10ª edição Junho de 2010 Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra Ary Otávio Canabarro
Águas que destroem
As enchentes que ocorreram na região central do Estado no final de 2009 e início de 2010 mudaram não só a rotina das pessoas, mas a geografia, a economia e a infraestrutura dos municípios.
Páginas 4 a 9
diego fontanella
Trânsito congestionado carolina brum corrêa
Tragédia ambiental
Força da água destruiu ponte do rio Jacuí, na rodovia que liga a região central à capital gaúcha. Página 5
O aumento de carros e motos transforma o cenário urbano de Santa Maria. Poluição e doenças vêm de carona. Páginas 12 a 15
2 Editorial Ultimamente é comum acontecerem desastres naturais. Toda semana nos deparamos com uma notícia diferente sobre terremotos, vulcões, enchentes, enxurradas. Na região central do Rio Grande do Sul não foi diferente, as chuvas em demasia no final do ano passado e no início de 2010 provocaram enchentes, castigaram produtores e suas plantações e causaram tragédias, como a queda da ponte sobre o rio Jacuí na RSC 287, que liga o município de Agudo ao de Restinga Seca. Quais as relações entre as mudanças climáticas, as agressões ao meio ambiente e a queda desta ponte e de diversas outras de menor porte? Porque tanta chuvarada atingiu a região e ceifou plantações, arrasou com balneários e com vilas e colocou em risco a população de vilas localizadas às margens de rios e arroios? Vários grupos da disciplina de Jornalismo Especializado I debruçaram-se sobre este tema e o resultado é um levantamento regional dos problemas causados pelas enchentes. Esta edição ainda traz uma série de matérias que mostram como a poluição urbana está afetando a saúde e a vida das pessoas, especialmente em Santa Maria, onde o aumento do número de veículos é impressionante. E onde a quantidade de lixo jogada no arroio Cadena segue fazendo estragos ao meio ambiente e em discussão nas esferas de poder que até hoje ainda não conseguiram minimizar o problema. Nossa intenção é que, ao tratar destes assuntos, os leitores possam juntar-se à equipe do JornalEco para refletir sobre a realidade atual e tentar, em seu círculo de ação, promover ações cotidianas que respeitem a natureza e o ser humano.
Expediente JornalEco – 10ª edição Jornal experimental produzido na disciplina de Jornalismo Especializado I do Curso de Comunicação Social – Jornalismo do Centro Universitário Franciscano
Reitora: profª Irani Rupolo Diretora da Área de Ciências Sociais: profª Sibila Rocha Coordenação do Curso de Comunicação Social – Jornalismo: profª Sione Gomes Professora orientadora: jorn. Aurea Evelise Fonseca Editores: profª Aurea Evelise Fonseca – Mtb 5048 prof. Iuri Lammel – Mtb 12.734 Reportagens e textos: Alessandra Tonatto Noal, Anderson Vargas Gonçalves, Andressa Alves de Oliveira, Andressa da Costa Scherer, Andressa Sarturi, Camilla Marques Guterres, Carolina Brum Corrêa, Caroline Rocha da Silva, Daiane dos Santos Costa, Daniel Cantaluppi Bueno, Ericson André Friedrich, Evandro Leão de Freitas, Felipe de Barros da Rosa, Gabriela Acosta Fogliarini, Gabriela Medeiros Perufo, Giulianno Lara Olivar, Henrison Rodrigues Dressler, Jean Pierre Zinelli Romero, Juliane Furquim de Freitas, Larissa Calegaro Sarturi, Leandro Monteiro Ineu, Leandro Passos Rodrigues, Liciane Brun, Lucian Roggia Ceolin, Maiara Camila Sestari Bersch, Marcos Severino de Borba, Maurício Almeida Araújo, Pedro Henrique Pavan, Raquel da Silva Acosta e Verônica Machado Barbosa. Fotos: acadêmicos Anderson Gonçalves, Camilla Guterres, Carolina Brum Corrêa, Gabriela Fogliarini, Henrison Dressler, Ericson Friedrich, Lucian Ceolin, Evandro Leão, Daniel Bueno, Maiara Bersch e Marcos de Borba, Diego Fontanella e Augusto Coelho (Laboratório de Fotografia e Memória), Arquivo da Prefeitura Municipal de São Pedro do Sul e Ary Otávio Canabarro (São Pedro do Sul). Diagramação: prof. Iuri Lammel e acad. Giulianno Olivar Impressão: Gráfica Gazeta do Sul Tiragem: 1000 exemplares Distribuição gratuita Junho 2010
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
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Meteorologia explica aumento de desastres naturais Crescimento populacional é um dos principais fatores Conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), os impactos futuros de eventos climáticos extremos afetarão desproporcionalmente as populações pobres. Os países ricos não serão poupados. Os desastres naturais podem ocorrer em qualquer parte do mundo, entretanto, algumas regiões são mais afetadas em função da intensidade e frequência dos fenômenos e da vulnerabilidade do sistema social. Tanto que a maioria dos desastres ocorre nos países em desenvolvimento. Mais de 95% das mortes por consequência dos desastres naturais ocorrem em países considerados pobres.
No Brasil, grande parte dos o Brasil prefere remediar do desastres está associada às que prevenir esses desastres instabilidades atmosféricas naturais. severas, responsáveis pelo Nas últimas décadas houdesencadeamento de inun- ve um aumento considerável dações, vendavais, tornados, nos prejuízos causados por granizos e catástrofes. Esdeslizamentudos indicam tos de terra. que este auVariabilidades Esses fenômento pode esclimáticas menos são tar relacionado violentos e às mudanças ocorrem a resultam em climáticas glocada três ou mortes e desbais, mas tamtruição. Norbém apontam quatro anos malmente não o crescimento há tempo para populacional, o que as pessoas procurem um aumento das favelas e da polugar seguro para se abrigar breza e a ocupação de áreas ou salvar seus bens. E, segun- de risco como principais fatodo uma pesquisa feita pela res responsáveis pelo aumenOrganização Contas Abertas, to de desastres.
Dr. Vagner Anabor no laboratório de Pesquisas Meteorológicas do INPE, na UFSM
Ericson Friedrich
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MUDANÇAS CLIMÁTICAS
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foto Anderson Vargas
Meteorologista explica motivos
A meteorologia é parte das ciências exatas que estuda os fenômenos e as reações dos outros sistemas terrestres com a atmosfera. Ela está ligada a todos os processos físicos e químicos que acontecem na terra. Nesses processos estão confluências, tempestades, fenômenos de grande escala e o clima. Sobre as precipitações que ocorreram no início do ano de 2010, o meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Vagner Anabor, diz que o grande volume de chuvas no Rio Grande do Sul foi previsto pelos modelos meteorológicos e também monitorado através das estações climáticas que medem as chuvas nas bacias hidrográficas. Conforme Anabor, essas enchentes são causadas por tempestades severas de grandes dimensões, que produzem excessivos volumes de água em um curto espaço de tempo. Podem chegar a 100 mm por dia ou até 400 mm em dois dias, o que é um volume consideravelmente grande e sobrecarrega todo o sistema de escoamento e drenagem das cidades e dos rios, causando alagamentos. As chuvas que ocorreram recentemente estão ligadas à primavera e ao verão. Por isso, é normal que elas aconteçam novamente. Devido ao El Niño, elas tendem a ocorrer com maior frequência. Vagner Anabor ainda chama a atenção para a diferença que há entre mudanças climáticas e variabilidade climática. Mudanças climáticas são modifi-
Clube Caça e Pesca é atingido pela enchente em São Sepé
cações que ocorrem de forma permanente. Já variabilidade climática, são variações que ocorrem a cada três ou quatro anos no planeta, como La Niña e El Niño. Esses fenômenos causam pequenas mudanças no clima. Hoje, esse tipo de evento é mais noticiado pela mídia, mas essa variabilidade já ocorria, como as chuvas que ocorrem em São Paulo. Porém o tempo de existência do ho-
Estamos livres de uma série de desgraças como terremotos, vulcões e furacões por causa de fatores geológicos e climáticos. A pouca ocorrência de ventos devastadores como furacões, tufões e ciclones é devida à baixa temperatura do mar. Nossos mares dificilmente atingem os 26,5C° necessários para a formação de tempestades. O furacão Catarina, que passou em março de 2004 pelo sul do Brasil, tinha características tanto de ciclone quanto de furacão, segundo o Inpe. Ele é uma prova de que sempre pode acontecer uma catástrofe, mesmo que estejamos em terra “abençoada”.
Os modelos climáticos mostram tendências, e não previsões mem na terra é curto, sobretudo como civilização. As primeiras observações do tempo
datam a partir de 1800 no Rio Grande do Sul, e isso é recente para a escala de tempo de mudanças climáticas. As previsões podem ser de sete dias, com estimativa para até 15 dias. Isso é o que se denomina previsões de curto prazo. Previsões de clima podem se estender de 6 meses a um ano, com uma margem bem alta de acerto. No entanto, não é possível fazer pre-
visões para os próximos três anos. O que se faz é trabalhar com modelos idealizados, explica o meteorologista. Os modelos climáticos mostram tendências, e não previsões. As previsões mostram o que pode acontecer em um curto espaço de tempo.
Por Caroline Rocha, Ericson Friedrich e Raquel Costa
Por que o Brasil tem poucos desastres naturais?
Principais tipos de desastres naturais no Brasil Seca
Deslizamentos
Enchentes
A seca, também conhecida como estiagem, é um fenômeno climático causado pela insuficiência de precipitação pluviométrica, ou chuva, numa determinada região por um período de tempo muito grande. Existe uma pequena diferença entre seca e estiagem, pois estiagem é o fenômeno que ocorre num intervalo de tempo, ou seja, não é permanente. A seca é permanente. Este fenômeno provoca desequilíbrios hidrológicos importantes, comuns em determinadas partes na região nordeste do Brasil.
Um deslizamento é um fenômeno geológico que inclui um largo espectro de movimentos do solo, tais como quedas de rochas, falência de encostas em profundidade e fluxos superficiais de detritos. Embora a ação da gravidade sobre encostas demasiadamente inclinadas seja a principal causa dos deslizamentos de terra, existem outros fatores, como chuvas fortes, tráfego de maquinário pesado, explosões e mesmo trovões que causam vibrações e podem acionar a falência de encostas frágeis.
Enchente ou cheia é uma situação natural de transbordamento de água de córregos, arroios, lagos, rios, mares e oceanos provocada por chuvas intensas e contínuas. É mais frequente em áreas mais ocupadas, quando os sistemas de drenagem passam a ter menor eficiência. Como todo fenômeno natural, pode-se sempre calcular o período de retorno ou tempo de recorrência. Algumas obras podem ser realizadas para controle, tais como bueiros, diques, barragens de defesa contra inundações ou obras de revitalização de rios.
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Reconstrução na Quarta Colônia Rodovias devem ser drenadas para resistirem à ação da água
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queda da ponte sobre o Rio Jacuí, na RSC 287, que liga o município de Agudo ao de Restinga Seca, vai ocasionar não só a reforma e construção de uma nova ponte mas, também, uma grande mudança nos asfaltos e rodo-
vias da região da 4ª Colônia de Imigração Italiana. Local muito atingido pelas enchentes, essa área já sofria há muito tempo com a precariedade de suas rodovias. O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER), por meio
de licitações, contratou três empresas de pavimentação rodoviária. A Sultepa, Cotrel e Della Pascoa foram incumbidas de reformar mais de 168 km de asfalto esburacado e em más condições de tráfego. Segundo o DAER, essas
Estragos nas RS 149, em São João do Polêsine FOTOS LUCIAN CEOLIN
Empresa de pavimentação rodoviária trabalha na recontrução do asfalto
reformas estavam previs- queda da ponte, “a água tinha tas desde março de 2008. Só que passar em algum lugar”. A que, com a queda da ponte, a falta de manutenção foi o ouchuvarada e os enormes es- tro aspecto salientado por Jutragos ocasionados, as obras liane. A professora deixa uma tiveram caráter emergencial, dica aos moradores mais afecomo conta o administrador tados pelas enchentes: “Não da obra rodoviária, Paulo Re- deixar que a vegetação seja nato Konsland: “Isso que está retirada do local, e onde não sendo feito é de caráter emer- tem plantação, tentar presergencial. Estava previsto desde var para que a água não che2008, mas com a crise que o gue de forma muito bruta”. governo atravessa e com toda E não são apenas as lavouessa chuvarada, o DAER não ras que foram prejudicadas pôde fazer nada antes”. pela chuva. O grande fluxo Konsland indica alguns fa- de veículos, ocasionado pela tores para a precariedade das queda da ponte, preocupa os rodovias: “O inimigo número moradores de São João do Poum do asfalto é a água. Tem de lêsine. Por estar localizada na ter uma rodovia bem drenada. região onde se passa para ir a Qualquer lugar com muito mo- Santa Maria, Agudo e demais vimento, se não estiver bem localidades da Quarta Colônia, drenado, com a cidade pascerteza acasou a ter mais ba estragando O inimigo número de 70 % de autudo”. Porém, mento do fluxo um do asfalto mesmo sabende carros. Com do da responisso, o perigo é a água, mas sabilidade que de ocorrer alo lixo também o governo tem, gum acidente Konsland fala é muito grancausa danos sobre a popude. Como exlação que, muiplica o empretas vezes, só sabe reclamar: sário João Marzari, que mora “O pessoal, às vezes, só sabe bem perto do asfalto da RS reclamar e xingar os trabalha- 149, em Polêsine: “Aqui, dedores rodoviários. Trabalho pois da queda da ponte, não há mais de 30 anos na beira dá para aguentar. É dia e noite de estrada e já cansei de ver uma barulheira, carros fazenlixo nas barrancas do asfalto, do ultrapassagens perigosas. garrafa de cerveja, cigarro e Como aumentou o percurso, demais porcarias. Isso acaba acham que têm de correr para prejudicando, e muito, as ro- chegar antes.” dovias e encostas”. O aumento do fluxo veicuSegundo a engenheira civil lar mudou, também, algumas e professora do curso de En- atitudes dos moradores de Pogenharia Ambiental do Cen- lêsine. Antes da tragédia, com tro Universitário Francisca- o fluxo normal de veículos, no, Juliane Pinto, o aumento era sempre possível ver muita da precipitação ao longo dos gente caminhando e correndo anos e o desmatamento das na beira do asfalto. Agora, são áreas favoreceram as catás- poucos os que se arriscam. trofes na região. Ela explica Como conta o estudante Diogo o que aconteceu com os rios Pippi: “Antes se via muita gennas áreas alagadas e na queda te praticando exercícios. Eu da ponte em Agudo: “Na ba- sou um dos poucos que concia hidrográfica, existe uma tinua, mesmo após o aumento área de drenagem, a água vai dos carros. Mas, mesmo assim, escoar para esse ponto, o lo- com a atenção muito maior cal onde está sendo drenada que antes. Várias vezes vejo essa água é o leito do rio, e ultrapassagens perigosas, que com a grande quantidade de passam bem perto de mim. chuva eleva o nível do rio, de Está muito mais difícil de praum ponto mais alto para um ticar exercícios”. ponto mais baixo.” Para a especialista, a condiLucian Ceolin e ção ambiental é a culpada pela Pedro Pavan
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MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Enchente leva a ponte Fluxo de água arrancou as margens do rio Jacuí FOTOS CAROLINA BRUM Corrêa
Na manhã de 5 de janeiro moram, plantam e vendem de 2010, duas pequenas ci- vários agricultores e comerdades do interior do Estado – ciantes restinguenses. Para os Agudo e Restinga Seca - foram agricultores, há perda das lapegas de surpresa pela queda vouras que ficaram alagadas. da maior ponte da redondeza. Para comerciantes, a renda cai A ponte tinha extensão de 100 significativamente, pois não metros sobre o Rio Jacuí e deti- passam mais tantos carros nha um fluxo constante de veí- como antes, os postos e resculos, pois era trajeto de quem taurantes do trecho estão sem se deslocava de Santa Maria a movimento, pois agora é usaPorto Alegre e vice-versa. do um desvio que não passa Entre as várias cogitações a pelo município”, lembra o prerespeito da causa da queda, a feito. “Além dos danos ambienmaior justificativa foi a gran- tais que são causados pelas de cheia na região. Segundo próprias plantações, estamos a engenheira florestal Flávia tentando fazer de um jeito que Oliveira, o fluxo de água foi todos sejam beneficiados, mas tão grande, que em muitas se torna difícil, pois um depenpartes das barrancas do rio, de do outro, ao mesmo tempo protegidas por árvores, essas em que um prejudica o outro”, foram arrancacompleta Boldas inteiras até zan, sobre o ascom a raiz. Os pecto de que o O produtor deve lugares desmafluxo de carros se conscientizar tados para as polui, as lavouplantações soras desmatam, que é preciso freram maiores mas mesmo recuperar a consequências. assim não exis“Aonde não hate como tirar mata ciliar via proteção, de um para como as lavouajudar o ouras das encostas, houve danos tro. Restinga Seca se localiza maiores, e colaboraram para do lado oeste da ponte, no deo fluxo aumentar. Em um caso correr da RSC 287, até a divisa desses, onde a natureza é mais com Santa Maria. forte, fica complicado, mas o O empresário Marcelo Fuzer, produtor tem que se conscien- dono do Posto Fuzer, localizatizar que é preciso recuperar do na comunidade de São Mia mata ciliar, ou seja, a Área guel, no município de Restinga de Preservação Permanente Seca, diz estar apavorado com (APP), porque sem essa prote- a situação. “A movimentação ção cada vez que houver uma aqui diminuiu 60% ou mais. enchente vai desbarrancando Agora só passa por aqui quem mais”, ressalta a engenheira. vem ou vai para Restinga, que Para as autoridades dos quase sempre já está abastecidois municípios, o caso é gra- do. O fluxo de caminhões que ve, não só pelo dano da queda era a principal renda do posto da ponte, mas também pelo reduziu a 10%, está difícil para impacto ambiental. Para o pre- nós”, reclama Fuzer. feito do município de Restinga Para o prefeito do municíSeca, Tarcizo Bolzan, a queda pio de Agudo, Ary Anunciação, da ponte acarretou consequ- a questão do produtor é mais ências negativas ao município preocupante. “O produtor e à população. “Nesse trecho rural daquela região sofreu
Na época do acidente: rio Jacuí cheio e a ponte submersa
Quando o rio baixa, pode-se ver os destroços da antiga ponte
muito. Algumas lavouras foram totalmente devastadas. A questão do comércio na região não foi tão afetada, pois o desvio pertence ao nosso municí-
pio, creio que para Restinga tenha sido mais complicada essa parte”, comenta Anunciação. Os agricultores dos municípios declaram que os danos
são inigualáveis e que também se acham culpados pelos desastres que vêm acontecendo e que fazem parte do processo de destruição da natureza. Gustavo Fleck, agricultor da área pertencente a Agudo, diz que a queda da ponte serviu de calvário para ele, que as lavouras da família que ficam próximas ao rio ajudaram a provocar essas enchentes, pois para plantar o arroz é necessário desmatar as encostas. “O dano e o prejuízo foi enorme, mas tenho consciência de que também somos causadores disso tudo e fui castigado com a destruição de mais da metade da minha lavoura”, lamenta o agricultor.
Carolina Brum Corrêa
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São Sepé: água desabrigou, desabasteceu e destruiu Chuvas causam falta de água e baixam preços de produtos agrícolas
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Na primeira semana do ano m todo o Estado, o ano de 2009 trouxe muitas o município recebeu o madeisurpresas ruins por ramento para a reconstrução causa das alterações climá- de algumas pontes. Mesmo asticas. Cidades foram lavadas sim, buracos nas estradas, copelas chuvas, a água atingiu munidades ilhadas e lavouras casas e trouxe à tona diver- inundadas foram o saldo com que produtores e moradores sos problemas. Em São Sepé, a Sociedade do interior tiveram de aprenRecreativa Caça e Pesca, que der a lidar. O verão chuvoso surpreenfica às margens do rio São Sepé, é um exemplo da quan- deu agricultores não só pelas tidade de chuva que caiu. A dificuldades na plantação, mas água atingiu casas e derru- pelas péssimas condições das bou pontes impedindo a pas- estradas do interior. A maiosagem de veículos e de pe- ria das vias ficou intransitável. destres. Residências ficaram Motoristas de ônibus chegailhadas pela água na estrada. ram a parar de fazer algumas Casas alagadas no Passo do rotas até que a chuva parasse. Verde (entre Santa Maria e Além das estradas há também São Sepé), falta d’água e que- a questão das pontes. Pelo meda de pontes no município nos cinco ficaram danificadas foram algumas das marcas ou com perda total. deixadas no ano que passou. As enchentes causaram Falta d’água transtornos sérios como a se tornou banal Mas o problema que atingiu falta frequente de água. Nos bairros foi preciso o auxílio o maior número de pessoas foi a falta d’água. com colchões, A necessidade roupas e cesda realização tas básicas. De Enchentes de obras na acordo com o geraram captação junsecretário de to ao rio São Assistência Soprejuízos de Sepé é uma cial, Paulo Remilhões de reais reivindicanato Vargas, ção antiga da foram atingino município Companhia dos moradores Rio-grandende mais de dez bairros da cidade. No inte- se de Saneamento (Corsan), rior e na periferia, o saldo de que ainda não teve viabilidadestruição foi de oito pontes de. Uma equipe de mergulhos, caídas. A da antiga saída para de Porto Alegre, esteve em São Caçapava ficou totalmente Sepé para efetuar a limpeza da captação de água no rio. destruída.
Fernando Osório, da Cotrisel
Secretário Paulo Renato Vargas
FOTOS EVANDRO LEÃO
Força da água destruiu pontes no interior do município
O inspetor de montagem da Corsan, Jorge Borner, diz que a vazão normal da água é de 60 litros por segundo. Quando ocorrem as enchentes, a vazão chega a reduzir para 15 a 20 litros por segundo, por isso a falta d´água. Borner explicou que a captação limpa volta a funcionar, mas que ainda há risco de falta d’água se o rio subir novamente.
Preços caem e preocupam produtores
Orizicultores e sojicultores estavam apreensivos quanto à desvalorização de preços em março. O preço do arroz baixou, preocupando os produtores que se esforçaram, sob péssimas condições, para plantar e replantar suas culturas. Na avaliação do presidente da Cooperativa Tritícola Sepeense (Cotrisel), Fernando Osório, em relação ao ano passado, que foi uma safra excepcional, a safra deste ano não será tão ruim. “Com todos os problemas que os produtores enfrentaram (chuva, pouca luminosidade), acreditamos que está sendo uma boa colheita, apresentando um rendimento de grãos inteiros, muito superior ao esperado”.
As perdas acumuladas pelos arrozeiros gaúchos representam um mês de consumo de arroz pela população brasileira. Em todo o Estado, são mais de mil casos de produtores que tiveram perda quase total das lavouras. São 18 mil produtores responsáveis por 63% da produção e do abastecimento nacional. Plantam 1,1 milhões de hectares de arroz ao ano em 140 municípios, gerando 232 mil empregos. Nesta safra, o Rio Grande do Sul sofreu 14 eventos climáticos (ciclones, vendavais, granizo e inundações) e cinco grandes enchentes, atingindo 38 mil propriedades, 45 mil produtores e 80 municípios, gerando milhões de reais em prejuízos (pontes, estradas, canais, redes elétricas, casas, galpões). Em torno de 60% da soja foi plantada em dezembro, passando por chuvas permanentes e, em março, fase de término de floração, precisando de água, a estiagem acabou prejudicando as plantações. “Estamos apreensivos quanto às plantações de soja, as quais poderão passar por uma queda de produtividade, bem como a questão de preço”, diz Osório.
Em favor dos arrozeiros
O presidente da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa, deputado Heitor Schuch, disse em ato que reuniu arrozeiros em Cachoeira do Sul, que se unia à classe produtora. “Precisamos nos unir e mostrar para a opinião pública o que o agricultor está passando e necessita neste momento. Dos que plantaram, alguns vão colher, outros infelizmente não”, destacou. Para Schuch, é preciso que todos contribuam na construção de soluções. “O governo precisa cumprir preço mínimo. A população urbana tem uma parcela muito grande neste processo e se não valorizarmos o produtor, estaremos ajudando a enterrá-lo”. O presidente do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), Maurício Fischer, destacou que mais uma vez o produtor está na luta. “Sabemos que a safra deste ano não passará de sete milhões de toneladas, enquanto que a do ano passado ultrapassou os 8,5 milhões”, disse.
Anderson Vargas, Evandro Leão e Leandro Ineu
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Proteger o ambiente é proteger vidas Margens do Cadena vieram abaixo com as chuvas
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fotos daniel bueno
ma área é considerada inapropriada para habitação quando está sujeita às forças da natureza, como em margens de rios, beira de barrancos, declives de morros. Não construir nestes lugares é uma forma não só de preservar o ambiente como também de proteger vidas. São chamadas áreas de risco que, muitas vezes, são também áreas de preservação ambiental. As margens do arroio Cadena são os lugares mais críticos em Santa Maria, onde existem muitas casas que correm risco de desabamento devido à erosão e cheias. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê recuperação desde a sua nascente até a Vila Urlândia e as famílias estão sendo deslocadas para conjuntos habitacionais. Nesses locais deverão ser colocados taludes de contenção feitos de pedra e concreto. É uma forma de evitar que tragédias como as que ocorreram em abril deste ano no Rio de Janeiro.
O dia em que a Felicidade veio abaixo
Nelson Adão Böch é morador da rua A, também chamada de Felicidade, na Vila Renascença. Ele vive do pouco dinheiro que ganha pelo conserto de bicicletas. Sua casa está bem no final da rua. Um lugar que está condenado, pois com as chuvas de novembro do ano passado, parte da rua veio abaixo. O arroio Cadena mostrou toda a sua força levando o barranco. Nelson afirma que não necessita sair do local. A rua era uma das ligações com a BR 287. No acesso principal à vila também existe outro problema. A ponte está com a cabeceira deteriorada. Várias pessoas já foram retiradas do local e outras ainda esperam uma solução. É o caso do aposentado José da Silva, que a cada chuva vê o fundo da casa diminuir, levado pela forças das águas. Ele comprou o terreno há 18 anos e viu a margem do rio aproximar-se de seu lar. Em novembro do ano passado foi o período mais crítico. Silva fez uma contenção com entulho e terra nos fundos de sua casa para evitar mais
A ponte na rua Irmã Dulce, principal acesso ao bairro também apresenta problemas na estrutura
José da Silva improvisou com entulhos, para evitar o desmoronamento de seu pátio
desmoronamento. “Naquela chuva de novembro, se largássemos um vagão de trem, ele seria levado. Aqui o que está segurando ainda são as taqua-
reiras”, diz. Ele é um dos moradores que aguarda uma casa no Loteamento Cipriano da Rocha, na Vila Maringá. O secretário de Proteção
Ambiental, Luiz Alberto Carvalho Junior, explica que esse tipo de urbanização é comum em muitas cidades. É consequência de uma falta de pla-
nejamento e fiscalização por parte dos órgãos públicos. As pessoas também sabem que o local não é apropriado, mesmo assim constroem suas casas e as áreas são legalizadas. Ele dá um exemplo do por que não se deve construir até 30 metros na beira de um curso d’água. É que as árvores que estão ali fazem a contenção, assim o assoreamento do seu leito é evitado. Para isso é utilizado nos estudos de planejamento de definição das áreas de risco o principio da precaução que resguarda qualquer tipo de razão, inclusive ambiental. “Nós estamos pagando por uma urbanização desordenada de morros e arroios durante muito tempo”, completa o secretário. Segundo a Prefeitura, mais de duas mil famílias vivem em locais que apresentam risco de deslizamento.
Por Daniel Bueno e Leandro Rodrigues
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São Pedro do Sul e Toropi vivenciam a força das águas Balneários Julião e Angico tiveram geografia alterada pelas enchentes
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oram quatro dias de fortes chuvas: 22 de novembro e 26 de dezembro de 2009, 4 e 12 de janeiro de 2010. Estas datas ficaram marcadas para os moradores dos municípios de São Pedro do Sul e Toropi e os reflexos ainda podem ser percebidos nos balneários pertencentes às cidades, Passo do Julião e Passo do Angico, respectivamente. O grande volume de água levou ao que muitos consideram as maiores enchentes ocorridas nos últimos anos. O balneário Passo do Julião, pertencente a São Pedro do Sul e distante 20 km do município, possui 95 casas, sendo que destas 15 foram totalmente destruídas. Também sofreram danificações o posto da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros. Conforme o presidente do balneário, Geovane Antônio Strauss, o número de frequentadores durante o verão chegava a 1.000 pessoas por fim de semana. Um total de 12 famílias tinham residência fixa e algumas delas tiveram que deixar de morar no local após as enchentes. Além das casas, também foram danificadas a rede de luz, área de camping e o calçamento das ruas. As famílias estão empenhadas na reconstrução das residências e, conforme Geovani, os calçamentos das ruas já foram restaurados. Falta ainda a reconstituição do camping e do posto da Brigada Militar e Corpo de Bombeiros. O mecânico Luiz Varnei Machado de Oliveira, que reside em São Pedro do Sul, há 15 anos veraneia com a família em sua casa no balneário Passo do Julião. Ele diz que teve diversos prejuízos. A força das águas arrancou o segundo piso da casa onde ficavam a cozinha, banheiro, garagem e churrasqueira. “Vou ter que refazer toda a casa. Também perdi móveis, geladeira, fogão e diversos utensílios”, afirma Luiz. O presidente da Associação de Moradores do balneário Passo do Angico, Carlos Magno Pires dos Santos, conta que as últimas enchentes superaram a ocorrida no ano de 1984, que até então era considerada pelos moradores a maior já registrada. Após o susto, o balneário
Arquivo Prefeitura Municipal
A ponte no Passo do Julião que liga São Pedro a Toropi foi quase coberta pelas águas
ainda está sendo reestruturado. trutura do balneário Passo do “As enchentes trouxeram muita Angico. “Houve mudanças no areia das encostas. Também fo- leito do rio. Atrás da minha ram derrubadas algumas árvo- casa, que fica na beira do rio, o res ribeirinhas, a área de banho local ficou irreconhecível. Árfoi danificada e caiu a passare- vores antigas tombaram, caiu la que permitia o cruzamento um barranco que segurava gapelo rio em épocas de cheia”, lhos e árvores pequenas. Murelata Carlos. dou bastante A locutora e com certeza de rádio Fátima houve prejuíFalta de Ebling Metz, que zos para a natucobertura reside em São reza”, salienta. Pedro e possui Além de afevegetal ocasiona casa no Balneátar a natureza, desmoronamentos as enchentes rio do Passo do Angico há 10 também ledos barrancos anos, conta que varam perigo em sua residênpara os veracia os prejuízos foram poucos. nistas. “O risco principal foi a “A estrutura não foi abalada, mudança do leito do rio e as apenas caiu uma parte da co- alterações nas áreas de banho, bertura da churrasqueira e al- a morfologia mudou. Existe o guns móveis e colchões ficaram perigo dos buracos formados sem condições de uso”. pela enchente. Onde as crianDe acordo com Fátima, as ças brincavam, hoje não dá pé”, enchentes prejudicaram a es- afirma Fátima.
O impacto na Natureza
Aos estragos nos balneários somam-se a destruição parcial e total de casas, quedas de árvores e mudanças na morfologia dos rios e do local como um todo. Conforme a engenheira florestal Fernanda Brüning, no balneário Passo do Julião, as margens (barrancas) do rio tiveram grande parte de sua vegetação arrancada com a força das águas e arrastadas tanto para o leito do rio quanto para fora deles, atingindo e danificando as residências. Ela destaca que outro impacto marcante foi a mudança do curso e diminuição da profundidade do rio devido ao arrastamento de enorme quantidade de cascalho. Tanto no Julião como no Passo do Angico, a queda de árvores ocasionou diversos danos. “Após o período de enchentes, o maior problema causado pela queda das árvores foi o fato
das margens ficarem desprotegidas pela falta de cobertura vegetal, o que ocasionou sucessivos desmoronamentos dos barrancos para dentro do rio causando mais assoreamento”, destaca Fernanda. A engenheira salienta ainda que é preciso replantar as árvores. “Seria muito importante realizar uma reposição da vegetação perdida nas enchentes para estabilizar as margens do rio”, diz. Uma das questões mais preocupantes é o assoreamento do leito dos rios, já que ele provoca a diminuição da capacidade de escoamento de água e aumenta as chances de enchentes cada vez mais frequentes. “A falta de vegetação nas margens diminui a capacidade de infiltração de água para o subsolo, em decorrência disto toda a água que cair na superfície será carreada para dentro dos rios que, por sua vez, não terão capacidade de escoa-
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mento em função da situação de balho já se fez sentir nestas assoreamento em que já se en- últimas enchentes, pois o balcontram”, explica a engenheira. neário do Angico foi o que meA falta de uma estrutura ade- nos sofreu com as inundações, quada para os balneários tam- tudo graças a este cinturão bém interfere na natureza dos verde que nos protege e tamlocais, contribuindo para que bém ao rio”, destacou Carlos. em casos de enchentes, os estragos sejam maiores. De acor- Cidades e interior foram do com a legislação vigente, a prejudicados faixa a ser respeitada sem interAs fortes chuvas afetaram venção alguma (construções), não só os balneários como é de 50 metros para rios de até também os municípios e regi30 metros de ões do interior. largura, como é Conforme o o caso do rio Toprefeito de São Legislação ropi, que banha Pedro do Sul, prevê áreas de os balneários de Marcos Ernani São Pedro e ToSenger, no mupreservação ropi. Esta faixa nicípio, 1.700 ao longo das é denominada km de estradas área de presermargens dos rios foram danificavação permados e 12 pontes nente (APP) e foram destruípor isso deveria ser respeitada, das, entre estas a que liga São entretanto, conforme explica Pedro à cidade de Quevedos. Fernanada: “as construções No dia 26 de novembro do ano existem desde uma simples es- passado, foi decretada situacada de acesso à área de banho ção de emergência levando em até bares e quiosques nas pro- conta as perdas e estragos cauximidades das margens e um sados. pouco mais afastado há tamConforme a apuração realibém a construção das casas dos zada pela Secretaria de Obras veranistas”. do município, o custo com a rePara reduzir os prejuízos em cuperação de estradas, pontes e casos de enchentes é necessário bueiros foi de R$ 7.699.600,00. a área de preservação. Assim, a E de acordo com laudo da EMAágua encontrará uma barreira TER, o prejuízo na agricultura natural formada pela vegetação foi de R$ 5.929.000,00. O predas margens que amortecerá o juízo total para São Pedro foi impacto sobre as construções e de R$ 13.628.600,00. Os estraajudará a infiltrar parte da água. gos foram decorrentes dos venÀ medida que a água encontrar tos de aproximadamente 80 essa barreira natural ela irá per- km/h, seguidos de chuva forte. dendo sua força e chegará com Duzentas e oitenta pessoas fimenos impacto nas residências. caram desabrigadas. Conforme o presidente da A agricultura também foi associação do Passo do Angico, prejudicada. De acordo com o Carlos Santos, havia um acor- secretário de Agricultura, Aldo tácito entre o balneário e os tamir Ávila Dias, nas lavouras órgãos ambiende arroz e fumo tais, para que se ocorreu o desprotegesse uma folhamento em As fortes chuvas faixa de trinta dos temtrouxeram prejuízo função metros do rio. porais, perda “Entretanto, há para a agricultura, de galpões por uma exigência excesso de umiestradas e atual do Ministédade e o atrario Público para so dos tratos população que se proíba culturais, com novas construum prejuízo ções, ou aumento de área das já de 50%. Nas culturas de soja, existentes, dentro da área de 50 hortigranjeiros e frutíferos o metros (APP)”, diz. Ele afirma prejuízo foi de 20% na produque o balneário está procuran- ção. Houve também um reflexo do se adequar a esta norma. negativo nas áreas de serviço e Também, conforme Carlos, comércio do município. diversas ações foram realiEm Toropi, estradas foram zada para preservar o meio danificadas e, conforme o preambiente, no balneário e arre- feito municipal Adair Braz, dores. Foram adquiridas áreas houve uma queda de 34 % na ribeirinhas para preservação produção de soja, arroz e fumo. da mata nativa, plantio nas Ele relata ainda que houve o áreas degradadas, distribui- alagamento de 12 residências e ção de mudas de árvores na- no dia 10 de dezembro de 2009 tivas para a população riberi- foi decretada situação de emernha, palestras e distribuição gência no município, tendo em de material informativo para vista os estragos causados. os veranistas e moradores da região. “O resultado deste traAndressa Scherer
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MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Rastros de destruição Ary Otávio Canabarro
No Balneário Passo do Julião veranistas tiveram prejuízos em suas residências Arquivo Prefeitura São Pedro do Sul
As últimas enchentes foram as maiores já registradas no Balneário Passo do Angico Ary Otávio Canabarro
A destruição das enchentes atingiu especialmente a natureza
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saneamento ambiental
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O Cadena pede socorro Pesquisas mostram índice de poluição
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om o que você se incomoda mais? Poluição nas ruas? Lixo espalhado pela calçada? Mau cheiro dos contêineres e esgoto a céu aberto? Imagine tudo isso em um único lugar. É o que pode ser observado em diversos pontos da cidade, onde passa o Arroio Cadena. Com uma extensão de aproximadamente 5 km, o Cadena é um dos arroios mais poluídos de Santa Maria. Um trabalho acadêmico orientado pelo professor da UFSM, Waterloo Pereira Filho, mestre em Sensoriamento Remoto e PhD em Geografia, comparou o nível de condutividade elétrica de três rios. Este nível é um indicador de poluição ambiental, pois o que transmite a eletricidade é a impureza da água. Quanto maior a condutividade, maior o nível de poluição. Foi medida a condutividade elétrica nos rios Ibicuí Mirim, Vacacaí Mirim e no Arroio Cadena. O Cadena foi o que apresentou o maior índice. Segundo o professor de Engenharia Química da UFSM, doutor em Gestão Ambiental, Djalma Dias da Silveira, o Cadena tem uma poluição elevada em toda a área urbana. Isso é observado principalmente na parte que passa embaixo da avenida Itaimbé e percorre o contorno do bairro Itararé. Este é o local que recebe a maior contribuição de esgoto. “A poluição mais grave e mais visível começou no final da década de 70, quando foi feita a avenida Itaimbé e o arroio foi canalizado”, explica o professor. Além da poluição visual, o lixo e o esgoto trazem uma série de problemas para a saúde.
FOTOS MAIARA BERSCH
O Cadena é um dos arroios mais poluídos de Santa Maria Waterloo Pereira Filho
A área próxima à ponte no final da avenida Borges de Medeiros é um dos locais onde o Cadena está mais poluído
O professor Djalma esclarece que as doenças causadas pela água contaminada vão desde hepatite A, parasitoses, além do odor emitido, que contém gases prejudiciais. “Esses locais são habitats de vetores de doenças, como os ratos, baratas e mosquitos”, acrescenta. Há três tipos de poluição que podem ser encontradas no Arroio Cadena, segundo o engenheiro ambiental Afrânio Righes: química, física e biológica. A química são os produtos e resíduos industriais; a física são os objetos, como sacolas, poltronas e pneus; e a biológica, mais grave, é o esgoto. Quem mais sofre com a po-
luição são as pessoas que moram nas margens do Cadena. É inevitável sentir o mau cheiro quando se passa pela ponte no final da avenida Borges de Medeiros. Leonardo Nunes Pires passa com frequência pelo local. “Quando cruzo aqui, tem um cheiro muito ruim. Já vi pessoas colocarem poltrona dentro do rio e largar sacolas de lixo”, conta. Para ele, uma solução seria punir quem joga lixo no arroio, como pagar multa ou ser obrigado a limpar o local. Algumas medidas para conscientização estão sendo tomadas pela Prefeitura Municipal. Segundo o secretário de Proteção Ambiental, Luiz
Alberto Carvalho Jr., um seminário de saneamento ambiental foi realizado para despertar a atenção do cidadão santa-mariense. “A ideia é buscar informações e sugestões da população com relação ao tema”, comenta. Para uma possível solução, será contratada uma empresa que apresente um plano de saneamento para Santa Maria. “Cada morador deveria regularizar sua situação com seu lixo e seu esgoto”, finaliza o secretário.
► H2S (gás sulfídrico) é um gás incolor, mais pesado que o ar, altamente tóxico, possui cheiro desagradável em baixas concentrações.
haja estagnação de água com quantidades variadas de matéria orgânica/nutrientes e em ambientes contaminados com bactérias, tanques com água parada por muitos dias.
Djalma Dias da Silveira
Alessandra Noal, Liciane Brun, Maiara Bersch e Verônica Barbosa
Gás sulfídrico
► Origina-se de várias fontes e muitas vezes é resultante de processos de biodegradação, como a decomposição de matéria orgânica.
Leonardo Pires, morador das proximidades do Cadena, reclama do lixo
A poluição é mais elevada na área urbana
► Pode estar presente em sistemas de esgoto, águas subterrâneas, locais onde
► Os efeitos da intoxicação são sérios, similares aos do monóxido de carbono, porém mais intensos. Ele paralisa o sistema nervoso que controla a respiração, incapacita os pulmões de funcionar, provocando asfixia.
Quem mais sofre com a poluição é quem mora perto das margens Afrânio Righes
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saneamento ambiental
Santa Maria pode ser sustentável em 40 anos Cidade precisa atender necessidades básicas da população
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Barrancas desprotegidas do arroio Cadena
Ainda segundo Peretti, Santa Maria possui mais da metade das casas com coleta e tratamento de esgoto. Esse diferencial se dá, também, pelo fato de 94% da população morar em perímetro urbano e quase 100% ter água tratada. “Garantir a água potável para todos é um grande passo para
a sustentabilidade”, diz Peretti. Porém, ainda existem casas em que esse tratamento não existe, nas quais a água é retirada de poços. Outro problema são as fossas sépticas, criadas para satisfazer as necessidades fisiológicas das pessoas, mas que podem se tornar um risco para a saúde, pois os resíduos vão para os lençóis freáticos, e a água consumida de poços vem diretamente deles e pode estar contaminada. Uma carta de intenções será a ferramenta para a construção do plano de saneamento ambiental de Santa Maria. Para o secretário Luiz Alberto Carvalho Junior, a elaboração de um Plano Nacional de Saneamento Básico é importante para o município porque tem um grande impacto na qualidade de vida da população, na educação e no meio ambiente. A população foi ouvida e agora espera um comprometimento do governo municipal.
Camilla Guterres, Gabriela Perufo e Maurício Araujo
CAMILLA GUTERRES
Falta de conscientização: um dos maiores problemas é a falta de lugares apropriados para o depósito de lixo
Heitor Peretti: representante do Ibama critica a falta de investimentos em sustentabilidade augusto coelho
aneamento ambiental é biental, Luiz Alberto Carvalho um assunto tratado em Junior, é preciso planejar: “O todo o mundo. Entre os plano é desenvolver o municíobjetivos de desenvolvimento pio, tanto a parte urbana como do milênio da ONU está a uni- a rural, atingindo todas as caversalização do saneamento. madas da população”. Ainda Em abril, Santa Maria teve a ressaltou que é necessário um oportunidade de discutir suas pacto pelo saneamento básiideias e projetar um futuro, co entre o poder público, emdurante o Seminário Munici- presas privadas, movimentos pal de Saneamento Ambiental. sociais, academia e sociedade Foram discutidas diversas me- civil. “É necessário o comprodidas de curto, médio e longo metimento da sociedade para prazo para tornar a cidade sustentabilidade. Processos de mais sustentásensibilização, vel nos próxicomunicação, mos 40 anos. mobilização, Universalização Na abertuinformação, do saneamento ra, o prefeito tudo para Cézar Schirmer construir uma é um dos falou da imporsociedade susobjetivos do tância de tortentável”. nar Santa MaPara uma milênio da ONU ria uma cidade cidade ser susecologicamententável não te correta. “Daqui a 40 anos, precisa somente de leis amquando tivermos uma cidade bientais. Ela precisa atender as sustentável, esse evento será necessidades básicas da popuum marco”. O prefeito usou lação. “Não é um processo que como exemplo a cidade de se faz de uma hora para outra”, Chattanooga, nos Estados Uni- de acordo com o representandos, que há 30 anos era consi- te do Ibama, Heitor Peretti. Ele derada uma das cidades mais diz que saneamento ambiental poluídas do mundo e hoje é necessita de três bases: unium exemplo de sustentabili- versalização de água potável, dade para outras cidades. recolhimento adequado dos O Plano de Saneamento resíduos sólidos e tratamendeve atender quatro eixos: to adequado para os resíduos abastecimento de água; es- líquidos, o esgoto. “Tudo que gotamento sanitário; manejo for feito pelo governante ou de resíduos sólidos e manejo pela população para contride águas pluviais. Segundo o buir com isso, é sustentabilisecretário de Proteção Am- dade”, explica.
FOTOS DANIEL BUENO
Luiz Alberto Carvalho Jr: “desenvolver o município, atingindo todas as camadas da população”
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poluição e saúde
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Por uma saúde melhor Caos no trânsito prejudica audição
O
planeta está se desen- poluição sonora são o stress, volvendo tecnologica- nervosismo, ansiedade, malmente cada vez mais. estar, cansaço, perda de auA partir da década de 80 do dição e queda dos níveis de século passado, surgiram os concentração. Para o médico, primeiros computadores. Na é fundamental que se evite de 1990, os celulares. E hoje, locais de muito barulho, escuvivemos no auge da era da tar aparelhos de música num informação. As cidades estão volume baixo, ficar longe de cada vez maiores, mais incha- caixas acústicas em shows e das. O crescimento populacio- usar protetor auricular em nal dos grandes centros é ex- ambientes de trabalho onde ponencial. Com ele, também o a poluição sonora seja forte. transporte: muito mais carros, Se a pessoa ficar exposta a almotos, ônibus e estações de tas cargas de ruídos por anos, metrô pelo Brasil. E aí vem a danos mais sérios aparecem: pergunta: com tanta poluição surdez sensorial, quando as sonora produzida nos gran- células sensoriais da cóclea, des conglomerados urbanos no interior do ouvido, ficam diariamente, a quais riscos o irreversivelmente lesadas. Aí ser humano está sujeito? Nem se começa a confundir os sons: precisamos ir vozes de uma tão longe, em mulher e de grandes cidauma criança fiConviver com des como São cam parecidas. o barulho Paulo e Rio Palavras com de Janeiro. No finais parecido trânsito trânsito de Sandos como: dia não é ta Maria fica fáe tia são imcil perceber os perceptíveis ao tarefa fácil perigos de buouvido lesado. zinas barulhenEm Santa tas, motos com o escapamento Maria, o trânsito aumenta a do cano de descarga aberto, cada ano. Com ele, a quantiruídos ensurdecedores a que o dade de veículos circulando cidadão está exposto. pelas ruas e emitindo, além Segundo a Organização de poluentes como o gás carMundial da Saúde (OMS), ruí- bônico, ruídos prejudiciais à dos de até 50 decibéis (unida- saúde. De acordo com a funde de medida do som) não são cionária de uma empresa de prejudiciais à saúde humana. telefonia da cidade, Vanessa Acima desse valor, muitos Rezer, moradora da rua Nieefeitos negativos aparecem, a derauer, a poluição sonora curto e a longo prazo. Para se causada por veículos e moter uma ideia, a buzina de um tocicletas atrapalha o sosseautomóvel produz 110 db (de- go de sua residência. Alguns cibéis) e uma noite na balada, motociclistas usam o escapaem ambiente fechado, emite mento aberto da moto e caucerca de 130 db. Segundo o sam, com isso, um barulho médico otorrinolaringologista ensurdecedor. Vanessa ainda Luiz Carlos Carpes, os primei- conta que a situação piora ros sintomas da exposição à quando os jovens se reúnem
DIEGO FONTANELLA
Poluição sonora: os ruídos de veículos intensificam-se nos horários de pico
nas proximidades para ouvir música, beber e conversar. O motorista da empresa Expresso Medianeira, Edmilson Preigchadt, conta que conviver com o barulho do trânsito
não é tarefa fácil. Funcionário da empresa há mais de 15 anos, Edmilson conta que nos horários de maior fluxo de veículos a situação se intensifica em razão da pressa e por
alguns condutores usarem a buzina do veículo.
Daiane Costa, Felipe de Barros e Jean Pierre Romero
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poluição e saúde
Aumento da frota e poluição Em 9 anos, cidade ganhou 30 mil novos veículos
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FOTOS MARCOS BORBA
ara quem anda pelas reduz as taxas de financia- quantidade de emissão de gases ruas de Santa Maria, mento, aos baixos juros, ao pa- poluentes no meio ambiente. fica cada vez mais per- gamento parcelado, que se dá Mas esta realidade está muceptível o grande número de em mais de 50 vezes e, princi- dando. A partir do Programa carros e motos que circulam palmente, ao IPI reduzido. Ro- de Controle da Poluição por pela cidade. Tal aumento apa- selaine afirma que os carros Motociclos e Veículos Similarece mais agravado nos horá- novos poluem res (Promot), rios de pico, estabelecidos das menos que os a produção de 11h30min da manhã às 14h e antigos, mas motos é obriCarros que das 17h30min às 19h. O engar- que vender só gada a seguir causam mais rafamento, que se estende por por vender não regras de conlongos trechos das principais paga o estrago trole de emisdano ao ruas da cidade, mostra que não que os automósão de CO2 ambiente devem somente os motoristas sofrem veis causam ao (monóxido de com esse aumento exagerado meio ambiente. sair de circulação carbono). Na de carros. Pedestres disputam Ela aposta em terceira fase espaço em meio ao caos que os táticas como as do programa, engarrafamentos causam para usadas em São Paulo, onde os a quantidade permitida de poder trocar de uma calçada carros que podem rodar du- emissão de poluentes passa a a outra. Mas quem mais sofre rante o dia são sorteados pelos ser da seguinte forma: com os luxos do ser humano é números de suas placas. Se um Monóxido de Carbono: a natureza - o ar, as plantas e veículo não sorteado for pego ► Passa de 5,5 g/km até nós mesmos. circulando pelas ruas estará para 2,0 g/km De acordo com o site do De- sujeito a ser multado. Outra Hidrocarbonetos partamento Estadual de Trân- solução dada pela consultora ► Motos menores que 150cc: sito (DETRAN), de 2001 até relaciona-se aos incentivos do 1,2 g/km para 0,8 g/km o final de 2009, Santa Maria governo, que deveria inspecio► Motos acima de 150cc: ganhou quase 30 mil veícu- nar os carros com mais de 20 1,0 g/km para 0,3 g/km los circulando anos e pagar O mecânico de motos Luiz pela cidade, uma remune- Aurélio Giacomini explica como um aumento Motos fabricadas ração para que as montadoras se adaptaram de 39%. Porém seu proprietá- às novas regras: “A maioria das antes de 2010 o maior crescirio o troque por motos novas estão vindo com mento acontepoluíam até sete um mais novo catalisador. Este equipamento ceu no número e menos po- reaproveita os gases resultanvezes mais que de motos, que luente, tirando tes do processo de combustão. passaram de de circulação Os gases são filtrados duas veum automóvel pouco mais de os carros que zes e isso gera menos poluen9 mil para 20,6 causam maior tes”. Giacomini aponta outra mil, o que significa 117% de dano ao meio ambiente. mudança: o uso da injeção eleaumento. Devido à maior protrônica nas motocicletas. “As cura, a cidade ganhou reven- As motos eram motos injetadas se auto regudas de novas marcas que não mais poluentes lam, usando a quantidade exapossuía, como Kia, Honda, NisAssim como os carros, as mo- ta de gasolina conforme a nesan e Citroën, tendo hoje um tos mais antigas também agre- cessidade”. O mecânico ainda total de 25 concessionárias diam mais o meio ambiente. ressalta o cuidado com a limde carros, motos, caminhões e Toda moto fabricada até o final peza e manutenção das motos máquinas agrícolas. de 2009 poluía até sete vezes que foram fabricadas antes Segundo a consultora de mais que um automóvel. A eco- da determinação do Promot. vendas Roselaine Fortes, tal nomia de combustível e agili- “Um carburador desregulado aumento das vendas se deve dade, grandes qualidades das faz com que a moto consuma aos incentivos do governo que motocicletas, não compensava a e polua muito mais”, completa Luiz Aurélio. A legislação que regula e autoriza o funcionamento de oficinas mecânicas também está adequada para não agredir o
meio ambiente. Todo o óleo queimado que é gerado como dejeto, deve ser armazenado em tonéis e, posteriormente, recolhido por transportadoras especializadas. Na oficina de Giacomini esta prática acontece faz tempo, mas o mecânico relembra que no passado eram poucos colegas que tinham a mesma iniciativa que ele. “Antigamente os mecânicos jogavam o óleo velho até no esgo-
to”, afirma Giacomini. Por mês, a oficina faz manutenção em aproximadamente 40 motos, gerando cerca de 300 litros de óleo queimados que são recolhidos em tonéis sem riscos de vazamento. Outra iniciativa em favor do meio ambiente é o armazenamento da água da chuva para uso da oficina.
Juliane de Freitas e Marcos Borba
A frota na cidade 2001 50.239
2009 64.358
Índice de Variação 28,1%
Motos e motonetas
9.477
20.626
117,6%
Caminhões
2.568
2.754
7,2%
Outros
11.589
15.267
31,7%
Total
73.873
103.005
39,4%
Automóveis
Giacomini mostra a requisiçao do recolhimento do óleo
Engarrafamento no centro da cidade demonstra o aumento da frota
Fonte: site do DETRAN
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poluição e saúde
Saúde e meio ambiente em perigo A poluição provoca diversos tipos de doenças
A
poluição nada mais é do que uma alteração do equilíbrio ecológico, na maioria das vezes, provocada pelo próprio homem. Isso se reflete na vida, na saúde e no dia-a-dia do ser humano. Há também destruições causadas pela natureza, como enchentes que ocasionam alterações na vida das pessoas e podem provocar doenças de pele, problemas respiratórios e infecções. Entre as poluições mais comuns está a dos solos, caracterizada pela agricultura moderna desenvolvida em zonas rurais. A acumulação de lixo urbano ou industrial também contribui para poluição. Essa é responsável pela proliferação de animais, como ratos, baratas, morcegos e micróbios que provocam problemas para a saúde humana. Segundo o infectologista Eduardo Mello Lutz, a poluição do solo pode provocar infecções alimentares e alergias causadas pelos pesticidas e fertilizantes. A poluição da água é agravada devido ao aumento de enchentes no mundo todo. As doenças mais comuns provocadas por esta poluição são: leptospirose, cólera e dengue. Segundo o infectologista Eduardo Lutz, todas essas doenças têm relação com a água, tanto parada, como contaminada por sujeira e animais. “Tivemos há pouco tempo uma proliferação do mosquito da dengue. Agora, mais do que nunca, a população tem que ter o cuidado redobrado, pois com as enchentes há uma concentração maior de água parada”, explica Lutz.
Ar cada vez mais contaminado
A poluição do ar ataca diretamente a saúde humana. Pulmões e pele são os órgãos mais prejudicados. Problemas de circulação e muitas alergias podem vir com a sujeira do ar. Neste contexto, o mais comum são as doenças respiratórias, afirma a pneumologista Simone Prates Estivalet. Na sujeira do ar existe uma
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Doenças provocadas pela poluição As principais doenças causadas pela poluição do ar e seus sintomas ► SINUSITE: dores na região dos olhos, cabeça e nariz. ► BRONQUITE E ASMA: Doenças pulmonares caracterizadas pela inflamação dos brônquios. Secreções nas vias respiratórias. ► PNEUMONIA: Trata-se de uma infecção aguda que pode atingir parcial ou inteiramente os pulmões e caso não seja bem tratada pode levar ao óbito. ► RINITE: É uma inflamação das mucosas do nariz, geralmente crônica, e quase sempre é causada por alergias. Ela ajuda a aumentar as ocorrências de sinusites e otites.
Doenças de pele causadas pela poluição da água e enchentes ► LEPTOSPIROSE: transmitida pela urina de ratos. Sintomas: febre, náuseas, diarréia, dores musculares e de cabeça. Atinge rins, fígado e baço e pode ser fatal. Prevenção: evitar contato com água e lama contaminadas e não consumir água ou alimentos que tiveram contato com enchente. Combater ratos e prevenir inundações também são eficazes. ► HEPATITES A e E: infecção hepática causada pelo vírus da hepatite. Transmissão: água e alimentos contaminados ou de uma pessoa para outra. Sintomas: febre, pele e olhos amarelados, náusea e vômitos, mal-estar, dores abdominais, falta de apetite, urina escura e fezes esbranquiçadas. Prevenção: saneamento básico, tratamento da água para consumo e ingestão de alimentos lavados ou cozidos.
Montagem em blog simula a advertência do Ministério da Saúde em cigarros para advertir sobre fumaça do escapamento de automóveis
série de substâncias químicas oxidantes que inflamam o tecido pulmonar, o nariz e a garganta. “Isso prejudica qualquer pessoa, mas principalmente os que já têm algum problema respiratório como asma e bronquite”, diz Simone. As doenças respiratórias vão desde uma simples irritação via aérea, até a gripe, conclui ela. Para a estudante Thassiani Porto, o acréscimo da poluição contribuiu para alterar e aumentar seu tratamento. “Sou asmática, e desde que descobri minha doença crônica faço tratamento regularmente. Mas com o aumento de poeira e fumaça, tive que aumentar as doses e a frequência dos meus medicamentos”, afirma Thassiani. Entre os principais poluentes do ar que danifica as vias respiratórias, está o fumo. Os fumantes contribuem de maneira significativa para danos nas vias respiratórias como boca, laringe e pulmão. Além disso, o fumo se caracteriza por ser um dos principais agentes causadores de doenças pulmonares. Segun-
do a pneumologista Simone, as principais doenças que podem ser citadas como exemplos são: asma, bronquite e enfisema pulmonar, bem como doenças cardiovasculares. Simone Estivalet acrescenta ainda que cada pessoa adulta inspira cerca de 10 mil litros de ar por dia. Contudo se a qualidade do ar não estiver boa, podem surgir irritações além de agravamento de problemas respiratórios para pessoas que sofrem desse mal. A má qualidade do ar caracteriza-se pela ação do monóxido de carbono (CO), substância que prejudica a oxigenação dos tecidos e pode piorar casos de doenças cardíacas.
Sol pode ser um grande vilão
Um dos efeitos da poluição é reduzir a camada de ozônio. Desta forma o sol acaba se tornando mais agressivo para a pele. “A pele mais clara tem pouca melanina e quando atingida pela radiação, sofre queimaduras. Isso porque ocorrem mudanças nas
► FEBRE TIFÓIDE: Transmissão: água e alimentos contaminados ou contato com pessoas doentes. A porta de entrada é o sistema digestório. Sintomas: febre, dor de cabeça, cansaço, sono agitado, náusea, vômito, sangramentos nasais, diarréia. Pode levar à morte. Prevenção: saneamento básico adequado, tratamento da água para consumo, não acumular lixo e manter as pessoas doentes em isolamento. ► CÓLERA: Transmissão: água e alimentos contaminados. Sintomas: diarréia. Prevenção: tratamento adequado de água e esgoto. ► DENGUE: Transmissão: picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. Sintomas: febre alta, dores musculares, nas articulações e de cabeça, manchas vermelhas no corpo, inchaço. Pode haver sangramento.
células, alterando os fatores de proteção e provocando o envelhecimento. A consequência pode ser um câncer, um tumor de pele”, afirma a dermatologista Ana Garcia. Os poluentes também prejudicam a pele. Os gases emitidos por indústrias e veículos, a poeira, até a fumaça do cigarro são tóxicos à pele. Assim, o couro cabeludo absorve essas toxinas. A pressão da poluição também estressa a pele. Segundo a aposentada Julieta Pienes, 73 anos, o câncer de
pele foi uma grande surpresa, independente das informações que existem a respeito dos raios ultravioleta. “Tenho a pele muito clara, sou italiana, costumava caminhar todas as manhãs. Isso resultou em um câncer de pele no nariz. Fiz o tratamento direitinho e hoje sim, procuro me cuidar e me proteger sempre com bloqueador solar”, diz Julieta.
Andressa Sarturi, Andressa Oliveira e Gabriela Fogliarini
poluição e saúde
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Um cigarro na mão e um problema na... natureza? Fumo, salve-se quem puder!
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uem disse que o cigarro polui apenas o pulmão do fumante? Não bastassem as doenças causadas, ele ainda é responsável por uma razoável parcela da poluição do meio ambiente. E não é só a fumaça, não! A própria cultura do tabaco contribui para a contaminação do solo. Claro que a fumaça é uma importante forma de disseminação dos malefícios do cigarro. Ela produz dez vezes mais partículas de poluição do que o escapamento de novos modelos de carros, por exemplo. Os fragmentos oriundos da combustão são recobertos por moléculas que podem causar câncer e ainda levar a bronquite e doenças cardíacas. Dentro de casa não é diferente. Pesquisadores mediram a quantidade de partículas emitidas durante uma hora por três cigarros dentro de um quarto. Mais tarde, compararam ao número de partículas emitidas no mesmo tempo e no mesmo ambiente por um automóvel com um motor moderno. O estudo foi feito na Itália, na cidade de Chiavenna. Como resultado, os cigarros emitiram fragmentos em concentrações até 10 vezes maiores que o motor do veículo. Segundo os autores do estudo, divulgado no periódico médico “Tobacco Control”, o resultado foi surpreendente. Os autores dizem que se deve ter cuidado com o fumo passivo, porque as partículas podem ficar suspensas no quarto por muito tempo. Há um ano, uma lei antifumo foi instituída para ambientes fechados no estado de São Paulo. Quatro meses após a implementação da lei, uma pesquisa inédita realizada pelo Instituto do Coração – Incor – do Hospital das Clínicas de São Paulo apontou que a lei
HENRISON DRESSLER
ajuda a proteger até a saúde de pessoas que fumam. Afinal, elas não estão mais expostas à fumaça do cigarro em ambientes fechados de uso coletivo.
Todos sabem, poucos ligam
Estudos comprovam que o cigarro provoca mais de 50 tipos de doenças. As mais graves são: câncer de pulmão, de esôfago e de laringe. Os danos cardíacos também são comuns em fumantes, pois o uso do tabaco causa alterações microvasculares que levam a infartos e enfisemas. O cigarro causa ainda alterações na circulação e leva ao envelhecimento precoce da pele devido à perda de elasticidade. Segundo o pneumologista Júlio Sarturi, já foi provado cientificamente que os fumantes passivos (aqueles que não fumam) têm tanta probabilidade de contrair doenças causadas pelo cigarro quanto os fumantes ativos. Filhos de pais fumantes têm seis vezes mais doenças respiratórias que os de pais não fumantes. “As gestantes que fumam durante a gravidez podem ter trabalho de parto prematuro e as crianças podem nascer com baixo peso, problemas respiratórios e cardíacos”, ressalta o médico. E não é que o cigarro possui outra forma de poluir o ambiente? Quem nunca se deparou, sobretudo em valetas ou em frente a bares, com as famosas bitucas (filtros) jogadas aos montes? A chance de entupimento de bueiros cresce consideravelmente com esse tipo de descarte, além do risco de, em áreas descampadas, causar incêndios.
Giulianno Olivar, Henrison Dressler e Larissa Sarturi
Bitucas e mais bitucas: elas também poluem
10ª edição Junho de 2010 Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra
Cinema verde Filmes também apostam em temáticas ambientais
D
emorou, mas a indústria cinematográfica começa a voltar os olhos para assuntos como efeito estufa, aquecimento global, poluição... Enfim, tudo o que diz respeito ao meio ambiente. Seja por meio de críticas diretas em documentários, ou por abordagem mais didática em longas, Hollywood e cia. têm se engajado para que tenhamos um ar res-
pirável, uma terra cultivável e uma água bebível (ou pelo menos tentam). E não são quaisquer nomes que utilizam a câmera para alertar sobre o perigo da não conservação do planeta: de políticos importantes a atores e diretores do primeiro time, o “elenco” segue crescendo...
Uma Verdade Inconveniente
O Dia Depois de Amanhã
Plastic Bag
O ex-vice-presidente norte-americano, Al Gore, nunca pareceu (aparentemente) uma pessoa ligada diretamente a questões ambientais. Talvez pelo fato de sua família ter plantado tabaco – uma cultura bastante agressiva à natureza e à saúde. Pois o mundo passou a conhecê-lo com o documentário Uma Verdade Inconveniente (An Inconvenient Truth, 2006). Dirigido por Dennis Guggenheim, o filme é um apanhado de cenas de palestras proferidas por Gore sobre os perigos reais do aquecimento global – a tal “verdade inconveniente” do título. Segundo ele, o planeta está enfraquecendo e a culpa, sim, também é nossa. Mudanças drásticas do clima, enchentes, furacões e derretimento das calotas polares estão entre os assuntos abordados. A obra ainda faturou dois Oscar: Melhor Documentário e Melhor Canção Original.
O sempre exagerado cineasta Roland Emmerich (de Independence Day e 2012) reforçou o coro dos ambientalistas com o igualmente exagerado O Dia Depois de Amanhã (The Day After Tomorrow, 2004). O longa mostra os efeitos do aquecimento global no hemisfério norte e narra a saga da ótica dos poucos sobreviventes que lutam para superar alagamentos, tornados e resfriamentos. Eficiente como filme-catástrofe, O Dia Depois de Amanhã ainda alerta – de maneira explícita e assustadora – para um possível futuro que nos aguarda.
Em 18 minutos, acompanhamos a vida de um saco plástico: sua trajetória rumo à demorada decomposição. Em tom cômico, mas com intenções nobres, o cineasta alemão Werner Herzog dubla o saco existencialista que reflete sobre os problemas que causa quando é mal descartado.
Wall•E
Conhecida por criar filmes de animação não menos que perfeitos (Toy Story, Ratatouille), a produtora Pixar fez, em 2008, sua mais ousada obra-prima: Wall*E. A trama gira em torno do personagem-título, um simpático robozinho cuja missão é compactar e empilhar todo o lixo estocado em uma Terra deserta devido ao alto grau de poluição. A crítica feita pelo diretor Andrew Stanton é de fácil assimilação, pontual e – não se engane – ingênua. O comodismo resultante dos avanços tecnológicos é outro aspecto bastante condenado no longa, vencedor do Oscar de Melhor Animação.
The Cove
O vencedor do último Oscar de Melhor Documentário alerta para a matança de golfinhos. Repleto de cenas fortes, o filme traz ainda dados impressionantes: só no Japão 23.000 golfinhos são mortos por ano e vendidos – cada um – a 150 mil dólares.
A Última Hora
Pegando carona no sucesso encabeçado por Al Gore, foi a vez de Leonardo DiCaprio defender a natureza. Em A Última Hora (The 11Th Hour, 2007), o astro de Titanic produz, escreve e narra o documentário dirigido pelas irmãs Nadia e Leila Conners. Pouco didático, se comparado a Uma Verdade Inconveniente, A Última Hora apoia-se mais em depoimentos e reflexões de especialistas – inclusive o célebre físico Stephen Hawking. De acordo com DiCaprio, um dos motivos para levantar a bandeira do meio ambiente foi o desmatamento da floresta amazônica.
Avatar
Estrondoso sucesso do diretor James Cameron, Avatar (2009) é mais um que levanta a bandeira contra o desmatamento e a exploração do solo. No longa, os habitantes do planeta Pandora sofrem com as investidas dos seres humanos que devastam suas lindas florestas (digitais, mas impressionantes) atrás de um raríssimo mineral. Durante o lançamento do DVD de Avatar, Cameron veio ao Brasil e disse que o país será “o líder de uma nova era” no que diz respeito a questões ambientais. Ele adiantou que tomadas aéreas da Amazônia serão incluídas em Avatar 2.
Home
Composto por imagens belíssimas gravadas em vários locais da Terra, o documentário Home é dirigido pelo jornalista e ambientalista francês Yann Arthus-Bertrand e coproduzido pelo cineasta Luc Besson. Foi lançado no Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho de 2009 e, pela primeira vez na história do cinema, um filme é disponibilizado gratuita e simultaneamente em várias mídias: cinema, televisão, Internet e DVD, para 54 países e em 14 idiomas. O filme está disponível em http://www.youtube.com/user/homeproject
Harrison Ford
Ele já salvou a Arca Perdida, o Santo Graal e até uma galáxia muito distante. Não bastasse ser considerado o maior heroi do cinema, Harrison Ford agora ataca de defensor do planeta. O eterno Indiana Jones é o “senhor-propaganda” da campanha Join The Conservation. Em um dos vídeos de conscientização, o ator depila o próprio peito e levanta a questão: se essa depilação dói no corpo, imagine o que o desmatamento faz com a natureza. Além disso, Ford é ativista de movimentos defensores de animais em extinção – uma espécie rara de borboleta recebeu o nome da filha dele, em reconhecimento ao seu empenho na causa.
Giuliano Olivar