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Caleidoscópio urbano
C OMPOSIÇÃO DE CHAPAS DE AÇO INOX ENVOLVENDO A FACHADA DE EDIFÍCIOS DA V IVO NAS CAPITAIS PAULISTA E FLUMINENSE CRIA INUSITADOS VISUAIS AOS PASSANTES AO LONGO DO DIA
VIVA E DINÂMICA – afinal, tais adjetivos cabem à arquitetura? Edo Rocha prova que sim ao elaborar a sede corporativa de uma grande empresa de telefonia celular, na cidade de São Paulo, em um projeto que posteriormente foi replicado no Rio de Janeiro. Para transpor tais conceitos à realidade da cons- trução civil, ele contou com a versatilidade do aço inox polido. A partir desse material, Rocha pôde concretizar a ideia de criar um grande caleidoscópio urbano, ou seja, um prédio “vivo”, que acompanhasse os movimentos do dia e do espectador e explicitasse as premissas de modernidade, qualidade e alta tecnologia da empresa.
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Assim, a fachada foi elaborada com painéis de aço inox planos e curvos fixados à alvenaria com diferentes inclinações para que, com a variação da incidência de luz ao longo das horas do dia e da
Para transmitir conceitos de modernidade, tecnologia e flexibilidade, as fachadas dos edifícios-sede da empresa de telefonia celular Vivo em São Paulo (foto ao lado) e no Rio de Janeiro (foto acima) foram revestidas com aço inox polido – material que permitiu não apenas uma plasticidade inovadora como também um inusitado jogo óptico de reflexão luminosa. As diferenças essenciais entre as duas obras são as dimensões (36.000 m² de área construída em São Paulo e 14.500 m², no Rio) e o tipo de aço – na capital carioca, utilizou-se uma especificação de aço inox mais resistente às intempéries litorâneas
Mosaico em aço aumenta o impacto visual e a praticidade do edifício. A colocação das chapas foi planejada de modo que as microrranhuras naturais dessa estrutura ficassem na posição vertical, para permitir que a água da chuva escoasse facilmente, levando a poeira junto
> Projeto arquitetônico: Edo
Rocha – Espaços Corporativos
> Colaboradores: Caciporé Torres, Cristiane Amaral, Daniela de Oliveira, Graziela Arruda, Helena Machado, Lilian Kawaguti, Marcio Bariane, Mário Gouveia
V. Jr., Paula Di Núbila, Priscila
Rocha Vieira, Sandra Carreiro, Valéria Vecchi, Vinícius Lacerda
> Área construída:
36.131,26 m²
> Aço utilizado: aços inoxidáveis
AISI 304, 316 e 344
> Fornecedores: ArcelorMittal
Inox Brasil (aço inox), Algrad
(detalhamento da fachada de aço inox), Qualitinox (execução e instalação dos painéis de aço inox)
> Projeto estrutural: Vendramim Engenharia
> Projeto de estrutura metálica: Kelly Pitelko
> Execução da obra: Construtora WTorre S.A. e CME Brasil
> Local: São Paulo, SP, e Rio de Janeiro, RJ
> Data do projeto: 2001 (São Paulo) e 2005 (Rio de Janeiro)
> Conclusão da obra: 2003 (São Paulo) e 2006 (Rio de Janeiro) noite, criasse justamente o efeito pretendido de um caleidoscópio gigante. Outro detalhe interessante para alcançar tal resultado é que houve uma combinação de inox fosco e plano nas faixas horizontais e chapas curvas e polidas nas verticais.
O cuidado com este mosaico metálico de 7 mil m2 na fachada, que consumiu 100 toneladas de aço inox, vai muito além da estética e do conceitual: se reflete também na praticidade. Um exemplo é a questão da manutenção das chapas de aço, que foi projetada de modo que as microrranhuras naturais dessa estrutura ficassem na posição vertical para que a água da chuva escorresse livremente levando junto a poeira.
Uma torre de 105 m de altura, que dá suporte a equipamentos de telefonia celular, aumenta o impacto visual do edifício, reforçado com a utilização do aço. Seus 40 m iniciais foram feitos de concreto e revestidos com aço inoxidável. Já os 65 m restantes, foram executados com aço COR pintado, formando anéis que simbolizam as ondas da telefonia celular.
Com mais de 36 mil m2 de área construída, o edifício com seis pavimentos, heliponto e subsolo, é dividido em dois blocos que se interligam pela caixa dos elevadores. O projeto empregou o sistema tilt-up, sistema construtivo de pré-moldados in loco, em que o piso de concreto é executado no início da obra para servir de base às paredes moldadas, içadas e estruturadas por meio de lajes ou estruturas em aço. Este método permitiu a execução da obra em 14 meses, mas em contrapartida, não ofereceu muita liberdade
A sede corporativa da Vivo está em uma das regiões mais valorizadas do novo centro empresarial paulistano, na esquina das avenidas Roque Petroni Júnior e Chucri Zaidan. A torre externa, além de agregar a função de substituir 50 antenas de transmissão, surge como um novo marco escultural urbano de desenho ao projetista. Mas graças à versatilidade do aço e, claro, à criatividade de Edo Rocha, o prédio da Vivo fugiu dos padrões impostos pelo sistema construtivo e se tornou mais um ícone arquitetônico na metrópole. Prova disso, é que passados dois anos, a empresa de telefonia aprovou projeto semelhante para sua sede carioca.
Este edifício, também assinado por Edo Rocha, seguiu exatamente a programação espacial e arquitetônica da sede paulistana, mas em escala reduzida. A obra de 14.500 m2 de área útil, também composta de dois blocos unidos pela caixa de elevadores, se utilizou do mesmo conceito de fachada. Mas, neste caso, a fachada de 6 mil m2 demandou 70 toneladas de aço. Além das dimensões reduzidas, o diferencial dessa obra fica por conta do tipo de aço utilizado. Em São Paulo, foi usado o aço inox 304 (para as placas lisas e curvas) e no Rio, o inox 344 e 316 (escovado plano) e 316 (aço curvo polido). Isto porque, apesar de ser um material inoxidável, os aços 344 e 316, por possuírem molibdênio na sua composição, são ainda mais resistentes à corrosão por cloretos e, portanto, mais indicados às áreas litorâneas. À parte esta pequena diferença técnica, os dois projetos são um exemplo de como o uso do aço na arquitetura pode não apenas determinar a rapidez e a precisão dos projetos, mas promover e reiterar a identidade das empresas contratantes. (I.G.) M