Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/UNIFRA
15ª edição - Novembro de 2012
O mundo discute a Sustentabilidade
YURI WEBER
Promover a conservação da biodiversidade é uma das propostas previstas em uma das dimensões do desenvolvimento sustentável, a dimensão ecológica. Em Santa Maria, exemplos como o do Criadouro Conservacionista São Braz permitem o exercício permanente da educação ambiental e do compromisso em relação às gerações futuras. Páginas centrais
Aumenta a procura pelos ecoesportes na cidade RODRIGO DE BEM
O desenvolvimento sustentável precisa ser ambientalmente responsável, socialmente justo e economicamente viável. Praticar esportes junto à natureza e de forma não agressiva ao ambiente é uma das formas de exercitar estes preceitos.
Páginas 10 e 11
Produtos orgânicos ganham preferência do público DEIVID DUTRA
Sustentabilidade prevê inovar na busca de soluções e na distribuição dos resultados. A produção de alimentos orgânicos atende a estes requisitos, ao colocar nas prateleiras dos mercados produtos livres de agrotóxicos para o consumidor.
Páginas 4 e 5
O problema do lixo nas ruas em período eleitoral BRUNO MELLO
A dimensão espacial ou territorial da sustentabilidade prevê melhorias no ambiente urbano. Naépoca de eleições, no entanto, este item parece ser esquecido. A quantidade de lixo nas ruas é a prova dessa falta de atenção.
Página 13
Editorial Líderes de todo mundo reuniram-se no Brasil, em junho deste ano, na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. A sustentabilidade está na pauta das grandes discussões mundiais e se insere em várias dimensões. Uma delas é o meio ambiente, foco do JornalEco. Ser sustentável, hoje, diz respeito às mais variadas áreas da vida humana. E nossa equipe deste semestre resolveu observar, apurar e trazer para os leitores, algumas opiniões e alguns “cases” que remetem à reflexão sobre a sustentabilidade. Para iniciar este debate, destacamos aqui uma síntese do discurso do presidente do Uruguai, Jose (Pepe) Mujica, durante a Rio+20, e que reflete a preocupação constante desta publicação: “Deixem-me fazer algumas perguntas. Falamos sobre desenvolvimento sustentável, de como eliminar o imenso problema da pobreza. O que se passa em nossas cabeças? O modelo de desenvolvimento e consumo em que atualmente vivem as sociedades ricas? Faço esta pergunta: o que se passaria com este planeta se os indus tivessem a mesma proporção de carros por família que têm os alemães? Quanto oxigênio teríamos para poder respirar? O mundo tem hoje os elementos materiais para ser possível que 7 ou 8 bilhões de pessoas tenham o mesmo grau de consumo e de desperdício que têm as mais opulentas sociedades ocidentais? Será possível? Ou teremos que ter um dia outro tipo de discussão? Porque criamos esta civilização em que estamos: filha do mercado, filha da concorrência, que tem se deparado com um progresso material explosivo. Mas a economia de mercado tem criado a sociedade de mercado. E nos deparamos com a globalização. Estamos governando a globalização ou a globalização nos governa? É possível falar de solidariedade em uma economia que está baseada na concorrência impiedosa? Até onde chega nossa fraternidade? Nada disso lhes digo para negar a importância deste evento. Não, é pelo contrário. O desafio que teremos por diante é de uma magnitude de caráter colossal. E a grande crise não é ecológica, é política. Porque viemos a este planeta intentando ser felizes. Porque a vida é curta e se vai. Porque nenhum bem vale como a vida e isso é elementar. Porém, a vida vai se escapando e nós trabalhando, trabalhando, para consumir sempre mais. E a sociedade de consumo é o motor, porque se paralisa o consumo, se detém a economia, e se detém a economia, o fantasma da estagnação aparece para cada um de nós. Porém, é este hiperconsumo que está agredindo o planeta. E tem que se acelerar este hiperconsumo com coisas que durem pouco, porque tem que vender muito. Porque temos que trabalhar e temos que sustentar uma civilização que “usa e joga fora” e estamos num círculo vicioso. Estes são problemas de caráter político que nos estão dizendo da necessidade de pensar e lutar por outra cultura. O que não podemos é indefinidamente continuar governados pelo mercado e, sim, teremos que governar o mercado. Devemos perceber que a crise de água e a agressão ao meio ambiente não são as causas. A causa é o modelo de civilização que nós construímos. E nós é que teremos que revisar nossa forma de viver, porque estas coisas são elementares: o desenvolvimento não pode ir contra a felicidade. Tem que ser a favor da felicidade humana, do amor à Terra, das relações humanas, do cuidado aos filhos, de ter amigos, de ter somente o necessário. Precisamente, porque este é o tesouro mais importante que temos. Quando lutamos pelo meio ambiente, o primeiro elemento do meio ambiente se chama felicidade humana.”
Expediente JornalEco - 15ª edição Jornal experimental produzido na disciplina de Jornalismo Especializado I do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Franciscano Reitora: profª Irani Rupolo Coordenação do Curso de Jornalismo: prof. Maicon Kroth Profª orientadora/editora: Aurea Evelise Fonseca - Mtb 5048 Diagramação: Prof. Iuri Lammel, Francesco Ferrari, Gustavo Souza e Renato Peixe (Multijor - Laboratório de Jornalismo Multimídia) Revisão/finalização: Prof. Iuri Lammel - Mtb 12734 Reportagens e textos: Alexandre De Grandi, Camila Ehle Joras, Camila Porciuncula, Crístian Cunha, Daiane Tonato Spiazzi, Déverson Martelli Figueiredo, Fabiano Oliveira, João David de Quadros Martins, João Pedro Lamas Ferreira, Lucas Erani da Silva Gonzales, Luiza Dias de Oliveira, Mateus Konzen, Natalia Hernandez Apoitia, Nathalia Ruviaro Lautenschlager, Nayara Lunkes, Renan Brandão Maurmann, Rodrigo Marques de Bem e Yuri Baptistella Nascimento. Fotos: Yuri Weber, Guilherme Benaduce, Daniela Reske (Laboratório de Fotografia e Memória), Rodrigo de Bem, Daiane Spiazzi, Luiza Dias de Oliveira, Nayara Lunkes, Nathalia Ruviaro, (acadêmicos de Jorn. Especializado I) e Deivid Dutra. Impressão: Gráfica Gazeta do Sul Tiragem: 1000 exemplares – Distribuição gratuita Novembro 2012 Fale conosco: Redação JORNALECO Sala 716 , 7º andar do prédio 14 do Conj. III da Unifra Rua Silva Jardim, nº 1175 – Santa Maria – RS Fone: (55) 3025-9040 Você também pode acessar o JORNALECO na internet: www.centralsul.org
2
ENQUETE
Novembro de 2012
O que a população santa-mariense entende como sustentabilidade?
Eu acho que sustentabilidade é o norte para a humanidade, ou seja, a gente tem que pensar em tudo, em tecnologias que foram criadas, pensar no meio ambiente, pensar em reciclar os materiais e no aproveitamento das águas da chuva, criar projetos pensando no futuro, ou seja, manter o planeta como está hoje, já é um grande feito. Alexandre Grellerman - engenheiro civil
Sim, eu tive no colégio aulas sobre sustentabilidade e eu acho que este assunto está em alta, todo mundo tem falado bastante e em casa a gente faz a nossa parte ao separar o lixo, mas fica difícil separar, por que vai tudo para o mesmo lugar. Bruna Piás Peixe - estudante
Eu entendo por sustentabilidade preservar a natureza, cuidar do meio ambiente, reciclagem se for isso que der para entender, é o que eu acho. Tatiane da Rosa - dona de casa
O que é sustentável é separar o lixo seco do orgânico e largar na lixeira tudo separado, o que é papel é papel, o que é comida é comida, isso é sustentabilidade e eu faço tudo isso. Celso Vila Verde Barreto – aposentado
Sustentabilidade é um comércio, uma indústria, é a conservação do meio ambiente, preservação dos rios e em casa eu faço a minha parte. Tenho a minha horta, eu capino, eu separado gordura, cascas de frutas, coloco o lixo reciclável em um lugar, o lixo orgânico no outro. Adenir Malabalta Batagllin – fotógrafo
Eu acho que a sustentabilidade começa pela coleta seletiva que está sendo implantada em todo o Rio Grande do Sul, tem que haver mais divulgação porque muitas pessoas não sabem separar um lixo do outro, então tem que haver mais divulgação nos meios de comunicação para orientar mais as pessoas. Mari Rodrigues - dona de casa A sustentabilidade é uma preparação para o futuro, é a preocupação com o meio ambiente, e na minha casa eu separo o lixo, reaproveito os alimentos. João Coelho – aposentado
Sustentabilidade é toda aquela ação com que a pessoa, empresa ou país consiga viver com os próprios recursos que tem e as maneiras que se utiliza o meio ambiente e não o agrida. Elmir Canabarro - gerente do shopping Independência
Novembro de 2012
3
SUSTENTABILIDADE
Sustentabilidade para o futuro Educar e discutir é o primeiro passo para conscientizar sobre cuidados com meio ambiente
S
ustentabilidade é um termo usado para definir ações e atividades que visam abastecer as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações. Ou seja, ela está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico sem agredir o meio ambiente, usando os recursos naturais de forma inteligente para que eles se mantenham no futuro. Sem isso, a tendência é o esgotamento de recursos fundamentais como a água e o comprometimento do equilíbrio do meio ambiente e das futuras gerações. Seguindo estes parâmetros, a humanidade pode garantir o desenvolvimento sustentável. Governantes e líderes se reúnem para discutir ideias e soluções para que o meio ambiente não sofra com o desenvolvimento e o consumismo global. É o caso da RIO+20, que ocorreu neste ano com o objetivo de renovar e reafirmar a participação dos líderes mundiais com relação ao desenvolvimento sustentável no planeta. Foi uma segunda etapa da Cúpula da Terra (ECO-92) que ocorreu há 20 anos no Rio de Janeiro.
Para entender a Rio 92 e RIO+20
Na década de 90 ocorreu um dos grandes eventos em que se destacou a preocupação com o meio ambiente, principalmente devido às mudanças climáticas. Já na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, constataram-se avanços significativos, mas ainda existem muitos retrocessos dos países que continuam a poluir, como a China. O país é um dos mais poluentes do mundo, justamente por ter uma matriz energética baseada no carvão mineral. Porém, os resultados da Rio+20 não foram os esperados. Os impasses, principalmente entre interesses dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, acabaram frustrando expectativas para o desenvolvimento sustentável do planeta. O documento final apresenta várias intenções e joga para os próximos anos a definição de medidas práticas para garantir a proteção do meio ambiente. Muitos analistas disseram que a crise econômica mundial, principalmente
CRISTIAN CUNHA
humanidade dizendo que precisamos mudar o estilo de vida vai ocorrer um colapso no meio ambiente”, salienta.
Ações sustentáveis em Santa Maria
Ricardo Dalmolin critica o mau uso dos agrotóxicos nas lavouras DANIELA RESKE
nos Estados Unidos e Europa, produção. Uma delas é a agriprejudicou negociações e deci- cultura. O professor e chefe sões a serem tomadas. do departamento de Solos Entretanto, um dos assuntos da UFSM, Ricardo Dalmolin, discutidos na RIO+20 foi a eco- defende o cuidado com o uso nomia verde, que é um conjun- dos agrotóxicos nas lavouras, to de processos produtivos (in- de maneira que se desenvolva dustriais, comerciais, agrícolas uma agricultura que não agrie de serviços) que ao ser apli- da o meio ambiente. A agriculcado em um determinado local tura tem diferentes classifica(país, cidade, empresa, comuni- ções, partindo da que é feita dade, etc.), possa gerar nele um pelo pequeno agricultor, até a desenvolvimento sustentável comercial, na qual se utilizam nos aspectos ambiental e social. grandes máquinas e extenEla foi salientada por governan- sões de terra. A produção dos tes e líderes presentes na Cúpu- alimentos que a população la, em debate sobre desenvolvi- consome precisa de grandes mento econômico compatível áreas, onde se tem a utilização com igualdade social, erradica- de fertilizante nas lavouras. ção da pobreza Porém o proe redução dos fessor quesA sociedade impactos amtiona o mau bientais negauso dos insedeve assumir tivos. ticidas pelos responsabilidades agricultores. De acordo com especia“O problema é com o meio listas que atuo quanto é coambiente am nas áreas locado, a forde economia e ma e a maneira meio ambiente, como eles são a aplicação da economia verde utilizados”, salienta Dalmolin. aumentaria a geração de emO reaproveitamento de água pregos e o progresso econômi- também é considerado um dos co. Ao mesmo tempo, combate- temas mais importantes e um ria as causas do aquecimento dos mais discutidos, até mesglobal (emissões de CO2), do mo nos países que possuem consumo irracional de água po- esse recurso em abundância. tável e dos fatores que geram a Várias medidas de redução do deterioração dos ecossistemas. uso de água estão sendo criadas, além de outras que recoMeio ambiente em alerta lhem águas de esgotos e águas A falta de preocupação com poluídas para tratamento. o ambiente e a busca por luOutro fator que contribui cros atinge todas as áreas de para a poluição do meio am-
Ail Ortiz explica o que foi a Jima
biente é o lixo produzido pelo ser humano, especialmente nas grandes cidades. Os resíduos contaminam o solo e a água por meio do seu processo de decomposição e pela deposição de produtos químicos originados de pilhas, baterias e outros componentes, que podem levar anos para se decompor. A coleta seletiva e a destinação adequada do lixo podem facilitar a reciclagem. A adoção de fontes de energias sustentáveis é uma alternativa para as energias gastas em grande escala, que são baseadas na queima de combustíveis fósseis e gases que poluem o ar. Para o professor Dalmolin, se continuar do jeito que a população está consumindo e agredindo o ambiente, vai chegar um momento em que os recursos naturais não serão mais capazes de suprir as nossas necessidades. “Se não houver um choque muito grande na
O Centro Universitário Franciscano (Unifra) promove a Jornada Integrada do Meio Ambiente (Jima), que este ano teve como tema principal a sustentabilidade, na intenção de encadear pensamentos e discussões dos temas abordados na RIO+20. A Jima, além de se preocupar com as decisões que seriam tomadas na RIO+20, discutiu a importância de ações integradas de diversas instituições sociais voltadas para a produção do conhecimento e de soluções para os problemas ligados ao meio ambiente. Com isso, a jornada formulou a “Carta Santa Maria”, que foi entregue à Câmara de Vereadores e à Prefeitura. A carta tem a intenção de expressar o pensamento e a voz da comunidade franciscana em torno da preocupação com a cidade, para a busca da qualidade de vida urbana. O documento contou com a contribuição de docentes e acadêmicos da Unifra. Para a professora de Geografia, Ail Meireles, a preservação do meio ambiente gera a possibilidade de uma qualidade de vida social na tentativa de construir processos educativos que envolvam as pessoas e possibilitem a elas a adoção de pequenas atitudes como contribuição pró-ativa. De acordo com a professora, “a sustentabilidade é uma preocupação de todos e exige uma partilha, então muitos devem contribuir para que se instaure um espaço, que nós possamos dizer que seja sustentável”, afirma. Sendo assim, a sociedade pode colaborar, de forma pessoal e coletiva, para que possamos ter uma cidade melhor, através da ação de cada um. Mas a preocupação com o meio ambiente e a redução de emissão de gases não deve ser um dever somente de ONGs ou de instituições de ensino e sim, de todos. A sociedade deve assumir responsabilidades com o meio ambiente, adotando hábitos que sejam sustentáveis no dia a dia.
Cristian Cunha Mateus Konzen
4
ALIMENTOS ORGÂNICOS
Novembro de 2012
Comer bem não é tão simples Como a cidade consome a produção de orgânicos
C
om uma população que cresce de forma assustadora, um dos grandes desafios para a indústria alimentícia é produzir comida para sete bilhões de pessoas no mundo. Para isso, o uso de artifícios em hortas e lavouras, como produtos químicos - pesticidas, adubos industrializados - e outros meios não naturais, cresce significativamente. Na contramão dessa demanda, um grupo de consumidores busca alimentos que não façam uso de produtos químicos, os chamados orgânicos ou agroecológicos. Em Santa Maria, a oferta e a procura por este tipo de alimento também cresce. Já é possível encontrar certa variedade de orgânicos em mercados e lojas de conveniências, que vão desde sucos e iogurtes, até arroz, massas e carne.
Prateleiras mais saudáveis
Segundo o responsável pelo setor de compras da Rede Super de supermercados, Gilmar Schirmer, a busca por produtos ecológicos cresce em todas as lojas da rede. De acordo com ele, o consumo deste tipo de alimento era muito pequeno no início das atividades da Rede Super. Hoje, a procura é muito maior. “O cliente está preocupado com o que ele está comendo. Notamos que é uma tendência o consumo de alimentos produzidos de forma mais ecológica, de forma sustentável”, constata. Porém, para os comerciantes, ainda é difícil conseguir fornecedores que os abasteçam, regularmente. Para o comprador de uma das maiores redes de mercados do interior do RS, a constatação é de que se a produção na cidade fosse maior, a rede compraria mais. As exigências para que um alimento seja considerado orgânico são grandes: isolamento da área, a não utilização de componentes químicos, atenção aos mananciais de água, sementes, adubos, enfim, inclusive certificação. “Não é fácil fazer render uma plantação deste nível, por isso, são poucos os produtores que ingressam neste segmento e que oferecem este tipo de produto em escala suficiente para abaste-
FOTOS: DEIVID DUTRA
Horta orgânica em Santa Maria - este tipo de produção requer maior trabalho e atenção
cer uma rede de mercados”, explica Schirmer.
Quais hortas não acrescentam pesticida?
Apesar de uma procura crescente, a falta de produção de alimentos orgânicos e, por consequência, da sua oferta nos mercados, limita o consumo por parte da população da região que tem interesse em comprá-lo. Para alguns especialistas na área, o incentivo do poder público para produção ecoló-
gica em Santa Maria estimularia os produtores. A oferta seria maior nos mercados e o consumidor teria maior diversidade de itens para escolher. De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater, Soel Antônio Claro, não há iniciativas suficientes, públicas ou privadas, que ofereçam o conhecimento correto e necessário para os produtores ou simpatizantes desta cultura. “A produção diferenciada é difícil. Muitos dizem que sua produção é orgânica e, na verdade,
não é. O conhecimento ainda é muito incipiente.” O executivo municipal promete apoiar a produção orgânica. Segundo o secretário adjunto da Secretaria de Município de Desenvolvimento Rural de Santa Maria, Antoniangel Zanini, a criação de um programa de estímulo à produção orgânica e ecológica na cidade está em estudo. Zanini acredita nesse tipo de produção como uma forma para o produtor agregar renda à sua propriedade. “A ideia inicial foi aumentar a pro-
A importância do selo certificando o alimento orgânico é fundamental para sua credibilidade
dução de hortifrutigranjeiros em geral na cidade, organizar uma produção em escala para o ano todo. Agora estamos em fase de elaboração de um programa para incentivar a produção orgânica não só de hortifrutigranjeiros, mas, de carne, leite e frango orgânico, o PRO-orgânico”, explica.
E a população, como se alimenta?
Todavia, conhecer os benefícios dessa cultura alimentícia não se restringe ao fato de
Novembro de 2012
ALIMENTOS ORGÂNICOS
consumir diariamente, mas consciência dos benefícios sim, difundi-la para outras pes- desta alimentação, não faz soas. A artista plástica Cleude- uso delas em sua dieta. Para te Fontoura reclama do valor ele o consumo de orgânicos, mais caro. Entretanto, não abre raras vezes, é difundido por mão de consumir e difundir o serem muito caros. “Acredito hábito entre seus conhecidos. que atendem somente uma “São mais caros, mas são mais fatia da população, o que ainverdinhos, o gosto também é da é prejudicial”, comenta. A agricultura ordiferente. Ingânica é deficlusive o bróconida por lei e lis, que é o que Muitos dizem regulamentada eu mais conque sua pelo governo. sumo. Sempre Ao ser questioque faço merprodução é nado sobre o cado comento orgânica e, na selo de certificom meus amicação ele aposgos a imporverdade, não é. ta na qualidade tância desse do processo. consumo”. Infelizmente, ela sabe que exis- “Ele garante a procedência e tem alimentos rotulados como aquisição de um produto sauorgânicos sem ser. “Pesquisei dável, mas como nem tudo é sobre, mas como eu vou saber perfeito, não há rigor na fiscase são ou não? Arrisco na espe- lização, muitas vezes, há aturança de comer, sempre, de ma- ação de produtores que agem de má fé”, conclui. neira mais saudável”, analisa. Ainda assim, para o engeAlexandre De Grandi nheiro agrônomo Heber RoNatalia Apoitia drigues, apesar de possuir
Exemplo da eficiência da produção de uma alface orgânica que excede o comun em tamanho e qualidade
Alimentos orgânicos O que são? Os alimentos orgânicos são aqueles que utilizam, em todos seus processos de produção, técnicas que respeitam o meio ambiente e visam à qualidade do alimento. Desta forma, não são usados agrotóxicos nem qualquer outro tipo de produto que possa vir a causar algum dano à saúde dos consumidores.
Agricultura orgânica: frutas, legumes e verduras Na agricultura, por exemplo, utiliza-se apenas sistemas naturais para combater pragas e fertilizar o solo. Embora apresentem praticamente as mesmas propriedades nutricionais dos alimentos inorgânicos, os orgânicos apresentam a vantagem de seres mais saudáveis, pois não possuem agrotóxicos. Também são mais saborosos.
5
Tomates ecológicos produzidos no bairro Camobi sem uso de produtos quimicos
Carne orgânica e ovos orgânicos No tocante à produção de carnes e ovos, os animais são criados sem a aplicação de antibióticos, hormônios e anabolizantes. Pesquisas demonstram que estes produtos podem provocar doenças nos seres humanos, quando consumidos por muito tempo. Logo, as carnes e ovos orgânicos são muito mais saudáveis.
Benefícios e vantagens: ► Os alimentos são mais saudáveis, pois são livres de agrotóxicos, hormônios e outros produtos químicos; ► São mais saborosos; ► Sua produção respeita o meio ambiente, evitando a contaminação de solo, água e vegetação; ► A produção usa sistemas de responsabilidade social, principalmente na valorização da mão-de-obra.
Desvantagem: ► A única desvantagem é que são mais caros do que os convencionais, pois são produzidos em menor escala e os custos de produção também são maiores. O agrônomo Soel Claro defende a implantação de práticas mais embasadas no cultivo de orgânicos
6
NOVAS SOLUÇÕES
Novembro de 2012
Tecnologia que promete menos poluição dos carros Combinação entre motor a combustão e elétrico pode diminuir o efeito estufa
E
xistem mais de sete bi- tes, componentes novos para lhões de pessoas no controlar, e isso quem retém mundo. Nas ruas, cerca são poucas empresas”. No modelo de carro elétrico, de um bilhão e meio de veículos circulam diariamente. E ainda não se encontrou uma conforme esses números vão forma de armazenar carga suaumentando, os problemas en- ficiente nas baterias para manvolvendo a atmosfera crescem ter o veículo na estrada por cada vez mais. Embora o avan- longas distâncias. É preciso um ço tecnológico contribua para tempo excessivo para recardiminuir a produção de po- ga e a instalação de “postos” luentes, não existe processo de que estejam preparados para combustão que evite a emissão abastecer esses veículos. A codo gás CO2 dos automóveis. mercialização do carro elétrico Esse gás é um dos responsáveis no mercado de carros particulares depende da solução de pelo efeito estufa. Conforme o professor de En- problemas como esse. Outro impasse dos carros genharia Ambiental da Unifra, Galileo Buriol, “o efeito estufa elétricos seria a produção de energia. Cada sempre existiu, lugar tem uma eles [os gases carga instalaestufa] estão Quantidade de da** fixa e as há mais de 30, CO2 aumentou concessioná40 anos na atrias baseiammosfera, só que com a queima -se nesses núa quantidade de combustíveis meros para de dióxido de produzir e recarbono (CO2) fósseis passar energia aumentou em elétrica. Com função da queima de combustíveis fósseis, - uma frota grande de carros elétricos, essa produção aumentapetróleo, carvão”. Além dos combustíveis al- ria de forma muito grande. “Dos ternativos, como gás natural e milhões de veículos, todos eles álcool, busca-se uma alterna- passam de pendurados no postiva ao motor de combustão. to, para pendurados em uma Uma das soluções pesquisadas tomada. Seria um impacto tão grande que criaria um probleé o veículo híbrido. De acordo com o profes- ma gigantesco para o sistema sor de Engenharia Elétrica elétrico. E aí eles precisariam da Universidade Federal de gerar mais. Na redução do imSanta Maria, Alexandre Cam- pacto ecológico dos veículos, pos, é necessário experimen- eles vão ter que aumentar na tar um motor a combustão e geração térmica. Quer dizer, tu um motor elétrico a bateria, estás empurrando o problema que pode ser recarregado em pra alguém”, afirma Campos. Das mais diversas opções, o uma tomada residencial, tudo no mesmo veículo. “No carro professor elege a sua favorita: híbrido se está tentando ex- “O melhor híbrido se chama plorar as melhores qualida- bicicleta. Esse depende apenas des dos dois. Por exemplo, o elétrico até bem pouco tempo não obtinha um desempenho em termos de torque*, aceleração”, explica o professor. É nesse momento que há a troca. Quando o carro necessita de mais potência, por exemplo em uma ultrapassagem, assume o motor de combustão. “O melhor híbrido se Sobre o veículo híbrido, o chama bicicleta”. professor Alexandre não se mostra muito confiante. SeAlexandre gundo ele, “as tecnologias mais Campos modernas preveem a utilização de matérias novas, recen-
FONTE DIVULGAÇÃO FORD
Motor do Ford Fusion Hybrid, modelo 2011 MATT HOWARD (2009)
Diagrama do motor elétrico
das pernas. Existem umas soluções muito interessantes, eu sou fã dessas. O que torna híbrido é a força da perna e elétrica juntas”. As bicicletas apresentam uma taxa zero de poluição, porém é necessário que haja uma adaptação das cidades para que possa comportar os ciclistas. Então, por que esses automóveis ainda não estão no mercado? O professor Alexandre explica: “Os dois [elétrico e híbrido] estão evoluindo. Mas têm problemas, e não criaram uma situação de viabilidade para se colocar realmente no mercado. Ainda não acharam a solução, e isso vai sair mais caro”.
Em Santa Maria
Procuramos seis concessionárias de marcas diferentes na cidade. A Ford costumava comercializar o Fusion Hybrid, no valor de R$ 133.900,00 mas o carro não é mais vendido aqui. Já a Toyota tem a possibilidade de venda do Prius, um modelo híbrido, mas não há data para o início da fabricação ou vendas, nem previsão de preço. As demais - Fiat, Honda, Hyundai e Nissan - não possuem modelos em Santa Maria, nem previsão de comercialização.
Luiza de Oliveira Yuri Nascimento
Termos técnicos Torque Capacidade de aceleração, quanto maior o torque mais rápido ele consegue evoluir a velocidade.
Carga instalada Soma das potências nominais dos equipamentos elétricos instalados na unidade consumidora, em condições de entrar em funcionamento, expressa em quilowatts (KW).
7
NOVAS SOLUÇÕES
Novembro de 2012
Borracha como alternativa na produção asfáltica Iniciativa diminui poluição e possui maior durabilidade
N
as cidades, garante a ências prejudiciais ao meio tranquilidade e nas ro- ambiente, se estuda, entre oudovias, fluidez. A pavi- tros métodos, a utilização de mentação é indispensável para a pneus. A borracha triturada circulação dos veículos que, por serve como composto para a sua vez, asseguram o transporte fabricação do pavimento. Essa mistura oferece maior durabiágil de produtos e pessoas. De acordo com o Departa- lidade, facilita a absorção da mento Nacional de Infraes- água, retira o pneu (material trutura de Transporte (Dnit), poluente) do meio ambiena extensão de pavimentação te. “Tem várias vantagens, no Brasil entre estradas fede- primeiro diminui o barulho, rais, estaduais e municipais é também é uma possibilidade cerca de 1 milhão e 712 mil de dar um fim a este material, km. Considerando a ampla porque hoje não temos onde extensão asfáltica, estão sen- depositá-los. Então se você adicionar à do estudadas mistura, uma novas formas das coisas que de minimizaTem tecnologia acontecem é a ção do impacto para asfalto diminuição do ambiental. barulho, asO asfalto durar mais sim você tem tradicional utitempo, porém maior conforlizado em todo to de sonorio Brasil é derivai custar mais dade”, explica vado do petróo professor leo. O professor do curso de Engenharia de Engenharia Ambiental do Civil da Universidade Federal Centro Universitário Francisde Santa Maria, Luciano Pi- cano (Unifra), Afrânio Almir voto Specht explica os danos Righes. Porém, o custo de produção desta produção: “entre uma camada e outra do cimento é superior ao asfalto tradicionós temos a chamada impri- nal. “A questão é custo benefímação, nela usa-se asfalto di- cio, hoje tem tecnologia para o luído, que é um asfalto mistu- asfalto durar por muito mais rado com gasolina, querosene tempo, porém, isso vai custar e óleo diesel. Isso é poluente, mais caro e gerar problemas no momento que você apli- de gestão pública”, ressalta ca, vira um volátil que cheira Luciano Specht. Apesar do alto custo de forte, depois de aplicado ele se estabiliza e não gera mais produção, no Rio Grande do Sul já estão sendo realizados contaminação”. Para diminuir as consequ- projetos de pavimentação NAYARA LUNKES
Modelo de pneu triturado e compactado usado na pavimentação.
YURI WEBER
O asfalto em bom estado garante durabilidade do veículo e maior segurança aos motoristas. GOOGLE MAPS
com a utilização de pneus em sua composição. Um dos projetos realizados pela Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (Unijuí) é a terceira faixa num trecho da BR 285, entre Ijuí e Coronel Barros. Para pavimentar os 200 metros foram usados e eliminados do meio ambiente cerca de 300 pneus. Outro trecho que possui esta alternativa é na BR 153, entre a BR 290 e a BR 392, totalizando 26 km. Na medida em que aumenta a durabilidade, a utilização da borracha também auxilia na conservação das vias. Sendo que aproximadamente 60% das cargas são transportadas por rodovias, há perda na qualidade, como marcas e desnivelamento das pistas. As vias urbanas também sofrem desgastes, que acabam por provocar danos nos veículos, como afirma o taxista de Santa Maria, Adriano Sutil: “A situação do asfalto está melhorando bastante, a gente vê, reformaram a Assis Brasil e arrumaram a avenida Liberdade, mas o interior da cidade possui ruas precárias, o que causa prejuízos nos pneus e na suspensão”. Com o intuito de diminuir
Mapa BR-153, entre BR-290 e BR-392
Saiba mais sobre reaproveitamento de pneus De acordo com um estudo realizado na Universidade Federal da Bahia estima-se que sejam descartados pelo menos 25 milhões de pneus por ano no Brasil. Destes, somente 20% são reutilizados em recauchutagens e pavimentação, entre outros.
os danos ambientais, estudos como a implementação da borracha no asfalto, tentam encontrar uma melhor forma de alcançar o custo benefício. “Para fazer uma estrada se gasta um volume de material gigantesco. A extração do ma-
terial, por exemplo, de uma pedreira não tem mais como recuperar, por isso nós tentamos minimizar os impactos”, declara Luciano Specht.
Camila Joras Nayara Lunkes
8
CONSERVACIONISMO
Novembro
Sensibilidade para ensinar, opo Criadouro São Braz contribui para a conscientização ambiental de crianças da região
O
asfalto se despede e dá lugar a uma pequena e esburacada estrada de chão batido. Na mesma frequência, o clima frenético da cidade abre espaço ao ar bucólico de um pequeno distrito de Santa Maria. Estamos na Boca do Monte, distrito de pouco mais de cinco mil habitantes. Nosso destino é o Criadouro Conservacionista São Braz. Mas a estrada não é o mais complicado: para falar com Santos de Jesus Braz da Silva é preciso ter muita paciência. A agenda do criador é realmente bem concorrida. Com a chegada da temporada de calor, cresce o desejo das escolas em visitar um dos lugares mais bonitos da região. Depois de algumas ligações, chegamos a uma data: em uma tarde chuvosa de setembro, enfim teríamos a oportunidade de conhecer mais da história desse lugar dos sonhos. Logo na chegada avistamos um lindo pavão. Sua beleza combinava uma equilibrada mistura de imponência e suavidade. A ave é uma das oito de sua espécie que habitam o criadouro, e recebeu nossa equipe de reportagem com toda a sua cordialidade e beleza. Desde o primeiro momento, foi possível sentir que a natureza estava mais próxima de nós, ali naquele local: o Criadouro São Braz. Sorridente, Braz, como prefere ser chamado, logo tratou de explicar todo o funcionamento e também a história do criadouro. Especialista e defensor da educação ambiental, Braz não teve pressa para falar sobre todos os animais que ali vivem, a forma como eles são tratados e conduzidos, e como começou o seu amor pela bicharada.
A beleza da arara é um dos coloridos do Criadouro
Foi a partir deste momento que o amor pela natureza e pelos animais nasceu dentro do coração de Braz. Desde então, a caça deixou de ser a atividade do jovem. A prática foi trocada pelo cuidado com os animais. Assim começa a história do criadouro, apenas com aves. Hoje, com 600 animais de 178 Do bodoque espécies difeao Criadourentes, o criaOs animais ro: um amor douro funciona que começou a todo o vapor. pertencem à às avessas Com uma rotina natureza, homem regrada, de dar O criador inveja a grandes nenhum pode relata que na empresas dos se dizer dono infância costumais diferentes mava caçar pássegmentos, o saros, influencriadouro e seu ciado por amigos e familiares, proprietário se orgulham do hábito considerado normal em forte envolvimento com a eduépocas passadas. Em uma de cação ambiental, proposta desuas caçadas, foi surpreendido fendida com “unhas e dentes” por uma pequena pomba. Sua por Braz. surpresa veio ao perceber que Sempre inflamado em suas ela não estava sozinha, mas sim colocações e com um brilho no com seus filhotes. A cena nunca olhar típico de quem é apaisairia de sua lembrança. xonado por tudo que faz, Braz
nos dá uma aula sobre a fauna brasileira. Diz que não é dono de nenhum dos animais que estão “hospedados” ali. “Os animais pertencem à natureza, homem nenhum pode se dizer dono de qualquer animal”, diz.
Principal parte do trabalho: educação ambiental
A tarde era de muito sol na Boca do Monte, e nós pudemos contemplar todas as cores e a beleza dos diversos animais que vivem no Criadouro. Desde o primeiro contato, sabíamos que a agenda de Braz era concorridíssima. Por isso, várias visitas foram feitas durante a apuração. Em nossa última visita, não estávamos a sós. Fomos testemunhas da maior proposta do Criadouro: a educação ambiental. Além da nossa equipe, Braz recebia naquela tarde, três escolas. As turmas, sempre acompanhadas por
Monumento da Liberdade é o local preferido de Braz
guias do próprio criadouro, que, além de mostrar os animais, revelam algumas curiosidades a respeito dos hábitos de cada um, acompanham atentamente a movimentação dos alunos.
Utilizando-se de uma linguagem lúdica, de fácil entendimento, inclusive fazendo referência a animais que são parte dos filmes conhecidos pela garotada, os funcionários do cria-
de
9
CONSERVACIONISMO
2012
ortunidade para aprender FOTOS: YURI WEBER
Para marcar uma visita
Conheça alguns animais do Criadouro A beleza e a diversidade de cores são itens sempre presentes no Criadouro São Braz. Cada animal contribui para que o trajeto percorrido pelos visitantes seja inesquecível.
Alunos de escolas da cidade fazem visitas agendadas ao criadouro
Escolas que desejam visitar o Criadouro, podem agendar um horário através dos seguintes contatos:
A onça pintada acompanha o movimento ao seu redor
O pavão é um dos recepcionistas do local
► Fones: 99 67 77 07/ 3026-8925 ► E-mail: contato@criadourosaobraz.com.br ► Twitter: www.twitter.com/saobraz_oficial ► Orkut: www.criadourosaobraz.com.br/orkut ► MSN: criadourosaobraz@hotmail.com
O canto do tucano é parte da trilha sonora do São Braz
Isadora acompanha o passeio feliz ao lado dos colegas
douro apresentam Blu, a Arara Azul protagonista do filme “Rio”, e o Porco do Mato Timão, do filme “O Rei Leão”. Com este tipo de interação, as crianças ficam mais atentas às informa-
ções que recebem sem perder um instante sequer o brilho no olhar. A pequena Isadora de Souza Ilha, seis anos, é uma das responsáveis pela visita dos colegas ao criadouro. Foi ela quem viu a reportagem no jornal e pediu para a professora levar toda turma, para que pudessem “ver os tigrinhos”. Muito falante, logo se percebe que a jovenzinha desde cedo já é uma das lideres da turma. Quando chamada para falar conosco, foi naturalmente seguida por outros dois colegas, que ouviam atentos os relatos da amiguinha: “Eu tenho animais em casa. O nome do meu cachorro é Koda, e ele gosta de se sujar.” Além de Koda ela também fala com carinho de
seu gato e do periquito, ambos criados com muito carinho por ela e sua família. A visita ao Criadouro faz parte de uma série de atividades que a escola de Isadora proporcionou para a garotada na semana da criança. Ana Paula Barbosa Colvero, professora de educação infantil da escola Santa Catarina, acompanhou a garotada durante o percurso. Ela cita que é muito importante inserir as crianças neste ambiente desde bem cedo, contribuindo para a conscientização e multiplicação da ideia de um mundo que respeita a fauna e flora.
Déverson Martelli e Fabiano Oliveira
Exibicionismo é uma das características dos pequenos macacos
Tranquilidade do jabuti é uma das atrações do passeio
10
ECOESPORTES
Novembro de 2012
Esportes de aventura atraem os santa-marienses Pelas características geográficas, cidade tem potencial para prática de ecoesportes
P
ara quem se interessa por aventura, esportes radicais, contato com a natureza, ou ainda, pela contemplação de paisagens naturais, Santa Maria pode ser o destino. A cidade é detentora do Portal Sul da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, sendo que ao norte seu território é constituído pelo Rebordo da Serra Geral. Em seu relevo apresenta morros, vales, cascatas e uma hidrografia composta pelos rios Vacacaí e Vacacaí Mirim, que lhe garante grande potencial para o desenvolvimento do ecoturismo e turismo de aventura. Os morros e matas que contornam o município de Santa Maria escondem muitos lugares que desafiam os visitantes, tanto por suas belezas exóticas, quanto por se tratar de locais ainda pouco explorados pelo homem, o que torna os passeios ainda mais atraentes.
Modalidades praticadas na região
A diversidade ambiental encontrada em Santa Maria e região possibilita aos aventureiros a prática de esportes de aventura ou ecoesportes. Confira algumas modalidades que podem ser realizadas na cidade e região: ► Canyoning - espécie de alpinismo em cachoeiras, envolve a exploração do ambiente dos canyons e dos rios em gargantas. ► Cascading - descida em cachoeiras utilizando equipamentos de alpinismo, também conhecido como rapel na cachoeira. ► Escalada - esporte que, como o montanhismo, objetiva atingir o topo das montanhas, sendo, porém mais radical, demanda técnicas e equipamentos especiais, além de esforço e concentração. ► Mountain bike - trilhas realizadas com bicicletas especiais, em descidas, subidas, em duplas, em grandes ou pequenas distâncias. ► Off-road - esporte praticado com veículos tração 4×4, como jeeps e pick-ups. Consiste em “rodar” por estradas ou trilhas de terra. ► Orientação - desporto
ARQUIVO PESSOAL – GILVAN BITENCOURT RIBEIRO
Gilvan e Givago começaram a praticar o esporte através do projeto social Canoagem na Escola
individual que percorre determinada distância em terreno variado e desconhecido, obrigando o atleta a passar por determinados postos de controle e descritos num mapa. ► Tirolesa - consiste em um cabo aéreo ancorado entre dois pontos, pelo qual o praticante se desloca através de roldanas conectadas por mosquetões a um arnês. ► Voo livre - o participante utiliza asa delta, paragliders ou parapente, voando principalmente sobre áreas naturais, saltando de rampas especiais. Conheça outras modalidades praticadas por aventureiros em Santa Maria e que colocaram a cidade no cenário nacional e internacional:
Balonismo: uma aventura nas alturas
Por quatro anos consecutivos Santa Maria sedia o Festival Internacional de Balonismo. Em 2012 o evento integrou a programação dos 154 anos de aniversário da cidade. Segundo o secretário de Juventude, Esporte, Lazer, Luiz Fernando Nunes, nesse esporte, em 2012 foram investidos 21,5 mil reais. O 4º Festival Internacional de Balonismo contou com 25 equipes, envolvendo uma média de 100 pessoas.
Canoagem
Gilvan Ribeiro e seu irmão Givago conquistaram muitas medalhas na canoagem, inclusive a de bronze no Pan-americano do México. Mesmo com o sucesso na modalidade, eles enfrentam falta de apoio e incentivo do poder público e patrocínios. Mas eles não desistem de um sonho, disputar uma olimpíada pelo Brasil. A prática do esporte começou como brincadeira e se tornou coisa séria para os irmãos Ribeiro. Desde 2001, foram centenas de competições. Givago começou um pouco antes e praticava o esporte sozinho. Gilvan era curioso e começou a acompanhar seu irmão. Os dois começaram por lazer, em uma equipe de Santa Maria. Em 2004 entraram para a Seleção Gaúcha e em 2005, para a Seleção Brasileira com ritmo intenso de treinamentos. Eles competem nas categorias individual, dupla e quarteto. Os treinamentos em Santa Maria ocorrem na barragem do DNOS. O centro de treinamento da Seleção Brasileira é em São Paulo, onde Gilvan morou apoiado pela Associação Cachoeira de Canoagem e Ecologia (ACCE) de Cachoeira do Sul. Após oito anos retornou a Santa Maria onde cursa Jornalismo na Unifra.
Sua preparação para as olimpíadas de 2016 começa em janeiro de 2013 quando iniciam os treinamentos. Gilvan conta que teve muitos aprendizados que o esporte lhe proporcionou. Um de seus sonhos era conhecer Porto Alegre e hoje conhece em torno de 15 países.
Trekking: desafios a cada passo
Outro esporte que ganha adeptos em Santa Maria é o trekking, chamado também de enduro a pé. Essa modalidade faz com que os participantes cheguem ao limite de seu corpo, pois ao contrário das trilhas contemplativas, exige um ritmo
RODRIGO DE BEM
mais acelerado. Pode ser realizada por pessoas de todas as faixas etárias, pois é possível escolher como praticá-la, seu percurso e ritmo, já que o esporte pode ser feito de forma individual ou em grupo. Segundo o instrutor Tiago Korb, do Clube Trekking Santa Maria, em trilhas mais contemplativas a maior procura é de mulheres e pessoas entre 18 e 35 anos. O Clube Trekking chega a realizar até 104 eventos por ano, em média dois por final de semana. No site do grupo é possível conferir todas as informações necessárias, desde os níveis, que variam de acordo com o preparo físico dos participantes e a distância percorrida, até orientações de que equipamento utilizar. As trilhas são realizadas na região de Santa Maria (em morros, cachoeiras e estradas) e podem ocorrer também em municípios da Quarta Colônia de Imigração Italiana. Segundo Tiago, é necessário respeitar os níveis de dificuldade, pois, como o esporte não possui nenhum nível regulamentar no Brasil, é importante que o participante saiba conhecer suas condições físicas e seus limites. E como esse esporte geralmente ocorre em áreas de risco é necessário concluir o percurso e ter cuidado para não ocorrer acidentes. Nesses casos o aventureiro pode esperar horas por resgate, já que no grupo não há socorristas ou profissionais da saúde. É normal sentir dor após uns 2 ou 3 dias. Mas como é um esporte que libera bastante endorfina por causa dos efeitos da natureza, o participante acaba sentindo prazer e querendo praticar mais vezes. E a prática prolongada pode garantir condicionamento físico e resistência. O clube realiza também eventos que incluem outras modalidades, entre elas: rapel, hiking, travessias, acampamentos, trilhas de mountain bike, canyoning e escaladas.
Ecoesportes causam impacto na natureza Trilha realizada pela equipe de rapel do professor Luciano Sarturi
Como todo esporte, trekking também pode provocar impactos ao meio ambien-
te, sobretudo quando não é praticado da maneira adequada. No caso da trilha, as pisadas causam impactos de erosão ou, ainda, por falta de conscientização, muitas pessoas pisam em plantas ou matam pequenos animais. Luciano Sarturi se preocupa: “estão levando até 70 pessoas em uma trilha, sendo que a quantidade adequada, no máximo, é de 10 a 15”. Ele salienta também a degradação causada pelas trilhas realizadas com motocicletas e jipes. “Muitas vezes andam, no mínimo, entre 20 ou 30 motoqueiros. Nas rodas, eles colocam umas taxas para poder passar em alguns lugares com mais dificuldades e isso, com certeza, acaba destruindo tudo”. Sarturi diz que é necessário que haja uma conscientização ambiental. As pessoas precisam saber respeitar a natureza, não sair deixando marcas em árvores com canivetes, não podem gritar com o mesmo tom da cidade, não podem pegar plantas, pois o que é da natureza não se retira dela e, em hipótese alguma, maltratar ou alimentar os animais, pois, alguns deles podem estar em extinção. Essas são as orientações éticas básicas que os professores e instrutores devem passar a seus alunos, reforça.
Rapel: adrenalina a cada descida
O rapel é um esporte praticado por amantes de aventura. Foi criado a partir do alpinismo e sua prática consiste em descidas verticais em paredões, pedras rochosas, montanhas, cachoeiras e vãos livres, com uso de equipamentos especializados como cordas, mosquetões e freio oito, que garantem a segurança. Muitas pessoas procuram por esse esporte porque ele proporciona emoção, adrenalina ou ainda desafia medos e limites. A decoradora Cristiane Ribeiro iniciou a prática do rapel porque tinha pânico de altura, que lhe impedia de chegar próximo a sacadas de prédios. Com a intenção de vencer a fobia, Cristiane procurou os instrutores Fernando e Evandro, do Clube Trekking. Em consequência, há três anos, Cristiane pratica várias modalidades de esportes radicais, como rapel, montanhismo, trekking. A aventura e adrenalina viraram vício em sua vida. Com o mesmo entusiasmo, o instrutor de rapel e escalada, Luciano Sarturi, diz que há vinte anos pratica esta modalidade e que a adrenalina e o contato com a natureza, funcionam como uma terapia, que recompensam o cansaço físico causado pelos esforços
11
ECOESPORTES
Novembro de 2012
realizados no esporte. Sarturi revela que antigamente o rapel era praticado com qualquer tipo de material, mas que colocava em risco a segurança dos participantes. Hoje, salienta o instrutor, um dos motivos que impedem que mais pessoas realizem o esporte é o valor necessário investir em equipamentos, que no Brasil é mais caro. Isso faz com que muitos improvisem materiais, sem a mesma resistência, o que pode causar acidentes graves. Sarturi aconselha aos que querem praticar rapel, que antes procurem fazer um curso básico, pois é um esporte de risco, em que a própria pessoa é responsável por sua segurança. Pensando nisso, foi criada em Santa Maria a Associação Santamariense de Escalada (ASE) para atrair mais gente e divulgar o esporte.
Aventureiros e o rapel em Itaara
No feriado de 20 de setembro um grupo de 16 aventureiros se reuniu em Itaara, em uma ponte férrea na propriedade Harmonia, para praticar rapel. Cuidando da segurança do grupo estava o instrutor Luciano Sarturi. O grupo era composto por pessoas com experiência no esporte e outras que nunca tinham praticado. Entre os participantes, estavam um socorrista, professoras, serralheiros, uma fisioterapeuta, estudantes, acadêmicos, um administrador, um empresário, entre outros, comprovando que a prática desse esporte, desde que realizada com segurança, pode ser feita por qualquer pessoa, independente do porte físico, da idade e da profissão.
O rapel, apesar de praticado por vários grupos em Santa Maria, não possui um local destinado a essa prática. Com isso, os aventureiros ainda correm certo risco em relação à segurança. Sarturi relata que já foi assaltado quando praticava rapel e agradece por não terem levado seus equipamentos, pois o prejuízo seria muito maior. Isso ocorre porque falta fiscalização e postos de seguranças nessas áreas, que apesar de estarem registradas no site da Prefeitura como pontos turísticos da cidade e patrimônios naturais de Santa Maria, não possuem ainda nenhum tipo de investimento em segurança por parte do poder público. Segundo o secretário de Esporte, Luiz Fernando Nunes, a estrutura de segurança nesses locais é falha e será preciso investir nisso. Outro problema que se verifica com a falta de estrutura e de locais destinados para esportes de aventura é o mau uso desses espaços. Os principais problemas verificados são: aberturas de trilhas irregulares, descuido com o lixo e grupos de trilheiros muito grandes, que podem ocasionar perturbações à fauna local e prejuízos ao meio ambiente, pela degradação e erosão causada pelo impacto com o solo. Desta forma, o lazer pode se transformar em prejuízos tanto para o praticante quanto para a natureza. E você, está preparado para fazer esportes junto à natureza? Esteja pronto e embarque nesta aventura!
Pratique rapel de forma segura Acompanhe, passo a passo, os procedimentos seguidos para manter a segurança dos participantes: ► 1º passo – Preparação dos equipamentos.
RODRIGO DE BEM
► 2º passo – É passada a linha da vida, corda instalada para a segurança dos participantes, que precisam passar próximos à beirada da ponte. RODRIGO DE BEM
► 3º passo – O instrutor Luciano Sarturi prepara os equipamentos para a descida.
RODRIGO DE BEM
RODRIGO DE BEM
Daiane Spiazzi
Colaborou: Camila Porciuncula
Grupos de Ecoesportes
Alguns grupos que praticam Ecoesportes em Santa Maria ► 4º passo – Luciano passa algumas instruções aos participantes.
EcoAdventure Cursos e Treinamentos: ► Twitter:www.twitter.com/ecoadventuresm ► E-mail: ecoadventure@yahoo.com.br ► Telefones: (55) 3222-5228 | (55) 9996-8205 Clube Trekking: ► E-mail: contato@clubetrekking.com.br ► Twitter: @clube_trekking ► Telefone: (55) 8407-1646 (Tiago)
► 5º Passo – Preparação para descida.
RODRIGO DE BEM
DAIANE SPIAZZI
Leões da Montanha: ► E-mails: Rodrigo Piuga - rodrigo@leoesdamontanha.esp.br César Piuga - cesar@leoesdamontanha.esp.br Radamés Xavier - radames@leoesdamontanha.esp.br ► Telefone: (55) 3222 6436 Bandeirantes da Serra: ► E-mail: contato@bandeirantesdaserra.org.br ► Telefones: (55) 9927 6162 (Guilherme) (55) 9927 6167 (Rafael) Luciano Sarturi: Instrutor de esportes de aventura: ► Facebook: http://www.facebook.com/luciano.sarturi ► Telefones: (55) 3026 6127 ou (55) 9180 3009.
► 6º Passo – É realizada a segurança na descida.
12
ECOTURISMO
Novembro de 2012
Santa Maria pode investir em ecoturismo Com projetos ambiciosos, Santa Maria poderá ter Parques de Preservação Integral
6717000
6717000
6716000
6716000
GARIBALDI LUIZ SCHIMITZ
HUMAITA (Travessa)
MIRAGUAI (Travessa)
ROD RIG UES ALV
MARC
ES
JOÃO CEC HIN
NO M
(das)
SEM
ELAS
MATIA S DE ALB
UQ UERQ
UE
OR
INO
(G e
ne ra
6715000
sa) (Prince ISABEL
D' EU
RAUL
SO VE
RAL
CON DE
EIDA
A EC OS
228000
NE AG
ORO )
VIS
C
O
Datum: Sirgas 2000 Escala: 1/15.000
N
D
E
D
E
FE
R
R
EIR
A
ASSIS
PIN
TO
BRAS
IL
229000
Localização da área destinada ao Parque São Vicente Pallotti
dade de Conservação. Segundo Peretti, esse deveria ter sido o primeiro passo. Peretti salienta, ainda, outras irregularidades que também se aplicam aos planos da Prefeitura. Entre eles está a incompreensão das necessidades e especificidades para a criação e manutenção de uma área de Proteção Integral. Segundo ele, para a constituição de um Parque, conforme o especificado no SNUC, é necessário que a área tenha grandes proporções. As suas áreas de amortecimento não podem ser consideradas como área urbana e, sim, rural. E isso não ocorre em nenhum dos casos propostos pela Prefeitura, visto que os dois pretensos parques possuem pequenas proporções e estão inseridos dentro do perímetro urbano da cidade. Outra contradição observada por Peretti diz respeito aos objetivos de ocupação dos parques. Conforme projeto
proposto e apresentado pela Prefeitura, em janeiro de 2012, o Parque do Morro contemplará: uma central para visitantes com sede administrativa, sanitários, vestiários, sala de vídeo, central de automação e monitoramento, hall para exposições e recepção para turistas, copa ou restaurante ecológico, observatório astronômico, sala
6714000
DEOD
OS (Tr avessa
IN TO N
ÃO RIM
TO IS
AG
CHAL
CARL
EV AR
(Dr.)
JO ÃO
CARL
AYER
A
REPUBLICA DO LIBANO
RA
LUIZ MA LLO
MARE JO ÃO
FO
NS
BORGES DO CANTO
l)
227000
R CAMA
GAU ER
EMBRO
GELSO N ALMEID A VISCO NDE DE URUGUAI
JOÃO LOBO D'AVILA
DE ALM
SETE DE SET
B
PEDRO GUES
FELIPE CAMARÃO
E
EL
SEM NOME
NEUM
OS LA UD
M
ER
ITZ
O
ANDO
CARL
NO M SE E M
OR
NABUCO DE ARAUJ
INGUES
NO
to r)
AM
DR
S VIE IRA
HA DOM
M
KR
el.)
ou S (D
VIT PE
ANDE
FERN ARY LAG RAN
SE
GA
TE
S (C
AN
IXA
R VA
ND
SE
SEM
FERN
SHO NS
SENADO
NO M
E
o)
MARIAZINHA DOMIN
ME
SEM
NO
gent
ERNESTO SCHLOSSER
GONCALVES DIAS
O
(Sar
CASEMIRO DE ABREU
OCTACILIO CHAVES
PEDRO
M ER
SA
JOÃO LOBO D'AVILA
o)
RO
BO
UL
R BA
AZ
IDIO
#
ITA
IO
MA CO
CIL
ELP
QU
O
ES
IO SILV
A
AM
DE SO UZA
CASTRO ALVES
I
NH
HA
E IR
RR
CU
I
OC
IV OL
end TI (Rever
CE
DA
AR
JOÃO JACINTO GAUER
UNGARET
BO
EO TT
AL
OD
ING ÁS
ADO LFO
RO
ES
ME
RG
RO
BO
AM
L
AD
BERT
RIE
LE
CH
ILE
IO
E PIC
B IR
IDA
RIO
RO
OTA
RIN
IA
HA
A OB
R
OC
A
NH
ISC
TÓ
AR
ÇA
IR
IROS C AN
R
VE NO
ED
E OP
MEDE
IXE
BE
LO
EU
M
M O
DA
R
DR
NIL
ES DE
BA
SA
AN
BO RG
ALTA
SÉ
RO
U PA
BI
ELO OT
TOM É
BROMÉLIAS
OM
S
ZUM
A ROND
VA SIL
ARES
TE
AS
MN
A SD
IO
LA PAZ
SE
DIA
PALM
OTELO ROSA
FR
JO
WEBER
É LI OM
VIO SIL
RIC
DOI S
U
BR
CH
E
TRES
PASSO DOS RON DA AL TA
MU C
BROMÉLIAS
RU
OM
RO
ES
MN
PE
O
ME
SE
APA
TR
ÁS
RO
CO
AS DAS PEDRAS BRANC AZZO DOMI NGO BERT
ARAÇ
CIN
QU AT R
VIO SIL
6715000
E
Localização da área desapropriada e destinada ao Parque do Morro
A
No entanto, conforme informa o representante do Escritório Regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Heitor Peretti, algumas das pretensões da Prefeitura não condizem com a prática correta para a criação de Unidades de Proteção Integral. Ele afirma que as ações do Poder Público são discutíveis e confusas. O representante do Ibama refere-se ao fato de a Prefeitura ter lançado uma licitação para a contratação de uma empresa que realizará o estabelecido no Termo de Referência, antes da emissão de um Decreto de criação da Uni-
229000
Parque dos Morros Área desapropriada: 156,00 ha
OS
Parques não atendem aos critérios do SNUC
228000
±
NT
De acordo com a Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), e estabelece critérios e normas
para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação, e com base no Termo de Referência que prevê a contratação de serviços técnicos especializados para a elaboração de Planos de Manejo e de levantamentos topográficos planialtimétricos cadastrais dos Parques São Vicente Pallotti e do Parque dos Morros, os dois parques correspondem a uma das categorias de unidades de conservação integrantes do SNUC: Unidades de Proteção Integral. Dentro do grupo de Unidades de Proteção Integral o projeto proposto pela Prefeitura de Santa Maria se insere na categoria de Parque Nacional. Entretanto, a visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade. Segundo o secretário Carvalho Junior, a criação desses Parques vem ao encontro da preservação e valorização dessas áreas. “Eu acredito que quanto mais as pessoas conheçam e acessem essas áreas, estarão muito mais sensibilizadas e ajudarão a conservá-las. Eu vejo a prática do ecoturismo muito mais do que simplesmente como uma prática econômica, eu vejo também como uma prática de educação ambiental não formal”, diz o secretário, que destaca a utilização do parque como uma prática sustentável.
SA
Criação de Unidades de Proteção Integra
227000
6714000
O
ecoturismo é uma das atividades econômicas que mais cresce no Brasil. Isto se deve ao fato de ser um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural. Incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação e valorização do ambiente. Santa Maria possui potencial para o ecoturismo em função da privilegiada diversidade geográfica e ambiental que comporta. Entretanto, a cidade ainda não investe em estruturas destinadas a esse ramo do turismo. Mas ao que tudo indica, essa realidade será mudada. Os santa-marienses foram surpreendidos, neste ano, pelo projeto “Programa Parques Municipais”, que visa criar espaços de preservação ambiental, lazer, recreação, contemplação da natureza, prática de esportes de aventura e promete potencializar o turismo local. Por meio desse programa, a Prefeitura está desenvolvendo três projetos: Parque São Vicente Pallotti, Parque do Jockey Clube e Parque do Morro. De acordo com o secretário de Proteção Ambiental, Luiz Alberto Carvalho Junior, a área destinada à criação do Parque do Morro foi “adquirida pela Prefeitura de Santa Maria para se tornar um Parque e, futuramente, uma Unidade de Conservação. Será a primeira Unidade de Conservação Integral aqui em Santa Maria”. O secretário diz que a estrutura do Parque será decidida através do Plano de Manejo. O Parque terá “algumas áreas destinadas mais ao uso direto, tais como lazer, prática de esportes. Outras áreas serão destinadas à conservação, à recuperação”, conforme for estabelecido no Plano de Manejo, salienta Carvalho.
PROVÁVEL ÁREA DO PARQUE DOS MORROS
de reuniões, além de uma estrutura para desenvolvimento de esportes de aventura. Conforme Peretti, toda essa infraestrutura é inadmissível numa Unidade de Conservação Integral. Nesse espaço não pode ocorrer nenhum tipo de movimento humano intenso, que possa colocar em risco a vida de animais ou plantas. A não ser que a Prefeitura destinasse uma parte à preservação e outra à exploração turística. Mas conforme o Termo de Referência esse não é o caso, já que 100% da área foi destinada à preservação integral. Quanto ao Parque São Vicente Pallotti, que possui pouco mais de 6 hectares, as irregularidades são mais acentuadas, pois a área de amortecimento do Parque pertence a proprietários particulares. E está prevista, para o futuro, a construção de um hospital nos arredores do parque. Na opinião de Heitor Peretti, “a Prefeitura está colocando dinheiro fora”. Na opinião do instrutor de rapel Luciano Sarturi, a criação de um Parque destinado à prática de esportes radicais seria muito bom para Santa Maria e para todos os que, assim como ele, amam o esporte. Entretanto, Sarturi salienta que para que isso aconteça, os órgãos competentes teriam que se comprometer de fato com a segurança e orientações aos visitantes pois, caso contrário, o local poderá se tornar um lugar perigoso, já que será aberto ao público.
Daiane Spiazzi
O que diz a lei n.º 9.985/2000
Unidades de Proteção Integral “O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza, sendo admitido
Parque Nacional
“O Parque Nacional tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização
apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos nesta Lei”. de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico”.
13
DESTINAÇÃO DO LIXO
Novembro de 2012
O lixo eleitoral e seus desdobramentos Durante o período eleitoral a cidade fica vulnerável à proliferação de santinhos
O
que fazer com o lixo? Essa é uma questão discutida no mundo inteiro, no nosso país não é diferente. Para isso o poder público cria diversos mecanismos e campanhas que visam educar a população para atentar a todos da importância da separação do lixo. Um exemplo dessa preocupação com a separação do lixo e sua reciclagem, é um projeto desenvolvido em parceria entre o MMA (Ministério do Meio Ambiente) e o MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome), que instalaram em diversas cidades do país lixeiras com dez cores pré-definidas, cada uma representando o tipo de lixo a ser colocado. Apesar do poder público criar essas iniciativas para conscientizarem a população, os políticos, candidatos a cargos eletivos tanto nessa quanto nas eleições passadas, poluíram a cidade como um todo graças aos seus santinhos jogados em frente aos pontos de votação.
Produção gráfica aumenta durante período eleitoral
BRUNO MELLO
Em todas as eleições a história se repete
campanha do PT (Partido dos No meio rural os agricul- Trabalhadores) cada candidato tores ficam a espera da safra, do seu partido usou em média que na maioria dos casos é de 20 mil folders, que apresenseis em seis meses, ou de ano tavam suas propostas, fora as em ano. Os donos de gráficas cédulas (material que consta o da cidade encaram o período número do candidato a vereaeleitoral da mesma forma, de dor e prefeito). Em contrapardois em dois anos tem traba- tida, o estudante de jornalismo lho redobrado, para suprirem e candidato a vereador Maa exigência dos candidatos. thias Rodrigues do PSOL (ParSegundo tido Socialismo Cristiano Altise Liberdade), símo, proprieafirma que “a Na campanha tário de uma produção de eleitoral são gráfica em Sanmateriais gráta Maria, sua ficos como sanutilizadas 8 produção chetinhos adesivos toneladas ga a aumentar e cartazes é feiem 300 por ta a partir da de papel cento durante necessidade o período eleide cada canditoral, normalmente em três dato a vereador e a prefeito meses ele usa em média 2,5 versus capital necessário para toneladas de papel, nos três esse fim”. meses de campanha eleitoral ele utilizou 8 toneladas de A escolha do material papel para suprir a demanda Para realizar uma campanha dos candidatos. eleitoral, muitos aspectos deDe acordo com Sidinei Car- vem ser pensados, um deles é doso Pereira, coordenador de a escolha do material a ser uti-
DIVULGAÇÃO PT
lizado para impressão de santinhos. O mais comum entre os candidatos é o papel couché 90 gramas, que é um tipo de papel especial para o uso na indústria gráfica. Por ter uma superfície muito lisa e uniforme é o melhor papel para impressão de qualidade. Além de ser um papel específico para impressão gráfica, quando comprado em grande quantidade ele se torna mais barato que os outros, inclusive o papel reciclável, que figura entre os mais caros. O maior problema encontrado na utilização do papel couché, é sua reciclagem, pois ele é composto de carbonato de cálcio, caulim, látex e outros aditivos, que combinados com a tinta dificultam seu processo de branqueamento. Isso faz com que sua reciclagem se torne cara e ele produza apenas papéis de baixa qualidade.
O que é feito com a sobra
Com o término do período eleitoral, é quase inevitável
DIVULGAÇÃO PSOL
Sidnei Cardoso
Mathias Rodrigues
sobra de matérias, para isso os candidatos devem dar um rumo nos santinhos. O que se vê nas ruas no dia do pleito, é que o caminho dado aos materiais pelos candidatos é joga-los em frente aos pontos de votação. De acordo com Alex Morgental “está é uma técnica antiga usada na política, que visa pulverizar o nome do candidato em torno dos principais pontos eleitorais.” Nesses casos apenas a candidatura de determinado candidato é pensada, e não no bem comum da
população que depois sofre com o acúmulo de lixo que além de causar poluição visual, pode causar alagamentos pela cidade. Para Mathias Rodrigues, devido a campanha do PSOL não contar com o financiamento de empresas, dificilmente existe sobra de materiais. “Nossos materiais não costumam sobrar, já que são pensados dentro de nossos limites financeiros”, afirma Rodrigues.
Augusto Guterres Bruno Mello
14
DESTINAÇÃO DO LIXO
Novembro de 2012
Por que as pessoas jogam lixo no chão? É isso que tentamos descobrir
M
aria estava em frente a uma loja matando tempo enquanto esperava uma amiga. Acendeu um cigarro, fumou, e logo a amiga apareceu ali perto. Apagou o cigarro e o largou enquanto corria para abraçá-la. Ali perto, João entrava em seu horário de almoço. Arredou a sua cadeira, se espreguiçou e tirou uma bala do bolso. Desembrulhou e jogou o papel ao lado. Após, se levantou e saiu. Seja em salas de aula, escritórios ou nas ruas, as situações acima se apresentam todos os dias. Já virou hábito: as pessoas “esquecem” de usar o lixo. Em locais menores, como é o caso de salas de aula e escritórios, onde existem pessoas que limpam, o problema é menos preocupante. Nas ruas a questão é crítica, pois o volume de lixo descartado é muito maior que o de profissionais dedicados ao serviço de limpeza. Nos dois casos, a causa é a mesma: ausência de educação. Educação ambiental. A consequência? Ambientes sujos, poluídos e que geram transtornos à população, como alagamentos e doenças.
NATHALIA RUVIARO
A desculpa não pode ser a falta de lixeiras, elas estão lá!
jogou algo no chão. Outro chamou a sua atenção, ele pegou o que havia jogado e o jogou no lixo dessa vez. Nesse caso, um colega auxilia o outro e os dois trabalham em prol de uma causa interessante, que é a do meio ambiente.
O cenário da Unifra
Nas salas de aula, os acadêmicos deixam folhas de caderno, papéis de bala e chiclete em cima e embaixo das classes. Claro, não só nas salas de aula, mas em corredores, pátios e cantinas. O Jornaleco questionou acadêmicos do Centro Universitário Franciscano sobre o hábito de jogar lixo no chão. Eram três perguntas: Considera errado? Já fez? E por quê? Logo no pátio encontramos duas acadêmicas com cigarros na mão. Isis Zanardi, 17 anos, e Tanise Garcia, 18, são acadêmicas de Filosofia e convictas em sua opinião: é errado jogar lixo fora da lixeira. No entanto, confessam já terem tido recaídas e jogado as bitucas fora do lixo. O motivo? Comodidade. “Por que eu vou sair daqui para jogar no lixo? É muito distante”, brinca Isis. Tanise concorda: “Comodidade e preguiça de ir até lá, caso a lixeira não esteja perto de ti”, relata. Do pátio fomos em direção à cantina. Abordamos três aca-
A situação nas ruas Camila, acadêmica de Fisioterapia
Dona Geni - trabalha há 26 anos na limpeza da Unifra
Secretário Luiz Alberto fala sobre as iniciativas da prefeitura
dêmicos de Fisioterapia que estavam conversando sentados em um banco. Lucas Bolzan, 20 anos, Nayara Casarin, 22 e Camila Amaro, 22, afirmam ser errado descartar o lixo de forma inapropriada. Apesar disso, todos já tiveram o mau hábito, mas hoje agem de maneira diferente: buscam a lixeira. Além da comodidade, que não se justifica, surge a hipótese da falta de consciência. Nayara acredita que as pessoas sempre jogarão lixo no chão. Em contraponto, Camila afirma que temos que nos conscientizar e que o certo é jogar lixo no lixo. Percebe-se que os jovens tendem a ter a mesma opinião: acreditam ser errado, mas já praticaram. A preguiça e a co-
modidade são os vilões. Qual seria a opinião dos mais velhos? Vilmar Rosa, 41 anos, é acadêmico de Direito e nos conta que, às vezes, acaba jogando lixo fora da lixeira por não haver uma de fácil acesso. “Algumas vezes joguei lixo fora da lixeira. Talvez por não haver uma por perto”, comenta.
colabora”, reclama. A consciência ambiental é um assunto recorrente, desenvolvido desde as séries iniciais, então se espera dos jovens uma atitude consciente. No entanto, Geni percebe que muitos daqueles que frequentam a Unifra sujam de propósito. “Pouco depois de realizar a limpeza, já está tudo sujo. Não é que não se queira limpar, mas podiam agir de maneira diferente”. Dona Geni é enfática: não adianta que os professores peçam para evitar a sujeira, ou que a administração tente alguma abordagem, a solução está em conscientizar. Ela acredita nisso porque já viu casos semelhantes a este: em um grupo de colegas, um deles
Sobre a limpeza
A Unifra possui lixeiras em todas as suas salas, corredores, cantina e também nos pátios. Dona Geni Rosa, que atua na limpeza do Conjunto III da instituição há 26 anos, relata que a medida foi uma exigência de alunos e professores, porém a maior parte não as utiliza. “Alguns colaboram, a maioria não
Parte de nossa enquete sobre o descarte incorreto do lixo foi elaborada nas ruas de Santa Maria. Entre os entrevistados, três adolescentes permitem concluir sobre a forte influência da campanha ecológica feita nas escolas. Ao escutar os jovens fazerem suas declarações, fomos remetidos ao nosso tempo de escola. Em plenos anos 90 já existiam campanhas persistentes de preocupação e cuidado com o meio ambiente. É gratificante ver adolescentes com uma consciência ambiental ativa e que conseguem pensar não só em si, mas em um todo. A estudante Jessica acredita que jogar lixo no chão é um hábito que se criou na sociedade, mas passível de mudança e, para ela, essa educação vem da escola e, principalmente, de casa. Já para Osvaldo, acadêmico de Fisioterapia, a preguiça de se locomover até uma lixei-
DESTINAÇÃO DO LIXO
Novembro de 2012
ra fez com que algumas vezes Unifra, entre outras entidades. descartasse resíduos no chão. Conta com um subprograma Hoje ele repensa o ato e acha intitulado Rede de Educadores que a visão dos amigos pode do Meio Ambiente (Remea) resinfluenciar para um comporta- ponsável por instrumentalizar mento inadequado como este. professores da rede municipal Por último, conversamos com através de palestras e cursos Felipe, 16 anos, estudante que para que dentro das disciplinas acha uma total falta de respeito tradicionais eles busquem sencom os cidadãos e com a socie- sibilizar os seus alunos. Temas dade jogar lixo no chão, e como como vandalismo, resíduos e ele mesmo diz: “Quem joga lixo desmatamento são abordados no chão não tem direito a re- diariamente. clamar do serviço público”. Ainda de acordo com o seAlém da voz dos jovens, es- cretário, a conscientização colhemos o depoimento de precisa acontecer desde o uma senhora de 58 anos que, primeiro momento, a populaem sua simpatia, declara atu- ção precisa entender que uma almente ter consciência do boca de lobo faz parte de todo problema de jogar lixo no chão, um percurso que desemboca mas dona Lúcia confessa que em rios, riachos, córregos e na adolescência, por preguiça que qualquer resíduo descare falta de conhecimento, come- tado ali contamina e entope os teu o ato. A diarista também locais e o escoamento, acarreafirma que hoje acha errado tando uma lavagem de água e descartar resíduos nas ruas, coliformes fecais nas ruas, conprincipalmente pelo fato de taminando a todos nós. existir uma campanha pela ciAtualmente, as escolas predade limpa e param seus a implantação alunos desde de mais de 300 as séries iniQuem joga lixo contêineres no ciais para o no chão não município. que podemos A era da chamar de uma tem direito a globalização vida mais ecoreclamar do trouxe prós e logicamente contras para correta o que já serviço público a sociedade, visa um cenámas, com cerrio muito mais teza, também uma educação positivo em relação às novas mais civilizada. Baseada em gerações e seus cuidados com exemplos reais para que haja o meio ambiente. Repensar as compreensão do aluno em se atitudes e preocupar-se com preocupar com um espaço que o futuro dos nossos descennão é só seu, como também é o dentes e do planeta devem se futuro de nossas gerações. tornar hábitos diários e são princípios de uma educação Esforços para uma ecológica.
cidade mais limpa
A consciência ambiental é algo recente para a sociedade. Nas últimas duas décadas a preocupação e o cuidado com o meio ambiente tomaram uma maior proporção e o descarte correto do lixo já é algo natural para as novas gerações. Mas o fato que tira o sono de muitas pessoas preocupadas com a limpeza e organização da cidade é que, mesmo com toda a campanha antipoluição, a quantidade de resíduos nas ruas ainda é grande. Segundo o secretário de Proteção Ambiental, Luiz Alberto Carvalho Jr, a educação ambiental é o fator mais importante para sanar o problema da poluição na cidade de Santa Maria e entre as ações de solução do Poder Executivo está o Programa Integrado de Educação Ambiental (Pronfea) que tem como objetivo canalizar todos os esforços no mesmo sentido no que diz respeito a ações de sensibilização da população. O programa é composto por ONGs e instituições como a UFSM,
“Não moro aqui”
Em reunião de pauta, foi sugerida uma abordagem diferente quanto à educação ambiental. Que tal descobrir se há algum desapego em relação à cidade por parte daqueles que vêm de fora para estudar? Algo como “não moro aqui, não me importo, então vou sujar”. Sendo assim, conversamos com o Felipe Dias, 19 anos, de Bagé, e que estuda Direito; e Wagner Rossignolo, 21, que veio de Rosário do Sul para estudar Física Médica. “Penso que não tem nada a ver essa situação. A gente vem para a cidade para estudar, então ficamos aqui por anos. É nossa cidade também e a cuidaremos”, declara Rossignolo. Felipe concorda: “Tenho a mesma opinião que o Wagner. Não existe motivo para ter esse desapego. Talvez, por mau hábito, a gente acabe sujando, mas não por sermos de outra cidade”.
João Pedro Lamas Nathalia Ruviaro
15
A ameaça dos resíduos sólidos Cidade carece de uma coleta responsável e organizada de pilhas e baterias GUILHERME BENADUCE
Existem postos de recolhimento em empresas da cidade.
S
anta Maria não tem mais Junior, o grande problema das uma empresa responsá- pilhas é o mercúrio, que é um vel pelo recolhimento de metal pesado. Quando a pilha pilhas e baterias usadas é descartada em local inadeMuitas vezes não levamos quado penetra no solo, onde a a sério o perigo que represen- população acaba consumindo tam esses objetos presentes a substância. “Quando o merem praticamente todas as resi- cúrio entra no organismo, ele dências. Pilhas ou baterias são não sai nunca mais, não sai usadas em aparelhos como rá- nas fezes nem na urina e nem dios portáteis, telefones celu- no suor, causando uma série lares, computadores, laptops, de enfermidades que não têm controles remotos e outros cura”, afirma o secretário. aparatos eletrônicos. Carvalho Junior ressalta Em Santa Maria, uma rede a importância da destinação de farmácias e uma de postos adequada, baseado na Política de gasolina Nacional de Refazem esse síduos Sólidos, tipo de reque trata da loUm dos colhimento gística reversa, principais de material. que vem a ser As farmácias a obrigação de problemas que Reni recoquem produz enfrentamos lhem também esse material medicamendar um destino hoje é o do lixo. tos vencidos, adequado. “Nosembalagens so problema é vazias, seringas, agulhas, pi- que a maioria dessas emprelhas e baterias usadas. “O cida- sas não cumpre a lei”. Lei que dão pode depositar nos coleto- existe desde agosto de 2010 e res ecológicos instalados nas levou 20 anos para ser aprovalojas. Os resíduos recolhidos da no Congresso Nacional. Pelo são encaminhados a uma em- fato de ser recente, traz um presa em Santa Cruz do Sul”, prazo de quatro anos para emconta a diretora das farmácias presas e poderes públicos se Reni, Lourdes Zanini. Os pos- adequarem às novas normas. tos de combustíveis Santa LúO professor de Direito e escia também recebem os mate- pecialista no assunto, Márcio riais descartados. de Souza Bernardes, fala da reSegundo o secretário de levância do assunto. “É uma lei Proteção Ambiental de Santa de fundamental importância. Maria, Luiz Alberto Carvalho O problema do lixo é um dos
principais que enfrentamos, tanto no país como no exterior, inclusive com problemas de exportação de lixo dos países ricos para países pobres”. E acrescenta um dos problemas que a lei enfrenta: “Vivemos numa sociedade capitalista determinada pelo consumo e isso é um grave problema e um sério entrave para avanços ambientais. Nisso, entendo que a lei peca em certa medida. Embora enfrente a situação do consumidor, parece não enfrentar o marketing desenfreado”. Em Santa Maria não existe uma empresa que recolha estes materiais de maneira adequada. A GR2 fazia este serviço, mas interrompeu-o em março deste ano, alegando que não tinha efetivo para a atividade. A Químea é outra empresa que recebe materiais eletrônicos, menos pilhas, baterias e lâmpadas. “Trabalhamos com resíduos eletrônicos, sim, porém não recebemos e também não coletamos este material”, afirma Alessander Pavanello. Ele ressalta que a empresa não possui licença para este tipo de operação. A cidade carece de uma coleta responsável e ainda depende da boa vontade e consciência do cidadão em levar os materiais em pontos específicos.
Renan Maurmann Lucas Gonzalez
Jornal Laboratório Especializado em Meio Ambiente - Jornalismo/Unifra
15ª edição - Novembro de 2012
Riscos e rabiscos em debate Conheça os estragos feitos pela pichação e o que a difere da grafitagem
E
las provocam revolta e indignação nas pessoas e são consideradas atos de vandalismo e crime ambiental. São encontradas em paredes, garagens, monumentos, lixeiras e orelhões. Estas manifestações urbanas com implicação ambiental chamam-se pichações. Podem servir como formas de expressão ou depredação sem motivo. Em Santa Maria, por onde se passa, elas são avistadas nos mais diversos lugares. Um espaço que sofreu esta ação foi o mural na parede dos fundos da Biblioteca Pública de Santa Maria. A obra retrata a avenida Rio Branco na década de 50. A pintura foi feita por Eduardo Kobra, do Rio de Janeiro. Mas no início do mês de setembro, o painel de 23 metros de comprimento foi pichado. Na opinião da diretora da Biblioteca Pública Municipal, Rosângela Rechia, a atitude destas pessoas seria uma maneira errada de se expressar. Ela afirma que a prefeitura instalará câmeras de vigilância no entorno do prédio, para coibir a ação dos vândalos. A Lei dos Crimes Ambientais (9.605/98), em seu artigo 65, dispõe que pichar grafitar ou, por outro meio, manchar ou sujar edificação ou monumento urbano é crime, tendo como pena prevista detenção de três meses a um ano, além de multa. Se o pichador for pego em flagrante, seja ele adolescente ou maior de idade, será conduzido à unidade policial mais próxima e autuado pela prática de crime de pichação.
Guarda e a preservação
Uma forma que a Prefeitura encontrou para combater os atos de pichação foi a atuação da Guarda Municipal. A corporação conta com 116 guardas, sendo que 45 atuam na proteção de patrimônios públicos, como praças, escolas e postos de saúde. A Guarda atua em parceria com a Brigada Militar e Polícia Civil. O diretor superintendente da Guarda Municipal, Luiz Oneide Martins, ao ser questionado como o grupo atua em
FOTOS:RODRIGO DE BEM
Pichação e grafitagem confrontam-se nas paredes de Santa Maria
relação às pichações, afirma que cada caso tem um critério, e completa: “Durante o dia atende de dois a três casos, tendo êxito na maioria deles e leva para cadeia os infratores”. Martins enfatiza que a maioria das pichações estão concentradas no centro da cidade. Em Santa Maria as medidas adotadas em relação aos menores infratores são as atividades socioeducativas. Neste caso, de forma pedagógica, os jovens participam de curso de capacitação em grafitagem e reparação de danos, que inclui grupos de reflexão, técnica do grafite e práticas em espaços públicos da cidade, como forma de transformar a desordem em arte. O programa é realizado pelo Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Santa Maria (Cededica/SM), com a parceria do Ministério Público, Poder Judiciário, Polícia Civil e Programa de Execução das Medidas Socioeducativas em Meio Aberto (Pensema). Uma das punições para o pichador é reparar o dano e este trabalho é supervisionado pela Promotoria Pública. Martins diz: “Os pichadores fazem grande estrago na cidade porque os moradores arrumam e pintam com grande sacrifício suas casas, e da noite para o dia, as paredes aparecem todas borradas. Estes ‘artistas’ deve-
riam colocar-se no lugar dos proprietários dos imóveis”. Para o secretário de Proteção Ambiental, Luiz Alberto Carvalho Júnior, um dos caminhos para combater as pichações e outras formas de poluição na cidade seria através da educação ambiental. Com isso foi criado o Programa Municipal de Formação em Educação Ambiental (Promfea). “É uma lei que foi criada com a finalidade de canalizar todos os esforços no que diz respeito a ações de sensibilizar a população em relação à educação ambiental”, explica o secretário. O programa conta com entidades como ONGs, UFSM, Unifra e é coordenado pela Prefeitura e pelas secretarias de Educação e Proteção Ambiental
A arte de grafitar
Mas há outro tipo de arte que pode ser visto na cidade.
Exemplo de arte nas lixeiras
E esta, sim, pode receber esse título. É a grafitagem. O grafite possui uma elaboração maior. Ele trabalha com inscrições ou desenhos feitos com técnicas próprias da arte e utiliza uma variedade de materiais para ser produzido, como sprays, giz, latas de tinta e estêncil. As suas obras abordam questões sociais e políticas. Esta manifestação artística surgiu nas ruas de Nova York, onde possui uma forte ligação com o hip-hop. Migrou para a Europa na década de 60, usada como uma ferramenta por aqueles que não concordavam com as normas tradicionais da sociedade. Chegou ao Brasil nos anos 70, utilizada como uma arma contra o regime militar. Em Santa Maria, demonstrações dessa arte podem ser encontradas em contêineres
de lixo no calçadão, nos muros do colégio Olavo Bilac e em tapumes de uma construção ao lado da Corsan, por exemplo. O letrista e grafiteiro Érico Nunes do Carmo, que trabalha com aerografia há 22 anos, considera o grafite como uma expressão artística. Para ele a profissão sofreu uma grande transformação de como era vista. “Antigamente era algo marginalizado, não éramos grafiteiros, éramos pichadores. Hoje em dia, as pessoas dão mais valor à arte, e à evolução dos grafiteiros”, conta o artista. Foi Érico que pintou o tapume ao lado da Corsan. A pintura é uma homenagem à cidade e nela está ilustrada a locomotiva da avenida Presidente Vargas, o planetário da UFSM e o Santuário de Nossa Senhora Medianeira. Existe um programa de incentivo ao grafite que a Secretaria de Cultura criou para que os grafiteiros tenham onde expor a sua arte. Exemplo disso é a Gare da Viação Férrea. Para quem vai grafitar ou pichar, lembre-se: é necessário ter conhecimento das leis ambientais do município, pois estas manifestações podem dar prejuízos muito maiores do que apenas sujar as mãos de tinta.
João David Martins Rodrigo Marques de Bem