Teorias Feminista e Queer

Page 1


Textos base GUBERNIKOFF, Giselle. A imagem: representação da mulher no cinema. In: Revista Conexão , v.8, n.15, jan/jun.2009. LOPES, Denilson. Cinema e gênero. In: MASCARELLO, Fernando (org.) História do cinema mundial. Campinas: Papirus, 2006. p. 379-394.



É muito mais difícil destruir o impalpável do que o real. — Virgínia Woolf


 Fim do século XIX = centralidade da sexualidade na construção do sujeito moderno e a espetacularização do privado – a intimidade passa a ser politizada;  Raça, gênero e sexualidade passam a se configurar questões prioritárias nas análises dos anos 60, 70 e 80.  Ponto de partida da Teoria Feminista: textos de Virgínia Wolf e Simone de Beauvoir (O Segundo Sexo);

“Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. (primórdios do conceito de gênero)

 Inconsciente patriarcal no cinema clássico dominante


Teoria Feminista  Primeira onda – crítica às imagens midiáticas negativas da mulher  Segunda onda – transfere sua atenção da “imagem” da mulher para o “gênero”; passa do conteúdo à forma  A partir dos anos de 1970, a teoria feminista do cinema demonstrou que a posição das mulheres nos enredos dos filmes hollywoodianos sempre foi a do outro, nunca a de sujeito da narrativa, e que sempre foram tratadas como objetos do voyeurismo masculino.



A teoria feminista do cinema  Início: fim da década de 80  Ainda hoje é pouco difundida (escassa produção acadêmica  Ancora-se em um posicionamento teórico voltada para o questionamento das questões da representação da mulher no cinema.  Parte de uma releitura do star system americano e da fascinação do público por atores no cinema. Esse trabalho deu origem à hoje reconhecida teoria feminista do cinema, presente atualmente em todo e qualquer estudo sobre a imagem.


O cinema americano clássico serviu e serve de modelo às cinematografias de todo o mundo, sendo exemplo não só na sua forma de produção e realização, como também em sua forma de representação, o que transcendeu suas fronteiras e povoa o imaginário ocidental. “o imaginário é a ordem que governa a experiência (ou “auto-reconhecimento errôneo”) que tem o sujeito de si mesmo com a totalidade. Assim, [...] o imaginário é o lugar das operações ideológicas”. (KUHN, 1991, p. 61).


Conceito de Gênero construção cultural da sexualidade para além de uma visão naturalista, essencialista, ou seja, baseada nas diferenças sexuais.

“Nos anos 1960/70 = o conceito de gênero como diferença sexual e encontrava-se no centro da crítica da representação, da releitura das imagens e narrativas culturais, do questionamento de teorias da subjetividade e textualidade, de leitura, escrita e audiência. [...] Mas o conceito de gênero como diferença sexual e seus conceitos derivados - a cultura da mulher, a maternidade, a escrita feminina, a feminilidade etc. acabaram por se tornar uma limitação, uma deficiência do pensamento feminista.

Tereza de Lauretis (Texto: Tecnologia de Gênero)


O que a teoria feminista do cinema procura demonstrar é que esses estereótipos impostos à mulher, através da mídia, funcionam como uma forma de opressão, pois, ao mesmo tempo que a transformam em objeto (principalmente quando endereçadas às audiências masculinas), a anulam como sujeito e recalcam seu papel social.




Artigo: “Prazer Visual e Cinema Narrativo” (Laura Mulvey)  Um dos marcos para os estudos feminista do cinema

 A teoria psicanalítica é utilizada como uma “arma política” para desmascarar as formas como “o inconsciente da sociedade patriarcal ajuda a estruturar a forma do cinema”. Utilizando-se de conceitos freudianos como escopofilia, voyeurismo, complexo de castração, narcisismo e, sobretudo, fetichismo, o artigo estabelece o que seria o mecanismo de prazer e plenitude do cinema narrativo de ficção e propõe a ruptura desse mecanismo, a destruição dessa forma de prazer e a produção de uma “nova linguagem do desejo”.  Três tipos de olhar masculino (“male gaze”): o da câmera, o dos personagens e o do espectador.  Homem: sujeito ativo x Feminino: objeto passivo



“Para o sistema, já existe uma idéia de mulher como eterna vítima: é sua carência que produz o falo como presença simbólica; seu desejo é compensar a falta que ele significa. (…) A mulher, desta forma, existe na cultura patriarcal como significante do outro masculino, presa por uma ordem simbólica na qual o homem pode exprimir suas fantasias e obsessões através do comando linguístico, impondo-as sobre a imagem silenciosa da mulher, ainda presa a seu lugar como portadora de significado e não produtora de significado.” (MULVEY; 1983, pág. 439)


Algumas críticas à Mulvey  Seu modelo é considerado excessivamente determinista, insensível às diversas formas de subversão feminina.

 E. Ann Kaplan pondera a utilização da psicanálise e para a análise fílmica e questiona se o olhar é necessariamente masculino.


Críticas à Teoria Feminista  Ser normativamente “branca” e por marginalizar as lésbicas e as mulheres negras;  Desde o fim da década de 1970, feministas negras e chicanas , como bell hooks e Gloria Anzaldua defenderam a existência de formas de consciência múltiplas e distintas entre as norte-americanas não-brancas ;  Ausência de raça nos estudos sobre mulheres no Brasil, por isso a necessidade de enegrecer o feminismo, como defende Sueli Carneiro (pesquisadora e diretora do Geledés -Instituto da Mulher Negra)


“No cinema, homens falam e mulheres exibem suas curvas”, é o que consta pesquisa sobre as mulheres no cinema

Penélope Cruz no papel de Maria Elena em 'Vicky Cristina Barcelona’ (Woody Allen)


Números Universidade do Sul da Califórnia (USC) Dados: 4.370 trechos de 100 filmes de sucesso lançados em 2008 Resultados: 67% dos papéis com fala eram de atores , enquanto menos da metade, 33%, pertenciam a atrizes. As mulheres apareceram usando trajes provocativos em 26% dos casos, enquanto apenas 5% dos homens apareceram na mesma situação. As mulheres apareceram seminuas em 26% dos filmes analisados, enquanto apenas 8% dos homens interpretaram papéis onde era preciso mostrar parcialmente o seu corpo.


Cinema brasileiro     

Alia o sistema patriarcal + modelo norte-americano Star System e a Revista Cinearte Carmem Miranda = projeção mundial Chanchadas = sátira ao modelo norte-americano Vera Cruz = tentativa de imitação de um modelo de cinema dominante


Inos Pornochanchada  A pornochanchada redescobre o grande potencial sexual da mulher brasileira, na década de 70, mas explora de forma agressiva e acintosa a fantasia masculina no binômio desejo/sexo, reforçada por meio de uma série de estereótipos, como o paquera: o “corno”, o homossexual, o velho impotente, etc. e a dicotomia feminina é transfigurada na figura da virgem ou da desquitada/viúva.


ELAS FAZEM Inos CINEMA? Acesse: http://vimeo.com/55728269


Inos

Apesar de manterem-se estereótipos baseados em binarismos sexuais (homem x mulher), há produções (longa e curta-metragem), especialmente a partir do cinema da retomada que apresentam outras perspectivas, múltiplos olhares sobre o feminino, com abordagens de gênero, raça e sexualidade.


Inos Cineastas brasileiras


Suzana Amaral



Norma Bengell



Helena Ignez

Angela Carne e Osso, de "A mulher de todos" (RogĂŠrio Sganzela)


Carla Camurati


LĂşcia Murat


Tata Amaral


Tizuka Yamasaki


Ruth Escobar e Ana Carolina - Filmagens de "Greg贸rio de Mattos"



http://www.mulheresdocinemabrasileiro.com


Tania Montoro

Um filme de aventuras femininas.


Personagens com virtudes e contradições, reunidos em uma narrativa que “brinca” com os estereótipos e nos apresenta um olhar plural sobre os femininos negros.



 Surgimento dos movimentos feministas, gays, lésbicos e transgêneros;  Movimentos gays e lésbicos e Teoria Queer;  Importância do conceito de gênero  Crítica às representações sociais estereotipadas, os silêncios e as opressões = quebrar núcleos de misoginia e homofobia  Discutir raciocínios simplificadores = “The celluloid closet (1987)” = homossexualidade no cinema


 Importância das representações sociais e a luta contra a repetição de imagens negativas em favor da necessidade de imagens positivas.  Relação entre estereótipo, estigma e cultura  Muito além das imagens positivas, estes grupos defendem a diversidade de narrativas”

 Questão de gênero em obras artísticas e culturais = não é meramente um tema


 Laura Mulvey (anos 1970) = possibilidades ao associar a necessidade de abandonar a narrativa e o prazer visual cultivado pelo cinema hollywoodiano = criar um contra-cinema / cinema experimental: uma linguagem que seja capaz de desmontar os mecanismos de prazer visual do cinema narrativo, provocando um deslocamento do olhar e do sentido.  Outras propostas de cinema  Ana Carolina (vigorosa reflexão sobre a condição feminina no Brasil);  Não há um trabalho panorâmico sobre a questão da mulher no cinema nacional.



 A teoria queer no cinema, a um só tempo criticou e estendeu criticamente a intervenção feminina  Revisou a utilidade da teoria psicanalítica (categorias insuficientes para uma perspectiva gay ou lésbica)  Outras questões são estudadas:  a espectorialidade gay;  o apelo lésbico de estrelas como Marlene  o apelo para os gays de figuras “excessivas” como Carmem Miranda.  Um olhar gay: desconstrução do par olhar masculino/objeto feminino = ressignificação


 Melodrama: é transformado pela audiência e por criadores gays = importância de estudos de recepção nessa área.  “Uma estética híbrida, intertextual, transemiótica, multimidiática, em vez da busca da especificidade de uma linguagem cinematográfica” (Lopes, 2004).  O transgênero e o camp (artifício/exagero)  Pensar o transvestimento que atravessa todos nós = problematizar as visões de feminino e masculino; de heterossexualidade e homossexualidade.





Madame Satã (Karim Ainouz, 2003)  Incorpora questões de classe, etnia e condição periférica, sem aderir a narrativas hollywoodianas.  Um cruzamento rico sobre o que é ser negro, pobre e homossexual. Força do protagonista = resistência pela alegria  Afirmação de uma identidade  Longe da foclorização (tão comum nos programas de TV), mas sem temer a afetação  Transgressão pelo corpo


Identidade = uma experiência “lugar de fala” “O encontro de dois homens pode ser apenas um encontro, mas também pode ser uma possibilidade de diálogo e abertura para o mundo, desafio maior de todo discurso minoritário, alguma vez discriminado. Esse é o motivo por que acho central ainda hoje assinar como crítico, gay. Não se trata apenas de considerar a homossexualidade como um adjetivo, mas de afirmar uma experiência substantiva que interliga vida cotidiana e prática intelectual. A experiência gay nada tem de redutora, classificadora, se assim o quisermos, é um mistério insondável, um ponto de partida, uma pergunta mais do que uma resposta.” Denilson Lopes


Contemporaneamente, muitos filmes vêm apresentando gays, lésbicas e transgêneros a partir de outras perspectivas


Desejo Proibido Ano: 2000 Direção: Anne Anderson, Martha Coolidge e Anne Heche



Protagonismo de um personagem negro e gay no cinema brasileiro dos anos de 1970.


Algumas indicações de leitura • Cinema e sexualidade, de Guacira Lopes Louro (online) • Através do Espelho: mulher, cinema e linguagem, de Teresa de Lauretis (online). • Black Looks: Race and Representation, de bell hooks • “Na minha vida, mando eu”: o estereótipo do homossexual masculino nos filmes A navalha na carne (1969) e A rainha Diaba (1974)“, Rafael de Luna Freire. •

Cinema e Sexualidade, de Laura Mulvey. In: O cinema no século (Ismail Xavier)


Referências

GUBERNIKOFF, Giselle. A imagem: representação da mulher no cinema. In: Revista Conexão , v.8, n.15, jan/jun.2009. MULVEY, Laura. “Prazer visual e cinema narrativo”, in Xavier, Ismail(org.), A experiência do cinema. Rio de Janeiro, Graal, 1983, pp. 435-453. LOPES, Denilson. Cinema e gênero. In: MASCARELLO, Fernando (org.) História do cinema mundial. Campinas: Papirus, 2006. p. 379-394. MALUF, Sônia Weidner; MELLO, Cecilia Antakly de and PEDRO, Vanessa. Políticas do olhar: feminismo e cinema em Laura Mulvey. Rev. Estud. Fem. [online]. 2005, vol.13, n.2, pp. 343-350. STAM, Robert. “A teoria queer sai do armário”. In: Introdução à teoria do cinema. Campinas: Papirus, 2006. pp.288-293. KUHN, Annette. Cinema de mulheres: feminismo e cinema. madri: cátedra signo e imagem, 1991.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.