Transcinemas Diversas experiências visuais que desafiam a percepção atual do cinema
TRANSCINEMAS tipo de cinema expandido Início dos anos de 1970 - Frank Zappa lançou seu revolucionário longa-metragem “200 Motéis”, totalmente filmado em vídeo mas exibido nas telas de cinema após um pioneiro processo de conversão Origens: Happenings Nova-Yorkinos Gene Youngblood - cunhou o conceito de “cinema expandido”, a fim de contemplar as experiências híbridas entre suportes e estéticas audiovisuais = os processos de passagens e os diálogos entre linguagens vêm sendo cada vez mais estimulados e teorizados nos campos relacionais entre imagem e som = contaminações - Não é mais um cinema puro – cinema expandido
O dispositivo cinematográfico “O cinema, tal como o conhecemos hoje, é uma instalação que se cristalizou numa forma única: um spot de luz situado atrás da plateia, ao atravessar uma película, projeta as imagens ampliadas desta última numa única tela à frente dos espectadores mergulhados numa sala escura. Essa instalação foi planejada pela primeira vez quase 400 anos antes de Cristo por Platão, em seu livro A República, mais especificamente na sua famosa alegoria da caverna, mas foi generalizada no século XVII por Athanasius Kircher, com o seu modelo de espetáculo de lanterna mágica. O cinema petrificou esse modelo durante mais de 100 anos e constitui mesmo um fato surpreendente que durante esse tempo todo pessoas de todo o mundo tenham saído de casa todos os dias para ver sempre a mesma instalação, ainda que com imagens diferentes. E é justamente esse modelo petrificado de cinema que Youngblood ataca em seu Expanded Cinema.” (Arlindo Machado)
A ideia de “expansão” = contaminação mútua = perda da nitidez de suas fronteiras.
• A escultura que sai às ruas dialoga com a paisagem e com as outras mídias, cumprindo uma missão pública. • Fotografia expandida = se hibridiza, importa técnicas e ferramentas das artes plásticas e de outras artes e atualmente migra para o digital. •
Vídeo expandido= se apresenta de forma múltipla, variável, instável, complexa, ocorrendo numa variedade infinita de manifestações.
o pode estar presente em esculturas, instalações multimídia, ambientes, performances, intervenções urbanas, até mesmo em peças de teatro, salas de concerto, shows musicais e raves.
O QUE ร TRANSCINEMA? http://vimeo.com/13971349 Entrevista da artista e pesquisadora Kรกtia Maciel a Thiago Carrapatoso.
Transcinema é o cinema situação, ou seja, um cinema que experimenta novas arquiteturas, novas narrativas e novas estratégias de interação.
Instalação "Um, nenhum, cem mil", de Kátia Maciel
Transcinema é uma forma híbrida entre a experiência das artes visuais e
do cinema na criação de um envolvimento sensorial para o espectador que como participador do filme produz a própria montagem, define velocidades, cores, diálogos em um fluxo combinatório, experimentando sensorialmente as imagens espacializadas, de múltiplos pontos de vista.
- Novas experiências visuais, sonoras e sensoriais - Presença do participador-ativo (Hélio Oticica) Parangolés (Hélio Oiticica)
"Foi durante a iniciação ao samba, que o artista passou da experiência visual, em sua pureza, para a experiência de tato, do movimento, da fruição sensual dos materiais, em que o corpo inteiro, antes resumido na aristocracia distante do visual, entra como fonte total da sensorialidade". (crítico Mário Pedrosa comenta a origem da criação do Parangolé por Oiticica)
Participador = sujeito da experiência das imagens = parte constitutiva da experiência Sistemas imersivos = sujeito interativo que escolhe e navega o filme em sua composição hipertextual. Cinema - pesquisa de novas modalidades da construção da experiência cinema contemporâneo interativo e imersivo na forma das instalações contemporâneas - como dispositivo: o fim da “moldura” - como filme: forma a ser interrompida
O fim da “moldura”
- Redefinição da tela e do campo e extra-campo cinematográfico
= situação-cinema – estética da interrupção O que define o comportamento diante da obra não é mais uma duração contida nos limites de uma tela, mas o instantâneo do corte, da ruptura, da montagem e combinação disponível ao participador. Interromper para modificar. Interromper significa suspender; atalhar; fazer parar por algum tempo.
Cinema-instalação - projeção e narrativa se somam à interatividade, conectividade e imersividade. - situações imersivas/ múltiplos espaços/ múltiplas telas - continuidades entre múltiplos extratos históricos = artistas neoconcretistas e teoria do não-objeto (Ferreira Gullar)
Transcinema produz uma
Imagem-relação entre artista e sujeito implicado É este cinema-relação criado de situações de luz e movimento em superfícies híbridas que chamamos de Transcinemas
Ginga Eletrônica (2004) – Kátia Maciel
Assista em: http://vimeo.com/36919520
um espaço circular mostra uma roda de capoeira formada pela projeção de quatro telas. Entre uma tela e outra há uma pequena abertura para permitir a participação do visitante. Ao se aproximar, o espectador pressiona,o sensor de piso, e, assim, ativa o sistema que aciona imagens e sons de uma roda e a luta entre dois capoeiristas. Estes são projetados, um diante do outro, em duas telas opostas. No chão da roda, uma imagem subjetiva, filmada por uma câmera presa na cabeça de um dos jogadores, é projetada. Esta imagem remete à sensação do capoerista quando está jogando. O espectador pode sentir então a vertigem dos movimentos de uma maneira próxima àquela que sentimos quando jogamos capoeira. A cada vez que um outro espectador entra no círculo, os capoeiristas são trocados
Ginga Eletrônica (2004) – Kátia Maciel
Assista em: http://vimeo.com/36919520
um espaço circular mostra uma roda de capoeira formada pela projeção de quatro telas. Entre uma tela e outra há uma pequena abertura para permitir a participação do visitante. Ao se aproximar, o espectador pressiona,o sensor de piso, e, assim, ativa o sistema que aciona imagens e sons de uma roda e a luta entre dois capoeiristas. Estes são projetados, um diante do outro, em duas telas opostas. No chão da roda, uma imagem subjetiva, filmada por uma câmera presa na cabeça de um dos jogadores, é projetada. Esta imagem remete à sensação do capoerista quando está jogando. O espectador pode sentir então a vertigem dos movimentos de uma maneira próxima àquela que sentimos quando jogamos capoeira. A cada vez que um outro espectador entra no círculo, os capoeiristas são trocados
Experimentando cinema (2004/5) Rosângela Rennó experimenta mover imagens em telas de gelo seco. Inventa filmes a partir da projeção na fumaça de fotos de arquivo: filme de amor, filme de família, filme de guerra e filme policial.
Cada filme contém 31 fotografias. Os gêneros do cinema são homenageados na montagem da artista. O movimento é quase instantâneo, a fumaça faz aparecer e desaparecer a imagem, suspensa pelo desaparecimento momentâneo do suporte. Oito segundos é a duração da tela entre o fade in ao fade out. O intervalo dura 30 segundos. O próprio dispositivo gera a intensidade do suspense no público.
Em seus trabalhos, Rosângela Rennó rememora. Ilumina arquivos de outras memórias e cria famílias. Suas fotografias são encontradas em feiras, em arquivos impessoais, sempre esquecidas, sempre apagadas. O arquivo então não documenta um real preexistente, inventa o atual com imagens de outros tempos. Os acontecimentos se repetem, mas fora do hábito que os constituiu. A fragmentação da narrativa é absoluta. Temos apenas uma imagem para construirmos uma história, para imaginarmos de onde vieram as pessoas que vemos e para onde foram, para imaginarmos paisagens e figurinos de um filme a que não assistimos.
O nosso hábito constrói uma narrativa que não há, e a narrativa que não há destrói o nosso hábito e nos faz ver outro cinema. Em todos esses trabalhos a fotografia pulsa na forma cinema, ou seja, como projeção em movimento se multiplica, se fragmenta, se esvanece. Partindo de um elemento mínimo, apenas uma imagem, esses artistas constroem uma situação-filme. Nessa situação o participador não assiste, experimenta as imagens como acontecimentos.
Referências - Transcinema e a estética da interrupção (Katia Maciel) - Por um cinema sensorial: o cinema e o fim da “moldura” (Katia Maciel) - O cinema e a condição pós-midiática (Arlindo Machado)