega a um patamar de liderança no mercado mundial como maior exportador de carnes, consolidando a sua vocação natural de supridor de alimentos e de matérias-primas. No evento foram debatidos assuntos relevantes ao ambiente, bem-estar do animal, aquicultura, fauna silvestre, veterinária militar, bioterrorismo, escape acidental ou intencional de agentes etiológicos e produção sustentável.
Médico veterinário Augusto Pérez Montano em palestra no Conbravet
Projeto Albatroz participa do Simpósio na Unisanta Com exposição em estande e palestra, o Projeto Albatroz marcou sua presença no 17º Simpósio de Biologia Marinha da Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos-SP de 21 a 25 de julho. Na palestra “Projeto Albatroz: impactos antrópicos e conservação de aves marinhas”, Juliana Yuri Saviolli, Coordenadora de Medicina da Conservação do projeto, falou sobre o papel da interdisciplinaridade, do biólogo e como é possível atuar na conservação. Com o objetivo de apresentar a atuação do Projeto na área de Medicina da Conservação e sua importância para a manutenção da biodiversidade marinha, foram apresentados os efeitos, processos ou materiais derivados de atividades humanas que podem causar danos, modificações ou prejuízos em ambientes naturais e nas populações dos albatrozes e petréis. Criado há 23 anos em Santos (SP), o Projeto Albatroz atua com o objetivo de reduzir a captura incidental de albatrozes e petréis, aves oceânicas ameaçadas de extinção, e conta com o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
Contaminação cruzada no preparo do pescado - Parte II
Na edição anterior falamos sobre os perigos da contaminação cruzada no preparo do pescado. Citamos como exemplo o uso de uma mesma faca para cortar o pescado cru e depois fatiar outro alimento. Esse tipo de contaminação pode causar doenças transmitidas por alimento - DTAs. Dados do Ministério da Saúde mostram que 45% das contaminações causadas por DTAs ocorrem no interior das casas dos brasileiros. Para evitar que os alimentos se contaminem por micro-organismos são necessários cuidados que vão desde a compra até o preparo dos alimentos. A limpeza é fun-
damental, as mãos devem ser lavadas antes preparar os alimentos, assim como facas, tábuas de corte, recipientes devem estar limpos. As tábuas de carne não podem ter rachaduras, pois nestes locais acumulam sujeiras que propiciam o crescimento e multiplicação das bactérias. A Organização Mundial da Saúde-OMS recomenda a separação dos alimentos crus dos cozidos para evitar a contaminação cruzada. O pescado cru quando não manipulado adequadamente pode conter bactérias perigosas à saúde que podem ser transferidas para outros alimentos no momento da preparação ou no armazenamento. É ainda
fundamental que o consumidor verifique a procedência do alimento, as condições de higiene dos estabelecimentos, condições de conservação dos alimentos, presença de termômetros nos balcões frigoríficos para averiguação da temperatura. Para garantir a saúde deve-se: - separar sempre peixe cru de outros alimentos - utilizar diferentes facas ou tábuas para alimentos crus e cozidos - guardar os alimentos em recipientes fechados para evitar o contato entre alimentos crus e cozidos
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- lavar bem as mãos após a manipulação dos alimentos crus, contato com jornais, com dinheiro, etc. - lavar bem as facas, tábuas e outros utensílios após a manipulação do pescado cru ou vegetais não lavados - guardar os alimentos preparados na geladeira, mesmo que estejam quentes. Augusto Pérez Montano - Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo
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Beto e Neide, o casamento de duas culturas
Quando Beto Camarão e Neide Aparecida, moradores da rua Japão em São Vicente, contam suas experiências de infância, dizem sentir saudades da simplicidade e inocência dos velhos tempos. Embora criados em lugares diferentes, ele, natural do litoral e ela, do interior paulista, encontraram muitas semelhanças nos hábitos de suas famílias. Roberto Mário Ruiz Sobrinho, o Beto, nasceu em 1946, nas mãos da parteira local, dona Assunta, na casa de seus pais na rua Japão. Foi o segundo dos 13 filhos de Mariano e Alice, os sete primeiros nascidos de parteira e os seis mais novos, a partir de 1965, vieram à luz na Santa Casa de Santos. Apenas Beto seguiu a carreira de pescador do pai. Hoje mora numa bem acabada casa de alvenaria, no mesmo terreno de sua moradia de infância, já demolida, que seguia um modelo de chalé de madeira adotado pelos pescadores da época. A antiga residência ficava bem na beira da prainha da rua Japão e quando o pai vinha da pesca a canoa chegava quase na porta de casa. Neide nasceu em Taiaçupeba, distrito de Mogi das Cruzes, no sítio de sua avó, durante uma visita de seus pais para as festas do Ano Novo de 1947. Com o nascimento inesperado, a bisavó dona Benedita, que era a parteira do local, trouxe a bisneta ao mundo. Era a primeira de sete irmãos, todos nascidos com parteira. Ali no sítio, a menina Neide tinha um íntimo contato com a natureza,
com as plantas e os animais. De manhã bem cedinho pegava peixes e camarões-d´água-doce nas límpidas águas do rio que passava bem em frente à porta da cozinha. Com apenas nove anos de idade sabia manejar a peneira de bambu e pegar camarões e lambaris atraídos por pedaços de carne seca. O covo, uma espécie de armadilha onde o peixe entra, mas não consegue sair, era uma arte mais complicada. Era deixado de um dia para o outro no rio e amanhecia cheinho de peixes ou camarões. O pescado que chegava fresquinho às mãos da avó era frito ou se transformava em bolinhos feitos com massa de farinha de milho branco para serem saboreados com o café preto. Pois com o Beto a história não era muito diferente. O menino ia pescar com o pai em sua canoa de madeira e pulava do barco com uma cuia cheia de camarões fresquinhos que a mãe cozinhava na panela de ferro apenas com a umidade natural com que saíam da rede. “As águas eram tão limpas que eu lavava os camarões no mar e trazia na cuia, já ficava com sal, a água era bem salgada, quando tomava banho queimava a pele, hoje é salobra”, comenta Beto falando sobre a Baía de São Vicente, onde fica a rua Japão. O camarão podia ser acompanhado de café preto e farinha de mandioca. Na casa dos avós de Neide não faltava nem a farinha de mandioca, nem a de milho, ambas produzidas no sítio. “Minha avó punha sempre as duas na mesa”, lembra-se. “A farinha de milho amarelo era mais para alimentar os animais e a branca para a gente comer”, explica. Na casa de Beto, apenas a farinha de mandioca estava presente em todas as refeições. Como a rua Japão na época era um local mais urbanizado, a família comprava o produto de um senhor chamado Vitor que produzia a farinha e ainda plantava, além da mandioca, banana nanica e branca, mexerica pequena e limão cravo na Ilha Inhapium em Cubatão e vinha a São Vicente de canoa para ven-
der sua produção. O palmito até a década de 50 e início dos anos 60 ainda era abundante no litoral e no interior, ainda sem restrições para o corte, estava sempre presente à mesa. O frango com palmito era uma comida corriqueira no sítio de Taiaçupeba. O hábito de saborear o peixe enrolado na folha de bananeira preparado na brasa do fogão a lenha encontrado no litoral também era comum no sítio em Taiaçupeba. “Meus tios pescavam e minha avó punha o peixe inteiro sobre a brasa do fogão”, diz Neide. Outro hábito muito frequente no interior, de saborear o café com garapa, muitas vezes era apreciado pela família de Beto. “Quando faltava o açúcar, a gente usava garapa”, diz Beto falando de tempos em que o açúcar mais encontrado era o cristal. Neide lembra-se que no interior até os sacos desse açúcar eram reutilizados. Branquinhos e com fios bem trançados, se transformavam em panos de prato ou coadores de café e, ainda, emendados rendiam belos lençóis e toalhas de banho com franja, que ela, ainda menina, aprendeu a bordar com ponto de cruz. Quando Neide veio morar na rua Japão notou muitas diferenças no modo de preparo do pescado. No litoral usava-se pouco tempero e pouquíssima gordura, valorizando mais o sabor natural do alimento. “O caranguejo era cozido apenas em água e sal”, lembra-se Neide. O coentrão, também chamado de coentro de folha-larga, era um dos temperos mais usados pela família de Beto. A banha de porco para cozinhar, sempre presente no sítio, era mais rara no litoral. Neide, que aprendeu a cozinhar de pequena com a madrinha Benedita e a avó Escolástica, gosta muito de culinária. Hoje, ela domina muitos tipos de receitas, e guarda com carinho as bem antigas, típicas do litoral e do interior. Aqui vão algumas mais comuns, o frango com palmito feito no sítio de Taiaçupeba e o camarão cozido na panela de ferro pela mãe de Beto quando o barco chegava à casa da rua Japão.
Camarão no bafo Ingredientes: 300 g de camarão-branco médio ou sete-barbas inteiros cheiro-verde ou coentro picados óleo sal limão (opcional) Preparo: Jogar camarão na panela de ferro e deixar cozinhar só na umidade na-
tural, de um lado e depois virando do outro. Depois de cozido, acrescentar sal, um pinguinho de óleo, alho. O cheiro-verde ou coentro é jogado no final com a panela desligada. Quem gostar pode servir também limão para temperar no prato. Embora a receita original seja feita com camarão-branco ou sete-barbas, também vai bem com camarão-rosa.
Frango com palmito Ingredientes: 1 frango inteiro (de cerca de 1 ½ kg) cortado em pedaços pimenta-do-reino 1 cebola média bem picadinha 2 dentes de alho picadinhos 2 folhas de louro salsinha e cebolinha picadas orégano manjericão sal 1 vidro de palmito óleo de soja Preparo: A receita no sítio era feita com panela de ferro, mas pode ser feita também na de alumínio. Temperar
o frango já cortado com alho, sal e pimenta-do-reino e deixar curtir por uma noite (ou algumas horas) na geladeira. Cortar os pedaços de palmito ao meio (no comprimento) e deixar ferver por 3 minutos para tirar o gosto ácido da conserva. Escorrer e reservar. Refogar a cebola até dourar e acrescentar o frango e folhas de louro. Deixar até ficar cozidinho, se necessário pingar um pouco de água para não grudar na panela. Colocar o palmito e deixar mais cinco minutos. Jogar cheiro-verde, orégano, manjericão e desligar. Servir com acompanhamento de arroz branco e escarola refogada.