OLIBERAL
BELÉM, DOMINGO, 15 DE FEVEREIRO DE 2015
MAGAZINE 11
MAGAZINE
Maria Bethânia comemora 50 anos de carreira. Página 12.
sim
VICENTE CECIM
vicentefranzcecim@gmail.com
O Escritor e seu Labirinto
Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca BORGES
S
ó conhecido mundialmente a partir dos 62 anos, quando recebeu dos editores europeus e norte-americanos o prêmio Formentor, por sua literatura de espelhos & labirintos, junto com o irlandês Samuel Beckett, por sua escritura de silêncios, o argentino Jorge Luis Borges, desde aí, não foi mais esquecido. Ao contrário, além de conhecido por seus livros, passou dar, internacionalmente, muitas entrevistas e fazer palestras hipnóticas – como o ciclo Sete Noites, depois editado - sobre seus temas mais obsedante: os sonhos, os espelhos, os labirintos, o tempo, o budismo e antigas literaturas esquecidas, como as sagas nórdicas panteítas – uma das quais traduziu: As Alucinações de Gilfi. Mas Borges não sonhou apenas em seus livros, quando se tornou mais velho passou a sonhar com o seu próprio Fim – a desejar que chegasse logo, se dizia cansado, já vivi demais - nascera em Buenos Aires, em 24 de agosto de 1899 - e não foram poucas as vezes em que desconcertou seus entrevistadores pedindo a vinda da Negra com a Foice para o levar daqui. Mas só foi atendido em Genebra, no dia 14 de junho de 1986, pouco antes de completar 87 anos de idade. A partir desta Sim, começamos um fascinan-
te Diálogo com Borges. Mas, antes, devemos iniciar aqueles que ainda não o conhecem, ou conhecem, mas superficialmente, em suas visões de mundo – que parecia ver com não menos assombro do que aquele com que o apresentava a nós em seus livros. Depois, de Sim em Sim, nos perderemos com ele no Jardim das Veredas que se Bifurcam & com ele buscaremos, no invisível. O Aleph.
Borges: Visões de Mundo - Antes eu escrevia uma oração de quatro ou cinco linhas (....). E depois passava para uma segunda frase, e depois para uma terceira (...). Agora escrevo de um modo
fluido, ou tento que seja fluido, e depois corrijo o que escrevi. - Herdamos a linguagem, é uma tradição, a linguagem é um modo de sentir o mundo, e cada língua tem suas possibilidades e impossibilidades, e o que o autor é capaz de fazer dentro de um idioma é muito pouco. - Acredito que Joyce deve ter pensado que ‘Ulisses’ e depois ‘Finnegans Wake’ são livros finais. De alguma forma, quando ele fecha seu livro, fecha toda a literatura anterior. Ele deve ter sentido isso, embora depois a literatura continue... - É possível fazer um bom romance policial sem um crime. Por exemplo, um dos melhores contos
policiais: ‘A Carta Roubada’, de Alan Poe. Ali o importante é o fato de ter escondido a carta em um lugar evidente, e que a carta fosse invisível por esse motivo. - (...) Penso que eu de alguma forma, durante uma boa parte da minha vida estou em cativeiro solitário (...). Sim, mas talvez sempre estejamos sozinhos. (...) Desde que não sejam muitos, gosto muito, sim, de estar com uma, com duas pessoas, é muito gratificante. Por outro lado, estar com vinte pessoas me parece terrível. - Somos sul-americanos, temos que nos resignar a sê-lo e ser dignos desse destino que, afinal de contas, é o nosso.
- (...) A religião se torna cada vez mais sutil, vai interpretando a ciência, tenta harmonizar a ciência não sei se com a Sagrada Escritura, mas sim com a teologia, com as diversas teologias, mas, no final, a ciência triunfa e não a religião. - (...) A inteligência sem a emoção não pode fazer nada, e sem emoção prévia, não há nenhum motivo para executar uma obra estética. A emoção é necessária, as coisas não ao podem ser feitas com pura retórica. - Eu pensei em escrever um livro sobre Spinoza, e depois percebi que não podia explicar o que eu mesmo não entendia bem. - Ler um livro é ser, sucessivamente, os diversos personagens do livro. - (...) E quando (o escritor inglês Chesterton) descreve o paraíso monstruoso de Alá, ele diz que Deus – Alá - está caminhando entre as árvores, e acrescenta: ‘e é mais alto que as árvores’, assim tudo fica monstruoso (...) Que Deus esteja caminhando entre as árvores – o que lemos no primeiro capítulo do ‘Gênese’ – mas que seja mais alto que as árvores, isso já é uma coisa terrível, monstruosa. - Lucrécio diz que haverá um tempo infinito após a morte, não estaremos pessoalmente ali, mas que, no final, por que se lamentar desse tempo infinito, após a morte, e que não será nosso, se não nos lamentamos do tempo infinito anterior a nossa morte, que também não compartilhamos?
Q
uando saiu de São Paulo para morar no Rio de Janeiro, em 2009, pronta para dar vida ao seu primeiro papel na TV - a Marina de Malhação -, Bianca Bin não fazia ideia de que sua vida mudaria completamente. Hoje, aos 24 anos, na pele da patricinha Vitória de Boogie Oogie, ela conta que o futuro superou suas expectativas. “Pensei que ia estar em São Paulo ainda, mas a vida foi me trazendo para o Rio e para a televisão. Não tenho do que reclamar, só tenho que agradecer as lindas oportunidades e como eu sou feliz aqui. Para completar, o Rio me deu o amor da minha vida, o Pedro (Brandão)”, destaca. Ela e o marido, revela, prezam por uma rotina mais tranquila, longe da badalação. Cinema e um jantar em casa com amigos estão entre seus programas prediletos. Durante o dia, é na praia que o casal passa boa parte do tempo – onde são sempre alvo das lentes dos paparazzi de plantão. Sobre os flagras, muitas vezes na saída do mar, a atriz desabafa: “É uma situação muito desagradável ser fotografada de biquíni. Acho bem chato e constrangedor. Mulher nenhuma merece isso”. A atriz abriu o coração e a intimidade em um ensaio inédito para o Gshow. Confira abaixo os principais trechos da entrevista: Como é a Bianca Bin com o marido, a família e os amigos? Muito diferente da atriz? A minha família dá muita risada comigo e diz que sou muito palhaça, que tenho que fazer um personagem de humor, mas eu falo que não, sou
péssima [risos]. Acho muito difícil fazer humor. Mas é isso que eu mais escuto lá em casa: como eu sou boba e engraçada. Na frente das câmeras e dentro do camarim sou a mesma. Eu toco o terror [risos]! Se a gente não se diverte no nosso trabalho, fica difícil, né? Como você lida com os holofotes e a falta de privacidade? Não me incomodam, porque as pessoas não me perseguem. Acho que eu e o Pedro temos uma vida muito discreta. Gostamos de programas mais diurnos, tranquilos, e a badalação está mais na noite. Tem lugares mais badalados, também, que não têm muito a ver com a gente, sabe? Então, não é nem questão de evitar, é de não frequentar mesmo. Aí, a exposição é bem menor e acabamos tendo uma vida mais reservada. Mas é puro gosto e estilo de vida mesmo. Mesmo assim, às vezes é difícil fugir das lentes dos paparazzi. Ver divulgada uma foto sua com seu marido na praia te incomoda? É uma situação muito desagradável ser fotografada de biquíni. Acho bem chato e constrangedor. Mulher nenhuma merece isso - nem as que têm aquele corpo impecável. É desconfortável, né? Às vezes, pega um ângulo feio. Mas mesmo que a gente esteja bem, eu acho meio invasivo. Não gosto não! Mas faz parte, né? A gente aceita e entende o trabalho do profissional que está ali fazendo aquilo. É claro que
tudo tem de ter respeito, e esse limite nunca foi ultrapassado comigo, graças a Deus. Então, é tranquilo, dá para passar. Na verdade, eu preferia pular essa parte, mas já que ela existe, temos que aceitar e tentar lidar da melhor maneira possível, sem muito drama.
GLOBO - ELLEN SOARES
ENTREVISTA Atriz fala de intimidade, do gosto pelas artes plásticas e da carreira
DIVULGAÇÃO
Bianca critica invasão de privacidade Ser atriz foi sempre sua primeira opção profissional? Na verdade, não. Eu queria ser psicóloga, já pensei em ser professora também. Mas se não fosse atriz, seria artista plástica. O Pedro (o ator Pedro Brandão, o marido) fica louco, porque passo um dia inteiro em casa fazendo vários trabalhos manuais, eu amo!
Aos 24 anos, Bianca Bin interpreta a vilã Vitória, na novela Boggie Oggie
Como surgiu o interesse por artes plásticas? Eu adoro desde pequena. Para mim, é uma terapia mexer com artesanato, pintura e tudo o que é relacionado à arte. Teve um dia que resolvi passar o dia pintando uma parede da minha casa. Ligo o som e fico lá amarradona [risos]! Que artista mais admira? Adoro o trabalho do Miró. Gosto muito de Picasso e Basquiat também. Eu até faria uma tatuagem com uma pintura de Miró, só não faço porque acho que limita um pouco o trabalho de atriz. E eu sou tão hiperativa... Já não tenho paciência para maquiagem, imagina ficar cobrindo tatuagem? Esse interesse se reflete também na decoração da sua casa? Prezo muito por conforto, tanto na maneira de me vestir, quanto na minha casa. Acho que não adianta nada ser lindo, mas não ser prático e confortável. Minha prioridade é sempre essa, e a minha casa é supercolorida, acho que é por isso que eu gosto tanto de Miró. Ele mistura azul, amarelo, vermelho e fica lindo. Também curto muito Frida Kahlo, apesar do seu lado depressivo. Mas é isso, gosto de cor. O problema é que não sei combinar. Sabe aquele olhar aguçado para moda? Eu não tenho [risos]. Mas já aceitei isso! Não sigo tendência. Topa tudo por uma personagem? Sim! Rasparia a cabeça, por exemplo. Para a Vitória, de Boogie Oogie, eu emagreci seis quilos e fiquei loira. Você começou a carreira como protagonista, em Malhação (2009). Como foi encarar esse desafio? Começar em Malhação foi uma responsabilidade muito grande. Foi meu primeiro tra-
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É uma situação desagradável ser fotografada de biquíni. Mulher nenhuma merece isso.”
balho para o público, tudo novo. Eram 30 cenas diárias. Eu havia feito oficina de atores, mas era totalmente diferente, eu não tinha experiência com vídeo e câmera. Quando fui para a televisão, recebi de presente uma mocinha heroína romântica. Tinha que colocar emoção, eram cenas muito difíceis, intensas e com muito choro. Até pegar o ritmo, foi bem difícil, mas o que aprendi, não aprenderia em curso nenhum. Malhação me ensinou bastante! Tenho muito orgulho de ter passado por ali e acho que é um espaço bacana e que dá muitas oportunidades para quem está começando. Seu currículo já tem vilãs e mocinhas de vários tipos. O que falta? Eu queria fazer um homem. No estilo de “Dois Perdidos Numa Noite Suja” (filme de 2002) que a Débora Falabella fez. Sou muito fã, admiro muito o trabalho da Débora e acho o trabalho mais incrível que ela já fez. Mas dizem que os melhores personagens vêm depois dos 30 anos, né? Então, tenho que aproveitar meus 24 anos para fazer as mocinhas, as malvadinhas e daqui a pouco pego os mais dramáticos e mais densos. Mas todos são muito desafiadores e eu amo fazer o que faço. Para encerrar, o que ninguém sabe sobre Bianca Bin? Adoro falar bobagem [risos]!