Histórias Tremebundas

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Blandina Franco JosĂŠ Carlos Lollo

As mais terrĂ­veis, apavorantes, impressionantes, formidolosas, assombrosas e impossĂ­veis lendas do folclore brasileiro



Blandina Franco José Carlos Lollo

As mais terríveis, apavorantes, impressionantes, formidolosas, assombrosas e impossíveis lendas do folclore brasileiro

João Pessoa | 1ª edição | 2018


© Blandina Franco e José Carlos Lollo, 2013 © desta edição, Mundial Edições, 2018 Responsabilidade editorial: Ana Mortara Projeto gráfico e capa: José Carlos Lollo Revisão: Iuri Pereira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Franco, Blandina Histórias tremebundas: as mais terríveis, apavorantes, impressionantes, formidolosas, assombrosas e impossíveis lendas do folclore brasileiro / Blandina Franco e [ilustração] José Carlos Lollo. – São Paulo: Mundial Edições, 2018. ISBN 978-85-68699-86-7 1. Folclore – Literatura infantojuvenil 2. Poesia – Literatura infantojuvenil I. Lollo, José Carlos. II. Título. 12-06165

CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Folclore: Poesia: Literatura infantil 028.5 2. Folclore: Poesia: Literatura infantojuvenil 028.5 Todos os direitos reservados Mundial Edições Ltda. Av. Dom Pedro II, 962 Centro | João Pessoa-PB CEP 58013-420 www.mundialedicoes.com.br



De dia o menino não tinha medo. De dia tinha muita luz na fazenda. De dia tinha cavalo solto no pasto, vaca mugindo no curral, galinha ciscando no paiol, cachorro latindo no quintal e sol. E mesmo quando chovia, tinha cachorro molhado e bolo quente em cima da pia da cozinha esperando esfriar. Então, de dia o menino não tinha medo. Mas, um dia estava chovendo e além do bolo quente em cima da pia, tinha relâmpagos e tinha também o Seu Jolindo esperando a chuva passar encostado na porta da cozinha. E o Seu Jolindo era outra história...



– Vem menino, que enquanto espero a chuva vou te contar uma lenda... – E o que é lenda? – Lenda é uma história que a gente conta pra menino perguntador em dia de chuva. – Não tem lenda em dia de sol? – Tem, mas só pra menino que já sabe o que é lenda...


Uma lenda é a história assombrosa de um mito, que às vezes é um ser fabuloso e outras é um ser maldito. O mito pode ser gente, também pode ser um animal, ele pode ser feito de pedra ou de qualquer material. As lendas são as aventuras, os feitos do mito, a história. A lenda é o que assombra, dá medo, é o que fica na memória: um feito heroico e maravilhoso, um monstro vingativo e horroroso, um herói com força sobre-humana, um vilão que maltrata e engana, a luta do bem contra o mal, a força do homem e do animal, o homem transformado em serpente, a morte que chega de repente, como o mundo surgiu, para onde o covarde fugiu, o defensor da floresta, o Boto que adora festa, o gigante que domina uma ilha, um tesouro enterrado, uma maravilha. Não se engane, lendas não são contos de fadas. Lendas costumam deixar as crianças bem assustadas! E como parece que a chuva demora pra passar, senta aqui que agora é a minha vez de assustar.



A Alamoa Quando uma tempestade se forma no meio de uma noite escura, nas praias de Fernando de Noronha surge assombrosa criatura: uma mulher de cabelo loiro que parece ser encantada, dança nua na chuva pelos relâmpagos iluminada. À primeira vista ela encanta, sua imagem vai te enfeitiçar, depois ela vira um esqueleto e de susto vai te matar. Dizem que ela é amaldiçoada e que pra maldição acabar, um tesouro na ilha enterrado, um herói deve desenterrar.


O Wuwuru O Wuwuru é um ser estranho que vive no buritizal, ele cuida destas plantas, mas aos homens só causa mal. Tem os dentes fortes e seus pés são disformes, tem a cabeça pelada e suas unhas são enormes. Os velhos na Amazônia acreditam que se você no buritizal entrar, o Wuwuru de cócegas te mata, e depois vai te devorar.




O Cabeça-de-cuia Contam que no Piauí existe um ser sombrio que aparece na lua cheia sobre as águas do rio: tem a cabeça em forma de cuia escondida pelo cabelo, é alto, magro e feio. Ele parece um pesadelo. De sete em sete anos sai do rio pra devorar uma jovem de nome Maria e depois para o rio vai voltar. Mas ele também gosta de devorar criança, então, se você é pequeno vai nadar noutra vizinhança.


O Lobisomem Dizem que uma mulher dá a luz a um lobisomem quando depois de sete filhas o oitavo nasce homem. De dia é um homem comum, mas de noite vai se transformar em um monstro mais que horrível, com sede de matar. E essa transformação acontece no meio de uma encruzilhada, numa noite de sexta-feira pela lua cheia iluminada, ele vira um homem-lobo e pra lua começa a uivar e com dentes enormes e afiados, suas vítimas vai devorar. O pior é que esse danado além de ser muito feroz é enorme, é esperto e também muito veloz.




A Cobra-grande Uma cobra gigantesca que vive no fundo do rio e tem os olhos mais brilhantes do que qualquer diamante. Os pescadores desavisados por esse brilho são enganados, pensam que ela é uma embarcação e acabam virando refeição, qualquer adulto ou criança também acaba em sua pança. Se decidir incomodar indo em seu rio nadar, na Amazônia o povo acredita que ninguém a pode enfrentar, pois será uma pessoa maldita o infeliz que a matar.


O Saci Ele tem uma perna só, é encantado, ágil e esperto, usa carapuça vermelha, é confusão certa se está por perto. Ele adora fumar cachimbo e a casa dos outros bagunçar, se você mora em uma fazenda, tá danado, ele vai se esbaldar! O gado ele vai espantar, a comida ele vai queimar, a crina dos cavalos trançar e nos campos redemoinhos formar. Dizem que pra acabar com a confusão só existe uma maneira: você tem que capturar o Saci jogando nele uma peneira. Mas ela tem que ter no centro de sua palha trançada um desenho claro e bento de uma cruz bem marcada.




O Labatut Dizem que ele é o pior monstro que se conheceu, mais feroz que o Lobisomem, até o demônio ele venceu. Ele tem os pés redondos, é todo peludo de cabelo assanhado, mas seus pelos são tão ásperos que de espinhos são chamados. Tem só um olho na testa e o seu corpo é enorme, suas mãos são muito compridas, é todo feio e disforme. No fim do mundo ele mora e de noite pelas cidades procura uma vítima para matar sua fome que parece não ter cura. Ele escuta atrás das portas para tentar descobrir quem conversa, canta ou dorme, pra depois a casa invadir. Quando escolhe sua vítima, não tem jeito, está acabado, pois mesmo estando dentro de casa, pelo Labatut será devorado.


A Mula-sem-cabeça Se uma moça do campo ou da cidade por um padre se apaixonar, seu destino é uma maldade: em Mula-sem-cabeça vai se transformar! Em plena noite de quinta-feira, acontece a transformação, ela galopa pela cidade, chorando e esperando o perdão. Relincha, solta fogo pelas narinas e soluça feito gente, a vida é bem complicada pra essa pobre penitente. Ainda bem que existe um modo da coitada se salvar, basta um homem com coragem, de sua cabeça o freio tirar.



E quando Odete, a cozinheira, finalmente entrou na cozinha, não tinha ninguém lá, só a chuva que caía mansinha. Onde foram parar aqueles dois é história que virou lenda, que até hoje todos contam em dia de chuva na fazenda. Alguns contam que foram comidos pelo lobisomem esfomeado. Alguns contam que foram abduzidos por extraterrestres desmiolados. Tem quem diga que o sumiço foi coisa do Saci. Tem quem diga que viraram fantasma e que assombram tudo ali! Mas, o que realmente importa e assombra nestas histórias, é que quando a gente as ouve, elas se escondem na memória. Depois, basta uma noite escura, uma tempestade com raio e trovão Pra gente lembrar delas e sentir medo feito um bobão.



Os monstros regionais do nosso folclore Alamoa

É um mito feminino da ilha de Fernando de Noronha. Seu nome deriva da maneira como os moradores simples da ilha pronunciavam o feminino de alemão, “alemoa”. Eles achavam que o fantasma de uma mulher loira deveria ser alemão. Acredita-se que ela mora no Pico da Ilha, uma elevação rochosa com cerca de 332 metros de altura.

Wuwuru

É um mito animal da Floresta Amazônica. Na Amazônia existe uma espécie de palmeira de nome buriti. Ela é muito usada pelos habitantes da região, que de seus frutos extraem um óleo comestível, com suas folhas cobrem suas casas e com suas fibras produzem artesanato. Segundo os índios, é preciso ter muito cuidado ao entrar em um buritizal, pois no meio dele vive uma criatura que é o dono dos buritis, o Wuwuru.


Cabeça-de-Cuia

É um mito masculino do Piauí. Ele é visto nas águas do rio Parnaíba e Poti, mas até os dias de hoje ninguém conseguiu ver o seu rosto, que está sempre escondido atrás de uma enorme cabeleira de lodo. Contam que ele é um antigo pescador que foi amaldiçoado por ter sido cruel e agredido sua mãe.

Lobisomem

É um animal fantástico. Dessa coleção de monstros ele é o único que vive em todas as regiões do Brasil. E em todos os países do mundo existe uma versão de sua lenda e de seu nome. Os gregos o chamam de Licantropo, os alemães de Wahrwolf, os franceses de Loup-garou, os russos de Oboroten. Embora seu nome mude e existam algumas variações nos motivos para um homem se tornar este monstro, suas características são as mesmas e inconfundíveis: um homem amaldiçoado que se transforma em um lobo muito feroz.


Cobra-grande

É o mais poderoso mito das águas do rio Amazonas e de seus afluentes. Ela é conhecida também como o mito da Boiúna. Contam que, há muito tempo atrás, ela tinha a forma de uma jiboia comum. Com o passar do tempo ela aumentou muito de tamanho, abandonou a floresta onde vivia e foi para o rio. Os sulcos que ela deixou na terra quando passou transformaram-se em igarapés.

Saci

É uma entidade muito comum no folclore da região Sul e Sudeste do Brasil. Na região Norte, existe uma variação de sua lenda com o nome de Matinta-pereira. Se você conseguir roubar sua carapuça vermelha, ele fará qualquer coisa para recuperá-la, lhe dará muito ouro ou até uma parte de seus poderes mágicos.


Labatut

É um mito masculino do Ceará e do Rio Grande do Norte, principalmente da região da Serra do Apodi. Dizem que ele tem este nome devido a um general, que se chamava Pedro Labatut, que viveu nesta região nos anos de 1832 e 1833, e que era extremamente violento.

Mula-sem-cabeça

É um mito feminino conhecido em todo o Brasil, principalmente em Goiás, Mato Grosso e todo o interior da região Sudeste. Uma coisa engraçada é que a maioria das pessoas retrata a Mula-sem-cabeça sem a cabeça mesmo, mas ela tem cabeça, solta fogo pelas narinas e pela boca, relincha e usa uma espécie de freio de ferro na cabeça.


A Blandina Franco é uma escritora de livros infantis que vive na

região de São Paulo. Dizem que ela escreve suas histórias em dias ensolarados e em noites de lua cheia porque tem mais luz.

O José Carlos Lollo é um ilustrador de livros infantis que desenha o

dia inteiro e ronca de noite. Acredita-se que além de desenhar, ele sabe fazer esculturas de massinha de olhos fechados. Contam que os dois um dia se conheceram, se casaram, tiveram um filho de nome José e editaram mais de vinte livros juntos. Mas isso não é lenda.

A Odete é uma cozinheira de São Paulo, que existe de verdade e que faz o melhor e mais delicioso pastel de queijo do mundo.

O Jolindo é o marido da Odete. Ele é muito alto e magro e divertido e os dois fazem parte das histórias de infância da Blandina.



Histórias tremebundas apresenta histórias que muito podem

contribuir para o incentivo a leitura e aprendizado aos alunos, principalmente do 4º ou 5º anos do ensino fundamental. Por se tratar de contos da tradição popular, tem extensão adequada para leitores dessa faixa de aprendizado. Este livro é uma ótima ferramenta para possibilitar discussões sobre as relações de respeito às diferenças e, do ponto de vista dos contextos regionais, auxilia no trabalho com o folclore em sala de aula.

Categoria: para alunos do 4º ou 5º anos do ensino fundamental Gênero: texto da tradição popular Tema: encontros com a diferença, folclore



De dia o menino não tinha medo. Mas um dia estava chovendo e, além do bolo quente em cima da pia, tinha relâmpagos e tinha também seu Jolindo esperando a chuva passar encostado na porta da cozinha. Muitos acreditam que no folclore brasileiro temos criaturas estapafúrdias que só existem para assombrar, apavorar e assustar as crianças em noites de lua cheia. Isso não é verdade. No folclore brasileiro, temos criaturas estapafúrdias que só existem para assombrar, apavorar e assustar as crianças em noites de lua cheia, em tardes de chuva e em manhãs frias. Se você não acredita, peça ao Jolindo pra te contar uma lenda, em qualquer hora do dia ou da noite, que você vai ver!

ISBN 978-85-68699-86-7

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788568

699867


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