Boletim Informativo 31 - Dezembro 2021 - CBH Rio das Velhas

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Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas | Dezembro / 2021 | Ano VII - Nº 31

Informativo

Renovação na base: Subcomitês da bacia do Rio das Velhas concluem processo eleitoral Trilha ecológica ligará Mosteiro de Macaúbas à Serra da Piedade Pág. 2

Entrevista: Professor da UFMG, biólogo José Eugênio Côrtes Figueira discute os reais impactos da construção de uma fábrica de cervejas na região do Carste Págs. 6 e 7

Comitê implanta indicadores de projetos para auxiliar no aprimoramento de suas ações Pág. 8


Enfim viramos a página da estiagem, uma das mais severas na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas. Em mais um ano, a situação crítica de escassez hídrica foi oficialmente declarada no território, o que implicou em restrição de uso, inclusive em captações para abastecimento humano. Ao passo em que esse momento é deixado para trás, não devemos nos esquecer das razões, globais e locais, que tem colocado o Rio das Velhas nessa situação de fragilidade. Temos, por um lado, as mudanças climáticas já estabelecidas que afetam o clima e o regime hidrológico em todo o mundo; e, por outro, um descuido histórico com o uso e a ocupação do solo e a ausência de um planejamento voltado à conservação de rios, mananciais e bacias hidrográficas. Mas, se na estiagem o que nos aflige é a ameaça da insegurança hídrica, especialmente na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), durante o período chuvoso nosso receio – cabe frisar – não é da chuva. Enchentes são fenômenos absolutamente normais e a chuva em abundância é tudo do que precisamos para recarregar nossas reservas, nascentes, córregos e demais olhos d’água. O problema está, portanto, no modelo de cidades que criamos, avesso à água. Além das ocupações irregulares em áreas de inundação dos rios, as retificações, canalizações e os tamponamentos de cursos d’água ao longo da história, somados à constante impermeabilização do território, formam uma combinação perigosa que resulta em vazões significativamente fortes em curtos períodos de tempo. É esse modelo de cidade – e não pura e simplesmente a chuva – que gera, ano após ano, tragédias com rastros de destruição e mortes. Precisamos, portanto, pensar novos modelos de cidade, que saibam respeitar e conviver com a água de uma maneira mais inteligente. O atual momento marca também a abertura de uma possibilidade até então única em meio à pandemia da Covid-19: de a Diretoria do CBH Rio das Velhas, com todos os cuidados e protocolos sanitários devidos, iniciar um ciclo de visitas aos territórios da Bacia Hidrográfica – algo que vinha sendo desejado desde a posse desta gestão, mas impossibilitado pela grave pandemia. Graças à ciência, fundamentalmente, vivenciamos um momento de trégua, o que tem nos permitido visitar as Unidades Territoriais Estratégicas (UTE) da Bacia Hidrográfica e aproximar ainda mais os conselheiros dos Subcomitês na gestão do CBH Rio das Velhas. Na pauta estão as ações do Comitê nos territórios, o andamento do Programa de Conservação e Produção de Água, além, é claro, de uma escuta ativa sobre os desafios de cada região e o caminho para solucioná-los. Sabemos dos percalços que teremos pela frente em 2022, mas torcemos para que esse gosto de esperança se perpetue e se concretize em saúde para todos! Poliana Valgas Presidenta do CBH Rio das Velhas

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Trilha ecológica unirá preservação e turismo na Unidade Territorial Estratégica (UTE) Poderoso Vermelho A Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas é repleta de belos lugares. Cachoeiras de todos os tipos, vilas aconchegantes, serras com lindas vistas e uma culinária para lá de reconhecida. Com o objetivo de valorizar o território e sensibilizar a população sobre a importância de preservá-lo, o Subcomitê Poderoso Vermelho desenha uma trilha ecológica que ligará o Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição de Macaúbas, localizado em Santa Luzia, à Serra da Piedade, no município vizinho, Caeté. A trilha ecológica promoverá o desenvolvimento sustentável, pautado na proteção dos recursos naturais. Conhecer o Mosteiro de Macaúbas, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, é uma experiência única. Com mais de 300 anos de existência, o prédio histórico abrigou uma das primeiras escolas femininas de Minas Gerais. Lá se encontram também, ainda nos dias atuais, 13 freiras que vivem em clausura. Além disso, o Mosteiro se encontra a poucos metros da calha do Rio das Velhas e possui uma nascente protegida em seu terreno. Próximo do Mosteiro se encontra a Serra da Piedade e o seu Santuário Basílica. Com 1746 metros de altitude, a serra é ideal para quem procura tranquilidade e um local para reflexão. Em seu topo é possível ter uma vista panorâmica de 360º, desde a Serra do Espinhaço e da bacia do Rio das Velhas (Lagoa Santa) ao Serra da Piedade é um dos destinos da Trilha Ecológica desenhada pelo Subcomitê Poderoso Vermelho.

norte, Belo Horizonte ao poente, e boa parte do Quadrilátero Ferrífero ao sul, incluindo a Serra do Caraça. Em dias claros, é possível ainda ver outras cidades: Caeté, Nova União, Raposos, Sabará, Santa Luzia e Vespasiano, todas pertencentes à bacia do Rio das Velhas. A coordenadora-geral do Subcomitê Poderoso Vermelho, Regina Caminha, explica que a trilha ecológica permitirá a interação com o ecossistema da região, além de estimular o público a refletir sobre a importância da conservação ambiental. “A trilha vai promover o lazer, a recreação e as práticas esportivas em contato com a natureza, sensibilizando a população a cuidar da região”, disse. Marcelo Bastos, um dos membros do Subcomitê envolvidos com a trilha ecológica, falou sobre o que já foi feito e os próximos passos para consolidar a trilha. “Com as parcerias que vêm sendo criadas ao longo dessa caminhada coletiva, concluiremos em breve a primeira etapa que é a definição da marca e do caminho principal. Posteriormente, trabalharemos na estruturação de atividades de receptividade de turismo de inclusão como as de apoio, segurança, alimentação, hospedagem e outras, criando assim a oportunidade da inserção social de moradores e comunidades ao longo do percurso”, acrescentou.

Fernando Piancastelli

Editorial

A grandeza do território Poderoso Vermelho


Léo Boi

Conheça as quatro microbacias selecionadas para a execução do Programa de Conservação e Produção de Água

Queda d’água no Ribeirão Maracujá, em Cachoeira do Campo: microbacia foi a eleita no Alto Rio das Velhas.

O Programa de Conservação e Produção de Água foi lançado em junho de 2021 e terá a duração de seis anos. O objetivo é executar ações nas microbacias que possam maximizar o potencial de produção de água, a partir do planejamento e execução de Soluções Baseadas na Natureza (SBN).

conservação. No entanto, o desmatamento aliado à agropecuária, assim como a abertura de estradas vicinais sem a devida manutenção, têm prejudicado o nosso território e diminuído a capacidade de infiltração de água no solo. É uma alegria muito grande saber que o Programa de Conservação e Produção de Água será executado na nossa região.”, festejou.

Córrego do Soberbo, no Médio Baixo Rio das Velhas, foi uma indicação do Subcomitê Rio Cipó.

A microbacia do Ribeirão Maracujá foi indicada em uma ação conjunta entre os Subcomitês Nascentes e Rio Itabirito. Já o Ribeiro Bonito foi indicação do Subcomitê Rio Taquaraçu e o Córrego Soberbo do Subcomitê Rio Cipó.

O processo de definição das quatro microbacias teve início na primeira rodada de oficinas realizadas no mês de agosto em cada uma das quatro regiões fisiográficas da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas. No total, 14 microbacias foram apresentadas pelos respectivos Subcomitês ao Programa.

A coordenadora do Subcomitê Ribeirão Jequitibá, Marley Beatriz de Assis Lima, celebrou a iniciativa do CBH Rio das Velhas. “Apesar de não ter a microbacia indicada pelo Subcomitê Ribeirão Jequitibá selecionada, vejo com satisfação a iniciativa do Comitê de executar um programa macro com o objetivo de produzir mais água na bacia. Essa foi a primeira edição do Programa, além de várias outras ações ao longo da bacia”, destacou.

O representante do Subcomitê Guaicuí, Álvaro Henrique Gomes da Costa, comemorou a seleção da bacia do Córrego das Pedras. “A UTE [Unidade Territorial Estratégica] Guaicuí possui 35% do seu território considerado como prioritário para

A próxima etapa do Programa de Conservação e Produção de Água será a elaboração dos projetos técnicos por microbacias. Em seguida serão realizadas as implantações das intervenções e, por último, o monitoramento e assistência técnica.

Léo Boi

As microbacias do Ribeirão Maracujá, no Alto Rio das Velhas, Ribeiro Bonito, no Médio Alto Rio das Velhas, Córrego do Soberbo, no Médio Baixo Rio das Velhas, e Córrego das Pedras, no Baixo Rio das Velhas, foram as selecionadas para a execução das ações do Programa de Conservação e Produção de Água. O CBH Rio das Velhas divulgou a seleção, em setembro, durante a 2ª Oficina do Programa realizada por videoconferência.

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Subcomitês elegem nova coordenação Processo eleitoral definiu nova composição de conselheiros e coordenadores para os próximos dois anos Entre os meses de setembro e novembro, os 18 Subcomitês vinculados ao CBH Rio das Velhas realizaram eleições para a nova composição e definição dos coordenadores. O mandato será de dois anos (2021/2023).

Miguel Aun

As eleições ocorreram de maneira virtual, presencial e híbrida, conforme especificidades de cada região. “Os Subcomitês são ferramentas importantes na gestão de recursos hídricos do Comitê do Rio das Velhas. A partir deles, o CBH aprimorou o acompanhamento e a resolução de questões ambientais específicas de cada sub-bacia, desenvolvendo uma gestão descentralizada que apresenta uma visão mais realista dos problemas de cada região. Funcionam como articuladores locais, visto que a bacia do Velhas é extensa e apresenta aspectos culturais, sociais, políticos, econômicos e ambientais diferentes nas diversas regiões”, explicou a presidenta do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas, sobre a importância dos Subcomitês na gestão da bacia.

Os Subcomitês promovem nos diferentes territórios a discussão e tomam decisões sobre a governança das águas. São entidades consultivas e propositivas que funcionam obrigatoriamente com a participação dos três segmentos da sociedade (poder público, usuários da água e sociedade civil organizada), constituindo um avanço na descentralização da gestão das águas. Os membros dos Subcomitês fazem parte ou mantêm interesse sobre o território que abrange as sub-bacias hidrográficas que compreendem os 51 municípios da bacia do Rio das Velhas. Uma vez eleitos, participam de reuniões mensais, que ocorrem sempre em algum desses municípios ou de forma online, devido à pandemia. Ali, eles são consultados sobre questões que envolvem a preservação e o uso das águas na referida sub-bacia. É papel de um conselheiro ser atuante, agindo de forma conjunta com os outros participantes, para que os debates sejam efetivos e as decisões possam ser tomadas para melhorias ambientais na bacia.

Por videoconferência, novos coordenadores e membros do Subcomitê Nascentes foram eleitos.

No Subcomitê Ribeirão Onça a eleição ocorreu no dia 19 de outubro, de forma híbrida.


Tiago Rodrigues

Confira a composição de novos coordenadores dos Subcomitês:

No Subcomitê Guaicuí, foram eleitos como coordenadores Eric Felipe Lages, representando os usuários de água (Circuito Serra do Cabral), Zita Ruas como sociedade civil (Associação de Porteiras) e Valdeoclides Ferreira do poder público (Prefeitura de Várzea da Palma) - este último reeleito coordenador-geral.

Subcomitê

Coordenador (a) - Sociedade Civil

Coordenador (a) - Poder Público

Coordenador (a) - Usuários de Água

Nascentes

Daniel Caira (Associação Comunitária do Engenho D´água) *

Nadja Apolinário (Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Ouro Preto)

Ronald Guerra (RPPN Fazenda Renascer)

Rio Itabirito

Ronald Guerra (Instituto Guaicuy)

Frederico Leite (Prefeitura de Itabirito) *

Filipe Morgam (Gerdau)

Águas da Moeda

Junia Borges (Instituto Cresce) *

Fernando Duarte Vilaça (IEF)

Mauro Lobo (Vale)

Águas do Gandarela

Ana Carolina Passos (Água Viva Ecologia) *

Aline Regina de Souza (Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Rio Acima)

Erick da Silva (Copasa)

Ribeirões Caeté-Sabará

Jéferson Paes dos Santos (Global Gestão Ambiental) *

Fernanda Bárbaro (Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Caeté)

Gabriela Mendes Soares (SAAE Caeté)

Ribeirão Arrudas

Marcia Marques (Projeto Cercadinho Vivo) *

Adriana Aparecida dos Santos (Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Contagem)

Cristiano Abdanur (Copasa)

Ribeirão Onça

Roseli Correia da Silva (Núcleo Capão) *

Sirlene Conceição de Almeida (Prefeitura de Contagem)

Rogério Sepúlveda (Copasa)

Poderoso Vermelho

Regina Lúcia Caminha Torres (Associação dos Produtores Rurais Familiares de Ravena)

Shelen Mainente (Emater)

Daniela Amorim (Lactalis)

Ribeirão da Mata

Gefferson Guilherme (APDA)

Germânia Florência (Prefeitura de Pedro Leopoldo) *

Rosimary de Oliveira (Cimentos Liz)

Rio Taquaraçu

Jânio de Lima Marques (Taquaraçu Ecotur) *

Alexandre Henrique de Souza Castro (Prefeitura de Nova União)

Valquíria de Lourdes Capila (produtora rural de Campo Santo Antônio)

Carste

Marcia Adriane Lopes (Movimento Lagoa Viva) *

Flavia Marques de Freitas (Prefeitura de Prudente de Morais)

Lilian Andrade (Copasa)

Ribeirão Jequitibá

Nivaldo Aparecido dos Santos (Instituto Guaicuy)

Marley Beatriz de Assiz Lima (Escola Técnica Municipal de Sete Lagoas) *

Amanda Luiz Ribeiro Lara (Cimento Nacional)

Santo Antônio-Maquiné

Hamilton Filho (Club Lions) *

Jairo Cesar Lopes de Souza (Emater)

Daniel de Lima Aguiar (Copasa)

Rio Cipó

Carolina Noronha (Escola Dona Francisca Josina) *

Pedro Mauro Silvério (Prefeitura de Santana de Pirapama)

Vicente de Paula Rodrigues (Copasa)

Rio Paraúna

Carlos Henrique Melo (Associação Contraponto) *

Igor Lacerda Ferreira (Prefeitura de Conceição do Mato Dentro)

Marcos Antônio da Silva (Estamparia São Roberto)

Rio Bicudo

Luiz Felippe Pedersoli Porto Maia (Associação Com. e produtores da Agricultura Familiar) *

Leandro Vaz Pereira (CORESAB)

Patrício Arcanjo Silveira (Copasa)

Rio Curimataí

Tamires Clei Nunes (Associação de Proteção Ambiental)

Maíra Cristina de Oliveira Lima (Prefeitura de Joaquim Felício) *

Marina Pimenta (Associação do Riachão)

Guaicuí

Zita Ruas Rodrigues (Associação de Porteiras)

Valdeoclides Ferreira (Prefeitura de Várzea da Palma) *

Eric Felipe Ribeiro Lages (Circuito Serra do Cabral)

* Coordenador(a)-geral

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Carste em risco Michelle Parron

A cervejaria Heineken pretende implantar uma fábrica em Pedro Leopoldo, Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). O empreendimento obteve o licenciamento ambiental por meio da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), no entanto a obra de construção da fábrica foi embargada devido aos possíveis impactos hídricos e arqueológicos na região do Carste.

O empreendimento virou polêmica: de um lado moradores da região sonham com a promessa de geração de 350 empregos. Por outro lado, muitos acreditam que os impactos da cervejaria são tamanhos que podem chegar até mesmo a gerar uma guerra hídrica na região, sem falar na destruição do sítio arqueológico. Conversamos com o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), José Eugênio Côrtes Figueira, para entender os reais impactos da construção da fábrica da Heineken para o Carste. Ele é doutor em Ecologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor no Departamento de Genética, Ecologia e Evolução da UFMG. Também é representante no Conselho Consultivo da Área de Preservação Ambiental (APA) Carste de Lagoa Santa (APACLS) da UFMG.

Achados arqueológicos e paleontológicos foram estudados pelo pioneiro cientista Peter Lund. 6

Bianca Aun

Fernando Piancastelli

José Eugênio Côrtes Figueira é doutor em Ecologia, professor no Departamento de Genética, Ecologia e Evolução da UFMG, e representante no Conselho Consultivo da APA Carste de Lagoa Santa.

Região do Carste possui beleza particular e única pela exuberância dos afloramentos calcários.


Qual é a importância hídrica e biológica da região onde a Heineken pretende instalar a nova fábrica? Pedro Leopoldo se encontra na Área de Preservação Ambiental (APA) Carste de Lagoa Santa e faz parte do Sítio Ramsar – que são áreas úmidas de importância internacional. A Convenção Ramsar é um tratado intergovernamental que estabelece marcos para ações nacionais e para a cooperação entre países, para promover a conservação e o uso racional de veredas, lagoas, brejos, mata de brejos, mangues, restingas, atóis e estuários em todo o mundo. Essas áreas fornecem serviços ecológicos fundamentais para espécies de fauna e flora e para o bem-estar de populações humanas. Além disso, localiza-se em uma interseção de Mata Atlântica e Cerrado com uma região calcária. A região é considerada hotspots de biodiversidade, ou seja, ecossistemas de grande riqueza de flora e fauna sob ameaça numa região onde a rocha matriz é o calcário. Um ponto importante a destacar é que a APA Carste de Lagoa Santa é uma zona de Conservação do Desenvolvimento Urbano e Industrial de uma região que tem regras específicas para uso empresarial, onde não é permitida a instalação de empreendimentos de grande porte como este. Na região há também um importante reserva de água subterrânea. A região é também uma importante reserva de água subterrânea, sendo extremamente sensível às ações humanas e a qualquer coisa que interfira com a recarga dos lençóis freáticos e com a circulação da água subterrânea. E do ponto de vista arqueológico?

O licenciamento da fábrica da Heineken foi concedido pelo Governo de Minas em agosto deste ano, quatro meses após a solicitação. Na sua opinião, houve falhas no processo de licenciamento? Caso sim, quais seriam? Este processo de licenciamento parece ter se inspirado no “passar a boiada”, expressão maquiavélica usada pelo ex-ministro do Meio Ambiente. Vários estudos foram desconsiderados no processo de licenciamento e especialistas em hidrogeologia da UFMG apontaram a falta de pelo menos seis: 1) Balanço hídrico do Ribeirão da Mata; 2) Análises físico-químicas e químicas da água subterrânea e superficial; 3) Estudo hidrogeológico conceitual detalhado e hidroquímico; 4) Modelo numérico do aquífero; 5) Análise dos testes de bombeamento e 6) Análise isotópica. As várias irregularidades apontadas no processo contrastam com o que a cervejaria presa em seu site: “O Grupo HEINEKEN orienta-se por valores solidamente construídos [...] Esses valores permitem que a companhia mantenha sua força e sua consistência para crescer de maneira sustentável, respeitosa (e) ética [...]”. Eles vieram para o Carste com um espírito predatório ao tentar implantar uma indústria de grande porte sem os cuidados e o respeito necessários com a APA Carste de Lagoa Santa, o Monumento Natural Estadual Lapa Vermelha e o Sítio Ramsar Lund Warming.

O volume estimado de consumo de água da fábrica da Heineken é de 360 m³ por hora, o suficiente para abastecer uma cidade de 37 mil habitantes. É possível avaliar os impactos dessa explotação? Como não foram realizados os estudos necessários, não temos como dizer o que vai acontecer caso a fábrica seja instalada, pois são desconhecidos os impactos potenciais sobre a segurança hídrica na região. Mas, posso dizer que o volume de água que será consumido pela Heineken é assustador. A região tem apresentado um grande crescimento urbano e a população demanda cada vez mais por água. Vivemos uma crise hídrica planetária agravada pelas mudanças climáticas. Foi o que aconteceu entre 2013 e 2019 quando a região cárstica de Lagoa Santa experimentou baixa pluviosidade e boa parte das lagoas temporárias permaneceu seca ou quase seca Cada canudinho que puxa um pouco de água do Carste contribui para mudar a realidade hídrica da região, abaixando o nível do lençol freático, comprometendo a continuidade da fauna e flora, de animais domésticos e os múltiplos usos por humanos. Imagina em uma explotação como essa? Será um desastre! A Heineken deveria se pautar nos princípios que prega e conduzir estudos sólidos que avaliem se o empreendimento é viável, sobretudo do ponto de vista ambiental. Deveriam avaliar alternativas de locais para sua implantação, respeitando as populações locais, a APA Carste de Lagoa Santa, o Sítio Arqueológico e o Sítio Ramsar.

Bianca Aun

A região possui sítios arqueológicos e paleontológicos ricos em fósseis do período Pleistoceno, abrigos, artefatos e pinturas rupestres de humanos que habitaram a região há milhares de anos,

além do famoso fóssil de Luzia, o mais antigo encontrado na América, com cerca de 13 mil anos, onde é hoje o Monumento Natural Estadual Lapa Vermelha. A importância histórica da APA Carste de Lagoa Santa começou a ser percebida já no século XIX, quando o “pai da paleontologia” brasileira, o dinamarquês Peter Lund, começou a explorar a área. Tais características não foram estudadas para se conseguir a licença, sendo que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) não foi consultado.

Região apresenta dois sistemas de funcionamento: o superficial – que dá origem a sumidouros, dolinas, vales cegos e maciços calcários – e o subterrâneo – que proporciona a formação de grutas, galerias e ao sistema de drenagem subterrâneo. 7


Léo Boi

Monitorar para potencializar os resultados Ao todo, Comitê destinou mais de R$ 51 milhões em 73 projetos.

Com água cada vez mais escassa, CBH Rio das Velhas implanta indicadores de projetos para auxiliar no aprimoramento de suas ações A água é um bem finito e cada vez mais escasso no mundo. Em Minas Gerais, por exemplo, 16% das águas superficiais foram perdidas nos últimos 30 anos, o que corresponde a 118.000 hectares. No território da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas a situação é ainda pior, com a perda de 40%. Para melhorar essa situação, a bacia precisa de revitalização. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) tem investido os recursos da cobrança pelo uso da água em ações de melhorias ambientais que servem de modelo a serem replicados em toda a bacia. A cobrança pelo uso da água foi implementada em 2010. Para monitorar os resultados dos investimentos, o CBH Rio das Velhas, por meio da Agência Peixe Vivo, criou indicadores de execução de projetos que vão possibilitar a mensuração dos investimentos realizados na bacia. Inicialmente os indicadores avaliaram as ações no período de 2011 a 2019. Ao todo, o CBH Rio das Velhas destinou mais de R$ 51 milhões em 73 projetos. Boa parte dos recursos foram investidos em projetos hidroambientais (36,37%) e nas ações de comunicação, educação e mobilização social (27,14%), totalizando 63,51%. Os investimentos em prevenção e controle de processos erosivos e de proteção de Áreas de

Preservação Permanente (APP) deram os seguintes resultados: • 4.098 bacias de contenção de água da chuva (barraginhas); • 2.044 bigodes; • 704 lombadas; • 787,50 metros de mecanismos para a contenção de voçorocas; • 61.633 mudas plantadas; • 228,36 hectares de áreas plantadas; • 90 mil mudas de espécies florestais nativas produzidas no Viveiro Langsdorff; • 104,19 km de áreas de APP e de áreas reflorestadas cercadas; • 124.184,0 m2 de aceiros de proteção contra o fogo; • 2.415 nascentes urbanas mapeadas na bacia; • 1.025 nascentes urbanas com plano de ação para a recuperação e conservação. O CBH Rio das Velhas também financiou 28 Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB), totalizando os 51 municípios da bacia com o documento. Destes, em 19 cidades o PMSB já virou lei.

Na área de comunicação, educação e mobilização social ocorreu a mobilização de 31.919 pessoas em 1.554 eventos realizados ao longo da bacia. Nas redes sociais o CBH Rio das Velhas alcançou, até o presente momento, 3.908 seguidores no Instagram e 5.068 curtidas em sua página no Facebook. A diretora-geral da Agência Peixe Vivo, Célia Fróes, esclareceu que ao implementar os indicadores a intenção foi de aprimorar as ações e os projetos do CBH Rio das Velhas. “Apresentar de forma consolidada os investimentos realizados com os recursos da cobrança é de fundamental importância para aprimorarmos as nossas ações. Ao implementarmos os indicadores conseguimos quantificar não somente em termos de valor executado, mas os resultados obtidos e o retorno para a bacia, o que gera mais transparência e aprimoramento do planejamento para as ações futuras”, informou. Célia Fróes esclareceu ainda que o monitoramento dos projetos permitirá aplicar os recursos da cobrança de forma mais eficiente. Os indicadores também possibilitarão avaliar o cumprimento das metas estipuladas no Plano Diretor de Recursos Hídricos (PDRH/2015) da bacia do Rio das Velhas. Para saber mais sobre as ações e os projetos do CBH Rio das Velhas acesse www.siga.cbhvelhas.org.br

INFORMATIVO CBH Rio das Velhas. Mais informações, fotos, mapas, apresentações e áudios no portal www.cbhvelhas.org.br Diretoria CBH Rio das Velhas Presidenta: Poliana Valgas Vice: Renato Júnio Constâncio Secretário: Marcus Vinícius Polignano Adjunto: Fúlvio Rodriguez Simão

cbhvelhas.org.br

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@cbhriodasvelhas

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBH Rio das Velhas comunicacao@cbhvelhas.org.br Tiragem: 3.000 unidades. Direitos reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.

COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DAS VELHAS

Rua dos Carijós, nº 244, Sala 622 - Centro Belo Horizonte - MG - 30120-060 (31) 3222-8350 - cbhvelhas@cbhvelhas.org.br

Comunicação: TantoExpresso (Tanto Design LTDA) Direção: Rodrigo de Angelis / Paulo Vilela / Pedro Vilela Coordenação de Jornalismo: Luiz Ribeiro Redação e Reportagem: Luiza Baggio e Tiago Rodrigues Fotografia: Bianca Aun, Fernando Piancastelli, Michelle Parron, Miguel Aun e Leo Boi Diagramação: Rafael Bergo


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