MARÇO/ABRIL 2016 Número 140 Ano XII Tiragem 3.000 exemplares
Turismo de base comunitária
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Intercâmbio entre moradores de Caruara e Ilha Diana fortalece o turismo de base comunitária. Pág. 8
Nas águas de março navegamos na Semana da Cultura Caiçara. Pág. 3
Aniversário de Danielle agita Ilha Diana em Santos. Págs. 4 e 5
Os pesquisadores Eduardo Sanches e Venâncio Azevedo falam sobre aquicultura. Pág. 7
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APA Marinha discute arrastão de praia
Uma proposta de revisão do tamanho da malha das redes de arrastão de praia, pesca regulamentada pela Resolução SMA n° 51, foi apresentada na 43ª reunião da Câmara Temática de Pesca da APA Marinha Litoral Centro, pela conselheira Carolina Bertozzi do Projeto Biopesca. A conselheira informou que haveria a necessidade de retomar a discussão do tamanho da malha do arrastão de praia, mesmo que a proposta inicial já tivesse sido aprovada pelo Conselho Gestor. Para fundamentar sua proposta, a bióloga apresentou o trabalho intitulado “A pesca de arrasto de praia na ilha de São Vicente” de Fagundes et al. (2007) na 42 a reunião do Conselho Gestor de 16 de fevereiro. A explanação abordou a revisão do tamanho da malha do petrecho e o modo de operação do arrasto-de-praia, considerando a importância de se direcionar mais estudos voltados para as artes de pesca praticadas na zona de arrebentação, como o arrastão-de-praia. Após o assunto ser discutido pelos participantes da reunião do Conselho Gestor, houve votação, decidindo que
Samarco não apresenta proposta de acordo para pescadores artesanais de Anchieta
A gestora da APAMLC, Ana Garcia, em reunião do Conselho Gestor
a Resolução SMA nº 51 fosse encaminhada para publicação no Diário Oficial da forma como já fora aprovada anteriormente pelo Conselho Gestor, com a prerrogativa de que seriam levadas para a pauta da Câmara Temática de Pesca as discussões sobre a forma correta de operação das redes de arrastão e o acompanhamento da arte de pesca, bem como possíveis readequações no projeto de caracterização das artes de pesca, realizado pela APA Marinha Litoral Centro e Instituto de Pesca. Durante a reunião do Conselho Gestor foram atualizadas as informações referentes à captura do caranguejo-uçá. Apesar das autorizações já
expedidas, a quantidade de pescadores que solicitaram a licença ainda é muito inferior à quantidade de licenças previstas pela Portaria CBRN n° 04/2015, que é de 210 pescadores, indicando a necessidade de dar continuidade ao trabalho de mobilização e informação junto aos catadores de caranguejo-uçá. As informações também continuam disponíveis nas Colônias de Pescadores, ASPE, ALPESC, no Instituto de Pesca, CBRN de Santos e na sede da APA Marinha Litoral Centro, atualmente localizada no bairro do Japuí, em São Vicente, que podem orientar durante os horários comerciais.
Reunião em abril aborda PEA da Petrobras Na reunião de 5 de abril do Conselho Gestor-CG da APAMLC representantes da Petrobras falaram sobre o Programa de Educação Ambiental-PEA para a Baía de Santos (de Maricá-RJ a Florianópolis-SC). Um diagnóstico já foi feito, abrangendo 132 comunidades, sendo 122 de pesca artesanal e 8 de agricultura familiar. O programa está previsto para ter início na área da APA Marinha Litoral Centro (que vai de Peruíbe a Bertioga) no começo de 2017. Também informaram que um Programa de EXPEDIENTE www.jornalmartimpescador.com.br
Monitoramento Pesqueiro será desenvolvido com informações coletadas do Rio de Janeiro a Santa Catarina. O programa atualmente é feito com dados de captura do Estado de São Paulo pelo Instituto de Pesca-Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (Informe da Produção Pesqueira Marinha e Estuarina do Estado de São Paulo em: www.pesca. sp.gov.br). Haverá uma reunião extraordinária do CG dia 3 de maio próximo para discutir a Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo Presidente Tsuneo Okida
Resolução que dispõe sobre as distâncias para a colocação das redes de emalhe a partir dos costões rochosos, praias arenosas e barras de rio da APAMLC. Foi ressaltada durante a reunião a importância da participação dos pescadores artesanais que atuam na área da APAMLC para contribuição na construção da proposta, que foi iniciada em meados de 2011. Adicionalmente, foi solicitado que os presidentes das Colônias de Pescadores informassem seus pescadores para participarem da reunião. Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP CEP: 11030-350 Fone: (013) 3261-2992
Apesar do esforço do juíz da 1ª Vara Cível da Comarca de Anchieta (ES) para uma conciliação, a empresa Samarco não apresentou proposta para o pagamento das ações movidas pelos pescadores artesanais da região. Concessionária de porto no município, a multinacional não responde apenas pela recente tragédia de Mariana (MG). Na cidade capixaba, onde promove beneficiamento de minérios antes embarcá-los para exportação, é processada por danos devido a dragagens no Terminal Marítimo
de Ponta de Ubu e inovações em usina de pelotização no município de Anchieta (ES). O resultado foi a paralisação da atividade pesqueira para centenas de profissionais. “A Samarco argumenta que a situação que a empresa passa neste momento faz com que priorize as ações de Mariana e as suas vítimas, mas seguiremos adiante para garantir o ressarcimento aos pescadores”, afirma Emerson Gomes, advogado da Pugliese e Gomes Advocacia e responsável pelas ações.
Em audiência realizada no último dia 22 de março ficou acertado que as partes, conforme sugestão da Comarca, estabelecerão tratativas para acelerar o rito dos processos, fazendo com que as sentenças cheguem no menor tempo possível. “São várias ações com a mesma causa contra a Samarco que tramitam na 1ª Vara da Comarca de Anchieta e um possível acordo refletirá em todas”, afirma Gomes. Fonte: André Seben-Assessoria de Imprensa Pugliese e Gomes Advocacia
Pescador,
Dia 3 de maio, às 9h, será discutida a legislação da rede de emalhe durante a reunião do Conselho Gestor da APA Marinha Litoral Centro-APAMLC. Na ocasião será feita a apreciação e votação da minuta de Resolução que dispõe sobre as distâncias para a colocação das redes de emalhe a partir dos costões rochosos, praias arenosas e barras de rio da APAMLC. Local: Auditório do Museu de Pesca, av.Bartolomeu de Gusmão, 192, Ponta da Praia, Santos. Mais informações: (13) 3567-1506/ (13)3567-1495.
Autorização de Pesca será feita nas superintendências A partir de 8 de março, a renovação do Certificado de Registro e Autorização de Pesca das embarcações será feita ex-
clusivamente pelas Superintendências Federais de Agricultura (SFAs), em todos os estados e no Distrito Federal. No Brasil
há cerca de 40 mil embarcações que necessitam deste documento para operar. O registro deve ser renovado uma vez por ano.
Defesos
Camarão-rosa (Farfantepenaeus paulensis, F. brasiliensis e F. subtilis), sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri), branco (Litopenaeus schmitti), santana ou vermelho (Pleoticus muelleri) e barba-ruça (Artemesia longinaris) 01/03/16 a 31/05/16 Bagre rosado (Genidens genidens, Genidens barbus, Cathorops agassizii) 01/01/16 a 31/03/16 Lagosta vermelha (Panulirus argus) e lagosta verde (P. laevicauda) 01/12/15 a 31/05/16 Pargo (Lutjanus purpureus) 15/12/15 a 30/04/16
Moratórias
Cherne-poveiro (Polyprion americanus) 06/10/2015 a 6/10/2023 (Portaria Interministerial no 14) Mero (Epinephelus itajara) 06/10/15 a 06/10/23 (Portaria Interministerial no 13) Tubarão-raposa (Alopias superciliosus)- tempo indeterminado Tubarão galha-branca (Carcharinus longimanus)-tempo indeterminado Raia manta (família Mobulidae) - tempo indeterminado Marlim-azul (agulhão-negro) – Makaira nigricans- comercialização proibida Marlim-branco (agulhão-branco) - Tetrapturus albidus –comercialização proibida
Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP christinamorim@gmail.com Fotos e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - belacarrari@hotmail.com Impressão: Impressão:Diário Diáriodo do Litoral: Litoral Fone.: Fone.:(013) (013)3226-2051 3226-2051 Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia
Março/Abril 2016
Celebração caiçara Música, fotografia, dança, gastronomia, literatura e muito mais. A Semana da Cultura Caiçara, que aconteceu de 15 a 20 de março, veio em sua terceira edição para marcar a identidade caiçara no cenário santista. O projeto é de valorização e divulgação dessa tradicional cultura e suas relações com a contemporaneidade. A abertura aconteceu no Sesc-Santos dia 15 de março, ao som do grupo Percutindo Mundos e Lívio Tragtenberg, em homenagem (in memoriam) ao maestro Gilberto Mendes. Ainda se apresentaram o Coral Zanzalá, Carrossel de Baco (Danilo Nunes), Boi de conchas, Grupo Marulhos. A festa se espalhou pela cidade em diversos eventos culturais esportivos e turísticos. A exposição fotográfica Rastros mostrou um pouco do universo caiçara, em seu cotidiano, personagens tradicionais e festividades, sob a ótica das fotógrafas Catharina Apolinário, Isabel Carvalhaes, Christina Amorim e Isabela Carrari.
A mostra estará em cartaz de segunda à sexta-feira das 8 às 18h no Museu de Imagem e Som de Santos na av. Pinheiro Machado, 48, no piso térreo do Teatro Municipal. A semana foi criada sob a iniciativa do vereador Sandoval Soares através da lei 2.920/ 2013. Além de Gilberto Mendes (1922-2016), a semana homenageou o artista plástico Francisco Telles (1943-2016). Para estimular o uso de ingredientes típicos da gastronomia caiçara, a Forneria 7° Avenida, em Santos, serviu a pizza Caiçara Amorim, feita com taioba e palmito, e chopp extraído da grumixama, fruta típica do litoral.
Toninho Lancha (com a filha Adélia) admira a foto do seu pai, pescador Tonico Lancha, na exposição Rastros
Realização: Prefeitura de Santos. Co-realização: Secretaria de Cultura, Turismo, Esportes, Meio Ambiente, Comunicação, FAMS, MISS, Monumento Nacional Ruínas do Engenho São Jorge dos Erasmos, Oficinas Culturais do Estado de São Paulo, SESC Santos.
Apoio: Arte no Dique, Associação Caiçara de Canoagem, Caiçara Expedições, Caiçara Home Brew, Cestas da Terra, Estação Bistrô Restaurante Escola, Forneria 7° Avenida, Feira de Orgânicos, Imaginário Coletivo de Arte, Jornal Martim-Pescador, Oca Restaurante.
O secretário de Cultura Fábio Nunes, entre as fotógrafas Isabel Carvalhaes, Catharina Apolinário, Isabel Carrari e Christina Amorim
Márcio Barreto (acima) e Célia Faustino (abaixo) do Grupo Percutindo Mundos
PERÍODOS EM QUE A PESCA DE TAINHA É PERMITIDA • Cerco (traineira): entre 01/06 e 31/07 • Emalhes de Superfície e Anilhado: entre 15/05 e 31/07 • Pesca desembarcada ou embarcações sem motor: entre 01/05 e 31/07 É permitido capturar a tainha com tarrafa e pescar no interior dos estuários FICA PROIBIDO: Pescar fora dos períodos estabelecidos acima, conforme a modalidade Pescar nas barras* entre 15/03 e 15/09, em qualquer modalidade (exceto tarrafa)
Pesca com cerco (traineira) a menos de 5 milhas náuticas da costa** Pesca desembarcada de emalhe fixo ou deriva no raio de 150m ao redor de costões rochosos, ilhas e lajes Pesca desembarcada de emalhe fixo ou deriva nas praias, utilizando calões (fixos), estacas ou instrumentos de fixação Pesca de emalhe de superfície ou anilhado por barcos motorizados na 1ª milha náutica Veja mais detalhes em www.jornalmartimpescador.com.br (legislação-períodos de pesca da tainha APAMs-2016)
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Coluna
Programa Voluntário Embraport doa ovos de páscoa para crianças da comunidade
A Embraport, por meio do seu Programa de Voluntariado, promoveu no mês de março um dia recheado de alegria para mais de 100 crianças da cidade de Santos. Os voluntários, divididos em três grupos de aproximadamente 15 pessoas, entregaram cerca de 400 ovos de chocolate para alunos da rede municipal de ensino da área continental de Santos (Unidades da Ilha Diana e Monte Cabrão) e também para crianças assistidas pela APAE Santos (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Além das entregas feitas pelos integrantes, um total
de 500 ovos também foi doado para o Fundo Social de Solidariedade de Santos, entidade que atende diversas instituições da cidade. O Programa Voluntário Embraport teve início em 2014 e neste período já realizou mais de duas mil horas de trabalhos junto à diversas entidades assistenciais da Baixada Santista. Por meio desta iniciativa, a Embraport reafirma seu compromisso com a sustentabilidade estimulando que seus integrantes dediquem parte de tempo de trabalho em prol de causas sociais.
OUVIDORIA EMBRAPORT: 0800 779-1000 faleconosco@terminalembraport.com.br www.terminalembraport.com.br
Dani,
Ilha Diana, na área continental de Santos, esteve em festa. Dia 5 de março, Danielle festejou seu aniversário de 15 anos (completado dia 4), e comemorou com parentes e amigos. Dani é descendente das mais antigas e tradicionais famílias de Ilha Diana, Quirino, Alves, Silva, Souza e Hipólito. Filha de Kátia Adriana da Silva Alves e Nelson de Souza Quirino, tem como avós Walter Quirino e Irene de Souza Quirino, Adriano da Silva Alves e Geni Hipólito Alves.
, 15 anos
Marรงo/Abril 2016
Parece que foi ontem
Dani em 2010...
...com os pais...
...e com amigos em 2006...
...e em 2007
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Contaminação do pescado pelas moscas Uma das causas de contaminação de alimentos está relacionada com a presença de pragas, tais como: moscas, ratos, baratas, formigas, etc. Alguns estudos revelaram que a mosca é uma das principais fontes de micro-organismos patogênicos. A Salmonella é responsável pelas infecções intestinais, diarreia, desidratação e em alguns casos pode levar o consumidor à morte. A Salmonella sp pode ficar hospedada até 35 dias no intestino. Outros agentes importantes são a Escherichia coli e Campylobacter, segundo a Organização Mundial de Saúde há mais de 100 patógenos que relacionam com as moscas. A transmissão por estes agentes pode ocorrer através: das superfícies de contato, da regurgitação da comida e a da defecação. São considerados portadores naturais de patógenos, e os agentes são carregados nas patas do inseto e os eliminam no pescado ou em qualquer alimento. Nos países tropicais, como é o caso do Brasil, devido à ocorrência de temperaturas altas e maior umidade, ocorre consequentemente maior crescimento da vegetação, fazendo com que a população de pragas aumente. Para evitar a presença de moscas pousando no pescado exposto em feira livre, supermercado, peixaria, entreposto, mercado municipal e cozinha industrial, é necessário que a matéria-prima esteja bem fresca, resfriada (com gelo) e protegida dos contaminantes. A proteção pode ser feita utilizando um balcão frigorífico refrigerado. As pragas contaminam o pescado destinado
ao consumo humano, por isso é importante limpeza e higiene diárias para manutenção da saúde pública. Nas cozinhas domésticas o pescado deve ser armazenado em geladeira e ser retirado à medida que vai sendo utilizado no preparo dos pratos. As moscas domésticas utilizam para a sua reprodução e perpetuação as fezes humanas e de animais, águas residuais, matéria orgânica em decomposição (lixo) e inclusive o próprio alimento destinado ao consumo humano. Como medida preventiva pode-se destacar a importância da higiene: evitar acúmulo de lixo, manter portas e janelas teladas, evitar resíduos de alimentos nos pratos, limpar rapidamente qualquer resíduo de líquido que derrame, guardar os alimentos em recipientes fechados, despejar os resíduos em lixeiras providas de pedais e, hermeticamente fechadas, para evitar manipulações inadequadas. O lixo deve ser retirado diariamente.
Augusto Pérez Montano - Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo
Colonia Z-3 tem novo presidente
Edson comandou a Z-3 por 16 anos
Fábio Nascimento assumiu a presidência da Colônia Z-3 em Vicente de Carvalho, Guarujá, em fevereiro de 2016. Na equipe estão o vice-presidente, José Rodrigues, o Passarinho, e o tesoureiro Luciano. Fábio substitui Edson Cláudio dos Santos, que esteve 16 anos à frente da entidade.
O adeus de Beto
Nosso querido Beto Camarão, tradicional pescador da rua Japão em São Vicente, faleceu dia 15 de fevereiro de 2016, deixando muitas saudades. Sua viúva, Neide Aparecida Encarnação, antiga companheira de pescarias, diz que é muito triste perder o parceiro de mais de 30 anos de convivência. Neide acompanhou o companheiro até os últimos momentos de sua luta contra o câncer. Beto acabou falecendo seis meses antes de completar 70 anos. Neide saiu de Mogi das Cruzes em outubro de 1985 para viver com o companheiro na Rua Japão e com ele aprendeu a pescar. Em outubro de 2010 selaram sua união casando-se na Igreja de São Pedro Pescador, em São Vicente. Roberto Mário Ruiz Sobrinho ganhou o apelido por conta de sua maestria e de seu pai na pesca do camarão. Seu Mariano, o pai, nascido na Ilha de Barnabé, em Santos, antigo reduto de pescadores, tinha o apelido de Rei do Camarão, pois navegava por rios e gamboas e conseguia achar o crustáceo em várias estações do ano. A pesca estava no sangue, pois seu tio, Tonico Lancha, foi o mais famoso pescador da rua Japão, ensinando a arte para muitos iniciantes. Beto aprendeu a pescar com o pai, ainda na canoa de um pau só. “Naquela época, motor era raridade, coisa de rico”, dizia, referindo-se a tempos anteriores à década de 70. “Os antigos eram da ´turma do remo´, Claudemiro Nobre, Tonico Lancha, meu pai e meu avô”, sempre lembrava. Beto colocou motor no barco de alumínio na década de 70. Com o esforço para remar, os pescadores mais antigos eram magros, não tinham barriga. “Não tinha pescador barrigudo”, dizia Beto. “A minha geração se espelhou nos pescadores mais velhos”, afirmava. Beto, aluno de uma escola de antigos pescadores que praticavam a pesca sustentável, partiu e deixa saudades de um tempo de fartura dos peixes, quando a profissão sempre passava de pai para filho.
Beto viveu sempre junto ao mar
Beto e Neide, na rua Japão
Março/Abril 2016
Sopa de piranha do Pantanal (para 8 pessoas) 2 kg de piranhas inteiras limpas 4 tomates grandes picados 4 cebolas grandes picadas 4 dentes de alho picados 1 pimentão verde médio picado 1 maço médio de salsinha picada 1 maço médio de cebolinha picada ½ maço de hortelã picada ½ maço de coentro picado 2 folhas de louro Pimenta e colorau a gosto Farinha de trigo para engrossar dissolvida em água fria Sal a gosto Preparo: Preparo: Colocar as piranhas limpas dentro da panela de pressão. Cobrir com água e deixar por 40 minutos no fogo após a panela apitar. Acrescentar mais um pouco de água e liquidificar. Coar. Acrescentar todos os ingredientes e deixar por meia hora em fogo médio. Misturar a farinha numa xícara em água fria, mexer bem, e ir despejando aos poucos e mexendo bem até engrossar. Sirva com torradas. A receita pode ser feita também com peixes de tamanho médio, como tilápia.
Experimente a famosa receita do chef Antônio Bahiano, de Mato Grosso do Sul. Presente à Feipesca 2016, o chef preparou sua especialidade, também chamada de Viagra Pantaneiro, para centenas de visitantes.
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Crescer e Multiplicar Peixes ameaçados de extinção se multiplicam em cativeiro
A aquicultura é a esperança de recuperar espécies que vão se tornando escassas na natureza. Com essa ideia, pesquisadores do Instituto de Pesca, vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, deram início à criação de garoupas no Laboratório de Piscicultura Marinha, localizado na praia do Itaguá, em Ubatuba/SP. O zootecnista Eduardo Sanches, que agora conta também com a colaboração do oceanógrafo Venâncio Azevedo neste projeto, começou os estudos a dez anos, mantendo peixes em tanques-rede no mar. Sanches explica que o preço elevado da garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus) estimulava a pesca e os pescadores já observavam a dificuldade em encontrar os peixes. “Diante da demanda dos pescadores, quis avaliar possibilidade de iniciar a criação da garoupa, oferecendo um alternativa à captura”, explica Sanches. “Os pescadores tinham interesse na espécie já que a mesma fazia parta da cultura culinária da região litorânea”, acrescenta. “Depois fui ampliando o projeto, incorporando a criação de outras espécies de peixes tais como os badejos, as ciobas e os ariocós”, conta. Atualmente, até o mero (que está com sua captura proibida, sendo considerada uma espécie ameaçada de extinção), também tem seu lugar no laboratório. O projeto que teve início com 10 tanques-rede agora é desenvolvido em laboratório climatizado com modernos equipamentos. São 10 tanques de fibra de vidro, alguns com mais de 30 mil litros de capacidade, com sistemas de filtragem de água e alimentadores automáticos, que fornecem a comida dos peixes de maneira programada. “Antes buscávamos as matrizes no mar, com licença do ICMbio”, explica Sanches. “Hoje,
O pescador Barroso é colaborador do Projeto do Instituto de Pesca
Garoupa-verdadeira nascida em cativeiro
Garoupa-verdadeira Epinephelus marginatus
Tanques de criação na Base do Instituto de Pesca em Ubatuba
para a maioria das espécies do projeto, não dependemos mais disso, usamos os peixes que nasceram em cativeiro para gerar novos filhotes”, conclui. O objetivo do projeto continua sendo definir protocolos de cultivo e formar reprodutores para futuros trabalhos de produção de formas jovens. No laboratório, alunos de cursos de pós-graduação realizam experimentos visando definir técnicas de manejo alimentar (projeto financiado pela FAPESP
processo 2014/07886-7), aprimorar os equipamentos de filtragem de água e mais recentemente, buscar a definição de perfis hematológicos de cada espécie. Com isto, será possível melhorar o bem estar das espécies em cativeiro. Todo este cuidado é retribuído pelos peixes com reproduções e novos nascimentos em cativeiro. Os resultados apontam um projeto bem sucedido. “Hoje os pescadores vem nos visitar e ficam
entusiasmados em ver os filhotes nascidos em cativeiro. Ficam mais impressionados vendo os pequenos peixes se alimentando de ração”, comemora o zootecnista. A garoupa-verdadeira, por ser uma espécie hermafrodita, matura inicialmente como fêmea e após um determinado tempo inverte o sexo, maturando como macho. O projeto mantém um banco de sêmen de diversas espécies de peixes marinhos, utilizado como ferramenta para ampliar a diversidade genética dos peixes nascidos em cativeiro. Os estudos posteriores, visando avaliar a engorda da garoupa-verdadeira, mostraram que o peixe leva até 12 meses atingir 1 kg e de três a quatro anos para maturar sexualmente. A tecnologia de engorda destes peixes tem sido divulgada para os interessados que vem iniciando seus cultivos. Em um breve futuro o projeto espera ver pescadores artesanais da região criando peixes e dando início a uma nova cadeia produtiva. “O pescador traz os peixes de seu tanque-rede e os vende diretamente ao turista. Ganha dinheiro com a produção e ainda divulga a atividade, aproveitando o potencial turístico da região”, afirma Sanches. Os pioneiros criadores de peixe no mar chegam a dizer que o peixe vale mais vivo do que morto, pelo grande interesse das pessoas em visitar a criação. Diferente da atividade de pesca, a criação de peixes reduz a incerteza quanto a produção. Segundo Sanches, “O criador chama o cliente e sabe quanto de peixe tem em seus tanques". Para Sanches a aquicultura é uma excelente alternativa para o abastecimento do mercado de pescado. Esta atividade já é responsável por metade da produção de pescado no mundo. Um conhecimento que deve ser divulgado para os pescadores artesanais que podem considerar isto como mais uma fonte de renda.
Aquicultura de precisão No futuro, a piscicultura desenvolvida pelo Instituto de Pesca em Ubatuba deve rumar para uma aquicultura de precisão. Será um novo modelo que utilizará ferramentas tecnológicas visando ampliar
a produtividade com redução de impacto ambiental. Isso se dá pelo melhor aproveitamento dos insumos e consequentemente melhorias substanciais no processo produtivo. Um exemplo dentro deste modelo
é a simplificação do processo de fornecimento de alimento, que pode ser feito de forma automática e computadorizada. A alimentação é feita em diferentes horários do dia por aparelho
especial programado para realizar a operação. Uma melhor adequação da quantidade de alimento é feita, evitando desperdício e depósitos indesejáveis de comida no fundo do tanque.
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Março/Abril 2016
Ilha Diana e Caruara, unidas pelo turismo Lygia Mesquita é artesã em Caruara
Moradoras de Caruara se preparam para embarcar para Ilha Diana
Dois bairros da área continental de Santos estão vivenciando uma experiência diferente: conhecer a comunidade vizinha e seu potencial de turismo. Tudo isso é o preparo para a formação de monitores em Turismo de Base Comunitária. Dia 14 de março, 24 moradores de Caruara visitaram a Ilha, conhecendo tudo que um turista quer
ver. A começar pelo passeio que sai de barco próximo à Praça da Alfândega, no centro de Santos. Em 20 minutos de trajeto é possível avistar o antigo prédio da Base Aérea de Santos, rodeado de coqueiros e muitos pássaros e árvores do mangue que exibem suas poderosas raízes. Os visitantes foram recebidos com um gostoso café da manhã,
Oficina de artes em Caruara
conheceram a rua principal da Ilha e sua história. Depois de um passeio de barco pelo mangue puderam saborear o almoço preparado pelas moradoras. Dois dias depois, 24 moradores de Ilha Diana foram recebidos em Caruara. Conheceram sua história, suas trilhas, seu artesanato e sua gastronomia, que inclui deliciosos
doces caseiros. “Fazer intercâmbio de duas comunidades que tem foco no turismo comunitário é a realização de um sonho”, afirma Renato Marchesini, coordenador da Caiçara Expedições e um dos organizadores da iniciativa. As visitas aconteceram durante a Semana da Cultura Caiçara. Para José Carlos da Silva Barros, especialista em economia solidária e um dos incentivadores do Turismo de Base Comunitária-TBC de Caruara, a Semana teve uma importância muito significativa para o projeto. “Foi a primeira experiência oficial, antes de receberem um grupo de 43 turistas do SESC Goiás”, explica. As visitas enriqueceram o conhecimento dos moradores e essa troca de experiências trará bons frutos nos próximos encontros. O planejamento, organização e execução do projeto vêm sendo desenvolvido através de Comissões formadas para o Desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária Caruara. Foram criadas comissões de gastronomia, cultura, visitas
Renato Marchesini e José Carlos da Silva Barros
monitoradas, artesanato, comunicação e financeiro, integradas por representantes da administração pública, estudantes e administração da escola Judoca Ricardo Sampaio, artesãos, pescadores, representantes dos pequenos comércios e empreendimentos locais, e moradores interessados. Consolidou-se assim o fortalecimento do protagonismo local, tendo como base a escola Judoca Ricardo Sampaio, sob a coordenação da diretora Nurcy Cordeiro. O projeto conta com o apoio da Caiçara Expedições, Prefeitura Municipal de Santos e UniSantos. Mais informações: Caiçara Expedições: www.caicaraexpedicoes.com/ Te l : ( 1 3 ) 3 4 6 6 . 6 9 0 5 / ( 1 3 ) 98113.4819.
Instituto de Pesca completa 47 anos Um dos pioneiros na área de pesquisa em aquicultura, pesca em águas marítimas e continentais, o Instituto de Pesca (IP), completou 47 anos dia 8 de abril. Órgão de pesquisa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, estende seu raio de ação em cidades do litoral e do interior. Para celebrar a data, o IP organizou um ciclo de palestras abordando recursos hídricos, ética na pesquisa científica e experimentação animal. Também foram feitas homenagens aos servidores aposentados que ajudaram a escrever a história do Instituto. A cerimônia de comemoração do aniversário do IP foi realizada na sede do Instituto, localizada no Parque da Água Branca, em São Paulo. (saiba mais sobre o IP em : www.pesca.sp.gov.br)
Leonardo Chagas
O secretário da Agricultura, Arnaldo Jardim discursa no evento