Boletim Informativo 30 - Setembro 2021 - CBH Rio das Velhas

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Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas | Setembro / 2021 | Ano VII - Nº 30

Último estágio antes da restrição de uso: Rio das Velhas entra em estado de alerta no ponto que abastece a RMBH Fundo de Vale é revitalizado na bacia do Ribeirão Onça, em Contagem Págs. 4 e 5

Entrevista: professor de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, Marcelo Libânio comenta os desafios da segurança hídrica na Grande BH Págs. 6 e 7

Vem aí: eleições nos Subcomitês da bacia do Velhas Pág. 8


Editorial Em mais um ano, o Rio das Velhas vivencia uma dura crise durante o período de estiagem. As vazões significativamente baixas e preocupantes colocaram o manancial em situação de alerta muito mais cedo em comparação aos anos anteriores. Esse contexto de insegurança hídrica que vivenciamos ameaça não somente o abastecimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, dependente em 50% das águas do Velhas, mas os usos múltiplos da água de forma geral em toda a bacia hidrográfica, além das próprias funções ecossistêmicas que um rio tem a cumprir. Nesse cenário, e tendo como norte, sempre, a saúde ambiental da bacia, o CBH Rio das Velhas tem agido para que tenhamos cada vez mais e melhores águas para todos. Num contexto emergencial como o de crise hídrica durante a estiagem, como o de 2021, o Comitê – por meio do Grupo de Controle de Vazão do Alto Rio das Velhas (Convazão) – mediou o planejamento integrado das defluências dos reservatórios na região, em parceria com a Copasa, Cemig e AngloGold Ashanti, visando a regularização das vazões e o direito de acesso de todos aos recursos hídricos. Mirando contribuir com a recuperação da bacia no médio prazo, o Comitê lançou em 2021 o seu Programa de Conservação e Produção de Água. A iniciativa consiste no desenvolvimento e na execução de ações com o objetivo de maximizar o potencial de produção de água nas sub-bacias hidrográficas. Acreditamos que esse será, portanto, um formato mais robusto, contínuo e completo de se promover melhorias hidroambientais no território. Por meio do Programa de Conservação e Produção de Água, a ideia é planejar essas ações, de forma organizada e criteriosa, para que possamos investir o recurso da cobrança pelo uso dos recursos hídricos na bacia da forma mais assertiva possível. Contra a insegurança hídrica, especialmente no contexto da RMBH, vale destacar também que o CBH Rio das Velhas costura um Protocolo de Intenções, que será firmado com o IGAM, IEF, a Agência de Desenvolvimento da RMBH e Copasa. O tratado irá prever ações que serão realizadas em conjunto para garantir a segurança hídrica da RMBH e que contribuirão para aumentar a capacidade de resiliência do Alto Rio das Velhas e promover a manutenção dos ecossistemas aquáticos. Poliana Valgas Presidente do CBH Rio das Velhas

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Participação pública no CBH Rio das Velhas é tema de estudo na Alemanha Pesquisa realizada na Universidade de Dresden discute a importância dos processos participativos e do envolvimento da sociedade no Comitê Participar da gestão da água é ajudar a cuidar do futuro desse bem natural no planeta. Ter uma gestão eficiente e representativa envolve a inclusão dos diferentes públicos que fazem parte de uma bacia hidrográfica, inclusive aqueles que são diretamente impactados pela água de um rio – como, por exemplo, os ribeirinhos. É o que aponta a dissertação de mestrado da bióloga e engenheira civil brasileira, Maria Isabel Martins, realizada pela Universidade Técnica de Dresden (Technische Universität Dresden - TUD), na Alemanha. O estudo, além de abordar a importância dos processos participativos, traz informações sobre o envolvimento da sociedade no CBH Rio das Velhas. A autora da pesquisa, que hoje mora em Berlim, é mineira de Contagem e cresceu na bacia do Velhas. Na infância ela se lembra de sempre passar pelo Rio das Velhas ao visitar a casa dos seus avós em São Vicente, distrito de Baldim. A relação com o rio virou até tatuagem na pele. Em sua dissertação de mestrado defendida em agosto de 2021 cujo título é “Participação pública na gestão da bacia hidrográfica de um rio: o caso do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas no Brasil” (Public participation in river basin management: the case of the Velhas river basin committee in Brasil), Maria buscou analisar pontos sobre os processos participativos do CBH Rio das Velhas como a legitimidade, o poder, a comunicação social, a construção de confiança, o desenvolvimento de rede e a capacitação. “Minha proposta foi trazer um pouco da visão do que é gestão hídrica no Brasil que eu acho muito avançada, comparada com o que eu vejo por aqui. O pessoal da minha universidade acha que o nosso país está transbordando em água por causa da Amazônia e não sabe das crises hídricas que a gente passa. Com essa pesquisa em inglês as pessoas poderão coletar informações. Também é uma forma de aparecermos no mapa das pesquisas hídricas, porque a América Latina, principalmente o Brasil, está um pouco atrás quando fala em pesquisa internacional na área de gestão hídrica”, explica a autora. Um dos resultados positivos colocados por Maria sobre a participação pública na gestão das águas está em ouvir os diferentes pontos de vista e as necessidades, o que torna o processo mais representativo. “Eu sempre olhei a questão da água como complexa e dinâmica.

Água não é só física, engenharia, água é tudo. Como a sustentabilidade, é um tema muito complexo e multidirecional. Em gestão hídrica tem muita gente técnica e pouca gente ligada a questão social”, diz. Desafios Apesar do CBH Rio das Velhas ser uma referência em gestão hídrica entre as bacias hidrográficas brasileiras, em seu estudo Maria identificou alguns pontos que podem avançar de acordo com os critérios que ela utilizou. De acordo com as entrevistas realizadas com integrantes internos e externos ao CBH Rio das Velhas, um dos pontos que precisam de avanço, segundo a pesquisa, é o desafio de expandir o diálogo para um público ainda maior. A autora cita algumas formas de inclusão, como a do público mais vulnerável, criando uma espécie de “cota” para agregar essa população. “Ter, por exemplo, um projeto com a participação da comunidade ribeirinha em que ela faz a coleta e análise da água e ajuda a alimentar um banco de dados com esse trabalho, faz com que estas pessoas se sintam mais engajadas. A comunidade deixa de ser uma expectadora que está recebendo as decisões e passa a fazer parte do processo. Se você é responsável pela água, você vai ter mais apreço por ela”, diz a autora. Autora do estudo, a mineira Maria Isabel Martins é bióloga e engenheira civil.


Rio das Velhas entra em estado de alerta no ponto que abastece a RMBH Estágio é o último antes da necessidade obrigatória de restrição de uso da água

No final de julho, a vazão do Rio das Velhas no ponto de captação da Copasa no Sistema Bela Fama, em Nova Lima – responsável pelo abastecimento de cerca de 50% da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) – registrou níveis críticos. Para considerar o estado de alerta, último estágio antes da necessidade obrigatória de restrição de uso da água, o CBH Rio das Velhas sinaliza que a vazão média do manancial esteve na casa de 10,4 m3/s, volume mínimo considerado seguro para o rio. Após a captação da Copasa para abastecimento, a vazão residual ficou com média semanal de 3,6 m3/s. Segundo a Deliberação Normativa 49 de março de 2015, do Conselho Estadual dos Recursos Hídricos (CERH), sempre que a vazão de um curso d’água monitorado no estado ficar abaixo do valor médio mínimo dos últimos 10 anos (índice chamado de Q7,10) durante um período de sete dias seguidos, o manancial entra em estado de alerta. Se esses valores reduzirem ainda mais, passando de 70% da Q7,10 e se repetirem nesse patamar por mais sete dias consecutivos, o rio entra em estado de restrição de uso. Nesse caso, será necessário reduzir, de forma obrigatória, o uso da água, de acordo com os tipos de consumo. Para evitar que a situação piore e chegue ao racionamento, o Comitê informa que tem adotado

medidas em parceria com a Copasa, Cemig, Vale e AngloGold, por meio do Grupo de Controle de Vazão do Alto Rio das Velhas (Convazão), visando a regularização das vazões, objetivando o direito de acesso de todos aos recursos hídricos, com prioridade para o abastecimento público e a manutenção dos seus ecossistemas. “Temos acompanhado de forma sistemática a situação das vazões do Rio das Velhas e o cenário atual vem se mostrando pior em relação aos últimos anos. O problema não é apenas falta de chuva, mas também de perda de resiliência do rio”, afirmou o secretário do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano. O secretário do Comitê esclareceu também que o Convazão articula uma pactuação com os usuários que possuem reservatórios no Alto Rio das Velhas. “A ideia é implementar um sistema integrado de gestão de vazões de contribuição que sirva de aporte para a regularização do rio nos períodos de maior estiagem, com a finalidade de manutenção da vazão em Bela Fama em um patamar acima da Q7,10”, disse Polignano. A presidente do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas, ressalta que outro problema associado à escassez hídrica é a necessidade de aprimoramento e ampliação do sistema de tratamento de esgoto

na bacia. “Com baixa vazão, o Rio das Velhas perde sua capacidade de suporte em relação à diluição da carga poluidora lançada, gerando outro grande impacto por meio da eutrofização e proliferação de cianobactérias no seu médio e baixo curso, ocasionando a infestação de macrófitas aquáticas [plantas aquáticas que podem ser vistas a olho nu] nesse trecho, até o encontro com o Rio São Francisco”, destacou. Poliana Valgas destaca a gravidade nas vazões do Rio das Velhas. “A escassez hídrica tem grandes impactos na segurança hídrica e na vida aquática ao longo da bacia. Por isso, buscamos mobilizar e conscientizar a sociedade para um uso mais consciente e eficiente da água neste momento e solicitamos aos usuários a diminuição da retirada de água para os usos não essenciais”, afirmou.

Rio das Velhas em Honório Bicalho, distrito de Nova Lima. Agosto de 2021 3


Impulsionado por ação do CBH, Itabirito institui Programa de Pagamento por Serviços Ambientais O município de Itabirito, no Alto Rio das Velhas, instituiu, no primeiro semestre deste ano, o seu Programa de Pagamento por Serviços Ambientais. A lei, fruto de uma articulação em que o CBH Rio das Velhas e o Subcomitê Rio Itabirito foram importantes, visa conceder incentivo econômico a proprietários de imóveis rurais ou urbanos que possuam áreas naturais capazes de prover serviços ecossistêmicos ou ambientais, promovendo assim a conservação ambiental. O Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) é um instrumento que remunera o proprietário rural pela sua prestação de serviços ambientais à sociedade. Quando a finalidade da proteção é um maior volume de água no território, o PSA reconhece o proprietário pela proteção, restauração de ecossistemas naturais e conservação do solo em áreas estratégicas para produção de água dentro das propriedades rurais.

Em 2019, o CBH Rio das Velhas financiou com recursos da cobrança pelo uso da água um diagnóstico de propriedades rurais na sub-bacia do Ribeirão Carioca, localizado em Itabirito, que subsidiou o Pagamento por Serviços Ambientais no município. “A parceria entre o poder público e o Subcomitê Rio Itabirito foi importante para a criação da lei. Nós realizamos o projeto que deu subsídios para a prefeitura de Itabirito criar o Programa. Mas é importante destacar o compromisso da Secretaria de Meio Ambiente que assumiu a causa e levou o trabalho do Comitê adiante”, disse o secretário do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano. O secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura de Itabirito, Frederico Arthur Souza Leite, esclareceu que o PMPSA será viabilizado mediante a aplicação do Fundo Municipal de Meio Ambiente. “O fundo será constituído, basicamente, com recursos oriundos de medidas

compensatórias, dotações na Lei Orçamentária Anual Municipal, doações, transferências por pessoas físicas, públicas e privadas, entre outros. O Codema [Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável e Melhoria do Meio Ambiente de Itabirito] será responsável por aprovar o plano de trabalho do Programa de Pagamento por Serviços Ambientais”.

Saiba mais sobre o PSA de Itabirito a partir do episódio 26 do podcast Momento Rio das Velhas bit.ly/3yfApHi

Estudo conclui que barraginhas plantam água e mudam a realidade do Rio Bicudo A Bacia Hidrográfica do Rio Bicudo, afluente do Rio das Velhas, é uma das que mais sofre com a escassez hídrica em Minas Gerais. Um estudo realizado pela coordenadora técnica da Agência Peixe Vivo, Flávia Mendes, constatou que a execução de projetos hidroambientais do tipo bacias de contenção de água da chuva (barraginhas) em localidades rurais da bacia do Rio Bicudo, na região do Baixo Rio das Velhas, é capaz de promover reduções nas vazões de pico nos cursos d’água a jusante dessas intervenções, e o consequente aumento na infiltração das águas pluviais no solo da bacia hidrográfica.

Entre 2015 e 2019, quase 680 barraginhas foram feitas pelo CBH Rio das Velhas na bacia do Rio Bicudo.

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“As barraginhas captam as águas das enxurradas e permitem sua lenta infiltração no solo, entre uma chuva e outra, para reabastecer os mananciais subterrâneos, aumentar a permanência da água no solo e promover a revitalização de nascentes na bacia hidrográfica. Outra ação que se espera das barraginhas é a contenção de sedimentos carreados pelas chuvas, diminuindo o assoreamento dos cursos d’água a jusantes dessas intervenções”, esclarece Flávia Mendes.

Desde 2015, o recurso arrecadado com a cobrança pelo uso da água na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas tem sido investido na execução de barraginhas na bacia do Rio Bicudo, para promover a contenção da água das chuvas, fazendo com que ela infiltre no solo e reduzindo o assoreamento dos rios. O CBH Rio das Velhas aprovou a execução de dois projetos de recuperação hidroambiental na bacia do Rio Bicudo, um no ano de 2015 e outro no ano de 2019, totalizando a construção de 678 barraginhas.


Fundo de Vale é revitalizado na bacia do Ribeirão Onça, no bairro Novo Progresso Uma área conhecida como “Buracão” no bairro Novo Progresso, na bacia do Ribeirão Onça, em Contagem, foi revitalizada pelo CBH Rio das Velhas. A área verde de vegetação e nascentes foi entregue à comunidade totalmente revitalizada, ao final de junho. O local se encontrava abandonado e tinha sido transformado em bota-fora, causando grandes transtornos aos moradores da região. A proliferação de animais peçonhentos, vetores de doenças, mosquitos, a incidência de queimadas e outros impactos ambientais graves incomodava a comunidade. A área de Fundo de Vale foi limpa, o campo de futebol foi recuperado e gramado, as nascentes desassoreadas e protegidas, a edificação existente foi recuperada e a encosta que era usada como lixão ganhou um jardim de girassóis.

De acordo com o coordenador-geral do Subcomitê Onça e superintendente de Fiscalização Ambiental da Prefeitura de Contagem, Eric Machado, um dos pré-requisitos do CBH Rio das Velhas para utilizar os recursos da cobrança pelo uso da água era não ter ocupação irregular na área degradada. “Conseguimos mostrar ao Comitê a necessidade de revitalizar o espaço, justamente por causa da ocupação. Foi uma mudança de perspectiva e de paradigma. Quem conheceu essa área antes sabe o quanto a mudança foi radical. É uma área de apenas 30 mil metros quadrados, mas que tem nascentes e é muito importante para a comunidade. Agora vamos formar um grupo de gestão que ajudará a Prefeitura de Contagem a cuidar do local”, disse. Darlane da Silva Moura, mãe de quatro filhos, mora há 15 anos na região e contou que um dos filhos

teve uma lesão séria no braço quando brincava no espaço antes de ser revitalizado. A criança foi vítima de um vaso sanitário quebrado que estava jogado no bota-fora. “Felizmente mudou! Agora, moramos perto da praça dos girassóis. Agradeço a todos por não terem desistido e concretizado a obra. Agora podemos deixar nossas crianças brincando sem perigo de se machucarem. É um sonho ter a natureza para usufruir com responsabilidade”, afirmou. As obras de revitalização de Área Verde e Fundo de Vale na UTE Ribeirão do Onça tiveram um investimento de R$ 393.873,11 pelo CBH Rio das Velhas e início em janeiro de 2021, com o prazo de execução de sete meses.

Moradora da região, Darlane Moura elogiou o resultado da revitalização do espaço.

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Como garantir água para a RMBH? A segurança hídrica é um dos grandes desafios da bacia do Rio das Velhas, principalmente em seu alto curso. Em entrevista, o professor do departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, Marcelo Libânio, esclarece sobre os principais desafios enfrentados pela Grande BH para assegurar água para todos Centenas de municípios em Minas Gerais estão em situação inadequada em relação à segurança hídrica, incluindo a Região Metropolitana de

Belo Horizonte (RMBH). O sistema produtor do Rio das Velhas abastece em média 2,5 milhões de pessoas na região, principalmente os municípios de Belo Horizonte, Santa Luzia, Raposos, Nova Lima e Sabará. No entanto, o manancial enfrenta uma das piores crises hídricas dos últimos tempos, entrando em estado de alerta no mês de julho, devido à baixa vazão. O professor do departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da

Universidade Federal de Minas Gerais (DESA/ UFMG), Marcelo Libânio, explica, em entrevista, os desafios relacionados à segurança hídrica, principalmente no Alto Rio das Velhas. Marcelo Libânio é graduado em Engenharia Civil com mestrado em Engenharia Sanitária pela UFMG. Atualmente é professor titular do DESA/ UFMG e tem experiência na área de Engenharia Sanitária, com ênfase em qualidade e tratamento de águas naturais.

Rio das Velhas em Raposos. Agosto de 2021

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O Brasil detém 14% da água doce de todo o planeta e mesmo assim enfrentamos problemas de abastecimento. Por que isso acontece?

Professor titular da UFMG, Marcelo Libânio tem experiência na área de Engenharia Sanitária, com ênfase em qualidade e tratamento de águas naturais.

A distribuição de água doce é desigual, assim como tudo no Brasil. Essa água está em grande parte no Norte, Centro-Oeste e Sudeste. Ainda assim, não temos água em abundância em regiões metropolitanas ou temos a água, mas ela não é de boa qualidade. Daí surge a importância de assegurar água em quantidade e qualidade para a população brasileira. Quais são os principais fatores que ameaçam a segurança hídrica da RMBH? O âmago dessa pergunta é o fato de que perto de 60% da água que abastece a RMBH advém de um manancial onde a captação é feita a fio d’água, que é o Rio das Velhas. Em um momento de estiagem histórico, como o que vivemos agora em que a vazão está bem abaixo da média, o abastecimento fica comprometido. A bacia do Rio das Velhas responde rapidamente às chuvas com o aumento da vazão, mas o que temos visto é que ela tem perdido a capacidade de reservação das águas das chuvas. A região do Alto Rio das Velhas tem sofrido intensa degradação como o aumento populacional e o crescimento econômico, que geram ampliação da demanda de água, bem como as mudanças climáticas e os seus efeitos nos eventos hidrológicos extremos. A bacia do Rio das Velhas, em especial a região do Alto Velhas, sofre há anos com a insegurança hídrica. O que pode ser feito para mudar essa realidade? Há um caminho que é atuar em reduzir as perdas. Em Belo Horizonte, atualmente as perdas chegam a quase 40% da produção de água em função de vazamentos, captação irregular (gatos) e erros na medição do hidrômetro. Outra medida importante é fazer o balanço de massa, ou seja, o que se dispõe de água e o que se retira para o abastecimento. Também é preciso preservar a vegetação, principalmente em regiões de aquíferos e nas matas de galeria, minimizar erosão, bem como o controle das atividades antrópicas. Atualmente a captação de Bela Fama, em Nova Lima, é responsável pelo abastecimento de Nova Lima, Belo Horizonte, Raposos e Sabará. É possível se pensar em alternativas para descentralizar o abastecimento desses municípios em particular? Como? Essa é uma questão crucial que a Copasa enfrenta. Em caso de algum colapso no Velhas a população abastecida por esse manancial fica sem água, pois a captação é a fio d’água.

Os investimentos para criar alternativas para descentralizar o abastecimento de águas desses municípios são vultuosos. No entanto, após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho em 2019, com a interrupção da captação do sistema Paraopeba, o sistema de abastecimento do Rio das Velhas ficou sobrecarregado. Em vista disso, foi firmado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre a mineradora e o Ministério Público de Minas Gerais para assegurar água para a RMBH.

Sou pessimista de achar que as coisas vão mudar, visto que a maioria acredita que a água vem da torneira. No entanto, sou otimista com as gerações futuras! Os recursos naturais estão se esgotando e há um crescimento das questões ambientais. Se as futuras gerações não alcançarem o desenvolvimento sustentável haverá um colapso e, mesmo sendo um país com água em abundância, o Brasil vai enfrentar a escassez hídrica.

Uma das ações previstas no TAC é a perfuração de entre oito e dez poços artesianos para abastecer a população de Sabará. Outra medida importante é a ampliação da interligação dos sistemas Velhas e Paraopeba. A Copasa também está construindo uma nova adutora para abastecer a Estação de Tratamento de Água (ETA) Bela Fama. Essas medidas podem trazer alívio para o sistema Copasa no Rio das Velhas. De que forma crises hídricas como a que a bacia do Rio das Velhas vive atualmente revelam a dimensão da problemática do tema em nossa sociedade? Ando descrente com o obscurantismo da sociedade atual. A sensação que eu tenho é que isso reverte em reflexões mais profundas quando uma perspectiva de racionamento se materializar. 7


Quer cuidar das águas de seu território? Eleições de membros dos Subcomitês acontecerão entre setembro e outubro As eleições para novos membros dos Subcomitês, instâncias do CBH Rio das Velhas, ocorrerão nos meses de setembro e outubro de 2021. Mas o que são essas eleições? Por que elas são importantes? O que faz um membro de um Subcomitê de bacia hidrográfica? Quem pode concorrer? Entenda melhor o processo e participe das decisões sobre a água que abastece seu município!

e a resolução de questões ambientais específicas de cada sub-bacia, desenvolvendo uma gestão descentralizada que apresenta uma visão mais realista dos problemas de cada região. Funcionam como articuladores locais, visto que a bacia do Velhas é extensa e apresenta aspectos culturais, sociais, políticos, econômicos e ambientais diferentes nas diversas regiões”, disse.

O CBH Rio das Velhas é um órgão colegiado, que promove a gestão das águas dos rios dessa bacia, que são fundamentais para o abastecimento de Belo Horizonte e região. Atualmente, o Comitê possui 18 Subcomitês em sua estrutura divididos em 23 regiões de planejamento e gestão de recursos hídricos, denominadas de Unidades Territoriais Estratégicas (UTE), que são grupos de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas.

Os membros dos Subcomitês devem fazer parte ou manter interesse sobre o território que abrange as sub-bacias hidrográficas que compreende os 51 municípios da bacia do Rio das Velhas. Ao serem eleitos, participam de reuniões mensais, que ocorrem sempre em algum desses municípios ou de forma online, devido à pandemia. Ali, eles são consultados sobre questões que envolvem a preservação e o uso das águas na respectiva sub-bacia. É papel de um conselheiro ser atuante, agindo de forma conjunta com os outros participantes, para que os debates sejam efetivos e as decisões possam ser tomadas para melhorias ambientais na bacia.

Os Subcomitês promovem o debate nesses diferentes territórios e tomam decisões sobre a governança das águas. São entidades consultivas e propositivas que funcionam obrigatoriamente com a participação dos três segmentos da sociedade (poder público, usuários da água e sociedade civil organizada), constituindo um avanço na descentralização da gestão das águas. A presidente do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas, explica sobre a importância dos Subcomitês na gestão da bacia. “Os Subcomitês são ferramentas importantes na gestão de recursos hídricos do Comitê do Rio das Velhas. A partir deles, o Comitê aprimorou o acompanhamento

Para organizar as eleições dos Subcomitês, o CBH Rio das Velhas conta com uma equipe de mobilização social. O coordenador dessa equipe, Francisco Rubió, explica que os Subcomitês promovem a interlocução entre os conselheiros e as instâncias do Comitê e as comunidades da bacia do Rio das Velhas. “A equipe de mobilização desenvolve os trabalhos de articulação social e educação pela bacia. São profissionais

que mobilizam os diversos atores a participar da gestão das águas de cada território, de forma a consolidar a estratégia de participação ampliada e capilaridade nas sub-bacias hidrográficas do Rio das Velhas”, afirmou. Como participar? Para se candidatar às eleições dos Subcomitês é necessário representar uma entidade que atua na região entre poder público (estadual e municipal), usuários de água e sociedade civil. Os interessados devem comparecer com uma carta de indicação da entidade que representam, contendo os dados do titular e de um suplente que pretendem compor o Subcomitê. Após a apresentação de todos os interessados, a mesa diretora promove a eleição dos membros e coordenadores de cada segmento. Cada Subcomitê tem três coordenadores (sociedade civil, poder público e representante dos usuários de água) e entre eles é eleito pelos conselheiros um coordenador geral, que será a pessoa responsável pela condução dos trabalhos e pela articulação com o CBH Rio das Velhas e com outras entidades. Uma vez eleitos, os membros dos Subcomitês (titulares e suplentes), que são voluntários, devem ter interesse e disponibilidade para participar das reuniões mensais. Participe da gestão das águas de seu território!

INFORMATIVO CBH Rio das Velhas. Mais informações, fotos, mapas, apresentações e áudios no portal www.cbhvelhas.org.br Diretoria CBH Rio das Velhas Presidente: Poliana Valgas Vice: Renato Júnio Constâncio Secretário: Marcus Vinícius Polignano Adjunto: Fúlvio Rodriguez Simão

cbhvelhas.org.br

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Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas comunicacao@cbhvelhas.org.br Tiragem: 3.000 unidades. Direitos reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.

COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS VELHAS

Rua dos Carijós, 150 – 10º andar - Centro Belo Horizonte - MG - 30120-060 (31) 3222-8350 - cbhvelhas@cbhvelhas.org.br

Comunicação: TantoExpresso (Tanto Design LTDA) Direção: Rodrigo de Angelis / Paulo Vilela / Pedro Vilela Coordenação de Jornalismo: Luiz Ribeiro Redação e Reportagem: Luiza Baggio, Luiz Ribeiro e Michelle Parron Fotografia: Bianca Aun, Fernando Piancastelli, Leo Boi e Ohana Padilha Diagramação: Sérgio Freitas


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