JornalEco - 8ª edição / junho de 2009

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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra

8ª edição - junho/2009

Qual o impacto da produção dos alimentos na natureza? Gabriela Perufo

Saiba a diferença entre os alimentos orgânicos dos ecológicos e faça a escolha certa

Como reaproveitar a água da chuva

Que destino dar às garrafas?

Através do estoque da água da chuva (acima na caixa d’água), a escola Providência economiza, cuida do meio ambiente e ainda dá lições de educação ambiental.

No curso de Engenharia Ambiental, alunos transformam garrafas pet em captor solar. Outro projeto substitui até 25% da areia ou brita por garrafas long neck.

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Respeitar o meio ambiente foi a lógica por milhões de anos para a produção de alimentos. O homem sabia que dependia da natureza para continuar produzindo. Hoje, o modelo de produção causa danos ambientais sem precedentes. A agricultura deve conviver com o ciclo ecológico da natureza para preservá-la. Descubra aqui porque as florestas brasileiras estão virando pasto e soja. E ainda: prestar atenção no que consumimos é uma lição básica da sustentabilidade. É preciso que os consumidores prestem atenção no que levam pra casa. O custo de sua alimentação pode ser a destruição do sistema em que vivemos. Páginas 8, 9 e 10

E-lixo: veja o que fazer com ele

Com a popularização dos computadores, a quantidade de lixo eletrônico já chegou à casa de 50 milhões de toneladas no mundo, representando 5% de todo o lixo produzido pela humanidade. Página 5


2 Editorial Produzir um jornal centrado em soluções para o meio ambiente. Este foi o foco desde o começo, ao se pensar na oitava edição do JornalEco. Mudar a perspectiva, perpetuando formas inteligentes e sensatas para lidar com questões ambientais que se fazem urgentes, frente aos desgastes que a natureza tem sofrido ao longo do tempo. Nesta direção, você encontra neste JornalEco atitudes que fazem diferença, soluções para o esgoto das empresas, exemplos de reaproveitamento de água, soluções caseiras que servem de incentivo para que cada um faça a sua parte, além do alerta: é preciso mais educação. Muitos problemas relativos ao meio ambiente devem-se a falta de consciência ambiental de cada um de nós. Saiba ainda que escolher bem os alimentos que você consome é importante não só para sua saúde, mas também para o planeta. Na reportagem “Você tem fome de quê?” são encontradas informações sobre as consequências da monocultura, a importância de valorizar a biodiversidade e o quanto a produção dos alimentos pode degradar o meio ambiente. Mas, nesta tarefa de encontrar e divulgar soluções e exemplos de cuidados com a natureza, os acadêmicos do 5o semestre de Jornalismo da Unifra depararam-se com muitas situações ainda desafiadoras. É o caso do lixo eletrônico que, na maior parte dos casos, não tem destino correto. Isso também acontece com os pneus, que entulham espaços nas revendedoras e oficinas até seguir um longo percurso para Curitiba onde são reaproveitados. Entre boas notícias e questões ainda a serem resolvidas, o que o leitor vai encontrar nestas páginas é uma proposta de tratar o meio ambiente com a atualidade que o tema merece, traçando perspectivas positivas para que todos possamos ter clareza dos problemas, lembrando sempre das soluções possíveis. Boa leitura!

Expediente Jornalismo Especializado I, 1º semestre de 2009, do curso de Comunicação Social - Jornalismo, do Centro Universitário Franciscano Reitora: Iraní Rupolo Diretora de área: Sibila Rocha Coordenadora do Jornalismo: Rosana Zucolo Professora orientadora: Glaíse Bohrer Palma (Mtb 8531) Reportagem e textos: acadêmicos Alice Balbé, Ana Gabriela Vaz, Ananda Delevati, Andrez Granez, Bárbara Weise, Camila Gonçalves, Camilla Lopes, Caroline Cechin, Cassiano Cavalheiro, Dinis Cortes, Elenice Ballejos, Evandro Sturm, Flavia Alli, Francine Boijink, Gilberto Rezer, Gilkiane de Mello, Joyce Noronha, Juliane de Souza, Letícia Sarturi Isaia, Luísa Schneiders da Silva, Maitê Vallejos, Marcia Marinho, Marta Kochann, Mateus Godinho, Nathiele dos Santos, Nicole Tirloni, Potira Souto, Rafael Krambeck, Thaís Bueno, Tiane Canabarro, Vanessa Moro, Vinicius Ferreira. Edição de fotografia: profª Laura Fabrício e acadêmicos / Laboratório de Fotografia e Memória Diagramação: Iuri Lammel Marques Impressão: Gráfica Gazeta do Sul Tiragem: 1 mil exemplares - distribuição gratuita

Povo instruído faz, sim, a diferença! F

az cinco anos que moro em Santa Maria e sempre tive vontade de conhecer a estrada do Perau, ligação entre Santa Maria e Itaara. Ouvia muito dizer que era um lugar bastante bonito, tranqüilo e com paisagens maravilhosas. Meu pai sempre dizia que ocorriam muitos assaltos e que o local era perigoso. Um dia resolvi afrontar o “perigo”. Subi a serra e me deparei com uma vista surpreendente, um lugar calmo e com uma rica biodiversidade da fauna e da flora. A partir daí, comecei a freqüentar o local sempre que podia. Para surpresa do meu pai, nunca aconteceu nenhum contratempo comigo. No ano passado, a estrada do Perau foi revitalizada. A obra, patrocinada pelo governo federal, deixou o local apto para ser um ponto turístico. Foram construídos mirantes, calçada para pedestres com várias lixeiras distribuídas nos quase sete quilômetros de estrada, estacionamentos e áreas de convivência. O Perau ficou maravilhoso, um lugar para ir passear com a família e para os turistas visitarem.

Hoje, fico triste ao falar no Perau. Cinco meses após a revitalização, o local não é o mesmo. Claro, os mirantes, a calçada, algumas lixeiras, ainda estão por lá (até quando não sei), mas marcados pela passagem do vandalismo. No início, até pensei que a má conservação fosse de total culpa das prefeituras das duas cidades (minha professora Glaíse que conte minha indignação), mas acabei mudando de opinião, ao entrevistar as pessoas que moram e que passeiam por lá nos finais de semana. O que era para ser um ponto turístico, virou um local de baderna. Ao visitar a estrada do Perau neste domingo, cheguei à conclusão que o povo realmente é mal-educado. Até quando conviveremos com a estupidez humana? O vandalismo é uma realidade de cidades de qualquer porte, inclusive Santa Maria. Na estrada do Perau vai desde jogar o lixo no chão e depredar as lixeiras, até pichar os locais que os próprios “manifestantes” frequentam em suas horas de lazer. O que eles pensam é

que estão deixando sua marca na sociedade. Ouvi muito, durante minha vida, dizer que as pichações são formas de protestar. Mas porque as pessoas não protestam na parede de suas casas? A meu ver, é porque as pichações são formas de afrontar às ordens e o patrimônio coletivo e, por isso, são feitas em lugares públicos. O problema não é só carência de educação, mas também, penso eu, por problemas psicológicos e afobação de manifestarem-se diante da sociedade. O que nos deixa mais tristes é a desanimante constatação de que ainda existem pessoas sem consciência ambiental. Assim, fico me perguntando como funciona a cabeça de uma pessoa que come um salgadinho e joga o pacote pela janela do carro. A falta de conservação não depende só das prefeituras, mas da população e de todas as classes! Tudo tem sua razão. E a destruição do patrimônio público? Ainda não descobri seu total motivo. Se é que o tem! Ana Gabriela Vaz

Enquete: O que você acha que deve ser feito para melhorar a conservação do meio ambiente na Estrada do Perau? fotos ana gabriela vaz

“Não jogar lixo no chão. Acho que só colocando um guarda 24 horas para conservar o local limpo.”

Cristiane Ramos, freqüentadora do local.

“Esse é um problema cultural de todo país. Não é só aqui que existem esses problemas.”

Rodrigo Vieira e Cláucia Honnef, primeira vez que visitam o local.

“Eu acho que tudo depende da educação do povo. A parte de Itaara é mais conservada que a de Santa Maria.” Georgina da Silva França, moradora e dona de estabelecimento do local.

“A comunidade mais os dois municípios devem se unir e entrar em comum acordo. Colocar alguém para fiscalizar. Cada município deve fazer sua parte, pois é a história de Santa Maria que aqui está e deve ser conservada. O que precisa é boa vontade e atitude.”

Valmor Bona, freqüentador do local.

“Educar o povo é o mais importante. Não jogar copos plásticos ou garrafas no chão como a gente vê aqui.” Jairo Medeiros, freqüentador do local.

“Eu acredito que falta comunicação. Devem-se fazer projetos para lembrar da conservação e não bagunçar.” Elisabeth da Silva Pereira, freqüentadora do local.

“A conscientização da população, não jogar lixo e nem quebrar o que foi construído. O Perau tem tudo para ser atração turística.” Maria França, dona de estabelecimento do local.


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inanças, clientes e colaboradores não são mais as únicas preocupações de uma grande empresa. Em pleno século XXI, quando o aquecimento global atinge pessoas de todas as classes sociais, responsabilidade ambiental entra no hall dessas inquietações. Pensando nisso, a Cooperativa Tritícola Sepeense (Cotrisel), de São Sepé, aproveitou a inauguração do prédio onde funciona seu hipermercado para instalar um sistema de tratamento de esgoto do empreendimento. O terreno fica próximo ao lajeado do moinho e, desde que foi comprado, despertou questões sobre como o projeto poderia evitar a degradação do manancial. A Cotrisel tem como carro chefe o recebimento, beneficiamento e comercialização do arroz. Ela também recebe outros grãos, possui fábrica de rações, assistência técnica agrícola e veterinária, posto de combustíveis, financiamentos a cooperados e uma rádio AM. O meio encontrado para solucionar o problema, foi contratar uma empresa, de Frederico Westfallen, que fornece os sistemas de tratamento. De acordo com o engenheiro da empresa, Genésio Rigo, os sistemas são fabricados em material resistente, leve, anticorrosivo e de fácil instalação. Todos os modelos geram efluentes que retornam à natureza de duas formas: esgoto final tratado e lodo decomposto, o último formado pela decomposição da matéria orgânica, com a vantagem de não afetar o meio ambiente. Eles recebem todo o volume de esgoto sanitário, proveniente dos vasos, pias, lavanderia, cozinha, exceto água da chuva e fazem o tratamento de qualquer tipo de estabelecimento. Segundo ele, o sistema funciona sem necessidade de manutenção. Apenas a assistência técnica é dada, incluindo orientação para instalação, realização da limpeza periódica da fossa e do filtro, sendo que a freqüência varia para cada modelo e tamanho. A responsável pelos projetos de Meio Ambiente na Cotrisel, Helda Gressler, disse que a principal preocupação da empresa quando construiu o prédio era o Lajeado. A fonte atinge três bairros da cidade. De acordo com o chefe do setor de Meio Ambiente da prefeitura de São Sepé, Pedro Renato Silveira, nesses bairros acontecem freqüentes inunda-

Zizi Machado

Sistema de tratamento foi instalado na inauguração do mercado, em novembro de 2008

ções por causa da retirada da cobertura vegetal original e também em função da poluição. Tudo isso em função da ocupação urbana. Para ele, a contribuição da Cotrisel foi fundamental para a preservação do Lajeado. (Outro) Bom exemplo Responsabilidade ambiental também é compromisso de uma empresa de abate de animais de Santa Maria. O frigorífico Silva atua no mercado do estado desde a década de 70. Para preservar a natureza e manter o ambiente de trabalho saudável, a empresa implantou, desde sua fundação, o sistema primário que separa os resíduos sólidos. Posteriormente, houve a necessidade de um sistema secundário, onde o efluente passa por vários processos de filtragem. Tudo começa pela peneira, onde o material coletado é enviado para dois tanques de decantação: o verde com estercos, detritos estomacais e ruminais e o vermelho com os restos da produção. Então o flocodecantador remove o lodo, os aeradores agitam a água para facilitar a oxigenação, as lagoas aeróbias decompõem a matéria orgânica com a presença de oxigênio e as anaeróbias decompõem sem a presença de oxigênio. O frigorífico investe constantemente na estação de tratamento de efluentes. O monitoramento, responsabilidade e assessoria ambiental é prestada por uma empresa de consultoria ambiental de Pelotas. Segundo o tecnólogo em saneamento ambiental da empresa, Leandro Gomes, esse acompanhamento é vital para pre-

servar o meio ambiente e manter o frigorífico cumprindo as normas pré-estabelecidas pelos órgãos fiscalizadores. Todos os meses são enviados a instituições como a FEPAM (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) dados da vazão e volume dos efluentes tratados e informações dos resíduos sólidos e seus destinos. Para o veterinário do frigorífico, Tiago Pretto, o tratamento dos efluentes é vantajoso, pois diminui odores do ambiente, reduz a carga biológica em torno da empresa, evita a proliferação de pragas e, naturalmente, preserva o meio ambiente tornando o clima mais ameno. Mensalmente são abatidos de 5 a 10 mil rezes (gados), gerando um acúmulo de água e lixos sujos. Os resíduos sólidos são doados a pequenos agricultores que utilizam como adubo, os ossos e restos das carnes são vendidos para a fabricação de ração e os resíduos líquidos, depois de tratados, são devolvidos à natureza que termina o processo com sua filtragem biológica. O compromisso do frigorífico não é somente com a água e o lixo. Há ainda o recolhimento de pilhas e lâmpadas fluorescentes e envio para reciclagem, a doação de papelão e plásticos a uma instituição carente e a plantação de mudas de árvores nativas no parque industrial do frigorífico. Um ótimo exemplo de responsabilidade ambiental, em um tempo onde a atitude de cada um faz toda a diferença. Bárbara Weise e Camila Gonçalves

Contêineres: solução ou problema? O que era para ser uma solução, para alguns acabou virando um problema: a instalação dos contêineres como nova forma de coleta de lixo. O sistema moderno de coleta foi instalado em novembro de 2008 pela prefeitura de Santa Maria. Na coleta conteinerizada ou tradicional o lixo é coletado sem separação e então passa por uma triagem na empresa de Tecnoresíduos (no novo aterro sanitário), onde os recicláveis são então compactados para posterior reciclagem e os orgânicos são devidamente dispostos no aterro sanitário (disposição final). Um dos maiores alvos de reclamações da população é a superlotação nas lixeiras, afinal, são poucas lixeiras distribuídas, havendo cerca de 400 contêineres para toda a cidade. A estimativa do projeto era que as lixeiras estivessem a uma distância de 50m uma da outra, porém com a falta de contêineres, em alguns lugares a distância é um pouco maior. Para o secretário de Proteção Ambiental, Laurindo Lorenzi Filho: “Não é possível que a coleta seletiva não seja implantada na cidade. O projeto foi mal elaborado, mas o sistema é bom”. Para conseguir extrair o lixo reciclável de dentro dos contêineres, os catadores usam varas, ou mesmo as próprias crianças entram para tentar separá-lo, correndo inúmeros riscos de saúde. Para o clínico-geral César Augusto Morejón: “Em todo o lixo existem elementos da contaminação. As pessoas largam todo o tipo de material, inclusive restos de medicamentos, alimentos, podendo causar ferimentos, tétano, principalmente doenças infecto-contagiosas. As crianças, que normalmente já possuem uma imunidade baixa, correm ainda riscos maiores”. Muita polêmica surgiu após a instalação das lixeiras, tanto contra como a favor do novo sistema de coleta. Para a agente de trânsito da Zona Azul, Vanessa Machado, 28 anos: “acho que

não mudou muito, ainda tem muito lixo no chão. Falta a conscientização do povo em colocar o lixo dentro da lixeira”. De acordo com o autônomo Dari Pedro, 51 anos: “A ideia é boa, o uso é que está errado. É necessário educar o povo para a coleta do lixo, os catadores deixam o lixo todo no chão”. Segundo alguns catadores, agora a coleta está mais difícil para eles, que antes conseguiam visualizar o que era reciclável. Agora, com as lixeiras altas e fundas, é necessário a entrada dentro delas para recolher o material reciclável. Geralmente, quem sofre com isso são as crianças que, por serem menores, se obrigam a mergulhar no meio do lixo. O adolescente R.B, catador de apenas 15 anos, já tem uma obrigação nas costas; ajudar sua família com a renda do material que recolhe das ruas. Depois da instalação do novo modo de coleta, o jovem começou a sentir muitas dificuldades no trabalho. “Agora tenho que ficar entrando dentro das lixeiras. Antes separavam, mas agora colocam tudo junto. Já encontrei até cachorro e gato morto. Além disso, antes rendia bem mais material, e ainda estão pagando menos pelo lixo. Cada dia tá mais difícil”, diz ele. O adolescente, que sonha em ser bombeiro, costumava fazer sempre o mesmo roteiro, mas depois das instalações teve que aumentar algumas quadras, para recolher mais material. De acordo com o secretário Lorenzi Filho, houve um impacto social muito grande com as novas lixeiras: “Estamos trabalhando para uma coleta modernizada, repensando paradigmas desse modelo de acordo com os recursos da prefeitura”. Se cada um fizer sua parte, colocando o lixo dentro dos contêineres e não nas ruas, já é um começo. Colabore, o futuro é de todos nós. Nicole Piera Tirloni Giulianno Olivar

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Iniciativas empreendedoras

Lixo fora dos contêineres continua sendo problema


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Natureza: atitudes que fazem a diferença

prendemos mais com os exemplos do que com o diálogo. É assim que o Grupo Bandeirantes da Serra (GBS) age em todas as suas atividades. As ações desenvolvidas pelo grupo são cheias de emoção, adrenalina e aventura, tudo isso aliado à prática da conscientização ambiental. Em cada caminhada, escalada, palestra e atendimento desenvolvido, o alerta é sobre os cuidados que se deve ter com a natureza. Promover ações locais e colocar em exercício a consciência ambiental, além de divulgar os impactos que nossas ações causam ao meio ambiente, são as preocupações do GBS. Algumas pessoas pensam que, para fazer uma atividade ao ar livre, basta combinar com os amigos, arrumar a mochila e sair sem preocupação. Numa palestra sobre montanhismo o fotógrafo Lauro Alves e o geólogo Guilherme Rocha alertaram para o perigo que existe nesta prática. Os equipamentos usados são feitos com material próprio para a segurança, alguns deles suportam o peso de até seis toneladas. Lauro afirma que tudo é testado e cada corda é específica para a atividade a ser desenvolvido. Desse modo, a segurança é máxima. Esporte e o meio ambiente Escaladas, caminhadas, ciclismo, rapel, treinamentos, resgates, cursos, montanhismo são algumas atividades promovidas dentro do grupo Bandeirantes da Serra. Porém, os jovens esportistas fazem programações especiais abertas ao público. Eventualmente, essas campanhas ocorrem para “lembrar” as preocupações com as questões ambientais. Essas atividades são divididas em público externo e interno, havendo ações em eventos e datas festivas, como nos 150 anos de Santa Maria. Na ocasião, o GBS promoveu uma caminhada pelo Morro do Carmo com plantio de mudas e orientações sobre como funciona o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) Dores nas pernas, corpo dolorido, mas com um tremendo bem estar interior e a alma realizada. Essas são as lembranças da caminhada que a estudante de Jornalismo da Unifra, Vanessa Barbieri Moro, 21, recorda. “Esta atitude demons-

Uma montanha de lixo foi o resultado do mutirão realizado na barragem Vacacaí-Mirim, com a participação de diversas instituições

Com belos cenários são passadas dicas e orientações em todas as atividades do GBS (Pedra da Fêmea – Morro do Carmo)

tra a preocupação ambiental, além de provocar o lado crítico e reflexivo”, revela a estudante que participou da caminhada em comemoração aos 150 anos de Santa Maria. Incentivo a educação ambiental Um exemplo de atuação do GBS na preservação do meio ambiente é a participação no Programa Pega Leve. Uma maneira divertida e cheia de conhecimento sobre educação e consciência ecológica. Mostrar para as pessoas a noção de que elas precisam rever suas atitudes e repensar que a cada dia perde-se parte das belezas naturais das nossas paisagens. Introduzir novos conceitos e formas de se relacionar com o meio ambiente é uma missão a longo prazo. Os montanhistas aderiram a conservação e ao desenvolvimento humano nas suas práticas

através de um sistema de dicas e orientações simples que ajudam a proteger o meio ambiente e a reverter os danos. A educação e consciência ambiental através de práticas esportivas contribuem para o comportamento ético. Em Silveira Martins, uma parte da propriedade da Quinta Dom Inácio está sendo transformada pelos integrantes do grupo em Patrimônio Cultural de Conservação de Uso Sustentável. Após ser reconhecida, a área só poderá ser explorada pelo ecoturismo e turismo de aventura. Aprender para cuidar Trilhas, cascatas, animais silvestres e aventuras. Em maio, o grupo iniciou o curso básico de montanhismo no Colégio Técnico Industrial de Santa Maria na UFSM. Os interessados em aprender o histórico, os tipos de escalada, os equipamentos e a questão ambiental como

Fotos Arquivo gbs

abordagem na ética do esporte tiveram uma demonstração de como funcionam as atividades dos Bandeirantes. Seis pessoas foram instigadas a participar da seleção para experimentar na teoria e na prática o esporte. O contato com a natureza e a atenção para não poluir os lugares são os princípios adotados pela amadora Gláucia Xavier Josende, 47 anos. “ Há dez anos atrás, as trilhas por onde passávamos eram muito mais limpas”, relembra Gláucia. A exploração dos picos foi um fator abordado nos diversos temas incluídos no plano de ensino. O curso acontece nos finais de semana e dura dois meses. O geógrafo Guilherme Rocha, coordenador técnico e secretário do grupo, relata que há um futuro projeto que envolve as crianças. “Já que tudo provem da educação, nada melhor do que começar por eles”, diz Rocha. Este projeto é o Montanhista Mirim,

um curso voltado às práticas e a teoria da conscientização ambiental para crianças de 07 a 14 anos, já que acreditar na recuperação do meio ambiente independe de idade. A estudante Simone da Silveira, 22, gosta da sensação de liberdade que as atividades proporcionam. “Esse contato ajuda a entender melhor o cuidado que devemos ter com o meio ambiente, nossas atitudes se modificam”, argumenta a estudante. A preocupação ambiental traz questionamentos sobre nossas atitudes e, muitas vezes, chegamos à conclusão de que precisamos revê-las. Não basta saber que devemos ter cuidados como separar o lixo, mas fazer esta separação. Passar a agir com consciência é a melhor forma de se relacionar com o meio ambiente. Marta Kochann e Potira Souto

Com participar Quem quiser participar do GBS deve fazer uma solicitação. O candidato entra como associado em experiência e permanecerá nesta situação durante o período de seis meses, pelo qual será avaliado. Passados esses seis meses, ele será efetivado (associado efetivo). É preferível que o candidato faça um dos cursos ofertados pela entidade, até mesmo para melhor se situar durante atividades mais técnicas.

Mais informações

Gláucia Josende participou da palestra do curso de Montanhismo

● www.bandeirantesdaserra.org.br/ingresso.asp ● (55)9927 6162 - Guilherme Rocha ● (55) 9927 6167 - Rafael Ribeiro


5 fotos evandro sturm

Os vilões dos eletrônicos ● Mercúrio: Danos no cérebro e fígado ● Cádmio: Envenenamento, problemas nos ossos, rins e pulmões ● Berílio: Causa câncer no pulmão ● Chumbo: Causa danos ao sistema nervoso e reprodutivo ● Arsênio: Pode causar câncer no pulmão, doenças de pele e prejudicar o sistema nervoso ● Bário: Edema cerebral, fraqueza muscular, danos ao coração, fígado e baço Do que é feito um desktop (computador de mesa)

● 25% de Sílica ● 23% de Plástico ● 20% de Ferro ● 14% de Alumínio ● 7% de Cobre ● 6% de Chumbo Fonte: UOL Tecnologia Sebalestti tem um depósito de aparelhos estragados, mas algumas peças podem ser reutilizadas

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E-lixo: o que fazer com ele?

computador surgiu para facilitar a vida das pessoas, mas a crescente inovação da tecnologia está diminuindo sua vida útil. Cria-se assim um novo tipo de lixo eletrônico, o e-lixo. Ao se tornarem obsoletos, esses equipamentos estão sendo jogados em lixões comuns e acumulam 20 milhões de toneladas por ano em todo mundo. Isso começou a gerar problemas ambientais, pois os metais pesados dos componentes eletrônicos têm um alto índice de contaminação. Isso ocorre pela falta de consciência das pessoas ao fazerem o desuso. Na maioria das vezes, esse lixo fica no fundo de casa ou é jogado nos córregos, onde fica em contato direto com o solo e exposto à chuva. No Brasil, o equipamento de informática segue a lei 1991/07 onde foi reinstituída a política nacional de resíduos sólidos. Nela o fabricante é responsável pela destinação desses produtos. Mas entre a fábrica, o comércio e o consumidor final, existem atravessadores. Isso dificulta o controle dos órgãos competentes. Para evitar a mistura desse tipo de equipamento com lixo doméstico, além de uma rígida fiscalização conjunta da esfera federal, estadual e municipal, a consciência do consumidor é fundamental. Segundo o fiscal da Secre-

taria de Município de Proteção Ambiental, Rubson Lavratti, o destino do lixo de informática cria um impasse entre a fiscalização e os fabricantes, porque em um único computador existem milhares de componentes fabricados por empresas diferentes. Lavratti orienta os consumidores a levarem os equipamentos de informática antigos, não mais usados, aos locais onde foram comprados. No entanto, trata-se de um ramo onde atuam muitas empresas e os estabelecimentos só são obrigados a receber a mercadoria mediante o comprovante de compra. Então a loja dará o destino apropriado ao produto. A Secretaria pode ser acionada para intermediar as ocasiões onde o consumidor não for atendido pela loja. Caso

Existem no país apenas dois locais para receber e-lixo não resolva o problema, o local é passível de multa. A prefeitura estuda maneiras de fazer parcerias com empresas locais e criar centros de recebimento para o lixo tecnológico. Segundo o fiscal, a comunidade cobra e o poder público dará uma resposta. Lavratti afirma ter no país apenas dois locais

Curiosidade De acordo com um estudo divulgado pela Universidade das Nações Unidas, para a montagem de um desktop com monitor de 17 polegadas é consumido cerca de 1,8 tonelada de materiais. Só de combustíveis fósseis são gastos 239 quilos, além dos 21 quilos de produtos químicos e 1.360 quilos de água. Fonte: Info ONLINE

para a recepção desses aparelhos. “Os empresários ainda não despertaram o interesse em transformar esse material em fonte de renda”, finaliza. Além do lixo interno, o Brasil recebe o entulho tecnológico de países desenvolvidos em forma de doações. É uma forma legal de descarte de computadores já sem proveito. Os aparelhos em sua maioria vêm estragados, enquanto poucos ainda podem ser reutilizados. O dono de uma assistência técnica de computadores, Cláudio Sebalestti, diz que faltam informações por parte dos usuários. “As pessoas preferem jogar no lixo comum os aparelhos à encaminhar para o local adequado”, acredita. Para ele, os consumidores não recebem orientações na hora da compra. “Alguns clientes trazem os equipamentos de informática para manutenção, mas quando não tem conserto ou o custo é alto, nem voltam para buscar”, lembra. Ele ainda ressalta a falta de preocupação das pessoas com o meio ambiente. Sebalestti tem um depósito de aparelhos estragados. “Guardo os equipamentos, pois tem algumas peças que podem ser reutilizadas”, comenta. Por enquanto, ele consegue guardar, mas quando não tiver mais espaço irá procurar um lugar adequado para destinar o lixo.

Em seu trabalho, o empresário Geovani da Silva ocupa com freqüência o computador para as atividades profissionais. Ele conta que está no seu terceiro computador em dois anos. Agora, ele aderiu ao notebook, por ser prático e ocupar menos espaço. Ele afirma que quando comprou seu último aparelho a loja aceitou seu computador usado na troca. Com o barateamento dos computadores e o crescimento das vendas, a quantidade de lixo eletrônico já chegou à casa de 50 milhões de toneladas no mundo, representando 5% de todo o lixo produzido pela humanidade. Evandro Sturm e Vinícius Ferreira

Telefones úteis

A quem recorrer em caso de informações e reclamações sobre lojas que não aceitaram receber o aparelho de volta para o envio ao fabricante: ● Fundação Municipal do Meio Ambiente de Santa Maria: 3921-7150 ● BABM (Batalhão Ambiental da Brigada Militar): 3220-6485 ● IBAMA: 3221-6843


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Pneus na rota do ambientalismo

divulgação

ariéli zigler

Vários clientes já adotaram essa idéia

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Um pneu leva cerca de 600 anos para se decompor de forma natural

irculares, pretos, de borracha grossa, são os pneus que movem os veículos pelas estradas do planeta. Mas qual é o destino final deles? Onde vão parar as pilhas e pilhas de pneus descartados por ano? Os pneus usados passam por uma avaliação técnica antes de serem recapados, isso garante a segurança no seu retorno para as estradas. Essa avaliação consiste em medir o desgaste mínimo do pneu que deve ser de até dois milímetros e meio. Um pneu leva cerca de 600 anos para se decompor de forma natural. Denominados como inservíveis, os pneus que já não podem mais ser reaproveitados são desmanchados e o material resultante é aproveitado em indústrias específicas. Porém, de acordo com o empresário Avelino Baldez, que trabalha há 32 anos no ramo de câmaras e pneus em Santa Maria, não existe esse tipo de serviço no Rio Grande do Sul. Segundo ele, os inservíveis passam por Porto Alegre, de onde seguem ao Paraná e, em Curitiba, são utilizados pelas fábricas de asfalto e cimento. De acordo com um freteiro, que não quis se identificar, para que os pneus sejam levados daqui até o seu destino final, a empresa que fornece os pneus paga o frete por unidade (cerca de R$ 0,25 por pneu) e os impostos, que são diferentes de um estado para outro. Só na empresa de Baldez são descartadas 100 unidades de pneus, em média, por mês. Para reduzir esses custos, 15 empresas

Curiosidade: O transporte dos pneus inservíveis percorre aproximadamente 848 Km, cerca de 10 horas e meia de viagem.

Fonte: Google Maps

distribuídas em todo o Estado, sendo 3 em Santa Maria, criaram a Rede Central de Pneus. Segundo o diretor geral da Secretaria Municipal de Proteção Ambiental, Laurindo Lorenzi Filho, há vários projetos a serem executados visando o melhoramento das condições ambientais do município, entre eles está o Centro de Triagem, que fará o recolhimento de pilhas, lâmpadas e pneus e outros objetos de risco ambiental. As empresas deverão ser cadastradas no programa para que descartem seus materiais obrigatoriamente no ponto de coleta, ficando sujeitos

a multa no caso do descumprimento. Após a separação do material coletado, a Associação Nacional de Indústrias de Pneus recolherá a cada 15 dias os inservíveis coletados, e encaminhará para recapagem ou reaproveitamento industrial. Lorenzi garante a execução do Projeto mediante recursos próprios da Secretaria. Se quiser saber mais acesse: http://www.reciclanip.com.br, e veja algumas alternativas para reciclagem dos pneus. Márcia Marinho e Gilberto Rezer

Todos “Jungton” pelo meio ambiente

Empresa de comunicação visual desenvolve projeto para dar destino certo aos resíduos de produção

Com o surgimento de novas agências de comunicação, publicidade e marketing, a produção de materiais usados em propaganda está avançando progressivamente. A consciência dos profissionais e dos colaboradores dessa área com o futuro do planeta gera soluções que beneficiam o meio ambiente. A preocupação em avaliar o impacto ambiental na produção e criação da Publicidade, fez com que a Jungton Comunicação Visual desenvolvesse o projeto “Todos Jungton pelo Meio Ambiente” para dar destino correto aos resíduos de produção utilizados por eles e seus clientes. Com a intenção de diminuir os impactos causados no meio ambiente, esses materiais são recolhidos e encaminhados para um aterro sanitário localizado na cidade de Gravataí. Este material é enviado através da empresa Procampo Ambiental (empresa licenciada pela Fepam para fazer transporte de resíduos tóxicos). Segundo uma das idealizadoras do projeto, Zélia Jungton,“os efeitos negativos produzidos pelo homem no meio ambiente são graves e exigem não apenas reparos aos danos, mas mudanças dos hábitos e atitudes”. A empresa responsável pelo projeto também orienta as agências de publicidade, clientes e parceiros a fazer a melhor escolha no aproveitamento de lonas, chapas e adesivos utilizados nas agências, reutilizando estruturas já existentes para evitar desperdícios.

Segundo o publicitário George de Salles Canfield, sócio da agência de publicidade 4SC, os materiais utilizados em campanhas serão entregues à empresa para terem o destino certo. “A idéia da Jungton é ótima, assim que uma campanha sair de linha vamos entrar em contato com a Jungton para fazer o recolhimento dos materiais e, assim, a reciclagem dos resíduos”, declara Canfield. Juliane de Souza e Nathiele dos Santos

Conheça o trabalho da Fepam A Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) é a instituição responsável pelo licenciamento ambiental no Rio Grande do Sul, e desde 1999 está vinculada a SEMA (Secretaria Estadual do Meio Ambiente). Instituída pela Lei 9.077 de 4 de junho de 1990 e implantada em 4 de dezembro de 1991, a Fepam tem suas origens na Coordenadoria do Controle do Equilíbrio Ecológico do Rio Grande do Sul, criada na década de 70; e no antigo DMA (Departamento de Meio Ambiente) - da Secretaria de Saúde e Meio Ambiente, hoje conhecida como Secretaria Estadual da Saúde.


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O lado verde da lei As leis ambientais tentam sanar ou amenizar os problemas ecológicos

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folha da árvore, tombada na floresta por empresas de celulose, vai para a fábrica, passa por diversos processos industriais até ser transformada em papel ofício. Empacotadas e postas nas lojas à venda, elas chegam aos gabinetes dos parlamentares do Brasil, onde são rabiscadas as leis, medidas provisórias e emendas na constituição que alteram o meio ambiente. No início do século XX, em Santa Maria, não havia compromisso com o meio ambiente e poucos projetos de lei era apresentados. Entre as primeiras preocupações levantadas, o ato n° 109, aprovado em 1939, previa “instalações sanitárias nos prédios situados na rede de esgotos e ainda não saneados”. As idéias surgiram devido ao volume de residências localizadas dentro da rede de esgoto sem tratamento sanitário adequado. Após 1957, a demanda de projetos de lei aumentou, e até hoje mais de 30 delas foram aprovadas, modificando a vida dos habitantes da cidade.

panhas e manifestações. Há mais de três décadas, Pizarro começou a falar aos santa-marienses sobre a importância da adoção de energias renováveis. Outros temas tentavam chamar a atenção pública como a situação da coleta e depósito de lixo, o impacto causado pela construção civil e a comercialização de madeira de espécies da mata nativa. De acordo com o ecologista, a comunidade reagia de forma negativa às ações. “A sociedade via como uma coisa estapafúrdia, excêntrica, catastrófica, coisa de louco”, diz. O movimento ambiental também não agradava o governo vigente na época. Para Pizarro, os manifestantes eram considerados comunistas e agitadores perigosos. “Era um movimento ecopolítico,pois pregava uma nova ótica de vida. Algo exatamente contrário à sociedade de consumo de mundo capitalista”, completa. Os quatro anos de mandato causaram polêmicas. As principais envolveram projetos avaliados por Pizarro como os mais importantes durante sua passagem pela Câmara. Entre eles está a Lei Municipal 3269, referente ao manejo de recuperação das áreas degradadas nas encostas dos morros do município. Conforme registros do ex-vereador, as pedreiras instaladas dentro do perímetro urbano destruíam áreas de preservação permanente.

“A importância da coleta de resíduos é que gera emprego e renda”

Pioneirismo Ecológico Antes mesmo de toda a preocupação com o futuro do planeta e suas riquezas naturais suscitarem questionamentos e se transformarem em questões abordadas de forma constante nos noticiários, ele já falava sobre a necessidade de cuidar do meio ambiente. Sem receio de brigar por seu ideal, discutiu, foi ameaçado, fez inimizades, mas se transformou em um pioneiro dos assuntos ecológicos em Santa Maria. Enquanto esteve na Câmara Municipal de Vereadores, James Pizarro propôs projetos que tentaram resolver antigos problemas ambientais. A paixão pela fauna e a flora norteou a candidatura para vereador. Com um programa ecológico, foi intitulado de “O Guerreiro da Natureza”. Durante a legislatura, de 1988 a 1992, Pizarro tentou propagar a sua luta e repreender os agressores ambientais. “Entrei na política temporariamente para poder implementar na prática minhas idéias, minha teoria”, explica o professor aposentado. Mas o caminho até a legislatura foi longo e caracterizado por cam-

Do rádio para a internet Durante 26 anos o programa “Antes que a natureza morra” esteve no ar com um conteúdo ecológico. À frente do radiofônico, transmitido pela Universidade Federal de Santa Maria, estava James Pizarro, que além de apresentador era produtor. Depois de anos, um blog, criado pelo exprofessor universitário, segue discutindo sobre as questões ambientais. O nome relembra a antiga atividade. Quem quiser conhecer esse ‘caso de amor com o planeta azul’, basta acessar: www.antesqueanaturezamorra.blogspot.com.

Uma das maiores vitórias consideradas pelo ambientalista foi o fechamento da pedreira do Morro do Cerrito. A principal exploradora do local era a prefeitura municipal, sob o governo Evandro Behr. “Os morros de Santa Maria ainda estão de pé por minha causa. Porque consegui embargar na justiça, com o auxílio da promotoria e do setor jurídico do IBDF (atual Ibama), as maiores pedreiras da cidade”, garante. Outra norma que envolve problemas citados pelo “Guerreiro” ainda nos primeiros anos de 1980, refere-se aos danos causados pela construção civil. A sanção dessa obriga o poder público e a iniciativa privada a apresentar relatórios de impacto ambiental, o RIMA, como prérequisito para a instalação de uma obra ou atividade que polua ou prejudique o meio. James Pizarro lembra uma lei, a 3237/90, considerada pioneira no país, a qual resultou em uma entrevista para um conceituado jornal de São Paulo. “Ela estabelece normas para a manutenção e venda de animais nas agropecuárias”, explica. Entre as diversas propostas aprovadas estão leis que obrigam proprietários rurais com atividades agrícolas agressivas ao meio ambiente a apresentarem projetos compensatórios para o impacto causado e dispõem sobre a arborização nas faixas de domínio das rodovias municipais. Após desenvolver um intenso trabalho de conscientização no Legislativo, Pizarro acredita que a batalha valeu à pena, pois aumentou a conscientização para os temas ecológicos. Para ele a causa é também política transpartidária. “A preocupação ecológica deve permear o programa de todos os partidos. Isolar a defesa do meio ambiente dentro de apenas uma sigla é apequenar o movimento”, critica. Aumenta a preocupação com o meio ambiente A apreensão com a fauna e a flora está presente de forma intrínseca na sociedade. Para isso, os parlamentares que representam o povo utilizam das leis para a manutenção da vida cotidiana. Segundo o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), eleito duas vezes vereador de Santa Maria e autor da lei municipal que autoriza a participação de entidades dedicadas à defesa do meio ambiente na fiscalização da legislação municipal de proteção ambiental, o cenário ecológico

Plantio de árvores por empresas tem ajudado a melhorar o meio ambiente

mudou muito depois de 1990. “A preocupação está acima de uma lei, o assunto é discutido em seminários no mundo inteiro, e os tratados são assinados em conjunto por diversos países. O fato a ser destacado é que o meio ambiente é um tema que é pauta nos nossos meios hoje, o que demonstra a preocupação da maioria das pessoas com o futuro do planeta”, salienta o petista.

Mudanças a vista

Um dos últimos projetos aprovados pela Câmara de Vereadores em 2009, que diz respeito às questões ambientais foi o Plano de Reestruturação Administrativa para o município. Elaborado pela atual gestão do prefeito Cezar Schirmer (PMDB-RS), ele prevê mudanças burocráticas nos setores fiscalizadores do meio ambiente. Com ele a Lixo e educação ambiental Secretaria de Município de Proteção Ambiental foi extinta e O último projeto ambiental deu lugar a Fundação do Meio aprovado em 2008 faz referência Ambiente. As ações desenvolvia ações preventivas e das pela Secretaria não educativas quanto à foram perdidas, porém coleta de lixo recicláampliadas e qualificavel, onde os resíduos das. produzidos podem Segundo o responser reutilizados por sável pela secretaria, associações e cooLaurindo Lorenzi perativas de reciFilho, a transformaclagem. Segundo o ção da Secretaria autor da norma, vereem Fundação é uma Pizarro é exemplo ador Manoel Badke na luta em defesa tentativa de agilizar (DEM-RS), essa ati- do meio ambiente o poder público na tude pode trazer novas gestão ambiental. “Os formas de renda para a população, recursos não entrarão no caixa e também diminuir o volume de único da prefeitura, serão gerilixo nos aterros: “A importância dos pela Fundação, que não da coleta de resíduos é que gera será um órgão da administração emprego e renda, pois numa direta, embora ligado ao gabipopulação de 30 a 40 mil pessoas, nete do prefeito, será um órgão tu podes implementar uma usina com autonomia administrativa”, de reciclagem, e do lixo que nós alega o diretor. produzimos é aproveitado quase 90% dele, e somente 10% iria Flavia Alli e para os aterros sanitários”. Letícia Sarturi Isaia


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S

upermercados cada vez maiores. Alimentos cada vez mais coloridos. Surgimento de mais e mais produtos intitulados “saudáveis” vendidos por preços fora do alcance da maioria da população. Por outro lado, a fome aumenta todos os dias ao redor do mundo, e cada vez menos se sabe de onde vem o alimento que consumimos. Tão pouco podemos imaginar o quão insustentável se configura a produção de alimentos. Muito se falou em crise de alimentos nos últimos tempos e alguns culpam o excesso de população. Na verdade, nunca se produziu tanto. O desperdício de alimentos é enorme e o problema da fome se relaciona mais com questões sociais e políticas do que com escassez de produtos. Além da má distribuição, o atual modelo de produção causa danos ambientais sem precedentes na história da agricultura. Imagine um solo e um organismo humano, ambos sistemas vivos. Da mesma maneira, os dois devem conservar o equilíbrio para se manterem saudáveis. Quando o equilíbrio é quebrado, existem sérias conseqüências negativas: as células cancerígenas no corpo ou as pragas nos campos cultivados. A nossa ligação com o solo é muito próxima, afinal é ele que dá as condições para a nossa vida. Para nos mantermos saudáveis, é preciso que ele também esteja saudável. A produção ecológica vem ao encontro desta idéia: sustentar o nosso corpo e o meio ambiente saudáveis. Ela não trata apena da produção de produtos orgânicos (sem químicos), mas de todo um sistema de produção e distribuição. A idéia surgiu como uma perspectiva a partir dos anos 80. Seus princípios são sustentabilidade, estabilidade, produtividade e adaptação à situação, observando-se os critérios de justiça e igualdade nos processos produtivos. Mas antes de analisarmos novas propostas, devemos identificar os problemas de nosso atual sistema.

Os agricultores desenvolviam diferentes culturas a cada ano, alternando-as de maneira que o equilíbrio do solo fosse preservado. Não utilizavam pesticidas e nem inseticidas, assim como não existiam transgênicos. Os insetos que apareciam em uma cultura acabavam indo embora quando outra era implantada. Os fertilizantes químicos não eram utilizados e os campos eram enriquecidos com estrume. Pelos anos 50 essa prática de lavoura, que sempre existiu, foi deixada para trás e trocada pelo uso de elementos químicos na agricultura. Capra liga isto à influência da indústria farmacêutica e petroquímica. A nova lavoura foi chamada de “Revolução Verde”. A partir desta “revolução” as grandes companhias farmacêuticas e petroquímicas passaram a render bilhões. Em contrapartida, houve prejuízo para os pequenos agricultores, para a produção mundial de alimentos, para o solo e para natureza em geral.

A natureza básica do solo requer uma agricultura que, em primeiro lugar e acima de tudo, preserve a integridade dos grandes ciclos ecológicos. Fritjof Capra, Ph.D. em física quântica e diretor-fundador do Centro de Eco-alfabetização de Berkeley( EUA), expõe em seu livro O Ponto de Mutação que esse era o princípio dos métodos tradicionais de lavoura, que se baseavam no respeito pela vida.

Se somos o que comemos, a humanidade hoje enfrenta um grande p a qualidade de nosso alimento e o custo que o meio ambiente paga para que

Degradação do Meio Ambiente A preservação do meio ambiente fez parte da lógica de produção de alimentos por milhares de anos. O homem sabia que dependia da meio ambiente para continuar produzindo. Para o engenheiro agrônomo Luiz Rogério Boemeke, que trabalha no Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA) em Santa Cruz do Sul, a agricultura moderna foge deste princípio, sendo nociva e agredindo o meio ambiente. O que hoje é chamado de agrobussines ou agronegócio exaure cada vez mais as terras, a água e os recursos naturais sobre os quais se instala.

O atual modelo de produção causa danos ambientais

Anos 50 : O início de tudo

Você tem fome de q

A Agricultura que depende da Energia Boemeke explica que é preciso entender que a alimentação de cada povo sempre teve ligação com a cultura local. Ou seja, o que é produzido na região em que se habita. O alimento mais saudável para uma pessoa pode ser então o que foi consumido por seus antepassados e com o qual seu organismo já está acostumado. É possível montar uma alimentação somente com produtos da sua região e ter uma dieta saudável e equilibrada. Assim, a noção do que é um alimento saudável é muito relativa. Com os alimentos vindos cada vez mais de longe, há uma mudança nos hábitos históricos. No Brasil, o trigo, por exemplo, é uma cultura européia. O amido de

Prestar atenção no que consumimos é uma lição básica de sustentabilidade

milho é muito mais sul americano, mas foi deixado de lado. A questão da exportação e importação dos alimentos também permeia muito a questão social. São as classes mais altas que podem consumir produtos de outros países, muitas vezes com preços mais elevados. O problema, como explica o engenheiro, é que atos como consumir uma garrafa de água da França, por exemplo, são totalmente insustentáveis. Há um gasto muito grande de energia para que este produto chegue até aqui. Há um déficit nesse sistema, porque é utilizada mais energia do que se produz e esse alimento não consegue gerar essa energia de volta. Esse gasto energético também envolve um uso volumoso de água. Neste caso, o melhor é procurar consumir produtos de localidades próximas, de preferência que foram produzidos respeitando o meio ambiente. A mecanização e os percursos

mais extensos de transporte de produtos agrícolas contribuem também para a dependência da agricultura da energia. A matriz energética é baseada em energias fósseis. Cerca de 60% do custo dos alimentos são oriundos do petróleo e seus derivados. Estes componentes são encontrados também nos fertilizantes. Quando estes recursos finitos acabarem, certamente teremos um colapso no nosso sistema. A agricultura que depende de químicos O engenheiro explica que as pessoas precisam saber que não é possível ter determinados alimentos disponíveis durante todo o ano. Isso não pode ocorrer, pois cada alimento tem sua safra específica. Certas regiões também não têm solo adequado para produção de certos tipos de plantações. Além de utilizar muita energia, a vinda de alimentos de outros

ananda delevati

A agroecologia se baseia no desenvolvimento sustentável

lugares também incentiva a produção de apenas uma cultura, onde normalmente são utilizadas substâncias químicas. Os produtos mais naturais não seguem uma tendência uniforme quanto a maioria encontrada nos supermercados pois, afinal, a natureza não produz de maneira igual. Mas a tendência nos supermercados é que as pessoas procurem produtos padronizados, como, por exemplo, tomates do mesmo tamanho e cenouras sem nenhuma deformação. Em longa escala há uma alteração do meio ambiente para possa existir a padronização. Segundo Boemeke, a busca de padronização é feita através de seleção genética, são procuradas as plantas com mais produtividade e maior tamanho de grãos ou frutos. A resistência a pragas e doenças é buscada através do uso de mais agrotóxicos e a maior produtividade através do uso de fertilizantes. Nem todos os produtos químicos são absorvidos na plantação, mas escorrem junto com a água ou são drenados nos campos em direção a rios e lagos podendo assim contaminar a nossa água e solo. Nos dias de hoje já é reconhecido o valor de uma alimentação saudável para a saúde, com muitas frutas e verduras. Mas é importante questionar o preço alto que é pago por isso, se essas frutas e verduras estiverem com resíduos de produtos químicos. É preciso uma qualidade biológica nos alimentos, assim como diferenciar orgânicos de ecológicos. Os ecológicos levam em conta o uso de insumos que são renováveis.


quê?

muitas culturas são atacadas por insetos que não eram considerados pragas, mas que vão ficando cada vez mais resistentes aos inseticidades. E será que nós, que recebemos este alimento, também estaremos ilesos a esses inseticidas? ananda delevati

problema: e ele seja produzido

A monocultura e os prejuízos para o solo Entre outros problemas causados pela atual produção estão a erosão e o empobrecimento do solo. Boemeke explica que quando a mesma cultura é plantada diversas vezes, são utilizados fertilizantes sintéticos que perturbam o equilíbrio do solo. A quantidade de matéria orgânica diminui e a capacidade do solo de reter umidade também. A exaustão de matéria orgânica torna o solo estéril e seco. A água não o penetra e assim não o umedece. A terra fica dura e compacta, o que obriga os agricultores a usar máquinas mais poderosas. O solo estéril é mais suscetível de erosão eólica e hídrica. Isto acaba deixando o solo seco e sem utilidade. O uso de fertilizantes químicos também faz com que as culturas percam a sua capacidade de absorver os nutrientes da terra e fiquem cada vez mais “viciadas” em produtos químicos sintéticos. Isso significa que o solo fica tão dependente dos produtos químicos que perde suas capacidades naturais. O desequilíbrio ecológico causado pela monocultura e pelo uso excessivo de fertilizantes químicos resulta inevitavelmente em enorme recrudescimento de pragas e doenças. Os agricultores a contra-atacam pulverizando áreas plantadas com doses cada vez maiores de pesticidas. Combatem os produtos químicos, com mais produtos químicos. Os pesticidas normalmente não destroem as pragas, porque elas tendem a se tornar imunes a esses produtos. Atualmente,

Valorizando a biodiversidade e a qualidade biológica O engenheiro agrônomo argumenta que é preciso valorizar a rede de produção e a biodiversidade de alimentos, assim como sua qualidade biológica . Para ele, o que temos hoje é uma ilusão de ter uma grande quantidade de alimentos, graças às prateleiras coloridas no supermercado. Mas, na verdade, temos uma grande quantidade de produtos com milho e trigo na base, faltando assim certos nutrientes para o nosso corpo. O agronegócio simplifica a base dos alimentos, com a produção em grande escala de só um tipo de alimento Além da perda de biodiversidade, há uma desvalorização de produtos locais. O Brasil, por exemplo, tem um grande potencial na área de pescado, hortaliça e grãos. Cada região tem seus produtos típicos. Contudo, a padronização que não respeita culturas está se tornando cada vez mais comum, representada por redes como as de fast food (comidas prontas) e refrigerantes, que comercializam o mesmo tipo de produtos em diversos locais do mundo. Prestar atenção no que consumimos é uma lição básica da sustentabilidade. É preciso que os consumidores prestem atenção no que colocam nos seus carrinhos. É direito deles também poder escolher, ou seja, que estas informações estejam nos rótulos. E que empresas ou supermercados não usem deste artifício para elevarem o preço de produtos. É preciso uma cobrança e fiscalização mais dura sobre os resíduos que ficam nos alimentos. Embora muitos acreditem em uma possível crise mundial de alimentos ou em um problema causado pela superpopulação, é preciso lembrar que são as grandes companhias distribuidoras

ananda delevati

9 de alimentos que definem os seus preços e que uma produção regional seria mais viável para alimentar diversos países. Existem sim, muitas possibilidades na manutenção de uma agricultura sustentável de alimentos. Para Boemeke está claro que esses os padrões nos quais estamos inseridos são insustentáveis. O planeta não tem como manter esse estilo de vida. A humanidade está tentando simplificar o ambiente, que é complexo por natureza. A perda na Lavoura O uso de fertilizantes e pesticidades mudou a estrutura da lavoura. Fritjof Capra alerta que a indústria persuadiu os produtores a produzirem uma única cultura e investir na exportação, para assim ter mais lucros. As pragas de uma mesma cultura seriam combatidas com produtos químicos. O resultado disto foi uma grande perda da biodiversidade e grandes propriedades destruídas por uma única praga. Além disso, sofrem os moradores das localidades de produção que não podem obter diversos produtos e terem uma alimentação balanceada. Em Santa Maria, por exemplo, com a grande quantidade de produção de soja e gado, há pouca produção de pequenos proprietários rurais. Muito dos locais que comercializam alimentos na cidade são abastecidas por vendedores que disponibilizam produtos do CEASA RS (Centro de Abastecimento do Rio Grande do Sul). Segundo a própria associação, cerca de 35% dos hortigranjeiros consumidos no estado são comercializado pelo CEASA. Ricardo Goya, da área técnica do Centro, explica que não há nenhum produtor de Santa Maria ou região cadastrados no CEASA, mas que há muitos compradores da cidade. O centro abastece mercados, minimercados e feiras de Santa Maria. Prejuízo para a saúde Hipócrates, pai da Medicina e autor do juramento médico, prescreveu: faça do alimento o seu

Carolina Pagliarini

É um direito do consumidor saber o que está levando para casa

Com a exportação e os fertilizantes, a agricultura atual se tornou depente do petróleo

remédio. Da mesma forma que os médicos, os fazendeiros lidam com organismos vivos. Com a degradação do meio-ambiente, nossa saúde também se fragiliza. Segundo George Ohsawa, criador da macrobiótica (sistema alimentar que retira a química e os carboidratos refinados da alimentação e acrescenta cereais integrais orgânicos) estamos provocando o lento desaparecimento das nossas forças vitais e abalando a saúde pela maneira como nos nutrimos. Atualmente, há uma crença que a saúde resulta de três aspectos: comportamento, meio ambiente e alimentação. Fritjof Capra argumenta que a indústria farmacêutica condiciona médicos e pacientes a acreditar que o corpo precisa de supervisão constante e tratamento com drogas para permanecer sadio. Enquanto isso, a indústria petroquímica faz com que os fazendeiros acreditem que o solo precisa de produtos químicos para se manter fértil. Com esse tipo de abordagem quem perde é a saúde. Com uma alimentação saudável e consumindo produtos como verduras e legumes sem químicos o nosso corpo ficaria mais protegido de doenças. Hoje, ao invés de o alimento ser nosso remédio, é o nosso veneno e, também, o veneno do meio ambiente. Ainda segundo Capra, a Monsanto - pioneira na produção e atual maior produtora de alimentos geneticamente modificados (transgênicos) - apostou que os transgênicos dominariam a agricultura do mundo até 2009. Na realidade isso não aconteceu, mas existe hoje outro problema, o consumidor muitas vezes não sabe o que está levando para casa. Não há nos rótulos informações quanto ao produto ter alterações genéticas ou não. Outro problema são os agrotóxicos que se infiltram no solo, penetrando

o lençol freático e os alimentos, eles são derivados da destruição do petróleo e podem abalar o sistema imunológico do corpo, ou ter substâncias que estão relacionadas ao câncer. Até agora não são conhecidos os possíveis prejuízos dessa cultura de alimentos para a saúde a longo prazo. Mas já se sabe que os transgênicos podem ter genes resistentes ao antibiótico Ampicilina, como no caso do milho. Capra questiona como alguém que ingere este alimento poderá então controlar doenças se está resistente ao antibiótico? É preciso pensar se nós também seremos resistentes aos transgênicos. Desenvolvimento rural e responsabilidade Social Atualmente, 80% da população mundial mora em centros urbanos. A agricultura, a mineração e o desenvolvimento da infra-estrutura (como transporte) poderiam fixar pessoas longe dos grandes centros urbanos. Porém, depois da mecanização da agricultura, ficou cada vez mais difícil para os pequenos produtores continuarem no campo e o uso da mão de obra nas grandes propriedades também diminuiu. A noção de eficiência acabou escondendo a grande necessidade de capital necessário para se manter dentro do novo sistema. Os agricultores também foram seduzidos pelas facilidades da alta tecnologia. O uso da energia quadriplicou. O preço a ser pago pela nova produção fortaleceu as grandes empresas agrícolas e forçou agricultores tracionais a abandonarem suas terras. Para Rogério Boemeke o fato de as tecnologias estarem sempre mudando acaba excluindo o pequeno produtor, que não consegue capital para se adequar. SEGUE


10 Em O Ponto de Mutação, Capra expõe que pelo menos três milhões de fazendeiros americanos saíram da área rural desde 1945, juntando-se a massa de desempregados urbanos. Muito dos que ficam na terra acabam endividados por causa do custo da energia. O produto é comprado por um valor muito baixo dos pequenos agricultores e quem acaba ganhando é quem revende o produto, assim como quem o transforma em outros alimentos. A modernização da terra é lucrativa para os grandes fazendeiros e também para os empresários. Com a monocultura, de cultivadores de alimentos os agricultores acabaram virando produtores de matérias primas para indústrias destinadas, que as transformam em mercadorias de comercialização em massa: o milho vira amido ou xarope, a soja vira óleo, a farinha de trigo vira massa e misturas. Pode-se pensar, assim, que os alimentos são tão caros hoje devido ao alto preço que se paga para produzi-los. Mas, na verdade, os preços hoje são caros porque são globais e determinados por um pequeno grupo.

dor de MT, Blairo Maggi (PR), é considerado o maior produtor individual do mundo. Uma alternativa viável: Agroecologia A Agroecologia surge como uma alternativa à todo este sistema já explicado. Ela aparece como perspectiva teórica a partir dos anos 80, apoiando uma modernidade alternativa, que seja boa para o produtor. Também se baseia no desenvolvimento sustentável e na não agressão ao meio ambiente. De forma solidária, os agricultores trabalham em família, cooperativas e por meio de associações de base que facilitam o comércio. A produção ecológica é mais barata do que

a convencional, pois não precisa de tantas energias e dos componentes químicos, que são muito caros. A maior parte do lucro da comercialização de alimentos fica com as empresas que repassam os mesmos, muitas vezes transformados em outros produtos (trigo em massa, por exemplo). Os produtores acabam ficando com a menor parte do valor de um produto. Além de poder viabilizar preços mais baixos vendendo diretamente para o consumidor em feira ecológicas, os produtores também podem buscar mais uma opção de renda com produtos como leite, queijo, iogurte,panificíos, conservas, geléias e etc.. Esse modelo é um estímulo para que os jovens se identifiquem com a sua comunidade e não queiram ir para a

gabriela perufo

A soja produzida no Brasil costuma ser exportada para a Europa, onde vira alimento para o gado criado em confinamento. Este é um exemplo de outro gasto energético muito grande pois, se falando em carne, o melhor é que ela seja produzida o mais perto da localidade em que estamos. No caso do Rio Grande do Sul isso é favorável, pois o pasto natural contribui para isso. Mas se falando em carne produzida na Amazônia, a história muda... No livro do jornalista André Trigueiro, “Mundo Sustentável“, ele chama de “conexão hambúrguer” o fato de a pecuária ser responsável por 80% de todo desmatamento da Amazônia. A carne do brasileiro é muito valorizada pois, ao contrário do boi confinado da Europa, o nosso se alimenta de pasto. Ainda segundo o autor, o gado brasileiro é conhecido como “boi verde”. Este “ boi verde” se valorizou ainda mais com o surgimento da vaca louca (causada pela ração produzida com partes do boi que desorganizam o metabolismo). Apesar de a exportação ser boa economicante, o brasileiro acaba perdendo a floresta e a biodiversidade. Ainda segundo Trigueiro, a plantação de soja também está destruindo nossas florestas. No Mato Grosso já se estimava, em 2004, que havia 43,8% de mata devastada. O governador da época e também atual governa-

ananda delevati

A floresta está virando pasto e soja

Produtos coloniais (acima) são uma alternativa de renda a mais para produtores nas feiras ecológicas. A loja Ecovale, ao lado, comercializa produtos ecológicos do CAPA. Segundo o produtor Laércio Frantz (abaixo), vale à pena ter uma produção alternativa ananda delevati

cidade. Produzir alimentos é um desafio, mas as lições passadas de geração a geração ajudam a superar os problemas que sempre surgem. O esterco de galinha como adubo e receitas ecológicas para espantar pragas são exemplos disto. O sucesso econômico é a garantia e o que viabiliza o desenvolvimento. Também é preciso levar em conta o valor biológico do alimento produzido dessa maneira, o preço mais em conta e o fato de ele poder atender às demandas regionais e locais. Tudo isso, com a qualidade de produtos regionais, que muitas vezes grandes agroindústrias não conseguem, como queijo colonial, coalhada, lingüiça e compotas de frutas. Uma alternativa viável: O CAPA O Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA) segue o modelo da Agroecologia. Criado em 1978, é uma organização não governamental que busca contribuir de forma decisiva para a prática social junto a agricultores familiares e outros públicos ligados à área rural. A luta é pela afirmação da agricultura familiar como parte de uma estratégia de desenvolvimento rural sustentável. O programa, apoiado pela Fundação Luterana de Diaconia(FLD), está em diferentes regiões dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, por meio de cinco núcleos ligados em rede. Um desses núcleos funciona na cidade de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul. Na cidade ocorrem três feiras ecológicas por semana e existe uma loja de venda direta ao consumidor: a Ecovale. A Ecovale comercializa produtos ecológicos como sucos, sabões, conservas, gergelim, biscoitos, erva-mate, café, massas, entre outros. Para produtores como Marta Maria Reis, é uma oportunidade de oferecer o seu produto diretamente para o público. Atualmente trabalhando sozinha, ela recebe o apoio da sua produção do CAPA. Ela argumenta que passou para a produção alternativa por causa da saúde, para poder se separar do veneno. Além de plantar de tudo, ela vende também geléias e outros tipos de panifícios. “Normalmente, o movimento da feira é muito bom”, considera a produtora. Ela atende pessoas preocupadas com uma alimentação mais natural, como o casal Flávio Luz Sehmen, 54 anos, e sua mulher Claudete Shimidt Sehmen, 54. Os dois compram na feira há 12 anos, levam todos os tipos de produto e apóiam a ideia. Além do preço, eles acreditam que o sabor do ali-

mento também é diferente.“Venho mais por causa das verduras, porque não têm agrotóxicos. Os alimentos têm outro gosto, são mais saborosos. Depois que você se acostuma com estes, não tem como comer de outro tipo”, argumenta Claudete. Seguindo o modelo do cooperativismo entre famílias, Laércio André Frantz, 28 anos, também estava na feira, representando a sua família e mais cinco outras. “É complicado ter uma produção alternativa por causa dos insetos e por não ter a utilização de produtos convencionais. Mesmo assim, vale à pena”, analisa ele. A advogada Maria Fernanda da Silva Bueno apóia o incentivo aos produtos produzidos na região, um dos motivos de ela procurar a feira. Também argumenta que os produtos são mais acessíveis que no mercado. “ Compro há mais ou menos um ano, pelo fato de não ter agrotóxico. Levo tudo: frutas, legumes e verduras”, explica ela. A equipe do Centro conta com nutricionista, jornalista, agrônomo, veterinário, técnico agrícola, enfermeira e psicóloga que dão apoio aos grupos de produção. Os produtores não fazem sua produção baseados em meios que gerem dependência. Os agricultores apropriam os processos e tentam entrar em um circuito de produção e venda cooperativista. Há uma preocupação em aproveitar as culturas já existentes nas regiões onde os centros estão inseridos. Também de preservar a biodiversidade de alimentos. Na área da saúde, além do uso de plantas medicinais, há um trabalho muito forte também de conscientização de nutrientes importantes. O trabalho é feito com as mulheres, pois são elas que levam os alimentos à mesa. Também é preciso mudar a cabeça dos agricultores, fazer com que eles queiram produzir de modo diferente. E é preciso que a sociedade cobre o direito de consumir um alimento saudável. É tempo de pensar É tempo de pensar sobre o que queremos para nós e para o planeta. Para Boemeke é questão de tempo para que o sistema mostre sua insustentabilidade. A recente crise mundial também levanta muitas questões. Devemos nos questionar sobre o que queremos e quais os sacrifícios que estamos dispostos a fazer. Quais hábitos estaríamos dispostos a deixar de lado? Estamos dispostos a trocar nossos hábitos de consumo? Devemos pensar neste momento sobre o que queremos deixar de herança da nossa passagem pela terra e o que deixaremos para as próximas gerações. Ananda Delevati


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Aproveitamento integral de alimentos como recurso

uando o assunto é o problema do lixo, muito se comenta sobre reciclagem de lixo seco, composto por plásticos, papéis, metais, etc.. No entanto, o que pouco se sabe é que o descarte indiscriminado de materiais orgânicos, como cascas de frutas e restos de comida, também traz transtornos ao meio ambiente. Por isso, o aproveitamento integral dos alimentos surge como uma alternativa para diminuir a emissão destes dejetos, além de reduzir a destruição de habitats para o aumento do cultivo agrícola, pois, ao consumir menos, necessita-se produzir menos. O desconhecimento e o não aproveitamento dos nutrientes dos alimentos causam grandes desperdícios. Segundo o IBGE, no consumo doméstico, o Brasil despreza aproximadamente 20% daquilo que é comercializado. Este dado confere ao Brasil o desonroso título de “país do desperdício”. Alguns programas sociais, como o Mesa Brasil do Serviço Social do Comércio (SESC) e o “Alimente-se Bem com R$ 1,00” do Serviço Social da Indústria (SESI), utilizaram-se da prática do aproveitamento integral para combater a fome. Em Santa Maria, a professora do curso de Nutrição do Centro Universitário Franciscano, Cristiana Basso, desenvolve um projeto de criação de receitas para o aproveitamento dos alimentos em sua integridade. O combate ao desperdício começa de forma simples, com o planejamento da ida ao supermercado e do que será consumido.

através das suas dissoluções. No entanto, o químico Vinicius Giglio comenta que “o mais preocupante é o fato de que chorume possui alta taxa de demanda biológica de oxigênio (DBO), que corresponde à quantidade de oxigênio necessário na deterioração da matéria orgânica por certos processos.” Tal taxa torna-se preocupante devido ao fato de ela ser o “medidor” da dificuldade do tratamento de resíduos, como o esgoto ou lixo. Devido às suas características peculiares, o chorume deve ser tratado antes de seu descarte, evitando-se maiores riscos de contaminação, tanto do solo como das águas, resultando em sérias conseqüências à saúde pública.

O Brasil despreza cerca de 20% do que é comercializado

Resíduos orgânicos e seus riscos tóxicos Os resíduos orgânicos se decompõe e originam, através de seus processos biológicos, químicos e físicos, a formação do chorume. O líquido constituído de uma mistura de diversas substâncias e espécies de microorganismos pode causar consideráveis problemas ambientais. Somado a ação da água das chuvas, o fluido origina um processo de extração de micronutrientes e minerais do solo,

Os prejuízos ambientais da agricultura intensiva A relação entre agricultura e conservação ambiental no Brasil, nunca foi muito “pacífica”, pois há uma preocupação com a produção, que deve aumentar cada vez mais de forma a suprir as necessidades da população mundial. Segundo o engenheiro agrônomo Maximiliano Guandalin, “as grandes produções agrícolas brasileiras vem da agricultura intensiva que, apesar de, normalmente ter uma maior produção por área cultivada, faz uso indiscriminado de produtos químicos e máquinas, o que pode causar grandes prejuízos ambientais.” Entre os danos ambientais associados a agricultura intensiva, estão a contaminação da água, do ar, do solo e do homem; a destruição de ambientes frágeis e a perda da biodiversidade. Esses dois últimos, muitas vezes, são conseqüências das queimadas. Segundo o IBAMA, durante o ano de 2007, os parques nacionais de Grande Sertão Veredas e Brasília foram víti-

mas de queimadas tendo como causa provável a limpeza de área para cultivo, totalizando 38.700 hectares de área incendiada. Isso corresponde a uma área maior que o dobro daquela atingida no mesmo período, por incêndios causados por raios. O uso constante de tratores e máquinas na agricultura acarreta a degradação das condições naturais do solo. As camadas compactadas que surgem, aumentam a erosão durante as chuvas, o que leva a uma contínua perda da capacidade de produção. No estado de São Paulo, onde a agricultura provavelmente apresenta o maior índice de mecanização, a perda de solo pela erosão chega a 25 toneladas por hectare a cada ano. Acadêmicos desenvolvem projeto na área

Diferente de programas que expandem suas atuações ao reaproveitamento, o projeto desenvolvido na Unifra detém-se no aproveitamento integral dos alimentos. Os acadêmicos do 2° semestre do curso de Nutrição produzem, ao longo do semestre, receitas onde utilizam as partes consideradas “menos nobres” dos alimentos, como folhas, cascas, entrecascas, talos e sementes. A professora orientadora da pesquisa, Cristiana Basso, afirma que ao consumir essas partes que se tornariam resíduos, há o consumo de uma maior quantidade de vitaminas e sais minerais. Da mesma forma, a farmacêutica tecnóloga de alimentos, Claudia Sautter, comenta que “a casca contém minerais, vitaminas e outros compostos, os quais se destacam os polifenóis que atuam como reguladores do metabolismo de gorduras, protetores contra problemas do sistema cardiovascular, inflamações e câncer e bloqueadores do efeito danoso dos radicais livres”. Tendo, ainda, uma vantagem econômica, pois há receitas, como “fritar batatas com casca”, que dobram o rendimento. Como forma de estender o

Em SP, a perda do solo pela erosão chega a 25 ton. por hectare/ano

O que pode ser utilizado ● Folhas de cenoura, beterraba, batata doce, nabo, couve-flor, abóbora, mostarda, hortelã e rabanete. ● Cascas de batata inglesa, beterraba, berinjela, abóbora, pepino, banana, laranja, limão, lima, bergamota, goiaba, mamão, maçã, abacaxi, melão, melancia e maracujá. ● Entrecascas de melancia e maracujá. ● Sementes de abóbora, melão e jaca. ● Talos de couve-flor, brócolis e beterraba.

Arroz colorido

fotos Rafael Krambeck

● 6 xícaras de arroz ● 1 xícara de folhas verdes cozidas e batidas no liquidificador (almeirão, agrião, espinafre, folhas de cenoura, folha de brócolis, folha de couve-flor, mostarda, etc..) ● 1 beterraba pequena cozida e batida no liquidificador ● 1 cenoura cozida e batida no liquidificador ● Sal a gosto Modo de preparo: Dividir o arroz em 4 partes. Uma ficará branca. Em outra parte, colocar a beterraba, na terceira, a cenoura e na última, o purê de folhas. Colocar em uma forma o arroz branco e depois fazer camadas de arroz colorido até terminar. Apertar bem para poder tirar da forma.

Bolinho de casca de banana ● 2 xíc. de farinha de trigo (aproximadamente) ● 2 xíc. de casca de banana bem picadinha ● 1 xíc. de leite ● 1 colher (sopa) de fermento em pó ● 1 colher (sobremesa) de sal ● óleo para fritar ● 1 ovo inteiro

Modo de preparo: Colocar em uma tigela os ingredientes pela ordem, até formar uma massa mole. Levar ao fogo o óleo para aquecer e depois ir fazendo os bolinhos com o auxilio de uma colher. Deixar fritar dos dois lados, retirar do óleo e colocar sobre um papel absorvente. Servir quente.

conhecimento à comunidade, o curso realiza oficinas semestrais, onde são ensinadas receitas desenvolvidas. Já foram realizados cursos com grupos de merendeiras escolares, agentes de saúde e acadêmicos. Também é editado, durante o semestre, o livro “Aproveitamento Integral de Alimentos: Livro de Receitas”, que além de conter receitas, também traz

dicas sobre como ter uma alimentação saudável. Os livros são vendidos pelos próprios alunos. Os interessados em participar do curso ou adquirir o livro podem entrar em contato com a secretaria do curso de Nutrição da Unifra, no telefone 3025 1202. Rafael Krambeck e Gilkiane de Mello


12 fotos douglas menezes

Pelo futuro da água

A água é um bem vital, mas um recurso em escassez. O momento é de zelar por um amanhã melhor para todos

A

água da chuva pode ser mais útil do que você imagina. Com um sistema apropriado, é possível armazená-la e utilizá-la para tarefas domésticas. Algumas empresas da cidade notaram este benefício e estão favorecendo este processo. Na Associação das Filhas de Santa Maria da Providência, conhecida por escola Providência, a ideia de juntar “água que cai do céu” foi para ajudar o meio ambiente. Com o passar do tempo, as irmãs perceberam que, além da melhoria para a natureza, reduziram a conta da água. “São cobrados cerca de 20% a menos”, esclarece Irmã Sônia Maria Southier, 49 anos, diretora administrativa. O sistema de armazenamento foi pensado para ficar no ginásio, antes mesmo das obras começarem. As calhas são direcionadas para dentro de duas caixas de água de 10 mil litros cada. Há mais de 12 anos que a escola faz aproveitamento de água, e garantem que as caixas estão sempre cheias. “Em chuvas boas enche. Às vezes até se desperdiça. Transborda!”, relata Irmã Sônia. Esta água é utilizada para regar a horta da escola, uma área de 16 x 40 m, de onde são colhidos legumes e vegetais para as refeições dos alunos. São os próprios alunos que trabalham em parte do processo, ficando no estabelecimento no horário inverso às aulas. Para isso, recebem auxílio financeiro, através de bolsas, e aprendem tarefas com material reciclado.

usa o sistema de recolhimento. A cobertura do posto leva a água das calhas para o reservatório com capacidade de 75 mil litros. Para não ocorrer desperdícios é usado um controle de bóia, como uma caixa de descarga de vasos sanitários. Esta água é usada na lavagem de veículos, de oito a dez caminhões e de 40 a 50 carros por dia. A rede faz lavagens durante a semana das 8h ao meio-dia e das 14h às 18h, só não oferece o serviço em domingos e feriados. Os clientes precisam abastecer na quantia mínima de R$50,00 e ganham uma lavagem. Caso queiram utilizar apenas o serviço de limpeza para veículo, uma taxa de R$5,00 é cobrada. Segundo Leandro Machado de Vargas, gerente do posto São Pedro, é muito difícil o reservatório esvaziar. “Quando está cheio fechamos o registro do poço artesiano e vamos utilizando a água dali. Se chover, completa a caixa, por isso o poço é pouco usado”, explica o gerente. O posto da rede em Camobi, por sua vez, não possui um poço artesiano. Para a limpeza de transportes utiliza-se apenas o que é recolhido com as chuvas. Como está em funcionamento há pouco tempo, cerca de um mês, algumas vezes foi necessário pedir aos caminhoneiros para dirigirem-se ao posto São Pedro. “O reservatório ainda não está cheio lá e alguns caminhões vêm pra cá, mas por pouco tempo”, relata Vargas.

Motoristas conscientes

Outra empresa da cidade, ao invés de armazenar água da chuva, utiliza um sistema para reaproveitar água. Com a reforma de ampliação, a fábrica da CVI Refrigerantes Ltda., representante da Coca-Cola com sede em Santa Maria, foi modernizada em muitos processos durante a produção das bebidas. O xarope com a fórmula do refrigerante vem pronto dos

“Juntamos, no total, 75 mil litros de água da chuva”

Assim como a escola Providência, a rede de postos Santa Lúcia da cidade também recicla água da chuva há mais de 10 anos. O posto Santa Lúcia da BR 287 é conhecido como posto São Pedro, por localizar-se na rodovia que conecta Santa Maria a São Pedro. Desde que foi inaugurado, em 1995,

Retorno para a natureza

Caixas d´água garantem a rega diária da horta

Estados Unidos, porém precisa passar por um processo de limpeza do açúcar, que agora acontece com a troca iônica. O xarope vai para um tonel junto com uma resina de carga iônica x. A sujidade do açúcar possui carga iônica y e funciona então como atração de imãs com polos opostos. O processo causa um resíduo líquido, que é tratado na ETE – estação de tratamento de efluentes – dentro da própria fábrica. O líquido passa então por vários processos de limpeza e, ao final, por um aquário, para verificar se os peixes se mantêm vivos, e é despejado no Arroio do Passo da Ferreira. O procedimento anterior era feito com terra diatomácea e carvão, que causava um resíduo sólido, precisando ser levado para um aterro especial. O novo processo é mais benéfico à natureza, pois 50% do líquido tratado é água que retorna ao meio ambiente. Joyce Noronha

Água da chuva é reaproveitada para lavagem dos veículos


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Soluções simples para ajudar o planeta

ábitos simples podem salvar o planeta. A sustentabilidade começa dentro de casa, com a adoção do consumo consciente que traz soluções para o equilíbrio entre a satisfação do consumidor e o meio ambiente. Ser sustentável em um mundo de alto consumo pode ser difícil. Mas seria uma das soluções para começar a diminuir os problemas ambientais que tanto trazem preocupações. A educação ambiental, que parte de pessoas comuns, se torna uma grande ajuda para salvar o planeta. Eliminar o grande número de garrafas pets utilizadas pelas pessoas é uma tarefa considerada difícil por muitos. Esse tipo de plástico já causa graves danos ambientais. Ocupa espaço em terrenos, entope bueiros, agrava o problema das enchentes e há ainda a demora da composição do material. O aposentado Renato Silveira Soares está colaborando para um meio ambiente mais saudável. Há 5 anos ele reforma cadeiras de abrir e balanço, retirando o material antigo que está danificado e substituindo por tiras feitas com garrafas pets. Soares conta que aprendeu a técnica com seu filho, que comprou uma cadeira de outro senhor que realizava o mesmo trabalho. Ele desmontou até aprender como fazia. “É um passatempo e ajuda a dar um fim para as garrafas que prejudicam o meio ambiente”, revela Soares. Ele junta as garrafas que utiliza em casa com as que ganha de amigos e vizinhos e realiza o trabalho. Quando tem em torno de 150 a 200 garrafas começa a tarefa, que não é nada fácil. Primeiro retira os rótulos e elimina a cola que fica no recipiente. O próximo passo é lavá-las e

partir para o corte. Os fios são preparados através de uma espécie de máquina criada pelo seu filho. Ele leva em torno de dois dias para cortar as tiras. Depois desta tarefa, começa a produção que dura em torno de duas horas. Outra atitude do aposentado é a compra, em sucatas, de armações de cadeiras que as pessoas põem fora. Ele as reforma e vende. Com esta atitude também ajuda a eliminar o grande número de ferros e plásticos que existem em sucatas.

fotos carolina moro

Economia de água e dinheiro Pensar em sustentabilidade é garantir vida para as gerações futuras. É importante criar uma rotina e principalmente uma consciência. Armazenar a água da chuva é uma ação simples e fundamental. O aposentado Marino Fogliarini reconhece que a água é um recurso vital. Na sua casa possui três bombonas que armazenam o total de 1.200 litros através de um sistema de calhas. Há mais de 20 anos Fogliarini usa o líquido para lavar o pátio, aguar as flores e a horta. “A água da Corsan possui produtos químicos e prejudica a raiz”, afirma o aposentado. O objetivo vai além da economia e é uma iniciativa para poupar o planeta. A preservação do recurso não para por ai. O aposentado não desperdiça água ao escovar os dentes, fazer a barba e na hora do banho. A esposa também colabora para evitar o desperdício, já os netos não reconhecem a importância dessas atitudes. Fogliarini revela que em sua casa ele controla o consumo dos netos. “Não é pelo dinheiro, é pela realidade, vai faltar água no mundo”, diz. Na horta, nos fundos da casa, é

Sistema é utilizado para armazenamento e reaproveitamento da água

depositado todo o lixo orgânico que serve de adubo e garante a boa qualidade das verduras. O militar reformado Milton Scalabrin aprendeu com o vizinho e já incentivou amigos a fazer o mesmo sistema de captação da água pelas calhas. A quantidade armazenada é aproveitada para lavar o carro, dar banho no cachorro e colocar na máquina de lavar que, depois de usada, também é reutilizada para limpar a casa e lavar o pátio. “Eu uso quatro baldes de água para lavar a roupa e mais quatro para enxaguar”, afirma. Scalabrin diz usar só a água da chuva nas folhagens e comenta que o consumo fica em torno de 30 reais no mês. “Dá para fazer todos os meses um churrasco com a economia de água”, conclui. Ações individuais, quando somadas, provocam maiores resultados e, gradativamente, é

Soares (acima) tem orgulho de preservar o meio ambiente com o seu trabalho. Ao lado, as bombonas armazenam a água que é utilizada nas tarefas domésticas.

possível retardar os problemas ambientais. A nossa sobrevivência e qualidade de vida depende da sustentabilidade do planeta. Em cada atitude teremos um retorno e o importante é incenti-

var cada vez mais iniciativas que partam de dentro de casa e ajude a preservar o meio ambiente. Caroline Cechin e Tiane Dias


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Long Neck: do vidro à areia Outro projeto em fase de experimentação, que começou no ano passado, utiliza resíduos de garrafas long neck. O trabalho é dos cursos da Engenharia Ambiental e Arquitetura e Urbanismo da Unifra. O objetivo é descobrir se é

Piloto do captor solar, capaz de transformar energia solar em elétrica evandro sturm

ento e cinqüenta toneladas por dia. Esta é a estimativa da quantidade de lixo que é produzido em Santa Maria, segundo a prestadora de serviços PRT, que faz o serviço de coleta. Todo este lixo vai parar no aterro sanitário, que comporta, além da matéria orgânica, todo aquele resíduo sólido, que demora até milhões de anos para se decompor. Entre eles, estão o plástico e o vidro, materiais de demorada degradação. Pensando nisso, o curso de Engenharia Ambiental do Centro Universitário Franciscano (Unifra), em parceria com outros cursos da instituição, elabora diversos projetos que vem numa tentativa de amenizar a poluição e a quantidade de lixo que vai para o aterro, atualmente com especial enfoque aos resíduos sólidos. Um destes projetos chega a utilizar até centenas de garrafas pet, dependendo do tamanho da estrutura. O piloto, montado no ano passado, trata de um captor solar, que aproveita a energia solar e a converte nas formas de aquecimento e eletricidade. O professor da Engenharia Ambiental, Galileu Adeli Buriol, conta que o objeto está em fase de testes e é voltado, no caso da Unifra, somente para o aquecimento da água, de maneira ainda artesanal, sem a utilização de materiais sofisticados. O captor funciona quando o calor do sol ativa os elétrons e cria uma corrente elétrica, mas, para isso, as garrafas pet devem ter um corpo negro, que absorva a energia. No projeto implantado na Unifra o revestimento foi feito com caixinhas de leite pintadas de tinta preta. “As pessoas tendem a pensar que as garrafas podem não suportar o calor.”, explica o professor. Buriol esclarece ainda que, para que o processo ocorra com sucesso, a inclinação do captor deve ser em torno de 30° ao norte, pois quanto mais perpendicular chegarem os raios solares, mais energia chegará por unidade de área do instrumento. Nos dias de muito calor, no verão, às vezes nem é preciso ligar o chuveiro elétrico.

Aluno e professoras com as amostradas dos resíduos sólidos

possível substituir, parcialmente, a brita ou a areia na argamassa ou em blocos de concreto por vidro triturado, para a construção civil. O primeiro passo foi recolher as garrafas descartáveis em casas noturnas da cidade, onde o consumo era grande e sem custo para a pesquisa. A arrecadação chegou a mais de 50 sacos de garrafa por noite. Depois, as garrafas eram lavadas e quebradas em um determinado tamanho, para serem trituradas no moinho, onde então era obtido o resultado previsto para que passasse em uma peneira.

Segundo a professora da Engenharia Florestal da Unipampa, Lidiane Barroso, 29 anos, que participou como coordenadora do projeto, as garrafas de cor verde eram mais complicadas de serem retiradas. Um dos bolsistas do projeto, acadêmico da Arquitetura, Daniel Bohrer Maciel, 24 anos, conta que, apesar dos resultados serem bastante positivos, o trabalho é árduo: “O projeto é um pouco desgastante, porque o exercício de moer é totalmente braçal, mas o interessante é acompanhar passo a passo o processo de transformação do vidro”. No final de 2008, a equipe envolvida na pesquisa chegou à conclusão que as garrafas podem substituir até 25% da areia ou brita nas argamassas ou blocos de concreto. Este ano, o objetivo é tentar aumentar essa porcentagem e constatar até onde o material pode ser alterado. Os professores e alunos estão esperançosos e acreditam na redução de gastos, pois a areia e a brita possuem um valor alto, sendo que as garrafas são materiais praticamente gratuitos e com poucos recursos para reciclagem. Maitê Vallejos e Thaís Bueno

Um click pelo planeta Você gostaria de ajudar o planeta, mas não tem ideia de como começar? Quer participar de campanhas em prol do meio ambiente, mas não sabe como? Gostaria de prejudicar menos o mundo, mas acha que isso é muito complicado? Deseja plantar árvores para ajudar no reflorestamento, mas não tem tempo e nem conhecimento? A resposta para todas essas perguntas está ao alcance dos seus dedos: basta navegar na internet. Se você nunca pensou nisso, saiba que é possível encontrar na rede vários portais com dicas de como ajudar o meio ambiente. O território virtual oferece os mais variados conteúdos a seus usuários. Entre novidades e notícias, vídeos e downloads, sites de relacionamento e exposição da vida pessoal, há quem encontre na internet espaço para ajudar o planeta, de uma forma prática, rápida e sem sair de casa. Um destes sites a favor do meio ambiente é o Clickarvore, que foi criado a partir de uma parceria entre a fundação SOS Mata Atlântica, o Instituto Ambiental Vidágua e o Grupo Abril, com apoio de empresas patrocinadoras. Ele consiste em um programa de reflorestamento com espécies nativas da Mata Atlântica pela internet. Através de cada click dado no site pelos usuários, uma árvore é plantada em algum lugar do Brasil, e você ainda confere por meio de uma mapa de rastreamento, o local exato onde sua árvore foi plantada. Segundo a assessoria de imprensa do site, um dos objetivos é mobilizar a sociedade civil para participar dos projetos de reflorestamento, promovendo assim a educação ambiental. Além de ajudar a natureza, o Clickarvore gera empregos em viveiros florestais e propriedades rurais durante os plantios. No Rio Grande do Sul, o Clickarvore já tem adeptos. O santa-mariense Matheus Castelan Pereira, 20 anos, estudante de Direito, ocupa um posto no

ranking regional, com mais de 200 árvores plantadas. Ele conheceu o site através de um amigo. No primeiro momento, viu o site como um meio de “compensar” a natureza pelos danos causados por ele e pelos homens em geral. “Além de plantar árvores, o site serve também para reciclar os pensamentos de seus usuários”, comenta Pereira. Ele ainda acredita que as pessoas passam naturalmente a pensar em outras formas de, ao longo do dia a dia, contribuir para a conservação do planeta. Também na luta pela preservação do meio ambiente, estão os sites Iniciativa Verde e WWF, que desenvolvem diversos projetos com a finalidade de preservar o planeta. O primeiro conta com o projeto Amigo da Floresta, que consiste em pesquisas na área florestal, na capacitação e na restauração florestal, através de recursos doados pelos internautas. Também através de doações, o WWF desenvolve um programa para frear o desmatamento da Amazônia, proteger as nascentes de água doce e evitar a extinção de espécies como a onça-pintada, por exemplo. Além disso, é possível filiar-se ao site e participar ativamente através de diversos tipos de contribuição. De acordo com o biólogo Cláudio Luiz Ribeiro, 55 anos, o trabalho desenvolvido pelo WWF é muito sério e visa ajudar o planeta em vários seguimentos. “As pessoas deveriam se conscientizar mais, não dá nenhum trabalho sentar em frente ao computador e contribuir com o planeta de uma forma séria e rápida”, afirma Ribeiro que é filiado ao site desde abril de 2008. Opções para ajudar o planeta através da internet não faltam. Basta o internauta se conscientizar que ele tem poderosas ferramentas para lutar pela preservação do meio ambiente. O planeta e as gerações futuras agradecem. Cassiano Cavalheiro e Luisa Schneiders douglas menezes

O provável futuro das garrafas descartáveis

Com apenas um clique, você planta uma árvore por dia


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Santa Maria pode ser mais verde

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uem não gosta de ficar na sombra no verão? Com as temperaturas cada vez mais elevadas e raios solares mais intensos, evitar a exposição solar e proteger a pele é o indicado pelos médicos. São as árvores que proporcionam sombra, embelezam a cidade e melhoram o ar. Mesmo assim, em cidades como Santa Maria, são encontrados longos espaços urbanos sem arborização. Segundo o engenheiro florestal Alexandre Barnewits, o principal benefício das árvores é o serviço ambiental: “As árvores diminuem a poluição, protegem contra o vento e chuva, regulam a temperatura e a umidade”. Ele compara que uma única árvore pode substituir quatro aparelhos de ar-condicionado, através de sua sombra natural. Em Santa Maria, as árvores são encontradas em praças, parques, canteiros das avenidas e em frente a edifícios. Poucas resistem ao longo das ruas. Muitas foram retiradas, com autorização, pelo plantio inadequado. Plantio consciente

fotos maiara bersch

A travessa Lucas Barbosa, no centro, é um exemplo da falta de arborização da cidade

O corte de árvores é regulamentado por lei, só pode ser Qualquer pessoa pode plan- feito com autorização da prefeitar uma árvore. Mas para evitar tura. O engenheiro explica que problemas, profissionais devem para cada árvore cortada, devem ser consultados antes do plantio ser plantadas 15 árvores: “Mas e da escolha da espécie. Bar- não é obrigatório colocar uma, newits recomenda que deve ser no local de onde foi retirada. feita uma análise do local para Mesmo que apenas a espécie definir a melhor árvore e obter de árvore é que estivesse inadeinformações sobre quada para o espaço”. a forma correta de O plantio das mudas plantio. “Acontece substitutas pode ser com freqüência de as feito por terceiros, ou pessoas terem proseja, as mudas podem blemas nas calçadas ser compradas e e culparem as árvoencaminhadas até res. O problema não mesmo à prefeitura, é da raiz e sim da cal- Para Barnewits, é mediante acordo. çada”, complementa. possível arborizar a cidade mas O espaço destinado Por que deve haver exige esforço à árvore tem que ser mais árvores? compatível com o tamanho que ela vai Os benefícios das atingir quando adulta. árvores são pouco Frente aos problereconhecidos pela mas enfrentados pela população. O analista falta de informação ambiental do Ibama, sobre as árvores, foi Instituto Brasileiro elaborado pela Secrede Meio Ambiente, Para Buriol, taria Municipal de lamenta que as pesdiminuir as áreas Proteção Ambiental, soas caracterizem pavimentadas o Plano Municipal de poderia melhorar o a árvore como um Arborização (PMAU) ambiente climático problema: “A maiopara orientar a popuria alega que entope lação. No Plano há as infor- calha, faz sujeira, podem ser mações sobre as características escaladas por ladrões, para os da arborização da cidade, a empresários, encobre fachada relação das árvores protegidas da empresa com logotipo, entre pelas Leis Municipais nº 2437 outros motivos”. e nº 2506, além de informações A influência das árvores no sobre o porte de cada espécie, e clima pode ser percebida com como deve ser feita a manuten- um exemplo. Barnewits cita um ção das mesmas. dos municípios mais quentes

do país, Belém, no Pará. Após a arborização da cidade foi constatada a diferença de 11º C a menos, sob a copa das árvores, com relação ao sol. “Aqui as proporções seriam menores. Mas já se sabe que Camobi tem 2º C a menos que no centro”, compara o engenheiro. Não há um número exato de árvores necessárias, existe uma média por área: “Para ter uma cidade saudável o indicado é que existam 12 metros quadrados de árvores por habitante, seria em torno de três árvores por pessoa”, calcula o profissional. O parque Itaimbé é um exemplo de arborização na cidade, que mesmo assim não supre as necessidades do município. Uma árvore demora de quatro

a cinco anos, em média, para ficar jovem estabelecida, o que varia conforme a espécie. Como ela demora a crescer, exige proteção. De acordo com Barnewits é possível arborizar a cidade: “Só exige esforço. Depende de vontade e do investimento desejado, pois tem que haver manutenção. E também esbarra nas prioridades”. Na ornamentação das cidades as árvores também são utilizadas. Algumas prefeituras mantém regras quanto ao plantio, conforme a coloração das flores, altura ou tamanho da copa, em avenidas ou praças. O engenheiro afirma que só não é recomendada a utilização de árvores frutíferas no passeio público: “Os frutos, quando caem, podem causar estragos.

Antes de plantar, especialistas indicam orientação

Mas também falta educação, as pessoas não respeitam os frutos das árvores”. Os moradores de Santa Maria também sentem a necessidade de ter mais árvores ao longo das ruas, como é o caso da aposentada, Zena Dotto. Ela conta que sente falta das árvores porque fornecem ar puro: “Árvore é vida, brinco que vim do mato, mas que o mato não veio atrás”. Já o aposentado Eldio Zimmermann, reclama que falta sombra de árvore: “O verde dá alegria, poderia ter mais árvores na cidade. Só tem nas praças”. A arborização urbana é toda cobertura vegetal existente na cidade, seja em áreas públicas, como praças, parques ou espaços particulares como os jardins das residências. Para o engenheiro agrônomo Galileo Buriol, a vegetação favorece a termo regulação e evita a amplitude térmica. Quanto maior área florestada, melhor será a condição térmica: “Mas não basta só plantar árvores, a vegetação aumenta a absorção de água e diminui as enxurradas”, afirma. A melhoria das condições climáticas nas cidades, segundo Buriol, seria obtida com a diminuição das áreas pavimentadas e substituição por vegetação. O engenheiro comenta que há anos atrás os cursos de engenharia procuravam soluções para que a água escorresse rápido: “Hoje é ao contrário, o planejamento é para absorver água, como nos grandes pátios com pavimentação permeável que já existem na Holanda”. No Rio Grande do Sul, a característica recomendada para melhor adaptação é que a árvore seja caduca, ou seja, que perde folhas no inverno, por termos um clima rigoroso. Segundo o Plano Municipal de Arborização em Santa Maria é recomendado o plantio de espécies nativas da região. Se você ficou com vontade de plantar uma árvore procure informação nos órgãos responsáveis ou profissionais da área. Alice Balbé e Camilla Lopes

Como funciona a reposição florestal obrigatória

O que fazer antes de realizar a poda das árvores

● Art. 29 - A reposição florestal obrigatória deverá ser feita na base de 15 (quinze) mudas de espécies nativas para cada árvore cortada, preferencialmente da mesma espécie, com o plantio no prazo máximo de um ano, a partir da data do licenciamento. ● Parágrafo único - No cumprimento do prazo de um ano, para a reposição florestal obrigatória, deverá ser considerada a época adequada, as condições do sítio e espécies previstas ao plantio.

Procure a Secretaria de Proteção Ambiental, localizada no prédio da Prefeitura, na rua Venâncio Aires, 2277, das 8h às 13h. No local é feito um projeto para que a licença de poda seja concedida. Deve ser paga a taxa de R$ 15,82. Os custos com a equipe que realizará a poda são particulares. Se a árvore estiver em local público e causando algum tipo de transtorno, basta ligar para a Secretaria de Proteção Ambiental, 3921-7151, das 8h às 12h e solicitar o pedido. O caso é estudado por profissionais da secretaria e a poda é feita sem custos.


Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra

8ª edição - junho/2009

Parque Itaimbé: preservar é a solução “Preserve os nossos rios, nosso verde, nosso ar. E também tudo aquilo que tiver que preservar. Preserve o que é mato nesse mundo grandioso. Pois tudo em breve, eu acho, poderá ser valioso”. Esses versos da Banda Ultramen precisam, mais do que nunca, serem colocados em prática. Já podem ser percebidas as conseqüências geradas pela falta de cuidado com o meio ambiente. O homem transforma o espaço na busca de suprir suas necessidades e desejos. Essas modificações interferem na relação harmônica e natural que deveria existir entre todos os componentes. Porém, muitas vezes, o ser humano não pensa nas consequências de suas ações. Com toda a urbanização é difícil encontrarmos lugares arborizados. Em Santa Maria, o parque Itaimbé é reconhecido por sua extensão em áreas verdes. O lugar atrai olhares e faz as pessoas refletirem sobre o que realmente significa o termo meio ambiente. A palavra refere-se a um local de interação das pessoas entre si e com o espaço em que vivem. Neste contexto, a convivência em sociedade e os espaços em comum exigem das pessoas respeito a certos limites, como a preservação desses bens públicos e naturais. O final de semana tão esperado chega. Com o fim do trabalho e da rotina acelerada as pessoas buscam lazer e descanso. Algumas optam por lugares ao ar livre. Nesse cenário, crianças andam de bicicleta, jogam bola e brincam nas pracinhas. Em grupos, jovens se integram para namorar, conversar e ouvir música. Quem gosta de uma boa leitura aproveita a sombra do parque, nos dias quentes, para essa prática. O ambiente arborizado, as pistas de caminhada e o espaço para desenvolvimento de atividades culturais caracterizam o parque Itaimbé. A sombra e o canto dos pássaros seduzem os moradores que vivem na volta do local. É o caso da pensionista Alany Culau, de 80 anos. Sentada na sombra, a moradora da avenida Itaimbé comenta da alegria que sente ao abrir a janela do apartamento e ver a área verde do parque. Durante o verão recorre ao ar fresco proporcionado pelas árvores, já no inverno busca o refúgio do sol nos dias frios. A vizinha Ruth Rempel, 76, aproveita a temperatura agradável para fazer tricô e diz gostar do lugar, mas ressalta

fotos Francine Boijink

problema foi a estudante Cibele Ximendes, 14 anos. Segundo ela, um agravante da situação é o mato e a grama alta. Isso seria uma forma de atrair mais sujeira. “Como o ambiente já está sujo, as pessoas pensam que não vai fazer mal atirar mais um papel”, comenta. Os passeios diários com seu cachorro fazem a estudante perceber também que a falta de lixeiras contribui para piorar a situação. Meio ambiente e exercícios físicos

Lixo é jogado no chão próximo a lixeira

o lixo espalhado nos gramados como um ponto negativo. A melhoria do parque e a prefeitura A preservação das áreas verdes e o investimento em locais de lazer em Santa Maria, a exemplo do parque Itaimbé, é um dos objetivos da Secretaria de Município de Proteção Ambiental. Segundo o secretário, Laurindo Lorenzi Filho, investir não é sinônimo de despesas, pois visa a inserção do município no eco turismo. Lorenzi esclarece que, através da fundação, será possível captar recursos nacionais e internacionais oriundos da iniciativa privada. Outra ideia é realizar um inventário ambiental das áreas arborizadas na cidade. Dessa maneira, será obtido um levantamento do patrimônio municipal a fim de desenvolver políticas públicas de longo prazo. É objetivo também sensibilizar e conscientizar as pessoas sobre a educação ambiental, abrangendo escolas e a comunidade. Além disso, segundo Lorenzi, existe a intenção de estabelecer parcerias com cursos de ensino superior, ligados a área ambiental. Em toda a extensão do parque é normal observar bichinhos de estimação e de rua. Isso causa preocupação aos frequentadores, pois crianças e animais dividem os mesmos espaços. A comerciante Fátima Rosane Rodrigues da Costa, 50 anos, sugere que sejam colocadas telas ao redor das pracinhas infantis. Segundo o secretário, há o projeto de

criar um “Centro de Bem-Estar Animal”, uma sugestão do vereador Manoel Badke ao poder executivo municipal. A ideia é que o centro trabalhe na busca pela educação das pessoas em relação a estas questões. O projeto seria divulgado por meio de campanhas midiáticas, palestras e a realização de cadastros. Quanto ao depósito do lixo em locais incorretos citado por Ruth, como no gramado do parque, Lorenzi diz que a cidade

precisa avançar na coleta através de uma maior regularidade no recolhimento, seja ela de forma convencional ou por contêineres. Ele cita a recente criação da “Equipe de Controle de Qualidade da Coleta de Lixo”, que realiza vistoria do sistema de coleta em três turnos. Ressalta que o sucesso desse trabalho depende da participação da população através do telefone da “Linha Verde Municipal”. Quem também comentou esse

Crianças e adultos convivem com o depósito incorreto de lixo

Para Cibele sujeira atrai mais lixo

Fátima sugere que as pracinhas sejam cercadas

Além das caminhadas e dos passeios com os animais de estimação, há aqueles que vão para o Itaimbé praticar o Parkour. Um grupo de cerca de 20 pessoas se reúne em locais como o parque para se exercitar através dessa atividade física que não é considerada um esporte, por não ter diretrizes e regras estabelecidas e não visar a competição. O meio ambiente é um aliado deles, a medida que utilizam as árvores para a prática. É uma disciplina para exercitar o corpo, a mente e possibilita conhecer melhor as habilidades físicas ao se mover de um ponto a outro. Segundo o acadêmico de engenharia elétrica e praticante do Parkour, Ricardo Cézar do Amaral, 19, a prática não prejudica o meio ambiente. Ao contrário, os praticantes buscam esses locais naturais para terem seus momentos de conversas e treinos. Já o estudante de Letras Gabriel Pacheco Cuneto, 21, salienta que o parque Itaimbé possui um grande número de obstáculos concentrados o que favorece os treinamentos e a busca pela própria superação. Essa prática é um exemplo de como a preservação desse espaço natural é importante para o lazer e para a melhoria na qualidade de vida. Dessa forma, percebe-se a importância da palavra preservação para que as novas gerações possam chegar à idade das vizinhas Ruth e Alany e usufruirem de espaços arborizados e naturais como o parque Itaimbé. Como diz a letra da música do Ultramen, hoje o homem pode não dar muita importância e não cuidar do meio ambiente, mas no futuro o seu valor será incalculável. Para sugestões e reclamações ligue para a Linha Verde da Prefeitura Municipal pelo 39217151 das 8 às 12 horas. Francine Boijink e Vanessa Barbieri Moro


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