JornalEco - 9ª edição / dezembro de 2009

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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra CAMILLA GUTERRES

Novo sistema utiliza caminhões para coleta automatizada do lixo

Um ano depois dos contêineres: o que mudou em Santa Maria? A implantação do novo sistema de coleta de lixo em Santa Maria completa um ano. Neste período, mudou a paisagem do centro da cidade com a retirada das lixeiras tradicionais e a instalação de contêineres verdes. Verdes na cor. A falta de compartimentos separados para a coleta do lixo considerado “limpo” gerou uma série de debates e reações na comunidade. Alterou a maneira dos catadores fazerem seu trabalho. Deixou quem já separava o lixo sem alternativas. Até que, finalmente, neste final de 2009, começam a ser instalados os ecopontos, lixeiras adaptadas para coleta do lixo seletivo.

Vandalismo se tornou corriqueiro

Rotina dos catadores foi alterada nícholas fonseca

Tiago sackis

Espaço urbano agora é mais disputado

9ª edição - dezembro/2009

Tiago sackis

A ocupação do espaço urbano pelos contêineres diminuiu as vagas para os carros no centro da cidade.

Depredação dos contêineres prejudica o bom funcionamento do sistema de coleta do lixo e expõe a falta de consciência ambiental.

Catadores disputam o lixo reciclável e o espaço no complicado mapa das ruas do centro de Santa Maria.

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enquete

Como você avalia a implantação dos contêineres em Santa Maria?

EDITORIAL

Expediente JornalEco – 9ª edição Jornal experimental desenvolvido na disciplina de Jornalismo Especializado I do curso de Comunicação Social - Jornalismo do Centro Universitário Franciscano Reitora: Irani Rupolo Diretora da área de Ciências Sociais: Sibila Rocha Coordenadora do Jornalismo: Rosana Zucolo Professora orientadora: Aurea Evelise Fonseca - MTb 5048 Reportagens e textos: Ana Laura Barbat, Bernardo Bortolotto, Carine Horstmann, Carolina Moro da Silva, Cláudia Monique Abade, Igor Müller, Jamile Peres, Joseana Stringini, Jucineide Ferreira, Juliana Bolzan, Laís Bozzetto, Liciane Brun, Marcelo Figueiredo, Micheli de Barros, Natália Poll, Osvaldo Maia, Patric Chagas, Rafael de Góes, Raul Pujol, Renata Ceratti, Rita Barchet, Tiago Sackis e Vanessa Roepke. Colaborou: Liciane Brun. Diagramação: Prof. Iuri Lammel e Leandro Passos Fotos: Augusto Coelho, Camilla Guterres, Diego Fontanella, Evandro Sturm, Gabriela Perufo e Maiara Bersch (Laboratório de Fotografia e Memória, sob orientação da profª. Laura Fabrício), Dandara Flores, Nícholas Fonseca e Thays Ceretta (acadêmicos de Jornalismo/colaboradores), Cláudia Monique Abade, Jucineide Ferreira, Juliana Bolzan, Laís Bozzetto, Patric Chagas, Renata Ceratti, Tiago Sackis e Vanessa Roepke. Impressão: Gráfica Gazeta do Sul Tiragem: 1.000 exemplares Distribuição gratuita Novembro / 2009

Aproximadamente um ano após a substituição das tradicionais lixeiras pelos contêineres, fomos às ruas para saber o que a população santa-mariense pensa sobre o novo modo de recolhimento de lixo. Por Joseana Stringini e Patric Chagas Têm mais aspectos bons porque tirou aquele lixo que tava lá do outro lado da rua, que ficava aquele montão de saco lá na frente, nas frentes das casas, muito lixo no chão. Agora tem um local pra largar. Fica fechado, fica armazenado. Por um lado foi muito bom. O que tem que melhorar é a qualidade de recolhimento, de manuseio com os próprios contêineres e um local apropriado para largar os contêineres. O horário de recolhimento pela noite também faz com que alguns moradores reclamem do barulho. A sujeira que fica em volta, o acúmulo que, às vezes, demora para ser retirado. E o caminhão que já andou arrancando placa dos taxistas, batendo na área do prédio. Tem bastante coisa, até o manuseio do pessoal que estão trabalhando com isso aí e que não tem o cuidado de fazer o trabalho. Gilberto Vargas Pereira 38 anos, zelador

fotos patric chagas

Em 2008, o resultado da licitação feita pela Prefeitura Municipal decidiu qual empresa seria responsável pelo recolhimento e destino das cerca de 180 toneladas de lixo produzidos por dia em Santa Maria. A PRT Prestação de Serviços Ltda adotou, então, o sistema de recolhimento de lixo por meio de contêineres. Em um primeiro momento, as caixas contêineres foram colocadas na região central, responsável por cerca de 30% do lixo da cidade. No centro de Santa Maria há uma concentração de prédios residenciais, restaurantes e lojas que produzem grande quantidade de lixo. A demanda é tanta que, na maioria das vezes, os contêineres não dão conta. Mesmos com eles cheios, os resíduos continuam sendo depositados nas calçadas ou ao lado dos recipientes de coleta. Cachorros procuram restos para comer e as próprias pessoas que recolhem o material reciclável espalham a sujeira em via pública, o que agrava ainda mais a situação nas ruas da cidade. Passado praticamente um ano da implantação da coleta conteinirizada na cidade, a população ainda tem muitas dúvidas e questionamentos. Os principais deles: por que não foi implantada em toda a cidade a coleta seletiva nos contêineres, já que a separação do lixo reciclável é uma das premissas básicas de uma cidade limpa, civilizada e ambientalmente responsável? Por que em uma cidade com tantos catadores, o sistema que veio para gerenciar o lixo apresenta tantas dificuldades para esta categoria de trabalhadores? O JornalEco foi às ruas saber a opinião das pessoas sobre a implantação dos contêineres. Registrou atos de vandalismo. E atos de sobrevivência, na rotina sofrida dos catadores. Flagrou excesso de lixo sem recolhimento. Pesquisou alternativas e exemplos de reciclagem. Conversou com as autoridades. E acompanhou o funcionamento dos caminhões de coleta. O resultado deste trabalho você confere nesta edição. A chegada dos ecopontos de coleta seletiva coincidentemente ao fechamento desta edição prova que o assunto é dinâmico e pauta as discussões ambientais da comunidade.

Já que eles fizeram isso, eles podiam começar fazendo a coleta seletiva, porque têm os catadores, que entram dentro dos contêineres, catando o lixo reciclável. Atrapalha na calçada e fica tudo uma sujeira. Têm lugares que o espaço na calçada já é pequeno pra passar e juntam mais os catadores em volta. Tem que dar a volta, não tem como passar, só pela rua. Sem contar que fica tudo uma sujeira em volta. Carolina Tusi 21 anos, estudante Eu acho que não melhorou nada esse sistema dos contêineres. Não melhorou nada pra nós. Só piorou. Ficou bem pior, porque não tem espaço pras pessoas passarem nas calçadas. Eu acho que não melhorou nada. E o cheiro é horrível. As pessoas têm que passar pela rua porque não tem espaço nas calçadas e o cheiro é insuportável. Ezilma Pedrollo 38 anos, gerente de loja Eles dizem que a banca da gente, o camelódromo, ocupa o espaço público, mas o contêiner também ocupa o espaço público, e ainda tem o mau cheiro. O que mais atrapalha é o mau cheiro. Até que hoje em dia eles coletam todos os dias, mas o mau cheiro fica quando abre. O cheiro fica no meio da população. Se abre ele, o cheiro já vem. E atrapalha muito o espaço para a passagem das pessoas. Fica pequeno e geralmente um tem que esperar pro outro passar. O espaço ficou muito curto, que dificulta muito. Flávio Oliveira da Cruz 39 anos, ambulante

O contêiner eu acho ótimo, só que têm muitos catadores que não ajudam a conservar a limpeza da cidade, derramam os lixos, uns pagam pelos outros. E dificulta o trabalho dos catadores. Pra mim é difícil, mas eu acho ótimo porque conserva a limpeza da cidade. Olinda Maria Gomes 47 anos, recicladora Eu acho que aqui no centro é benéfico, mas tem um problema. O problema do vandalismo, que estorva bastante. É melhor do que as lixeiras, porque ficavam muito mais expostas à sujeira nas ruas, esse tipo de coisa. Pra recolher a quantidade de lixo aqui do centro é benéfico, ficou mais fácil. Adão Juremir Giacomelli 58 anos, taxista O problema maior dos contêineres é o vandalismo. As pessoas não têm respeito, eles amassam. Colocam fogo, amassam, chutam e tem uns até que dormem dentro. Acho que o vandalismo só aumentou com a chegada dos contêineres. Mas em relação à limpeza eles contribuíram muito pra cidade ficar mais limpa. Dorilda Woltmann 55 anos, técnica de enfermagem e vendedora Eu acho bom, mas eu acho que os caminhões são poucos, tinha que ser mais quantidade. E o povo de Santa Maria tinha que ser um pouquinho mais educado. Eles preferem, às vezes, largar do lado do contêiner e não largam dentro. Tem tanta gente desempregada na cidade que o prefeito poderia empregar toda essa gente para fazer a limpeza das ruas. E eu acho que o prefeito, ele tinha que fazer uma propaganda, ele pessoalmente, por exemplo, ir num programa de rádio, num horário de audiência e pedir pro povo ser mais educado. Marcelo Oliveira 24 anos, gari Eu acho que não mudou para melhor, o pessoal começa a pegar o lixo reciclável e o resto fica tudo espalhado no caminho. Se tivessem colocado uns contêineres de lixo seco e outros de orgânico, eu acho que daria resultado. Mas misturou tudo. Ficou pior ainda, mais suja a cidade. Rosangela Niederauer 50 anos, técnica em enfermagem


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Comportamento

Novos hábitos com o lixo fotos Juliana Bolzan

O zelador faz a seleção do lixo na garagem do edifício e guarda o que é reciclável para a catadora

Maratona do lixo

Anderson na frente do prédio mostrando a distância dos contêineres: na foto à esquerda, em direção mais ao centro, os contêineres ficam quase na esquina com a Floriano Peixoto. Na foto à direita, em direção centro-bairro, descendo a Venâncio, os contêneires ficam depois da esquina com a Serafim Valandro.

Para o pessoal do restaurante, a distância dos contêineres é positiva por ficar longe do mau cheiro

São mudanças necessárias para o crescimento da cidade, mas se utilizadas da forma correta. Os contêineres foram colocados para que a cidade pudesse ficar mais limpa, mas a realidade é outra. E o principal seria fazer com que todos colaborassem e entendessem a importância de ter uma cidade limpa. É vantagem para todos colocar o lixo no devido lugar. Juliana Bolzan e Marcelo Figueiredo

maps.google.com

Os contêineres trouxeram mudanças boas e ruins para a cidade. Antes deles, cada prédio, casa e restaurante tinha a sua própria lixeira junto à rua. Hoje existe apenas um contêiner para cada quadra. Para alguns, isso foi muito significativo, como é o caso de João Ricardo Vargas, dono do restaurante Chicken–in, na rua Venâncio Aires. “Eu prefiro assim porque como a gente tem restaurante, antes ficava o mau cheiro dos lixos espalhados. Ainda existe um pouco de sujeira, quando os papeleiros vêm tirar o lixo e espalham ele pelo chão. Mas fora isso está melhor assim”, comenta Vargas, que ainda acrescenta: “para não acumular o lixo aqui dentro do nosso restaurante, ele é retirado pelo menos três vezes no dia”. Para outras pessoas, essa mudança se tornou um “peso” em suas vidas, como Lurdes Batista, que deixa acumular o máximo de lixo dentro de casa, causando desconforto e mau cheiro, “mas fazer o quê, até a lixeira eu preciso caminhar uma quadra inteira, não vale a pena ir até lá levar apenas um saco de lixo”, comenta a dona de casa, que também reclama do excesso de lixo nos contêineres. Anderson Costa Braz, morador e zelador do edifício Espanha, também localizado na Venâncio Aires, conta como é feita a coleta e como é retirado o lixo. “Uma vez por dia eu junto os lixos e separo seco de orgânico, porque vem uma catadora aqui, três vezes por semana, levar o lixo seco. Não fica muito acúmulo, pois existe uma lixeira para cada corredor, onde os moradores depositam o seu lixo ali, e depois eu só pego da lixeira e levo para as lixeiras que ficam na garagem”, explica Braz. O maior problema de Anderson Braz é a distância entre os contêineres e o prédio: “ficou horrível assim, a distância está um horror, e ainda é complicado porque como saio daqui com o lixo de todos os apartamentos, tenho medo de ser atropelado, porque tenho que sair com o carrinho cheio e atravessar a rua. Por isso saio bem cedo da tarde, antes de ter começado o movimento”, comenta. O açougueiro José Garcia não tem problemas quanto ao lixo, pois o contêiner está em frente ao seu açougue. Ele conta que as pessoas chegam até o contêiner com muitas sacolas, muito lixo.


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GERENCIAMENTO

Grandes mudanças e poucas melhoras na coleta de lixo Da lixeira para a coleta automatizada

“As mais de cem toneladas de lixo produzidas por dia, em Santa Maria, não ficarão mais espalhadas pelo centro da cidade. Cenas de lixeiras abarrotadas e sujeira pelas ruas e calçadas estão com os dias contados”. Trecho encontrado no site da Prefeitura Municipal de Santa Maria sobre o contrato da nova coleta de lixo, o contêiner. Faz quase dois anos que as lixeiras e a coleta comum dos resíduos domésticos foram desativadas em alguns pontos da cidade, depois que a Prefeitura firmou o contrato com a PRT Prestação de Serviço Ltda, empresa que ganhou a licitação para fazer o recolhimento do lixo. Foi implantado um novo processo, a coleta conteinirizada, em que a principal vantagem apontada pela empresa é a possibilidade dos moradores escolherem o horário e o dia mais apropriados para retirar os resíduos de suas residências. Conforme estipulado no contrato, mais de 300 equipamentos de contêineres foram instalados nas ruas e bairros do centro da cidade, ocupando o equivalente a uma vaga de carro, junto à calçada. Estes contêineres deveriam estar equipados com sensores para avisar o caminhão de coleta quando 80% da capacidade fosse atingida. Mas, segundo um funcionário da empresa, não identificado aqui, os contêineres não possuem esses sensores: “A gente só vê que ele está cheio quando tem lixo para fora”, explica.

notificadas por quem mora ou tem um estabelecimento comercial por perto. Em frente à loja da empresária Patrícia Martins, proprietária de um estabelecimento comercial na rua Doutor Bozano, há um contêiner. Ela acredita que a situação do lixo no local melhorou um pouco porque ele fica fechado, porém ela convive com a sujeira deixada pelos catadores quando catam os recicláveis. Restos jogados no chão e excesso de lixo em volta dos recipientes é uma das principais reclamações. “Este da frente fica constantemente cheio, creio eu que no final de semana ele lota e sempre tem lixo no chão, pois os catadores tiram tudo de dentro, reviram e deixam no chão e vão embora”, diz Patrícia. A empresária também relata que quando o caminhão faz o recolhimento, ele simplesmente leva o que está dentro do contêiner: “Se tem lixo no chão fica, até porque tá sempre sujo aqui na frente”, encerra ela. Na coleta de contêiner não há seleção do lixo reciclável do orgânico. Ao serem depositados, eles se misturam, por não haver uma coleta seletiva e uma conscientização da população que utiliza esse tipo recolhimento. Os lixos de padarias, restaurantes, entulhos, que vão desde móveis a material de construção, são colocados dentro do recipiente, o que causa o transbordamento para fora dos contêineres, além de problemas técnicos no caminhão de coleta. “Esses dias tinha até carne e os indiozinhos estavam pegando, inclusive saiu na tv”, relata a atendente Andressa Olecos, sobre a situação que presenciou em frente ao seu trabalho. O cheiro ruim de dentro dos recipientes, lixo espalhado na calçada pelos catadores e o excesso que se aglomera em torno dos contêineres, são problemas que, segundo ela, ocorrem por receberem grande quantidade de lixo. “Hoje, por acaso, eles estão vazios, porque sempre estão transbordando. Inclusive

CAMILLA GUTERRES

Contêineres deveriam estar equipados com sensores

Alguns problemas em torno do lixo depositado e o próprio contêiner são motivo de reclamação da população atingida pelo novo sistema. Melhorias para uns, insatisfação para outros sobre o serviço implantado. Junção de catadores para separar o lixo reciclável, detritos espalhados nas calçadas pelo acúmulo ou excesso de lixo no contêiner, são ocorrências mais

CAMILLA GUTERRES

thays ceretta / dandra flores

População ainda insatisfeita com a coleta de contêiner

A coleta de lixo pelo sistema de caminhões e contêineres é totalmente mecanizada (foto acima). Transbordamentos de lixo em alguns locais são problemas encontrados diariamente na cidade (abaixo, à esquerda). Catadores dentro dos contêineres vasculham o lixo e colocam material para fora, nas calçadas (abaixo, à direita).


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GERENCIAMENTO jucineide Ferreira

População insatisfeita fotos jucineide ferreira

“Esses contêineres da frente aqui têm cheiro ruim que vem de dentro e, geralmente, na calçadas tem lixos espalhados.” Andressa Olecos

“Conscientização do povo e maior número de contêineres em alguns lugares, melhoraria o serviço”. Luis Gabrieli Esses dois contêineres estavam vazios, mas já tinha lixo no lado de fora

questionada pela Prefeitura, que pediu uma reformulação no contrato. No início de agosto foram feitos alguns ajustes de cláusulas que não estavam sendo cumpridas pela empresa, como a coleta seletiva com pontos específicos e a implantação dos contêineres. A limpeza dos contêineres pelo menos uma vez por semana, que não está sendo feita, foi outro item. O que não foi implantado no primeiro ano, a empresa tem alguns meses para se adaptar às reivindicações da Prefeitura em relação ao acordo. É o que o engenheiro florestal da Prefeitura, Luis Geraldo Cervi, assinalou na palestra Geração e destinação de resíduos sólidos em Santa Maria, realizada na Unifra.“Em relação ao contrato Prefeitura e PRT, tem como reformular porque todos esses problemas serão estudados afim de resolvê-los”, diz ele. O contrato tem vigência de cinco anos e pode ser renovado a cada ano de acordo com as necessidades. Caso a empresa não cumprir todos os itens, ele pode ser rescindido.

Contêineres deveriam ser limpos uma vez por semana

Prefeitura pede que PRT cumpra com mais rigor o contrato A qualidade do serviço prestado à população pela PRT foi

Chuva, cultura da população e catadores: alguns dos problemas da empresa A empresa PRT tem três caminhões: um de coleta; outro de reserva, caso tiver um problema mecânico; e o exclusivo para a lavagem dos recipientes. O recolhimento do lixo dos contêineres tem um esquema.

De segunda a sábado, em setores alternados ou dependendo da demanda, a partir das 16h começa a coleta nos lugares mais afastados do centro. A partir da meia-noite, o serviço é efetuado no centro, para não interromper o trânsito. A cada quinze dias todos os contêineres são lavados, garante a empresa. Segundo o engenheiro ambiental da PRT, Leonardo Da Cas, “enquanto um é esvaziado, o outro caminhão vem atrás, lava ali mesmo e devolve o contêiner à via”. Com reclamações da população sobre o serviço, a PRT fez um estudo sobre os problemas gerados em torno da coleta de contêiner. A chuva, a cultura da população e catadores são os motivos apontados pela empresa como responsáveis pelos problemas na área em que o serviço é realizado. Segundo Da Cas, os contêineres que são destinados ao depósito de lixo doméstico viraram lugar de colocar entulho. Restos de poda de árvores, móveis e materiais de construção, como tijolo e telha são descartados junto com o lixo doméstico. “As pessoas colocam tudo isso e muito mais no contêiner, junto com o lixo, e logo ele vai encher e transbordar. Com isso, o caminhão equipado com um sensor não consegue levantar, por causa do peso”, diz o engenheiro, sobre uma das causas do transbordamento dos recipientes. Ele ressalta que com o contêiner lotado, o caminhão deixa de fazer a coleta e a Prefeitura é acionada para tirar o lixo, notificar e multar as pessoas que depositaram entulho. Depois da chuva vem o sol e logo os problemas em relação ao recolhimento do lixo apare-

“Catadores tiram tudo de dentro dos contêineres, reviram, deixam no chão e vão embora”. Patrícia Martins

diego fontanella

esses dias, veio um funcionário da Prefeitura e recolheu um pouco do que tinha na calçada, porque as pessoas não conseguiam caminhar,” comenta ela sobre o ponto de lixo na esquina da Doutor Bozano com a Floriano Peixoto. Otimista com a nova coleta de contêiner, o taxista Antonio Luis Gabrieli, que trabalha em um ponto de táxi na rua Alberto Pasqualini, acredita que eles vieram para ajudar em certo ponto a situação do lixo na cidade e dá dicas para solucionar problemas com a nova coleta. “Conscientização do povo em relação à nova coleta e maior número de contêiner em determinados lugares, pois os que têm atualmente não são suficientes. Pode melhorar o serviço”. A opinião de quem convive diariamente com o caos em torno dos contêineres instalados perto do ponto de táxi em que trabalha, mostra a verdadeira situação do lixo naquele local. “Acontece que são poucos os contêineres. Por exemplo, esses dois daqui da rua atendem praticamente todos os prédios que têm aqui. Em questão de uma hora eles estão lotados”. Conforme Gabrieli, o caminhão que coleta o lixo do local passa uma vez por dia, durante a noite.

“Depois da chuva vem o sol e logo os problemas em relação ao recolhimento do lixo aparecem”. Leonardo Da Cas

cem. Segundo Da Cas, o estudo feito pela empresa mostra que em dias de chuva o acúmulo de lixo diminui nas ruas e a quantidade cai pela metade, porque as pessoas deixam de colocar seus lixos nos contêineres. “Abriu o sol e o pessoal vai e coloca todo o lixo acumulado nos dias em que choveu, causando o excesso de resíduos nos contêineres”, diz o engenheiro sobre outra possível causa de transbordamento. Uma das questões citadas pelo engenheiro é o nível cultural das pessoas que utilizam o serviço. “Em vez de colocarem o lixo dentro do contêiner, porque tem lugar, eles colocam no lado de fora ou na calçada”, comenta. A cultura das pessoas que usam a coleta também foi apon-

tada pelo estudo. O lixo espalhado em volta dos contêineres tem, como uma das causas, os catadores. É o que informa o estudo realizado pela PRT, e também um dos mais citados pelos usuários entrevistados pelos repórteres do JornalEco. Segundo o engenheiro ambiental da empresa, Leonardo Da Cas, na hora de retirar o material coletado, os catadores reviram o lixo, que acaba espalhado ao redor dos contêineres e pela calçada: “Muitas vezes os contêineres estão pela metade, e os catadores ao recolherem o material reciclável, colocam o lixo para fora e deixam no chão, gerando transtornos, para nós, a Prefeitura e usuários”. Ana Laura Barbat e Jucineide Ferreira


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espaço

A disputa entre contêineres, carros e pedestres fotos Tiago sackis

Não é proibido estacionar no local, mas é praticamente impossível. O pequeno veículo acaba atraplhando a entrada e saída de automóveis da garagem

contêineres e as repassa para a Secretaria de Proteção Ambiental, para tomar uma solução cabível. “A PRT não mexe na disposição dos contêineres sem um ofício da Prefeitura autorizando a mudança”, explica o engenheiro ambiental Leonardo Lasta. Entretanto, algumas vezes, as modificações no posicionamento dos contêineres são feitas pelos próprios moradores. A funcionária da empresa Fan, Camila Pascotini, 22 anos, conta que a lixeira que agora está em frente ao seu local de trabalho já foi empurrada várias vezes pelos donos dos estabelecimentos locais. Agora chegaram a um consenso para o lugar da lixeira: entre a empresa de viagens e o restaurante Távola, na rua Duque de Caxias. Como a implantação do projeto é recente, a população está em processo de adaptação a esse sistema, a princípio implantado somente no centro da cidade. Nos bairros, a coleta ainda é feita de modo convencional.

“Às vezes o pessoal se aperta para passar”

Carine Horstmann e Tiago Sackis

Na esquerda, pedestres são forçados a desviar usando a rua. Na direita, motoristas disputam espaço com os contêineres diego fontanella

O novo sistema de coleta de lixo em Santa Maria, no qual as lixeiras convencionais foram substituídas pelos contêineres, trouxe mudanças para o trânsito de veículos e pessoas. Frequentemente os transeuntes se deparam com os contêineres em meio às calçadas e precisam contorná-los usando a rua ou o pequeno espaço que resta na calçada. “É só dar uma desviada que está resolvido, mas algumas vezes o pessoal se aperta para passar”, afirma o militar Madson Goulart, 24 anos. O estudante Anísio Tronco Filho, 21 anos, lembra que é complicado quando as lixeiras estão cheias e as pessoas atiram o lixo na rua. No caso dos motoristas, o problema reside nas vagas de estacionamento que são ocupadas pelos 400 contêineres espalhados pelo centro da cidade. Segundo Madson, as novas lixeiras funcionam como carros estacionados e muitas vezes mal estacionados. Também reclama dos caminhões que, por seu tamanho e lentidão na hora da coleta, causam um acúmulo de veículos nas ruas menores. O engenheiro ambiental da PRT, Leonardo Da Cas Lasta, 27 anos, lembra que a decisão de esvaziar os contêineres no centro a partir da meia-noite é exclusivamente para evitar engarrafamentos. Já na região menos central, na qual o fluxo de carros é menor, a coleta é efetuada a partir das 16h, informa. Leonardo explica que não houve planejamento urbano da Prefeitura para analisar o posicionamento e espaço que as novas lixeiras ocupariam. No entanto, a empresa chilena THEMAC (Tecnologia e Equipamento para o Meio Ambiente) foi contratada para fazer um estudo populacional que consistia na análise da quantidade de lixo produzida por habitante e os locais mais habitados. “O estudo mostra que há uma média de 600g diários de lixo produzido por pessoa na cidade”, diz Leonardo. O secretário de Controle e Mobilidade Urbana, Sérgio Medeiros, informa que seguidamente recebe reclamações sobre o posicionamento dos

Até faixa de segurança foi ocupada por contêiner, como é o caso desta, quase na esquina da Andradas e Floriano


VANDALISMO

Caos no lixo

7 nícholas fonseca

Depredação de contêineres toma proporções expressivas

está sentindo, mas não necessariamente a pessoa vai sentir prazer ao fazer essa atividade”, complementa a psicóloga. Perguntada sobre trabalhos dentro da área da Psicologia na Unifra destinados ao combate ao vandalismo, a professora afirmou que pode ser uma ideia para o futuro, mas que não teria muito êxito, pois o vândalo não se vê com um problema, na verdade sente orgulho do que faz. Caso o contêiner de sua região esteja depredado, a indicação da PRT é que a Prefeitura seja avisada para passar a ordem à empresa. Esse é um procedimento padrão, já que a PRT não pode fazer nada sem o aval da Prefeitura. Se ocorrer o flagrante de alguém cometendo ato de vandalismo, deve-se ligar para a polícia, pois tratase de um crime. Nos casos de incêndio, deve-se ligar para o Corpo de Bombeiros, para evitar um acidente maior. Osvaldo Henriques Maia e Rafael Góes

Em caso de vandalismo, ligue: ■ Bombeiros 3221-2463 ■ 4ª Delegacia de Polícia 3223-8599 ■ Linha Verde - Prefeitura 39 21 71 51

Uma triste realidade: na Cidade Cultura, os contêineres são vítimas frequentes da ação de vândalos. Queimadas, pichações e derrubadas são as principais avarias encontradas Camilla Guterres

Com a instalação de 400 em si, pode ser atribuído à falta contêineres de coleta de lixo de informação da população. em Santa Maria, surgiu um Lasta conta que serão insnovo problema na cidade: a de- talados quinze ecopontos em gradação dos mesmos. Os atos Santa Maria - contêineres com de vandalismo tomam propor- separação dos lixos que serão ções não imaginadas nem pelos postos em locais estratégicos responsáveis pela coleta de lixo para evitar o vandalismo. na cidade, a empresa PRT Prestação de Serviços Ltda. A motivação de um vândalo Segundo Leonardo Lasta, engenheiro ambiental da PRT, a Por que estragar um bem que empresa estava preparada para é público e útil para a sociedade? o vandalismo, mas não em ta- Para explicar o ponto de vista de manha escala. Ele fala que os um vândalo, consultamos a psivândalos, na sua grande maio- cóloga, professora e coordenaria, não moram na região cen- dora do curso de Psicologia da tral da cidade, onde estão os Unifra, Fernanda Pires Jaeger. contêineres, eles apenas estão Segundo Fernanda, o ato de de passagem quando fazem os vandalismo é uma forma de atos de destruição. Lasta afir- expressão, geralmente de um mou que não estava autorizado adolescente, para mostrar sua a divulgar valores, mas falou indignação com um ou mais que, em média, um contêiner elementos da sociedade. O joé danificado por dia e em fi- vem toma como alvos espaços nais de semana chegam a ser públicos que têm representade 5 a 6. Até hoje não ocorreu tividade para a população em nenhum caso de contêiner que geral, como estátuas e prédios tenha sumido. Ele ainda afirma históricos, ou novidades que esque foram feitos estudos para a tão em voga, como é o caso dos escolha dos locais de colocação contêineres. Assim ele ataca o dos recipientes de coleta, mas que é valorizado pelos demais que falta ainda costume aos ci- e tem sua manifestação vista e dadãos. Esse sistema de coleta repercutida. Ela acrescenta que existe há mais de 20 anos nos o vândalo ataca o que é novo, Estados Unidos e países da Eu- pois “a novidade geralmente é ropa e possui eficiência compro- algo que demonstra status, bevada, argumenta. rafael góes leza, enfim, algo No Brasil, segunpositivo dentro do ele, apenas as da nossa sociecidades de Santa dade e o vândalo Maria, Pelotas vai tentar atacar e Caxias do Sul isso.” O papel de possuem esse tipo organização dos de coleta do lixo. espaços públicos Quando um que os coletores contêiner é detêm é também predado, ele é alvo dos vândamandado para o los. “Atingir os conserto em uma contêineres, de empresa terceirialguma forma, é zada, localizada A psicóloga Fernanda Jaeger diz também protestar em Santa Maria. que a principal motivação de um contra essa orgavândalo é a vontade de protestar Dependendo do nização que vem grau do dano, o reparo é feito do Estado”, complementa. no próprio local do contêiner. Segundo a professora, não No caso de um dano maior, ele há prática de vandalismo vinda é removido até a sede da em- de apenas uma classe econômipresa, sendo substituído tempo- ca ou grupo social, há muitas rariamente por um reserva. variáveis. A auto-estima baixa As maiores formas de vanda- é um fator que amplia muito lismo contra os contêineres são as probabilidades de se realizar as queimadas, pichações e der- tais atos. O vândalo é, princirubadas. Também são comuns palmente, um adolescente do os furtos de peças essenciais sexo masculino, que usa o ato para o bom funcionamento do de depredar bens alheios como contêiner. Outro problema en- uma válvula de escape. “Na sua contrado é o depósito de coisas visão, ele (o vândalo) não está muito pesadas nos coletores, destruindo o que é dos outros. como tijolos e pedras, porém Há uma intenção, uma manifesesse fator, além do vandalismo tação de algo que essa pessoa


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LIXO REC

Para separar lixo do lixo que n

Após a instalação dos contêineres ficou difícil fazer a coleta seletiva em casa, m Papel, plástico, metal e vidro. O ato de separar esse tipo de material dos demais está sempre em pauta na sociedade, isso porque é uma ação de extrema importância para a vida em coletividade. Indiscutível também é o valor dessa atitude para o desenvolvimento sustentável do planeta. Um costume simples que, adotado, pode fazer a diferença no meio ambiente e na economia de muitas famílias que dependem do lixo reciclável para sobreviver. Para isso é preciso pensar globalmente e agir localmente. Porém, com a instalação dos contêineres na cidade, muitas pessoas repensaram a maneira como lidam com o lixo. Mas a questão é: de que maneira esse sistema de recolhimento de detritos influenciou as pessoas? A influência sobre os lares foi positiva ou negativa? O atual sistema de varredura do lixo, instalado há cerca de um ano na cidade, ainda causa muitas polêmicas. A maioria dos comentários são sobre os locais aonde as lixeiras foram instaladas, além da questão da quantidade de lixo para a baixa quantidade de lixeiras. Outro fator criticado é em relação à composição dos contêineres, que não têm estrutura para receber a coleta seletiva. Por causa desse fator muitas pessoas pararam de separar os resíduos. É o caso da professora aposentada Inês Bortagarai. O fato dos contêineres não possuírem divisões para o lixo orgânico e reaproveitável fez com que ela deixasse de separar o lixo sólido em casa: “Não adianta nada você fazer sua parte em casa, educar a família para esse tipo de atitude e depois ver que todo o trabalho de separação foi em vão, porque os lixos foram misturados dentro da lixeira” confessa a aposentada. Curiosamente, Inês é a favor do atual método de depósito residual, pois para ela a cidade ficou mais higienizada, sem a proliferação de bichos e isenta de aparentes sujeiras. “Esse sistema é um avanço”, explica Inês. Ela modificou seu costume e admite sem constrangimento que retrocedeu em sua vida. Porém, a aposentada acredita que transformações precisam ser pensadas e feitas nos contêineres de modo a educar e mostrar às

pessoas que é possível ajudar o meio ambiente: “Quando foram instalados ficamos esperançosos sobre uma tecnologia que prometia novidades com relação à questão ambiental, pois o que se sabia é que seriam colocados dois contêineres de cores diferentes para distinguir os tipos de lixo. Até hoje isso não foi feito, mas espero que aconteça em breve”, comenta. Outra solução viável para ela é uma divisória interna, que possibilitasse a diferenciação dos materiais. Uma vida útil ao lixo A rotina é sempre a mesma e o hábito já pegou. Separar o lixo em casa e dar destino certo a ele. É o que pensa o empresário e DJ José Ney da Gama. Para fazer tudo corretamente ele adquiriu duas lixeiras diferentes para facilitar a prática no dia-a-dia. Como reside em uma casa, Gama achou uma solução não só para o que é reaproveitável, mas também para o que teria como destino os aterros da cidade: “Todo o lixo orgânico que acumulo em casa vai para um buraco que fiz na terra nos fundos da casa. Esse resíduo fará com que o solo se torne mais rico, pois os restos de alimentos, cascas de verduras e frutas, restos de madeira e grama se tornam adubo. É uma espécie de fertilizante natural, que custa menos, não prejudica o meio ambiente e pode ser a solução do lixo sem aproveitamento”, explica. O empresário sempre achou importante a preocupação ambiental. Ele acredita que as pessoas deveriam ter esse tipo de educação não só na escola, onde se discute o tema, mas também dentro de casa: “A melhor ma-

Santa Maria deve ter um sistema integrado de coleta seletiva

Professora admite que não separa mais o lixo

A partir do cadastramento na Associação inicia o processo de seleção e

neira de educar uma criança é dar o próprio exemplo. O fato é que nos dias de hoje as crianças têm mais consciência ecológica que os adultos.” Fazer sua parte. É por esse motivo que Gama divide seu lixo. “Eu não tenho só benefícios com relação à natureza, mas também posso adubar meu pátio de graça, além de ajudar os catadores que recolhem meu material sólido”, comenta ele, que se mudou há pouco tempo para o bairro Camobi. Gama explica que quando morava no centro já fazia a separação, apesar dos contêineres. Ele diz que antes da instalação das novas lixeiras, um catador independente já recolhia o lixo reciclável do prédio e que após a mudança, o acordo foi mantido: “Deixávamos acertado que eu deixaria separado para ele o material reaproveitável e que o lixo orgânico seria colocado nos contêineres”. Para Gama é desumano fazer com que catadores tenham que adentrar as lixeiras para retirar suas matérias -primas de trabalho: “É mais fácil então deixar guardado que eles buscam. Afi-

nal, tem gente que tira sua renda mensal com o dinheiro que vem do lixo”, esclarece. Quem não foge desse pensamento é a estudante de Administração, Adriane Ilha Flores. Ela separa o lixo da seguinte forma: papéis (jornais, folhetos, revistas e correspondências, etc.), latas, plásticos variados (principalmente os de refrigerantes) e restos de alimentos. E

ela faz tudo isso por dois principais motivos: “Quero contribuir para a preservação do meio ambiente, sem agravar ainda mais a poluição do solo e das águas. Ainda mais que o lixo é fonte de renda pra muitas famílias”. A estudante tem uma preocupação que é semelhante à de muitas pessoas que separam o lixo: os catadores. Por isso sempre leva o lixo já organizado, principalmenNÍCHOLAS FONSECA

O lixo é fonte de renda para muitas famílias


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CICLÁVEL

não é lixo

Passo a passo O que acontece com o lixo na Asmar? EVANDRO STURM

mas tem quem prove o contrário

■ 1º Passo: A pessoa interessada em dar um destino útil ao seu lixo reciclável liga para a Asmar e solicita que o caminhão da associação passe em sua residência para buscar o material.

■ 4º Passo: O lixo é despejado, limpo e separado. Após essa etapa ele é colocado em bambonas. ,

■ 2º Passo: A Asmar pergunta o local da residência. Dependendo do bairro onde se localiza, informa-se à pessoa qual dia da semana o caminhão de recolhimento passará.

■ 5º Passo: Das bombonas, o lixo passa para as gaiolas. Elas ficam nessas gaiolas à espera da prensa que é a etapa final. O lixo é prensado, pesado e vendido para ser reciclado. FOTOS EVANDRO STURM

■ 3º Passo: O material é recolhido e levado à sede da associação.

Dias da coleta

Para se cadastrar

Dias em que o caminhão da Asmar passa nos bairros de Santa Maria: ■ Segunda: Centro ■ Terça: bairro Camobi, São José trecho até o Cerrito ■ Quarta: Centro e bairros Dores e Medianeira ■ Quinta: Zona Sul ■ Sexta: Centro

■ Interessados no cadastramento na Asmar devem ligar para o telefone (55) 3218 1295 ou ir diretamente à sede, na rua Israel Seligman, 660, no bairro Nossa Senhora de Lourdes.

e reaproveitamento do lixo limpo

te os compostos de restos de comida e alimentos em geral e também os vidros. Os lixos formados por papéis e plásticos quase sempre ficam nas lixeiras normais: “Todo dia passam as pessoas que recolhem o material para reciclagem e esse método que uso facilita o trabalho deles. Também não vejo problema em depositar nas lixeiras convencionais, porque afinal, alguém irá recolher”, esclarece Adriana. A preocupação em mostrar a importância dessas atitudes às pessoas, com campanhas, propagandas e mídia é uma solução observada por Adriana. Para ela é um absurdo que uma cidade do tamanho de Santa Maria não tenha um sistema integrado de coleta seletiva do lixo. A estudante critica o município ao ver que não existem locais e lixeiras próprias para esse lixo ser recebido. “Seria uma mudança grande nos caminhões de recolhimento, nas lixeiras e na cabeça das pessoas”. Ela também exemplifica sobre a renda que alguns desses produtos podem gerar, como o alumínio, que é 100% aproveitado.

Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma Toda a sexta-feira, a empresa Grafisul tem uma visita já esperada. É o caminhão de recolhimento da Associação dos Selecionadores de Material Reciclável, a Asmar. O veículo recolhe do empreendimento, por semana, cerca de 90 kg de papel e cerca de 6 kg de plástico. O proprietário da gráfica, Sérgio Augusto Carnielutti, afirma que a proteção da natureza e a solidariedade com a Asmar fi-

zeram com que ele se cadastrasse, há dez anos: “Penso nas famílias que estou ajudando com isso e, é claro, no meio ambiente. Já imaginou quanto material que poderia ser aproveitado, iria ser jogado fora se eles não buscassem aqui toda semana? Isso me motiva”. Favorável aos contêineres, Carnielutti explica que todo o papel que sobra do trabalho é guardado para ser reciclado. Os plásticos que eles não doam para a associação, são reaproveitados como apoio para os líquidos quí-

micos da empresa. O empresário acha de extrema importância a coleta seletiva, pois tudo se reaproveita de alguma forma. “Quando me cadastrei dei a oportunidade de outras pessoas transformarem aquele material, tornando-o usável novamente”, explica. É a partir do cadastramento na Associação que se inicia o processo de seleção e reaproveitamento do lixo limpo. A partir de então, cerca de 15 pessoas ocupam seus dias para fazer a triagem do material, que vai de

Mais razões para reciclar: Contribuição para a natureza: ■ 50 kg de papel velho = uma árvore poupada ■ 1.000 Kg de papel reciclado = 20 árvores poupadas ■ 1.000 Kg de vidro reciclado = 1300Kg de areia extraída poupada ■ 1.000 Kg de plástico reciclado = milhares de litros de petróleo poupados ■ 1.000 Kg de alumínio reciclado = 5000Kg de minérios extraídos poupados Fonte: site http://www.natureba.com.br/coleta-seletiva.htm

garrafas pet até geladeiras. Segundo uma das coordenadoras da Asmar, Margarete Vidal, a venda quinzenal é de cerca de 10 toneladas: “Por mês chegamos a vender cerca de 25 toneladas”. Mas, conforme ela, a associação poderia vender mais. Isso porque depois da instalação dos contêineres houve uma perda de muitos pontos de coleta na cidade: “Diminuiu nosso material. Creio que as pessoas acham mais fácil jogar tudo no contêiner”, afirma. Contrária aos contêineres, Margarete comenta que o sistema foi mal instalado e que a população não está pensando na profissão de quem trabalha com lixo e também na saúde pública: “Custamos a sensibilizar a sociedade com relação à nossa causa. Agora parece mais fácil misturar tudo no contêiner. É um pouco de egoísmo”, desabafa. Ela ainda diz: “É importante diferenciar lixo de material reciclável, um não serve mais para nada, outro é a matériaprima do nosso trabalho, que nos traz dinheiro todo o mês”. Laís Bozzetto e Natália Poll


Viver do lixo, e viver com orgulho. É isto que Maria Margarete Vidal da Silva tem para ensinar. Para quem olha essa mulher atrás de uma pilha de materiais recicláveis na Associação de Selecionadores de Material Reciclável de Santa Maria, a Asmar, pode não saber, mas com uma simples conversa todos ficam admirados e com vontade de fazer a diferença. Mais do que uma superação, Margarete é a própria mudança que ela quer ver no mundo. Margarete é assim. Simpática, sorridente e de fala. Tem muito clara a mensagem que quer passar. Respeito, dignidade e consciência. Ela é uma das fundadoras da Asmar, e está no seu segundo mandato como coordenadora do grupo. Ela não é chefe, esclarece. Ali ninguém manda em ninguém. As quinze pessoas que atualmente trabalham no local sabem suas atribuições e se dividem entre a seleção dos materiais recicláveis e as funções administrativas, em atividades que vão da seleção, compactação até a venda do material. Os lucros são repartidos pelas horas trabalhadas e pagos quinzenalmente. É assim que estes trabalhadores têm o seu sustento. Catadores, ou selecionadores, é como gostam e devem ser chamados. É uma profissão reconhecida, explica Margarete. Com o reconhecimento por parte do governo, ela e seus colegas das cinco associações de seleção de materiais recicláveis e os vários outros que circulam pela cidade, ela espera respeito por parte da população. Margarete já sentiu o desgosto de ser desrespeitada. Certa vez, em uma palestra para alunos do curso de Geografia, um acadêmico questionou a validade da presença dela como palestrante, uma vez que ela não tinha estudo. Este episódio foi marcante para a vida de Margarete e, a partir dali, ela soube que só teria respeito se tivesse estudo. Com livros de cursinho jogados fora, ela estudou. Com esforço, empreendeu estudos em duas faculdades. Cursou até o 5º semestre de Economia e Planejamentos Social na Faculdade Palotina (Fapas). Em 2007, segundo a Fapas, o curso foi extinto e os alunos realocados. Margarete foi transferida para a Unifra, mas como havia trancado a faculdade na Fapas devido a um problema de saúde, não chegou a estudar no Centro Universitário Franciscano, ainda. O 3º semestre de Serviço Social, ela faz em curso a distância, pela EaDCom. E ainda quer mais, confessa que pretende cursar Direito.

HISTÓRIAS DE CATADORES gabriela perufo

Atrás de uma pilha de lixos, Margarete buscou e conquistou respeito por ela e pelo seu trabalho

Catadora, com orgulho Muito mais que respeito, Margarete quer ajudar seus colegas com o conhecimento adquirido. Ela sabe, e é a prova, de que existe uma outra realidade atrás dos muros da Universidade e sabe que o diploma não serve para nada se não for bem aproveitado. Tanto é verdade que ela faz uma crítica aos contêineres colocados na cidade. Para ela, quem teve a ideia nunca saiu do seu escritório para olhar a realidade das ruas. Margarete fala

Com os contêineres, a Asmar perdeu locais de recolhimento que durante muito tempo a Asmar lutou para a conscientização da sociedade sobre a separação do lixo e de como o lixo

é importante para eles. Com a colocação dos contêineres, a associação perdeu importantes locais de recolhimento e precisou dar um passo atrás e começar novamente um programa de conscientização da população sobre a importância de não misturar o lixo orgânico com o lixo seco. “A sociedade não via mais o catador na rua, pois ele já tinha o seu lixo garantido, agora quem sai na rua pode ver muitos catadores em situações degradantes”, diz ela.

Margarete se orgulha muito do que faz. Foi ali, na Asmar, que ela aprendeu a ser gente, conta. Conquistou o respeito próprio, a dignidade e o orgulho. E por mais que seu trabalho seja uma luta diária, não pretende abandoná-lo, pois se considera uma pessoa apaixonada pelo que faz. Margarete Vidal considera-se uma pessoa realizada. Carolina Moro e Igor Müller Tiago Sackis

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Diariamente, a rotina dos catadores inclui circular pelo centro da cidade para recolher o que a população descarta. Acabam fazendo parte de um cenário urbano cada vez mais caótico. Mas é ali, na rua, que está a fonte de renda destas pessoas


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HISTÓRIAS DE CATADORES

A voz que vem do contêiner

fotos Renata Ceratti

Para a Prefeitura Municipal de Santa Maria, os contêineres foram instalados para embelezar a cidade e dinamizar a coleta de lixo. Para a comunidade santa-mariense, a opinião sobre as “caixinhas verdes” se divide: alguns odeiam e outros aprovam totalmente. Mas para quem vive do lixo, a história é outra. Os catadores de material reciclável sofrem com o novo sistema e padecem com o descaso da sociedade. A vida de um catador não é fácil, a maioria deles começa a sua “via sacra” pelas ruas do centro da cidade desde a hora em que nasce o sol e terminam quando a maioria das pessoas já está descansando nas suas casas. No dia da nossa entrevista, descobrimos que alguns até precisam pagar o aluguel da carroça e outros moram em lugares tão ermos que sequer têm luz elétrica. Nossa procura por catadores começou rua Dr. Bozzano, onde o grande número de lojas e residências gera uma quantidade considerável de lixo. Vanessa Oliveira, de apenas 19 anos, também sabe disso e, por este motivo, intensifica sua coleta no local. Vanessa é filha de catadores e trabalha na mesma profissão desde aos 12 anos, quando largou a escola na quarta série do ensino fundamental. Sobre os contêineres, Vanessa tem uma opinião muito consciente e altruísta: “Eu acho bom porque não suja as ruas da cidade”, afirma a moradora da Vila Oliveira que não desfruta do mesmo material para a coleta de lixo no seu bairro, já que este sistema foi aplicado somente no centro de Santa Maria. Vanessa não usa proteção (luvas, roupas apropriadas e botas) e revelou que já sofreu problemas de saúde em virtude disto: “A pior coisa do contêiner é quando está vazio, tenho que entrar dentro dele para pegar as sacolas. Esses tempos fiquei com o corpo todo cheio de alergia” afirma a catadora. A moça bonita e educada também nos contou o rendimento de seu trabalho: “O que mais vale são os litros, o papelão, latas e jornal. Vendo por quilo para um depósito de reciclagem. No final do mês eu ganho R$ 250,00, mas pago R$ 150,00 pelo aluguel da carroça e do cavalo. Sobra muito pouco para alimentar meus 3 filhos”.

Nossa entrevista foi interrompida quando um comerciante trouxe um lote de papelão para Vanessa, avisando que a comida também estava lá na loja onde ele trabalha e que ela poderia ir buscar depois. A mãe de três filhos, conta que consegue alimentá-los por que recebe a ajuda de muita gente, mas fica triste quando as pessoas olham para ela com desconfiança: “Tem gente que confunde catador com marginal”, afirma a jovem trabalhadora. Seguimos nossa procura por catadores pelas ruas da cidade. A quantidade era grande, a ponto de ficarmos chocadas. Normalmente toda essa gente nos passa despercebida. Na avenida Presidente Vargas, esquina com a rua Conde de Porto Alegre, ponto de grande circulação de prostitutas e usuários de drogas, encontramos Losimeri Flores da Cunha e seu filho mais velho. Losimeri tem 26 anos, é mãe de quatro filhos e trabalha como catadora desde os 20 anos. Sua história não é muito diferente da de outros catadores, mas o que mais nos surpreendeu foi saber que ela leva seu filho, de apenas 10 anos para ajudála: “Trouxe ele junto porque é pequeno e consegue entrar no contêiner para pegar o lixo lá do fundo” afirma a catadora. A criança, que aqui vamos chamar Juliano*, reclamou da imposição da mãe: “Eu acho ruim porque tem caco de vidro que corta o pé,” afirmou o garoto que, além de tudo, corria risco no intenso trânsito da avenida. Ainda na avenida Presidente Vargas, encontramos seu Valdir Marques da Costa. Figura de riso fácil e de grande simpatia, seu Valdir era funcionário de

“Latas, papelão e jornal valem mais”

Catadora leva o filho todas as noites para ajuda-lá a mexer dentro do contêiner na avenida Presidente Vargas

uma empresa de telefonia antes de tornar-se catador: “Trabalho há dois anos como catador e gostei da mudança das lixeiras para os contêineres,” afirmou Costa. Quando perguntado se nem o lixo que fica no fundo das “caixas verdes” dificulta seu trabalho, prontamente ele

puxou um gancho duplo feito de espeto de churrasco: “Eu uso o meu gancho para puxar as sacolas”, afirmou o catador que também se envaidece da sua carroça de quatro rodas e de seu bem alimentado cavalo. Segundo seu Valdir, ele ganha em média R$ 450,00, mas para

chegar nesta cifra percorre um grande caminho: “Moro lá no assentamento perto de onde estão construindo o novo presídio, venho sempre no final da tarde e volto no final da noite. Quando chego em casa não tem nem luz elétrica para tomar banho”, declara o catador, que pretende largar esta profissão e virar produtor rural. A realidade desses catadores nos faz refletir sobre a difícil luta pela sobrevivência. Para alguns, o contêiner é um empecilho, que só serve para tirar a vaga de carros e juntar mais lixo ao redor de suas casas, mas para os catadores garante o pão de cada dia, o pão que muitas vezes é encontrado dentro do contêiner. *nome fictício

Catadora em busca de materiais

Catador usa gancho feito de espeto para puxar as sacolas dentro do contêiner

Renata Araujo Ceratti e Rita Barchet


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HORÁRIOS

Quando pôr o lixo para fora? Moradores da Vila Schirmer reclamam da coleta Nas segundas, quartas e sextas-feiras, as ruas da vila Schirmer são decoradas com sacolas plásticas cheias de lixo. As lixeiras ficam pequenas para a quantidade de resíduos depositados. Árvores, muros, grades e calçadas também ganham uma porção. Sem saber a hora certa em que o caminhão do lixo vai passar, os detritos vão para as ruas cedo da manhã. Alguns passam o dia inteiro até serem coletados. Outras sacolas são destruídas pelos cães. Os moradores reclamam da sujeira e culpam o horário disperso da coleta. Para a Secretaria de Proteção Ambiental, responsável pela fiscalização, a comunidade não está acostumada com a hora do recolhimento. A maioria da população de Santa Maria depende da coleta usual de resíduos urbanos. Somente 30% dos santa-marienses depositam resíduos em contêineres. Este percentual está distribuído no centro da cidade. Os bairros ainda não podem desfrutar dos confortos destas caixas enormes e cobertas por tampa. O lixo fica exposto às moscas, cães e ao ambiente. A copeira Adriana Machado Correia mora na rua João Lenz, na Vila Schirmer, e prefere guardar os resíduos no pátio de casa até a hora do caminhão da coleta passar para evitar transtornos. Nem sempre, porém, a tática funciona. “Eles vêm cedo, vêm tarde, não têm horário. Às vezes, eu perco a hora do caminhão”, conta. Sacolas transbordadas de lixo dão as boas vindas aos clientes de um supermercado, na rua João Brunhauser, nos três dias programados de coleta. O proprietário do estabelecimento, Nelci Vicente Da Cás, soma prejuízos com a irregularidade do horário. “Se (o caminhão) não vem de manhã, à tardinha tá tudo revirado. E quem junta é eu”, reclama. Da Cás concorda que o estoque de lixo em frente ao supermercado não é bom e gostaria de mudança no recolhimento. “Para nós teria que ser diário”, conclui. A justificativa e a Linha Verde De acordo com o secretário de Proteção Ambiental, Laurindo Lorenzi Filho, havia irregularidade na coleta no início deste ano. Na época,

fotos bernardo bortolotto

Adriana Correia deposita o lixo de duas residências próximo da hora do caminhão passar, na Vila Schirmer, mas nem sempre o lixo é recolhido

o município solicitou à PRT - empresa terceirizada e responsável pelo recolhimento de lixo - regularizar os horários. “Como a gente passou a exigir que (PRT) cumpra os horários, o pessoal está largando (lixos) mais tarde, porque antigamente não havia este cumprimento”, explica Lorenzi.

tência à PRT e dá um prazo à empresa para regularizar o sistema. Se a PRT descumprir o termo é multada em 1% do valor pago pela Prefeitura pelos seus serviços, o que dá cerca de R$ 7 mil por dia. Para realizar denúncias basta ligar para o número da Linha Verde: (55) 3921.7151 ou direto para o secretário Laurindo Lorenzi, pelo número (55) 9178.0823. Catadores agradecem

Secretário de Proteção Ambiental, Laurindo Lorenzi fala sobre as melhorias da coleta no município

O governo disponibilizou para a população a Linha Verde. Um número de telefone para receber reclamações sobre a coleta. Conforme Lorenzi, logo que a Linha foi instalada, a secretaria recebia cerca de 250 reclamações por dia. “Hoje nós não temos nenhuma reclamação, ou seja, o sistema está correto”, destaca. Em caso de irregularidade comprovada, o município emite uma adver-

A comunidade onde a coleta é a usual (antiga), demonstra preferência pelos contêineres. Apesar disto, os catadores, que dependem do lixo para sobreviver, priorizam as velhas lixeiras. Catar resíduos nos contêineres pode trazer surpresas desagradáveis, como é o caso da catadora Maria de Lurdes dos Santos. “Me atirei para dentro (do contêiner) para pegar latinhas e machuquei as mãos, cortei ao segurar as latas”, revela. Maria explica como o procedimento é mais seguro com as lixeiras comuns. “Eu pego a sacolinha, abro e pego o material que é necessário. Depois ato e coloco na lixeira”. Bernardo Bortolotto e Michelli de Barros

Sem hora certa para serem recolhidos, lixos ficam expostos em frente ao supermercado

A catadora Maria de Lourdes seleciona o material reciclável com segurança em lixeiras comuns


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SOLUÇÕES

Cidade poderá ter Usina de Reciclagem

Estudo verifica viabilidade para implementação do projeto Tudo começou por causa de um projeto de extensão. Os empreendedores do projeto “Análise de Viabilidade de uma Empresa de Reciclagem de Resíduos Orgânicos e Inorgânicos na Cidade de Santa Maria – RS” são acadêmicos dos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Direito, Economia e Engenharia Ambiental do Centro Universitário Franciscano. Eles possuem interesse neste ramo de atividade devido à qualificação profissional que poderão obter junto à sociedade e dentro das suas devidas profissões, por acreditarem que transformar o resíduo (lixo) pode se tornar algo muito rentável. Hoje os acadêmicos têm o apoio técnico dos professores da Unifra para desenvolver o projeto, no qual os principais desafios são: educar o povo a separar o lixo, trabalhar em parceria com empresas e catadores, e comprar seus resíduos, para depois poder vender o produto reciclado. Coordenado pela professora do curso de Administração da Unifra, Angelita Freitas da Silva, e pelos professores de Economia Alexandre Reis e Rafael Santos de Oliveira, do curso de Direito, o projeto Usina de Reciclagem ainda não tem definido um local certo para se instalar na cidade. O certo é que os estudantes vão trabalhar com as sobras de materiais de construção, pneus e embalagens tetra pak. Boas ideias não faltam para estes defensores do meio ambiente como, por exemplo: através da reciclagem da caixinha de leite serão elaboradas telhas e placas de alumínio. Dos pneus e restos de materiais de construção serão produzidos tijolos. Por enquanto, o projeto está em fase inicial. A primeira parte é a de implementação, por meio de estudos, da sua viabilidade financeira de negócio, da forma como será trabalhar com fornecedores, pesquisa de concorrência, e os tipos de insumos que serão desenvolvidos. Após a conclusão dos estudos, o próximo passo é procurar o lugar para ser construída a usina. Porém ainda não há data definida para o projeto sair do papel. Qual a intenção do projeto? Este é um mercado em gran-

Augusto Coelho

Projeto está em fase de estudos de viabilidade pelos professores Alexandre Reis, Angelita Freitas da Silva, Rafael de Oliveira e acadêmicos Marcus Vinícius Barboza Nunes e Joceimar Antônio Souza da Luz

de ascensão. Conforme os integrantes, o objetivo é virar uma empresa dentro do município. Após a conclusão do projeto, a Usina de Reciclagem será conhecida como uma empresa com razão social (S/A ou Ltda) e com muito trabalho pela frente em prol do meio ambiente. A empresa vai transformar o lixo em insumo para novos produtos, buscando desenvolver uma prática de construção consciente, influenciando arquitetos, engenheiros civis e a sociedade como um todo, para o uso dos materiais reciclados nas construções. O papel de cada curso no projeto Em cada área existe um papel a ser desenvolvido dentro da empresa. Desta forma, os professores responsáveis pela orientação do projeto dividiram as tarefas por área. Na Administração, o projeto é coordenado pela professora Angelita Freitas da Silva, que é responsável pelos acadêmicos Joceimar Antônio Souza e Marcus Vinícius Nunes. Eles pretendem encontrar soluções para transformar problemas em oportunidades, isto é, empreender, transformando o lixo

em dinheiro, aliado ao desenvolvimento humano e ao bom planejamento, com uma gestão eficaz para realizar o empreendimento. O trabalho dos acadêmicos consiste na parte contábil, ou seja, na constituição da empresa, forma de tributação, cálculos de impostos, folha de pagamento, contabilização dos custos. Atualmente eles estão verificando bibliografias e legislações tributárias referentes às isenções fiscais futuras. Na parte da Engenharia Ambiental a responsável é a acadêmica Marielle Souza, que faz todo o planejamento do gerenciamento dos resíduos sólidos, licenciamentos ambientais da empresa, gestão ambiental, plano de produção e de negócio e viabilidade do projeto Usina de Reciclagem.

O professor Rafael Santos de Oliveira participa na assessoria da área jurídica, coordenando a aluna Dienifer de Pelegrini na identificação dos dispositivos legais pertinentes para à elaboração e regularização da Usina de Reciclagem ressaltando a importância do uso adequado das leis federais, estaduais, municipais e, em especial, os aspectos ambientais e os tipos de tributos aplicados na empresa. Essas ações estão sendo realizadas em conjunto com o curso de Ciências Contábeis. A pré-definição da empresa é um estudo de mercado. A acadêmica Marlize Debus é responsável pela tributação, crédito de operações, viabilidade financeira, custos e despesas. O coordenador do curso de Economia, Alexandre Reis,

Benefícios da empresa Usina de Reciclagem ■ Em primeiro lugar estão sempre os benefícios para o meio ambiente. ■ Fortalecimento do mercado e desenvolvimento da credibilidade do material produzido pela empresa que entrará no mercado. ■ Redução dos custos na construção civil. ■ Geração de emprego e renda para os empreendedores e para os catadores.

orienta os alunos de forma multidisciplinar, unindo as áreas integrantes do plano, prestando orientação nas pesquisas de preço, planejamento e questões teóricas da influência da contabilidade econômica do meio ambiente. Produtos que serão produzidos Através da reutilização dos materiais coletados, como as sobras de pneus, lâmpadas fluorescentes, caixas de leite longa vida e restos de construção civil, a empresa irá produzir os seguintes produtos: telhas, placas, papelão, tijolos, grânulos de pneus e base para estradas. Desta forma, a Usina de Reciclagem pretende fazer o ciclo reverso da poluição, abastecendo o mercado com um material reciclado de qualidade. Ao mesmo tempo, preservará o meio ambiente. Na medida em que a empresa for implantada, seus produtos serão colocados imediatamente no mercado, conforme a demanda da produção, desenvolvendo uma conscientização na área da construção civil e nos seus futuros consumidores. Jamile Peres e Raul Pujol


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SAÚDE PÚBLICA

Lixo contaminado não pode ser colocado nos contêineres A necessidade de zelar pela saúde, nos dias de hoje, tornase indiscutível. E esta preocupação é uma alternativa de preservação da vida diante das inúmeras moléstias infecciosas em circulação no mundo. Hepatite virótica, especialmente as dos tipos B e C, a AIDS e a herpes labial são algumas das doenças que podem ser transmitidas pelo lixo contaminado. Um assunto que ocupa a área da saúde, especialmente em ambientes cirúrgicos e em consultórios odontológicos. O edifício São Pedro, que se localiza na rua Floriano Peixoto, no centro de Santa Maria, foi escolhido para exemplificar a seleção e o destino do lixo contaminado. A trajetória foi acompanhada no consultório odontológico C&F, dos dentistas Cristiane Oppermman e Fernando Sartori Thies. A auxiliar do consultório odontológico C&F, Camila Sartori Thies, conta como funciona a separação do lixo no consultório onde trabalha. Ela explica que o lixo é separado em dois recipientes. O lixo contaminado é colocado em sacos leitosos e o lixo simples é colocado em sacos domésticos. “Sempre foi feita esta separação de lixos, é uma norma da vigilância sanitária”, diz a funcionária. Os sacos leitosos servem para o descarte de lixo infectado, é um saco plástico na cor branco leitoso e serve para acondicionar resíduos infectados. Neste saco não se pode colocar objetos perfurantes e sim, materiais como gases com sangue, luvas usadas, algodão e outros utensílios usados durante a consulta. Já as agulhas, seringas e materiais cortantes são depositados no coletor para perfurocortantes, que tem um revestimento interno de papelão para evitar cortes na caixa. Sobre o trabalho realizado no edifício, a doutora Cristiane Oppermman acredita que a coleta é correta e revela que o ponto negativo é a quantidade de sacos leitosos disponíveis para cada clínica, apenas três por mês. “É um custo de R$ 85 mensais, onde podemos utilizar somente três sacos leitosos de

monique abade

O saco leitoso e o coletor para perfurocortantes são usados para o descarte do lixo contaminado

um quilo cada. Pouco para um consultório com dois dentistas trabalhando’, ressalta. O encarregado do departamento comercial da RTM de Santa Maria, Áureo Azambuja, fala de um assunto importante: a proteção de catadores e papeleiros. O lixo contaminado não é misturado com o lixo simples que vai para os contêineres. Desta forma, ajuda a proteger pessoas que sobrevivem de catar lixo. O material infectado é coletado uma vez por semana e vai direto para o aterro de resíduos classe 1, considerado perigoso. Já o lixo normal é levado para o aterro da Caturrita, fora do centro da cidade. Segundo Azambuja, se caso for encontrado em um contêiner algum tipo de lixo conta-

“O lixo é separado em dois recipientes”

Classificação dos Resíduos GRUPO A

■ Resíduos com possível presença de agentes biológicos que, por suas características, podem apresentar risco de infecção. ■ A4 – Recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, que não contenha sangue ou líquidos corpóreos na forma livre. ■ Peças anatômicas (órgãos e tecidos) e outros resíduos provenientes de procedimentos cirúrgicos ou de estudos anatomopatológicos ou de confirmação diagnóstica.

GRUPO B

■ Resíduos químicos. Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. ■ Resíduos de saneantes, desinfetantes, desinfetantes; resíduos contendo metais pesados. (chumbo contido na embalagem do filme radiográfico). ■ Efluentes de processadores de imagem (reveladores e fixadores). ■ Restos de amálgama

GRUPO C

■ Rejeitos radioativos (não são produzidos no consultório odontológico).

GRUPO D

■ Resíduos comuns. Resíduos que não apresentem risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliados. ■ Papel de uso sanitário, absorventes higiênicos, sobras de alimentos e do preparo de alimentos, resíduos provenientes das áreas administrativas, resíduos de varrição, flores, podas e jardins.

GRUPO E

■ Materiais perfurocortantes ou escarificantes. ■ Agulhas descartáveis, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, instrumentais quebrados, etc.

Fonte: http://www.odontobio.kit.net/rdc33.htm


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SAÚDE PÚBLICA

monique abade

minado, a Vigilância Sanitária é chamada por funcionários da PRT e inicia uma investigação para saber quem colocou o lixo no lugar errado e pode levar uma multa pela infração. O ato de embalar os resíduos segregados em sacos ou recipientes que evitem vazamentos e furos, facilita o acesso e trabalho de coletores. Segundo o representante da empresa, “a RTM tem como principal objetivo minimizar a

produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública”. Conforme normas da vigilância sanitária, a lei considera que os consultórios odontológicos são locais de risco e, por isso, todas as normas e princípios de biossegurança devem ser seguidas

Cores das Embalagens ■ GRUPO A Saco plástico branco leitoso

Monique Abade e Vanessa Roepke

vanessa roepke

Consultórios são lugares considerados de risco

criteriosamente para obtenção do alvará de funcionamento do consultório. Cada consultório recebe uma visita anual de um funcionário da vigilância. A licença de funcionamento tem validade por um ano e no momento da renovação, é feita nova vistoria, que pode ou não ser programada. O dentista que não cumprir as exigências pode receber um auto de infração e ser penalizado, de acordo com a Lei Federal nº 6.437, de 20/08/1977 e Lei Estadual 16.140, de 02/10/2007.

■ GRUPO B Embalagem original ou embalagem específica ■ GRUPO D Saco plástico azul ou preto ■ GRUPO E Embalagem rígida, resistente à punctura, ruptura e vazamento, com tampa e identificada. Consultórios odontológicos devem seguir as normas da vigilância sanitária

Material infectado vai para o aterro de resíduos

Jornalismo em tempo real. Acesse:

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Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra

9ª edição - dezembro/2009

Ecopontos finalmente são instalados na cidade Depois de muita discussão na comunidade e de tanta espera após a instalação dos contêineres, a novidade em termos de prática de consciência ambiental chegou em Santa Maria: a implantação de ecopontos, que são coletores separados para depósito de material reciclável. Os compartimentos divididos para papel, plástico, metal e vidro deixam mais fácil a destinação correta dos materiais recicláveis. Utilizado na Europa e sugerido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), esse parece ser o método mais adequado para a separação do lixo. Apesar de surgirem polêmicas com relação à educação da população, que não deposita o lixo nos locais correspondentes, há quem tenha plena consciência da necessidade desse processo de separação dos materiais. “É muito interessante esse modo de coleta. As pessoas vão ter que acumular em casa os materiais para depositá-los nessas lixeiras, mas é válido. Há a necessidade”, comenta o comerciário Ademir Augusti. Luis Claudio Oliveira Melo admite que esse sistema nem sempre é solução total. “Resolver completamente o problema não vai, mas vai ajudar”, avalia o proprietário de uma microempresa. As lixeiras estão sendo colocadas em pontos estratégicos da cidade, preferencialmente ao lado dos postos da Brigada Militar, para que se evitem atos de vandalismo. Segundo o secretário de Proteção Ambiental do Município, Laurindo Lorenzi Filho, este é um pla-

fotos maiara bersch

Um dos primeiros ecopontos de coleta seletiva da cidade foi instalado em frente à Prefeitura

no piloto, por isso a pequena quantidade de ecopontos na cidade. “É um teste para vermos a receptividade da população, e se vão se adaptar a esse sistema”, explica. Os ecopontos ficarão chaveados e o lixo será retirado diariamente pela empresa responsável, a PRT. Três associações de reciclagem, cadastradas junto à Secretaria de Proteção Ambiental, receberão os mate-

riais depositados nos contêineres: a Associação de Material Reciclável (Asmar), a Associação de Reciclagem Seletiva do Lixo Esperança (Arsele) e a Associação de Recicladores Profetas da Ecologia de Santiago (Arpes). O secretário Laurindo ainda comenta que para o uso correto dos ecopontos, serão distribuídos folders explicativos para a população nos bairros da cida-

de. “Esse é o embrião de uma revolução da coleta seletiva. Não dá para admitir uma cidade do tamanho de Santa Maria sem coleta seletiva”, comenta o secretário. Lorenzi ainda explica que esse pode ser o início de uma “Revolução Verde”. O projeto prevê, para o ano que vem, a instalação de mais 135 ecopontos na cidade. Liciane Brun

“Não dá para admitir uma cidade do tamanho de Santa Maria sem coleta seletiva” Laurindo Lorenzi Secretário de Proteção Ambiental do Município

Onde vão ficar os ecopontos? No total, 15 ecopontos serão distribuídos nos seguintes bairros: ■ Tancredo Neves ■ Santa Marta ■ Perpétuo Socorro ■ Camobi ■ São José ■ Patronato ■ Urlândia ■ Medianeira

■ Nossa Sra. de Lourdes ■ Rosário ■ Itararé ■ Nossa Sra. das Dores ■ No centro serão dois ecopontos, localizados na frente da Prefeitura e ao lado dos Bombeiros.

Luis Claudio acha que o sistema ajuda, mas não soluciona totalmente

Ademir Augusti diz que é válido o novo tipo de coleta


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