Mensagem da Floresta Sagrada aos que v達o beber na Fonte dos que dormem Vicente Franz Cecim I Andara Se diz assim Ao dar o seu primeiro Passo a Viagem a Andara anuncia seu percurso e sua demanda: Atravessar o que nos Nega: chegar ao Sim
Em K O escuro da semente a Viagem já caminhou o suficiente para saber o território em que se move, e oO compreende assim: - Tudo vem como sombra do Um e para o Um volta como sombra Aqui, na breve Residência, a vida, imersos nesta luz cheia de penumbras em que somos e não somos, pois permanecemos sendo lá no Um enquanto aqui até parece que somos, as sombras estão no Vários, e se tornam coisas para se darem em alimento umas às outras, enquanto aqui permanecerem podendo esse alimento ser visível e invisível e visíveis e invisíveis as bocas nas coisas, sempre famintas umas das outras e também podendo ser os alimentos bênçãos e venenos assim como podendo ser as bocas por onde se colhe o alimento abençoadas e venenosas É em K que o livro invisível desvela claramente os estágios da travessia anunciada e prosseguida em seus primeiros passos - Atravessar o que nos Nega: chegar ao Sim - Atravessar o que nos Nega, sendo a travessia dos dias e das noites que faz a Sombra do Um, se convertendo em Coisas, no Vários - chegar ao Sim, sendo a compreensão de que dias e noites são dispersões que se unificariam na Penumbra. É para onde ao seres neblinas de Andara se em/caminham – mas essa reUnificação só começa a se realizar quando os passos dados – e os apenas sonhados - atingem a Clara Penumbra que é o local em que poderá se iniciar o retorno das coisas, do Vários, ao Um originário. Então, a Viagem a Andara se desvela revelando que em seu primeiro estágio, visível: o, é a travessia do que nos Nega – e realizar O livro invisível seja a chega ao Sim do Ser
II na Pedra da Meditação
na Pedra da Meditação em que Te dormes e te vê um Horizonte todo em torno de Miragens sobre a Terra De VIAGEM A ANDARA oO LIVRO INVISÍVEL
Nossa Tribo Peregrina se move por todos os recantos do Real e dos Sonhos em Demanda das Dobras em que se oculta, no Visível, o Ser.
Tentamos então, um primeiro passo: nos tornar verbalmente essas dobras. Passo que só nos leva a uma primeira Ilusão. Não tendo dobras, o Uno Ser, continuamos presos no emaranhado nas dobras das realidades, essas, sim, as versões humanas do Real, que O encobrem. Mas um segundo passo, reflexivo, ao nos dar conta disso, nos permite avançar para fora dessa ilusão inicial: não basta penetrar as Ilusões do Ente. Compreendemos que, no escrever, estamos desdobrando, desencantando, mas apenas o Encanto que oculta em nosso Ente o Ser e que, no entanto, não basta, apenas nos põe a caminho para algo mais, que possa nos tornar um Portal para que o Ser venha se mostrar a nós, a todos nós, os que nos lerem, e a Si Mesmo, no Visível, como o Puro Encanto que é. Que fosse. Que seja. Que seria. Que sendo. Que talvez. Que, quem sabe? O nascer no Visível é o Encantamento a que nos submete o Invisível, isso, então, já sabemos. Mas esse saber é abalado pela necessidade de um outro, nascido menos da Curiosidade que do temor do Abismo que pré-sentimos como ameaça ao nosso anseio de Ascensão: Qual é a finalidade disso tudo? Há uma finalidade? Como Viagem a Andara oO livro invisível, o nãolivro porque nãoescrito, através dos seus escritos livros visíveis, busca um consentimento da Vida para penetrar nEla através do Portal que viermos a nos tornar, abertos para ela, e se abrirá para nos? Andara busca, a partir de suas raízes entranhadas no Espaço natural, o seu lugar geográfico Amazônia, e a partir de seu Tempo natural. o Passado, o Presente e o Futuro da região. Mas sabe que, se quiser atravessar os encantamentos das realidades das Dobras até o Puro Encanto do Real que elas velam, esses pontos de partida precisam se tornar pontos de fuga: fuga no espaço natural, fuga do tempo natural. O passo decisivo para que as literaturas, dispersas nas realidades, se tornem plenamente Literatura, Invenção verbal, havendo sido compreendido que, quando o Portal se abre é como Dom da fala doado ao homem & quando o homem nele se lança é o Dom da Invenção verbal que consente ao homem então ir, nEle, o atravessar. Ora, a Travessia deve ser travessia das literaturas dispersas e das realidades humanas, como foi dito: das raízes entranhadas no Espaço natural, o lugar geográfico Amazônia , e do Tempo natural, o Passado, o Presente e o Futuro da região. Como atravessar? A Viagem a Andara a faz, quanto ao Espaço: se tornando, verbalmente, um lugar sem lugar e, assim, um Lugar de Todos os Lugares & quando ao Tempo: um tempo sem tempo e, assim, um Tempo de Todos os Tempos. Esse lugar sem lugar de todos os lugares só pode existir no tempo sem tempo de todos os tempos, e é aí que Andara acontece e se dá, como Literatura: se fazendo no Tempo da Hipótese. Tempo da Hipótese: tempo trans-passado/presente/futuro. Do quem sabe? Do houvesse, houvera, haveria, do fosse uma vez, mais remoto que o era uma vez dos Contos de Fadas.
É assim, mas este é só se aplica ao presente do escritor, ente condicionado pelas fragmentárias realidades tempoespaciais vividas no imediato do humano, pois em Andara se converte em sendo, o presente em estado de ser fluindo em que habitam e se engendram e desengendram, sopros do Verbo humano, os seres neblinas de Andara em seu tempo de hipótese, que é seu lugar onírico, é assim, então, que foi consentido aos livros visíveis de Andara se tornarem Portais receptivos para dar visibilidade ao Invisível, e Viagem a Andara oO livro invisível, que os contém em sua ausência como Escritura, existir como preservação da invisibilidade do Real Invisível no visível. Andara crê, profundamente, em duas frases que abrem as primeiras páginas de seu segundo livro visível, Os animais da terra:
embora a ave mais bela seja aquela que se recusa a voar & A plantação se estende a perder de vista, para vê-la basta fechar os olhos
vFc Amazônia, 13 novembro 2015