Ca m in ho
Igre ja
Doutrinas
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Revista experimental semestral do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano Ano 12 / N.º 23 - 1º sem. de 2016
a i g r e n E
Cre n ç a Sagrado
Religião
ino Div
Mís tico
ESPIRITUALIDADE a busca pelo sentido da vida
ÍNDICE A ESPIRITUALIDADE E OS TERMOS QUE A CERCAM POR QUE A RELIGIÃO INFLUENCIA TANTO O COMPORTAMENTO HUMANO? O CRISTIANISMO E SUAS VERTENTES A DOUTRINA KARDECISTA OS ENCANTOS DO TURISMO RELIGIOSO NO ESTADO O ESPORTE COMO FONTE DE ENERGIA “TE BENZO, TE CURO!” ELEMENTOS DA NATUREZA E MISTICISMO NAS RELIGIÕES AFRICANAS CUIDE DO SEU INTERIOR
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EXPEDIENTE REVISTA PLURAL • Ano 12 • N.º 23 • 1º semestre de 2016 Revista experimental produzida pelos alunos do 4° semestre do curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano Reitora: Iraní Rupolo Pró-reitora de Graduação: Vanilde Bisognin Coordenadora do Jornalismo: Sione Gomes Orientação da revista Plural: • Profa. Glaíse Bohrer Palma (redação) • Prof. Iuri Lammel (diagramação) • Profa. Laura Elise Fabrício (fotografia) Reportagens e diagramação: Amanda Souza, Arcéli Ramos, Bruna Bento Milani, Caroline Costa, Eduarda Henriques Garcia, Eduardo Sauthier Monteiro, Fabiano Oliveira, Gabriel Haesbaert, Gabriel Pfeifer, Gabriela Martins, Gabrielle Righi, Gilson Stefenon, Júlia Fleck, Karen Borba, Keila Marques, Larissa Essi, Lucas Amorim, Lucas Cirolini, Marcos Kontze, Maria Vitória Pafiadache, Márlon Souza, Matheus Oliveira, Natália Rosso, Tiago Nunes, Victória Papalia, Willian Ignácio
Fotografias: Lab. de Fotografia e Memória Foto de capa: Foto de Rodrigo Souza, com produção de Iuratan Rodrigues, Rodrigo Souza e Roger Haeffner (Laboratório de Fotografia e Memória) Impressão: Gráfica Editora Pallotti Tiragem: 500 exemplares Acesse: www.centralsul.org/plural
Texto: Gabriela Martins e Karen Borba
Diagramação: Karen Borba e Matheus Oliveira
A ESPIRITUALIDADE E OS TERMOS QUE A CERCAM s a t ei
s a i f loso
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greja, religião e espiritualidade. Você sabe, de verdade, o que estes termos significam? Sem dúvida, os três parecem fazer referência a um mesmo conceito, mas, já vamos avisando que eles podem ser bem diferentes. Ficou confuso? Não tem problema! Com a ajuda do professor doutor em Filosofia Márcio Paulo Cenci a gente te explica estes e os demais termos que estarão presentes na nossa revista, assim, você poderá aproveitar a leitura ao máximo sem nenhuma dúvida. Vamos começar então pelo tema da Revista Plural deste semestre, a espiritualidade. Já parou para pensar sobre o que ela representa? Disponibilizamos na internet um questionário sobre o assunto e as 53 pessoas que responderam pensaram nisso, porém, as respostas foram controversas. Apesar de 32 pessoas afirmarem que ter espiritualidade é acreditar em um ser maior, mais da metade considera possível que uma pessoa sem religião tenha espiritualidade. Vamos aos fatos, acreditar em um “ser maior” pode até fazer parte da espiritualidade de uma pessoa, mas isto não é espiritualidade no todo. Segundo Cenci, espiritualidade é o fenômeno que nos leva a buscar explicações fora do nosso cotidiano e tais explicações não são encontradas necessariamente nas religiões, podem ser encontradas, por exemplo, na arte. “É um ímpeto que faz parte de todos os seres humanos, para tentar sair das respostas que o cotidiano oferece. É uma espécie de elevação”, esclarece o professor. Isso mesmo, a espiritualidade faz parte de todos os seres humanos, independente de seguir ou não uma religião. De uma forma ou de outra, temos espiritualidade, já que é muito difícil vivermos sempre focados nas questões práticas do dia a dia, sem uma válvula de escape para os problemas e conflitos.
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FOTO RODRIGO SOUZA / PRODUÇÃO IURATAN RODRIGUES, RODRIGO SOUZA E ROGER HAEFFNER / LABORATÓRIO DE FOTOGRAFIA E MEMÓRIA
PARA ENTENDER ESPIRITUALIDADE, PRECISAMOS COMPREENDER OS TERMOS QUE SE ENTRELAÇAM A ELA
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Não podemos negar que espiritualidade tem muito a ver com religião, porque mais da metade das pessoas que responderam ao questionário disseram que tanto religião quanto espiritualidade têm o mesmo significado, acreditar em um ser maior. Porém, já vimos que espiritualidade é um termo bem mais amplo e que pode ser encontrada em vários meios como, por exemplo, uma obra de arte ou uma filosofia de vida.
IGREJA E RELIGIÃO: O QUE SÃO? Já que estamos falando em religião, é hora de entendê-la. Ao buscar uma forma de expressar sua espiritualidade o indivíduo tenta encontrar algo que o ajude a compreender seus anseios espirituais que dizem respeito as questões humanas que tentamos responder durante toda nossa vida: de onde viemos? Qual o sentido da vida? Para onde vamos? As religiões possuem estas respostas, algumas de forma mais ampla e outras de maneira mais restrita, por conta disso servem como rePARA CENCI, A fúgio, tornando-se então, parte ESPIRITUALIDADE da espiritualidade individual dos fiéis. Cenci define religião como “É UM ÍMPETO “um conjunto geral de princípios QUE FAZ PARTE DE que tentam orientar comunidades a responder anseios”, mas TODOS OS SERES ressalta que as religiões seguem HUMANOS, PARA princípios gerais e não dogmas. Os dogmas são gerados e mantiTENTAR SAIR dos pelas igrejas. DAS RESPOSTAS Mas, espera aí, as igrejas não passam aos fiéis a imagem exaQUE O COTIDIANO ta da religião? Não é bem assim. Igrejas são comunidades formaOFERECE” das em torno de algum dogma que, para aquela igreja, são verdades incontestáveis e não precisam de provas, mas estes dogmas podem variar de uma igreja para outra, é algo muito particular. Por este fato não ser de conhecimento de todos, o professor aponta um problema recorrente na sociedade: “Muitas vezes quando afirmam que certos problemas pertencem a uma religião, na verdade, podem ser problemas de uma determinada igreja e não da religião em si”.
FILOSOFIAS DE VIDA E SEITAS: É TUDO A MESMA COISA? Nas palavras do professor Márcio Cenci, uma filosofia de vida é “um conjunto de orientações gerais que tentam dizer qual o sentido da existência humana”. Normalmente envolvendo meditação, a filosofia traz consigo uma ideia de autoconhecimento e é atrelada a tentativa de explicar o sentido da vida, sem a presença de dogmas. Para algumas pessoas, seguir uma filosofia de vida pode ser participar de uma seita, por exemplo. Mas Cenci alerta que, apesar de demonstrarem semelhança, os termos, na prática, são diferentes. A definição de seita depende muito do ponto de vista das religiões, quando religiões tradicionais olham para movimentos nascentes, com costumes e ritos diferentes, podem considerar estes mo-
PRA VOCÊ, O QUE É TER ESPIRITUALIDADE? 100%
Acreditar em um ser maior
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Seguir alguma religião
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Ímpeto humano de buscar fugir do cotidiano através da religião ou da arte
Nenhuma das anteriores
MARIA LUISA VIANNA / LABORATÓRIO DE FOTOGRAFIA E MEMÓRIA
vimentos como uma seita. Dependendo da forma como é dito pode soar como pejorativo. Mas, como saber quando não usar esta denominação? Simples, quando denominarmos um movimento como seita por conta de algo que é tido como sagrado para eles, estaremos ofendendo. SAGRADO E PROFANO, COMO ASSIM? Considerar algo sagrado é como criar espaços de espiritualidade, ou seja, para o crente há algo sagrado envolvido em um ritual ou em algum objeto e, acreditar nisso, faz bem a ele. A Igreja Católica, por exemplo, considera o altar um lugar sagrado, assim como religiões africanas consideram como ritual sagrado a entrega de oferendas. Para quem crê, o altar e as oferendas são sagrados, para quem não crê, ambos são profanos. Como assim, profano? O profano não vê o sagrado. Onde o católico vê o sagrado altar, o profano vê apenas uma mesa, as imagens santas representadas nas paredes são vistas apenas como imagens comuns, as oferendas das religiões afro são vistas apenas como sujeira na rua e o sábado, sagrado para os adventistas sabatistas, é visto apenas como mais um dia da semana. E QUEM NÃO CRÊ? Podemos pensar que agnósticos e ateus, por não crerem em algo maior, só possuem um lado profano, mas isto não é verdade. Para entendermos, primeiro temos que saber que ateus e agnósticos não tem os mesmos preceitos. Agnósticos não criticam as crenças alheais, ou seja, para eles o ato de crer não é absurdo, apenas acham impossível conhecer as características de Deus ou justificar a crença nele. Em resumo, não fazem pouco caso dos ritos, acreditam que eles realmente possam ser sagrados para alguém, só não aceitam as justificativas para isso. O ateu é diferente. A palavra ateísmo deriva do termo teísmo que, segundo Cenci, “é a posição filosófica que considera a crença em Deus como uma crença justificável racionalmente”, ateísmo significa então que é justificável a crença da não existência de Deus, ou seja, é racional crer que Deus não existe. O ateu não acredita no sagrado. O agnóstico respeita o sagrado, apesar de não crer n’Ele. Contudo, tanto ateus quanto agnósticos possuem espiritualidade, ela apenas se manifesta de maneiras diferentes. Pode ser com música, com obras de arte ou com alguma outra coisa que os faça fugir do cotidiano e se desprender dos afazeres e das preocupações concretas. VAMOS LÁ! Agora que você entendeu os conceitos básicos, está pronto para embarcar conosco no mundo espiritual apresentado pela nossa revista. Mas antes, o professor Márcio Paulo Cenci deixa um recado, “podemos tentar ensinar e convencer uma pessoa a acreditar no mesmo que nós através da conversa, porém, jamais podemos obrigar alguém a ter a mesma experiência que nós. Diferente da ciência, que oferece prova e nos obriga a acreditar, o mundo espiritual é livre de amarras.” Então, seja qual for a sua crença, ou a sua não crença, deixe fluir a sua espiritualidade e desfrute ao máximo da Revista Plural. Boa leitura!
“PODEMOS TENTAR ENSINAR E CONVENCER UMA PESSOA A ACREDITAR NO MESMO QUE NÓS ATRAVÉS DA CONVERSA, PORÉM, JAMAIS PODEMOS OBRIGAR ALGUÉM A TER A MESMA EXPERIÊNCIA QUE NÓS. DIFERENTE DA CIÊNCIA, QUE OFERECE PROVA E NOS OBRIGA A ACREDITAR, O MUNDO ESPIRITUAL É LIVRE DE AMARRAS” Márcio Paulo Cenci é doutor em Filosofia e professor do Centro Universitário Franciscano
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ARTE SOVRE FOTOS DE SXC.HU
TODO MUNDO CONHECE UM AMIGO QUE MUDOU O COMPORTAMENTO APÓS SE CONVERTER À UMA DETERMINADA RELIGIÃO. SE NÃO UM AMIGO, UM VIZINHO. OU, QUEM SABE, VOCÊ MESMO.
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s histórias são muitas: o fulano que deixou de beber, o cicrano que virou voluntário em uma ONG, e por aí vai. À medida que o indivíduo se entrega a uma crença, sua visão de mundo muda, velhos hábitos são dispensados e substituídos por novos. Por que será que isso acontece? De acordo com a teóloga Lethiérie Dantas, o indivíduo se entrega a religião na busca por respostas. “A religião, do latim, religare, significa religação e é ponto de equilíbrio e esperança. É o que alguns chamariam de lugar de fuga. O tempo e o espaço trazem ao ser humano a consciência de sua vulnerabilidade. Os pensamentos filosóficos existenciais aceleram a necessidade intrínseca de se encontrar uma resposta, principalmente que traga segurança a essa condição de fragilidade. A religião encontra espaço no exato momento em que o transcendental é tido como único alento”, explica. A religião tem uma função social relevante ao participar da formação das crianças, ensinando respeito e um comportamento moral. É no que acredita o professor doutor em Filosofia, Diego Zanella. “A religião promove convívio e socialização. Deve ser uma
promoção sadia e equilibrada, sem olhar para os extremos, pois eles podem deturpar um pouco a vivência que se tem na religião”, afirma. MUDANÇA INDIVIDUAL E COLETIVA A partir do momento em que a religião se torna eixo fundamental na vida dos brasileiros, ela influencia o comportamento do indivíduo e, em grande escala, exibe uma mudança social. “Independentemente da divindade cultuada, a religião tem por base valores doutrinários e práticas ritualísticas que exigem do indivíduo uma postura intelectual, moral e ética, o que condiciona a uma mudança do comportamento humano”, declara a teóloga. Zanella alerta sobre a necessidade de bons líderes. “Quando se reúne qualquer grupo de indivíduos, é muito normal surgirem alguns líderes. Esses líderes acabam conduzindo. Então, eu acho que uma coisa importante de ser vista na religião é que ela deve ser conduzida por líderes bem preparados para que você não tenha fundamentalismos, extremismos ou interpretações ao ‘pé da letra’ da Palavra Sagrada”, lembra o professor.
“A RELIGIÃO, DO LATIM RELIGARE, SIGNIFICA RELIGAÇÃO E É PONTO DE EQUILÍBRIO E ESPERANÇA. É O QUE ALGUNS CHAMARIAM DE LUGAR DE FUGA”
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ARQUIVO PESSOAL
ROGER HAEFFNER
Lethiérie Dantas destaca que os questionamentos existenciais e a vulnerabilidade induzem o ser humano a buscar a religião
Diego Zanella ressalta que, de fato, a religião interfere na vida das pessoas.
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JULIANO DUTRA
Todas às segundas-feiras o grupo de 7 pessoas sai unido para ajudar quem precisa. O ponto de partida do grupo é a estação rodoviária de Santa Maria.
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ANJOS DA NOITE Ajudar o próximo é uma missão realizada há três anos pelos Anjos da Noite, em Santa Maria. Todas as segundas-feiras, um grupo de sete pessoas parte da rodoviária da cidade para auxiliar e ouvir moradores de rua. O trabalho começa às 21h30 com a entrega de lanches. A proposta é vinculada à casa Espírita Luz e Amaro, localizada no bairro Camobi. A coordenadora do projeto, Taís Medianeira Silva Carvalho, de 34 anos, afirma que o trabalho é cansativo, mas recompensador. “Vale a pena tu modificar tua rotina e ajudar um estranho. Se tu parares para ouvir o relato deles, vais ajudar uma pessoa que a sociedade toda está virando as costas. Muita gente já saiu das ruas e ficamos sabendo que voltaram para casa, ou procuraram emprego”, menciona. No trajeto realizado pelas ruas da cidade, são entregues 60 lanches para cerca de 30 pessoas. Junto com o pão, uma garrafa de leite é oferecida. A atividade é bancada por doações, mas quando falta algum item, os próprios integrantes ajudam a comprar. Segun-
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do Taís, o alimento foi uma forma de quebrar uma barreira para depois iniciar o processo de conversação, que é o objetivo final. “Nosso intuito sempre foi a questão espiritual, mas como eram pessoas que nós não conhecíamos, chegar até elas simplesmente para conversar, não seria bem aceito. Então, começamos com a parte material, o lanche. A partir do momento que ganhamos a confiança, eles mesmos pediram ajuda desabafando e contando as dificuldades”, afirma. O projeto atende pessoas com vários vícios e problemas familiares. Conforme a integrante da casa Luz e Amparo, muitos deles têm problemas com drogas, são ex-detentos e, mesmo jovens, desconhecem os pais. Para ela, a conversa, em cada encontro, valoriza quem mora na rua. “Hoje, quando a gente chega, eles pedem passes e orações. A cada encarnado que atendemos, eles (mentores) atendem 15 desencarnados, que estão com esses moradores. Muitos que desencarnam por vícios e drogas ficam juntos com esses irmãos para poder usar seu fluido para satisfazer seu vício”, conta.
EU ESCOLHI ESPERAR Em um cenário pós-contemporâneo, no qual se prega a liberdade sexual, um grupo de jovens tem obtido destaque. O movimento Eu Escolhi Esperar (EEE) conduz a juventude para um rumo contrário àquele trilhado pela maioria. Liderado pelo pastor Nelson Rodrigues, o movimento surgiu em 2011 com o objetivo de ajudar os jovens em duas áreas específicas: sexualidade e vida sentimental. Mais do que uma campanha pró-castidade, o EEE busca “encorajar, fortalecer e orientar adolescentes, jovens e pais sobre a necessidade de viver uma vida sexualmente pura e emocionalmente saudável, valorizando a importância de saber esperar o tempo certo, a pessoa certa e a forma certa de viverem as experiências nessas duas áreas da melhor maneira”, segundo os líderes do movimento afirmam no próprio site. Nelson Rodrigues leva a campanha à várias cidades do Brasil por meio de seminários. Atualmente, o EEE tem mais de 3 milhões de seguidores no Facebook. A estudante santa-mariense, de 17 anos, Isabella Vaz, aderiu ao movimento. Embora nunca tenha participado dos encontros realizados pelo EEE, a jovem segue o grupo pelas redes sociais. “Eu aderi ao movimento porque acho importante esperar em Deus pela pessoa certa. Eu acho que isso evita muitas decepções na vida da gente”, disse. Isabella está comprometida com um menino da sua idade, mas ambos esperam a maioridade para assumir o namoro. A religião funciona como agregador social e seu potencial transformador, se bem direcionado, pode provocar a mudança que desejamos para o mundo. A história da humanidade confirma que grupos compostos por pessoas que tem um mesmo objetivo são capazes de influenciar gerações. Que caiba aqui o bom senso de extrair da religião os melhores ensinamentos para promoção da paz, não somente entre membros de uma mesma comunidade, mas entre grupos com pensamentos distintos, para que a religião não se desvie da essência com a qual foi instituída – o poder de religar os homens entre si e juntos, a Deus. ARQUIVO PESSOAL
A mão esquerda com a aliança no dedo anelar é o símbolo do Eu Escolhi Esperar. A marca representa a espera pela pessoa certa para um relacionamento amoroso e, posteriormente, pelo casamento
Levi e Isabella estão comprometidos um com o outro há mais de um ano. Os dois são membros da Igreja Batista Ágape de Santa Maria
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Texto: Marcos Kontze e Gabriel Pfeifer
Diagramação: Lucas Cirolini e Maria Vitória Pafiadache
O CRISTIANISMO E SUAS VERTENTES
ENTENDA AS RELIGIÕES E CRENÇAS QUE SEGUEM A DOUTRINA CRISTÃ
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cristãos pertence a Igrejas que aceitam outras congregações, e entendem essa multiplicação de vertentes como um problema, e aí que entram as divergências”. Há também outros grupos que são vistos como incrédulos e hereges por praticamente todos os outros. No entanto quando há denominações, a conciliação de teorias ou a fusão de diferentes cultos ou doutrinas religiosas, é o que chamamos de Ecumenismo, um movimento favorável à união de todas as igrejas cristãs. Clóvis explica que o Ecumenismo “é um processo de entendimento que reconhece e respeita a diversidade entre as igrejas, cada vez mais necessário na sociedade em que vivemos”. A ideia dessa prática é justamente a de reunir o mundo cristão, mesmo com suas vertentes.
FOTOS: VANESSA ALVES
o contrário do que ouvimos falar no dito popular de que religião e espiritualidade não se discutem, vamos discutir este tema muitas vezes considerado um tabu e ao mesmo tempo uma vivência diária para outros: a espiritualidade na vida das pessoas. E antes de você virar a página, falaremos sobre algumas das principais religiões praticadas no país que seguem a doutrina cristã como base de sua crença. Denominações cristãs são o que chamamos de diferentes vertentes do Cristianismo que funcionam com um nome, uma estrutura e uma doutrina própria. De certo modo, são considerados versões da mesma coisa, apesar de suas características distintas. Mas nem todas as denominações ensinam isso. De acordo com o teólogo Peri Clóvis, “a maioria dos
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AS DIFERENTES VERSÕES DO CRISTIANISMO As divisões mais básicas no cristianismo contemporâneo ocorrem entre a Igreja Católica Romana, a Igreja Católica Ortodoxa e as várias denominações formadas durante e depois da Reforma Protestante, movimento que teve início do século XVI na Europa Central com Martinho Lutero. Essa reforma foi vista como um protesto contra as doutrinas da Igreja Católica, e propunha uma reforma no Catolicismo Romano, dominante naquela época. Apesar das semelhanças com o Catolicismo, como a Bíblia sendo a fonte de sua fé, o Protestantismo condenava as imagens de santos, suspendeu o celibato e proibiu o latim nas celebra-
ções. Com isso, deu-se origem a diferentes correntes religiosas, e igrejas clássicas surgiram com a reforma, como a Presbiteriana, a Batista e a Metodista. Por outro lado, o Pentecostalismo, originado nos Estados Unidos, aceita a manifestação do Espírito Santo, assim como a Congregação Cristã, a Assembleia de Deus, Deus é Amor e Evangelho Quadrangular, conhecidas no Brasil por costumes rígidos. Já o Neopentecostalismo prega uma visão liberal quanto aos costumes. Aqui no país as mais conhecidas são a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Renascer em Cristo e a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra.
Objetos da liturgia cristã ganham destaque na exposição “Objetos Sacros - Arte e Memória Franciscana”
Detalhe de um acervo histórico e cultural das Irmãs Franciscanas
IGREJA ROMANA X IGREJA ORTODOXA Com relação às diferenças entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa, podemos citar algumas: enquanto os romanos seguem rigorosamente a figura do Papa como um líder, os ortodoxos são mais independentes. Se por um lado não negam a importância de um líder cristão, por outro também não reconhecem o Papa como uma autoridade e um cargo máximo, já que o que prevalece é a unidade e independência da igreja. Peri Clóvis explica que “as diferenças entre Ortodoxia e Catolicismo são basicamente culturais e hierárquicas, enquanto as denominações Protestantes apresentam diferenças teológicas mais acentuadas”. Objetos comuns em templos religiosos, as cruzes nas igrejas também são outro diferencial. Enquanto a Cruz Romana possui apenas uma barra, a Ortodoxa possui três, sendo uma delas adicional em cima e outra embaixo. De acordo com os Ortodoxos, a barra adicional em cima foi colocada por acreditarem que teria servido para a famosa inscrição INRI (Iēsus Nazarēnus, Rēx Iūdaeōrum), abreviação de Jesus de Nazaré em Latim. Entretanto, o crucifixo de Jesus Cristo aparece somente em forma de pintura na Igreja Ortodoxa, visto que a mesma rejeita o uso de estátuas de santos, ao contrário da Romana que não apresenta nenhuma restrição quanto ao seu uso.
A barra de baixo teria recebido os pés de Cristo, que teriam sido pregados em separado e não juntos, ao contrário do que defende o Catolicismo Romano. Vale lembrar que ambas as Igrejas eram uma só até o final do século X. Entretanto, devido a muitas divergências entre os cristãos do ocidente e do oriente, principalmente quanto a língua oficial, já que os ocidentais queriam o latim, enquanto os do oriente não abriam mão do grego e do hebraico, uma separação das igrejas foi feita em 1504, e criada a Cisma do Oriente, com Romanos radicando para o oeste e ortodoxos para a Europa Oriental, na Grécia e Turquia. Além das diferenças já mencionadas, outras dissidências diferenciam o Catolicismo Romano do Catolicismo Ortodoxo (Oriente). O polêmico voto de castidade, que até hoje é motivo de dúvidas entre muita gente, é obrigatório apenas para os padres católicos. “Assim como os diferentes dias de Quaresma para cada igreja, essa é só mais uma das diferenças entre as vertentes cristãs, já que na Igreja Ortodoxa, apenas o Bispo é obrigado a seguir o voto de castidade. O padre é livre para escolher.”, explica o teólogo. “Já na Igreja Romana, todos os sacerdotes devem seguir obrigatoriamente o voto de castidade.”, destaca. Continua >> Revista Plural 2016 / 1º semestre
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A ORDEM FRANCISCANA E O CRISTIANISMO dir também é professor do curso de Pedagogia na instituição. Anunciando a vida, a paz e o bem, o Franciscanismo está anunciando o nome de Jesus Cristo e o cuidado com a vida. Frei Valdir explica também que é a partir da conversão de Francisco de Assis que ocorre um “casamento” entre a Ordem Franciscana e o Cristianismo: “É a partir dai que surge a essência de uma espiritualidade, uma espiritualidade que acredita, uma espiritualidade que cuida da vida e uma espiritualidade que contempla toda a natureza humana”. Ou seja, é a partir do Franciscanismo que surgiu a essência cristã, de acreditar na figura de Deus e no cuidado com a vida. Com o lema Franciscano “Paz e Bem”, o Centro Universitário Franciscano mantém essa doutrina com celebrações eucarísticas e grupo de oração universitária na Capela São Francisco de Assis, inaugurada no dia 18 de dezembro do ano passado. As missas, abertas ao público, ocorrem todas as quartas-feiras em dois horários: às 11h e às 17h30. Já o grupo de oração se reúne todas as quintas-feiras de manhã, das 9h15 às 9h40.
LORENZO FRANCHI
No Século XI na cidade de Assis na Itália, um jovem chamado Giovanni di Pietro di Bernardone, o São Francisco de Assis, filho de um rico comerciante, recebe um chamado de Deus, que do crucifixo de São Damião lhe envia: “Vá e reconstrua a minha Igreja”. Diante deste chamado, Francisco se converte ao Cristianismo e funda a Ordem Religiosa dos Frades Menores, também conhecida como Ordem Franciscana ou Franciscanismo, uma ordem que se espalhou pelo mundo inteiro com a proposta de que seus membros devem seguir de acordo com o espírito de seu fundador São Francisco de Assis, uma vida sem luxúria, extremamente simples, em pregação, dando exemplos de humildade e devoção. Os Franciscanos vivem em conventos geralmente dentro das cidades, e o Franciscanismo tem uma enorme influência dentro do Cristianismo: “O Cristianismo e o Franciscanismo fazem esta grande aliança. O Franciscanismo anuncia o Cristianismo, anuncia a vida, a paz e o bem”, conta Frei Valdir Pretto, teólogo e fundador da pastoral Universitária Ser Unifra do Centro Universitário Franciscano. Frei Val-
Missas na nova capela do Centro Universitário Franciscano ocorrem todas as quartas-feiras
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O QUE É
SER UNIFRA? Você já ouviu falar de pastorais universitárias? Sabe o que são e quais suas reais funções dentro de uma instituição? Nem todos os universitários tem conhecimento sobre as sua existência e funcionamento. Uma pastoral universitária é um espaço formado por estudantes universitários de diversos cursos que buscam compartilhar a fé, cultivar a espiritualidade e refletir sobre a vida através de encontros. Fundada há cinco anos pelo Frei Valdir Pretto, surgiu a Pastoral Universitária do Centro Universitário Franciscano. Inicialmente chamada de Pastoral Universitária, mudou de nome para buscar uma maior identidade entre os acadêmicos. “A mudança aconteceu a partir de uma reunião das irmãs franciscanas com o Frei Valdir, fundador da pastoral. Foi então que decidiu-se mudar o nome para Ser Unifra, para ter uma maior aproximação com os acadêmicos”, conta o filósofo Tércio Michael, secretário adjunto da Ser Unifra. Michael é responsável por organizar e agendar as missas semanais na nova capela da instituição, celebrações de formatura, além de promover grupos de encontro entre os estudantes na capela toda quinta-feira. São encontros que oportunizam aos acadêmicos uma maior vivência dentro da instituição. A ideia é dar uma maior dimensão ao ambiente universitário, indo além da questão de estudos e pesquisas científicas, fazendo com que o estudante conheça melhor o seu lado humano e espiritual, além de proporcionar um espaço de reflexão e interação. Este é o papel da Ser Unifra. Mesmo o Centro Universitário Franciscano sendo uma instituição católica, a Ser Unifra trabalha a espiritualidade como um todo, independente de sua religião. “A intenção é trabalhar o lado ecumênico, da espiritualidade, e não a religião. Não queremos levantar nenhuma bandeira, apesar de a instituição ser de religião católica. Queremos acolher a todos, independente da religião”, destaca Michael.
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Texto: Júlia Fleck e Larissa Essi Diagramação: Caroline Costa e Willian Ignácio
A DOUTRINA KARDECISTA RELIGIÃO, CIÊNCIA E FILOSOFIA: OS TRÊS PILARES QUE SUSTENTAM O ESPIRITISMO E SEUS ESTUDOS ATÉ HOJE
IURATAN RODRIGUES E ROGER HAEFFNER
Transmissão de energias positivas: assim é o passe, um momento de paz e tranquilidade
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entre todas as dores que o ser humano é submetido, física ou emocional, a dor da perda é incontestavelmente a pior de todas. Somos seres apegados a coisas e pessoas, despreparados para qualquer imprevisto de acontecimentos, e quando o assunto é morte, isso se aplica mil vezes. Todos nós crescemos com uma certeza na vida: em algum dia, ainda que desconhecido, vamos morrer. Todavia, lidar com esse fato é algo que nem todos sabem fazer. O Espiritismo vem há décadas ajudando as pessoas nesse aspecto, de aceitar as perdas e seguir em frente. Conforme a Doutrina Espírita, os espíritos comunicam-se conosco de várias formas. Uma delas ficou muito conhecida através de atrações com as Irmãs Fox. No século XIX, nos EUA, Margarida e Catarina Fox, 12 e 9 anos, ganharam muito dinheiro com “espetáculos mediúnicos”. Estes espetáculos davam-se através da tipologia, comunicação através de batidas, sons e ruídos. Se para alguns isto era ou é ilusão, para outros virou um grande estudo, como
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é o caso de Hippolyte Leon Denizard Rivail, conhecido pelo codinome de Allan Kardec. Kardec começou a estudar o espiritismo através de casos como este, e tornou-o uma Doutrina. Após anos de estudos e avaliações sobre o tema, ele definiu a Doutrina Espírita Kardecista como sendo religiosa, científica e filosófica. Desde então, a Doutrina espírita dissemina-se através das Sociedades Espíritas, conhecidas também como Centros, que existem no mundo todo. A Doutrina tem entre seus princípios a crença em Deus, e não em vários deuses. O Espiritismo explica que Deus é a inteligência suprema. É eterno, imutável, imaterial, único. Além disso, a Doutrina ensina que Jesus é o guia modelo para a humanidade. Sua moral é o roteiro para a evolução de todos os homens. O PASSE Um dia. 24 horas que passam voando nos ponteiros do relógio. Tempo que, por vezes, não permite um momento
de pausa para colocar os pensamentos em ordem. Tempo para descansar a mente e estar em paz consigo. A Doutrina Espírita é procurada por pessoas que se permitem reorganizar a mente, e encontrar um momento de tranquilidade. Algumas estão confusas por conta de conflitos internos, perdas grandes que deixam o psicológico abalado. Para os interessados, a Doutrina disponibiliza Grupos de Estudo sobre os livros de Allan Kardec, e também o Passe Espírita. O Passe nada mais é que um momento de paz em que os médiuns, acompanhados por seus mentores espirituais, passam sua energia positiva aos presentes. Você fecha os olhos e deixa a mente livre de qualquer pensamento. Com a mente limpa e clara, a energia dos médiuns é absorvida por quem está ali. A aposentada Vera Maria Lopes é médium há 30 anos. Ela relata que sempre teve fortes dores de cabeça, tinha sensibilidade e chorava muito e, até procurar auxílio em uma Sociedade Espírita, não havia tido nenhuma resposta de médicos em relação a isso. Seu estudo no Espiritismo Kardecista começou quando o seu filho, Cristiano Muller, aos oito anos, apresentou alguns problemas de comportamento. O mesmo foi levado a psiquiatras e médicos, mas parecia que, assim como sua mãe, a medicina convencional não conseguia encontrar nada de anormal em Cristiano. A convite de uma amiga, Vera decidiu levar o filho até um Centro. No início, Cristiano era relutante em ir até a Casa para tratar o que sua mediunidade, até então desconhecida, causava. Por isso, a mãe resolveu acompanhá-lo até sessões de estudo, passes e palestras nesses locais. Após um período de introdução à Doutrina, Vera relata que “se encontrou com a religião”. Segundo ela, finalmente estavam sendo justificadas as suas dores de cabeça e tudo o que acontecia em sua vida e na vida do filho. Quando indagado sobre qual a importância do espiritismo em sua vida, Cristiano, agora com 37 anos, é bem taxativo: “é tudo para mim. É a minha vida e aquilo que me move para, cada vez mais, fazer o bem. Aprendi, logo que comecei a ter sensibilidade, que todos nós temos uma missão neste plano espiritual. Em todos os momentos da minha vida, desde que comecei a frequentar e estudar a Doutrina Espírita, a fé me acompanha”. INCENTIVO AO CONHECIMENTO A sensibilidade mediúnica das pessoas é sempre posta à prova por outras. Para quem procura introduzir-se na Doutrina, o primeiro passo é participar das Doutrinárias, também chamadas de palestras. O médico José Otávio Flores Binato participa da Sociedade Espírita Vianna de Carvalho, em São Pedro do Sul, e também realiza palestras em Sociedades da região. Ele comenta que o objetivo das palestras é explicar os fundamentos da Doutrina, tanto para os que frequentam regularmente, como também para quem está conhecendo-a.
JULIANO DUTRA
A Doutrina codificada por Kardec tem caráter religioso, filosófico e científico
Como mencionado anteriormente, a Doutrina Espírita trabalha com Grupos de Estudo, que são reuniões de frequentadores, por vezes divididos em idades, para estudarem os livros de Kardec, debaterem temas atuais com base no Espiritismo e aprenderem mais sobre a Doutrina. Desta forma, quando os frequentadores assistirem as Doutrinárias, conseguirão interpretar o que está sendo ensinado. A médium Tânia Lopes Mayer é responsável pelo Grupo de Estudos na Sociedade Espírita Aliança, de Santa Maria. “Trazemos ao debate diversas discussões atuais – como o aborto e o suicídio – e como o espírito irá se recuperar após estas determinadas situações. Temos também um grupo voltado às crianças que frequentam a Casa, que é um meio de trazer até nós estes seres pequeninos que já apresentam alguma mediunidade e que, por vezes, não sabem lidar com a situação – bem como os seus pais”, conta Tânia. O professor universitário Lucas Santos frequenta a Sociedade Espírita Aliança, em média, três vezes por semana. Ele já frequentou outras religiões – dentre elas a budista e a evangélica – e relata que “o espiritismo para mim serve como uma base para que eu consiga me encontrar e passar por uma revolução moral, fazendo com que você e as pessoas ao seu redor se tornem melhores para si mesmas, deixando de serem vítimas e coniventes com as coisas que acontecem ao redor das mesmas”. Santos comenta também que os frequentadores da Casa se posicionam a respeito de uma situação, mas sempre buscam entender o que está acontecendo com o outro. “O espiritismo é uma luz. É uma esperança que a gente tem de que as coisas melhorem devido ao nosso merecimento e às nossas ações”, complementa. Revista Plural 2016 / 1º semestre
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Texto: Gabrielle Righi e Natália Rosso
Diagramação: Eduardo Sauthier Monteiro
OS ENCANTOS DO TURISMO RELIGIOSO NO ESTADO AS VIAGENS MOTIVADAS PELA FÉ E ESPIRITUALIDADE JÁ SE FIRMARAM COMO UM SEGMENTO FORTE NO MERCADO DO TURISMO E ATRAÍRAM CERCA DE 18 MILHÕES DE BRASILEIROS NO ANO DE 2015
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eja para pagar uma promessa, demonstrar devoção a um santo, agradecer pelas coisas boas ou até mesmo apenas para visitar um lugar bonito: as viagens realizadas para locais com finalidades religiosas movimentam a economia e atraem turistas para diversas partes do país. A professora do curso de Turismo do Centro Universitário Franciscano, Marta Antunes, explica que não existe um conceito específico ou único para turismo religioso. Podem-se destacar alguns elementos como, por exemplo, a fé, que move o deslocamento dos turistas até os eventos, templos e locais religiosos. “Em primeiro lugar, mais que o destino em si, é preciso olhar para o motivacional”, ressalta a professora. Devido às diversas etnias que colonizaram o Rio Grande do Sul, diferentes crenças religiosas se estabeleceram em nosso estado. Por isso, são facilmente encontradas igrejas católicas, igrejas evangélicas, templos budistas, além de festividades e romarias que atraem milhares de fiéis. Dentre os destinos religiosos, podemos destacar o Templo Budista Khadro Ling, de Três Coroas; a Romaria de Medianeira, em Santa Maria; e o Jardim das Esculturas, no interior de Júlio de Castilhos. A professora comenta que a Romaria de Nossa Senhora Medianeira é uma comemoração religiosa que atrai milhares de pessoas e, por necessitar de prestação de serviços que possa atender aos fiéis, passa a ser considerada como turismo religioso. Diferente desta ação religiosa, o Jardim das Esculturas e o Templo Budista de Três Coroas são locais de conexão do ser humano com seu eu interior e o universo, que focam mais em seus visitantes. “O Jardim e o Templo são denominados como turismo religioso, pois ambos oferecem serviços especiais aos turistas e os atraem devido ao forte apelo estético. É um composto de espiritual com visitação”, completa Marta.
Estátuas presentes no Jardim das Esculturas, na localidade de São João dos Mellos, atraem visitantes da região central
DARTANHAN BALDEZ
A BELEZA DO BUDISMO TIBETANO NA SERRA GAÚCHA Na região da serra, além das catedrais de Gramado e Canela, podemos encontrar o templo budista Khadro Ling. Localizado no topo da montanha da cidade de Três Coroas, o templo se dedica à prática do budismo tibetano e atualmente conta com cerca de 50 pessoas morando na comunidade, as quais se dedicam à manutenção das atividades da organização de forma voluntária. Fundado em 1995 pelo mestre tibetano Chagdug Tulku Rinpoche, o templo e todas suas estruturas são mantidos apenas com doações e com a renda proveniente da venda de livros e artigos religiosos. O La Kang, templo construído e ornado dentro das tradições artísticas tibetanas, os retiros e cerimônias budistas, o templo principal e outros monumentos do lugar – como estátuas e rodas de oração – estão abertos à visitação pública gratuita. Segundo a voluntária do templo Thalita Oliveira, a maior parte dos visitantes são turistas, mas pessoas interessadas no Budismo também procuram o local, em especial nos retiros que são oferecidos ao longo do ano. É oferecida uma meditação aberta ao público todos os domingos às 9h e uma vez por mês ocorrem palestras gratuitas. “O nosso principal objetivo no Templo é propagar e difundir os ensinamentos budistas”, explica Thalita. A voluntária explica que os interessados no budismo normalmente começam participando de alguma palestra ou retiro. Se houver alguma identificação ou interesse a pessoa continua participando das atividades e aprofundando os conhecimentos e práticas budistas. “O próximo passo é encontrar um professor que você se identifique e que aceite treiná-lo neste caminho”, orienta Thalita. O local recebe entre 15 e 18 mil visitantes por mês. A época de maior intensidade de visitas é no período das férias, nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. A estudante Anne Cassel Feltrin, 20, conta que visitou o templo por sugestão da irmã. “Estava a passeio em Porto Alegre e minha irmã, que já havia visitado o local, me levou para conhecer”, esclarece. Anne não possuía conhecimento sobre as atividades realizadas no templo e sobre o budismo tibetano, mas ressalta que foi uma experiência espiritual mesmo assim. “Foi sensacional! Não imaginava que o lugar era tão lindo, e a paz que ele oferece é indescritível! Tive a sensação de estar cercada apenas por coisas boas”, acrescenta. Continua >>
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A PEREGRINAÇÃO DOS DEVOTOS DE NOSSA SENHORA MEDIANEIRA siderado uma referência religiosa em Santa Maria. Os fiéis que participam da Romaria geralmente vêm pedir, agradecer, louvar, renovar e fortalecer sua fé e a devoção à Medianeira. De acordo com a Prefeitura Municipal de Santa Maria, a Romaria reúne anualmente cerca de 200 mil romeiros. Durante a caminhada, é comum ver alguns fiéis andarem descalços para pagar promessas, crianças vestidas de anjos e pessoas levando flores para homenagear a padroeira do Rio Grande do Sul. A estudante Nadine Vieira, 20, comparece à Romaria todos os anos. Ela conta que começou a frequentar por influência da família, que desde 2011 vem de Cacequi, cidade a aproximadamente 120 km da Santa Maria, para participar do evento. “Acho que é um momento para renovar a fé. Minha família acha muito importante e se planejam todo o ano para estar presente na Romaria”, explica.
GABRIEL HAESBAERT
A guia turística Maria Leopoldina Keller explica que os santa-marienses procuram excursões para templos religiosos como o Templo Budista de Três Coroas e Nossa Senhora do Caravaggio em Farroupilha, mas o que atrai turistas para a cidade são os Santuários Basílica da Medianeira e o da Mãe Rainha. “A procura por turismo religioso aumenta no período próximo da Romaria pois os romeiros vêm somente para isso”, conta Maria. Na região central, a Romaria Estadual da Nossa Senhora de Medianeira é a atividade religiosa de maior movimento. A Romaria, que ocorre sempre no segundo domingo de novembro, está rumo à 73º edição. De acordo com o site da Basílica de Medianeira, a devoção à Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças teve início em 1928 pelo Pe. Ignácio Rafael Valle. Em maio de 1930 foi realizada a primeira festa da Medianeira em âmbito diocesano. O Santuário é con-
Romeiros durante a procissão de Nossa Senhora Medianeira
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UM JARDIM DE ESCULTURAS EM JÚLIO DE CASTILHOS Também na região Central, a aproximadamente 55 km de Santa Maria, na localidade de São João dos Mellos, fica o Jardim das Esculturas. O processo de criação do sítio, que é de propriedade do artista Rogério Bertoldo e de sua esposa Giselda Bertoldo, iniciou em 2005 quando Bertoldo abandonou a agricultura e optou por esculpir. “Rogério queria criar uma realidade diferente, ele acredita que devemos florescer onde nascemos”, revela a esposa. A propriedade conta com mais de 500 estátuas de temáticas variadas. “De 2005 a meados de 2012 as esculturas eram de posições de Yoga e meditação, a partir de 2012 natureza e família começaram a ganhar espaço. Hoje o Jardim é eclético, são nichos com vários temas”, conta Giselda.
Segundo a guia turística Maria Leopoldina, são frequentes as excursões turístico-religiosas que saem de Santa Maria com destino ao Jardim das Esculturas, passando pela Quarta Colônia e visitando algumas igrejas católicas. O professor aposentado Dartanhan Baldez Figueiredo, 67, é um dos apreciadores do Jardim das Esculturas. “O trabalho do Rogério é fantástico, porém Santa Maria não está dando o devido valor à sua arte”, relata. Entre os planos para o futuro do espaço está o de catalogar todas as obras e melhorar a infraestrutura, visando maior acessibilidade para os visitantes. Atualmente o Jardim sobrevive dos valores arrecadados nos ingressos e obras sob encomendas.
Localidade de São João dos Mellos a 55km de Santa Maria Das 9 às 18 horas nos finais de semana e feriados O ingresso custa R$ 12,00
DARTANHAN BALDEZ
O Jardim das Esculturas atualmente conta com 520 estátuas
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Texto: Gabriel Haesbaert e Gilson Stefenon
Diagramação: Fabiano Oliveira e Gilson Stefenon
O ESPORTE COMO FONTE DE ENERGIA
GERMANO RORATO
Em meio a natureza, a recompensa e um momento de reflexão sobre a vida
SINTONIA PERFEITA: CORPO E MENTE EM HARMONIA
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aminhar em meio a natureza ouvindo o som dos animais, pedalar em lugares como as estradas do interior de Santa Maria aproveitando as belas paisagens e o cheiro do campo, remar na barragem, sentindo as vibrações da natureza. Algumas pessoas buscam no contato com a natureza revigorar as energias e usam o esporte como método para transcender o exercício físico. Nos dias atuais, a espiritualidade está cada vez mais ligada à qualidade de vida, sendo essa uma característica exclusi-
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va do ser humano. Ultimamente, as pessoas têm procurado conciliar a correria do dia a dia com a possibilidade de, em contato com a natureza, entregar seus problemas ao criador, independente de crença religiosa. Neste momento de contato, que pode ser em grupo ou individual, a energia é comum entre todos que compartilham da experiência. Atividades exercidas em contato com a natureza servem também para o relaxamento ou meditação, e podem auxiliar no desenvolvimento da espiritualidade de cada ser humano.
Para Edward O. Wilson, biólogo e naturalista americano, o termo biofilia indica que todos nós temos uma ligação instintiva com os outros seres vivos e com a natureza. A palavra “biofilia” significa literalmente “amor à vida” ou “amor à natureza”. Wilson propõe que essa forte ligação do homem com a natureza está conectada a nossa biologia. 99% de nossos 5 milhões de anos de evolução ocorreram em meio a natureza,
entre florestas, savanas, animais selvagens e muito verde. Isso explicaria a disposição das pessoas para buscar ambientes como praias, bosques e montanhas, para passarem as férias e os momentos de descanso e recreação próximos da natureza. No Japão, Yoshifumi Miyazaki, da Universidade de Chiba, evidenciou em seus estudos que o ato de caminhar em meio à natureza pode aumentar significativamente a quan-
tidade de glóbulos brancos no organismo, reduzindo os níveis de cortisol (hormônio que está relacionado ao estresse) e potencializando a ação do sistema imunológico. O contato com o verde, caminhar em meio a floresta ou cultivar uma planta são formas puras de harmonia com nossa essência mais fundamental. Isso nos remete às origens e não existe nada mais revigorante e tônico do que se sentir parte dessa natureza.
SAINDO DA ROTINA Aqui em Santa Maria grupos se reúnem para praticar esportes em contato com a natureza. São exemplos o trekking, a escalada, o ciclismo e a prática do stand up paddle, que é basicamente um misto do surf com a canoagem, uma pessoa em pé em cima de uma prancha que se movimenta a partir de remadas. Um exemplo é o grupo Clube Trekking, que atua
na cidade e nos arredores, como em Itaara. De acordo com a terapeuta ocupacional Aline Ponte, a prática do trekking, que é uma caminhada em meio a natureza, possibilita estabelecer uma interface entre espiritualidade, ecologia e aperfeiçoamento de si, a partir de exercícios que ajudam a manter uma vida saudável. Para Diego Fantinel, 29 anos, praticante
do trekking, um dos motivos que o leva a praticar o esporte é explorar o desconhecido, além de fazer novas amizades e praticar exercício físico. “Aquele momento é único. Em meio a ele, posso refletir sobre vários aspectos da vida”, afirma Fantinel. O empresário ainda diz se sentir mais leve, com sentimento de paz e tranquilidade após a atividade. Continua >> GERMANO RORATO
DIVULGAÇÃO TREKKING
Diego Fantinel (à frente), em momento de descontração, literalmente com os pés no barro
Germano Rorato buscando boas energias nas Minas do Camaquã
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GABRIEL HAESBAERT
Germano Rorato(à esq.) e Givago Ribeiro, buscam no esporte e contato com a natureza melhores energias e maior relaxamento espiritual.
O STAND UP PADDLE E O CONTATO COM A NATUREZA Outra forma de se reenergizar através da natureza é o stand up paddle, esporte ainda não muito conhecido, mas que vem crescendo em Santa Maria a partir do trabalho dos irmãos Ribeiro: Gilvan e Givago. O primeiro já integrou e ganhou duas medalhas de bronze pela Seleção Brasileira, durante os Jogos Pan-Americanos de 2011. Givago não fica atrás do irmão caçula, e também foi medalhista de bronze pela Seleção, no mesmo ano. Os Irmãos Ribeiro, como são popularmente conhecidos, criaram na barragem DNOS, localizada no Bairro Campestre do Menino Deus, a Associação Santa-mariense de Esportes Náuticos (ASENA), que há cinco anos tem auxiliado muitos adultos e crianças na prática de esportes, em Santa Maria. Na busca constante por qualidade de vida, física e mental, Germano Rorato, de 34 anos, busca no esporte em meio a natureza, fugir da cidade e se aproximar dos benefícios espirituais e físicos proporcionados. Ele conta que sempre se interessou em buscar lugares que tenham uma
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beleza natural e praticar esportes em contato dela. Após cada prática os benefícios espirituais e mentais são muitos: “Quando saímos da rotina, que na maioria das vezes é urbana, a gente relaxa e esvazia a cabeça. O exercício físico em contato com a natureza é bem prazeroso”, conclui Rorato. Givago Ribeiro acredita que o contato com a natureza através do stand up paddle proporciona ao praticante conhecer novos lugares e o autoconhecimento. “A gente nota que algumas pessoas quando praticam essa modalidade saem mais relaxadas e acabam por esquecer os problemas”, afirma Ribeiro. Seguindo o raciocínio de Givago, o psicólogo Conrado Rezende complementa: “as pessoas procuram o contato com a natureza e com o esporte, para se desprenderem da rotina de trabalho, cidade, barulho, cobranças, horários e obrigações do dia a dia”. Assim, podem obter um melhor equilíbrio do corpo, da mente e do espírito, proporcionando mais qualidade de vida e bem-estar.
Texto: Keila Marques e Lucas Amorim
Diagramação: Márlon Souza
“TE BENZO, TE CURO!” O DOM QUE ATRAVESSA GERAÇÕES E A BUSCA DA CURA PELA FÉ
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UM CONHECIMENTO DE GERAÇÕES Esse tradicional método de tratamento espiritual é encontrado nos mais diversos cantos de Santa Maria. Em cada bairro da cidade há pelo menos uma pessoa conhecida pela comunidade como benzedor. Há uma preocupação daqueles que detém o conhecimen-
IURATAN RODRIGUES
rer no impossível é dar um passo de fé. A fé não depende da idade, nem de cor e religião. É preciso apenas deixar a dúvida de lado. A fé pode nascer no coração de uma criança, como no caso de dona Conceição Coelho, 84 anos, conhecida como a benzedeira Filhinha. O interesse surgiu aos 5 anos. Ao ver um bebê doente, no mesmo instante pediu para rezar. “Pedi para Deus curar aquela criança que chorava, tive fé, rezei e ela foi curada”, conta a benzedeira. Impactada pelo que Deus havia feito, Conceição buscou saber mais sobre o dom de cura e com o passar dos anos foi se aperfeiçoando. “Existem muitas pessoas desenganadas pelos médicos, mas Deus cura, e é nesta fé que eu rezo e benzo”, explica. Conceição mora na vila Santos, região sul de Santa Maria, e é muito procurada por mães que levam seus bebês para serem benzidos por terem cobreiros, doença de pele conhecida assim popularmente e chamada cientificamente de herpes zoster. A curandeira explica que quando a enfermidade é na pele, ela usa folhas de uma planta na hora da reza. Quando a pessoa está carregada por um mal, o ramo seca. Quando é outra doença ela somente ora e, as vezes, é preciso que o enfermo seja benzido mais de uma vez.
Dona Merentina, de 78 anos, é uma das benzedeiras mais procuradas do Bairro Perpétuo Socorro
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to, uma vez que a idade avançada dessas pessoas já pede que a tradição seja passada adiante. É uma prática muito antiga a muitas culturas, mas aqui no Brasil ganhou força no período da colonização junto aos imigrantes que chegaram. Essa preocupação faz parte do “EXISTEM dia de Merentina Barbosa da Silva, MUITAS PESSOAS benzedeira que tenta passar adiante os ensinamentos para filhos e DESENGANADAS netos. A aposentada de 78 anos, PELOS MÉDICOS, devota de Nossa Senhora de Fátima, recebe, há cerca de 60 anos, MAS DEUS CURA, qualquer um que bater palmas E É NESTA FÉ no portão de sua humilde casa do Bairro Perpétuo Socorro. “Eu moQUE EU REZO rava em Cacequi e tinha seis filhos E BENZO” que ficavam doentes frequentemente. Tinha uma senhora que benzia as minhas crianças e eu ouvia o que ela falava em voz alta. Assim, acabei aprendendo”, relata Merentina. A partir daí ela não parou, ainda mais que as pessoas começaram a retornar à sua casa para relatar que estavam melhorando das doenças depois de benzidas. Com carvão em brasa ou ramo verde, não importa. Conforme ela, a brasa é melhor porque identifica quando a pessoa tem alguma doença. É simples: ela pega a brasa acesa, benze e depois bota em um copo com água. Se afundar, significa que a pessoa está realmente com problema. Se não tiver a brasa, pode ser um ramo de alecrim ou arruda mesmo. Merentina não cobra nada para benzer, já que ela acredita que isso é um dom e uma necessidade. “A benzedura precisa ser feita com fé e vontade, se for com má “A BENZEDURA vontade não adianta”, conclui.
PRECISA SER FEITA COM FÉ E VONTADE, SE FOR COM MÁ VONTADE NÃO ADIANTA”
A FORÇA CURADORA Engordam as filas em busca da cura ou pelo menos do tratamento das chagas em Santa Maria. Não são só as tradicionais benzedeiras que recebem a visita de pessoas com os mais variados problemas. Também é crescente o número de pessoas em busca de cirurgias espirituais na cidade. O médico santa-mariense Adair Marques afirma que todas as doenças do corpo são reflexos das enfermidades da alma. Ele acredita que aqueles benzedores que são mais conhecidos por resolver casos, no fundo são curadores. “Eles têm a capacidade de canalizar a sua energia e curar a pessoa tal qual uma cirurgia espiritual”, afirma. Marques
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ainda diz que há também benzedores que não tem tanto poder de cura, mas eles podem ter tanto carisma na hora do procedimento, que isso cria nas pessoas atendidas um fenômeno de mobilização das forças curadoras em si próprias. Ele exemplifica dizendo que Hipócrates, pai da medicina, dizia que nenhum medicamento cura doença. A verdadeira cura está pela mobilização de uma força divina curadora que está dentro de cada criatura. “Cabe ao médico ou benzedor despertar esta força. É o pensamento que ajuda na cura, porque é uma força poderosa. ”, assegura Marques. O professor de Saúde e Espiritualidade do curso de Medicina da UFSM afirma que o pensamento pode gerar doença com a mobilização de uma forma negativa, através da mágoa, do rancor, da raiva, do medo ou do ciúme, podendo assim desestabilizar a energia do nosso períspirito
BENZIDOS E CURADOS Confira o depoimento de pessoas que foram curadas pela benzedura.
Lívio Jornada
Um desejo de criança que foi realizado através da fé na benzedura. Desde jovem o professor Lívio Jornada, 63 anos, tinha um desejo, que as verrugas que havia em seu pé sumissem. Foi então que ele procurou uma benzedeira, fez orações e aprendeu a como ficar livre das verrugas. Lívio fez exatamente o que ela ensinou, apanhou galho de uma árvore de cinamomo, queimou no fogão a lenha, encostou nas verrugas e rezou três vezes Ave Maria. Durante a madrugada ele acordou e os sinais haviam esfarelado.
Silvia Iensen
Diversas vezes Silvia Iensen, 53 anos, foi benzida. Quando está enferma a primeira coisa que ela faz é procurar um benzedor. Silvia diz ter sido curada de dor nas costas, cobreiros e também de verrugas por meio da benzedura.
JULIA TROMBINI
e desencadear uma doença. Assim como o pensamento ligado a coragem, a caridade, o perdão e o amor, equilibra as energias do nosso períspirito e se manifesta de saúde. Porém, o médico alerta que permanecer apenas no tratamento espiritual não é recomendável. “Centro espírita, curador ou benzedor ético não dirá para largar o tratamento médico tradicional”, garante. Segundo ele, o melhor é o tratamento combinado, com a recomendação médica e depois recomendação espiritual. “Não é um tratamento alternativo, ideal é chamar de tratamento complementar”, diz. Por fim, o médico acupunturista e homeopata afirma que não basta fazer uma benzedura ou cirurgia espiritual para buscar a cura da doença, é preciso que haja uma mudança de atitude da pessoa. “Ela tem que corrigir os seus defeitos e precisa desenvolver as suas virtudes para poder fazer a mudança profunda”, garante. Adair Marques hoje faz parte da Associação Médico Espírita. UMA FÉ DE SÉCULOS A palavra benzer significa tornar bento ou santo. Benzer é rezar, pedir para que os males se afastem de uma pessoa. Um dos sinais utilizados é o da cruz para consagrar a Deus a pessoa, animal ou objeto que será abençoado. A professora doutora em História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Beatriz Weber, conta que a utilização dessa tradição no Brasil está relacionada à cultura portuguesa. Mas todas as práticas humanas realizam de alguma forma o ato de abençoar, de benzer, procurando proteção. De acordo com a professora Beatriz o termo popular benze-
Depois da cura de uma doença na infância, professor Lívio Jornada garante que ainda hoje recorre a benzedura para tratar qualquer enfermidade
duras vem do português, mas as formas que são utilizadas dependem do grupo cultural a qual se refere, podendo ser católicos, umbandistas e pentecostais. Cada um desses grupos culturais utiliza objetos simbólicos como vela, tesoura, faca, carvão e água ou ainda bíblia ou rosário. O elemento mais popular é o ramo que pode ser a arruda, o alecrim, o levante e o guiné. Segundo as benzedeiras, as ervas são utilizadas para o mal não passar para elas. Algumas fórmulas de rezas
tiveram origem na mitologia germânica ou céltica no início da história da Europa pré-cristã. Algumas rezas, como a Izipa é encontrada em um código austríaco do século IX, na época da cristianização da Europa. As rezas são antigas em suas origens e dificilmente são reveladas pelas benzedeiras, somente em casos excepcionais ou quando é permitido pela crença tradicional. Normalmente as rezas são passadas de geração quando o benzedor percebe que está próximo de morrer. Revista Plural 2016 / 1º semestre
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Texto e diagramação: Amanda Souza e Arcéli Ramos
ROGER HAEFFNER
ELEMENTOS DA NATUREZA E MISTICISMO NAS RELIGIÕES AFRICANAS
O Pai de Santo Jorge geralmente faz trabalhos para a saúde
AS RAÍZES AFRICANAS MODIFICAM A MATRIZ RELIGIOSA DO BRASIL DESDE O SÉCULO IXX
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O
compromisso é como qualquer outro. O dia certo, a hora e a presença marcada. O caminho até a Terreira já começa a embalar os sentimentos que serão trabalhados na sessão. Chegando lá, é só sentar e aguardar. As pessoas já estão presentes, sentadas lado a lado, como irmãos, amigos. Todos estão concentrados na meditação, na energia que emana do lugar, na vibração dos Guias, Mestres e Orixás, de todos os elementos que sustentam a religião. As crianças conversam e brincam, mesmo aquelas que acabaram de se conhecer. O sentimento é de união e familiaridade. Todos fazem parte de uma corrente
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que se une pela busca da paz em cada elo. O perfume do incenso acalma e inunda o ambiente. Começa o som do atabaque, o canto dos médiuns iniciando a sessão. O nosso espírito canta junto mesmo sem saber a letra. Os pedidos são quase unânimes: paz, saúde. A pluralidade de cores, sons, cheiros e movimentos inebriam os sentidos e acalmam a alma ansiosa de quem passa por dificuldades. A sabedoria do Guia que é passada através dos Médiuns é o momento que esperávamos. Esta parte é diferente para cada pessoa mas, após a consulta, o sentimento é de energia restaurada e renovada.
O CONTATO COM OS ELEMENTOS DA NATUREZA A Nação é uma linha direta do Candomblé. Nela as entidades regentes são os Orixás, criaturas da natureza, mas eles também trabalham com os Exus, entidades com forte energia dentro da religião. Segundo Saldanha, nós nascemos com o Orixá designado. “A Nação tem entidades mais ‘leves’, os sacrifícios com os animais são feitos de quatro em quatro anos, e também são nesses sacrifícios que o iniciante se apresenta para cada Orixá”, esclarece. Para entrar na Nação é preciso fazer um ritual com búzios para descobrir qual entidade nos rege. A pessoa é levada para o pai de santo e há um padrinho – alguém já iniciado na religião – que sacrifica o animal correspondente de cada Orixá na cabeça da pessoa. Após um número determinado de dias, nos quais a pessoa descansa, ela está pronta para entrar na Nação, com sua entidade regente e pode realizar trabalhos ou oferendas. Em uma “mesa” composta de uma grande toalha redonda branca no chão, crianças formando um círculo, doces e alimentos oferecidos para Mamãe Oxum, Pai Ogun, Iemanjá, e outros, ocorre um dos rituais mais praticados na Nação do Candomblé. Saldanha comenta que as festas são mais frequentes que os sacrifícios. Crianças, e pessoas não iniciadas, não podem participar dos trabalhos com animais.
ROGER HAEFFNER
Apesar da falta de conhecimento, as religiões de matriz africana, como a Umbanda, Quimbanda, e Nação (Candomblé), têm expressividade no Brasil. Por conta do preconceito com algumas práticas das religiões, e o imaginário de que se faz o mal dentro delas, as pessoas não buscam conhecer a realidade e as crenças. “As pessoas veem os Exus e os Orixás como entidades do mal, mas são as pessoas que o usam como querem, com seu livre arbítrio. Eles fazem o bem ou o mal conforme o teu pedido. Mesma coisa com os pais de santo. Eu escolhi fazer o bem, mas outro pode escolher ir para um caminho diferente”, detalhou Jorge Saldanha que é pai de santo da religião Nação, desde 1978, e tem uma casa para trabalhos desde 1982.
Por preconceito as pessoas não buscam conhecer a realidade e crenças das religiões de matriz africana
PARA ALÉM DA ENCRUZILHADA As diferenças entre a Quimbanda e Nação são as entidades. Na Quimbanda as entidades são Exus que trabalham nas encruzilhadas. Os rituais do quimbanda são os cruzamentos e, em vez do pai de santo, há o zelador. O zelador “faz” o Exu nos sacrifícios, que ocorrem a cada ano. Saldanha não pôde explicar o que é “fazer o Exu”, pois é algo específico e secreto da religião. Quem trabalha com religiões africanas, espíritos que viveram na Terra, têm um respeito muito grande pelas entidades. É criada uma relação de amizade, entre o Pai de Santo e seu Orixá, ou Exu, com o qual ele se compromete de forma harmoniosa para exercer sua missão. Cada entidade tem seu animal correspondente para os sacrifícios. O zelador faz o “assentamento” do Exu, que não é uma invocação, mas um chamamento com símbolos e objetos, para os rituais. “Quando alguém quer entrar para a quimbanda, é apresentado na encruzilhada para as entidades, com oferendas (que são os sacrifícios). A pessoa passa por cada linha, por cada chefe maior”, explica Saldanha.
Continua >>
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FERNANDO CEZAR
ENTRE O CAMPO MATERIAL E ESPIRITUAL O primeiro contato que se tem com a Umbanda, em uma família umbandista, são com os cantos para os Orixás, as guias coloridas – colares usados para proteção espiritual – o cheiro dos doces nas oferendas. Totalmente brasileira, iniciada na Bahia, a Umbanda traz o sincretismo do Candomblé e Espiritismo, como uma nova doutrina, regida pelas criaturas da natureza. Ela tem matriz africana, trabalha com alguns dos mesmos elementos do Candomblé. Gabriele Marchionatti Fontoura, psicóloga, fez seu trabalho final de graduação sobre a religião umbandista. “Foi através da catequização dos negros que aconteceu o sincretismo das religiões africanas com os santos da igreja Católica. Eles fizeram esse sincretismo para que pudessem trabalhar a própria religião, que não era permitida”, conta Gabriele. Ela aponta também para o preconceito que a Umbanda sofre ainda no Brasil, que foi o que a levou a trabalhar com o tema. “As pessoas não entendem o que é a religião e disseminam esse preconceito”, conta a psicóloga. Segundo Gabriele, as pessoas buscam na Umbanda a “cura” ou tratamento para problemas de saúde. A Umbanda trabalha com três tipos de doenças: a físi-
Gabriele Marchionatti trabalha no Centro Reino de Santo Antonio
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ca, que não tem dano no âmbito “DENTRO DE espiritual; a doença cármica que UM TERREIRO vem de outras vidas; e o popular encosto, uma energia ruim, um DE UMBANDA “feitiço” que pode ser desfeito DESENVOLVEMOS no próprio centro. A Umbanda trabalha com o NOSSA guia do Orixá, e não diretamenMEDIUNIDADE te com ele. Os guias são pretos velhos, mais evoluídos que nós, PARA A MISSÃO seres humanos encarnados. FoAQUI (NA TERRA), ram marinheiros, negros, escravos, que viveram aqui na terra. OS GUIAS NOS A incorporação na umbanda TOMAM COMO é parcialmente consciente, as pessoas têm noção do que está INSTRUMENTOS acontecendo, mas algumas coiPARA FAZER O sas se perdem, conforme Gabriele. Ela explica também de BEM, INTERAGINDO onde vem a palavra macumba, que muitos usam pejorativaENTRE O CAMPO mente, mas têm uma história MATERIAL E significativa na religião. “A macumba é uma árvore africaESPIRITUAL” na em que os negros escravos Osvaldo Jorge reverenciavam os Orixás. O batuque tem um de Quevedo estereotipo muito grande, que se chama assim por causa do tambor que é usado em alguns centros”, conta ela. Segundo a pesquisa de Gabriele, o Rio Grande do Sul é o terceiro estado umbandista do Brasil em número de Centros, perdendo para o Rio de Janeiro e a Bahia onde, inicialmente, se manifestaram as religiões afro. Em Santa Maria há mais de 400 terreiros em atividade hoje. O Centro Reino de Santo Antô“FOI ATRAVÉS DA nio, um dos maiores no país, está CATEQUIZAÇÃO na cidade há mais de 60 anos. Dois caciques que trabalham no DOS NEGROS Centro, Maria Eloi de Quevedo e QUE ACONTECEU Osvaldo Jorge de Quevedo, umbandistas desde 1981, afirmam O SINCRETISMO que eles atendem muitas pessoas carentes e com problemas de DAS RELIGIÕES saúde. Lá eles trabalham muito AFRICANAS COM com o espiritual da Umbanda. “Dentro de um terreiro de UmOS SANTOS DA banda desenvolvemos nossa IGREJA CATÓLICA” mediunidade para a missão aqui (na Terra), os guias nos tomam Gabriele Marchionatti como instrumentos para fazer o bem, interagindo entre o campo material e espiritual”, esclarece Quevedo. A forma mais comum de mediunidade umbandista é a incorporação do guia.
DIEGO GARLET
OS DOZE ORIXÁS DA NAÇÃO E UMBANDA Bará
Exú que guia caminhos e passos
Ogum
Deus da guerra e das armas, está sempre a frente nas batalhas diárias
Iansã
Deusa dos raios e tempestades, responsável pelas alianças pessoais diárias
Oxum
Mãe dos rios, deusa da fertilidade
Iemanjá
Deusa dos mares, “mãe cujo filhos são peixes”
Oxalá
Deus da fertilidade masculina Quevedo dá palestras sobre mediunidade no Centro Reino de Santo Antônio
PELO BRASIL E O MUNDO No Brasil existem terreiros que ficaram famosos pelo número de iniciados e por personalidades que já frequentaram o local. Mãe Carmem de Oxum, de 63 anos, comanda um terreiro de Candomblé em Diadema, na região da Grande São Paulo. Em entrevista à revista Trip, ela conta que tem mais de 600 iniciados dentro e fora do Brasil, e que já se encontrou com políticos como a presidente Dilma Rousseff e o governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, entre outros. Ela salienta que o abandono da religião, após conseguir êxito com os trabalhos feitos, pode atrapalhar a vida da pessoa. Já na Alemanha, recentemente foi inaugurado o primeiro terreiro de Umbanda. A alemã Gabriele Hilgers descobriu a religião brasileira num momento em que estava inquieta a procura de novas religiões. Em entrevista ao El País, ela conta que em seu primeiro contato com a prática da religião, na zona sul de São Paulo, foi só ouvir o som do atabaque e sentir a atmosfera da dança e a entrega à incorporação, que ela soube que era sua religião. “Eu dancei o tempo todo, algo que nunca havia feito antes”, revelou na entrevista.
Odé e Otin
Deuses das caças e das coletas, atuam sempre juntos, por isso cultuam-se os dois simultâneamente
Xapanã
Deus das doenças materiais
Xangô
Deus da justiça, das pedreiras
Obá
Deusa das guerras
Ossain
Deus das ervas medicinais, médico entre os Orixás
Vencer o preconceito ainda promete ser um desafio por algum tempo. Mas quem segue as crenças da Umbanda, do Candomblé e da Quimbanda, crê que o embalo do atabaque, os cantos e os perfumes dos rituais acolhem seus pedidos e tornam suas vidas mais leves. Revista Plural 2016 / 1º semestre
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Texto e diagramação: Bruna Bento Milani e Eduarda Henriques Garcia
CUIDE DO SEU INTERIOR TÉCNICAS E ATIVIDADES DA MEDICINA CHINESA SÃO USADAS PARA A TRANSFORMAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
JULIANO DUTRA
O
s povos antigos começaram a perceber que era necessário ampliar o aspecto espiritual da vida, e então surgiu a Medicina Tradicional Chinesa. Essa área começou há aproximadamente cinco mil anos, trabalhando com as energias espirituais e com as plantas. A principal relação desse tipo de medicina é a existência da energia chamada de “Chi”. Seus fundamentos estão baseados na interação do homem com o universo, com o Yin e o Yang. São essas duas forças opostas que formam todos os seres vivos e juntas ficam equilibradas. “ O homem é visto como um organismo único, as emoções e estruturas físicas fazem parte de um só corpo. Cada tecido ou órgão interno tem papel fundamental e específico na manutenção da saúde do corpo”, explica a fisioterapeuta Ana Maria Caldeira Scher. Sua origem está ligada ao continente oriental, buscando conhecer as leis do corpo humano através de técnicas como Fitoterapia e a Acupuntura. Para a teóloga Lurdes Santos esse tipo de medicina está relacionada, em primeiro lugar, com as plantas. PREVENÇÃO DE DOENÇAS ATRAVÉS DOS CHÁS A fitoterapia é utilizada até os dias atuais, principalmente no tratamento e na prevenção de doenças. Mas por esse nome algumas pessoas podem não saber do que se trata, embora já a tenham utilizado. Ela faz parte da Medicina Chinesa e diz respeito aos chás que usamos para curar e que passa de geração em geração dentro da família. Há muitos anos aprendemos a utilizar o boldo, cidreira, camomila e macela, mas somente hoje o Ministério da Saúde vem reconhecendo a eficácia destas e de outras ervas.
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O equilíbrio das energias através da medicina chinesa mantém o corpo e mente saudáveis
De acordo com a terapeuta holística Ana Beatriz Benites Roehrs a fitoterapia é considerada hoje em dia uma prática muito importante para a saúde humana. “Ela realmente vai auxiliar no tratamento que a pessoa estiver fazendo. É também usada para prevenir doenças”, afirma Ana Beatriz, que alerta para o cuidado de não fazer misturas. As pessoas pensam que ao misturar algumas ervas já estarão fazendo um ótimo chá, mas muitas vezes não entendem os malefícios que podem estar ingerindo, já que algumas ervas não combinam e não devem ser misturadas. TRATAMENTO COM AGULHAS A acupuntura é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como um
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método de tratamento complementar às profissões que atuam nos cuidados com o corpo, como a medicina e a fisioterapia, por exemplo. O processo consiste em agulhas que são espalhadas em pontos definidos no corpo, os chamados “meridianos chineses” ou “canais”. A técnica é aplicada pelo próprio especialista. Conforme Ana Maria, a acupuntura pode ser utilizada para os pacientes que apresentam ansiedade, dores crônicas ou agudas e também para aquelas pessoas que procuram ajuda para cuidar a alimentação. Ela ainda ressalta que a acupuntura provocou mudanças no seu modo de perceber o mundo: “Comecei a ver o meu paciente como um todo, não só um corpo físico, mas o emocional e também a minha vida mudou. Sem
FERNANDO RODRIGUES
querer comecei a cuidar do meu corpo, da minha alimentação e do equilíbrio das minhas energias. ” ENERGIZAÇÃO ATRAVÉS DA IMPOSIÇÃO DAS MÃOS Uma técnica oriental que busca o relaxamento e a redução do estresse através da imposição de mãos, por onde passam as energias que ajudam a neutralizar a carga positiva e negativa que o corpo carrega todos os dias. Esta é a base do reike, que possui três níveis. Nível um: serve para alinhar os chakras, para que a pessoa possa começar a aprender os ensinamentos do reike Nível dois: A pessoa com o chakras aberto, ela pode aplicar o reike nela mesma Nível três: A partir dos passos anteriores, a pessoa pode começar a transmitir esses passes em outras pessoas, presentes ou a distância e também pode ensinar. Mas como funciona à distância? Com o nome completo, quem vai aplicar a energização vai fazer imposição das mãos e direcioná-las ao papel. Enquanto quem aplica estiver transmitindo as vibrações, quem estiver recebendo vai estar sentindo as energias de alguma maneira. O CANAL COM O MEIO ESPIRITUAL A terapia holística explica os vortes energéticos ou chakras, que fazem a ligação com o mundo espiritual. Estes estão localizados na coluna vertebral por onde circula a energia vital. As pessoas acumulam energias negativas e trazem para si doenças físicas, como o câncer. Se ativados e equilibrados, trazem a energia positiva e previnem as doenças causadas muitas vezes pelo acúmulo de estresse no dia a dia.
7º - COROA 6º -FRONTAL
Professoras explicam a importância da prática de Yoga para o autoconhecimento
EM BUSCA DO SEU SER INDIVIDUAL, UM COMPROMISSO COM A EVOLUÇÃO Na Índia, o Yoga significa união, um conjunto individual e o universal. De acordo com a professora de Yoga Adriana Santana Pereira, com essa prática é possível perceber que nós somos muito mais do que um corpo e que temos muito a aprender, para além das satisfações pessoais. Buscamos também o nosso autoconhecimento. “Com o tempo percebemos a divindade que nós somos, todos somos seres divinos”, argumenta Adriana. A atividade é muito procurada por quem tem problemas com ansiedade, estresse ou dores na coluna. “Se conseguíssemos canalizar todos os ensinamentos da Yoga, a nossa vida seria muito melhor”, ressalta.
É o principal chakra, pois está ligado diretamente com o canal espiritual e está situado no alto da cabeça. Entre as sobrancelhas, é conhecido como o terceiro olho.
5° - LARÍNGEO
Fica na frente da garganta, está ligado a tireoide e a comunicação.
4° - CARDÍACO
Ao lado do coração e influencia na circulação.
3° - UMBILICAL
Esse chakra coordena os outros. Se ele está sobrecarregado influencia os outros, causando desequilibro.
2° - ESPLÊNICO
Está perto do umbigo e significa a força.
1° - BASE OU RAIZ
Localizado na base da espinha e está ligado a vitalidade do corpo humano e criador da energia sexual, tanto no homem como na mulher.
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