ARQUITETURA AÇO
Uma publicação do Centro Brasileiro da Construção em Aço número 22 junho de 2010
Copa 2010
Copa 2010
Uma publicação do Centro Brasileiro da Construção em Aço número 22 junho de 2010
Copa 2010
Copa 2010
ESTÁDIOS, GRANDES PALCOS ESPORTIVOS do planeta, tornam-se o foco de todos os olhares durante a Copa do Mundo em um modelo arquitetônico atualizado: o de arenas multiuso. Amplas, seguras e aptas a receber multidões de torcedores durante as partidas de futebol, mas também de continuar servindo a sua comunidade em outras modalidades – como o rúgbi, no caso da África do Sul –, as arenas construídas ou reformadas para este torneio confirmam o uso do aço como uma tendência irrevogável para esta tipologia, nas palavras do arquiteto Robert Hormes, do GMP, a “catedral contemporânea”.
Destacado nas imensas e engenhosas coberturas, o material viabilizou obras monumentais, realizadas em tempo recorde no país africano. Sua versatilidade permitiu com que adaptações reversíveis – como arquibancadas que devem ser desmontadas após o evento, sem custo ou impacto no edifício – fossem erguidas para a Copa do Mundo 2010. Elas são de baixo impacto ambiental, mas de alto impacto cultural, legando ao país belos edifícios que interagem positivamente com a paisagem.
Para além das “catedrais”, o aço foi essencial para ampliações da infraestrutura – aeroportuária, comercial e turística. Ampliações estas necessárias para a realização do evento e que contribuem para o aprimoramento urbano do país. Nossa maior torcida é que desta Copa o Brasil traga não só o troféu, mas a lição da construção racional, limpa e voltada para as questões fundamentais do país. E faça bonito também em 2014.
04. Coberturas monumentais e soluções versáteis que priorizam a segurança marcam o uso do aço nos estádios da Copa de 2010. 14. A grande demanda por voos e o curto espaço de tempo para as obras pautou a remodelação da estrutura aeroportuária sul-africana. 20. Em entrevista, Piet Boer fala de como o aço foi vital para a construção do Soccer City, arena-símbolo do evento internacional. 24. Tradição e modernidade foram aspectos valorizados na remodelação dos espaços comerciais do país-sede. 30. Robert Hormes, do GMP, conta porque o escritório alemão faz das arenas grandes obras de arquitetura contemporânea. 34. Matéria técnica mostra porque as vigas casteladas e celulares são ideais para o vencimento de grandes vãos.
Vista aérea da Cidade do Cabo, na África do Sul. A Copa do Mundo impulsiona a revitalização da cidade, que tem no Estádio Green Point uma de suas maiores atrações para o evento
Bruce SutherlandO S ESTÁDIOS DA C OPA 2010 CONFIRMAM UMA TENDÊNCIA EVIDENCIADA
EM 2006, NA A LEMANHA : O AÇO VEM SE IMPONDO COMO O MATERIAL MAIS
APROPRIADO PARA ATENDER ÀS ESPECIFICIDADES DA TIPOLOGIA
DOS DEZ ESTÁDIOS que vão receber a Copa, os quatro apresentados nessa edição mostram especialmente a capacidade do aço para vencer grandes vãos e sua flexibilidade, que foi utilizada em projetos que se adaptam às características climáticas e culturais das regiões em que foram instalados. Além dos estádios novos, o aço viabilizou o retrofit de estádios existentes como o Ellis Park e o Loftus Versfeld que ganharam novas coberturas e tiveram arquibancadas ampliadas.
Milhares de pessoas estiveram envolvidas na construção e reforma dessas arenas esportivas. Para que as exigências do caderno de encargos da FIFA fossem cumpridas, a África do Sul teve de treinar os trabalhadores – vindos de todas as partes do mundo – e capacitá-los de modo a se tornarem capazes de aplicar os avanços ocorridos na construção de estádios.
“Os canteiros eram grandes experiências de globalização”, diz a arquiteta Miriam Sayeg, coordenadora de projetos no Brasil da Schlaich Bergermann und Partner, empresa responsável pela engenharia estrutural de estádios sul-africanos e alguns brasileiros que receberão a Copa de 2014. “Houve um salto qualitativo na mão-de-obra da África do Sul. Como o material era pouco, era preciso usá-lo bem. Foram realizados inúmeros estudos de performance das estruturas, que foram criadas com as mais novas tecnologias
Na página ao lado, a fachada do Soccer City, com seus tradicionais tons de terracota. Nesta página, o interior do estádio em que se sobressaem a estrutura em aço que sustenta a fachada e seu encontro com as treliças metálicas da cobertura. No detalhe abaixo, os perfis leves de aço galvanizado onde estão fixados os painéis de fachada
disponíveis. Essa é uma lição que o Brasil deveria aprender [para a Copa de 2014]”, afirma.
Uma das arenas sul-africanas mais importantes, na qual a tecnologia ajudou a expressar parte da cultura nacional é o Soccer City. Palco da primeira partida e da grande final do torneio, está localizado em Johannesburgo, capital da África do Sul. A construção do novo estádio começou em janeiro de 2007 e foi finalizada em março deste ano. “Foi um enorme desafio cuidar do projeto de um estádio tão intimamente ligado à África do Sul”, diz Piet Boer, arquiteto responsável pela reconstrução do Soccer City (leia a entrevista na p. 20). O estádio recebeu o primeiro discurso de Nelson Mandela, ao sair da prisão, em 1990; e foi lá onde milhares de sul-africanos despediram-se de Chris Hani, ativista político assassinado que lutou contra o apartheid
O novo Soccer City é uma tentativa de conciliação. O design do estádio é inspirado na calabash, argila típica do continente africano. Foram usadas oito cores para que se recriassem as sombras e as texturas do barro. As perfurações na fachada – ora abertas, ora revestidas por vidro – criam dois efeitos distintos: para os espectadores que assistem a um evento durante o dia, a luz natural entra também por esses espaços, clareando os acessos às arquibancadas. A impressão é inversa à noite: a luz dos refletores, colocados na extremidade da cobertura, vaza pelas aberturas e pela parte inferior do estádio (suas áreas de acesso), como se o pote de argila repousasse sobre uma fogueira acesa.
A cobertura em aço levou apenas nove meses para ser montada e é sustentada por uma enorme treliça em forma de anel, revestida em politetrafluoretileno (PTFE). O estádio, cuja área construída é de 62 mil m2, tem capacidade aproximada de 90 mil lugares.
Em Port Elizabeth foi erguido um estádio cujo nome já é uma homenagem à busca pela união do povo sul-africano. O Nelson Mandela Bay Stadium está localizado à margem do lago North End.
Conhecida como “cidade do vento”, Port Elizabeth precisava de um estádio capaz de atenuar o impacto dos seus constantes e violentos ventos marítimos. O formato de “folha” da cobertura foi desenhado com esse propósito. As 36 treliças triangulares que compõem a estrutura da cobertura, de 3.500 toneladas, são revestidas por chapas metálicas perfuradas e membranas tensionadas.
“Somente o aço, material leve e versátil, poderia ser empregado na confecção dessa cobertura, que foi pensada como um escudo para os espectadores”, diz Ralf Amann, do GMP Arquitetos, escritório que, ao lado da empresa sul-africana BKS, esteve encarregado do projeto do estádio, o qual poderá receber mais de 48 mil espectadores em suas duas filas de arquibancadas.
O design do Nelson Mandela Bay Stadium levou em conta não apenas aspectos climáticos e técnicos, mas também fatores culturais. Na fachada, realizado por artesões locais, há um painel com 700 m de comprimento com elementos tradicionais e modernos da cultura africana. Também a revitalização da área urbana foi considerada: o estádio deve ser amplamente utilizado após as partidas da Copa. Os locais destinados à imprensa poderão ser convertidos em escritórios e áreas de lazer para a população. Uma área aberta nas imediações do estádio oferece recreação aquática. A expectativa é que o parque Príncipe Albert, onde o estádio está instalado, torne-se um dos destinos favoritos das excursões turísticas na África do Sul.
Localizada também ao sul do país, a oeste de Port Elizabeth,
a Cidade do Cabo foi escolhida para receber o estádio Green Point, também projetado pelo GMP. A concha externa do estádio foi desenhada como uma estrutura cuja silhueta ondulante dá movimento ao estádio e o liga ao seu entorno. A malha de fibra de vidro que percorre a estrutura produz uma fachada uniforme, um envelope que segue o contorno delineado. Essa superfície translúcida absorve e reflete a luz natural.
A estrutura da cobertura de 36 mil m2 do Green Point é formada por um sistema de anéis e aros semelhante à roda de uma bicicleta – a combinação de uma cobertura suspensa com sistemas de treliças radiais. Todos os seus elementos são tensionados. O anel interno, que parece flutuar sobre
o gramado, prende-se, por meio dos cabos pré-manufaturados na Alemanha, ao anel externo, o qual, tensionado, tende a ser puxado para o centro do estádio. Um anel de compressão retrai essa segunda estrutura, dando a rigidez necessária para que a cobertura, revestida por uma membrana de vidro laminado e PVC, se debruce sobre parte da arquibancada e do gramado. Cada uma das treliças precisou de apenas um dia para ser montada. A cobertura ficou pronta em dez meses.
“O uso do aço é uma consequência natural da tipologia dos estádios”,
diz Amann. “No caso do Green Point, ele era o material que se adaptava com maior precisão às exigências da sua cobertura.”
Foram utilizadas 7 mil toneladas de aço estrutural na cobertura do Green Point. Na cobertura, o espaço entre o revestimento de vidro e a membrana comporta sistemas de alto-falantes e de iluminação. Parte das arquibancadas são compostas de perfil galvanizado conformado a frio, sobre uma estrutura tubular. O material está presente também nos guarda-corpos feitos em aço galvanizado. Com suas arquibancadas removíveis, o Moses Mabhida pode ter a sua capacidade de 70 mil assentos reduzida para 56 mil. Após a Copa,
alguns assentos darão lugar a camarotes para os jogos de rúgbi que o estádio vai receber – garantindo, assim, a sua viabilidade econômica.
Localizado sobre uma plataforma, o estádio multifuncional Moses Mabhida está acessível ao visitante na entrada sul através de uma larga escadaria. É lá que descem as duas pontas do arco de 340 m que atravessa toda a extensão do estádio, referência à bandeira da África do Sul e à integração do seu povo. Um teleférico na extremidade norte leva-o à parte mais alta do arco,
A manta em PTFE da cobertura filtra a luz solar e acompanha a fachada do estádio. A membrana permeável acompanha a estrutura externa do estádio. Ao lado as arquibancadas removíveis que permitem com que a capacidade do estádio seja reduzida de 70 mil assentos para 56 mil
de onde tem-se uma visão panorâmica do Oceano Índico e de Durban, cidade onde o Moses Mabhida foi construído. “A montagem do arco foi estudada passo a passo, em todas as suas etapas”, diz Miriam Sayeg.
A geometria da cobertura foi determinada pelo conceito arquitetônico do estádio, desenvolvido pelo escritório GMP. O arco possui 56 seções, com peso médio de 40 toneladas cada – ao todo, a estrutura em aço da cobertura é feita de 5.500 toneladas. Uma série de cabos radiais full lock foi fixada entre
o anel de compressão e o arco. Eles estão presos na extremidade interna da cobertura. A manta em PTFE da cobertura deixa passar metade da luz externa, protegendo os espectadores do ofuscamento. A membrana permeável da fachada acompanha os contornos do estádio e abriga do sol e do vento os espaços de circulação de pessoas no seu interior.
Participaram da construção do estádio sete grandes construtores e 30 empresas, entre as quais destacam-se a Group 5, WBHO e Pandev. Quase 94 mil m2 de lajes protendidas foram usadas, e 1.866 estacas empregadas em suas fundações. (F.A.) M
Abaixo, detalhe das treliças de aço do Soccer City. No centro, a solução aerodinâmica do Mandela Bay, em Port Elizabeth, e destaque da cobertura do Moses Mabhida. Ao fundo, a cobertura do Green Point
Se o aço é cada vez mais visível nos elementos dos novíssimos estádios de futebol, é nos enormes vãos de suas coberturas que a expressividade e a versatilidade do material são ainda mais patentes. Elas têm um papel fundamental da concepção estrutural ao resultado visual das arenas. A empresa alemã Schlaich Bergermann und Partner (SBP) projetou as coberturas do Soccer City, Port Elizabeth, Durban e Cidade do Cabo, e participará da modernização de alguns dos estádios brasileiros que receberão a Copa de 2014.
Silvia Scalzo Eneida Jardim Marcus Bredt Marcus BredtO CSN Steelcolors já está em campo, ou melhor, já está na fachada de uma das mais importantes arenas que receberá os jogos da Copa do Mundo de 2014, o Estádio Beira Rio.
Este produto possui a mais moderna tecnologia em aços pré-pintados, proporcionando beleza, versatilidade, fácil manutenção e variedade de cores e formas para aplicações internas e externas.
A CSN oferece soluções em aço para construção civil e para a preparação do Brasil para a Copa do Mundo, tratam-se de soluções que proporcionam velocidade construtiva, flexibilidade e sustentabilidade para obras de infraestrutura, construção e revitalização de estádios.
Arquitetura: HYPE STUDIO SANTINI & ROCHA ARQUITETOSP OR QUASE SEIS ANOS , O GOVERNO SUL - AFRICANO INVESTIU EM MELHORIAS NO SEU SISTEMA AEROPORTUÁRIO .
N OS AEROPORTOS DAS CIDADES DE J OHANNESBURGO E C IDADE DO C ABO FORAM CONSTRUÍDOS NOVOS TERMINAIS
DE PASSAGEIROS E D URBAN GANHOU UM AEROPORTO
TOTALMENTE NOVO , TUDO PARA DAR A MELHOR RECEPÇÃO
POSSÍVEL AOS TURISTAS DURANTE A C OPA DO M UNDO 2010
PARA RECEBER OS MILHARES DE TURISTAS e todas as equipes dos diversos países que disputam a Copa do Mundo de 2010, o governo da África do Sul investiu R$ 5,2 bilhões na revitalização de seus dois maiores aeroportos, Johannesburgo e Cidade do Cabo, e outros R$ 7,9 bilhões na construção do novo aeroporto de Durban.
Só no aeroporto de Johannesburgo, o O. R. Tambo International Airport, principal porta de entrada para a Copa, foram investidos R$ 3,5 bilhões na sua ampliação.
A maior inovação no terminal de passageiros do O. R. Tambo está no projeto de arquitetura, que inclui o uso de um átrio para combinar os quatro diferentes pisos, conectados por rampas, elevadores e escadas. A presença mais forte do aço está principalmente na área de embarque, marcada por colunas de aço. A fachada sul é em aço e painéis de vidro. Passarelas em steel deck oferecem acesso ao terminal. Já a fachada oeste é protegida por um teto abobadado.
Com a ampliação, o O. R. Tambo International Airport passou a ocupar uma área de 17.730 m2, tendo sua capacidade aumentada de dois para 10 milhões de passageiros por ano. Seu terminal passou a oferecer uma ampla variedade de restaurantes e lojas, um shopping para passageiros internacionais, um centro de conferências e suporte para negócios, tecnologia wireless e um centro médico.
Além disso, o novo terminal de passageiros recebeu, em 2008, um prêmio do Instituto do Aço da África do Sul, na categoria Projeto.
No aeroporto de Johannesburgo, o átrio integra visualmente os diversos setores do terminal de passageiros, interligados por rampas, elevadores e escadas, recebendo os turistas com conforto e modernidade. De cima para baixo: vista exterior da cobertura do átrio do aeroporto; o aço está presente nas fachadas e cobertura do estacionamento; passarelas metálicas do aeroporto e o aço inox reveste as colunas e é utilizado nos guarda-corpos
Fotos Silvia ScalzoO consórcio de escritórios de arquitetura,, que inclui a Bentel Associates International (BAI), Osmond Lange & Partners, Syakha Architects e Shabangu Architects, assumiu o desafio da fase 1 e 2 da ampliação, que continuaria com o tráfego na pista existente durante as obras. A solução foi usar estruturas em aço e bases de concreto, reduzindo o impacto nos serviços.
De acordo com a equipe da BAI, a premiação do Instituto veio reforçar o reconhecimento da excelência no uso da estrutura em aço. “Os materiais e o partido arquitetônico foram cuidadosamente escolhidos seguindo requisitos de construtibilidade, segurança, planejamento e logística, resultando em uma obra de alta qualidade.”
O plano e o diagrama da ampliação do terminal de passageiros do Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo precisavam ser extremamente robustos e flexíveis para atender ao programa estabelecido pelo cliente e ao mesmo tempo antecipar necessidades de futuras ampliações. O desafio foi assumido pelo arquiteto Jed Kritzinger, CEO do Kritzinger and Partners, escritório responsável pelo projeto do novo terminal de passageiros do aeroporto da Cidade do Cabo.
“Nosso desejo era construir um terminal que fosse um marco na cidade, com uma imagem forte e uma identidade que remetesse ao ato de voar. Para isso, desenhamos um telhado longo e curvo em todo o hall de check-in, o coração do aeroporto, que recebeu a forma de asa de avião." O resultado é um espaço em que o passageiro se ambienta e se movimenta com facilidade. O terminal é dividido em setores, hall de entrada, térreo e quatro andares. “O passageiro tem uma ampla visão da área de check-in, da área de segurança, das pistas e da praça de alimentação, no piso superior. Essa facilidade visual lhe dá a sensação de conforto e segurança. Esta transparência do partido arquitetônico ainda oferece ao passageiro uma visão de 360° do entorno do aeroporto,
À direita, hall principal de check-in do terminal de passageiros do aeroporto da Cidade do Cabo: viga mestra em aço, apoiada em três colunas também de aço, proporciona um grande vão, além de suportar o teto em aço. No destaque abaixo, coluna em aço suporta as estruturas do telhado, de 22.420 m2, que receberam 1.360 t de aço
permitindo visualizar as belezas naturais da região, como a Table Mountain”, destaca Kritzinger.
Segundo o arquiteto, o aço foi o material escolhido para solucionar os desafios estruturais e acelerar a construção, com base em um programa rigoroso, iniciado em junho de 2005 e finalizado em setembro de 2009. O hall principal do check-in tem 7.300 m2 e foi construído com uma viga mestra suportada por três colunas, todas em aço, e com um grande vão entre elas.
As colunas e as estruturas horizontais em aço foram usadas como suporte para o envelope do terminal, suportando também a fachada em vidro. Portais estruturados em aço e revestidos em pedra compõem as entradas de embarque, no segundo piso, e de desembarque, no térreo.
A cobertura do Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo tem 22.420 m2. Sua estrutura em aço pesa 1.360 toneladas. O forro do terminal também merece ser destacado. No total, 3.000 toneladas
de aço foram utilizadas na ampliação do terminal de passageiros.
Um novo aeroporto para Durban
King Shaka International Airport, o novo aeroporto de Durban, entrou em funcionamento em 1° de maio de 2010, a poucos dias do início da Copa.
Três vezes maior que o Durban
International Airport, tem capacidade para receber as maiores aeronaves da atualidade, como o airbus A380, e recepcionar 7,5 milhões de passageiros por ano. O novo aeroporto está situado a 35 km ao norte do centro de Durban e a 55 km distante do
antigo aeroporto, que foi desativado para voos internacionais.
O King Shaka International Airport faz parte do Dube TradePort, estruturado pelo governo para dar suporte de infraestrutura no desenvolvimento econômico e turístico da região de Durban. É composto por área aeroportuária, Zona de Comércio e Cyberport.
O terminal de passageiros tem uma área de 103 mil m2, uma pista de taxiamento de 400 mil m2 e um estacionamento para 6.500 carros. No total, foram utilizadas 4.900 toneladas de aço – metade do que foi usado na construção da Torre Eiffel.
O terminal de cargas tem 15.500 m2, com instalações de processamento de carga totalmente automatizadas para cerca de 100 mil toneladas por ano na primeira fase de desenvolvimento. Uma área de serviços com 12 hectares ao sul do terminal de passageiros também foi incluída no projeto do King Shaka. Ela se destina a abrigar centros de conferências, hotéis e parques industriais para atender à Zona de Comércio.
Tecnologia de ponta e critérios de eficiência energética foram utilizados para transformar o novo aeroporto de Durban em um dos mais modernos do mundo. Com projeto do escritório Osmond Lange Architects and Planners, o King Shaka segue o padrão internacional de Aeroshopping, e conta com 55 lojas. As áreas de chegada e partida são separadas das áreas de descanso, de forma a melhor entreter os passageiros enquanto esperam por seus voos. (D.P.) M
L OCALIZADO EM J OHANNESBURGO , O S OCCER C ITY É UMA DAS MAIS
AVANÇADAS E IMPRESSIONANTES ARENAS ESPORTIVAS DA Á FRICA DO S UL . A TECNOLOGIA DE PONTA , ENCONTRADA DESDE A FACHADA
ATÉ O GRAMADO , FAZ USO DE ELEMENTOS REGIONAIS PARA CRIAR A IDENTIDADE VISUAL ÚNICA DO ESTÁDIO . O S ARQUITETOS SUL- AFRICANOS P IET B OER E B OB VAN B EBBER SÃO OS RESPONSÁVEIS
POR ESSE OUSADO PROJETO . A OS 33 ANOS , B OER É DIRETOR DO B OOGERTMAN U RBAN E DGE AND P ARTNERS , ESCRITÓRIO QUE TEM EM SEU PORTFÓLIO , ENTRE OUTRAS OBRAS , A T ORRE D OHA , NO C ATAR , E O CENTRO COMERCIAL M ELROSE A RCH – PREMIADO EM 2009 PELO I NSTITUTO S UL -A FRICANO DA C ONSTRUÇÃO EM A ÇO (LEIA SOBRE O PROJETO NA PÁGINA 26)
NA ENTREVISTA A SEGUIR, Boer fala sobre as possibilidades construtivas viabilizadas pelo aço e sobre a influência que os elementos históricos e sociais da África do Sul tiveram na concepção do Soccer City.
AA – Quais os maiores desafios que tiveram de ser superados na construção do Soccer City? Qual a importância do aço para que o projeto pudesse ser finalizado no curto prazo estipulado?
O arquiteto sul-africano Piet Boer, autor dos projetos do píer do Aeroporto Internacional de Johannesburgo e do centro comercial Melrose Arch, na mesma cidade. “O Soccer City é, de longe, o nosso maior e mais ambicioso projeto”, diz
PB – Um dos aspectos mais importantes do processo construtivo na África do Sul era o curto espaço de tempo de que dispúnhamos para trabalhar. Isto significa que tivemos de desenhar todos os aspectos do estádio enquanto ainda
Divulgaçãoo estávamos construindo. Isso implicava em tomar todas as decisões certas logo no início e amarrá-las ao design e conceitos gerais à medida que o projeto progredia. O uso do aço foi decisivo para a realização do conceito de argila africana. Ele era o único material que nos oferecia o desempenho exigido para vencer os vãos necessários e flexibilidade suficiente para dar a forma final do estádio. Nós tivemos ajuda extensiva na resolução do design por parte dos engenheiros da PD Naidoo & Associates (PDNA) e da Schlaich Bergermann und Partner (SBP), que eram parte integral do time de design do estádio.
AA – O senhor queria que o Soccer City tivesse também uma iluminação de dentro para fora, como uma grande luminária. Para isso, lâmpadas foram instaladas em sua estrutura, “perfurada” com esquadrias e chapas de aço. Qual será o efeito visual que isso terá para a cidade a partir da inauguração do estádio?
PB – Uma das características mais facilmente reconhecíveis da calabash (técnica tradicional de cerâmica do país) é a ideia de que ela cria um padrão. Este padrão pode identificar culturas, contar histórias ou apenas estabelecer o contexto específico no qual a argila foi feita. Nós fazemos referência a essa ideia primeiramente ao introduzir uma gradação de cores sobre a fachada, gradação essa que se torna o padrão principal durante o dia. À noite, entretanto, isso se inverte, e as aberturas na fachada tornam-se o padrão, com as luzes internas acesas. Para conseguir o efeito aparentemente
Usar o aço é construir com extrema eficiência, o que possibilita o desempenho necessário em termos de design e construçãoFotos Silvia Scalzo
aleatório das aberturas na fachada, nós tivemos de desenvolver uma estrutura de apoio que nos desse flexibilidade para ajustar essa padronização em todas as direções. Isso foi possível graças a uma grade de sustentação em aço, pré-fabricada e montada no local antes da instalação no estádio.
AA – O Soccer City é inspirado na calabash. Outro importante estádio no país, o Mbombela, em Nelspruit, usa motivos também tipicamente africanos – as estruturas em forma de girafa. Num momento em que as arenas esportivas no mundo estão ficando cada vez mais tecnológicas e sofisticadas, o senhor acredita que a arquitetura tem um papel a desempenhar na expressão das características tradicionais de um país ou uma região?
PB – O conceito inicial do Soccer City, a argila africana, foi escolhido como elemento unificador em toda a África, um artigo reconhecível a todas as culturas no continente. O design do estádio é essencialmente uma referência a isso. O ideal é que o estádio aja como elemento de união para as pessoas na África do Sul e estabeleça um ícone com o qual todos possam se relacionar e aceitar como pertencente a eles próprios.
AA – O aço pode ser um aliado importante para arquitetos preocupados com a construção de arenas esportivas sustentáveis?
PB – Sem dúvida. De início, o aço é completamente reciclável, o que permite que o impacto da estrutura sobre o ambiente seja reduzido substancialmente. Ele também dá aos arquitetos a liberdade de desenhar vãos gigantescos e contornos de formas variáveis com as estruturas de apoio e o revestimento da edificação. Trata-se de construir com extrema eficiência, o que possibilita o desempenho necessário em termos de design e construção.
AA – Além das partidas decisivas que recebeu, o Soccer City está profundamente ligado à história da África do Sul. Foi lá, por exemplo, que aconteceu o primeiro discurso de Nelson Mandela após sua libertação, em 1990. O senhor tentou de alguma forma preservar essa característica histórica na reformulação do estádio?
PB – O estádio tem uma memória rica e colorida. Como você disse, ele foi palco de inúmeras partidas épicas e de eventos determinantes para a história de nosso país. Foi uma honra para nós trabalhar num local tão importante, que é parte inextrincável de nossa história. Nós celebramos o estádio original criando um código de cores para todos os elementos remanescentes que integram o novo estádio. A estrutura prévia a oeste foi pintada de cinza para diferenciá-la das novas estruturas e para mostrar a dimensão do que ficou para trás. Nós também incorporamos a memória de Johannesburgo no uso de cores na fachada e na cobertura, como uma ligação com a rica história mineradora da cidade. Até o túnel dos jogadores é uma referência aos poços de minas e à memória das pessoas que construíram essa cidade. Ainda sobre o conceito da argila africana: em nossa cultura, a caneca de cerveja é passada de mão em mão em uma roda de pessoas, para que todos bebam do mesmo recipiente. É uma descortesia baixar a caneca até que ela esteja vazia e todas as pessoas tenham bebido dela. O Soccer City carrega a mesma analogia. É a união de pessoas, um espaço onde povos e culturas podem se reunir e beber dos espetáculos e dos eventos futebolísticos e das realizações de uma nação. Ele é parte de nossa história e de nosso futuro. (F.A.) M
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OS TURISTAS QUE DESEMBARCAREM
na África do Sul para assistir aos jogos da Copa do Mundo 2010 se surpreenderão com a variedade de centros comerciais construídos nos últimos anos. A variedade impressiona pela preocupação estética e pela funcionalidade. De shopping centers tradicionais a centros comerciais de rua, com suas cores, sons e sabores, os sul-africanos investiram no que há de mais moderno nesta tipologia. E o aço, no país que está entre os maiores produtores do mundo, não poderia se ausentar.
A revista Arquitetura & Aço selecionou três projetos que se destacam devido à qualidade estética no uso do aço, pelo partido arquitetônico e que privilegiam o bem-estar das pessoas.
O primeiro deles, o Melrose Arch, em Johannesburgo, é um excelente exemplo do desempenho que a estrutura tubular em aço tem, principalmente quando utilizada com criatividade e inovação. O design da cobertura na nova Piazza Galleria é inspirado nas cúpulas geodésicas do teto da cabine dos bombardeiros ingleses Vickers
Wellington, usados durante a Segunda Guerra Mundial. O projeto recebeu em 2009 o prêmio do Instituto do Aço da África do Sul –Southern African Institute of Steel Construction (SAISC) –, na categoria Estrutura Tubular
O Melrose Arch retoma o conceito de shoppings “high street”, isto é, uma galeria com ruas cobertas, permitindo a entrada de luz natural, e compreende mais de 60.000 m2 formados por lojas e escritórios.
O telhado da Piazza Galleria, com cerca de 2.400 m2 e um vão de 17 m, foi concebido como uma pele de vidro triangular, apoiada em uma grade quadrada com as diagonais em tubos de aço soldados. A geometria final permitiu a modulação dos painéis de vidro e aço, fundamental para que a equipe de arquitetos atendesse às rigorosas restrições de tempo e custo.
FotosInicialmente, pensou-se em uma cobertura de vidro. A escolha foi considerada pelos proprietários como algo muito comum. Os arquitetos responsáveis, reunidos no consórcio Boogertman + Partners Architects (Pty), também autores do projeto do estádio Soccer City (ver matéria na página 20), decidiram então pela malha geodésica em estrutura tubular de aço e vidro. Apesar dos desafios estruturais implicados nesta cobertura, como o escoamento da água na cobertura de formato curvo, ela provou-se inovadora, funcional e de forte composição estética.
Para reforçar a concepção visual da geodésica, um tubo de diâmetro uniforme foi utilizado em diferentes espessuras nos elementos estruturais de apoio. A equipe desenvolveu uma estrutura que permitiu a pré-fabricação dos grandes segmentos do telhado, com conexões soldadas no local e aparafusadas.
Shopping de classe mundial
Outro projeto premiado pelo Instituto do Aço da África do Sul impressiona por suas linhas modernas. É o Maponya Mall, o primeiro complexo comercial de classe mundial de Soweto, o bairro-símbolo do apartheid de Johannesburgo.
O Maponya Mall foi um sonho do visionário Richard Maponya,
empresário sul-africano que começou a carreira em uma loja de departamentos no setor exclusivo para negros e um grande adversário do apartheid, que se tornou realidade em setembro de 2007, após mais de duas décadas: criar o primeiro megashopping center para a população de Soweto.
Localizado na Old Potchestroom Road, principal rota para o subúrbio de Kliptown, o Maponya Mall possui uma estética arquitetônica diferenciada dos centros comerciais da África do Sul, e seus elementos estruturais e decorativos incluem o uso intensivo do aço.
O arquiteto Luis Araujo, do escritório Bentel Associates International (BAI), responsável pelo projeto do centro comercial, afirma que tanto os designers quanto os desenvolvedores do projeto não mediram esforços para
Getty Images/Stephane de Sakutindar a este empreendimento um alto padrão de qualidade. "O briefing para o projeto exigia um compromisso com a criação de um senso de comunidade –o que foi conseguido pela grande praça com iluminação natural que domina o programa arquitetônico. A equipe de profissionais criou um espaço central luminoso e arejado, com claraboias, janelas e coberturas curvas."
Waterfront
Em 1652, um século e meio após a descoberta da Rota Marítima do Cabo, a Companhia Holandesa das Índias Orientais fundou uma estação de abastecimento, que mais tarde viria ser a Cidade do Cabo. E é na Cidade do Cabo, situado entre a Robben Island e a Table Mountain, no coração do porto, que está localizado o charmoso centro comercial Victoria & Alfred Waterfront, o destino turístico mais visitado da África do Sul,
À esquerda e acima, detalhes do Maponya Mall em Soweto: símbolo do apartheid ganha um democrático shopping center, cujos detalhes em aço mereceram premiação do Instituto do Aço da África do Sul. Abaixo, detalhe da ponte estaiada de Waterfront com a Tower Clock ao fundo
recheado de atrações como pubs, restaurantes, lojas especializadas, mercado de artesanato, teatros e cinemas.
Nos últimos 140 anos, a arquitetura vitoriana industrial do porto passou por diversas mudanças, principalmente nas três últimas décadas, e continua sendo revitalizada até hoje. Dois ícones que remontam à construção das docas são a Clock Tower e a Time Ball Tower.
Em estilo gótico vitoriano, a Clock Tower, concluída em 1882, tinha como função abrigar o escritório para o capitão do porto. Trata-se de um ícone das antigas docas e sua restauração terminou no final de 1997. Já a Time Ball, criada pelo capitão Robert Wauchope e construída em 1984, é um tipo de farol que mostra o horário para os navios cronometrarem a entrada no porto.
O destaque no uso do aço no V&A Waterfront é a ponte móvel estaiada de 34 metros de extensão para pedestres que liga o prédio Port Captain à Clock Tower e foi fabricada em quatro seções, transportadas separadamente para a montagem no local. De acordo com Henry Fagan, da Henry Fagan & Partners, escritório de engenharia civil e consultoria estrutural, o conceito principal era de que a ponte não deveria ser no estilo vitoriano, holandês ou pós-modernista. “Percebemos que o design deveria usar como principais motivadores os princípios ambientais, e materiais e técnicas construtivas modernas para dar forma à criação. Por sorte, o cliente nos apoiou para que fizéssemos uma ponte despretensiosa,
moderna e com estrutura funcional”, observa Henry Fagan.
O elemento construtivo que mais se adequou aos requisitos descritos por Fagan foi o aço. “Apenas uma estrutura em aço poderia ser tão econômica, permitir a execução em um espaço de tempo tão curto – foram apenas 15 meses – e ainda ser estruturalmente tão efetiva, delicada e com apelo estético. Ela é um excelente exemplo da versatilidade do aço”, completa.
Por estar localizada à beira-mar, em uma atmosfera muito agressiva, a estrutura metálica da ponte recebeu proteção de duas camadas de primer à base de zinco, uma camada intermediária de tinta epoxy e duas demãos finais de poliuretano. A cor branca da estrutura permite à ponte se “misturar” ao ambiente náutico e receber os turistas sem tirar o encanto vitoriano do V&A Waterfront. (D.P.) M
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R ESPONSÁVEL PELO PROJETO DO ESTÁDIO G REEN P OINT , NA C IDADE DO C ABO , O ARQUITETO R OBERT H ORMES , DO ESCRITÓRIO VON G ERKAN , M ARG UND
P ARTNER A RCHITEKTEN (GMP), TEM À FRENTE UMA MISSÃO NÃO MENOS OUSADA :
A REFORMA DOS ESTÁDIOS M ANÉ G ARRINCHA , EM B RASÍLIA , M INEIRÃO , EM B ELO H ORIZONTE , E M ORUMBI , O ENDEREÇO EM S ÃO P AULO DA C OPA DE 2014
NESTA ENTREVISTA, Hormes fala sobre o novo conceito de estádios, a importância do aço para viabilizar as demandas das arenas esportivas e os preparativos para a Copa do Mundo que será sediada pelo Brasil.
AA – A FIFA tem expressado preocupação quanto à capacidade do Brasil de entregar os estádios a tempo para a Copa de 2014. Você compartilha desse receio?
RH – A Copa de 2014 será a minha terceira Copa do Mundo, e o cenário aqui não é muito diferente da África do Sul ou da Alemanha.
A preparação para uma Copa nunca é tranquila e nunca deve ser subestimada. Começar o processo e mantê-lo em ordem é metade do caminho, e eu entendo perfeitamente a posição da FIFA em fazer essa advertência no estágio inicial.
Ninguém acreditava que a África do Sul fosse capaz de entregar estádios tão fantásticos. Foi necessário um imenso esforço conjunto para provar o contrário. Quando todos os brasileiros se
empenharem nos preparativos para a Copa, tenho certeza de que serão bem-sucedidos. O entusiasmo pelo esporte certamente vai ajudar.
AA – Como o aço pode ajudar o Brasil a cumprir as exigências de um país-sede da Copa do Mundo?
RH – O tempo é essencial em cada preparação para a Copa do Mundo, e o aço é um material fantástico para estruturas muito eficientes. Elas podem ser pré-fabricadas sob condições ideais num prazo curto de montagem. A construção dos estádios da Copa do Mundo no Brasil não acontecerá, e certamente não será possível, sem o uso de estruturas de aço.
AA – Um dos traços mais visíveis dos recém-construídos estádios da África do Sul é a preocupação com o uso que eles terão após a Copa. Você acredita que essa é uma tendência mundial? O aço é um material importante quando se trata de construir arenas esportivas que sejam duradouras e versáteis?
RH – Os estádios de hoje são frequentemente chamados de catedrais do século 21. Isso significa que eles são mais do que lugares para eventos esportivos. Estádios são hoje polos sociais e não têm apenas de suprir, de várias formas, as necessidades específicas de uma comunidade. Além disso, eles têm de expressar a identidade, o espírito da comunidade.
Enquanto as catedrais levaram décadas para serem construídas, a partir de pedras, os estádios modernos são as catedrais de uma sociedade altamente tecnológica e computadorizada, construídos muito mais rapidamente.
O projeto, nesse ambiente, permite que novos caminhos sejam trilhados,
mas também requer novos materiais para que ele se torne realidade. O aço é um material de muita força e de enorme potencial, especialmente quando usado como um elemento estrutural sob tensão. Ele pode ser usado com grande precisão e manufaturado e montado por meio de diversos processos automatizados. Novas técnicas, usadas às vezes em ramos como a indústria automotiva, acabam por ajudar no desenvolvimento de novas formas e construções que não eram imagináveis antes.
O ritmo de quatro anos de eventos como a Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos requer um período muito curto de projeto, planejamento e construção para construções enormes – as quais precisam ser, também, únicas. Grandes estruturas de aço podem ser manufaturadas em partes e montadas in loco, com grande agilidade. A produção pode ser feita em um processo industrial controlado, longe das intempéries, com mecânica altamente especializada e precisão no processo. O modelamento tridimensional possibilita uma rápida transição de um projeto complexo para o processo de fabricação.
AA – Estádios como o Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth, parecem usar as condições climáticas adversas (no caso, os ventos fortes da região) em seu próprio benefício, criando estruturas visualmente dinâmicas. Até que ponto as condições climáticas determinam o aspecto visual dos estádios?
RH – Em nossa filosofia de projeto, arquitetura é diálogo: diálogo com o cliente, com a comunidade, com os investidores, com o tecido urbano e a paisagem urbana, com a história e o futuro de um lugar.
E, claro, diálogo com o clima. Nós tentamos trazer à tona todos os fatores conjuntamente, analisá-los e encontrar uma solução completa e única para aquele contexto.
Nessa abordagem, um estádio construído na tropical Durban e outro sob os ventos de Port Elizabeth não podem ter a mesma aparência. O clima é certamente um dos parâmetros mais característicos de uma localidade, e um projeto adaptado a essas condições certamente aumenta a unidade entre edificação e contexto. Isso não significa que o resultado é necessariamente dinâmico e sim único e apropriado.
AA – Anéis de compressão foram usados nas coberturas dos estádios Green Point e Moses Mabhida, e o aço foi usado abundantemente em outros estádios da África do Sul. Como esse material está transformando o conceito arquitetônico de arenas esportivas ao redor do mundo?
O aço não transforma o projeto; um projeto inteligente escolhe o material certo para sua aplicação certa. No caso dos estádios da Copa do Mundo, o aço foi de fato o material mais adequado
RH – É obrigação do arquiteto criar projetos de forma inteligente para que recursos sejam poupados e os materiais sejam utilizados de forma mais eficiente possível. Cidade do Cabo e Durban, com capacidade para aproximadamente 70 mil espectadores, têm arquibancadas de até 70 m de profundidade. Uma estrutura em balanço da cobertura, que deve estar sobre as arquibancadas, torna-se menos eficiente à medida que seu vão aumenta. A equipe da GMP, juntamente com os nossos parceiros da Schlaich, Bergermann und Partners-SBP (Stuttgart, Alemanha), buscou soluções que fizessem uso do aço da forma mais inteligente possível, criando uma estrutura leve. O número de elementos sob compressão foi limitado ao máximo, e tanto na Cidade do Cabo como em Durban esses elementos se agregam em um grande anel de compressão.
Lógica e funcionalidade são muito importantes para a nossa filosofia de projeto. Nós tentamos não lutar contra as leis da física ou os requisitos estruturais, mas antes usar essas premissas para encontrar novas formas. Estrutura e arquitetura fundem-se, e uma não pode existir sem a outra. O aço não transforma o projeto; um projeto
O cercamento do estádio Green Point, na Cidade do Cabo, foi feito em tela de aço galvanizado. Depois da Copa, uma das arquibancadas do anel em aço deve ser substituída por camarotes de partidas de rúgbi
inteligente escolhe o material certo para a sua aplicação certa. No caso dos estádios da Copa do Mundo, o aço foi de fato o material mais adequado.
AA – O projeto do Green Point pretende melhorar não apenas o seu entorno, mas a cidade de Cidade do cabo como um todo. Quais responsabilidades sociais devem permear a concepção e a construção de um estádio?
RH – Apenas pelo seu tamanho, a construção de um estádio já afeta um grande número de pessoas. Enormes quantias de dinheiro público são investidas em projetos de estádios, motivo suficiente para provocar uma discussão intensa sobre seus projetos e benefícios para toda a comunidade. A maior motivação para sediar um evento como a Copa do Mundo é a publicidade gerada para uma cidade. O evento deve ter o caráter específico da cidade-sede, funcionar adequadamente e servir como vitrine para a sua promoção. Isso torna o projeto especialmente difícil, já que todos os aspectos da comunidade que recebe o evento têm de ser contemplados e, tanto quanto possível, refletidos no projeto.
Temas atuais, como o uso racional de recursos, sustentabilidade ou eficiência energética precisam ser considerados juntamente com o desejo de um marco com alguma expressão simbólica. A pressão sobre os arquitetos é imensa, e ele é monitorado pelo público durante todo o processo. (F.A.) M
O tempo é essencial em cada preparação para a Copa do Mundo, e o aço é um material fantástico para estruturas muito eficientes. A construção dos estádios da Copa do Mundo no Brasil não será possível sem o uso de estruturas em açoSilvia Scalzo
AS VIGAS CASTELADAS (com aberturas em hexágonos) e celulares (com aberturas circulares), resultantes do desdobramento de perfis tipo I, têm como principal característica o aumento da resistência por meio do aumento da altura da viga original, sem alteração de seu peso. Essas vigas, utilizadas em pisos ou coberturas, permitem vencer grandes vãos com grande economia.
Abaixo, o passo a passo do processo de produção desde o perfil original até a viga castelada ou celular montada.
Vigas casteladas – aberturas em hexágonosVigas celulares – aberturas em círculos
Corte do perfil em ziguezague sem nenhuma perda de material Corte do perfil em círculos com uma pequena perda de material
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Separação das partes
Separação das partes
Deslocamento alinhando as partes que serão soldadas
Deslocamento alinhando as partes que serão soldadas
Junção e solda de composição da viga castelada e acerto das extremidades
Junção e solda de composição da viga celular e acerto das extremidades
As vantagens das vigas casteladas e celulares são quase sempre maiores do que as desvantagens, dentre as quais estão:
As vigas casteladas e celulares formam vigas com uma altura até 50% maior do que o perfil original. Uma viga mais alta significa um maior momento de inércia, podendo receber cargas maiores e/ou atingir maiores vãos livres, sem aumentar o peso da viga.
As vigas casteladas são sempre mais leves do que um perfil de alma cheia de mesma resistência, mas não se pode esquecer que existem os custos de corte e solda de composição, o que exigirá um tempo adicional de produção.
Outro aspecto para ser levado em consideração é que vãos maiores significam menos pilares e menos pontos de fundação.
As vigas casteladas e celulares, embora mais altas do que as vigas laminadas originais, possuem aberturas generosas na alma, que permitem a passagem da maior parte dos dutos de ar-condicionado e tubulações, diferentemente das vigas de alma cheia, onde esses dutos e tubulações têm de passar abaixo das vigas.
As principais aplicações para as vigas casteladas são situações com vãos grandes e cargas baixas, e ainda quando as aberturas são importantes para a passagem de dutos ou como partido estético para a obra. M
Vigas de coberturas e pisos para vencimento de grandes vãos
Vigas de piso de edifícios garagem e concessionárias
Os números anteriores da revista Arquitetura & Aço estão disponíveis para download na área de biblioteca do site: www.cbca-iabr.org.br
Habitação de Interesse Social – setembro de 2010
Obras Metroviárias – dezembro de 2010
ADENDO DA EDIÇÃO N° 21: a fabricação e montagem da estrutura metálica da cobertura elíptica do conector do aeroporto Santos-Dumont foi da Construmet Engenharia e Construções Metálicas Ltda., com responsabilidade técnica do engenheiro Wilson Ramos da Silva Filho. Construmet: Avenida Jorge João Saad, n° 1.120, São Paulo. Contatos: (11) 3842-5622 / 3846-1339; e-mail construmet@construmet.com.br.
Contribuições para as próximas edições podem ser enviadas para o CBCA e serão avaliadas pelo Conselho Editorial de Arquitetura & Aço. Entretanto, não nos comprometemos com a sua publicação. O material enviado deverá ser acompanhado de uma autorização para a sua publicação nesta revista ou no site do CBCA, em versão eletrônica. Todo o material recebido será arquivado e não será devolvido. Caso seja possível publicá-lo, o autor será comunicado.
É necessário o envio das seguintes informações em mídia digital: desenhos técnicos do projeto, fotos da obra, dados do projeto (local, cliente, data do projeto e da construção, autor do projeto, projetista estrutural e construtor) e dados do arquiteto (endereço, telefone de contato e e-mail).
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