Há 50 anos atrás

Page 1

ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA DE PAREDES DE COURA Agrupamento de Escolas de Paredes de Coura

HÁ 50 ANOS ATRÁS

Entrevistas feitas pelos alunos do 6.ºA para entender a vida dos seus familiares e conhecidos durante o Estado Novo

ABRIL DE 2023

O presente trabalho foi desenvolvido pelos alunos do 6.ºA do ano letivo 2022-23 da escola Básica e Secundária de Paredes de Coura no âmbito da disciplina de História e Geografia de Portugal em parceria com a Biblioteca Escolar. Os textos são da autoria dos alunos e as imagens fornecidas são para uso exclusivo do presente trabalho.

Há50ANOSATRÁS©2023byalunosdo6.ºAestálicenciadosobCCBY-NC-ND4.0.Paraver umacópiadestalicença,visitehttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

Há 50 ANOS ATRÁS ©2023poralunosdo6.ºAestálicenciadosobCCBY-NC-ND4.0

Cidália Rodrigues (por Ana Rita Sousa) 3 Relato da Beatriz sobre a vida do avô (por Beatriz Martins)......................................................... 6 Vítor Bernardo das Dores (por César Carvalho) ............................................................................ 7 Maria Isabel Amorim Gonçalves (por Filipa Caselhos)................................................................ 10 Amândio Fernandes da Cunha (por Francisco Araújo)................................................................ 11 Manuel Brandão Pinto (por Gonçalo Pinto) 15 Maria Alvares Pereira (por Gustavo Dantas) 19 António Gonçalves Pereira (por Gustavo Dantas) 22 Ilídio da Silva Dantas Gomes (por Leonor Pereira Gomes) 28 Alfredo Rodrigues (por Leonor Pereira Gomes) 33 Joaquim Pereira Cerqueira (por Mariana Dias da Silva).............................................................. 34 Alberto Curucho (por Matias Oliveira Martins)........................................................................... 38 Virgílio Freitas Oliveira (por Matias Oliveira Martins)................................................................. 40 Jorge Alberto Pereira de Sousa (por Ruben Sousa)..................................................................... 42
Índice

Entrevista a:

Cidália Rodrigues (por Ana Rita Sousa)

Relato da Beatriz sobre a vida do avô (por Beatriz Martins)

Emigração a salto do meu avô

O meu avô, o Sr. José António Martins, emigrou com os seus amigos/companheiros. Foi para a França para tentar ganhar mais dinheiro para a sua família, a minha avó e os meu tios e tias os seus filhos.

O meu avô demorou cerca de 15 dias para ir a pé para França, o seu caminho foi pelo mato e pelos rios, ele não pode levar nada, nem roupa, nem sapatos…

No meio do seu caminho acabou por escorregar em lama e partiu uma perna, o que lhe complicou a viagem não só a ele, mas também aos seus companheiros, mas eles seguiram em frente sem parar.

Foi uma longa jornada para ele com a perna partida, mas ele e seus amigos acabaram por conseguir ir para França.

Entrevista a:

Vítor Bernardo das Dores (por César Carvalho)

Nome: Vitor Bernardo das Dores

Idade: 76

1 - Onde vivia quando era criança?

Em Resende, Paredes de Coura.

2 – Com quem vivia?

Com a minha avó e o meu tio.

3 – Em que escola andou e até que ano estudou?

Andei na escola primária de Rezende até à quarta classe.

4 – Como era estudar nessa época?

Era muito rigoroso.

5 – Havia muitos castigos?

Eu nunca fui castigado.

6 – Qual eram as brincadeiras que faziam?

Jogava à bola, ao pião, à malha e ao vintém.

7 – Como ocupava os tempos livres?

Trabalhava para ajudar a família.

8 – Como eram as condições de vida da sua família?

Trabalhávamos muito na agricultura para conseguir comer.

9 – Trabalhava para ajudar a família?

Sim, nos tempos livres trabalhava numa padaria para ajudar a família.

10 – Como era a sua casa?

Era uma casa antiga com sala cozinha e um quarto e uma retrete do lado de fora

11 – Era fácil comprar alimentos?

Não, havia pouco dinheiro.

12 – O que comiam?

Batata, feijão e hortaliças.

13 – Onde passou a sua juventude?

A trabalhar em Paredes de Coura.

14 – Em que trabalhava?

Numa padaria.

15- Quais eram os seus passatempos?

Ia para as festas aos fins de semana, quando havia.

16 – Como era o vestuário?

Pobre, tínhamos um par de calças, camisa e casaco para os domingos e durante a semana andávamos com roupa velha e remendada.

17 – Namorava? Como era namorar nessa altura?

Eu não namorava, mas nessa altura namorar tinha de ser com muito respeito.

18 – As raparigas e os rapazes tinham os mesmos direitos?

Não, as raparigas não tinham liberdade como os rapazes.

19 – Que coisas as pessoas não podiam fazer durante a ditadura?

Não podíamos falar mal do governo, nem dar opiniões.

20 – Nessa época tinha consciência que as pessoas nos outros países eram mais livres?

Sim.

21 – Alguma história dessa época que o marcou e queira partilhar?

Houve uma noite em que estávamos a jogar às cartas numa casa abandonada, porque era proibido jogar, e fomos apanhados pela polícia, eu consegui fugir pela janela.

Guerra no Ultramar

22 – Que idade e quando foi para as colónias?

Tinha 22 anos e fui em 27 de janeiro de 1968, voltamos a Paredes de Coura no dia 27 de abril de 1970.

23 – Para que colónia foi?

Fui para Angola.

Como foi para a guerra? Quanto tempo durou a viagem?

Fui no barco Uigi de Lisboa a Angola e a viagem durou 14 dias.

24 – Quanto tempo esteve lá?

Fui em 1968 e voltei em 1970, estive lá 2 anos.

25 – O que fazia?

Era padeiro e eletricista.

26 – Sentiu-se em perigo?

Não porque nunca saí do quartel.

27 – Teve medo?

Não.

28 – Viu gente a morrer?

Não.

29 – Como era a vossa relação com os habitantes locais?

Não havia relação porque estávamos muito longe dos habitantes.

30 – Era contra a guerra?

Não, era a favor da guerra, as colónias eram nossas.

31 – O que pensava de Salazar?

O Salazar era um homem que não merecia confiança.

Entrevista a:

Como era a escola?

Da primeira à quarta classe os alunos estudavam todos juntos e só tinham uma professora. “Os meninos de um lado e as meninas do outro."

"Os professores batiam muito, com uma cana da Índia e com uma régua de pau nas mãos" os professores diziam: "Vais levar 20 ou 30 bolos" conforme o número de erros.

Como era o namoro da época?

No tempo dela os pais não deixavam namorar como agora, "tínhamos de estar sempre à porta de casa". Os irmãos mais novos mandados pelos pais, tinham de estar à volta do casal para não se beijarem…

"Tínhamos de mandar os namorados embora com duas varinhas de sol," ou seja, ainda com o sol alto.

"Namorar era desviado 1 ou 2 metros um do outro, beijar era só às escondidas e olhe lá"

Como era a sua vida?

Não se podia comentar nada sobre o governo, nem de Salazar, não se falava de política e por isso Maria Isabel não sabia nada de liberdade.

"Com 9/10 anos já me metiam uma inchada nas mãos."

"Não havia luz nem água dentro das casas"

Entrevista a:

Amândio Fernandes da Cunha (por Francisco Araújo)

P: Em que ano teve início a Guerra Colonial?

R: A guerra Colonial teve início em Angola no ano de 1961.

P: Em que ano foi para a Guerra?

R: Foi a 15 de novembro de 1969, deixando a família em Portugal.

P: Para onde foi combater e de que forma foi transportado?

R: Fui combater para a Guiné, sendo transportado num paquete (barco) de nome "Uige".

P: Foi só ou com alguém?

R: Fui com o Batalhão 2893.

P: Onde é que costumavam combater?

R: Na Guiné, normalmente, o combate era na bolenha "pântano" e nos aquartelamentos.

P: Viu pessoas a morrer?

R: Vi pessoas a morrer. Sempre que algum elemento morria tinham o ritual de dar uma gargalhada e diziam "este já lerpou".

P: O que comiam?

R: Normalmente comíamos rancho (arroz, carne e batatas), e quando íamos para o mato, comíamos ração de combate (enlatados).

P: Como se comunicavam entre eles?

R: A comunicação era via radio entre os combatentes.

P: Como se comunicavam com os familiares?

R: Por aerogramas que custavam 2 tostões.

P: Quem era o governador da guine e comandante chefe das forças armadas?

R: Era o General António de Spínola.

P: Quais os movimentos de Independência?

R: M.P.L.A, gerido por Agostinho Neto; P.A.I.G.C. (partido africano para independência da Guiné de Cabo Verde), gerido por Amílcar Cabral; U.P.A. (União dos povos de Angola), liderado por Holden Robert; U.N.I.T.A (União para a Independência Total de Angola), dirigida por Jonas Savimbi e F.R.E.L.I.M.O. (frente de libertação de Moçambique), liderada por Eduardo Mondlane.

Imagens cedidas por Amândio Cunha

Unimog, apelidado por eles de "Salta Pocinhas"

Secção do Pelotão de Sapadores de Minas e Armadilhas. “Um Sapador só se enganava 2 vezes, a primeira e a última".

Soldado Amândio junto a guarita. Soldado Amândio sentado num baga baga das formigas, com mais ou menos 500 anos.

Soldados a fazer a “Psicola” ( levar medicação), com dois guias africanos.

Fotos de Amândio Cunha durante o tempo de serviço militar no Gabu e Bafatá.

Foi lá que tirou a carta de condução.

Entrevista a:

Manuel Brandão Pinto (por Gonçalo Pinto)

Nesta entrevista pretendo dar a conhecer alguém que viveu as dificuldades desta época. Manuel Brandão Pinto (o tio Nelo da Calçada, assim é chamado por todos), nasceu a 05/05/1941, no lugar do Outeiro, em Cunha, onde viva com os pais e os irmãos. Hoje, pai de cinco filhos, reside no lugar da Calçada, com a sua esposa.

Uma vida preenchida entre Portugal, Angola e França. Tendo sempre como sua arte a carpintaria.

1. Onde frequentou a escola? Estudou até que ano?

Frequentei a escola de Cunha, até a 2ª classe.

2. Como era estudar naquela época?

Não era obrigatório. O importante era aprender a ler e escrever.

3. Havia muitos castigos?

Sim! A professora era muito rigorosa – utilizava uma cana para nos ameaçar e castigar.

4. Quais eram as brincadeiras que faziam?

Brincávamos as escondidas, ao pião, fazíamos os nossos próprios brinquedos com materiais de casa.

5. Como ocupavam os tempos livres?

Normalmente, não havia tempos livres. Tínhamos sempre que fazer na lavoura.

6. Como eram as condições de vida da sua família?

Razoáveis. Trabalhávamos muito, mas não nos faltava nada.

7. Trabalhava para ajudar a família?

Sim.

8. Como era a sua casa?

Era grande, de pedra como a maioria.

9. Era fácil comprar alimentos?

Para quem tinha algumas condições, sim. Mas a maioria dos alimentos eram extraídos do campo.

10. O que comiam?

11. Sopa, batatas com couves e bacalhau, Arroz...

Juventude

12. Onde passou a sua juventude?

Em Cunha. Até ir para fora.

13. Em que trabalhava?

Era carpinteiro.

14. Quais eram os passatempos?

Ir até ao café um pouquinho, namorar...

15. Namorava? Como era namorar naquela altura?

Era diferente de agora. muito mais controlados. Tinha sempre família por perto.

16. As raparigas e os rapazes tinham os mesmos direito?

Não. As mulheres não tinham direito a voto, não podiam vestir qualquer roupa e por aí a fora.

17. Que coisas as pessoas não podiam fazer durante a ditadura?

Não podiam falar mal do governo. A PIDE castigava severamente quem o fizesse.

18. Naquela época tinha consciência de que as pessoas nos outros países eram mais livres?

Não sei.

19. Há alguma história daquela época que a marcou e queira partilhar?

Já não me lembro.

20. Que idade tinha quando foi para as colónias?

19 anos.

21. Para que colónia foi?

Eu fui para a Angola.

22. Quanto tempo esteve lá?

Estive lá 3 anos sem vir cá. O furriel não permitiu.

23. O que fazia?

Carpinteiro da companhia.

24. Sentiu-se em perigo?

Sim, uma noite houve um ataque em que senti o cheiro e o vento das balas.

25. Teve medo?

Sim, bastante.

26. Viu gente morrer?

Vi um colega a ser baleado, mas não morreu.

27. Como era a vossa relação com os habitantes locais?

Era boa. Havia respeito mútuo.

Guerra do Ultramar

28. Era contra a guerra?

Não.

29. O que pensava de Salazar?

Era ruim. Um ditador.

30. Emigrou durante a ditadura?

Sim. Em 1972.

31. Que idade tinha quando emigrou?

Com 31 anos.

32. Para onde emigrou?

Para a França.

33. O que o levou a emigrar?

Melhorar a condições da família.

34. Como é que foi para lá?

Fui de comboio.

35. Que diferenças encontrou nesse país em relação a Portugal?

Lá ganhava-se muito mais, havia mais liberdade de expressão.

36. Com que idade regressou?

Regressei com 34 anos.

Entrevista a:

Maria Alvares Pereira (por Gustavo Dantas)

Maria Alvares Pereira, 86 anos (24-03-1937), viúva, reformada da agricultura e residente em Rubiães - Paredes de Coura.

Onde vivia durante o Estado Novo?

Nessa altura vivia, na mesma casa que vivo hoje, no lugar da costa em Rubiães. Com quem vivia?

Eu vivia com os meus avôs maternos e padrinhos. Como éramos 4 irmãos, e os meus pais trabalhavam num moinho, eu era muito irrequieta e eles tinham medo que me acontecesse alguma coisa e então fui viver para casa dos meus avós.

Onde frequentou a escola? Estudou até que ano?

A escola que frequentei era ao lado da minha casa aqui em Rubiães, e está agora transformada em albergue. Andei na escola até ao 3º ano.

Como era estudar naquela época?

Naquela altura a escola não era uma prioridade, mas os meus padrinhos fizeram tudo para que eu fosse à escola. Só os filhos das famílias mais ricas é que estudavam, os filhos dos agricultores apenas faziam o que era obrigatório. Naquela altura as mulheres tinham de fazer a 3ª classe, e foi o que eu fiz.

Ao chegar à escola tínhamos de dizer: “Bom dia Senhora Professora, como está passou bem?” Depois tínhamos de rezar e cantar o hino nacional. Qualquer coisa era motivo para levar com a régua nas mãos. Os que não aprendiam bem levavam muitas reguadas. A professora dormia na escola e eu é que ia dormir com ela. Ela ensinou-me a fazer renda.

Havia muitos castigos?

Na escola os professores eram muito exigentes, não podíamos fazer barulho, falar com os outros colegas e tínhamos de fazer os trabalhos sempre. Quem se portasse mal e não cumprisse levava castigos:

- Por as mãos debaixo dos joelhos durante muito tempo;

- Levar com a cana na cabeça.

- Reguadas nas mãos;

- Colocar umas orelhas de burro durante as aulas. Quais eram as brincadeiras que faziam?

Naquela altura, jogava à apanhada, escondidas, ao peão, roda de arame e bola.

Como ocupavam os tempos livres?

Trabalhava no campo, ia com os animais a pastar, ia buscar lenha, íamos à missa, à catequese.

Como eram as condições de vida da sua família?

A minha família trabalhava na agricultura e tinha um moinho. Vivíamos com muito poucos rendimentos éramos muito trabalhadores, mas pobres.

Trabalhava para ajudar a família?

Sim, ajudava nos trabalhos do campo. Levava as vacas para o campo para pastarem, ajudava nas plantações e colheitas agrícolas.

Como era a sua casa?

Era uma casa humilde, era feita de pedra, tinha dois quartos, uma sala, uma cozinha. Não tinha casa de banho.

Vivíamos 6 pessoas na casa e havia camas na sala.

Era fácil comprar alimentos?

A maior parte dos alimentos era produzido em casa: Frangos, coelhos, batatas, couves, chouriços, carne de porco.

Depois vendíamos nas feiras: milho e cereais para ter dinheiros para comprar o que não mos produzia: açúcar, café, arroz e massa, nas mercearias da aldeia.

O que comiam?

Comíamos batatas, carne de porco, chouriços, ovos, leite, hortaliças.

Onde passou a sua juventude?

A Juventude foi passada em casa a trabalhar. Também ia às fiadas à noite, às festas da aldeia, ia às feiras a pé. Em setembro ia às Feiras Novas de Ponte de Lima a pé.

Em que trabalhava?

Trabalhava na agricultura e tecia linho e mantas de farrapos.

Quais eram os passatempos?

Ir a fiadas, festas e bailes.

Como era o vestuário?

As camisolas e meias eram feitas de lã, depois comprávamos tecidos nas feiras e fazíamos as saias as blusas.

Namorava? Como era namorar naquela altura?

Sim. Namorar era à porta de casa, ir acompanhada à fonte, às romarias e às feiras, mas sempre com alguém de confiança por perto.

As raparigas e os rapazes tinham os mesmos direito?

Não, os rapazes tinham mais direitos.

- Eles podiam sair à noite e as mulheres não.

- Num casamento que decidia era o homem.

- Podiam estudar mais do que as mulheres.

Que coisas as pessoas não podiam fazer durante a ditadura?

- Não se podia falar sobre política;

- Usar isqueiros sem ter uma licença;

Naquela época tinha consciência de que as pessoas nos outros países eram mais livres?

Sim, porque tinha familiares na França e eles eram mais livres.

Há alguma história daquela época que a marcou e queira partilhar?

Naquela altura lembro-me de ir vender ovos para Campos, mas tinha de ser de noite porque de dia era proibido.

Entrevista a:

António Gonçalves Pereira (por Gustavo Dantas)

António Gonçalves Pereira, 75 anos, casado, reformado, emigrante e antigo combatente, residente em Rubiães - Paredes de Coura.

Emigrante

Emigrou durante a ditadura?

Sim, emigrei durante a ditadura e fui a salto para a França. Depois regressei para cumprir serviço militar. Mais tarde voltei a emigrar novamente para França, mas legalmente.

Que idade tinha quando emigrou?

Tinha 17 anos.

Para onde emigrou?

Emigrei para a França.

O que o levou a emigrar?

Emigrei porque na altura em Portugal havia muita pobreza e falta de trabalho e fui procurar melhorar de vida.

Como é que foi para lá?

Fui a salto juntamente com três rapazes da minha freguesia. Os passadores eram pessoas que programavam a viagem e nos levavam.

Com o primeiro passador fomos ter com ele, a pé, a S. Martinho de Coura, depois lá jantamos uma massa com carne e este passador levou-nos até Âncora, de carro, e passamos de barco para o lado espanhol. Do outro lado, estava outro passador à nossa espera e levou-nos de carro até Vigo onde ficamos alojados até ficar noite e seguir viagem. Mas alguma coisa correu mal e só puderam seguir alguns do grupo e do grupo da minha freguesia só seguiu um. Os restantes esperámos pelo dia seguinte para sermos transportados até à fronteira dos Pirenéus.

Nos Pirenéus, tivemos de passar a pé. Foi uma noite de tempestade e trovoada e dormimos todos molhados em cima de fardos de palha, num estábulo junto com os animais. Depois pela manhã fomos de carro até um autocarro e de autocarro até à estação de comboios, onde seguimos para Paris, onde já tínhamos pessoas conhecidas à espera. Quando chegamos a Paris todos mal-amanhados de ter feito a viagem atribulada, a estação estava cheia de polícia que perceberam perfeitamente que éramos clandestinos, no entanto não fizeram nada porque o país precisava de mão de obra. Que diferenças encontrou nesse país em relação a Portugal?

A diferença maior foi a liberdade. Em Portugal não podíamos fazer nada que havia o medo das represálias.

Com que idade regressou?

Regressei com 21 anos, para cumprir serviço militar obrigatório.

Guerra no Ultramar

Que idade tinha quando foi para as colónias?

Tinha 21 anos.

Para que colónia foi?

Fui para Angola.

Quanto tempo esteve lá?

Estive lá durante 24 meses e meio.

O que fazia?

Era militar, prestava serviço militar como soldado e era atirador.

Sentiu-se em perigo?

Sim, porque em guerra sentimo-nos sempre em perigo.

Teve medo?

Sim. Estávamos em sítios de minas.

Viu gente a morrer?

Sim, mas não inimigos. Vi um colega a morrer picado por abelhas, que era alérgico e não havia socorro. Noutra situação um colega pisou uma mina e um pé foi pelo ar. Nessa saída o pelotão ia dividido em três grupos e eu ia no grupo de trás. No grupo da frente um colega pisou uma mina rebentou. Depois como só podíamos comunicar com o quartel de 30 em 30 minutos, o último pelotão regressou ao quartel, mas como demoraram mais de 30 minutos, ainda conseguimos comunicar por radio com o quartel. Enquanto esperamos pela ajuda fizemos uma maca de paus para o poder transportar, mas com o calor e com o tempo que demoramos a chegar ao quartel acabou por morrer.

Como era a vossa relação com os habitantes locais?

A relação era boa porque eles estavam na esperança de que lhes déssemos comida.

Era contra a guerra?

Era, mas era obrigado a ir.

O que pensava de Salazar?

Era um fascista um ditador.

Fotografias do Álbum de Guerra

Entrevista a:

- Idade: 80 anos, nascido a 06 de dezembro de 1942

Infância

1- Onde vivia durante o Estado Novo?

- Vivia em Padornelo. A minha infância foi passada em Lamarigo, Paredes de Coura.

2- Com quem vivia?

- Vivia com a minha mãe e os meus irmãos. O meu pai estava emigrado no Brasil, e por lá ficou, nunca cá veio.

3- Onde frequentou a escola? Estudou até que ano?

- Frequentei a escola primária de Padornelo até à quarta classe.

4- Como era estudar naquela época?

- Naquela época estudar era muito difícil, só havia uma professora para 50 alunos, íamos descalços para escola, não havia luz elétrica e os trabalhos de casa eram feitos à luz de

Ilídio da Silva Dantas Gomes (por Leonor Pereira Gomes)

uma candeia de petróleo, não tínhamos material (cadernos, lápis, borracha) escrevíamos numa lousa.

5- Havia muitos castigos?

- Sim, muitos! Ninguém podia falar durante as aulas, quem se portasse mal era castigado com 12 bolos (reguadas) ou tinha de se ajoelhar em cima de areia.

6- Quais eram as brincadeiras que faziam?

- As brincadeiras da minha época eram o jogo do peão, saltar ao eixo, corda queimada, cabra-cega, jogo da malha e outros.

7- Como ocupavam os tempos livres?

- Os meus tempos livres eram ocupados a ajudar a minha mãe, a tomar conta do gado e nos afazeres de casa.

8- Como eram as condições de vida da sua família?

- Eram duras, embora nunca tenhamos passado fome, porque sempre tivemos pão, leite, e sopa em cima da mesa, havia muitas famílias que passavam necessidades a nível alimentar.

9- Trabalhava para ajudar a família?

- Sim, desde muito pequeno que ajudava com os trabalhos em casa, essencialmente nos trabalhos do campo.

10- Como era a sua casa?

- Era uma casa humilde, a cozinha era térrea, a comida era feita na lareira, não tínhamos casa de banho, a luz vinha de uma candeia de petróleo, e a água para consumo de casa era transportada numa cântara de barro, desde uma fonte até casa.

11- Era fácil comprar alimentos?

- Não era fácil comprar alimentos, no nosso caso e quando era necessário recorrer à mercearia só o fazíamos para comprar bens muito necessários.

12- O que comiam?

- A nossa alimentação era baseada, essencialmente, em produtos colhidos da terra, batatas, couves, trigo, milho, havia sempre sopa, leite, ovos e galinha. Em datas mais especiais lá se comia umas sardinhas, uns carapaus e bebia-se cevada ou café com açúcar.

Juventude

13- Onde passou a sua juventude?

- A minha juventude foi passada em Padornelo, até aos meus 20 anos.

14- Em que trabalhava?

-Trabalhava na agricultura.

15- Quais eram os passatempos?

- Os meus passatempos eram passados nas fiadas, e gramadas de linho, nos jogos de sueca e a namorar.

16- Como era o vestuário?

- A roupa que usávamos não era nada como agora, e havia pouca, as camisas eram às riscas, calças de cotim, meias de lã, que eram feitas em casa pelas nossas mães e calçávamos socos de pau.

17- Namorava? Como era namorar naquela altura?

-Sim namorava e tinha muitas namoradas. Na minha época namorar era com respeito, não se dava beijos nem se tocava nas moças.

18- As raparigas e os rapazes tinham os mesmos direitos?

- Não, as raparigas não tinham a mesma liberdade que os rapazes, nós podíamos sair à noite, já as raparigas não.

19- Que coisas as pessoas não podiam fazer durante a ditadura?

- Durante essa época não se podia meter na política, falar contra o governo, ou fazer greves, como agora.

20- Naquela época tinha consciência de que as pessoas nos outros países eram mais livres?

- Não fazia a mínima ideia do que se passava nos outros países.

Guerra do Ultramar

21- Que idade tinha quando foi para as colónias?

- Tinha 20 anos.

22- Para que colónia foi?

- Fui para Angola.

23- Quanto tempo esteve lá?

- Estive lá 2 anos e 4 meses.

24- O que fazia?

- Eu era atirador especial.

25- Sentiu-se em perigo?

- Quase todos os dias, mas sentia mais quando saímos de noite para as batidas, era muito escuro.

26- Teve medo?

- Tive muito medo, quase todos os dias via colegas feridos e a morrer.

27- Viu gente a morrer?

-  Sim vi e ainda hoje tenho memórias más desses dias.

28- Como era a vossa relação com os habitantes locais?

- Nos primeiros 14 meses não tive contacto com habitantes porque só havia terroristas, depois sim tivemos relação com alguns habitantes e relacionávamo-nos bem.

29- Era contra a guerra?

- Sim, era.

30- O que pensava de Salazar?

- Salazar fez algumas coisas boas, mas muitas más, nós vivíamos numa ditadura, não havia liberdade para nada, vivíamos debaixo de muita regra.

Entrevista a:

Alfredo Rodrigues (por Leonor Pereira Gomes)

Ex-emigrante,71 anos, residente em Padornelo.

1- Emigrou durante a ditadura?

- Sim emigrei em 1968.

2- Que idade tinha quando emigrou?

- Tinha 17 anos.

3- Para onde emigrou?

- Fui para França.

4- O que o levou a emigrar?

- Queria fugir à tropa e à guerra, mas vim fazer a tropa e regressei a França.

5- Como é que foi para lá?

- Fui a salto, quer dizer que fui ilegal...fugido.

6- Que diferenças encontrou nesse país em relação a Portugal?

- Eu fui para Paris, e a vida lá era muito diferente, apesar de ter ido para junto de familiares e viver em casas com muita gente, tive a perceção de ser uma terra muito diferente da minha, mais evoluída, já se viam alguns carros, as raparigas vestiam-se de forma diferente das nossas, eu só estava habituado a ver mulheres que trabalhavam no campo.

7- Com que idade regressou?

- O meu regresso é recente, fui com 17 e regressei com 67 anos. Passei a maior parte da minha vida num país que não era o meu.

Entrevista a:

Joaquim Pereira Cerqueira (por Mariana Dias da Silva)

Ex-emigrante, 71 anos

Infância

1- Onde vivia durante o Estado Novo?

R: Durante o Estado Novo vivia em Antas-Rubiães na terra onde nasci.

2- Com quem vivia?

R: Nessa altura vivia com a minha mãe e com as minhas duas irmãs, porque o meu pai já tinha emigrado.

3-Onde frequentou a escola? Estudou até que ano?

R: Frequentei a escola no lugar de Antas, e os exames é que eram na escola da freguesia em Rubiães, estudei até ao 4º ano.

4- Como era estudar naquela época?

R: Não era fácil, porque, os professores eram muito exigentes.

5- Havia muitos castigos?

R: sim, estavam sempre prontos a dar umas reguadas nas mãos.

6- Quais eram as brincadeiras que faziam?

R: Como não havia brinquedos brincávamos a correr atrás uns dos outros.

7- Como ocupavam os tempos livres?

R: Os tempos livres eram ocupados a trabalhar no campo, a jogar ao pião e a andar com o arco de arame.

8- Como eram as condições de vida da sua família?

R: A minha família nunca passou mau, já eramos uma família que tínhamos umas certas regalias.

9- Trabalhava para ajudar a família?

R: Sim, trabalhava no campo, para ajudar a família, e ia para as feiras vender os produtos que colhíamos no campo, e não era fácil porque tínhamos de ir a pé.

10- Como era a sua casa?

R: A minha casa já tinha eletricidade, mas, no entanto, tinha água canalizada, era grande já tinha um quarto para cada um de nós, mas ainda não havia televisão.

11- Era fácil comprar alimentos?

R: Não, eram poucos os alimentos que comprávamos, porque nós cultivávamos quase de tudo, e os alimentos que tínhamos de comprar eram difíceis de encontrar.

12- O que comiam?

R: Comíamos carne e peixe poucas vezes, comíamos muita carne de porco porque matávamos em casa e também comíamos muito caldo com farinha de milho.

Juventude

13- Onde passou a sua juventude?

R: A minha juventude até aos 18 anos passei na zona onde vivia em Antas.

14- Em que trabalhava?

R: Trabalhava no campo a ajudar a minha mãe na lavoura.

15- Quais eram os passatempos?

R: Os passatempos eram no domingo à tarde ir até ao café jogar às cartas com outros amigos.

16- Como era o vestuário?

R: O vestuário era calças largas, camisola ou camisa e botas de cabedal com a sola de madeira.

17- Namorava? Como era namorar naquela altura?

R: Não namorava, nessa altura os namorados tinham de namorar às escondidas e sempre longe um do outro não podiam estar sozinhos, tinham que ter sempre um irmão mais novo a acompanhar.

18- As raparigas e os rapazes tinham o mesmo direito?

R: Não, os rapazes tinham muita mais liberdade para saírem de casa e irem dar uns passeios, as raparigas não podiam sair sozinhas.

19-Que coisas as pessoas não podiam fazer durante a ditadura?

R: Durante a ditadura não se podia dizer mal dos políticos porque havia a PIDE que eram pessoas que espiavam para ver se alguém dizia mau dos políticos e iam acusar à polícia.

20- Naquela época tinha consciência de que as pessoas nos outros países eram mais livres?

R: Nessa altura ainda não tinha consciência disso pensava que a ditadura era igual em todos os países.

21- Há alguma história daquela época que o marcou e queira partilhar?

R: A minha aldeia era muito pacata não tenho nenhuma história que me tenha marcado.

Emigrante

22- Emigrou durante a ditadura?

R: Emigrei em 1971, durante a ditadura.

23- Que idade tinha quando emigrou?

R: Quando emigrei tinha 18 anos.

24- Para onde emigrou?

R: Emigrei para França porque já tinha lá o meu pai.

25- O que o levou a emigrar?

R: Emigrei à procura de melhores condições de trabalho, e também de um trabalho que me pagassem ao final do mês.

26- Como é que foi para lá?

R: Fui para França a salto, ou seja, tinha que pagar ao passador para me levar escondido dentro de um barco a remo para passar a fronteira e depois percorrer a pé um longo caminho pelo meio dos campos até à próxima estação dos comboios. Depois fui de comboio até França, mas ainda fui interrogado por não ter papeis, mas como tinha um envelope com a morada do meu pai deixaram-me passar.

27- Que diferenças encontrou nesse país em relação a Portugal?

R: A diferença entre os dois países era enorme, naquela altura dizia-se que havia uma diferença de mentalidades dos franceses para os portugueses de 50 anos. O que mais me marcou foi a liberdade das mulheres em França, pois vestiam mini saias, grandes decotes, beijavam os namorados na boca à frente de toda a gente, sem problema

nenhum, já em Portugal as mulheres andavam de saias compridas, lenços na cabeça todas tapadinhas, e nem com o namorado podiam estar sozinhas tinham que ter sempre alguém a acompanhar.

28- Com que idade regressou?

R: Regressei, a primeira vez a Portugal, após 4 anos porque como fugi à tropa não podia vir mais cedo a Portugal senão era apanhado e castigado.

Entrevista a um ex-combatente:

O senhor a qual eu fiz esta entrevista foi a Sr. Alberto Corucho que na atualidade tem 72 anos, e é cliente do café do meu pai.

Sr. Alberto nascido em Labruja a 23 de julho de 1950, passou a sua infância toda em Romarigães com os seus pais e com os seus 8 irmãos.

Fez a sua escola em Romarigães onde concluiu a quarta classe o que era obrigatório naquele tempo.

Os seus castigos eram duros, porque quando respondiam mal, levavam com uma cana na cabeça ou até seis pancadas com a palmatória.

As brincadeiras que faziam durante os pequenos intervalos eram brincadeiras que se fazem até hoje em dia, como: escondidas, à apanhada e até jogar futebol com meias.

A casa pertencia ao estado porque o pai do Sr. Alberto trabalhava como guardaflorestal então a sua moradia era sustentada pelo pai. A sua moradia tinha o rés-dochão, era esbranquiçada e tinha tudo o que era necessário como: casa de banho, cozinha e quarto.

Em casa Sr. Alberto não trabalhava, não só ele como todos os seus irmãos e irmãs porque naquela altura não havia agricultura. Os alimentos na casa do Sr. Alberto não eram comprados eram todos produzidos em casa de seus vizinhos. Só comiam legumes e sopa, carne só quando havia a matança do porco.

Já a sua juventude passou-se em Fontoura onde era chamado por várias pessoas para fazer trabalhos domésticos até aos 22 anos. Para ele depois do trabalho não havia passatempos, porque vinha exausto, então descansava.

A sua roupa, dizia ele, era bem mais modesta porque tinha calças de ganga remendadas pela mãe, camisa de manga curta e diz ele que só usou calçado aos 14 anos.

Ele achava que entre ambos os sexos na escola tinham os mesmos direitos ou eram tratados de forma igual. Perante o governo não podiam opinar ou expressar a sua opinião.

Ele também achava que os outros países eram mais desenvolvidos e com mais liberdade e só achava isso porque tinha rádio e ouvia durante os comerciais publicitários.

Uma malandragem que ele também me contou foi no dia em que uns empreiteiros estavam a trabalhar numa casa até que ele e os seus 8 irmãos tiveram a grande ideia de que de noite colocariam bombinhas de carnaval por baixo da porta. Quando era de noite ele e os seus 8 irmãos colocaram as bombinhas, meteram fogo e quando explodiu toda a gente começou aos gritos.

Sr. Alberto Corucho foi para Angola com 24 anos onde ficou lá um ano (de dezembro de 1974 até novembro de 1975). Lá trabalhou para a Telefuso, uma empresa que decifrava os telegramas e transportava pessoas importantes até que um dia…

Sr. Alberto junto com a sua unidade levava o comandante num jipe até ao cais de Luanda onde se situava um navio enferrujado e afundado. No regresso um grupo de civis pertencentes ao Partido M.P.L.A Movimento Popular de Libertação de Angola, fundada em 1956 não os deixou sair. Sr. Alberto junto com a sua unidade teve a ideia de entrar num barraco que estava próximo. Os civis desarmaram a unidade dele levandoos até ao seu covil. Depois de 4 horas de conversa devolveram as suas armas e libertaram-nos.

Durante esse ano Sr. Alberto não viu militares nem civis morrer. Também nesse período conviviam com os habitantes locais.

Ele era contra a guerra, mas não só ele como todas as unidades. Também era contra Salazar, e principalmente contra PIDE e percebeu que toda a gente que era levada desparecia.

Ao voltar de Angola decidiu seguir carreira militar na marinha até à reforma (49 anos).

Entrevista a um emigrante:

Virgílio Freitas Oliveira (por Matias Oliveira Martins)

O Senhor a qual eu fiz esta entrevista foi ao meu avô que se chama Virgílio Freitas Oliveira, que não participou na guerra colonial, mas descreve que o 25 de Abril era um dos dias mais importantes para ele e para a minha avó. Ele tem 66 anos e nasceu em Cervães, Vila Verde, a 27 de dezembro 1954.

O meu avô foi para a França a salto, com 18 anos, mais propriamente em Auxerre onde conheceu a minha avó e também onde construiu a sua casa e teve a sua filha que é a minha mãe Dália da Conceição da Silva Oliveira e anos antes tinham tido o meu padrinho José Freitas Oliveira.

O que o fez emigrar para a França, foi a procura de uma vida melhor porque em Portugal havia muita censura e falta de liberdade, a pouca opinião do povo e escassez de recursos provocado pelo Estado Novo.

Ele foi de carro porque naquela altura não se podia ir de avião para fugir do país, ainda mais ele sendo contra o regime. Essa viagem, sempre a andar, demorava quarenta e oito horas, mas ele parou para dormir encostado a um poste, ir à casa de banho e comer. Também teve de pedir dinheiro emprestado.

Nos primeiros tempos foi com muita dificuldade ou até mais complicado do que em Portugal, por causa da língua diferente e o menosprezo dos demais habitantes, vinhedos de Chablis ou mais conhecidos como Auxerreois (pessoas naturais de Auxerre). Chegando lá, de madrugada, teve logo de ir trabalhar porque para reembolsar o dinheiro emprestado da viagem a pessoa que o levou tinha de garantir que iria ser pago.

Também na França construiu o seu sonho que era trabalhar de forma e ter estabilidade financeira.

Depois de passar 40 anos em França, sempre voltando ao seu país de origem durante as férias, regressou de forma definitiva quando reformado, Antes do 25 de Abril não podia voltar pois poderia ser preso por ter desertado do país.

Eles voltaram, mas a sua filha ficou por mais um ano onde se acostumou ao “clima” no novo país.

Depois ela voltou para viver com o seu pai Virgílio e com a sua mãe cá em Portugal onde me teve a mim à minha irmã.

O meu avô depois viveu uma vida mais tranquila e com mais recursos, o que era escasso antes do 25 de abril de 1974 em Portugal, construindo a sua casa com mais seis companheiros.

Dedico este texto ao meu querido avô e à minha querida avó. Comparação entre a minha perspetiva da infância do Estado Novo com a de atualmente

Ao fazer esta entrevista a pessoas com mais idade aprendi alguma coisa sobre as suas infâncias, então agora vou dizer diferenças entre a infância de hoje em dia com a de antigamente.

Naquela época havia brincadeiras completamente diferentes como jogar futebol com uma bola de meias, malandrices e muito mais trabalho. Por isso é que as pessoas antigamente arranjavam desculpas para não ficarem em casa, porque senão tinham de arrumar a casa e ir com o gado para o campo.

Castigos mais pesados como cana cabeça e seis reguadas na mão, como um dia que a minha avó faltou às aulas porque a mãe a obrigou a ir com as vacas para o campo num dia de sol quente. No dia seguinte chegou às escadas para ir para aula e as amigas começaram a cantar: Vais levar reguada, vais levar reguada. Chegou à sala e levou com a palmatória para os outros alunos não fazerem igual. A minha avó, inocente, nunca mais faltou às aulas.

Resumindo e concluindo a vida antigamente era mais difícil.

Entrevista ao avô:

Jorge Alberto Pereira de Sousa (por Ruben Sousa)

No trabalho, era normal os homens é que trabalhavam e as mulheres ficavam em casa na maioria dos casos. As mulheres na altura não tinham os mesmos direitos que os homens e os ordenados eram muito baixos.

Na rua havia muita mais segurança, porque toda a gente tinha medo da PIDE (polícia internacional da defesa do estado) havia muitas regras que tinham de ser cumpridas como por exemplo: não se podiam juntar mais de 3 pessoas, porque era considerado ofensa contra o estado; não se podia jogar a bola na rua; “no carnaval estava a brincar com uma pistola de água e a policia apareceu e obrigou-me a mandar para o rio e levou-me para casa”.

Na escola era raparigas de um lado e rapazes do outro, não se misturavam e não havia contacto entre nós. Os professores eram muitos rigorosos e eram autorizados a dar reguadas aos alunos e castigos severos.

Em casa eram tempos difíceis, mas a comida na mesa nunca faltou, não tínhamos televisão, e os meus pais eram muito rigorosos, por volta das 20.30h já estava na cama, havia muitas regras e proibições, mas em relação aos dias de hoje havia mais respeito e segurança no nosso país.

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.