Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas | Março / 2022 | Ano VIII - Nº 32
Informativo
Inundações, devastação e uma estranha lama atingem cidades do Alto Rio das Velhas CBH Rio das Velhas e outras 28 entidades pedem rejeição ao PL do novo Marco Hídrico Pág. 2
Comitê celebra Protocolo de Intenções para garantir segurança hídrica da RMBH Pág. 3
Mudas do Viveiro Langsdorff colaboram para a recuperação de Estação Ecológica em Belo Horizonte Pág. 6
Editorial Filme que se repete e que, ano após ano, perpetua dramas sociais. Assim as inundações podem ser interpretadas na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas. Enquanto a cheia do rio é um processo absolutamente natural e previsível, as inundações nas cidades, por sua vez, evidenciam um planejamento urbano falho que não considera os cursos d’águas e suas variantes no território. Precisamos rever urgentemente o uso e a ocupação do solo na bacia e a apropriação das planícies de inundação – espaços à margem dos cursos d’água que naturalmente ficam inundados durante as cheias e que, assim, não podem ser ocupados. O CBH Rio das Velhas entende ser fundamental e urgente a adoção de políticas públicas – do estado e dos municípios – nas áreas que compõem essas planícies de inundação. Cabe ao poder público agir no sentido de evitar a ocupação dessas áreas e de, gradativamente, promover o processo de realocação das famílias que ali já se encontram. Caso contrário, continuaremos a ver e viver essas cenas a cada período chuvoso. O Comitê reforça o seu compromisso com os municípios ribeirinhos da bacia hidrográfica de desenvolver, ainda em 2022, estudos sobre tais planícies de inundação de cada território. O objetivo é que esse instrumento permita nortear as políticas públicas a serem adotadas. Não pode ser entendida como normal, também, a enorme e incomum quantidade de lama que se viu nos municípios atingidos pelas inundações. Ao passo em que a água recuou, rejeitos ficaram e deixaram um passivo avassalador nas casas das pessoas – muitas delas inteiramente destruídas – e no próprio Rio das Velhas. É algo que merece atenção, análise e investigação. Em meio a esse contexto de fortes chuvas, acompanhamos também, atentos, a segurança das estruturas de mineração na bacia hidrográfica que persistem em ameaçar nossos rios e a nossa população. Uma vez mais lembramos que, atualmente, duas barragens de rejeitos inseridas no Alto Rio das Velhas – de onde vem a água que abastece 50% da Região Metropolitana de Belo Horizonte – se encontram no nível máximo de criticidade quanto à segurança e que qualquer eventual rompimento poderia implicar em um caos hídrico na Grande BH e no município de Sete Lagoas. Poliana Valgas Presidenta do CBH Rio das Velhas
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CBH Rio das Velhas e outras 28 entidades assinam carta que pede rejeição ao PL do novo Marco Hídrico Em nota, organizações afirmam que o Projeto de Lei foi ‘elaborado de forma antidemocrática’ e impacta de forma substancial a gestão das águas no país O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), em conjunto com o CBH Rio das Velhas e outras 27 entidades divulgaram nota contrária ao Projeto de Lei nº 4.546/2021, o novo “Marco Hídrico”. Na nota, as entidades afirmam que o Projeto de Lei, que já foi encaminhado ao Congresso Nacional e aguarda despacho do presidente da Câmara dos Deputados, “foi elaborado de forma antidemocrática, uma vez que não passou por discussão em nenhuma instância dos Comitês de Bacias Hidrográficas federais e estaduais, tampouco no Conselho Nacional de Recursos Hídricos, apesar de ser um projeto que impacta substancialmente a gestão das águas do país. Além do mais, apresenta inconsistências técnicas e jurídicas por não apresentar regras claras
o Não a PL da ação iz Privat ! ua da Ág
que possam viabilizar as mudanças propostas, gerando preocupante insegurança jurídica por privilegiar o interesse privado em detrimento do interesse geral e público”. O PL apresenta, ainda, alterações à Política Nacional de Recursos Hídricos, trazendo a proposta de instituição do “Mercado de Águas” ou da cessão onerosa de direito de uso de recursos hídricos, afrontando o fundamento da água como um bem de domínio público, permitindo a sua comercialização. Além disso, o novo “Marco Hídrico” prevê a retirada da prerrogativa dos Comitês de aprovarem seus planos de bacias, remetendo essa competência aos conselhos superiores dos sistemas de gestão de recursos hídricos.
Novo Marco A Hídrico denti mo Não! crá tico!
Protocolo de intenções busca garantir segurança hídrica da RMBH
Bianca Aun
Celebrado ao final de 2021, termo buscar aumentar a capacidade de resiliência do Alto Velhas e promover a manutenção dos ecossistemas aquáticos
Termo foi assinado durante o XXIV Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, realizado em novembro, em Belo Horizonte.
Um protocolo de intenções com ações conjuntas para garantir a segurança hídrica da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) foi assinado em 25 de novembro. Participam do compromisso o CBH Rio das Velhas, a Agência Peixe Vivo, a Copasa, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte (ARMBH). A presidenta do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas, destacou a importância da assinatura do protocolo de intenções para assegurar o abastecimento de água. “O Rio das Velhas tem apresentado baixas vazões anos após ano e a situação tem se agravado cada vez mais. Por isso, observamos a necessidade de um planejamento a médio e longo prazo, o que resultou nesse protocolo de intenções. O documento contém ações estruturais e estruturantes para aumentar a resiliência da Bacia do Rio das Velhas e, assim, garantir a segurança hídrica para a RMBH”, esclareceu. Para alcançar os objetivos previstos no protocolo serão desenvolvidas ações e intervenções físicas em microbacias prioritárias como, por exemplo, a construção de bacias de captação ao longo das
estradas rurais; recuperação de áreas degradadas, recuperação de voçorocas e ações que promovam a recarga dos lençóis subterrâneos. Também estão previstas ações estruturantes, medidas e diretrizes que buscam o aprimoramento do sistema de gerenciamento dos recursos hídricos, da gestão ambiental, do planejamento territorial e estratégico no abastecimento público para garantir a segurança hídrica da bacia. Poliana Valgas esclareceu, ainda, que o próximo passo será elaborar um plano de ações. “A partir da assinatura, precisamos avançar para uma etapa essencial que é o planejamento e o plano de ações para que as ações de fato saiam do papel. E o CBH Rio das Velhas será responsável por coordenar e articular as ações previstas no documento”, explicou. O diretor-geral do IGAM, Marcelo da Fonseca, esclareceu que o protocolo de intenções concretiza o compromisso de assegurar o abastecimento de água para a população. “Garantir o abastecimento de água para a população da RMBH é uma grande preocupação. A assinatura do protocolo de intenções materializa o compromisso do IGAM e demais órgãos de Estado de melhorar a resiliência do Rio das Velhas, que hoje se encontra sobrecarregado. Para chegar a
essa assinatura, definimos em conjunto com o CBH Rio das Velhas as principais ações necessárias no manancial para assegurar o abastecimento público da RMBH”, declarou. O Rio das Velhas cumpre um papel fundamental no abastecimento de água da população da bacia. Sozinho ele é responsável pelo que chega às torneiras de mais de 60% da população da capital e de 50% dos mais de 5 milhões de habitantes da RMBH.
Marcelo da Fonseca e Poliana Valgas (ao centro) destacaram a importância do Protocolo para assegurar os usos múltiplos da água na bacia do Rio das Velhas. 3
Marcos Neves
Inundação e lama Além da intensidade das chuvas e das inundações em várias cidades,lama que ficou deixou rastros de destruição no Alto Velhas; situação das barragens também assusta
Mais de 400 cidades mineiras em situação de emergência, com 8 mil desabrigados e 57 mil desalojados após as fortes chuvas que caíram em Minas Gerais nos primeiros dias de janeiro. O volume incomum de precipitação faz parte de uma nova era dos extremos que vem se tornando usual em decorrência das mudanças climáticas, filhas do aquecimento global.
“Foram três anos seguidos com volumes de vazões do rio extremamente baixos. Há pouco estávamos discutindo a escassez e, agora, estamos falando sobre essas fortes chuvas que caíram. Devemos aprender que não dá para brigar com a chuva, um fenômeno natural, e também não dá para brigar com a cheia do rio, que é absolutamente natural”, provocou.
Das cabeceiras do Rio das Velhas à Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), municípios como Ouro Preto, Itabirito, Rio Acima, Nova Lima, Raposos, Santa Luzia e Sabará foram fortemente afetados pelas inundações.
Para ele, respeitar toda a natureza, inclusive do rio, é o primeiro passo. “O que foi acontecendo no processo de urbanização sem controle é que as planícies de inundação foram sendo ocupadas, as casas estão literalmente dentro da mancha de inundação. É uma briga que sempre vamos perder, não dá para revogar as forças da natureza.” Para enfrentar com ciência e método o problema, o CBH Rio das Velhas vai financiar, com recursos próprios, um estudo sobre as manchas de
Em meio a esse contexto, o secretário do CBH Rio das Velhas, Marcus Vinícius Polignano, destacou os recentes conflitos da nossa sociedade com a água durante os períodos de estiagem e de chuva.
inundação do rio a fim de nortear políticas públicas e direcionar responsabilidades das prefeituras, governo do estado e sociedade. “Vamos mapear as manchas de inundação em cada município e entregar para o poder público pensar políticas urbanas e habitacionais para realocar essas populações, pois quem paga o preço são os mais pobres, que vivem nessas áreas de maior risco, sujeitos a todas essas perdas”, aponta o secretário do CBH, que faz um apelo: “Os planos diretores precisam ordenar as cidades baseados nessas manchas de inundação, que poderão ser parques, campos, mas jamais áreas de habitação”.
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Polignano não culpabiliza as chuvas, mas o uso e a ocupação do solo na bacia, em especial nas planícies de inundação. 4
Léo Boi
Município de Jequitibá, no Médio-Alto Rio das Velhas, em mais um ano foi fortemente impactado pelas inundações.
Que lama é essa?
Robson de Oliveira
Além da intensidade das chuvas, outra coisa atraiu a preocupação das cidades atingidas: a lama que cobriu casas, quintas, ruas, pontes e até telhados. “Muito estranha, espessa, viscosa, homogênea, que parece processada”, notou Glauco Gonçalves Dias, da ONG Casa de Gentil, morador de Raposos e membro do Subcomitê Águas do Gandarela, vinculado ao CBH Rio das Velhas. Quase um mês depois do pico das cheias, a lama continuava nos bairros Vila Bela e Matadouro. Já em Itabirito, após os dias de sol forte e limpeza, adquiriu a forma de “poeira com particulado muito fino, característica de minério”, conta Heloísa França, do Subcomitê Rio Itabirito e gerente técnica do Serviço Autônomo de Saneamento Básico (SAAE) da cidade – que também sofreu com a lama densa de até “um metro de altura” e gastou máquinas, caminhões e retroescavadeiras para limpar a sujeira, tal a consistência do material acumulado. Glauco lembra também a cheia de 2020, “muito grande”, mas garante: “Em 2022 foi um metro mais alta e com uma diferença muito grande”. Ele compara os resíduos normais de uma enchente de um rio preservado, como o Ribeirão da Prata, que nasce no Parque Nacional Serra do Gandarela e cai no Velhas em Raposos, no bairro Várzea do Sítio, com os que vieram diretamente pelo Rio das Velhas: “Em Raposos não tem mineradora, mas as águas vêm de Rio Acima, Nova Lima, Itabirito e Ouro Preto”, região povoada de minas, pilhas de rejeito e barragens.
Em Raposos, a água da enchente recuou, mas a lama ficou.
Chuvas aumentam alerta sobre barragens de mineração As fortes chuvas dispararam também o alerta vermelho para a situação das barragens de mineração que se multiplicam na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas. Duas são especialmente preocupantes, marcadas pelo nível 3 de risco, aquele em que o rompimento é iminente ou já está em curso. São elas: Forquilha III, da Mina de Fábrica, em Ouro Preto, no limite com Itabirito, e B3/B4, da Mina Mar Azul, em Macacos, Nova Lima. Ambas são operadas pela Vale e têm sistema construtivo a montante, do mesmo tipo da estrutura rompida em Brumadinho, em 2019, que matou 270 pessoas e comprometeu gravemente as águas do Rio Paraopeba. Forquilha III, com cerca de 18 mil m³ de rejeitos de minério, é 600 vezes menor do que a desmoronada Barragem B1, em Córrego do Feijão, mas teme-se que a força de uma eventual ruptura possa atingir as contíguas Forquilha I, com 26 milhões de m³, e II, com 24 milhões de m³. Já a B3/B4 tem 2,7 milhões de m³.
Cheia do Rio das Velhas deixou grande parte do município de Raposos debaixo d’água.
A lama tóxica que desceria com o rompimento, além de ameaçar diretamente a vida de moradores das cidades vizinhas, acabaria no leito do Rio das Velhas acima da captação da Copasa de Bela Fama, responsável pelo fornecimento de água de metade da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Colapso hídrico é o nome disso. 5
Fernando Piancastelli
CBH Rio das Velhas doou 5 mil mudas para recuperação da unidade de conservação, localizada na região Noroeste de BH.
Mudas produzidas pelo Comitê colaboram para recuperação da Estação Ecológica da UFMG Em dezembro, foi realizada a primeira etapa do plantio de 5 mil mudas doadas pelo CBH Rio das Velhas à Estação Ecológica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), localizada no bairro Caiçara, em Belo Horizonte. A Estação enfrentou um incêndio em 2021 que afetou parcialmente o quarteirão 15. As mudas foram solicitadas pela UFMG ao Comitê através de chamamento público lançado e a ação de recuperação faz parte do projeto de extensão ‘Mais verde, mais vida’ da universidade. Na ocasião, professores e alunos plantaram cerca de 400 mudas.
colaborar com a comunidade para o tão necessário equilíbrio ambiental urbano: “Essa parceria possibilitou uma ação crucial para a valorização do espaço da Estação Ecológica enquanto uma área verde urbana. O quarteirão 15 tem grandes áreas queimadas, assim como tomadas pelo capim. É uma ação importante para o equilíbrio ecológico não só da estação, como também de Belo Horizonte. A nossa proposta é levar mudas para outras áreas, principalmente dentro do meio urbano na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas.”
A professora Maria Auxiliadora Drumond, diretora da Estação Ecológica, destacou a importância da área não só para Belo Horizonte, como também para a Bacia do Rio das Velhas. “A Estação possui 114 hectares, um dos maiores fragmentos de Mata Atlântica e Cerrado, uma vez que estamos numa área de transição entre esses dois biomas. São várias espécies exóticas e uma grande diversidade de fauna. Estamos situados numa região de expansão urbana, com uma avenida [Carlos Luz] que corta a estação em dois fragmentos, além de ser uma região que, em época de seca, sofre com incêndios florestais. Nesse sentido, o plantio das mudas ajuda a recuperar as áreas degradadas e contribui para a minimização dos impactos de mudanças climáticas, alterando localmente o microclima e protegendo as nascentes que existem na região.”
Já a professora Andreia Siqueira Carvalho, coordenadora da Estação Ecológica, agradeceu a colaboração do Comitê, através do Viveiro Langsdorff, para o início do projeto Mais verde, Mais vida. “Esse plantio dentro da área da UFMG contribui para a recuperação de áreas degradadas dessa Estação, medida importante tanto para a universidade quanto para o município. Este é um dos fragmentos florestais mais importantes de Belo Horizonte devido à sua diversidade e ao seu tamanho, com seus serviços ambientais e ecossistêmicos recuperados. Em nome da Estação Ecológica e do projeto Mais verde, mais vida, eu gostaria de agradecer ao CBH Rio das Velhas pela iniciativa desse edital, que vai contribuir para um ambiente mais equilibrado e harmônico. Este foi um passo importante para o lançamento do nosso projeto e gostaríamos de contar com futuras iniciativas”, finalizou.
Quem soube do chamamento público para doação de mudas do viveiro foi o aluno Luiz Filipe Lima, do 7º período de Geografia e bolsista da Estação Ecológica. Ele falou sobre a importância da parceria com o CBH Rio das Velhas e da iniciativa da universidade em 6
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Viveiro Langsdorff O Viveiro Langsdorff está localizado no município de Taquaraçu de Minas, no Médio Alto Rio das Velhas. O objetivo principal da parceria entre o CBH Rio das Velhas, a Agência Peixe Vivo, o Subcomitê Rio Taquaraçu e a ArcelorMittal Brasil em torno do viveiro é produzir mudas que venham a recuperar nascentes e matas ciliares da bacia e mitigar os gases de efeito estufa decorrentes das emissões geradas no transporte de produtos da empresa até seus clientes finais.
Exemplo que vem do Brejo Espaço verde se torna parque ecológico na Pampulha depois de 20 anos
No bairro São Francisco, a meio caminho da Lagoa, em Belo Horizonte, uma turma de professoras e estudantes começou, em 1998, a reivindicar a área para o uso público. Pouco depois o Projeto Manuelzão abraçou a causa. Mãos dadas ajudam e fortalecem. Dalva Lara e Jane Boaventura, professoras da Escola Municipal Aurélio Pires, puxavam as turmas e davam aulas lá, Ciências e pré-escola, no mesmo
bom tom. “Passamos por sete prefeitos. Ao final, vencemos o OP [Orçamento Participativo]. Saiu a verba para desapropriação, começaram a cercar, fazer guarita... Foram 20 e tantos anos de espera. Estou muito feliz e grata à comunidade”, diz Dalva, que se aposentou na escola e relembra: “Quando começamos não existia nada aqui, só mato, nascentes, girinos, um curral com vacas. Ninguém usava esse espaço para o lazer. Para a escola, para a Educação, como campo de pesquisa, era um prato cheio”. A nascente revitalizada faz parte da microbacia do Córrego São Francisco, que dá no Engenho Nogueira, que vai ao Pampulha, que cai no Onça. “A cidade vive brigando com as águas, canaliza, impermeabiliza e depois sofre com as inundações”, alerta Marcus Vinícius Polignano, secretário do
CBH Rio das Velhas. “Aqui é um exemplo de como a cidade, área verde, população e água convivem. Socializar não é no meio da avenida, com carros a mil por hora. É em áreas como essa.”, reflete Polignano. E ensina: “Com o isolamento, aprendemos mais do que nunca que somos seres sociais”. Lindaura Santos, ativista comunitária do Projeto Manuelzão, Núcleo do Brejinho e Subcomitê Ribeirão Onça, diz que não tem palavras: “Isso é fruto do esforço. O mais gratificante é ver que nós vencemos e hoje estamos aqui comemorando, não tem coisa que paga”. Mas adverte: “A luta continua. O parque ainda não está todo implantado. O próximo passo é fazer os banheiros, os bebedouros. O parque é da comunidade, um parque aberto. Ninguém quer um parque fechado”.
Área verde está localizada no bairro São Francisco, na sub0bacia do Ribeirão Onça.
Bianca Aun
Ao final de 2021, uma luta de mais de duas décadas enfim obteve vitória. O CBH Rio das Velhas, o Subcomitê Ribeirão Onça e o Núcleo Manuelzão do Brejinho, em parceria com a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica de Belo Horizonte, celebraram a consolidação do Parque Ecológico do Brejinho, fruto da perseverança da comunidade.
Lindaura Santos, do Subcomitê Ribeirão Onça, celebrou a conquista.
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Michelle Parron
Carlos Alberto se despede do CBH Rio das Velhas após inúmeras contribuições para a legislação das águas Com olhar na legislação, Carlos Alberto Santos Oliveira construiu uma história de quase três décadas em defesa do meio ambiente. Aos 78 anos se despede do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) para descansar, mas com o compromisso de continuar a apoiar aqueles que continuam dedicados ao trabalho pela revitalização e preservação do manancial. Em uma conversa sobre o papel da agricultura e pecuária na preservação do meio ambiente, Carlos Alberto contou como iniciou seu trabalho na defesa pelos recursos hídricos e o que espera para o futuro da bacia. Formado em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em economia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), trabalhou na Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG) na área de meio ambiente por 28 anos. Atuou no Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH/MG) desde a sua criação e no Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM). O senhor é advogado e economista por formação. Como iniciou seu trabalho pela defesa do meio ambiente e das águas? Tudo começou quando fui prestar uma consultoria à FAEMG em uma área econômica. Ao estudar sobre a Lei Estadual nº 14.309/2002, que posteriormente foi revogada pela Lei Estadual nº 20.922/13, percebi que os produtores rurais não tinham muito conhecimento sobre seus direitos e deveres em relação ao meio ambiente. Nessa mesma época começaram a surgir as legislações de proteção ao meio ambiente e à água. Então foi criada uma Assessoria de Meio Ambiente dentro da FAEMG, que deu lugar à atual Gerência de Meio Ambiente, na qual atuei por quase 30 anos. Ao longo desses anos trabalhei na defesa do direito dos produtores rurais, mostrando a eles como desenvolver o agronegócio de forma sustentável. Sem água e meio ambiente não existe produção de alimento. Por isso, é de interesse dos produtores ter um meio ambiente saudável e com águas em quantidade e qualidade.
Na sua opinião, qual é o papel da agricultura e pecuária na manutenção e preservação dos recursos hídricos? Tudo está junto e se constitui em uma só matéria. É no campo que se dá a produção de alimentos e onde se encontram também as florestas, as nascentes, os solos e os cursos d’água. Muitas nascentes e cursos d’água se encontram em propriedades rurais, assim como as áreas de preservação permanente e as reservas legais. O produtor tem, portanto, um papel de protagonista na conservação da água e do meio ambiente de modo geral. Sendo assim, os produtores rurais, os sindicatos e a FAEMG devem trabalhar para manter uma relação harmoniosa entre a produção de alimento, os recursos hídricos e o meio ambiente, independente da fiscalização e legislação vigente. Sem água não tem como produzir alimento. Ao longo dos anos de atuação do CBH Rio das Velhas, qual foi a maior conquista do colegiado? Costumo dizer que o CBH Rio das Velhas é bem-nascido, pois teve sua criação vinculada à estrutura do Projeto Manuelzão. Sem dúvidas, o pioneirismo do Comitê é sua maior conquista. Desde a sua criação conseguiu colocar em prática o que diz a Lei das Águas, implementando a cobrança pelo uso da água e os instrumentos de gestão. Vale ressaltar que Comitê sem cobrança implementada não consegue fazer nada. As diretorias do CBH Rio das Velhas também são um diferencial. Todos os presidentes, bem como os representantes das diretorias escolhidos até agora foram pessoas fortes que encararam o desafio com muito empenho. Sem eles essa história não seria a mesma. Qual mensagem o senhor deixa para o CBH Rio das Velhas? Agradeço a todos pela parceria e acolhida. Desejo um futuro promissor para o Rio das Velhas e o Comitê. Acredito no compromisso e empenho de todos que fazem parte dessa história e sei que a atual diretoria tem uma capacidade intelectual e política muito grande, o que acredito que trará grandes conquistas para a bacia. Continuarei a apoiar o Comitê, pois acredito que ele trabalha pela vida da população da bacia, seja para garantir o acesso à água, seja na produção de alimento, seja na saúde da população ... enfim pela sustentabilidade!
INFORMATIVO CBH Rio das Velhas. Mais informações, fotos, mapas, apresentações e áudios no portal www.cbhvelhas.org.br Diretoria CBH Rio das Velhas Presidenta: Poliana Valgas Vice: Renato Júnio Constâncio Secretário: Marcus Vinícius Polignano Adjunto: Fúlvio Rodriguez Simão
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