Cecim lança livro em São Paulo “Fonte dos que dormem” é o novo passo de “Viagem a Andara oO livro invisível”
FOTO Bruno Cecim
O mais novo livro do escritor paraense Vicente Franz Cecim, "Fonte dos que dormem" (Editora Córrego), foi lançado ontem, em São Paulo, na Casa das Rosas É o décimo sétimo volume do ciclo literário "Viagem a Andara oO livro invisível" que o autor iniciou em 1979, com "A asa e a serpente", ao qual, segundo ele, "devota toda a sua vida de escritor". Atualmente, Cecim tem suas obras em língua portuguesa publicadas no Brasil e em Portugal. "Não se pode falar propriamente em uma novidade na minha literatura, a propósito desse novo livro", ele esclarece. E acrescenta que isso se deve ao fato de ainda que cada um deles conte sua própria história e seja uma leitura independente - o percurso traçado desde a primeira obra se mantém, todos os livros se ambientam na região imaginária de Andara, criada pelo autor. "Andara é um projeto estético e existencial ao mesmo tempo, consiste em transformar a natureza, a Amazônia, em uma região verbal." Mas o escritor observa que, de livro para livro, há sempre uma "necessária e inevitável renovação, que se dá no nível da linguagem, e se aprofunda na percepção da vida e da palavra". Para Cecim, escrever seus livros é um empenho para o despojamento de toda elaboração literária artificiosa: "O que, essencialmente, busco, é um progressivo encurtamento das distâncias entre Literatura e Vida". "Fonte dos que dormem" é um livro que avança, nas palavras do autor, "para a maior anulação possível das convenções literárias de gêneros - a única chance de o leitor discernir se o trecho que está lendo é, para usar palavras mortas, prosa ou poesia, é o que digo a ele: - Se está contando uma história, é ficção, se não está contando nada, é poesia." Dividido em duas partes, a primeira, "Asa de murmúrios", se prolongando na segunda, "Fonte dos que dormem" - enquanto a primeira narra o onírico e alegórico
acontecimento de homens que passam a viver com os corpos separados das cabeças, a história terminando em murmúrios - a segunda, em forma de cantos/poemas, se faz desses murmúrios, revela o escritor.
Vicente Franz Cecim obteve reconhecimento nacional já com seu segundo livro, "Os animais da terra", que recebeu o Prêmio Revelação de Autor da Associação Paulista de Críticos de Arte (Apca), em 1980. No ano seguinte, foi além das fronteiras nacionais e com seu terceiro livro do ciclo de Andara, "Os jardins e a noite", sob o título "A Noite do Curau", recebeu menção especial no Prêmio Internacional Plural, no México. Em 1988, a reunião dos sete primeiros livros de "Viagem a Andara" em um único volume recebeu o Grande Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte - somente atribuído quando há unanimidade dos críticos votantes, que nessa década apenas receberam Cora Coralina, Mário Quintana e Hilda Hilst, e, na seguinte, Manoel de Barros. O primeiro livro do escritor publicado em Portugal, "Ó Serdespanto", foi apontado como o segundo melhor lançamento do ano pelos críticos portugueses, na tradicional consulta anual feita pelo maior jornal de Lisboa, Público. Cecim tem agendado para o início do próximo ano o lançamento brasileiro de “K O escuro da semente” (Letra Selvagem), editado em Portugal em 2005. E escreve dois novos livros: “O Círculo” e “Oniá um Lugar Cintilante”. “- Eu informo ao leitor, no fim de cada livro do ciclo “Viagem a Andara”: “fim de tal livro” - e em seguida acrescento – “a viagem a Andara não tem fim”, ele diz. E completa: “Se no início foi o Verbo, que o Verbo sem fim continue sendo”.