A repressão amansa e o amor educa

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A repressão amansa... AMANSA

REPRESSÃO

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AMOR

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A linguagem, a reflexão é para a Família Salesiana. Como Dom Bosco nestes 200 anos se tornou universal, sua espiritualidade está ao alcance de todos. Pe. Jacy Cogo

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O escrito não tem nenhuma ordem: nem lógica, nem cronológica, nem metodológica. Cada capítulo é uma história à parte. Foi utilizada a obra de Teresio Bosco Dom Bosco, una biografia nuova, para dar suporte às historinhas aqui narradas. São retratadas as atitudes de Dom Bosco diante de seus jovens alunos e educadores.

EDUCA EDUCA AMOR REPRESSÃOAMANSA EDUCA AMOR

A repressão amansa... e o amor educa - O amor educativo em Dom Bosco

Este livrinho foi publicado em julho de 1983, pelo padre Décio Zandonade, então vice-inspetor da Inspetoria São João Bosco, para que as comunidades educativas tivessem um instrumento de trabalho ao mesmo tempo fácil e popular. Não chega a ser um livro sobre o Sistema Preventivo de Dom Bosco, mas traz o essencial dele. Em 1883, ajudou a preparar o Primeiro Centenário da chegada dos salesianos ao Brasil. Agora volta para celebrar o Segundo Centenário do Nascimento de Dom Bosco.

AMOR

Pe. Jacy Côgo

...e o amor educa

Pe. Jacy Côgo

O amor educativo em Dom Bosco


Pe. Jacy Cogo

A repress達o amansa... e o amor educa O amor educativo em Dom Bosco

De cada crian巽a fez um ser humano, pelo amor e o trabalho diligente, o santo amigo, o santo irm達o da gente, Jo達o Bosco, luz acesa no futuro. Carlos Drummond de Andrade

2015



EXPEDIENTE Copyright 2015. Pe. Jacy Cogo Todos os direitos reservados. Capa Pe. Rogério Calvi Vinicius Vacari Diagramação Vinicius Vacari Revisão Lilian Moreira Nicolau Campedelli Thaíse Madeira Valentim Produção: Daniel Halim Sahb Maria Luiza Damiani Nicolau Campedelli Coimbra Vinicius Rossi Vacari



SUMÁRIO 1. Introdução - a você que é aluno salesiano.....................07 2. Não com pancadas............................................................13 3. Refletindo sobre o sonho dos 9 anos...............................17 4. Começar logo.....................................................................19 5. Você sabe assobiar?...........................................................22 6. Garellis e mais Garellis ou o oratório ambulante..........26 7. Carregado em triunfo........................................................29 8. Roubei dois pães...............................................................32 9. Não posso pagar o colégio................................................35 10. Miguel, o terrível..............................................................38 11. Educar com o coração.......................................................44 12. Carta de São João Bosco sobre o estado do Oratório....49

1ª Parte - 1º Sonho - Para os Educadores..................................51

O Oratório antes de 1870............................................................51

O Oratório em 1884.....................................................................52

Amor manifesto e maduro.........................................................53

Os educadores, alma do recreio.................................................54

Amorevolezza..............................................................................56

O educador, tudo para todos.....................................................57

2ª Parte - 2º Sonho - Para os educandos....................................59

13. Conclusão: Voltem os dias de afeto e da confiança.......63

Refletindo sobre a carta de 1884................................................64

Dom Bosco falando......................................................................65

14. Sugestões...........................................................................69 Ballet..............................................................................................72

Teatro de Fantoches.....................................................................75

Compor uma canção...................................................................76

Uma série de slides......................................................................76

15. Dom Bosco: Um Santo da atualidade............................77


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O amor educativo em Dom Bosco

APRESENTAÇÃO Deu-lhe Deus uma sabedoria e uma prudência tão grandes que somadas à grandeza de seu coração eram mais vastas do que as areias das praias do mar... não deu passo, não pronunciou palavra, nada empreendeu que não visasse à salvação da juventude... Realmente tinha a peito somente a salvação dos jovens... a ele e à sua dedicada paixão pelos jovens vai aqui este livrinho como preito de gratidão de toda a família salesiana. (Miguel Rua)

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1. INTRODUÇÃO A VOCÊ QUE É ALUNO SALESIANO 9


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O colégio em que você está estudando não é um colégio qualquer. Não foi fundado por alguém que um dia resolveu abrir um colégio para ensinar matemática, português e outras matérias. Muito menos apareceu para ganhar dinheiro. O prédio grande e os muitos recursos que você vê tiveram uma origem humilde, numa casinha pobre e esburacada, num lugar muito longe, num tempo em que colégio era coisa muito rara. Quem começou tudo não foi um empresário de muito dinheiro, mas um santo. Foi São João Bosco, cuja única preocupação era a salvação das almas, através da prática da religião, da honestidade e do amor. Quem mandou fazer tudo isso foi o próprio Deus e Nossa Senhora, num sonho que você vai ver neste livrinho. Talvez você custará a acreditar, mas é a pura verdade: o colégio no qual você está agora estudando, brincando, rezando, começou sem livro, dinheiro, sem sala de aula. Tudo começou com umas aulas de catecismo dadas no meio dos pastos, perto da cidade de Turim, na Itália. No começo, eram poucos meninos. Depois foram aumentando. Os donos dos pastos não queriam ver aqueles quase 400 meninos estragando o capim e arrebentando cercas. Dom Bosco ficou em apertos. Tinha que arrumar um lugar que fosse dele e dos meninos. Acabou comprando um telheiro velho de uma casa chamada Pinnardi. Não tinha dinheiro. Pediu esmolas, de cá e de lá. Afinal, todo mundo via que aquele padre tirava os meninos da rua e os punha no bom caminho, então ajudavam. Havia quem dava o pão, quem dava o leite, quem dava o dinheiro. Dom Bosco nem tinha pagado as dívidas e já foi ampliando o telheiro. Fez mais salas. Mas a primeira coisa que fez foi uma capelinha para a gurizada rezar. Depois fez dormitórios, oficinas. Chegou a ter uma das tipografias mais modernas da época. Foi comprando mais terreno e fazendo mais prédios e recolhendo mais meninos. Só meninos pobres, que não tinham aonde ir. 10


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Entre aqueles meninos foram aparecendo alguns que ajudavam a tomar conta dos outros. Apareceram aqueles que queriam ser padres, como Dom Bosco. Apareceram meninos santos, como Domingos Sávio, Francisco Besucco, Miguel Magone. Um dia, um ministro do governo de Turim aconselhou Dom Bosco a fundar uma congregação para cuidar dos jovens, como ele fazia. Dom Bosco gostou da ideia. Conversou com o Papa Pio lX. O Papa apoiou. Aliás, era preciso mesmo, porque aquele lugar já não bastava. Era preciso abrir outras oficinas e colégios em outros lugares. Todos os bispos pediam a Dom Bosco para abrir obras em suas dioceses. Lá daquele pardieiro do Pinnardi já tinham saído centenas de padres. Dom Bosco os mandava abrir colégios e oficinas em outros lugares. Até na França já havia colégios. Em 1875, Dom Bosco mandou um grupo de seus salesianos para a Argentina. Em 1883, começaram aqui no Brasil, em Niterói. Faz mais de cem anos, portanto, que os salesianos trabalham no Brasil. Começaram aqui do mesmo jeito que Dom Bosco começou lá. Ganharam uma casa velha lá em Niterói. Quando chegaram, não tinham chave. Pularam pela janela. Não tinham o que comer. Uma família vizinha lhes levou queijo e rapadura. Gente que não gostava de padres começou a atacá-los nos jornais. Não se importaram. Trabalhavam para Deus, e Deus daria jeito. E deu mesmo. Depois de 100 anos de trabalho, nem tem conta o número de alunos formados nas mais de quinhentas obras que o salesianos e salesianas fundaram cá e lá, em quase todos os estados do Brasil. Isso, sem falar nas confissões, comunhões, palestras, páscoas e tanta coisa mais que fizeram. Os colégios imensos que você vê em Niterói, Vitória, Brasília, Goiânia, São João del-Rei e em todos os outros estados têm um segredo. Não vieram dos homens, mas de Deus. 11


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Dom Bosco, que começou tudo isso, inventou um novo jeito de educar: o jeito da bondade, do amor, da amizade profunda ao jovem. Aí esta o segredo. O jovem é como uma flor. Tem que ser tratado com carinho. Uma palavra amiga, um sorriso valem muito mais do que um castigo. “A gente pega mais mosquito com uma colherzinha de mel do que com um barril de vinagre”, dizia ele, citando São Francisco de Sales. Aliás, Dom Bosco escolheu este santo para padroeiro de sua congregação, porque é o santo da doçura e da mansidão. É por isso que a nossa congregação se chama SALESIANA: vem de Sales, sobrenome de São Francisco, o santo bispo que, com sua bondade, conquistou os protestantes do Chablais, na Suíça. Agora você entende por que os salesianos e professores do seu colégio fazem questão de acolhê-los bem? É por isso que neste colégio você não vê ninguém macambuzo, tristonho, cara fechada. É questão de herança paterna. Caras fechadas e nariz torcido afastam o jovem. Dom Bosco queria que o jovem se sentisse bem e em sua casa, quando entrasse no colégio. Um jovem triste é um triste jovem, dizia ele. É por isso aí. Neste livrinho você vai ver como Dom Bosco tratava o jovem. São alguns exemplos. É assim que você deve ser tratado no colégio. Leia, veja, compare e cobre. Você vai ajudar o seu colégio a ser sempre mais sua casa.

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2. Nテグ COM PANCADAS

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Foi Deus e Nossa Senhora que ensinaram a Dom Bosco o jeito especial de lidar com o jovem. Foi num sonho que ele teve aos nove anos de idade. Vou contar com as palavras dele mesmo: Sonhei que me encontrava num pátio imenso, onde brincava uma molecada. Alguns riam, outros brincavam e muitos blasfemavam. Quando ouvi as blasfêmias, pulei no meio deles e comecei a distribuir socos e pontapés para fazê-los calar a boca. No meio daquela chuva de pancadas, vi um senhor muito respeitoso vestido com uma túnica muito bonita. Seu rosto era tão brilhante que eu mal conseguia olhar para ele. Ele chamoume pelo nome e me mandou guiar aqueles meninos, dando-me o seguinte conselho: não é com pancadas, mas com bondade e amor que você deve conquistar os corações destes seus amigos. Comece logo lhes dando uma aula de catecismo sobre a feiura do pecado e a beleza da virtude. Meio apavorado, disse-lhe que eu era um menino pobre, ignorante e sem nenhuma condição de falar àqueles meninos encapetados. Vi, então, que aqueles meninos começaram a se ajuntar ao redor daquele senhor, criei coragem e lhe perguntei: - Quem é o senhor que me manda fazer coisas impossíveis? - Justamente porque estas coisas lhe parecem impossíveis é que você deverá torná-las possíveis com obediência e adquirindo ciência. - Mas onde, de que jeito eu posso adquirir ciência? - Eu lhe darei a mestra. Com a ajuda dela, você se tornará sábio. Sem ela, toda ciência se torna burrice. - Mas quem é o senhor para me falar deste modo? - Eu sou o filho daquela que sua mãe lhe ensinou a saudar três vezes ao dia. - Minha mãe também me ensinou a não dar confiança à pessoa que não conheço. Faça o favor de dizer-me seu nome! - Pergunte meu nome à minha mãe! Vi, então, ao seu lado uma linda senhora, vestida com 14


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um manto muito brilhante. Parecia que o manto era coberto de estrelas. Quando ela percebeu meu apavoramento, chamou-me, tomou-me pela mão e com grande bondade me disse: - Olha! Quando olhei, vi que aquela molecada tinha sumido e no lugar deles vi um montão de cabritos, cachorros, gatos, ursos, onças e um punhado de outros bichos ferozes. - Este é o campo em que você deve trabalhar! Torna-se humilde, forte e cheio de coragem; o que você está vendo agora acontecer com estes animais, você deverá fazer para os meus filhos. Olhei ao meu redor e vi que no lugar daqueles animais estava um rebanho de cordeirinhos muito mansos, que pulavam e faziam festa para o senhor e a senhora. Comecei, então, a chorar e pedi a ela que me explicasse aquilo, porque não estava entendendo nada. Então, ela me pôs a mão na cabeça e me disse: - A seu tempo você vai compreender tudo isso. Um barulho me acordou. Fiquei apavorado. Minhas mãos estavam doloridas pelos socos que dera; e meu rosto, doendo pelas pancadas recebidas. Aquele personagem, aquela senhora e as palavras ouvidas me ocuparam de tal forma a cabeça que não consegui mais dormir. De manhã, contei o sonho aos meus irmãos, que acharam muita graça. Depois o contei à minha mãe e à minha avó. Cada um dava uma interpretação. Meu irmão José disse que eu ia ser pastor de ovelhas e de outros animais. Antônio, muito seco, interpretou: - Você vai é ser chefe de bandidos. Minha mãe profetizou: - Quem sabe você não vai ser padre? Minha avó, que sabia muita teologia, mesmo sendo analfabeta, concluiu: - Não se deve dar importância a sonhos. Eu era do parecer da minha avó. O certo é que nunca mais 15


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esqueci aquele sonho! ” Uma coisa é certa: naquele sonho, Nosso Senhor e Nossa Senhora mostraram a Dom Bosco o que ele deveria fazer com os jovens (transformá-los de animais ferozes em mansos cordeirinhos) e como ele deveria fazer (não com pancadas, mas com a bondade). Estava decidido como Dom Bosco e os salesianos deveriam educar.

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3. REFLETINDO SOBRE O SONHO DOS 9 ANOS 17


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-Encenar o sonho -Dar-lhe também atualidade. Ex.: Os meninos que brigam envolvidos em drogas, filhos de pais violentos, meninos favelados, famintos, violentados... 1) Como você pensa Dom Bosco educando hoje? 2) O que você entende por Sistema Preventivo? 3) Por que existe tanta violência? 4) Como vencê-la? 5) Como transformar jovem (gente) faminto, sem cultura em gente boa? 6) Os jovens são tratados com carinho em sua escola ? E em sua casa? 7) Como reage alguém que não recebeu carinho em sua educação? 8) Dom Bosco foi um sonhador ou alguém que vislumbrou um ideal, levando-o adiante? Explique sua resposta. 9) Comente a reação da família diante do sonho. 10) Como a sociedade responde aos anseios dos jovens? 11) Analisar canções relacionadas com a mensagem. 12) Qual a importância de Dom Bosco para a educação? 13) Qual a origem de tantas agressões e violência nas escolas, família, sociedade, etc.? 14) Por que Dom Bosco deu tanta importância à presença de Nossa Senhora no seu sistema de educação ?

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4. COMEÇAR LOGO 19


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Dom Bosco não esperou se ordenar padre para pôr em prática o sonho que teve. Sonhou aos nove anos e aos dez começou seu apostolado. Vivia arranjando jeito de divertir seus companheiros. Com dez anos de idade, começou uma espécie de Oratório Festivo.* Assim conta ele: “Eu era ainda pequeno e já observava o caráter de meus companheiros. Bastava olhar no rosto de algum deles que eu já adivinhava seus pensamentos. Por isso os meninos de minha idade gostavam muito de mim e me respeitavam. Era eu que apartava suas brigas e decidia o que o grupo iria fazer. Até meninos maiores e mais fortes que eu me respeitavam. Todos me aceitavam como juiz em suas discussões. Era eu que dava a última palavra. Mas o que mais divertia a turma e a fazia vibrar eram as histórias que lhes contava. Eu mal sabia ler, mas todos corriam para ouvir as leituras de historietas que eu arranjava para eles. Isso eu fazia no meio do pasto, na estrada, em qualquer lugar. No tempo do frio, eu lia as histórias dentro do curral de boi e até os adultos ficavam lá cinco ou seis horas escutando e aplaudindo. Como eu era pequeno, subia num banquinho. Antes e depois das reuniões, fazia com que todo mundo fizesse o sinal da cruz e rezasse uma Ave Maria”. Mas não ficou só nisso. Aprendera com os charlatães, palhaços de circo, mágicos, toda espécie de truques e brincadeiras e mágicas. Reunia a turma, rezava com eles, explicava como ele sabia o catecismo, repetia a eles o que havia escutado no sermão do padre e depois se transformava em mago, palhaço de circo, divertindo a turma. E não tinha conversa não. Quem não participava da missa ou tivesse blasfemado era cortado: primeiro Deus, depois o resto. Aí está. O pátio de seu colégio, as bolas, os torneios, as diversões têm sempre um sentido: fazer você chegar mais perto de Deus e do seu próximo. É por isso que Dom Bosco queria 20

*(NOTA: Dom Bosco começou a congregação não com colégio, mas com o Oratório Festivo. Reunia a gurizada aos domingos, dava-lhes uma aula de catecismo, celebrava a missa e os divertia com brinquedos que já existiam na época e com outros que ele inventava. Isso o dia todo. À noitinha, os meninos voltavam às suas casas).


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pátio animado, menino alegre, promoção de todo tipo. É o jeito mais jovem de participar da vida. Deus não sabe o que fazer de gata morta, de gente que não participa. Não deixe de dar sua contribuição para o canto, para a oração, para o esporte, para o trabalho. É você que faz o colégio vibrar com sua vibração.

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5. VOCÊ SABE ASSOBIAR? 22


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Desde os dez anos, Dom Bosco começou a lidar com os coleguinhas de sua idade. E nunca parou. Quando foi estudar em Chieri, fundou a Sociedade da Alegria. Passeios, divertimentos, confissão, comunhão, era o programa da sociedade. Quando foi para o seminário, seus companheiros continuaram a procurá-lo para liderar seus movimentos. Durante as férias, divertia seus companheiros com toda espécie de atrações. No fim de tudo, levava-os para rezar. Mas foi depois de padre que Dom Bosco começou o que depois viria a ser a Congregação Salesiana. Foi no dia 8 de dezembro de 1841, na sacristia da Igreja de São Francisco de Assis, em Turim, Itália. Dom Bosco estava vestindo os paramentos, para começar a missa. Era naquele tempo em que o padre tinha que vestir uma porção de roupa para celebrar uma missa. Enquanto ele vestia aquela roupa toda, um menino muito molambado entrou na sacristia. Coitado, estava fugindo do frio. Lá, em dezembro, faz um frio danado. Caçou um cantinho mais quente e foi ficando por ali. Mas o sacristão, sujeito brabo e rabugento, estava procurando alguém para ajudar a missa. Foi quente para cima do garoto: - Vamos, ajude na missa! - Não sei! Disse o garoto, sem pensar nas consequências de sua ignorância. - Se não sabe, o que veio fazer aqui? E já foi pegando num cabo de vassoura. O garoto correu e ele bateu atrás. Por falta de sorte, a porta estava fechada. Tomou umas boas vassouradas até achar um beco para sair. Quando ouviu aquela pancadaria, Dom Bosco entrou no meio: - Que é isso? Por que bater assim no garoto? Que mal ele fez? - Vem fazer o que na sacristia, se não sabe ajudar na missa! - Você fez mal. 23


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- O que tem o senhor a ver com isso? - Muito! Aquele menino é meu amigo. Vá chamá-lo depressa, que eu preciso falar com ele! Com muito custo, o sacristão conseguiu trazer o garoto de volta. Claro, gato escaldado tem medo de água fria: - Você já assistiu à missa? Perguntou-lhe Dom Bosco, com todo o carinho. - Não, respondeu. - Vem então assistir, que depois terei um papo com você. Depois da missa, Dom Bosco conversou com o garoto: - Como você se chama? - Bartolomeu Garelli. - De onde você é? - De Asti. - Tem pai? - Não. - E sua mãe? - Também não. - Quantos anos você tem? - Dezesseis anos. - Sabe ler e escrever? - Não sei nada. Você sabe cantar? Assobiar? O garoto sorriu. Daqueles sorrisos de dente falhado, mas cheio da felicidade. - Assobiar eu sei. Dom Bosco chegou aonde queria. Fez o garoto sorrir. Naquele sorriso foram esquecidas as pancadas do sacristão. Nunca um padre tinha gasto tanto tempo com ele. - Já fez a primeira comunhão? - Ainda não. - Você já se confessou? - Sim, mas quando eu era pequeno. 24


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- Está indo ao catecismo? -Não tenho coragem. - Por quê? - Porque meus companheiros que são pequenos sabem o catecismo e eu, deste tamanho, não sei nada. Por isso fico acanhado de ficar junto com eles. - E se eu desse catecismo só para você, você viria? - Viria com prazer. - Aqui mesmo? - Aqui mesmo, contanto que aquele sacristão não me bata mais. - Pode ficar tranquilo, que ninguém vai bater em você. Agora é comigo. Quando poderíamos começar? - Quando o senhor quiser. - Hoje à tarde? - Pode ser. - E por que não agora mesmo? - É o senhor que manda. Dom Bosco ensinou-lhe o sinal da cruz. Rezou com ele uma Ave Maria. Deu-lhe uma aula de catecismo e pediu-lhe que no domingo seguinte trouxesse os seus colegas. Foi assim que começou a Congregação Salesiana. Com o sorriso de um garoto que só sabia assobiar e um padre que soube valorizar o seu assobio.

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6. GARELLIS E MAIS GARELLIS OU O ORATÓRIO AMBULANTE 26


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Bartolomeu Garelli cumpriu a promessa. Também pudera! Para ele, órfão de pai e mãe, que trabalhava de servente de pedreiro para não morrer de fome; para ele que não tinha ninguém na vida, encontrar um padre amigo como aquele valia a pena. Fez propaganda entre os colegas. Mal sabia ele que dali estava nascendo uma grande Congregação de educadores. No domingo seguinte, foi com outros oito colegas. Não foram à igreja. Foram procurar Dom Bosco. A cada domingo aumentava o grupo. Lugar não havia para aquela garotada toda. Mas havia o amigo, o pai que eles não tinham. Valia mais do que tudo. Andavam pelos campos, passeavam, jogavam. O teto era o céu e a quadra eram os pastos. Na igreja mais próxima, Dom Bosco os confessava, ensinava o catecismo. Celebrava a missa e lhes dava um pão e alguma coisa e mais brinquedos. Dom Bosco só queria que eles fossem bons cristãos e honestos cidadãos. Lugar, ele arranjava para todo mundo. Um dia, um garoto chamado Paulo, também servente de pedreiro, resolveu acompanhar a turma de Dom Bosco. Ficou assim, meio de longe. Na missa, ficou lá no fundo, vendo em que ia dar aquilo tudo. Depois da missa, Dom Bosco distribuiu a merenda, que naquele dia estava mais rica. Até café tinha. Paulinho ficou de longe. Pensou que o café e o pão era só pra quem tivesse confessado e comungado. Mas que ele estava com fome, estava. No meio daquele barulho todo, Dom Bosco manjou o problema dele. Chegou perto e disse: - Como você se chama? - Paulinho. - Já tomou café? -Não, senhor, porque não me confessei nem comunguei. -Mas e daí? Quem é que te disse que para tomar café é preciso comungar? - O que precisa, então? - Apetite. 27


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Levou o rapaz, deu-lhe a merenda. Comeu com boca boa o pão e a fruta. Acompanhou o Oratório durante muitos anos. Nunca ninguém o tratara tão bem; muito menos um padre. Num outro dia, enquanto os meninos brincavam, Dom Bosco viu um rapazinho de seus 15 anos, de rosto tristonho, que observava os meninos brincando. Dom Bosco chegou perto e o chamou: - Vem brincar também! De onde você é? Qual o seu nome? O garoto não respondeu. Dom Bosco insistiu: - Mas o que você tem? Está doente? - Estou com fome. O pão já tinha acabado. Dom Bosco mandou um menino buscar um pão na casa vizinha e o deixou comer sossegado. Depois o garoto mesmo desabafou: - Sou sapateiro, mas o patrão me mandou embora porque não trabalho direito. Minha família ficou no interior. Passei a noite na escadaria da Catedral e hoje de manhã a fome me impelia a roubar. Mas tive medo. Tentei pedir esmolas, mas me jogavam na cara: - Vai trabalhar vagabundo, que você está forte ainda. Depois ouvi o barulho dos garotos e vim até aqui. - Escuta, por hoje, até amanhã, eu lhe quebro o galho. Amanhã vamos procurar um patrão e você vai ver que ele vai fichar você. Eu terei um prazer enorme em ter você aqui nos dias de festa. Aí está o segredo de Dom Bosco. Atender o jovem bem, quebrar-lhe qualquer galho, a qualquer momento. Ali a gente entende por que a garotada o procurava como as moscas procuram o mel.

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7. CARREGADO EM TRIUNFO 29


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Você já viu muitas vezes a finalíssima de um campeonato Nacional. No fim do jogo, a torcida entra em campo e carrega os campeões. É o gesto de vibração e gratidão da torcida. Carrega o craque que lhe deu a alegria e a festa da vitória. Isso já acontecia com Dom Bosco. A gente costuma imaginar o santo como uma espécie de anjo, que não tem fome, não tem sede, não se cansa. Pois é justamente o contrário. Os santos foram os grandes sofredores do mundo. Aquela garotada toda era a razão de viver de Dom Bosco, mas lhe custava um sacrifício e uma canseira danada. Durante a semana, ele rodava a cidade inteira arranjando emprego para os garotos e os visitando em seu local de trabalho. Pedia comida para poder alimentá-los no domingo: pão, fruta, salame e outras coisas. E os brinquedos? Quando estragavam, ele os consertava ou arranjava outros. E não era pouca coisa não. Eram 400 meninos, quase todos bastante encapetados. No meio daquela algazarra toda, Dom Bosco fazia questão de atender todo mundo que precisasse. Era uma luta. O domingo começava cedo, às seis horas da manhã. Confessava quase todo mundo, celebrava a missa, dava catecismo, distribuía a merenda, corria e brincava com os meninos. Depois tinha benção do Santíssimo, pregação e mais confissões. Nem tinha tempo para almoçar e descansar um pouco. Simplesmente não tinha jeito. Chegava ao fim do dia morto de cansado. Mas a turma percebia isso. Dom Bosco era, para eles, alguém muito especial. Para não dizer que estou inventando, vou citar as palavras do próprio Dom Bosco: “Quando estava anoitecendo, a gente se reunia na capela para as orações da noite, que terminavam com um canto. Depois, no pátio, era a cena alegre da despedida. Ao sair da Igreja, a turma ficava por ali, não querendo ir embora. Eu tinha que mandá-los: vão embora, senão seus parentes vão 30


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ficar preocupados! Era inútil. Eu tinha que deixá-los se reunir, e aí seis garotos dos mais fortes faziam uma cadeira com os braços e eu tinha que me assentar. Se organizavam em fila e um barulho infernal e muita alegria chegavam até a entrada da cidade. Ali cantávamos um canto. A turma fazia silêncio profundo, esperando que eu lhes desse o “boa noite”. Só então é que me desciam do trono. Cada um ia para suas casas e alguns dos mais crescidos me acompanhavam até minha casa, onde chegava quase morto de cansaço”. Não era para menos. Você hoje tem seu clube, sua televisão, sua casa. No final do domingo, está tudo ajeitadinho para você. Mas a rapaziada de Dom Bosco, não. Uma boa parte daqueles meninos ia dormir debaixo das pontes de Turim. No dia seguinte, era o serviço duro de servente de pedreiro, carregador, engraxate, limpador de chaminés. Muitos não tinham nem família, viviam de esmola de parentes. Só tinham um conforto na vida: a presença daquele padre amigo que os procurava, tratavaos bem, arranjava-lhes trabalho. O trabalho duro da semana era alimentado com uma esperança que não morria nunca: domingo vai ter Oratório; domingo vai ter Dom Bosco.

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8. ROUBEI DOIS PテウS 32


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“A fruta do vizinho é sempre mais gostosa”, é a filosofia de todo garoto vivo. Entre 100 meninos, 99 já saltaram muros e cercas para roubar do vizinho. E é mais gostosa mesmo. Quantos de nós já tivemos que passar debaixo de fios de arame, mesmo sem caber, quando tivemos um cachorro atrás? Até tiro de sal nas pernas, muito moleque já teve. Até hoje, lá em Cachoeira, tem gente que rouba bombom do diretor e do assistente e bolo no refeitório dos padres. Coisa de criança, que é logo descoberta e perdoada. Depois de andar para baixo e para cima com seus guris, Dom Bosco comprou o telheiro do Sr. Pinnardi. Ampliou-o, fez dormitórios, oficinas de todo tipo. Virou um internato de muitos alunos. A turma recebia seu pão e ia para o trabalho. Quem não tinha casa em Turim voltava para dormir no Oratório. Um dia tocou o sino e a turma saiu correndo das aulas e das oficinas. Era hora da merenda. Dois padeiros tinham colocado quatro cestões de pães num canto do pátio, e a turma fez fila. Aquelas filas emboladas que geralmente dão briga, porque um quer furar a fila. “Um pão só para cada um!” Gritavam os encarregados da distribuição. Francisco Piccolo, garotinho de 11 anos, tinha chegado naqueles dias ao oratório. Estava com uma fome danada e entrou na fila. Já ficou matutando consigo mesmo que um pão só era pouco para sua muita fome. Ao menos dois, pensava ele. Olho vivo na cesta, percebeu que alguns meninos pegavam o pão, voltavam ao rabo da fila e conseguiam até três pães e ninguém manjava a jogada. O Chiquinho não perdeu tempo. Conseguiu seu segundo pão, se escondeu atrás de uma coluna e comeu com uma boca gostosa pacas. Mas como era garoto de consciência limpa, o Chiquinho sentiu remorso: “Roubei e amanhã vou comungar? Vou confessar-me. Mas o seu confessor era Dom Bosco e o menino gostava tanto dele, que não queria que soubesse que ele tinha roubado. 33


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Ia ficar chateado. E agora? Meio despistado, o Chiquinho correu até a Igreja mais próxima para se confessar com outro padre. Era o jeito. Muito esperto, procurou um confessionário bem escondido, lá num canto escuro da igreja. Ajoelhou-se e foi dizendo logo: - Vim confessar-me aqui porque tenho vergonha de me confessar com Dom Bosco. -Pode falar sem medo. Dom Bosco não vai ficar sabendo de nada. Era a voz de Dom Bosco. Chiquinho suava frio de susto. Diacho, pensou, Dom Bosco estava no Oratório agorinha mesmo! Será milagre? Mas não era milagre, não. Haviam chamado Dom Bosco para atender confissões naquela Igreja e o Chiquinho, muito sem sorte, foi dar justamente com ele. - Fale, Chiquinho, o que foi? Chiquinho tremia que nem vara verde. -Roubei dois pães. -E te deu dor de barriga? -Não! -E daí o que é que tem? Você estava com fome? -Estava. -Ora, Chiquinho, fome de pão e sede de água é sempre coisa boa. Olha, quando você precisar de qualquer coisa, peça a Dom Bosco que ele lhe dá. Dom Bosco prefere a sua confiança a se enganar, pensando que você é inocente. Lembre-se bem, Chiquinho: a riqueza de Dom Bosco é a confiança de seus filhos. O Chiquinho não esperava por essa. Saiu aliviado. Mais leve do que pena ao vento. Resolveu nunca mais deixar o Oratório. Ficou com Dom Bosco, ordenou-se padre. Foi diretor e inspetor das obras salesianas na Sicília, no sul da Itália. Morreu em 1930. Quem saiu ganhando com aquele pão roubado foi ele... Dom Bosco. Chiquinho roubou, mas saiu ganhando muito mais que outro pão. Imagine agora, se fosse um desses padres carrancudos que achasse ruim porque um garoto roubou o pão? 34


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9. NÃO POSSO PAGAR O COLÉGIO 35


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É o problema de um montão de jovens. Não estudam porque não têm dinheiro para pagar o colégio, condução e livros. E é difícil mesmo. Sempre foi. À medida que o oratório foi crescendo, Dom Bosco cobrava uma pensãozinha muito mixuruca daqueles que podiam pagar alguma coisa. Muitos pais mandavam seus filhos para estudar com Dom Bosco porque ele dava uma formação religiosa muito boa para os garotos. Aliás, isso acontece até hoje. Você estuda num colégio salesiano porque o seu pai acredita que você será mais bem formado. E tem razão. O nome do garoto era Eusébio Calvi. Andava preocupado porque seus pais não estavam mais podendo pagar a pensão. Dom Bosco percebeu que ele andava meio tristonho: - O que você tem, Eusébio? -Ah! Dom Bosco, vou ter que parar de estudar porque meus pais não têm mais condições de pagar minha pensão aqui. - Mas você não é amigo de Dom Bosco? - Claro que sou. - Então, fica fácil. Escreva a seu pai que não se preocupe mais com as contas passadas. Daqui pra frente vai pagar o que puder. Quanto ele pagava até hoje? -Doze liras por mês. - Escreva-lhe, então, que baixamos para cinco. Está bom assim? E vai pagar, se puder. Venha comigo que vou mandar um bilhete para o administrador. Eusébio Calvi se tornou padre salesiano. Trabalhou muitos anos na Calábria e na Sicília. Morreu em 1923. Pagou muitas vezes mais o benefício do desconto que Dom Bosco lhe fizera. O bem sempre gera outro bem. Isso que Dom Bosco fez com Eusébio, repetiu-se com milhares de salesianos que trabalham hoje no mundo inteiro. Nunca uma vocação deixou de ser cultivada por causa de dinheiro. 36


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Vim, a saber, outro dia, em Cachoeira do Campo, que o senhor Sabino Ferreira apareceu lá um dia para retirar seus filhos do colégio. Foi recebido pelo Pe. Brás Musso, administrador enérgico e de poucas palavras. Isso ali pela década de 40: - Pe. Brás, vim cá para levar meus filhos porque não estou conseguindo pagar o colégio. Sabino Ferreira era pedreiro e dava um duro danado para pagar o internato de seus garotos em Cachoeira. Pe. Brás, que conhecia a grande honestidade daquele homem, não hesitou em resolver-lhe o problema: -Deixe os meninos aí, sô Sabino. Quando as coisas melhorarem, o senhor acerta. Sô Sabino se tornou uma forte firma de construção em Belo Horizonte. Pagou não só contas do colégio como também construiu e doou à congregação Salesiana o grande colégio que hoje temos em Barbacena (MG).

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10. MIGUEL, O TERRÍVEL 38


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Menino endiabrado era o tal do Miguel Magone. Era o terror dos quintais dos vizinhos, cujas frutas não deixava crescer. Na aula, nem estudava nem deixava os outros estudarem. Vivia de bodoque no bolso, matando passarinho e de roupa rasgada nas brigas que sempre provocava. Parecia que tinha o diabo no corpo. O pior é que era líder. Se fizesse suas diabruras sozinho, vá lá. Mas arrastava a patota toda atrás dele. Dom Bosco, numa daquelas tardes meio nevoentas do outono piemontês, estava esperando o trem numa estaçãozinha chamada Carmagnola (pronuncia-se carmanhola ). Todo mundo estava na sala de espera da estação, porque fazia frio. Mas Dom Bosco ouvia um barulho de garotos que brincavam não sei de que. No meio daquele vozerio todo, havia uma voz que dava todas as ordens. Era obedecida com rigor militar. Dom Bosco, curioso por saber quem era aquele garoto, aproximou-se do bando. Quando a macacada viu aquela batina preta, abriu no pé. Só um garoto ficou e enfrentou o padre. Com as mãos nos quadris e em tom de pedir satisfação, tomou a iniciativa: - Quem é o senhor? Por que vem atrapalhar nossa brincadeira? O cabelo desgrenhado e o rosto cheio de sardas emolduravam dois olhos vivos que indicavam a vitalidade de uma fera. Educador nato, Dom Bosco viu que aquele garoto, se não fosse orientado para o bem poderia tornar-se um elemento perigoso para a sociedade. Começou com ele aquele papo amigo com o qual conquistou tantos garotos: - Como você se chama? -Miguel Magone. - Tem pai? - Não, morreu. - Quantos anos tem? - 13 - E a mamãe? 39


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- Mamãe vive ainda. - O que você pensa em ser no futuro? - Vou me inscrever na CIT (Companhia Inimiga do Trabalho). O trem apitou. Havia perigo de perdê-lo, mas perder o garoto teria sido muito pior. Deu-lhe na mão uma medalha de Nossa Senhora e lhe disse: - Procure o Pe. Ariccio, vice-pároco de Carmagnola e diga-lhe que o padre que lhe deu esta medalha quer informações a seu respeito. Miguel ficou vermelho. “Que raio de informações que esse padre vai dar de mim?”, pensou com seus botões. Alguns dias depois, chegava a carta do padre: “Miguel Magone é um garoto pobre, órfão de pai. A mãe tem que trabalhar para sustentar a família e não pode tomar conta dele. Na escola, vive mais fora do que dentro de sala, isto quando ele vai lá. É inteligente, porque conseguiu bem o 3º primário. É menino muito vivo, mas sem maldade. Inferniza a vida dos outros na sala do catecismo. Quando não está, está tudo em paz; quando aparece, é aquela confusão”. Dom Bosco respondeu à carta, pedindo que mandasse o garoto para seu oratório. Miguel topou. Chegou lá com sua trouxinha de roupa e a mesma disposição de sempre: - Cheguei. Eu sou aquele tal de Miguel Magone que o senhor viu lá na estação, em Carmagnola. - Já sei. Você vem de boa vontade? - Venho! Boa vontade eu tenho muita. - Então fique! Só lhe peço para não me virar a casa de pernas para o ar. - Pode ficar frio, Dom Bosco, até hoje eu fui da pá virada, mas de agora para frente quero melhorar. Eu, hein! Dois colegas meus de bagunça já foram parar na cadeia. Estão vendo o sol nascer quadrado. 40


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- Está bem! Mas você quer estudar ou aprender uma profissão? - Como o senhor quiser. Se me deixa escolher, queria estudar. - E depois que terminar os estudos, o que pensa fazer? - Bom, se um cafajeste como eu pudesse ser padre, eu gostaria de tentar. - Então vamos ver o que um cafajeste pode fazer! Vá fundo! Você vai estudar. Naquele casarão enorme, com pátios daquele tamanho, brinquedos às pampas e uma liderança napoleônica, o Miguelzinho deitava e rolava. Odiava o sino que chamava a turma para a aula e vibrava quando o mesmo sino chamava para o recreio. Também, pudera! Um diabinho daqueles, acostumado à vida livre do mato, pregado ali numa carteira de sala de aula, era uma agressão à sua liberdade. Volta e meia uma enxurrada de palavrões cascateava de sua boca. Dom Bosco via aquilo tudo. Sabia que era mau costume que, com o tempo, viria corrigido. O garoto era bom. Era preciso aproveitá-lo. Pediu a alguns meninos melhores que acompanhassem o Miguel. Com bons modos eles o foram corrigindo. Os sermõezinhos de Dom Bosco na hora do boanoite, nas festas, nas novenas, nas boas companhias, foram pondo o Miguel nos eixos. Um dia, Dom Bosco o viu meio tristonho no canto do pátio. “Tem dente de coelho nesse negócio”, pensou o santo. Miguel Magone triste? Alguma coisa devia não estar funcionando. Era a hora exata: - Miguel, precisava de um favor seu. - Pois não, Dom Bosco, pode mandar! - É coisa de nada. Só queria que você me dissesse por que, de uns dias pra cá, você anda meio macambúzio? - Tô mesmo, Dom Bosco. Mas ando meio perdido. Não sei 41


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como vou sair desta! Miguel Magone começou a chorar. Chorava mesmo um choro sincero. Magone era incapaz de fingir. Dom Bosco o deixou chorar. Nada como o choro para desabafar. No momento exato, o santo deu o golpe: - Sim, senhor, hein? O general Miguel Magone, chefe do bando de Carmagnola, não tem coragem de dizer o que sente? Que raça de general é você, rapaz? - Coragem eu tenho, Dom Bosco, mas não sei como fazer. Tô sem jeito. - Vamos! Diga uma palavra só. - Estou com remorso de consciência. - Basta! Era isso que eu queria saber. Mas isso é fácil de resolver. Dom Bosco o confessou. O Miguel andava tão longe de igreja que nem se lembrava mais da confissão. Saiu de lá aliviado. Parecia que tinham tirado uma pedra de cima dele. Aquele padre era bom demais. Além de perdoar todos os seus pecados, aconselhara a ser mais alegre ainda. Voltou a ser o general de Carmagnola. Com uma diferença: agora havia aprendido que poderia ser alegre sem blasfemar, dizer palavrões ou maltratar os outros. Mudou da água para o vinho. Sem perder seu gênio fogoso e sua natural liderança, passou a ser o braço direito de Dom Bosco no oratório. Teria sido padre, se uma apendicite crônica não o tivesse levado à sepultura na meia noite de 21 de janeiro de 1858. Assim era Dom Bosco: a bondade e a compreensão vestidas de batina preta. Num tempo em que o padre vivia distanciado, longe do povo e das crianças, ele conquistava a todos com um simples segredo: tratá-los bem, respeitar seu modo de ser. Domingos Sávio era menino de família boa, religiosa, que o educou desde criança. Dom Bosco só continuou o trabalho e fez dele o santo mais jovem da Igreja Católica. José Buzzetti era uma 42


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espécie de guarda-costas de Dom Bosco. Sujeito forte e barbudo, destes caras que pegam o boi pelo chifre, do jeito que ele vier. Começou a frequentar o Oratório desde o comecinho. Nunca mais deixou Dom Bosco. Foi dos primeiros irmãos coadjutores dos salesianos. De tipo fogoso e brigão que era, Dom Bosco o fez um de seus mais eficientes ajudantes. Miguel Magone era esquentado como um busca-pé. Sem tirar-lhe a “quentura”, Dom Bosco fez dele um santo, que não é canonizado porque ninguém pensou em fazer seu processo. Dom Bosco foi o maior educador de todos os tempos, primeiro porque recebeu para isso um chamado especial de Deus; depois, porque sabia entender o jovem, sabia gastar tempo com ele, sabia levá-lo à igreja e aos passeios e fazê-lo gostar dos dois igualmente. Todo mundo gosta de ser tratado bem e, para tratar bem um jovem, Dom Bosco desconhecia tempo e lugar. Nas estações de trem, nas praças, nas Igrejas, estava sempre rodeado de jovens e meninos. Gostavam daquele padre que os tratava bem. Você que é aluno de Dom Bosco, observe bem na capela de seu colégio: tem uma imagem de Dom Bosco. Repare que Dom Bosco está sorrindo. É o único santo na igreja que sorri. Pois bem, foi aquele sorriso que o fez São João Bosco. Foi aquele sorriso que sempre atraiu e continua atraindo Jovens.

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11. EDUCAR COM O CORAÇÃO 44


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O Telê Santana arranjou 22 craques e fez a seleção brasileira de 1982. Punha os jogadores em campo e ficava de fora olhando o jogo. Ficava nervoso quando o time não andava. Corrigia os erros e trocava jogadores, mas ele mesmo não jogava. Participava da vitória e da derrota, sofria, ganhava um ótimo salário; mas era ele de cá e os jogadores de lá. Era um técnico. Sua técnica podia dar certo ou errado podia até inventar uma nova técnica e ganhar a copa, mas estaria sempre fora de campo. Dom Bosco foi diferente. Não inventou nenhuma técnica de educação. Técnica, a gente inventa com a cabeça. Dom Bosco viveu com seus garotos, viveu com eles sua pobreza, sua orfandade. Viveu a vida de seus garotos. A vida, a gente não inventa. É curtida lá dentro do coração. O senhor majestoso do sonho dos nove anos não mandou Joãozinho inventar uma técnica para educá-los. Mandou tratálos bem. O bom trato vem do coração. O coração é o lugar onde nós colocamos o amor. Foi esse amor que levou Dom Bosco a fazer Bartolomeu Garelli sorrir. Foi ainda o amor que o levou a não ligar para os dois pães que o Chiquinho roubou. Justamente porque ele amava muito os garotos, não deixou Eusébio ir embora porque não podia pagar o colégio. O grande amor que aninhava em seu coração foi quem transformou Miguel Magone de provável chefe de bandidos em verdadeiro santo nos pátios do Oratório. Tanto os jovens do Oratório sabiam que Dom Bosco os amava, que, no final do cansativo domingo, carregavam-no até a cidade nas costas. Era um modo concreto e juvenil de pagar amor com amor. Não existe técnica para o amor. É um segredo profundo do coração do homem, que vem lá do coração de Deus. Uma mãe nunca terá palavras para explicar por que ela ama seu filho. Talvez o mais certo fosse dizer: eu amo porque é meu filho. E basta! 45


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Muita gente ia visitar o Oratório e ficava boba de ver como aquele padre conseguia o que queria daquela garotada. O próprio Papa Pio Xl, quando ainda padre, passou uma semana no Oratório. Viu tudo. Quando foi feito Papa, canonizou Dom Bosco e, com ele, o seu amor educativo. Muita gente pediu a Dom Bosco que escrevesse algo a seu respeito, do seu modo de educar. Ele mesmo sentia que não era possível descrever uma coisa indescritível. Seria o mesmo que fazer um círculo quadrado. Se é quadrado, não pode ser círculo! Mas os pedidos foram muitos, e Dom Bosco resolveu então escrever alguma coisa sobre o que ele chamava de SISTEMA PREVENTIVO NA EDUCAÇÃO DA JUVENTUDE. Deu alguns princípios que poderiam ser os seguintes: 1 – Em se tratando de educação, vale o provérbio popular: “é melhor prevenir do que remediar”. Não deixe crescer o mal para depois combatê-lo. Evita que ele cresça. O rapaz não faria certas coisas erradas se houvesse alguém que o avisasse, que lhe desse a mão no momento exato; em suma, que fosse seu amigo. É por isso que Dom Bosco queria que seus educadores estivessem sempre junto com seus jovens, para preveni-los, ajudá-los, corrigi-los. Não em nome da lei, mas em nome do amor. Não estranhe, pois, se você vir o diretor, o ecônomo, o orientador e muitos professores no meio dos alunos. É um segredo. Não vêm para punir, mas para ajudar. 2 – O jovem esquece facilmente as coisas. Não adianta encher a cabeça dele com um montão de proibições: não faça isso, não faça aquilo. Ele esquece e faz do mesmo jeito. Se há uma pessoa amiga ao lado dele, ela o lembra o que precisa ser feito e o que precisa ser evitado. Muitas vezes, o garoto é castigado não porque ele é mau, mas se esqueceu do que tinha que fazer ou evitar. E é isso! Quantas vezes a gente foi punido por coisas que a gente fez até sem querer! 3 – “Pegam-se mais mosquitos com uma colherzinha 46


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de mel do que com um barril de vinagre”. Dom Bosco falava isso, referindo-se às boas maneiras para tratar um jovem. Aliás, todo mundo quer ser tratado bem. Uma turma pode ser bagunceira do jeito que for, mas estará disposta a melhorar, quando um professor for realmente amigo. Quem de nós não escuta os conselhos de alguém que a gente sabe que é amigo mesmo? A juventude é como uma flor: deve ser tratada com carinho. Quem vem com maus modos para o nosso lado, nós logo fugimos dele. Gente burra e bruta afasta os outros. É por isso que castigo só corrige quando for aceito. Quando o jovem percebe que o castigo foi dado só por vingança e não por amor, aí ele fica revoltado. Não admite injustiças. Não sei se você já reparou que em colégio salesiano há pouco castigo. Por quê? Por causa do bom trato, da assistência, da presença dos padres, dos professores, dos orientadores. Por que apelar para ignorância quando a delicadeza resolve? 4 – quando se trata de educação, não se pode deixar de lado a religião. Realmente, eu posso esperar tudo de bom de alguém que tem fé e tudo de mal de quem não tem. Quem teme e respeita Deus vai temer e respeitar os homens também. Dom Bosco queria formar bons cristãos e honestos cidadãos. Aliás, não existe um sem o outro. Quem for bom cristão será cidadão honesto. Só cumpre seus deveres para com Deus quem respeita, ama e ajuda o próximo. O bom cristão e o honesto cidadão é aquele que se engaja na igreja e na sociedade, que participa de tudo o que pode fazer o mundo ficar melhor. Mas a religião precisa ser alimentada. Dom Bosco sabia que o jovem é inconstante, que hoje quer uma coisa e amanhã quer outra. É preciso, portanto, que ele se firme em poucos valores, mas valores certos. Dom Bosco viu na confissão, na comunhão e na devoção à Nossa Senhora esses valores certos e profundos. É verdade que não inventou nada de novo, porque 47


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esta é a maneira de a igreja educar seus fiéis, mas foi ele que introduziu os sacramentos como parte essencial de um sistema de educação. É claro: quem se confessa e comunga com frequência mantém sua vida sempre em dia com Deus e com os outros. Pensará muito antes de fazer o pecado e, certamente, não vai fazê-lo. É na eucaristia e na confissão que a igreja nos fala sua palavra, nos dá seu conselho e a segurança de que precisamos. Por que ela chama seus fiéis para a missa aos domingos? É para alimentá-los. É o que faz a mãe em casa quando chama os filhos para o almoço. Dom Bosco colocou nos sacramentos o segredo de sua educação, porque só quem os frequenta pode ter o amor puro e desinteressado pelo outro e por Deus. E Nossa Senhora? Dom Bosco passou aos jovens o que a igreja sempre usou com seus fiéis: uma religião concreta, de pessoas vivas; uma religião de família, com pai, mãe, filhos, irmãos. Nossa Senhora é a mãe. Aquela que cuida dos filhos, que os assiste com os desvelos maternos que só uma mãe sabe ter. Dom Bosco cuidava de meninos órfãos. Ninguém como Nossa Senhora poderia ser para eles a mãe que faltava. Daí seu agarramento à Nossa Senhora e a insistência para que seus meninos a invocassem. Ademais, Maria é o modelo da pureza, da simplicidade e da disponibilidade, virtudes que tanto enfeitam a vida de um jovem. Era essa a religião que Dom Bosco queria na educação de seus jovens. Sem ela, qualquer sistema de educação cai no vazio, na inutilidade.

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12. CARTA DE SÃO JOÃO BOSCO SOBRE O ESTADO DO ORATÓRIO

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Escrita de Roma aos 10 de maio de 1884 Meus caríssimos filhos de Jesus Cristo, Perto ou longe, eu penso sempre em vós. Meu único desejo é ver-vos felizes no tempo e na eternidade. Esse pensamento e esse desejo é que me levaram a escrever-vos esta carta. Sinto, meus caros, o peso do afastamento, e o fato de não vos ver nem ouvir me aflige como não podeis imaginar. Desejaria por isso escrever-vos estas linhas há uma semana, mas as contínuas ocupações me impediram. Todavia, embora faltem poucos dias para minha volta, quero antecipar minha chegada ao menos por carta, já que não posso fazê-lo pessoalmente. São palavras de quem vos ama carinhosamente em Jesus Cristo e tem obrigação de falar-vos com a liberdade de um pai. Haveis de permiti-lo, não é verdade? E me prestareis atenção e poreis em prática o que vou dizer-vos. Afirmei que sois o único e contínuo pensamento de minha mente. Ora, numa das noites passadas, havia-me recolhido ao quarto e, enquanto me dispunha a repousar, tinha começado a rezar as orações que minha boa mãe me ensinou.

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1ª PARTE – 1º SONHO - PARA OS EDUCADORES Nesse momento, não sei bem se tomado pelo sono ou fora de mim, por uma distração, pareceu-me que se apresentavam diante de mim dois antigos jovens do oratório. Um deles aproximou-se e saudando-me afetuosamente me disse: - Ó, Dom Bosco! Conhece-me? E lembra-se ainda de mim? Acrescentou o homem. - De ti e de todos os outros. És Valfré e estavas no oratório antes de 1870. O Oratório antes de 1870 - Diga, continuou ele. Quer ver os jovens que estavam no oratório no meu tempo? - Sim, mostra-me, respondi. Isso vai dar-me prazer. Então Valfré mostrou-me todos os jovens com o mesmo semblante, estatura e idade daquele tempo. Parecia-me estar no antigo oratório, na hora do recreio. Era uma cena cheia de vida, movimento, alegria. Quem corria, quem pulava, quem fazia pular. Aqui brincava-se de rã, de barra ou de bola. Num lugar uma roda de jovens pendia dos lábios de um padre, que lhes contava uma história. Noutro, um clérigo junto com outros meninos brincavam de “burro voa”, ou de “Jerônimo”. Cantava-se, ria-se por todos os cantos e em toda parte encontravam-se padres e clérigos e, ao redor deles, jovens divertindo-se alegremente. Via-se que entre jovens e superiores reinava a maior cordialidade e confiança. Eu estava encantado com o espetáculo e Valfré me disse. 51


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-Veja, a familiaridade traz afeto e o afeto produz confiança. Isto é que abre os corações e os jovens manifestam tudo sem temor aos professores, assistentes e superiores. Tornamse sinceros na confissão e se prestam docilmente a tudo o que por ventura lhes mandar aquele de quem têm certeza de serem amados. O Oratório em 1884 Nesse instante, aproximou-se de mim o outro ex-aluno, de barba branca, e me disse: - Dom Bosco, quer conhecer agora os jovens que atualmente estão no oratório? – Era José Buzzeti. - Sim, respondi; porque faz um mês que não os vejo! E apontou-os para mim: vi o oratório e todos vós no recreio. Mas não ouvia mais gritos de alegria e canto, não via mais o movimento e a vida da primeira cena. Nos modos e no rosto de muitos jovens lia-se enfado, cansaço, desgosto, desconfiança, que me faziam sofrer o coração. Vi, é verdade, muitos a correr, brincar, agitar-se, com feliz despreocupação, mas outros, não poucos, via-os sozinhos, encostados às colunas, dominados por pensamentos desalentadores; encontravam-se outros pelas escadas e nos corredores ou na varanda perto do jardim para evitar o recreio comum; outros passeavam lentamente em grupos, falando baixinho entre si, lançando ao derredor olhares desconfiados e maldosos: sorriam de vez em quando, mas com um sorriso acompanhado de olhares que faziam suspeitar e até mesmo acreditar que São Luiz haveria de corar se andasse em tal companhia; mesmo entre os que brincavam, alguns havia tão enfadados que mostravam claramente não achar nenhum gosto nos divertimentos. 52


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- Viu seus jovens? Disse-me o ex-aluno. - Vejo-os, respondi suspirando. - Como são diferentes do que éramos nós em nosso tempo! Exclamou o ex-aluno. - É pena! Quanta falta de vontade nesse recreio! - Daí é que vem a frieza de tantos meninos na frequência dos santos sacramentos, o desleixo das práticas de piedade na igreja e fora; o estar de má vontade num lugar onde a divina providência os cumula de tanto bem para o corpo, para a alma, para a inteligência . - Daí é não corresponderem muitos à sua vocação; daí a ingratidão para com os superiores; daí os segredinhos e as murmurações, com todas as demais deploráveis consequências.

Amor manifesto e maduro - Compreendo, entendo, respondi. Mas como reanimar estes meus caros jovens para que retomem à antiga vivacidade, alegria, expansão? - Com o amor? - Com o amor? Mas os meus jovens não são bastante amados? Sabes quanto por eles sofri e tolerei no decorrer de bem quarenta anos e quanto suporto e sofro agora? Quantos trabalhos, quantas humilhações, quantas oposições, quantas perseguições para dar-lhes o pão, a casa, os professores e especialmente para garantir-lhes a salvação da alma. Fiz tudo quanto soube e pude por eles, que são o amor de toda a minha vida. - Não falo do senhor! - De quem então? Dos que me fazem as vezes? Dos diretores, prefeitos, professores, assistentes? Não vês como são mártires do estudo e do trabalho? Como consomem seus anos de juventude por aqueles que a divina providência lhes confiou? - Vejo, reconheço; mas isso não basta: falta o melhor. 53


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- Que é que falta, então? - Que os jovens não somente sejam amados, mas que eles próprios saibam que são amados. - Mas, afinal, não têm olhos? Não têm a luz da inteligência? Não veem que tudo o que se faz por eles é tudo por amor deles? - Não, repito, isso não basta. - O que é preciso, então? Que, sendo amados nas coisas que lhes agradam, como participar em suas inclinações infantis, aprendam a ver o amor nas coisas que naturalmente pouco lhes agradam, como a disciplina, o estudo, a mortificação de si mesmos, e aprendam a fazer essas coisas com entusiasmo e amor.

Os educadores, alma do recreio - Explica-te melhor! - Observe os jovens no recreio. Observei e respondi: - E que há de especial para ver? - Há tantos anos vive a educar os jovens e não entende? Olhe melhor. Onde estão nossos salesianos? Observei e vi que bem poucos padres e clérigos se achavam entre os jovens e bem menos ainda eram os que tomavam parte de seus divertimentos. Os superiores não eram mais a alma do recreio. A maior parte deles passeava conversando entre si, sem ligar ao que faziam os alunos; outros olhavam o recreio sem se preocupar absolutamente com os jovens; outros vigiavam, mas tão longe que não poderiam perceber se os jovens cometiam alguma falta; um ou outro avisava, mas em atitude ameaçadora e bem raro. Havia algum salesiano que gostaria de introduzir-se em algum grupo de jovens, mas vi que os jovens procuravam, 54


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propositalmente, afastar-se dos professores e superiores. Então, meu velho amigou continuou: - Nos velhos tempos do Oratório, o senhor não estava sempre no meio dos jovens, especialmente na hora do recreio? Lembra aqueles belos anos? Era um santo alvoroço, um tempo que lembramos sempre com saudades, porque o afeto é que nos servia de regra, e nós não tínhamos segredos para o senhor. - Certamente! E então tudo era alegria para mim e os jovens corriam ao meu encontro para falar-me e ansiavam por ouvir meus conselhos e pô-los em prática. Vês, porém, que agora contínuas audiências, a multiplicação dos negócios e minha saúde não permitem. - Está bem: mas se o senhor não pode, por que seus salesianos não imitam? Por que não insistem, não exigem que tratem os jovens como o senhor tratava? - Eu falo, canso-me de falar, entretanto muitos não se sentem dispostos a enfrentar os trabalhos como outrora. - E estão descuidando do menos, perdem o mais e esse “mais” são seus trabalhos. Amem o que agrada aos jovens e os jovens amarão o que aos superiores agrada. E assim ser-lhes-à fácil o trabalho. A causa da mudança atual no Oratório é que bom número de jovens não têm confiança nos superiores. Antigamente os corações eram abertos aos superiores, a quem os jovens amavam e obedeciam prontamente. Mas agora os superiores são considerados como superiores e não como pais, irmãos, amigos: são, pois, temidos e pouco amados. Por isso, se quiser formar um só coração e uma só alma, é preciso que, por amor de Jesus, se rompa a barreira fatal de desconfiança e a substitua por uma confiança cordial. Guie, pois, a obediência dos alunos como a mãe guia o filhinho; reinará, então, no Oratório, a paz e a antiga alegria. - Como fazer para romper a barreira? 55


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- Familiaridade com os jovens, especialmente no recreio. Sem familiaridade não se demonstra afeto, e sem demonstração não pode haver confiança. Quem quer ser amado deve demonstrar que ama. Jesus Cristo fez-se pequeno e carregou nossas fraquezas. Aí está o mestre da familiaridade! O mestre visto apenas na cátedra é mestre e nada mais, mas, se está no recreio com os jovens, tornase irmão. Se alguém é visto somente a pregar do púlpito dir-se-á que está fazendo apenas o próprio dever, mas se diz uma palavra no recreio, é a palavra de alguém que ama. Quantas conversões não provocou alguma palavrinha sua dita improvisadamente aos ouvidos de um jovem no instante em que se divertia? Amorevolezza Quem sabe que é amado ama, e quem é amado alcança tudo, especialmente dos jovens. A confiança estabelece uma corrente elétrica entre jovens e superiores. Os corações se abrem e dão a conhecer suas necessidades e manifestam seus defeitos. Esse amor faz os superiores suportarem fadigas, aborrecimentos, ingratidões, desordens, faltas e negligências dos meninos. Jesus Cristo não quebrou a cana já partida nem apagou a chama a fumegar. Eis vosso modelo. Então não se verá ninguém mais trabalhar apenas por vanglória; punir somente para vingar o amor próprio ofendido, retirar-se do campo da vigilância tão somente por ciúmes de temida preponderância alheia; murmurar dos outros querendo ser amados e estimados pelos jovens, com exclusão de todos os demais superiores, ganhando nada mais 56


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que hipócritas manifestações de carinho; deixar-se roubar o coração por uma criatura e, para fazer-lhe corte, descuida de todos os outros meninos; por amor da própria comodidade julgar de menos importância o dever importantíssimo da vigilância; por vão respeito deixar de advertir quem deve ser advertido. Se houver esse verdadeiro amor, não haverá de se procurar senão a glória de Deus e a salvação das almas. Quando elanguesce o amor, então é que as coisas já não vão bem. Por que se quer substituir a caridade pela frieza de um regulamento? Por que se afastam os superiores da observância das regras de formação que Dom Bosco lhes deu? Por que ao sistema de prevenir com a vigilância e amorosamente as desordens, vai-se substituindo pouco a pouco o sistema, menos pesado e mais cômodo para quem manda, de impor leis que se mantêm com castigo, acendem ódios e geram desgostos; se não se cuida de fazê-los observar, geram desprezo aos superiores e causam gravíssimas desordens? O educador, tudo para todos E o que acontece necessariamente se faltar a familiaridade? Se se quiser, pois, que o Oratório volte à antiga felicidade, reponha-se em vigor o antigo sistema: o superior seja tudo para todos, sempre disposto a ouvir qualquer dúvida ou queixa dos jovens, todo olhos para vigiar-lhes paternalmente a conduta, todo coração para procurar o bem espiritual e temporal dos que a providência lhes confiou. Então, os corações não serão mais fechados, e não se alastrarão mais certos segredinhos que acabam matando. Somente em caso de imortalidade os superiores sejam inexoráveis. 57


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É melhor correr o perigo de expulsar de casa um inocente, que conservar um escandaloso. Os assistentes consideram gravíssimo dever de consciência relatar aos superiores tudo o que souberem ser de algum modo ofensa de Deus. Então, indaguei: - Qual é o meio mais indicado para que triunfem semelhante familiaridade e semelhante amor e confiança? - A observância exata das regras de casa. - E nada mais? - O melhor prato de um jantar é o bom humor. Enquanto meu antigo aluno acabava de falar e eu continuava a observar com vivo desprazer o recreio, pouco a pouco senti-me abatido por grande canseira, que ia crescendo cada vez mais. E chegou a tal ponto que, não podendo mais resistir, despertei. Encontrei-me de pé junto à cama. As pernas estavam inchadas e me doíam tanto que não podia ficar de pé. A hora já ia muito adiante, de modo que me deitei resolvido a escrever estas linhas a meus filhos. Desejo não ter sonhos assim, que me cansam demais.

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2ª PARTE - 2º SONHO - PARA OS EDUCANDOS No dia seguinte, sentia-me todo moído e não via a hora de descansar na próxima noite. Eis, porém, que, apenas me deitei, o sonho recomeçou. Reaparecem o pátio, os jovens que atualmente estão no Oratório e o mesmo aluno. Comecei a interrogá-lo: - Comunicarei aos salesianos o que me disseste; mas que devo dizer aos jovens do Oratório? Respondeu-me: - Que reconheçam quanto os superiores, mestres e assistentes trabalham e estudam por amor deles, pois se não fosse pelo bem deles não haviam de sujeitar-se a tantos sacrifícios; que se lembrem ser a humildade a fonte de toda tranquilidade; que saibam suportar os defeitos dos outros, porque a perfeição não é deste mundo, mas somente do paraíso; que deixem de murmurar, porque as murmurações esfriam os corações; e, sobretudo, que procurem viver na santa graça de Deus. Quem não tem paz com Deus não tem paz nem consigo nem com os outros. - Queres dizer então que há entre meus jovens alguns que não estão em paz com Deus? - Entre as causas do mal-estar que Dom Bosco conhece, e não vou recordar agora, e às quais deve pôr remédio, essa é a principal. Com efeito, não desconfia senão quem tem segredos a guardar, senão quem teme que tais segredos venham a ser conhecidos, porque sabe que isso lhes traria vergonha e desgraça. Ao mesmo tempo, irrequieto, rebelde à obediência, irrita-se por um nonada, parece-lhe que tudo vai mal e, por não ter amor, julga que os superiores não o amam. - Entretanto, meu caro, não vês quanta frequência de confissões e comunhões há no Oratório? - É verdade que é grande a frequência das confissões, mas o que falta radicalmente em muitos meninos que se confessam é a firmeza nos propósitos. Confessam-se, mas sempre das mesmas 59


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faltas, das mesmas ocasiões próximas, dos mesmos maus hábitos, das mesmas desobediências, das mesmas transgressões dos deveres. E vai-se para a frente meses e meses e também por vários anos, e alguns chegam assim até o fim do curso secundário. São confissões que pouco ou nada valem; consequentemente não trazem a paz. Se o menino fosse chamado nesse estado ao tribunal de Deus, que desgraça seria. - E há muitos assim no Oratório? - Poucos, em comparação com o grande número de jovens que se encontram em casa. Veja. E apontava. Olhei e vi os tais jovens um por um. Nesses poucos, porém, vi coisas que me amarguraram profundamente o coração. Não quero pô-las no papel, mas quando voltar quero contar a cada um dos interessados. Aqui apenas vos direi que é tempo de rezar e de tomar firmes resoluções: tomar propósitos não com palavras, mas com fatos, e demonstrar que os Comolos, os Domingos Sávios, os Besuccos e os Saccardis ainda vivem entre nós. - Não tens mais nada a dizer-me? Perguntei por fim ao meu amigo: - Pregue a todos, grandes e pequenos, que se lembrem sempre de Maria Santíssima Auxiliadora. Que ela os reuniu aqui para tirá-los dos perigos do mundo, para que se amassem como irmãos e para que dessem glória a Deus e a ela, com o bom procedimento; que é Nossa Senhora que lhes providencia pão e meios para estudar mediante graças e portentos. Lembrem-se de que estão na vigília da festa de sua Mãe Santíssima e com sua ajuda deve cair a barreira da desconfiança que o demônio soube erguer entre jovens e superiores e da qual se aproveita para ruína de certas almas. - E conseguiremos destruir essa barreira? - Sim, certamente, contanto que grandes e pequenos estejam dispostos a sofrer alguma pequena mortificação por amor de Maria e ponham em prática o que eu disse. 60


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Entrementes, eu continuava a olhar meus jovenzinhosa. Ante o espetáculo dos que via encaminhar-se para a eterna perdição, senti tamanho aperto no coração que acordei. Muitas coisas importatíssimas que eu vi gostaria de contar-vos, mas o tempo e as conveniências não permitem. Vou concluir. Sabeis o que deseja de vós este pobre velho, que gastou toda a vida por seus caros jovens? Nada mais do que, feitas as devidas proporções, retornem os dias felizes do Oratório primitivo. Os dias do afeto e da confiança cristã entre jovens e superiores; os dias do espírito de condescendência e tolerância por amor de Jesus Cristo de uns para com outros; os dias dos corações abertos e com toda a simplicidade e candura; os dias de caridade e da verdadeira alegria para todos. Tenho necessidade de que me consoleis, dando-me a esperança e a promessa de que fareis tudo o que desejo para o bem de vossas almas. Não conheceis suficientemente que felicidade é a vossa de haverdes sido recebidos no Oratório. Diante de Deus declaro: basta que um jovem entre numa casa salesiana para que a Virgem Santíssima o tome imediatamente de sua especial proteção. Ponhamo-nos, pois, todos de acordo. A caridade dos que mandam, a caridade dos que devem obedecer faça reinar entre nós o espírito de São Francisco de Sales. Ó, meus caros filhinhos, aproxima-se o tempo em que me deverei separar de vós e partir para minha eternidade. (Nota do secretário: Neste ponto Dom Bosco suspendeu o ditado; os olhos se lhe encheram de lágrimas, não por desgosto, mas por inefável ternura que ressumava de seu olhar e do tom de sua voz; depois de alguns instantes, continuou.) Desejo, portanto, deixarvos a todos, padres, clérigos, jovens caríssimos, no caminho do Senhor, em que Ele próprio vos deseja. Para tal fim, o Santo Padre, que vi sexta-feira, 9 de maio, vos manda de todo o coração sua bênção. No dia da festa de Nossa Senhora Auxiliadora estarei convosco ante a imagem de nossa amorosíssima Mãe. Quero que essa grande festa se celebre 61


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com toda a solenidade, e o Pe. Lazzero e o Pe. Marchisio providenciem para que estejamos todos alegres também no refeitório. A festa de Maria Auxiliadora deve ser o prelúdio da festa eterna que deveremos celebrar um dia, todos juntos, no paraíso. Vosso afetuosíssimo amigo em Jesus Cristo, Sac. João Bosco

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13. CONCLUSÃO: VOLTEM OS DIAS DE AFETO E DA CONFIANÇA 63


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Concluo: sabeis o que deseja de vós este pobre velho que gastou toda a vida por seus caros jovens? Nada mais do que, feitas as devidas proporções, retornem os dias felizes do Oratório primitivo. Os dias do amor e da confiança cristã entre jovens e superiores; os dias do espírito de condescendência e tolerância por amor de Jesus Cristo de uns para com outros; os dias dos corações abertos com toda a simplicidade e candura; os dias de caridade e da verdadeira alegria para todos. Refletindo sobre a carta de 1884 1- Quem é Dom Bosco para você? 2- O que mais lhe impressionou na vida deste santo? 3- O que você acha mais importante na maneira de Dom Bosco tratar os jovens? 4- O que você espera de um colégio salesiano? 5- Como se sente no colégio onde estuda? 6- Os salesianos (professores) são amigos? 7- Estão sempre presentes na vida dos alunos? 8- Você percebe neles aquele amor de Dom Bosco? 9- Você se sente compreendido lá dentro? 10- O que o colégio traz de novo para você? 11- O que você acha mais importante numa educação salesiana? 12- Gostaria de sugerir algo de concreto para o ambiente onde você estuda? 13- O que é preciso para um jovem ser bom? 14- O que está faltando na vida de certos jovens? 15- O que podemos fazer por eles em nosso ambiente? 16- Conhecem jovens menos felizes? 17- Por que eles estão assim? 18- O que Dom Bosco tem para oferecer a estes jovens? 19- Na sua escola, você consegue ser alguém que participa? 64


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20- Você sente que tem vez lá dentro? 21- Suas opiniões são ouvidas? 22- Já percebeu que a sua presença é importante lá dentro? Dom Bosco falando Existem milhares de afirmações de Dom Bosco sobre todos os assuntos, selecionamos algumas. Você e sua turma poderão fazer o que quiserem com elas. Por exemplo: ideias para canções, ideias para pinturas, etc. Coloque sua criatividade para funcionar. • Ganhai os corações dos jovens por meio do amor (14.414). • Tratemos os jovens como trataríamos o próprio Jesus Cristo (14.846). • Que os jovens não somente sejam amados, mas eles mesmos saibam que são amados (17.110). • O maior tesouro é a graça de Deus (6.835). • Quereis muitas graças de Deus? Visitai-o frequentemente (849). • Meus caros jovens, não vos recomendo penitência e disciplina, mas trabalho, trabalho, trabalho (4.216). • Ai de quem trabalha esperando os louvores do mundo. O mundo é mau pagador e paga sempre com ingratidão (10.266). • O trabalho é grande salvaguarda da moralidade (1.386). • O padre morre ou pelo trabalho ou pelo vício (1.386). • O mundo moderno quer ver o clero trabalhar, instruir e educar a juventude (13.127). • Grande é a influência que tem a palavra do mestre sobre os alunos, quando é por eles amado (6.390). • Quem tem vergonha de exortar a piedade é indigno de ser mestre (10.1019)? • O nosso verdadeiro superior, Jesus Cristo, não morrerá. 65


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Ele será sempre o nosso mestre, o nosso guia, o nosso modelo (18.570). • Coragem, gente amiga, trabalhe com amor. Deus nos pagará como um bom patrão. Para descansarmos temos toda uma eternidade (7.164). • O senhor de minhas obras é Deus. Ele me inspira e apoia...; por isso se acha obrigado a não fazer má figura. E Nossa Senhora é minha protetora e tesoureira (4.251). • Maria Auxiliadora é temível para aqueles que querem opor-se à sua obra, mas onipotente para aqueles que se colocam sob seu manto (15.666). • O círculo que une a saúde e o estudo, o fundamento sobre o qual estão baseados, é a moralidade. • Se conservardes boa conduta moral progredirei no estudo e tereis saúde (11.15). • Toda a vida do homem deve ser uma contínua preparação para a morte (3.19). • Eu nunca penso que a morte possa interromper os meus projetos, mas faço cada coisa como se fosse a última da minha vida (6.933). • A música dos jovens se escuta com o coração, não com os ouvidos (17.76). • Não deixemos para amanhã o bem que poderemos fazer hoje. Amanhã, talvez, não haja mais tempo (4.439). • O ócio é um vício que arrasta consigo muitos outros vícios (13.801). • Quem tem a paz da consciência tem tudo (11248). • A mais bela excursão: conduzir dez mil jovens ao paraíso (5.716). • Nas fadigas e nos sofrimentos, nunca esquecer que temos um grande prêmio para receber de Deus (18.533). • Vamos semear, e depois imitemos o agricultor, que espera com paciência o tempo da colheita (14.514). 66


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• É muito mais fácil irritar-se do que ter paciência, ameaçar um menino do que persuadi-lo (16.440). • Fazei algazarra, correi, saltai, mas não pequeis (3.586). • O superior deve ter três qualidades: pronto para perdoar, tardo para punir e prontíssimo para esquecer (8.446). • O que temos não é nosso, mas dos pobres (5.682). • Quem reza é como aquele que vai ao rei (3.246). • O padre que quer ter o confessionário cheio de penitentes cuida bem dos doentes (12.251). • Um padre nunca vai sozinho para o céu ou para o inferno (12.220). • A providência nos faltará quando se gastar dinheiro em coisas supérfluas e desnecessárias (12.376). • Precisamos muita prudência para saber o momento exato de corrigir com êxito (16.441). • Prometi a Deus que até o meu último respiro seria para os jovens (18.258.457). • Ciência sem consciência nada mais é do que a ruína do espírito (8.166). • Como cristãos devemos imitar Jesus Cristo também no sofrimento (10.648). • Trabalho e temperança são os dois melhores guardas da virtude (15.460). • Se o senhor encontrasse um instrumento mais vil e mais fraco do que eu, servir-se-ia deste para realizar a sua obra (18.587). • A vingança do verdadeiro cristão é o perdão e a prece pela pessoa que o ofende (4.311-2). • Damos um grande tesouro à igreja quando procuramos uma boa vocação (17.262). • Ser bom não consiste em não cometer faltas, mas na vontade de corrigir-se (6.322). • Se me deixais sozinho, consumir-me-ei mais depressa, 67


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porque resolvi n達o ceder, mesmo que tenha que morrer no campo de batalha. Ajudai-me, portanto, na guerra contra o pecado (7.376).

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14. SUGESTÕES ATIVIDADES E PERGUNTAS PARA REFLEXÃO 69


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- Faça uma pesquisa sobre seu colégio. Elabore um roteiro. Exemplo: • Quais os seus fundadores? Em que ano começou? Seus diretores? Grandes momentos do seu colégio. Ilustre com alguma fotografia. - Faça uma lista de alguns profissionais que passaram por seu colégio. Exemplo: professores, políticos, comerciários, jogadores, leigos influentes, padres. Aproveite para convidá-los a falar sobre a educação que receberam e a influência que esta tem em suas vidas. - Faça uma pequena exposição de peças, quadros, objetos artísticos e históricos de seu colégio. Que tal conservá-los em um pequeno museu? - Realize um concurso em seu colégio para eleger a melhor bandeira alusiva ao bicentenário de Dom Bosco. - Pintar, em lugar de destaque eu seu colégio, um quadro de São João Bosco. Pode ser um de seus sonhos ou coisa semelhante. Um Dom Bosco como mostra a história... Ou um Dom Bosco moderno, agindo hoje? O importante é que na idealização ou execução, o projeto seja de algum aluno ou alguém ligado a seu colégio. Marque o dia da inauguração, convide o colégio, os pais, professores, amigos, etc. Aproveite a oportunidade para alguma mensagem ou mesmo uma reflexão sobre a atualidade deste educador, santo, pai e mestre da juventude. - Em maio, promova um concurso sobre Maria. Motive sua turma. Dom Bosco dizia que “foi ela quem tudo fez”. Poderia até enfocar esse tema, ou outro? Utilize recursos como: colagem, fotografia, desenho, cartaz, pintura, escultura, mosaico. - Monte um pequeno mural. Troque-o de tanto em tanto. Mostre notícias de seu colégio, da obra salesiana no Brasil - no mundo – na sua cidade. Apresente documentários da chegada dos Salesianos ao Brasil. Apresente poesias, cantos alusivos ao evento que celebramos. Que tal um ou outro sonho de Dom 70


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Bosco? Passagens de sua vida. Mostrar também notícias sobre a comemoração do Centenário em todo o Brasil. - Programar uma missa sobre Dom Bosco. Pode ser por classe ou com todo o colégio. O importante será a preparação e a realização da mesma. Ensaie a “Missa de Dom Bosco”, de autoria de João Carlos, Salesiano de Recife. Um bom trabalho de preparação seria a análise da letra dessa Missa. Que tal realizá-la nos encontros de religião? Durante a missa poderia encenar uma passagem da vida de Dom Bosco. Exemplo: O sonho dos nove anos – Bartolomeu Garelli. O sonho de 1884, etc. “O Sonho dos Presentes”, música do ofertório da Missa de Dom Bosco se presta para uma bonita encenação. Monte um painel sobre Dom Bosco no fundo. - Existem muitos pensamentos de Dom Bosco que são verdadeiros tesouros para nós. Divulgue-os em jornais, murais, mensagens aos pais, professores, colegas. Envie para alunos de outras localidades, de outras escolas. - Promova um concurso de redação que tenha como tema um desses pensamentos de que falamos. Exemplo: Uma palavra amiga vale mais que um sorriso – um jovem triste é um triste jovem. (Você encontrará mais pensamentos de Dom Bosco em livros.) - Encene o sonho dos nove anos (dê-lhe atualidade). - Faça entrevista sobre o assunto. Apresente em classe, no Bom-Dia, no mural, de maneira sintetizada. -Mande notícias de seu colégio para outros colégios, salesianos ou não. Enviando para colégios não salesianos, envie alguma biografia (pequena) de São João Bosco. Peça para expor em lugar visível. Isso pode ser enviado para colégios da cidade onde você mora ou até de outras. - Que tal um show apresentando pequenos episódios da vida deste Santo? Apresentando sua maneira de educar? Transmitindo sua maneira de “SER PRESENÇA” entre os 71


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jovens. - Daria muito certo um pequeno certame (concurso sobre a vida de Dom Bosco). Você pode organizar. (Você encontrará perguntas e respostas formuladas, nos livros). - Pense na possibilidade de um programa radiofônico, caso sua cidade tenha uma rádio. Não será difícil. Peça ajuda de quem entende o funcionamento de um programa destes. Não faltará gente interessada em ajudá-lo. - Forme uma equipe em seu colégio que tenha por finalidade, entre outras, conhecer Dom Bosco, divulgá-lo e ajudar tantos jovens como Dom Bosco queria. O nome para a equipe? Descubra. - Vai pegar fogo uma gincana centenária. Quantas atividades poderão ser cumpridas... OBS.: Há também outras ideias num livrinho chamado “Água que brota da vida”. Esse livrinho deve existir em seu colégio. Ballet - Tente organizar uma representação plástica do sonho dos nove anos. A forma? A que você achar mais conveniente. Por exemplo: não haveria jeito de você, com seus companheiros e companheiras, montar uma representação do sonho através de uma expressão corporal, um ballet? Para isso vocês poderiam selecionar músicas que expressassem em seu ritmo e forma os principais acontecimentos do sonho. Eis algumas sugestões: • Joãozinho sonhando (música vaga e lenta); • Briga de moleques e Joãozinho intervindo na briga (música violenta e ritmos cortados); • Aparição do venerando Senhor (música solene e decisiva); 72


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• Aproximação dos meninos (música que através de ritmo em aceleração ou através do “crescendo” indique movimento para...); • Aparição da Majestosa Senhora (música suave, mas com força de impressão); • Transformação dos moleques em animais ferozes (música que começa calma e rapidamente se transforma em violenta); • Palavras da Senhora (música de adestramento com contraste entre momentos calmos e outros que incitam a coragem); • Transformação dos animais mansos em cordeirinhos (música lenta e cuidadosa e que evolui em alegre e festiva) tipo “Pantera cor de rosa”; • Dança da transformação, ou do homem novo ou da libertação (música jovial e dançante); • Despertar de Joãozinho (a música anterior evolui num crescendo contínuo até o corte brusco final). Atenção: devem aparecer em destaque na coreografia: • A presença de Joãozinho Bosco; • A mudança ocorrida nos jovens; • Os fatores que motivaram essa mudança: - a presença libertadora de Cristo; - a presença materna e educadora de Maria; - o método da “bondade” em contraste à “repressão”. Indicativo de alguns passos: a) O ballet poderia começar com João em cena aparecendo lentamente no clarear de um foco luminoso, que indica a inspiração do alto (música que possa indicar esse processo inicial de entrada em algo luminoso). b) Ao mesmo tempo que João começa a entrar na visão do sonho, vão entrando e dançando os figurantes que representarão os moleques em briga. 73


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c) A música deverá permitir a percepção de um grupo em desavenças e a intervenção de Joãozinho, que entra em luta com todos. d) Aparição do venerando Senhor (foco de luz), recuo de todos (música solene e calma). e) Diálogo do Senhor com Joãozinho. Aproximação dos demais figurantes. É preciso encontrar uma música que possibilite a representação de um diálogo entre o Senhor e Joãozinho e em seguida indique a aproximação constante dos moleques. f) A dança anterior termina com o Senhor apontando determinado lugar de onde deve surgir “majestosa Senhora”- o foco de luz para lá se dirige enquanto, na penumbra, o Senhor desaparece. Os jovens se colocam ao fundo, de costas para Joãozinho e para a Senhora. g) Música que acompanha uma dança do menino que dá a mão à Senhora (música suave). h) Enquanto se desenvolve esta dança, no fundo, os figurantes (moleques) colocam no rosto, mas de costas para a plateia, as máscaras que representam os diversos animais ferozes. A dança anterior deve terminar com a Senhora apontando sua mão em direção aos meninos briguentos. i) Quando a Senhora os apontar, viram-se bruscamente e iniciam a dança dos animais ferozes. Poderá ser uma música violenta e dançada em círculo ao redor do menino e da Senhora. Movimentos de destaque ao centro e entre si. j) Ao término desta dança, os meninos-feras colocam-se em duas fileiras, agachados e olhando para os dois. k) Entrega a Joãozinho a missão de educá-los. A cena começa com ele ainda agarrado à Senhora, que o envia às feras. Aos poucos, ele se solta e se dirige aos animais em atitude de valentia. É repudiado por eles e volta a agarrar-se à Senhora. l) Encaminham-se os dois – agora com gestos de bondade, e se aproximam do primeiro menino-fera que, ao ser tocado nos 74


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ombros pela Senhora, coloca-se de pé. Em seguida, continuando a música, retiram cuidadosamente a vestimenta negra, que cobre uma outra alva que está por baixo (pode imitar cordeirinhos). Libertado da escravidão, transformado em “homem novo”, o “cordeiro” inicia uma dança alegre e vai postar em atitude de agradecimento num dos cantos do palco. A cena vai se repetindo. No início, o menino e a Senhora, mas logo somente o menino, pois a Senhora se coloca mais ao fundo conservando um gesto de benção. Joãozinho, com humildade, fortaleza e coragem, continua o serviço de transformação, em ritmo cada vez mais rápido e alegre. m) Todos, agora já transformados em brancos cordeirinhos, ao redor de Joãozinho, iniciam uma alegre dança e começam a girar cada vez mais rapidamente. Joãozinho permanece confuso até que, no auge da música, quando todos os jovens e a Senhora desaparecerem, com um corte rápido da música, cai no chão e acorda para a realidade. OBS: Essas são somente ideias para começar o trabalho. Teatro de Fantoches Você também podia montar uma encenação do sonho à base de fantoches. O que é preciso providenciar: a) Fantoches - Joãozinho Bosco - O Senhor - A Senhora - Dois moleques - Dois animais ferozes - Dois cordeirinhos b) Redigir o diálogo do sonho com criatividade. c) Escolher bem as músicas que fazem o fundo. 75


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d) Ensaiar bem, para os gestos e as palavras ressaltarem, sobretudo, os momentos principais do sonho. Compor uma canção Compor uma canção fazendo a letra e a melodia. Na letra deverão aparecer as seguintes ideias: - Para educar alguém a repressão não resolve, é preciso muita bondade. - É preciso contar com a presença de Cristo e o auxílio materno de Maria Santíssima. - É preciso humildade, fortaleza e coragem. Atenção: Você pode pedir a qualquer poeta ou músico que colabore com a música. A sua tarefa será então levar-lhe o texto e explicar a ele quais são as ideias principais. Uma série de slides Você também, juntamente com sua turma, poderá montar, baseado nas principais ideias do sistema de educação de Dom Bosco, um conjunto de slides que ilustrem essas ideias e a prática educativa daí decorrente. O que é preciso fazer: a) Selecionar os fatos que você gostaria de expressar pela fotografia. b) Arrumar o maior número de cenas possíveis sobre os diversos argumentos. c) Fotografar o maior número de cenas possíveis sobre os diversos argumentos. d) Selecionar os slides que melhor expressam o que vocês bolaram. e) Fazer a trilha sonora: música e palavras.

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15. DOM BOSCO UM SANTO DA ATUALIDADE 77


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São João Bosco é um dos santos mais populares da Igreja e do mundo. Foi sua missão específica a educação cristã da juventude, em um tempo em que esta porção da sociedade humana começava a ser atacada por novos e perigosos inimigos. Para o desempenho cabal de sua missão salvadora, jamais o céu lhe faltou com extraordinários dotes humanos e sobrenaturais. Dom Bosco nasceu em Becchi, no Piemonte, Itália, a 16 de agosto de 1815. Era filho de humilde família de camponeses. Órfão de pai aos dois anos, viveu a sua mocidade e fez os primeiros estudos no meio de inumeráveis trabalhos e dificuldades. Desde os mais tenros anos sentiu-se impelido para apostolado entre os companheiros. Sua mãe, que era analfabeta, mas rica de sabedoria cristã, com a palavra e com o exemplo, animava-o no seu desejo de crescer querendo ser sacerdote para tomar conta dos meninos. Os meninos são bons, se há meninos maus é porque não há quem cuide deles. A Divina Providência atendeu aos seus anelos. Em 1835, entrou para o seminário de Chieri. Ordenado Sacerdote em 5 de julho de 1841, principiou logo a dar provas de seu zelo apostólico, sob a direção de São José Cafasso, seu confessor. No dia 8 de dezembro desse mesmo ano, iniciou o seu apostolado juvenil em Turim, catequizando um humilde rapaz de nome Bartolomeu Garelli. Começava, assim, a obra dos Oratórios Festivos, destinada, em tempos difíceis, a preservar da ignorância perigosa e da corrupção especialmente os filhos do povo. Em 1846, estabeleceu-se definitivamente em Valdoco, bairro de Turim, onde fundou o Oratório de São Francisco de Sales. Ao oratório, juntou uma escola profissional, depois um ginásio, um internato, etc. Em 1855, deu o nome de Salesianos aos seus colaboradores. Em 1859, fundou com os seus jovens salesianos a Sociedade ou Congregação Salesiana. Com a ajuda de Santa Maria D. Mazzarello, fundou, em 1872, o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora para a educação da juventude feminina. Em 78


O amor educativo em Dom Bosco

1875, enviou a primeira turma de seus missionários à América do Sul. Foi ele quem mandou os salesianos para fundar o Colégio Santa Rosa em Niterói, primeira casa Salesiana do Brasil. Criou, ainda, a Pia União Divina. A Obra de Dom Bosco é toda ela um poema de fé e caridade. Consumido pelo trabalho, fechou o ciclo de sua vida terrena com 72 anos de idade, em 31 de janeiro de 1888. Se em vida foi honrado e admirado, muito mais o foi depois da morte. O seu nome de taumaturgo, de renovador do Sistema Preventivo na Educação da Juventude, de defensor intrépido da Santa Igreja Católica e de apóstolo da Virgem Auxiliadora se espalhou pelo mundo inteiro e ganhou o coração dos povos. Pio XI, que o conheceu e provou da sua amizade, canonizou-o na Páscoa de 1934. Seu bicentenário é celebrado nos cinco continentes em mais de 130 países. João Paulo II o declarou no art. 2º das contituições, “Pai e mestre” da juventude. Nós o estudamos e imitamos, admirando nele esplêndida harmonia de natureza e graça. Profundamente homem, rico das virtudes do seu povo, era aberto às realidades terrenas; profundamente homem de Deus, cheio de dons do Espírito Santo, vivia “como se visse o invisível”. Esses dois aspectos fundiram-se num projeto de vida fortemente unitário: o serviço dos jovens. Realizou-o com firmeza e constância, por entre obstáculos e canseiras, como a sensibilidade de um coração generoso. “Não deu passo, não pronunciou palavra, nada empreendeu que não visasse à salvação da juventude... Realmente tinha a peito tão somente as almas.”

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