Boletim Informativo 28 - Junho 2021 - CBH Rio das Velhas

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Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas | Junho / 2021 | Ano VII - Nº 28

Informativo

CBH Rio das Velhas lança Programa de Conservação e Produção de Água com o objetivo de maximizar o potencial de produção nas sub-bacias Manifesto em defesa da área da Floresta Uaimii é enviado ao Ministério Público Pág. 3

Baixa vazão coloca o Rio das Velhas em Estado de Atenção Pág. 3

Entrevista: José de Castro Procópio e os 5 anos do Plano Diretor de Recursos Hídricos Págs. 6 e 7


Causa preocupação que, em meados do mês de maio de 2021, apenas no início da época de estiagem, a situação do Rio das Velhas já esteja extremamente crítica. Nesse período, a vazão residual do rio após a captação da Copasa em Bela Fama – onde é retirada a água que abastece a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) – chegou à casa dos 3 m³/s. Para se ter uma ideia comparativa, em torno de 7m³/s foi retirado do Velhas nesses dias para abastecer a Grande BH. A situação nos coloca em um estado de atenção. Isso porque essa baixa vazão era esperada somente para 60, 70 dias depois – já próxima do final do período de estiagem. Ou seja, o que está ocorrendo hoje foi antecipado em mais de dois meses.

Ohana Padilha

Editorial

Comitê divulga resultado do chamamento público para fornecimento de mudas

Cabe lembrar que, nos últimos dois anos, porções da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas foram declaradas pelo IGAM como em situação de escassez hídrica, o que implicou em restrição de uso em outorgas para captação de água, inclusive para abastecimento humano. Ocorre que essas situações ocorreram somente ao final do mês de setembro. Teremos um longo, difícil e desafiador caminho pela frente. Essa situação alarmante tem sido recorrente e evidencia que o nosso problema não é só mais a falta de chuva. Só chover não adianta, nosso problema maior é de recarga. O Rio das Velhas está sendo sacrificado e precisamos pensar em ações que o ajudem a manter sua resiliência, que vem diminuindo cada vez mais. O Alto Rio das Velhas é a região que produz água para abastecer a RMBH e é também onde existem grandes atividades extrativistas. Essa bacia hidrográfica perfaz 51 municípios, são vários os territórios que dependem dessas águas. O próprio Rio das Velhas depende dessa água para sobreviver, cumprir as suas funções ecossistêmicas. São populações inteiras, também, que dependem desse rio. Só na RMBH, mais de 60% da população necessitam do Velhas para se ter água na torneira. Com a captação a fio d’água do rio Paraopeba inviabilizada após o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, da Vale, nosso Rio das Velhas tem sido ainda mais sobrecarregado. Logo abaixo, uma cidade como Sete Lagoas também prescinde do Velhas para abastecer quase 50% da sua população. Nesse sentido, para garantirmos a sustentabilidade do sistema, é importante que cada município consiga identificar e definir quais são as suas áreas prioritárias de recarga, onde se produz água para aquele território, para que, a partir daí, se pense em restrições e rearranjos que não permitam o avanço de determinadas atividades para essas áreas. Complementarmente, é de fundamental importância que ações de revitalização ao longo da bacia sejam intensificadas – é o que o próprio CBH Rio das Velhas busca com o seu novo Programa de Conservação e Produção de Água, detalhado ao longo deste Informativo. Mas cabe destacar que essas ações e programas não devem ser realizadas só pelo poder público ou comitês de bacias hidrográficas. Muito pelo contrário, precisamos do envolvimento de todos: das grandes indústrias, dos produtores e proprietários rurais, dos SAAEs, da companhia estadual de saneamento, no sentido de garantir ações de preservação das nascentes, veredas, recomposição de mata ciliar, trabalhos que visem a recuperação e o manejo do solo de forma adequada, além do fomento de políticas públicas que incentivem redução do consumo de água, tecnologias mais limpas e, principalmente, captação de água de chuva ao longo da bacia. Só assim, com a união de esforços dessa corrente de atores de toda a bacia hidrográfica, que nosso Rio das Velhas terá forças para seguir o seu caminho. Poliana Valgas Presidente do CBH Rio das Velhas

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O CBH Rio das Velhas publicou, ao final de março, o resultado do chamamento público para doação de mudas. No total serão doadas quase 90 mil plantas para 33 instituições que foram selecionadas no processo. Participaram do chamamento prefeituras, órgãos governamentais, cooperativas, ONGs, entre outras instituições interessadas em receber as mudas doadas. Os selecionados devem aguardar o contato da Agência Peixe Vivo, entidade delegatária do CBH Rio das Velhas, que realizará o agendamento da retirada das mudas. A seleção das espécies a serem recebidas será de acordo com a disponibilidade do viveiro. As plantas a serem doadas são produzidas no Viveiro Langsdorff, que produz anualmente 90 mil mudas de espécies florestais nativas. O viveiro é uma parceria entre o Comitê, a empresa Arcelor-Mittal e a Agência Peixe Vivo com o objetivo principal de recuperar nascentes e matas ciliares da bacia e mitigar os gases de efeito estufa decorrentes das emissões geradas no transporte de produtos da empresa até seus clientes finais.


Vazão residual, após a captação da Copasa que abastece a Grande BH, registrou níveis críticos e preocupantes ainda em maio.

O Rio das Velhas, responsável pelo abastecimento de mais de 60% da população da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), está em Estado de Atenção devido à baixa vazão registrada no ponto de captação de água da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais) na Estação Bela Fama, em Nova Lima. Os dados têm sido cuidadosamente analisados pelo Grupo de Controle de Vazão do Alto Rio das Velhas (Convazão), liderado pelo CBH Rio das Velhas. O Estado de Atenção antecede a situação crítica de escassez hídrica e seu Estado de Alerta, conforme regulamentado pela Deliberação Normativa 49/2015, do Conselho Estadual de Meio Ambiente do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM). Nessa situação não há restrição de uso para captações de água e os usuários de recursos hídricos deverão ficar atentos para eventuais alterações do respectivo estado de vazões.

Ainda no início do período de estiagem, baixa vazão já coloca o Rio das Velhas em Estado de Atenção

Bianca Aun

Escassez à vista

Segundo o IGAM, o Estado de Atenção se caracteriza quando a média das vazões diá rias de sete dias consecutivos, observadas no posto de monitoramento fluviométrico de referência, estiver inferior a 200% da Q7,10 – menor média registrada no período de sete dias dos últimos 10 anos – que atualmente está em 10,5 m³/s, conforme o Instituto.

De acordo com os dados do CBH Rio das Velhas, ao final de abril e início de maio, a média da vazão residual do Rio das Velhas, após a captação de água em Bela Fama, onde a Copasa retira 6,5 m³/s para o abastecimento da RMBH, foi de 3,08 m3/s. O secretário do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano, destaca que a situação é cada vez mais preocupante. “As chuvas têm nos mostrado que só chover não resolve o problema. Mesmo com o volume de água considerável de 2020, ainda houve falta de água na bacia. O que demonstra a perda de capacidade da bacia de se recuperar”, disse. Polignano destacou também que este ano o período crítico iniciou dois meses antes do esperado. “A capital do estado retira do Rio das Velhas mais de 70% da vazão do rio. A RMBH ocupa apenas 10% da área territorial da bacia, mas possui mais de 70% de toda a sua população. Normalmente os meses críticos são julho, agosto e setembro. Estamos no início de maio e o Velhas já pede socorro”, explicou.

Bianca Aun

Manifesto em defesa da área da Floresta Uaimii é enviado ao Ministério Público

Responsável pela proteção e conservação de centenas de nascentes que abastecem pequenos afluentes que se encontram com o Rio das Velhas, a Floresta Estadual Uaimii, localizada no distrito de São Bartolomeu, em Ouro Preto, tem sua área limite ameaçada e necessita de gestão. Em vista disso, o Instituto Guaicuy, com o apoio do CBH Rio das Velhas, encaminhou ao Ministério Público de Minas Gerais um manifesto em defesa da Floresta Uaimii, no dia 30 de abril. O responsável pelo manifesto, o representante do Instituto Guaicuy e membro do CBH Rio das Velhas e Subcomitê Nascentes, Ronald Guerra, esclarece que o documento tem o objetivo de tornar pública a mudança na área limite da Floresta. “Parte da Fazenda Ajuda foi abduzida da delimitação da Floresta Uaimii, o que implica em uma diminuição ilegítima com reflexos na preservação ambiental. A área de aproximadamente

400 hectares atualmente é de posse da mineradora Vale”, afirmou. O processo de criação da Floresta Uaimii foi concluído em 2003, com a publicação do Decreto Estadual s/nº, de 21/10/2003 com uma área de 4.398,16 hectares, compreendendo, em sua totalidade, as Fazendas da Ajuda, Mata-Pau, Paiol e Tapera. Na época foi acordada com a Câmara de Proteção da Biodiversidade (CPB) a Compensação Ambiental pela implantação da Mina de Fábrica Nova da Vale, pertencente ao complexo de Mariana, com recursos destinados à compra, em sua integralidade, das Fazendas Ajuda, Mata-Pau, Paiol e Tapera, visando à implantação da Floresta Estadual do Uaimii. O CBH Rio das Velhas defende que seja respeitado o rito de criação da Floresta Uaimii e revisto o Decreto Estadual s/no de 21/10/03, mantendo

a área da Fazenda da Ajuda, de propriedade da Horizonte Têxtil, dentro dos limites da Unidade de Conservação. Em abril, o Comitê enviou ofício à gestora da APA Estadual Cachoeira das Andorinhas informando sobre a situação. “A área retirada da Floresta Uaimii em seu processo de criação é de extrema relevância para a conservação da biodiversidade. Corresponde a uma das partes mais íntegras do seu território, formada por campo rupestre de altitude, onde estão as principais nascentes que justificaram a criação da UC, como por exemplo a proteção dos mananciais que contribuem para o abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O processo de compra, venda e de transferência das fazendas da Ajuda, Mata-Pau, Paiol e Tapera deve ser investigado para esclarecimento sobre a delimitação da Floresta”, acrescentou Ronald Guerra. 3


Comitê lança Programa de Conservação e Produção de Água

O CBH Rio das Velhas acaba de lançar o Programa de Conservação e Produção de Água para o território. A iniciativa consiste no desenvolvimento e execução de ações com o objetivo de maximizar o potencial de produção de água de sub-bacias hidrográficas, a partir do planejamento e execução de Soluções Baseadas na Natureza (SBN). A presidente do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas, explica que o Programa será uma forma mais efetiva de aplicar os recursos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos na bacia. “A ideia é implantar o Programa em áreas definidas como prioritárias. Esperamos tornar as nossas ações mais eficientes com um planejamento muito bem elaborado e em um horizonte de tempo um pouco maior. O Programa vai complementar os projetos pontuais que o Comitê já executa”, disse. Poliana Valgas acrescenta que o Programa de Conservação e Produção de Água será construído em parceria com os Subcomitês. “As bacias prioritárias serão apontadas pelos Subcomitês. Quanto maior for o nível de organização e de articulação dos atores presentes em um território, mais promissoras 4

serão as ações executadas pelo Programa. Por isso, contamos com a participação e mobilização dos membros do Subcomitês”, finalizou. O gerente de projetos da Agência Peixe Vivo, Thiago Campos, esclarece que inicialmente serão selecionadas quatro sub-bacias para dar início ao Programa. “Vamos selecionar uma sub-bacia de cada uma das quatro regiões fisiográficas da bacia do Rio das Velhas para dar início e depois a intenção é ampliar o Programa, que é baseado no Plano Diretor de Recursos Hídricos do Rio das Velhas (PDRH). Ressalto que a CTPC [Câmara Técnica de Planejamento, Projetos e Controle] vai referendar e acompanhar o processo de seleção das áreas prioritárias”, afirmou. O Programa de Conservação e Produção de Água terá duração de seis anos e será dividido em quatro etapas: 1) hierarquização e seleção de microbacias prioritárias nas regiões da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas; 2) elaboração dos projetos técnicos por microbacias; 3) implantação das intervenções e 4) monitoramento e assistência técnica.

Bianca Aun

Ohana Padilha

Iniciativa visa maximizar o potencial de produção de água nas sub-bacias

Presidente do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas destacou que o Programa será construído em parceria com os Subcomitês.


Leo Boi

Os corredores ecológicos são áreas que unem remanescentes florestais ou Unidades de Conservação fragmentadas devido à ação do homem, permitindo que organismos possam deslocar-se entre elas, aumentando o fluxo gênico entre as populações e mitigando, assim, os efeitos causados por esses processos de fragmentação. São de grande importância, pois reduzem ou previnem a fragmentação florestal, permitem a recolonização de áreas, contribuindo assim para a conservação da biodiversidade. De acordo com o conselheiro do Subcomitê Carste, Gefferson Guilherme Rodrigues da Silva, os corredores ecológicos são importantes, pois, entre outros aspectos, evitam o chamado efeito ilha e ajudam a promover a recarga hídrica. “Os corredores ecológicos são fundamentais para a circulação e a manutenção da fauna e evitam a formação de ilhas de florestas. A vegetação, por ser diretamente relacionada à permeabilidade dos solos, é determinante para a regularidade da vazão dos rios. Assim, os corredores ecológicos nas UTE Carste e Ribeirão da Mata vão contribuir para estabilizar as margens, impedindo a erosão e o assoreamento dos cursos hídricos, entre outras funções importantes, o que contribuirá para a recarga hídrica da bacia do Rio das Velhas”, explicou.

Pedra Rachada, em Sabará, é contemplada com estudo para criação de Unidade de Conservação O CBH Rio das Velhas também contratou um estudo para a criação da Unidade de Conservação (UC) na região da Pedra Rachada, localizada em Sabará, região do Alto Rio das Velhas. Trata de proposições de ações para a conservação da área, incluindo a definição de um território para constituir uma UC e sua categoria de manejo. O estudo contratado pelo CBH Rio das Velhas dará suporte para que o poder executivo crie de fato a unidade. De acordo com Jéferson Paes dos Santos, coordenador da sociedade civil do Subcomitê Ribeirão Caeté-Sabará, a demanda começou em 2017, com a Secretaria de Meio Ambiente de Sabará. “A contratação do estudo é um benefício para o município. Será realizado o estudo de identificação dos dados da área e importância dela, questão de mapa, solo, fontes. Após essa contextualização, será analisado o tipo de área de proteção que pode ser criado, bem como os impactos que vão causar na comunidade. Ainda estamos discutindo, pois é uma construção conjunta entre órgãos municipais e população da região”, explicou.

Corredores ecológicos irão unir remanescentes florestais e Unidades de Conservação fragmentadas devido à ação do homem.

Gefferson Silva, do Subcomitê Carste, enalteceu a importância dos corredores ecológicos para a manutenção da biodiversidade e recarga hídrica.

Fernando Piancastelli

Contribuindo para a conservação da biodiversidade, o CBH Rio das Velhas contratou dois diferentes projetos que farão o mapeamento dos corredores ecológicos de três importantes regiões da bacia hidrográfica: as Unidades Territoriais Estratégicas (UTE) Ribeirão da Mata, Carste e Rio Taquaraçu.

Ohana Padilha

Projetos do CBH Rio das Velhas irão mapear corredores ecológicos na bacia

Na UTE Rio Taquaraçu, o estudo irá realizar o mapeamento dos corredores entre as oito Unidades de Conservação localizadas na sub-bacia. “A adoção de ferramentas de gestão que possibilitem a ampliação de áreas protegidas é de suma importância, uma vez que o patrimônio florestal existente é insubstituível e contribui com os bons padrões de qualidade da água existentes na região”, esclareceu o coordenador-geral do Subcomitê Rio Taquaraçu, Jânio de Lima Marques. 5


Desafios e avanços do Plano Diretor da bacia do Rio das Velhas Cinco anos após a atualização do PDRH, conselheiro José de Castro Procópio fala sobre as conquistas e o que ainda precisa melhorar na gestão das águas da bacia

O Plano Diretor de Recursos Hídricos (PDRH) é um instrumento de gestão que visa orientar a implementação da política de recursos hídricos, definindo as diretrizes para utilização das águas, bem como medidas para sua proteção e conservação, de modo a garantir sua disponibilidade em quantidade e qualidade adequadas para os diferentes usos. A bacia do Rio das Velhas publicou sua primeira versão do PDRH em 2005. O documento foi atualizado em 2015 quando teve como pressuposto a participação ampliada, realizando consultas públicas às 23 Unidades Territoriais Estratégicas (UTEs). O conselheiro representante da sociedade civil no CBH Rio das Velhas, José de Castro Procópio, participou da construção e atualização do PDRH. Cinco anos após a sua última atualização, Procópio avalia a implementação do Plano e comenta os avanços e desafios futuros.

José de Castro Procópio é membro de diversas instâncias ligadas ao CBH Rio das Velhas e participou da atualização do PDRH, há cinco anos.

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Michelle Parron

Procópio de Castro é ambientalista, mobilizador social e, atualmente, é presidente do Instituto Guaicuy, uma ONG que promove a convivência, socialmente justa e ambientalmente sustentável, entre as pessoas e as águas.


Fazendo um balanço dos últimos anos, quais ações podemos destacar como as mais relevantes na bacia do Rio das Velhas, a partir da implementação do PDRH? Com a implementação do Plano as ferramentas de gestão, como a outorga e a cobrança [pelo uso dos recursos hídricos na bacia], começaram a funcionar de fato. O CBH Rio das Velhas se estruturou, implantou Câmaras Técnicas e iniciou uma participação efetiva com a presença dos conselheiros em reuniões Plenárias. A atuação dos Subcomitês foi efetivada, o que é um grande diferencial e que aprimorou a gestão compartilhada da bacia. A atualização do PDRH (2015-2030) ampliou a participação popular e realizou o diagnóstico da bacia por Unidade Territori al Estratégica (UTE). Como você avalia essa estratégia?

(governo federal, municipal, estadual, usuários de água e sociedade civil) e promover a educação ambiental. Precisamos unir forças para avançar.

Não. Os recursos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos não são suficientes. Não se recupera uma bacia com os recursos da cobrança. O PDRH prevê R$ 1,4 bilhões de investimentos até 2030, o que representa R$ 12,5 milhões por ano. A arrecadação do CBH Rio das Velhas em 2020 foi de R$ 4,7 milhões. Além do mais, o valor praticado atualmente se encontra defasado. Uma ação emergencial é reavaliar os recursos da cobrança e aplicar o preço único em toda a bacia, de acordo com a determinação do governo do estado de Minas Gerais.

Quais os principais desafios futuros para a implementação do PDRH na bacia do Rio das Velhas?

Para implementar todas as ações prevista no PDRH é necessário criar uma intersetorialidade dos vários atores envolvidos. É preciso articular ações com outras instâncias e um envolvimento maior do governo do estado de Minas em ações de recuperação ambiental. O que pode ser feito para melhorar a execução das ações previstas no PDR?

Diria que um grande desafio é tirar os Planos Municipais de Saneamento Básico do papel, pois necessita de recursos elevados. Ampliar e melhorar o tratamento de água, principalmente da Região Metropolitana de BH, é outro ponto. É preciso retirar do rio metais pesados e nutrientes como o fósforo e nitrogênio para evitar a produção de cianobactérias que deixam as águas verdes, uma marca da poluição. Se não for possível implantar o tratamento terciário de efluentes, temos que melhorar a qualidade do tratamento secundário. Utilizar o enquadramento dos corpos de água como pressuposto para os licenciamentos ambientais – ou seja, se um curso d’água tem Classe 2, não podemos aceitar um licenciamento que o transforme em Classe 3. A qualidade das águas deve ser preservada e melhorada, nunca o contrário. Precisamos também melhorar a produção de água na bacia para assegurar o acesso a todos.

A execução das ações do PDRH foi prejudicada pelo contingenciamento dos recursos da cobrança por parte do governo do estado. Isso não pode mais acontecer! Também precisamos ampliar as articulações institucionais nos vários níveis

Plano Diretor foi atualizado em 2015 quando teve como pressuposto a participação ampliada, realizando consultas públicas às 23 UTEs.

Fernando Piancastelli

Michelle Parron

Com certeza é uma vanguarda. A Lei das Águas [9.433/1997] pressupõe a participação popular e o diagnóstico por UTE foi uma estratégia importante que contribui para uma maior efetividade. A bacia é extensa e os problemas e as ameaças são diferentes ao longo de seu curso. Discutir o diagnóstico e propor ações por UTE ampliou o debate, promovendo uma participação política e social que nos ajudou a construir o PDRH com um melhor entendimento sobre cada região e propostas de ações concretas, pois quem mora em cada Unidade é quem melhor conhece a sua realidade.

Os recursos da cobrança pelo uso da água na bacia do Rio das Velhas são suficientes para implementar as ações previstas no PDRH?

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Comitê lança campanha “O rio que eu cuido”, uma mensagem pela saúde e vida na bacia

O RIO QUE EU CUIDO RIO DAS VELHAS 23 TERRITÓRIOS 23 RAZÕES PARA ACREDITAR

Há mais de 100 anos, pesquisadores procuravam uma caverna perdida que havia desaparecido dos registros após várias mudanças de nome. Originalmente batizada como Lapa de Quatro Bocas pelo cientista Peter Lund, em 1835, a cavidade subterrânea foi finalmente relocalizada no município de Curvelo, no Médio Baixo Rio das Velhas, região central de Minas Gerais.

Caverna “perdida” há mais de um século é redescoberta na bacia do Rio das Velhas

Luciano Emerich Faria

A estrutura geológica “perdida” estava registrada sob outro nome: Gruta do Tatu. A descoberta só veio à tona graças a uma investigação conduzida por pesquisadores do Centro Universitário Newton Paiva, em Belo Horizonte. A Gruta do Tatu se destaca por ter uma extensão acima da média, sendo subdivida em dois níveis. A descoberta se deu por meio da comparação entre os registros do pesquisador dinamarquês Peter Lund e os mapas atuais da região, além dos trabalhos de campo nos quais foram utilizados equipamentos como trenas, bússolas e lanternas.

Em março deste ano, o CBH Rio das Velhas lançou a campanha de comunicação e mobilização social “O rio que eu cuido”. Ao longo de todo 2021, diversas ações serão promovidas com o objetivo de valorizar cada um dos territórios que integram a bacia hidrográfica, bem como as inúmeras pessoas que estão à frente dos cuidados que esse lugar precisa. A ideia é estimular o sentimento de pertencimento pela bacia e por cada um dos seus múltiplos territórios, valorizando fundamentalmente as pessoas que cuidam do rio. Uma forma de continuar próximo das pessoas e, através delas, do próprio Rio das Velhas. Acesse o site da campanha (www.cbhvelhas.org. br/orioqueeucuido), compartilhe a hashtag #orioqueeucuido nas redes sociais do Comitê e vamos mostrar que esse rio continua a correr. Vivo!

Um dos responsáveis pela descoberta é o professor Luciano Emerich Faria, do Centro Universitário Newton Paiva, que já foi sócio-diretor da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE). “O fato de estarmos apresentando a descoberta este ano é especialmente gratificante. Afinal, trata-se da comemoração dos 220 anos do nascimento de Peter Lund. Considerado o pai da paleontologia, ele foi uma figura decisiva para a localização das mais importantes cavernas em Minas Gerais”, comemora Luciano, que tem se dedicado a refazer os passos do cientista. No século XIX, o pesquisador dinamarquês explorou centenas de cavernas em Minas Gerais, a grande maioria na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, e produziu registros que ajudam os espeleologistas até os dias de hoje. Além disso, ele teve uma importante contribuição no ramo da paleontologia, tendo descoberto mais de 12 mil peças fósseis na região de Lagoa Santa.

INFORMATIVO CBH Rio das Velhas. Mais informações, fotos, mapas, apresentações e áudios no portal www.cbhvelhas.org.br Diretoria CBH Rio das Velhas Presidente: Poliana Valgas Vice: Renato Júnio Constâncio Secretário: Marcus Vinícius Polignano Adjunto: Ênio Resende de Souza

cbhvelhas.org.br

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@cbhriodasvelhas

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas comunicacao@cbhvelhas.org.br Tiragem: 3.000 unidades. Direitos reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.

COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS VELHAS

Rua dos Carijós, 150 – 10º andar - Centro Belo Horizonte - MG - 30120-060 (31) 3222-8350 - cbhvelhas@cbhvelhas.org.br

Comunicação: TantoExpresso (Tanto Design LTDA) Direção: Rodrigo de Angelis / Paulo Vilela / Pedro Vilela Coordenação de Jornalismo: Luiz Ribeiro Redação e Reportagem: Luiza Baggio e Luiz Ribeiro. Com informações de Centro Universitário Newton Paiva. Fotografia: Bianca Aun, Fernando Piancastelli, Leo Boi, Luciano Emerich Faria, Michelle Parron, Ohana Padilha Projeto Gráfico: Márcio Barbalho Diagramação e Finalização: Rafael Bergo


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