Caraparu e seus encantos

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CARAPARU E SEUS ENCANTOS CELSO LOBO


PROJETO EDITORIAL

CELSO LOBO – DRT/PA 2.905 PROJETO GRÁFICO

MELISSA BARBERY PRODUTORA CULTURAL

ALINE VIEIRA REPORTAGENS E TEXTOS

LUANA LEÃO LOBO – DRT/PA 2.495 REVISÃO DE TEXTO

BRUNA LEÃO LOBO FOTOGRAFIAS

CELSO LOBO – DRT/PA 2.905 ASSISTENTES FOTOGRAFIA

CÁTIA LOBO CAROLINA CALÁBRIA DIANA ARAÚJO TIAGO WILLAM CURADORIA

VALÉRIO SILVEIRA PATROCÍNIO

SHOPPING DA SAÚDE F. CARDOSO & CIA. LTDA. COLABORADORES

DALILA NASCIMENTO DIANA ARAÚJO EDILSON BITAR ÉRICA CINARA SANTOS FATINHA SILVA FERNANDO SETTE IZA GIRARD MANOEL SIQUEIRA MAYCON NUNES MINERVINA SOARES OTAVIO HENRIQUES

COPYRIGHT ©2019 BY CELSO LOBO TODOS OS DIREITOS RESERVADOS PROIBIDA TODA E QUALQUER FORMA DE REPRODUÇÃO DESTA OBRA POR EDIÇÃO, POR QUALQUER MEIO OU FORMA, SEJA ELA ELETRÔNICA OU MECÂNICA, FOTOCOPIA, GRAVAÇÃO OU MEIO DE REPRODUÇÃO, SEM A PERMISSÃO EXPRESSA DO AUTOR. ALL RIGHT RESERVED. NO PART OF THIS PUBLICATION MAY BE REPRODUCED, STORED IN A RETRIVAL SYSTEM OR TRANSMITED IN ANY MEANS, ELETRONIC OR MECHANICAL, BY PHOTOCOPING, RECORDING OR OTHERWISE, WITHOUT PRIOR PERMISION FROM AUTHOR


CARAPARU E SEUS ENCANTOS CELSO LOBO



APRESENTAÇÃO

Pai e filha. Um fotógrafo cheio de habilidades e uma jornalista que traz de herança os mesmos traços de inquietude. Muitas histórias compartilhadas juntam essa dupla de curiosos que se encantam fácil com qualquer beira de rio espelhado. A vontade de eternizar o que foi visto na vila de Caraparu veio sem rodeios. Ela surgiu com a singularidade que vem da religião e da fé, durante uma cobertura fotográfica do Círio de Caraparu feita pelo autor da obra. Depois, ganhou força com a percepção da humildade e, sobretudo, do amor dos moradores por este lugar. “Os caminhos rio adentro, a mistura do rio com a vegetação que parecem ser um só, essa paisagem… realmente é encantador, especialmente para o olhar de um fotógrafo”, reforça o autor do livro, Celso Lobo. Com uma única foto, ele levou Caraparu a Brasília, aos Alpes da Europa Central, Noruega e ao Louvre em Paris. E o que era para ser um livro apenas de fotografias, também traz um pouco do sentimento de quem tem orgulho do lugar onde vive. A propósito, sentimento é o que os trouxe até aqui.

*Todas as histórias contadas no livro foram autorizadas pelos entrevistados, bem como o uso de imagem. Sobre a veracidade, cabe a confiança e os olhos brilhando de cada morador apaixonado.



AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me guiar, sustentar e abençoar com dons, sabedoria e entendimento permitindo a realização desse projeto. Agradeço também a minha família, que junto comigo enfrentaram diversos obstáculos e ajudaram em todos os momentos. Aos moradores da Vila de Caraparu, que sempre me receberam com alegria e muita atenção, aos meus amigos fotógrafos que sempre me incentivaram, e muito. Ao Foto Cine Club Grão Pará, do qual faço parte e sempre esteve ao meu lado apoiando, agradeço do fundo do coração. Um agradecimento especial à Dona Valda Cardoso e Flávio Neto que não hesitaram em patrocinar o projeto. E as pessoas que direta e indiretamente contribuíram para a realização desse trabalho: Abelina Paixão da Silva - Dona Maroca, Antônio Carlos - o Bolacha , Babi Afonso, Dalila Nascimento, Daniel Retto, Eder Souza, Edilson Bitar, Fabio Coutinho, Fatinha Silva, Fernando Sette, Franciel Paz, Graziela Cardoso, Iza Girard, Jair dos Santos Maués, José Sabino, Luiza Moraes de Farias - Dona Lulu, Manoel Siqueira, Maria Rita e Josué Costa, Maycon Nunes, Minervina de Soares, Otávio Henrique, Rita das Chagas, Valério Silveira.



PREFÁCIO É bem provável que uma grande parcela da população paraense ainda não tenha ouvido falar do Rio Caraparu com seu balneário adornando a Vila quadricentenária que surgiu de uma sesmaria do século XVII. Pode-se afirmar, sem falsa modéstia, que o Caraparu é um dos rios mais belos da região metropolitana de Belém. Entretanto, as pessoas, em geral, pouco ou nada viram do Caraparu em anúncios ou propagandas turísticas. É comum também ouvir das pessoas: “Não sei nem onde fica”, “como é que chega?”, “Que lugar lindo! Quero conhecer!”, “Sou do Pará, moro perto e nunca fui lá”. Dentre tantos assuntos dialogados e eventos importantes do cenário Caraparuense, ao longo dos séculos, como por exemplo, pescarias, comícios de caravanas políticas em tempos de eleição, escoamento de produtos agrícolas em pequenos barcos, cortejos fúnebres rumo ao Brajussur, contatos com os mitos lendários das águas, passeios de canoas, círios fluviais, rituais afro brasileiros, e muitos outros, o caraparuenses, orgulhosamente, destaca que este rio foi palco de gravação de seis grandiosos filmes, utilizando os nativos como personagens coadjuvantes em Floresta de Esmeraldas, Selva Viva, Lázaro, Senhora dos Afogados, Brincando nos Campos do Senhor e Conspiração do Silêncio. O Caraparu, rio que deu nome ao distrito Izabelense e nome a Vila, congrega uma natureza, absolutamente fantástica e exótica, com elevada riqueza cultural e uma importância histórica regional fabulosa. Com a obra do fotógrafo Celso Lobo, expondo seu olhar diferenciado e com muita sensibilidade artística e jornalística, retratando, muito bem as belezas e seus encantos, suas fotos alertam para o fortalecimento e a valorização das tradições culturais, conscientização e preservação do Rio Caraparu, passa-se a ter, na verdade, um Caraparu exposto visualmente, para ajudar a disseminar a importância deste local para o Brasil e para o mundo.

MINERVINA SOARES Professora e pesquisadora da historiografia do Município de Santa Izabel do Pará


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Caraparu é uma vila turística localizada no município de Santa Izabel do Pará na região metropolitana de Belém, capital do estado do Pará. Está distante aproximadamente 43 Km da capital. Sendo conhecida como a cidade dos igarapés, Santa Izabel do Pará tem vários balneários e um dos mais conhecidos é o localizado na Vila de Caraparu. O local carrega uma tradição cultural muito forte, herança dos escravos que povoaram a área no período de colonização. Caraparu mantém há mais de 100 anos uma manifestação religiosa marcante e distinta. O círio ocorre sempre no dia 8 de dezembro, data em que os fiéis percorrem as águas do rio que dá nome à vila. 27


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Caraparu é mais que um balneário ecológico. A vila e o igarapé são refúgios para lazer e relaxamento. O visual exótico da floresta amazônica entre o alagado, o reflexo do rio que se torna espelhado em dias de sol e a oferta de paisagens a cada trecho reservam surpresas inesquecíveis. 35


VILA DO CARAPARU Cara pintado Cara folha e cara Parú Peixes dos Igarapés Que entre histórias e bizu Deram o nome A vila de Caraparu Um caboclo Feliz Que pescava Em sua canoa, remava Quando das águas fluiu Um imenso rosto Que lhe assombrara E logo depois sumiu Alguém chegou e perguntou, Qual é o nome do rio? Ao se confundir, Ele disse assim: Caraparu, aqui! Fazer tibum, bum, bum, Nas águas, escuras e gelada Do rio Caraparu. És um paraíso tropical, De Santa Izabel, Um cartão postal. Já fostes, cenário Do cinema nacional Aonde os Índios Se pintavam de orucum E o “Égua de Nós” Vem apresentar, Vila de Caraparu... EDILSON BITAR 36




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CÍRIO DOS FOTÓGRAFOS O Círio de Caraparu se tornou uma atração especial para fotógrafos sedentos por boas paisagens. Os profissionais, assim como todos que acompanham a procissão, iniciam o percurso saindo de canoa da igreja da Vila de Caraparu até uma pequena capela na comunidade do Cacau, caminho que dura em torno de duas horas. Após a missa e a benção aos equipamentos dos Fotógrafos, a procissão faz o trajeto de volta à vila com os fies, visitantes e curiosos que remam em pequenas embarcações acompanhando a imagem de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da vila. 49


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Capela, localizada na Vila do Cacau, é aqui que ocorre uma bênção especial aos fotógrafos participantes. 59


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O RIO QUE FALA Sou o Caraparu cultural Dos banhos e festas Dos filmes, mitos e lendas. Dos portos, barcos e rezas. Da história... Da memória. Socorro! Secours! Soccorso! Hilfe! Help! Agonizando, Cansado, Sem respiração. Desnudo, Sujo, Malcheiroso, Envergonhado, Abandonado. Olham-me com nojo,


Sem afagos, Cochicham com desprezo, Protegem-se para me tocar. Oh! Que saudades! Da orquestra dos pássaros Regida pelo cricrió. Da dança dos peixes, Do aplauso dos grilos, Do pulo dos sapos, Do beijo dos colibris, Da provocação das Jacintas, Do bailado das borboletas, Das serpentes imitando o meu andar, Das travessuras dos macacos, Das piadas dos pescadores, Das crianças a brincar. MINERVINA SOARES


REMANDO Suave a mente se viu Suavemente acompanhando o bailado A embalar o povo do rio Que, sobre as águas, segue na canoa embarcado O Caraparu fez-se em espelho Refletindo a mais magnífica imagem Quiçá é de Deus um conselho: “Ribeirinho, tu és parte dessa paisagem!” E vais remando em meio a Amazônia sob um céu de verdes e mistérios sagrados sobre um rio no qual avanças sem cerimônia Estás, remador, entre as obras do Criador integrado. E a beleza habita todo o espaço Mostra-se nítida em tantos detalhes Remando encontras o que neste rio realmente te vale, Da natureza o mais puro e belo abraço. ÉRICA CINARA SANTOS 92



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Caraparu é um termo tupi guarani que significa inhame manchado de negro (arápará-u). Se refere à uma planta da família das marantáceas. Thalia Geneculata 137


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CARAPARU COMO SET DE FILMAGENS Alguns filmes foram gravados nos rios e florestas do Caraparu: Floresta de Esmeraldas; Selva Viva; Lázaro; Senhora dos Afogados; Brincando nos Campos do Senhor e Conspiração do Silêncio 155


Vaquejada Parque Zangão - Etapa CPV - Circuito ASR de Vaquejada Igor Aragão - Parque do Zangão - Circuito

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Vaquejada Parque Zangão - Etapa CPV - Circuito ASR de Vaquejada Marquinho Boi Na Grota - Parque do Zangão - Circuito

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A Vila de Caraparu apesar de pequena tem muitas histórias capazes de serem ouvidas e escritas. Pessoas como D. Rita, D. Lulu, a professora e historiadora Minervina, o professor Franciel, D. Graziela, Jair das Canoas, o Dr. e Diácono José Sabino, D. Maroca, o professor de história Fábio Coutinho e o Lutador Bolacha, são apenas uma pequena parte desse rio que foi caminho dos índios Tupinambás, acolheu escravos Africanos, imigrantes Europeus, Asiáticos e que hoje continua a escrever a sua história.. 159


As narrativas começam dando voz a uma das moradoras mais antigas da vila. Dona Rita das Chagas tem 99 anos e quase todo esse tempo de vida foi vivendo em Caraparu. “Já morei na beira da rodovia, perto dos bambus. Foi lá que deixei meu marido e vim embora pra cá com 10 filhos”. Sua experiência de vida se resume nos trabalhos na roça produzindo farinha e carvão. Todo esse esforço, o qual ela diz ter saudade, foi para cuidar dos filhos e construir a casa que vive até então. Ao lado da casa de Dona Rita está a calmaria do rio Caraparu. Já o quintal, foi, no passado e por muitos anos, a parte profana do Círio de Caraparu “Depois da procissão começava aqui a festa. Entrava pela noite até umas horas. Já veio Pinduca, o Rancho, o PopSom... tudo aqui no meu quintal. Era um pau de arara, tinha muita gente”. Em um tom de voz lúcido e firme, Dona Rita se declara apaixonada “Nascida, criada e quero ser enterrada aqui. Não troco esse lugar aqui por nada”.

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Ela fala sorrindo, às vezes gargalhando. Diz que aos 88 anos tem muita história para contar e uma delas é sobre sua infância em Carapuru, especialmente do Círio de Nossa Senhora da Conceição. “Quando eu era criança a gente fazia a coroação da santa. Era tão lindo. A gente coroava a santa, enchia os degraus da santa de anjo e cantava a coroação. Era lindo”. Como tantos outros moradores de Caraparu, Luiza Moraes de Farias teve oportunidade de morar numa cidade maior, mas a escolha foi ficar por ali mesmo onde encontrava diversão e sossego. “Papai tinha uma casa em Belém, mas eu pedi pra ele vender pra vim pra cá. Eu gosto daqui. É interior, tem uma animação. A gente está nele é melhor. Quando tem bingo dá gosto de ver”. Dona Lulu é mais uma das fortes mulheres de Caraparu que trabalhou maior parte da vida na roça, produzindo farinha e carvão.

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Ajudar os caraparuenses a conhecer a própria história foi a missão abraçada pela professora aposentada Minervina de Sousa, de 69 anos, durante a implantação da Lei de Diretrizes e Bases em Santa Izabel na década de 70. “Eu que não conhecia a história do município tinha que levar a história para a sala de aula. Eles não sabiam as histórias das comunidades, sabiam a de outros lugares, menos a história de onde viviam”. Conhecer a história para ensinar os demais levou a professora a pesquisar em documentos antigos sobre uma possibilidade da origem do nome da vila, que deriva de Curuperê. “Caraparu, eu li que na língua indígena quer dizer água limpa, água boa, água pura, água própria para beber. (...) ora eles falam Caraparu, ora Curuperê, e ora dizem Carapanã”. Com pesquisas bibliográfica, Minervina estreitou ainda mais a relação com a vila. “Eu gosto de estudar sobre Caraparu pelo diferente. A diferença é que é muito grande para a minha área, Americano. Ali (Caraparu) está o celeiro da escravidão, o celeiro da cabanagem”. A professora aposentada dedica o tempo livre em manter viva a história de Santa Izabel e de como surgiu a vila, os confrontos, a religiosidade, as pessoas – o que torna Caraparu única.

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A riqueza histórica e o contato mais próximo com Caraparu fizeram com que o historiador Franciel Paz estudasse as origens do povoado. Em 2007 ele destacou as narrativas míticas do lugar e, um tempo depois. fez o trabalho “Correntezas contra correntezas”, que mostra a devoção mesmo com as adversidades da natureza. “Esse termo foi por causa de um dos círios que fui e fiquei abismado. Antes de dezembro acontece uma estiagem na Amazônia (...) então, em alguns círios aconteceu o que eu vi naquele círio: o rio estava seco”. Franciel Paz conta que o círio começou na terra com uma novena na Vila do Cacau, pois Caraparu ainda não existia até 1917. “O primeiro círio foi em 8 de dezembro de 1905 e o primeiro fluvial ocorreu em 1918. O contexto do círio está todo relacionado ao rio. (...) eu acredito que foi a força da tradição eu fez os idealizadores fazerem o círio”. O imaginário popular da vila de pouco mais de 2 mil habitantes também foi observado pelos olhos do historiador. As origens genéticas foi outro ponto das pesquisas de Franciel Paz. “Tem comunidade que a população é muito negra e que conserva a tradição negra. Em Caraparu é mais misturada a população. A questão genética é muito forte”.

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De origem humilde e descendente de africanos, a professora aposentada Graziela Ferreira da Silva Cardoso, de 83 anos, lembra da saudosa infância em Caraparu. “Eu morava na margem esquerda do Rio Caraparu em um sítio chamado Outeiro. Minha infância tinha uma casa no alto, tinha plantações. Meu pai era lavrador, a gente brincava, eu sou da roça mesmo”. A relação com círio fluvial da vila começou muito cedo, ainda quando criança, e foi baseada na devoção à Nossa Senhora da Conceição. “Amo esse círio. Eu saía de anjo quando criança, ia na embarcação. Sempre participei da igreja, sempre fui católica e tenho fé em Deus de não mudar. Eu tomei de conta dessa igreja durante vários anos”. Apesar de não mais acompanhar o círio, Graziela contribui e participa como pode para que ele seja realizado. Com o tempo, também percebeu as mudanças que a manifestação religiosa tem. “Eu tenho saudades do círio da minha época, tinha mais respeito, mais união, era mais participativo”. Graziela não se vê morando em outro lugar e deixando para trás o clima e a tranquilidade da vila. “Meus filhos querem me levar de Caraparu, eu não quis ir não. O que eu mais gosto de Caraparu é essa paz, a água, o clima. Eu sou cabocla do mato, eu não invejo cidade não”.

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Aos 46 anos, Jair dos Santos Maués tem uma única certeza: Caraparu é o seu lugar. “Não tenho vontade de sair, nem dou conselho para as minhas filhas saírem. Acho muito bom viver aqui. Gosto desse negócio de canoa, de morar aqui, quando quero pegar um peixe eu vou”. O “negócio” a que Jair se refere é o que complementa parte da sua renda. O aluguel de canoas cresce no período de férias, em julho, e em dezembro, durante o Círio de Nossa Senhora da Conceição. Embora seja evangélico, ele está envolvido com o círio há 25 anos não só com o aluguel das pequenas embarcações, mas também ajudando os visitantes com informações turísticas. “Eu organizo para quem quer ir na canoa, quem vai remar, quem vai em cada canoa. Comecei com uma canoa, depois fui comprando uma, duas e hoje tenho 20 canoas”. Para Jair, os caminhos rio adentro são o símbolo mais forte de Caraparu.

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José Sabino Faro Barros não nasceu em Caraparu, mas quando olha para trás não vê a sua infância longe da vila. “Quem nasceu aqui foi minha mãe. Meu pai em Santa Izabel. Nas férias tinha muito futebol, igarapé, o convívio com meus avós, pesca, essas coisas de interior. A gente aproveitava muito o lugar”. Com uma relação forte com o círio, Sabino, como é conhecido na vila, presidiu por alguns anos a festividade de Nossa Senhora da Conceição. “A gente fica emocionado porque quando vê a realização, muita gente participando e a devoção do povo à Nossa Senhora”. Diácono na vila há 29 anos, ele também cuida da saúde bucal da população no posto de saúde de Caraparu. “Formei em odontologia no ano 1973, em Belém. Voltei pra Caraparu porque, no fundo, eu tenho uma dívida social com o povo daqui eu tive que voltar pra prestar um serviço pra eles. Tenho prazer em trabalhar aqui”. Embora tenha se afastado para estudar, Sabino nunca rompeu os laços que unem a sua história com Caraparu.

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Nascida e criada na Vila de Caraparu, Abelina Paixão da Silva, de 75 anos, participa do círio fluvial desde os 11 anos quando começou a cantar na igreja e na procissão. “Ainda vou ao círio mesmo tendo outro grupo mais novo que canta. Eu ia ao círio cantar na canoa da Santa, rezar. Eu gosto de tudo no círio (...), participo das novenas e missas, graças a Deus”. 8 de dezembro é marcado pela descida da imagem de Nossa Senhora da Conceição no rio dando início ao círio. Dona Maroca, como é conhecida, sempre acompanha o cortejo. “Tem a canoa dela que desce, levam de manhã. Tem a capela lá. Umas 8 horas sobem com ela de novo para que ela ganhe as ruas e depois vai para igreja onde tem missa”. O amor pelo círio se compara a paixão que a Dona Maroca tem pelo rio. O sentimento é compartilhado com os mais novos da família. “Eu pescava muito com meu pai, sou acostumada a andar nesse rio. Eu pilotava a canoa enquanto ele ia pescando. Eu tinha uns 9, 10 anos e já pescava (...). Converso com meus netos sobre quando eu ia para o igarapé pescar”. Também foi pelas águas de Caraparu que Dona Maroca saiu jovem para trabalhar em Belém, mas retornou à casa dos pais para morar definitivamente na vila.

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Foi a vontade de conhecer o mundo através dos livros que levou o professor de história Fábio Farias a sair de Caraparu para encontrar sua vocação. “Eu precisava estudar e fazer uma coisa diferente em Caraparu. Minha mãe gosta de falar isso com muito orgulho, pois não se tinha esse negócio de estudar para vestibular”. Essa decisão foi conduzida pelo envolvimento que Fábio teve nas atividades da igreja católica. Ele passou pelo seminário, foi catequista, coordenou a igreja, o círio e a organização das canoas para a festividade de Nossa Senhora da Conceição. “Eu era daqueles que até tantas horas da madrugada estava varrendo a igreja, ajudando a berlinda”. Fábio conta que o círio se originou no período em que as famílias portuguesas dominavam a região. A escolha de um padroeiro se dividia entre duas opções: São Pedro e Nossa Senhora da Conceição. “Dentro desse processo, o grupo que queria Nossa Senhora da Conceição ergueu aquela igreja. O outro grupo que queria São Pedro fez a metade de uma parede, o alicerce e a base. Eles perderam a disputa”. Hoje, a cada círio, o professor lembra com emoção do que viveu por muitos anos. “Eu me comovo muito às 5h da manhã quando o sino toca, começa a alvorada e os barcos vão saindo (...) quando eu escuto de casa, aquilo me emociona porque era eu que tocava aquele sino”.

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Crescer vendo as mudanças no rio, na infância ir à escola de canoa e a cavalo, brincar às margens das águas que até hoje sustentam a família. Assim tem sido a vida de Antônio Carlos, o Bolacha, de 50 anos. “Sou nascido e criado em Caraparu, sempre morrei aqui assim como meus pais. A relação que tenho com o rio é desde criança, passeando, brincando... Conheço todas as curvas desse rio”. A história de Caraparu e do agente penitenciário que faz serviços de guia turístico é mais forte que qualquer relação. “Daqui não saio, eu amo muito aqui (...) meu descanso é nesse rio. Chego em casa depois do trabalho e venho para cá. Minha vida é preservar esse rio”. Bolacha sabe da importância do rio aos moradores de Caraparu e que somente a preservação pode manter a beleza natural da vila, que recebe mais turistas em Julho. “Se acabar esse rio, todos nós acabamos, porque é ele a fonte de vida de muita gente daqui. Tem muitas famílias que vivem dele”. Caraparu tem encantos que poucos ainda conhecem, mas Bolacha, sempre que pode, leva turistas para desbravar as maravilhas da vila e do rio. “Eles ficam encantados, dizem que é coisa de cinema, coisa linda mesmo. As pessoas que não conhecem e que queiram conhecer, Caraparu está de braços abertos”.

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EXPOSIÇÕES Exposição Ver-a-Cor – Parque Shopping Grão-Pará – Mai . 2016 Exposição Belém 400 Anos – 4º Festival Int. Cacau Amazônia – Set . 2016 Exposição no Carrossel Du Louvre em Paris – Out.2016 II Salão de Arte Brasileira – Vaduz Saal – Liechetenstein – Jun . 2017 Festival Brasília Photo Show – Brasília – Shopping em Brasília – Jun . 2017 Entre Cores – Coletiva - Shopping Cassino Atlântico-RJ – Ago . 2017 Cultural Week Brazil-Norway 2017 - Embassy of Brazil in Oslo – Set . 2017

PREMIAÇÕES Brasília PhotoShow – Medalha de Prata – Nov . 2016 Exposição Belém 400 Anos – 4º Festival Int. Cacau Amazônia – Set . 2016 Cultural Week Brazil-Norway 2017 - Embassy of Brazil in Oslo – Set . 2017 IV Prêmio de Jornalismo em Turismo Comendador Marques dos Reis Nov . 2017 ABRAJET – 1º Lugar 171


Em Pé da Esquerda para direita: Cláudio Ferreira, Hélder Serralva, Socorro Simonetti, Madson Melo, Bob Menezes, Maycon Nunes, Fernando Leitão, Celso Lobo, Pedro Fonteles, João Bosco e Armando Soares. Agachados da Esquerda para direita: Cezar Magalhães, Babi Afonso, Eder Souza, Jaime Veras e Otavio Henriques

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Foto Diana Araújo

Foto: Iza Girard

Foto Dalila Nascimento

Foto: Otávio Henrique

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Nasci e vivo em Belém do Pará, desde muito novo tenho relação com a arte, apesar da minha formação em Licenciatura em Matemática, trabalhei por vários anos com serigrafia, mas minha paixão pela fotografia sempre falou alto. Em 2007, comecei a fotografar e aprofundar meus conhecimentos em fotografia, participando de congressos, workshops e cursos intensivos com renomados fotógrafos nacionais e internacionais e em 2009 comecei a fotografar profissionalmente. Por transitar entre universos distintos, com uma fotografia marcante nos eventos (fotografia social) e de observação nas paisagens de natureza (autoral), sempre priorizei a luz natural.

CELSO LOBO Fotojornalista

A cada dia entendo mais o poder que a fotografia tem e a mensagem que ela pode deixar. Talvez este seja o maior e melhor desafio da minha vida: converter cliques em sorrisos sinceros, contar histórias, reviver os momentos e mostrar através de belas imagens, paisagens e instantes que as pessoas muitas vezes não percebem. Isso é que me satisfaz, essa é minha motivação. MEMÓRIAS que ficarão ao alcance de seus olhos, e conectados com o seu coração. O reconhecimento do meu trabalho como fotógrafo confirma minha paixão e dedicação pela fotografia. A partir de 2016 tem sido recompensador. Minhas fotografias correram o “mundo” e ganharam reconhecimento nacional e internacional.

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EXPOSIÇÕES EXPSIÇÃO BRANCO E PRETO NO CCBEU – JULHO DE 2014 EXPOSIÇÃO NA II EDIÇÃO DO BOULEVARTE – SETEMBRO DE 2015 EXPOSIÇÃO OLHARES – GALERIA DO RESTAURANTE SPAZZIO VERDI – OUT/2015 EXPOSIÇÃO BELÉM 400 ANOS – PARQUE SHOPPING GRÃO-PARÁ – JAN.2016 EXPOSIÇÃO VER-A-COR – PARQUE SHOPPING GRÃO-PARÁ – MAI.2016 EXPOSIÇÃO BELÉM 400 ANOS – IVº FESTIVAL INT. CACAU AMAZÔNIA – SET.2016 EXPOSIÇÃO BELÉM EM EXPOSIÇÃO (CÍRIO) – S. BOSQUE GRÃO-PARÁ – OUT.2016 EXPOSIÇÃO NO CARROSSEL DU LOUVRE EM PARIS – OUT.2016 II SALÃO DE ARTE BRASILEIRA – VADUZ SAAL – LIECHETENSTEIN – JUN.2017 FESTIVAL BRASÍLIA PHOTO SHOW – BRASÍLIA – SHOPPING EM BRASÍLIA – JUN.2017 ENTRE CORES – COLETIVA - SHOPPING CASSINO ATLÂNTICO-RJ – AGO.2017 CULTURAL WEEK BRAZIL-NORWAY 2017 - EMBASSY OF BRAZIL IN OSLO – SET.2017 NOWRUZ 2017 – INTERNATIONAL SALON OF PHOTOGRAPHY – TAJIKISTAN – SET.2017 EXPOSIÇÃO NO CARROSSEL DU LOUVRE EM PARIS – OUT.2017 V FESTIVAL INTERNACIONAL DO CHOCOLATE E CACAU E FLOR PARÁ 2018 – SET-2018 EXPOSIÇÃO NO CARROSSEL DU LOUVRE EM PARIS – OUT.2018 1ST CIRCULAR EXHIBITION OF PHOTOGRAPHY – “EURO CIRCUIT 2018” – SALON SERBIA PREMIAÇÕES BRASÍLIA PHOTOSHOW – MEDALHA DE PRATA – NOV.2016 EXPOSIÇÃO BELÉM 400 ANOS – 4º FESTIVAL INT. CACAU AMAZÔNIA – SET.2016 CULTURAL WEEK BRAZIL-NORWAY 2017 - EMBASSY OF BRAZIL IN OSLO – SET.2017 NOWRUZ 2017 – INTERNATIONAL SALON OF PHOTOGRAPHY – TAJIKISTAN – SET.2017 IV PRÊMIO DE JORNALISMO EM TURISMO COMENDADOR MARQUES DOS REIS NOV.2017 ABRAJET– 1º LUGAR V FESTIVAL INTERNACIONAL DO CHOCOLATE E CACAU E FLOR PARÁ 2018 – SET-2018 1ST CIRCULAR EXHIBITION OF PHOTOGRAPHY – “EURO CIRCUIT 2018” – SALON SERBIA MEMBRO DE ASSOCIAÇÕES FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS – FENAJ INTERNATIONAL FEDERATION OF JOURNALISTS – IFJ INSPIRATION PHOTOGRAPHERS PHOTOGRAPHIC SOCIETY OF AMERICA – PSA FOTO CINE CLUB GRÃO PARÁ – FCCGP DIVINE ACADÉMIE FRANÇAISE DES ARTS LETTRES ET CULTURE – PARIS - EMBAIXADOR

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