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DA TERRA

ISSN 1646-5660

Boletim do Centro de Arqueologia de Avis


caderno de campo

jovens em movimento 2011 novas actividades

Carta Arqueológica de Avis | Trabalhos de prospecção e registo de sítios arqueológicos

O Centro de Arqueologia de Avis acolheu, este Verão, os participantes que seleccionaram a Arqueologia como área preferencial para ocupação dos seus tempos livres. Ao contrário do que tem vindo a ser habitual, este ano as actividades desenvolvidas privilegiaram o trabalho de gabinete e laboratório em detrimento da intervenção em campo. O grupo, constituído, por sete elementos com idades compreendidas entre os 16 e os 23 anos, teve oportunidade de efectuar o tratamento e acondicionamento de materiais arqueológicos, participar na reestruturação das reservas do Centro de Arqueologia, proceder ao tratamento informático de dados e actualização de inventários, efectuar a análise de cerâmicas e utensílios líticos em pedra polida e conhecer as noções base do desenho e fotografia de materiais arqueológicos. De forma a integrar alguns dos elementos desta equipa

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sazonal que, pela primeira vez, trabalharam na área de Arqueologia, foram promovidos alguns trabalhos de campo, que incluíram acções de limpeza no sítio da Ladeira, trabalhos de prospecção, desenho de campo e registo de monumentos megalíticos. A participação nestes trabalhos permite criar uma relação mais directa com o património arqueológico, a qual é reforçada através da realização de visitas a locais de relevância científica e cultural. Este ano os participantes tiveram oportunidade de conhecer alguns dos monumentos megalíticos do concelho de Avis, assim como os pontos mais relevantes existentes no Centro Histórico de Avis. A finalizar o período de trabalhos, foi efectuada uma visita guiada ao Centro Interpretativo e Estação Arqueológica de Alter do Chão, promovida pelo Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Alter do Chão.


Visita ao Centro Histórico de Avis

Visita ao Centro Interpretativo de Alter do Chão

Tratamento informático de dados

Visita à Estação Arqueológica de Alter do Chão

Trabalhos de limpeza do sítio da Ladeira

Desenho de materiais arqueológicos

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sítios arqueológicos

anta do penedo da moura

Anta do Penedo da Moura Freguesia de Figueira e Barros Herdade do Penedo da Moura

Acesso: Sair de Avis em direcção a Ervedal pela EN 243. Em Ervedal, depois dos semáforos, virar na primeira à esquerda, em direcção a Figueira e Barros. Atravessar a Ponte e seguir pela estrada de alcatrão. Percorridos cerca de 2,2 km encontra-se a indicação da Anta do Penedo da Moura junto a uma porteira do lado esquerdo da estrada. Estacionar o carro e percorrer a pé cerca de 300m até ao monumento. Esta propriedade é utilizada para pastagem de vacas e cavalos.

A Anta do Penedo da Moura, situada na freguesia de Figueira e Barros, constitui um dos exemplares mais bem conservados do megalitismo funerário do concelho de Avis. O monumento, de tipologia clássica, é totalmente construído em granito. Apresenta uma câmara de planta poligonal, com cerca de 3,20 m de diâmetro, definida por sete esteios, dos quais seis ainda se encontram no local. O esteio em falta localizava-se no lado Norte, junto à entrada da câmara, a qual se encontra encerrada por um esteio em cutelo.

visita de José Leite de Vasconcelos ao concelho de Avis: Na freguesia de Figueira dos Barros mostrou-me o Sr. António Paes duas antas: uma desmantelada, outra ainda com o seu chapéu e mamoa, mas ambas exploradas havia muito tempo. Ainda assim, mandei reexcavar aquela que me pareceu conteria alguma cousa, e efectivamente aí encontri um machado de pedra polida e uma mó, na outra não fiz mais do que pesquisas, porque toda ela estava remexida (VASCONCELOS, 1912, p. 286). Já em 1918 o monumento é novamente referido pelo autor : Entre a Figueira (povo) e o Ervedal, concelho de Avis, no sítio da Coutada do Penedo, há duas antas (VASCONCELOS, 1918, p. 361).

Sobre a câmara prevalece a tampa do monumento. O corredor, curto, evidencia dois esteios de cada lado e o que parece ser uma tampa deslocada. Junto ao monumento são evidentes quatro blocos de granito, os quais poderão ter pertencido ao corredor, e um outro que poderá corresponder a parte do esteio em falta na câmara. No que diz respeito à estrutura externa do monumento, são evidentes os vestígios do tumulus que cobriria toda a estrutura pétrea.

Em meados do século XX, mais precisamente em 1959, é publicado o inventário dos monumentos megalíticos do concelho de Avis, realizado por Geor e Vera Leisner, no qual é apresentado o levantamento da Anta do Penedo da Moura, onde a câmara surge completa.

A Anta do Penedo da Moura é referida no artigo publicado em 1912 na revista O Arqueólogo Português, na sequência da

Pela sua localização e características, a Anta do Penedo da Moura foi incluída nos Monumentos Megalíticos do Alto

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Alentejo. Guias Arqueológicos de Portugal, livro editado em 1994. Posteriormente, foi objecto de uma intervenção de valorização promovida pelo Município de Avis, em colaboração com a Região de Turismo da Serra de São Mamede, Instituto Português do Património Arquitectónico e Instituto Português de Arqueologia, e da qual resultou a publicação do folheto com os percursos megalíticos dos concelhos de Avis e Ponte de Sor. No âmbito da Carta Arqueológica de Avis foi efectuada uma nova avaliação arqueológica da anta, a qual constituiu a base para se efectuar a proposta de classificação do monumento, actualmente em preparação. Fundamentada na necessidade de garantir a protecção e a salvaguarda do monumento, a proposta de classificação tem em consideração o seu estado de conservação e monumentalidade, assim como a relação espacial que detém com um conjunto de outros monumentos identificados na sua envolvente, os quais conferem algumas particularidades paisagísticas à zona oriental do concelho de Avis. Considera-se que a classificação da Anta poderá constituir uma importante mais-valia para a salvaguarda do monumento, possibilitando a concretização de acções que visem a sua preservação e valorização e a eficaz articulação com o proprietário, no sentido de garantir a integridade do monumento e o acesso ao mesmo, para fins científicos e culturais.

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Levantamento da Anta do Penedo da Moura. Leisner, 1959 RECOMENDAÇÕES Aconselha-se que as visitas à Anta do Penedo da Moura sigam algumas recomendações, como meio de protecção do monumento e respeito pela propriedade em que se localiza: _ Não sair dos caminhos _ Fechar todas as cancelas e porteiras que tiver de abrir _ Guardar o lixo que fizer e depositá-lo, posteriormente, num contentor apropriado _ Não perturbar a fauna, nem proceder à recolha de qualquer espécie de flora _ Não deixar no monumento qualquer marca da sua passagem _ Evitar visitas com grupos numerosos BIBLIOGRAFIA LEISNER, Georg e LEISNER, Vera, 1959, Die Megalithgräber der Iberischrn Halbinsel der Westen, Berlim. SANTOS, Ana Palma dos, 1944, Monumentos Megalíticos do Alto Alentejo Alentejo, Guias Arqueológicos de Portugal, Lisboa, Fenda. VASCONCELOS, José Leite de, 1912, “Pelo Alentejo. Arqueologia e Etnografia”, O Arqueólogo Português, Lisboa, vol. XVII, p. 284-289. Idem, 1918, “Coisas Velhas”, O Arqueólogo Português, Lisboa, 23, p. 356-369.

Aspecto geral da Anta do Penedo da Moura

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percursos arqueológicos uma outra forma de conhecer o território

A diversidade natural e paisagística do concelho de Avis, a par da sua riqueza cultural, esteve na base da proposta de criação da Rede de Percursos de Natureza do Concelho de Avis. Através dos trajectos apresentados propõe-se o contacto com realidades que de outro modo nunca seriam descobertas, criando uma envolvência com a paisagem e saindo das estradas e vias mais convencionais.

conservação, manutenção e valorização dos sítios seleccionados, possibilitando, simultaneamente, a fruição pública dos mesmos. A execução do projecto, nas suas diversas vertentes, é fundamental na recuperação de parte da identidade local e na dinamização sócio-cultural e económica da região. Na primeira fase de implementação da Rede de Percursos foram apresentados dois Percursos Arqueológicos, cuja concretização está prevista para 2012/2013.

Os percursos, a realizar a pé ou de bicicleta, foram seleccionados de forma a abranger diferentes áreas do concelho, nas quais a água constitui um factor marcante da paisagem, acompanhando o quotidiano e o imaginário das comunidades, desde o inicio da ocupação humana deste território.

Os percursos arqueológicos têm como ponto de partida a revisão e a renovação do roteiro implementado em 1999/2000 pela Região de Turismo da Serra de São Mamede efectuadas com base nos resultados obtidos na 1.ª fase da Carta Arqueológica de Avis.

Na definição destes percursos procurou-se criar circuitos diversificados e integrados, através da articulação de um conjunto de valores patrimoniais de ordem diversa. A implementação da rede de percursos irá contribuir para a

A selecção dos locais a integrar nestes dois percursos resultou da conjugação de diversos critérios de selecção que traduzem o seu elevado potencial de valorização cultural e turística.

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Os traçados propostos assentam na compreensão do fenómeno megalítico na paisagem, promovendo, simultaneamente, a valorização de monumentos, através de um conjunto de acções que visam a conservação e manutenção adequadas destas estruturas, assim como a fruição pública das mesmas. Estes percursos resultam de uma selecção de monumentos megalíticos, a qual decorre da conjugação de diversos factores e do respectivo enquadramento paisagístico, procurando, desta forma, potenciar outros valores, nomeadamente ao nível do património natural, paisagístico e rural, que se encontram associados aos sítios arqueológicos.

A definição dos percursos arqueológicos irá contribuir para diversificar e ampliar a oferta cultural e turística do concelho, envolvendo e potenciando, desta forma, a componente arqueológica. A diversidade proposta ao longo do trajecto, assim como a respectiva integração paisagística, permitirá ao visitante uma melhor compreensão do significado dos monumentos e da sua relação com a paisagem, perceptíveis a partir de uma visita autónoma e enriquecedora.

Anta da Torre de Ervedal 1

Caminho antigo

Moinho do Duque

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em destaque

O Centro de Arqueologia de Avis é inaugurado no dia 24 de Setembro, às 15h00, no âmbito das Jornadas Europeias do Património 2011. O Centro constitui um dos mais recentes equipamentos do Município de Avis e vem responder às exigências decorrentes da actividade arqueológica desenvolvida no concelho desde 2003, permitindo dar continuidade aos diversos trabalhos e ampliar as diferentes actividades, nomeadamente ao nível da investigação científica, gestão e planeamento, acção preventiva, serviço educativo, valorização, divulgação e actividade editorial. Este novo espaço científico e cultural do Município localiza-se no Centro Histórico de Avis, e ocupa uma das fracções do Conjunto Monástico de São Bento de Avis, monumento classificado como Imóvel de Interesse Público, associada ao Dormitório de S. Lambert e ao Claustro Novo, actualmente designado por Pátio das Cisternas. O Centro de Arqueologia de Avis integra, na sua estrutura, diferentes áreas funcionais que vêm responder às exigências decorrentes da actividade arqueológica desenvolvida no concelho: Reservas de Arqueologia e Antropologia, Laboratório e Inventário, Gabinetes de Trabalho e Desenho, Centro de Documentação- Biblioteca e Mapoteca, Serviço Educativo e espaços complementares e de apoio.

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Desta forma, foram reunidas as condições para o desenvolvimento de um conjunto de actividades no domínio da Arqueologia, onde se integram acções tão diversificadas como prospecção, escavação, acompanhamento de obras, levantamento, pareceres, gestão territorial e patrimonial, tratamento, estudo e acondicionamento de materiais, desenho e fotografia, cartografia, bases de dados e inventários, material de divulgação, publicações, actividades pedagógicas, visitas guiadas, acções de formação e actividades lúdicas. A gestão do espaço e dos recursos humanos constituem os factores essenciais para garantir um eficaz acompanhamento das actividades e visitas guiadas. Pela natureza do espaço e das funções desenvolvidas no Centro, todas as visitas e participação em actividades carecem de marcação prévia, com excepção da consulta da Biblioteca, aberta ao público, de segunda a sexta, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 16h00. O Centro de Arqueologia de Avis encontra-se preparado para receber visitas escolares, as quais deverão ser marcadas, pelo menos, com duas semanas de antecedência, com referência do número de visitantes, idades, nível de escolaridade/curso, motivo da visita e interesses específicos.


centro de arqueologia de avis concretização de um projecto

Serviço Educativo | Cerâmica Manual

Agenda Pedagógica | Vêm aí os romanos...

Visita guiada

Visita guiada

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e-mail arqueologia@cm-avis.pt. As publicações e outras edições do Centro de Arqueologia estão disponíveis no Centro de Arqueologia, no Posto de Turismo e na recepção do Parque de Campismo da Albufeira do Maranhão.

Biblioteca A Biblioteca do Centro de Arqueologia tem vindo a receber um conjunto de publicações relacionadas com a Arqueologia e o Património Arqueológico, as quais constituem elementos fundamentais para a investigação, podendo ser também consultadas por todos os que queiram visitar este espaço para estudo, ou meramente, por curiosidade. De forma a acompanhar o crescimento do acervo bibliográfico, o Centro irá divulgar, através do boletim, as incorporações de novos títulos na sua Biblioteca. Aquisição AAVV, 2000, Crianças de Hoje e de Ontem no Quotidiano de Conímbriga, Museu Monográfico de Conímbriga, Lisboa, IPM AAVV, 2002, Religiões da Lusitânia. Loquuntur Saxa, Museu Nacional de Arqueologia BOAVENTURA, Rui (coord.), 2003, Conservar em Arqueologia, Porto, APA CARDOSO, João Luís, 1997, Povoado de Leceia: Sentinela do Tejo no Terceiro Milénio A.C., Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa, IPM/Câmara Municipal de Oeiras GONÇALVES, Victor S., 1999, Reguengos de Monsaraz. Territórios megalíticos, Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa, IPM VAZ PINTO, Inês, 2003, A cerâmica comum das villae romanas de São Cucufate (Beja), Universidade Lusíada, Lisboa.

Visita guiada

O Centro promove, através do seu serviço educativo, as Oficinas de Arqueologia, para ocupação dos tempos livres, e actividades integradas na Agenda Pedagógica, direccionada para a população escolar. Todas estas actividades são devidamente calendarizadas e publicitadas. As visitas são asseguradas pela Arqueóloga Municipal, proporcionando ao visitante um contacto mais directo e detalhado com o património arqueológico e os diferentes trabalhos desenvolvidos no Centro. As informações sobre o Centro de Arqueologia de Avis e respectivas actividades estão disponibilizadas no site do Município de Avis, boletim Da Terra, podendo ser também obtidas directamente através do telefone 242 412 219 e do

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Ofertas Periódicos Estudos Arqueológicos de Oeiras, Centro de Estudos Arqueológicos do Concelho de Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras, Volume 11, 2003 Revista Vialibus, Fundação Arquivo Paes Teles, Lisboa, Edições Colibri, número 2, 2010 Oppidum. Revista de Arqueologia, História e Património, Lousada, Câmara Municipal da Lousada, número 1, 2006 Oppidum. Revista de Arqueologia, História e Património, Lousada, Câmara Municipal da Lousada, número 4, 2010 Monografias CARDOSO, Guilherme, 1991, Carta Arqueológica de Cascais, Câmara Municipal de Cascais CARDOSO, João Luís, 2011, Arqueologia do Concelho de Oeiras. Do Paleolítico Inferior Arcaico ao século XVIII, Câmara Municipal de Oeiras Colecções ALBERGARIA, João e DIAS, Ana Carvalho, 2000, Antas de Elvas, Roteiros da Arqueologia Portuguesa, Lisboa, IPPAR BARATA, Maria Filomena, 2001, Miróbriga. Ruínas Romana, Roteiros da Arqueologia Portuguesa, Lisboa, IPPAR CORREIA, Virgílio Hipólito e PARREIRA, Rui, 2002, Cola. Circuito Arqueológico, Roteiros da Arqueologia Portuguesa, Lisboa, IPPAR


investigação

intervenção arqueológica no sítio da ladeira conclusão da primeira fase do projecto de investigação

Trabalhos de escavação

Em 2010 foram concluídos os trabalhos de campo referentes à primeira fase do projecto de investigação Intervenção arqueológica no sítio da Ladeira, Ervedal.

possível devido à colaboração do proprietário do terreno onde se localizam os vestígios que apoiou este projecto desde o seu início.

A intervenção fundamentou-se na relevância científica do sítio, conhecida através de referências documentais e confirmada pelos trabalhos de prospecção aí desenvolvidos em 2005.

Nesta primeira fase do projecto procurou-se efectuar o diagnóstico do sítio arqueológico, com a avaliação do seu potencial arqueológico, a extensão e grau de conservação dos vestígios e a caracterização das diferentes fases de ocupação, integráveis nos períodos Neolítico/Calcolítico e Romano.

O projecto, iniciado em 2006, foi desenvolvido ao longo de três campanhas, perfazendo um total de 195 dias onde foram realizadas acções de limpeza, prospecção, levantamento, escavação, desenho, fotografia e inventário. Os trabalhos foram realizados com o apoio dos participantes do Programa Municipal Jovens em Movimento e de colaboradores em áreas específicas, nomeadamente ao nível da Topografia e Geologia. A concretização do projecto foi garantida pelo Município de Avis, o qual disponibilizou o apoio logístico necessário para a execução dos trabalhos arqueológicos e assegurou as condições aos participantes. O projecto teve ainda o apoio da Junta de Freguesia de Ervedal que cedeu as instalações de apoio à escavação. A realização dos trabalhos de campo só foi

As prospecções realizadas permitiram delimitar áreas distintas de dispersão de materiais, localizadas em zonas diferenciadas do sítio arqueológico. O perímetro definido, de acordo com os achados de superfície, ascende os 5 hectares e integra, neste momento, cinco sectores que se distinguem pelo número e tipologia de materiais arqueológicos, assim como pela respectiva integração cronológica. Estes primeiros trabalhos forneceram uma visão global da possível dimensão do sítio arqueológico, ou pelo menos do que dele se conserva, identificando as áreas onde se verifica uma maior concentração e diversidade de vestígios arqueológicos à superfície.

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Confirmado o seu potencial, importava dar continuidade ao estudo do sítio, definindo um plano de intervenção arqueológica que permitisse aprofundar o conhecimento científico do sítio, não só ao nível das diferentes fases de ocupação identificadas e respectiva cultura material, mas também procurando aferir as mutações a que esteve sujeito e os impactos ao nível do registo arqueológico. Neste sentido, era fundamental avaliar, de forma faseada, o potencial arqueológico da Ladeira, recorrendo à escavação da estratigrafia conservada, e o grau de conservação dos vestígios, assim como recuperar parte da informação referente aos diferentes momentos de ocupação e proceder, com base nos resultados obtidos, à sua respectiva caracterização.

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A intervenção desenvolveu-se numa área correspondente a 100 m2, pelo que ainda é muito reduzida e pouco expressiva para a caracterização de um sítio de dimensões alargadas. Na fase final do projecto, e após a análise preliminar do espólio, foi efectuada a selecção do conjunto artefactual recolhido, de forma a reunir os materiais que irão ser objecto de estudo, permitindo efectuar uma caracterização mais detalhada das respectivas fases de ocupação.

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O projecto desempenhou, para além da sua componente científica, um importante papel na sensibilização da comunidade para a preservação e valorização do património arqueológico, materializada através da realização de visitas guiadas, preferencialmente durante os períodos em que decorriam os trabalhos arqueológicos, as quais contaram com mais de uma centena de participantes. Os resultados obtidos são ainda insuficientes para a caracterização do sítio arqueológico, pelo que é fundamental a continuação do projecto, até porque a área intervencionada corresponde a uma ínfima parte do que se encontra conservado do sítio arqueológico. Deste modo, pretende-se dar início, em 2012, à segunda fase do projecto, de forma a aprofundar o conhecimento sobre o quotidiano das comunidades que habitaram, em momentos distintos, o local hoje designado por Ladeira. LEGENDA 1. Cossoiros em cerâmica | Pré-História Recente 2. Aspecto geral da Sondagem 3 3. Pormenor da escavação da Sondagem 3 4. Fragmento de lucerna com decoração | Período Romano 5. Pormenor da escavação da Sondagem 2 6. Recipiente de cerâmica comum | Período Romano 7. Aspecto geral dos trabalhos de escavação

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investigação

De forma a criar uma visão global e integrada do património arqueológico do concelho de Avis, foi iniciado em 2005 o levantamento das realidades existentes no território com recurso a técnicas científicas não destrutivas de recolha de informação, abarcando um amplo espectro cronológico, em detrimento de uma época preferencial de estudo e privilegiando a análise dos resultados em articulação com as características naturais da região. Assim foi iniciado o projecto da Carta Arqueológica de Avis, cuja primeira fase, decorrida entre 2005 e 2009, permitiu a elaboração de um diagnóstico sobre a Arqueologia do concelho, numa aproximação ao património arqueológico local e às suas especificidades. Apesar das limitações que caracterizaram estes primeiros trabalhos, foi possível reunir e rever um conjunto de informações, relocalizar uma grande parte dos sítios arqueológicos referidos na bibliografia ou na documentação existente, identificar novos locais, e alargar as perspectivas de trabalho a outras zonas do concelho pouco ou totalmente desconhecidas do ponto de vista arqueológico. As prospecções possibilitaram ainda a realização de registos complementares, nomeadamente a definição do potencial arqueológico, a avaliação sumária do estado de conservação dos sítios, a identificação de eventuais ameaças e situações de risco de destruição parcial ou total, elementos que poderão contribuir para a definição de futuras estratégias de intervenção direccionadas para a conservação e intervenção em sítios arqueológicos. Os trabalhos realizados permitiram a identificação de 118 sítios, dos quais 55 se encontravam referidos na bibliografia, 10 surgiam apenas registados em trabalhos arqueológicos não publicados, e 53 eram, até à data, totalmente desconhecidos. Nesta aproximação ao território foram registados 58 locais de cronologia mais recente, nomeadamente dos séculos XIX e XX, identificados no decurso dos trabalhos de campo, correspondentes a diversos exemplares de património construído.

arqueológicos. Para além do contributo na ampliação do conhecimento científico em relação ao património arqueológico local, a Carta Arqueológica desempenha um importante papel na criação e desenvolvimento de formas de gestão patrimonial.

Neste processo de localização e registo de sítios arqueológicos, as informações cedidas pela população local têm auxiliado na cobertura de áreas mais complexas de prospectar.

O conhecimento adquirido em relação ao território e às diversas fases de ocupação identificadas foi determinante, não só para o início do inventário de património arqueológico, garantido através de fichas de sítio e de cartografia georeferenciada, mas para a caracterização, ainda que sumária atendendo à amplitude cronológica dos vestígios registados, da riqueza e diversidade de formas de apropriação do território e exploração dos respectivos recursos, perceptíveis a partir dos dados de prospecção e análise paisagística.

Estes resultados permitiram alterar o quadro de referência existente e iniciar a sistematização dos dados, com a aplicação de novos métodos de registo e gestão da informação, criando uma visão integrada dos vestígios

Os progressos decorrentes da realização da primeira fase do projecto só poderiam adquirir expressão numa perspectiva de continuidade. Neste sentido, e por se considerar que existe ainda um longo caminho a percorrer,

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carta arqueológica de avis | 2.ª fase

Anta da Terrosa 2

considerou-se ser imprescindível continuar os trabalhos de levantamento do património arqueológico local. Assim, foi apresentada, em 2010, a segunda fase da Carta Arqueológica de Avis, aprovada pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, a qual conta com a colaboração de investigadores em diferentes domínios de intervenção, associados ao projecto em regime de voluntariado. Os trabalhos referentes à segunda fase da Carta Arqueológica tiveram início em Abril de 2011 e reafirmaram o potencial arqueológico da região, abrindo novas perspectivas de actuação, as quais se traduzem na identificação de novos locais de interesse arqueológico. Parte dos trabalhos realizados foram orientados para a identificação de vestígios atribuíveis aos momentos de ocupação mais antigos, integráveis no Paleolítico.

Registo de sítios e áreas prospectadas

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DA TERRA Boletim do Centro de Arqueologia de Avis Número 6, 24 de Setembro de 2011

caderno de campo jovens em movimento 2011 | novas actividades sítios arqueológicos anta do penedo da moura valorização e divulgação percursos arqueológicos | uma outra forma de conhecer o território em destaque centro de arqueologia de avis | concretização de um projecto investigação intervenção arqueológica no sítio da ladeira | conclusão da primeira fase do projecto de investigação carta arqueológica de avis | 2.ª fase

Edição Município de Avis Director Manuel Coelho | Presidente da Câmara Recolha e organização da informação Centro de Arqueologia de Avis Textos Ana Ribeiro Fotografia Arquivo Fotográfico Municipal | Centro de Arqueologia de Avis Capa Desenho de materiais arqueológicos | Jovens em Movimento 2011 Composição gráfica Centro de Arqueologia de Avis Impressão Município de Avis | 750 exemplares Distribuição gratuita ISSN 1646-5660 Contactos Pátio das Cisternas 8, 7480-121 Avis Telefone/fax 242 412 219 arqueologia@cm-avis.pt


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