Arquitetura & Aço nº 11 - Retrofit e Outras Intervenções

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ARQUITETURA AÇO &

Uma publicação do Centro Brasileiro da Construção em Aço número 11 setembro de 2007

Uma publicação do Centro Brasileiro da Construção em Aço número 11 setembro de 2007

Retrofit e outras intervenções 9771678112098 11

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Agente da transformação

REMODELAÇÃO, RECICLAGEM, REFORMA, restauro, retrofit, recuperação, reconversão. Estes e outros “re” são o tema desta edição de Arquitetura & Aço. Nossa intenção, neste número, é mostrar como o aço pode ser explorado nas intervenções em edifícios preexistentes, das mais variadas naturezas.

Assim, reunimos aqui obras de diversas escalas e tipologias, mesclando interferências em edifícios emblemáticos – projetados por grandes nomes da arquitetura brasileira, como Ramos de Azevedo, Rino Levi e Jorge Machado Moreira – a outras em construções “anônimas”, como o sobradinho que deu origem à Associação Cachuera!, mostrando toda a versatilidade do aço, que possui a capacidade de se adaptar com precisão às necessidades específicas de cada projeto.

Dentre as principais qualidades do material para os projetos “re”, destaca-se a leveza: seu baixo peso representa menos sobrecarga para as fundações do edifício original, reduzindo – e, algumas vezes, até eliminando – a necessidade de colocação de estruturas adicionais, como no caso da Pinacoteca do Estado, do Santander Cultural e do Centro Universitário Senac.

A agilidade de execução permitida pela estrutura metálica também pode ser determinante em obras como a do Espaço Estação, cuja execução aconteceu sem o fechamento do shopping center que já existia no local, ou como o Santander Cultural, cuja obra durou apenas quatro meses, a despeito de seu porte.

Outro aspecto importante é a facilidade que os acréscimos em aço têm em se destacar da construção original, ainda que dialoguem harmonicamente com ela. Diferenciar claramente o novo do antigo, afinal, é praticamente consenso entre os arquitetos quando se trata de interferências em edifícios históricos. E esta foi a regra seguida nos projetos para o Santander Cultural, para a Pinacoteca do Estado e para o apartamento no Edifício Prudência, por exemplo. Mesmo quando o destaque não é acentuado, e o aço integra-se ao edifício preexistente, uma coisa é certa: os arquitetos tiram partido da plasticidade que o material oferece, como nos projetos da Associação Cachuera! e da Estação das Docas. Boa leitura!

sumário 08.14.10.16. 20. 24. 27. 30. Foto da capa: o equilíbrio entre o novo e o antigo é o forte da intervenção realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo Arquitetura & Aço nº 11 setembro Foto Nelson Kon 04

04. Aço permite a reconversão de antiga estação ferroviária em centro de entretenimento e negócios, em Curitiba. 08. Implantação de sacadas atualiza edifício residencial, em São Paulo. 10. Antigos galpões portuários revitalizados dão origem a complexo cultural e turístico, em Belém do Pará. 14. Após intervenção engenhosa, sobrado da década de 1950 passa a abrigar um centro de cultura popular, em São Paulo. 16. Apartamento paulistano se transforma com a implantação de um “equipamento multifuncional” em aço, que percorre toda a extensão do imóvel. 20. Conjunto fabril dos anos 1960 é reciclado e convertido em sede de centro universitário na capital paulista. 24. O aço é o símbolo da renovação no premiado projeto de revitalização da Pinacoteca do Estado de São Paulo. 27. Harmonia entre o novo e o antigo é o foco do projeto de restauro que deu origem ao Santander Cultural, em Porto Alegre. 30. Leveza da estrutura em aço viabiliza implantação de pavilhão em cobertura carioca

E M UM PROJETO VIABILIZADO PELO USO DO AÇO , ANTIGA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA É TRANSFORMADA EM CENTRO DE NEGÓCIOS E ENTRETENIMENTO . O RESULTADO É UM DIÁLOGO CONTRASTANTE , PORÉM HARMÔNICO , ENTRE O NOVO E O ANTIGO Tempos modernos
Marcelo Aniello

RESPEITO AO PASSADO e olhar atento ao futuro. Seguindo este ideal, o escritório paranaense Dória Lopes Fiuza Arquitetura comandou o projeto de intervenção que transformou as antigas instalações da Estação Ferroviária de Curitiba em um megacomplexo que reúne shopping center, centro de convenções e museu.

Com um partido arquitetônico inspirado no estilo neoclássico do final do século XIX, o empreendimento destaca-se pelos elementos que remetem ao universo ferroviário, como relógios, torres e plataformas. Segundo o arquiteto Manuel Dória, uma das fontes de inspiração foi o Museu d’Orsay, de Paris, também construído sobre as instalações de uma antiga estação de trens. Patrimônio histórico, o edifício em que funcionava a administração da rede ferroviária foi recuperado e transformado em Museu Ferroviário. O novo complexo, que recebeu o nome Espaço Estação, conta, ainda, com o Shopping Estação – que já existia desde 1997 e, nesta intervenção, foi modernizado e ampliado – e com o Estação Embratel

O Espaço Estação possui o maior telhado de vidro do Brasil, com 11 mil m2. Nas imagens, três faces do gigante transparente: na página ao lado, cúpula que coroa o átrio do novo edifício, com estrutura em aço patinável; nesta página, no alto, cobertura do boulevard; à direita, acesso à área de preservação histórica. Segundo o arquiteto, a decisão de investir na iluminação natural e em elementos como torres, relógios, plataformas é uma forma de preservar e valorizar a memória das antigas estações ferroviárias

Fotos divulgação

Convention Center, um dos centros de convenções mais modernos da América Latina.

Como o terreno não oferecia espaço para uma expansão horizontal, a opção foi verticalizar o prédio de quatro andares no qual funcionavam os cinemas do shopping, erguendo, a partir da laje de sua cobertura, mais sete pavimentos: quatro deles destinados às áreas de estacionamentos e três exclusivos para o centro de eventos.

O maior desafio do projeto foi realizar a obra com o shopping em funcionamento, o que exigia uma interferência mínima no prédio preexistente. Segundo o engenheiro Marino Garofani, presidente da Brafer, empresa responsável pela estrutura, isso só foi possível devido ao uso do aço. “Nenhum outro sistema estrutural permitiria executar uma obra como esta”, afirma Garofani.

O esqueleto da construção foi realizado a partir de treliças e vigas metálicas, totalizando mais de duas mil toneladas de aço. A nova carga foi transferida para pilares de concreto armado, construídos em volta do edifício. Para alcançar a precisão milimétrica que o sistema exigia, todas as peças estruturais foram produzidas eletronicamente, a partir de um processo de fabricação comandado

por um software de última geração.

Além da função estrutural, o aço também foi utilizado na identidade visual do complexo. Nos pilares externos da fachada, revestimentos de escadas rolantes, hall de elevadores e guarda-corpos, a escolha recaiu sobre o aço inox que, segundo Manoel Dória, “trouxe plasticidade e valorização dos ambientes do prédio”.

Para completar, o Espaço Estação ganhou o maior telhado de vidro do Brasil – com 11 mil m2 –, que engloba a cúpula do novo edifício, a cobertura do shopping, a marquise do centro de eventos e a cobertura do boulevard – espaço que tem como função ligar o novo complexo à antiga área de preservação histórica. (C.P.) M

> Projeto arquitetônico: Dória Lopes Fiuza Arquitetura (Manoel Dória, arquiteto responsável, José V. Lopes e Waldeny Fiuza, co-autores)

> Colaboradores: Érica Sato, Heloísa Mandim e Márcia Yamamoto

> Área construída: 126.860 m²

> Aço empregado: ASTM A572

> Cálculo estrutural: Andrade & Rezende e Brafer

> Fornecimento da estrutura

metálica: Brafer

> Execução da obra: Ingberman e Stecla

> Local: Curitiba, PR

> Data do projeto: março de 2002

> Conclusão da obra: setembro de 2004

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A Etna da Av. Eng. Luis Carlos Berrini, em São Paulo, tem proporções monumentais: o espaço do showroom tem 12 mil m2 e a área tot A Etna do showroom tem 12 mil m2 e a área tot Ao Marcelo Aniello

Na página ao lado, a combinação entre aço inox e vidro confere uma linguagem contemporânea ao projeto. Nesta página, detalhes que fazem toda a diferença: colunas de concreto revestidas com chapas de aço inox acentuam a plasticidade do complexo (acima); estrutura metálica torna possível a construção de um prédio sobre o outro (acima, à direita); auditórios multiuso conferem ao conjunto status de megaempreendimento (à direita); e soluções de alta tecnologia permitem a criação do maior telhado de vidro do Brasil

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Marcelo Aniello Fotos divulgação

Renovação em curvas

AO INCORPORAR SACADAS COM ESTRUTURA EM AÇO, EDIFÍCIO RESIDENCIAL VALORIZA NÃO APENAS SUA ARQUITETURA, COMO SEU VALOR IMOBILIÁRIO

LOCALIZADO EM UM bairro nobre da capital paulista, o edifício Marambaia foi construído na década de 1970 por um grupo de amigos que resolveu morar em um mesmo condomínio. De linguagem arquitetônica limpa e linhas retas, e com apartamentos amplos (410 m2), o prédio de alto padrão respondia perfeitamente aos anseios dos condôminos, na época.

Mas, passados 28 anos, a construção começou a apresentar os primeiros sinais de envelhecimento. A fachada de mármore e granito sofria com permanentes infiltrações e os sistemas

&ARQUITETURA AÇO 8
O edifício Marambaia (acima) tornou-se referência em retrofitno Brasil – além de modernizar a fachada e ampliar a área dos apartamentos, a intervenção gerou uma valorização imobiliária acima das expectativas. Nas fotos abaixo, é possível observar como a escolha do material e o planejamento foram determinantes para o sucesso da obra; executadas em estrutura metálica, as sacadas puderam ser construídas com precisão e rapidez

hidráulico e elétrico necessitavam de reparos. A decisão pela reforma não foi simples, mas depois de diversas assembléias, os proprietários dos imóveis resolveram, finalmente, investir na recuperação do patrimônio. E o escalado para a tarefa foi um dos moradores do Marambaia: o arquiteto Roberto Candusso.

Candusso conta que, depois de pedir autorização ao arquiteto responsável pela obra original, sugeriu não só recuperar a fachada, como também acrescentar terraços em cada unidade. Para o arquiteto, as sacadas trariam um frescor arquitetônico, conferindo mais “movimento”, além de aumentar em 40 m2 a área útil de cada apartamento. A sugestão foi amplamente aceita pelos moradores.

Para executar tal projeto, que previa um terraço grande que se comunicaria com a sala e outra sacada menor anexada à suíte principal de cada apartamento, o arquiteto precisou levar em conta o fato de o prédio ter estrutura em concreto armado e fundações do

tipo tubulão, o que inviabilizaria o aumento expressivo de cargas nas fachadas. Então, a opção pela estrutura em aço foi a alternativa mais viável e eficaz para atender aos objetivos funcionais e estéticos.

Assim, para comportar tal estrutura, foram executadas novas fundações, também do tipo tubulão, e levantados dois pilares em concreto da fundação ao térreo; a partir daí, os pilares incorporaram a estrutura metálica. Este sistema (pilares e sacadas) foi, praticamente, todo apoiado na própria fundação, o que resultou em uma transferência mínima de carga para a edificação. Dessa maneira, equilibradas entre os dois pilares, as sacadas ganharam leveza e modernidade, mesmo não estando totalmente em balanço.

Concluídas as intervenções, os apartamentos sofreram uma valorização imobiliária fantástica: o preço de cada unidade praticamente triplicou. Além disso, o Marambaia virou referência no que se refere a obras de retrofit e o escritório de Candusso passou a atender a cada vez mais clientes em busca de trabalhos semelhantes. (I.G.) M

Em cada apartamento, o peitoril da sala foi quebrado para agregar o terraço (acima) formado por vigas e pilares metálicos; no forro desse novo ambiente, optou-se por gesso acartonado, o que reafirma a opção pela agilidade e limpeza da obra. Abaixo, o edifício antes da intervenção: o retrofit, além de trazer mais conforto aos moradores, atualizou a fachada do prédio, construído em 1976

> Projeto arquitetônico: Roberto Candusso e Renato Candusso

> Área construída: 634,41 m² (acrescida)

> Aço empregado: perfis soldados ASTM A36

> Cálculo estrutural: Tarnoczy Engenharia Estrutural e SVS Engenharia de Projetos Ltda.

> Execução e montagem da estrutura metálica: CFM Estruturas Metálicas

> Execução da obra: Plano & Plano Construções e Empreendimentos Ltda.

> Local: São Paulo, SP

> Data do projeto: 2000

> Data de conclusão da obra: 2003

&ARQUITETURA AÇO 
Fotos divulgação

Patrimônio reconstituído

C RIADO A PARTIR DA RECICLAGEM DE ANTIGOS GALPÕES PORTUÁRIOS , COMPLEXO TURÍSTICO - CULTURAL REVITALIZA A PAISAGEM E RESGATA A MEMÓRIA DE B ELÉM

Octávio Cardoso Octávio Cardoso Rosário Lima Paula Sampaio

A HISTÓRIA DE BELÉM do Pará teve início às margens da Baía do Guajará. Foi lá que, no século XVII, os portugueses construíram um porto fortificado a fim de garantir a soberania na região Norte do Brasil, logo após a expulsão dos portugueses de São Luís do Maranhão. Com o ciclo da borracha, entre os séculos XIX e XX, o local ganhou importância comercial e, ao seu redor, a cidade nasceu, cresceu e ganhou força.

Os anos passaram e, ainda hoje, a área das docas de Belém se mantém em atividade. Alguns galpões, no entanto, foram desativados. Abandonados durante décadas, os espaços começaram a se deteriorar, sem que a cidade se desse conta de que estava perdendo um pouco de sua memória e de sua paisagem.

Quando o Governo do Estado decidiu dar um novo destino para parte destas instalações, os arquitetos Paulo Chaves Fernandes e Rosário Lima, engajados na luta pela preservação do patrimônio histórico de Belém, resolveram apresentar uma proposta de revitalização para a área. Três anos e muitas batalhas políticas depois, conseguiram tirar o projeto do papel e deram vida à Estação das

Recuperados por Paulo Chaves e Rosário Lima, os antigos galpões portuários de Belém se transformaram em boulevards e deram origem a um dos mais importantes centros turísticos da cidade. Na página ao lado, destaque para os túneis em aço, vidro e policarbonato, que fazem a conexão entre os boulevards. Nas imagens menores, da esquerda para a direita: Armazém 3, destinado a feiras e exposições; vista área do megacomplexo; detalhe interno de um dos galpões antes da reforma. Nesta página, fachada principal às margens do Guajará. Segundo o arquiteto, a proposta do projeto foi “abrir uma janela para as águas da baía”

Octávio Cardoso

Docas, um complexo turístico-cultural que retomou a conexão entre a cidade e o rio que a fez nascer.

Seguindo o lema “antes adaptar a intervir”, os profissionais reciclaram três armazéns de estrutura metálica pré-fabricada inglesa, do início do século XX, e um terminal de passageiros, também metálico, fabricado em Belém na década de 1950. As instalações ganharam novos usos e funções, mas, como ressaltam os arquitetos, tiveram seu caráter portuário e valor histórico preservados.

Segundo Chaves, um dos maiores desafios foi a recuperação da estrutura nos pontos em que a corrosão começava a comprometer sua estabilidade. No entanto, chamou a atenção o fato de o metal ter resistido, com tão poucas avarias, há praticamente um século, apesar de seu intenso uso industrial e posterior abandono. Para os novos elementos, como mezaninos, túneis, escadas e marquises externas, a escolha natural foi privilegiar o emprego do aço, mantendo o espírito construtivo original.

Para valorizar o entorno, a proposta foi transformar a Estação em uma “janela para as águas”. As telhas metálicas das fachadas foram substituídas por panos de vidro, garantindo um diálogo constante com o rio. Até mesmo os túneis metálicos, que fazem a comunicação entre os galpões, receberam coberturas de policarbonato e painéis de vidro no fechamento, aproveitando ao máximo a vista e a proximidade com a baía.

Destinadas ao uso público, cada uma das instalações ganhou uma função temática. O Armazém 1 foi rebatizado de Boulevard

das Artes e abriga, além de um museu, espaço para lojas e serviços em geral. O Armazém 2 ficou conhecido como Boulevard da Gastronomia e é composto por cinco restaurantes. O Armazém 3 passou a ser o Boulevard da Cultura e conta com auditórios, teatros e espaço para feiras e exposições.

O antigo terminal de passageiros também foi recuperado e manteve seu uso original como terminal hidroviário fluvial. Agora, está pronto para receber, de braços abertos, turistas e visitantes em busca das histórias e belezas de Belém do Pará. (C.P.) M

Totalmente reconstruído, o complexo Estação das Docas foi inaugurado em 2000 e hoje recebe milhares de visitantes por dia, em busca das histórias e belezas de Belém do Pará. À esquerda e à direita, detalhes dos novos boulevards, dedicados às artes, à cultura e à gastronomia: lojas, restaurantes, museu, teatro e espaço para exposições são algumas de suas atrações. Nas fotos acima, exemplo da utilização do aço no projeto: marquise em balanço, separada da antiga construção, concebida a partir de estrutura metálica espacial

Fotos Sidnei PalatnikOctávio Cardoso

> Projeto arquitetônico: Paulo Chaves Fernandes e Rosário

Lima

> Área construída: 9 mil m²

> Aço empregado: ASTM A36 e SAE1020

> Cálculo estrutural: eng.

Arquimino Athayde Neto

> Fornecimento da estrutura

metálica: Emasa Industrial

Ltda. e Oyamota do Brasil

> Execução da obra: Marko

Engenharia

> Local: Belém, PA

> Data do projeto: 1992

> Conclusão da obra: 2000

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Um elogio à arte popular

O PROJETO DA SEDE DA ASSOCIAÇÃO CULTURAL CACHUERA! CARACTERIZA-SE POR ENGENHOSAS SOLUÇÕES

CONSTRUTIVAS APLICADAS À VALORIZAÇÃO DAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS BRASILEIRAS

Na imagem maior, vista externa do deck, no piso superior. Abaixo desta, registro da montagem da estrutura metálica: a escolha pelo aço tornou possível a reconstrução total do imóvel. Acima, a arena de espetáculos: pé-direito triplo e grandes panos de vidro foram alguns dos recursos utilizados para aumentar a sensação de amplitude no ambiente

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Fotos Fernando Perelmutter

AO SOM DE TAMBORES e atabaques, é recebido o visitante na Associação

Cultural Cachuera!. Criado para preservar e valorizar a cultura de raiz brasileira, em especial as músicas e danças populares, o espaço conta com auditórios, arena de espetáculos e estúdio, além de um vasto acervo multimídia com gravações em áudio, vídeos, fotografias e livros raros.

A criação arquitetônica ficou por conta de Erica Yoshioka, que recebeu a missão de recuperar e adaptar um sobrado residencial da década de 1950, localizado no bairro de Perdizes, em São Paulo, a fim de ajustá-lo às necessidades da associação.

Mais do que a busca por uma linguagem arquitetônica que refletisse a atmosfera vernacular do Espaço Cachuera!, o projeto foi norteado por exigências técnicas, como o aproveitamento máximo do espaço existente, a reconstrução da estrutura, a preocupação com a acústica e a elaboração de ambientes adequados à manifestação artística.

O programa proposto pela profissional levou a uma intervenção profunda no antigo casarão. Do programa original, foram preservadas apenas paredes perimetrais, uma vez que, de acordo com a atual legislação de zoneamento da região, modificá-las implicaria em ter de aumentar consideravelmente os recuos frontais e laterais do imóvel.

Para não perder esta importante área útil e, ainda assim, poder reformular os espaços com liberdade, a solução encontrada por Erica foi dar à edificação um novo sistema estrutural. A estratégia tornou possível a demolição, de cima para baixo, dos planos de alvenaria preexistentes e a posterior criação de um programa sob medida para a associação.

Por conta do espaço reduzido, a arquiteta optou pela estrutura metálica. A escolha, além de conferir rapidez e precisão à montagem, trouxe benefícios plásticos: aparente e pintada de vermelho, a estrutura deu ao projeto uma marcante identidade visual.

> Projeto arquitetônico: Erica Yukiko

Yoshioka

> Área construída: 572 m²

> Aço empregado: ASTM A36

> Cálculo estrutural: A36 Projetos

Industriais

> Fornecimento da estrutura

metálica: Engemetal

> Execução da obra: DJ Construção

Civil e Engemetal

> Local: São Paulo, SP

> Data do projeto: julho de 1998

> Conclusão da obra: março de 2000

Para o novo programa, funcionalidade foi a palavra-chave. No térreo localizam-se a recepção, as áreas de pesquisa e as salas administrativas. No segundo pavimento, um terraço com vista panorâmica e um auditório multiuso. No quintal, ao fundo, uma arena para espetáculos e exposições, considerada o ponto alto do projeto. “O plano inicial era mantê-la ao ar livre, mas isso não foi possível devido às reclamações dos vizinhos quanto ao barulho”, conta a arquiteta. Para resolver a questão, a arena foi fechada, coberta e isolada acusticamente. Em contrapartida, ganhou pé-direito triplo e grandes panos de vidro, que garantem a entrada de luz natural. Tudo para manter o clima de terreiro popular, exatamente como sonhavam os idealizadores do espaço. (C.P.) M

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Corte transversal

Pequena intervenção, grande mudança

QUANDO OS ARQUITETOS Vinícius Andrade e Marcelo Morettin, do escritório Andrade Morettin, foram convocados para intervir em um dos apartamentos do edifício Prudência, eles se sentiram extremamente honrados, mas sabiam que tinham pela frente uma grande responsabilidade.

Construído em meados da década de 1940, no bairro paulistano de Higienópolis, o prédio saiu da prancheta de Rino Levi (1901-1965), arquiteto que teve participação fundamental na história da arquitetura moderna brasileira. A obra nasceu junto com o processo de verticalização da cidade e apresenta verdadeiros “apartamentoscasa”, ou seja, imóveis amplos (450 m2), aconchegantes e com uma organização bastante clara.

No desenho original de Levi, um largo corredor articula, de um lado, o setor de dormitórios e estar que estão abertos para a rua, e, do outro, abrindo-se para o pátio interno, o setor de serviços (banheiros, cozinha etc.). “O apartamento é fantástico. Ele foi projetado em uma estrutura modular, o que o torna muito fácil de ser reorganizado para novas funções”, explica o arquiteto Vinícius Andrade. Por outro lado, ressalta Andrade, esta orientação

EQUIPAMENTO METÁLICO MULTIFUNCIONAL ESTABELECE DIÁLOGO CONTEMPORÂNEO EM OBRA DA DÉCADA DE 1940
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Fotos Nelson Kon

da planta, com uma separação nítida entre a área servida e a área que serve, bem característica da época, tornouse, com o tempo, incompatível com as necessidades da moradia moderna, em que os ambientes são mais fluidos e interconectados. Além deste aspecto, as instalações prediais precisavam de reparos para comportar mais pontos de energia elétrica e cabos para transferência de dados.

Assim, depois de minucioso levantamento das características do imóvel e do edifício como um todo, a proposta de reforma dos arquitetos partiu de duas premissas básicas: respeito ao projeto original e uma intervenção clara e marcante. “Pretendíamos manter a integridade das duas arquiteturas: a de Rino Levi e a contemporânea”, explicam os arquitetos.

Para solucionar tal questão, a idéia foi criar um grande equipamento metálico no corredor de ligação, o que transformou completamente as possibilidades da planta – a racionalidade setorial do imóvel deu lugar à fluidez cambiante dos espaços.

Formado por chapas de aço dobradas e pintadas, com pintura eletrostática branca, e perfis em I, que se penduram em chumbadores fixos diretamente na estrutura de concreto do prédio, sem se apoiar na laje, o equipamento foi cuidadosamente elaborado. Os arquitetos desenvolveram desenhos de produção para todos os componentes, que depois foram montados e parafusados como um quebra-cabeça dentro do apartamento.

A estrutura em aço atravessa toda a extensão do imóvel e desempenha múltiplas funções – estante e forro com iluminação

Acima, o edifício Prudência, projeto de Rino Levi construído na década de 1940. Na página ao lado, destaque para o grande elemento em aço que, fixado na alvenaria e na estrutura de concreto do prédio e solto da laje, funciona como estante e também suporta os anteparos

para a iluminação indireta. Abaixo, à esquerda, vista da sala de jantar: ao fundo, a porta de entrada, e, à frente, o elemento metálico que congrega múltiplas funções: suporte de instalações elétricas e de luminárias, estante e divisória de ambientes. Na seqüência, vista parcial da cozinha e da galeria: para reforçar a sensação de fluidez entre os espaços, o piso de ambos foi substituído por granilite branca com aspecto monolítico

1. hall

2. vestíbulo

3. sala de estar

4. sala de jantar

5. galeria

6. sala de som e TV

7. dormitório

8. dormitório

9. dormitório

10. varanda

11. copa e cozinha

12. área de serviços

13. dormitório de empregados

14. dormitório de hóspedes

15. banho

16. banho

17. banho

indireta na sala; aparador na sala de jantar; biombo entre a circulação e o banheiro; fechamento de painel móvel entre a galeria de circulação e a cozinha; estante de livro e armário na cozinha; além de comportar as instalações hidráulicas do banheiro e pontos de iluminação e telefonia.

Não resta dúvidas que o objetivo inicial foi plenamente alcançado pelos arquitetos. A intervenção realizada foi capaz de reordenar os espaços e propor uma nova articulação entre os setores e, ao mesmo tempo, guardar uma relação íntima com a compreensão geral do prédio e com a linguagem de Rino Levi. Segundo Vinícius Andrade, a estrutura em aço foi a resposta direta e a única maneira de realizar tal intento. (I.G.) M

A planta e a maquete eletrônica explicitam como foi feita a intervenção – pequenos ambientes foram demolidos para dar lugar a um único elemento metálico que percorre toda a extensão do apartamento, unificando os ambientes. O aço, segundo os arquitetos, foi a solução exata para atender todas as especificidades do projeto

> Arquitetos responsáveis: Vinícius

Andrade e Marcelo Morettin

> Colaboradores: José Alves e Pedro Nitsche

> Área construída: 450 m²

> Aço empregado: ASTM A36

> Cálculo estrutural: Janos Biezok e Maurício Farias

> Fornecimento da estrutura

metálica: Janos Biezok

> Execução da obra: Genivaldo

José de Lima

> Local: São Paulo, SP

> Data do projeto: 2001

> Data de conclusão da obra: 2002

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Fábrica de conhecimentos

I NSTALAÇÃO FABRIL DA DÉCADA DE 1960 É TRANSFORMADA EM CAMPUS UNIVERSITÁRIO NA CAPITAL PAULISTA

LOCALIZADO EM UMA ÁREA de 120 mil m2, no bairro de Santo Amaro, região sul da cidade de São Paulo, o Centro Universitário Senac é resultado de uma reciclagem arquitetônica completa. Os antigos edifícios industriais que abrigavam uma fábrica de eletrodomésticos foram totalmente reformulados pelos arquitetos Gian Carlo Gasperini, Roberto Aflalo Filho e Luiz Felipe Aflalo Herman, do escritório paulistano Aflalo & Gasperini. O resultado foi tão bem-sucedido que, apesar de manter a linguagem fabril e a distribuição espacial do conjunto, o campus parece ter sido concebido do zero para este fim.

Segundo os arquitetos, a idéia foi aproveitar a implantação industrial e se apropriar dos espaços já existentes para conduzir a reforma de maneira harmônica, preservando algumas características dos prédios construídos há quase 40 anos. “A distribuição dos edifícios permitiu a solução e só houve necessidade de pequenas novas construções para comportar as instalações elétricas, que viraram centros de energia anexos”, conta Eduardo Martins Ferreira, um dos arquitetos envolvidos no projeto. “Para isso, utilizamos principalmente estrutura em aço e painéis pré-moldados coloridos na fachada, que substituíram as paredes”, explica. Os galpões de produção da antiga fábrica deram lugar às salas de aula. Eles receberam mezaninos metálicos, que dividiram o pé-direito industrial em dois, adequando-o à escala exigida pelo novo uso. O edifício da administração foi transformado em biblioteca e teve sua área triplicada por meio da

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Nas duas páginas, vistas do bloco acadêmico. A horizontalidade e a linguagem fabril foram mantidas, e a iluminação zenital que existia nos galpões também foi preservada, garantindo luz natural e ventilação cruzada às salas de aula. Os mezaninos metálicos instalados neste bloco dividiram o pé-direito industrial em dois e aumentaram a área útil do campus em mais de 10 mil m2 Fotos Nelson Kon

implantação de dois novos andares com estrutura em aço. “A idéia de estrutura metálica para os grandes mezaninos se impôs quase que naturalmente”, explica Ferreira. Para o arquiteto, o fato de poder projetar com exatidão as construções nos grandes espaços também só foi possível graças à estrutura metálica. “Além disso, poderíamos ter grandes vãos com vigas de pouca altura”, completa. “No caso da biblioteca, a estrutura em aço era a única condição possível para se construir sobre o edifício existente com pouco peso. Sua adoção permitiu, junto com os painéis de concreto da fachada, uma obra rápida e muito precisa”, ressalta o arquiteto.

Além do edifício acadêmico, da reitoria e da biblioteca, outra construção que merece destaque no campus é o centro esportivo, construído no local que antes abrigava o almoxarifado da fábrica. Para que o edifício fosse adaptado às novas funções sem perder as características arquitetônicas originais, mais uma vez a equipe de arquitetos recorreu ao aço. Assim, no complexo de piscinas, um mezanino metálico foi inserido na antiga estrutura pré-moldada de concreto e as telhas de fibrocimento deram lugar a telhas isotérmicas de alumínio com miolo de poliuretano, para garantir o conforto térmico.

Com cerca de 60 mil m2, o programa do Centro Universitário se constitui, ainda, de edifício de gastronomia, centro de convenções e esportes, laboratórios de comunicação, artes, ciência, tecnologia, áreas de infra-estrutura e manutenção. (I.G.) M

> Projeto arquitetônico: Gian Carlo Gasperini, Roberto Aflalo Filho e Luiz Felipe Aflalo Herman (Aflalo & Gasperini)

> Colaboradores: Eduardo Martins Ferreira, Fátima Machado Moreira, Mirella Rezze (coordenação); Ricardo Aranha, Oliver Grham, Cátia Portela, Leticia Lindemberg, Neiva Saito, André Bezerra, Ricardo de Almeida (equipe)

> Área construída: 60 mil m²

> Aço empregado: ASTM A572 GR42 (perfis soldados) e ASTM A572 GR50 (perfis laminados)

> Cálculo estrutural: César Pereira Lopes e Tecsteel

> Fornecimento da estrutura metálica e execução da obra: Alufer (edifício acadêmico e biblioteca), ICEC (centro de convenções) e Estrutel (centro esportivo)

> Local: São Paulo, SP

> Data do projeto: 2001/2005

> Conclusão da obra: 2004/2006

Abaixo, à esquerda, o conjunto de piscinas é destaque no centro esportivo do campus; um mezanino metálico emoldura este complexo e abriga as salas de ginástica. Na seqüência, a fachada do prédio que reúne o centro de convenções e o centro esportivo: estrutura metálica e painéis pré-moldados deram agilidade à obra. No alto da página ao lado, vista da biblioteca: a estrutura em aço foi determinante para a ampliação da área (de 2 para 6 mil m2) e para a definição de uma linguagem contemporânea. Na página ao lado, embaixo, átrio central do centro de convenções: pé-direito generoso e teto com lâminas curvas de alumínio conferem amplitude e leveza ao conjunto

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Fotos Nelson Kon

As novas passarelas metálicas interligam os pátios nos andares superiores e interagem de forma harmônica com a arquitetura original

Identificação imediata

AO PERMITIR A CLARA DISTINÇÃO ENTRE O NOVO E O ANTIGO, O AÇO CONSTITUI UM ELEMENTO PRIMORDIAL NA REFORMA DA PINACOTECA DE SÃO PAULO, PROJETO PREMIADO E DE REPERCUSSÃO INTERNACIONAL

A REFORMA da Pinacoteca do Estado de São Paulo entre 1993 e 1998, projetada por Paulo Mendes da Rocha, Eduardo Colonelli e Weliton Torres, é uma referência no uso do aço como solução construtiva e estética.

Projetado por Ramos de Azevedo e construído no final do século XIX para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios, o prédio foi modernizado para adequar suas instalações às necessidades de um museu. A Pinacoteca, além de seu rico acervo, recebe exposições internacionais e conta com infra-estrutura para a realização de seminários e eventos.

O projeto, além de contemplar a parte estrutural (climatização, rede elétrica etc.) e solucionar problemas de infiltrações e umidade, propôs soluções para melhorar o plano de acesso e de circulação dos visitantes, bem como para transformar os pátios internos em áreas de exposição.

Para a execução destas diretrizes, os arquitetos optaram pelo uso do aço.

Abaixo, a Pinacoteca após a intervenção. No alto, detalhe das clarabóias em perfis de aço e vidro laminado; a leveza do aço evitou sobrecargas na estrutura original do prédio, tombado em 1982

“Todas as intervenções que resultaram em algum novo elemento foram realizadas com o emprego do aço como material construtivo”, explica o arquiteto Eduardo Colonelli. Segundo ele, tanto nos elementos estruturais (perfis das clarabóias que cobrem os vãos internos, passarelas de interligação e pisos), como nas escadas, esquadrias, forros e no mobiliário integrado com a arquitetura (vitrines, bilheteria

etc), o aço foi o material predominante.

A escolha do material, afirma Colonelli, se deu tanto pelo aspecto estético, ao proporcionar uma imediata identificação do “antigo” e do “novo” por meio do desenho esbelto das peças, quanto pelas qualidades construtivas. “Com o aço, tivemos uma substancial redução de peso sobre as antigas alvenarias estruturais; além disso, o material permitiu melhor manejo face às condições exíguas do canteiro de obras”, atesta o arquiteto. (I.S.) M

> Projeto arquitetônico: Paulo Mendes da Rocha, Eduardo Colonelli e Weliton Torres

> Colaboradores: Ana Paula Pontes, Elisa Macedo, Miguel Góes, Adriana Dias, Celso Nakamura, Eloise Scalise, Andréa Moncau, Marina Grinover, Paulo Mattos e Silvio

Oksman

> Área construída: cerca de 10 mil m2

> Aço empregado: ASTM A36

> Cálculo estrutural: Jorge Zaven

Kurkdjian e Waldir Carlos

Pomponio

> Fornecimento da estrutura

metálica: Metalan e Construmet

> Esquadrias metálicas: J&K

Sunto

> Forros metálicos: Novorumo

> Execução da obra: Pem

Engenharia

> Local: São Paulo

> Data do projeto: 1993-1998

> Conclusão da obra: 1998

&ARQUITETURA AÇO 25
Fotos Nelson Kon

MODERNIDADE E MEMÓRIA

NO SANTANDER CULTURAL, A ARQUITETURA ORIGINAL DO EDIFÍCIO, PROJETADO NA DÉCADA DE 1920, CONVIVE EM HARMONIA COM A CONTEMPORANEIDADE, REPRESENTADA POR UM ÁTRIO DE AÇO E VIDRO

RESPEITAR AS CARACTERÍSTICAS originais de uma antiga construção no estilo eclético e, ao mesmo tempo, inserir elementos em aço e vidro que remetessem à arquitetura contemporânea. Estes eram os objetivos do arquiteto Roberto Loeb ao desenvolver o projeto de reforma e restauro que converteu um prédio histórico em um dos mais modernos centros culturais de Porto Alegre, o Santander Cultural.

O grande destaque da intervenção é o piso estrutural de vidro do novo átrio, construído sobre os vitrais que configuram o teto do hall central original, no térreo. Os vitrais, assim, se transformam

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A reforma recuperou o hall central e seus vitrais, que podem ser vistos sob o piso de vidro do novo átrio Ary Diesendruck

Para Roberto Loeb, o novo espaço e seu piso de vidro simbolizam a contemporaneidade na arquitetura antiga. A transparência da cobertura e do piso permite que a luz atravesse os vitrais e chegue até o hall central. As janelas do antigo poço de ventilação podem ser vistas através das chapas brancas de tela perfurada que revestem o novo átrio, onde são realizadas exposições, palestras, peças teatrais e apresentações musicais

em um tapete luminoso e colorido aos pés de quem percorre o piso transparente. “O aço estabelece a ligação entre o passado e o presente da construção”, explica Loeb, referindo-se especificamente à grelha metálica do piso e às chapas brancas de tela perfurada que revestem lateralmente o ambiente. O átrio hoje ocupa um espaço que, no passado, correspondia ao antigo poço de ventilação e iluminação do prédio. O revestimento metálico e a vedação de vidro estão fixados em uma estrutura composta por perfis e montantes metálicos brancos, presos às paredes originais do edifício.

A cobertura metálica do átrio central é constituída por arcos em aço e chapas de vidro plano transparente, garantindo a plena insolação do espaço e, conseqüentemente, a luminosidade dos vitrais originais.

Além da construção do novo átrio, a reforma contemplou a “reciclagem” de todos os pavimentos do edifício e o restauro das fachadas, tombadas pelo patrimônio histórico gaúcho em 1987. Antiga sede dos bancos Nacional do Comércio, Sulbrasileiro e Meridional, o prédio foi originalmente projetado pelo arquiteto e escultor Fernando Corona por volta de 1920, no estilo eclético, com elementos do neoclássico francês.

A adoção de sistemas construtivos metálicos conferiu agilidade à obra, executada num prazo de apenas quatro meses. “A opção pelo aço facilitou a montagem, reduziu o peso próprio da estrutura e garantiu peças mais esbeltas, o que favoreceu a transparência do piso e da cobertura do átrio”, explica

Ary Diesendruck Roberto Loeb

a engenheira Heloísa Maringoni, responsável pelo cálculo estrutural.

Ao acessar o subsolo, o visitante se surpreende com as antigas caixas-fortes do edifício, hoje ocupadas por um cinema, biblioteca, museu e restaurante do centro cultural. Os espaços expositivos foram implantados no térreo e a sede administrativa, por sua vez, ocupa o primeiro e segundo pavimentos. Já o átrio central criou uma área adicional de 700 m2, onde acontecem atividades como exposições, palestras, peças teatrais e apresentações musicais. (V.F.) M

A opção por sistemas construtivos em aço conferiu rapidez à obra, concluída em apenas quatro meses. Além disso, reduziu o peso próprio da estrutura e permitiu a utilização de peças mais esbeltas, que favoreceram a transparência do piso e da cobertura do átrio. Chapas de aço e vidro foram fixadas em montantes e perfis que, por sua vez, estão presos às paredes originais do edifício, concebido no século passado pelo arquiteto e escultor Fernando Corona

> Projeto arquitetônico: Roberto Loeb e Associados

> Colaboradores: Luis Capote, André Kuhl, Francisco Cassimiro, Nicola Pugliese, Maria Fernanda Nogueira, Damiano Leite, Fernanda

Pinha Capote e Lilian Martins

> Área construída: 10 mil m2

> Aço empregado: ASTM A36

> Cálculo estrutural: Cia de Projetos (Heloísa Maringoni)

> Fornecimento da estrutura

metálica: AEB Estruturas

Metálicas Ltda.

> Execução da obra: Consórcio

Método Engenharia/Concrejato

> Projeto de restauro: Ismael

Solé Projetos Especiais

> Diretrizes de restauro: Equipe do Patrimônio Histórico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre

> Local: Porto Alegre, RS

> Data do projeto: 2000/2001

> Conclusão da obra: agosto de 2001

&ARQUITETURA AÇO 29
Corte longitudinal Corte transversal Luiz Carlos Felizardo

Paisagem

redescoberta

I MPLANTAÇÃO DE TERRAÇO - JARDIM EM EDIFÍCIO ÍCONE DA ARQUITETURA MODERNISTA CARIOCA É VIABILIZADA PELA ESTRUTURA EM AÇO

AS ENCOSTAS DO CORCOVADO ganharam novos contornos para os moradores e visitantes do apartamento 702 do edifício Antônio Ceppas, no Rio de Janeiro, depois da reforma-ampliação elaborada pelo arquiteto Francisco Hue. Hoje, quem adentra o imóvel projetado em 1952 pelo arquiteto Jorge Machado Moreira, é convidado não só a admirar os traços característicos da escola modernista deste período, como a avistar a deslumbrante paisagem carioca na nova cobertura.

O arquiteto conta que os proprietários do imóvel tinham o direito legal de ocupação da laje e que a idéia inicial era criar um acesso privado para um terraço-jardim. “Porém, o gabarito e os afastamentos impostos permitiram uma ocupação central da área de cobertura, que além da caixa de escada absorveu em seu programa um pavilhão de 80 m2, com um quarto, uma pequena copa e um banheiro”, relata Hue. Assim, além do terraço com 270 m2, a cobertura ganhou uma nova construção que se distingue por seu telhado formado por um arco abatido de laje pré-moldada com

cobertura final em lajotas cerâmicas. Na implantação deste anexo, todo estruturado em aço, o arquiteto teve o cuidado de não interferir na volumetria do prédio e não ultrapassar o gabarito da caixa d’água de seção oblonga, tão característica dos projetos de Jorge Machado Moreira. Hue explica, ainda, que, para a criação do jardim, teve de levar em conta a platibanda original do prédio com 2,10 m de altura e as vigas invertidas, que o obrigaram a projetar uma segunda laje, com um entrepiso de 90 cm de altura, possibilitando a drenagem do novo jardim. Dessa maneira, com a laje rebaixada

30 &ARQUITETURA AÇO
Corte LongitudinalCorte Transversal

em alguns pontos, a cobertura pôde receber a vegetação de porte e uma pequena piscina.

A estrutura em aço foi a única solução para que toda a obra fosse viabilizada, relata o arquiteto. “Todo o novo vigamento da laje e toda a estrutura da edificação projetada foram executados com componentes metálicos visando a rapidez de execução e o menor peso próprio”, reitera Hue. Outras características da construção metálica, como limpeza da obra, precisão das medidas e elegância para vencer vãos, são lembradas pelo arquiteto para apoiar tal decisão. (I.G.) M

Com seu teto arqueado, o pavilhão metálico localizado no centro da cobertura dialoga com a paisagem curvilínea do entorno carioca (acima, à direita); a abertura estratégica (na página ao lado, no alto) deixa entrever o corcovado e o Cristo Redentor. No alto desta página, da esquerda para a direita: vista do interior do pavilhão; banco de pedra vindo da residência de Antônio Ceppas, arquiteto que emprestou seu nome ao edifício; a escada que vence 4,40 m e interliga a cobertura à copa do apartamento. Ao lado, nos cortes, destaque para o vão de 90 cm de altura entre a laje preexistente e a nova

> Projeto arquitetônico: Francisco Hue

> Colaboradores: Pedro Lobo

> Área construída: 350 m2 (nova laje sobre a existente); 80 m2 (área coberta)

> Aço empregado: aço de maior resistência à corrosão com 300 MPa

> Cálculo estrutural: Josemar Rocha

> Fornecimento da estrutura

metálica: Josemar Rocha

> Execução da obra: Helio Oscar Sant´Anna

> Local: Rio de Janeiro, RJ

> Data do projeto: janeiro a julho de 2000

> Data de conclusão da obra: novembro de 2001

&ARQUITETURA AÇO 31
Fotos Francisco Hue

Apoio:

expediente

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