Cassius Gon莽alves
Vit贸ria - ES - Maio de 2012
Convenção Batista do Estado do Espírito Santo Presidente Pr. Ednan Santos Dias da Silva Av. Paulino Muller, 175, Ilha de Santa Maria - Vitória - ES CEP 29051-035 - (27) 3038-2811
Comissão do Livro Alberto Walter Martins Delane Souza Eliezer Francisco D’Ávila Orivaldo Pimentel Lopes Produção Executiva LK Comunicação e Marketing (27) 3026-2236 Direção Executiva Leonardo Ribeiro de Oliveira Editoração Gráfica Miquéias da Vitória Pesquisa Histórica Projetos Consultoria Supervisão de Pesquisa Cassius Gonçalves Pesquisadores Cassius Gonçalves Carolina Júlia Pinto dos Santos Fhylipe Menezes Faria Robson Silva Ribeiro Soraya Lyra Redação Cassius Gonçalves Revisão Lilia Barros Impressão Gráfica GSA
Apoio:
SUMÁRIO Prefácio
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Agradecimentos
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Apresentação
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Introdução
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1 . Homens do seu tempo
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2 . Crescendo pelo Brasil
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3 . Pelo Espírito Santo
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4 . A força do Espírito Santo na evangelização
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5 . Através do tempo
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6 . Ser humano. Indivíduo. Varão
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7 . E te farei uma companheira
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8 . Somos jovens
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9 . Proclamar apesar…
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10 . Um cântico novo
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11 . Amai uns aos outros
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12 . Educação que liberta
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13 . Aqui chegamos pela fé
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Apêndice
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Notas
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Referências
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PREFÁCIO UM MOMENTO NOVO Viver o que é novo é uma dádiva celestial e somente os salvos por Jesus esperam a plenitude desta promessa. A Bíblia expressa bem esta verdade ao declarar nossa esperança escatológica em que o Senhor fará novas todas as coisas, e esta expectativa pelo novo se torna realidade em nossa vida a todo o instante. Com esta perspectiva, os Batistas Capixabas estão preparados para o futuro com os pés firmados em uma história centenária rica de vitórias e realizações, herdadas dos pioneiros que deixaram suas marcas indeléveis a inspirar as gerações vindouras. Os Batistas não são um grupo que surgiu ontem e que cresceu do dia para a noite, temos uma história não somente no Brasil, mas no mundo. É bem provável que, em um passado recente, tenhamos perdido tempo precioso em coisas que não eram nossa missão como povo de Deus. Talvez por esta falta de foco perdermos um pouco mais do que tempo, mas vejo que este é o momento de olharmos para o nosso Estado como um grande desafio. Não é pelo fato de termos em cada cidade pelo menos uma Igreja Batista que vamos nos acomodar. Precisamos avançar ainda mais e é preciso consolidar a presença Batista nos bairros, nas ruas, nos movimentos sociais e na política. Nós temos muito a 8
contribuir para resgatar os valores que cremos, e que são referendados pela Bíblia Sagrada. Hoje, nosso maior desafio é resgatar o espírito de cooperação que manteve vivo e pujante os ideais de um povo com características e princípios únicos na história do Cristianismo. Foi por intermédio da cooperação que chegamos até aqui, realizamos duas campanhas memoráveis de evangelização, mutirões missionários, cruzadas evangelísticas, e outras ações que comprovam a força da cooperação Batista. Através da cooperação, a Igreja local, com sua autonomia de governo eclesiástico, é inserida em uma Associação de Igrejas que se inicia nas Associações regionais e termina na Aliança Batista Mundial (Baptist World Alliance - BWA), com representantes dos Batistas de todo o mundo e assento garantido no Conselho de Conferências da ONU. O principio da autonomia das Igrejas locais talvez seja um dos pontos mais personalísticos dos Batistas. Cada Igreja tem autonomia de governo e, de certa forma, são administrativamente independentes de qualquer organização ou grupo eclesiástico ou para-eclesiástico. No entanto esta autonomia só tem valor quando agregada à cooperação denominacional. Unidos pelo vinculo autônomo da cooperação denominacional, somos muito mais fortes e mais eficientes no cumprimento de nossa missão. Hoje somos próximos a 53 milhões de Batistas espalhados pelo mundo, com representações em todos os continentes em mais de 150 países. 9
Juntos, somos mais fortes em todos os seguimentos da sociedade. Como denominação, os Batistas atuam politicamente na defesa dos nossos direitos constitucionais da liberdade religiosa, do respeito à diversidade de credos e dos direitos universais do indivíduo. Os Batistas continuarão lutando por valores que acreditamos serem inegociáveis. Não aceitamos o suborno, não compactuamos com o pecado, mesmo que ele esteja disciplinado pelos nossos legisladores e políticos. A família precisa ser defendida acima de tudo; a moral e a ética precisam ser resgatadas no cenário político e social e o individuo, como ser criado à imagem e semelhança do Criador, precisa ser valorizado. Continuaremos nossa missão em resgatarmos vidas do pecado, dos vícios e contribuindo para que nossa sociedade seja mais justa e mais humana. As Igrejas Batistas espalhadas por todas as cidades de nosso Estado estão repletas de pessoas que foram resgatadas da morte, que foram tiradas do lamaçal do pecado, e que antes estavam chafurdadas até a alma nas trevas espirituais. Hoje cantam felizes e adoram o Redentor da Vida. A mensagem do Evangelho propagada pelos Batistas é eficaz na tarefa de mudar a realidade da pessoa humana inferiorizada pelo capitalismo. O Evangelho, através dos Batistas, chegou às favelas, aos presídios, às “cracolândias” de nossas cidades. E por onde a mensagem do Evangelho é pregada, produz frutos de vida. Estamos certos de que nossa sociedade somente será feliz e realizada quando a Bíblia estiver sendo colocada em prática. 10
Que nós Batistas Capixabas continuemos esta luta que não é contra carne e sangue, mas sim contra o pecado e contra todos os poderes que destroem a alma do ser humano, criado por Deus para ser a coroa de sua criação! Que Deus nos ajude nesta tarefa. Pr. Ednan Santos Dias da Silva Presidente da Convenção Batista do Estado do Espírito Santo
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AGRADECIMENTOS Ao nosso Deus, Senhor do tempo e da história aqui relatada. Aos membros da comissão avaliadora dessa obra pela dedicação e carinho com esse trabalho, em especial aos irmãos Delane Souza, Pr. Orivaldo Pimentel Lopes, Pr. Eliezer Francisco D’Ávila e Alberto Martins. Ao empenho dos irmãos Esmael Almeida e Audifax Barcelos, por terem abraçado este projeto literário, trabalhando decisivamente para obter apoio do Governo do Estado para este resgate da memória do povo batista capixaba. Ao Governador Renato Casagrande e ao Secretário José Paulo Viçosi, que entenderam a relevância deste projeto. A Rede Doctum de Ensino, na pessoa do seu Diretor Geral Prof. Cláudio Leitão, pelo apoio para concretização desta obra. A equipe da Convenção Batista do Estado do Espírito Santo, as pessoas entrevistadas e a todos que contribuíram, de alguma forma, para reunir conteúdo, fotos e documentos históricos que formaram este livro. Pr. Ednan Santos Dias da Silva Presidente da Convenção Batista do Estado do Espírito Santo
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APRESENTAÇÃO Foi uma honra participar da comissão que contribuiu para a elaboração deste livro. Parabenizo aos amados irmãos que tomaram a abençoada iniciativa de elaborar uma obra acurada sobre a gloriosa história dos batistas capixabas. A fantástica história dos batistas tem sido contada através de sermões, palestras, artigos, jornais, revistas e livros e é digna de ser recontada, reescrita para que todos saibam do seu legado e de sua grande importância e contribuição para o mundo. Nesta obra, o leitor encontrará informações preciosas sobre a origem dos batistas, seu desenvolvimento na Europa, nos Estados Unidos da América; chegada ao Brasil e no Estado do Espírito Santo, bem como sua contribuição valiosíssima para a sociedade na área da evangelização, educação, ação social, política e etc. Certamente este livro será utilizado por estudantes de seminários, ministros de confissão religiosa, membros das igrejas, além de todos os que desejarem saber da história dos batistas em nosso Estado e no mundo. Que Deus continue abençoando os seus filhos chamados batistas e, especialmente, os capixabas para que nos próximos capítulos de sua história sejam ainda melhores. Pr. Eliezer F. D’Avila Presidente de Comissão 14
Este livro é oferecido aos homens e mulheres que dedicaram suas vidas a levar as boas novas do evangelho ao povo capixaba. Muitos, vindos de países distantes, literalmente doaram as suas vidas por um amor que só é explicado pelo mover do Espírito Santo em suas vidas.
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INTRODUÇÃO Descoberta. Se você me pedir para resumir todo esse trabalho em uma só palavra, será essa. Nestes meses de trabalho para rastrear a trajetória da Convenção Batista do Espírito Santo, deparei-me com muitas coisas novas, que me ajudaram muito em minha compreensão sobre o papel de uma estrutura religiosa. Caminhar pela história da nossa Convenção me fez descartar algumas opiniões, acertar outras e ter novas. Conhecer os fatos mais proximamente promoveu um amadurecimento de minhas percepções. Nosso propósito aqui foi mostrar os grandes marcos dessa trajetória, sem nenhuma pretensão de fazer uma análise histórico-social-teológica dos acontecimentos. Vamos deixar isso para as academias. Mas deixamos as pontas dos novelos para tal fim. Queremos que vocês conheçam os personagens e os momentos marcantes dessa história, para que entendam um pouco dos porquês que nos trouxeram até aqui. A história da nossa Convenção pode ser dividida em 3 grandes marcos: dos pioneiros (1), que vai desde as primeiras missões evangelizadoras até o falecimento de Loren Reno, o arquiteto de nossa Convenção. Depois temos um breve período de crescimento (2) até as primeiras divergências internas que culminaram em uma divisão seguida de uma reunificação. Esse longo período (1904-1963) é 17
bem semelhante e são os fatos que farão as diferenças. Outro momento é depois dos anos 60 (3), quando várias igrejas no interior fecharam as portas devido a um grande movimento de êxodo rural, compensado pela abertura de igrejas na Grande Vitória. Simultaneamente a isso, começam os movimentos de modificação de nossa liturgia, que constituem a forma pela qual hoje estamos, somada às mudanças na maneira de pensar e agir da geração a qual chamamos de pós-moderna. Muitas mudanças ocorreram nessas últimas décadas, com raras comparações até o anos de 1963. Além disso, será possível, conhecer um pouco das clássicas organizações de nossa Convenção: Sociedade de Homens e Feminina; o trabalho com a juventude; as motivações para o grande empenho em missões; nossa visão sobre ação social; o papel da música em nosso meio; além do Colégio Americano Batista e o Centro de Educação Teológica Batista do Espírito Santo. Tudo isso contextualizando com a história do nosso Estado, do Brasil e também com a de alguns movimentos religiosos relevantes para nossa trajetória. Que esta leitura também seja para você um momento de descoberta. Cassius Gonçalves Autor
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CAPÍTULO
1
HOMENS DO SEU TEMPO
Não concordo com ele em questões religiosas, mas estou pronto a servi-lo de qualquer forma que eu possa, pelo valor dos seus trabalhos e pelo valor do seu caráter (...) Eu conheço seus planos para o futuro e eu acredito neles, pois tenho fé neles. Como fiz no passado, vou continuar a dar a ele minha simpatia, ajuda e suporte1. Antônio Aguirre, governador do Espírito Santo de março a junho de 1891, sobre Loren Reno
Quais os desafios da vida que motivam seus propósitos? As pessoas agem por diversas circunstâncias, que as direcionam de um lugar ao outro: dinheiro, necessidades pessoais, sonhos e crenças. E quanto à fé, sabemos que ela move pessoas. O cristianismo começou modificando toda uma estrutura e criando uma nova cultura. Cristo observou os valores e princípios judaicos, mas modificou suas práticas, abandonando os rituais, por não cumprirem mais seus propósitos na formação do caráter, mas por terem se tornado meras repetições. A prática precisava ser adequada ao seu tempo. Dentro do universo cristão está esse “DNA de atualização”, sempre adaptável ao seu momento, usufruindo dos recursos e pensamentos saudáveis do seu tempo, baseado no entendimento que “céus e terra passarão, mas não as minhas palavras”, não os valores, não os princípios, não os propósitos. O sábio apóstolo Paulo disse isso ao povo de Roma, que o entendimento do estilo de vida cristã o levaria a uma nova maneira de pensar e agir, que teria reflexos na forma de ver o mundo, porque experimentariam os valores de Deus, que são bons, perfeitos e agradáveis. Isso move um círculo virtuoso, agradando e realimentando-se em Deus2. Em nome de suas crenças, vários homens entraram para a história modificando-a em nome da fé. Reconhece-se casos que foram malsucedidos – mesmo dentro do cristianismo -, mas devemos nos ater àqueles que 21
deram certo, pois eles nos ajudam a prosseguir. A sociedade moderna, principalmente a dos EUA, é pautada por princípios e valores embasados nos valores eternos de Deus. Homens que tiveram contato direto com a palavra e puderam questionar o seu tempo modificando-o. No entanto, não foi fácil, e manter tais propósitos custou-lhes relacionamentos, sofrimentos, emoções dilaceradas e vidas. Tais consequências são características de pessoas que lutam pelo que creem. Atualmente, a sociedade moderna não negocia valores que fazem parte do debate diário como: liberdade de pensamento, expressão e credo; democracia; separação da igreja e Estado; investimento na educação, dentre outros. Se tais assuntos são questões resolvidas para o equilíbrio social ocidental, devemos em parte a influência de homens e mulheres que creram na palavra revelada de Deus e souberam transpô-la para suas necessidades. O que é notório nisso, é ver um modelo social constituído, principalmente nas Américas, e notar um árduo e influente trabalho batista nele. No que creem os batistas? Os Batistas creem em um conjunto de princípios chamados universais, por serem aceitos por uma grande parte das correntes evangélicas, com princípios baseados na palavra de Deus. “As doutrinas são imutáveis, são bíblicas e não exclusivas de um grupo. As diferenças denominacionais no aspecto doutrinário estão ligadas à forma como cada grupo interpreta as doutrinas. As práticas podem mudar com o tempo ou de acordo 22
com a cultura, sendo aceitáveis quando não contrariam a palavra de Deus (...) os princípios têm a ver com a causa primária de um grupo, sendo o ‘elemento predominante na constituição de um corpo orgânico”3 . Com a reforma protestante, três princípios são compartilhados por diversos reformadores e pelos evangélicos de hoje: “a Justificação pela Fé; a supremacia das sagradas escrituras e o sacerdócio de cada crente”4. Além desses, outros princípios são defendidos pelos batistas: batismo dos crentes; congregação autônoma e local; batismo por imersão; liberdade religiosa; separação entre igreja e Estado; simbolismo das ordenanças; trabalho cooperativo5. O alemão e professor de Teologia, Martinho Lutero, que liderou a Reforma Protestante nos lembra que basta (1) crer em Cristo para sermos salvos; (2) o que necessitamos está revelado na palavra de Deus, que todos podem ter acesso e interpretá-la, pois a interpretação não está restrita a um grupo de teólogos e/ou denominação, a palavra está acima dos costumes religiosos; (3) e uma vez todos os salvos podem ir até a Cristo. Esses princípios são centrais à Reforma Protestante. E por causa dessa maneira de pensar, uma hierarquia eclesiástica foi posta em cheque. Evangelizar precede o cumprimento da ordenança do batismo, ademais pessoas ouviram de Cristo e creram, sendo batizadas. É o despertar da consciência. Entender a história dos Batistas é conhecer a caminhada de mais um dos diversos grupos religiosos existentes. São três versões distinguindo sobre sua origem. A primeira 23
é a teoria “JJJ” ou “Jerusalém-Jordão-João”. A segunda é a do parentesco espiritual com os Anabatistas do século XVI. A terceira é a teoria da origem dos separatistas ingleses do Século XVII. A primeira diz que os Batistas vêm em linha ininterrupta desde os tempos no qual João Batista efetuava seus batismos no rio Jordão6. Essa corrente também é conhecida pelo nome de “sucessionista”, defendida por católicos romanos e ortodoxos, anglicanos e menonitas7. Tal questão estabelece vínculos com esse passado e cria uma ligação com o período de Cristo. No entanto, qualquer grupo religioso cristão irá estabelecer seus argumentos com essa época da igreja neotestamentária. A segunda retrata a teoria do parentesco espiritual com os Anabatistas do Século XVI8. Com a Reforma Protestante de Lutero, muitos grupos e/ou pessoas aproveitaram-se das circunstâncias e expuseram seus pensamentos sobre como o cristianismo deveria ser praticado. Dentre esses grupos surgiram os Anabatistas, que significa “rebatizadores” ou “os que batizam de novo”. Eles não aceitavam o batismo de recém-nascidos, por entenderem que o ato de batizar é consciente, uma decisão pessoal, uma vez que a aceitação ao cristianismo se dá por decisão crítica e pela pública profissão de fé desse entendimento, algo pertinente às pessoas adultas e não ao universo infantil. Antes do período da Reforma Protestante existia um grupo de dissidentes também identificados por anabatistas. No período da Reforma Protestante esse nome ressurge, mas as 24
pessoas assim consideradas deram origem a algumas correntes. Uma delas, liderada por Balthasar Hubmaier, não difere do que os Batistas atuais acreditam, no entanto, as demais possuem diferenças. Em linhas gerais, eles buscavam uma estrutura simples onde o modelo neotestamentário da vida em comunidade da chamada igreja primitiva pudesse ser reestruturado, conflitando com os interesses da Igreja Romana, forte e hierarquizada; ademais, consideravam que a igreja e o Estado deveriam estar completamente separados. Também tiveram conflitos com os reformadores pelo pouco distanciamento que propuseram a certas práticas da Igreja Romana e, por fim, por terem ensinamentos muito exclusivos. Alguns batistas desse período eram denominados de Anabatistas, mas recusavam assim ser chamados9. A terceira teoria10 afirma que os batistas se originaram dos separatistas ingleses, especialmente aqueles que eram congregacionais11 na eclesiologia e insistiam na necessidade do batismo somente de regenerados. Depois de 1610 há uma sucessão ininterrupta de igrejas Batistas, estabelecidas com provas documentais que não deixam dúvidas. John Smith, teólogo e pastor anglicano, deixa a igreja tornando-se puritanista e depois separatista. Ele era separado e independente da igreja oficial da Inglaterra, a Igreja Anglicana. Smith junto com Thomas Helwys se juntaram e seguiram para a Holanda com um grupo de homens, em função da perseguição religiosa feita pelo rei Jaime I, e organizam a primeira igreja batista da qual existe registro histórico para comprovação. No entanto, eles não foram os 25
únicos grupos separatistas, pois na Holanda encontraram os Menonitas, fugidos da perseguição da Rainha Elizabeth. Outro grupo era liderado por John Robinson, Willian Bradford e Wilian Bresswster, nomeados de Pilgrim Fathers (Pais Peregrinos), que imigraram para a Nova Inglaterra em 1620, na época ainda colônia inglesa que daria origem aos Estados Unidos. O historiador Robert. G. Torbet resume as razões porquê aceita essa teoria: primeiro, ela não violenta os princípios da exatidão histórica, como fazem os que procuram afirmar uma continuidade definida entre as seitas primitivas e os batistas modernos. Segundo, os batistas não partilham com os anabatistas a aversão destes pelos juramentos e pelos cargos públicos e nem adotaram doutrinas Anabatistas, como o pacifismo, o sono da alma e a necessidade de sucessão apostólica para a ministração do batismo. O nome “batista” vem da defesa do batismo. Uma pessoa ao crer em Cristo e dar sua pública profissão de fé era imersa às águas batismais, em respeito e cumprimento à ordenança bíblica. O batismo simboliza a morte e ressurreição de Cristo. Assim batistas são “os que batizam”. A Convenção Batista Brasileira se alinha à visão da terceira corrente, mas reconhece a influência Anabatista em sua trajetória 12 . Muitos cristãos não se viram sob o comando de uma estrutura eclesiástica centralizada e hierarquizada, como as Igrejas Romanas e Anglicanas, que além do mais eram ligadas ao estado. Por essas e outras divergências foram amplamente perseguidos, pois, 26
de certa forma, representavam uma ameaça a esses dois grupos quanto a maneira de ver a relação de liberdade e livre-arbítrio, como outras questões doutrinárias. Era natural ao pensamento do século XVI e XVII esse vínculo igreja-estado, logo, o diferente disso era o estranho. Assim, muitos cristãos fugiram para diferentes regiões da Europa e outros foram enviados para as américas como pessoas indesejáveis. Os ingleses enviaram seus degredados para suas colônias na América do Norte, como também as pessoas que foram perseguidas pelo sistema religioso intolerante e fundamentalista do período do Rei Jaime I (15671625) e de seu filho Carlos I (1646-1649). Ao chegarem à atual região da cidade de Boston, reorganizaram suas igrejas, dentro do modelo congregacional, mas, ironicamente, mantiveram o que aprenderam, um sistema fundamentalista, intolerante e ligado ao estado, do mesmo modelo do qual foram vítimas. Dentre os diversos cristãos perseguidos que deixaram a Inglaterra está Roger Williams que foi para a Nova Inglaterra, onde chegou a pastorear uma igreja, mas, discordando das relações com estado, foi ele citado a comparecer perante as autoridades em Boston e condenado ao banimento. A principal acusação contra ele foi por afirmar que os magistrados não tinham o direito de infligir penas por faltas religiosas. A condenação a Williams se deu em rigoroso inverno daquele ano. Contudo, foi salvo da morte pela amizade feita com os índios e pelo aprendizado de sua língua nativa. Fundou um núcleo de colonização na Baía 27
Narragansett com várias de suas ex-ovelhas de Salem, que lhe permaneceram fiéis. O documento de organização do núcleo estabelecia claramente a não interferência das autoridades em matéria religiosa. Noutras palavras, estabelecia a separação entre Igreja e Estado e a liberdade religiosa. Essa disposição foi conversada na Carta Constitucional da Colônia, reconhecida pelo rei Carlos II em 1663. Assim, esse foi o primeiro governo que estabeleceu a liberdade como princípio básico. Outros países e governos, inclusive a colônia de refugiados católicos de Maryland, já haviam determinado a tolerância religiosa. Vai a diferença, entretanto, entre tolerância e liberdade, e assim a pequenina colônia fundada por Roger Williams detém essa glória e essa honra de ser a primeira nos tempos modernos a erigir como norma o princípio da absoluta liberdade religiosa. Roger Williams era um estudioso das Escrituras, por isso, pouco depois de ter organizado a sua Colônia, chegou à conclusão de que a aspersão de água numa criança não a tornava um cristão e que isso não era, de maneira nenhuma, cumprimento da ordem de Jesus Cristo quando ordenou seus discípulos batizarem. Vários outros de seu rebanho chegaram à conclusão idêntica, logo, Roger Williams decidiu que devia ser batizado. Mas como ser batizado se não havia, pelo menos a seu conhecimento, outros batistas na América? Decidiu, então, que um dos membros de seu grupo, Ezekiel Holliman, o batizaria, e assim foi feito. Em seguida, Roger Williams batizou Holliman e mais nove outros. Desse modo, presumivelmente em março de 1639, com 28
onze membros fundadores, foi organizada a Primeira Igreja Batista em solo americano. O nome que Roger Williams havia dado ao local era Providence. Até hoje existe a Primeira Igreja Batista de Providence no atual Estado norte-americano de Rhode Island, mas não há documentos suficientes que comprovem sua existência ininterrupta desde 1639. Depois desses dois feitos tão importantes, o da fundação da colônia e o da fundação da igreja, Roger Williams entrou em dúvidas a respeito da validade de seu singular batismo. Começou a achar que, não tendo sido feito por um ministro qualificado, era duvidoso o valor desse batismo. Suas dúvidas foram tais que acabou deixando a igreja, mas não solicitou batismo de nenhum outro ministro ordenado. Os membros da igreja, entretanto, continuaram mesmo sem seu pastor. O substituiu nessas funções Thomas Oliney. A história de John Clarke também faz parte dos primeiros registros de Batistas nos Estados Unidos. São poucos os dados que temos acerca de sua vida antes de emigrar para a América. Mas era homem de vasta cultura, sabedor de Hebraico e Grego, que deveria ter aprendido em alguma Universidade. Era também médico e viveu na Inglaterra algum tempo, exercendo essa profissão. Teve que emigrar para a América em virtude de suas convicções religiosas no tempo de Carlos I, mas, como diz Vedder, ao mudar-se da Inglaterra para a Nova Inglaterra, pulou do fogo para a frigideira, pois a teocracia dos colonos não o deixou em paz também. Assim, procurou outro lugar onde estabelecer uma colônia e adquiriu dos índios a Ilha de Aquidneck, a 29
qual chamou de Ilha de Rodes, Rhode Island. Ali fundou o núcleo de Newport, onde também estabeleceu uma igreja. Não há, entretanto, documentação que prove ter sido essa uma igreja batista quando foi fundada. Aparentemente, o Dr. Clarke se tornou batista após estudo da questão, talvez mediante contatos com Roger Williams. Sabe-se com segurança que sua igreja era batista em 1648, pois há documentos que informam da existência de uma igreja batista em Newport nesse ano, com 15 membros. O Dr. John Clarke permaneceu nessa igreja até o fim de sua vida. Exerceu grande influência naqueles primeiros tempos da colonização. Foi ele quem, dirigindo-se à Inglaterra, conseguiu o reconhecimento da Carta Constitucional da Colônia. Após esse início, muitos batistas foram perseguidos nos EUA, mas não deixaram de realizar os trabalhos necessários para o crescimento do evangelho. Com o tempo, várias pessoas que frequentavam a denominação passaram a ter cargos com relevância na sociedade, por exemplo, na direção de instituições de ensino, como Henri Dunster, primeiro diretor do Colégio de Harvard, que deu origem à universidade, a primeira do país; como também na vida política, que se reflete na constituição americana. Com o crescimento denominacional, vários grupos de Batistas foram se reorganizando geograficamente, em função do pensamento por pequenas divergências entre si, foram se autodenominando com diversas novas nomenclaturas. Uma delas é a Convenção Batista do Sul13, organizada no ano de 1845. Como o próprio nome sugere, congrega igrejas 30
batistas da região sul dos EUA. Existia a convenção que reunia as igrejas do norte. Elas estavam unidas junto com outras convenções batistas em prol do espírito missionário, quando constituíram a Convenção Missionária Geral da Convenção Batista nos Estados Unidos da América para Missões Estrangeiras, que se reunia trienalmente, passando a ser conhecida como Convenção Trienal. As diferenças entre norte e sul davam-se mais no âmbito cultural, pois o norte absorveu e implementou a lógica econômica industrial, enquanto o sul tinha sua base econômica na agricultura, baseada na mão de obra escrava. Esse problema deu origem a Guerra da Secessão, também conhecida como Guerra Civil Americana (1861-1865), maior conflito armado que já ocorreu nos EUA. Muitos americanos se mudaram para outros países, incluindo o Brasil14. Esse problema específico de uma época tinha reflexos dentro das igrejas, pois existiam grupos favoráveis à manutenção da escravidão e outros contrários. Muitos apresentavam resistência a missionários donos de escravos, pois entendiam ser contra os valores cristãos15. Uma das características da Convenção Batista do Sul é a sua visão e paixão por missões, questão aparentemente bem disseminada entre os Batistas da época. Exemplo disso vê-se em dois grupos que vieram para o Brasil fugindo da guerra, estabelecendo-se em Santa Bárbara d’Oeste e na região do futuro município de Americana, no estado de São Paulo. Lá deram origem a dois núcleos congregacionais de Batistas 31
no Brasil, primeiramente para atender e reunir os americanos recém-chegados, no ano 1871. Logo, o grupo solicitou à Convenção Batista do Sul o envio de missionários ao Brasil, pois a Terra de Santa Cruz era um campo vasto para se plantar o evangelho de Cristo. Por meio desses americanos nasce a saga dos batistas brasileiros, incentivando os locais a mudarem suas vidas e a vida de seu país.
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CAPÍTULO
2
CRESCENDO PELO BRASIL
Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. O escritor do livro de Hebreus
Deixar sua pátria provoca sentimentos diversos. Alguns tomaram essa decisão por vontade própria, outros pela necessidade. Mas o primeiro desafio sentimental vem da esfera da distância, aflorando a saudade que não pode ser suprida a qualquer momento. Mudar de país era uma decisão difícil quando reportamos essa ação para o tempo passado, considerando que o transporte era feito por navios, era custoso; ir de um país ao outro dispendia meses e a possibilidade da ida nem sempre significava a possibilidade da volta. O ser humano é dotado de sua espiritualidade e para onde vai carrega consigo a necessidade de expressá-la. No período da colonização das américas não foi diferente, como vimos no caso norte americano. Quando as pessoas vieram da Europa para a América Latina também trouxeram consigo sua fé. O ato civilizatório do continente americano se dá no momento de mudanças das mentalidades na Europa, com crises nos modelos políticos absolutistas levando à queda de reis com o surgimento de novos ideais políticos liberais; mudança nas artes e cultura com o renascimento e a crise na Igreja Romana com a proposta reformadora de Martinho Lutero. As conquistas territoriais e o catolicismo andaram de mãos juntas devido às circunstâncias de época, quando os reis e a igreja tinham acordos entre si; era ligação formal da igreja com o estado. A reforma protestante exigiu empenho do Vaticano para evitar a presença dessa nova perspectiva cristã onde a igreja romana já estava estabelecida, mas, como 34
a história demostra, foi uma avalanche impossível de se conter. Os registros mostram que a primeira evidência evangélica na América do Sul2 foi no ano de 1529, sob permissão espanhola, na região onde hoje se localiza a atual Venezuela. No Brasil se deu na tentativa da ocupação francesa no ano de 15553. O que não se pode deixar de considerar é que, sendo católica ou protestante, a visão era sempre atrelada a existência de uma religião ligada ao estado e tal perspectiva não se alterou no aspecto do cristianismo reformado dado os interesses de exploração do novo mundo. O protestantismo nunca conseguiu uma expressão durante séculos, mesmo com os processos de independência das colônias espanholas e igualmente na portuguesa - o Brasil. Isso mudou somente no contexto do século XIX. Um dos fatores colaborativos foi o processo de imigração, tanto europeia quanto norte americana. No caso brasileiro, a entrada do protestantismo foi utilizada como instrumento de negociação pelos ingleses como contrapartida à proteção inglesa dada à corte portuguesa em sua fuga para o Brasil no período das invasões napoleônicas. A conta veio no tratado comercial de abertura dos portos assinado em 1810. O Príncipe Regente D. João permitiria a liberdade de culto em casas e, por outro lado, os protestantes não construíram templos públicos de cultos, nem realizariam atos de evangelização para conversão da população católica e muito menos expressariam publicamente sua fé4. Os movimentos liberais que impulsionaram e inspiraram as ações de independência das colônias americanas 35
se dividem em duas linhas políticas, os conservadores e os liberais. Os conservadores, na maior parte, representavam os interesses dos proprietários de terras, cuja riqueza estava baseada na agricultura e na mão de obra barata. Os liberais vinham em grande parte da nova e crescente classe de comerciantes, cujo modelo eram as ricas nações industrializadas do atlântico norte e para quem a mão de obra treinada e capacitada representava uma riqueza maior; eles apoiavam o livre comércio e, em graus variados, as outras liberdades geralmente associadas a ele – as liberdades de expressão, de assembleia e de culto”5. A família real brasileira era adepta ao liberalismo, fato que D. Pedro I criou a constituição mais liberal de sua época e D. Pedro II seguiu essas linhas. Assim, mesmo com o império brasileiro tendo relações oficiais com a igreja romana, criou brechas para o crescimento da fé reformada. No Brasil, três fatores contextuais podem ser apontados favorecendo a propagação do evangelho: “primeiro, a infraestrutura do país durante o reinado de D. Pedro II, que garantiu aos missionários um maior acesso à população brasileira (a rede ferroviária, o telégrafo, os correios, os jornais e outros meios de comunicação e a relativa urbanização experimentada pela nação facilitaram os trabalhos missionários); segundo, seria a condição enfraquecida da Igreja Católica, que criou um espaço alternativo no campo religioso; e terceiro, seria a presença de imigrantes norte-americanos no Brasil, que garantiram uma base de sustentação tanto para os missionários presbiterianos como para 36
os batistas”6. Já os fatores organizacionais favoráveis destacam-se “o uso do meio de comunicação moderna para a propagação da mensagem, o estabelecimento de uma rede educacional que se estende por quase todo território nacional, a criação de seminários para formação teológica dos clérigos nacionais e o interesse em alcançar várias regiões do país”7 . Quanto às imprensas pertencentes aos grupos religiosos, essas representaram um papel fundamental, pois “isso lhes garantiu acesso à população sem precisar usar os meios tradicionais de divulgação, muitas vezes simpatizantes da Igreja Católica”8. O Brasil tinha o catolicismo como religião oficial desde sua condição colonial e sua elevação a Vice-reino não modificou tal situação, pois era comum à época a ligação entre estado e religião. O acordo entre o Império e o Vaticano era expresso por meio do Padroado9, uma permissão dada pelo Papa aos governantes sobre os assuntos da igreja. Assim, a igreja fazia parte da estrutura de governo e nela exercia influência. Compreendendo tais circunstâncias, podemos perceber melhor que a missão evangelizadora do Brasil não foi algo fácil. Durante o século XIX, destaca-se quatro grupos de evangélicos se estabelecendo de forma definitiva a partir desse período: luteranos, metodistas, presbiterianos e batistas. Os Luteranos chegam em 182410 nos primeiros movimentos de imigração germânica para o sul do Brasil, logo, sua expressão de fé não tinha um cunho evangelizador de crescimento denominacional, reuniam-se mais por costume. Os 37
Metodistas chegaram em 1835 e os Presbiterianos em 1859. A denominação Batista chegou ao país em 1871, como consequência dos grupos de americanos imigrantes que fugiram da Guerra Civil Americana. Antes dessa experiência, uma tentativa da Convenção Batista do sul dos Estados Unidos ocorreu na década de 1850, quando o primeiro pregador batista veio ao Brasil. Ele chamava-se Thomas Jefferson Bowen, um missionário norte-americano que durante vários anos trabalhou entre os selvagens na África. Por razões de saúde, solicitou sua transferência para o Brasil e chegou ao Rio de Janeiro em 1859. Conhecedor da língua ioruba quis dedicar-se à evangelização dos escravos. Sua preocupação em falar com os escravos na língua nativa despertou as suspeitas da polícia e chegou a ser preso. Sua saúde, entretanto, não melhorou aqui no Brasil e assim, em 1861, retirou-se para a sua terra, sendo, aparentemente, infrutíferos seus esforços11. Um segundo marco na história batista no Brasil foi à vinda para cá de colonos norte-americanos após a Guerra de Secessão. Derrotados pelas forças do Norte, muitos sulistas pensaram em reconstituir suas vidas em outro lugar e o Brasil foi escolhido. D. Pedro II os acolheu muito bem e eles se estabeleceram em várias regiões da então Província de São Paulo. Um grupo menor fixou-se no Norte do país, em Santarém. Do grupo que escolheu São Paulo, o mais bem sucedido foi o que ficou em Santa Bárbara, nas proximidades de Campinas. Esses colonos pertenciam a várias denominações evangélicas: presbiterianos, metodistas, batistas. Depois de 38
bem assentados em nova terra, cuidaram de estabelecer também suas igrejas, e foi assim que o grupo batista fundou, em 10 de setembro de 1871, a Igreja Batista de Santa Bárbara. Trata-se da primeira igreja batista organizada em solo brasileiro. Era, entretanto, uma igreja limitada em seu escopo: seus cultos, em língua inglesa, destinavam-se apenas aos colonos. Os mesmo colonos, para atender a conveniências locais fundaram, no lugar denominado Estação, uma segunda igreja batista em janeiro de 1879. Vale dizer que, embora essa igreja de Santa Bárbara não fosse constituída em um primeiro momento com o propósito de expansão missionária, ela tinha o ideal missionário, pois via que o Brasil significava um promissor campo de missões. Assim, escreveram à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, solicitando o envio de missionários ao Brasil. A Convenção não teria dado, no entanto, muita atenção aos pedidos dos colonos, se não fosse a atuação de Alexander Travis Hawthorne, um ex-general das forças sulistas, que se entusiasmara grandemente com a ideia de enviar colonos para o Brasil. Seu prazer pelo país despertou seu desejo de fazer alguma coisa pelo império que fora tão generoso para com seus compatriotas. Ao retornar aos Estados Unidos, começou, então, a visitar as igrejas e a pregar, falando do Brasil e das suas possibilidades, caso lhe fosse trazido o evangelho de Jesus Cristo. Certo dia um jovem pastor do Estado de Texas, William Buck Bagby, ouviu um dos sermões de Hawthorne e ficou profundamente impressionado. William Bagby estava noivo 39
de Ann Luther, que como ele compartilhava o ideal missionário para sua vida. Os dois conversavam muito sobre o assunto, pessoalmente ou por carta, e oravam a respeito dessa matéria, afinal ele não iria se entregar a uma obra missionária só para agradar à noiva. E a noiva, por sua vez, não iria deixar o ideal missionário só pra agradar o noivo. Era assunto extremamente sério e só Deus poderia resolver o impasse. Estavam as coisas nesse pé quando William Bagby ouviu Hawthorne. De repente, o Brasil assumiu uma extraordinária importância no pensamento do jovem pastor e ele entendeu que Deus o estava chamando para vir a esta nova terra pregar o evangelho. Conversou com a sua noiva e os dois concordaram em se apresentar a Junta de Missões Estrangeiras da Convenção Batista do Sul dos EUA, indicando que o país para onde queriam seguir era o Brasil. A Junta, nesse tempo, estava muito mais interessada em enviar missionários à China, mas, ante a insistência dos dois jovens acabou por nomeá-los. E foi num vagaroso navio veleiro que os dois, logo após o casamento, fizeram sua viagem de núpcias em demanda desta terra desconhecida. Decididos em vir para o Brasil, desembarcaram no Rio de Janeiro em 2 de março de 1881 e logo depois seguiram para Santa Bárbara, onde pretendiam aprender a língua portuguesa e lá tiveram um encontro providencial: conheceram um ex-padre católico, Antônio Teixeira de Albuquerque. Esse, que fora vigário em Maceió, converteu-se e abandonou a batina, casou e mudou-se para São Paulo. Ali entrou em contato com os metodistas. Mas, prosseguindo no seu 40
Exame das Escrituras, convenceu-se de que a posição batista era mais fiel ao Novo Testamento e, buscando os batistas de Santa Bárbara, pediu-lhes o batismo. Foi batizado por um pastor que era também colono, Robert Thomas, tornando-se, assim, o primeiro brasileiro a ser batizado na confissão batista. Albuquerque foi auxiliar precioso dos Bagby no seu aprendizado da língua e também nas informações sobre o Brasil. Menos de um ano decorrido depois que os Bagby aqui chegaram, apareceu em Santa Bárbara um segundo casal de missionários: Zachary Clay e Kate Crawford Taylor. Eram agora cinco que se reuniam para estudar e sonhar com a obra batista entre os brasileiros. Bagby e Taylor fizeram uma longa viagem pelo Brasil a fim de verificar qual seria o melhor lugar para iniciar o trabalho denominacional e decidiram pela cidade de Salvador após essa peregrinação pelo país e igualmente compreendendo ser a resposta de suas orações. A capital da Bahia era considerada a cidade mais católica do Brasil e para lá seguiram as três famílias: os Bagby, os Taylor e os Albuquerque, sendo que a mulher do ex-padre por esse tempo ainda não havia se convertido. Com os cinco membros fundadores, em 15 de outubro de 1882, foi organizada a Primeira Igreja Batista da Bahia. Os missionários e seu companheiro brasileiro esforçavam-se ao máximo para comunicar a Boa-Nova e seus esforços foram abençoados, porque pessoas se converteram. Houve também perseguições. Naqueles tempos do Império a Igreja Católica era unida ao Estado e muitas vezes 41
as autoridades, atendendo a exigência de padres e frades, interferiram nas atividades de pregadores do evangelho. Por outro lado, justiça lhes seja feita, tinham que controlar o grupo de linchadores instigado por padres protegendo os pastores. Houve na Bahia um incidente que poderia ter sido muito grave com Bagby. Estava ele pregando quando começou a ser apedrejado. Um pedra pontiaguda feriu-o na testa e ele caiu desmaiado. O atentado não foi grave, mas durante toda sua vida Bagby conservou a forte cicatriz daquela terrível pedrada. Enquanto o trabalho batista se firmava em Salvador, converteu-se D. Archimínia de Meirelles Barreto, filha do Padre Católico Fernando Pinto Meirelles Barreto. Ela era professora e escritora. Archimínia e sua irmã foram batizadas pelo Pr. Zachary Clay Taylor. Como consequência da sua conversão, foi abandonada pela família e pelo esposo. Tinha o dom da palavra e falava à igreja em algumas oportunidades12. Por causa do seu ímpeto e coragem de assumir a vida cristã, um de seus alunos se converteu, Francisco José da Silva, que também passaria pelas perseguições e humilhações de assumir uma vida séria com Cristo professando uma crença evangélica. Além de professora, Archimímia foi sua “mãe espiritual”, sendo responsável por sua maturidade cristã. Ele foi importante para a implantação e crescimento do trabalho batista no Espírito Santo13. A Missão na Bahia já se encontrava estabelecida e Zachary Taylor nesse momento dominava o uso da língua 42
portuguesa. Desse modo, Bagby resolveu transferir-se para o Rio de Janeiro junto com sua esposa e uma convertida da Bahia, Miss Mary O’Rorke, e ali encontraram uma senhora escocesa, Elizabeth Williams, que era batista, membro do Tabernáculo Batista de Londres, a famosa Igreja de Spurgeon. Reuniram-se em casa da senhora Williams e acertaram os planos para a organização da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, que ocorreu em 24 de agosto de 1884. Após esse período o trabalho batista se espalhou para Maceió, com a ida do Pr. Antônio Teixeira de Alburquerque para a cidade de onde fora expulso devido sua conversão, ajudado por Wandregésilo Melo Lins. Com a direção dos dois foi organizada, em 17 de maio de 1885, a Primeira Igreja Batista de Maceió, a terceira organizada no Brasil. Melo Lins veio do Recife para ajudar Albuquerque em Maceió, retornando ao Recife em companhia de outro missionário, Charles David Daniel – que veio dos colonos de Santa Bárbara D’Oeste - que fundou a Primeira Igreja Batista do Recife em 4 de abril de 1886. Assim, em quatro anos já havia quatro igrejas batistas no Brasil. O missionário Ernesto Alonso Jackson veio ao campo missionário capixaba no ano de 1902, batizando diversos convertidos fruto do trabalho de Francisco José da Silva. No ano seguinte, Zachary Taylor e Albert Lafayete Dunstan vieram às terras capixabas batizar e organizar o trabalho batista, ordenando Chiquinho como pastor. Outros, entretanto, tiveram uma longa, esforçada e gloriosa trajetória no Brasil. Entre esses pioneiros que 43
aqui chegaram ainda no século XIX, merecem especial referência Salomão L. Ginsburg14, W. E. Entizminger15, Eurico Alfredo Nelson16, Tomaz Costa17, Teodoro Teixeira18 e Francisco Fulgêncio Soren19. Em 1907, trinta e seis anos após a fundação da Primeira Igreja Batista em Santa Bárbara, foi organizada a Convenção Batista Brasileira. Havia por esse tempo quatro mil batistas no Brasil. Francisco Fulgêncio Soren foi eleito presidente da Convenção e Teodoro Teixeira foi o secretário. Eram quarenta e cinco os mensageiros presentes. Quarenta e cindo homens e mulheres bem corajosos e cheios de visão em face das decisões que tomaram. Criaram a Junta de Missões Estrangeiras (atual Junta de Missões Mundiais) e a Junta de Missões Nacionais. Visavam a evangelização de países estrangeiros e dos lugares mais distantes do território nacional. Foram também criadas outras juntas, como, por exemplo, a da Casa Publicadora Batista, à qual ficou entregue a tarefa de preparar livros, opúsculos e folhetos e publicar O Jornal Batista, órgão informativo e doutrinário já existente, criado por missionários e que a Convenção encampou. A organização da Convenção Batista Brasileira foi a providência adequada para a realização de determinados empreendimentos que não seriam possíveis a igrejas isoladas. Como cada igreja batista é uma entidade autônoma, que não está sujeita a nenhuma autoridade externa, não se pode obrigá-la a contribuir com qualquer importância para a manutenção de uma outra entidade como um seminário, 44
por exemplo. Mas será possível a manutenção dessa e de outras instituições se várias igrejas unirem suas forças, cooperando, assim, para que a missão evangelizadora no país se organize e se mantenha. Cooperação voluntária é, portanto, o segredo dos batistas. A Convenção é um órgão de cooperação, formado pelas igrejas que enviam seus mensageiros. Estes, nas assembleias das Convenções, discutem e apreciam planos, os quais depois de aprovados são encaminhados à votação e decisão pelos seus representantes. No decorrer dos anos iniciais, a Convenção Batista Brasileira veio se fortalecendo cada vez mais. Novas agências de trabalho foram criadas, para melhor realização da obra. Por outro lado, convenções estaduais, para coordenar os esforços cooperativos das igrejas existentes em cada estado, foram criadas em bases semelhantes às da Convenção Batista Brasileira. Assim, grandes e onerosos empreendimentos, como, por exemplo, o envio de missionários para o interior do Brasil e para países estrangeiros, a criação de seminários e orfanatos, a evangelização intensa, se tornaram possíveis porque as igrejas uniram seus esforços em favor da obra geral. Mas é preciso dizer também da inestimável cooperação das missões norte-americanas na Junta de Missões Estrangeiras da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, sediada em Richmond, Virgínia, que sem eles não seria possível desenvolver o trabalho local. Além da formação das igrejas, adquiriu-se grandes e hoje valiosíssimas propriedades,
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onde estão instaladas instituições como os seminários de Belém, Recife e Rio, os Colégios Batistas em várias cidades importantes.
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CAPÍTULO
3
PELO ESPÍRITO SANTO
Que lugar ideal para a Igreja1. Loren Reno
Mudar a direção. Foi essa a necessidade de Francisco José da Silva quando se tornou cristão de uma confissão batista, depois de rejeitado por parentes e amigos. Como as necessidades da vida continuam, do sustento, do afago emocional, começa-se uma nova vida com valores e paradigmas diferentes para se cumprir o cotidiano. Dizem que quando a oportunidade passa devemos agarrá-la, pois não saberemos se virá novamente. Por causa da rejeição, Francisco mudou-se para Vitória em 1894, tendo o suporte da Missão Batista da Bahia. No final do século XIX, quando o Espírito Santo era governado por Muniz Freire (1892-1896), o estado disponibilizou oportunidade de emprego para o processo de demarcação de fronteiras, uma velha briga com Minas Gerais2. Francisco se candidatou para uma dessas oportunidades e foi contratado como assistente de agrimensor na região da Serra do Aimorés3. Antes, na Bahia, trabalhava como alfaiate; em Vitória também trabalhou como comerciário, exercendo o ofício da alfaiataria em alguns momentos. Chiquinho, como era chamado, usava do tempo na cidade de Baixo Guandu para evangelizar as pessoas que ali estavam, ficou nessa região por três anos, havendo poucas conversões, pois os indivíduos dali não eram abertos a essa identidade cristã protestante. O Espírito Santo ainda era um estado de importância secundária e pouco habitado, consequência da ordem de manter a região isolada como reservas de terras na expectativa de encontrar metais preciosos. A ocupação do território 48
se dá pelo incentivo de D. João, após a vinda da coroa portuguesa ao Brasil, com imigração de açorianos (1812)4, que não resolvendo a questão, ocorreram novos incentivos com a vinda de pomeramos (1847) e depois dos italianos (1874)5, até que houve a crise com o governo da Itália, no ano de 1895, impedindo a imigração para o Espírito Santo, devido aos maus tratos ocorridos. Por sua vez, os pomeramos trouxeram a tradição religiosa luterana, sendo os primeiros a construírem um templo protestante no estado, na cidade de Domingos Martins. O censo de 1856 aponta que na população livre da época somente 0,31%6 confessava outra fé diferente da igreja romana. Açorianos e Italianos reforçaram a tradição católica existente, aumentando o contingente de fiéis da confissão religiosa. Além desses imigrantes, a população de Vitória era formada por uma grande quantidade de ex-escravos, pessoas pobres e marginalizadas devido ao secular costume implantado pelos portugueses em nossa sociedade que subjugou essas pessoas à sua margem. Muitos dos ex-escravos continuaram servindo seus senhores, mas uma nova mentalidade e visão nascia no Brasil, a da liberdade. O primeiro senso realizado no Brasil republicano, em 1890, mostra que o estado contava com 135.997 habitantes, sendo 3.074 estrangeiros7. Um dos últimos dados censitários do período imperial, de 1871, revela uma população de 70.585 habitantes, sendo 51.825 livres e 18.760 escravos8. Economicamente, o estado experimenta o crescimento 49
Pr. Francisco José da Silva que ficou conhecido como o “apóstolo do Espírito Santo”.
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Alguns dos pioneiros batistas na região de Alto Firme, atual Afonso Cláudio, onde fundou-se a 1ª Igreja Batista em solo capixaba. Da direita para esquerda: Pr. Arthur de Souza Freire Joaquim Leopoldo da Silva, Mathias Luis de Freitas, Otávio Leal e Crispim de Vargas.
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do café, que após o ano de 1850 torna-se o principal produto de sua balança econômica, seguido pelo açúcar; mas esse em queda, todavia, não menos importante. É dentro desse contexto pouco alterado que Salomão Ginzburg estivera em Vitória pregando o evangelho por volta do ano de 1892 e deixou na cidade sementes que frutificaram, formando uma pequena comunidade cristã evangélica. Chiquinho apoiou o trabalho desde seu início a partir do momento que veio para Vitória – apesar de não ter se encontrado com Salomão -, já que seu dom era evangelismo no entanto, dedicava a maior parte do seu tempo desbravando o interior do estado e proclamando a salvação da alma e do espírito do homem por meio de Cristo. Esse pequeno grupo de cristãos evangélicos de confissão Batista se reuniam em Argolas, uma região do distrito de Vila Velha, que na época fazia parte de Vitória. Como vimos, o desenvolvimento pelo qual passava o país no início do século XX favoreceu o crescimento do evangelho. Duas ferrovias estavam recém inauguradas, a Estrada de Ferro Sul do Espirito Santo, mais tarde renomeada de Estrada de Ferro Leopoldina Railway. Por ela era possível dirigir-se ao sul do Espírito Santo. Em 1904 entrou em operação a Estrada de Ferro Vitória a Minas, que tinha suas linhas voltadas para o norte do estado seguindo para Minas Gerais pelo vale do rio Doce. Ao longo das linhas seguiam os cabos dos telégrafos, que ficavam nas estações ferroviárias, facilitando e tornando rápida a comunicação à distância permitindo o contato com os missionários. Além dessas 52
empresas existiam as companhias de vapores, como eram chamadas as empresas de navegação de cabotagem, as embarcações responsáveis pelo transporte de passageiros e cargas pela costa e entrada dos rios. Até então os caminhos terrestres eram precários e a política do final do império – e depois absorvida pelos republicanos – era providenciar a construção desse sistema viário de diversos modais9 pela nação. O terreno da igreja foi escolhido perto das duas estações ferroviárias, que eram praticamente uma em frente à outra. Argolas era uma região de comércio ativo. Vitória não possuía nenhuma ponte com o continente e a única forma de se dirigir à ilha era pelos pequenos barcos, os catraieiros, fazendo dali um importante entreposto comercial com circulação de várias pessoas. Assim, a liderança da igreja e o cuidado com os crentes era compartilhado entre o diácono José Claro do Nascimento, também vindo da Bahia, e Francisco Silva, quando se ausentava para dirigir-se para o interior no trabalho de evangelização, ficando reconhecido como o “Apóstolo do Espírito Santo”10. O interior era ainda mais desocupado, ocorrendo a concentração na região sul, em função dos cafezais que foram plantados, fazendo da região mais relevante que a capital. Apesar do constante apoio, Chiquinho limitava-se somente a evangelizar as pessoas e lhes dar os primeiros passos da caminhada cristã, pois entendia que a autoridade para batizar os convertidos da igreja em Vitória e no interior, era 53
a cargo de um pastor batista ordenado11. Assim, em 1902, o missionário Ernesto Alonso Jackson veio ao Espírito Santo para batizá-los, ato que ocorreu na praia que existia perto da curva do Saldanha, em Vitória. Nesse ano, Pr. Jackson batizou 76 pessoas em todo o estado. No ano seguinte, 1903, os missionários que estavam implantando o trabalho batista no Brasil vieram ao Espírito Santo com o intuito de conhecer e organizar as primeiras igrejas capixabas. Zachary Taylor, vindo da Bahia e Alberto L. Dunstan, vindo da missão de Campos, no Rio de Janeiro, desembarcaram em Vitória e foram ao encontro de Francisco José da Silva, que estava no interior, em Alto Firme (hoje, Afonso Cláudio). Ao chegarem, formaram um Concílio para examiná-lo e, sendo ele aprovado foi ordenado como pastor. Após a aprovação, foi consagrado como o primeiro pastor batista em terras capixabas. No mesmo dia, 21 de agosto de 190312, foi organizada a primeira igreja batista em solo espírito-santense, em 24 de agosto de 1903. Em setembro, no dia 2, foi a organização da igreja em Argolas a primeira na capital e a terceira do estado. Francisco José da Silva assumiu o pastorado destas três novas comunidades cristãs, iniciando, oficialmente, o trabalho batista institucionalmente organizado. Um reforço importante ocorreu para a consolidação batista no Espírito Santo com a vinda do casal Loren e Alice Reno, trazendo ao colo sua pequena Margarida. A partir da vinda deles o projeto missionário tomou um novo rumo, pois “quando Deus fala para o coração, essa mensagem nunca morre”14.
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*** A vinda do casal Reno para o Espírito Santo, em 1904, representou a construção do fundamento do trabalho batista no estado. Até sua chegada os leigos estavam à frente, sendo assistidos esporadicamente pelos missionários que estavam na Bahia e no Rio de Janeiro. A formação que os americanos receberam para a implantação de uma estrutura religiosa foi fundamental para sua solidificação. Assim, a chegada de Loren Reno veio trazer consistência, sistematização e estruturação das igrejas, adotando o modelo norte-mericano. Loren Marion Reno nasceu nos Estados Unidos em 17 de julho de 1872, no estado da Pensilvânia, na região norte dos país. Sua mãe, Carrie Hazen Reno, sonhava ser missionária em um campo fora de seu país, mas os pais não a permitiram; no entanto a permanência desse propósito foi decisivo na formação de seus filhos. Quando criança, Reno adoeceu gravemente em virtude de febre escarlatina. Sobrevivente, foi na adolescência que percebeu sua vocação ao ministério. Mas, seu interesse era ser advogado e não via conflito no exercício da advocacia e da vida ministerial, como disse “eu posso fazer isso como um leigo advogado e ser uma grande ajuda para minha igreja”15. Um fato inusitado ocorreu quando foi à igreja Presbiteriana em sua cidade na celebração de despedida do Pastor local, o reverendo Bird. No final, ao cumprimentá-lo, Loren narra: “Quando disse: ‘Adeus irmão Bird’, ele me olhou em cheio no rosto e disse: ‘meu jovem, de alguma forma eu sinto que 55
Casal Loren e Alice Reno. 1904.
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um dia encontrarei você no ministério’16 . Na universidade já compreendia que sua realização seria no exercício da vida ministerial em tempo integral. Alice era filha de um ex-combatente da guerra civil americana, que ficou transtornado pelo resto de sua vida devido a essa experiência. Residindo no sul dos Estados Unidos, sua formação religiosa se deu de maneira conservadora e fundamentalista, onde não se aceitava nem grifar um texto bíblico ou até mesmo brincar nas tardes de domingos, pois tudo isso era considerado pecado. Devido aos problemas do pai sua família era pobre, o que o obrigou a trabalhar aos 8 anos de idade e ter sua vida acadêmica privada, concluindo somente o ensino fundamental. Ainda na infância, mudou-se para o norte dos EUA. Articulada e inteligente, batizou-se aos 14 anos de idade e envolveu-se nos trabalhos de sua igreja como professora para crianças, adolescentes e jovens. Além disso foi contratada como zeladora de sua igreja. Devido sua dedicação, seu pastor a incentivou a terminar seus estudos, quando conseguiu o grau do ensino fundamental. Mas continuou sua capacitação pois queria servir com maior empenho. Da mesma forma foi sua disposição para continuar seus estudos, pois tinha que trabalhar ao mesmo tempo. Ao término e findo sua vida acadêmica, foi aprovada como melhor aluna. Loren e Alice moravam na mesma cidade, mas vieram a se conhecer na escola, quando Alice dedicava seu tempo na preparação para missões urbanas e nacionais. Ela trabalhava para a Junta Presbiteriana de Missões Nacionais 57
e Reno já havia se decidido que atuaria em campo estrangeiro. Para se casar, dependia de uma mulher que tivesse em seu coração missões estrangeira, e foi surpreendido por Alice, que seguiu por esse caminho. Após o término do contrato dela com a igreja, foram para o seminário teológico Crozer, e ela foi a primeira mulher com permissão para estudar e preparar-se para tal fim. Assim, casaram-se e veio o tempo para decisão de um campo missionário para atuação. Morando ao norte dos EUA, as oportunidades não surgiram, até que um garoto de 15 anos, E. L. Atwood, que gostava dos biscoitos da Sra. Alice, disse que eles deveriam buscar oportunidades na Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos, dando ao casal o endereço do Sr. Robert Josiah Willingham, que respondeu a carta enviada, solicitando que fossem até Richmond, cidade sede da convenção. Lá, eles foram recebidos pelo casal Willingham e durante um tempo as necessidades se confirmaram até que foram enviados para o Brasil, embarcando em 15 de setembro de 1904, no navio S.S. Bryon, tendo na despedida somente os acenos dos lenços da família Gilmores, amigos por décadas dos Reno17. Quando chegaram ao Brasil foram para Salvador, no estado da Bahia, sendo recebidos por Zachary Taylor, que os foi buscar em um bote no navio em um dia quente e chuvoso. Loren e Alice deveriam ficar com os Taylors por um período de seis meses para o aprendizado da língua portuguesa e de alguns costumes. “A casa [dos Taylors em Salvador] ficava num penhasco duzentos metros acima da baía, 58
cujas ondas murmuravam nas pedras da praia. A brisa do oceano esfriava o ar. A lua lançava seus raios prateados através do jardim verde e tropical. O ar era adocicado com o perfume de uma abundância de flores. Uma criança trouxe uma limonada para nos refrescar. Eu achei realmente que havíamos chegada ao jardim do Éden ou ao paraíso”18. Mas, ao tomar conhecimento das necessidades da igreja no Espírito Santo, mudaram os planos e prepararam a ida para o local que seria o novo lar. Os três primeiros meses foram dedicados ao aprendizado da língua. A residência dos missionários foi na Rua Cais Schmidth, 7019, atual Avenida Florentino Avidos, que foi alugada. Não era grande, mas foi o suficiente para começar o trabalho. A casa, o abrigo do homem, o porto seguro de nossas referências, o lugar da nossa habitação, tornou-se a acolhida de um grupo. Dessa casa nasceram sonhos, convicções, planos, alegrias, tristezas. Essa casa foi a guarida de uma nova direção, que representou a mudança na vida de muitas pessoas, por longo tempo, até o nosso tempo. Foi a casa de um colégio, foi a casa de uma missão, foi a casa que abrigou o berço de uma igreja. *** “Eles vão ficar”. Era isso que o povo capixaba dizia pelas ruas à medida que viam que o casal de missionários não cediam às dificuldades impostas. Loren assumiu o pastoreio da Igreja Batista de Vitória no lugar de Francisco José da Silva. Este foi designado evangelista, sua vocação, sustentado pela igreja, com a missão de atuar no interior do 59
Estado e parte de Minas Gerais As primeiras dificuldades enfrentadas foram os constantes conflitos provocados pela Igreja Católica. Como vimos, o Brasil passava por um momento de grande transformação com o início do período republicano, pois o Vaticano havia perdido o posto de igreja oficial do Brasil. No entanto, mesmo com o catolicismo desestruturado no início do século XX, a população era aberta às orientações dos padres e a igreja romana local seguia de forma rígida os conselhos dos superiores para evitar a perda de espaço no Brasil. A maneira como os batistas e demais protestantes se posicionaram representou uma ameaça ao poder católico constituído do período20. O catolicismo se via assim, superior, porque depois que a igreja se juntou com o Estado, ela “passou a ser também portadora da cultura”21. A maneira como os evangélicos viam a relação do homem com o mundo era um grande choque cultural à forma de pensar estabelecida pelo catolicismo. No protestantismo, o homem era responsável por si e seu sucesso dependia de si mesmo, dispensando um papel tutelar religioso. Os Batistas, autônomos em relação ao Estado, procuravam manter independência e difundir a mensagem de Cristo, cabendo às pessoas tomarem a decisão de segui-lo. Se o catolicismo valia-se da infraestrutura colonial, atrelando-se a ela – e agora desprovido dela no período republicano -, o protestantismo valia-se de uma lógica de “mercado aberto de missões”22, que é a busca pela adesão voluntária dos fiéis, que passavam a integrar a comunidade, responsabilizando-se por 60
suas atividades e sustento. Os evangélicos davam a oportunidade às pessoas de sentirem-se valorizadas e relevantes numa sociedade que era extremamente excludente. Para uma melhor dinâmica dos trabalhos, um dos primeiros atos de Loren foi estabelecer um novo endereço para a igreja local, transferindo-a de Argolas para Vitória. Assim, ficaria na capital e perto do núcleo administrativo, podendo ver e ser vista pela sociedade local. Os primeiros anos foram árduos e a perseguição católica não deu trégua por um bom tempo. Padres locais incitavam o povo a causar badernas nos momentos dos cultos, numa tentativa clara de enfraquecer o trabalho dos crentes. Loren relata que, ainda em Argolas, o espaço era próprio, um casebre, com paredes de estuque e teto de zinco, que era apedrejado assustando os fiéis. Certo dia, um dos homens contratados por Roma para instigar a população contra essa comunidade cristã foi acidentalmente apedrejado em sua cabeça. O primeiro a socorrer foi Loren Reno, que parou sua pregação e foi ver o que ocorria. Ao ouvir que a barulheira externa havia se modificado dando sinais de que algo errado sucedera, Reno o tomou nos ombros, colocando-o em uma catraia, atravessou a baía levando-o à Santa Casa de Misericórdia, onde recebeu os primeiros socorros. Ações desse tipo serviam para dar um outra percepção sobre os Batistas, “a atitude do missionário teve grande repercussão entre os inimigos do Evangelho, pois viram que Mr. Reno era alguém providencial na hora de suprema necessidade”23. Os padres também disseminavam 61
mentiras sobre os pastores evangélicos, dizendo que eram filhos do diabo, que seus pés eram cascos fendidos. O resultado era o aguçamento da curiosidade da população, que participava dos batismos nos rios e praias, na expectativa de conferir como eram os pés. Quando viam, logo diziam da mentira disparada pela liderança católica. Outra forma de perseguição provocada por Roma era impedir que as pessoas fizessem alguns tipos de comércio com os não católicos. Em uma tentativa de Loren comprar um imóvel, essa tática foi utilizada impedindo que a transação comercial ocorresse24. Também faziam grandes panfletagens contra a fé protestante, mas o efeito foi ao contrário, difundindo e dando conhecimento entre a população do trabalho batista. A exclusão social das pessoas que passavam a proferir uma confissão de fé protestante era outra estratégia. Como se já não bastasse a condição de marginalidade, o pouco que restava era restringido, não podendo frequentar escolas ou ser enterrado no cemitério público. Por essa última questão, foi necessário a intervenção de Reno junto às autoridades locais, quando solicitou um terreno para servir de cemitério aos excluídos sociais, no ano de 1905. Até o fim do Império, os cemitérios estavam ligados à igreja e com a separação do estado o local foi secularizado. Não só os batistas, mas presbiterianos e outros grupos evangélicos estavam na mesma situação, como também os pobres e doentes. Essa foi a primeira conquista relevante com impacto social feito pelo trabalho batista. Era Loren agindo conforme as necessidades do seu tempo. “Nós pedimos 62
ao governo a demarcação de um lote de terra, pois a lei não permite enterros em terrenos privados. Por onze meses nós pedimos, argumentando e contra-argumentando, até que, finalmente, obtivemos uma lei que reconsiderava e autorizava a doação municipal de um terreno de 100 por 100 metros. Foi uma grande vitória e interessou às pessoas. O governo nos reconheceu como não possuidores de chifres e cascos”25. As confusões não pararam, obrigando Loren Reno a ter uma audiência com o governador do estado, solicitando-lhe que o princípio da segurança fosse exercido. Os chefes de polícia ordenavam a segurança, mas os agentes não cumpriam, influenciados costumeiramente pelos interesses católicos, que às vezes intervia protegendo os crentes, quando percebiam que a integridade física pudesse estar em jogo. Em sua audiência com o governador26, Loren explicou a situação que o chefe de polícia enfrentava e ele replicou com uma ladainha de desculpas. Loren, respondeu: “muito bem, Sr. Governador, se você não pode fazer nada eu tenho mais um passo a dar. Vou apelar ao Presidente do Brasil. Ele me respondeu calmamente: Mas, Sr. Reno, você sabe que nossas leis são formadas de acordo com suas leis americanas, e aqui, como lá, a polícia do Estado está nas mãos do Estado e por isso o Presidente não tem nada a ver com ela”. O que o governador não esperava era pela resposta de Reno, que não sabia dos conflitos políticos entre o governo e a presidência, replicou: “Sr. Governador,
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eu sei que isso é um problema do Estado até que o Estado possa e queira, mas quando o Estado não pode e não quer, então nós temos a garantia do Governo Federal. O Chefe de Polícia confessou que ele não poderia. Se você puder e enviar um homem, com poder e tropas, no trem de amanhã, tudo bem, se não, vou telegrafar imediatamente para o Presidente da República”27. Esse ato representou o fim das perseguições religiosas. Outra mudança implementada por Reno foi transferir o trabalho de Argolas para Vitória. Além do espaço e da estrutura local não serem o ideal, era preciso também constituir uma estrutura institucional organizada para o trabalho avançar de forma mais eficaz. Como disse “era apenas a igreja e nada mais”28. Para isso ele adquiriu um terreno na Rua General Osório, indicado por um amigo inglês, na época era uma das principais vias da cidade. Um ato de fé, pois estava além das possibilidades financeiras da comunidade. A aquisição ocorreu com a ajuda do pai de Loren - defensor da ideia de que um bom trabalho necessitava de visibilidade -, da junta em Richmond e da igreja local. Antes da mudança algumas atividades já ocorriam na ilha, como a Escola Bíblica Dominical, que funcionava na casa do diácono Estanislau Lemos – e a igreja também ali se reuniu por um pouco de tempo. Antes do local definitivo, alugaram uma casa na praça Marechal Hermes, que foi alvo de diversas ações de provocação contra os protestantes. Com parte do problema de segurança sanado, a igreja realizou uma série de 15 semanas de cultos, com 64
provocações externas incitadas pelos padres locais, mas era necessário manter-se firme no propósito. Assim, depois desse período, nunca mais houve nenhuma confrontação. Em 1908 a igreja iniciou as obras da sede dos batistas em Vitória, quando a população local percebeu que o trabalho não cederia às provocações e passaram a comentar: “eles vão ficar (...) os batistas realmente vieram para ficar. Verdadeiramente nós viemos”29, comentou Loren em suas memórias. A inauguração ocorreu em 1909. Loren e Alice também foram os responsáveis por arquitetar o crescimento batista pelo interior do estado, dando forma e capacitando os pastores que ali lideravam igrejas, formando novos líderes e crentes fiéis a Cristo. Nos primeiros anos, havia carência de pastores. Por isso, Loren se desdobrava, com a ajuda do Pr. Francisco Silva. Este, depois passou a se dedicar mais à região de Minas Gerais, onde se fixou a partir de 1908, assumindo o pastorado da Igreja Batista Santo Antônio do Rio José Pedro, hoje Ipanema, onde foi organizada uma igreja e uma escola. Portanto não havia tantos pastores. Loren Reno adotou uma tática para formar professores e missionários. Mas isto somente após ter inaugurado o internato. Trazia jovens do interior para estudar, com o compromisso de retornarem à sua terra, principalmente as moças. Alguns permaneceram em Vitória. Outros, foram para o Rio de Janeiro. O casal iniciou a consolidação do trabalho batista, dando seguimento ao pioneirismo e dotando-o de uma 65
Reprodução de uma carta de Loren Reno onde descreve a história da missão batista em Vitória. 1928.
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estrutura sólida. Para isso, estabeleceu boas relações com as autoridades civis e eclesiásticas, além de conseguir a simpatia e a confiança da população. Uma de suas estratégias de atuação nesse campo foi a criação do colégio, em 1907, sobre o qual veremos separadamente. Com ele um parcela da população excluída e os filhos dos novos cristãos de confissão protestante puderam estudar. Isso não significava que a escola pública estivesse aberta, pelo contrário, a educação na capital era de baixíssima qualidade, as pessoas estavam iludidas com o discurso político que havia educação para todos. A educação era acessível somente para os filhos da elite da época. O Colégio Americano, como assim passou a ser chamado pela população, em pouco tempo tinha alunos de pais abastados matriculados, prova que a direção era correta. O colégio era uma estratégia utilizada pelos batistas em várias partes do país, visando tanto a educação quanto o respeito da população. O colégio, que havia sido iniciado no próprio lar dos Reno, passou para o Templo que foi construído no terreno adquirido na rua General Osório (O Templo da Torrinha). O local logo ficou pequeno. Assim, houve necessidade de ser adquirida a Chácara Moscoso para a construção da sede própria do colégio, onde, também, houve a construção do internato. Vitória passou por uma grande transformação urbana no início do século XX, fomentada pelas políticas urbanistas e sanitaristas vigentes nessa época, quando os 67
centros urbanos foram saneados e tornaram-se lugares dignos de habitação. Não foi diferente com Vitória, que embora uma capital, ainda não tinha uma organização urbana. Munis Freire (1892-1896) e Jerônimo Monteiro (1908-1912) foram os grandes responsáveis pelas primeiras modificações urbanas relevantes, instalando água, esgoto, bondes, eletricidade, reformando prédios, calçando e retificando ruas, realizando aterros, como o que deu origem ao bairro Moscoso, concluído no governo de Jerônimo Monteiro, que se tornou um bairro nobre. Foi também quando Jerônimo fez a primeira grande reforma do Palácio do Governo, dando a ele a característica arquitetônica eclética que hoje conhecemos no lugar da original jesuítica, assinada pelo arquiteto francês Justin Norbert. Os prédios dos batistas estavam nessa nova área e estavam no contexto arquitetônico da nova cara de Vitória. Isso também ajudou, direta e indiretamente, na imagem e reputação do povo batista. Anos mais tarde, um novo templo da General Osório foi inaugurado em 09 de outubro de 1932. A celebração de inauguração contou a presença de autoridades locais, o que demonstra um novo perfil no relacionamento entre a comunidade cristã e a direção política da época. “O prefeito Municipal saudou os batistas em nome dos poderes públicos, congratulando-se com eles pelos grandes melhoramentos trazidos à capital, concorrendo, além disso, para seu embelezamento”30. Outra forma de ter contato com o povo, além de frequentar os lugares onde estavam, como as feiras livres, foi 68
atuar na beneficência, auxiliando os necessitados na questão de saúde. Loren incentivou que cinco moças se tornassem enfermeiras para prestarem os primeiros socorros, uma oportunidade de servir aos necessitados como também evangelizar31. Assim, na capital, uma sólida base foi instalada e cabia ao tempo o seu crescimento. De fato, Loren podia repetir as palavras do salmista Davi: “Quando o Senhor Deus nos trouxe de volta para Jerusalém, parecia que estávamos sonhando. Como rimos e cantamos de alegria! Então as outras nações disseram: ‘O Senhor fez grandes coisas por eles!’. De fato, o Senhor fez grandes coisas por nós, e por isso estamos alegres. (...) Que aqueles que semeiam chorando façam a colheita com alegria! Façam a colheita com alegria. Aqueles que saíram chorando, levando a semente para semear, voltarão cantando, cheios de alegria, trazendo nos braços os feixes da colheita”32.
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Primeiro templo da Primeira Igreja Batista de Vitória, conhecido como Templo da Torrinha, construído por Loren Reno, pouco antes da demolição.
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Parque Moscoso, nos anos 30.
Segundo Templo da Primeira Igreja Batista de Vit贸ria, inaugurado em 1932, na Rua General Os贸rio. Este edif铆cio foi demolido.
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CAPÍTULO
4 A FORÇA DO ESPÍRITO SANTO NA EVANGELIZAÇÃO
Prepara-te. A convocação pode chegar a qualquer tempo para qualquer terra, e seja como for, só há uma resposta que teu Deus aceita: Estou disponível. Eis-me aqui, Senhor!1. Do poema “Disponível para Deus”, de Myrtes Mathias
O Pastor e as ovelhas. A Pedra de Esquina e as pedras. O Sumo Sacerdote e o reino de sacerdotes. A cabeça e o corpo. O Último Adão e a nova criação. O noivo e a noiva. A Videira e as Varas2. Essas são as diversas metáforas que a Bíblia nos apresenta da relação de Cristo com a sua igreja. Todas elas fortes, poéticas, que nos levam a pensar a intensa relação que existe entre as partes. A parábola que Jesus narra a respeito da videira é muito interessante. Diferentemente dela, a parreira tem seu tronco e galhos muito semelhantes, por isso a imagem de uma árvore frondosa com tronco e galhos bem definidos não serve para ilustrar a parreira, que possui base de sustentação distinta. Ao se comparar propositalmente com uma videira, Jesus quer ensinar sobre a sua união com o seu povo. Ele é a videira, nós as varas. Cristo nos deu o privilégio de contribuir com o crescimento do seu reino, nos deixou à cargo do serviço, onde os frutos nascem. Cristo vê a si e os que Nele creem como uma coisa só. A Videira nos convida a relacionarmos com ele. Por outro lado, nos convida a permanecer Nele sendo esses os dois ensinamentos que podemos extrair da parábola. Isso é importante pois, além de nos relacionarmos com Ele, precisamos estar Nele para darmos frutos, para recebermos Dele os nutrientes necessários ao crescimento. O interesse não é só dar frutos, mas que os frutos permaneçam. A colheita é uma expressão muito em voga no cristianismo. Demonstra nossa constante necessidade de garantirmos o ciclo da vida, continuamente gerando novos 73
alimentos. O campo é considerado o espaço onde os não-cristãos estão. Os frutos são aqueles que se interessam pela vida com Cristo. O cristão é o meio, as varas, que possibilitam o florescer da colheita. Myrthes Mathias, em outro poema, diz que a “semente na terra não é semente perdida, é vida escondida – um dia surgirá”3. Dirigir-se ao interior do Espírito Santo teve essa metáfora do campo. O sentimento dos pastores, líderes e membros das igrejas era de serem varas frutíferas. Todavia, a característica do trabalho batista foi mais interiorana, dada que sua origem organizacional está em Afonso Cláudio, vindo depois para a capital. As pessoas da classe média, pequenos comerciantes e agricultores, eram o perfil das pessoas alcançadas pela mensagem batista. Para maior eficiência do crescimento no Espírito Santo, Loren Reno implantou um modelo organizacional institucionalizado, uma forma de garantir a capacitação da liderança, a formação de novas igrejas e evitar que mais um esforço missionário se perdesse. Para isso, criou em 10 de setembro 1905 a Missão Baptista Victoriense, que reuniu as igrejas até então organizadas: Igreja Batista em Alto Firme (hoje, Afonso Cláudio), Igreja Batista em Figueira de Santa Joana (hoje, Itarana), Igreja Batista de Vitória e Igreja Batista de Santo Antônio do Rio José Pedro (hoje, Ipanema, em Minas Gerais). A intenção de organizá-la foi de emancipá-la da tutela da Missão da Bahia para ganhar mais independência e agilidade, pois as comunicações na época eram precárias. Uma característica do modelo organizacional batista é a 74
Igreja Batista em Figueira de Santa Joana.
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cooperação voluntária. Cada comunidade é independente, mas colaboram entre si e, juntas, com o trabalho denominacional, seja com recursos financeiros ou humanos. As decisões são postas a conhecimento de todos para que decidam democraticamente por maioria absoluta. O que compartilham é a mesma visão teológica4. A estrutura da convenção estadual é a aplicação, em menor escala, do modelo nacional: os batistas seguem o modelo congregacional5. A convenção nacional é a entidade agregadora maior, formada pela reunião das convenções estaduais; que por sua vez são formadas pela reunião das associações regionais de cada estado; formada pela reunião das igrejas batistas locais. Para cada associação é aplicada uma divisão geográfica, que pode ou não seguir as divisões existentes implantadas pelo poder público. Dar forma ao trabalho batista em âmbito estadual foi uma das primeiras preocupações do casal Reno. Uma das primeiras ações foi com Francisco José da Silva, que tornou-se um dos principais missionários pelo interior. Loren conta que ele vivia da renda ganha com a alfaiataria e o comércio, e o ganho era revertido para a sua manutenção em viagens pelo interior pregando o evangelho de Cristo. Quando criou a associação, Loren o manteve como missionário remunerado e em tempo integral, além disso, sistematizou sua forma de atuação dando a ele uma caderneta “para anotar quantas casas ele visitava, sermões pregados, textos distribuídos, conversas pessoais quantas outras atividades ele realizava por dia”6 . Ambos fizeram várias viagens 76
juntos pelo interior do estado. Além das igrejas que ajudava a formar, o casal Reno começou a preparar estudos de capacitação e a viajar pelo interior, o que eles chamavam de institutos “que consiste na reunião de 10 a 100 membros de uma região, de seis a oito dias, com sessões de manhã, de tarde e de noite. Algumas vezes, meia dúzia de igrejas vinham e se juntavam num instituto. Talvez você chame isso de clínicas”7. Loren e Alice passavam todo o dia revezando para falarem aos líderes locais, deixando as filhas por 3 ou 4 dias em Vitória sob os cuidados da D. Almerinda. Era uma estratégia para lidar com a limitação de líderes em potencial, buscando a sua capacitação, afinal, tudo estava começando. Nessa época o trabalho batista no Brasil tinha somente 12 anos a partir de sua oficialização institucional e os líderes mais capacitados eram os missionários americanos. Assim, o trabalho com homens, jovens, crianças e mulheres eram instituídos em cada igreja, uma forma de falar a grupos específicos atendendo suas necessidades. A visão do casal Reno não era voltada somente para o Espírito Santo. Tendo em mente a cooperação, juntou em Vitória por 15 dias os 6 líderes dos demais estados para pensar um trabalho coordenado. O resultado disso foi estabelecer o mesmo propósito, implantando um modelo sistêmico que atingia as faixas etárias – crianças, juniores, adolescentes, jovens e adultos – como também homens e mulheres. A Sra. Alice Reno tornou-se escritora do material infantil que era distribuído em todo o 77
Brasil e o Pr. Almir dos Santos Gonçalves foi incumbido de escrever para adolescentes e jovens8. A primeira reunião da convenção estadual ocorreu 4 anos depois de formada a associação, realizada na casa do casal Reno, em Vitória. Loren pegou o trem e iniciou essa reunião pelos líderes da região sul do estado convocando pessoalmente cada um. Como era a primeira reunião em conjunto e devido as poucas condições financeiras da época, uma vez que as igrejas eram “terrivelmente pobres”, nas palavras de Reno, ele teve que arcar com as despesas para trazê-los. À medida que se dirigiam a Vitória, iam parando em cada lugar, convidando pastores para a convenção. Era a construção de uma unidade de propósito e visão no crescimento do trabalho batista. A convenção era uma maneira de compartilhar as necessidades e dar recursos para que os líderes desenvolvessem suas comunidades cristãs locais. Era o trabalho em nível nacional se estruturando, uma vez que em 1907 criou-se a Convenção Batista Brasileira, congregando todas as igrejas Batistas do Brasil. Até o fim de 1909, havia 7 igrejas organizadas no estado do Espírito Santo. Além desses trabalhos conjuntos, Loren e Alice também faziam viagens específicas para algumas igrejas. Em outro momentos ele viajava acompanhado de um outro pastor pelo interior assistindo de perto o que ocorria. Sem contar os momentos que se dirigia ao Rio de Janeiro ou Bahia, cooperando em séries missionárias nesses locais. Viajar pelo interior era se embrenhar na mata, 78
literalmente. O Espírito Santo era praticamente coberto por matas virgens e as estradas, na sua maioria, eram as picadas das tropas de mulas que faziam também o transporte do café e demais produtos. Emergências também ocorriam. Certa vez, para socorrer alguns trabalhos interioranos que não tinham líderes preparados para assisti-los, Reno e Manoel Balbino Lannes seguiram a cavalo e de trem – quando possível – para verificar o que ocorria com tais comunidades. Ações dessa forma, fisicamente exaustivas, ajudaram a encolher os dias de Loren Reno, e ele era consciente e como disse “queimava a vela pelas duas pontas”. Em sua contabilidade, “em 13 dias eu fiz 18 horas de trem e 51 horas na sela”9. Rio Novo era o trabalho no interior mais próspero e uma das melhores igrejas em todo o Brasil. A perseguição ali era intensa, ao ponto de um dia toda a igreja ter sido agredida, o que fortalecia a comunidade local na sua convicção em servir a Cristo. Houve também mártires da fé, como é o caso de Joaquim Davi, que se converteu em Rio Novo, mas morava em Itabapoana, onde foi o único cristão por anos. Certo dia o obrigaram a negar a fé e a não proferi-la mais, ou seria espancado até a morte. Por afirmar seguir a Cristo, apanhou até a morte. No distrito chamado Venezuela também ocorreu o mesmo, quando os imigrantes italianos comandados por padres locais cercaram a comunidade de cristãos protestantes. A perseguição foi contida com a chegada de tropas, enviadas pelo governador após a discussão 79
que Loren teve com ele dizendo que levaria o caso ao Presidente da República10. Com o passar do tempo, uma preocupação surgiu com a comunidade de imigrantes que existia no estado. Havia um grande número de italianos e seus descendentes, na sua maioria proferindo a confissão católica, logicamente como deveria ser. Mas existiam os imigrantes pomeramos, que conservaram muito suas raízes, sendo que muitos não chegaram nem a aprender o português, mesmo vivendo o resto de suas vidas aqui. Esses imigrantes se estabeleceram no vale do rio Santa Joana, próximo da antiga estação do Itapina. Ali também havia uma comunidade de holandeses11 e eles eram mais abertos à confissão protestante. O trabalho nessa região do Vale do Rio Doce fazia parte do pioneirismo batista, iniciado por Francisco José da Silva, ainda em 1901, que teve contato com as colônias de imigrantes levando-os a mensagem de Jesus de Nazaré. Depois o Pr. Manoel Balbino Lannes coordenou o trabalho nessa região, mas a barreira cultural era um limitador que Reno percebia, buscando auxílio no Rio de Janeiro com o Pr. Ricardo Pitrowsk, que visitou esses crentes algumas vezes e se comprometeu em conseguir um pastor para a região que soubesse a língua. Boa parte dos missionários com esse perfil residiam no sul do Brasil e poucos pensavam deixar esse campo para morar no Espírito Santo. Foi com base nesse compromisso que o Pr. Ricardo convidou Carl Svensson para conhecer o estado, que aceitou o desafio trazendo sua família do sul 80
Missionário Svensson ainda na Suécia, identificando no globo o Brasil para onde partiria.
Navio Western World, que trouxe o missionário ao país.
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Batismos realizados pelo Pr. Carl Elof Svensson no rio Santa Joana.
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para o novo campo. Assim, em 28 de novembro de 1928 pôde ser inaugurada a Igreja Batista de Boa Vista de Santa Joana, empossando Svensson como pastor. Carl Elof Svensson foi importante para o crescimento dos batistas no norte do estado. Imigrante sueco, iniciou seu trabalho no sul do Brasil e depois dedicou o resto de sua vida ao Espírito Santo. As igrejas de Aracruz, Colatina, Itapina e tantas outras são frutos de seu incansável trabalho. O crescimento do trabalho nacional levou a um ajuste regional. A Convenção Batista Vitoriense abrangia o Espírito Santo e parte da região de Minas Gerais. Com a criação da Convenção Batista Mineira, as igrejas do território mineiro, que estavam na área de atuação da Missão Batista Vitoriense passaram para o território mineiro. Foi uma mudança que desagradou a alguns, mas fazia parte do crescimento e adequação natural do trabalho convencional, tanto em nível nacional quanto no estadual12. Com o tempo, Loren e Alice Reno prepararam um bom time que deu conta da expansão das igrejas. O trabalho nunca foi fácil, algumas prosperaram e outras não. Francisco José da Silva foi morar com o Senhor cedo, falecendo em 1911 aos 38 anos de idade e com a caderneta repleta de suas anotações conforme orientado13. Por seu trabalho em Baixo Guandu converteu Manoel Balbino Lannes, uma pessoa simples, mas que dedicou a maior parte do seu tempo em um vasto campo missionário que tinha um raio de 160 quilômetros e que necessitava de 6 meses 83
para visitá-lo, tendo o lombo do burro como único meio de transporte. O sul do estado contava com Fernando Drummond, vindo da famosa família mineira, estabelecendo em Rio Novo como comerciante. Foi um dos primeiros convertidos ali e com o tempo assumiu a liderança da igreja, sendo feito seu pastor pela comunidade. Por um período, Drummond tornou-se pastor de todas as igrejas que foram surgindo na região sul do Espírito Santo, quando ainda eram poucos os líderes capacitados14. Outro grande líder foi o Pr. Almir dos Santos Gonçalves, que Reno trouxe de Cachoeiro de Itapemirim e o preparou a longo prazo para substitui-lo quando chegasse o fim do seu trabalho no estado. E assim aconteceu. Almir foi um grande escritor e era um grande líder. Tornou-se como um secretário executivo – terminologia usada atualmente – da Convenção Batista Vitoriense e de Reno. Seu seminário foi a prática e os ensinos teológicos ministrados pelo casal, sendo ordenado ao ministério em 1921 e assumiu o pastoreio da Igreja Batista de Vitória em 1929. Se o casal Reno representou o período da edificação, da implantação da igreja, Almir representou o período de crescimento espiritual, que a Primeira Igreja Batista de Vitória denomina de “período de santificação15. Havia nesse grupo de líderes aqueles missionários, contratados pela convenção em tempo parcial, estratégia comum na época devido as contingências. Severino Lyra era uma dessas pessoas que aceitavam a dupla jornada16. Vendedor de Bíblias, usava desse pretexto para entrar nas casas das pessoas e evangelizar. A população da época não conhecia 84
Pr. Almir dos Santos Gonรงalves.
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a Bíblia, pois os padres impediam que isso ocorresse. José Landeiro foi uma dessas pessoas que experimentaram essa aversão, quando um padre disse a ele que a Bíblia era um livro para ser queimado. Espanhol, obediente, assim o fez, até que encontrou uma Bíblia que pertenceu a um padre e começou a lê-la. Pensou ele: “este livro não pode ser mau, pois pertenceu ao padre. Não vou contar a ninguém, mas vou lê-lo”. Pela leitura teve um outro entendimento do que é ser cristão. Ele era mestre-de-linha da Leopoldina Railway e um dia, lendo a Bíblia no trem, um padre o vendo disse: “olhem para aquele estúpido ali que não sabe fazer nada melhor do que ler aquele livro! Aquilo é um livro sagrado, deveria ser lido por quem tivesse educação e inteligência para entendê-lo. Aquele burro não tem o direito de tocar num livro como aquele!”17. Outros foram preparados por Reno no colégio Americano, cuidando dos alunos no internato, como foi com José Lopes, que vendeu seu cavalo e passou 6 anos estudando. Depois, Reno o enviou ao seminário e ele terminou seus estudos teológicos no Estados Unidos18. Esses são alguns de vários, mas fazem parte dos pioneiros. Reno dedicou literalmente sua vida ao Espírito Santo. Nenhum esforço foi em vão. As palavras de Myrtes Mathias em sua poesia cabem em seu papel de ceifeiro: “Por isso com amor, vou lançando na terra, o melhor de minha vida”. Reno deu o melhor de si e “a quem honra, honra”19. Ao chegar no Brasil preparou um campo onde havia espinho, pedras e terra dura. Mas só era um campo que precisava de cuidado, ele viu que o solo era fértil. 86
Ele experimentou os extremos, da perseguição ao respeito das autoridades locais. Eles não construíram somente o trabalho batista local, mas colaboraram com o nacional. Quando chegaram no Espírito Santo havia somente três igrejas organizadas. Em Vitória, findo seu primeiro ano, era 1 igreja, 5 congregações, 10 batismos, 135 membros e 1 ajudante. No seu relatório quando passou o comando da Igreja Batista de Vitória para Almir Santos, já eram 28 igrejas organizadas. Além disso passou a ter acesso e prestígio junto a liderança local, como o do governador Antônio Gomes Aguirre (mar./jun. 1891) e Florentino Avidos (1924-1928), dentre outros. Nem os constantes conselhos de parar para preservar sua saúde foram levados tão a sério. Por alguns momentos teve seu descanso, retornando aos Estados Unidos para tal fim. Mas é essa a vida da igreja: uns plantam, outros colhem, mas é Deus quem dá o crescimento20. Cristo nos vê como sua igreja aqui na terra, aquela constituída por Ele, a Videira Viva, após o pentecostes21. Ela é a sua extensão na terra, por onde trabalha transformando vidas e garantindo o cumprimento do propósito do homem, que é permanecer junto a Cristo e a Deus que o criou por toda a eternidade. Todos os que creem em Cristo com único Salvador fazem parte dessa igreja. Essa igreja local, formada quando dois ou três se reúnem em seu nome, tem o propósito de adorá-lo, de edificar e educar uns aos outros por meio da palavra escrita e de proclamá-lo aos que ainda não o conhecem, que é a sua 87
grande missão. Loren e Alice Reno lideraram o início de uma igreja local, formando-a dentro dos preceitos do Novo Testamento em relação a sua liderança, com os presbíteros e diáconos, garantindo a independência de cada grupo, mas constituindo uma hierarquia local auto-sustentável e autoperpetuada, incentivando as disciplinas ensinadas no Novo Testamento. Eles marcaram um período, tornando-se delimitadores da trajetória Batista no Espírito Santo. Loren descansou no Senhor aqui no Brasil em 4 de outubro de 1935. Alice Reno retornou aos EUA onde faleceu em 14 de janeiro de 1947. Cada momento não foi em vão e a respeito do casal podemos dizer que seu trabalho assim se expressa: “Semente na terra não é semente perdida, é vida escondida - um dia surgirá. Num tempo distante em que a gente não espera, será primavera, linda germinará. Por isso com amor vou lançando na terra o melhor dos meus dias, dos meus sonhos de agora. Com os olhos em Deus vejo flores e frutos enfeitando o mundo quando chegar sua hora. Talvez eu não veja ... aqui não esteja ... mas esta certeza em meu coração me faz entoar a canção do ceifeiro,
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quando ainda é semente escondida no chão. Pois no dia em que sentir da luz a atração, não haverá barreiras, pedras, espinhos... abrirá seu caminho, Será luz, Será pão”22.
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Enterro de Loren Reno.
Jornal O Obreiro de março de 1935, órgão informativo da Convenção Batista Vitoriense, que relata o falecimento de Loren Reno, num texto do Pr. Almir S. Gonçalves, onde cita II Samuel 3:30 – “Não sabeis que um príncipe e um grande homem caiu hoje em Israel?”.
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CAPÍTULO
5 ATRAVÉS DO TEMPO
Sei que vocês estão perguntando: “quanto tempo mais isso durará?”. Venho a vocês hoje para dizer que, sejam quais forem as dificuldades do momento, por mais frustrantes que sejam estas horas, não demorará muito, pois a verdade que foi jogada sobre a terra germinará novamente1. Martin Luther King, Pastor batista que lutou pelos direitos civis dos negros americanos.
Indo pregai. Esse tempo constante e imperativo que Cristo nos convocou para o chamado do seu reino constitui a grande missão de sua igreja. Por obediência, ela está por todo lugar do planeta, mas ainda no tempo de ir e pregar, até que Deus determine a volta de Cristo para buscá-la. Cumprir essa missão não é fácil. A recompensa pode ocorrer somente no céu, como os heróis da fé do livro aos Hebreus, pessoas que não viram em vida o resultado de seus trabalhos. No tempo final de Loren e Alice havia muito por ser feito. Eles ficaram no campo até o momento em que Deus os chamou para o seu aprisco. Alice voltou para os EUA, mas o corpo de Loren ficou na terra que ele cultivou. Quando Cristo disse para ir ao campo e permanecer Nele, uma de suas orientações foi para que o fruto permanecesse. O início do século XX foi complexo para a humanidade. Um historiador britânico, Eric Hobsbawn, diz que foi uma “era de extremos” e que o século foi curto. O evento que abriu o período foi a Primeira Guerra Mundial e seu fechamento ocorreu com a queda do muro de Berlim. Esses eventos, de alguma forma, também influenciaram a dinâmica de trabalhos no Espírito Santo. O Espírito Santo era visto como um território promissor, pois o minério de ferro já estava na pauta econômica desde 1911. Por esta razão, o estado seria compelido à entrada na fase industrial, pois ele viabilizaria a siderurgia. A industrialização naquela época era equivalente aos progressos prometidos pelo uso da tecnologia da informação. A ferrovia era 92
o ícone para o progresso assim como o computador é para os dias atuais. E naquele período, o estado já contava com duas ferrovias. A Estrada de Ferro Vitória a Minas interrompeu estes planos, pois não foi possível importar peças para continuidade dos planos de se chegar às minas em Itabira, como também ocorreu uma diminuição do capital circulante no mundo. Juntando a essas questões econômicas, existiam os problemas políticos de uma elite que não tinha interesse que o Brasil caminhasse para uma matriz industrial, defendida por Afonso Pena e Arthur Bernardes, dois grandes políticos mineiros defensores de um país com base econômica agrícola. Isso criou um grande conflito entre Minas Gerais e Espírito Santo. Surgia nesse período um pensamento nacionalista forte, quando a elite agrícola formava um pensamento contra investimentos estrangeiros no Brasil. Ao vermos os números de igrejas que foram abertas no período de 1911 a 1920, observa-se o baixo número, somente 4, contra 9 do período de 1904 a 1910. Na década de 20 foram 21 igrejas abertas, mas a crise de 1929 causou grandes dificuldades para Richmond, que ficou endividada e não pôde financiar os campos missionários por algum tempo, mas o reflexo apareceu na década de 30, com 13 igrejas organizadas. Essas três décadas são muito semelhantes entre si, pois não houve muitas transformações no Espírito Santo. A política era liderada pelos cafeicultores do sul do Estado, tendo a família Monteiro como a mais expressiva. 93
As políticas de modernização da capital avançavam com as obras realizadas no governo de Jerônimo Monteiro (1908-1912), que inclusive fará o primeiro projeto de se criar uma política industrial no estado, que em função da época não deu certo. O café era o motor da economia, representando 60% da receita total do estado. Um esforço para a construção de estradas no governo de Bernardino Monteiro foi a tônica de seu mandato, viabilizando o escoamento da produção de grãos² . Os bons preços do café no mercado internacional viabilizaram o governo de Florentino Avidos (1924-1928), que foi o responsável pela construção da Ponte Florentino Avidos (Cinco Pontes), a primeira ligação da ilha com o continente; e da construção do Porto de Vitória, com os galpões que até os dias atuais estão em utilização. Em 1930, com a Revolução de 30, todo cenário mudou, com a entrada de um interventor político João Punaro Bley (1930-1943), que governou o estado por 13 anos. No interior, os batistas ganharam o reforço da vinda do Pastor Carl Elof Svensson, no ano de 1928³. Sueco, chegou ao Brasil em 1 de junho de 19144 e iniciou seu trabalho no Rio Grande do Sul, onde já residiam vários europeus. Vindo para o Espírito Santo, dedicou-se ao campo missionário da região norte, pastoreando e apoiando diversas igrejas locais. Nessa época, a Convenção Batista Vitoriense abrangia uma parte do estado de Minas Gerais, a cargo da Associação Norte Vitoriense, da qual foi presidente por vários anos. As matas virgens e as poucas estradas oficiais, 94
Pr. Svensson e famĂlia.
Pr. Carl Elof Svensson realizando batismos no rio Doce.
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Construção da ponte Florentino Avidos, a Cinco Pontes, primeira ligação entre a ilha de Vitória e Vila Velha. 1928.
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faziam com que o lombo de animais fosse o meio de transporte mais utilizado. Os problemas de perseguição e hostilização já haviam diminuído em Vitória, mas pelo interior do estado muitos católicos ainda eram aguerridos nesse quesito, impelidos pela liderança da igreja. Eram difundidas mentiras, como também ocorreu com Reno, que eles eram filhos do diabo e mutantes, sendo seus pés cascos fendidos ou como patas de pato, em função dos batismos. A curiosidade interiorana levava muitas pessoas às cerimônias de batismos, pois todos queriam conferir, uma vez que ocorriam às margens dos rios. Muitas pessoas se convertiam ao ver que a igreja católica mentia5. Em uma reunião da Convenção Batista Brasileira em Vitória foi feita o primeiro movimento em nível nacional para arregimentar a juventude da época, na “Assembleia da Mocidade Batista Brasileira”, em 1933. Sem Loren Reno, que faleceu em 1935, os Batistas capixabas dão prosseguimento ao trabalho de expansão pelo estado. A década de 1940 são 13 novas igrejas inauguradas. O Espírito Santo começa a crescer, recebendo uma melhor infraestrutura, nos governos de Carlos Lindenberg (1947-1951 e 1959-1962) e Jones dos Santos Neves (1943-1945 e 19511955). Nessa época o café entra em decadência, nunca mais recuperando seus altos preços. Lindenberg, em seu segundo governo, inicia o pensamento de criar uma estrutura baseada na industrialização, pensamento que fora posto em prática no governo de Christiano Dias Lopes Filho (1967-1971). 97
O rompimento da Segunda Guerra Mundial (19391945) teve reflexos no Brasil. Ocorreram restrições de produtos, principalmente de fontes de energia, como o querosene, que era importado. No interior grande parte não tinham energia elétrica. Mas a guerra passou perto, pois duas pessoas da igreja do Pr. Svensson foram convocados para o campo de batalha. Uma retornou e outra teve sua vida ceifada no capo de batalha6. A convenção batista local experimentou sua primeira grande dificuldade. Uma crise iniciada no Colégio Americano Batista levou a polarização de opiniões, resultando em uma divisão da convenção em duas: Convenção Batista Capixaba e Convenção Batista Espirito-Santense, ambas ligas à Convenção Batista Brasileira. Mesmo com essa dificuldade pontual, na década de 1950, 38 novas igrejas foram abertas. Com o fortalecimento da mocidade batista, ocorreu no Rio de Janeiro, em 1953, a IV Conferência Mundial da Mocidade Batista que atraiu a atenção do mundo para o país. Também, na mesma década, na assembleia da Convenção Batista Brasileira realizada em Recife, criou-se um dos primeiros esforços de cooperação nacional para a evangelização do país. Um evento chave desse movimento foi o encontro dos Batistas brasileiros que lotou o Maracanãzinho. No Brasil ganhava força o movimento pentecostal7, alcançando seu primeiro auge na década de 1950, vindo também de influência americana, principalmente em São 98
Paulo. Grandes igrejas com ministérios pessoais, com foco em cura, alcançaram as rádios e começaram a se proliferar. Tais doutrinas pentecostais, tendo foco no segundo batismo do Espírito Santo, no uso dos dons e línguas, começaram a disseminar no meio das igrejas históricas e não foi diferente no caso batista. O trabalho batista se desenvolveu bem pelo interior do estado do Espirito Santo, mas a década de 1960 representou uma mudança social. O Café começou a perder valor no mercado devido a grande produção durante toda a década de 50. Numa tentativa de recompor os preços, iniciou-se uma política de erradicação dos cafezais realizada duas vezes na década (1961-1963 e 1967-1969), sendo que o Espírito Santo foi o mais afetado dentre todos os estados brasileiros, representando uma perda de 80% do total de lavouras existentes. Isso ocasionou um êxodo rural, provocando um inchaço populacional na Grande Vitória. Igrejas chegaram a fechar pela grande quantidade de pessoas que mudaram de endereço. Em contrapartida, ocorreu a abertura de novas igrejas na Grande Vitória. O próprio Pr. Svensson mudou-se para o município de Serra iniciando uma nova igreja. A maioria dos trabalhos abertos foram na Grande Vitória, sendo 33 novas igrejas na década. Outra grande conquista da década de 1960 foi a reunificação das convenções batistas, que ocorreu sob os esforços do Pr. Orivaldo Pimentel Lopes8, sendo presidente por dois mandatos, estando nessa configuração até os dias atuais. 99
Reunião da União Feminina Missionária na Convenção Batista Espírito-santense.
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Pr. Orivaldo Pimentel Lopes.
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A partir desse momento a convenção ficou denominada como Convenção Batista do Estado do Espírito Santo. Foi nesse período que ocorreu o Golpe Militar de 1964, cujos governos focaram-se na recuperação econômica do Espírito Santo, proporcionando a implantação de projetos de industrialização, que viabilizou a instalação de grandes empresas voltadas para o mercado externo9. A recuperação econômica veio na década de 1970, quando estas empresas foram construídas. Mas a recuperação do estado continuou refletindo no êxodo rural, mantendo a tendência de crescimento na Grande Vitória com a abertura de 30 novas igrejas. É nessa década que surge o movimento da Teologia da Libertação, chamando a atenção para a ação da igreja além de suas fronteiras eclesiológicas, mas despertando-a para atentar às necessidades sociais dos brasileiros. A década de 1980 tornou-se economicamente muito difícil. A América Latina era vista com desconfiança pelo mercado internacional de capital; surgia a política de estado mínimo - conhecida por neoliberalismo. O Brasil quebra em 1987 e uma sucessão de planos econômicos solaparam a economia local com uma hiperinflação. As indústrias dos grandes projetos entram em operação, melhorando a economia local e atraindo muitas pessoas de outros estados para o Espírito Santo. Políticas internas econômicas implantadas por meio do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (BANDES) incentivaram a economia para pequenas e médias empresas nos setores da agricultura, 102
Pr. Addison Caio de Magalhรฃes Cintra, Secretรกrio Geral da CBEES por 22 anos.
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indústria e comércio. Internacionalmente chega o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, com a queda do muro de Berlim, fechando um ciclo nos esforços norte americanos de enviar missionários para o Brasil. Um dos último esforços norte americanos no Espírito Santo foi o intercâmbio com os batistas do Kentuchy para construção de igrejas. Vários americanos, voluntários, vieram para construir locais de reunião para as igrejas. Na década de 80 ocorreu o maior crescimento até então, com a abertura de 88 novas igrejas. Até essa década, os esforços norte americanos de evangelização estavam centrados na América Latina como um todo. Com a queda do muro de Berlim, dirigiram-se para o que passaram a denominar de “Janela 10/40”, que é a região do Leste europeu, nessa época fechada para o cristianismo devido a proibição governamental. Fechando a década, em 1989 o Brasil elegeu Fernando Collor (1989-1992), seu primeiro presidente eleito diretamente após o governo militar. Os anos 90 são marcados pela estabilização econômica e política, após a deposição de Collor (1992). Com a chegada do Plano Real implementado nos governos de Itamar Franco (1992-1994) e Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) foi possível estabelecer planejamento de longo prazo, até então impossível devido a loucura inflacionária. Grandes estatais são privatizadas, como a CST e Vale, que cresceram de forma exponencial geridas pelo setor privado. As igrejas puderam melhorar suas estruturas físicas, graças à melhora da renda dos brasileiros, como 104
também a possibilidade de acesso a produtos e serviços até então indisponíveis no Brasil. Assim, esse bom momento refletiu na abertura de nada menos de 136 novas igrejas no Espírito Santo. A primeira década do século XXI continuou no mesmo ritmo, com novas frentes missionárias e se apresentando com novos desafios, 130 novas igrejas foram abertas, mas vê-se um crescimento grande das igrejas neopentecostais, como também uma geração cada vez mais desligada de um espiritualidade formal e institucionalizada. Uma crise moral e ética passa pelo Brasil que continua a crescer. A chamada geração pós-moderna é cada vez mais relativista, gerando na igreja uma necessidade de repensar seus rumos. Como diz Lucas Gonçalves em sua música: “pessoas passam, pessoas vão e vem a procura de vida, a procura de prazeres. Pessoas tão normais, que não sabem o verdadeiro modo de viver em paz, viver em amor”10.
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CAPÍTULO
6
SER HUMANO. INDÍVIDUO. VARÃO
Imaginem que exista um homem verdadeiramente bom, correto e honesto1. Profeta Ezequiel
Considerando o comportamento judaico-cristão, que colabora na formatação da sociedade ocidental, o papel do homem ganha destaque, aumentando sua importância. As sociedades do oriente médio do século XXI ainda se organizam dessa forma e em algumas regiões até agora de maneira tribal, como nas histórias bíblicas. Logo, não é uma abordagem de um passado longínquo. Assim, percebe-se o grande valor que a figura masculina exerce na cultura ocidental. Uma das primeiras formulações teológica sobre o que é ser homem (ser humano), feitas por Santo Agostinho, ajudou a criar esse conceito de homem cristão. Ele diz que a nossa busca por Deus nos leva ao verdadeiro conhecimento, assim o homem passa a compreendê-lo, logo o homem controla o seu ímpeto. “O comprometimento de Santo Agostinho para com as doutrinas cristãs resultou em uma consolidação do cristianismo, tendo em vista uma proposta de reorganização da vida social e de formação, no qual se fundamentava os conteúdos indispensáveis para a formação de um homem que deveria ser santificado”2. Os batistas sempre se preocuparam com a formação das pessoas e por isso desenvolveram trabalhos específicos. Desde o início dos trabalhos no Brasil, sempre houve o cuidado com os atendimentos específicos por gênero, que se subdivide por faixa etária. Esse modelo é inspirado no norte americano, como reflexo de um período, porém esse tipo de abordagem é necessária em qualquer tempo. À medida que o trabalho batista expandiu pelo Brasil, as igrejas locais começaram a desenvolver tais atividades, com foco 107
na organização e na formação espiritual e moral de seus integrantes. A institucionalização do trabalho específico com homens na Convenção Batista Brasileira só aconteceu em 1978, quando se deu a formação da União Masculina Missionária Batista do Brasil, que desde 1998 passou a se denominar União de Homens Batistas do Brasil. Um dos primeiros registros desse trabalho data de 4 de junho de 1916, na Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro3. No Espírito Santo a formalização institucional dos homens como organização ocorreu com uma solicitação em 24 de julho de 1984 em uma das assembleias convencionais do estado, tendo sua formalização em 23 de maio de 19874. Os trabalhos da União Masculina Missionária Batista do Brasil se subdividem em três categorias: trabalho com juniores e adolescentes, denominados de Embaixadores do Rei5, de 8 a17 anos; trabalhos com jovens solteiros de 18 a 34, denominado de Grupo de Ação Missionária (GAM), e o trabalho com homens adultos, a partir dos 35 anos, casados ou solteiros, denominado de Sociedade Masculina Missionária6. Afinal, quem é o homem batista?7 O primeiro norte para essa resposta vem do seu compromisso: “Prometo esforçar-me por uma vida digna de um Homem Batista; guardar meus lábios da mentira, da impureza e de tomar o nome de meu Deus em vão. Conservar meu corpo limpo e pronto para o serviço. Dar tudo que puder para o sustento de 108
missões, e pelo meu trabalho ajudar a estabelecer o Reino de Deus na terra. Se assim não for, para que nasci?8”. Aqui estão os indícios desse perfil, que aborda uma vida moral, quanto à sua integridade. A palavra íntegra possui relevância e peso, é o homem do tempo que não precisa de papel assinado porque a sua “palavra vale”. É um homem preocupado com a sua integridade física, não vendido ao narcisismo dos dias atuais, mas que cuida da sua saúde para o cumprimento de suas diversas responsabilidades. É um homem que preocupa com a sua integridade sexual, tanto na vida de solteiro quanto na de casado. É envolvido com a missão do Reino de Deus, que é a proclamação do Cristo de Nazaré, o único vivo dentre os mortos. A segunda metade do século XX trouxe uma revolução no comportamento da sociedade e um deles é a flexibilização do papel do homem. Fala-se muito do homem companheiro, solícito à mulher e a família, que é uma correção à cultura machista. Talvez a sociedade esteja procurando inconscientemente atributos cristãos para esse papel. Ser um homem cristão batista está fundamentado em uma vida espiritual individual sólida, da qual ele tem discernimento e iluminação para entender o que Deus espera de sua vida na terra, baseado nos princípios bíblicos, referência pela qual estabelecerá seus princípios e valores. Assim, ele cumpre um papel para com os demais: com a família, ele é a referência e sustentáculo, direcionando seu lar; desenvolvendo um relacionamento sadio e amoroso com a esposa, baseado na lealdade, cumplicidade e fidelidade; é um pai 109
que se relaciona com seus filhos, sendo sua referência para o crescimento, orientando-o na vida para que também seja um adulto exemplar, sendo disciplinador e amável; é uma pessoa que serve ao próximo, não se oculta diante das necessidades dos outros como também das sociais, sendo uma pessoa de referência no que faz por meio da sua profissão, pois sua conduta espelha essa integridade; serve também a sua comunidade cristã, a igreja onde congrega e retroalimenta seus valores e princípios em Cristo, além de ser comprometido com a expansão da sua fé em Jesus. Desse homem se pode esperar por algo. Ele é capaz de responder uma das perguntas mais difíceis que alguém pode ouvir: “o que dirão sobre você no dia em que partir para a eternidade?”. Não é uma pergunta que desestabiliza, porque viveu com propósitos. É um homem que deixa legado, pois, durante toda a sua vida conviveu com a seguinte pergunta: “se não for assim, para que nasci?”.
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Congresso da União de Homens Batistas do Estado do Espírito Santo.
União de Homens em ação.
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CAPÍTULO
7
E TE FAREI UMA COMPANHEIRA
“Gostaria de prestar minhas homenagens às bravas mulheres daqueles primeiros dias. Elas eram ansiosas por ouvir e aprender”1. Alice Reno. 1930.
A visão sobre a mulher e seu papel veio mudando ao longo dos séculos e é diferente de sociedade para sociedade. O cristianismo também tem sua visão sobre a mulher, infelizmente muito distorcida pela percepção do senso-comum, quando aborda questões como submissão, o papel de mãe, esposa, mercado de trabalho, dentre outras. Eva e Maria2. Esses são os extremos que a visão ocidental se baseia para criar seu conceito sobre a mulher, fundamentado na cultura judaico-cristã. Eva representa a visão da queda. Sua opção pela desobediência ao aceitar a oferta da serpente e comer do fruto proibido deu margens para as consequências sobre a humanidade: ao homem, precisaria trabalhar arduamente – em tempo, sempre existiu o trabalho antes desse fato – e a mulher passaria a sofrer com grandes dores no momento do parto e seria subjugada pelo homem. Essa questão dá argumentos longos e muitas teses existem em nossas academias analisando tal questão. Maria. Essa é a representação do virtuoso, a restituição que do que se perdeu. Sendo a mãe terrena de Cristo, a condição feminina também foi redimida de sua falha no pecado da criação. Maria, mulher virtuosa, foi a escolhida para dar à luz ao Salvador da humanidade. Quando o cristianismo retrata a relação do homem e da mulher ele se foca no fator da unidade. Apesar de muitos quererem abordar se a mulher é igual ou não ao homem, é importante lembrar que Deus a criou para estar ao lado. Nem acima. Nem abaixo3. Além do mais, os criou para serem uma unidade. O casal forma uma unidade de 113
pensamento, propósito e ação. São duas pessoas, com personalidades próprias, mas que juntas trabalham pelo bem comum da manutenção dessa aliança - do ser unidade - e a partir disso todas as coisas provêm. Na nossa condição humana é normal que tracemos planos para o nosso futuro e, para a maioria, casar-se faz parte dele. Tanto o homem quanto a mulher idealizam seu parceiro, com quem compartilhará o resto de suas vidas. Tal idealização parte dos desejos íntimos, mesmo ainda quando não temos o parceiro ou parceira de nossas vidas. Por um momento, é um planejamento centrado em nós mesmos. Quando a outra metade é encontrada e forma-se a aliança conjugal, vem o momento da adequação dos sonhos e planos de cada um, que agora são postos à mesa para formar o plano do casal, o plano da unidade, servindo-a de propósito. Ao compreender que o cristianismo é um estilo de vida, faz-se necessário entender que há uma proposta de como viver, consequentemente, há uma proposta para o papel do homem e da mulher. Cabe querer ou não aceitar tal proposta de vida. No casamento, a unidade do casal não é uma anulação da individualidade, muito pelo contrário, ocorre uma afirmação constante dela, expressa no papel de cada um. Quando Deus criou o homem e a mulher, ele representou neles a sua unidade divina. Na criação, ao fazer o ser humano – Adão -, viu Deus que não era bom que ele vivesse só. Foi a única coisa da criação que Deus aperfeiçoou. Assim, 114
do ser humano, criou “Ham”, o homem, e “ishshah”, a mulher, porque do homem – “Ish” - foi retirada. No propósito da criação, passaram a existir para viverem sempre juntos. Quando Loren e Alice se encontraram, uma das questões que colocaram para Deus era seus planos pessoais quanto a quem seria o cônjuge. Se cada um, ainda solteiro, entendiam a orientação divina para dedicarem suas vidas na missão do reino de Cristo, quem seria a outra parte que Deus separou unindo os sonhos? Loren sabia que Alice se capacitava para trabalhar no próprio Estados Unidos, mas, quem conhece o íntimo dos corações pode dar outro direcionamento, e Alice também resolve dedicar-se a ser missionária em outro país. Vimos o mesmo com o casal Bagby. Eles entendiam que sua outra metade deveria vir com o propósito de trabalhar em missões transnacionais, pois seria o entendimento que Deus os usaria em outro país. Não é necessário ser missionário para que Deus oriente. Basta desejar qualquer profissão e pedir sempre a Deus que traga a pessoa que ele sonhou como metade. Assim, os sonhos e planos já estarão convergindo, pois estão unidos na sua base, que é ser direcionado por Deus. Aqui queremos mostrar um pouco dessas mulheres que dedicaram suas vidas ao serviço de reino de Cristo no Espírito Santo, que deixaram marcas importantes no crescimento denominacional, essas “bravas mulheres daqueles primeiros dias”. A condição de ser mulher no início do século no Brasil 115
não era fácil. A cultura de subjugar as pessoas vinda da escravidão era forte. Além do mais, existia o papel do machismo, forte traço cultural impetrado ao papel dos homens que buscavam suas “Amélias”, como anos mais tarde escreveu Ataulfo Alves e Mário Lago, “Amélia, aquilo que era mulher de verdade”, uma representação da mulher brasileira subserviente, sem crítica, sem ação, muito comum no dia a dia dos brasileiros por longos anos, mas que não faz parte do padrão e nem do papel cristão para o que vem a ser uma mulher de verdade. Era muito comum no início do século o casal formar famílias sem o registro civil4, por restrições sociais, como também era sabido da existência de muitos filhos bastardos dos senhores com suas ex-escravas. O número de filhos por família ainda era alto. A maior parte dessas mulheres eram analfabetas. Foram essas mulheres que Alice Reno encontrou na cidade de Vitória do início do século: “senti que tinha que fazer alguma coisa”, disse Alice. Alice percebia que por meio da estrutura batista poderia oferecer a elas algo que as ajudasse no seu dia a dia. Estas necessidades se apresentaram como uma oportunidade para evangelizá-las. Isso passava pela questão de se perceberem como mulher, mas também o que poderiam fazer por seus lares e filhos. Como até hoje – e isso é um reflexo da condição feminina – são as mulheres que representam um sustentáculo das famílias em sociedades com condições marginais e de pobreza. As esposas dos pastores e as próprias missionárias – como até aquelas que por opção abriram mão do casamento para 116
o serviço de Cristo5 – são fundamentais na construção do legado Batista no Espírito Santo. São muitas, mas o papel pioneiro de Alice Reno, esposa de Loren, mostra que o velho ditado da mulher de várias jornadas não é privilégio da revolução feminista e nem do fim do século XX. Ela dizia que “uma das coisas com as quais as esposas de missionários precisam acostumar-se é ficarem sozinhas”6. Na visão daquelas mulheres isso não era uma queixa, mas o entendimento de que esse era também o seu papel, permitindo que o trabalho missionário pudesse ocorrer, enquanto cuidava do lar e dos filhos, para que o marido pudesse cumprir os afazeres do chamado. Mas se há uma coisa que Alice pouco fez, foi ficar sozinha, pelo tanto que viajou pelo interior do estado auxiliando na construção da denominação Batista no Estado. O trabalho com as mulheres na estrutura convencional batista para a igreja local é chamado de Sociedade Feminina Missionária, nome adotado até os dias atuais. Ela congrega todas as mulheres em todas as suas faixas etárias. Para melhor fluidez dos trabalhos e para falar a cada tipo de necessidade, as mulheres são separadas em grupos etários. Também contempla o trabalho com as crianças, mas sem distinção de gênero. É claro que no início não era tão formalizado assim. A ideia desse começo partiu da própria Alice, sugerindo ao seu esposo, Loren, que era necessário tal atitude. Aqui no Brasil e na nova igreja, repetia-se um comportamento de segregação das mulheres e homens. A eles cabia todo o 117
Ao centro: Alice Reno, Dr. Alberto Stange JĂşnior e Miss Edith West.
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cuidado e trabalho da dinâmica da igreja, como também tinham o privilégio de sentarem-se nos primeiros bancos. A visão era a seguinte: sentam todos os homens e nos lugares que sobravam podiam sentar as mulheres. Alice era uma inconformista desse modelo e desse pensamento. Reno disse que o trabalho dela seria árduo em mudar a mentalidade daqueles homens, considerando que a cultura masculina brasileira também perpetuava esse comportamento. Mas ela acreditava no poder da palavra e do pensamento, e dizia: “‘a pena é mais poderosa que a espada’. Então eu usei a pena”. Foi em busca de diversos artigos que mostravam o que acontecia no mundo em relação ao papel da mulher, como também apresentou o pensamento cristão sobre o que é a mulher e como os homens devem se portar a isso. Ela fez isso em uma das reuniões da convenção, aquela onde a liderança de todo o estado se reúne, anualmente, para um processo de atualização e compartilhamento do que ocorre nos diversos locais. “Bem, o resultado foi que, no último dia da convenção, houve um movimento para colocar tudo o que a Sra. Reno tinha dito impresso num artigo, e espalhar por todo o estado. E, daquele dia em diante, cada pastor e membros passaram a fazer o melhor que podem para o trabalho de nossas mulheres”7. Copiando o modelo norte americano, uma referência daquele período, o encontro era para ser uma espécie de “chá das cinco”, onde as senhoras conversariam sobre a vida, costurariam e bordariam, sempre com o foco na doação. Alice ficou mais centrada nas questões espirituais, 119
promovendo conhecimento bíblico e dedicação à oração. O resultado disso foi que o grupo crescia e naturalmente passaram a se dedicar às outras e ao serviço da igreja de forma voluntária. Alice as ajudava a tornarem-se mulheres pensantes através do estudo da Bíblia e Loren relatou que “isso desenvolveu uma irmandade mais inteligente e consagrada”8. Em uma de suas viagens pelo interior capacitando a liderança, enquanto Loren falava, Alice ficou ali observando as crianças que acompanhavam seus pais. A figura era a expressão popular “bicho do mato”, dado ao alto grau de timidez delas. Eram crianças selvagens. Quando as chamou para se reunirem e ouvirem histórias, todas fugiram dela, tímidas, agarrando-se aos seus pais ou correndo pelo quintal. Foi assim por três dias até que uma mãe lhe deu um diagnóstico preocupante: “nossos filhos são bobos! Eles não sabem nada! Eles são uma desonra! O que nós vamos fazer com eles?”. Apesar de Alice não relatar seus sentimentos após ouvir isso, pode-se pensar que isso falou-lhe à alma. Sua resposta foi: “eu perguntei a eles sobre o que eles haviam feito por suas crianças. Escola diária? ‘Não’. Escola Dominical?9 ‘Não’. Aulas em casa? ‘Não’. Então eu perguntei a eles: ‘o que vocês esperam sem treinamento algum?’”. Ela procurou um simples professor para ensinar a essas crianças. No início do século XX as condições formais de estudos eram lastimáveis e bem piores para quem morava no interior do estado. Esse professor tinha apenas um livro e para complementar o processo de alfabetização, 120
utilizou as lições bíblicas que Alice escrevia. Nove meses depois, ao retornar a localidade, encontrou crianças dóceis e no rumo natural de seu crescimento intelectual, mesmo com as restrições da época. “Mas não importava o que elas estudaram ou não estudaram. O fato é que elas haviam mudado para a posição correta do homem, ‘a imagem de Deus’. Certamente, ‘Sua palavra ilumina’”10. Nesse ponto ela demonstrava a sua preocupação com os pais quanto ao plano futuro que tinham para seus filhos. Ela proporcionou a eles uma experiência para modificar essa realidade. Outras mulheres desses primeiros dias foram as enfermeiras que vieram para o Espírito Santo cuidar de pessoas necessitadas. Praticamente não existia um sistema de saúde público eficiente e as necessidades eram muitas. Vitória começara seus investimentos em saneamento público, tendo resolvido um grande problema, que foi o mangue onde hoje está o Parque Moscoso. Por ideia de Germano Gerhardt a Loren Reno, ele sugeriu a vinda de missionárias formadas em enfermagem para atuar como uma estratégia de evangelismo. Mesmo as perseguições tendo diminuído e em alguns lugares cessado, permanecia a cultura de evitar aquelas pessoas que professam a fé cristã por meio do protestantismo. Mas, as necessidades das pessoas constituiram-se em oportunidade para se entrar nos lares, dar o apoio necessário e levar a mensagem de Cristo. Nessa época, em Vitória já existia a Santa Casa de Misericórdia. Diante da dificuldade da Junta Batista em Richmond enviar pessoas, Loren começou a capacitar cinco moças 121
aqui no Brasil. Em um dos relatórios bimestrais de duas delas, visitaram 2209 lares. “Isso nos deu uma maravilhosa influência e conseguimos uma incalculável boa vontade. Elas eram recebidas com bondade e cordialidade por todos. Os médicos da cidade e a Secretaria de Saúde, cooperavam conosco plenamente e da maneira mais sincera possível. Durante anos, nós tivemos as únicas enfermeiras da cidade, e todos os médicos estavam livres para requisitar seus serviços quando precisassem, sem custo, com a condição de que eles também não cobrassem daqueles que fossem enviados por ela”11. Uma dessas enfermeiras era Inah Britto, uma jovem que ficou sob os cuidados do casal Reno após a morte dos pais. Outra era sua própria filha Carrie, que se capacitou no Hospital Geral da Filadélfia. Na semana que Loren veio para o Brasil, ele batizou duas meninas. Deu a elas orientações sobre a fase da adolescência e indicou que se preocupassem com a vida espiritual e missões. Uma delas foi Edith West, que chegou ao Brasil em 1921. Ela desempenhou um grande papel no Colégio Americano Batista como professora, diretora do Jardim de Infância e outros serviços administrativos. Viajou por todo o interior capacitando líderes da igreja, desenvolvendo o trabalho com mulheres e treinando várias outras para o trabalho de missões. Foram mulheres que no início do século atuaram na sociedade expressando um cristianismo transformador, que servia a sociedade nas suas necessidades e carências. 122
*** Quem é a mulher batista? O trabalho com as mulheres passou a fazer parte oficialmente da estrutura da Convenção Batista do Espírito Santo em 1914. No entanto, suas atividades são anteriores a tal formalização. Isso se dá como reflexo do processo de crescimento e consolidação da estrutura Batista em nível de Brasil, quando em 1908, um ano após sua formação, é formalizada a União Missionária das Senhoras Batistas do Brasil, que reunia todas as sociedades existentes nos estados com trabalho Batista, “com 20 sociedades de senhoras e 5 de crianças”12. Um dos primeiros trabalhos formais, que se tem conhecimento surgiu em Niterói, pelos esforços da Sra. Emma Morton Ginsburg (esposa de Salomão Ginsburg), em 189313. É interessante observar que no trabalho convencional de nível nacional, as mulheres se organizaram rapidamente, um ano após a criação da Convenção Batista Brasileira. Elas estabeleceram um modelo estrutural e logo puderam se estabelecer enquanto trabalho com finalidade14. Esse trabalho segmentado permite falar com um público específico – as mulheres – em suas diversas fases da vida, atendendo às necessidades pertinentes a elas. Considerando o papel da mulher, toma sob seus cuidados o trabalho com crianças nas igrejas, fazendo os primeiros ensinos de sua educação religiosa. O que é ser uma mulher batista? Ela está de acordo com
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Escola Bíblica de Férias em Itapina, onde vemos Miss West (a esquerda) e o Pr. Carl Svensson (a direita).
Escola Bíblica Dominical. 1950.
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(M) Alunos do ColÊgio Americano, onde vemos a direita (M) a missionåria Margarida Gonçalves ainda estudante. 1939.
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os princípios bíblicos, como vemos o que o apóstolo Paulo descreve: “Desse modo não existe diferença entre judeus e não judeus, entre escravos e pessoas livres, entre homens e mulheres: todos vocês são um só por estarem unidos com Cristo Jesus. Todos vocês são um só… com Cristo”15. Aqui ele mostra a igualdade de todos no trabalho da igreja, onde cada um coopera para a edificação de todos, sem distinção. Essa sociedade está focada em atuar com esse grupo específico, está focada em missões, em saber como as mulheres podem contribuir para tal finalidade. Atualmente, o foco do trabalho com mulher cristã batista é: Espiritual (vida cristã, missões e evangelismo); Pessoal (vida emocional, física e promocional); Social (ação social e lazer). Além disso há um trabalho específico com bebês e família16. Fica bem claro que os desafios para o século XXI são adequados dentro da necessidades do tempo. A primeira ênfase mostra o perfil da mulher cristã, ainda muito alinhado com o início do trabalho batista, que é a sua ênfase em missões, seja no país ou em outro. No entanto, isso só pode acontecer como consequência de uma vida pessoal cristã consciente. A segunda ênfase mostra o perfil da mulher cristã batista. Ela possui uma preocupação sadia consigo mesma, enquanto mulher, que precisa ser valorizada. Sua vida emocional e física são relevantes para o cumprimento do seu papel de mulher, considerando os dias atuais onde sua saúde feminina e aparência são questões sociais. Também sua projeção, dado ao papel atuante da mulher na sociedade contemporânea. Quanto à terceira ênfase, essa 126
mulher cristã batista é envolvida com a sociedade - princípio que vem desde a formação da União Feminina -, como também com o lazer. O cuidado com a família, principalmente dos filhos, é um papel requerido dessa mulher cristã e a ela é dada o seu papel de mãe e esposa. A União Feminina Missionária Batista do Brasil é uma instituição com vida própria cooperando com o trabalho batista brasileiro. Assim, ela possui outras organizações, como a Mulher Cristã em Ação, que atende as mulheres casadas acima de 35 anos, Jovens Cristãs em Ação, que atende mulheres de 16 a 34 anos; Mensageiras do Rei, para adolescentes de 9 a 1617, e Amigos de Missões18, que é o trabalho com a educação infantil nas igrejas, com crianças de 4 a 8 anos. No Espírito Santo ocorreu esta mesma dinâmica de atualização do trabalho ao longo do tempo. E não foi diferente, muitas mulheres dedicaram anos de seus serviços como Dolores Gonçalves, Hilda Bean Cowsert, Wasty Wandermuren Nogueira, Luiza Walnete Santos Cintra, Silvia Pinheiro D’Ávila, dentre várias outras, além das duas do tempo dos pioneiros: Alice Reno e Edith West. Ao longo dos anos vê-se uma mulher valorizada, mas que entende seu papel de mulher cristã. Mulheres com base moral desenvolvida, espiritualmente sadias, socialmente ativas, conscientes do seu papel de mulher e mãe.
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Encontro de mulheres da União Feminina Missionária Batista do Espírito Santo.
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CAPÍTULO
8
SOMOS JOVENS
A tradição dos modelos fazia sentido quando o futuro dos netos era o passado dos avós. Hoje, nem o futuro dos filhos é o passado dos pais1. Dina Krauskopf
“Ser jovem é uma questão de cabeça”. Isso é o que muitos dizem por aí! Quantas pessoas estão fora dessa faixa etária e parecem mais jovens que muitos. A juventude é um estado de espírito que pode ser conservado e aprimorado com a maturidade. Mas a tendência do eterno conflito de gerações ainda permanecerá por uma longa data. O assunto juventude tornou-se tão relevante, que a partir da segunda metade do século XX surgiram termos específicos para cada geração: “Baby boom”, “Geração X” e “Geração Y”2. Os “baby boomers” são aquelas pessoas que nasceram depois do período da segunda guerra mundial, época caracterizada pelo alto índice de natalidade e tem o ano de 1945 como uma referência, não exata, de seu ponto de partida. “Os Baby Boomers, afirmou o professor Graeme Codrington, nasceram em uma época de grande otimismo, acreditavam em mudar o mundo e, o que é mais impressionante, ainda acreditam. Não raro, pouco após se aposentarem, voltam à atividade, desta vez como consultores”3. Foram eles os protagonistas das grandes modificações culturais que experimentamos na segunda metade desse século, questionando tudo que era absoluto. “A geração Baby Bommer é composta de pessoas que presenciaram a guerra e os movimentos feministas na luta pelos seus direitos. Foram educadas com rigidez e seguiam regras padronizadas em relação à disciplina e a obediência. São pessoas que não se abrem muito para questionamento e a principal preocupação está na busca pela estabilidade no emprego. 130
Colocam a carreira acima de tudo e se adaptam em qualquer organização, porém, é uma geração que está saindo do mercado de trabalho”4. Os “baby bommers”passa o bastão para a “Geração X” (1965-1984), a geração das mudanças, do descompromisso com o rígido e com as altas hierarquias; do início das grandes transformações tecnológicas. Ela é comprometida com a experimentação, logo, rotina não faz parte do seu vocabulário e sim a liberdade. “A geração X, por sua vez, é a geração que predomina no mercado na atualidade. Não se detém a padrões tão rígidos, apesar de certo conservadorismo em algumas questões. São filhos de pais separados, que trabalham fora. (...) Trata-se de uma geração que presenciou a Guerra Fria, a queda do muro de Berlim, o surgimento da AIDS e as mudanças de conceitos. Viveram a expansão tecnológica e assistiram ao início da decadência de padrões sociais. (...) Essa geração presenciava nos movimentos estudantis e ‘Hippies’ uma forma de manifestar suas insatisfações. Como profissionais essa geração valoriza o trabalho e busca ascensão profissional, sendo independente e autoconfiante”. (...) ‘É marcada pelo pragmatismo e autoconfiança nas escolhas e busca promover a igualdade de direitos e de justiça em suas decisões’(…) ‘são conservadores, materialistas e possuem aversão a supervisão. Desconfiam de verdades absolutas, são positivistas, autoconfiantes, cumprem objetivos e não os prazos, além de serem muito criativos’”5. A “Geração Y” segue a corrida das transformações, 131
prosseguindo a partir de 1985; ela é a turma da internet. “Essa é uma geração que adora feedback, é multitarefa, sonha em conciliar lazer e trabalho e é muito ligada em tecnologia e novas mídias. Alteraram completamente as formas de comunicação tanto em casa, no trabalho quanto com os amigos”6. São os filhos da geração baby boom como também de parte da Geração X. “As pessoas dessa geração são consideradas ambiciosas, individualistas, instáveis, todavia, preocupadas com o meio ambiente e com os direitos humanos. Também são identificadas como esperançosas, decididas, coletivas e com um bom nível de formação, geralmente agindo sem autorização e desenvolvendo um alto poder e/ou pretensão de consumo. Tendem a fazer várias coisas ao mesmo tempo, gostam de variedade, desafios e oportunidades. Outra característica marcante das pessoas da geração Y é que aceita a diversidade, convive muito bem com as diferenças de etnia, sexo, religião e nacionalidades em seus círculos de relação”7. Tudo para “Geração Y” é rápido; casamento e formação de família não possuem o peso de antigamente; a vida sexual é descomprometida do matrimônio; tem um desapego a uma espiritualidade formal e passam mais tempo na casa dos pais. Esse é o contexto da juventude atual. Mesmo se tratando de um período de aproximadamente 40 anos, estamos lidando com transformações que estão mudando e rápido a esfera social, cultural e psicológica das pessoas. A igreja de hoje precisa atuar dentro desse cenário, que se constitui o seu desafio na formação de princípio, valores e caráter dos jovens. 132
Quando se fala de juventude hoje, precisamos ampliar o conceito – ou a faixa etária -, pois estamos lidando da adolescência até as pessoas na fase adulta, algo em torno dos 12 aos 34 anos de idade. A linguagem e forma de atuação com esse público muda radicalmente. É um período de transformação, de formação, mas de afirmação do que se é. Na adolescência, é o corpo e o intelecto em transformação; no início da juventude é a necessidade se afirmar na sociedade, encontrar o seu lugar em um mercado de trabalho; logo, alguns partem para o casamento e constituem família, vem os filhos e a vida não é mais a mesma de poucos anos atrás. De fato, é muito para pouco tempo. Como não dispensar cuidado nesse período da vida? Mas precisamos lembrar que quando toda essa juventude nasceu “a sociedade já tinha uma existência prévia, histórica, cuja estrutura não dependeu desse sujeito, portanto, não foi produzida por ele”8. Mas isso não anula sua participação nas rotinas e nas modificações dos eventos e estruturas. Estamos lidando com pessoas que têm necessidades. No Brasil e restante da América Latina, o modelo patriarcal faz parte da estrutura de nossa cultura social, onde a figura do pai e do homem são relevantes. Essa mesma cultura valoriza muito mais a vida adulta que os estágios anteriores pelo qual o homem e a mulher passam. Lidamos com uma realidade do “vir a ser”9. É a clássica pergunta que fazemos às crianças, mas que repetimos aos adolescentes quando próximos da escolha da carreira profissional: “o que você quer ser?”. Será que os desejos, incongruências, 133
descobertas, certezas da juventude não valem até antes de entrarem em uma lógica de mercado para se afirmarem enquanto sujeitos? Em nossos sistemas religiosos, será que estamos conseguindo retribuir suas necessidades existenciais? Logo, manter “o ‘adultocentrismo’, que provém das tradições patriarcais, discrimina as pessoas que estão na fase juvenil, não incorpora nem legitima suas perspectivas, desqualifica ou estigmatiza as manifestações que não coincidem com as expectativas dos interlocutores mais velhos. Com base nesse enfoque, prioriza os problemas juvenis sem estabelecer um espaço de escuta e participação, e sem reconhecimento às exigências dos seus direitos. Frequentemente, encobre o desconcerto adulto em relação às demandas formativas da época atual, assim como a dificuldade de redistribuir o poder favorecido pela discriminação”10. *** O trabalho com jovens nas igrejas que se formavam no estado começou cedo11. Reno sempre teve uma preocupação com essa faixa etária e logo desenvolveu sua estrutura. Ele não se preocupava somente com a juventude da igreja em Vitória, mas com todas que estavam pelo interior. Fala da enorme satisfação que tinha com o envolvimento dos jovens no evangelismo e a atitude deles levarem as pessoas ao conhecimento de Cristo, como também o serviço de recebê-las na igreja, isso ainda em 1908, quatro anos após a sua chegada. Em 1913 ele relata a respeito da formalização de uma “Sociedade de Jovens” e de seu interesse de capacitá-los para o crescimento da igreja, indo em direção 134
aos bairros de periferia - ou aqueles que se localizavam fora do núcleo de Vitória -, para evangeliza-lás e ter um trabalho local. Em 1915 já eram 32 sociedades de jovens espalhadas pelo Espírito Santo, pois, o que “ocupa o primeiro lugar em nosso pensamento, tem sido a questão dos jovens, sua conversão e treinamento”. O treinamento foi um dos grandes esforços que o casal Reno dispensou aos jovens; eles investiam muito na produção de estudos locais, como também trazia o que era publicado para juventude pela Casa Publicadora Batista. Não era só dar aos jovens e aos demais a oportunidade de conhecerem a Cristo, mas de promover também a maturidade espiritual deles. Quando se fala de juventude no meio batista, o estado do Espírito Santo tem um destaque especial. Devido ao trabalho dos nossos pioneiros batistas, o foco em evangelismo tornou-se muito forte, seguido da capacitação da juventude – como o de toda a igreja – tendendo para esse fim. Reno, em 1920, fala do privilégio de ter a “Junta Nacional de Jovens” sediada em Vitória, e isso promovia acesso aos recursos de capacitação e evangelismo que a Convenção Batista Brasileira dispunha. Em uma das convenções realizadas em Vitória no ano de 1933, ocorreu a assembleia da Mocidade Batista Brasileira, primeiro evento que visava juntar todos os jovens batistas do Brasil. Anos mais tarde, em 1946, foi criado o Conselho da Mocidade Batista, proposto por Ernesto Soren12, e no ano de 1949 ocorreu o primeiro congresso específico para juventude; mas foi o evento internacional 135
Loren Reno com jovens.
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da juventude batista realizado no Rio de Janeiro em 1953 que chamou a atenção de todo o mundo para o Brasil. Esse longo período mostra a caminhada de um grupo de pessoas dentro da denominação, como também a construção de um trabalho específico. Mas a grande mudança ainda estava por vir. Os anos 60. A juventude batista ganharia uma área específica – denominada de junta pela estrutura da convenção – fato que ocorreu em 196813, a Junta de Mocidade Batista – JUMOC. Como para todos os demais trabalhos específicos na Convenção Batista Brasileira, o grande foco para atuar com a juventude era fazer missões. Com um grupo de pessoas capacitadas e treinadas na igreja local, buscava-se alcançar aquelas pessoas ainda não-cristãs. Providência ou coincidência, a convenção contava com uma estrutura relevante para assistir sua juventude, tendo em vista as grandes modificações que prosseguiram. Lembremos que em 1969 ocorreu o famoso evento de Woodstock, nos EUA. Por todo país a juventude buscava seu espaço14, numa atitude própria da fase. Movimentos cristãos surgiam como bandeiras para uma nova dinâmica de litúrgica nas igrejas, algo mais celebrativo, procurando proporcionar uma roupagem mais brasileira e foi com a juventude que tais movimentos encontraram ressonância. Na época, a busca por uma nova forma foi vista com indiferença pelos líderes mais velhos e conceituados, mas com o tempo as questões positivas foram absorvidas. Uma delas foi transformação na música, uma estratégia forte para os 137
movimentos de evangelização, cerne do propósito para a juventude batista. Movimentos interdenominacionais surgiram, como a Aliança Bíblica Universitária (ABU)15, focada na evangelização nas universidades. Outro movimento focado em evangelização que impactou muito a juventude batista da época foi a Missão Vencedores por Cristo16, um trabalho da SEPAL criado em 196817 pelo missionário Jaime Kemp, que tinha a música por estratégia. Muitos jovens batistas se envolveram com esses trabalhos. No entanto, esse “novo” início não foi fácil, uma vez que nossas igrejas ainda tinham uma roupagem de costumes americanos muito fortes e ocorreu um choque cultural, que começou a se diluir somente em meados da década de 1990. Essa juventude de vanguarda, durante muito tempo, atuou nos guetos18, mas colheu os seus frutos. A Junta de Mocidade Batista (JUMOC), sob a coordenação do Pr. Josué Campanhã (1987-1996), iniciou uma nova linguagem nos congressos nacionais, chamado Despertar, onde as reuniões tornaram-se mais celebrativas, convertendo-se em um grande espaço de louvor e adoração, formato e linguagens estes que rapidamente se espalharam por todo o Brasil, possibilitando uma adequação entre estrutura e necessidades daquela juventude. Reflexo dessas transformações, com foco na celebração, esse modelo vigora até os dias atuais e tem sido muito saudável para as igrejas. Foi um espelho das transformações que vigoravam naquela época. 138
Compreender essas passagens traz luz para entendermos um pouco dessa juventude atual, que é substrato19 de todos esses movimentos que ocorreram dos anos 60 aos 80. Não é uma geração sem causa, mas é a consequência das causas de uma geração passada, tanto de uma geração ligada à igreja quanto daquela com que todos os jovens batistas conviviam fora das portas de suas igrejas. Estávamos absorvendo tais transformações do tempo. O Espírito Santo sofreu todos esses reflexos e teve por meio da Juventude Batista Capixaba (JUBAC) um forte grupo. Pr. Erasmo Vieira, líder naquele período, conta que diversas vezes precisou justificar para a liderança da convenção a presença de Vencedores por Cristo nos congressos20. O maestro Almir Rosa21 fala que quando veio para o Espírito Santo e deu início a Ordem dos Músicos Batistas local, uma das coisas que incentivou foi o desenvolvimento dos músicos nas igrejas e das bandas, buscando descobrir os compositores locais. Almir estava junto com os Vencedores por Cristo e foi responsável por escrever as partituras do primeiro disco deles, quando era ministro de música em São Paulo. Toda essa experiência ele trouxe consigo, defendendo uma música brasileira para se juntar àquela boa que já existia no Cantor Cristão. Essa geração de jovens dos anos 70 e 80 da JUBAC foi muito forte e importante22. No final dos anos 1980 e nos anos de 1990, a juventude batista começou a experimentar um momento de grande destaque. Este momento se manifestou nos encontros e 139
congressos que as associações de juventude e adolescentes passaram a promover. Nesta época, um nicho da música cristã estava recebendo grande aceitação, a saber, um tipo de música baseado em bandas. Com guitarras, baixos, teclados e baterias, algumas bandas alcançaram grande sucesso entre os mais jovens. Como as músicas cantadas por aquelas bandas não tinham grande aceitação dentro das igrejas batistas, as programações de jovens e os congressos eram o terreno fértil para “curtir” bandas como Rebanhão, Catedral, e os “corinhos” agitados de Asaph Borba, Adhemar de Campos e vários outros compositores. A JUBAC passou a promover retiros de carnaval da juventude, sempre no Acampamento Batista Capixaba (ABC). Nestes retiros também os jovens tinham a oportunidade de conhecer pastores batistas de outras localidades, muitos deles bem jovens e com propostas novas que iam ao encontro dos ideais da juventude. Uma grande novidade que tinha máxima aceitação entre aqueles jovens eram as “noites de louvor”. Programações baseadas em música e que aconteciam geralmente aos sábados com bandas, peças teatrais e a pregação de um jovem ou um pastor jovem ou testemunhos. Os congressos eram outro ponto interessante da juventude. Geralmente duravam de três a cinco dias e podiam ser em escolas, sítios, igrejas, etc. Nos congressos era eleita uma diretoria responsável pela coordenação do próximo 140
Ao centro, o Pr. Erasmo Vieira em um evento da juventude. 1974.
Grupo jovem tocando em evento no ColĂŠgio Americano.
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evento e também para cuidar dos interesses da juventude. Existiam também os congressos regionais, nos quais os jovens e adolescentes participantes daquela região podiam eleger ou serem eleitos para um mandato que variava de um ano (nas associações municipais) a dois anos (nas associações estaduais). Nesta época a juventude se envolvia para vender picolé, jornal, lavar carros dos membros da igreja ou o que quer que fosse para conseguir recursos e participar dos “retiros do CESAB” – o Congresso Estadual dos Adolescentes Batistas -, que acontecia todo ano no ABC, ou o da JUBAC, que acontecia de de dois em dois anos, e podiam ser em qualquer município do Espírito Santo. Nos congressos das Associações de Juventude ou das Associações de Adolescentes sempre aconteciam torneios de futebol para integração, oficinas de música como também de teatro. Geralmente realizados num final de semana com programação feita durante a noite de sexta, todo o sábado, encerrando no domingo à tarde. O PIABA-GV - Programa de Integração dos Adolescentes Batistas da Grande Vitória - surgiu de forma meio anárquica ou alternativa, pois não nasceu dentro da JUBAC, mas como o nome já demonstra, tinha em sua diretoria participantes jovens batistas. No início dos anos 1990 o PIABA-GV passou a fazer parte das programações integradas à JUBAC. Ele era feito pelas diretorias das associações de adolescentes dos quatro maiores municípios do Espírito Santo: Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra, 142
porém tinha uma grande participação dos adolescentes de Cachoeiro de Itapemirim, associação muito forte naquela época. Afora isso, sua estrutura era a mesma dos outros congressos da juventude. Mesmo com toda essa movimentação, nos anos 90 a junta local passou por algumas crises institucionais, mas conseguiu desenvolver bons programas, como vimos. Boa parte das igrejas se localizavam na capital e uma busca para levar os trabalhos para o interior começou. Congressos específicos para adolescentes e para a juventude foram realizados e o esporte foi uma maneira de interagir com toda essa juventude23. Outro movimento relevante da década de 1990 e que atingiu todo o Brasil foi a campanha “Quem ama espera”, que surgiu nos EUA no ano de 1983. Voltada para adolescentes e jovens, tinha o objetivo de difundir os princípios e valores bíblicos sobre o relacionamento e pureza sexual para antes do casamento, incentivando que os jovens optassem pela castidade e orientando quanto à visão cristã para um namoro saudável, que tem no casamento seu propósito maior. Era possível ver nos congressos da juventude batista espaços para essa campanha, abrindo uma discussão mais profunda sobre relacionamentos, namoro, sexualidade e vida sexual24. Recentemente o Espírito Santo contou com capixabas atuando na JUMOC novamente, como o Pr. Sérgio Pimentel de Freitas25 e o Pr. Diego Bravim26. Com base em suas
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experiências, a juventude de hoje é aquela que está em busca de uma espiritualidade sadia, coerente e de um lugar relevante em nossas igrejas. Precisamos romper a fase da igreja que só produz programas de juventude para a própria igreja, tornando-a um local onde o jovem “possa buscar uma vivência intensa do cristianismo genuíno e verdadeiro à luz da palavra”27, contextualizada com suas necessidades atuais. Isso nos leva a pensar que temos espaços para continuarmos a desenvolver estruturas sadias que dê conta de suas necessidades, além de darmos somente eventos ou programação; faz-se necessário diminuir o hiato entre o discursos e a prática sobre a eficácia de nossas estruturas em capacitá-los para uma vida sadia. A juventude de hoje abre esse espaço e precisa discutir as questões do nosso tempo, como o crack e o homossexualismo. Talvez, no campo da juventude, seja o local onde mais nossa convenção conseguiu atualizar sua estrutura, mas muito ainda pode ser feito. A juventude de hoje ainda precisa ser uma geração inconformada, pois isso ajudará em seu crescimento, como foi com a geração a partir dos anos 6028. Com o crescimento da tecnologia, muito pôde ser feito para trabalhar e atuar com a juventude atual29. Como nos anos de 1960, muitas mudanças ainda estão em processo e ser atento às necessidades e à linguagem de hoje são questões fundamentais, pois a juventude local necessita de trabalhos que sejam específicos. Se antes as Uniões de Treinamento ou Sociedade de Jovens - nomes dados às
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Congresso Despertar da Juventude Batista Brasileira, ocorrido em Vit贸ria, no ano de 2009.
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reuniões dos jovens nas igrejas batistas - eram o ponto de encontro, os eventos evangelísticos como o Sábado Jovem com Cristo, da Igreja Batista da Praia do Canto; o Jesus Vida Verão, da Batista da Praia da Costa; o LEV, da Batista Evangélica de Vitória; o RIOS, da Primeira Igreja Batista de Vitória, como vários outros pelo Estado, são as expressões dos movimentos da juventude mais atual. Os pequenos grupos têm sido uma nova ferramenta para interagir com essa mocidade, seja pelas reuniões em casa ou pelos grupos de discipulado. O desafio futuro para juventude é cuidar cada vez mais cedo dos jovens30. A mesma tecnologia que ajuda, por outro lado atrapalha e pode fisgar esses jovens para sempre. Se alguns dizem que os mais novos estão isolados em casa, as pesquisas mostram o contrário, nunca estiveram tão bem relacionados, mas agora o fazem tanto no ambiente real quanto no virtual. Muitas igrejas têm criado programações pelo ambiente virtual, mas ela deve ser mais uma ferramenta e não uma forma de transpor sua pesada agenda para uma nova forma de mídia31. Vivemos em um tempo onde o referencial forte e o foco na palavra também se fazem necessários. Se olharmos para esses últimos 40 anos, vemos uma juventude que soube ganhar seu espaço e propor suas modificações. Isso não veio da noite para o dia, mas foi uma construção lenta e constante. Não se vê só uma juventude do amanhã, mas uma juventude do agora, que abriu o caminho para transformações constantes. Se costumamos a 146
dizer que o futuro parece ser incerto, não precisamos nos preocupar, pois temos bons fundamentos para enfrentá-los, precisamos somente fazer uso deles no presente, pois a Bíblia nos dá as respostas que necessitamos. Mas, como disse Salomão, devemos aproveitar bem o tempo da nossa juventude, lembrando do nosso criador, pois é a fase da vida que estamos dispostos a tudo, antes que os maus dias venham; e que a nossa caminhada seja para alcançar a estatura e maturidade espiritual de Cristo. Que possamos lembrar dos valores expressos na canção dos anos 60/70: Somos jovens crentes que amam ao Senhor; Sim, jovens crentes que amam ao Senhor! Usamos a Bíblia todos os dias em oração e alegria. Vamos parar, vamos negar: nunca. Com a certeza e a firmeza vamos sem temor. Sim, jovens crentes que amam ao Senhor.
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CAPÍTULO
9
PROCLAMAR, APESAR…
Cresce a igreja itinerante, perseguida segue adiante, Apesar de todos deve ir1. Jorge Camargo
Missões é um impulso que vem do coração de Deus para o dos homens. Aqui na terra somos os mordomos dessa responsabilidade de fazer Cristo conhecido. Cumprir esse papel nos dias de hoje é um desafio diante da nova geração, mas não tem sido impossível de ser obedecido ao longo de mais de 2000 anos de evidências, apesar de tudo. Dados mostram que o século XIX foi promissor no avanço do evangelho pelo mundo, sendo que mais de 85% do esforço evangelizador desse período tenha se cumprido pelas mãos de missionários americanos e este texto é um relato de um desses esforços. O desafio atual é estabelecer uma igreja relevante para uma sociedade cada vez mais humanista, todavia contraditória em si, pois vemos o homem na constante busca pelo desenvolvimento de sua espiritualidade. As livrarias estão cheias de publicações tratando da relação entre mundo espiritual versus mundo real, sugerindo respostas para os clamores da alma, da condição humana. Mas as conclusões de muitos pensadores são que a sociedade não tem se cansado de uma espiritualidade, mas de uma religiosidade sem sentido. Assim, numa sociedade imediatista, hedonista, individualista, o sentido de missão tem sido aquele no qual o evangelho pode se traduzir em dar rumo à vida pelas questões existenciais. Amar ao próximo ganha validade quando há projetos que de fato conseguem transformar vidas, fazendo o bem sem olhar a quem. Logo, falar de Cristo torna-se uma opção para seguir um estilo de vida. Pode-se dizer: “com Cristo, que tipo de gente você se tornou?”2. 149
Levar pessoas à Cristo é levá-las a uma experiência de transformação. Muda-se o como, mas não muda a essência. Outra grande transformação no sentido de missões está na conceituação de quem é o missionário. Minha avó tinha um sonho de ser missionária; o que isso implicava? Traduzindo: minha avó tinha o sonho de ter ido para o seminário cursar “Educação Religiosa” e se capacitar tendo em vista ir para um local - geralmente outro país -, evangelizar as pessoas que não eram cristãs3. O mesmo raciocínio valia para os pastores. Ser um pastor e missionário até poucos anos envolvia ser alguém capacitado para mover a máquina institucional e cumprir os ditames eclesiásticos. Aos demais - leigos por definição - cabia trazer alguém para ouvir o pastor nos cultos. Hoje, uma revolução está ocorrendo nessa mentalidade, onde os crentes estão tomando consciência do seu sacerdócio. Sendo cada um cristão, cabe a todos ir e pregar. De forma alguma tal mudança implica diminuir a função dos missionários e pastores, muito pelo contrário, implica que um ajuste à prática correta está em processo nos dias atuais. Uma visão futura como consequência desse ajuste é a existência de mais pastores e mais missionários, disponíveis ou não para a estrutura eclesiástica. Uma ferramenta que muito colabora nessa nova forma de ver e fazer missões são os pequenos grupos. “O pequeno grupo é a bola da vez. Estamos numa sociedade de muito ativismo; o consumismo tem invadido nossas casas de forma tremenda, então, o povo está muito preocupado com 150
o ‘ter’ e está se esquecendo do ‘ser’. O pequeno grupo vem resgatar a importância do ‘ser’: a comunhão, a interação, o compartilhar, o dividir e o estudar a palavra de Deus. Os pequenos grupos começam a crescer em todos os aspectos e começam a influenciar a sociedade. Talvez eu tenha dificuldade de levar meu vizinho à igreja, mas tenho facilidade de me encontrar com ele ou na minha casa ou na dele (...). O pequeno grupo é importante em qualquer segmento da sociedade onde não se chega de outras formas. Por exemplo: antigamente se fazia uma concentração na praça, mas atualmente isso não é tão fácil; antes entregava-se folhetos de porta em porta, havia um respeito; hoje isso não funciona como antes. Porém, o contato pessoal em casa, na escola, no trabalho, na vizinhança funciona muito bem”4. Os batistas são, historicamente, conhecidos por duas características: o evangelismo e o estudo da Bíblia. Vimos esses fundamentos com Loren e Alice formando os alicerces que estão até os dias atuais na essência de diversas igrejas locais. A dinâmica do “como fazer” vem alterando com o tempo, mas o princípio permanece. Hoje, a Convenção conta com duas estruturas para auxiliar nessas funções; uma delas é o Ministério de Evangelismo, como fica claro, focado na missão evangelizadora; e outro, é o Ministério de Educação Cristã5, focado na capacitação de lideranças nas igrejas. Um dos nossos sentidos de missões está no texto de Mateus6 chamado de “A Grande Comissão”7, que nos convoca para a proclamação, mas também para darmos 151
o crescimento aos novos cristãos. Não basta somente evangelizar, pois o objetivo final é a permanência na vida cristã – que o fruto permaneça, como disse Jesus. O novo sentido da vida está em incorporar a proposta de estilo de vida baseado nos ensinamentos de Cristo, a conversão. Por isso, quanto mais oportunidades houver para se promover reuniões das comunidades de cristãos, melhor se cumprirá a ordenança de ir, deixada por Jesus. Assim as pessoas terão um local para, juntas, refletirem sobre suas vidas. Mas missão não se faz sem crescimento, cujo conceito da palavra pode ser ampliado para crescimento de vida, de sentido, de perspectiva, de visão de mundo. Esse crescimento, ainda bem egoísta, pois focado na pessoa, impacta quem está próximo e faz desejar o mesmo. É a resposta para a questão acima, sobre o tipo de cristão que estamos nos tornando. A consequência é o desejo de outras pessoas quererem um sentido para vida e buscarem descobrir o que está acontecendo. Daí, pode vir o crescimento em número, de outros que chegam e ficam, girando o círculo virtuoso. É nesse sentido de capacitação que o Ministério de Educação Religiosa atua, provendo ferramentas para que pastores e demais líderes voluntários possam se capacitar, tornando-se mais eficazes no seu agir, tornando suas igrejas locais mais dinâmicas e preparadas para receber as pessoas. Voltemos ao pequeno grupo. Busquemos uma percepção que neste ajuntamento de cristãos proporciona um ambiente onde a igreja pode acontecer – igreja no sentido real, de encontro de pessoas -; ali adoramos a Deus, o 152
criador da vida; edificamos uns aos outros pelas experiências diárias balizadas à luz da Bíblia, anunciamos a salvação em Cristo pela graça. O pequeno grupo é só a menor parte do todo que está no mesmo propósito. O sentido de missão está em abrir o caminho para que a igreja aconteça: exaltação de Deus, educação, edificação e treinamento dos santos baseado na palavra, e a evangelização. É nesse foco que a igreja de Cristo vai dar sentido à vida das pessoas de hoje, àquelas preocupadas com o agora e sem propósito existencial. A partir daí as levaremos a entender o sentido da vida após a morte, da vida eterna com (ou sem) Deus. Falar de evangelização é abordar uma área delicada, onde tratamos simultaneamente da igreja que ao mesmo tempo é organismo e organização8. Não podemos nos perder nesse campo, mas necessitamos de uma visão processual da missão e seu ferramental, como tinha Loren, pois isto será sempre assim. Mas precisamos nos focar que “a convocação de Jesus Cristo para o discipulado encerra o mais fascinante projeto de vida, pois se inicia na história, dando sentido à peregrinação existencial e se consuma na eternidade, na plena realização de todo o universo criado, finalmente devolvido às justas e amorosas mãos do seu criador. No coração deste propósito eterno do Reino dos Céus está a Igreja, e mais precisamente a comunidade cristã local. A proposta cristã para a necessidade de um projeto existencial é a vida em comunidade – a comunidade cristã que o Novo Testamento apresenta como ‘comunidade de cruz’, pois é em resposta à obra da cruz, aos benefícios da cruz e aos imperativos da cruz 153
que a igreja existe”9 e cresce. Assim, seguimos transmitindo o legado evangelizador e de capacitação de Loren e Alice, proclamando, apesar...
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CAPÍTULO
10
UM CÂNTICO NOVO
Louvai a Deus com um samba Brasileiro. Grupo Servos
Cantar é uma das coisas que o cristão evangélico mais gosta de fazer. A música tem um papel central na liturgia evangélica, meio pelo qual se transmite valores, ensinos, crenças, visão, dentre outras. A música é um grande instrumento que transpõe barreiras e quebranta corações. A educação formal brasileira ainda não foi capaz de ensinar artes de forma eficaz ao tão criativo povo brasileiro, principalmente música. Ele ainda não aprendeu nos bancos das escolas o ritmo das notas, a alegria das canções, o suor das produções. Mas as igrejas evangélicas brasileiras têm, de alguma forma, suprido essa necessidade cultural. O maestro Almir Rosa, ministro de música da Igreja Batista da Praia do Canto, conta uma experiência que teve com o então maestro da Orquestra Sinfônica de São Paulo, Eliseu de Carvalho, que disse: “a música funciona no Brasil e no mundo por causa dos evangélicos. Cheguei em uma orquestra e perguntei quantos evangélicos tinham (...) eram quase 80% de evangélicos”1. Atualmente, muitos de nossos músicos estão levantando bandeiras para que o povo de Deus compreenda melhor o potencial das artes na propagação do evangelho de Cristo, sugerindo que estudem com dedicação e sirvam a Deus de coração, corpo, alma, entendimento e muita, muita criatividade2. Os missionários trouxeram consigo suas músicas, que ao longo do tempo foram traduzidas para o Português, destacando o trabalho de Salomão Ginzburg, “o judeu errante3”, que ficou conhecido como o “pai do Cantor Cristão4”, dada às inúmeras versões e traduções que fez. Esse hinário 156
cumpriu um importante papel no período de evangelização, devido a diversidade temática para as músicas nele encontradas: exaltação, conversão, vida em igreja, louvor, dentre outras. A trajetória da música como parte relevante da liturgia evangélica surge junto com o protestantismo, quando Lutero percebeu que o ato de cultuar a Deus é coletivo e não restrito a um clero profissional5. Vem da compreensão de que todos nós somos sacerdotes com livre acesso à presença de Deus6. A celebração cristã e o trabalho de adoração nela expressa é comunitário na sua essência. A música é um meio que permite todos, juntos, declararem os mesmos propósitos de vida cristã proclamados pela letra. Sendo comunitário, é uma música simples na sua estrutura, o que facilita para os leigos, como também é simples a liturgia, popularmente conhecida como “ordem do culto”. A forma como a música foi utilizada dependeu da visão do líder e de sua estrutura. Na idade média, restrita ao clero profissional católico, era o canto gregoriano a sua maior expressão. O povo era um público passivo de uma celebração da qual nada compreendia, pois a língua utilizada era o latim. Lutero recuperou a língua nativa como aquela que deveria ser utilizada nas reuniões da igreja7. Além de Lutero (1483-1546), Zuínglio (1484-1531), Calvino (1509-1564), os irmãos John e Charles Wesley (17031791 e 1707-1788, respectivamente), como os grupos dos Anabatistas, os Batistas, entre outros, têm as suas considerações sobre o uso da música na liturgia. Tal uso mudou de 157
configuração ao longo dos anos. Quando os europeus foram para as Américas, principalmente os puritanos, levaram parte de seus cancioneiros e difundiram a música em suas celebrações. Os batistas, por exemplo, nos seus primeiros 100 anos eram contrários ao uso da música, mas foi introduzida em sua liturgia no século XVIII nos EUA. O século XIX foi um marco na produção de músicas para uso nas igrejas, tanto nos EUA quanto na Europa, com várias composições, inclusive de mulheres, até então não comum8. “Eram hinos fáceis de escrever, fáceis de compor, fáceis de publicar e cantados em toda parte”9. A partir de Lutero, o movimento que a igreja cristã protestante começou a desenhar foi a diminuição de uma estrutura que dava regalias a um clero profissional e instaurar toda uma nova liturgia e estrutura direcionada a uma “religião popular”11, privilegiando a congregação e sua participação na celebração. As mudanças provocadas pela Revolução Industrial trouxeram grandes transformações na sociedade e na sua maneira de pensar, influenciando os evangelizadores norte americanos que trouxeram para o Brasil uma matriz litúrgica. Nos séculos XVIII e XIX foram intensos em sua espiritualidade, dado os grandes movimentos avivalistas que ali ocorreram. Tudo isso cooperou para “a suspeita quanto aos ‘eruditos’ e a crítica à autoridade em geral estava na moda. Em resumo, os anos revolucionários marcaram uma época em que o conceito de liberdade e justiça para todos (exceto os 158
africanos e nativos americanos) – ideia de que cada um podia fazer o que considerasse justo aos próprios olhos – abria caminho profundamente na lama da nação, atingindo todas as áreas do intelecto e da vida. (...) Esse período foi marcado por uma suspeita com relação ao clero erudito, pela ênfase exagerada sobre o que as massas poderiam realizar unindo suas forças e pela oposição injustificada do homem comum contra os eruditos. Uma falta de confiança cada vez maior na razão, um interesse crescente na religião apaixonada e centrada na emoção, uma atitude insurgente quanto à autoridade, tudo isso contribuiu para transformar a mente religiosa do país”12. Esse movimento trazendo os leigos para a esfera da ação perpassou todo o século XX, formatando a igreja atual nas suas diversas vertentes. É dentro desse contexto de simplificação litúrgica que as músicas chegaram ao Brasil. Até a década de 1950 a tendência foi mais estática. Mas dos anos 50 a 70 as produções brasileiras e novas influências norte americanas chegaram ao país. Isso provocou nos membros mais antigos daquele período um sentimento de perda, uma mudança no sentido do que é celebração e música que eles julgavam ser “corretas” para a liturgia, pois não eram mais como nos primeiros dias em que os missionários chegaram em nossa nação. Os anos 60 representaram mudanças de costumes e pensamento no Brasil por aqui. Devido as muitas conturbações, 1968 parece ter sido um ano que não terminou13. Surgiram grupos musicais como os Vencedores por Cristo, 159
Milad, Altos Louvores, dentre vários outros. Nascia uma forma brasileira de se fazer música, ou passou-se a expressar de forma explícita a intenção de compor uma liturgia e músicas atreladas à cultura brasileira. São vários os nomes que se destacam na composição de uma música feita por e para brasileiros14.“O culto deve ser sempre contemporâneo. Isso não quer dizer que deva ser o modelo iniciado nas décadas de 80 e 90. Culto contemporâneo é o que coaduna com a situação cultural atual. Se a cultura está mudando, então não será surpreendente que o estilo da música e do culto também mudem”15. No Brasil surgiam os primeiros debates e cursos preparatórios nos seminários para a formação de músicos profissionais voltados para trabalhar em tempo integral nas igrejas. Foi mais um costume americano trazido pelos missionários que ainda eram constantemente enviados para trabalharem no Brasil. Nos EUA, na década de 1940, o culto foi “profissionalizado”, necessitando de uma melhoria técnica, principalmente na parte musical, o que demandou a necessidade de se ter um profissional da música em tempo integral para dar conta das necessidades16. No meio batista brasileiro surgiram os primeiros “ministros de música”, sendo a Primeira Igreja Batista de Vitória a pioneira, com Gunars Tiss; seguida pela Igreja Batista de Brasilinha17, em São Paulo, que contratou Almir Rosa, hoje ministro de música da Igreja Batista da Praia do Canto, em Vitória, Espírito Santo. Uma música coral mais elaborada, introdução do uso de orquestras de câmara, grupos vocais mistos, bandas para acompanhar as 160
músicas congregacionais são reflexos desse momento. Assim, os cantores leigos puderam substituir o uso do playback por uma instrumentação ao vivo. As crianças passaram a receber iniciação musical, sendo incentivadas a estudarem música, seja nas escolas de músicas que as igrejas abriam18 ou em outros conservatórios particulares quando disponíveis nas cidades. Dado aos trabalhos desses incessantes pioneiros da música cristã brasileira dentro desse novo paradigma, é que muitos músicos puderam expor seus talentos, muitas bandas/ grupos surgiram, como também o início de grandes eventos públicos de alta qualidade. *** Foi pela música que Loren e Alice Reno conseguiam parar os ataques de pedras, batatas podres, ovos, tomates e tudo mais que pudesse ser lançado ao telhado da igreja. Eles começavam a fazer um dueto com um dos hinos e como os brasileiros não eram acostumados à musica, eles paravam para ouvir. Alice tinha um pequeno órgão dobrável que utilizava nos acompanhamentos19. Assim que Loren retomava a fala, as pedradas voltavam. Mas ela foi um instrumento para acalmar a população curiosa e tutelada, arrefecendo seus ânimos. Mas a música para a igreja evangélica se desenvolve mais no Brasil na segunda metade do século XX. No meio batista após a introdução dos músicos profissionais em seu trabalho ela deu um salto, principalmente no Espírito Santo. Mas após a estabilização da economia após 1994, 161
quando pode equipar com mais facilidades as igrejas e seus músicos, ocorreu um salto qualitativo por causa do acesso aos melhores recursos. Em função do costume americano e também pelas músicas disponíveis, até os anos 60 a característica da música dentro das igrejas era coral, sempre oportunizando o trabalho com vozes trabalhadas – soprano e contralto, para mulheres; tenor e baixo, para os homens. Até então havia poucos compositores brasileiros para coro, então, utilizavam muito os hinos do cantor cristão. Recentemente passou a existir produções para este estilo e formação musical. Cantar algo diferente causava certa dificuldade nas pessoas, por isso hoje vê-se várias restrições quanto ao gosto, mas é uma transformação do tempo que está sendo superada. O importante é entender que o gosto musical depende da formação de cada pessoa20. A estrutura da Convenção Batista do Espírito Santo conta com uma parte para atender a esses ministros de música, que é a ordem dos Músicos Batistas do Estado do Espírito Santo. É um ambiente voltado para as necessidades e capacitação desses profissionais21, um ambiente formativo. Nos anos 80, por sugestão do Pastor Samuel Cardoso Machado, foi criada a Ordem dos Músicos Batistas do Espírito Santo. Na época, somente a Primeira Igreja Batista de Vitória e da Praia do Canto contavam com esses profissionais, assim, Urgel Rusi Lota e Almir Rosa foram os fundadores22. Nesse período já exista a instituição em nível nacional, da qual Almir também participou de sua formação. Sua função é 162
Maestro Almir Rosa. 1987.
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Congresso da Associação dos Músicos Batistas do Estado do Espírito Santo.
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congregar os músicos que trabalham na igreja constituindo-se numa oportunidade de troca de experiências. Um ambiente de músico para músico. Vários músicos se agregaram à seção regional do Espírito Santo e em pouco tempo configurou-se uma das mais ativas, devido ao grande número de músicos que atuavam nas igrejas. Assim, a música expandiu em seus estilos e também em repertório. Vários músicos de alta qualidade surgiram e as igrejas começaram a se equipar para isso. Uma nova mentalidade que surgiu foi o entendimento das comunidades sobre a necessidade de aquisição de bons equipamentos e aparelhagem de som, dado que muitos deles eram eletrônicos. O maestro Almir Rosa destaca o papel importante da Primeira Igreja Batista de Vitória na formação musical, pois contava com uma escola de música – ainda em atividade – onde várias pessoas passaram por ali. Dava ênfase ao ensino de instrumentos eruditos, como piano, violino, cello, dentre outros, e o canto. Com a vinda de Miguel Nunes Castilho ela ganhou novas dimensões, pois ele procurou suprir carências da própria escola de Música do estado. Vários membros da igreja hoje são músicos profissionais em orquestras. Isso demonstra a ação de uma igreja na formação cultural das pessoas. Na perspectiva dos trabalhos das igrejas locais, as igrejas médias e grandes passaram a desenvolver suas programações de músicas. Algumas delas ganharam projeção, avançando as fronteiras denominacionais. No Espírito Santo, dois deles são relevantes. O Primeiro é o Jesus Vida Verão23, criado 165
durante o ministério do Pr. Vanedson Ximenes, que há duas décadas vem sendo realizado anualmente. Ele ocorre nas areias da Praia da Costa, bairro da igreja, sempre nos verões de janeiro, às sextas e sábados, aproveitando a alta temporada de turistas pela cidade de Vila Velha. O último, entretanto, ocorreu na Praia de Itapoã. Este é o maior evento de praia evangélico do Brasil. Seu propósito é evangelístico e a música, a estratégia. É montada uma grande estrutura de palco na areia onde ocorrem as apresentações das bandas, geralmente em estilos pop/rock. A partir da oitava edição, houve uma mudança no enfoque. O pastor da igreja Evaldo Carlos disse que as bandas que se apresentavam no Jesus Vida Verão pouco entendiam do propósito do evento, indo para mostrar seu repertório e não para compor um esforço evangelístico por meio da música. A direção foi seguir para o âmbito da celebração, com foco na adoração a Deus. O evento se constitui uma oportunidade para todo o povo de Deus celebrar e com isso alcançar as pessoas não-cristãs. Antes do novo enfoque, o público girava entre 3 a 5 mil pessoas por apresentação. Depois, com uma diretriz clara do evento, passou para 50 a 60 mil pessoas por dia de evento. O Espírito Santo possui uma característica singular em relação aos demais estados da federação brasileira, onde um terço de sua população professa a fé cristã evangélica. O Jesus Vida Verão cria esta oportunidade de celebração dessa grande comunidade de crentes. Além disso, contribui para que, com o tempo, mude a mentalidade da população local, predominantemente católica, que vê os 166
protestantes como uma minoria que não possui capacidade de movimentação de pessoas e que seus programas são pequenos, acanhados e de pouca qualidade. No entanto, a realidade mostra o contrário. Músicos nacionais e internacionais já passaram por estes palcos, como também gravações ao vivo já foram realizadas no evento, registrando a grande celebração. Para a igreja local - a Primeira Igreja Batista da Praia da Costa - o Jesus Vida Verão representa uma maneira da comunidade unir e servir a um grande propósito. Ali, a igreja proporciona oportunidade de serviço voluntário à causa, as pessoas trabalham no evento, praticam seus dons espirituais, se motivam espiritualmente para ganhar vidas. Como há um grande número de decisões, as pessoas da Grande Vitória são direcionadas para as demais igrejas batistas próximas de seu bairro. Em virtude de ser um período de férias, as pessoas de outros estados que se convertem são encaminhadas para uma igreja localizada próxima de sua cidade. E se não houver uma igreja batista é encaminhado para outra igreja evangélica. Outro grande evento musical de relevância no Espírito Santo é a cantata natalina “A Árvore que Canta”24, produzido pela Primeira Igreja Batista de Vitória, a mesma que Loren Reno assumiu assim que chegou ao Brasil. Já foram 12 edições anuais. A música coral é o instrumento e toda a estrutura do evento é feita pelos próprios membros, movimentando algo em torno de 350 pessoas. Desde as crianças até os adultos, toda a igreja se movimenta para essa 167
celebração natalina, hoje reconhecida em toda a sociedade por sua qualidade. São necessários quatro edições por temporada para dar conta do público interessado, sendo distribuídos cerca de 1500 convites por noite. Tudo ocorre no próprio auditório da igreja. Ambos os eventos, “Jesus Vida Verão” e “A Árvore que Canta”, foram reconhecidos pela sociedade, fato que levou ambos a serem incorporados no calendário de eventos oficiais das duas cidades pelas suas respectivas câmaras de vereadores. Isso demonstra o alcance que a música tem e como ela pode quebrar algumas barreiras.
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A Árvore que Canta - Primeira Igreja Batista de Vitória.
Jesus Vida Verão - Primeira Igreja Batista da Praia da Costa.
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CAPÍTULO
11
AMAI UNS AOS OUTROS
A ajuda ao próximo, qualquer que seja a sua carência, deve ser uma ajuda libertadora, que quebra o ciclo da dependência, porque viver sendo dependente é viver numa condição de indignidade1. Ed René Kivitz
A marginalidade social é uma realidade com a qual a humanidade sempre terá que conviver. Suas causas são diversas, pode ser cultural, como a segregação de grupo étnicos; religiosa, como os constantes conflitos entres xiitas e sunitas; pessoal, indivíduos que tendo famílias vão voluntariamente para a mendicância ou outros que se reclusam em lugares afastados, como os mosteiros; políticas, causada por gestão ineficaz ou corrupção de governos que tiram o país de uma rota competitiva; econômica, causada por problemas das intempéries da natureza ou por regiões sem recursos naturais, dentre outras. Talvez, essa última condição seja a que mais insere pessoas no hall dos excluídos sociais. A pobreza e suas consequências tem feito grandes vítimas e a igreja não pode se abster dessa discussão. Falar de marginalidade social e pobreza quase soam como sinônimos, apesar de não serem. As pessoas que necessitam de auxílio, em sua grande maioria, estão sem recursos e condições para saírem da miséria social. O filósofo Enrique Dussel nos chama a atenção para entendermos que fomos criados em uma cultura que vê o outro muitas vezes como um objeto, infelizmente. Isso tem relação com o processo de colonização que a América Latina passou. Existe a necessidade de se construir uma relação que ele chama de “pessoa-pessoa” em substituição à “pessoa-objeto”. Faz parte da cultura do “euro-americanocentrismo”, quando fomos vistos como estranhos, inferiores, inimigos e dotados de impessoalidade2. Assim, ao falarmos de pobreza temos que ampliar o 171
sentido da palavra. “Pobre se torna em categoria epistêmica que se ampliando em sua abrangência, a começar do índio, mas também incluindo o negro, o trabalhador rural, a mulher e todos quantos foram excluídos da História oficial e dos sistemas oficiais e religiosos de vida”3. O estudo feito por C. K. Prahalad em nível mundial sobre a pobreza, revelou que 80% da população mundial vivem com menos de US$ 2,00 diários. São 4,5 bilhões de pessoas nessa condição. A consequência disso é um efeito em cadeia, pois, para a sobrevivência, as pessoas precisam trabalhar desde cedo, abrindo mão de estudos, que por sua vez as deixarão inaptas para trabalhos elaborados - pertinentes aos dias atuais -, sobrando os serviços manuais e de baixa remuneração. Por consequência, não terão acesso às necessidades básicas, como moradia, alimentação e saúde. É o que ele denomina de Base da Pirâmide. Prahalad nos faz perguntas desafiadoras e apresenta três universos para tal questão: 1) “O que estamos fazendo pelos mais pobres do mundo? Por que, com toda essa tecnologia, know how gerencial e capacidade de investimento, somos incapazes de fazer uma contribuição, mesmo que mínima, ao problema da alastrante pobreza e alienação globais? Por que não conseguimos criar um capitalismo de inclusão? 2) Por que não podemos mobilizar a capacidade de investimentos das grandes empresas com o conhecimento e o comprometimento das ONG’s e das comunidades que precisam de ajuda? Por que não podemos criar um conjunto de soluções diferentes? 3) O 172
problema da pobreza deve forçar-nos a inovar e não a exigir direitos de impor soluções’”4. Outra pessoa que está lutando para reduzir a condição de marginalidade e exclusão social de milhões é Muhamad Yunus, que ficou conhecido como o “pai dos pobres”. Ele desenvolveu o conceito de microcrédito, hoje utilizado em vários países. Por desenvolver um mecanismo econômico-social que permitiu que milhares de pessoas mudassem sua condição de vida, ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2006. O que o motivou foi uma circunstância que mexeria com qualquer pessoa. Ele viu uma mulher pedindo 5 takas (equivalente a 7 centavos de dólar americano) a um agiota para comprar bambu para fazer tamboretes e vender. O empréstimo foi feito a uma taxa de 10% por semana, que a fazia uma escrava virtual desse agiota. Sendo assim, ele viu que era pouco em relação à sua renda e que por meio de pequenos empréstimos feitos de forma justa poderia tirar diversas pessoas dessa condição de miséria. O problema foi no sistema bancário, que não daria crédito a essas pessoas. Sendo assim, ele mesmo os tomou, sendo avalistas destas pessoas junto ao banco, e começou a assistir tais necessitados. Esse foi o ponto de partida do Grameen Bank5. Esses dois economistas e seus conceitos estão mudando a vida de muitas pessoas nas últimas décadas no mundo. Vários cristãos também estão empreendendo soluções sociais para amenizar as necessidades de várias pessoas excluídas. Uma delas é Jessica Jackley6, que usando o conceito de microcrédito de Yunus está desenvolvendo negócios para 173
tirar várias pessoas da miséria. Ela é co-fundadora da Kiva. org e atua na África. Suas preocupações nasceram na igreja quando aprendeu que as pessoas necessitadas precisam ser amparadas. Outro cristão que está ajudando a diminuir as injustiças do mundo é Gary Haugen7, presidente e fundador da International Mission Justice (IJM), instituição que reúne advogados, investigadores criminais e assistentes sociais cristãos que atuam em todo o mundo na área de direitos humanos. Haugen faz perguntas desafiadoras: Que tipo de liderança tem importância para Deus? Pelo que Deus é apaixonado? Como esperamos que as pessoas que sofrem saibam que Deus é bom? Suas respostas são: A liderança que importa para Deus é aquela que se envolve no que Ele se interessa. Jesus e eu estamos interessados na mesma coisa? Podemos seguir por esse caminho para avaliar o tipo de liderança exercido. Assim, caminhamos para descobrir pelo que Deus é apaixonado. Ele é apaixonado pelo mundo e por justiça. Seu amor pelo mundo fez com que Cristo se encarnasse e viesse habitar entre os homens8. É nesse mesmo mundo que diariamente morrem 25 mil crianças; 1,5 bilhão de pessoas não possuem assistência médica; vários outros não têm teto para se abrigarem; falta comida e a lista pode continuar de forma infinita. Dai vem mais uma pergunta de Haugen: como essas pessoas podem acreditar que Deus é bom diante de tanto sofrimento? O plano de Deus para que as pessoas saibam da sua bondade são os cristãos - sua igreja -, agentes Dele para atuar nesse 174
estado de miséria. A igreja é seu plano e não há um substitutivo. Quando ela agir nessas circunstâncias, modificando as vidas das pessoas, tirando-as da miserabilidade, elas verão o corpo de Cristo se revelar e conseguirão crer que Ele é bom. Mas existe uma outra categoria de pessoas que sofre, são aquelas que estão padecendo por causa do abuso intencional e da opressão de outras pessoas. Sofrem por causa da injustiça. A segunda coisa pela qual Deus é apaixonado é por justiça9. A injustiça do ponto de vista de Deus é o abuso de poder de uns sobre outros; é privar pessoas das coisas que Deus preparou para elas, como a vida, dignidade, liberdade, o fruto do seu trabalho, dentre outras. Como essas pessoas injustiçadas podem conceber a ideia de que Deus é bom? A resposta é a mesma: a sua igreja que revela Deus a elas. Só pela ação dessas pessoas intervindo na diminuição da injustiça social é que elas saberão que Deus é bom. *** Assistir às pessoas foi uma estratégia que Loren e Alice adotaram logo que chegaram aqui. A ação dos dois tinha um propósito claro de mudar a vida delas. A criação do Colégio Americano era para resolver o problema de marginalidade social causado por tensões religiosas entre católicos e protestantes. Além do mais, as pessoas pobres não conseguiam estudar no parco sistema público, que era para os filhos da elite da época. No caso do cemitério, a lógica era a mesma. Além dos protestantes, não podiam ser enterrados pobres e 175
Casa da Esperanรงa.
Lar Batista.
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Ação do Ministério de Evangelismo.
Voluntários em ação da Junta de Ação Social da Convenção Batista.
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doentes, também excluídos do direito de terem um enterro digno. Outra ação de Reno foi na assistência à saúde, durante anos a Convenção Batista Vitoriense tinha as únicas enfermeiras da capital, que eram sustentadas para servirem gratuitamente à população e aos médicos, tendo reconhecimento de todos, inclusive do governo e dos médicos. Com o passar dos anos ainda encontramos pessoas marginalizadas, pelos mais diversos motivos, na sua maioria pobres. O perfil e as necessidades mudaram com a dinâmica social, mas não a condição. Novas ferramentas são propostas, surgiram procedimentos legais e a Convenção veio se adaptando ao longo dos anos para tal fim. Atualmente os batistas contam com uma estrutura para fazer a ação social. Existe uma organização não governamental denominada Ação Social Batista, que busca minimizar as misérias dos necessitados, em todas as faixas etárias, tanto no âmbito da prevenção quanto no de risco social. São nove programas sustentados em diversas áreas para o atendimento de crianças, adolescentes, jovens e adultos: Lar Batista Albertine Meador; Lar Batista Espírito-santense da Criança (LESC); Lar Batista em Aribiri; Casa da Esperança; Casa Vida Karen Brus Gray; Centro de Apoio ao Adolescente e a Criança (CENAAC); Centro de Resgate e Promoção da Cidadania (CRPC); Núcleo de Apoio ao Marinheiro (NAUTA); Centro de Apoio ao Marinheiro (CAM)10. Foram beneficiados “Crianças, adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade, risco pessoal e social, 178
portadores do vírus HIV/AIDS, marinheiros e portuários, população indígena e dependentes químicos”, constituindo um universo de 13.840 atendimentos em 2010, sendo 11.154 do sexo masculino e 2.695 do sexo feminino9. Um trabalho desse porte não se faz sozinho, são reunidos os apoios de diversas igrejas, como também políticos, empresas e demais associações afins da sociedade civil organizada. Isso demonstra que, tanto institucionalmente, como por necessidade, dada a sua complexidade, não é possível a igreja permanecer isolada. No início a igreja era mais propositiva nas questões de ação social, tendo ela mesma que desenvolver e manter seus programas. A partir dos anos 90, com as grandes transformações ocorridas no Brasil na área do terceiro setor12 devido a sua profissionalização, como também uma melhor organização do próprio governo nas três esferas, federal, estadual e política, a Convenção pôde se juntar a estes trabalhos como também captar recursos para sua manutenção. Mesmo com as convicções de confissão religiosa, busca-se agir na sociedade na tentativa de transformar sua realidade. O teólogo Ed Renéd Kivitz13 nos leva a refletir um pouco sobre os princípios e valores que precisamos ter em relação ao próximo. Ele aborda a questão da pobreza nos nossos dias e a maneira como a sociedade responde a essa necessidade. Ele toma uma reflexão que Padre Antônio Vieira faz da parábola do Bom Samaritano, no evangelho de Lucas, capítulo 10, a partir do verso 30, que narra a 179
história de um homem que socorreu uma pessoa largada à margem de um caminho após um assalto e que não foi socorrida por um grupo de religiosos que por ele passou. Padre Vieira apresenta três filosofias de vida com essa narrativa de Jesus: 1) O que é seu é meu, representando o ladrão, abordando aquele que usurpou do outro, fato que podemos transpor para os nossos dias a respeito das injustiças sociais institucionalizadas que nos usurpam para a necessidade de poucos; 2) O que é seu, é seu. O que é meu, é meu, representando os religiosos, que aplicando aos nossos dias reflete a cultura da indiferença; 3) O que é meu é seu, representando o Bom Samaritano, que deu de si para socorrer o necessitado, realidade aplicada a muitos que a cada dia se doam diante das mazelas sociais14. Ed René nos chama a atenção sobre a questão da pobreza em nossa sociedade. Está ocorrendo uma glamourização do ser pobre, ao ponto de parecer “que há alguma virtude em ser pobre”15. Ele se afina à Prahalad e Yunus ao dizer que “construímos um mundo onde há pessoas pobres”16. Mas diz que “ser pobre” se equivale ao infortúnio de um assalto, a um doença, não sendo a pior coisa que pode acontecer ao ser humano, pois estamos sujeitos a isso. Mas adverte: “Não há virtude em ser pobre. Devemos olhar para o pobre com tristeza e lamento por contemplar a pobreza e [devemos olhá-lo] até mesmo com arrependimento, porque nós construímos um mundo onde há pessoas pobres. A condição de pobre não é desejável, não é admirável, é vergonhosa para todos nós (...) A pior coisa que pode 180
acontecer a um ser humano é ele ficar enclausurado dentro do seu próprio ego, é viver de maneira egoísta, é estar presente no mundo como se ninguém mais existisse (...) a maior miserabilidade humana é essa vaidade, esse orgulho, essa indiferença”17. Kivitz responsabiliza toda uma cultura de sofisticação onde poucos se esbaldam para manter seu status e ignoram as necessidades de uma maioria, tornando-se insensíveis. Pior ainda é a condição de uma estrutura que não se modifica, mesmo vendo o grande tamanho da “base da pirâmide”. Ele continua e mostra um paradoxo: se há glamour em “ser pobre”, há também em “ser explorador”, pois “na nossa sociedade, os homens violentos e que roubam são muito ricos, são muito poderosos, são glamourizados, são impressionantes”18. Ele evoca o princípio de amar ao próximo, “que é todo aquele com quem você desenvolve uma relação de amor. Isso significa que ‘estar perto’ é diferente de ‘ser próximo’”19 é um papel que a religião poderia ajudar a prover nos dias atuais, resgatar o valor do “relacionamento de amor e prática de justiça. A preservação, a restauração, a valorização da vida e da dignidade de todo o ser humano”20. Cuidar precisa ser consequência de uma ação que liberta a pessoa da sua condição indigna. Vemos isso na ação de Yunus, ao libertar diversas pessoas do ciclo da agiotagem, como também na experiência de Haugen ao proporcionar justiça. Quanto ao pobre, diz kivitz, “a maior tristeza a respeito da pobreza não é a falta do pão, é a falta de dignidade. 181
O que mais dói no coração do homem é ele não ter o que comer, é viver de esmola”21. Quanto às demais necessidades diz: “a ajuda e o socorro não é para quem merece, é para quem precisa e nós não devemos olhar a quem para fazer o bem, nós devemos identificar uma necessidade (...) e agir na direção de supri-la, mas com esse cuidado de que não basta um socorro paliativo, não basta uma assistência superficial. Não é apenas recolher o homem à beira do caminho e levá-lo a um lugar de cuidado e deixá-lo, abandonando-o (...) Ajuda ao próximo, qualquer que seja a sua carência, deve ser uma ajuda libertadora, que quebra o ciclo da dependência, porque viver sendo dependente é viver numa condição de indignidade”22. Atualmente, a pobreza é colocada como “condição origem para os males sociais”. Ela é um mau e um mal, quando não promove o bem para o ser humano e está na mesma esfera que a escravidão moderna e a segregação racial, consequência da primeira. Ela é alimentada por uma estrutura econômica que se tornou perversa, que tem o egocentrismo, a indiferença e o individualismo como valores e princípios, que leva a uma prática que estimula a ganância de poucos que explora muitos, causando perversidade, maldade e indignidade. Quando o Reino de Deus chega, ele transforma as pessoas e a sua realidade. O reino é um fato mensurável e a população marginalizada pode experimentar o cuidado de Deus pela ação de seu povo. Basta a este povo se ver como agente de Deus.
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CAPÍTULO
12
EDUCAÇÃO QUE LIBERTA
“Uma das primeiras coisas que nós podíamos ver aqui era a impossibilidade dos filhos de nossos crentes frequentarem escolas públicas. Por isso, elas estavam apenas ‘crescendo’”1. Loren Reno
Uma das estratégias para realizar missões no Espírito Santo era atender as necessidades locais, que no início do século XX também não eram poucas. Investimento em estudos foi uma delas, pois a maioria da população ainda era analfabeta. No começo do século XX, cerca de 85% dos brasileiros não contavam com nenhum tipo de formação escolar. No muito, sabiam assinar o nome e fazer operações numéricas básicas. Compensar de alguma forma as necessidades da época era uma maneira de quebrar a hostilidade que a sociedade extremamente católica tinha pelos protestantes, como eram tratados2. Havia vários fatores de exclusão nesse período e a escolaridade era uma delas. Quem não sabia ler e escrever não votava, não participava da vida política da época e, dessa forma, não tinha como lutar por direitos por meio de algum instrumento legal da recém inaugurada República Brasileira. Logo, o comando da nação era para os grandes fazendeiros, que faziam o que era melhor para eles. A forma de pensar desse pequeno grupo dominante, a quem os pobres serviam, ainda estava vinculado à escravidão. Nesse momento, o Brasil já havia experimentado a chegada de grupos de imigrantes, como os italianos e alemães, que ocuparam no Espírito Santo a região serrana, na sua maioria. Esses imigrantes também trabalharam sob um modelo muito parecido com o da escravidão. Inclusive, eram chamados de escravos brancos. A maneira como o catolicismo lidava com as pessoas favorecia os interesses dos senhores de café, pois até o ano de 1889, a igreja3 fazia 184
parte da estrutura do Império Brasileiro. Na segunda metade do século XIX surge uma corrente muito forte chamada “Positivismo”, baseada nos ideais do sociólogo Augusto Comte, que influenciou muitas pessoas no Brasil. Sua maneira de pensar está na nossa bandeira, no lema “Ordem e Progresso”4. Inclusive, “progresso” era uma palavra de ordem, que também contagiou uma mudança na Educação. Uma delas foi a laicização, a separação do Estado da Igreja, quando a segunda não teria mais influência nas decisões do primeiro; sendo assim, foi proposto o fim do ensino religioso nas escolas. A Educação nesse início era pelo sistema chamado “Escola Normal”5, implantado no Brasil em 1835, ainda no período imperial. Mesmo que dissessem que o ensino era para o povo, refletia o caráter hierarquizado e excludente no qual o Brasil se organizava, além de ser rígido. No Ensino Secundário, equivalente ao Ensino Médio de hoje, os estudantes recebiam formação para serem professores do Magistério, equivalente ao Ensino Fundamental. Esse grupo de pessoas atendia a formação das crianças desse período. Existia também uma formação secundária baseada no modelo dos jesuítas, que atendia aos filhos da pequena elite. Era ensinado latim, grego, retórica, filosofia; privilegiava-se a “arte da expressão, a erudição linguística, o escrever e o falar bem, o domínio das línguas estrangeiras e a atração pela estética literária”6. Há uma distinção muito grande sobre a realidade da 185
Carta de Loren Reno onde pede ajuda para o sustento das igrejas e do colĂŠgio. 1930.
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maioria da população brasileira para essa minoria. Assim, evidencia-se o papel que Loren e Alice Reno desempenharam na criação do colégio7. Não fazia parte dos planos do casal Reno cuidar de uma escola, pois queriam se manter focados na evangelização, mas não hesitou em suprir esta necessidade. O Estado era o responsável por prover ensino às crianças, mas não atendia essa necessidade por não ser uma prioridade política. Os políticos da época conseguiram disseminar entre a população que a continuidade da República e o sucesso do Brasil se daria somente com educação para todos. As pessoas daquela época começaram a perceber que sua ascensão se daria via ascensão escolar, estudando e concluindo toda as etapas necessárias do processo educacional. No entanto, essa escola só era eficiente aos filhos da elite, a quem de fato ela formava. Quanto a população, essa só acreditava que existia educação para todos, apesar da realidade demonstrar o contrário8. “Que era o ensino no Espírito Santo até 1908?”, pergunta Luiz Derenzi na obra Biografia de uma Ilha. “Um mito e, para as famílias abastadas, um pequeno número por sinal, um privilégio. O Estado guardava a posição desairosa com suas 125 escolas para uma população presumível de 125.000 habitantes. Não havia magistério, não havia escolas e, pior ainda, sem orientação pedagógica capaz de acrescer o rendimento cultural dos professores”. Derenzi faz uma apologia ao programa educacional do governo de Jerônimo Monteiro (1908-1912), que criou diversas escolas e trouxe “Carlos 187
Gomes Cardim, educador entusiasta e jovem, forjado no dinamismo da cultura paulista, sempre na dianteira do progresso nacional”. Monteiro fez um grande investimento na educação e com construção de escolas. O motivo para a Missão Batista implantar uma escola veio de uma questão social baseada no preconceito: quem se tornava um cristão protestante era excluído da sociedade, não podendo frequentar espaços públicos sem hostilização. Crianças não podiam mais ser matriculadas em escolas públicas, como também os mortos não podiam mais ser encaminhados aos cemitérios. Vale lembrar que o estado brasileiro, desde a constituição de 1891 era separado da igreja, mas os padres ainda exerciam uma grande influência sobre as pessoas, que acreditavam sem contestação no que diziam e faziam o que ordenavam. Loren e Alice Reno não poderiam ficar apáticos diante dessa situação, provendo uma solução para os cristãos protestantes da época e para outras pessoas marginalizadas da sociedade. O início do Colégio Americano Batista foi na própria residência do casal, na Av. Schmidt, 70, atual Av. Florentino Avidos, em seis de outubro de 1907. No porão da casa foram separados dois cômodos entre o escritório de Loren Reno, onde a Sra. Alice Reno passava o dia ensinado para as duas primeiras alunas que ela trouxe do interior, meninas dispostas a aprender. Durante a manhã, ela ensinava as duas. De tarde, trazia crianças, que eram ministradas pelas duas professoras em formação. Assim, Alice Reno valia-se do sistema Escola Normal, pois o 188
foco era formar professores para atender as crianças necessitadas. O nome “americano” vem do modelo de ensino praticado, que era o “método americano”, baseado nas orientações do pedagogo suíço Johann Heinrich Pestalozzi. No entanto, vemos que era adaptado ao sistema brasileiro, para a formação de professores do ensino primário. A nomenclatura “Batista” dava-se em função do grupo instituidor e mantenedor da escola. Servia também como uma forma de representação institucional, fator que Reno não deixava passar desapercebido, pois era necessário se firmar na sociedade capixaba, ganhando seu respeito e atenção9. As escolas do período da Primeira República, em todo o país, tinham características similares “eram de pequeno porte, em sua maioria ‘leigas’ e seu atendimento dependia do poder aquisitivo do aluno – famílias que podiam pagar. A maioria levava o nome dos seus donos e algumas delas dependiam da localização do imóvel (geralmente era uma casa, com uma ou duas salas, onde além de ministrar as aulas, o professor também residia). Muitas vezes, o professor era parente ou aderente da família para qual trabalhava (principalmente na zona rural), e o mesmo constituía uma espécie de pequenos consórcios, que aliviavam aspectos econômicos e sociais, tanto do ponto de vista dos mantenedores como dos beneficiários – ou seja, consórcios para atender às necessidades de trabalho dos professores e as necessidades de instrução dos alunos, conforme as exigências de suas classes sociais”10. Vemos que na trajetória do Americano 189
Grupo de Alunos. 1915.
Corpo docente do ColĂŠgio Americano. Ao Centro, Alice e Loren Reno. 1915.
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Batista todas essas características são presentes. Loren vai além de atender os filhos dos cristãos evangélicos, ele providenciou formação às crianças pobres, pois entendia que a educação era a maneira de mudar a realidade de suas vidas, pensamento disseminado na época, mas distante da prática. O crescimento do colégio foi sistêmico e constante, feito em boas bases, uma vez que o “segundo ano primário” foi instituído somente no segundo ano de funcionamento, e assim sucessivamente. Nesse primeiro momento as aulas eram somente durante o dia. Mesmo sendo vítimas de preconceitos, ele não excluiu ninguém, abrindo as portas para os filhos de famílias ricas da cidade de Vitória, que mais tarde vieram a frequentar o colégio. Do interior do estado começaram a vir os primeiros pedidos dos pais querendo que seus filhos estudassem, só que não havia espaço na pequena casa dos missionários. O ano era 1914 e o Americano já funcionava por sete anos. Loren arrumou uma solução baseada na troca de serviços, onde a residência de uma senhora viúva da igreja, a D. Adelaide de Bastos Brito, em Argolas, foi preparada para receber três meninas, formando o primeiro alojamento e dando início ao internato. Ali ficaram as três filhas de Reno, as três da viúva, além dela mesma, que cuidava de todas. Em 1915, começaram a vir mais pedidos do interior, agora para meninos. Valendo-se da mesma solução, uma casa de outra família hospedou os dois primeiros, e assim o número de alunos ia crescendo. Os Batistas contavam com uma propriedade na rua 191
General Osório e Reno relata que havia depois do terreno da igreja cinco casas, que ele desejava comprar para aumentar a sede e servir de alojamento. Ele conseguiu comprá-las, mas uma delas era de propriedade de um católico fervoroso e as pessoas o recomendavam não dizê-lo que a intenção de compra era para uma igreja protestante, pois ele poderia não vender ou mesmo optar por subir o valor. Loren conta: “eu fui até o homem e perguntei se ele poderia vender e por quanto. Ele é um homem de poucas palavras e respondeu: ‘sim cinco contos e meio’. Eu disse: ‘o preço é razoável, mas eu estou comprando para a igreja e para a Missão’, e continuei contando a ele alguns de nossos planos. Ele simplesmente disse: ‘certo, cinco contos’. Como as pessoas nos surpreendem”. Essa referida propriedade estava entre outras duas que a Missão Batista já havia adquirido. Loren conseguiu as cinco casas, mas estava sem recursos para pagar e realizar a obra, simultaneamente11. Esse movimento rendeu uma dívida ao trabalho missionário em Vitória e as pessoas ficavam observando se algo seria construído pelos Batistas naquele lugar. Richmond, sede da Junta Missionária Batista nos Estados Unidos que sustentava o casal Reno e investia na expansão missionária no Brasil, disse que necessitava liquidar essa despesa para realizar novos investimentos. Vendo que a imagem e reputação poderiam ser maculadas, Loren vendeu parte do terreno e investiu na construção, desistindo “da ideia do grande prédio institucional”, como se referia à construção de um local para ser a sede das reuniões da igreja. Isso se deu em 1919. 192
No mesmo ano, Loren recebeu um dinheiro para a compra de um terreno para a construção do colégio. Havia uma chácara que muito lhe interessava na região do Parque Moscoso. Nessa época ele já desfrutava de um bom relacionamento com o governador, que dizia ser “um grande amigo meu12”. Em pouco tempo, cerca de 10 anos, ele construiu uma relação de credibilidade com os líderes da sociedade e usou de sua influência com o governador para que ele intermediasse a venda do terreno de um afilhado político para a Missão Batista. Além disso, descobriu que havia um terreno do qual o estado era proprietário e fez uma oferta de compra. Ele conta: “nosso surpreendente espanto, ao encontrar, ao lado da propriedade, uma faixa de terras públicas ainda não distribuídas, nos limites de uma das mais antigas cidades do Brasil. Aquela terra havia esperado pela nossa chegada por centenas de anos!13”. No entanto, o princípio de separação do Estado e da Igreja era levado a sério, pois recebeu do governador uma oferta de doação, que foi recusada. A compra de onze mil metros quadrados ocorreu por US$ 1.500,00. Nesse terreno foram construídos a casa para os missionários, que até então pagavam aluguel, os internatos masculinos e femininos e o prédio para as aulas do Colégio Americano14. Para quem não queria se envolver com o processo educacional, Loren trabalhou muito na expansão do colégio para cidades do interior - pois via nele um complemento para 193
Vista parcial da Chácara Moscoso, terreno adquirido para a construção do Colégio Americano Batista.
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o processo de evangelização -, estabelecendo uma unidade em Cachoeiro do Itapemirim, no centro da cidade, e outra em Colatina, movida pelos rumores e interesse de expansão econômica da região norte do estado, fruto do transporte do minério de ferro que deveria ocorrer pela Estrada de Ferro Vitória a Minas, que então era de posse da empresa Itabira Iron Ore Company. De Colatina a ferrovia se dirigiria para Santa Cruz, atual Aracruz, onde seria construído um porto. As perspectivas eram de grande movimentação de pessoas. No entanto, esse plano nunca saiu do papel15. Com essa expansão do sistema educacional, Loren Reno solicitou o envio de um casal especializado em missões e educação, para que ele e a esposa ficassem focados no evangelismo, uma vez que os trabalhos no interior aumentavam. O casal Reno estava fortalecendo as igrejas que cresciam em diversas cidades, fruto de um evangelismo intenso realizado por diversas pessoas. Mas Richmond não atendeu essa solicitação e fez o contrário: em 1920 mandou o casal R. B. Stanton para missões, mantendo o casal Reno a cargo do colégio16. Além disso, alguns brasileiros desejaram a permanência deles na direção, pois temiam que um enfoque educacional estrito tirasse o caráter e a oportunidade de evangelização, pois o colégio era utilizado como uma estratégia para alcançar pessoas não-cristãs17. Essa trajetória apresenta os marcos da gestão de Loren e Alice Reno na construção de uma instituição de ensino em Vitória. Ele só a deixou em sua morte, ano de 1935. O papel da família foi relevante, pois até mesmo suas filhas 195
atuaram no colégio, expressando uma unidade de propósito e coerência no trabalho que desenvolviam, o que servia de testemunho para uma sociedade disposta a pagar para ver se o trabalho Batista renderia resultados plausíveis. Uma de suas filhas, aos 10 anos de idade já ajudava no ensino, o que mostra uma realidade diferente do papel e faixa etária em relação às necessidades completamente diferentes, se comparados o início e o fim do século. A primeira diretoria do Colégio Americano18 era composta pelo casal Reno; na superintendência estava a missionária Edith O. West; na secretaria, Elvira Staufler; para as aulas de costura, Etta Fern Reno; Jardim de Infância, Carrie Hazen Reno e na enfermagem, Inah Brito. Existia o Curso Propedêutico, ou aquele voltado para os ensinamentos básicos, com aula de português ministradas por Luciola Y. Faria; na Caligrafia, Fanny S. Gonçalves; Geografia, Elisabeth Icale; Aritmética, Subael Magalhães Silva e Joel Gonçalves Aguiar; Leitura, Dyonísia Santiago; História Natural, Dolores Marçal; História Pátria, Antônio A. Drummond e Célia V. Drummond e no Inglês, Etta Fern Reno. Para o curso ginasial as aulas de português eram ministradas pela professora Lucyola Y. Faria; Álgebra, Etta Fern Reno; Latim e Álgebra, Antônio da Costa Maia; História, Inglês e Método, Alice M. Reno; Filosofia, Ciências e Pedagogia, Loren M. Reno19. Após o falecimento de Reno, quem assumiu a direção do Colégio Americano Batista foi Alberto Stange Júnior, 196
Inauguração de placa comemorativa do Colégio, com a presença do interventor federal, Sr. Punaro Bley. 1932.
Vista do edifício do Colégio Americano após a conclusão das obras.
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Internato. 1924.
Sra. Etta Fern Reno cantando ao piano.
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Alunos do Colégio Americano na década de 1940.
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administrando-o de 1935 a 1967, ficando 32 anos na direção. Não há muitos relatos sobre sua gestão, mas ela foi responsável por firmar o Colégio Americano Batista na sociedade Capixaba. O período de Stange no colégio coincide com grandes mudanças na sociedade brasileira: a ascensão de Vargas ao poder (1930-1946); a redemocratização (1946-1964) e o início da Ditadura Militar (1964-1985). A década de 30 se abre com revoltas em São Paulo e a subida de Getúlio Vargas ao poder, marcando o fim de uma época política caracterizada pelo domínio dos barões do café, firmada na agricultura e iniciando no Brasil um direcionamento para a industrialização. O interesse político pela industrialização se dá pela crise de 1929, com a quebra da bolsa de Nova York, que afetou o Brasil de forma significativa, por ser um país com economia baseada em exportação de matéria prima, nesse caso o café. Qualquer crise nas grandes economias afetava esse tipo de economia. Era necessário migrar a matriz econômica da agricultura para a industrialização, realizando um movimento de substituição de importações por produção local. Além disso, existia um senso de nacionalismo muito forte no Brasil, defendendo que o país poderia crescer por si só e não dependeria de grandes potências econômicas europeias e também dos Estados Unidos, que começava a se despontar como uma nação que comandaria a ordem do século XX. Se essa era a lógica econômica para o Brasil, no Espírito Santo ainda vigorava a política baseada no Café. O estado 200
crescia, mas sem expressão no cenário nacional. Foi governado por um interventor no período da Ditadura Vargas, João Punaro Bley (1930-1943). O Estado vivia na constante expectativa pela exportação do minério de ferro que viria da região de Itabira/MG pela Estrada de Ferro Vitória a Minas e seria exportado pelos portos capixabas. No entanto havia uma grande briga política entre Minas Gerais e Espírito Santo em relação a impostos, local de implantação de uma usina siderúrgica e um impasse causado pelo sentimento nacionalista que se opunha ao projeto industrial e de exploração mineral de Percival Farquhar, americano, proprietário das minas de ferro, ferrovia e porto20. Vitória se firmava como capital e cidade relevante substituindo Cachoeiro do Itapemirim, que tinha um papel mais atuante que Vitória. No censo geral realizado em 1940, apontou que o estado tinha uma população de 750.107 pessoas, com sua economia ainda baseada na agricultura e contava somente com 537 empresas fabris. Quanto ao cenário educacional, o estado contava com 911 estabelecimentos de ensino, sendo 36 na capital. Desses, 6 estabelecimentos de ensino eram ligados a grupos religiosos, sendo 4 na capital. Dessa forma, podemos entender que os dois estabelecimentos no interior podem ser as unidades do Colégio Americano Batista de Cachoeiro do Itapemirim e de Colatina. Quanto ao número de matriculados, eram 73.290 em todo o estado e 10.662 na capital. Os dados mostram como a educação ainda não era vista como prioridade, pois das pessoas que começavam a estudar, somente 2.434 estudantes cursavam 201
o nível secundário no estado. Dessas últimas, somente 100 alunos prosseguiam para o curso superior, nas três instituições existentes para tal fim. Nesse censo, o sistema de ensino tinha as seguintes classificações: primário, secundário, doméstico, industrial, comercial, pedagógico e superior21. Dr. Alberto Stange Júnior criou no Americano os cursos Científico, Clássico, Ginasial noturno, Secretariado, Normal ou Magistério, Administração, Técnico de Contabilidade e retornou com o Jardim de Infância, extinto ainda na administração de Reno, atendendo todas as áreas da Pré-escola22. Com ele também a estrutura física do colégio cresceu, dado ao aumento no número de alunos. A essa altura, o Americano já estava estabelecido na sociedade capixaba. Nelson Rangel sucedeu Stange na direção do colégio para uma outra longa administração, característica que começava a se firmar na gestão do colégio, para um mandato que duraria 17 anos, de 1967 a 1984. Nesse período viu-se a Ditadura Militar – que era para ser breve – se firmar na gestão do país por 25 anos. Veio uma possibilidade de crescimento econômico do país baseado na indústria, conhecido por “Milagre Brasileiro”, mas que não se manteve devido a inflação, que corroeu o país posteriormente. Mas participou dos movimentos que restaurariam a democracia em 1985, com a eleição de Tancredo Neves, que presidente não foi. No ano em que começou a administrar o Americano, o Espírito Santo passava por sua pior crise econômica devido 202
Dr. Vieira da Cunha, Dr. Eurípedes Queiróz do Vale, Dr. Alberto Stange, Dr. Barros e Dr. Quintino Barbosa.
Comemoração do Cinquentenário do Colégio.
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Dr. Nelson Rangel junto a alunos do Colégio.
Em desfile de 07 de setembro a relevância que os curso técnicos tiveram no Colégio nos anos 70.
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Visita do Governador ao Colégio Americano – 1. Sr. Van Dick Nogueira da Costa, 2. Sr. Nelson Abel de Almeida, 3. Prof. Pereira Franco, 4. Pr. Almir dos Santos Gonçalves, 5. Dr. Irysson da Silva, 6. Dr. Darly Ferreira Coutinho, 7. Dr. Antônio Benedito A. Pereira, 8. José Assad, 9. Arylton Carvalinho, 10. Arthur Carlos Gerhardt Santos (Governador), 11. Dr. José Lugon, 12. Dr. Jorge Saliba, 13. Arnaldo Andrade, 14. Pr. Acel Ribeiro Soares.
Faixa celebrando a visita do Ex-Governador e ex-aluno Arthur Carlos Gerhardt Santos. 1973.
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à crise do café que abateu sobre o país com a política de erradicação dos cafezais, na tentativa de diminuir a oferta do produto e com isso gerar aumento de preço. Na década de 1950 o país alcançou sua maior produção, gerando uma crise no mercado do café com grandes perdas de preços, o que encaminhou para a política dos anos 60, mas nunca mais retornando os ganhos auferidos em décadas anteriores a de 50. No entanto, o Espírito Santo foi o estado que mais teve áreas de cafezais erradicados, representando 80% do cultivo, levando a economia a uma depressão. Um grande movimento de êxodo rural ocorreu, acarretando um crescimento populacional na Grande Vitória. A crise gerou um movimento de urgência para a recuperação econômica baseada na industrialização, implementada no governo de Christiano Dias Lopes Filho (1967-1971) que criou diversos mecanismos de incentivos fiscais. Ademais, a industrialização do Estado vinha sendo discutida desde o segundo governo de Carlos Lindenberg (1958-1961)23. Essa caminhada rumo à industrialização ficou conhecida como “Grandes Projetos Industriais”, representados pelas empresas de pelotização que foram construídas na Companhia Vale do Rio Doce (hoje Vale S/A), Samarco, Aracruz (hoje Fibria), Companhia Siderúrgica de Tubarão (hoje ArcelorMittal Tubarão), que começaram a operar no final dos anos 70 e início dos 80. Todas elas eram voltadas para a exportação de matérias primas: minério de ferro e pelotas; celulose e placas de aço. Para a movimentação de indústrias destinadas ao mercado 206
interno e de transformação, foi criado o Centro Industrial de Vitória – CIVIT – e dado incentivo para a criação de instalação de diversas empresas, na sua maioria agroindustrial, como Real Café e Frisa, dentre outros, uma forma de gerar produção interna e empregar mão de obra local. Foi criado pelo Estado o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo – BANDES –, operador desses negócios. Além disso havia o Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias – FUNDAP – mecanismo de incentivo para importação e exportação pelos portos capixabas, em vigor até os dias atuais. Devido ao crescimento econômico e as intenções de política industrial, o governo federal criou esforços para a formação de cursos profissionalizantes. Uma expressão dessa época eram os chamados “Colégios Polivalentes”, onde cursos técnicos eram oferecidos. O Colégio Americano Batista aderiu a essa oportunidade, criando cursos profissionalizantes: Desenhista Projetista; Curso Técnico de Laboratórios Médicos (depois transformado em Curso Técnico de Patologia Clínica); Técnico em Química e Curso Técnico Tradutor e Intérprete24. Além dessa área, outros enfoques foram dados. Com a criação do “Serviço de Orientação Educacional”, foi um dos primeiros a modernizar uma estrutura pedagógica, atendendo as necessidades de alunos e professores, seguindo orientação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, do Ministério da Cultura. Outra questão foi uma nova ampliação e modernização 207
Torcida do Colégio nos Jogos Escolares de 1974.
Dr. Nelson Rangel, Pr. Eli, Pr. João Brito Nogueira, Pr. Samuel Cardoso e Pr. Jubrael.
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Profa. Fanny Gonçalves Gomes.
Pr. Almir Gonçalves, observa o busto de Loren Reno, no dia de sua inauguração.
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Grupo de professores. Em destaque: Dr. Marcos Daniel Santos.
Grupo de professores.
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das estruturas do colégio, dando maior conforto aos alunos e profissionais que ali estavam. O direcionamento adotado pelo Americano de criar os cursos profissionalizantes se deparou com um contratempo, pois o governo federal parou de incentivar tais cursos em função da mudança de políticas, que diminuiu a demanda de alunos, levando o colégio a dificuldades financeiras. Em decorrência, muitos alunos mudaram de escolas. Além disso, o país começava a sentir os efeitos que a crise do petróleo causava nas economias mundiais, encerrando o próspero ciclo financeiro do Milagre Econômico. O Brasil entra na década de 1980 sem crédito, pois o mercado internacional não via com confiança os mercados latinos, não provendo empréstimos. Com a quebra do México em 1982, foi uma questão de tempo para a inflação no Brasil disparar e o país não conseguir cumprir com suas dívidas, levando-o a não pagar os credores. Sucessivos planos econômicos foram criados e sem resultado algum no controle real da inflação. No Espírito Santo as empresas dos Grandes Projetos Industriais entravam em operação, o que dava um contorno diferente para a economia capixaba. Se a década de 1980 é considerada perdida, não foi para os capixabas. No entanto, isso não quer dizer que as crises sucessivas não atingiam a economia local. O BANDES fazia investimentos locais incentivando o desenvolvimento do setor de serviços, com a criação de diversos hotéis no interior, como também o desenvolvimento do setor de rochas ornamentais, criando 211
a feira internacional do mármore e granito, além de investir no setor metalmecânico e vestuário. Dentro desse contexto, em 1984, o Pr. Derli Baiense Moreira25 assume a direção do colégio, após um ano do mandato do Dr. Marcos Daniel Santos, que era presidente do Instituto Batista de Educação de Vitória (IBEV), entidade sem fins lucrativos, mantenedora do Colégio Americano Batista, que assumiu a direção na tentativa de sanear um pouco a crise pela qual passava – advinda da manutenção dos cursos técnicos, que foram encerrados –, manter o quadro de professores, a qualidade administrativa, como também preparar a sucessão para um novo diretor. Várias pessoas foram convidadas a assumir a direção do Americano, inclusive o Pr. Derli, que já havia negado anteriormente. Nessa época ele pastoreava a Igreja Batista de Santo Antônio e também havia participado do Conselho do IBEV entre os anos de 1974 a 1979, conhecendo bem as necessidades da instituição. A primeira coisa a fazer era evitar a saída de mais alunos, que era em torno de 4000 e já beirava os 1000 alunos, e para isso era necessário um bom quadro de professores. Sendo assim, fez um acordo com eles, evitando problemas trabalhistas e conseguiu o retorno de vários outros, porque entendiam ser específico o momento. Assim, com novas campanhas publicitárias no ar e com um quadro de profissionais reconhecidos, o número de alunos voltou a crescer de forma significativa. Nessa década a única unidade era a do centro, como ficou conhecida, pois a população de Vitória ainda era concentrada na região central da cidade. 212
Pr. Derli Baiense Moreira, diretor do ColĂŠgio Americano por 21 anos.
Pr. Orivaldo P. Lopes, Dr. Marcos Daniel Santos, Prof. Ibraim Lança, Pr. Derli Baiense e Dr. Nelson Rangel.
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Com a crise do café na década de 1960 e as grandes obras industriais dos anos 70, houve um crescimento nas regiões urbanas da Grande Vitória. Com isso, outros bairros passaram a ser alvo da especulação imobiliária, como a Praia do Canto. Mesmo existindo desde 1896, era considerada uma região longe e fora de mão para morar. Mas a partir da década de 1990, a região central tinha um outro perfil, com grande quantidade de moradores deixando de residir, preferindo Jardim Camburi, Praia do Canto ou até mesmo Vila Velha. Na primeira década dos anos 2000, a expansão imobiliária foi forte, com o surgimento de novos bairros e expansão direcionada para a região norte e município da Serra. Isso levou a necessidade de um novo direcionamento do colégio que foi a abertura de novas unidades na Grande Vitória. Dessa forma, em Vitória, além do centro, passou a contar com Praia do Canto (1991); em Vila Velha, na Praia da Costa (1993); em Cariacica, no bairro Campo Grande (1995) e na Serra, em Laranjeiras (1995). Assim, pode-se ampliar o quadro de matriculados para quase 5000 alunos. Essa expansão se deu em um momento certo, pois foi antes do movimento intenso de pessoas, conseguindo pontos estratégicos para a instalação das novas unidades, mas sem os valores exorbitantes da especulação imobiliária. Os terrenos da Praia do Canto e Praia da Costa foram adquiridos da Missão Batista do Sul do Brasil e da própria Convenção Batista Capixaba, respectivamente. Pr. Derli Baiense conta que “o Colégio ganhou muita 214
fama porque a filosofia era sempre formar caráter. Eu passava isso constantemente para os professores e o Dr. Nelson, anterior a mim, fazia isso também”26. A exigência de conduta de vida era algo também exigido do corpo de professores, pois eles eram os comunicadores dos valores do Colégio. Baiense colocava sempre esses pontos no primeiro dia de trabalho dos professores: “vocês têm três missões aqui – 1º) tem que ser amigo dos alunos. Se o aluno é seu amigo, ele faz miséria para aprender e para ficar quieto. 2º) você tem que mostrar para o aluno que aquilo que ensina vale para alguma coisa, tem uma propriedade prática. 3º) Ensinar (...) você tem que ensinar ao aluno princípio de vida, porque eu não quero criar marginal. O marginal letrado é muito pior que o analfabeto. Então, eu quero preparar pessoas para a vida. É para isso que temos que dar exemplos para eles. Se você inverter isso, não funciona”. Após os anos de crise com a estabilização da economia, foi possível estabelecer novos alvos, uma vez que tornou-se possível realizar planejamentos estratégicos no Brasil. No Espírito Santo novas empresas chegavam e as grandes já instaladas estavam em expansão, causada pela melhoria da gestão e também pela privatização, como foi o caso da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) e da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Após tornarem-se privadas, estes negócios aumentaram exponencialmente. A educação continuava a ser um desafio no final do século XX, pois várias necessidades não estavam supridas, 215
Time de futebol de salĂŁo formado por professores.
Professores participando do III Congresso PedagĂłgico, realizado no ColĂŠgio Batista Mineiro, em Belo Horizonte. 1993.
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Momento do GOL (Grupo de Oração e Louvor), liderado pelo então capelão Pr. Eliomar Correa de Jesus.
Em destaque Dona Maria Toledo das Neves, tesoureira por décadas do colégio.
Sr. Arildo Vieira da Silva (Pavão), funcionário do Colégio desde 1958 até os dias atuais.
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como a continuidade dos estudos em nível superior. Nesse contexto, em 1996 foi inaugurada a Faculdade Batista de Vitória – FABAVI -, oferecendo curso de administração e direito. Com tal estratégia o IBEV alcança um novo patamar, atuando em conformidade com o momento do país, pois vários outros empreendimentos em cursos superiores foram abertos na Grande Vitória. A estruturação da FABAVI não ocorreu de um momento para outro. Uma primeira tentativa foi negada no ano de 1994. Com mudanças no Ministério da Educação no setor que homologava a permissão de instituições para curso superior, foi possível iniciar um novo processo, esse bem sucedido. Por outro lado, Pr. Derli já possuía experiência, pois iniciou a Faculdade Espírito-santense de Administração – FAESA – e também trabalhava na Faculdade de Marketing – FACMAR. Muitas pessoas que entendiam do processo de solicitação para abrir uma faculdade se tornaram voluntários no empreendimento da FABAVI. A Faculdade compartilhava o espaço dos prédios do Colégio Americano, o que gerava maior aproveitamento do imóvel e também possibilitava que diversos campus existissem na Grande Vitória, atendendo os alunos próximos às suas residências. Com o crescimento das empresas, muitas delas fizeram convênios com a FABAVI para enviar seus empregados para estudarem. Um exemplo foi a então Companhia Siderúrgica de Tubarão. Após a privatização iniciou-se um processo constante de ampliação da planta, com a instalação de 218
novas linhas de laminação – parte da usina que transforma o aço em chapas – e altos-fornos. Com o advento da automação industrial, era primordial que os empregados estudassem. Assim a empresa criou um programa de aprendizado, fazendo com que todos os funcionários completassem o ensino básico (Fundamental e Médio) e depois prosseguissem no superior. A empresa associou-se com a FABAVI para os cursos superiores e pagava parte do investimento que o funcionário tinha com estudos, isso quando não patrocinava todo o curso superior. Novamente o sistema de ensino Batista participava de uma nova fase do processo educacional do Espírito Santo27. Em julho de 2004 o Pr. Derli Baiense deixa a gestão do colégio após quase duas décadas de dedicação, assumindo em seu lugar o Pr. Jésus Silva Gonçalves. Ele havia participado do Conselho Diretor na gestão 1996/97. O foco do IBEV para a gestão era a manutenção do processo de ampliação de unidades, com vendas de alguns ativos patrimoniais para a aquisição de outros, como também mudança de localização de algumas unidades, como a de Laranjeiras, para o prédio que pertencia ao Colégio Metropolitano. Dentre elas foi vendido o prédio que Loren Reno construiu e iniciou os trabalhos da denominação e do Colégio Batista, a unidade Centro, para a Prefeitura Municipal de Vitória, para o funcionamento de uma escola municipal. Foi construída uma nova unidade que passou a ser a sede, no bairro Consolação. Em Guarapari foi aberta uma unidade, que mostrou-se ser bastante eficiente28. 219
Jésus Gonçalves administrou o colégio em um momento próspero da economia brasileira, na qual houve grande expansão da renda e uma forte mudança de condição social dos brasileiros, quando muitos passaram a integrar a “classe média”, conforme o padrão de renda do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com essa “nova classe média”, muitos brasileiros puderam realizar diversos sonhos, como comprar sua casa, carro, viajar, como também fazer um curso superior, uma vez que o país atravessa um momento de transição, onde a mão de obra qualificada e certificada com o curso superior é a porta de entrada para o mercado de trabalho do futuro. Esse movimento é crescente. O Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM –, sistema de avaliação criado no governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), passou por modificações, possibilitando que o modelo tradicional do vestibular pudesse ser alterado. Assim, várias faculdades, públicas ou privadas, puderam considerar as notas que os alunos obtiveram no exame para o ingresso no curso superior. Mesmo assim o colégio entrou em uma nova fase de crise financeira. Dessa forma, após 5 anos, em 2009, Jésus deixa o comando do Colégio quando declinou do cargo, assumindo em seu lugar, o presidente do Instituto Batista de Educação de Vitória, Pr. Josué Amorim, como rege o estatuto do mantenedor, o Instituto Batista de Educação de Vitória, assumindo a direção na vacância do cargo, seguindo propósitos de austeridade na gestão. 220
A diretoria da Convenção, que foi a mesma do IBEV, realizou uma gestão de saneamento da instituição. Como consequência, em 12/11/2010, em assembleia extraordinária, a Convenção Batista do Estado do Espírito Santo aprovou a venda do Instituo Batista de Ensino de Vitória, mantenedor do colégio e faculdade, para a Rede Doctum de Ensino. Esta decisão foi baseada na comunhão de princípios e valores que marcam a trajetória destas duas instituições tendo a Rede Doctum de Ensino assumido a gestão do instituto em 16/11/2010. Assim, quem assume a gestão é o Professor Cláudio Leitão, presidente da Rede Doctum, responsável pelo processo de incorporação das duas empresas. O leque geográfico de atuação passa a integrar dois estados, Espírito Santo e Minas Gerais. Além disso, foi adquirida pela Doctum outra faculdade em Vitória, a UNICES. As marcas FABAVI e UNICES, no âmbito das faculdades, serão substituídas pela marca “Faculdades Doctum”, enquanto os colégios da rede receberão a marca “Colégio Americano”, devido a tradição de 104 anos da instituição. Sai da nomenclatura a palavra “Batista” e fica “Colégio Americano – Sistema Americano de Ensino”. Ambas as instituições têm uma trajetória semelhante, advindas de uma base religiosa cristã, tendo a Rede Doctum origem na Sociedade Colégio Caratinga, fundada pelo Reverendo Uriel de Almeida Leitão, em 193629. A educação sempre fez parte da tradição judaica-cristã. Os judeus tinham uma cultura de erudição em função do 221
estudo da Torá. “Os meninos judeus tinham escolas desde 180 a.C., e por volta de 100 a.C, as escolas elementares eram bastante comuns”30, como apresenta o teólogo e pesquisador Rick Nañes. Jesus sabia ler e escrever e aos 12 anos, relata a Bíblia, discutia com os rabinos, conhecidos como os “Doutores da Lei” – pessoas designadas naquele período que viviam para entender e buscar significados dos escritos judaicos, o que entendiam ser a palavra de Deus revelada a eles –, causando grande impressão pela sabedoria, raciocínio e uso da sabedoria. Quando adulto Jesus ensinava as pessoas; o apóstolo Paulo fala de sua própria e excelente formação, sendo aluno de Gamaliel e educado de forma rigorosa31, além de um conhecimento profundo da cultura do seu tempo, “conhecia filosofia, literatura grega, recitava poemas antigos, falava com refinada técnica de retórica e escrevia com complexa e profunda habilidade na técnica do debate”32. O que dizer de Salomão, com seus livros de sabedoria – Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão –, ainda tão atuais. Mesmo que o Novo Testamento não relate tantos fatos diretos sobre a questão da educação, como faz o Antigo Testamento, os estudos apontam que após 50 anos da morte do Apóstolo João, existiam escolas fundamentadas no estudos do cristianismo e “por volta de 225 d.C., existiam instituições bem desenvolvidas em Alexandria, Roma, Antioquia e em outros centros populacionais significativos”, continua Nañes contando “que nas aulas, estudavam geometria, filosofia, ciência, lógica, filosofia, poesia antiga, 222
Visita do General norte-americano Loren Reno, junto com sua família em frente ao busto do seu tio-avô no colégio em Vitória. 2012.
Sede atual do Colégio Americano / Faculdades Doctum em Vitória.
223
ética, gramática e teologia. Com tal tipo de educação, o pensamento dos estudantes era aprimorado com clareza, suas convicções morais eram embasadas e a mente captava o significado e o poder da palavra de Deus”33. Vindo para o tempo mais próximo, grandes universidades surgiram pelo empenho e trabalho de pessoas cristãs e oriundas da necessidade da capacitação de líderes. Princenton foi fundada em 1796 como Colégio Nova Jersey pelo Governador Jonathan Belcher, Congregacional, a pedido dos presbiterianos que queriam promover a educação juntamente com a religião reformada. A tão conceituada Harvard, fundada em 1643 pelos reformados, que chama a atenção pela sua declaração de missão e propósito educacional: “Cada estudante deve ser simplesmente instruído e intensamente impelido a considerar corretamente que o propósito principal de sua vida e de seus estudos é conhecer a Deus e a Jesus Cristo, que é a vida eterna, (João 17.3); consequentemente, colocar a Cristo na base é o único alicerce do conhecimento sadio e do aprendizado”. Yale, fundada na década de 1640 por pastores que queriam preservar a tradição da educação cristã. Dela saíram vários presidentes e em seu alvará de funcionamento concedido em 1701 que diz: “…que [nessa escola] os jovens sejam instruídos nas artes e nas ciências, e que através das bênçãos do Todo-Poderoso sejam capacitados para o serviço público, tanto na Igreja quanto no Estado”. “Harvard, Yale e Princeton, todas estabelecidas como escolas cristãs, serviram de fonte
224
propulsora para professores nos primeiros duzentos anos ou um pouco mais [da independência dos EUA]. Os que nela se graduaram espalharam-se e tornaram-se os professores da nação, transmitindo não apenas os três “Rs”, mas também a moralidade, o caráter e o conhecimento”34. Os Batistas contam com a Dallas Baptist University, fundada em 189835, como a Baylor University, formada a partir de esforços de uma comissão de membros de um grupo Batista, que criou em 1845 tal universidade36, além de diversos seminários teológicos consagrados, muitos deles vinculados a grandes instituições de ensino. A lista se alongaria se a continuássemos. Mas ela expressa uma percepção do Pastor Derli Baiense: “esse método do Loren Reno funcionou espetacularmente bem. Eu creio na educação como elemento de evangelização. Creio mesmo. Há certas pessoas que não vão à igreja, mas foram evangelizadas dentro do Colégio. Eu tive um professor que se converteu e foi batizado na Igreja da Praia do Canto (...) tive a oportunidade de batizar vários alunos; pais de muitos alunos que se converteram em minha sala conversando comigo, pedindo desconto ou tratando de indisciplina do filho”37. “Onde quer que a mensagem de Cristo tenha penetrado, a educação metódica tem sido um dos resultados diretos”38. *** O Colégio Americano serviu de base para suportar outros trabalhos denominacionais. Um deles é o seminário 225
batista, hoje Centro de Educação Teológica Batista do Espírito Santo. Se com o colégio pode-se atingir toda uma sociedade, com o seminário construiu-se uma estrutura formal para capacitar as pessoas que queriam ser líderes em suas igrejas por meio do ensino teológico. Os seminários confessionais batistas surgiram ainda nas primeiras décadas do trabalho batista no Brasil. O primeiro deles foi criado em Recife, sendo o primeiro evangélico da América Latina, portanto, do Brasil também. Ele foi criado pelo missionário Salomão Ginsburg, no ano de 1902. Ele cria que o sucesso do crescimento do trabalho batista e do evangelho dependeria da capacitação de brasileiros para fazê-los, logo disse: “Irmãos, se o Brasil deve ser convertido, será com a participação ativa dos brasileiros. Portanto, permita-nos preparar homens, que em um futuro próximo possam ser capazes de tomar os nossos lugares”39. Em 1907 surgiram o Colégio e Seminário do Rio, mais tarde rebatizado de Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Com o passar dos anos, vários outros seminários surgiram em diversos estados do Brasil, mas esses dois continuam até os dias atuais sendo as maiores referências na formação teológica batista40. No estado do Espírito Santo pode-se imaginar que sua formação foi tardia, no entanto, é preciso considerar que até então toda a estrutura batista estava em formação. Assim, ter disponível pessoas para dar conta de um seminário na primeira metade do século não era fácil. Existia um senso de pragmatismo alto para avançar no campo missionário. 226
Sendo assim, somente em 1979 foi que surgiu um seminário capixaba. Para estudar em um seminário batista faz-se necessário que o candidato interessado – chamado vocacionado -, receba recomendação de sua igreja para tal fim. Assim ele teria que se manter ou a igreja colaborava financeiramente com seus estudos, total ou parcialmente. São Paulo, Rio de Janeiro e Campos eram as localidades que tinham seminários mais próximos e para onde as pessoas se dirigiam. Vários vocacionados ao ministério não podiam se dirigir para o Rio de Janeiro ou Campos para estudar teologia. A alternativa para esta situação era a formação de pequenos grupos de estudos teológicos para a capitação dos interessados, todavia, era uma ação sem certificação acadêmica. No Espírito Santo existiram vários grupos desses, como vimos nas ações empreendidas por Loren e Alice Reno. O Pastor Manoel de Farias criou um desses grupos de capacitação, denominado de instituto Teológico do Espírito Santo, entre os anos de 1963 a 1979, que funcionava nas dependências do Colégio Americano Batista de Vitória, no horário noturno, quando havia salas disponíveis. O objetivo do instituto era formar líderes leigos para atuarem em igrejas menores, pontos de pregação, igrejas no interior e também para dinamizar as igrejas na capital. Por problemas de saúde do Pr. Manoel, o Pr. Erasmo Maia Vieira passou a coordenar o instituto, mas devido a grande demanda, pensou em algo maior. Dada a procura constante e percebendo que viabilizava a formação de várias 227
pessoas, pensou-se na alternativa de criar um seminário ligado à Convenção Batista do Estado do Espírito Santo. Na Convenção que correu em Cachoeiro de Itapemirim no ano de 1979, o Pr. Derli Baiense Moreira fez uma proposta para sua formação, então constituiu-se uma junta para estudar a criação do seminário, da qual participou com o Pr. Erasmo41. Aprovada a sua criação, a convenção instituiu como diretor o Pr. Erasmo e como Deão o Pr. Derli. Foi constituída também uma junta administrativa, que contou com a presidência do Pr. Samuel Cardoso Machado nos cinco primeiros anos. O primeiro curso oferecido foi o de Teologia, em 1980, seguido no próximo ano de Educação Religiosa (1981), voltado para a capacitação de missionárias e por último o curso de Música Sacra (1982). Os três cursos são oferecidos até os dias atuais. Com isso, grande parte dos vocacionados puderam cursar e ao mesmo tempo atuar em suas igrejas, movimento esse indispensável somente para quem viesse do interior do estado. O curso de Música Sacra foi organizado no seminário pelo casal Almir e Berenice Rosa a pedido do Pr. Erasmo, que elaboraram toda estrutura do curso. Nessa época não existia no estado nenhum curso de formação musical voltado para preparar músicos para a igreja. Até então, algumas igrejas tinham pequenas escolas de músicas, ou as pessoas contavam com outras escolas existentes na cidade de Vitória. O seminário passou a atender músicos adventistas, presbiterianos, dentre outros, que buscavam uma 228
preparação específica. O Espírito Santo chegou a ser o estado com a maior quantidade de músicos batistas trabalhando em igrejas. O objetivo era dar conhecimento de instrumento e música, mas focava em preparar a pessoa para entender o que é a música na igreja e como utilizá-la. O curso passou a atrair pessoas de fora para estudarem no seminário42. “O seminário está firme. Hoje encontra-se pastores formados pelo CETEBES em todos os lugares do estado e fora dele, o que significa um legado que se deixa para o povo batista capixaba”43.
229
2ª Formatura de alunos do Centro Teológico Batista do Espírito Santo – CETEBES.
Pr. João Scheidegger Filho, orador da turma.
230
Pr. Gênesis Ferreira Bezerra (ao centro), diretor do Centro Teológico Batista do Espírito Santo por mais de 15 anos e grupo de professores. 2004.
Pr. Orivaldo, professor e atual diretor do Centro Teológico Batista do Espírito Santo.
231
Biblioteca do Centro Teol贸gico Batista do Esp铆rito Santo e Doctum.
232
CAPÍTULO
13
AQUI CHEGAMOS PELA FÉ
A fé é aquilo em nós que nos coloca em movimento. A fé não mobiliza Deus. A fé mobiliza o fiel1. Ed René Kivitz
Quando percorremos sobre qualquer fato da trajetória do cristianismo, desperta-me a atenção para a tese que seria muito interessante que os cristãos tivessem conhecimento do conteúdo das experiências que marcaram para sempre nosso povo, indistintamente. Isso ajudaria na nossa visão de mundo; ampliaria nossas convicções e entendimento sobre as decisões de nossa liderança pioneira; perceberíamos ações que são restritas e exclusivas ao seu tempo. Como resultado disso, talvez fôssemos mais aguerridos na vivência de nossa fé nos dias de hoje. Depois dessa caminhada em busca da construção escrita e documentada da realidade denominacional, contar a nossa história de batista capixaba é contar a trajetória de mais de um século de existência que começou nos Estados Unidos e culminou com frutos incontáveis espalhados pelo estado do Espírito Santo, que também é uma experiência de fé. A fé é um campo muito interessante. Alguns pensam somente como uma ação transcendente, mas ela é exatamente o oposto: a fé é certeza de que as coisas vão surgir como resultado de uma ação própria, movida pela entrega e dependência que temos de Deus. A demonstração da fé precisa se basear em algo materializado, porque é pela fé que as coisas surgem. Loren e Alice Reno tiveram fé crendo que era possível constituir um grupo de pessoas que se tornariam cristãs e professariam suas crenças por meio da confissão batista. Essa publicação celebra a fé de todas essas pessoas que estiveram no começo, e citando Francisco José 234
da Silva, incluímos todos aqueles primeiros que atuaram, antes da formalização do trabalho institucional. E com Loren e Alice queremos homenagear a todos que foram capacitados e, mais tarde, se juntaram a eles para formarem esse grupo chamado de Batistas do Espírito Santo. Loren e Alice são exemplos de pessoas que viveram um cristianismo relevante e deixaram um legado precioso para o nosso tempo. Eles não se enclausuraram numa esfera religiosa, mas construíram uma expressão de religiosidade que foi útil para a sociedade capixaba, independente da pessoa ser ou não de confissão batista. A constituição de um cemitério laico e do próprio Colégio Americano Batista, foram exemplos disso. Mais tarde, ele constituiu um grupo de moças para dar assistência na área de enfermagem, trabalho que até hoje existe na Primeira Igreja Batista de Vitória. Sua prova de maturidade espiritual se expressa quando utilizava todas essas ferramentas como estratégia para alcançar pessoas para Cristo. Os relatos da liderança local – governadores e demais políticos, comerciantes, dentre outros – demonstram o reconhecimento dos resultados alcançados por Loren e o fato sobre o enterro do Bispo, indica que Reno era um homem à frente do seu tempo. Alice foi uma mulher relevante em seu tempo, quando a cultura machista, típica da América Latina, era extremante forte. Ela valorizou as mulheres e deu sentido à sua condição feminina, mesmo que as questões bem comuns ao seu universo – esposa, mãe, dona de casa – ainda viessem a vigorar, mas não com um sentido de subjugo. Ela 235
mudou uma cultura religiosa que colocava a mulher em segundo plano, e fez daquelas mulheres companheiras no crescimento batista em todo estado. Ao interior do estado, levou educação para as crianças por meio de pessoas preparadas para instruí-las, como também orientou os pais a educá-las dentro dos princípios bíblicos. O casal Reno ficou conosco até a década de 1930. A partir desse momento começamos a andar com as nossas próprias pernas, mesmo recebendo ainda muitos batistas americanos que chegaram para nos apoiar. O trabalho se desenvolveu principalmente no Norte do estado e muitos líderes foram surgindo para as igrejas em formação. Os números sempre foram expressivos, mas, por característica cultural, nunca explosivos, por causa da cultura religiosa predominante, algo comum a todos os grupos religiosos e assim até os dias atuais. As dificuldades na forma de administrar a Convenção foram superadas e chegamos aos dias de hoje unificados. Podemos dizer que esse primeiro século foi o século da construção. Agora, os desafios que surgem são diferentes, não lidamos mais com a necessidade de expansão e consolidação de uma instituição, mas com os desafios que tendem a ser mais existenciais. Poucos são os traços culturais da sociedade do início do século XX comparada a do início do século XXI. Teremos que adaptar muitas coisas para contar a história dos próximos 100 anos, mas isso faz parte da próxima trajetória a ser percorrida2. Se olharmos para a história da humanidade, veremos 236
que as transformações do século XX foram profundas e rápidas. Ter consciência dessas transformações trará respostas para o nosso futuro. Em função de tantas mudanças, nossas igrejas estão se adaptando às necessidades atuais3 e nossos líderes têm buscado respostas para a manutenção de um cristianismo relevante para as pessoas4, conforme os ensinos de Loren e Alice. Nossa história nos revela uma estrutura simples – congregacionalista - e de fácil adaptabilidade para as necessidades do tempo e, como vimos por diversos prismas, os desafios são grandes mas temos as repostas na Bíblia, bastando agora apenas construir as ferramentas atuais5. Assim, fiquemos com as orientações conforme o escritor de Hebreus: vamos em frente! E, se Deus quiser, é isso o que faremos6.
237
APÊNDICE
RELAÇÃO DAS IGREJAS DA CONVENÇÃO BATISTA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO AS 100 PRIMEIRAS IGREJAS BATISTAS NO ES Igreja Batista em Alto Firme........................................................................................21/02/1903 Igreja Batista de Figueira de Santa Joana (hoje, Itarana)........................................... 24/08/1903 Primeira Igreja Batista de Vitória.................................................................................02/09/1903 Igreja Batista em Rio Novo do Sul...............................................................................18/11/1904 Igreja Batista Esperança em Pedro D’água...................................................................23/08/1905 Primeira Igreja Batista de Castelo................................................................................16/01/1909 Primeira Igreja Batista de Cachoeiro do Itapemirim....................................................17/01/1909 Primeira Igreja Batista Barra do Itapemirim................................................................09/02/1910 Igreja Batista em Córrego D’água(Aracruz)................................................................07/09/1914 Igreja Batista em Campo Novo....................................................................................12/09/1916 Primeira Igreja Batista em João Neiva.........................................................................06/09/1918 Primeira Igreja Batista em Aracruz..............................................................................09/10/1919 Igreja Batista em Mimoso do Sul.................................................................................12/12/1921 Igreja Batista em Aracuí...............................................................................................06/01/1922 Igreja Batista em Alegre...............................................................................................07/08/1922 Igreja Batista em Muqui...............................................................................................10/11/1923 Igreja Batista em Bonsucesso.......................................................................................15/11/1923 Igreja Batista em Nova Canaã......................................................................................23/04/1924 Primeira Igreja Batista em Atílio Vivácqua.................................................................21/05/1926 Igreja Batista em Barra do Sahy...................................................................................18/06/1926 Igreja Batista em Afonso Cláudio................................................................................26/09/1926 Igreja Batista de Suá....................................................................................................23/01/1927 Igreja Batista em Celina...............................................................................................16/02/1927 Igreja Batista em Jardim América................................................................................09/09/1928 Primeira Igreja Batista em Iúna....................................................................................23/09/1928 Igreja Batista em Itapina...............................................................................................25/11/1928 Igreja Batista em Apiacá..............................................................................................18/12/1928 Igreja Batista em Santo Antônio..................................................................................24/02/1929 Segunda Igreja Batista em Cachoeiro do Itapemirim..................................................23/10/1929 Primeira Igreja Batista em Aeroporto..........................................................................26/05/1930 Primeira Igreja Batista em Colatina.............................................................................27/09/1930 Primeira Igreja Batista em Vila Velha..........................................................................30/08/1931 Igreja Batista em Monte Carmelo................................................................................16/10/1931 Igreja Batista em Maruípe............................................................................................01/01/1933 Igreja Batista em Monte Hermon.................................................................................14/10/1936 Igreja Batista em Aquidabã..........................................................................................30/05/1937 Igreja Batista em Nova Esperança do Sul....................................................................17/04/1938 Igreja Batista em Parada Cristal...................................................................................18/09/1938 Primeira Igreja Batista em Pancas................................................................................20/11/1938 Igreja Batista em em São José do Calçado...................................................................28/01/1939 Igreja Batista em Itaóca................................................................................................21/05/1939 Primeira Igreja Batista em Presidente Kennedy...........................................................15/11/1939 Igreja Batista em Peniel................................................................................................07/09/1941 Primeira Igreja Batista em Laranjeiras.........................................................................29/04/1942 Primeira Igreja Batista em Mantenópolis.....................................................................29/08/1943 Igreja Batista em Monte Senir......................................................................................09/09/1945 Primeira Igreja Batista em São Mateus........................................................................04/08/1946 Igreja Batista em Muniz Freire.....................................................................................29/08/1946
239
Igreja Batista em Cachoeirinha do Itaúna....................................................................11/07/1947 Igreja Batista em Itaici.................................................................................................28/08/1947 Igreja Batista em São Torquato....................................................................................14/03/1948 Primeira Igreja Batista em Baixo Guandu....................................................................22/08/1948 Igreja Batista em Guararema........................................................................................10/10/1948 Igreja Batista em Ebenézer...........................................................................................10/10/1948 Igreja Batista em Farias................................................................................................21/04/1949 Primeira Igreja Batista em Barra de São Francisco......................................................23/08/1949 Primeira Igreja Batista em Linhares.............................................................................18/11/1949 Igreja Batista em Nova Betânia....................................................................................01/06/1950 Igreja Batista em Monte Sião.......................................................................................06/03/1951 Igreja Batista da Glória.................................................................................................07/09/1951 Igreja Batista Central de Vitória...................................................................................09/11/1952 Primeira Igreja Batista em Sião Silvano.......................................................................10/06/1953 Primeira Igreja Batista em Montanha...........................................................................20/06/1953 Igreja Batista em Nova Jerusalém................................................................................26/04/1954 Primeira Igreja Batista em São Gabriel da Palha.........................................................01/07/1954 Igreja Batista em Vila Pavão........................................................................................02/12/1954 Igreja Batista em Boa Esperança..................................................................................05/12/1954 Igreja Batista em Água Doce do Norte........................................................................12/01/1955 Igreja Batista em Nova Venécia...................................................................................24/04/1955 Igreja Batista em Anutiba.............................................................................................21/06/1955 Primeira Igreja Batista em Conceição da Barra...........................................................26/06/1955 Igreja Batista em Vila Verde.........................................................................................30/06/1955 Primeira Igreja Batista em Córrego D’Ouro................................................................15/11/1955 Igreja Batista em Ibicaba..............................................................................................04/03/1956 Igreja Batista em Conceição do Castelo.......................................................................01/05/1956 Igreja Batista em Alto Rio Novo..................................................................................01/07/1956 Igreja Batista em Cafelândia........................................................................................22/03/1957 Igreja Batista Betel em Mãe-Bá...................................................................................24/03/1957 Igreja Batista em Arariguaba........................................................................................31/05/1957 Igreja Batista em Prata dos Baianos.............................................................................03/07/1957 Primeira Igreja Batista em Guaçuí...............................................................................01/11/1957 Igreja Batista em Quinze de Novembro.......................................................................15/11/1957 Primeira Igreja Batista em Perobas..............................................................................24/11/1957 Primeira Igreja Batista em Pinheiros............................................................................15/12/1957 Igreja Batista em Piaçú.................................................................................................01/05/1958 Igreja Batista em Conduro............................................................................................29/06/1958 Igreja Batista em Cobi de Cima...................................................................................01/01/1959 Igreja Batista em Vila Paulista.....................................................................................27/08/1959 Igreja Batista em Ecoporanga.......................................................................................12/11/1959 Primeira Igreja Batista em Guarapari...........................................................................12/12/1959 Igreja Batista de Rio Preto............................................................................................17/12/1959 Primeira Igreja Batista em Cobilândia.........................................................................22/02/1960 Igreja Batista em Bom Retiro.......................................................................................14/04/1960 Primeira Igreja Batista em Cristal do Norte..................................................................25/11/1960 Primeira Igreja Batista em Pedro Canário.....................................................................25/11/1960 Primeira Igreja Batista em Campo Grande....................................................................27/02/1961 Igreja Batista em Itacibá................................................................................................16/03/1961 Primeira Igreja Batista em Vila Batista.........................................................................26/04/1961 Segunda Igreja Batista em Vila Velha..........................................................................20/01/1962 Igreja Batista em Iconha................................................................................................17/05/1963 Igreja Batista em Santo Agostinho................................................................................13/06/1963
240
QUADRO HISTÓRICO ASSEMBLEIAS APÓS A FUSÃO DAS CONVENÇÕES CAPIXABA E ESPÍRITO-SANTENSE Ano
Presidente
1965
Orivaldo Pimentel Lopes
1966/67
Orivaldo Pimentel Lopes
1967/68
Orivaldo Pimentel Lopes
1968/69
Samuel C. Machado
1969/70
Samuel C. Machado
1970/71
Addison C. M. Cintra
1971/72
Ary Machaet
1972/73
Derli Baiense Moreira
1973/74
Samuel C. Machado
1974/75
Samuel C. Machado
1975/76
Eliú Faria
1976/77
Samuel C. Machado
1977/78
Samuel C. Machado
1978/79
João Brito C. Nogueira
1979/80
Luiz Jubrael
1980/81
Luiz Jubrael
1981/82
José Borges
1982/83
José Borges
1983/84
Luiz Jubrael
1984/85
Luiz Jubrael
1985/86
Samuel C. Machado
1986/87
Samuel C. Machado
1987/88
João Brito C. Nogueira
1988/89
João Brito C. Nogueira
1989/90
Luiz Jubrael
1990/91
José Borges
1991/92
João Brito C. Nogueira
1992/93
João Brito C. Nogueira
1993/94
Dylmo Pereira Castro
1994/95
Benedito Aurora
1995/96
Roberto de Oliveira
241
1996/97
João Brito C. Nogueira
1997/98
Benedito Aurora
1998/99
Joares Mendes de Freitas
1999/00
Enilton de Souza Araújo
2000/01
Enilton de Souza Araújo
2000/02
Doronézio Pedro de Andrade
2002/03
Oliveira de Araújo
2003/04
Oliveira de Araújo
2004/05
Joel Félix da Silva
2005/06
Joel Félix da Silva
2006/07
Antônio Luís M. Ferreira
2007/08
Antônio Luís M. Ferreira
2008/09
Walter Aguiar da Silva
2009/10
Evaldo Carlos dos Santos
2010/12
Ednan dos Santos Dias da Silva
242
Lista dos programas da Junta de Ação Social Batista 2010. Programa
Objetivo
Faixa Etária/Público
Projovem Adolescente
Promover o desenvolvimento Adolescentes de 15 a 17 anos social e humano de jovens de 15 a 17 anos, através de ações socioeducativas contribuindo para a superação da situação de vulnerabilidade social.
Centro de Apoio ao Adolescente e a Criança
Oferecer ações socioeducati- Crianças e 07 a 14 anos vas, em contra-turno escolar, visando o fortalecimento dos vínculos famílias e superação da situação de vulnerabilidade social.
Projeto SAC Farol
Oferta de ações socioculturais Crianças, adolescente, jovens a comunidade local, visando o e adultos. desenvolvimento artístico da comunidade local e a inclusão social dos indivíduos em situação de vulnerabilidade social.
Centro de Apoio aos Marinheiros
Prestar assistência humanitária Marinheiros, estrangeiros, e social, integral aos marinhei- portuários, caminhoneiros e ros que aportam nos terminais taxistas. portuários da região Metropolitana, sem qualquer distinção de nacionalidade, patente, cor, sexo, credo religioso, cultura e opinião política. Promover ações de cunho preventivas em relação à exploração sexual infanto-juvenil.
Casa Lar Batista em Aribiri
Acolher em regime integral Crianças e adolescente, na faixa criança e adolescente do sexo etária de 0 a 18 anos, do sexo feminino encaminhadas pela feminino. Vara da Infância e Juventude de Vila Velha.
Casa de Acolhida Loren Reno
Acolher provisoriamente em Adolescente, na faixa etária regime integral adolescentes de 12 a 17 anos, do sexo mascudo sexo masculino encaminha- lino. dos pela Vara da Infância e Juventude de Vila Velha.
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Casa Vida Karen Brus Gray
Acolher em regime integral crianças e adolescentes encaminhados pela Vara da Infância e Juventude de Vitória.
Lar Batista Albertine Meador
Acolher em regime integral Crianças e adolescente, na faixa crianças e adolescentes enca- etária de 0 a 18 anos, do sexo minhados pela Vara da Infân- feminino. cia e Juventude de Serra.
Centro de Resgate e Promoção da Cidadania
Promover ações que visem a Jovens e adultos em situação de recuperação da dependência dependência química química.
Casa da Esperança
Apoiar pessoas que vivem com Jovens e adultos que vivem o vírus HIV/AIDS encaminha- com vírus HIV/AIDS. dos pela Rede SUS.
Índios Guaranis
Apoiar a comunidade indígena visando o fortalecimento da cultura indígena e a sustentabilidade.
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Crianças e adolescente, na faixa etária de 0 a 18 anos, de ambos os sexos, que vivem com o vírus HIV/AIDS.
Indígenas da Aldeia Três Palmeiras
NOTAS
CAPÍTULO 1 RENO, W. Alice, RENO, M. Loren. Recordações: 25 anos em Vitória, Brasil. Vitória: Convenção Batista do Estado do Espírito Santo, 2007, p. 125. 2 Romanos 12:1-2 3 OLIVEIRA, Zaqueu Moreira. Um povo chamado Batista. História e princípios. Recife: Kairós. 2010, p. 186. 4 OLIVEIRA, id. ibid., p. 156. 5 OLIVEIRA, id. ibid,. p. 162-177. 6 Foi esposada por historiadores como Thomas Crosby, que escreveu, entre 1738 e 1740, um História dos Batistas Ingleses, em quatro volumes,. Outro historiador, G. H. Orchard, escreveu, em 1855, uma História Concisa dos Batistas Estrangeiros, defendo a mesma ideia. Perfilharam o mesmo ponto de vista J. M. Cramp, professor na Nova Escócia, que publicou, em 1868, uma História Batista: Desde os Princípios até o Fim do Século XVIII e John T. Christian, professor do Instituto Bíblico, hoje Seminário Batista de New Orleans, que escreveu, em 1922, uma História dos Batistas. Adota também essa teoria um opúsculo largamente difundido no Brasil sob o título O Rastro de Sangue, da autoria de um pastor batista, J. M. Carrol. 7 OLIVEIRA, op. cit., p. 156, nota 2 8 Defendida por David Benedict, que publicou, em 1848, uma História Geral da Denominação Batista na América e em Outras Partes do Mundo: por Richard Cook, que publicou, em 1884, uma História dos Batistas em Todos os Tempos e Países; por Thomas Armitage, que publicou uma História dos Batistas, em 1889. O grande historiador batista Albert Henry Newmann concorda com essa teoria na sua História do Antipedobatismo, publicada em 1897, o mesmo acontecendo com o famoso iniciador do Cristianismo Social, o pastor e professor Walter Rauschenbusch. Ver também SCOTT, Elizabeth. Anabatistas: separate by choice, marginal by force. Disponível em <http://taborita.blogspot.com/2009/11/anabatistas-separados-por-escolha.html>. Acesso em 10 dez. 2011. 9 OLIVERIA, op. cit., p. 50, nota 3. 10 Advogam essa teoria o notável teólogo Augustus Hopkins Strong e o historiador Henry C. Vedder, professor do Seminário Teológico Crozer, na Pensilvânia, de 1894 a 1927. Em sua Breve História dos Batistas, publicada em 1907, Vedder declara que depois de 1610 temos uma sucessão ininterrupta de igrejas batistas, estabelecidas com provas documentais indubitáveis. Também adota essa teoria o mais recente e respeitado dos historiadores batistas, Robert G. Torbet, ex-presidente da Convenção Batista Americana, cujo livro História dos Batistas foi publicado em 1950, precedido de um prefácio de outro grande historiador batista, Kenneth Scott Latorette, professor da Universidade de Yale. 11 Robert Browne (1550-1633) é considerado o pai do congregacionalismo e escreve em 1580 os pontos de vista de uma igreja com governo congregacional. Os batistas são organizados sob esta perspectiva. 12 CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA. A nossa história no Brasil e no mundo. Disponível em: <http://www.batistas.com/index.php?option=com_content&view=article&id=19&I temid=12>. Acesso em 30 out. 2011. 13 Southern Baptist Church. About Us. Disponível em: http://www.sbc.net/aboutus/default. asp. Acesso em 17 dez. 2011. A convenção conta com mais de 16 milhões de membros, 42 mil igrejas, distribuídas entre EUA, Canadá, Ilhas Marianas e Caribe. Sustenta mais de 5000 missionários em 153 países. 14 O ponto de vista do Norte era a supressão drástica do sistema escravocrata. Mas a economia do Sul repousava nele e uma medida violenta poderia levar aquela região à bancarrota. O problema era nacional, mas, quanto aos batistas, talvez se possa dizer que sua opinião era bem representada no ponto de vista expresso pelo Pr. Richard Fuller, um dos líderes batistas sulistas. Dizia ele que a escravidão deveria ser abolida, mas de tal maneira que não deixasse 1
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feridas permanentes na sociedade. Exemplificava, dizendo que uma enfermidade do sangue não será curada pela amputação de um braço ou de uma perna, mas pelo tratamento interior, até o mal ser completamente debelado. Todavia, aquele era um tempo de paixões acesas, e as paixões são más conselheiras. A uma atitude radical da Sociedade de Missões, que se recusou a aceitar como missionário um dono de escravos, os batistas do Sul responderam com a fundação, em maio de 1845, em Augusta, Georgia, da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos. Muitos anos mais tarde, os batistas do norte também organizaram a Convenção Batista do Norte, que depois mudou o nome para Convenção Batista Americana e hoje se denomina “Igrejas Batistas Americanas nos Estados Unidos”. American Baptist Churches in the USA. 15 OLIVEIRA, op. cit., p. 94, nota 3.
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CAPÍTULO 2 Hebreus 11:1. Sobre os primeiros evangélicos no Brasil, ver OLIVEIRA, 2010, p. 99; SILVA, 2011; GONZALES &GONZALES, 2010, p. 277-354. 3 GONZALÉZ, L. Justo; GONZÁLEZ E. Ondina. Cristianismo na América Latina, uma história. São Paulo: Vida Nova, p. 279-280. 4 Id. Ibid., p. 286. 5 Id. ibid., p. 284. 6 CAVALCANTI, H. B. O projeto missionário protestante no Brasil do século 19: comparando a experiência Presbiteriana e Batista. Revista de Estudos da Religião. São Paulo, n. 4, 2001, p. 82. 7 Id. Ibid., p. 82. 8 Id. Ibid., p. 83. 9 Geralmente, significa direito de protetor, adquirido por quem fundou ou dotou uma igreja. Direito de conferir benefícios eclesiásticos. Nos textos historiográficos, o termo Padroado se refere ao direito de autoridade da Coroa Portuguesa a Igreja Católica, nos territórios de domínio Lusitano. Esse direito do Padroado consistiu na delegação de poderes ao Rei de Portugal, concedida pelos papas, em forma de diversas bulas papais, uma das quais uniu perpetuamente a Coroa Portuguesa à Ordem de Cristo, em 30 de dezembro de 1551. A partir de então, no Reino Português, o Rei passou a ser também o patrono e protetor da Igreja, com as seguintes obrigações e deveres: a) Zelar pelas Leis da Igreja; b) Enviar missionários evangelizadores para as terras descobertas; c) Sustentar a Igreja nestas terras. O Rei tinha também direitos do Padroado, que eram: a) Arrecadar dízimos (poder econômico); b) Apresentar os candidatos aos postos eclesiásticos, sobretudo bispos, o que lhe dava um poder político muito grande, pois, nesse caso, os bispos ficavam submetidos a ele. (FRAGOSO, 2000, p.14). Para a Igreja Católica, o equilíbrio para esse poder real era dado pela existência da Propaganda Fide, diretamente ligada à Santa Sé. Assim, muitos religiosos vinham para a Colônia por intermédio da Propaganda Fide. Ver http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_padroado3.htm 10 http://www.portalbrasil.net/religiao_protestantismo.htm 11 OLIVEIRA, Zaqueu Moreira de. Um povo chamado Batista: histórias e princípios. Kairós: Recife, 2010, p. 103. 12 SOUZA, Delane. De vitórias em Vitória: livro comemorativo dos cem anos da Primeira Igreja Batista de Vitória. Vitória: Next Nouveau, 2003, p. 17. 13 SOUZA, id. ibid., p. 18. 14 Salomão L. Ginsburg era um judeu, nascido na Polônia e criado na Alemanha e Inglaterra, que se convertera, sendo por isso completamente repudiado por sua família. Sentindo-se chamado para a pregação do evangelho, estudou alguma coisa e, apresentando-se a uma Sociedade Missionária Interdenominacional, foi enviado a Portugal. Aí começou a aprender a língua portuguesa. De Portugal veio para o Brasil e trabalhava junto com os Congregacionais. Sabendo da existência dos batistas e do início da obra batista em Pernambuco, pretendeu discutir com o missionário Zacarias Taylor. Era, entretanto, um homem sincero. Não era desses que, entrando numa polêmica, querem vencer de qualquer maneira e que mesmo derrotados não mudam seus pontos de vista. Salomão impressionou-se com os argumentos de Taylor, leu cuidadosamente seu Novo Testamento e acabou pedindo batismo ao missionário. Tornou-se, então, pregador batista e durante quase quarenta anos esteve em diversos lugares do Brasil, pregando com uma extraordinária coragem e disposição, Sua autobiografia, a que ele mesmo intitulou Um Judeu Errante no Brasil, é um dos mais impressionantes documentos acerca da vida missionária. Além de pregar, Salomão cantava e escrevia. Foi dos primeiros a terem ideia do valor da página impressa para a difusão do evangelho e a edificação dos fiéis. E foi um extraordinário tradutor de 1 2
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hinos. Suas letras, em números de mais de cem, hoje enfeixadas no Cantor Cristão, hinário dos batistas brasileiros, agradam imensamente. 15 W. E. Entzminger, homem de cultura, que tinha o grau de doutor pelo Seminário Batista de Lousville, nos Estados Unidos, foi especialmente o homem da página impressa. Além de escrever vários livros, que tiveram importância muito grande para o preparo dos fiéis naqueles tempos pioneiros, foi ele o fundador de O Jornal Batista, em 1901, e da Casa Publicadora Batista, a editora e tipografia batista que hoje é a maior tipografia evangélica da América Latina. 16 Eurico Alfredo Nelson, chamado pelos batistas “O apóstolo da Amazônia”, era sueco de nascimento, mas sua família se transferiu para os Estados Unidos quando ele era ainda muito criança. Sentindo a chama irresistível para pregar no Brasil, veio pra cá sem preparo e sem sustento garantido. Uma extraordinária inteligência supriu-lhe a falta de preparo específico e, quanto ao sustento, após os primeiros tempos difíceis, seu trabalho impressionou tanto que a Junta de Missões Estrangeiras da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos nomeou-o missionário. Trabalhou no Amazonas e Pará especialmente. Mas visitou também o Acre, o Maranhão, o Piauí e o Ceará. Foi o fundador das igrejas de Belém e de Manaus e de muitas outras na Amazônia. Dedicou quase cinquenta anos de vida à evangelização daquela região tão difícil e deixou um exemplo imorredouro de dedicação, amor e fé. 17 A esses primeiros missionários vieram juntar-se desde cedo alguns notáveis frutos de seus trabalhos de evangelização. Na Primeira Igreja do Rio, por exemplo, nos anos 1889 a 1891 converteram-se três jovens, que iriam desempenhar grande papel na história posterior do trabalho batista brasileiro. Um deles foi Tomaz Lourenço da Costa, português de nascimento, que se tornou, no Brasil, além de grande cooperador de igrejas em vários lugares, um dos propulsores da obra de Missões Estrangeiras. 18 Outro foi Teodoro Rodrigues Teixeira, filho de portugueses, nascido na Espanha e vindo muito jovem para o Brasil. Era uma pena bem dotada e durante mais de quarenta anos serviu primeiro como auxiliar, depois como redator e, finalmente como redator-chefe de O JORNAL BATISTA. Estava ao seu cargo uma seção “Perguntas e Respostas”, por meio da qual milhares de batistas brasileiros foram fielmente doutrinados. Esses dois, Tomaz costa e Teodoro Teixeira, representam bem os chamados “leigos” que tanta importância tiveram no progresso batista brasileiro. Um dos segredos do crescimento batista no Brasil está no trabalho desses leigos. Tomaz e Teodoro não eram pregadores. Mas como diáconos e professores de Escola Bíblica Dominical e no exercício de outras funções nas igrejas a que pertenceram e, sobretudo, pelo testemunho sempre presente foram grandes líderes e propulsores do trabalho. Como eles, muitos outros que não nos é possível mencionar nome por nome. 19 O terceiro jovem convertido no Rio naqueles tempos chamava-se Francisco Fulgência Soren. Esse revelou logo qualidades para a pregação. Assim, não havendo possibilidade de preparar-se devidamente no Brasil, os missionários o enviaram aos Estados Unidos. Lá estudou durante oito anos e voltou em condições de assumir o pastorado da Primeira Igreja do Rio e de exercer no Brasil uma liderança entre os batistas que durou mais de trinta anos.
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CAPÍTULO 3 RENO, Alice Wymer; RENO, Loren Marion. Recordações: vinte e cinco anos em Vitória, Brasil. Vitória: CBEES, 2007. 2 Os problemas de divisa de terras entre Espírito Santo e Minas Gerais geraram os conflitos do Contestado, cujo as divisas da Serra do Aimorés estavam em disputa entre os estados. Tais questões foram resolvidas em parte com os esforços do Sr. Carlos Lindenberg, tanto nos seus mandatos como governador quanto nos de Senador. 3 SOUZA, Delane. De vitória em Vitória: livro comemorativo dos cem anos da Primeira Igreja Batista de Vitória. Next Nouveau: Vitória, 2003, p. 20. 4 GONCALVES, Cassius. Viana em muitos olhares. Vitória: Prefeitura Municipal de Viana, 2009. 5 NAGAR, Carlos. O Estado do Espírito Santo e a imigração italiana. Vitória: Arquivo Público Estadual, 1995, p. 11. 6 José Teixeira. História do Estado do Espírito Santo. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2008, p. 394. De 36.823 pessoas livres, somente 116 eram de outra religião diferente do catolicismo. Esses dados não eram colhidos entre os escravos, que totalizavam uma população de 12.269 habitantes, totalizando no Espírito Santo 49.092 almas. 7 OLIVEIRA, id. ibid., p.413. Eram 69.813 homens; 66.184 mulheres; 93.361 solteiros; 34.705 casados; 4.931 viúvos; 132.923 brasileiros e 3074 estrangeiros. 8 OLIVEIRA, id. ibid., p. 384. 9 Modal é o termo técnico para designar as diversas opções de meios de transporte, como ferrovias, rodovias, pluvial, marítima, aéreo, etc. D. Pedro II criou um plano para ligar todo o Brasil à corte, o Rio de Janeiro. As ferrovias eram a melhor opção no período, além de ser o símbolo da modernidade e do desenvolvimento. Com o fim do império e início da República, esse plano foi mantido, todavia, modificado pelos novos governos republicanos. 10 SOUZA, op. cit., p. 21, nota 3. 11 Essa questão faz parte do entendimento e costumes da liturgia batista. Cabe a um pastor ordenado o direito da realização do batismo. No início do século XXI algumas igrejas batistas brasileiras alteraram esse costume, permitindo que os membros da igreja batizem as pessoas convertidas. Todavia, é uma minoria e essa ação não dispensa a autoridade pastoral, pelo contrário, é feito em conjunto e sob sua autorização e acompanhamento. 12 O fato de ter sido organizada a primeira igreja batista no interior se deveu, principalmente, pela ausência de Francisco Silva na capital. Por isso os dois pastores saíram de Vitória e foram ao encontro dele. O propósito da vinda destes dois pastores foi avaliar o trabalho existente, examinar Francisco Silva, visando sua consagração e organizar em igrejas os grupos que tivessem condições para isso. Todavia, a expansão do trabalho não se deu abrindo novas comunidades batistas na capital, mas se dirigiram para as necessidades do interior. 13 SOUZA, op. cit., p. 21-22, nota 3. 14 RENO, op. cit., p. 19, nota 1. 15 RENO, op. cit., p. 19, nota 1. 16 RENO, op. cit. p. 22., nota 1. 17 RENO, op. cit., p. 26-31, nota 1. 18 RENO, op. cit., p. 32, nota 1. 19 SOUZA, op. cit., p. 26, nota 3. 20 O mesmo pode-se dizer sobre os Presbiterianos. 21 BOSCH, David. J. Missão transformadora: mudanças de paradigma na Teologia da Missão. São Leopoldo: Sinodal, 2009, p. 534. 22 CAVALCANTI, H. B. O projeto missionário protestante no Brasil do século XIX: Comparando a experiência Presbiteriana e Batista. REVER: Revista de Estudos da Religião. São Paulo, n. 4, p. 62. 1
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SOUZA, op. cit., p. 26, nota 3, citando um relato do pastor Manoel de Farias em seu livro “Pelos caminhos anunciai”. 24 RENO, op. cit., p. 38, nota 1. 25 RENO, op. cit., p. 42, nota 1. 26 Provavelmente Bernardino Monteiro (1916-1920). 27 RENO, op. cit., p. 45, nota 1. 28 Ver RENO, op. cit., p. 36-38, 40, 87 nota 1; e SOUZA, op. cit., p. 26-30, nota 3. Dada a uma discussão muito em voga atualmente, aborda que os pioneiros eram pessoas que somente pensavam na estrutura eclesiástica e tinham pouca percepção da igreja enquanto organismo, pelos textos de suas memórias fica claro perceber o esclarecimento que tinham do que é a igreja – corpo de Cristo -, e a instituição que se apresenta como meio, ferramental para que a igreja possa crescer e se difundir. Ele aponta “não havia escola dominical, nem UJB, pois estas não eram organizadas no Brasil há mais de seis anos, nem Sociedade Feminina, ainda desconhecida, nem trabalho com crianças ou jovens, nunca antes pensado no Brasil naquele tempo”. É um bom esclarecimento para uma discussão do final do século XX de crítica às igrejas históricas, dizendo que se formaram dentro de um princípio institucionalizado. Essa sua fala demonstra o contrário. 29 RENO, op. cit., p. 38, nota 1. 30 SOUZA, op. cit., p. 42, nota 3. 31 O fato se deu em 1919. 32 Salmos 126: 1-3, 5-6. Nova Tradução da Bíblia na Linguagem de Hoje. 23
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CAPÍTULO 4 MATHIAS, Myrtes. Diponível para Deus. Disponível me: <http://www.ipresbiteriana.org. br/ipresbiteriana/index.php?option=com_content&view=article&id=289:disponivel-para-deus-poesia-de-myrtes-mathias&catid=36:noticias&Itemid=50>. Acesso em: 31 jan 2012. 2 LIGHTNER, Robert P. A natureza e o propósito da igreja. In: COUCH, Mal (org). Fundamentos para o século XXI: examinando os principais temas da fé crista. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 426-432. 3 A Pátria para Cristo. Rio de Janeiro, ano LXII, n. 247 , p. 26. Do poema “Semente na terra”. 4 CAVALCANTI, H. B. O projeto missionário protestante no Brasil do século XIX: Comparando a experiência Presbiteriana e Batista. REVER: Revista de Estudos da Religião. São Paulo, n. 4, p. 77; traz em nota do seu artigo a explicação sobre a organização institucional da denominação batista: “A organização dos batistas do sul [dos EUA] não é hierárquica. Cada congregação e cada membro usufrui de um alto teor de liberdade na escolha de sua fé e prática… a cooperação voluntária entre as congregações é o fundamental para a denominação. Os Batistas tem razão quando insistem em dizer que eles não são uma ‘igreja’ e sim uma denominação (…) os batistas do sul… vem da tradição de igrejas livres, cuja ênfase sectária é a da democracia local como forma de governo e da separação do fiel do mundo pecaminoso. No modelo eclesiástico batista a autoridade maior reside em cada congregação autônoma, que apoia programas da denominação de forma voluntária. As congregações elegem seus próprios clérigos e representantes para as convenções anuais, que controlam as agências da denominação. Os líderes da denominação, cientes dos limites à sua autoridade, trabalham na base do consenso e da cooperação. O trabalho é voltado para a promoção dos objetivos institucionais: sustentação dos orçamentos e do patrimônio e a conversão e arrolamento de novos fiéis” . 5 Ver CAVALCANTI, Eudes Lopes. Porque os congregacionais usam o sistema democrático de governo de igreja. Disponível em: <http://preudescavalcanti.blogspot.com/2011/05/porque-os-congregacionais-usam-o.html>. Acesso em 31 jan. 2012. (…) O Congregacionalismo está alicerçado em um dos princípios estabelecidos pela reforma protestante, que é um princípio bíblico, no caso o sacerdócio universal dos crentes. Entendiam os escritores do Novo Testamento e posteriormente os Reformadores que os crentes em Cristo compunham um sacerdócio espiritual através de Cristo para oferecer a Deus sacrifícios espirituais agradáveis a Deus. (veja Hb 13.15; 1 Pe 1.5; Ap 1.6; 5.10) e não somente para isso mas para se autogerir no cotidiano de sua vida ministerial como comunidades eclesiais que são. Consolidado o assunto à luz das Sagradas Escrituras, dissertaremos a seguir, de forma sucinta, sobre a dinâmica do governo Congregacional. 1) A Igreja de governo Congregacional tem como órgão maior as suas assembleias de membros, devidamente convocadas. As Assembleias de uma Igreja Congregacional são de três tipos: Ordinária, Extraordinária e Especial. As Assembleias Ordinárias são aquelas convocadas periodicamente para tratar dos assuntos corriqueiros da Igreja tais como relatório financeiro, movimentação da membresia, disciplina, etc. As Assembleias Extraordinárias são aquelas convocadas para tratar de assuntos urgentes que surgem no seio da Igreja. As Assembleias Especiais são aquelas convocadas para eleição de Pastores e Oficiais. 2) As Assembleias no regime Congregacional são convocadas por editais através de quadros de avisos, boletins, púlpitos, etc., com antecedência para que todos os membros saibam da realização das mesmas. Nesses editais deve constar a pauta dos assuntos que serão tratados nelas, além de dia e hora da realização da mesma. Quem deve convocar as Assembleias são aquelas pessoas que têm competência estatutária para tanto, geralmente o Pastor Titular que recebeu delegação da Assembleia para presidir a Igreja. Todos os membros da Igreja que estejam em comunhão com a mesma têm direito de participar de suas Assembleias, propondo, apoiando, discutindo o assunto e votando. 3) As Assembleias devem funcionar de forma ordeira, de acordo com as regras parlamentares 1
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de praxe. Dentro de uma Assembleia os assuntos são propostos, apoiados e votados. Se, porventura, houver empate na votação, cabe a quem preside a Assembleia decidir a questão com o seu voto. Depois dos assuntos votados, as decisões devem ser observadas por todos os membros e congregados da Igreja, pois expressa a vontade da maioria representada na Assembleia. As decisões de uma Assembleia só podem ser revogadas por outra Assembleia. 4) Dentro do sistema de governo Congregacional os Pastores, os Presbíteros, os Diáconos e os diretores dos diversos departamentos recebem autoridade da Assembleia através dos seus documentos normativos para, no âmbito de suas responsabilidades, exercerem as suas atividades. Esses líderes são submissos às assembleias de membros e fazem aquilo que ela delega para fazer. Os atos desses líderes, como dissemos, são apresentados a Igreja reunida em assembleia e conhecidos dela que os homologa ou não, ficando ao seu critério fazer isso. Ainda no governo Congregacional Os Pastores, Presbíteros e Diáconos, como dissemos, são os obreiros que recebem da assembleia da Igreja delegação, através de seus instrumentos normativos, para dirigi-la na área de suas competências. Ao Pastor da Igreja cabe a liderança maior dentro dela tanto na área espiritual como na administrativa, sendo ele o anjo da Igreja, responsável pela mesma diante de Deus, da Denominação a que pertence bem como diante do Estado Brasileiro. Os Presbíteros são os oficiais escolhidos pela Igreja, segundo ordenação do Senhor, para ajudar o Pastor no pastoreio da mesma (visitar os irmãos enfermos, orar pelos membros, instruí-los na doutrina, enfim cuidar da vida espiritual do rebanho). Os Diáconos têm a atribuição de cuidar dos crentes necessitados, de zelar pelo bom andamento do trabalho na casa do Senhor, distribuir a Ceia,... Ainda se tem numa Igreja Congregacional, a delegação de outras tarefas que são executadas pelos seus diversos departamentos que funcionam sob a orientação geral do Pastor da Igreja. A Igreja Congregacional também tem extensões que se chamam de Congregação, Ponto de Pregação e Núcleo de Oração. 5) No regime Congregacional todos os membros que estão sem restrições são convocados em dias apropriados para tomarem conhecimento dos negócios da Igreja, para aprová-los ou homologá-los. O que a Igreja decidir dentro dos critérios estabelecidos na Palavra de Deus é ratificado no céu conforme dito por nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da Igreja. “... e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” Mt 16.19. 6 RENO, W. Alice, RENO, M. Loren. Recordações: 25 anos em Vitória, Brasil. Vitória: Convenção Batista do Estado do Espírito Santo, 2007, p. 77. 7 Reno, id. Ibid., p. 110. 8 RENO, id. Ibid., p. 47-48. Alice escreveu por 19 anos e Pr. Almir por 15 anos, o que mostra a participação dos missionários capixabas dentro do processo cooperativo batista nacional. 9 RENO, id. Ibid., p. 59-60. 10 RENO, id. Ibid., p. 53-54. Reno não cita a data dos eventos que ele relata, mas fica implícito que não se trata mais dos tempos iniciais. 11 SVENSSON, Ulrich Elof. Não a nós, Senhor. Serra: [s.n], 2002, p. 74-75. 12 SVENSSON, id. Ibid, p. 124. 13 RENO, op. cit., p. 76-77, nota 6. 14 RENO, op. cit., p. 66, nota 6. 15 RENO, op. cit., p. 66, nota 6 e SOUZA, Delane. De vitórias em Vitória: livro comemorativo dos cem anos da Primeira Igreja Batista de Vitória. Next Nouveau: Vitória, 2003, p. 99-101 16 Loren Reno relata em um de seus relatórios à Richmond, nos EUA, no ano de 1914: “A Junta Estadual tem mantido as atividades do pastor, Fernando Vieira Drummond, e os evangelistas Manoel Balbino Lannes, José Gonçalves Aguiar, Henoch B. Silva, o ano todo e parte do tempo, Antônio J. Nogueira e Olinda G. Duarte. Eu continuei por todo o ano com o meu secretário, Almir dos Santos Gonçalves. A igreja em Rio Novo sustentou durante todo o ano seu evangelista-professor, Cezário N. Moraes e o grupo de crentes em Alegre tem sustentado durante parte do ano um obreiro local. Novamente eu devo testemunhar da caridosa lealdade dos homens acima mencionados.
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RENO, op. cit., p. 76, nota 6. RENO, op. cit., p. 107, nota 6. 19 Romanos 13:7-8. 20 I corĂntios 3:7 21 Atos 1:5 22 MATHIAS, Myrtes. Sementa na terra. DisponĂvel em: <http://viverlancandosementes.blogspot.com/2011/11/semente-na-terra. html>. Acesso em: 31 jan. 2012. 17 18
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CAPÍTULO 5 1 YANCEY, Philip. Alma sobrevivente: sou cristão apesar da igreja. São Paulo: Mundo cristão, 2004, p. 33. 2 OLIVEIRA, José Teixeira. História do Estado do Espírito Santo. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2008, p. 444. 3 SVENSSON, Ulrich Elof. Não a nós, Senhor. Serra: [s.n], 2002, p. 77. 4 SVENSSON, id. Ibid., p. 36. 5 SVENSSON, id. Ibid., p. 102-108. 6 SVENSSON, id. Ibid., p. 139-150. 7 As igrejas de maior expressão eram Brasil para Cristo e Assembleias de Deus. Essa começou em Belém, dentro de uma igreja Batista, ainda em 1911. Mas seu crescimento explosivo se deu a partir da década de 60, sendo o maior grupo Pentecostal do Brasil e América Latina. Sobre a história do pentecostalismo contemporâneo e suas ramificações pelo mundo, ver SYNAN, Vinson. O século do Espírito Santo: 100 anos de avivamento pentecostal e carismático. São Paulo: Vida, 2009, p. 417-419. 8 LOPES. Orivaldo Pimentel. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2011. Depoimento cedido a Cassius Gonçalves e Fhylipe Menezes Faria, out. 2011. 9 As pelotizadoras da Companhia Vale do Rio Doce (hoje Vale S.A.), Samarco, Aracruz (hoje Fíbria), Companhia Siderúrgica de Tubarão (hoje ArcelorMittal Tubarão). 10 Lucas Vasconcellos Gonçalves é músico batista, médico, compositor, membro na Igreja Batista de Aarão Reis, em Belo Horizonte.
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CAPÍTULO 6 Ezequiel 18:5 PAULA, Andriely Samanda de; MELO, José Joaquim. O pensamento de Santo Agostinho para a formação do homem cristão. In: VII Jornada de Estudos Antigos e Medievais; VI ciclo de Estudos Antigos e medievais do PR e SC. Educação, política e religiosidade. 2008. 3 UNIÃO MISSIONÁRIA DE HOMENS BATISTAS DA BAHIA. Sobre a SHB. Disponível em: <http://umhbba.blogspot.com/2010/12/tudo-que-o-homem-batista-precisa-saber.html>. Acesso em: 12 fev. 2012. 4 UNIÃO MISSIONÁRIA DE HOMENS BATISTAS DO ESPÍRITO SANTO. Livro do 22 congresso – 2010. Vitória: UMHBES, 2010, p. 9. O documento traz a lista da primeira diretoria, a saber: “Na mesma data, foram eleitos para constituir a 1ª Diretoria da UMMHBEES, os seguintes irmãos: Presidente:- Ir. Dirçon Pinto da Costa – da IB em Santa Mônica – Vila Velha; 1º Vice Presidente:- Ir, José Garcia de Oliveira – da IB da Glória – Vila Velha; 2º Vice Presidente:- Ir. Paulo Luppi Baptista – da IB da Glória – Vila Velha; 3º Vice Presidente:- Ir. José de Oliveira – IB Central de Guarapari – Guarapari; 1º Secretário – Ir: José Carlos Lima e Souza – IB em Santa Mônica – Vila Velha; 2º Secretário – Ir. Dyonísio Ruy – IB da Glória – Vila velha; 1º Tesoureiro – Ir. Gessy Hoffman – IB da Glória – Vila Velha; 2º Tesoureiro – Ir. Oséias Pereira Ricardo – PIB em Linhares – Linhares; Por ocasião desta reunião foram inscritos no Livro de Presença, 98 (noventa e oito) irmãos, que foram declarados membros fundadores da UMMBEES. 5 Funciona por meio de um modelo trazido dos EUA inspirado no escoteirismo. 6 Ver COUTINHO, Alonso. Projeto memória Convenção Batista capixaba. 2011. Depoimento concedido a Fhylipe Menezes Faria, nov. 2011 e UNIÃO DE HOMENS BATISTAS DO BRASIL. Histórico do início do trabalho de homem batistas no Brasil. Disponível em: <www.uhbb.com.br/>. Acesso em: 12 fev. 2012. 7 CORRALES FILHO, Reynaldo. Ser um homem batista. Disponível em: < http://homensbatistas-rbcosv.blogspot.com/2009/04/ser-um-homem-batista-mensagem-abaixo.html>. Acesso em 12 fev. 2012. 8 UNIÃO MISSIONÁRIA…, op. cit., nota 3. 1 2
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CAPÍTULO 7 1 RENO, Alice; RENO, Loren. Recordações: vinte e cinco anos em Vitória, Brasil. Vitória: CBEES, 2007, p. 143. 2 A discussão entre Eva e Maria está no campo da teologia e dos estudos acadêmicos sobre religião. Não é o propósito deste capítulo abrir essa discussão, mas somente expressar que ela existe. Na academia tais análises estão nas diversas linhas de pesquisa que estudam a questão de gênero, o debate entre o universo masculino versus feminino. Correntes que defendem o feminismo discutem muito tal questão centrados em passagens específicas, tanto do Velho como do Novo Testamento. No velho, o momento que a Eva recebe a sentença de seu ato e sabe que as mulheres “estarão abaixo” ou sob o comando do homem. No Novo Testamento a passagem do apóstolo Paulo que se refere ao papel da mulher, dizendo que deveriam ficar caladas. Isso vem perpassando os séculos e as conclusões dos estudos acadêmicos demonstram que a mulher cabe um papel secundário enquanto ator social. Fica uma percepção no entre linhas dos estudos que, de alguma forma, querem dizer que os meios religiosos são cegos à essa condição social e a vem perpetuando no tempo. Com os espaços alcançados pela mulher no século XX pela causa feminista, o assunto está sempre em voga. Pouco se vê um estudo, teológico e acadêmico, de pessoas cristãs que possam trazer a argumentação de forma mais centrada, pela melhor compreensão dos costumes. Ver RIBEIRO, Silvana Mota. Ser Eva e dever ser Maria: paradigmas do feminino no Cristianismo. comunicação apresentada ao IV Congresso Português de Sociologia, Universidade de Coimbra, 17-19 de Abril. Disponível em: <http://repositorium.sdum.uminho. pt/bitstream/1822/5357/1/MotaRibeiroS_EvaMaria_00.pdf>. Acesso em: 9 fev. 2012. Gênesis 2:15 a 3:22; 1 Coríntios 14:24-36. 3 Gênesis 2:15-25 4 RENO, op. cit., p. 51, nota 1 5 No meio batista é permitido o casamento ao clero formal. No processo de formação dessa liderança profissional, existe uma área que se dedica a capacitação de mulheres para o campo missionário. No Brasil, é feito pelo Instituto Batista de Educação Religiosa. A essas missionárias é permitido o casamento e é desejável que assim aconteça. No entanto, por opção pessoal, muitas dessas mulheres ficam solteiras, fato que também ocorre com os homens, mas em menor quantidade. 6 RENO, op. cit., p. 134, nota 1. 7 RENO, op. cit., p. 142-144, nota 1. 8 RENO, op. cit., p. 98, nota 1. 9 Educação religiosa proporcionada nas igrejas para as crianças, jovens e adultos. Chamam de escola dominical pelo lógico fato de funcionar somente aos domingos. 10 RENO, op. cit., p. 150-152, nota 1. 11 RENO, op. cit., p. 80-82, nota 1. 12 ALMEIDA, Bianca Daéb’s Seixas. Ser mulher Batista. Revista de Gênero e Religião. Salvador, v. 1, n. 1, p. 52, jan./jun. 2007. Muitos trabalhos com mulheres surgiram nas igrejas locais antes da formação da convenção. Essa, por sua vez, é reflexo do local, e não o contrário, pois no pensamento batista cada igreja é autônoma. 13 UNIÃO FEMININA MISSIONÁRIA BATISTA DO BRASIL. História. Disponível em: http://www.ufmbb.org.br/, acesso em: 11 fev. 2012. 14 Mesmo se organizando primeiro, as mulheres não ocupam os cargos de comando da convenção, espaço reservado aos homens. Prevalece nessa época que o comando deve ser do homem, conforme o texto bíblico. Até os dias atuais os batistas ainda têm dificuldade em ordenar pastoras, ato praticado de acordo com a decisão da igreja local, mas não significa consenso da convenção. Todavia, essa prática revela que os estudos acadêmicos têm uma compreensão correta da prática. Os espaços das mulheres foram criados para sua atuação, onde exercem seus ideiais e governança. É complementar à estrutura liderada pelos homens. Todavia, os mesmos
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estudos não avançam na compreensão que esses papéis são aceitos e que refletem a opção de estilo de vida. Não expressa subjugo, significando opressão, como alguns querem demonstrar. Ë necessário uma visão partindo de dentro para fora, para contrapor à visão de for a [ara dentro, dos acadêmicos. 15 Gálatas 3:28. 16 ALMEIDA, op. Cit., p. 57, nota 12, relata os objetivos da União Feminina nos anos 80, que eram divididos em 5 pilares: “1. Ensinar missões; 2. Orar por missões; 3. Contribuir com missões; 4. Promover a ação missionária; 5. Promover a orientação quanto a problemas específicos ao elemento feminino. 6. Promover informação a respeito do trabalho e da denominação”, expressos no manual divulgado por todo o Brasil. Bianca analisa: “é interessante observar que, com exceção do quinto objetivo, todos os outros estão diretamente ligado ao ideal missionário que é o ponto de convergência entre as mulheres batistas. Contudo, suspeitamos que no quinto objetivo, de fato, começa a se delinear não mais o ideal das mulheres batistas, mas a mulher batista ideal, ou seja, ela começa a apontar para as características necessárias a uma mulher cristã batista”. Com os novos objetivos, vê que foi ampliado o sentido de ser da “mulher batista ideal”, que não rompe com os princípios da década de 80, mas são adaptados para o perfil da mulher do século XXI. Atualmente, este tipo de estrutura é vista pelas gerações que nasceram após da década 70 como obsoleta e que não atende suas necessidades, com baixo número de adeptos. As estruturas mais contemporâneas das igrejas batistas conseguiram outras maneiras similares de suprir tais necessidades, valendo-se de outro modelo e linguagem. Assim, de forma tardia, tais modelos estão em revisão, dada que a intenção de falar para públicos necessários é uma realidade real e necessária para organizações complexas, como são as igrejas. 17 Baseada no modelo de escoteirismos norte-americano. É uma estrutura pouco adequada à realidade cultural brasileira. Durante os primeiros anos cumpriu um papel fundamental, mas depois dos anos 70 sua percepção de relevância foi alterada. Nas igrejas surgiram uniões de adolescentes, não se fazendo mais a separação de sexo e com uma linguagem mais adequada ao fim do século XX. 18
Antiga Sociedade de Crianças.
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CAPÍTULO 8 1 KRAUSKOPF, Dina. Juventude na América Latina e no Caribe: Dimensões sociais, subjetividades e estratégias de vida. In: THOMPSON, Andres A. (org.). Associando-se à juventude para construir o futuro. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 177. 2 Não há um data específica para se dizer quando é que cada uma delas começa, mas há períodos bem definidos. Alguns defendem a existência da geração Z, que seria pós anos 90. Outros dizem que a geração Y aborda essa temporalidade. 3 BEREZIN, Ricardo Zeef. Dos baby boomers às gerações X e Y: Engajamento, ousadia e inovação. In: IDG Now!. Disponível em: <http://idgnow.uol.com.br/mercado/2011/05/23/dos-baby-boomers-as-geracoes-x-e-y-engajamento-ousadia-e-inovacao/>. Acesso em: 26 mar. 2012. 4 ARIENTE, Marina; DINIZ, Marcos Vinicius Cardoso; SANTOS, Cristiane Ferreira dos; DOVIGO, Aline Aparecida. O processo evolutivo entre as gerações x, y e baby boomers. In: SEMEAD – SEMINÁRIO EM ADMINISTRAÇÃO, 16, 2011, Limeira, out. 2011. 5 ARIENTE, at. ali, id. ibid. 6 FOCO EM GERAÇOES. O que é geração Y? Disponível em: <http://www.focoemgeracoes. com.br/index.php/afinal-o-que-e-geracao-y/>. Acesso em: 26 mar. 2012. 7 ARIENTE, at. ali, op. cit., nota 4. 8 DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revista de Educação Brasileira, Belo Horizonte, n. 24, p. 43, set-nov 2003. 9 DAYRELL, id. ibid., p. 49. 10 KRAUSKOPF, op. cit., p. 177, nota 1. 11 Os dois parágrafos que seguem são baseados na compilação dos relatório de Loren Reno a respeito dos jovens para a Junta Missionária em Richmond, feita por Delane Souza. 12 JUNTA DE MOCIDADE DA CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA. Nossa história. Disponível em: http://www.juventudebatista.com.br/index.php?option=com_content&view= article&id=50&Itemid=129. Acesso em: 25 mar. 2012. 13 “A primeira diretoria da JUMOC foi: Presidente: Pr. Irland Pereira de Azevedo 1º Vice-Presidente: Prof. Raimundo de Oliveira Coelho; 2º Vice-Presidente: Pr. Silvino Carlos Figueira Neto; 1ª Secretária: Nancy Dusilek; 2º Secretário: Pr. Miguel Madeira e Silva. Galeria de Diretores Executivos da JUMOC 1. Irland Pereira de Azevedo – 1968 (presidente-executivo); 2. Agostinho Almada de Abreu – 1969 a 1975; 3. Isanias dos Santos – 1976 a 1979; 4. Silas dos Santos Vieira – 1979 a 1987; 5. Josué Campanha – 1987 a 1996; 6. Sérgio Dusilek – 1999 a 2004; 7. Fabiano Pereira – 2004 a 2008; 8. Gilciane de Oliveira – desde 2009”. Ver JUNTA DE MOCIDADE…, id. Ibid. 14 VIEIRA, Erasmo Maia. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2012. Depoimento cedido a Fhylipe Meneses Faria, nov 2011. 15 ALIANÇA BÍBLICA UNIVERSITÁRIA DO BRASIL. História. Disponível em: http://www. abub.org.br/historia. Acesso em 25 mar. 2012. A ABU surgiu no final da década de 1950. 16 VENCEDORES POR CRISTO. História. Disponível em: http://www.vpc.com.br/website/ exibe_cat.asp?conteudo_cat=25&titulo=historia. Acesso em: 25 mar. 2012. 17 SERVINDO AOS PASTORES E LÍDERES. História. Disponível me: http://www.vpc.com. br/website/exibe_cat.asp?conteudo_cat=25&titulo=historia. Acesso em: 25 mar. 2012. 18 SOUZA, Usiel C. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2011. Depoimento cedido a Cassius Gonçalves e Fhylipe Menezes Faria, 28 dez. 2011. 19 SOUZA, Id. Ibid., 2011. 20 VIEIRA, Erasmo Maia. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2012. Depoimento cedido a Fhylipe Meneses Faria, nov. 2011. 21 ROSA, Almir. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2012. Depoimento concedido a Robson Silva Ribeiro, fev. 2012.
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VIANNA, Washington. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2012. Depoimento cedido a Robson Silva Ribeiro, mar. 2012. Um análise que Vianna faz foi o fato que a convenção não conseguiu formar uma nova liderança para assumir os trabalhos nos anos 90, o que criou uma certa dispersão até que ele assumiu os trabalhos e novamente retornou uma crise institucional com a JUBAC. 23 JESUS, Eliomar Corrêa de. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2012. Depoimento cedido a Robson Silva Ribeiro, mar. 2012. 24 QUEM AMA ESPERA. O que é a campanha “quem ama espera”. Disponível em: http:// www.quemamaespera.com.br/site/index.php?option=com_content&view=frontpage&Item id=2. Acesso em 02. Abr. 2012. 25 Sérgio Pimentel de Freitas é Pastor de Jovens na Igreja Batista da Praia da Costa, em Vila Velha/ES. 26 Diego Bravim é Pastor Auxiliar da Primeira Igreja Batista de Bento Ferreira, em Vitória/ES. 27 BRAVIM, Diego. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2012. Depoimento cedido a Cassius Gonçalves, abr. 2012. 28 FREITAS, Sergio Pimentel de. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2012. Depoimento cedido a Cassius Gonçalves, 10 abr. 2011. 29 SANTOS, Evaldo Carlos dos. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2011. Depoimento cedido a Cassius Gonçalves, Fhylipe Menezes Faria e Leonardo Ribeiro de Oliveira, 27 dez. 2011. 30 SANTOS, Id, ibid. 31 SOUZA, op. cit., nota 18. 22
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CAPÍTULO 9 “Proclamar, apesar…” é título de uma das músicas de Jorge Camargo, gravado no álbum Missões & Adoração na década de 1980, pela Igreja Batista do Morumbi. 2 KIVITZ, Ed. René. Outra espiritualidade: fé, graça e resistência. São Paulo: Mundo Cristão, 2006, p. 132. 3 Conforme a mentalidade que vigorou forte até o início dos anos 80, implicava em ir para um local onde não existia um trabalho batista, mesmo que ali existisse diversas outras denominações protestantes e fosse um lugar que com acesso ao evangelho. 4 KLITZKE, Luiz Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2012. Depoimento cedido a Leonardo Oliveira e Robson Silva Ribeiro, mar. 2012. Secretário Executivo da Convenção Batista do Espírito Santo. 5 KLITZKE, id. ibid., mar. 2012. 6 Mateus 28:19-20 - Portanto, vão a todos os povos do mundo e façam com que sejam meus seguidores, batizando esses seguidores em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a obedecer a tudo o que tenho ordenado a vocês. E lembrem disto: eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos. 7 Mateus 28:19-20. 8 Ver KIVITZ, op. cit., 19-71, nota 2. 9 Kivitz, op cit., p. 36, nota 2. 1
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CAPÍTULO 10 1 ROSA, Almir. Projeto memória Convenção Batista. 2012. Depoimento concedido a Robson Silva Ribeiro, fev. 2012. 2 TURNER, Steve. Cristianismo Criativo? Uma visão sobre o cristianismo e as artes. São Paulo: W4, 2009. 3 Título de sua autobiografia. 4 O hinário oficial batista é o Cantor Cristão, o primeiro deles. No final da década de 1990 um outro hinário foi compilado, denominado de Hinário para o Culto Cristão, incorporando composições de brasileiros, principalmente feitas após a década de 1970. Semelhando ao Cantor Cristão, existe a Harpa Cristã para as Assembleias de Deus; o Novo Cântico para os Presbiterianos, dentre outros. Essas músicas são reflexos de um tempo, mas, para muitos, tornaram-se “sagradas” no imaginário das pessoas mais antigas. No caso das assembleias de Deus, vem impresso no seu hinário: “a verdadeira música sacra”, como aponta a pesquisadora Denise Frederico. 5 FREDERICO, Denise. A música na igreja evangélica brasileira. Rio de Janeiro: MK Editora, 2007, p. 29. 6 I Pedro 2:1-9. 7 FREDERICO, op. cit., p. 29-30, nota 3. “Lutero defendeu três tipo de culto. Um deles, ainda seria realizado na língua latina, naquelas igrejas de maior porte, onde havia jovens que pudessem ser treinados nesse idioma, para que fossem a outros lugares como pregadores do evangelho. Para as igrejas menores, de lugares periféricos, passou a usar o alemão língua nativa, para que tudo fosse entendido pelo povo. Havia ainda um culto “menos elaborado”, feito em local não público nas casas. Era um culto bastante informal”. 8 Esse período fértil em composições ficou conhecido como Vitoriano. 9 FREDERICO, op. cit., p. 35, nota 5. 10 FREDERICO, op. cit., p. 21 cita: “James White identificou nove tradições litúrgicas protestantes: luteranas, reformadas, anabatistas, anglicanas (século 16), separatistas, puritanas e quacres (século 17), metodista (século (18), protestantes americanos de fronteira (que tinham características de cultos conversionistas, século 19) e pentecostais (sécilo20).” Ver WHITE, James F. Introdução ao culto cristão. São Leopoldo: Sinodal, 1997. 11 NAÑES, Rick. Pentecostal de coração e mente: um chamado ao dom divino do intelecto. São Paulo: Vida, 2007, p. 157. O conceito “igreja popular” é usado por Rick Nañes citando HATCH, Nathan O. The democratization of American Christianity. New Haven: Yale University Press, 1889, p. 4, 10. 12 NAÑES, id. Ibid., p. 152. 13 O jornalista Zuenir Ventura escreveu um livro retratando os fatos que ocorreram no Brasil e no mundo no conturbado ano de 1968. 14 Jorge Camargo, Jorge Redher, João Alexandre, Nelson Bomilcar, Sérgio Pimenta, Janires, Guilherme Kerr, Adhemar de Campos, Fernandinho, dentre tantos outros. 15 FREDERICO, op. cit., p. 173, nota 5. 16 FREDERICO, op. cit., p. 173, nota 5. 17 NASSAU, Rolando. Ministros de música batistas. Disponível em: http://www.abordo.com. br/nassau/galeria.htm. Acesso em: 28 jan. 2012. 18 Muitas igrejas abriram escolas de músicas para capacitar os próprios membros, mas também eram abertas ao público de outras igrejas ou de pessoas que não professavam à fé evangélica. 19 RENO, W. Alice, RENO, M. Loren. Recordações: 25 anos em Vitória, Brasil. Vitória: Convenção Batista do Estado do Espírito Santo, 2007, p. 55-56. 20 ROSA, op. cit., 2012, nota 1. 21 ARAÚJO, Alzira M. Bittencourt. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2011. Depoimento cedido a Cassius Gonçalves e Fhylipe Mnezes Faria, 29 dez. 2011. 22 ROSA, op. cit., 2012, nota 1.
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As informações que seguem sobre o Jesus Vida Verão são baseadas no depoimento do pastor da Igreja Batista da Praia da Costa, Evaldo Santos. SANTOS, Evaldo Carlos dos. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2011. Depoimento cedido a Cassius Gonçalves, Fhylipe Faria e Leonardo Ribeiro de Oliveira. 27 dez. 2011. Ver também http://www.jesusvidaverao. com.br/evento.asp 23 As informações que seguem sobre A Árvore que Canta são baseadas no depoimento com Alzira Araújo, ministra de música da Primeira Igreja Batista de Vitória, idealizadora e produtora do evento. Ela e o Pastor Oliveira são os líderes da igreja. 22
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CAPÍTULO 11 1 Trecho de uma de suas reflexões diárias, intitulada “Dignidade”, número 210, que são apresentadas em seu canal do You Tube. http://www.youtube.com/user/edrenekivitz. 2 REGA, Lourenço Stênio. Por outra história da igreja na América Latina. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, p. 11. 3 REGA, id. Ibid., p. 23. 4 PRAHALAD. C. K. A riqueza na base da pirâmide: erradicando a pobreza com lucro. Porto Alegre: bookman, 2010, p. xii-ix. 5 YUNUS, Muhamad. Building a Social business: the new kind of capitalism that serves humanity’s most pressing needs. New York: Public Affairs, 2010, p. xiii-ix 6 Veja o depoimento de Jessica em http://www.ted.com/talks/jessica_jackley_poverty_money_ and_love.html. Veja também o site de sua organziação: www.kiva.org. 7 O que segue sobre seu pensamento neste texto é baseado em sua fala no The Global Leadership Summit 2008, realizada pela igreja Willow Creek, palestra intitulada “Coragem para fazer justiça”. Veja o site da organização: www.ijm.org 8 João 3:16 9 Sobre justiça: Eclesiastes 4:1; Salmos 11; Miquéias 6:8; Isaías 1:17 10 JUNTA DE AÇÃO SOCIAL BATISTA DA CONVENÇÃO BATISTA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Estatuto. Vitória: JASB-CBEES, 2011, f. 1. 11 Setor que organiza e reúne as instituições sem finalidades econômicas. Elas podem atuar para fins próprios, como um clube esportivo, ou para fins sociais, como é o caso da Junta de Ação Social Batista. Ver o estudo sobre o terceiro no Espírito Santo de GONCALVES, Cassius. Uma análise do terceiro setor no município de Cariacica. 2011. 121 f. Monografia (especialização em administração) – Programa de Pós-graduação em Administração, Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças – FUCAPE. 12 Ed René Kivitz graduado em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo; pastor presidente da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo; autor de Quebrando paradigmas (Abba Press), Vivendo com propósitos, Outra Espiritualidade e O livro mais mal humorado da Bíblia (Mundo Cristão); idealizador do Fórum Cristão de Profissionais. Ver. www.edrenekivitz.com/bio 13 KIVITZ, Ed. René. Meu = seu. São Paulo: 2011. Talmidim. Disponível em: <http://www.youtube.com/user/edrenekivitz#p/u/8/WjSVWjTLCU8>. Acesso em: 26 set. 2011. 14 KIVITZ, Ed. René. Miserável. São Paulo: 2011. Talmidim. Disponível em: <http://www.youtube.com/user/edrenekivitz#p/u/6/SAy1atOz_E4>. Acesso em: 26 set. 2011. 15 KIVITZ, id. Ibid. 16 KIVITZ, id. Ibid. 17 KIVITZ, id. Ibid. 18 KIVITZ, Ed. René. Próximo. São Paulo: 2011. Talmidim. Disponível em: <http://www.youtube.com/user/edrenekivitz#p/u/9/wfWmZkRP9EA>. Acesso em: 26 set. 2011. 19 KIVITZ, Ed. René. Religião. São Paulo: 2011. Talmidim. Disponível em: <http://www.youtube.com/user/edrenekivitz#p/u/7/_djqhLuUqrg>. Acesso em: 26 set. 2011. 20 KIVITZ, Ed. René. Dignidade. São Paulo: 2011. Talmidim. Disponível em <http://www.youtube.com/user/edrenekivitz#p/u/5/CdKiJ0tYoew>. Acesso em 26 set. 2011. 21 KIVITZ, id ibid.
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CAPÍTULO 12 RENO, W. Alice, RENO, M. Loren. Recordações: 25 anos em Vitória, Brasil. Vitória: Convenção Batista do Estado do Espírito Santo, 2007. 2 SILVA, Irysson da. 90 anos de vitórias em Vitória. Vitória: Instituto Batista de Educação de Vitória. 1997, p. 10. 3 Até o início da República a igreja Católica fazia parte da composição do Império brasileiro, tendo direito a um ministério. Assim, ela resguardava seus interesses. Na época de D. Pedro II um novo acordo foi feito com o Vaticano, chamado de Padroado, onde o imperador tinha direito sobre os bens da igreja, suprindo suas despesas. No entanto, o governo não repassava esse dinheiro, deixando a estrutura da Igreja Católica bem debilitada no final do século XIX. Todavia, isso não impedia que ela exercesse grande influência na sociedade brasileira. 4 Baseado no lema de Augusto Comte: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por meta”. 5 Ver BERGOZZA, Roseli Maria. História da educação, uma forma de aprender. Conjectura: filosofia e educação. Disponível em: <www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/ view/27/26>. Acesso em 29 nov. 2011. Ver também: TANURI, L. M. Contribuição para o estudo da Escola Normal no Brasil. Pesquisa e planejamento. São Paulo, v.13, dez.1970, p. 7-98.; VILLELA, H. O. S. . A primeira Escola Normal do Brasil. In: Clarice Nunes. (Org.). O passado sempre presente. São Paulo: Cortez, 1992, p. 17-42. Disponível em: < http://www. histedbr.fae.unicamp.br/navegando/glossario/verb_c_escola_normal_no_brasil.ht. > Acesso em: 29 nov. 2011. 6 Roseli Bergozza citando um trecho de SOUZA, Rosa Fátima de. História da organização do trabalho escolar e do currículo no século XX: ensino primário e secundário no Brasil. São Paulo: Cortez, 2008. 319 p. Bergozza apresenta uma estatística do ano de fundação do Colégio Americano Batista, 1907, sobre o Ensino Secundário: 373 unidades escolares, 172 para sexo masculino e 77 para sexo feminino. 30426 matriculados, sendo 23413 do sexo masculino, o que reflete a sociedade machista da Primeira República Brasileira. 7 A literatura sobre a trajetória do Colégio Americano Batista é curta, inclusive, necessita de mais estudos de caráter acadêmico para avaliar e mensurar melhor o impacto que o colégio exerceu no sistema de ensino do estado e, principalmente, na capital. Isso é certo, todavia ainda pouco avaliado. Pode-se contar somente com duas memórias, a do próprio Loren Reno – RENO, W. Alice, RENO, M. Loren. Recordações: 25 anos em Vitória, Brasil. Vitória: Convenção Batista do Estado do Espírito Santo, 2007 – e a de Irysson da Silva, que escreveu sobre os 90 anos do colégio – SILVA, Irysson da. 90 anos de vitórias em Vitória. Vitória: Instituto Batista de Educação de Vitória. 1997. – Dada a escassez, ambas são relevantes, pois guardaram bem a memória do início, mas não nos apresentam uma correlação da evolução educacional do estado, nem análises sistêmicas e criteriosas, exatamente pelo seu caráter de “memória”. Nenhum desses dois relatos dizem sobre o processo burocrático de formação do colégio, se foi necessário solicitar ao Governo do Estado permissão para o seu funcionamento. Todavia, vale a pensar uma pesquisa apurada no Arquivo Público do Espírito Santo para verificar a existência (ou não) dessa documentação, uma vez que tal permissão vinha da esfera estadual. 8 Ver CARVALHO, Carlos Henrique. Educação, religião e República: repercussões dos debates entre católicos e republicanos no triângulo mineiro – MG (1892-1931). Disponível em: < http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_frames/artigo_027.html>. Acesso em: 29 nov. 2011. Carvalho faz um estudo no interior de Minas Gerais para verificar se em cidades interioranas também havia absorvido o discurso da educação no início da vida republicana e avalia a reação católica ao processo dos ideiais liberais e laicizantes que passaram a ser difundidos. Em boa hora vale a nota sobre como a Igreja Católica estabelece a relação com as pessoas e com o Estado: “O Estado, para os Católicos, está para as pessoa e não a pessoa para o Estado. A razão de ser do Estado é a de vir ao encontro das necessidades do indivíduo e da 1
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família, por si só insuficientes para atender todas as solicitações do bem comum. Nesse sentido, deve-se submeter a Igreja, pois os interesse da ordem espiritual superam os da ordem temporal. Para esse grupo, mesmo que a religião católica não seja a oficial do Estado, ela se constitui na religião nacional, em razão do Brasil ter nascido, crescido e educado sob a égide do cristianismo”. Cf. ATAHYDE, Tristão. Debates pedagógicos. Rio de Janeiro: Schmidt Editor, 1931, p. 19. 9 SILVA, op. cit., p. 58-59, nota 2. 10 Ver o artigo de MAGALHÃES, Lívia Diana Rocha. Educação na Primeira República. Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/artigos_frames/artigo_057. html>. Acesso em: 29 nov. 2011. 11 RENO, op. cit., p. 88, nota 1. 12 RENO, op. cit., p. 89, nota 1. Provavelmente deve ser Bernardino Monteiro (1916-1920), irmão de Jerônimo Monteiro. Loren Reno não é preciso em informar os períodos nos quais os fatos ocorreram. É recorrente expressões equivalentes a “no ano passado”, mas sem condições de precisar que ano é esse. Assim, por uma leitura mais atenciosa e buscando fazer uma junção dos fatos, é possível fazer uma inferência da data. Mas vale a nota de FARIAS. Manoel Antônio. Pelos caminhos anunciai. Vitória: Lineart, 1991, p. 40: “A propriedade da casa que hospedou as meninas, tornando-se assim o primeiro internato do Colégio Americano, era D. Adelaide Bastos de Brito. Este fato ocorreu em 1914, sete anos depois do início do colégio. Em 1918, o internato foi transferido para a Av. Schimidt, ao lado da residência do Casal Reno e, depois para a Chácara Batista, na encosta do Morro Moscoso. O internato masculino ficava numa casa ao lado do feminino, mas todos os alunos, professores e funcionários e o casal Reno faziam as refeições juntos, na mesma mesa. O sonho de Loren Reno era que a cada igreja Batista do Estado tivesse uma escola anexa filiada ao Colégio Americano Batista de Vitória”. Segundo Irysson Silva, na página 24 de seu livro sobre o Colégio Americano, a compra das casas e do terreno ocorreu em 1919. 13 RENO, op. cit., p. 89, nota 1. 14 SILVA, op. cit., p. 24, nota 2. 15 Existia uma grande perspectiva de crescimento econômico do vale do Rio Doce, que era visto como uma área próspera desde os tempos da colônia. A Estrada de Ferro Vitória a Minas foi o instrumento que viabilizou essa visão após centenas de séculos. Para quem tem interesse de entender melhor essa questão, sugere-se o livro sobre os 50 anos da Vale - CVRD. CVRD: 50 anos. Rio de Janeiro: CVRD, 1992. - e a biografia de Percival Farqhuar, viabilizador do projeto de extração de minério de ferro que foi implementado depois da criação da Cia. Vale do Rio Doce, em 1942 - GAULD, A. Charles. Farqhuar - O último titã. São Paulo: Editora de Cultura, 2006 -. Também tem a obra que retrata a trajetória da Vitória a Minas que, o contrário do que muitos pensam, ela surgiu em 1902, primeiro que a Vale, que é de 1942, como citado: D’ALESSIO, Vito; GONÇALVES, Cassius. Vitória a Minas. Rio Doce... terra proibida. São Paulo: Dialeto, 2010. 16 RENO, op. cit., p. 94, nota 1. 17 Esse conceito de alcançar pessoas não-cristãs pode ser ampliado para também não-batistas, conforme a visão de CAVALCANTI, H. B. O Projeto Missionário Protestante no Brasil do Século 19: Comparando a Experiência Presbiteriana e Batista. Revistas de Estudos da Religião. n. 4, 2001, p. 61-93, onde defende o conceito de “mercado aberto”: “As missões norte-americanas, por outro lado, adotam um modelo de ‘mercado aberto de missões’ onde várias igrejas diferentes competiriam pela adesão voluntária dos fiéis. 18 SILVA, op. cit., p. 62, nota 2. 19 SILVA, op. cit., p. 62-63, nota 2. 20 Ver D’ALESSIO, Vito; GONÇALVES, Cassius. Vitória a Minas. Rio Doce... terra proibida. São Paulo: Dialeto, 2010. 21 OLIVEIRA, José Teixeira de. História do Estado do Espírito Santo. 3 ed. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, Secretaria de Cultura do Estado do Espírito Santo, 2008, p. 469.
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OLIVEIRA, id. Ibid,. p. 469. SILVA, op. cit., p. 33, nota 2. 24 SANTOS, Arthur Carlos Gerhardt. Projeto Memória Viva CST. 2004. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, Carolina Júlia Pinto. Vitória, 12 fev. 2004. 25 SILVA, op. cit., p. 43, nota 2 26 MOREIRA, Derli Baiense. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2011. Depoimento concedido a Cassius Gonçalves, out. 2011. 26 Ibid., out. 2011. 27 Ver RIBEIRO, Francisco Aurélio. Companhia Siderúrgica de Tubarão: a história de uma empresa. Serra: CST, 2004. A pesquisa história dessa obra foi feita por Cassius Gonçalves, Carolina Júlia, Davidson Nicchio e Taís Santos. Os estudos de Ensino Fundamental e Médio realizados em parceria com o SESI, devido ao programa de Educação de Jovens e Adultos que existe na instituição. Todos os empregados da CST completaram os ensinos básicos, partindo para o curso superior. Quem já possuía nível universitário era incentivado a prosseguir em pós-graduações, em todos os níveis. O caso interessante dessa cultura de aprendizado foi a influência dentro das casas dos colaboradores, pois suas esposas solicitaram à empresa que permitissem que elas também estudassem. A permissão foi dada e muitas delas também terminaram seus estudos. A consequência foi o crescimento intelectual da família, que passou a se estruturar de forma mais eficaz pelo entendimento melhor da vida. A CST, por sua vez, entendia que qualquer tipo de formação que o empregado escolhesse, seja na área de negócio ou fora (teatro, por exemplo) era importante para o colaborador, pois isso contribuía para ampliar sua visão de mundo e ele tornava-se produtivamente melhor pelo conhecimento adquirido e reconhecimento recebido. Ao se formar, bastava levar o diploma de conclusão do curso no departamento de Recursos Humanos que o aumento no salário vinha na folha do mês seguinte. Os depoimentos dos funcionários podem ser conferidos na empresa, no Centro de Informações Técnicas da empresa. 28 A unidade do centro representou uma perda histórica, pois era a representação física do trabalho Batista no Espírito Santo. O lote adquirido para construção da unidade de Jardim Camburi e a unidade da Praia da Canto foram vendidos. A unidade em Laranjeiras foi trocada pelo prédio do Colégio Metropolitano, na mesma avenida, além da construção de uma nova sede próximo à Avenida Vitória. 29 COLÉGIO INTEGRADO DE CARATINGA. Quem somos. Disponível em: http://www. doctum.com.br:8080/portal/ensino-medio-e-fundamental/colegio-caratinga/quem-somos. Acesso em: 7 dez. 2011. 30 NAÑES, Rick. Pentecostal de coração e mente. São Paulo: Vida, 2007, p. 243. 31 Atos 22:2-3 32 NAÑES, id. Ibid., p. 244, nota 30. 33 NAÑES, id. Ibid., p. 246, nota 30 34 LAHAYE, Tim. A batalha espiritual pela alma do ocidente. In: COUCH, Mal (org). Fundamentos para o século XXI: examinando os principais temas da fé crista. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 511-525. “[N.T – Reading, ‘riting, ‘rithmetc’’ – forma descontraída de referir-se aos ensinamentos básicos de uma escola: leitura, escrita e matemática], mas também a moralidade, o caráter e o conhecimento bíblico”. 35 DALLAS BAPTIST UNIVERSITY. The history. Disponível em: http://www3.dbu.edu/ about/history.asp. Acesso em 8 dez. 2011. 36 BAYLOR UNIVERSITY. About Baylor. Disponível em: http://www.baylor.edu/about/index.php?id=48921. Acesso em 8 de. 2011. 37 MOREIRA, op. cit., nota 24. 38 NAÑES, op. cit., p. 247, nota 30 39 SEMINÁRIO TEOLÓGICO BATISTA DO NORTE DO BRASIL. História. Disponível em: <http://www.stbnb.com.br/site/historia/>. Acesso em 26 fev. 2012. 40 SEMINÁRIO TEOLOGICO BATISTA DO SUL DO BRASIL. Quem somos. Disponível 22 23
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em: < http://www.fabat.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=75&Ite mid=97&limitstart=1>. Acesso em: 26 fev. 2012. 41 Sobre a formação do Colégio Americano, ouvir os depoimentos de MOREIRA, op. cit., nota 24 e VIEIRA, Erasmo Maia. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2011. Depoimento concedido a Fhylipe Menezes Faria, nov. 2011. Ver também CONVENÇÃO BATISTA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Quem somos CETEBES. Disponível em: http://www. batistas-es.org.br/index.php/quem-somos-cetebes. Acesso em 28 fev. 2012. Os diretores e presidentes da junta administrativa do seminário ao longo do tempo foram: “Além dos pastores Erasmo e Derli, seus primeiros dirigentes o CETEBES foi dirigido pelos Pastores: Edson Raposo Belchior (1989-1992); Lázaro Santos Tavares (1992), Ozeni Correia (1992), Gênesis Ferreira Bezerra (1993-2009); Herodiel Mendes Bastos (2010) e atualmente Orivaldo Pimentel Lopes (desde 2011). A Junta Administrativa do CETEBES, em sua história, teve os seguintes Presidentes: Pastores Samuel Cardoso Machado (1984-1989); Sérgio Leandro da Silva (1989-1990); Lázaro Santos Tavares (1990-1993); Roberto Oliveira (1993-1994); Nilson Santana (19941995); Mozaniell Silva do Nascimento (1996-1997); Edson Nogueira Leite (1997-1999); Benedito Aurora (2000-2001); Joaquim Silva (2001-2002), Luciano Estevam Gomes (2002-2003); Evaldo Carlos dos Santos (2003-2005); Charles Álamo de Souza (2005-2006);Juracy Lemos (2006-2008); Marlos Rangel Gallo (2009-2010); Ednam Santos Dias da Silva (2010-2012)”. 42 ROSA, Almir. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2012. Depoimento concedido a Robson Silva Ribeiro, fev. 2012. 43 VIEIRA, id. Ibid., 2012.
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CAPÍTULO 13 1 KIVITZ, Ed René. Outra espiritualidade: fé graça e resistência. São Paulo: Mundo Cristão, 2006, p. 143. 2 VIEIRA, Erasmo Maia. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2012. Depoimento cedido a Fhylipe Meneses Faria, nov. 2011. 3 SANTOS, Evaldo Carlos dos. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2011. Depoimento cedido a Cassius Gonçalves, Fhylipe Menezes Faria e Leonardo Ribeiro de Oliveira, 27 dez. 2011. 4 SOUZA, Usiel C. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2011. Depoimento cedido a Cassius Gonçalves e Fhylipe Menezes Faria, 28 dez. 2011. 5 VIANNA, Washington. Projeto memória Convenção Batista Capixaba. 2012. Depoimento cedido a Robson Silva Ribeiro, mar. 2012. 6 Hebreus 6:3.
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